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Análise Existencial
e Logoterapia Frankliana
Transcrição e Resumo
Filipe Italiano Leal
Bruno Afonso Alves da Silva
Revisão Ortográfica
Ana Carolina Cenedesi Machado Bertolini
Diagramação e Edição
Em Rota Produções
A VIDA DE HITLER | 11
TILLY GROSSER | 21
PERGUNTAS | 29
FRANKL EM DACHAU | 34
VIKTOR E ELEONORE | 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: | 53
Vida e Obra de Viktor Frankl
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Vida e Obra de Viktor Frankl
É importante saber que a relação dos judeus com Viena já era uma
relação conflitante há centenas de anos. Alguns reis do Império Austro-
Húngaro - da família Habsburgo - eram muito antissemitas; enquanto outros
eram amigos dos judeus. Isso fez com que a situação dos judeus em Viena
fosse sempre muito instável: às vezes eram bem recebidos, às vezes eram
expulsos. O antissemitismo é, portanto, uma característica predominante na
cidade de Viena.
Por volta de 1700, o Imperador à época decidiu criar o distrito Leopoldstadt
para receber judeus perseguidos e expulsos da Polônia, da Rússia, etc. Esse
distrito, segundo a proposta do imperador, era para os judeus se integrarem
à comunidade de Viena. Em um segundo movimento migratório ocorrido
em meados do século XIX, também chegaram muitos judeus à Viena, dentre
eles a família do Dr. Sigmund Freud; pouco depois, chegaria a família de Elsa
Lion e Gabriel Frankl, respectivamente, a mãe e o pai de Viktor.
Para ficar mais clara a relação entre os vienenses e os judeus, é interessante
saber que o distrito de Leopoldstadt era chamado pelos vienenses de “ilha
de alho”, porque, supostamente, os judeus tinham um odor desagradável de
alho.
No Segundo Distrito de Viena, na Rua Czerningasse, número 6,
Departamento 25, Frankl nasceu e viveu com seus pais e irmãos até o
momento da sua deportação.
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Teatro Urania
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Vida e Obra de Viktor Frankl
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A VIDA DE HITLER
Hitler teve uma vida tortuosa desde criança. Era austríaco e havia ido à
Alemanha porque sentia que na Áustria era rechaçado permanentemente.
Quis ingressar na Escola de Belas Artes - pois gostava de desenhar e pintar
- e depois na Escola de Arquitetura, mas, em ambas, foi rechaçado por não
ter aptidão suficiente para o curso ou para a carreira. Também foi rechaçado
ao tentar ingressar no exército austríaco porque não reunia as aptidões
físicas necessárias; ao tentar fazer parte do coro de um convento, também
foi barrado por falta de habilidade vocal para tanto. Para viver, Hitler fazia
aquarelas e tentava vender ao público de um hotel famoso de Viena, porém,
as pessoas se negavam a comprar. É nesse contexto que Hitler se muda para
Alemanha: carregando um grande rancor, particularmente pela sociedade
vienense.
Isso explica a forma como Hitler entrou em Viena após a assinatura da
anexação da Áustria na madrugada de 12/03/1938: ele entra de maneira
triunfal, como que querendo reparar todo desprezo que lá havia vivido.
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(Mein Kampf)
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particular.
Sua irmã Stella - que na ocasião já estava casada com Walter Bondy -
vivia em um edifício na Rua Alser Strasse, em um bairro muito elegante de
Viena, e ofereceu a Viktor um quarto neste prédio para que ele fizesse o seu
consultório particular. Só que Viktor não queria, pois pretendia continuar
trabalhando nos hospitais. Apesar disso, Stella e seu irmão, Walter (um
designer de interiores), arrumaram uma sala para que Viktor atendesse.
Porém, a realidade é que Viktor acabou não usando muito esse consultório
na Rua Alser Strasse, pois um alemão, amparado pela Lei da Arianização da
Economia, gostou do local e o reivindicou para si, deixando Viktor sem o seu
consultório.
O avanço dos nazistas e o Anschluss causavam pânico em muitos
judeus, inclusive na família de Frankl. Walter e sua esposa Elsa decidiram
sair de Viena e procurar um lugar que pudessem viver com tranquilidade e
segurança. A família de Frankl nunca mais teve notícias deles. Na verdade,
Walter e Elsa buscaram refúgio na Itália, pensando, ingenuamente, que lá
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Vida e Obra de Viktor Frankl
Por sua vez, a irmã de Frankl, Stella, junto com o marido, Walter Bondy,
decidem sair de Viena após a tomada do seu apartamento pela Lei da
Arianização. A família Frankl tampouco ficou sabendo para onde foram.
