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PARA UMA GESTÃO ÉTICA

DA POPULAÇÃO DE POMBOS EM MEIO URBANO

Manual de Boas Práticas em


POMBAIS CONTRACETIVOS

Plataforma Cívica Unidos pelos Pombos


AGOSTO 2020
ÍNDICE

I. Agradecimentos ………………………………………… 2
II. Nota Introdutória ………………………………………... 4
III. Metodologia ……………………………………………... 5
IV. Âmbito ……………………………………………………. 6
V. Natureza e história dos pombos urbanos……………… 8
VI. Procedimentos erroneamente usados na gestão da população de
pombos urbanos…………………………………………. 11
VII. Pombais Contracetivos
1. Vantagens…………………....................................... 14
2. O que são……………………………………………… 16
3. Implementação
3.1. Planeamento…………………………………… 20
3.2. Localização…………………………………….. 23
3.3. Modelos………………………………………… 26
3.4. Fidelização da população…………………….. 45
VIII. Manutenção do pombal…………………………………. 53
IX. Financiamento e custos………………………………… 60
X. Medidas complementares……………………………….. 66
XI. Avaliação………………………………………………….. 72
XII. Outras questões pertinentes…………………………… 74
XIII. Conclusão………………………………………………… 75
XIV. Fontes……………………………………………………… 76
XV. Bibliografia………………………………………………… 79

1
I. Agradecimentos

A Plataforma Cívica Unidos Pelos Pombos agradece a prestimosa


colaboração dos voluntários que, diariamente, se responsabilizam por
pombos de rua e das instituições mencionadas que, com elevada
solicitude, contribuíram e apoiaram a edição deste manual. Sem os
seus aportes, o resultado final não se apresentaria tão enriquecido.

A todos o nosso muito obrigada!

- Ambassade des Pigeons

- Associacion Mis Amigas Las Palomas;

- Associacion Corazón de Paloma (Pigeon Heart);

- Asociación para la Conservatión del Médio Ambiente Urbano;

- Bundesverband Menschen für Tierrechte;

- Erna – Graff – Stiftung fur Tierschutz;

- Förderverein Stadttauben Wuppertal e.V.;

- Hamburger Stadttauben e.V.;

- Landelijke Werkgroep Duivenoverlast - European Working Group for


Effective Pigeon Control;

- Menschen fur Tierrechte (Bundesverband der Tierversuchsgegner e.


V.);

- PETA Alemanha;

- PiCAS U.K. Limited;

- Stadttauben Bochum e.V.

- Stadttaubenhilfe koblenz/neuwied e. V.

2
- Stadttauben Lüneburg e.V.

- Stadttauben Stuttgart ein Projekt des Tierschutzverein Stuttgart u.U.


e.V.)

- Unsere Rottweiler Stadttauben e. V.

- Wild Life Society.

Entre outras.

3
II. Nota Introdutória

O decurso da História e o longo processo de domesticação de animais


conduziu a espécie Columba livia, vulgarmente designada por pombo
das rochas, a habitar e compartilhar o espaço urbano com os humanos.
Este facto levou a que, na atualidade, se considere o pombo das
cidades, pombo comum, pombo doméstico ou, simplesmente, pombo
(Columba lívia dom) como animais distintos dos antepassados
silvestres. Tal distinção encontra-se refletida em alguns comportamentos
adotados pelos indivíduos que vivem atualmente em meio urbano.

Não obstante, resistem ainda alguns pequenos núcleos selvagens, que


nidificam em escarpas da costa portuguesa e em vales do interior do
território nacional. É preferencialmente nestes locais que os pombos
podem, ainda, ser vistos no seu habitat natural.

Ao longo do presente manual a palavra pombos será usada, sempre e


apenas, para nos referirmos aos pombos domésticos das cidades,
usando-se a expressão pombo das rochas para o seu antepassado
selvagem.

4
III. Metodologia

O manual estrutura-se organizado em capítulos, com informação


assertiva sobre as boas práticas necessárias a uma gestão funcional
dos pombais contracetivos e outros métodos complementares,
referentes ao controlo ético da natalidade dos pombos, por forma a
garantir o cumprimento dos objetivos pelos mesmos propostos e
assegurar o seu sucesso

Tem por base a recolha de informação científica e atualizada e o


levantamento do saber, resultante da experiência de quem cuida destas
estruturas e/ou de quem acolhe, tutela e conhece a natureza dos
pombos de cidade.

O texto é acompanhado por referências eletrónicas - links e


hiperligações - relativas a fontes de informação consultadas, numeradas
de (1) a (29), além de um conjunto de fontes estruturantes da
informação plasmada no presente documento, que surge no final, na
secção Bibliografia.

5
IV. Âmbito

A publicação pretende constituir-se como uma mais-valia no controlo


populacional dos pombos de cidade, através da implementação de
pombais contracetivos funcionais e outras medidas coadjuvantes,
focando-se em soluções éticas e definitivas para os problemas
relacionados com estes animais em contexto urbano.

Em sociedades humanistas e que se querem evoluídas, como a


portuguesa, as capturas e a occisão de pombos (e de outros animais)
são veementemente condenadas, sendo a sua legalidade cada vez
mais posta em causa.

Neste sentido, o manual tem por objetivo também assumir-se como uma
ferramenta colaborativa da cessação do status quo instalado em
Portugal e facilitadora da transição para a gestão destas populações de
aves, através da utilização de métodos não agressivos e eficazes.
Testados e utilizados noutros países e amplamente difundidos, estes
métodos são exemplos de boas práticas e encontram-se validados em
locais diversos.

Intenta, portanto, dar resposta à lacuna existente, quanto às diretrizes


de funcionamento e gestão que devem pautar a instalação e
manutenção dos pombais contracetivos, consubstanciando-se como
uma linha orientadora, que fornece guias de ordem prática,
sustentáveis, ecológicas e eficientes, de valências diferentes,
condutoras ao êxito destas estruturas.

6
Os problemas associados aos pombos em contexto urbano apenas
poderão resolver-se com uma praxis que reconheça a inutilidade do seu
controlo populacional através da aplicação de métodos e procedimentos
cruéis, degradantes e desumanos. Pelo contrário, é necessário que
essa prática assente em padrões de respeito pela dignidade dos seres
vivos, coadjuvada pelo bom senso e pela necessária e urgente
sensibilização da população.

Para isso, considera-se da maior pertinência que a ação governativa


seja escorada na aplicação de uma educação moderna e de
sensibilização dos conhecimentos, junto dos mais jovens,
principalmente no âmbito das crianças do pré-escolar e dos alunos do
1.º ciclo do ensino básico.

Globalmente urge combater o medo e o preconceito instalados, que


perpetuam o mito do perigo para a saúde pública, devido à transmissão
de supostas enfermidades. Afinal, tal entendimento encontra-se
desacreditado, sendo aceite, hoje em dia, que a probabilidade de os
pombos transmitirem doenças ao ser humano não é maior do que a de
outras aves e animais de estimação. Os pombos necessitam de ser
cuidados e não perseguidos e aniquilados.

Por último, realce-se que a leitura deste manual não dispensa a procura
constante de conhecimento atualizado sobre o tema.

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V. Natureza e história dos pombos urbanos

Os pombos silvestres (ou pombos das rochas) são aves filopátricas,


revelando tendência em permanecer nos mesmos locais,
preferencialmente para se reproduzirem, sendo dispersantes na procura
de alimento.

Os pombos das cidades continuam a revelar-se filopátricos, mas as


exceções são cada vez maiores, relativamente ao segundo
comportamento. São animais inteligentes, condicionados por séculos de
vivência em meios urbanos e por processos de domesticação
contínuos, que afetaram vários dos seus ciclos e mecanismos naturais
de evolução. Ver fonte (1).

Já Darwin, nos seus estudos, assinalava as diferenças entre os Pombos


das Rochas e os Feral Pigeons, sublinhando, também, os efeitos
evolutivos resultantes da domesticação destes animais. Ver fonte (2).

Sue Donaldson y Will Kymlicka, designa-os como animais liminais, uma


vez que estão num estado semi-doméstico e dependem do ser humano
para sobreviver. Ver fonte (3).

Os primeiros sinais de domesticação dos pombos foram encontrados


em escavações arqueológicas que datam de há 5000 anos a.C.,
presumindo-se que a sua domesticação possa ter inclusive ocorrido
anteriormente, concretamente há cerca de 10.000 a.C. Ver fonte (4).

8
A civilização cedo se apercebeu que poderia utilizar estes animais como
fornecedores de carne, ovos, penas, estrume e, ainda, como
mensageiros. Relembre-se que, na 1ª e 2.ª Guerras Mundiais, os
pombos foram usados para comunicações militares.

A modernização da sociedade humana conduziu a grandes alterações


na forma como estes animais são percecionados, já que o interesse na
sua utilização diminuiu ou mesmo desapareceu. Como consequência,
os pombos foram descartados, permanecendo ao abandono em meio
urbano. Concomitantemente, a redução dos espaços naturais e
ruralizados, consequência do crescimento das cidades, contribuiu para
adensar esta situação, tornando-os dependentes dos humanos para
sobreviverem.

