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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - CAMPUS XII – GUANAMBI


CURSO – PEDAGOGIA
COMPONENTE CURRICULAR: INTRODUÇÃO À PEDAGOGIA
PROFESSORA – SÔNIA MARIA ALVES DE OLIVEIRA REIS

Aluno(a) Jonatas Thiago Dos Santos Carneiro

ATIVIDADE ASSÍNCRONA - VALOR (2,0 PONTOS)


Leitura do Texto: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org.) A Questão Política da Educação
Popular, 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1980, p. 7 a 10.

O texto abaixo foi retirado da obra A questão política da Educação Popular,


organizada, em 1984, por Carlos Rodrigues Brandão. Trata-se de uma entrevista
dada por Antônio Cícero de Sousa (Ciço), um lavrador do Sul de Minas Gerais. O
fragmento que selecionamos é uma adaptação da entrevista.
— Ciço, o que é educação?
— Quando o senhor chega e diz “educação”, vem do seu mundo, o mesmo, um
outro. Quando eu sou quem fala, vem de um outro lugar, de um outro mundo. Vem
dum fundo de oco, que é o lugar da vida dum pobre, como tem gente que diz.
Comparação: no seu essa palavra vem junto com quê? Com escola, não vem? Com
aquele professor fino, de roupa boa, estudado; livro novo, bom, caderno, caneta,
tudo muito separado, cada coisa do seu jeito, como deve ser. Um estudo que
cresce e que vai muito longe de um saberzinho só de alfabeto, uma conta aqui e
outra ali. Do seu mundo vem um estudo de escola, que muda gente em doutor. É
fato? Penso que é, mas eu penso de longe, porque eu nunca vi isso por aqui.
Quando eu falo, o pensamento vem de um outro mundo. Um que pode até ser
vizinho do seu, vizinho assim, de confrontante, mas não é o mesmo. A escolinha cai
não cai ali num canto da roça, a professorinha dali mesmo, os recursos tudo como
é o resto da regra de pobre. Estudo? Um ano, dois, nem três. Comigo não foi nem
três. Então eu digo “educação” e penso “enxada”, o que foi para mim. Mão que foi
feita pro cabo de enxada acha a caneta muito pesada...

1) Com base nesse trecho de entrevista, você deverá redigir um texto expondo as opiniões de
Ciço sobre EDUCAÇÃO.

Ciço diz na entrevista que a educação de cada um deles vem de um mundo diferente.
Diz ele que a enxada, ou seja, o trabalho foi sua grande escola.
Para muitos como Ciço a educação da escola é uma escolha. O trabalho sempre é uma
escolha mais certa, talvez por falta de condições ou até mesmo incentivos. O
“saberzinho” do alfabeto que ele diz seria o suficiente para quem é como esse povo da
roça. Ciço questiona sobre a cultura escolar, relevando que a escola acaba sendo algo
que ajuda, mas não desenvolve. Também critica a cultura escolar, afirmando que, para
os pobres, a escola ensina um mundo como ele não é. Ele também discute as relações
entre a cultura escolar e desigualdade social, analisando as representações sobre a
infância. Ciço aponta duas formas de educação. A que se aprende na escola e a que se
dá em casa. E cada uma serve para algo na vida das pessoas.

No final da entrevista, quando Carlos Rodrigues Brandão (1984) levanta a


possibilidade de existir uma escola diferente, comprometida com a luta e os
interesses dos(as) camponeses(as), dos coletivos pobres do Brasil, Ciço dá a
seguinte resposta:
Agora, o senhor chega e diz que até podia ser diferente, não é assim? Que não é só
pra ensinar aquele ensininho apressado, pra ver se velho aprende o que menino não
aprendeu. Então que podia ser um tipo duma educação até fora da escola, sala. Que
fosse assim dum jeito misturado com o-de-todo-dia da vida da gente daqui. Que
podia ser um modo desses de juntar saber com saber e clarear os assuntos que a
gente sente, mas não sabe. Isso? [...] Exemplo assim, como a gente falava, de
começar pelas coisas que o povo já sabe, já faz de seu: as ideias, os assuntos. Eu
entendo pouco de tudo isso, não aprendi, mas ponho fé e vou lhe dizer mais,
professor – como é que eu devo chamar o senhor? – eu penso que muita gente vinha
ajudar, desde que a gente tivesse como acreditar que era uma coisa que tivesse valia
mesmo. Uma que a gente junto pudesse fazer e tirar todo o proveito. Pra toda gente
saber de novo o que já sabe, mas pensa que não. Parece que nisso tem um segredo
que a escola não conhece. (BRANDÃO, 1984, p.7-10)

2) Mais uma vez, podemos aprender com Ciço sobre como deve ser uma escola que se
compromete com a luta dos coletivos pobres feitos desiguais pela transformação da sociedade.
Mas, como diz Ciço, "parece que nisso há um segredo que a escola não conhece". Para
conhecê-lo, é preciso que a escola deixe de se colocar como o único espaço do conhecimento,
que os(as) educadores(as) se assumam também como educandos(as) e comecem a aprender
com aqueles(as) que, como Ciço, com suas experiências sociais, promovem a nossa educação e
de toda a sociedade. Na sua concepção isso é possível? Como? Para que isso aconteça, essa
escola precisa de que?
Para que isso aconteça, a escola precisa ser mais democrática, abrir espaço para a comunidade. Ter
experiências sociais, valorizar o conhecimento produzido nessas experiências. Articular
movimentos sociais e construir novos projetos de educação escolar.

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