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BAARRA II
Março / 2021
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 05
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 07
2.1 Metodologia de Pesquisa de Campo 07
2.2. Metodologia de Avaliação de Impactos. 24
3 BASE LEGAL E JUSTIFICATIVA DO ESTUDO DO COMPONENTE QUILOMBOLA 32
4 CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO 37
5 IDENTIFICAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS TÉCNICOS 39
5.1 Empresa Consultora Responsável pelo ECQ 39
5.2 Equipe Técnica Responsável pelo ECQ 39
6 CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA E GEOAMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO 40
6.1 Contexto Histórico da ocupação negra e quilombola na região do Estudo 40
6.2 Caracterização Geoambiental da região do Estudo 45
6.2.1 Geologia e Geomorfologia 45
6.2.2 Biodiversidade 48
6.2.3 Clima e hidrografia 50
7 EMPREENDIMENTOS JÁ INSTALADOS NO INTERIOR OU NO ENTORNO DAS CRQs
52
8 ESTUDO DO COMPONENTE QUILOMBOLA DA COMUNIDADE REMANESCENTE DE
QUILOMBO SACO/CURTUME 54
8.1 Caracterização Socioespacial do Território 54
8.1.1 Comunidade Saco 54
8.1.2 Comunidade Curtume 60
8.2 Aspectos Históricos, Culturais e Religiosos 66
8.3 Infraestrutura Social e Produtiva 75
8.3.1 Educação 75
8.3.2 Saúde 76
8.3.3 Saneamento Básico 77
8.3.4 Outras Infraestruturas 79
8.3.5 Produção 80
8.3.6 Organização Comunitária 82
8.4 Recursos Ambientais Naturais 83
8.4.1 Paisagem Física 84
8.4.2 Fauna e Flora 86
8.4.3 Recursos Hídricos 89
As atividades de campo para a obtenção dos dados que compõem este Estudo de
Componente Quilombola respaldam-se, de forma ampla, em um Diagnóstico Rápido
Participativo (DRP), “metodologia que permite o levantamento de informações e
conhecimentos da realidade da comunidade ou instituições, a partir do ponto de vista de
seus membros” (CRESCENTE FÉRTIL, 2013, s/p). Inicialmente concebida para a aplicação
em contextos rurais, a metodologia do DRP envolve uma miscelânea de técnicas e métodos
que possibilitam uma maior amplitude na obtenção das respostas almejadas.
- Amplitude da multidisciplinaridade.
Além dos informativos de praxe de reuniões desta natureza, foi nesses espaços de
diálogo que houveram as negociações para o estudo nas comunidades, principalmente no
que diz respeito às atividades participativas que contribuiriam para a execução do estudo.
junto à
Fig. 02: Reunião Informativa na CRQ Riacho dos Negros
Cada uma das comunidades que compõem os territórios estudados indicou os seus
respectivos líderes para o acompanhamento e auxílio integral durante o Estudo, sendo de
responsabilidade destes membros a condução pela comunidade, guiamento pelos pontos
notáveis a serem demarcados e intermediação junto às lideranças e demais atores locais
para serem entrevistados.
Riacho do Trabalhador
Eronildes Nunes Gomes 25
Ancelmo do campo
Justino Rodrigues da
Curral Velho Agricultor 40
Silva Neto
Valmir de Santana
TERRITÓRIO Elizier Professor 35
Sousa
RIACHO DOS
NEGROS Messias Nunes dos Comerciante e
Estreito 40
Santos Vigilante
Cabelereiro e
Robervaldo de Sousa
Junco Serviços 31
Rodrigues
Gerais
Jarlane Rodrigues de
Malhada Estudante 23
Sousa
11%
33%
33%
22%
5%
10%
25%
35%
25%
Para tanto, realizamos uma oficina desta natureza nos dois territórios:
Saco/Curtume e Riacho dos Negros, tendo suas representações das comunidades
pertencentes a seus respectivos locais. É importante mencionar que, levando em
consideração o grande número de comunidades da região do Riacho dos Negros, foi
acordado junto às lideranças que cada localidade teria a participação máxima de
quatro pessoas na oficina, evitando assim a aglomeração e diminuindo os riscos de
contágio em decorrência da Pandemia de COVID-19, pois este tipo de atividade exige
maior contato e proximidade física.
- Tipos de solo;
- Recursos hídricos;
- Habitação;
- Estradas e acessos.
Segundo Kummer, Diz e Soares (2007), este tipo de intervenção possibilita comparar
O intuito dessas oficinas participativas foi gerar uma discussão com os moradores e
moradoras de ambos os Territórios estudados sobre os potenciais impactos e medidas de
mitigação e compensação dos eventuais impactos causados a partir da instalação e
operação do empreendimento.
Como estas oficinas foram realizadas juntamente com as outras atividades de campo
anteriormente descritas, o acordo sobre a capacidade de participantes nas oficinas em
decorrência da pandemia de COVID-19 permaneceu a mesma já supracitada. Desse modo,
as representações das comunidades para a composição das equipes nesta ação
contemplam: representantes de associação comunitária e/ou territorial, agentes de saúde,
professores, agricultores e agricultoras, estudantes, comerciantes e jovens.
Por esse motivo, durante as conversas com as lideranças, a equipe técnica explicou
a importância da participação dos moradores e moradoras do território nesse processo e
enfatizou a necessidade de se discutir internamente e com as demais comunidades do
território quais ações poderão ser sugeridas, levando em conta as necessidades coletivas.
Além das etapas, o painel apresentava também uma subdivisão em cinco campos
Potencialidades Problemas Ações
Sociocultural
Quadro 2: Modelo deSociocultural Sociocultural
Painel de Diagnóstico por Campo
informações por eles apresentadas, primando pela síntese e clareza do que foi exposto,
além de intervir o mínimo possível no debate.
Nome Comunidade
1. Ana Cristina Fraga da Silva Saco/Curtume
2. Ana Paula de França Saco/Curtume
3. Diel Abade Saco/Curtume
4. Eloisa Maria dos Santos Saco/Curtume
5. Expedito Severo Lima Saco/Curtume
6. Kailane Gomes de Sousa Moura Saco/Curtume
7. Raimundo Neto de Sousa Saco/Curtume
8. Regis Rodrigues Saco/Curtume
9. Sidney Gomes Ferreira Saco/Curtume
Tais impactos incidem nos meios físico, biótico e socioeconômico, tanto nas áreas de
habitação quanto nas áreas de uso do território, como apontam os moradores e moradoras
dos territórios quilombolas estudados. A composição da Matriz de Avaliação dos Impactos
Socioambientais classifica-se de acordo com os aspectos socioambientais (territorial,
qualidade de vida, sociocultural, ambiental e econômico), categoria (positivo, negativo ou
positivo e negativo) e magnitude (muito fraco, fraco, médio, forte e muito forte) (Quadro 5).
PRANCHA 05: Construção do Painel de Diagnóstico por Campo no Território Riacho dos Negros (Acervo da Pesquisa, 2021)
PRANCHA 06: Construção do Painel de Diagnóstico por Campo no Território Saco/Curtume (Acervo da Pesquisa, 2021)
Quadro 05: Matriz de Avaliação dos Impactos Socioambientais.
2
O artigo 6º da Convenção 169 da OIT preceitua: “1. Ao aplicar as disposições da presente
Convenção, os governos deverão: a) consultar os povos interessados, mediante procedimentos
apropriados e, particularmente, através de suas instituições representativas, cada vez que sejam
previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente”.
para decisão e encaminhamentos posteriores. Nesse caso, o processo de titulação é
constituído pelas seguintes etapas: 1) Abertura do processo; 2) Certidão da Fundação
Cultural Palmares; 3) Elaboração do RTID e análise do Comitê de Decisão Regional; 4)
Publicação do RTID no Diário Oficial da União e no Diário Oficial da Unidade Federativa
onde se localiza a área em estudo; 5) Consulta a órgãos e entidades – IPHAN, IBAMA,
SPU, FUNAI, Secretaria do Executiva do Conselho de Defesa Nacional, Fundação
Palmares, ICMBio e Serviço Florestal Brasileiro; 6) Contestações (se houver); 7) Análise da
situação fundiária das áreas pleiteadas; 8) Demarcação e, por fim, 9) a Titulação das Terras.