As largadas de pombos correio, realizadas no âmbito do desporto


columbófilo, também contribuem para aumentar os bandos de pombos
citadinos com novos residentes, que ao perderem-se do seu destino
final, se juntam a estes. Ver fonte (5).

Um dos grandes inconvenientes do processo de domesticação e criação


de pombos, foi a alteração dos seus hábitos de procriação. O pombo
das rochas, enquanto animal silvestre, faz 2 a 3 posturas, por ano. Os
pombos de cidade criam uma ninhada a cada dois meses,
independentemente da disponibilidade de alimento a qual, aliás, parece
não ter grande influência na capacidade reprodutiva da espécie. Cite-se,
a este propósito, um excerto de uma publicação da Fundação alemã
Erna Graff:

9
«Como demonstrou um estudo sobre pombos em Basileia, mesmo
pombos desnutridos não param de pôr ovos e ter borrachos. Mas eles
não podem alimentá-los e os filhos simplesmente morrem de fome no
ninho. Após a morte, os pais tentam novamente a próxima ninhada
(Stock & Haag-Wackernagel, 2016). E assim por diante ... Os filhos
morrem primeiro, seguidos pelos animais mais jovens e fracos» (1); Ver
fonte (6).

Os pombos reproduzem-se o ano todo, embora se note uma maior


incidência de juvenis na Primavera e no Verão. A reprodução no Inverno
pode abrandar, apenas fruto da temperatura mais baixa.

Constata-se, assim, que o problema do excesso populacional destes


animais, em meio urbano, é sucedâneo da intervenção humana e
apenas com ela se irá resolver de forma ética e vantajosa para todos.

10
VI. Procedimentos erroneamente usados na gestão
da população de pombos urbanos

À cabeça dos métodos usados na gestão da população de pombos na


cidade, encontra-se o das capturas regulares, através de redes
automáticas ou de gaiolas, para posterior abate dos pombos ou para o
seu encaminhamento para zonas cinegéticas.

Os animais capturados são, na sua maioria, os juvenis e os mais


debilitados, prevalecendo os mais saudáveis e com maior potencial
reprodutivo. Após a captura, o ritmo do ciclo reprodutivo aumenta,
facilitado pela abundância (relativa) de alimento e pela disponibilidade
de
nichos existentes.

Ou seja, a ineficácia deste método está há muito comprovada, conforme


demonstrado no recente e extensivo estudo, levado a cabo pela
Asociación para la Conservatión del Médio Ambiente Urbano. Ver fonte
(7).

A prática de não alimentação, como forma de controlo populacional,


também não logra obter resultados, uma vez que os pombos são
animais de natureza não migratória e fiéis aos ninhos, nunca se
afastando mais que 700 metros dos mesmos. Ver fonte (8).

A não alimentação ocasiona a permanência das aves em esplanadas e


áreas de afluência social, com elevada concentração de pessoas,
gerando zonas de conflito para as duas espécies. Os pombos ingerem

11
as sobras dos humanos que, não fornecendo o devido suporte
nutricional, apenas os debilita, sendo fonte de problemas.

Por exemplo, a acidez das fezes, consequência da falta de alimentação


adequada e de qualidade, torna-as corrosivas, o que acaba por causar
maior grau de sujidade e gerar grande incómodo à população.

Sublinhe-se que as fezes de pombos bem alimentados não causam


problemas aos edificados. Ver fonte (9).

O uso de medidas repelentes, como instalação de espigões anti-pombo,


utilização da falcoaria, aplicação de redes não seguras para aves, entre
outros, também não proporcionam os resultados esperados, além de
que, frequentemente, causam danos às aves, deixando-as em agonia
desnecessária, podendo ainda afetar outros animais e, no limite, seres
humanos.

Figuras 1 e 2:
Danos causados aos pombos devido a métodos repelentes inadequados.

Fonte das imagens: Menschen für Tierrechte - Bundesverband der Tierversuchsgegner e.V.

12
Os métodos descritos são, portanto, perniciosos do bem-estar dos
animais e cruéis, revelando-se ineficientes a médio e a longo prazo,
levantando questões relativas ao bem-estar animal e social.

13
VII. Pombais Contracetivos

1. Vantagens

A solução ética, globalmente aceite para o controlo populacional destes


animais, é a edificação e boa gestão de pombais contracetivos,
eventualmente complementada com outros métodos maximizadores dos
resultados.

A experiência da utilização criteriosa de pombais contractivos em


cidades como, por exemplo, Aachen (Alemanha), Amesterdão
(Holanda), Paris, (França), Valência (Espanha), Basileia (Suíça) e outros
países, mostra que é possível gerir a população de pombos urbanos,
garantindo o bem-estar dos animais e a satisfação das pessoas.
Quando a população de pombos aceita o pombal contracetivo, 80% do
seu tempo diário é passado no mesmo. Aqui obtêm alimentação
adequada e condições salubres para a sua sobrevivência e torna-se
possível o controlo da natalidade, com resultados muito significativos no
controlo da população, a médio e longo prazo. Ver fontes (10) a (15).

A título de exemplo, usemos os cálculos demonstrativos efetuados pela


PiCAS UK Limited – Pigeon Control Advisory Service – uma das
entidades pioneiras, no Reino Unido, na utilização deste método - e
disponíveis in http://www.picasuk.com/artificial_breeding_facilities.html:

Cada casal de pombos urbanos pode criar 14 borrachos por ano.


Destes juvenis, ainda no seu primeiro ano de vida, podem nascer mais
10 crias. Assim, no final do primeiro ano de instalação de um pombal

14
contracetivo, com apenas um casal, podemos ter 24 nascimentos
evitados.

Portanto, se 50 pares de pombos adultos residirem num pombal


contracetivo, durante um período de 12 meses, o número de aves não
nascidas é superior a 1.150, mesmo contando com os necessários
nascimentos iniciais (um ou dois), que têm como efeito fidelizar o casal
à estrutura. É um número muito significativo!

A mesma fonte cita outros exemplos de diminuição significativa de


pombos, como é o caso do Hospital de Nottingham, onde foi instalado
um pequeno pombal contracetivo e a população de pombos decaiu, em
3 anos, aproximadamente, de cerca de 1.200 animais para, apenas, 65
aves.

15
2. O que são

São estruturas abertas, de onde os animais podem entrar e sair,


livremente. Contêm, no seu interior, pequenos compartimentos próprios
para nidificação, denominados casulos, que poderão ser forrados com
papel de jornal, onde se coloca uma taça ou um ninho, para que cada
casal possa aí nidificar. Possui também comedouros e bebedouros, com
disponibilização de alimento apropriado e água, poleiros e algum
enriquecimento ambiental, p. ex., carumas no chão, galhos, material de
ninho, etc.

Figura 3:
Imagem de casulos, no interior do pombal instalado na mata Silva Porto, em Lisboa.

Fonte da imagem: acervo da plataforma cívica Unidos Pelos Pombos.

Apresenta-se geralmente equipado com água, eletricidade (podendo


esta ser obtida através da instalação de iluminação led ou de um
pequeno painel solar) e sistema de escoamento de resíduos.

16
Figura 4:
Pombal contracetivo instalado na mata Silva Porto, em Lisboa.

Fonte da imagem: acervo da plataforma cívica Unidos Pelos Pombos.

A gestão e a manutenção da estrutura, bem como a monitorização e o


cuidado dos animais, são assegurados por uma equipa diversificada,
definida na fase em que se planeia a implementação do pombal.

E é nesta instalação que a equipa responsável pelo pombal procede à


troca dos ovos, colocados pelas aves, por modelos falsos, controlando,
assim, a natalidade dos animais.

Figura 5:
Ovos retirados no 1º ano de funcionamento do pombal contracetivo da mata Silva
Porto.

17
Fonte da imagem: acervo da plataforma cívica Unidos pelos Pombos.

Os pombais contracetivos encontram-se instalados, em contexto de


cidade, um pouco por todo o mundo, sendo excelentes os seus
resultados.

Porém, a primeira cidade a adotar a utilização deste método, como


estratégia exclusiva e gerida integralmente por entidades públicas, foi
Augsburg, na Alemanha. A opção foi tomada após o uso, durante anos,
de vários dos métodos já referidos, sem que fossem obtidos os efeitos
esperados. Finalmente, apostando no pombal contracetivo para o
controlo da população de pombos urbanos, cumpriram-se, pela 1.ª vez,
os objetivos ambicionados. Ver fonte (16).

A cidade de Aachen também se distingue pela utilização do método em


moldes de gestão semelhantes. Ver fonte (17).

O método utilizado em Augsburg foi estudado através de parcerias


estabelecidas entre grupos locais de proteção de pombos e a
Bundesverband Menschen für Tierrechte, organização alemã que
estuda e investiga a temática dos direitos dos animais.