Somente depois da guerra é que Viktor descobriu que ela tinha ido para a
Austrália. Stella foi a única da família Frankl que não passou pelos campos.
Ela teve dois filhos: Liesl e Peter Bondy. Com a saída de Stella de Viena, a
família Frankl ficou reduzida a três membros: Viktor e seus pais, Gabriel e
Elsa.
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Vida e Obra de Viktor Frankl
todos os judeus que tinham uma deficiência, ou seja, que não eram úteis
para o trabalho, deveriam ser incinerados. E o eram, de fato. Os deficientes
físicos, psiquiátricos, velhos, enfim, todos os que não tinham um “valor de
utilidade” por não poder trabalhar, eram incinerados. Dr. Frankl e Dr. Otto
Potzl alteravam os laudos dos pacientes que tinham problemas para salvá-
los. Por exemplo: se um paciente tinha um transtorno psiquiátrico, eles
colocavam no laudo que tinha problema cardíaco e, assim, o mantinham
no hospital, livrando-o da câmara de gás. Agindo assim, Frankl e Potzl se
expunham a um grande perigo, pois seriam executados como traidores do
Reich se fossem descobertos.
Dr. Potzl foi um dos grandes amigos de Frankl. Curiosamente, ele era
membro do partido nacional socialista, mas, de todas as maneiras, não era
um fanático pela ideologia nazista. Quando Viktor sai dos campos, em 1945,
reencontrou-se com Potzl
.
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TILLY GROSSER
O ano de 1941 é outra data importante na vida de Viktor, pois é o ano em
que ele conhece a enfermeira Matilde Tilly Grosser. Tilly era modista, gostava
de desenhar e confeccionar roupas de mulher. Porém, pela necessidade
do momento, havia se incorporado ao hospital como enfermeira do
departamento de Medicina. Eles se conheceram, simpatizaram-se um com
o outro e depois ficaram noivos.
A aparição de Tilly foi algo muito impactante para Viktor, pois ele já tinha
36 anos e, apesar de ter vivido de forma bastante promíscua em uma época
de sua vida, nunca havia ficado noivo. Era a primeira vez que se apaixonava
verdadeiramente por uma mulher. Um dia, estava passeando pelo Prater -
um parque de diversão bastante frequentado em Viena - e Tilly viu em uma
feira de artesanato uma pulseira com um globo terrestre envolvido por um
anel que dizia: “o amor faz o mundo girar”. Frankl presenteou Tilly com essa
pulseira como um símbolo de compromisso. Ela nunca mais tirou a pulseira
No dia 17 de Dezembro de 1941, depois de poucos meses de noivado, Viktor
e Tilly se casam. Um fato muito interessante: Viktor se casou com Tilly às 17h,
o último turno do dia para casar-se. No dia 18/12, pelas leis de Nuremberg,
o casamento entre judeus na Áustria se tornou proibido. Ou seja, o último
casamento que se celebrou em Viena, em 1941, foi o de Viktor e Tilly.
Após o casamento, foram viver em Leopoldstadt, onde viviam a maioria
dos judeus. Na mesma casa, na Rua Czerningasse 6, viviam os pais de Viktor,
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Vida e Obra de Viktor Frankl
o casal Viktor e Tilly e a mãe e a irmã de Tilly. Pouco tempo depois de casados,
tiveram a feliz notícia de que Tilly estava grávida. O amor desse jovem casal
havia se traduzido numa gravidez. Porém, essa alegria foi seguida de uma
pena muito grande: naquela época, as mulheres judias não podiam ficar
grávidas; se chegasse ao conhecimento dos soldados alemães a notícia de
que Tilly estava grávida, ela seria imediatamente condenada a morrer nos
campos de trabalho. Sendo assim, a decisão mais dolorosa teve que ser
tomada: a interrupção da gravidez.
Uma das grandes dores de Frankl foi o seu filho não ter nascido. Na década
de 50, Viktor escreveu um livro chamado “Psicoterapia e Humanismo”,
dedicado a este filho.
