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AS 12 VALSAS BRASILEIRAS EM
FRANCISCO MIGNONE:
UM CICLO REVISITADO
São Paulo
2002
ii
_____________________________________
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iii
para
Herton Gloeden e
Agradecimentos:
Adelia Issa
Antonio Felipe Issa
Cláudio Hodnick
Flávia Prando
Irmãos Vitale
José Eduardo Martins
Leonardo Camargos
Marco Antônio da Silva Ramos
Mário da Silva
Mário Ficarelli
Maria Josephina Mignone
Maurício Roger Simão
Ricardo Marui
Sérgio Abreu
Vera de Andrade
v
RESUMO
Uma nova edição das 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos (1970) para
internacional.
vi
ABSTRACT
importance of this cycle in the History of the Brazilian and International guitar
repertoire.
vii
SUMÁRIO
Abreviaturas........................................................................................ix
Introdução...........................................................................................1
Conclusão ........................................................................................161
Bibliografia ......................................................................................165
Anexo
1. Cópias
1.1 Cópia escaneada da 1a. página do manuscrito
1.2 Cópia escaneada da 1a. página da Valsa em do menor
1.3 Cópia do manuscrito
1.4 Cópia da 1a. edição
viii
4. Ficha técnica
Abreviaturas
A contralto, alto
acomp. acompanhamento
B baixo
bd bandolim
Bt barítono
bat bateria
CD compact disc
cel celesta
clt clarinete
cor ing corne inglês
crd cordas
crv cravo
ctb contrabaixo
fem. feminino
fl flauta
hp harpa
inst instrumento
LP long playing
M mezzo-soprano
MS manuscrito
ob oboé
o.d. obra didática
órg órgão
orq orquestra
p. página
p/ para
perc percussão
pf piano
pic piccolo
qt crd quarteto de cordas
S soprano
sax saxofone
s.d. sem data
séc. século
tímp tímpanos
trbn trombone
tpt trompete
v voz
vibraf vibrafone
x
vla viola
vlc violoncelo
vln violino
vlo violão
vol. volume
xilo xilofone
Editoras
AB Anna Blume
BE Bèrben
BR Brasiliance
CE Cembra
CH Chanterelle
CO Columbia
EA Edição do autor
EO Editora da OSESP
FE Fermata
GR Guitar Review
MA Mangione
ME Max Echig
MT Metropolis
NM Novas Metas
RA RioArte
RB Ricordi Brasileira
RI Ricordi
TO Tonos
VI Vitale
ZA Jorge Zahar Editor
ZI Zimmermann
1
Introdução
Nossa escolha por uma temática brasileira para o doutoramento deu-se em face
atual música de concerto no Brasil 1, vertente esta das mais marginalizadas da história artística
deste país.
compositores .
Mário Ficarelli (1935) 2, no trabalho de leitura, revisão e apresentação de suas obras originais
para violão entre os anos de 1985 e 1987, serviram de motivação e ponto de partida para
repertório internacional. A inclusão de obras do repertório brasileiro era rara, exceto a obra de
numerosos ensaios, pesquisas, estudos acadêmicos e gravações pelos mais importantes ensaístas,
musicólogos e intérpretes.
Sua importância para a arte brasileira é incontestável e sua posição no cenário internacional
continua sendo de crescente afirmação, o que por vezes pode contribuir para colocar a produção
1
Música de concerto é a denominação escolhida para definir nosso campo de ação, como intérprete e professor.
2
Não descartamos os contatos mantidos anteriormente com outros compositores. Partimos de Santoro e Ficarelli
em razão do interesse despertado no exame do repertório brasileiro naquele momento.
2
quase total esquecimento. Naturalmente, neste sentido, não podemos abordar o fenômeno Villa-
Lobos como o “vilão” da situação atual da música brasileira para violão, esta, uma matéria que
deve ser revista com cuidado, pois o violão brasileiro sem o criador dos Choros seria difícil de ser
imaginado. Portanto, não sendo este o tema principal desta tese, trataremos apenas como
em 1998, a pesquisar e apresentar uma série das obras de compositores como: Camargo
Radamés Gnatalli (1906-1989), Lina Pires de Campos (1918), Eunica Katunda (1915-1985),
Cláudio Santoro (1919-1989), George Olivier Toni (1926), Gilberto Mendes (1927), Sérgio
O. Vasconcelos Corrêa (1934), Edmundo Villani-Côrtes (1930), Paulo Costa Lima (1954),
Paulo Porto Alegre (1953) e a música brasileira dos séculos XVIII e XIX, as quais
voltadas à música de câmara nas formações de voz e violão, flauta e violão, duos e quartetos
de violões 3.
Durante todo este processo, o tema central desta tese mudou três vezes. O
primeiro trabalho proposto versava sobre as obras para violão de Francisco Mignone e de
3
Nossa atuação, até o momento, teve a colaboração do flautista José Ananias, dos sopranos Adelia Issa e Martha
Herr, do mezzo-soprano Anna Maria Kieffer, do tenor Lenine Santos, de membros da Orquestra Sinfônica do
Estado de São Paulo, da maestrina Naomi Munakata, dos musicólogos Maurício Monteiro e Rubens Ricciardi e
do Quarteto Brasileiro de Violões composto por Paul Galbraith, Edelton Gloeden, Everton Gloeden e Tadeu do
Amaral. Parte desta produção foi registrada em gravações ao vivo, realizadas pela Radio Cultura FM 103,3 MHz
de São Paulo e nos CDs Viagem pelo Brasil (Acrom, São Paulo), Uma Festa Brasileira (Paulus, São Paulo),
Essência do Brasil (Delos, Los Angeles) e Lina Pires de Campos, Obra Camerística (Regia Musica, São Paulo).
Durante este trabalho foram realizadas primeiras audições de obras de Paulo Costa Lima, Olivier Toni, Paulo
Porto Alegre e as integrais de Lina Pires de Campos e Camargo Guarnieri.
3
integral de Camargo Guarnieri e várias obras de Mignone 4, tentamos reunir dois campos
segundo tema foi idealizado a partir da produção violonística dos compositores ligados ao
movimento Música Viva. Aqui, nos deparamos com problemas que fugiam aos propósitos
estilo. Outra razão, foi o contraste entre as dimensões reduzidas das produções de Cláudio
Santoro, Eunice Katunda e Edino Krieger com a obra de Guerra Peixe, de maior porte, repleta
Apesar de ter trabalhado com grande riqueza de fontes, tais temas não
possibilitavam vislumbrar uma unidade frente aos desafios do doutoramento que, como
formato ideal, procura temáticas mais específicas; porém, deram-nos a base para estabelecer o
A definição deu-se, por fim, após a audição das 12 Valsas de Esquina (1938-
1943) para piano, de Francisco Mignone, numa gravação realizada pelo compositor 5, quando
vislumbramos a possibilidade de uma nova abordagem, além da já realizada pelo Prof. Flávio
Terrigno Barbeitas das até então 12 Valsas (1970) para violão 6. Diferentemente deste
Após o acesso aos manuscritos, através da editora Irmãos Vitale, em São Paulo,
em setembro de 2001, tomamos contato com um texto mais corrigido e melhor apresentado do
4
A primeira audição da obra completa para violão de Camargo Guarnieri foi realizada no dia 11/05/1994 por
Edelton Gloeden no Auditório do SESC Ipiranga em São Paulo durante o Festival Camargo Guarnieri. Nas
comemorações do centenário de Francisco Mignone em 1996, foram apresentadas obras para violão solo em
diversas ocasiões, com particular destaque para a primeira audição da obra para voz e violão feita por Adelia
Issa e Edelton Gloeden no Festival de Inverno de Campos de Jordão em 1997.
5
LP Festa LDR 5001, Rio de Janeiro, s.d.
6
Circularidade Cultural e Nacionalismo nas Doze Valsas para Violão de Francisco Mignone.
Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 12/1995. Flavio Terrigno Barbeitas é hoje professor no Conservatório Mineiro de Música da UFMG.
4
que aquele editado em 1970. Além de confirmar o título 12 Valsas Brasileiras em Forma de
Estudos, feito de próprio punho pelo compositor, estão colocados os dedilhados feitos a lápis por
Antônio Carlos Barbosa Lima (1944). Com isto, temos a fonte bibliográfica principal para
viabilizar a execução de um dos mais importantes ciclos da música de concerto para violão feita no
Brasil.
5
em particular, das suas 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos para violão solo (1970),
O violão, com sua pequena sonoridade e infinitos recursos, está presente tanto
nas manifestações das culturas espontâneas de vários povos, como nas mais elaboradas
elementos mais fortes e vivos da cultura brasileira, porém esta constatação não parece tão
início do século XX, consolidou-se a figura do compositor não violonista 1. Fatos como a
(1933) junto a compositores como Benjamin Britten (1913-1976) e Hans Werner Henze
(1926), a notável Sequenza XI (1988) de Luciano Berio (1925), criada para Eliot Fisk (1954)
e, também de outra forma, como olhar indiferente de Andrés Segovia (1893-1987) às Quatre
Pièces Brèves (1933) de Frank Martin (1890-1974) retomadas por Julian Bream nos anos 60,
são exemplos que mostram que cada obra tem uma história entre compositores e intérpretes.
1
Trabalho iniciado principalmente por Andrés Segovia (1893-1987) a partir dos anos 20. In. GLOEDEN,
Edelton. O Ressurgimento do Violão no Século XX: Miguel Llobet, Emilio Pujol e Andrés Segovia.. Dissertação
de mestrado apresentada ao Departamento de Música da ECA/USP, 1996, São Paulo. Naturalmente esta relação
entre compositores e intérpretes não é exclusiva da recente história do violão.
6
razão pela qual é atribuída aos violonistas uma reputação de pouco crédito. Do anedotário à
literatura, encontramos registros curiosos 2. Apenas dois dos mais contundentes exemplos
Não foi inútil a espionagem. Sentado no sofá, tendo ao lado o tal sujeito,
empunhando o “pinho” na posição de tocar, o major, atentamente, ouvia: “Olhe Major,
assim.” E as cordas vibravam vagarosamente a nota ferida: em seguida, o mestre aduzia: “É
‘ré’, aprendeu?”
Mas não foi preciso pôr na carta; a vizinhança logo concluiu que o major
aprendia a tocar violão. Mas que cousa? Um homem tão sério metido nessas malandragens!
Uma tarde de sol – sol de março, forte e implacável – aí pelas cercanias das
quatro horas, as janelas de uma erma rua de São Januário povoaram-se rápida e
repentinamente, de um e de outro lado. Até da casa do general vieram moças à janela! Que
era? Um batalhão? Um incêndio? Nada disto: O Major Quaresma, de cabeça baixa, com
pequenos passos de boi-de-carro, subia a rua , tendo debaixo do braço um violão impudico.
É verdade que a guitarra vinha decentemente embrulhada em papel, mas o
vestuário não lhe escondia inteiramente as formas. À vista de tão escandaloso fato, a
consideração e o respeito que o major Policarpo Quaresma merecia nos arredores de sua
casa, diminuíram um pouco. Estava perdido, maluco, diziam. Ele, porém, continuou
serenamente nos seus estudos, mesmo porque não percebeu esta diminuição...
- Policarpo, você precisa tomar juízo. Um homem de idade, com posição,
respeitável, como você é, andar metido com este seresteiro, um quase capadócio – não é
bonito!.