O termo “quilombo”, até a aprovação do Artigo 68, era visto pelo senso comum como
moradia de negros fugidos na época do Brasil colonial ou um lugar isolado habitado por
escravos que fugiram, associado quase sempre ao grandes engenhos e plantações de
cana-de-açúcar do litoral do Nordeste, e a Quilombo dos Palmares, na liderança de Zumbi.
Almeida (2002) faz crítica ao conceito de Quilombo estabelecido pelo Conselho Ultramarino
de que é “toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada,
ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pilões nele” (p.47). O autor
ainda apontou cinco elementos que constitui a definição citada anteriormente: 1) a fuga,
relacionando o quilombo à escravos fugidos; 2) quantidade mínima de “fugidos”; 3)
isolamento geográfico, ou seja, lugares de acesso difícil e mais perto do selvagem do que
da “civilização”; 4) a moradia habitual, conhecida como “ranchos” 5) O pilão como símbolo
de autoconsumo e capacidade de reprodução, pois é um instrumento que transforma o arroz
colhido em alimento.
Quadro 06:Nº
Territórios Quilombolas
do processo na e seus processos
Situação na de certificação.
Denominação da Nº do processo no
Fundação Cultural Fundação Cultural
comunidade INCRA
Palmares Palmares
Certificada em 54380.001643/2009-
Riacho dos Negros 01420.000819/2009-35
15/04/2009 19
Certificada em
Saco do Curtume 01420.000670/2009-94 -
31/03/2009
No que concerne aos processos de licenciamento ambiental em territórios
O escoamento da energia produzida pela UFV Graviola será feito através de uma
Linha de Transmissão de 230 KV de interesse restrito até a Subestação São João do Piauí,
de propriedade da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) (SER ENERGIA,
RM ARQUEOLOGIA LTDA
Tv. Miguel Czelusniak, 72, bloco 6, ap 106
Campo Largo-PR
CEP: 83.602-165
Telefone: rmarqueologiaedu@gmail.com
Contatos: (48) 99650-7049/(41) 99133-9654
https://rmarqueologia.com.br/
Segundo Oliveira e Assis (2017), foi a partir das Instruções Régias, Públicas e
Secretas enviadas ao capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, que se instituiu a abolição dos indígenas e a substituição pelo
escravo negro.
(...) Sou servido declarar que nenhum destes índios possam ser
escravos, por nenhum princípio ou pretexto, para o que hei por
revogadas todas as leis resoluções e provisões que até agora
subsistiam, e que só valha esta minha resolução (...). 7. Para que os
moradores daquele Estado observem inteira e religiosamente esta
minha resolução, os persuadireis a que se sirvam de escravos
negros, e que, servindo-se de índios, os tratem com caridade, e de
forma que não experimentem os efeitos da escravidão (BRASIL,
1751, grifo nosso.).
Sendo assim, paulatinamente, a mão de obra indígena foi sendo substituída pelos
negros advindos não só do criminoso processo diaspórico africano, como também de outras
áreas do Brasil – mesmo que até recentemente a presença de mão de obra negra
escravizada na árdua lida pecuarista era colocada em xeque por diversos pensadores e
pesquisadoras da historiografia regional.
De acordo com Viana (2018), a Freguesia de “Sam João do Piauhy” foi criada em
1853 em uma localidade denominado Jatobá, que possuía uma pequena capela dedicada a
São João Batista e sua elevação à categoria de Vila se dá em 1871.
3
O Fundo de Emancipação foi um mecanismo legal inserido na chamada Lei do Ventre Livre de
1871– que versava sobre a possibilidade de emancipação de indivíduos nascidos no período de
escravidão de seus progenitores –, cujo objetivo era prover a alforria gradual dos escravos existentes
no Império (LOUZADA, 2011).
PRANCHA 07: Localização de São João do Piauí em 1850.
Título : Carta Topographica e Administrativa da Provincia do Piauhy. Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart67925/
cart67925_3.jpg
Uma das formas de resistência e negação da escravidão negra foi a fuga de
escravizados para as matas e sua consequente formação de quilombos, já registrados
desde o século XVI – tanto a partir do processo de acolhimento pelos indígenas em suas
aldeias, como também através da organização de seus próprios redutos (TAVARES, 2017).
Essa delimitação do SAB feita pelo Ministério da Integração Nacional, antes era de
competência da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), extinta em
2001. Essa autarquia adotava desde 1989 apenas critérios de precipitação anual igual ou
inferior a 800 mm. No entanto, MI considerou insuficiente o critério de utilização somente da
precipitação pluviométrica no processo de inserção de municípios no SAB, adotando mais
critérios para tal inclusão na última atualização de 2005, abrangendo assim, mais áreas que
se beneficiariam de isenções fiscais e políticas de crédito voltadas para essa. Como essa
delimitação é uma estratégia de diminuição das desigualdades regionais e apesar dessa
alteração nos critérios, o processo ainda prioriza fatores climáticos dos municípios.
AGUIAR, 2004, p. 4.
Acervo FUMDHAM apud VIEIRA, 2015, 37.
Sobre os solos das terras secas do Nordeste, Ab`Saber (1980), afirma que, entre os
componentes básicos das paisagens sertanejas, os solos regionais são os que melhor
caracterizam a região como semiárida., porém com uma característica peculiar em relação
aos solos de outras regiões de semiaridez, por estarem numa província ecológica de
caatingas dotadas de uma biomassa importante em termos de tapete vegetal e não sujeitas
a salinização e concrecionamento, sendo a região do país que menos apresenta o domínio
brasileiro de pedalfers (que concentra carbonato de cálcio).
O autor divide os solos dessa região como: solos escuros e castanhos, com argilas
expansivas (Vertissolos), comuns nas plataformas interfluviais correspondentes às
superfícies aplainadas modernas dos sertões; solos com horizontes B solonético, restrito a
manchas nas baixas encostas de determinadas áreas sertanejas do Ceará e do norte da
Bahia; solos vermelhos dos sertões, com horizonte B prismático (e ou, em blocos
subangulares. Situados, via de regra nos setores interfluviais mais elevados das colinas
interplanálticas sertanejas; Solos esqueléticos e litossolos (Entissolos), das "serras secas" e
das caatingas rochosas, em áreas de lajedos, "boulders" e "inselbergs".
6.2.2 Biodiversidade
O uso da terra pelo homem causa impactos para a fauna e flora em geral devido a
transformação do habitat, principalmente em função do aumento populacional. A redução de
habitat e a consequente perda de riqueza de espécies são duas consequências do processo
de transformação de áreas naturais contínuas em fragmentos (MARTINS FILHO et al.,
2019). Além disso, a diminuição da capacidade de dispersão, alteração no tamanho de
áreas e aumento da taxa de predação, são também influenciados pela fragmentação, sendo
que estes podem ocorrer em eventos isolados ou não, resultando no desaparecimento local
de algumas espécies das regiões afetadas (OLIVEIRA et al., 2016).
Para esse estudo do ECQ de Barra II , foi utilizado das referenciados climatológicos,
meteorológicos e informações dos atributos climáticos (temperatura, pluviosidade,
umidade etc.) da Estação Meteorológica Convencional Morro do Chapéu (UTM 24L
257603/8758780), localizada no município de Morro do Chapéu, inserido no
Território de Identidade – Chapada Diamantina- 03 (SEI, 2007).
Para a caracterização e diagnóstico do meio físico em seu aspecto climático realizou-se
revisão literária específica sobre os aspectos meteorológicos e climáticos em órgãos
oficiais: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Estudos Econômicos e Sociais da
Bahia (SEI), monitoramento das condições anemométricas realizadas pela Casa dos
Ventos Energias Renováveis S.A (CVER).
Clima
Morro do Chapéu possui um clima tropical de altitude e é classificado na escala
climática internacional de Köppen como Cwa. Com temperaturas suaves para a
região com baixa latitude, por volta de 18 a 28 °C, no verão. E no inverno, já foi
registrada temperatura mínima abaixo de 10 °C, embora ocorram muito raramente. E
por apresentar um verão úmido e mais fresco que as cidades do entorno, moderada
principalmente pela altitude acima dos 1000m e pelas chuvas de verão que se
apresentam torrencialmente ou advindas do oceano. Possuindo invernos
relativamente frios e mais secos e verões úmidos com dias quentes e noites mais
frescas.