Em 1942, a vida de Viktor consistia em trabalhar no hospital como diretor
do Departamento de Neurologia e viver com sua esposa Tilly - tendo passado
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Vida e Obra de Viktor Frankl
GUETO DE THERESIENSTADT
Viktor e Tilly, seus pais e sua sogra foram convocados para deportação;
em seguida, foram levados de trem até a estação terminal de Bauschowitz,
em Praga, na República Tcheca. De lá caminharam 1 hora até o gueto de
Theresienstadt, uma casa de descanso utilizada pela imperatriz Maria Teresa.
Essa casa tinha capacidade aproximada para hospedar 4000 pessoas, mas
lá chegaram a viver mais de 150.000 judeus por vez (no total, considera-se
que passaram mais de 1 milhão de judeus por lá). Ali não era propriamente
um campo de concentração, mas um gueto, um lugar de trânsito. Os judeus
chegavam lá e logo eram distribuídos a diferentes campos de concentração;
a maioria era levada a Auschwitz.
Em Theresienstadt, muitos prisioneiros eram artistas, médicos,
advogados, políticos, entre outros profissionais de destaque. Theresienstadt
tinha fins propagandísticos; lá eram filmados trechos da propaganda nazista
- que eram transmitidos ao mundo - mostravam judeus bem vestidos,
bem alimentados e vivendo em instalações bonitas. A mensagem nazista
era de que cuidavam dos judeus e davam a eles boas condições de vida.
No fim, os que por lá passavam eram igualmente enviados aos campos de
concentração.
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Vida e Obra de Viktor Frankl
aos nazistas que era um pastor e deveria estar onde o seu povo estava. Leo
Baeck foi, então, deportado ao gueto de Theresienstadt e lá permaneceu
durante toda a guerra, acompanhando e oferecendo apoio espiritual não só
os judeus, mas a qualquer prisioneiro que por lá passasse.
Além do rabino, também estava no gueto uma discípula sua, Regina
Jonas, a primeira mulher nomeada rabino na história do Judaísmo. Viktor
Frankl, Leo Baeck e Regina Jonas decidiram armar em Theresienstadt um
círculo de conferências clandestinas com a finalidade de sustentar o ânimo
e o espírito dos prisioneiros de Theresienstadt, além de prepará-los para o
que viria depois: o campo de concentração.
Organizaram um plano de prevenção psicológica (psicoprofilático) a fim
de preparar os judeus para suportarem os sofrimentos de Theresienstadt e
o sofrimento posterior dos campos. Dentre o material que se recuperou do
gueto (desenhos, partituras, escritos, etc.), estava este trecho escrito a mão
por Frankl, entre 1942 e 1944:
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PERGUNTAS
Qual a origem do ódio alemão pelo povo judeu?
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forma para conquistar mais poder político (o motivo pelo qual seu golpe
fracassara fora, justamente, a falta de poder político). Foi nesse momento
que ele decidiu que os judeus seriam os inimigos. Ali começa o ódio racial
que não existia até então; antes, havia o antissemitismo, mas não o ódio
racial. O ódio, em geral, não é gerado por uma situação natural. Pense no
ódio entre católicos e muçulmanos, entre esquerda e direita, entre católicos
e judeus, entre ricos e pobres: nenhum deles responde à natureza humana,
muito menos à Ontologia que nos ensina Frankl; o ódio entre as partes é
produto de uma manipulação ideológica e política.
Para exemplificar, vejamos o seguinte ocorrido no conflito entre Rússia
e Ucrânia: uma família ucraniana que teve a casa destruída por uma bomba
russa acolheu um soldado russo ferido e ligou para a sua mãe para avisá-la
que o filho estava são e salvo. Isso só reforça que o ódio não é espontâneo, não
é natural, não é humano, mas sim o produto de manipulações ideológicas.
Há sempre alguém se beneficiando do ódio.
Pode haver diferenças, modos distintos de pensar, até conflitos, mas o
ódio que propõe exterminar um povo não é natural.
Alguns dizem que os fins justificam os meios. Nenhum fim, no entanto,
por mais nobre que seja, justifica manipular uma pessoa. Há políticos que
conduzem processos e há políticos que manipulam pessoas. Isso marca a
diferença de duas políticas.