O major descansou o chapéu-de-sol - um antigo chapéu de sol com haste inteiramente de
madeira, e um cabo de volta, incrustado de pequenos losangos de madrepérola – e
respondeu:
- Mas você está muito enganada, mana. É preconceito supor-se que todo o
homem que toca violão é um desclassificado. A modinha é a mais genuína expressão da
poesia nacional e o violão é o instrumento que ela pede. Nós é que temos abandonado o
gênero, mas ele já esteve em honra, em Lisboa, no século passado, com o Padre Caldas, que
teve um auditório de fidalgas. Beckford, um inglês notável, muito o elogia.
- Mas isso foi de outro tempo; agora...
2
Ver: o verbete Violão in ANDRADE, Mário. Dicionário Musical Brasileiro, Belo Horizonte, Itatiaia, 1989, p.
561; LIMA BARRETO, Alfonso Henrique de. Triste fim de Policarpo Quaresma, p. 14, 3a. ed., Rio de Janeiro,
Record, 1999;
AMADO, Jorge. O país do carnaval, 49a. ed., p. 62, Rio de Janeiro, Record, 1999.
7
trecho:
- Eu não sou nem um nem outro. O Brasil não deve importar sistemas
políticos. Nós até hoje temos importado tudo. Até uma constituição. Demo-nos bem com ela?
Nós precisamos é nacionalizar tudo. Desde os sistemas de governo até as prostitutas...Nem
comunismo, nem fascismo...Nem polacas, nem francesas...- explicava doutoralmente Ricardo.
- Cuidado, Ricardo, esse rubi traz uma doença contagiosa: a retórica... Pois
eu sou comunista...- e Rigger engasgou-se com um pedaço de carne.
Jerônimo não acreditava:
- Comunista, você? Um aristocrata? “Comigo não, violão...”
importantes que consolidaram esta tradição do violão em nossa música popular, citamos estes,
entre três gerações: Joaquim Francisco dos Santos, o ‘Quincas Laranjeiras’ (1873-1935), João
estrangeiros, como Josephina Robledo (1897 - ?), Agustin Barrios (1885-1944), Andrés
Segovia e Julio Martinez Oyanguren (1905-1973), apenas para citar alguns dos mais
importantes.
Tárrega (1852-1909), chegou ao Brasil por volta de 1916, em uma tournée. Permaneceu aqui
até 1923, residindo em São Paulo e Rio de Janeiro, quando transmitiu os ensinamentos de
8
Tárrega. Teve entre seus discípulos o paulista Osvaldo Soares, não muito prestigiado por
mostrando seus arranjos para violão, como este da canção Ontem, ao luar, que o poeta,
percorreu nossos principais teatros, de Pelotas a Manaus, entre 1916 e 1931. Foi reverenciado
por Olavo Bilac (1865-1918), Coelho Neto (1864-1934) e Manuel Bandeira (1886-1968) e
entre suas obras, as conhecidas de caráter brasileiro, como a Maxixe (1920) e o Chôro da
Saudade (1931).
3
In GLOEDEN, Edelton. op. cit. p. 162.
9
1945) 4. Andrés Segovia fascinou nossas platéias em 1937, 1942, 1950, 1953 e 1957 5.
4
In. ANDRADE, Mário. Música e Jornalismo. (org. Paulo Castagna) ps. XXVIII, 228 e 232.
5
Andrés Segovia viveu de 1936 até o final da 2a. Guerra Mundial em Montevidéu, Uruguai.
10
Musical de São Paulo. Podemos considerar que este foi o ponto de partida para o
aparecimento de uma nova geração de violonistas que, nas décadas seguintes, começou a
mudar o perfil do instrumento no país. Orientados principalmente por Isaías Sávio e Antonio
internacional do violão nos anos 50 e 60, que aconteceu principalmente através dos grandes
cursos de Siena e Santiago de Compostela, dirigidos por Andrés Segovia, e também com Abel
Carlevaro (1918-2001), Narciso Yepes (1927-1997), Alírio Diaz (1923), Julian Bream (1933)
e John Williams (1941), que então iniciavam suas carreiras. Entre os principais violonistas
brasileiros que irão atuar de forma pioneira, junto a compositores brasileiros citamos: Geraldo
Ribeiro (1939), Turíbio Santos (1940), Maria Lívia São Marcos (1942) e Antônio Carlos
surgir a partir de 1944, através de Camargo Guarnieri (1907-1993), Eunice Katunda (1915-
1990), César Guerra Peixe (1914-1993), Ascendino Theodoro Nogueira (1913) e Radamés
Gnattali (1906-1988). Nesta produção dos anos 40, à exceção de Gnattali e do próprio
Mignone, pelos fortes vínculos com a música popular, as iniciativas dos autores acima citados
Nas tabelas que seguem abaixo procuramos, num primeiro levantamento, dar
uma mostra da produção brasileira de concerto até o final dos anos 80, com importantes obras
6
Na medida do possível, procuramos completar ao máximo o conteúdo das tabelas até o ano de 1975. A
extensão até o final da década de 80, justifica-se para possibilitar uma maior visibilidade desta produção, ligada
principalmente a importantes compositores que não eram violonistas.
12
Valsa Chôro
no. 4
Valsa Chôro
no. 5
1959 12 Improvisos Th. Nogueira, A. RB Brouwer, L., Tres Apuntes;
4 Serestas Ghedini, G.F., Studio da Concerto;
Petrassi, G., Suoni Noturni;
Valsa Chôro Rodrigo, J., Junto al Generalife
no. 1
Valsa Chôro Vasconcellos RB
no. 1 Corrêa, S.
Ponteio Lacerda, O. MS
1960 Moda a Paulista Lacerda, O. RB Auric, G., Hommage a Alonso
Mudarra;
Goubaïdoulina, S., Sérénade;
Poulenc, F., Sarabande;
Rodrigo, J., Sonata Giocosa
Valsa Chôro Th. Nogueira, A. RB
no. 3
1961 Valsa Lacerda, O. MS Arrigo, G., Serenata per chitarra;
Castelnuovo-Tedesco, M.
24 Caprichos de Goya;
Kurtag. G., Cinque Merrycate
1962 Rodrigo, J., Invocación y danza;
Tansman, A., Suite in modo polonico
1963 Suite Nazareth Katunda, E. MS Britten, B., Nocturnal Op. 70;
Company, A., Las seys cuerdas;
Dodgson, S., Partita I;
Hallfter, C., Codex I;
Mompou, F., Suite compostelana;
Ohana, M., Si le jour paraît
Prelúdio Escobar, A. NM
1964 RB Brouwer, L., Elogio de la Danza
1965 Drogoz, P., Suite percutante
Jolivet, A., 2 Études de concert
1966 Prelúdio no. 5 Guerra Peixe, C. FE
1967 10 Estudos Gnattali, R. CH Scelsi, G., KO-THA;
Einem, G.von., Drei Studien;
Guastavino, C., Sonata no.1
1968 Bennet, R.R., Impromptus;
Brouwer, L., Canticum
1969 Prelúdio no. 1 Guerra Peixe, C FE Dodgson. S., Fantasy-Divisions;
Guastavino, C., Sonata no. 2
Sonata Guerra Peixe, C. VI
1970 Prelúdio no. 2 Guerra Peixe, C. FE Apivor, D., Discanti;
Prelúdio no. 3 Asencio, V., Suite Valenciana;
Col.lectici íntim;
Prelúdio no. 4 Berkeley, L., Theme and Variations
12 Estudos Mignone, F. CO
12 Valsas Mignone, F. VI
Brazilian Song Mignone, F. GR
Cortejo Souza Lima, J. de VI
Ponteio Pereira da Silva, A. RB
13
Lúdica II Tacuchian, R. ME
Appassionata Miranda, R. MS
Mosaico Vieira Brandão, J. ZA
1985 Pequena Suite Gnattali, R. ME
Prelúdio no. 4 Campos, L.P. RB
1986 Valsa Choro Guarnieri, M.C. MS Brouwer, L., Paisaje Cubano con
15
no. 2 Campanas;
Reynolds, R., The Behavior of
Mirrors
Solbiati, A., Tre Pezzi
6 Peças para Violão Vasconcellos EA.
Corrêa, S.
1987 Romanceiro Krieger, E. ZA Dillon, J., Shrouded Mirrors
1988 A Francisco Bosmans, A. MS
Mignone
Profiles Tacuchian, R. MS Berio, L., Sequenza XI;
Takemitzu, T. All in twilight
1989 5 Peças Widmer, E. MS Ferneyhough, R., Kurze Schatten II;
Koskelin, O., Tutte le corde
3- MÚSICA DE CÂMARA
constatações:
lideranças forjadas por Mário de Andrade, como Camargo Guarnieri e Francisco Mignone
violonistas, tanto da música popular quanto da música de concerto. Juntando a esta produção
a obra para violão de Ascendino Theodoro Nogueira (1913), temos a base principal do
repertório nacionalista brasileiro situado entre 1944 e 1975, razão pela qual faremos um breve
comentário sobre esta produção, com exceção de Francisco Mignone, que trataremos nos
próximos capítulos.
nacionalista brasileiro, cuja primeira composição foi o Ponteio (Prelúdio) para violão solo,
escrito em 1944. Após ouvir as Variations sur Folia de España et Fugue (1929), do
meio à composição dos 50 Ponteios (1931 a 1959) para piano, um grande ciclo concebido na
viola sertaneja, que podemos captar nos Ponteios de no. 30 e 45, respectivamente.
7
Abel Carlevaro nos relatou os detalhes dos encontros com Camargo Guarnieri e Villa-Lobos nos anos 40, em
uma entrevista concedida à Rádio USP, realizada em abril de 1999, no programa Violão em Tempo de Concerto.
O Ponteio, de Camargo Guarnieri, foi gravado por Carlevaro nos anos 50 e posteriormente registrado em CD
pelo selo Formosa Melodiya, Taiwan. Carlevaro fez a estréia mundial dos Prelúdios de Villa-Lobos na Rádio
Nacional do Rio de Janeiro em 1941, segundo o seu depoimento, e em recital em Montevidéu a 11/12/1942, de
20
compositor não abre mão de seu estilo, mesmo explorando um campo novo. Passagens
praticamente atonais, fazendo desta obra a mais ousada escrita para violão até o aparecimento
dos trabalhos de Almeida Prado (1943), Edino Krieger (1928) e Marlos Nobre (1939) nos
anos 70.
acordo com o catálogo do Museu Villa-Lobos, Villa-Lobos, sua obra, pg. 149, 3a. ed., Rio de Janeiro, Museu
Villa-Lobos, 1989.
21
não escrevia para violão com naturalidade. Isto pode ser constatado pelo número reduzido de
grande dificuldade técnica. O violonista Everton Gloeden (1957) nos informou que Guarnieri
tinha como referência principal para abordar a escrita violonística a mão esquerda do piano.
Nos anos 50, escreveu a Valsa-Choro no. 1 (1954), bem característica do seu estilo polifônico
e o Estudo no. 1 (1958) de transcendental dificuldade para a mão esquerda, dedicado a Isaías
Sávio, que fez um belo trabalho de revisão. Ao retomar suas obras para violão nos anos 80,
seu estilo já é mais abstrato. Os Estudos no. 2 e 3 (1983), em parte, retomam as idéias do
primeiro, encerrando sua produção violonística com uma sombria Valsa-Choro no. 2 (1986).
três primeiras obras, que é refletido no mesmo modo na retomada dos três trabalhos da década
de 80. Infelizmente, estas obras para violão não atingiram a genialidade de suas mais singelas
representativos, que tinham como ideal estético o som da viola sertaneja e do violão.