Os estudos expuseram os aspetos em que se registaram melhorias


significativas e estas são apresentadas como os 5 principais pilares a
ter em conta, neste modelo de funcionamento:

1. Controlo efetivo e ético da população de pombos.


2. Possibilidade de cuidar das aves (alimentação adequada,
assistência veterinária e tratamento, sempre que necessário),

18
prevenindo o aparecimento de doenças, evitando o sofrimento e a
propagação das mesmas entre os indivíduos da espécie.
3. Redução da dispersão pela cidade dos detritos destas aves, dada
a sua concentração nos pombais, facilitando a sua posterior
eliminação, daqui resultando um incremento global positivo a nível
de limpeza e higiene dos espaços públicos.
4. Redução do número de queixas dos cidadãos.
5. Consciencialização e mudança de atitude da população.

Perante os factos deu-se por reconhecida a eficácia dos pombais


contracetivos, que representam, em várias cidades, o principal - ou
mesmo único - método de controlo da população de pombos.

19
3. Implementação

3.1. Planeamento - Ver fontes (18) a (20)

Os pombais contracetivos devem ser planeados e esta é uma etapa


determinante para a obtenção dos resultados almejados.

É fundamental criar uma equipa de trabalho multidisciplinar e


diversificada, com representantes de entidades municipais e outras -
Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Provedores do animal,
entidades públicas e ONG defensoras do ambiente e da causa animal,
grupos locais de interessados, voluntários, especialistas no tema, para
que sejam debatidos pontos de vista e argumentos conducentes à
consolidação do diálogo e à convergência das sinergias. Contactos com
cidades onde esta prática esteja instalada, podem ser também muito
úteis.

Esta etapa constitui-se como a clarificação dos objetivos a atingir,


apresentando, como cerne, o controlo das populações de pombos
urbanos, pela aplicação de métodos que respeitem e dignifiquem a vida
dos pombos enquanto espécie e sejam garantia do seu bem-estar.

Assentes as premissas e definidas metodologias de trabalho, urge


definir papéis e identificar responsáveis e interlocutores.

Para que haja um funcionamento pleno de todo o conceito, devem ser


discutidas todas as etapas do processo, incluindo a gestão e

20
manutenção do pombal e protocolados, por escrito, as atribuições e
responsabilidades de cada uma das partes.

Torna-se indispensável envolver, também, neste processo, os centros


oficiais para abrigo e de tratamento de animais (como os canis/gatis
municipais) e estabelecer convenções entre a entidade gestora do
pombal e hospitais/clínicas veterinárias, públicas e/ou privadas,
habilitadas para o tratamento de animais exóticos.

Nesta fase existem procedimentos que podem incrementar o triunfo do


pombal, sobre os quais é importante ponderar:

(1) Verificar quais são os focos de maior incidência de populações


de pombos, ou seja, as zonas com maior taxa de nidificação, visto
serem essas áreas as que mais necessitam da edificação deste
género de pombais e aquelas em que mais facilmente os animais
aceitarão a estrutura, já que os pombos tendem a preferir
permanecer em locais próximos da zona de nidificação que já
conheciam previamente.

(2) Identificar e decidir sobre o aproveitamento ou remoção dos


ninhos pré-existentes.

a) No caso de a decisão recair pela remoção dos ninhos - quando


o pombal se encontre instalado -, devem vedar-se esses
locais, com rede adequada e inofensiva para as aves, a fim de
incentivar os pombos a nidificar, de imediato, dentro da
estrutura, sendo apenas necessário assegurar que os mesmos
não têm crias no momento em que são removidos. /cf pág. 46.

21
b) Quando não seja possível, ou desejável, a construção de um
pombal contracetivo e se pretenda aproveitar as zonas
originais de nidificação para realizar a contraceção, a troca de
ovos é realizada, diretamente, nos ninhos pré-existentes. Esta
opção não obriga ao realojamento dos pombos, o que poderá
constituir uma vantagem em situações específicas e será
melhor explorada no capítulo medidas complementares, /cf
pág. 67.

(3) Aconselhar a população a não alimentar pombos, na zona de


influência do pombal. Para isso é imperiosa a difusão de
informação objetiva, por exemplo através de placards espalhados
em redor do pombal (num raio até 700 metros, p. ex.), que alerte
para a existência de alimento disponível no interior daquele, bem
como para a importância, para o seu bom funcionamento, da
inexistência de outras zonas de alimentação. Por outro lado, pode
também ser posto em evidência e alertada a população para as
consequências nefastas do não cumprimento desta orientação
(inutilidade do pombal, replicação do problema).

(4) Decisão, face à situação em análise, se será de maior eficácia a


instalação de um pombal contracetivo ou se a instalação de
vários pombais contracetivos em rede, podendo estes, nesse
caso, ser de menor dimensão.

22
3.2. Localização – Ver fontes (18) a (20)

Identificados os focos de maior concentração de pombos, conforme


referido, procuram-se os locais onde exista grande nidificação e pouso
de pombos, pois estes devem ser, preferencialmente, os espaços
eleitos para instalar o pombal. No entanto, é também importante que a
localização da estrutura seja longe de lugares de potencial conflito com
as pessoas, como esplanadas de cafés, zonas de restauração, etc.

O pombal precisa de ser instalado, estrategicamente, num local verde


ou neutro. Não obstante, devem ser evitados espaços com demasiado
arvoredo, uma vez que se corre o risco de os pombos preferirem
nidificar nos troncos mais grossos das árvores.

Para melhor se fazer o levantamento dos sítios mais apropriados para a


edificação do pombal, aconselha-se o envolvimento da população
residente. Podem ser chamadas a colaborar, principalmente, as
pessoas que costumam alimentar os pombos e cuidar dos bandos, uma
vez que, para além de saberem onde se encontram os focos de maior
concentração de indivíduos, poderão ser parceiros eficazes na
manutenção da estrutura.

O pombal deve ser instalado em zonas neutras e resguardadas, ainda


que possam ser consideradas, para esse efeito, as imediações das
áreas onde se verifica maior volume de queixas da população.

Assim que os pombos percebam que o pombal tem alimento disponível


e é um bom sítio para nidificar, a sua tendência será a de se fixarem
definitivamente no interior do mesmo, fazendo aí as suas posturas e

23
regressando, sempre, doravante, aos seus ninhos. Os pombos passam
a residir no pombal, aí permanecendo.

A escolha do local para fixação do pombal é extremamente importante


porque há zonas que, em caso algum, devem ser escolhidas, por
exemplo:

(1) Parques e jardins onde já existam outras aves, como pavões,


galináceos, patos ou outras espécies de animais. Por norma, são
zonas com grande afluxo de pessoas, que aproveitam o passeio
para alimentar os animais residentes. Este facto pode dificultar a
aceitação do pombal por parte dos pombos, uma vez que existirá,
com frequência, disponibilidade de alimento fora da estrutura.

A não existir outra hipótese e o pombal ter que ser inserido numa
área com estas características, há que garantir a existência de
medidas adicionais. Estas passam pelo reforço da vigilância, pela
disponibilização de frutas, hortícolas ou outros alimentos menos
escolhidos pelos pombos, aos restantes animais, sem descurar a
divulgação de informação explicita e fundamentada que alerte os
visitantes sobre o pretendido e seus efeitos.

Assim, todos e tudo contribui para que a nidificação ocorra dentro


do pombal.

(2) Zonas de restauração, por representarem, uma vez mais, fontes


de alimentação não desejadas e para evitar incompatibilidade
entre os serviços prestados e a presença de uma população de
pombos.

24
(3) Locais em que o pombal confine com paredes ou edifícios que
tapem os acessos dos pombos à estrutura. É de todo conveniente
que as zonas de entrada e de saída das aves estejam visualmente
desimpedidas e que haja espaço livre para que os animais voem e
sintam confiança em usá-las.

25
3.3. Modelos

Após a escolha do local onde se irá implementar o pombal e a


atribuição das várias competências aos responsáveis, cumpre passar à
decisão sobre o modelo que melhor se adapta à situação específica.

As estruturas usadas para servir este desígnio podem ser construídas


de raiz ou adaptadas, mas têm de ter sempre em conta o número
estimado de pombos que irão servir. É desejável que o pombal tenha
capacidade para albergar todos esses animais, os nascimentos iniciais
e ainda outros pombos que, naturalmente, serão para aqui atraídos.

A opção escolhida depende da área de implementação, da população


de pombos existente e da verba cativa para o efeito.

No que concerne às dimensões da estrutura, é necessário ter em conta


que, cada casal de pombos necessita, dentro do pombal, de
aproximadamente 1 metro quadrado de área exclusiva. Esta
inevitabilidade, no entanto, pode ser compensada pela construção de
poleiros e locais de pouso (conhecem-se vários modelos), e/ou pela
construção de nichos mais reservados ou com parte em caixa fechada.

Figuras 6 a 8:
Modelos de casulos de nidificação.

26
Fonte das imagens: Menschen für Tierrechte - Bundesverband der Tierversuchsgegner e.V.

Estes modelos de nichos facilitarão a convivência dos pombos, dentro


do pombal, minimizando as necessidades de espaço, já que diminuem
os conflitos por território.

