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Se pensarmos nas teorias humanistas de George Kelly, Carl Rogers e Abraham Maslow, há a necessidade de

olhar o ser humano como um todo. O ambiente é um forte fator para pensar os comportamentos, a escola é
uma extensão do espaço, mas é nela que podem surgir ações, motivadas pelos desafios do espaço, que o
modifiquem, que o reorganizem, considerando mesmo o conceito de cidadania e a obrigação que a escola
tem de garantir a CF e principalmente o ECA.
A escola, de fato, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixam de pertencer exclusivamente à família para
integrarem-se numa comunidade mais ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de
afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui, em outras palavras, a coabitação de seres diferentes sob
a autoridade de uma mesma regra. (CANIVEZ, 1991, p.33)
Considerando este papel, não podemos nos esquecer do que indicam Wieczorkievicz e Baade (2020, p. 2):
[...] os valores ao longo do tempo vão sendo modificados e as pessoas tendem a se apropriar de novas informações e
maneiras de viver para continuar se desenvolvendo no âmbito social. Essas mudanças acontecem por meio das
necessidades que a sociedade vem enfrentando, com direcionamento para as modificações e transformações de uma
sociedade melhor. As pessoas precisam adaptar-se a essas mudanças sociais para assim ter a possibilidade de colaborar
com a transformação do meio em que estão inseridas. Wieczorkievicz e Baade, 2020, p. 2)
Por isso, embora Santos (apud COELHO; ORZECHOWSKI 2011, p.16.325) aponte que, embora haja novas
funções, "permanece a sua função precípua: socialização do saber sistematizado. A escola, como instituição
social, não se encarrega daquele saber empírico, espontâneo, do senso comum, que surge da experiência
cotidiana dos indivíduos.", saber olhar para o saber e a curiosidade espontânea do aluno, seus problemas e
desafios enfrentados cotidianamente, é uma porta de entrada valiosa para trazer o saber e mediar a
sistematização que o estudante tenha interesse em fazer. A aprendizagem insere-se melhor quando se
acessa o campo de interesse do aluno, tal qual aponta Nilson Machado: "É quase impossível ensinar sem
fazer algum tipo de pesquisa. As duas atividades pressupõem a criação de centros de interesses em uma
temática relevante, enraizada em contextos problematizadores. Nos dois casos, é fundamental explicitar
perguntas nítidas a serem respondidas e objetivos claros a serem atingidos.".
Podemos ir além do campo de interesse do estudante e pensar nas experiências de Pacheco na Escola da
Ponte. Não proponho aqui uma radicalização do fim do ensino seriado na escola em questão, mas espaços
de maior coexistência de interesses dos estudantes. Ao ouvir o caso em questão, o ambiente de violência e
de carência de inúmeros recursos culturais, sociais e econômicos, carência essa que se reproduz na escola,
claro, gerando mais violência, ecoou em minha mente as inúmeras declarações do professor Pacheco sobre a
realidade do entorno da Escola da Ponte. Garantir que esses estudantes da escola em questão se interessem
pelo conhecimento é fundamental, e isso tem mais potencial de acontecer se eles se mobilizam para pensar
sobre problemas que os cercam na busca por soluções para eles (e essas soluções, para serem alcançadas,
passam por mobilizar conteúdos, habilidades e competências), a fim de que suas existências naquele espaço
social, além dos muros da escola, seja mais digno. Isso pode ser ilustrado pelo BanCoP: o banco comunitário
de Pindoretama – Estudantes do 1°, 2° e 3° ano do ensino médio da E. E. M. Julia Alenquer Fontenele /
Pindoretama (CE) - O município de Pindoretama não tem indústria nem empresa de grande porte, assim,
quando as pessoas precisam tirar dinheiro no banco, vão à cidade vizinha, pois o único banco de
Pindoretama não oferece esse serviço. Foi nesse contexto que os jovens se perguntaram: o que fazer para
contribuir com a economia do município? Para responder à questão, tiveram que aprender mais sobre
história, matemática, economia, geografia, melhorar suas habilidades leitora, etc. Tudo isso pela pesquisa que
se motivaram a fazer para buscar soluções para problemas que as atingem.
Diante disso, a escola em questão, aproveitando-se dos casos de violência em diferentes âmbitos sofridos
pelos estudantes, pode valer-se de suas experiências, criar perguntas/desafios a serem respondidos,
fomentando neles a vontade de sistematizar conhecimento empírico a partir do conhecimento e da vivência
cotidiana, ordinária.
CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão? Campinas: Papirus, 1991.
COELHO, Nara; ORZECHOWSKI, Suzete Terezinha. A Função Social da Escola Pública e suas Interfaces. In: X Congresso Nacional
de Educação - EDUCERE; I Seminário Internacional de Representações Sociais, Subjetividades e Educação - SIRSSE. Pontifícia
Universidade Católica do Paraná. Curitiba, 07 a 10 de novembro de 2011. Acesso em: 04 abr 2014. Disponível em:
http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/6443_3792.pdf.
MACHADO, N. J. https://nilsonjosemachado.net/2019/10/03/sobre-o-ensino-e-a-pesquisa/ Acesso em 9 de novembro de 2023.
WIECZORKIEVICZ, A. K.; BAADE, J. H. Família e escola como instituições fundamentais no processo de socialização e preparação
para a vivência em sociedade. Rev. Educação Pública , Cuiabá. v. 20, n. 20, jun. 2020. Disponível em:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/19/familia-e-escola-como-instituicoes-sociais-fundamentais-no-processo-de-socializa
cao-e-preparacao-para-a-vivencia-em-sociedade Acesso em 11 de novembro de 2023.
https://porvir.org/conheca-os-11-projetos-premiados-no-desafio-criativos-da-escola-2018/ Acesso em 11 de novembro de 2023.

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