Entretanto, este fato não poderia servir de motivo para que esta importante obra esteja
‘música caipira’. Teve como colaborador constante o violonista baiano Geraldo Ribeiro, que
gravou boa parte desta obra. Talvez por adotar uma rigorosa escrita serrada entre duas e três
vozes, sua obra aparentemente apresenta uma dificuldade técnica não proporcional ao
rendimento sonoro. Sua produção violonística está hoje praticamente esquecida pelos
Theodoro Nogueira empreendeu um grande esforço para incluir a viola brasileira, como assim
Prelúdios para viola solo, um Concertino para viola brasileira e orquestra de câmara, e uma
inclusão na Missa a Nossa Senhora dos Navegantes 8. Theodoro Nogueira transcreveu obras
8
Estas obras também foram gravadas nos anos 60. Os 7 Prelúdios e o Concertino por Antônio Carlos Barbosa Lima e
orquestra dirigida por Armando Belardi, LP, HI-FI CMG-1019 Chantecler, São Paulo s.d. A Missa a Nossa Senhora
dos Navegantes também foi gravada pelo intérprete paulista, com o Coral e Conjunto Instrumental de São Paulo, sob
regência de Miguel Arqueróns, LP HI-FI, CMG 1027, Chantecler, São Paulo s.d.
23
de Bach para violino solo para este instrumento, que também foram gravadas por Geraldo
Ribeiro 9.
para a literatura violonística brasileira. Diferentemente de Guarnieri, sua obra para violão ocupa
uma posição importante na totalidade de sua produção. Podemos apontar alguns fatores relevantes
dominava plenamente a escrita violonística. É preciso lembrar que Guerra Peixe possuía
fortes restrições ao compositor Villa-Lobos, de quem foi um crítico mordaz, exceção feita à
sua obra violonística que ressaltava como uma das mais importantes contribuições do criador
9
LP intitulado Bach na Viola Brasileira, FB 317-B, Fermata, São Paulo, 1971, onde incluiu, na contra-capa, um
artigo publicado na Gazeta em 24/08/1963 intitulado Anotações para um estudo sobre a viola: Origem do
instrumento e sua difusão no Brasil, onde Guerra Peixe é mencionado. Viola brasileira é o nome dado por
Ascendino Theodoro Nogueira à viola caipira ou viola sertaneja.
10
Ver depoimento contido no vídeo O Índio de Casaca, Manchete Vídeo, Rio de Janeiro, 1987.
24
b- Sua atividade como folclorista através das pesquisas de campo iniciadas logo após a
chegada ao Recife, e depois no Estado de São Paulo, onde familiarizou-se com instrumentos
populares como a viola sertaneja. Passa então a utilizar nos títulos de suas obras, uma
Viola e Rabeca, Moda e Rasgueado entre outros. Junto com Ascendino Theodoro Nogueira e
Jorge Antunes (1942) é um dos poucos compositores que escreveram para este instrumento;
à música nacional. Guerra Peixe é o único, entre os mais destacados mestres brasileiros, a criar
uma obra didática de grande interesse, onde a introdução de elementos da linguagem musical e a
progressividade técnica são abordadas sem concessões. Talvez seja este um dos motivos pelos
11
quais estas obras sejam pouco acessíveis para um estudante em fase inicial de aprendizado .
De qualquer forma, examinando todo o conjunto de sua obra didática, o violão foi o
instrumento mais privilegiado. Podemos afirmar aqui também a influência de Béla Bartók
(1881-1945), do qual o compositor petropolitano transcreveu, em 1969, oito peças para dois
d- A inclusão do violão em sua música de câmara. Aqui, uma especial ligação com o
significativamente. A julgar pelo seu trabalho desenvolvido desde os anos 50, pode-se dizer
que sua linguagem musical já se colocava como precursora deste movimento. As obras de
câmara com violão, escritas especialmente para Movimento Armorial são as seguintes: Dueto
11
A obra didática de Guerra Peixe tem sido adotada com sucesso nas nossas classes da Escola Municipal de
Música de São Paulo nos anos 90 e na graduação do Departamento de Música da ECA/USP nas disciplinas de
instrumento e prática instrumental.
25
Característico, no estilo popular nordestino (1970) para violino e violão, Galope (1970) para
violino, viola, violão, 2 flautas e bateria e De Viola e Rabeca (Mourão), para violino e violão.
Examinando os oito itens da sua obra violonística, podemos fazer uma divisão
Prelúdios e a Sonata (itens 1 a 3). A Suite (1946), por mais paradoxal que possa parecer, é
talvez a primeira obra para violão solo de todo o repertório, onde é utilizada uma série
dodecafônica. Ao mesmo tempo, ela marcou o início do abandono de Guerra Peixe do uso
12
desta técnica . Paradoxal também, é apontar o motivo que levou o autor do Museu da
Inconfidência a criar uma obra desta natureza para violão solo em 1946, e para que
12
A utilização das técnicas seriais no repertório para violão solo começa a partir dos anos 50. Sechs Musiken für
Gitarre Op. 25 (1955) de Hans Erich Apostel (1901-1972), El Polifemo de Oro (1956) de Reginald Smith
Brindle (1917) e a Suite (1957) de Ernst Krenek (1990-1991), são os exemplos para violão solo deste período.
Anteriormente o violão foi utilizado em obras camerísticas capitais que marcaram a história das técnicas seriais,
como a Serenade Op. 24 (1923) de Arnold Schoenberg (1874-1951), Drei Lieder Op. 18 (1925) e Zwei Lieder
Op. 19 (1926) de Anton Webern (1883-1945) e, nos anos 50, Le Marteau sans Maître (1953-1954) de Pierre
Boulez (1925).
13
In: GUERRA PEIXE, C. Guerra-Peixe, Principais Traços Evolutivos da Produção Musical, Item V, p. 2,
man., Rio de Janeiro, 1971. No Item VI, p. 5, onde consta: OMB e Gravação de Waltel Branco em discos
C.B.S. O violonista tem executado a obra em diversos concertos.
José Mozart de Araújo (1904-1988), a quem a Suite para violão está dedicada, foi musicólogo, professor e
historiador. Ocupou importantes postos e foi pesquisador de documentos sobre a música antiga do Brasil. Em
1964, publicou sua principal obra A Modinha e o lundu no século XVIII, Ricordi, São Paulo.
26
Guerra Peixe utiliza a série abaixo para a construção desta suite e junto
apresenta o tema principal do primeiro movimento, Ponteado 1 4 .
dos anos 50, deixou nas composições para violão seu estilo inconfundível, onde a exploração
da pequena forma é uma constante. Nos Prelúdios, a primeira obra para violão na plenitude da
15
sua fase nacionalista, faz uso da campanella , que aparece em todo o ciclo explorado de
diversas formas, entre harpejos nos dois primeiros prelúdios, intercalado por seqüências
melódicas de terças no primeiro e terceiro e entre acordes nos dois últimos. O som da viola
sertaneja é evocado em todo o ciclo através desta técnica, tanto que o quinto da série leva o
subtítulo de Ponteado nordestino, por ter sido escrito anteriormente sem o uso da sexta corda,
14
Idem, ibdem. A indicação da série também aparece em: GUERRA PEIXE, C. Relação cronológica de
composições desde 1944, p. 6, MS, s.d. (escrita provavelmente em 1993), onde aponta a data Rio, 06 de maio e
a indicação O.B.M – 1967, e in: Razão e Paixão na Obra de um Mestre da Música Brasileira, item V –
Principais traços evolutivos da produção musical, MS, p.2, Rio de Janeiro, 1971.
15
La Campanella, o nome do Estudo transcendental no. 3 de Franz Liszt (1811-1886), baseado no terceiro movimento
do Concerto p/ vln no. 2 de Nicolò Paganini (1782-1840). O uso desta técnica é raro entre os compositores não
violonistas. Guerra Peixe é um dos compositores que utiliza esta técnica em toda a sua obra. Está presente nas obras
de Villa-Lobos como o Estudos no. 11 (1929); nos Prelúdios 2 e 4 (1940) e no Concerto para violão e pequena
orquestra (1951). Radamés Gnattali utiliza-se da campanella nos Estudos 1, 4 e 5 (1967).
27
como uma exceção entre os demais ciclos de sua obra violonística, compostos por miniaturas.
Dividida em três movimentos com duração aproximada de quinze minutos, esta obra
apresenta, em seu primeiro movimento, Allegro, uma intrincada estrutura com notáveis
construído na forma ternária simples A-B-A. Uma brevíssima introdução abre o terceiro
16
In. GUERRA PEIXE, César. Relacionamento cultural e artístico de Guerra Peixe com Pernambuco, p. 4,
item 8, MS, Rio de Janeiro, 04/04/1974.
28
pelo uso de motivos comuns e pelas transformações temáticas que circulam nos três
movimentos.
conhecidos 20 Estudios Sencillos do cubano Leo Brouwer (1939) e aos Microestudios de Abel
Carlevaro, que pode perfeitamente ser apresentado como obra de concerto, nas versões para
violão solo e na reconstituição feita pelo autor com acompanhamento de cordas, que
Laguna mergulha nas suas obras de caráter didático do terceiro grupo (itens 6 a 7). Temos
aqui as Breves, divididas em 6 pequenas suites, cada uma com três movimentos, e as 4 pequenas
concessões, um verdadeiro microcosmos do seu universo sonoro. Peixinhos da Guiné, obra que
29
pode também ser utilizada didaticamente, é apenas uma simples criação sobre um tema recolhido,
Como vimos anteriormente, Radamés Gnattali, pelo seu perfil de músico que
representou uma exceção frente às primeiras iniciativas isoladas de Guarnieri, Guerra Peixe e
Eunice Katunda, na década de 40. Suas primeiras composições para violão foram escritas em
um período do intenso no dia a dia dos trabalhos na Rádio Nacional, convivendo com
principalmente Anibal Augusto Sardinha, o ‘Garoto’, que fez a estréia de suas primeiras obras 17.
Pelo conjunto de sua produção, foi o compositor que mais escreveu para
violão na história da música brasileira e o que manteve um contato quase constante com a
das tabelas acima, verificamos que Gnattali trabalhou na composição para violão nos anos de
1944, 1948, 1950, 1951, 1954, 1957, 1959, 1966, 1967, 1969, 1971, 1981, 1983 e 1985,
17
Temos o registro deste período da Tocata em ritmo de samba no. 1 de Gnattali, executada por Anibal
Augusto Sardinha, em uma gravação particular contida no acervo do Prof. Ronoel Simões (1919). Outro registro
feito por ‘Garoto’, em acetato, em 22/08/1954, é o Concertino no. 2 de Gnatalli, com a Orquestra Sinfônica da
Radio Gazeta de São Paulo, dirigida por Armando Belardi, obra esta estreada no ano anterior pelo mesmo
intérprete no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a orquestra dirigida por Eleazar de Carvalho.
30
tendo portanto uma produção que se estende por 41 anos, num total aproximado de 19 obras
originais aqui levantadas, escrevendo em média uma obra violonística a cada dois anos 18.