É também pertinente que exista um espaço reservado para quarentena


dos animais recém chegados ou debilitados – tão isolado quanto
possível - e outro para arrumo de ração e de material de limpeza.

Conforme referido, o fornecimento de água e de eletricidade, no interior


do pombal, mostra-se indispensável, devendo existir também um local
para o escoamento dos resíduos, preferencialmente com ligação à rede
de esgotos.

Não menos importante é garantir que a estrutura recebe suficiente


arejamento e luz natural no seu interior, replicando assim um ambiente
tão natural quanto possível.

27
a) Estruturas construídas de raiz

Ao ser construída uma estrutura específica, devem ser respeitados os


requisitos mencionados, a nível de localização e dimensão, para que a
população de pombos aceite plenamente o pombal. É uma hipótese que
resulta mais onerosa do que o aproveitamento de edificados já
existentes, uma vez que nestes apenas se terão que realizar as
alterações necessárias.

Figuras 9 a 13:
Pombal da cidade de Wuppertal construído de raiz.
Exterior:

28
29
Interior:

Fonte das imagens: Förderverein Stadttauben Wuppertal e. V.

Figura 14:
Pombal no Hospital de Cardiff, no Reino Unido.

30
Fonte da Imagem: Pigeon Control Resource Centre.org.

Figura 15:
Pombal na Alemanha.

Fonte da imagem: Menschen für Tierrechte - Bundesverband der Tierversuchsgegner e.V.

Figura 16:
Pombal em Valência, Espanha.

Fonte da imagem: https://decide.madrid.es/.

31
Figura 17:
Pombal no topo de um edifício, em Munique.

Fonte da Imagem: http://heimatfuertauben.blogspot.com/.

Figuras 18 e 19:
Pombal no topo de armazém em Bijenkorf, Amsterdão.

Fonte da imagem: http://www.duivenoverlast.nl/.

32
b) Estruturas adaptadas

Muitas vezes, as estruturas adaptadas consistem na instalação de


contentores, sobretudo para controlar bandos até 100 indivíduos.

Estes podem ser colocados em zonas mais altas, p. ex. no topo de


edifícios, pois está demonstrado que os pombos aderem melhor a
estruturas em altura.

Figura 20:
Pombal no topo de edifício, em Nürnberg.

Fonte da imagem: Förderverein Stadttauben Wuppertal e.V.

Todavia, a instalação de pombais em contentores, no solo, é também


comum, embora requeira medidas de segurança específicas, p. ex.
vedação do perímetro de acesso ao pombal ou instalação de câmaras
de videovigilância, como se explanará adiante.

33
Neste caso, a existência de roedores no local é outro aspeto a ter em
atenção, uma vez que as ratazanas são predadoras de pombos
(perante determinadas condições). Então, deve optar-se por materiais
de construção que as mesmas não consigam transpor ou danificar
facilmente.

A instalação de contentores ao nível do solo apresenta-se como uma


boa aposta para o controlo de bandos residuais, concentrados perto de
pontes, passagens aéreas e terminais ferroviários, já que os resultados
obtidos são significantes.

Figuras 21 a 23:
Dois contentores usados na cidade Koblenz.
Exterior:

34
Ex. de vedação contra vandalismo:

Interior:

Fonte das imagens: stadttaubenhilfe koblenz/neuwied e. V.

35
c) Pombais em edificados

Em alguns países da Europa há a prática da instalação dos pombais


contracetivos em sótãos de edifícios públicos e privados (muitas vezes,
património histórico das cidades). Este modelo mostra grandes
resultados para populações de pombos superiores a 300 indivíduos.

Também se apresenta proveitoso quando se pretende apostar em


pombais com grande capacidade.

Contrariamente àquilo que poderemos ser levados a pensar, num


primeiro momento, a localização de pombais em sótãos não contribui
para adensar problemas, sendo inclusivamente a opção exclusiva em
algumas cidades alemãs, na atualidade.

Figuras 24 a 28:
Pombal na torre de relógio no edifício administrativo histórico de Wuppertal.
Exterior:

36
Interior:

37
38
Fonte das imagens: Förderverein Stadttauben Wuppertal e. V.

Figura 29:
Pombal em sótão na cidade Rottweil.

Fonte da imagem: Unsere Rottweiler Stadttauben e. V.

39
Figura 30:
Pombal no sótão de igreja, em Kirchplatz.

Fonte da imagem: https://www.evangelisch-wuppertal.de.

Figuras 31 e 32:
Pombal no sótão de igreja, em Stuttgart.

Fonte da imagem: https://www.stuttgarter-nachrichten.de.


Fotografia de Lichtgut/Christoph Schmidt.

40
Fonte da imagem: Stadttauben Stuttgart ein Projekt des Tierschutzverein Stuttgart u.U. e.V.

Figura 33:
Pombal em edifício da Administração de Meidling, em Viena, Áustria.

Fonte da imagem: https://www.tieranwalt.at/


Fotografia de Christian Fellner.

41
Figuras 34 e 35:
Pombal em sótão de edifício municipal em Esslingen, na Alemanha.
Fachada:

Interior:

Fonte das imagens: http://www.ambassadedespigeons.com

42
Figuras 36 a 38:
Pombal no topo da igreja de Saint-Jeannet, em França.

Ovos não incubados:

43
Ovo não incubado e pombo recém-nascido:

Fonte das imagens: https://www.francebleu.fr


Fotografias de Radio France - Stéphane Maggiolini

44
3.4. Fidelização da população - Ver fontes (18) a (20)

Uma vez instalada a estrutura, é necessário fidelizar a população de


pombos à mesma, o que é consumado através de uma conjugação de
ações, que se passam a descrever.

No que respeita aos animais que aderem voluntariamente à estrutura,


sugere-se a utilização dos seguintes métodos, para os incentivar a
permanecer na mesma:

(1) Manter alimento disponível no interior do pombal e, ao


mesmo tempo, desencorajar alimentadores na sua
proximidade. Este procedimento exige, como já referido, a
divulgação massiva de informação e vigilância constante,
associada a ações formativas, junto dos prevaricadores, por
parte dos vigilantes.

(2) Deixar alguns dos primeiros casais que chegam ao


pombal, incubar, com sucesso, pelo menos um ovo,
aumentando assim a confiança dos animais no local,
incentivando-os a permanecer.

O nascimento dos borrachos, não só fará com que os casais


confiem na estrutura, como atrairá outros pombos a nidificar no
seu interior.

O sucesso no choco inicial é considerado um dos aspectos


mais importantes para assegurar que os casais permanecem
na estrutura.

45
Quando a população de pombos não adere voluntariamente e
mostra relutância em abandonar os locais de nidificação
originais, sugere-se:

(1) A eventual remoção de ninhos localizados nas


proximidades do pombal.

Quando se mostre complexo remover os ninhos, pode


optar-se por vedar o acesso aos mesmos, com materiais
inócuos para os animais, como, por exemplo, redes
inofensivas para aves, tábuas de madeira lisa (para
desincentivar o pouso), etc. Contudo, este procedimento só
deve ser realizado sob garantia da ausência de crias nos
ninhos e em total respeito pelo bem-estar dos animais. Além
disso, é também preciso especial atenção para não se
correr o risco de emparedar aves vivas.

(2) Tentar encaminhar as aves para a estrutura, por exemplo:

a) Através da utilização do chamado “carreiro de alimento”,


processo em que se escolhe um percurso seguro, para o
colaborador e para as aves, entre o local onde estas se
encontram e o pombal. Ver fonte (21).

46
Figura 39:
Voluntária da fundação Stadttauben Lüneburg, na Alemanha, treina as aves para que
a sigam até um novo pombal contracetivo, fora dos limites da cidade.

Fonte da imagem: https://www.landeszeitung.de/


Fotografia de Franziska Ruf.

Diariamente – ou com alguma periodicidade - é colocado


alimento no trilho selecionado, começando sempre pelo
local onde estão alojados os pombos e terminando numa
distância que vai sendo, dia a dia, encurtada,
aproximando-se, cada vez mais, do pombal ou do
destino final selecionado.

Aconselha-se a que o responsável por esta tarefa use


colete refletor, para atrair a atenção das aves, que
passarão a segui-lo sempre que o virem depositar o
alimento. É também conveniente que este seja bem
visível em altura e atrativo para as aves.

47
Esta prática deve ser realizada na estação do ano em
que a taxa de reprodução é menor.

Com esta estratégia é possível deslocar bandos de


pombos que distem vários quilómetros do pombal a
ocupar.

b) Através da captura de algumas aves, preferencialmente


juvenis, que são colocadas, posteriormente, no interior
do pombal, fechadas em gaiolas/jaulas, durante
determinado período de tempo.