O antissemitismo é um tema religioso. Hitler tomou isso e o traduziu em
ódio racial, não religioso. São coisas distintas. Sua mensagem era algo como
“nós, alemães, temos uma genética superior e os judeus tem uma genética
quase animal, não são pessoas”. É difícil que uma pessoa mate a outra. Para
que eu possa matar alguém, tenho que antes despersonalizar o outro, ou
seja, tenho que transformar a vítima em algo que é menos que uma pessoa,
senão não posso matar.
Quando o filme “A lista de Schindler” estreou na Áustria, o seu diretor,
Steven Spielberg, esteve lá. Ele foi à Áustria especialmente porque queria
conhecer Viktor Frankl. Quando o visitou e convidou-o para a estreia de seu
filme, Steve fez uma confissão: o cineasta disse que o projeto inicial era fazer
um filme baseado no livro “Em busca de sentido”, ou seja, baseado na história
de Frankl nos campos de concentração; porém, os produtores pensaram
que a figura de Schindler teria êxito comercial maior que a de Frankl. Steven
disse que queria que Frankl fosse à estreia, pois muitas passagens do filme
de Schindler foram baseadas, na verdade, no famoso livro de Frankl. Há
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Vida e Obra de Viktor Frankl
muitas passagens do filme que remetem aos escritos de Frankl em seu livro
e isso não é uma casualidade.
No filme de Schindler há uma cena em que o oficial do campo se levanta
pela manhã, arruma-se, coloca seu uniforme elegante, toma café da manhã
e se coloca a limpar sua arma. Para verificar se sua arma estava funcionando
corretamente, aproxima-se do balcão do seu departamento, mira os
prisioneiros que estavam ali e atira em um deles. Em seguida, guarda a arma
e segue a vida. Para que isso possa acontecer, esse homem que acaba de ser
executado não pode ser considerado uma pessoa, mas um animal; é como
se se matasse um mosquito. Essa foi a chave do ódio: era um tema racial. Se
você tem a casa cheia de insetos precisa exterminá-los porque podem picar
você, e causar doenças. Para fazer isso com pessoas, somente através de
uma manipulação ideológica.
O tempo que estamos vivendo está tão louco que, às vezes, parece
estarmos vendo se repetir muitas coisas que se passaram com Hitler. É uma
pena e uma preocupação muito grande.
Todo material que se pode ver nos museus sobre holocausto espalhados
pelo mundo foi resgatado depois da guerra, quando muitos sobreviventes
declararam onde que esse material estava enterrado. Quando visitamos
um museu desses, vivemos a experiência de nos conectar com a maldade,
mas, por outro lado, também nos conectamos com a maravilha que é a
pessoa humana, que pode autotranscender, sem perder a sua dignidade.
Os mesmos desenhos e pinturas que nos dão calafrios, também devem nos
causar admiração pela natureza humana. Como bem disse Frankl, o mesmo
homem que foi capaz de inventar a câmara de gás e imaginar formas tão
terríveis de exterminar um povo, também é o homem que pode passar
através do inferno com a cabeça no alto.
Frankl fala de dois tipos de pessoas: as decentes e as que não o são. Só
que, ao invés de dizer pessoas “decentes” e pessoas que “não são decentes”,
ele falava de “santos” e “porcos”. A diferença entre eles é ética. Nesses museus
você vê o testemunho dos porcos, mas também o dos santos. Frankl diz que,
possivelmente, os santos são uma minoria no mundo atual. De todas as
maneiras, não é um desafio unir-se a essa minoria? Não é um desafio decidir
ser santo ao invés de ser porco? Essa é a questão que se coloca a cada um de
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Vida e Obra de Viktor Frankl
FRANKL EM DACHAU
Frankl foi levado para Auschwitz em 1944, mas não ficou muito tempo
por lá.
O exército alemão não obteve êxito em sua tentativa de avançar sobre
a Rússia, e foi obrigado a retroceder. De volta ao seu espaço, os alemães
tiveram que desarmar os campos de concentração na Polônia, pois os
russos avançavam. Para desarmar esses campos, especialmente Auschwitz,
o exército usou duas estratégias: (1) Alguns prisioneiros foram levados para
a Alemanha de trem; (2) enquanto outros tiveram que ir da Polônia para a
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Vida e Obra de Viktor Frankl
mortos e, os que não estavam mortos, estavam muito enfermos, como foi
o caso de Viktor (que estava com tifo). Os americanos liberaram o campo
e levaram Viktor a Munique, onde estava a sede da cruz roxa do exército
americano. Viktor recuperou sua saúde em três semanas. Já recuperado, a
primeira pergunta foi sobre os camaradas que fugiram de caminhão; queria
saber onde estavam para que pudesse encontrá-los e comemorar com eles
a sua libertação. Foi nesse momento que descobriu que o caminhão dos
prisioneiros havia explodido poucos quilômetros depois de sair do campo e
ninguém sobrevivera. A verdade é que os oficiais do campo nunca quiseram
liberta-los. Eles não queriam que ficassem vivos pois denunciariam tudo
o que acontecia em Dachau; então, armaram um caminhão bomba para
retirar os judeus de lá, mandando todos os prisioneiros à morte.