Tinha um gosto particular por escrever música para os amigos. Este fator,
aliado à sua maneira prática e rápida de compor, e a uma percepção aguçada para entender o
temperamento do executante para quem estava escrevendo, fez sua obra violonística crescer
brasileiros o coloca entre os mais hábeis no tratamento da escrita violonística, porém, sem
18
Neste trabalho, nos limitamos somente a considerar as obras originais de Gnattali. Um trabalho sobre suas
transcrições e arranjos envolvendo o violão pode ser de grande valia. É provável que a obra de Radamés
Gnattali permaneça por muito tempo sem uma revisão completa e sua produção violonística não foge a esta
realidade, pois está cercada de problemas de diversas ordens.
19
Como Francisco Mignone, Gnattali, para sobreviver, atuou como músico popular nas mais variadas
atividades. Porém, diferentemente de seu colega, trabalhou com música popular até o final de sua vida. Vale
mencionar aqui uma referência publicada num artigo em O Estado de São Paulo, São Paulo, 12 fev. 1939 e
editado em ANDRADE, Mário. Música, doce música, cap. intitulado “Música nacional”. Cit. em BARBOSA,
Valdinha & DEVOS. Anne Marie. Radamés Gnattali, O Eterno Experimentador. p. 47, Rio de Janeiro, MEC-
Funarte, 1985...Há de falar também de um compositor novo, mal conhecido dos paulistas, o gaúcho Radamés
Gnattali. Tem uma habilidade extraordinária em manejar o conjunto orquestral, que faz soar com riqueza e
estranho brilho. É certo que “jazzifica” um pouco demais para o meu gosto defensivamente nacional, mas
apesar de sua mocidade, já domina a orquestra como raros entre nós. É a nossa maior promessa no momento.
31
Radamés Gnattali: compassos iniciais da Bossa nova, 1o. mov da Brasiliana no. 13
Em meados dos anos 80, quando Gnattali escrevia suas últimas obras, seu estilo
particular e inconfundível estava bem de acordo com as tendências que mais atraíam os
violonistas naquele momento, estabelecendo vínculos com uma música popular onde o jazz, a
bossa nova e o tango de Astor Piazzolla (1921-1992) predominavam. Este modismo continua
sendo um dos caminhos prediletos da grande maioria dos compositores e intérpretes do violão
atual.
Escalante (1937), seguidores mais fiéis da estética guarnieriana, até Eunice Katunda, Marlos
Nobre (1939), Almeida Prado (1943) e Aylton Escobar (1943), que percorreram outros
revisto e renovado.
Peixe, individualmente escreveram um número maior de obras para violão do que Villa-
Lobos. Radamés Gnattali não chega a ultrapassar o autor do Rudepoema em obras para violão
32
solo, mas suas produções camerísticas e para violão e orquestra somadas, fazem do
compositor gaúcho, como vimos, o mais prolífico dos compositores brasileiros no que se
refere à criação de obras violonísticas. O conjunto desta sua produção é também maior,
comparado com todos os demais compositores aqui abordados. Mignone escreveu a maior
quantidade de obras para violão solo, Theodoro Nogueira a maior quantidade de ciclos e
Guerra Peixe uma obra didática única, como mostram as tabelas anteriores e a que segue:
4- Entre 1944 e 1973, não há uma só obra escrita para violão fora da estética nacionalista,
razão pela qual propomos que o período entre 1944 e 1975, ano da conclusão do Concerto
para violão e orquestra do autor das Valsas de Esquina, seja uma referência histórica
importante. Portanto, em relação ao repertório internacional, sem precisarmos entrar nas obras
da avantgarde mais radicais deste período, a produção brasileira mostra um perfil claramente
Marlos Nobre e a Ritmata, de Edino Krieger (1928), escritas todas em 1974 e dedicadas a
33
Turíbio Santos, marcaram o início de uma nova fase do repertório violonístico brasileiro, pelo
Almeida Prado: trecho inicial do Discurso, 1a parte do Livro para seis cordas
5- Com exceção de César Guerra Peixe e Radamés Gnattali, todos os demais compositores não
violonistas demonstraram pouca familiaridade em escrever para violão. Os acima citados não
foram sequer violonistas amadores, mas tiveram na juventude, através da música popular, um
contato direto com o instrumento, o que lhes possibilitou um maior domínio da escrita
violonística. Em relação aos demais, teríamos de desenvolver um estudo particular com cada
autor, como faremos adiante com Francisco Mignone e suas 12 Valsas Brasileiras na Forma de
Estudos. No decorrer da história do violão no séc. XX, como vimos acima, este problema foi
contornado através do trabalho conjunto entre intérpretes e compositores. No caso brasileiro, isto
dificuldade técnica e de pouco rendimento sonoro, e que não atraiu a atenção dos intérpretes, em
indica uma limitação à exploração de formas maiores e mais elaboradas. Naturalmente, isto
também ocorreu pelo pouco domínio da escrita violonística, com exceção das obras de câmara
formas de dimensões maiores foram mais facilmente abordadas. Uma sonata para violão solo
em três movimentos apareceu somente em 1969, como vimos, através da iniciativa de Guerra
Peixe.
uma obra para violão solo, fato também decorrente do pouco conhecimento da escrita
violonística. São os casos de Aylton Escobar (1943), Adelaide Pereira da Silva, Ernst Mahle
(1929), Jorge Antunes (1942), Raul do Valle, Amaral Vieira (1952), Esther Scliar (1926-
1978), Mário Ficarelli, José Alberto Kaplan (1935), Ronaldo Miranda (1948) e José Vieira
Brandão (1911).
8- O fenômeno da pequena e da grande produção espalhada por longos períodos, com exceção
feita à obra de Theodoro Nogueira, concentrada nos anos 50, e de Radamés Gnattali,
Guerra Peixe 1946, 1966, 1969, 1970, 1979, 1981, 1983, 1984
Radamés Gnattali 1948, 1951, 1967, 1981, 1983, 1985
Theodoro Nogueira 1949, 1955, 1957, 1958, 1959, 1960
Francisco Mignone 1953, 1970, 1976, 1980
Edino Krieger 1955, 1974, 1987
Vasconcellos Corrêa 1959, 1974, 1986
Osvaldo Lacerda 1959, 1960, 1961
Eunice Katunda 1963, 1972, 1973
Aylton Escobar 1963
Adelaide P. da Silva 1970
Eduardo Escalante 1971
Pinto da Fonseca 1972
Guerra Vicente 1973
Marlos Nobre 1974, 1975, 1976, 1977, 1982, 1984
Almeida Prado 1974, 1975, 1981, 1983
Ernst Mahle 1975
Pires de Campos 1975, 1978,
Jorge Antunes 1976
Raul do Valle 1977
Amaral Vieira 1978
Ester Scliar 1978
Ernst Widmer 1978, 1979, 1989
Mário Ficarelli 1979
J.A. Kaplan 1980
Cláudio Santoro 1982, 1983, 1985
Bruno Kiefer 1983
Ricardo Tacuchian 1983, 1984, 1988
Ronaldo Miranda 1984
Vieira Brandão 1984
9- A quase totalidade das obras para violão solo editadas no Brasil foi composta entre 1944 e
1975. Estão hoje praticamente esgotadas e fora de catálogo. Com a música de câmara e a
música para violão e orquestra, o predomínio é de obras não editadas, o que resulta em um
trabalho heróico daqueles que abordaram esta produção pela primeira vez. Portanto, os
registros fonográficos deixados por estes pioneiros são documentos de grande importância
para a história do violão brasileiro. Infelizmente, estas gravações também estão esgotadas e
fora de catálogo, com pouca possibilidade de serem reeditadas, tendo como conseqüência,
11- Francisco Mignone, com uma seqüência de obras de porte como os 12 Estudos (1970), as
mesmo com o seu, Batuque a produção didática de Guerra Peixe e a última obra de
secular da música popular em suas manifestações mais espontâneas, e mais recentemente não
tão expostas à grande mídia. A segunda, dentro da tradição da música de concerto, iniciada e
liderada pela figura de Villa-Lobos, que ainda hoje sobrevive dentro das grandes contradições
da criação musical contemporânea 2 0 . E a terceira, que tomou corpo nos anos 80, representada
pela figura de Radamés Gnattali, tem como proposta o convívio da música de concerto com
20
Aqui incluídas todas as tendências.
37
brasileira. No capítulo anterior, pudemos constatar que o compositor paulista foi, entre nós,
um dos que mais escreveu obras originais para violão. Em seu último catálogo, elaborado em
ordem cronológica por Maria Josephina Mignone (1923), esposa do compositor, também
das Lendas sertanejas, figura entre as mais importantes da literatura violonística internacional
2
.
capítulo e com novas informações, reelaboramos, para nosso estudo, o seguinte catálogo da
1
MIGNONE, Francisco. Vasco Mariz (organizador) Francisco Mignone, O homem e a obra, p. 191, Rio de
Janeiro, Funarte & ED.UERJ, 1997. Na página 155, que inicia este catálogo, Maria Josephina Mignone escreveu:
...”É provável que alguma outra obra ainda venha a ser localizada após esta publicação”.
2
Ver: SUMMERFIELD, Maurice J. The Classical Guitar, its evolution, players and personalities since 1800,
fourth edition, p. 310, Newcastle-upon-Tyne, 1996.
38
passando-se por Chico Bororó até as serenatas de rua. Sobre estas, numa entrevista, o
compositor relatou:
41
...Bem, eu tocava nos cinemas e à noite, após a sessão, saia em companhia de outros
músicos: eu com violão ou flauta, outros com clarinetas, pandeiros, etc. Íamos cantando
pelas ruas da cidade...cantando e improvisando, e tal...Em geral as serenatas eram
destinadas a alguma moça – namorada – ou conhecidos. Íamos até a casa delas, tocávamos e
cantávamos. Isso quando os pais permitiam. às vezes éramos surrados, ou levávamos boas
bacias de água na cabeça...3
Nestas impressões, Mignone não deixa dúvida sobre o seu envolvimento nas
serenatas pelas ruas paulistanas do início do séc. XX, e o que isto o influenciou
principalmente nas suas valsas e choros, onde é bem peculiar encontrarmos uma sonoridade
exageradamente violonística.
violão. O primeiro data de 1930, quando era diretor artístico da Parlophon. Em março daquele
ano, o compositor recebia os violonistas Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, e Serelepe (D.
Montezano), para um teste, que logo após, transformou-se na primeira experiência profissional
de Garoto em disco 4.
terceira das Quatro peças brasileiras (1930) para piano, feita pelo violonista argentino
3
BRIZA, Lucita. Surras, peladas e saraus modernos, entrevista inédita de Mignone realizada em 1975. Caderno
de Sábado, p. 05, Jornal da Tarde, 30/08/1997, São Paulo.
4
ANTÔNIO, Irati & PEREIRA, Regina. Garoto, Sinal dos Tempos. Rio de Janeiro, p. 16, Funarte, 1982
(coleção MPB,5).
5
Na capa consta: F. MIGNONE/NAZARETH/Danza Brasileña/arreglo para guitarra de A. Sinopoli/1937/G.
Ricordi & C. – Editores/ Buenos Aires. Sinópoli também editou pela mesma Ricordi argentina, o que nos parece
serem os primeiros arranjos para violão de peças de Ernesto Nazareth (1863-1934) como Odeon, Brejeiro e
Espalhafatoso.