A captura é sempre realizada com dispositivos


apropriados (vulgarmente designados por armadilhas),
para garantir o bem-estar dos animais. O seu uso e o
manuseamento dos animais capturados requerem
particulares cuidados, pelo que devem ser
desencadeados por colaboradores capacitados, por
exemplo, voluntários ou outros com formação adequada
e sensibilidade para o efeito.

As armadilhas jamais poderão ser deixadas sem


supervisão, nem sob condições climatéricas
indesejáveis.
O encaminhamento das aves para o pombal deve ser
imediato e todo o maneio dos animais deve ser o
adequado para não lhes causar stress ou ferimentos.

48
Quando não for oportuno realizar, de imediato, o
transporte dos animais, estes não devem permanecer, no
interior da armadilha, sem água ou alimento ou sob
condições climatéricas adversas. Nestes casos, o
transporte das aves para o seu destino, deve ser
executado tão breve quanto possível.

Uma vez no pombal, os juvenis têm que permanecer em


gaiolas fechadas 2 semanas; contudo, caso sejam aves
já adultas, aconselha-se a que permaneçam fechadas 1
mês.

Durante a adaptação ao pombal é obrigatório zelar pelo


bem-estar dos pombos que permanecem dentro das
gaiolas/jaulas, na estrutura. Uma vez que estes animais
são territoriais, a fim de evitar lutas e agressões mútuas
entre os mesmos, é mais prudente que cada pombo
permaneça fechado em gaiola individual.

Figuras 40 e 41:
Exemplo de gaiolas individuais instaladas no interior de pombal para adaptação de
novos pombos.

49
Fonte das imagem: stadttaubenhilfe koblenz/neuwied e. V.

Não obstante, pode ser possível acondicionar dois


juvenis numa gaiola de dimensões maiores, mas jamais
devem permanecer, no mesmo espaço fechado, dois
machos adultos ou um pombo saudável com um outro
debilitado.

Em qualquer caso, deve ser sempre realizada uma


avaliação da permanência dos animais em conjunto,
através da observação dos primeiros minutos de
convivência entre eles.

É também necessário aferir o estado de saúde das aves


que se mostrem debilitadas, para se iniciar o inevitável
tratamento, bem como proceder à desparasitação dos
indivíduos que estejam aptos a recebê-la. No entanto, é
preciso ter presente que estas intervenções devem ser
realizadas por especialista(s) em medicina veterinária ou
sob a sua orientação.

Uma vez que estes animais recém-chegados podem


trazer consigo agentes patológicos estranhos ao pombal
e, consequentemente, à população aí pré-existente, ideal
é que as gaiolas de adaptação/quarentena permaneçam
tão isoladas quanto possível dos restantes animais que
habitam a estrutura.

50
No final do 1º mês - ou da 1ª quinzena, no caso dos
juvenis -, as aves podem ser soltas, pois permanecerão
fiéis ao pombal.

A colocação de indivíduos no pombal requer atenção. Se


forem juvenis, por vezes basta soltá-los no interior da
estrutura para que ali permaneçam, não sendo
estritamente necessário o seu confinamento. Porém, é
sempre obrigatória uma quarentena de, no mínimo, 15
dias, de modo a não serem introduzidos agentes
infeciosos na população de pombos residente.

Outro aspeto que é importante ter em conta, na captura e


encaminhamento de pombos, é a existência de ninhos
com crias. Só a observação contínua, durante o período
de tempo necessário, do comportamento dos animais a
capturar, permitirá perceber se esta hipótese é verídica.
Neste caso, devem deixar-se as aves criarem as proles e
só depois avançar com a sua apreensão e a da
descendência.

Por esta razão é sempre preferível apanhar juvenis e,


bem assim, realizar as capturas dos animais na fase do
ano em que a taxa de reprodução é menor.

A supervisão e o cuidado diário das aves que se


encontram confinadas é indispensável e da
responsabilidade de colaboradores com formação

51
adequada, uma vez que é essencial ter sempre em conta
as globais condições de bem-estar dos animais.

Após a fidelização da população de pombos, pode ainda continuar a


colocar-se alimento nas imediações do pombal, perto das suas
entradas.

Com esta prática, atraem-se outros pombos da área que, ao entrarem


na estrutura, apercebendo-se da existência de casais a nidificar, tendem
a replicar o comportamento no local conveniente.

Relembre-se que, no interior da estrutura, deve existir sempre alimento


e água disponíveis.

52
VIII. Manutenção do pombal

A subsistência de pombos saudáveis no pombal resulta, em 1.ª


instância, de uma alimentação diária equilibrada, composta por mistura
de sementes variadas (sorgo, cevada, ervilha, trigo, cânhamo, etc.), a
qual pode ser “estendida” com milho partido e trigo. No entanto, não
deve ser oferecido, como alimento exclusivo, grãos demasiado grandes.
Por exemplo, uma alimentação baseada apenas em milho inteiro pode
provocar danos no sistema digestivo das aves e, em algumas situações,
levar à sua morte.

A quantidade de alimento a ser ingerido, diariamente, por individuo


adulto, é de 35 a 50 gramas de sementes. Esta quantidade pode ser
aumentada nas situações em que se pretende atrair outros pombos
para o interior da estrutura. É também indispensável a oferta de grit
apropriado para pombos e de água q.b.. Sazonalmente aconselha-se,
ainda, o uso de suplementos alimentares e de desparasitantes.

Outro dos cuidados indispensável para a manutenção dos indivíduos


sadios é o despiste de parasitas, quer interna quer externamente. Esta
avaliação, é realizada (sempre!) por um técnico especializado,
geralmente médico-veterinário.

Para testar a presença de parasitas internos, no trato intestinal


(nematodes, ténias, coccidios, etc.), realizam-se testes simples, de
custo reduzido, às fezes dos animais. Estas análises possibilitam
também a identificação do composto químico a utilizar, para debelar a
situação diagnosticada.

53
Os parasitas externos (ácaros, piolhos, entre outros), podem hospedar-
se entre as penas das aves, causando-lhes grande mal-estar. Os
pombos afetados por este tipo de parasitas devem também ser
medicados. No caso de uma eventual infestação destes parasitas no
interior do pombal, poderá ser necessário complementar essa ação com
uma limpeza e desinfeção do espaço.

Qualquer aplicação de medicação ao bando, profilática ou curativa,


pode ser administrada na água de beber, sempre sob aconselhamento e
supervisão do médico-veterinário.

A limpeza do pombal é outro fator a considerar. A troca do eventual


papel de jornal, nos locais de nidificação e a higienização, com água,
dos comedouros e bebedouros, efetuada, dia sim, dia não, poderá ser
suficiente. Não sendo exequível, deve a mesma ser feita
semanalmente, mas de forma mais cuidada.

Mensalmente, impõe-se a realização da limpeza profunda de todo o


espaço, com desinfeção do chão, cubículos dos ninhos, comedouros e
bebedouros, usando, para isso, produtos próprios, inofensivos para os
animais.

Para que a principal função do pombal se concretize, é forçosa a


monitorização recorrente dos ninhos, proporcionando que a troca dos
ovos seja feita, obrigatoriamente, num prazo máximo de 4 dias após a
postura. Assim, a não formação de vida senciente é acautelada.

Importante para impedir malformações nos borrachos é propiciar a


existência de alguma variedade de substrato nos ninhos. Caruma, feno

54
ou galhos secos, podem ser oferecidos, principalmente em zonas onde
não exista arvoredo para que as aves possam, elas próprias, recolher o
seu material de eleição.

Reitere-se a importância em manter a saúde dos pombos, como


condição sine qua non para que um projeto destes resulte, funcionando
de modo ético e convertendo-se num exemplo educativo. Neste sentido,
é preciso cuidar dos pombos, concedendo tratamento veterinário
quando adoecem, se ferem ou quando demonstram comportamentos
atípicos, por exemplo, não voam, estão apáticos a um canto, mostram
descoordenação motora ou sintomas de problemas neurológicos.

Figuras 42 a 45:
Animais de um pombal que receberam assistência.

Fonte das imagens: acervo da plataforma Unidos Pelos Pombos.

55
É premente que a aplicação da eutanásia a pombos se reja pelo
legalmente previsto para os restantes animais. Assim, apenas poderá
ser ministrada por um médico-veterinário, necessariamente da
especialidade (exóticos) e após ponderação sobre a situação clínica do
animal, face à inexistência de tratamento ou quando não seja possível
assegurar o bem-estar do mesmo.

Os cadáveres das aves, falecidas no interior da estrutura ou nas suas


imediações, devem ser recolhidos/entregues nos gabinetes médico-
veterinários municipais, para incineração.

Os detritos produzidos pelos animais e os ovos substituídos, podem ser


tratados como resíduos sólidos urbanos comuns.

Figuras 46 e 47:
Resíduos e ovos recolhidos no pombal contrativo do Parque Silva Porto, em Lisboa.

Fonte das imagens: acervo da plataforma cívica Unidos Pelos Pombos.

Não obstante, o acondicionamento destes ovos em frigoríficos de


pequena capacidade, facilitará a recolha de dados numéricos, como
também permitirá a sua utilização em campanhas educativas.

