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CEC – CIANORTE – 1º ANO

PRODUÇÃO DE TEXTOS
PROF. MARCO ANTONIO MENDONÇA

Foto de transgênero isolada no pódio reacende


debate sobre inclusão em esporte feminino (23
março 2022)
Uma foto de uma nadadora transgênero
sozinha, isolada no primeiro lugar do pódio de
uma competição, enquanto as três nadadoras
que tiraram segundo, terceiro e quarto lugares
posam juntas sorrindo, longe da vencedora.
A imagem foi registrada por uma fotógrafa na
semana passada em Atlanta, quando a
americana Lia Thomas fez história: ela se tornou
a primeira nadadora transgênero a ganhar o
título universitário mais importante dos Estados
Unidos, com uma vitória no nado livre feminino
de 500 jardas.
A foto desencadeou uma série de polêmicas que viralizaram nas redes sociais, com debates televisivos nos EUA e
posts de influenciadores levantando diversas perguntas: as nadadoras americanas estariam excluindo a atleta
transgênero? O gesto poderia ser interpretado como uma forma de protesto? Atletas transgêneros devem competir
nas categorias femininas?
O que aconteceu?
Thomas nadou durante três temporadas pela equipe masculina da Pensilvânia antes de iniciar uma terapia de
reposição hormonal na primavera de 2019. Desde então, ela quebrou diversos recordes para sua equipe feminina de
natação da universidade.
A federação americana, USA Swimming, alterou em fevereiro as suas regras, passando a permitir que atletas
transgêneros nadem em eventos de elite, estabelecendo critérios que visam reduzir qualquer vantagem tida como
injusta, como a exigência de testes de testosterona por 36 meses antes das competições.
Thomas conquistou o título nadando em quatro minutos e 33,24 segundos. Emma Weyant, da Virgínia, que havia
conquistado a prata nos 400m medley individual nas
Olimpíadas de Tóquio, terminou 1,75s atrás em
segundo, e Erica Sullivan ficou em terceiro.
Emocionada, Thomas deu entrevista na saída da
piscina: "[Estar aqui] é tudo para mim."
(...)
Reações
A vitória da atleta transgênero desencadeou uma
série de reações. Antes da competição,
manifestantes contra e a favor da participação de Lia
Lia Thomas, à esquerda, e William Thomas, à direita
Thomas na competição realizaram protestos do lado de fora do complexo de piscinas em Atlanta.
O governador da Flórida, Ron DeSantis, assinou um decreto reconhecendo a vice-campeã Emma Weyant como a
verdadeira vencedora da prova. "Eles [os organizadores do torneio] estão colocando ideologia à frente da
oportunidade para as mulheres atletas e acho que algumas pessoas têm medo de falar", disse o político republicano.
A nadadora húngara Reka Gyorgy protestou contra a decisão dos organizadores de deixar Lia Thomas competir.
Gyorgy perdeu um lugar na final por um ponto.
"Dói bastante. Esta é a minha última reunião da faculdade e me sinto frustrada. Parece que aquele lugar final foi
tirado de mim por causa da decisão da NCAA [entidade organizadora da competição] de deixar alguém que não é
uma mulher biológica competir", escreveu Reka Gyorgy em carta aos organizadores.
Gyorgy disse reconhecer que Thomas está "fazendo o que ela ama e merece esse direito", mas disse que
"gostaria de criticar as regras da NCAA que permitem que ela compita contra nós".
"Estou escrevendo esta carta agora na esperança de que a NCAA abra os olhos e mude essas regras no futuro. Isso
não promove nosso esporte de uma maneira boa e acho que é desrespeitoso contra as nadadoras biologicamente
femininas que estão competindo na NCAA."
Outros dirigentes e ex-atletas também reagiram à polêmica.
"Acho que a integridade do esporte feminino, se não fizermos isso direito, e na verdade o futuro do esporte
feminino, é muito frágil", disse Sebastian Coe, ex-medalhista olímpico e presidente da World Athletics, órgão
dirigente do atletismo mundial.
"Olhe para a natureza das meninas de 12 ou 13 anos. Eu me lembro que as minhas filhas regularmente
ultrapassavam os colegas do sexo masculino em sua classe, mas assim que a puberdade chega, uma lacuna se abre e
não se fecha mais. O gênero não pode superar a biologia."
"Você não pode ignorar o sentimento público, claro que não. Mas a ciência é importante. Se eu não estivesse
satisfeito com a ciência que temos e os especialistas que usamos e as equipes internas que têm trabalhado isso por
um longo tempo, se eu não estivesse confortável com isso, este seria um cenário muito diferente."
FONTE: https://www.bbc.com/portuguese/geral-60847590