A cidade apresenta duas estações bem definidas: A das chuvas vai de novembro a
abril e a da seca vai do final de abril a outubro.
A LT 500KV Parque Solar Nova Olinda é responsável por uma área de 690 hectares,
com capacidade geradora de 290 MW, abarcando, além de São João do Piauí, o município
de Ribeira do Piauí e de responsabilidade da empresa Enel Green Power Brasil
Participações Ltda (https://piauihoje.com/).
Quadro 07: Distância das CRQ’s ao empreendimento LT 500KV Parque Solar Nova Olinda
COMUNIDADE
Curtume
Saco
Elizier
Estreito
Curral Velho
Junco
Malhada
Riacho do Ancelmo
COMUNIDADE DISTÂNCIA EM KM
Curtume 10,719
Saco 10,300
Elizier 5,413
Estreito 6,644
Junco 8,836
Malhada 8,534
A comunidade Saco fica a uma distância de 3,2 km da sede São João do Piauí.
Saindo da zona urbana do município pela PI-141 em direção a cidade de Brejo do Piauí, a
comunidade Saco é o primeiro povoado a direita da rodovia, localizada nas coordenadas
23.0798,947E e 9.077.595,218N.
pelos autores com dados da pesquisa de campo, IBGE, DNIT, INPE e INCRA.
6
Entrevista de Nego Bispo concedida ao ECQ, 19/01/2021.
Acervo da pesquisa, 2021.
Muitas famílias, com a decisão de uma única agrovila e a construção das casas na
margem da rodovia, que foram contrárias a somente uma agrovila, voltaram para a margem
do rio, para a comunidade Curtume.
7
Entrevista de Nego Bispo concedida ao ECQ, 19/01/2021.
8
Entrevista de Antônio Bispo concedida ao ECQ, 19/01/2021
Acervo da pesquisa, 2021.
Na parte central da nucleação está uma das sedes da associação do território, usada
para reuniões deliberativas, palestras, missas e eventos comunitários e localiza-se nas
coordenadas 230.798,781E e 9.077.758,237N. Sua construção é produto de negociações
entre a associação do território com empreendimentos instalados próximos à comunidade,
como medida compensatória. Sua estrutura física é composta por um pequeno auditório,
dois banheiros e uma cantina. Não possui ventiladores, as cadeiras do auditório são frutos
de doações de escolas que passaram por reformas, as descargas do banheiro não
funcionam e apresenta problemas na madeira da cobertura.
9
Entrevista de Ana Paula França concedida ao ECQ, 18/01/2021.
Acervo da pesquisa, 2021.
C D
PRANCHA 08: Pontos notáveis na Comunidade Saco: A: Espaço Mandinga de Quilombo; B: Cozinha de Quilombo; C: Bar e mercearia
do Dé; D: 1º Campo de futebol do Saco (Acervo da Pesquisa, 2021).
Outro lugar de uso social, que se destaca como importante espaço coletivo, é o
Ponto de Cultura Mandinga de Quilombo, agora em desuso, nele aconteciam as rodas de
capoeira comandadas pelo mestre Tiziu.
Elaborado pelos autores com dados da pesquisa de campo, IBGE, DNIT, INPE e INCRA.
Ao
lado da
Fig. 21: Sede da associação no Curtume Fig. 22: Espaço cultural de Curtume
O interesse das mulheres para a prática esportiva do futebol não faz muito
tempo. De acordo com a jogadora Ana Cristina F. da Silva (informação verbal10), foi a
partir de reuniões às sextas-feiras, para lanches e brincadeiras como o “mata” (bola
envenenada ou queima), que surgiu a ideia de montar um time de futebol. Um
momento relatado por ela considerado importante na história do time feminino é sobre
o primeiro torneio que participaram na comunidade estreito, em 2018, ela narra as
falas de desestímulo que ouviram antes das partidas, mas recorda-se também da
felicidade quando conquistaram a vitória, levando o prêmio em dinheiro no valor de
R$50,00 reais.
[...] aí o que é que o povo do riacho faz? Se aliam com o MST. Eles
mesmo ocupam a área junto com o MST. Na primeira ocupação, o
MST só traz gente de fora, de Picos, Paulistana, até a região de
Picos, da grande Picos. Na segunda ocupação, quando o MST vai
trazendo gente fora, aí eles: “Não! É nós! ”. Aí eles entram com o
MST e criam o assentamento Lisboa. Tanto é que o assentamento
Lisboa, só tem negros. É um assentamento só de negros. Então é só
o povo... aqui a gente chama de “a progênie do riacho”. Então quando
acontece isso, aí o Nego desperta. Na sequência, o movimento
sindical diz... tem um superintendente do INCRA que resolve ocupar
essa terra aqui. É um acordo que o cara do INCRA faz com a família
tradicional daqui... com o Paes Landim... pouca gente sabe dessa
história, né? E aí nesse acordo é pra trazer o povo da cidade. Só que
o povo da região aqui de baixo, do Ancelmo, saca e faz a mesma
coisa que fez em Lisboa, então cai pra dentro, já em 96. O MST entra
por um lado e o movimento sindical tenta entrar pelo outro
(INFORMAÇÃO VERBAL15).
13
Entrevista de Nego Bispo concedida ao ECQ, 19/01/2021.
14
Entrevista de Nego Bispo concedida ao ECQ, 19/01/2021.
15
Idem.
informação, o povo da região de baixo – como são chamados os moradores de Riacho
dos Negros – e também da cidade foram até as terras e as ocuparam (informação
verbal16).
Nego Bispo relata que na primeira reunião que participou, viu uma multidão de
200 pessoas, sendo a maioria pessoas da cidade. Recordando-se do que ocorreu em
Marrecas, fez um discurso e percebeu que ao terminar sua fala, mais da metade das
pessoas presentes haviam ido embora. Das 200 pessoas, restaram 80 – sendo 36
famílias da cidade e 44 pessoas vindas de Riacho dos Negros. Em seu discurso, Nego
Bispo diz:
21
Entrevista de Nego Bispo concedida ao ECQ, 19/01/2021
22
Entrevista de Nego Bispo concedida ao ECQ, 19/01/2021.
orgânica do mesmo a partir de um preparo químico especifico, já o curtume é o nome
dado ao local onde essa atividade era executada (https://www.dicio.com.br/curtume/).
Quadrilha Junina do Saco/Curtume surgiu como uma estratégia para tornar as aulas
mais animadas e motivadas na época em que havia escola comunitária para jovens e
adultos na comunidade. A ação foi uma iniciativa da professora Edileusa Santos, que
na época era bolsista do projeto Escola Comunitária, do MST. Mesmo sendo uma
atividade voltada para os alunos da escola comunitária, a quadrilha junina envolveu
toda a comunidade, tanto jovens do Saco quanto do Curtume. A organização da
quadrilha era por conta da própria comunidade, não pediam patrocínio e o figurino
eram eles mesmos que preparavam, utilizando suas próprias roupas estampadas,
coloridas e com toda a criatividade que o festejo pedia. De acordo com a D. Edileusa
(informação verbal23), usavam até lençóis como saias ou vestidos para dançar.
Rita explica que há três anos não fazem mais Xangô devido ao trágico
assassinato do seu filho Lucas, responsável pela Tenda São Lucas, mas que ainda
benze quando alguém da comunidade a procura, trabalhando apenas com consulta
esporádica. Diz ainda ter vontade de continuar com as festas, mas que não aguenta
mais, devido a sua idade e mantém ainda o tambor da casa guardado, ou como ela
mesmo diz: “deixa ele quietinho aí...” (informação verbal26).
Eu e meu filho trabalhava [benzenção], mas a força maior era dele e
ele era registrado. Tem o papel e tudo, mas só que tiraram a vida
dele... tiraram a vida dele. Aí ficou só eu. Aí eu aqui, sempre eu benzo
quando tem uma precisão, tem uma criança com quebranto, tem uma
pessoa com a arca caída... sempre me procuram, né? Eu acho que
com a fé em Deus, eu acho que eles procuram porque se dá bem.
