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A Advocacia e seu Exercício: Reflexões, Desafios e Objetivos

Paulo Quezado
Advogado
E-mail: pauloquezado@pauloquezado.com.br

1) Relação entre Advogado Criminalista e Cliente: entre o dever de


transparência procedimental e o trato psicológico
2) Relação entre Advogado Criminalista e o Ministério Público: da
contraposição de lados e do dever de lealdade processual
3) Relação entre Advogado Criminalista e o Magistrado: o dever de
prestação jurisdicional célere e a necessidade do respeito ao
devido processo legal
4) Relação entre Advogados Criminalistas: do trato ético com o
trabalho do colega e da necessidade de enfrentamento conjunto
de desafios
5) Desafios enfrentados pelo Advogado Criminalista no Exercício
da Função:

a) Morosidade Processual: ausência/redução de estrutura


administrativa e humana do Poder Judiciário
b) Desrespeito às Prerrogativas Legais do Advogado
c) Estrutura Carcerária Deficitária
d) Banalização das Prisões Cautelares
e) Visão social sobre o processo penal: pelo punitivismo e contra o
garantismo

Reflexão: A Advocacia no Brasil e sua raiz combativa

A história da advocacia brasileira está ligada às lutas de nosso povo


pela liberdade. Ser advogado significa aumentar o tom de sua voz, em
defesa do mais fraco, em defesa da democracia e, assim, representar, com
coragem, os limites ao jugo da tirania.
Que o diga o baiano Rui Barbosa, o patrono dos advogados, que foi
voz ativa contra atos arbitrários do governo de Floriano Peixoto, insurgindo-
se contra a opressão políticas e o “estado de sítio” e advogando em favor dos
que lutavam pela liberdade. Perseguido, foi ao exílio, mas não abriu mão de
sua luta. Rui Barbosa defendia que o advogado não deveria atuar em favor
daquilo que era mais conveniente, mas, sim, daquilo que lhe ordenava a
consciência: “A profissão de advogado tem, aos nossos olhos, uma
dignidade quase sacerdotal. Toda a vez que a exercemos com a nossa
consciência, consideramos desempenhada a nossa responsabilidade.”
Que o diga o piauiense Evandro Lins e Silva, que, em 1969, foi
cassado da qualidade de Ministro do Supremo Tribunal Federal, por força
do AI-5, em período ditatorial, entretanto, fez-se ouvir em sua defesa à
liberdade, e advogou para mais de dois mil presos políticos, sem qualquer
timidez. Comentando a sua participação como componente da acusação de
Fernando Collor à época do impeachment, disse: "Não me considero
advogado da acusação, mas da defesa do país."
Que o diga o carioca Antônio Evaristo de Morais Filho, também
afastado das cátedras jurídicas de maneira compulsória pelo regime militar,
denunciou a desigualdade e a miséria do povo brasileiro. Foi um dos
maiores tribunos na luta pelo que considerava o real “milagre” daquela
época: o testemunhar algum julgamento justo naquele regime de exceção.
Que o diga o paulista Waldir Troncoso Peres, que ao longo de sua
carreira como inigualável tribuno do júri, tendo feito mais de mil, ao longo
de 53 anos de atuação profissional, não abriu mão de seu trabalho na
Procuradoria de Assistência Judiciária de São Paulo, para fins de atender a
população mais carente.
Que o diga o mineiro Heráclito Fontoura Sobral Pinto, que apesar de
ter formação conservadora: católico, anticomunista e austero, começou a
destacar-se na defesa no caso das revoltas tenentistas, e defendeu nomes
destacados como: Juscelino Kubitscheck, Luis Carlos Prestes, Carlos
Lacerda, Miguel Arraes e Henrique Lott. Em que pese ter sido favorável ao
Golpe Militar de 1964, teve a hombridade de com aquele regime romper,
após o AI-1. Nas suas palavras, o AI-1 “varria do seio de nossa pátria não
apenas o regime democrático, mas também a própria dignidade do cidadão
brasileiro.” Dizia que não era detentor de coragem acima da média, apenas
possuía capacidade de indignar-se com o errado. Dizia que o advogado é o
juiz inicial de uma causa e que ao advogado “Incumbe-lhe, antes de tudo,
examinar minuciosamente a hipótese para ver se ela é realmente defensável
em face dos preceitos da justiça.”
Que o digam os cearenses Pádua Barroso, Wanda Sidou e Jurandy
Porto, que sob o mesmo espírito libertário da terra do “Dragão do Mar”
atuavam de maneira combativa ante os direitos da sociedade civil reprimida
pela ditadura. Em breve lição, Pádua Barroso muito nos ensinou sobre a
vocação destemida da advocacia cearense, através da célebre frase: “Essa é a
verdadeira advocacia, aquela que é exercida contra o Estado de Exceção”.
Todos estes, considerados os “grandes e inesquecíveis” da advocacia
brasileira não juntaram grandes riquezas ou chamaram a atenção por estilos
de vida extravagantes. Pelo contrário. Pautaram seu exercício profissional
em torno de duas pilastras: a coragem e a ética. Conscientes do que função
significativa da advocacia não apenas para os seus constituintes, mas
também para o Estado Democrático de Direito estes homens não se furtaram
de levantar suas vozes contra o poder e contra a opressão.
É sobre esta raiz profissional que sempre necessitamos refletir. É
necessário que nos lembremos que a construção da advocacia no Brasil se
deu através de homens que compreendiam a imprescindibilidade da sua
vocação para a segurança da democracia e da liberdade.
É inspirado nos exemplos daqueles que consolidaram a advocacia
brasileira como sendo um reduto de grandes homens corajosos e éticos, que
devemos exercer nosso papel como defensores irredutíveis da sociedade
civil ante o arbítrio do poder e como figuras indispensáveis à administração
da justiça.
Paulo Quezado

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