É justa a presença de atletas trans no esporte? Especialista avalia o debate polêmico (Mário André Monteiro -
23/07/21)
Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 já começaram e um fato histórico tem gerado muitas discussões entre
competidores e espectadores: a presença de
atletas transgêneros nos esportes.
Em geral, não há críticas quando falamos de
homens trans disputando competições ao lado
de homens cisgênero. No entanto, quando
invertemos a situação, é onde se inicia a
polêmica. É justo mulheres trans, que nasceram
em corpos com características masculinas,
disputarem competições com mulheres cis?
É o caso da levantadora de peso Laurel
Hubbard, de 43 anos, uma das atletas da Nova
Zelândia na delegação olímpica em Tóquio 2020. Ela é transgênero e participa da competição dentro do
regulamento. Desde 2015, mudanças nas diretrizes do COI (Comitê Olímpico Internacional) permitiram que pessoas
designadas como meninos ao nascimento e que se identificam como mulheres disputem na categoria feminina,
cumprindo alguns requisitos.
O especialista Saulo Ciasca falou sobre esse debate polêmico. Ele é médico e coordenador de pós-graduação de
psiquiatria da Sanar, além de professor de Saúde LGBTQIA+ e membro da WPATH – World Professional Association
for Transgender Health.
Para Ciasca, existem argumentos técnicos que nos permitem entender o assunto. “As regras do COI citam a
exigência das mulheres trans fazerem uso de bloqueadores de testosterona, para atingir níveis abaixo de 10
nanomoles por litro por pelo menos 12 meses”, disse o médico. “Isso reduz significativamente as funções
musculares, capacidade pulmonar, quantidade de hemácias e colocam essas atletas dentro de um patamar que
torna justa a competição com mulheres cis”, explicou.
O regulamento exige ainda a declaração da identificação como mulher por um período mínimo de quatro anos.
Inclusão dos trans
A dimensão inclusiva do esporte é outro fator que precisa ser levado em consideração na visão do médico e
professor. “Pessoas trans dificilmente acessam o esporte na infância ou adolescência, justamente porque estão
passando por desafios em relação a aceitação do próprio corpo, enfrentando inclusive preconceito”, avaliou. “O
esporte precisa ser um ambiente de justiça e de inclusão, ver um atleta trans competir em um nível olímpico é uma
grande vitória, já que foi uma caminhada com muitos obstáculos a mais do que uma pessoa cis”, afirmou Saulo
Ciasca.
Estrutura corporal
Outro argumento utilizado pelas pessoas que são contrárias à participação de mulheres trans nas competições se
baseia na estrutura corporal. “De fato há uma diferença na estrutura corporal, mas essa é inerente ao esporte,
inclusive entre atletas cis. Algumas pessoas são mais altas, fortes, ou tem características físicas que facilitam o
desempenho em alguma atividade física e nem por isso são impedidas de competir”, explicou o médico
Saulo Ciasca esclareceu ainda que o uso dos hormônios em geral tem como consequência efeitos colaterais
psicológicos, que também afetam o desempenho dos atletas.
“Tóquio 2020 traz esta novidade e as pessoas precisam se permitir conhecer o assunto para superar preconceitos
e compreender como a medicina LGBTQIA+ tem atuado também neste cenário diferente”, completou.
FONTE: https://www.torcedores.com/noticias/2021/07/e-justa-a-presenca-de-atletas-trans-no-esporte-especialista-
avalia-o-debate-polemico

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