56
A manutenção do pombal contracetivo em funcionamento pleno, poderá
exigir que, periodicamente, nasçam crias (uma ou duas), de alguns
casais residentes. Esta necessidade será maior ou menor, em função
da aceitação da estrutura pelos pombos.

Com esta prática preserva-se a fidelidade dos casais aos ninhos e


também dos outros pombos à estrutura. As crias, que venham a nascer
no pombal, ficarão no mesmo, nidificando no seu interior, o que se
mostra benéfico para o funcionamento pleno do conceito. Contudo, caso
a densidade populacional na estrutura já seja elevada, estas crias
podem, eventualmente, ser entregues a voluntários – uma vez
autónomas dos pais – para serem realojadas em santuários de proteção
animal, com condições e estruturas próprias para pombos.

Figura 48:
Cria de Columbia livia dom.

Fonte da imagem: acervo de Diana Born.

57
A segurança do pombal é outro item que não pode ser descurado, para
que o mesmo não seja sujeito a atos de vandalismo e/ou ao
aproveitamento inadequado do espaço. Quer a colocação de câmaras
de videovigilância, quer a vedação da área circundante do pombal, com
rede e com porta de acesso à estrutura – por cuidadores e pelos
animais -, são possibilidades a pensar. Neste caso convém atentar
sobre quem cabe a responsabilidade da guarda das chaves, situação
que não deve ser negligenciada.

No caso de o pombal ser construído em madeira e estar instalado a


nível do solo, pode ser pertinente ponderar a instalação e uso de um
sistema anti-incêndio.

Todo o trabalho que envolve a gestão e a preservação do pombal


contracetivo tem de se alicerçar na mudança inadiável da forma como a
sociedade humana perceciona os pombos. Esta, por sua vez, não se
quer consequência de modas ou crenças, mas sim, resultado de
estudos validados cientificamente e de valores de uma sociedade que
honra a Vida. Assim, insiste-se no especial enfoque que é necessário
dar a campanhas educativas de sensibilização da população, visando
simultaneamente os que se queixam sobre a presença dos pombos,
como os que os apreciam e os querem proteger, como ainda, os mais
jovens, na escola.

Só deste modo poderão entender-se os benefícios mútuos para o bem-


estar de cidadãos e pombos, posto que se assistirá à mitigação de
problemas associados à presença destes animais, sem que haja
recurso a métodos de extermínio, degradantes e ultrapassados.

58
Para se rentabilizarem os recursos, é pertinente o estabelecimento de
protocolos com ONG de proteção animal, hospitais veterinários ou
clínicas da especialidade. Por outro lado, o envolvimento e a
colaboração de voluntários é também crucial, especialmente no que
respeita à constituição de um Banco de FAT (Famílias de Acolhimento
Temporário) para as aves doentes ou feridas.

Isto, sem prejuízo de se pensar na integração plena dos pombos como


animais que devem ser assistidos nos gabinetes médico-veterinários
municipais, como animais ferais/semi-domesticados, que carecem de
cuidados e que são responsabilidade dos municípios.

Se forem garantidas as condições adequadas na escolha da localização


do pombal, na sua construção e manutenção, bem como respeitados os
princípios enumerados, em especial o de deixar nascer alguns
borrachos, não se perspetiva a existência de problemas quanto à
aceitação da estrutura pelos pombos e, consequentemente, quanto ao
sucesso do método.

59
IX. Financiamento e Custos

O planeamento da implementação de um pombal contracetivo,


construído de raiz ou adaptado, da sua gestão e manutenção, exige que
se avaliem custos. Estes serão diferentes e resultantes da opção
tomada quanto ao tipo, modelo de gestão e dimensão da população de
aves que visa albergar.

É ainda necessário ponderar as despesas tidas com a alimentação,


higiene e cuidados de saúde, bem como com os colaboradores que vão
garantir o sucesso do pombal.

As experiências realizadas mostraram que, a médio e a longo prazo, a


manutenção de um pombal contracetivo apresenta custos muito baixos,
principalmente quando comparados com os custos envolvidos nos atos
de captura e occisão.

Sugere-se que o financiamento, tanto do investimento inicial


(construção do pombal e seu equipamento), como das despesas
mensais, seja maioritariamente fornecido pela entidade com
competência na matéria. Todavia, ao envolverem-se cidadãos/ONG,
poderão sempre estabelecer-se protocolos ou patrocínios, que ajudarão
no suporte das despesas.

É necessário, portanto, que a autarquia assegure a criação de uma


rúbrica orçamental específica para estas necessidades e que a mesma
se encontre contemplada no seu orçamento anual.

60
Assim, o financiamento do pombal terá alicerces numa verba mensal ou
anual, estabelecida pela Câmara Municipal ou pelas Juntas de
Freguesia, mas poderá ser completado através de:

(1) Protocolos estabelecidos com parceiros que permitam


envolver a comunidade e, em simultâneo, aliviar os custos. Por
exemplo, para obtenção de alimento, utensílios ou produtos de
limpeza, o protocolo pode ser estabelecido com
supermercados, comercio local ou diretamente com os
fornecedores de ração; protocolos estabelecidos com
hospitais/clínicas veterinárias, podem diminuir os custos dos
cuidados médicos.
(2) Patrocínios;
(3) Campanhas de sensibilização e solidariedade em escolas e
na freguesia, que permitam a angariação de géneros
oferecidos;
(4) Donativos da sociedade civil.

O modelo de gestão escolhido para assegurar o funcionamento de um


pombal contracetivo reflete-se nas despesas a ter com os
colaboradores que aí desempenham funções. O número de
trabalhadores envolvidos, o número de horas de trabalho
diárias/semanal ou mensal e o vínculo contratual estabelecido, são
fatores a ter em conta quando se calculam estas despesas.

Reitere-se a importância de tomar como colaboradores apenas pessoas


que manifestem vontade expressa de trabalhar com animais e respeito
inequívoco pelas suas vidas.

61
Por outro lado, antes do início de funções, mostra-se pertinente que os
colaboradores demonstrem sensibilidade para desempenhar as tarefas
que lhes são destinadas e frequentem formação adequada ao tipo de
trabalho a realizar. Sugere-se, para este efeito, a consulta de ONG
atuantes em prol do bem-estar animal e a constituição de parcerias com
as que se disponibilizem a ministrar formação na área. É relevante que
este processo se realize em articulação com os gabinetes dos
provedores do animal.

Experiências bem-sucedidas noutros países demostraram que pessoas


que integram centros de terapia ocupacional, que fazem parte de
programas de reinserção profissional (desempregados ou outros) ou
que
cumprem medidas judiciais de horas de trabalho socialmente útil,
podem ser colaboradores a considerar, desde que se encontre
salvaguardado o já referido.

A participação de voluntários é outro aspeto a ter em conta e que carece


de ser fomentada. A motivação de voluntários pode mais facilmente
realizar-se através da inscrição de interessados nos bancos de
voluntariado dos Municípios e das Juntas de Freguesia. Existem países
na Europa em que pombais mais pequenos são geridos apenas por
grupos de voluntários, que se responsabilizam pela saúde das aves
(assegurando e fornecendo alimento, água e medicação, se
necessária), pela troca dos ovos e pela manutenção da higiene, na
estrutura.

Na generalidade, é necessária a presença de colaboradores que


efetuem a manutenção do pombal, pelo menos, em dias alternados.

62
Não obstante, a mesma deve efetuar-se de acordo com as
necessidades especificas de cada estrutura, sendo estas avaliadas
caso a caso e dependentes da dimensão e do número de animais que
acolhem.

No tocante aos custos de construção das estruturas e dada a


inexistência de fontes portuguesas sobre o assunto, os exemplos que
abaixo se referem reportam ao ano de 2018 e a situações ocorridas na
Alemanha, devendo por isso os valores ser adaptados à atualidade,
incluindo a inflação. (Ver fonte 18, pág. 14)

Os custos de construção/implementação de um pombal contracetivo


são muito variáveis mas, genericamente, podem oscilar entre os
1.000,00 € e os 15.000,00 €, dependendo do tipo de materiais, da
dimensão, entre outros.

Exemplo 1 - Pombal em sótão:

Tamanho aproximado: 56 m²
Custo de implantação: 1.200 €;
Custo do equipamento: 200 €;

Exemplo 2 - Pombal construído de raiz:

Tamanho aproximado: 30 m²
Custo de construção: 10.000 €
Custo do equipamento: 500 €

63
Em bom rigor é possível construir um pombal contracetivo por valores
ainda inferiores, caso se opte por reutilizar materiais e fazer uso de mão
de obra voluntária na construção ou adaptação da(s) estrutura(s).

As despesas com a alimentação dos animais são calculadas


considerando as necessidades alimentares de um pombo adulto.

Diariamente, a quantidade de alimento a ser ingerida é de 35 (valor


mínimo aceitável) a 50 gramas.