Sempre procuram e eu nunca dei um não. Quando chega eu recebo,
faço o que eu posso e o que eu sei (INFORMAÇÃO VERBAL 27).
Fig. 32: Altar da Tenda São Lucas ainda preservados na casa de Maria Rita.
Saco/Curtume, embora sua residência seja na sede de São João, e o Batuque do
Curral Velho (que será apresentado no Estudo do Componente Quilombola de Riacho
dos Negros), sendo ela, inclusive, prima do Mestre Augusto.
29
Entrevista de Wilma Benevides de Sousa, concedida ao ECQ, 18/01/2021
30
Idem.
Parte de alimentação nesses eventos é de responsabilidade das mulheres do
coletivo – um grupo de aproximadamente 30 mulheres – na qual, cada uma fica
responsável por um tipo de alimento. Além de atividades de entretimento, o coletivo
também atua na busca por cursos de capacitação e políticas públicas para a
comunidade (item Organização comunitária).
8.3.1 Educação
31
Entrevista de Maria Edileusa de Oliveira Santos concedida ao ECQ, 19/01/2021.
32
Entrevista de Sidney Gomes Ferreira concedida ao ECQ, 23/01/2021.
De acordo com Sidney, que também é motorista do transporte escolar, existe
atualmente uma média de 80 alunos frequentando escolas na sede de São João do
Piauí, além dos estudantes que vão cursar o ensino técnico ou superior, após
conclusão do ensino médio.
8.3.2 Saúde
33
Entrevista de Sidney Gomes Ferreira concedida ao ECQ, 23/01/2021.
para outras cidades, como São Raimundo Nonato, Floriano ou Teresina.
As duas nucleações, Saco e Curtume, têm coleta de lixo uma vez na semana,
todas as quintas-feiras, geradas a partir das manifestações anteriormente realizadas
pelos moradores, porém, é frequentemente relatado que tal oferta coleta não é mais
suficiente para a demanda das comunidades e, muitas vezes, é preciso incinerar o lixo
no quintal para que não acumule.
34
Entrevista de Ana Paula de França ao ECQ, 18/01/2021.
relatos de moradores, pessoas de fora da comunidade vêm descartando esses
entulhos e lixos domésticos nas áreas próximas à localidade, não havendo, por parte
dos órgãos públicos, controle ou punição aos responsáveis, que dificilmente serão
identificados, pois o fluxo de carros que passam na PI-141 é intenso e complexo de se
monitorar.
Fig. 33: Lixo na reserva legal da CRQ Fig. 34: Trânsito de veículos na PI-141
Fig. 35: Esgoto a céu aberto no Saco Fig. 36: Casa de Alvenaria no Curtume
Fig. 37: Caixa d’água de Curtume Fig. 38. Trecho do Rio Piauí em Saco/Curtume
Fig. 39: Kit de placas solares em Curtume Fig. 40: Kit de placas solares em Saco
8.3.5 Produção
38
Vide item aspectos Históricos, Culturais e Religiosos.
39
Vide item aspectos Históricos, Culturais e Religiosos.
APP’s estão situadas na área de abrangência da Bacia Hidrográfica do Rio Piauí, o
que exige um levantamento detalhado das condições atuais dessas áreas.
Fig. 43: Área de Proteção Permanente (Rio Piauí) encontrada próxima a comunidade Barra II.
8.4.1.1 Baixões
Baixões com produção agrícola perto do Baixões com produção agrícola perto do Rio
Rio de Barra II. Acervo técnico 2023. de Barra II.Acervo técnico 2023.
Fig. 46: Morro próximo a comunidade Saco, paralelo a estrada de acesso a Lagoa Doce.
8.4.2.1 Flora
Arruda)
Acervo de pesquisa, 2021.
8.4.2.2 Fauna
A Caatinga é o único bioma restrito ao território brasileiro que possui uma rica
diversidade de animais adaptados às suas condições climáticas, o que confere um
elevado número de espécies que ocorrem exclusivamente nessa região.
4.5. Recursos Hídricos 4.5.1. Águas Superficiais O Município de Morro do Chapéu possui
drenagens que pertencem a três grandes bacias hidrográficas. A oeste, as drenagens fluem
para a bacia do rio São Francisco (sub-bacia do rio Jacaré), ao norte as drenagens estão
inseridas na bacia do rio Salitre e a sul e leste drenam as águas para a bacia do rio Paraguaçu.
Dentre as drenagens que cortam o município, destacam-se: o rio Jacaré, o rio Salitre e o rio
Jacuípe (CEI, 1994f). O rio Jacaré é uma drenagem intermitente que flui para nordeste e faz o
limite municipal oeste com América Dourada, João Dourado e São Gabriel. O rio Salitre ocorre
ao norte da área municipal, sendo que suas nascentes estão ao norte da cidade de Morro do
Chapéu. Trata-se de uma drenagem intermitente com direção de fluxo para norte. O rio
Jacuípe flui na direção leste e ocorre no extremo leste da área municipal. Apresenta caráter
intermitente, em grande parte do trecho em que corre no Município de Morro do Chapéu,
adquirindo perenidade nas proximidades da divisa com o Município de Piritiba. 4.5.2. Águas
Subterrâneas No Município de Morro do Chapéu, podem-se distinguir cinco domínios
hidrogeológicos: formações superficiais Cenozóicas, carbonatos/metacarbonatos, grupo
Chapada Diamantina/Estancia/Juá, metassedimentos/metavulcanitos e cristalino (Figuras 4 e
5). As formações superficiais Cenozóicas, são constituídas por pacotes de rochas sedimentares
de naturezas diversas, que recobrem as rochas mais antigas. Em termos hidrogeológicos, têm
um comportamento de “aqüífero granular”, caracterizado por possuir uma porosidade
primária, e nos terrenos arenosos uma elevada permeabilidade, o que lhe confere, no geral,
excelentes condições de armazenamento e fornecimento d’água. Na área do município, este
domínio está representado por depósitos relacionados temporalmente ao Quaternário
(coberturas residuais) e Terciário-Quaternário (coberturas detrito-lateriticas). A depender da
espessura e da razão areia/argila dessas unidades, podem ser produzidas vazões significativas
nos poços tubulares perfurados, sendo, contudo, bastante comum, que os poços localizados
neste domínio, captem água dos aqüíferos subjacentes. Os carbonatos/metacarbonatos
constituem um sistema aqüífero desenvolvido em terrenos com predominância de rochas
calcárias, calcárias magnesianas e dolomiticas, que têm como característica principal, a
constante presença de formas de dissolução cárstica (dissolução química de rochas calcárias),
formando cavernas, sumidouros, dolinas e outras feições erosivas típicas desses tipos de
rochas. Fraturas e outras superfícies de descontinuidade, alargadas por processos de
dissolução pela água propiciam ao sistema porosidade e permeabilidade secundária, que
permitem acumulação de água em volumes consideráveis. Infelizmente, essa condição de
reservatório hídrico subterrâneo, não se dá de maneira homogênea ao longo de toda a área de
ocorrência. Ao contrário, são feições localizadas, o que confere elevada heterogeneidade e
anisotropia ao sistema aqüífero. A água, no geral, é do tipo carbonatada, com dureza bastante
elevada. O domínio hidrogeológico denominado grupo Chapada Diamantina/Estancia/Juá,
envolve litologias essencialmente arenosas com pelitos e carbonatos subordinados, e que tem
como características gerais uma litificação acentuada, forte compactação e intenso
fraturamento, que lhe confere além do comportamento de aqüífero granular com porosidade
primária baixa, um comportamento fissural acentuado (porosidade secundária de fendas e
fraturas), motivo pelo qual prefere-se enquadra-lo com mais propriedade como aqüífero do
tipo fissural e “misto”, com baixo a médio potencial hidrogeológico. Os
metassedimentos/metavulcanitos e cristalino têm comportamento de “aqüífero fissural”.