Muitas pessoas, sabendo dessa história do caminhão, diziam a Viktor:
“que sorte a não ter subido ao caminhão!”; ao que Frankl respondia: não foi
sorte, eu simplesmente fiz o que devia fazer. Fazer o que deve ser feito nos
salva. Eis uma regra de ouro para nós, logoterapeutas.
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Vida e Obra de Viktor Frankl
como Frankl descreveu. Em 2009, estreou novamente, mas agora como uma
uma comédia musical chamada O sonho de Viktor Frankl.
Frankl também escreveu um tango - letra e música - dedicado a Tilly.
Na letra ele menciona que, durante a noite, em sonhos, ele reencontra Tilly;
e durante o dia, vive a angústia de esperar a noite, com a inquietude de
que, em sonhos, pudesse voltar a se encontrar com ela. Escreveu também
poesias, em que fala sobre a sua angústia.
VIKTOR E ELEONORE
Depois que retornou a Viena, Frankl trabalhou na Policlínica até se
aposentar.
No extremo oposto do prédio onde Frankl atendia ficava o Departamento
de Odontologia, cuja enfermeira chefe era Eleonore Katherina Schwindt.
Eleonore era filha de uma família muito humilde e católica de Viena.
Quando a Alemanha anexou a Áustria, todos os homens foram
incorporados exército alemão, inclusive o pai e os irmãos de Eleonore, que
foram enviados à frente oriental (Rússia). Quando ela terminou o colégio,
recebeu a notificação dizendo que também deveria se incorporar ao exército
alemão. Isso significava deixar sua mãe, já idosa, sozinha. Ela, então, vai até
a Policlínica e pede um trabalho como faxineira, pois os profissionais da
Policlínica não eram incorporados ao exército. Mas lá não estavam precisando
de funcionários para limpeza, e sim de enfermeiras. Então, ela começa a
trabalhar como enfermeira no Departamento de Odontologia da Policlínica
- considerado o serviço de Odontologia mais precioso de todo Reich - Freud,
inclusive, recuperava-se do seu câncer de mandíbula nesse serviço; e a irmã
de Hitler também havia sido atendida ali.
Eleonore era tão eficiente como enfermeira que, em pouco tempo,
nomearam-na chefe das enfermeiras.
Certa vez, o serviço de Odontologia precisava de uma cama para deixar
internado um paciente com câncer de mandíbula que havia sido operado,
mas não havia camas desocupadas na Policlínica. Sabia-se que no escritório
do Dr. Frankl havia uma cama, porém, ninguém se animou a pedi-la, pois ele
era um homem muito sério, praticamente não falava com ninguém e, por
isso, tinham medo dele (não sabiam que, na realidade, Frankl vivia era um
estado de angústia muito profunda). Eis que, então, a enfermeira Schwindt
foi pessoalmente pedir a cama a Frankl. Percorreu todo o edifício, parou
diante de Frankl e contou para ele o ocorrido, pedindo, na sequência, a cama
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Mas a oficialização da união do casal não foi fácil. Viktor sabia que Tilly
estava morta, mas não tinha os documentos que comprovassem que era
viúvo. Viktor e Eleonore foram, então, viver juntos na casa de Frankl sem
estarem casados, o que era um escândalo muito grande à época. Ele, judeu;
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ela, católica. Além disso, Viktor era 20 anos mais velho que Eleonore. Tudo
isso significou que ninguém os apoiou, pois a relação deles era vista como
um escândalo. Para agravar a situação, em pouco tempo Eleonore ficou
grávida. Quando chegaram os documentos que declararam Frankl viúvo,
eles se casaram e logo nasceu Gabriela Frankl, a única filha de Viktor. Foi
uma história de amor profunda, do começo ao fim.