Em Portugal, em 2020, o saco de ração adequada para pombos


(mistura de sementes) contem, no mínimo, 25 kg, variando o seu preço
entre 6,00 a 12,00 €. Consequentemente, um grupo de 100 pombos,
consome a quantidade diária de 5 Kg de alimento e de 150 kg por mês,
ou seja, um encargo de 72,00 € mensal (valor máximo).

Relembre-se, conforme referido anteriormente, que se poderá estender


a ração com recurso a milho partido, ou outras sementes de preço mais
baixo, como o trigo.

Os suplementos, como vitaminas, grit, etc., devem integrar a


alimentação das aves, para que estas preservem a saúde. Para uma
população de 100 indivíduos, o custo mensal envolvido na aquisição de
suplementos é estimado em 5,00 €, podendo mesmo ser inferior, se
adquirido em grandes quantidades. O mesmo valor mensal, para o
mesmo número de indivíduos, é previsto para despesas com
desparasitantes e algum tipo de medicação.

64
Os utensílios de limpeza (por exemplo, raspadores, esfregonas, sacos
de lixo, papel), os desinfetantes para a higienização dos
bebedouros/comedouros e do espaço, apresentam custos variáveis,
mas estimados em cerca de 10,00 euros por mês.

Outras despesas importantes, a serem previstas no orçamento do


pombal, relacionam-se com a utilização da água e eletricidade e com as
consultas médico-veterinárias para diagnóstico/tratamento de
problemas de saúde. No entanto, por serem muito particulares e
variáveis, torna-se difícil identificar um valor. Sugere-se que, no
orçamento do pombal, se crie um fundo de maneio que sirva para suprir
estas necessidades, realçando-se a importância do estabelecimento de
protocolos com as entidades competentes, para obviar estes gastos.

Sublinhe-se que, quanto mais se apostar em boa alimentação e


cuidados profiláticos, menor será o encargo com despesas de
veterinário.

A entidade gestora do pombal não pode descurar os encargos com os


colaboradores que asseguram a sua manutenção, sempre que os
mesmos não sejam seus funcionários. Neste caso é relevante que o
colaborador esteja, pelo menos, coberto por um seguro de acidentes
pessoais, em especial se as tarefas são realizadas em regime de
voluntariado.

65
X. Medidas complementares

Pode ser identificado um conjunto de outras medidas, a serem


implementadas em simultâneo com o pombal contracetivo, com o
objetivo de controlar a população de pombos e catalisar a sua
aceitação, bem como melhorar a convivência entre cidadãos e pombos.
São elas:

(1) Campanhas de sensibilização para os métodos éticos do controlo


de população – incluindo educação para não alimentação em
zonas onde existam pombais e campanhas de desmistificação,
relativamente ao risco para a saúde pública, causado pelo mito
das doenças dos pombos, de molde a refrear receios injustificados
por parte da população.

(2) Incentivo à troca dos ovos verdadeiros por falsos, pela população
em geral, por exemplo em ninhos de fácil acesso, em varandas e
parapeitos de casas habitadas e noutros locais acessíveis.

(3) Sinalização de ninhos que podem ser acessíveis para realização


de troca de ovos pelas próprias comunidades, associações de
moradores, funcionários que trabalhem no local, etc.

(4) Incentivo à construção de pombais mais pequenos, em escolas e


Universidades, jardins de hospitais e jardins de condomínios.

66
Figura 49:
Pombal contracetivo na escola Anne Frank, em Mainz.

Fonte da imagem: Stadttaubenhilfe Mainz/Wiesbaden e.V.

(5) Troca de ovos em locais de forte nidificação onde, por restrições


financeiras ou por opção, não se tenha investido na
implementação de pombais contracetivos, p. ex. em terminais
rodoviários, em baixo de pontes ou passagens aéreas, túneis,
estações ferroviárias, etc.

Mesmo que não se consiga retirar sempre todos os ovos, pode ser
uma forte ajuda na diminuição da população de pombos,
conseguindo-se resultados bastante expressivos.

67
Tem a vantagem de dispensar qualquer processo prévio de
fidelização dos animais a uma estrutura, mas tem também a
desvantagem de ser mais difícil manter a higiene no local.

Figuras 50 a 52:
Voluntários a realizar a troca de ovos em ninhos “selvagens”, debaixo de uma ponte,
na Alemanha.

68
Fonte das imagens: Stadttauben Bochum e.V.

Deve ter-se em atenção a data de intervenção em cada ninho, fazendo-


se um registo da(s) data(s) em que se trocaram ovos de cada um deles,
para não existir o perigo de retirar ovos já na fase final de choco.

Os ovos podem ser inspecionados com o auxílio de um foco de luz para


se conhecer o estádio de desenvolvimento embrionário. Quanto mais
opaco for o ovo, maior será o grau do desenvolvimento do embrião.
Pelo contrário, ovos mais translúcidos terão menor tempo de gestação.
Ver fonte (22).

Existem dois métodos contracetivos que não abordámos no presente


manual, mas aos quais dedicaremos breves linhas aqui.

69
São eles a esterilização endoscópica de pombos e o uso de
contracetivos orais, designadamente nicarbazina.

No tocante ao primeiro método, cremos que não é possível executar


esta intervenção veterinária, com segurança para as aves e em larga
escala.
O método não tem logrado bons resultados onde tem sido aplicado – p.
ex. na França e Bélgica -, tendo vindo estes países a abandonar o
mesmo. Ver fonte (23).

No tocante ao segundo método, a nicarbazina é um composto usado


em alguns países, nomeadamente em Espanha e nos E.U.A., para
controlo da população de algumas espécies de aves.

Não temos conhecimento, à data da elaboração do presente manual, de


estudos amplos e fiáveis sobre a atuação do medicamento, a longo
prazo, no organismo de animais, que o ingiram durante longos períodos
de tempo.

Contudo, esta será uma área que deve ser acompanhada no futuro
próximo, uma vez que alguns estudos apontam para a eficácia do
medicamento na redução da população destes animais. Ver fonte (24).

A sua eventual administração, não obstante não ser analisada no


presente manual, deve ser sempre feita no contexto de um plano de
gestão ético de população de pombos, em pombais contracetivos Ver
fonte (25), de modo a lograr eficácia e a criar rituais de habituação na
alimentação dos animais, devendo, de igual modo, acompanhar-se a
literatura científica sobre o seu uso, no que concerne aos efeitos

70
secundários possíveis no organismo das aves, evitando sempre, de
qualquer modo, a sua sobredosagem.

Sobretudo em bandos muito numerosos, a nicarbazina poderá revelar-


se eventualmente uma aposta, preferencialmente a aplicar por curtos
períodos de tempo e quando sejam necessários resultados mais
expressivos na redução do número de animais, no curto e médio prazo.
Contudo é necessário não descurar a sensibilidade dos pombos a
compostos farmacológicos e monitorizar sinais de intoxicação
indesejados.

71
XI. Avaliação

É necessária ou desejável a existência de censos periódicos em cada


pombal, bem como nas suas imediações, podendo começar-se com
uma contagem inicial dos animais e outra, passados 2 a 3 anos, e assim
sucessivamente.

Para tanto, deverão existir registos dos ovos retirados, número de


casais por pombal – podendo os pombos residentes ser anilhados - e
avaliação do volume de queixas dos cidadãos relativas à presença de
aves nas imediações do pombal, as quais tenderão a descer,
paulatinamente.

O número de ovos trocados será maior nos primeiros 2 a 3 anos, uma


vez que é a fase da fidelização dos pombos ao pombal, tendendo, com
o tempo, a estagnar numa média mensal/anual menor, o que significa
que os pombos estão fidelizados ao pombal e o seu número está
estanque.

Com o passar do tempo, a tendência será para a diminuição do número


de animais, em função dos óbitos naturais e do sucesso do método.

A quantidade de fezes/sujidade reunidas, mensal/anualmente no


pombal, também pode ser contabilizada (ao quilograma por mês, p. ex.).

A quantidade de sujidade/resíduos retirada do pombal é sujidade que


não vai parar à rua, aos edifícios, aos monumentos, etc., portanto, o

72
aumento deste volume de resíduos no pombal demonstra a eficácia do
método, também nesta vertente.

Mudança do paradigma/imagem social acerca dos pombos na


população em geral, uma vez que os pombais contracetivos são um
bom campo para que as pessoas possam observar estas aves,
desconstruindo conceitos menos positivos sobre as mesmas na
população em geral.

73
XII. Outras questões pertinentes

Os pombos são animais sencientes e dotados de inteligência e


cooperação social.

Os pombos são animais com capacidades cognitivas e emocionais


complexas, possuindo mesmo um embrião de cultura de grupo, uma
das mais notáveis marcas de inteligência animal. Ver fonte (26).

As capturas e a occisão provocam a estes animais incomensuráveis


stress e dor, não compatíveis com os princípios vigentes em matéria de
bem-estar animal, quer a nível legislativo, quer na moral social
dominante.

Desde a captura em si, passando pelo transporte e culminando,


invariavelmente, em morte, todo o processo em que se traduzem os
chamados métodos letais é causador de sofrimento e angústia, quer
para os animais, quer para os cidadãos que presenciam tais atos.