Como basicamente não existe uma porosidade primária nestes tipos de rochas, a ocorrência
de água subterrânea é condicionada por uma porosidade secundária representada por fraturas
e fendas, o que se traduz por reservatórios aleatórios, descontínuos e de pequena extensão.
Dentro deste contexto, em geral, as vazões produzidas por poços são pequenas e a água, em
função da falta de circulação, dos efeitos do clima semi-árido e do tipo de rocha, é na maior
parte das vezes salinizada. Essas condições definem um potencial hidrogeológico baixo para as
rochas, sem, no entanto, diminuir sua importância como alternativa no abastecimento nos
casos de pequenas comunidades, ou como reserva estratégica em períodos de prolongadas
estiagens
Há alguns anos atras havia uma política de construção de barreiros no território
de Barra II onde tem-se baseado no conceito de que, desde que a ausência de água
era por definição um problema de falta de água, a situação deveria ser resolvida com a
acumulação de água em grandes quantidades, o que tem sido chamado de "solução
hidráulica". É de chamar a atenção o fato de que, até bem pouco tempo, a grande
maioria dos barreiros ou trincheiras tem sido escassamente usada, porque não se
pensam mais seriamente de que maneira essa água chegaria a todos os usuários da
comunidade. Argumenta-se, nesta região de Barra II, que um dos aspectos
negligenciados pelos planejadores físicos tem sido a natureza disseminada da
demanda de água que torna inconveniente a concentração da oferta em um limitado
número de grandes poços particulares ou apoio público para com as famílias da
comunidade.
A Lagoa Doce, como mostra a figura abaixo, tem origem natural e está situada
em depressões de rochas impermeáveis na comunidade Barra II, produzidas por
causas diversas e sem conexão com o Rio Piauí. Essas águas são provenientes da
chuva, de uma nascente local de cursos de água chamada Lagoa Grande essa no
período de cheia desagua na lagoa doce. Contudo antes dessa água chegar a
comunidade Barra II , proprietários privados fizeram barreiras para que as águas da
mesma assim interferindo no fornecimento de água das mesmas na comunidade e nas
lavouras próximas, assim havendo um pequeno barramento.
Figs. 56 e 57: Poços artesianos localizados na sede da comunidade (A) e próximo ao Rio Piauí.
Elaborado pelos autores com dados da pesquisa de campo, IBGE, DNIT, INPE e INCRA,
2021.
A situação das estradas vicinais, citadas para acessos aos povoados da CRQ
Riacho dos Negros, encontra-se, em boa parte, deteriorada, apresentando erosões
denominadas popularmente como “barrocas”. No período chuvoso, algumas
comunidades quilombolas ficam praticamente isoladas, dificultando o acesso dos
moradores até a sede do município. Como exemplo, é citado que o povoado Riacho
do Ancelmo – quando o nível da água dos riachos, que cortam seu território, está
elevado – sua travessia torna-se um desafio e, em alguns casos, até impossível. Tanto
que, uma das reivindicações da comunidade mais ouvidas diz respeito à melhoria das
estradas e construção de pontes resistentes.
Elaborado pelos autores com dados da pesquisa de campo, IBGE, DNIT, INPE e INCRA, 2021.
Seu acesso é feito por estrada, que comumente chama-se de piçarra, não
apresentando grandes obstáculos de tráfego nos períodos secos. Já nos meses de
chuva, quando o volume de água do Rio Piauí aumenta, o tráfego se torna mais
41
Entrevista de Roseane Maria Rodrigues concedida ao ECQ, 20/01/2021.
complicado devido à precariedade da “passagem molhada”, que liga território
Saco/Curtume ao Riacho dos Negros. A prefeitura faz manutenções, colocando piçarra
no trecho após as cheias, no entanto, segundo os moradores, essa medida é somente
paliativa e não resolve o problema.
Fig. 62: Passagem molhada Curtume-Junco. Fig. 63: Estrada de piçarra do Junco
Fig. 64: Poço Jorrante do Junco Fig. 65: Poço que abastece Junco
42
Entrevista de Osmar Venâncio de Sousa concedida ao ECQ, 20/01/2021.
antiga escola, nas coordenadas 23.0797,828E 9.086.383,213N; e a igreja evangélica
Assembleia de Deus.
O prédio escolar que o povoado dispõe é usado para eventos diversos, como
comemoração de dia das mães, dos pais, das crianças e palestras ou reuniões da
CRQ Riacho dos Negros, pois a escola não funciona desde o final de 2018 e a
associação do território, por ser nova, ainda não possui uma sede fixa.
Outro ponto citado pelos moradores como lugar de referência nas conversas e
sociabilidade é uma árvore de algaroba, um dos espaços de sociabilidades mais
frequentados na comunidade, e fica localizado em frente à residência da Maria da
Natividade da Conceição, conhecida por todos como Madinha, uma das pessoas mais
velhas de Malhada.
Fig. 75: Trave da quadra masculina Fig. 76: Trave da quadra feminina
A
ce rv
o da
pesquisa, 2021.
.
Fig. 81: Residência em Curral Velho Fig. 82: Cisterna em Curral Velho
O prédio escolar, citado acima, funciona como local de reuniões, a escola foi
desativada desde o final de 2018. Os alunos de Curral Velho, desde a creche ao
ensino médio, se deslocam para a escola no Assentamento Marrecas que fica à 8 km
da nucleação.
Acervo da
pesquisa, 2021.
O acesso ao cemitério, que fica na Favela, é feito atravessando o rio, pois não
há ponte ou passagem molhada entre as duas nucleações. Dependendo do período
do ano, o acesso fica comprometido e os moradores improvisam uma passagem com
pedaços de madeira, como podemos observar na figura abaixo.
Fig. 84: Travessia de Curral Velho para Favela Fig. 85: Cemitério da Fulôzinha
A
c e
r v
o
da pesquisa, 2021.
Elaborado pelos autores com dados da pesquisa de campo, IBGE, DNIT, INPE e INCRA,
2021.
Fig. 87: Riacho de acesso a Riacho do Ancelmo Fig. 88: Acesso a Riacho do Ancelmo
A
c e
r v
o
da pesquisa, 2021.
Fig. 89: Poço que abastece Riacho Fig. 90: Represa do Arvão
A
c e
r v
o
da pesquisa, 2021.
da pesquisa, 2021.
Não existem templos religiosos na comunidade, as rezas para santos são feitas
nas casas dos moradores, onde a cultura se une a religiosidade através das
promessas feitas pelo fundador do Território: Ancelmo Rodrigues.
Elaborado pelos autores com dados da pesquisa de campo, IBGE, DNIT, INPE e INCRA, 2021.
A nucleação conta com Unidade Básica de Saúde (UBS), com atendimento do
médico e enfermeira todas às quintas-feiras. As consultas podem ser marcadas com a
secretária que fica disponível de segunda a sexta na UBS, e de acordo com ela, são
25 fichas para atendimento disponibilizadas por semana. No posto também é feito
acompanhamento dos idosos, crianças e gestantes das pessoas do Estreito, Malhada
e Junco.
da pesquisa, 2021.
Acervo da pesquisa,
2021.
A comunidade possui um telefone público do tipo orelhão, atualmente não está
funcionando, mas que há manutenção sempre que solicitado. Antes da popularização
do celular, era importantíssimo na comunicação entre pessoas de toda CRQ Riacho
dos Negros e familiares que migravam para outros estados.
Elaborado pelos autores com dados da pesquisa de campo, IBGE, DNIT, INPE e INCRA,
2021.
irrigada
Acervo da pesquisa, 2021.
43
Entrevista de Nego Bispo concedida ao ECQ, 19/01/2021.
44
Idem.
paternidade dele seja igual a paternidade de todo mundo. E aí ele
quer participar do patrimônio – o cara estudou – quer participar do
patrimônio da família. Aí a família se recusa, mas o pai continua
querendo (...). Aí a família, pra se livrar de Ancelmo, manda ele
escolher uma fazenda. Aí ele escolhe o Riacho, que passa a ser
Fazenda Riacho do Ancelmo (informação verbal45).
45
Idem.
46
Entrevista de Sérgio de Aquino Gomes concedida ao ECQ, 21/01/2021.