42
Modinha e Chôro, foram publicadas nos primeiros números da prestigiosa Guitar Review e
6
dedicadas à violonista e professora argentina Monina Távora . São pequenas obras
6
Guitar Review, New York, no. 22, ano 1958 p. 10 e 11 (Modinha) e p. 16 e 17 (Chôro) e no. 47, p. 20 e 21,
ano 1980 (Brazilian song). Ver Anexo. Adolfina Raitzin de Távora, conhecida como Monina Távora, a quem
Mignone dedicou duas das peças escritas em 1953, a Modinha e o Chôro, foi discípula de Domingo Prat (1886-
1944) e Andrés Segovia e posteriormente, responsável pela formação de dois dos mais prestigiados duos da
história do violão, os brasileiros Sérgio e Eduardo Abreu e Sérgio e Odair Assad.
43
apontam para procedimentos que aparecerão na retomada de sua produção violonística nos
anos 70. Apesar de cauteloso, notamos certa familiaridade com a escrita violonística.
na forma ternária simples (A-B-A-Coda). A Modinha, já bem ao seu estilo cantante, com a
indicação Lento, nel spirito di una serenata está construída num simples rondó A-B-A-B-A.
próprio Chico Bororó. Mignone tinha uma enorme facilidade de penetrar no universo destes
músicos, especialmente Ernesto Nazareth, sem dar a impressão de estar fazendo uma simples
reprodução de estilo ou cópia. Neste contexto, podemos incluir sua Brazilian Song (1970).
sentimos uma certa insatisfação e reserva do compositor em relação ao violão. Não sabemos
se isto está relacionado com resultado final destas primeiras obras, ou simplesmente pelos
...Confesso que não sou muito admirador do violão, devido aquele negócio de
escorregar o dedo na corda, aquele ruído que ninguém consegue tirar, nem o Segovia. E tem
outra coisa, o violão é um instrumento simpático, durante vinte minutos, depois começa a ficar
cansativo. Ele não tem grande variedade de sonoridade, sempre procurando posições
complicadas, mas é um instrumento muito romântico, simpático. Mesmo um concerto do
Segovia eu não consigo ouvir inteiro, depois da primeira metade estou mais do que satisfeito. E
como não conheço bem o instrumento, prefiro não escrever, porque tem que pedir a outro o
arranjo, sabe como são essas coisas, acabam dizendo que arrumaram a música para mim, que
não conheço o violão e a gente tem que ter amor próprio 7.
7
Texto do depoimento dado no dia 15/10/68 p/ o Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro. In:
BARBEITAS, Flavio Terrigno. Circularidade Cultural e Nacionalismo nas Doze Valsas para Violão de
Francisco Mignone. Dissertação apresentada à Escola de Música da UFRJ, p.76, Rio de Janeiro, 1995.
44
Dois anos mais tarde, o conteúdo deste comentário parece ir abaixo, quando
Mignone escreve seus dois grandes ciclos para violão, os 12 Estudos e as 12 Valsas
violonista Carlos Barbosa-Lima foi decisivo para motivar o compositor à criação de suas
principais obras para violão. O intérprete paulista não somente fez as primeiras audições dos
receberam uma primorosa edição em dois volumes pela Columbia Music Company em 1973.
Além disso, realizou, em 1978, o único registro fonográfico onde encontramos o seguinte
8
Texto da contracapa do LP Barbosa-Lima Interpreta 12 Estudos para violão de Francisco Mignone, LP Philips
6598-312, Rio de Janeiro, 1978.
9
Promovidos pelo Liceu Palestrina, os Seminários Internacionais de Violão de Porto Alegre, realizados
conjuntamente com concursos internacionais, foram uma referência importante do violão sul-americano entre os
anos de 1969 até 1985. Em 1974, tivemos a oportunidade de presenciar Carlos Barbosa-Lima interpretando uma
seleção de estudos na presença do compositor.
10
Sobre esta afirmação, percebemos o desconhecimento do compositor sobre o repertório violonístico brasileiro
naquele momento. É certo que o violão como instrumento de concerto no início dos anos setenta começava a
firmar-se internacionalmente com o já consolidado repertório segoviano, as obras de Villa-Lobos e violonistas
como Narciso Yepes, Julian Bream, John Williams tomando suas posições. No capítulo anterior, podemos até
admitir que a produção brasileira até 1970 ainda era pequena, mas não tão pobre e insignificante.
45
composição dos 12 Estudos entre agosto e o dia 15/09/1970, data assinalada no manuscrito
do último estudo, confirmando seu depoimento, sobre o curto espaço de tempo levado para a
surpreendente, foi o tempo gasto para compor o ciclo das 12 Valsas Brasileiras em Forma de
... eu encontrei com ele (Mignone) num dos Seminários Internacionais de Porto
Alegre, naquela época áurea de Porto Alegre. Ele estava lá dando uma conferência, e eu lhe
disse que depois de Villa-Lobos ninguém havia se arriscado a compor estudos para violão no
Brasil 12. Ele gozou da idéia, conversamos muito, eu toquei para ele, e logo em seguida ele foi
mandando pelo correio. Eu fui ficando entusiasmado, já revisava e mandava de volta porque
percebi que estava se tornando uma obra realmente portentosa, digna do grande compositor
que era Mignone. Era uma pessoa encantadora, tocava piano com um charme que você nem
imagina, gostava de viajar, beber, conversar. Eu considero os Estudos um marco na história
do violão.
11
ZANON, Fábio. Entrevista com Carlos Barbosa Lima parte III, In: Violão Intercâmbio, no. 40, Ano VII, p. 23,
mar/abr. 2000, Santos.
12
Camargo Guarnieri havia escrito seu Estudo no. 1 em 1958 e Radamés Gnatalli seus 10 Estudos em 1967,
sendo o sétimo dedicado a Carlos Barbosa Lima.
46
Ainda não muito satisfeito com a primeira edição dos 12 Estudos de Mignone,
...Talvez eles mereçam uma nova edição, talvez Mel Bay se interessasse em fazer uma
versão revisada, com algumas modificações que fiz e o Mignone gostou muito, e que viesse
com um CD junto 13.
Barbosa Lima comenta ainda nesta entrevista sobre os 12 Estudos como um ciclo e
...Eles são muito de tocar como um todo. Aquele Estudo no. 12 eu nem cheguei a tocar
muito em público, é muito difícil. Na hora de gravar foi uma batalha. Fiquei feliz de ter saído
logo de primeira, nem quis mexer muito porque ele não dá espaço para o intérprete relaxar, é
uma dificuldade atrás da outra...14
A julgar por esta última observação, não somente o décimo segundo estudo,
Sua duração por volta de 43 minutos, com uma média por volta de 3 minutos e 15 segundos
por estudo, é aproximadamente 10 minutos a mais do que a média das gravações dos Estudos
de Villa-Lobos. Dentro deste perfil, esta obra de Mignone está entre os grandes ciclos de
que provavelmente Mignone notou nos estudos em Villa-Lobos. Enquanto que o centro tonal
13
Idem, ibidem. Esta foi a segunda abordagem da forma de estudo feita pelo compositor. A primeira foi em
1931, quando completou seus Seis estudos transcendentais para piano dedicados a Guiomar Novaes, uma obra
de referência da literatura pianística brasileira.
14
Idem, Ibidem
47
dos 12 Estudos de Villa-Lobos está baseado em mi, Mignone optou por um centro tonal em
Uma característica típica desta obra de Mignone, que não vemos nos estudos
de Villa-Lobos é a circularidade motívica, como nos casos Valsa em sol menor e na 4a. Valsa-
15
Um estudo sobre as tonalidades dos 12 Estudos para violão de Villa-Lobos, foi apresentado por Marlos Nobre
(1939), no texto do encarte do CD LC 4401, Joaquim Freire/guitar/ Marlos Nobre/ Homenagem a Villa-Lobos &
48
2. Estudo no 3 e Estudo no 9:
4- Peças de caráter: no. 7 (Cantiga de ninar), subtítulo assinalado no manuscrito e no. 10,
chopiniano.
universo de Chico Bororó e seus contemporâneos, foram escritos em sol maior e o único que
Reminiscência/ Heitor Villa-Lobos/ Douze Etude (Doze Estudos), Léman Classics, Suiça, 1993.
49
faz alusão ao ritmo de valsa é o oitavo em sol menor, confirmando relações de caráter com
tonalidades.
apontava na autocrítica de seu cinqüentenário, sua música para violão vinte e três anos
após A parte
refinamento 16.
violonistas. Ao contrário de Radamés Gnatalli, não foram muitos os que mantiveram contato
com Francisco Mignone. Tentando estabelecer uma ordem cronológica, podemos citar:
Monina Távora, Carlos Barbosa-Lima, Isaías Sávio, o Duo Marly e Miriam Colla, o Duo
Sérgio e Odair Assad, Maria Lúcia Godoy e Sérgio Abreu, nos trabalhos para voz e violão, e
Turíbio Santos. O encontro com estes intérpretes também motivou a realização de um grande
obras feitos por terceiros, como declarou anteriormente. Se observarmos seu catálogo, o
hábito de realizar transcrições e orquestrações foi uma constante em toda sua trajetória. Suas
transcrições violonísticas, merecem um estudo à parte pois, na sua maioria, ficaram sem
revisão. Mignone não tinha o hábito de registrar a fonte original e às vezes mudava o título,
16
A minha música deverá ser, dia a dia, mais refinada como técnica, mais clara, franca facilmente
compreensível para a maioria. IN: MIGNONE, Francisco. A Parte do Anjo: autocrítica de um cinqüentenário,
p. 39, São Paulo, Mangione, 1947.
50
como vemos nas tabelas acima, fazendo com que muitas destas transcrições passem
brasileiro para dois violões. Possui partes instrumentais equilibradas e virtuosísticas muito
semelhantes as dos 24 préludes et fugues - Le Guitares bien Tempérées Op. 199 de Mario
corte acadêmico com um tema construído por duas células, uma cromática pronunciadamente
18
nacionalista e a outra barroca .
O Concerto para violão e orquestra (1975) é ainda uma obra pouco conhecida
entre nós, apesar de ter sido estreada nos Estados Unidos em 1977, com grande sucesso. Com
uma escrita já bem desenvolvida, resultado das composições anteriores, leva uma
17
Fizemos uma primeira tentativa de informar em nossas tabelas quais foram as obras originais pelas quais e o
compositor baseou suas transcrições.
18
Não foi possível localizar o Choro (1980) para dois violões.
51
xilofone e cordas. Num exame da partitura, notamos que o primeiro e segundo movimentos
Variações para violão sobre o tema “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense e a
Valsa de Esquina. Nelas, não sentimos a espontaneidade e singeleza das pequenas peças dos
anos 50 e da Brazilian Song de 1970, que são muito apropriadas ao uso didático. Mignone
explorou o conhecidíssimo tema de Catulo da Paixão Cearense pela primeira vez em 1931,
quando escreveu variações para soprano ligeiro (coloratura) e piano. Sua segunda abordagem
para violão possivelmente foi concebida como música popular de efeito virtuosístico. A
escrita é quase totalmente pensada para instrumento de cordas de arco como um violino, com
as seções. A primeira é bem apresentada mas é seguida de outras duas não muito bem
Nas três peças para voz e violão de 1976, escritas para Maria Lúcia Godoy e
Sérgio Abreu, Mignone explorou o uso de linhas vocalizadas, que aparece por inteiro no
primeiras podem ser executadas em instrumentos como flauta e clarinete, mais afeitos ao
estilo característico do choro urbano. Por sua vez, na canção O Impossível Carinho, Mignone
faz uma releitura da sua 7a. Valsa de Esquina, através do emprego de vocalize nas partes
19
Recentemente, a parte de solista mereceu uma primorosa revisão do violonista e luthier Sérgio Abreu. Ver
Anexo.