Por outro lado, apesar de existir uma – ainda – forte propaganda acerca
dos perigos para a saúde humana, a verdade é que não existem
quaisquer evidências científicas de que os pombos representem um
risco para a saúde pública ou que transmitam mais doenças que
qualquer outro animal. Ver fontes (27) a (29). Cai assim por terra o
principal argumento motivador das políticas anti-pombo.

74
XIII. Conclusão

É indiscutível que os pombos, que connosco partilham o habitat urbano,


são animais ferais ou animais semi-domésticos (senão mesmo animais
domésticos).

Não é possível ignorar tantos séculos de convivência com estes animais


e partilha com eles do espaço urbano e humano.

Urge, portanto, como comunidade, tomar em mãos a tarefa de cuidar


dos pombos de rua, atribuindo-lhes o estatuto de animais errantes ou
comunitários, que é deles pela natureza das coisas, ao mesmo tempo
que se deve apostar no controlo ético e efetivo da sua natalidade.

Para que os conceitos e modelos, relativos a este controlo, funcionem


cabalmente, é indispensável formar pontes entre o poder decisório e o
conhecimento académico e prático, pretendendo-se, com esta
publicação, dar um modesto contributo e estímulo nesse sentido.

Cientes de que a conquista do espaço deles, nas nossas cidades, é


também o início do fim dos conflitos entre as pessoas e estes animais,
desejamos que seja possível reconstituir-se os laços perdidos e olhar-se
para os pombos com o respeito que eles merecem.

Que, no exercício da empatia para com as outras espécies, possam


também as nossas cidades humanizar-se e florescer.

75
XIV. Fontes

(1) https://www.erna-graff-stiftung.de/die-stadtaube-ist-kein-
wildvogel/?fbclid=IwAR0zuMiAl6buiXAE7KI9l_PVVDcRGxOTrUM11r6PIJCXUq
C-7NPi5Yni69g

(2) https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960982211014588

(3) https://www.eldiario.es/caballodenietzsche/Palomas-urbanas-animales-papeles-
ciudades_6_779082091.html

(4) Johnston, R.F., Janiga, M. 1995. Feral Pigeons. Oxford University Press, New
York, NY. in https://books.google.com.

(5) https://www.seeker.com/most-pigeons-came-from-escaped-racing-birds-
1766430626.html

(6) https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/ibi.12385

(7) https://ecourbe.org/2017/03/01/la-ineficacia-de-la-captura-y-sacrificio-de-
palomas-urbanas-como-metodo-de-control/?fbclid=IwAR3atUhoS5XPFxT-
DNeasPqiv5nKyqt1_gOhW7RaFxDyWcn8Iweh6QCzyos

(8) http://relaunch.hamburger-stadttauben.de/stadttauben/

(9) https://www.tierrechte.de/2019/04/17/zerstoert-der-taubenkot-unsere-gebaeude/

(10) https://www.strassentaube-und-stadtleben.de/information/stadttauben-
unsere-heimatlosen-haustiere/tierschutzgerechte-l%C3%B6sung-gut-
f%C3%BCr-mensch-und-tier/

(11) https://www.tierschutzbund.de/fileadmin/user_upload/Downloads/Hintergrundi
nformationen/Artenschutz/Taubenschutz_Leitfaden.pdf

(12) https://www.tierrechte.de/2019/03/29/tierschutzkonformes-
stadttaubenmanagement/

76
(13) https://www.augsburg.de/fileadmin/user_upload/18_01_18_Augsburger_Stadtt
aubenkonzept__Handreichung__Februar_2017.pdf

(14) Witt, K. & Steiof, K. (2013): Lista Vermelha e Lista de Criação de Aves de
Berlim, 3ª versão, Berl. Ornithol. Ber. 23, 1-23.

(15) https://www.researchgate.net/publication/260157370_Feral_pigeon_Columba
_livia_population_management_in_Ljubljana, págs. 7, 9 a 12.

(16) http://www.tierschutzverein-augsburg.de/tierschutz/projekte/naturschutz-
aichach-friedberg

(17) https://tierheim-aachen.de/ueber-uns/unsere-
projekte/?fbclid=IwAR0XVDYQaVlb6sR_tUD9FWJjd2cZZbnQJmua6E2toJCOOz
0BHTnLJRKGgW4

(18) https://www.tierrechte.de/wp-content/uploads/2018/05/Handbuch-
Stadttaubenmanagement_web.pdf

(19) https://www.oedp.de/fileadmin/user_upload/01-
instanzen/04205/Stadttaubenkonzept.pdf

(20) http://www.stadttiere-bs.de/Links/Downloads - http://www.stadttiere-


bs.de/.cm4all/uproc.php/0/Downloads/Empfehlungen_BestandskontrolleStadttau
ben_TBR_Nds_20191212_zur_Verffentlichung_ML.pdf?cdp=a&_=1708d2fb170

(21) https://www.facebook.com/watch/?v=2825961444112291

https://www.facebook.com/watch/?v=533851830484203

https://www.facebook.com/stadttaubenlueneburg/posts/1214166712088023

(22) http://nexusacademicpublishers.com/table_contents_detail/4/353/html

(23) http://www.ambassadedespigeons.com/reportage_sterilisation_chir.html

(24) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25842215/

77
(25) http://www.misamigaslaspalomas.org/2019/12/planes-gestion-etica.html

(26) https://www.nature.com/articles/ncomms15049

(27) https://www.erna-graff-stiftung.de/tauben/krankheiten/

(28) http://www.picasuk.com/do_birds_spread_diseases.html

(29) http://www.urbanwildlifesociety.org/zoonoses/

78
XV. Bibliografia

1. Hiperligações

http://www.duivenoverlast.nl/

https://www.pigeoncontrolresourcecentre.org/

https://www.erna-graff-stiftung.de

http://stadttauben-bochum.de/

https://www.bfr.bund.de/cm/343/schaedlingseigenschaft_von_verwilderten_ha
ustauben.pdf

https://stadttauben-wuppertal.de/

http://www.protezione-
animali.com/pubblicazioni/animali_selvatici/infothek/mb_piccioni_rondini.pdf

http://www.duivenoverlast.nl/pigeonnuisance.htm#verdwaald

https://stadttauben-stuttgart.de

http://www.picasuk.com/artificial_breeding_facilities.html

https://www.pigeoncontrolresourcecentre.org/html/reducing-pigeon-numbers-
in-towns.html

https://www.bfr.bund.de/cm/343/schaedlingseigenschaft_von_verwilderten_ha
ustauben.pdf

http://www.tierschutz-hanau.de/stadttauben/fuetterungsverbot.html

79
2. Referências

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HAAG-WACKERNAGEL, D. (2016) „Tauben in der Stadt“, Tierschutz beider


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HAAG-WACKERNAGEL, D., STOCK B. (2006) „Taubenabwehr und


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HARRIS, E., DE CROM, E.P., & WILSON, A. (under review) Pigeon control
and people: staff perceptions on University of South Africa’s Muckleneuk
campus.

HARRIS, E., DE CROM, E.P., & WILSON, A. (2016) Pigeons and people:
mortal enemies or lifelong companions? A case study on staff perceptions of
the pigeons on the University of South Africa, Muckleneuk campus. Journal of
Public Affairs, doi: 10.1002/pa.1593.

HARRIS, E., DE CROM, E.P., & WILSON, A. (2017) An interdisciplinary


approach for non-lethal pigeon control.

TU DARMSTADT (2004) „Einfluss von Taubenkot auf die Oberfläche von


Baustoffen - Prüfungsbericht Nr. 195.04“

MATTHIAS, KAHLCKE, K., KAHLCKE, M. (2009) „Beitrag zur Ermittlung von


Kennzahlen zu Verlusten bei Wettflügen von Brieftauben“,

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Haustauben“ https://www.bfr.bund.de/cm/343/schaedlingseigenschaft_von_ve
rwilderten_haustauben.pdf

BgVV (2002) „Tierschutzaspekte bei der Installierung von


Taubenabwehrsystemen“ https://www.bfr.bund.de/cm/343/tierschutzaspekte_b
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BUNDESARBEITSGRUPPE

80
DORRESTEIN G. M.; HAGE V. D. (1999) Zoonosis in birds, lecture presented
at the World Veterinary Conference, Lyon 1999; Vakgroep Veterinaire
Pathologie, University of Utrecht.

DORRESTEIN G. M; KORBEL R.; SCHNEEGANSS, (1989) Vakgroep


Veterinaire Pathologie (faculty of vetinary pathology), University of Utrecht.
Institut für Geflügelkrankheiten (institute of poultry diseases), Ludwig-
Maximilians-Universität München (Munich).

ROSE E., NAGEL P., HAAG-WACKERNAGEL (2006) Spatio-Temporal Use of


the Urban Habitat by Feral Pigeons (Columba livia) in Behavioral Ecology and
Sociobiology, Vol. 60, Nº 2, Springer.

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