Para Coelho (2017), o que difere a ocupação das terras quilombolas em Riacho
das outras partes do Brasil é que elas não foram doadas a um escravo comum e sim a
um “escravo filho herdeiro” – levando em consideração as divergências acerca da
negritude de Ancelmo, o que torna única a compreensão histórica da narrativa local.
De acordo com seu relato, o seu avô é nascido em Riacho, sendo um dos
primeiros moradores de lá e, após um período veio ocupar a região que hoje
compreende a comunidade Malhada, também inserida atualmente no Território de
Riacho dos Negros (informação verbal47).
47
Entrevista de José Rodrigues do Rosário concedida ao ECQ, 26/01/2021.
Fig. 103: Sr. Zé do Firmino, tataraneto de Ancelmo.
De acordo com o Sr. Sérgio, a comunidade Riacho ainda preserva uma das
tradições criadas por Ancelmo quando de seu estabelecimento na fazenda: trata-se
das rezas como agradecimento pelo surgimento de água no riacho para abastecer a
comunidade. Por conta da graça alcançada pelos clamores de Ancelmo, até hoje eles
rezam e festejam durante todo o mês de maio.
Aqui não tinha água não. Ele fez uma promessa com dois santos:
Uma chamava Conceição e a outra Coração de Maria: se aparecesse
uma água aqui [aponta], dentro desse riacho, ele festejava 31 noites
de maio e cantava com festa e leilão. Ele ia rezar enquanto ele fosse
vivo. Os filhos, os bisnetos, tataranetos... (INFORMAÇÃO VERBAL
48
).
Mesmo não existindo o prédio físico de uma igreja católica, as rezas são feitas
nas casas dos moradores de Riacho que ainda preservam o oratório de madeira e os
santos, segundo eles, ainda originais, sendo os mesmos utilizados desde o início do
pagamento da promessa feita por Ancelmo.
48
Entrevista de Sérgio de Aquino Gomes concedida ao ECQ, 21/01/2021.
A presença de igrejas ou capelas católicas no Território está presente em três
comunidades: Estreito, Elizier e Malhada.
49
Entrevista de Luciana de Aquino Silva concedida ao ECQ, 26/01/2021
PRANCHA 10: Imagens de santos da promessa de Ancelmo em Riacho. (Acervo da Pesquisa, 2021).
Em Elizier, os festejos ligados à religiosidade católica vêm desde as novenas em
honra a São José, que eram realizadas na casa do morador José de Aquino. Porém, após a
compreensão do topônimo da comunidade e o vínculo com Santa Terezinha de Liseux (na
pronúncia “Liziê”) – santa do proprietário da fazenda que dá origem ao povoado –, os
moradores passaram a venerá-la a partir de 2009, de acordo com Edmilson Santana,
organizador dos eventos locais. Durante o novenário há também eventos culturais como
festas, barracas com comidas e bebidas, realizadas na quadra local e organizadas pelo
grupo de jovens do território, além de eventos esportivos como futebol em categorias
masculino, feminino e infantil50.
Não há uma única entidade que rege a casa, de acordo com as suas palavras “a
entidade aqui que eu sempre me confio, primeiro é em Deus. Depois os orixás...”
(informação verbal54) e, de forma geral, trabalha com os Preto Velho, Jurema, Ogum ou
ainda o que ela denomina de “aldeia”, descrito por ela e também um de seus filhos que
regem a casa como uma entidade de força e energia maior que curam e guiam as pessoas
para o melhor caminho. Em dias convencionais, costumam abrir a tenda para os trabalhos
50
Entrevista de Edmilson Santana Sousa concedida ao ECQ, 26/01/2021
51
Entrevista de Jarlane Rodrigues concedida ao ECQ, 20/01/2021
52
Entrevista de Bonifácia Venâncio Pereira concedida ao ECQ, 20/01/2021.
53
Idem.
54
Idem.
nas sextas-feiras (idem).
Dentro das atividades culturais e religiosas ligadas à tenda, ela organiza anualmente
as festividades de Cosme e Damião, em que se reúnem várias pessoas de toda a região em
uma grande festa para saudar os santos em todo 27 de setembro. Nessa ocasião, as
mulheres reúnem-se com antecedência nos preparativos das comidas, em que se abatem
crias como porcos, galinha ou boi, além de demais acompanhamentos para formar o
banquete da festa.
Em
55
Idem.
56
Entrevista de Bonifácia Venâncio Pereira concedida ao ECQ, 20/01/2021.
nas entrevistas e conversas informais, duas delas foram identificadas, trata-se da Igreja
Assembleia de Deus – Congregação Ebenézer, na Localidade Junco, com a realização de
cultos religiosos todas as terças-feiras e quintas-feiras. Na comunidade Estreito há a Igreja
Assembleia de Deus – Congregação Nova Canaã, com cultos às sextas-feiras e aos
domingos.
Entre tantas outras manifestações religiosas do Território Riacho dos Negros, como o
reisado e a roda de São Gonçalo, destacam-se as rezas e comemorações da Semana
Santa. Dona Maria Natividade da Conceição, conhecida carinhosamente como Madinha,
explica que no povoado Malhada preserva-se uma tradição de todos os dias rezarem na
casa de um morador da comunidade e na sexta-feira santa/da paixão, há uma vigília que
dura toda a noite até de manhã, entoando rezas e cantos na casa de um morador. No
Sábado de Aleluia, fazendo um grande banquete com todos da comunidade, em que matam
animais de criação como boi, ovelha, galinha e juntos, compartilham o mesmo alimento
(informação verbal57).
57
Entrevista de Maria da Natividade da Conceição concedida ao ECQ, 20/01/2021.
A B C
D E
PRANCHA 11: Templos cristãos presentes no Território Riacho dos Negros. A: Igreja de N. Sra da Conceição (Estreito); B: Igreja de Sta Terezinha de
Liseux (Elizier); C: Igreja de São Benedito (Malhada); Igreja Assembléia de Deus – Congregação Ebenézer (Junco); D: Igreja Assembleia de Deus –
Congregação Nova Canaã (Estreito). Acervo da Pesquisa, 2021.
A Madinha, que tem uma promessa para subir no morro e cumpri-la, nos conta que o
pagamento das promessas lá começou a partir de uma moradora da região:
[Lá é] do tempo da finada Luiza do Barbosa, ela sempre ia pra lá, e ela
rezava lá e os pessoal acompanhava ela (...). Ela que começou (...) e por
causa dela é que começou a levar os mais novos (...). La tem um cruzeiro e
os povo sempre vai lá pra fazer promessa, né? (...) Às vezes quem quer
levar um braço [a penitência] é um braço [de mentira] 58, na cabeça é uma
cabeça, é perna é uma perna. As promessas é sempre assim e ele ajuda e
nós sempre fica ali... (informação verbal59).
A riqueza cultural do Território Riacho dos Negros debruça-se por uma série de
manifestações ligadas à dança, música, entretenimento, festividade, identidade,
artesanatos, dentre tantos outros impossíveis de se descrever aqui. Destacamos alguns
descritos e apontados pelos nossos entrevistados e entrevistadas e também durante as
conversas informais pelas comunidades.
58
As partes de corpos referem-se ao que chamamos de ex-votos, que são o pagamento de
promessas feitas pela cura em alguma parte do corpo e a penitencia é levar uma parte do corpo “de
mentira”, geralmente feitos de gesso ou madeira, como forma de testemunho da graça alcançada.
59
Idem.
60
Entrevista de Maria Joana Pereira Rodrigues concedida ao ECQ, 22/01/2021.
presente (informação verbal61).
“Ôh cabeça de bale, virou tam tam...” é repetido diversas vezes ao som mais ritmado
do caixão e numa dança mais compassada, seguindo a melodia entoada e com coreografias
que exigem troca de pares e dança em círculos (informação verbal66).
64
Entrevista de Maria Joana Pereira Rodrigues concedida ao ECQ, 22/01/2021.
65
Idem.
66
Entrevista de Maria Joana Pereira Rodrigues concedida ao ECQ, 22/01/2021.