52
20
extremas e introduzindo a poesia de Manuel Bandeira na seção central . É possivelmente a
compositor completou o Batuque, no mais característico estilo de Chico Bororó e, desta vez,
mais desenvolvido do que as pequenas peças dos anos 50, com certa proximidade da temática
africana que tomou parte significativa de suas obras do começo da década de trinta.
Chico Bororó, através das primeiras quatro obras escritas em 1953, como: Minuetto-Fantasia
grandes obras feitas entre 1970 até 1976. É o mais criativo e importante, quando foram
20
Poesia musicada primeiramente por Camargo Guarnieri em 1930, um dos pontos altos da canção modernista
brasileira.
53
populares, refletida na obra de Mignone, foi captada por Luiz Heitor Corrêa de Azevedo
O Canhoto, nas primeiras décadas do séc. XX, autor da famosa Abismo de Rosas; passando João
Teixeira Guimarães, o João Pernambuco, com Sonho de Magia, possivelmente admirada por Villa-
Lobos até Dilermando Reis, que mais escreveu valsas para violão, entre as quais Se ela perguntar 2.
Camargo Guarnieri. Uma única valsa foi escrita por Osvaldo Lacerda (1927). Valsas
aparecem também como movimentos da Suîte Nazareth (1963) de Eunice Katunda (1915-
1985) e da Brasiliana no. 13 (1983) de Radamés Gnatalli, sem esquecer o seu Estudo no. 2
(1967) intitulado Valsa seresteira. Após a abordagem de Mignone, apenas Camargo Guarnieri
1
In: MIGNONE, Francisco. A parte do anjo: autocrítica de um cinqüentenário, pg. 17, São Paulo, Mangione, 1947.
2
Interessante confrontarmos o início de Sonho de Magia com o Prelúdio no. 5 de Villa-Lobos.
54
exemplos de valsas entre compositores não violonistas. Citamos a Valse de Manuel Ponce
(1886-1948), da da coleção das 4 Piezas (1932), Segovia Op. 29 (1925) de Albert Roussel
(1869-1937), apesar de não levar a indicação de valsa, e Guido Santórsola (1904-1996), com
famosas Vals Venezolanas de Antônio Lauro (1917-1986) e as de Agustín Barrios. Sob este
aspecto, concluímos que a contribuição de Mignone, pelo seu formato, não encontra
precedentes.
começar pelos argumentos que escolhia para a maioria de suas óperas e bailados, até a
produção de música instrumental, notamos um gosto especial em tratar, à sua maneira, formas
e estilos antigos, talvez com um propósito de evocar o passado distante e recente de seu tempo.
Examinando seu último catálogo de música instrumental, deparamos com uma grande
quantidade de danças antigas, como o minueto, passando pelas antigas formas brasileiras como
modinha e lundu3. Até mesmo nas valsas, onde o compositor encontrava a total liberdade de
expressão, a memória foi um sempre um fator decisivo, como neste depoimento sobre a 8a.
Valsa de Esquina:
...A oitava valsa de esquina, na forma A-B-A, é a que tem o maior e melhor parentesco com as
obras de Mignone quando, ainda era moço, escondido de si mesmo, escrevia música popular sob
o pseudônimo CHICO BORORÓ. A obra tem todo o sabor e as características das valsas
suburbanas da garoenta paulicéia. Aqui é uma flauta, ali uma clarineta, acolá um violão, alhures
uma namorada ouvindo extasiada o embalo acariciante de uma serenata cantada ao luar...4
3
Mariz, Vasco (organizador) Francisco Mignone, O homem e a obra. Rio de Janeiro, Funarte & ED.UERJ, 1997.
55
predominante, seguido pelo fagote e pelo violão, sem contar as mais variadas versões e
produção de valsas, Mignone surpreendia com a conclusão do segundo volume das 24 Valsas
Brasileiras e com a Última Valsa, sua derradeira composição. São poucos os textos onde o
compositor comenta sua obra de forma otimista, como este sobre a valsa que reproduzimos
em seguida:
4
Texto de autoria do compositor, contido no LP Mignone interpretando Mignone. Rio de Janeiro. LP Philips-
Polygram 6598-311, 1978.
56
Estudos para violão em doze tonalidades menores, dispostas numa seqüência cromática,
partindo de do menor até si menor. Mesmo não explorando a totalidade das 24 tonalidades,
isto não nos impede de colocar este ciclo entre as raras obras do repertório violonístico
5
Texto de Francisco Mignone inserido da contracapa do LP 46.81.0385, Estúdio Eldorado Mignone, intérprete:
Maria Josephina – participação especial do autor, São Paulo, 1980.
57
Frédéric Chopin (1810 – 1849) nos 24 Préludes Op. 28 (1836-9) e por Dmitri Shostakovitch
Com propósito didático, estas obras foram escritas pelo polonês Feliks Horecki
para violão (1929) do compositor mexicano Manuel Ponce e Les Guitares Bien Tempérées, 24
Castelnuovo-Tedesco (1895-1968) 8.
Duas são as justificativas que apresentamos para a incluir estas doze valsas do
autor de O Chalaça, no contexto das obras que exploram o universo do sistema temperado.
São elas:
totalidade das obras mencionadas acima foram destinadas. No caso das valsas para violão, a
confirmação vem através do título 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos, que nos foi
6
O termo Guitarromanie refere-se às quatro primeiras décadas do Séc. XIX, na Europa Pós-Revolução
Francesa, quando houve um grande cultivo da música para guitarra de seis cordas simples.
7
HORECKI, Feliks. 24 Studja Lub Cwiczenia, ze szcezgólnym uwzglednienniem arpeggia Op. 30, Varsóvia,
PWN – 7555, sd e LEGNANI, L. Trente Six Capriches dans les tons Majeurs et Mineurs pour guitarre Op. 20,
Paris, Richault. Ed. facsimilar, Milão, Ricordi, 1983.
8
Ver: PONCE, Manuel. 24 Preludes, London, Tecla Editions, 1981, prefácio de Miguel Alcázar e
CASTELNUOVO-TEDESCO, Mario. Les Guitares Bien Temperées: 24 préludes et fugues pour 2 guitares
Op. 199, 1a. ed. Firenze, Aldo Bruzzichelli – Editore, 1974. 2a edição, Bèrben, Ancona, 1996.
58
revelado através do manuscrito citado 9. Outro fator que pode reforçar ainda mais a idéia de
uma obra didática desta natureza, é a dedicatória feita para Isaías Sávio, mestre de Carlos
violão brasileiro, Mignone estaria apresentando, principalmente aos alunos de Sávio, uma
obra para violão que tinha como objetivo principal a exploração de tonalidades pouco usadas,
2- O uso de 12 tonalidades menores na construção dos grandes ciclos de valsas, como uma de
suas principais características adotadas pelo compositor a partir das Valsas de Esquinas para
....e há uma coisa que talvez não devesse contar, mas como estamos aqui fazendo
revelações...Nas Valsas de Esquina não há uma parecida com a outra, são doze valsas, uma
diferente da outra. Isso porque estudei a fundo os Prelúdios de Chopin. Ele escreveu vinte e
quatro e não há um ponto que se parece com outro, nem na tonalidade. Ele aproveitou as
vinte e quatro tonalidades - maiores e menores – eu aproveitei as doze menores 10.
O seqüenciamento das 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos para violão,
como vimos acima, aparecerá no segundo volume das 24 Valsas Brasileiras para piano, ou
seja, da décima terceira até a vigésima quarta. Tal seqüenciamento não aparece nos demais
ciclos, bem como no primeiro volume das Valsas Brasileiras para piano.
9
Ver Introdução e Fontes principais.
10
MIGNONE. F. Depoimento dado ao Museu da Imagem e do som em 15 de outubro de 1968. Fundação Museu
da Imagem e do Som, p.7, Rio de Janeiro, 1991. Apud. BARBEITAS, Flavio Terrigno. Circularidade Cultural e
Nacionalismo nas Doze Valsas para Violão de Francisco Mignone. Dissertação apresentada à Escola de Música
da UFRJ, p. 91, Rio de Janeiro, 1995.
59
Segue abaixo uma tabela, onde demonstramos o uso das tonalidades menores
11
nos ciclos valsas de Mignone para violão e para piano .
Não podemos deixar de mencionar que nas 16 Valsas para fagote solo (1981)
Esta última característica nem sempre serviu de empecilho para que elementos da tradição
11
No último grande ciclo pianístico de Mignone, ressaltando particularmente sua segunda metade onde o
60
européia aparecessem em sua obra. Em suas valsas, está bem evidenciada a mistura entre o
europeu e o nacional. Seguem dois depoimentos sobre esta instabilidade de conviver entre o
nacional, como um caminho ideal preconizado por Mário de Andrade para sua carreira, e o
1- As Valsas de Esquina foram escritas porque uma ocasião, numa discussão, sempre com o
Mário de Andrade, o homem que mais me ajudou nesta parte, notamos que de todas as
músicas brasileiras a que menos tinha sofrido influência da música americana era a Valsa,
ela que se mantém genuinamente brasileira, apesar de suas origens serem de Chopin, ou
italianas, espanholas, como queiram. Elas se mantêm num ponto em que posso fazer alguma
coisa, e lembrei do meu tempo de seresteiro, daquelas Valsas que conheci em São Paulo um
grande número delas... 12
assumia com naturalidade todas as influências sentidas sobre a sua criação, que
posteriormente foram confirmadas nos depoimentos que se seguiram até sua última obra.
de Estudos, Francisco Mignone, aos 70 anos de idade, faz a seguinte declaração numa
seqüenciamento das tonalidades é semelhante ao do ciclo violonístico, o caráter didático não se faz presente.
12
Depoimento. Rio de Janeiro: Fundação Museu da Imagem e do Som, 1991. Apud. BARBEITAS, Flavio
Terrigno. Circularidade Cultural e Nacionalismo nas Doze Valsas para Violão de Francisco Mignone.
Dissertação apresentada à Escola de Música da UFRJ, pg. 82, Rio de Janeiro, 1995.
13
MARIZ, Vasco. Vida Musical, p. 216, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1997.
61
...Mas, voltando a minha fase nacionalista, devo declarar que não andava contente com que
produzia. Dediquei-me, para esconder-me de mim mesmo, a acompanhar ao piano, reger
orquestras, ser regente de rádio, membro da falecida CAC e professor de regência na Escola
Nacional de Música.
E perdi muito tempo. Quando voltei a ser senhor de mim mesmo, mandei às
urtigas, em primeiro lugar, a árdua, complicada e sisifesca tarefa de regente...
Mais uma coisa. Depois de dobrar o cabo das boas resoluções, aos sessenta e
mais anos, entreguei-me a escrever música pela música. Aceito e emprego todos os processos
de composição conhecidos. Transformo-os à minha maneira. Como sou e serei sempre um
eterno insatisfeito, refaço cinco ou mais vezes as minhas obras. O que é certo é que mandei
numa coisa: se antes entregava-me a um inútil não-vale-a-penismo, hoje reajo escrevendo
uma obra atrás da outra, na ânsia de superar-me 14.
circular livremente no conjunto delas como uma espécie de assinatura e autocitação. Junto a
Valsa em do menor
Seção A
14
Francisco Mignone aos 80 anos, excertos da entrevista ao Jornal do Brasil, a 6/4/1968. In MARIZ, Vasco
(organizador). Francisco Mignone, O homem e a obra. Rio de Janeiro, p.45, Funarte & ED.UERJ, 1997.
