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Resenha 8

João Victor Feerreira de Almeida

Russel parte dos conceitos, já definidos no capítulo anterior, de conhecimento por familiaridade
e por descrição (ou inferência). Podemos, a partir do que sabemos por familiaridade, inferir
novos conhecimentos para os quais não temos familiaridade. Por exemplo, podemos inferir de
sense data, objetos materiais. Sem conhecimento inferencial não conheceríamos nada além de
nossa experiência pessoal, o que é muito pouco. O problema é saber se estamos justificados a
fazer este tipo de inferência. Naturalmente, essa inferência não pode ser dedutiva, já que se o
for, as premissas não são informativas, no sentido aqui interessante. É a indução a inferência que
nos interessa.

No exemplo de Russel, temos a convicção de que o Sol amanhã nascerá. Se nos perguntassem
porquê acreditamos nisso é plausível que responderíamos que o fazemos porque vimos o evento
se repetir todos os dias em nossas vidas. Acreditamos que nascerá no futuro porque nasceu no
passado. Poderíamos, ademais, responder lançando mão de uma explicação sobre o movimento
de rotação, bem como da gravidade. A Terra é um astro que gira sobre seu próprio eixo, e não
temos nenhuma razão para crer que ela vai parar de faze-lo, ou que algo de externo irá intervir
em seu curso de hoje para amanhã. O problema é que, embora leis científicas sejam mais bem
confirmada do que a maioria das simples regularidades ordinárias, elas também são
regularidades obsevadas. O problema de saber se estamos justificados a fazer este tipo
inferência, as inferências indutivas, é o a preocupação desse capítulo.

O princípio da indução pode ser formulado como se segue:

(a) quanto maior a frequência de associação de dois tipos, maior a probabilidade de a associação
ocorrer em um próximo caso.

(b) em circunstâncias semelhantes, a associação se aproximará de uma certeza.


Assim formulado, a probabilidade da associação só recai sob os casos particulares, mas a
probabilidade da associação geral também aumenta com a repetição. Mas esse último ponto é
problemático, claro. A probabilidade quanto à associação geral enfrenta o problema de que a
totalidade dos casos de associação é incerta, tornando o número de associações possíveis
potencialmente infinito, o que tornaria a probabilidade da associação tendente à 0. Se vi mil
cisnes, e todos eles são pretos, parece que estou justificado a crer que o próximo cisne a ser visto
é preto. Mas para dizer que todo cisne é preto, estaria tomando como numerador 1000 em uma
fração cujo denominador é infiito, já que não posso saber quantos são os cisnes no mundo. Isso
torna a probabilidade da afirmação geral tendente a 0.

Este princípio é ele mesmo impossível de ser confirmado pela experiência. Isso porque a
experiência pode confirmar somente os casos em que o princípio já foi confirmado, como no
caso do Sol ter nascido esta manhã, mas jamais pode confirmar que ele nascerá amanhã. O
próprio princípio deve ter uma explicação que transcende a mera experiência. Assim, ou
devemos aceitar o princípio por sua evidência intrínseca ou renunciar a tese de que inferências
indutivas são justificadas. A justificação sobre a justificação de princípios gerais, como a
inferência indutiva é o tema do próximo capítulo.

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