Curral Velho já foi contemplado em alguns editais e prêmios ligados à cultura popular,
possibilitando a permanência e disseminação de sua manifestação. De acordo com o Seu
Augusto, o Batuque já viajou e se apresentou em diversas regiões do Piauí e do Nordeste,
participando também de festivais (informação verbal67).
Hoje, o maior desafio cultural de Curral Velho é a permanência do Batuque, visto por
eles como pauta de desinteresse das novas gerações que não buscam perpetuar a memória
e a história local. A produção de oficinas de aprendizados para os jovens é uma das metas
da comunidade futuramente.
67
Entrevista de Augusto Vieira de Sousa concedida ao ECQ, 24/01/2021.
68
IPHAN, Bens Negros: referências culturais em comunidades quilombolas do Piauí.
Superintendência do IPHAN no Piauí. Org.: Ricardo Augusto Pereira. Teresina-Piauí. IPHAN-PI,
2012.
69
IPHAN, Cabeça de Bale: batuque da comunidade quilombola Curral velho. São João do Piauí.
Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=OtiQ94xmXXM
70
Entrevista de Maria Emídia concedida ao ECQ, 20/01/2021
PRANCHA 12: Cultura Material e espacialidade ligada ao Batuque do Curral Velho. Parte Superior: instrumento caixão. Parte Inferior:
Sede de Batuque Manoel Tomaz. (Acervo da Pesquisa, 2021).
A cadeia operatória ligada à produção cerâmica do Junco, de acordo com D. Maria
Emídia (informação verbal71), é constituída de:
- Moldar;
- Queimar no forno;
A carnaúba, em abundância por toda a região, era usada para a extração das filhas
71
Idem.
72
Idem.
que logo se tornariam a palha, matéria-prima principal para a confecção de esteiras,
chapéus e vassouras para uso próprio e comercialização a nível local e adjacências
(informação verbal73).
Os cabelos com “estética afro” também estão cada vez mais fazendo parte do
cotidiano de mulheres jovens e adultas do Território Riacho dos Negros. Maria Betânia
Gomes Pereira aprendeu a lidar com cabelos fazendo cursos e através da internet e hoje
atua na Comunidade Malhada aplicando várias técnicas de trançados em cabelos.
Dentre suas técnicas, para o trançado, ela usa o cabelo do tipo jumbo, e para a
aplicação em tela ela utiliza apenas cabelo humano. Devido ao reconhecimento de seu
73
Entrevista de Josefa Rodrigues de Sousa concedida ao ECQ, 24/01/2021.
74
Idem.
75
Entrevista de Maria Betânia Gomes Pereira concedida ao ECQ, 20/01/2021.
AcervoFigs.
da Pesquisa,
112 e 113:
2021.
Trançado em cabelos na Comunidade Malhada.
trabalho, antes essa matéria-prima vinha de grandes centros urbanos como São Paulo, mas
na cidade de São João, já há a venda desse tipo de material. O que, segundo ela,
impulsiona o desejo das meninas em adotarem ou assumirem a sua estética identitária,
principal foco do seu trabalho, por ser também uma mulher negra e quilombola (informação
verbal76).
76
Idem.
77
Entrevista de Osmar Venâncio de Sousa concedida ao ECQ, 20/01/2021.
Em Elizier, as comemorações da Padroeira local também mobilizam o sistema
esportivo local, na promoção de torneios e campeonatos de futebol tanto para adultos
masculino e feminino, quanto para crianças. A importância é tanta que é apontada pelos
próprios moradores como uma das manifestações culturais mais latentes da comunidade
(informação verbal78).
78
Entrevista de Edmilson Santana Sousa concedida ao ECQ, 26/01/2021.
Fig. 115 e 116: Gibão de vaqueiro e cela dispostos nas entradas das casas em Estreito e
Curral Velho.
criações (informação oral79).
79
Entrevista de Expedito Joaquim Nunes concedida ao ECQ, 26/01/2021.
Acervo da Pesquisa, 2021.
9.3.1 Educação
(...) a educação aqui tá meio bagunçada, porque a escola fechou (...) eles
[alunos] tem que ir pra Lisboa. Quando chove as estradas ficam ruins, tem
tempo que passa uma semana sem ir, 15 dias, por causa desses riachos
que desce, da água, não tem como passar (...) o transporte aí varia, tem
tempo que está um ônibus bom, depois vem um mais [ruim] (...) do Estado é
que é mais precário ainda (...) (INFORMAÇÃO VERBAL80).
80
Entrevista de Osmar Venâncio de Sousa concedida ao ECQ, 20/01/2021.
81
Entrevista de Jarlane Rodrigues de Sousa concedida ao ECQ, 20/01/2021.
9.3.2 Saúde
Para o consumo animal, além da água dos poços, os açudes, represas e barragens
atendem à demanda durante todo ano no dessedento dos animais, servindo de criatórios de
peixes (traíra e tilápia).
82
Entrevista de Roseane Maria Rodrigues concedida ao ECQ, 20/01/2021.
pesquisa, 2021.
Fig. 121 : Moradias na comunidade Malhada Fig. 122 : Moradias na comunidade Estreito
A
c er
v o
da pesquisa, 2021
Todas as comunidades do Território Riacho dos Negros têm energia elétrica, o que
possibilita o abastecimento das residências através do bombeamento de água dos poços.
Fig. 123: Torre de telefone em Estreito Fig. 124: Antena de internet no Estreito
Acervo da pesquisa, 2021.
9.3.5 Produção
Fig. 125: Plantação de capim em Curral Velho Fig. 126: Bananeiras em Elizier
83
Entrevista de José Rodrigues Neto concedida ao ECQ, 20/01/2021.
Acervo da pesquisa, 2021
A principal fonte de renda das famílias da CRQ Riacho dos Negros vem dos
programas sociais do governo federal, o programa Bolsa Família, e de aposentadorias rurais
ou de diárias de capina para aqueles agricultores que plantam uma área maior e podem
pagar, como aponta Osmar: “(...) a renda aqui, certa mesmo, é só o cartão cidadão, o bolsa
família, e outros trabalham umas diaristas pra esses caras que tem mais uma condiçãozinha
(...)” (informação verbal85).
84
Entrevista de Osmar Venâncio de Sousa concedida ao ECQ, 20/01/2021.
85
Entrevista de Osmar Venâncio de Sousa concedida ao ECQ, 20/01/2021.
É comum o êxodo rural no território que, contrário à CRQ Saco/Curtume, os jovens
de Riacho dos Negros, quando terminam o ensino médio e não encontram emprego na
região, migram para cidades do sudeste e centro-oeste em busca de oportunidades de
trabalho, principalmente na construção civil.
Por ter sido criada recentemente, a Associação ainda está em processo de registro
oficial87 e também não possui uma estrutura física, sendo que as reuniões acontecem
atualmente na Comunidade Malhada, por situar-se em um local mais central e assim,
possibilitar a participação de todas as comunidades (informação verbal88).
86
Idem.
87
Durante a coleta de dados deste ECQ, o presidente estava em tramite no cartório local realizando o
registro da Associação.
88
Idem.
89
Entrevista de Jarlâne Rodrigues de Sousa concedida ao ECQ, 20/01/2021.
pessoais.
9.4.1.1 Baixões
Nesse sentido, Mascaró e Mascaró (2010) dizem que: “A vegetação possibilita uma
menor pressão do calor radiante e proporciona condição de frescor, de absorção parcial dos
raios solares, além de gerar sombreamento para edificações, pedestres e veículos nas vias
urbanas”
90
Vide item Aspectos Históricos, religiosos e culturais.
Fig. 128. Baixão região da malhada.
9.4.1.2 Grotões/Grutiões
Outro ponto que chama atenção é o Grotão de Curral Velho chamado de Grotão dos
Rodrigues, local próximo a barragem Bom Sucesso. Nessa área há uma depressão bem
acentuada, sendo esse um dos pontos referências da comunidade com elevações baixas, o
qual é considerado como o marco inicial do principal acesso para a sua barragem.
Acervo de
pesquisa, 2021.