62
Seção B
Coda
Forma: Binária
toda a escrita nas regiões média e grave até o final da peça. O intuito é explorar a sonoridade
característica das cordas graves do violão. Interessante notar que este é um dos recursos mais
usados nas suas valsas para piano, com a clara intenção de imitar um violão. Portanto, vemos
que o sentido de improviso e virtuosidade do Più vivo desta valsa para violão é praticamente o
A’
É possível que o motivo mais característico das valsas de Mignone, seja aquele
que ouvimos no início da 2a. Valsa de Esquina, a mais conhecida, com inúmeras versões do
próprio compositor. Três mínimas pontuadas como uma assinatura e autocitação. O mesmo
Valsa em re menor
Tema
Variação I
Variação II
Variação III
Variação IV
Variação V
Variação VI
Coda
construída sobre um baixo, à maneira de um antigo ground, como o vemos em When I laid in
earth do Dido and Aeneas, de Purcell. Nela o compositor nos revela a harmonia essencial que
Coda
Valsa de Esquina. A influência de Chopin se faz presente na segunda seção, onde Mignone
faz a citação do motivo da segunda seção da Valsa Op. 64 no. 2, do mestre polonês,
Valsa em mi menor
Coda
escrita rítmica e pela harmonia desta 5a. Valsa em mi menor possui um parentesco com a 12a.
Valsa em fa menor
A’
Chopin, em particular o quarto da famosa série em mi menor. Além desta valsa, o Estudo no.
A’
Coda
repetidos, procedimento tipicamente pianístico. Um sinal que Mignone não havia ainda
familiarizado-se totalmente com uma escrita mais idiomática do violão. O uso de seqüências
de acordes em posição fechada, como nesta valsa, é constante em sua obra para violão.
A’
Coda
Aqui temos outra autocitação. O tema exposto na primeira seção desta. Valsa
em sol menor para violão é literalmente o mesmo do final da Valsa-Choro no. 4 para piano,
porém simples e sem ornamentações. Na retomada, este tema ganha uma nova variação,
15
Detectamos esta autocitação quando ouvimos a seguinte gravação : Francisco Mignone. 12 Valsas-Chôros.
LP Festa LDR 5.002, Rio de Janeiro, 1962; Idem. ibidem. CD FT 1804, 1999.
75
Coda
escrita nas regiões média e grave. Na seção que segue, A Tempo ma un poco più mosso, novo
motivo com uso de harmonias em posição fechada, variado na segunda frase com passagens
em terças. No Allegro mosso, novo tema nos bordões sob persistente acompanhamento em
Valsa em la menor
A’
A’’
Coda
seção inicial e sua primeira retomada, (A’) em modo maior, são estudos de sextas. Aqui, um
sertaneja. A segunda seção, Allegro deciso, apresenta-se como um estudo de notas repetidas
que abre com um motivo usado na Sonata no. 1 (1941). Na segunda retomada da seção (A’’)’,
Più lento (come prima) (c.67 até primeira metade do primeiro tempo do c.83) –
Coda
Forma: Palíndromo
meditativo, passando pelo ‘belcantismo’ do Più mosso até o recitativo, que pouco a pouco
Valsa em si menor
A’
A’
Coda
células rítmicas que ressaltam o caráter dançante. É seguido de uma seção, com um breve
tema sob pedal de dominante. Novamente, a retomada da seção inicial desta vez variada. Na
seção seguinte (C), uma melodia lírica começa a tomar forma, quando após a barra dupla no
escrito por Mignone. Nele, há apenas o essencial. Notamos que, depois Valsa em re menor, a
música vai tornando-se mais intimista. O tratamento das tonalidades menores é bem diferente
daquele usado nos Estudos, mais interiorizado do que a luminosa atmosfera seresteira destes.
Alia-se a este fator, a sonoridade ‘escura’ das tonalidades de do sustenido menor, mi bemol
menor, fa menor, fa sustenido menor, la bemol menor e si bemol menor, que no violão são por
vezes “lúgubres”. Outro dado que enfatiza a atmosfera noturna destas valsas, é o reduzido uso
São duas as fontes principais que tivemos acesso para esta edição das 12
Valsas Brasileiras em Forma de Estudos, de Francisco Mignone. Pela ordem de contato, são
as seguintes:
3.2.1 - A primeira edição lançada pela Irmãos Vitale S/A. Ind. e Com., São Paulo – Rio de
Janeiro, 1970. Cada uma das valsas foi editada separadamente para a venda em forma avulsa
BRASIL. A numeração de catálogo vai de 190 até 201. Na pág. 2, constam em todas a
dedicatória a ISAÍAS SÁVIO, o título 1a. Valsa em Dó Menor, no canto superior esquerdo a
3.2.2 - O manuscrito pertencente à Irmãos Vitale S/A. Ind. e Com., São Paulo – Rio de
antecedeu a preparação da edição mencionada acima. Foi escrito a caneta-tinteiro preta, pelo
gravador em lápis de cor e caneta esferográfica. Possui correções feitas por apagamento e por
sobreposição de colagens à caneta- tinteiro e em certos trechos com caneta esferográfica. Todas as
valsas, exceto a segunda, apresentam folha de rosto e não são todas que constam as datas de
Valsa em Fa sustenido menor, datada de 21-9-70, e nas Valsas em La menor e Si bemol menor,
datadas de 24-9-70. Esta última data aparece no final da décima segunda, Valsa em Si menor, abaixo
da assinatura do compositor.
Pela ordem, uma descrição de cada obra do ciclo. Na primeira, que apresenta o ciclo
d- Dedicatória a Isaías Sávio, que aparece novamente feita por Antônio Carlos Barbosa-
Lima;
MIGNONE / (1970);
f- Assinatura do compositor com local e data: Rio - 19-9-70 colocados abaixo da mesma;
d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 19-
MIGNONE / (1970);
MIGNONE / (1970);
d- Assinatura do compositor;
84
página;
d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 21-
e- Indicação Digitada por Carlos Barbosa-Lima, feita pelo mesmo, colocada no lado
esquerdo inferior.
MIGNONE / (1970);
MIGNONE / (1970);
d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 24-
rosto:
d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 24-
rosto:
MIGNONE / (1970);
d- Assinatura do compositor, colocada ao lado direito da página, com local e data: Rio - 24-
em Forma de Estudos de Mignone, é como vimos, dar condições para que a obra possa ser
executada. A primeira edição, lançada com muitos erros e sem uma devida revisão, contribuiu
para o esquecimento deste importante ciclo por mais de 31 anos. Mesmo Carlos Barbosa-
Lima que fez o dedilhado da primeira edição, reconhece a necessidade de uma nova revisão,
- Você as digitou, mas elas continuam bem difíceis de fazer resultar, não é mesmo ?
É, na época eu tentei tornar possível tocá-las do jeito que o Mignone escreveu, mas hoje eu
acho que elas precisam de uma revisão mais abrangente, sabe? Eu até tenho um aluno que,
sob minha supervisão, fez um estudo e uma outra versão das valsas, se você quiser posso lhe
mostrar.
3.3.1 A utilização do manuscrito de Irmãos Vitale Editores como referência principal, por
a. Impossibilidade de execução,
1
ZANON, Fábio. Entrevista com Carlos Barbosa Lima parte III, In: Violão Intercâmbio, no. 40, Ano VII, p. 21,
mar/abr. 2000, Santos.
88
e. Aumentar da clareza do texto. O manuscrito não apresenta muitas vezes um formato lógico
para acomodar a escrita do violão, em razão do espaço muito pequeno do pautado usado pelo
autor. Dentro deste item, chamamos a atenção para o dedilhado. Estes dois fatores nos levou
por vezes a alterar a disposição dos elementos na partitura, para aumentar a clareza do texto,
1. Original:
2. Edição:
assinalados na partitura com uma chave com linha tracejada, como no exemplo abaixo:
89
1- Exclusão de notas,
2- Inclusão de notas,
5- Colocação de dedilhado
3.3.3 Com exceção do dedilhado e das ligaduras tracejadas, todas as intervenções estão
justificadas 2;
3.3.4 Abrir a edição com a inserção de cópia do manuscrito e da primeira edição da obra 3.
2
Ver Notas, p. 144.
3
Ver Anexo
90
3.4 Partitura
FRANCISCO MIGNONE
12 VALSAS BRASILEIRAS EM FORMA DE ESTUDOS PARA VIOLÃO
(1970)
3.5 Notas
Valsa em do menor
Inserção de uma haste inferior na nota fa, que abre o compasso, transformando-a em uma
semínima pontuada para tornar a escrita mais exata;
Inserção de uma haste inferior na nota fa, que abre o compasso, transformando-a em uma
semínima pontuada, e exclusão das duas notas fa dos acordes seqüenciais, para tornar a
escrita mais exata e possibilitar maior clareza da parte principal;
145
Compassos 52 e 53. No original:
Compasso 67. Colocação de uma pausa de semínima no terceiro tempo que não consta no
manuscrito;
Compassos 01, 02, 03. Alteração, na ossia, da disposição das notas do acompanhamento para
que as três mínimas pontuadas possam ser executadas na duração real;
Compasso 19. Colocação de uma tratina na nota mi, mínima pontuada que não consta no
manuscrito;
Compasso 45. Colocação de uma pausa de colcheia no primeiro tempo que não consta no
manuscrito;
146
Compasso 54. Colocação de uma pausa de colcheia no primeiro tempo que não consta no
manuscrito;
Apresentamos novamente esta obra com uma opção de scordatura que utiliza a
terceira corda afinada um semitom abaixo, para propiciar mais conforto na execução e riqueza
tímbrica, sem nenhuma descaracterização sonora. Esta scordatura proposta é usada no estudo
e execução da música renascentista, portanto familiar entre violonistas.
Valem, portanto, todas as informações apresentadas na Valsa em do sustenido
menor com a afinação normal.
Valsa em re menor
Exclusão da nota mi dos acordes do segundo e terceiro tempos, para valorizar o fraseado;
147
Trecho de difícil execução para ser concatenado com as seqüências de movimento anterior e
posterior. Sugestão apresentada: exclusão da nota sol no primeiro e no terceiro tempos do
compasso 91, para permitir mais conforto nas mudanças sem prejuízo de sonoridade;
Compasso 92.
Trecho de difícil execução pela extensão dos dedos 1 e 4 da mão esquerda em meio à
concatenação rápida dos movimentos. Solução apresentada: exclusão da nota si do segundo
tempo, para permitir mais conforto nas mudanças sem prejuízo de sonoridade;
Compasso 93.
Impossibilidade de execução pela extensão dos dedos 1 e 4 da mão esquerda e também pela
concatenação rápida de movimentos. Solução apresentada: exclusão da nota si do segundo
tempo, para permitir uma troca de movimentos com mais conforto sem prejuízo de
sonoridade;
150
Exclusão da nota mi (primeira linha) dos acordes repetidos com função de acompanhamento,
para valorizar o motivo principal escrito em oitavas;
Compassos 104 e 105. Apesar do mi bemol grave da oitava, tocado na quarta corda, não
poder ser mantido devido a troca de posição e a repetição dos acordes de acompanhamento,
decidimos conservá-lo, para não alterar a escrita original em demasia;
Exclusão da nota la (segunda linha), dos acordes repetidos com função de acompanhamento,
para valorizar o motivo principal escrito em oitavas. Apesar do la grave da oitava, tocado na
quinta corda solta, não poder ser mantido devido a repeticão dos acordes de acompanhamento,
decidimos conservá-lo, para não alterar a escrita original em demasia;
Compasso 107. Apesar do sol grave da oitava, tocado na sexta corda, não poder ser mantido
devido a repeticão dos acordes de acompanhamento, decidimos conservá-lo, para não alterar a
escrita original em demasia;
151
Compassos 108 e 109. Apesar do sol grave da oitava, tocado na quarta corda, não poder ser
mantido, devido a armação da posição e a repetição dos acordes de acompanhamento,
decidimos conservá-lo, para não alterar a escrita original em demasia;
Exclusão da nota re (terceira linha) dos acordes repetidos com função de acompanhamento,
para valorizar o motivo em oitavas. Apesar do re grave da oitava, não poder ser mantido
devido a execução dos acordes de acompanhamento, decidimos conservá-lo, para não alterar
a escrita original em demasia;
Exclusão da nota fa (primeiro espaço) dos acordes repetidos com função de acompanhamento,
para valorizar o motivo em oitavas. Apesar do fa grave da oitava, não poder ser mantido
devido a repetição dos acordes de acompanhamento, decidimos conservá-lo, para não alterar a
escrita original em demasia;
Mudamos a disposição das notas de acompanhamento no compasso 114 para uma oitava
acima e colocamos as colcheias da oitava em mínimas pontuadas, em razão do original
resultar numa sonoridade ‘pobre e vazia’;
Compasso 115.
Compassos 01, 02, 03 e 05. Início de difícil execução na região aguda dos bordões, onde a
afinação pode ser comprometida numa execução do ciclo ou numa seqüência com outras
peças. Solução apresentada: a troca de naipe do acompanhamento, como está indicado na
ossia;
Valsa em mi menor
Compassos 02, 04, 06, 10, 12 e 14. No manuscrito, falta uma colcheia ligada entre o primeiro
e terceiro tempos. Ex.:
Seqüência inicial de difícil execução devido a disposição das notas dos acordes do segundo
compasso. Soluções apresentadas: 1- Dobramento das notas sol e si do acorde da segunda
metade do terceiro tempo do primeiro compasso, para obter uma densidade que ressalta sem
esforço a acentuação assinalada. 2- Inserção no acorde seguinte, no segundo compasso, de um
harmônico na nota la tocada na quinta corda na décima segunda posição, antes do acorde
como uma acciaccatura, com a função de completar a harmonia e dar possibilidade de
montagem dos acordes seqüenciais;
153
Compassos 03 e 04. Seqüência semelhante aos compassos 01 e 02, de difícil execução, devido
a disposição das notas dos acordes do quarto compasso. Soluções apresentadas: 1-
Dobramento das notas sol e si do acorde da segunda metade do terceiro tempo do terceiro
compasso, para obter uma densidade que ressalta sem esforço a acentuação assinalada. 2-
Inserção no acorde seguinte, no quarto compasso, de um harmônico na nota la tocada na
quinta corda na décima segunda posição, antes do acorde como uma acciaccatura, com a
função de completar a harmonia e dar possibilidade de montagem dos acordes seqüenciais;
Compassos 05 e 06.
Dobramento da nota sol do acorde da segunda metade do terceiro tempo do compasso 05,
para obter uma densidade que ressalte a acentuação sem esforço;
Acorde da segunda metade do terceiro tempo difícil de ser montado. Solução apresentada: uso
de outra inversão;
Compasso 31. Dobramento em uníssono a nota sol, última do compasso como reforço
tímbrico;
Seqüência de acordes de difícil montagem. Solução apresentada: troca da nota la por uma
nota mi. em todos os acordes;
Compasso 88. Colocação de pausas que não constam no manuscrito no segundo e terceiro
tempos.
Valsa em fa menor
Compasso 12. No manuscrito, o compositor aponta a indicação deixe vibrar a 5a. corda. Na
edição consta deixe vibrar a 1a. corda. Optamos por esta última por ser a correta;
156
Compasso 07. Incluímos na ossia a nota mi bemol no baixo apenas para preenchimento
harmônico;
Passagem de difícil execução. Solução apresentada: uso de outra inversão com uma mínima
no baixo fa seguida de um re semínima no 3o tempo;
Compasso 19. Dobramento do mi oitava abaixo, como reforço harmônico para progressão
melódica sobre o um mesmo acorde até o final do compasso seguinte;
157
Exclusão da nota mi do acorde do terceiro tempo no compasso 20, para manter uma unidade
tímbrica no fraseado;
Compasso 62. Exclusão da nota sol do terceiro tempo, como alternativa para evitar a mudança
de posição. Ver ossia.
Compasso 45. Impossibilidade de manter a nota fa na duração estabelecida. Optamos por não
alterar a escrita original;
Compassos 51 até 72. Como havíamos comentado anteriormente, Mignone faz uso de
seqüências harmônicas usando acordes em posição fechada. Neste trecho, a melodia do baixo
nos compassos 56, 57, 64 e 65 tem suas notas encurtadas pela impossibilidade de mantê-las
devido a posição cerrada de alguns acordes. Solução apresentada: uso de outra posição,
invertendo a segunda e terceira notas depois de cada um dos baixos. Ver ossia;
Valsa em la menor
Compasso 12. O penúltimo acorde é difícil de ser montado pela extensão dos dedos 1 e 2 com
o dedo 4. Solução apresentada na ossia: a exclusão da nota si, presente na harmonia do início
do compasso;
Compasso 19. Separação da haste do acorde das notas repetidas para maior clareza do texto;
Compasso 33. Seqüência de difícil execução. Solução apresentada: exclusão da nota sol
sustenido que aparece na terceira e na quarta semicolcheia do segundo tempo, como está
indicado na ossia;
A nota fa que conclui a seção possui pouca sustentação em meio ao ritenuto. Solução
apresentada: Dobramento oitava abaixo com uso de uma acciaccatura, que guarda relações
com os acordes que imitam golpes de arco da seção inicial;
Valsa em si menor
O último acorde é de extrema dificuldade para ser armado isoladamente e impossível de ser
concatenado com o acorde do compasso seguinte. Soluções apresentadas: 1- Exclusão do fa
sustenido do acorde. 2- Outra inversão do acorde, como está indicado na ossia;
Compasso 92. Dobramento em uníssono da nota sol do acorde no terceiro tempo, para
valorizar o sforzando;
Conclusão
Estudos, Mignone deixou registrado que este ciclo para violão foi feito apenas com finalidade
não receber uma resposta dos violonistas em relação a esta obra. Mesmo os Estudos, mais
É possível que até o final de sua vida, Mignone não tenha presenciado a
execução de alguma destas valsas para violão. Hoje sabemos que o compositor sentia um
esquecimento da obra e as soluções possíveis para superar tais barreiras. São os seguintes:
1- O emprego de tonalidades pouco usadas. Um aspecto técnico que chama a atenção dos
violonistas, logo ao primeiro exame da partitura para problemas como dificuldade de leitura e
pouco rendimento sonoro. Acreditamos que nós, violonistas, estamos hoje mais preparados e
interessados nas obras que exploram o universo do sistema temperado dentro do repertório do
violão. Um exemplo é a edição de 1981, de Miguel Alcazar, que nos revelou o ciclo dos 24
Preludes de Manuel Ponce, cinqüenta anos após a edição fragmentada de Andrés Segovia 2.
Hoje, este ciclo está plenamente incorporado ao repertório como obra referencial, com
inúmeras gravações e guardando afinidades como estrutura, proposta didática e até mesmo
1
Texto de Francisco Mignone inserido da contracapa do LP 46.81.0385, Estúdio Eldorado Mignone, intérprete:
Maria Josephina – participação especial do autor, São Paulo, 1980.
2
B. Schott’s Söhne, Mainz, 1930.
162
em relação ao manuscrito dos Irmãos Vitale. Este revelou-se mais completo e serviu de
3- A falta de uma revisão mais apurada e abrangente, reconhecida por Carlos Barbosa-Lima,
como vimos, que fez o dedilhado da primeira edição e provavelmente muitas das correções no
manuscrito. Propusemos-nos a uma nova revisão com um novo dedilhado, justificando todas
as correções e alterações feitas nesta edição. Procuramos abrir nossa edição, incluindo nesta
tese, e em futura publicação, uma cópia do manuscrito dos Irmãos Vitale, a exemplo das mais
Sonata (1933) do compositor espanhol Antônio José (1902-1936) descoberta nos anos 80 3;
4- Considerando as diferenças entre o manuscrito dos Irmãos Vitale, a primeira edição, a data
do manejo de sua escrita, é uma tarefa árdua e arriscada. Na recente história do instrumento, a
violino e orquestra Op. 73 em ré maior (1878) de Johannes Brahms (1833-1897), que teve o
3
Edizioni Bèrben, Ancona, 1990.
163
qualquer grande solista. Como exemplo mais recente, não podemos deixar de mencionar o
...At the end of my life I can name three heroes, three supreme figures: Prokofiev,
Shostakovich and Britten. My relationship with Britten was diferent from the others because
when I came to know him I was more mature as a person and musician. With Prokofiev and
Shostakovich I was more like a student, but with Ben, thought not his equal, I was more
developed, older. He opened my eyes to completely new human qualities. I had never met
anyone like him before. And of course I was overwhelmed by the wealthy of his music, the
ocean of his music. I don’t know who played the piano better then him. I stopped playing
Schubert’s Arpeggione Sonata after he died – it was impossible to find anyone else who
...There were only two composers – Britten and Shostakovich – who composed so
perfectly for the instrument that you didn’t have to change a note. For Prokofiev, no!
Somethings he composed things that were really impossible for the instrument. And I would
have to help him. ‘Change them, Slava, change, change!’ he would say 4.
4
BBC Music Magasine, Rostropovich at 75. Entrevista a Moray Welsh. p. 36, vol. 10, number 8, april, 2002.
164
acima.
portanto, é vital saber mergulhar no universo do compositor, ainda mais quando não podemos
Esperamos, com esta edição, contribuir para a divulgação deste ciclo único e
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4. Dicionários e Enciclopédias
DICIONÁRIO GROVE DE MÚSICA: edição concisa, editado por Stanley Sadie, trad.
Eduardo Francisco Alves, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1994.
ENCICLOPÉDIA DA MÚSICA BRASILEIRA: erudita, folclórica e popular. 2a. ed. São Paulo,
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5. Dissertações
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Valsas de Esquina, Francisco Mignone, piano. Rio de Janeiro, LP Festa LDR 5001, s.d.
Viagem pelo Brasil, Música brasileira indicada por viajantes da primeira metade do século
XIX. Anna Maria Kieffer, voz; Gisela Nogueira, viola de arame e Edelton Gloeden, violão.
São Paulo, Akron, 2000.
9- Outras publicações
Villa-Lobos, sua obra, catálogo, 3a. ed., Rio de Janeiro, Museu Villa-Lobos, 1989.
Anexo
EDELTON GLOEDEN
AS 12 VALSAS BRASILEIRAS EM
FRANCISCO MIGNONE:
UM CICLO REVISITADO
ANEXO
São Paulo
2002
FRANCISCO MIGNONE (1897-1988)
Programa