9.4.1.3 Morros
O Território Riacho dos Negros, pelo fato de ser situado em área com relevo
irregular, o que favorece a existência de cristas com menos de 300 m de altitude, sendo
denominadas morros. Que segundo a Resolução CONAMA 303/2002, define-se como uma
“elevação do terreno com cota do topo em relação à base entre cinquenta e trezentos
metros e encostas com declividade superior a trinta por cento (aproximadamente dezessete
graus) na linha de maior declividade” (CONAMA, 2002).
9.4.2.1 Flora
No Território Riacho dos Negros, encontram-se seis comunidades nas quais tem
como bioma a Caatinga. Desse total de comunidades Quilombolas, todos possuem
diversificação entre Caatinga arbórea e Caatinga arbustiva.
A região em estudo está inserida no “bioma Caatinga, onde representa uma das
maiores e mais distintas regiões fitogeográficas brasileiras, compreendendo uma área
aproximada de 734.478 Km², o que representa cerca de 70% da região Nordeste" (BUCHER
1982).
No que diz respeito a formação vegetal do município de São João do Piauí-PI, o qual
está inserida a região desse estudo, como já dito anteriormente o bioma Caatinga é
predominante, assim o estrato vegetal é formado por plantas xerófilas, as quais segundo
Silva (2016), são plantas que “compõem um grupo complexo que possui uma capacidade de
sobreviver e reproduzir em ambientes caracterizados geralmente por baixa precipitação e
condições atmosféricas que promovem uma rápida perda de água”. Além de algumas
plantas perenifólias como o Juazeiro e carnaúba, plantas essas que tem como
características principais maior longevidade das folhas (LIMA, 2005), ou seja, essas plantas
não perdem folhas no período de estiagem.
Além das características vegetais que formam uma paisagem exuberante, foi
observado também que os moradores daquela possuem habito cultural de preservar as
moradias mais antigas, o que demonstra uma grande riqueza cultural por parte deles. Essas
casas ainda existentes possuem na sua maioria, madeira de origem nativa como a
carnaúba, planta com grande resistência caulinar, sendo esta espécie uma das árvores
símbolos do estado do Piauí.
Fig. 137: Carnaúba (Copernicia prunifera).
9.4.2.2 Fauna
São diversas as espécies de animais silvestres que são utilizados pela comunidade
como alimento, sendo desde aves, peixes e quadrupedes, além dos animais domesticados.
Dentre esses animais têm-se: paca (Cuniculus paca), tatu verdadeiro (Dasypus
novemcinctus), tatu peba (Euphractus sexcinctus), cutia (Dasyprocta azarae), veado-
catingueiro (Mazama gouazoubira), caititu (Pecari tajacu), jacu (Penelope obscura), traíra
(Hoplias malabaricus), dentre outras.
No território de Riacho dos Negros é possível de ser encontrar uma variação grande
de avifauna como por exemplo: beija-flor (Thalurania glaucopis), cabeça-vermelho (Paroaria
dominicana), gavião-carijó (Rupornis magnirostris), tico-ticos (Zonotrichia capensis) e
coleiros (Sporophila caerulescens), destacando-se, ainda as várias espécies de papagaios e
periquitos (Psittacidae spp.), pica-paus (Picidae spp.) e, ainda, pombas e rolinhas
(Columbidae spp.). Considerando os registros de campo, estão entre as aves mais
abundantes de toda a região: carcarás (Polyborus plancus), periquitos (Brotogeris chiriri e
Aratinga aurea), as pombas e rolinhas (Columbidae).
Existem ainda alguns anfíbios na área do estudo. Apesar de serem animais com
necessidade de manutenção da sua pele umedecida, as espécies habitantes do bioma
Caatinga evoluíram e conseguem se desenvolver bem nesses ambientes, uma das
estratégias utilizadas por esses animais são os longos períodos de estivação, pode ser
entendida como um “conjunto de mecanismos fisiológicas e comportamentais utilizadas
pelos animais para sobreviverem em condições áridas” (CARVALHO et al., 2010).
As espécies de répteis que foram encontradas nas áreas de estudo são bastante
comuns na região, ocorrendo em uma grande variedade de habitats, contudo, a maioria
destas espécies, apesar de não serem habitantes exclusivas do interior da mata, possui
uma relação direta ou indireta com estes ambientes.
Dentro dos limites das áreas do território de Riacho dos Negros temos a presença de
Áreas de Preservação Permanente – APPs decorrentes do rio Piauí que é um curso d’água
natural e intermitente, entretanto poucas dessas áreas conta com vegetação ciliar no qual
acaba decorrendo em assoreamento do rio.
A Constituição Federal, diz que as águas dos lagos e dos rios podem
pertencer, conforme sua localização, à União (art. 20, VI) ou aos Estados
(art. 26, I), atribui competência exclusiva à União para legislar sobre águas,
e assim fez a União editando a Lei n.º 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que
institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, prevê a gestão dos recursos hídricos
de forma descentralizada e executada com a participação do Poder Público,
dos usuários e das comunidades. Entre as diretrizes da Política Nacional de
Recursos Hídricos, destaca-se a integração da gestão das bacias
hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras e dentre os
seus instrumentos, o enquadramento dos corpos de água em classes,
segundo usos preponderantes, declinando à legislação ambiental o
estabelecimento das classes (BRASIL, 1988).
A Resolução CONAMA n.º 357, de 17 de março de 2005, considerando
entre outros fundamentos, diz que a classificação das águas doces,
salobras e salinas é essencial à defesa de seus níveis de qualidade... de
modo a assegurar seu uso preponderante na seguinte ordem:
abastecimento doméstico, proteção das comunidades aquáticas, recreação,
irrigação, navegação, harmonia paisagística, agricultura e dessedentação
de animais, faz a classificação dos corpos de águas, em classes e
estabelece os níveis máximos permitidos para lançamento de efluentes e
resíduos sólidos domésticos e industriais, de acordo com o enquadramento
e classificação dos rios, além de autorizar os órgãos de controle ambiental a
acrescentar outros parâmetros, ou tornar mais restritos os estabelecidos, a
fim de atender as peculiaridades locais (BRASIL, 2005).
A Lagoa do São João, localizada na localidade Junco tem em geral origem natural e
está situada em depressões de rochas impermeáveis, é originada pela ocorrência de
diversas chuvas, porém não tem conexão com o Rio Piauí. Essas águas provenientes da
chuva ajudam a manter a biodiversidade aquífera na região da comunidade. A mesma lagoa
também é abastecida por um poço jorrante, localizado a 60 metros do ponto médio da lagoa,
na qual esse poço ajuda a manter a lagoa no mínimo hidratada, sem conseguir manter o
nível em seu ponto médio ou máximo, na qual a chuvas são responsáveis.
Há alguns anos, o acesso para a comunidade Malhada por estrada era apenas até a
comunidade Estreito, após os moradores tinham que seguir montados em animais
apropriados (equinos). Com a abertura de estradas, ficou mais fácil a chegada até a
comunidade Malhada, tornando-a por muitos a ser considerada centro da região de Baixo,
por sua localização em relação às demais localidades de Riacho dos Negros.
Longitude 9088257º
Fig. 140: Principal poço de abastecimento Fig. 141: casa de bomba do poço da Malhada
Figs. 143 e 144: Pontos d’água em Malhada. A: Principal tanque da comunidade malhada e
B: Cisterna em residência da comunidade Malhada.
A B
Longitude 9093446º
A Comunidade Curral Velho possui uma barragem bem notável na sua região,
próximo a uma chapada, chamada de Barragem Bom Sucesso a qual é abastecida pelas
águas da chuva que deslocam das partes mais altas próximas a ela. A barragem possui
peixes, como tilápias (Oreochromis niloticus) e traíras (Hoplias malabaricus), além do
aparecimento de jacarés (Caiman latirostris), essa é muito utilizada como fonte de água por
muitos animais silvestres e domésticos.
Quadro 14. Coordenadas geográficas de localização do Barragem Bom Sucesso, na comunidade
Curral Velho.
Latitude 0786909°
Longitude 9092195º
91
Entrevista de Justino Rodrigues da Silva Neto, concedida ao ECQ em 22/01/2021.
Fig. 150. Tanque da localidade Favela.
Longitude 9086025º
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Dissertação de mestrado em Arqueologia. Laranjeiras, Universidade Federal de Sergipe,
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ANEXOS