Certa vez, aconteceu algo que marcou a história de amor de Viktor e
Eleonore. Recordam-se da pulseira com um globo que Viktor dera a Tilly
como sinal de compromisso e que ela usava sempre? Pois bem, essa pulseira
não tinha valor financeiro, de modo que nunca a roubaram de Tilly. Um dia,
Viktor cruza com um homem em Viena e percebe que ele estava com essa
pulseira na mão, girando-a no dedo. Frankl, então, para na frente desse
homem e pede para ver a pulseira, comprovando que, de fato, era a pullseira
de Tilly.
Como esse homem havia conseguido aquela pulseira? Quando a guerra
terminou, os aliados devolveram aos respectivos donos muitas das coisas
que os nazistas haviam roubado nos campos. Algumas coisas tinham a
identificação do dono; O que não possuía identificação foi leiloado em
pacotes. Dentro desses pacotes poderia haver coisas valiosas que poderiam
ser vendidas. O homem que encontrou havia comprado um desses pacotes
e nele estava essa pulseira, que, por não ter valor, não pôde ser vendida.
Viktor contou a história da pulseira e o homem o presenteou com ela.
Quando Eleonore voltou da Policlínica, encontrou Viktor no chão de
sua casa chorando desconsoladamente. Ao perguntar o que se passava,
Viktor mostrou a pulseira e lhe contou toda a história. Imaginem como
ele se sentiu ao rever aquela pulseira. Agora imaginem como Eleonore se
sentiu ao ver seu marido, com quem havia casado recentemente, chorando
desconsoladamente pela recordação da sua primeira mulher. Ela o deixou.
Eleonore comenta que Viktor ficou dois ou três dias sem levantar, chorando.
No terceiro dia, Eleonore voltou do hospital e sentiu uma angústia muito
grande, pois Viktor não estava em casa, havia saído. Pensou logo no pior.
Não obstante, Viktor logo voltou para casa com um pacote nas mãos e
deu a ela; era a pulseira de Tilly, porém, com uma diferença: havia nela um
coração que não estava ali antes. E de um lado do coração estava gravado o
número de Frankl quando prisioneiro no campo e, do outro lado, a palavra
amor. Viktor, então, disse a Eleonore: tudo o que tenho para oferecer a você
é o meu passado e o meu amor. Dali em diante, Eleonore passou a usar a
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pulseira permanentemente.
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“O Rebe me pediu que lhe dissesse que não deve render-se. Deve
ser forte. Não se deixe molestar por aqueles que te ridicularizam.
Terá êxito e seu trabalho alcançará um grande avanço.”
(Rebe Schneerson)
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Vida e Obra de Viktor Frankl
modo que muito se questionou a amizade entre ele e Frankl. Heidegger foi
nomeado reitor da Universidade de Friburgo, na Alemanha.
Ocorre que, sempre que um sistema totalitário se instaura, ele obriga
todos os funcionários a se tornarem membros do partido do governo. E com
Heidegger não foi diferente. Quando ele é nomeado reitor da Universidade
de Friburgo, na Alemanha, é obrigado a se filiar ao partido nazista, tendo,
inclusive, que usar a cruz suástica na manga. Porém, quando Heidegger
percebe que seu pensamento estava se tornando o pensamento oficial do
nazismo, ele renuncia ao cargo de reitor. Para muitos, Heidegger é o filósofo
dos nazistas; mas Frankl dizia que, o que ninguém leva em conta é que ele
teve coragem de sacar a suástica e renunciar ao cargo de reitor no momento
em que os nazistas mais tinham poder.
Quando recebia uma personalidade, Frankl sempre pedia que lhe
deixasse uma mensagem por escrito.
Também trabalhou com com L. Binswanger (pensador da Análise
Existencial) e Karl Jasper (fundador da Psicologia Compreensiva).
Em 1960 também acontecem alguns episódios significativos. Como
já dito, o livro Um psicólogo no campo de concentração ocorre foi um
completo fracasso, não tendo vendido nada. Em 1954, em Buenos Aires,
chegou uma tradução em espanhol desse livro. Allport insistia que esse livro
fosse traduzido para o inglês, para ser mais difundido. Em 1959 foi publicado
Del campo de la muerte al existencialismo, novamente um fracasso editorial
terrível. A maioria dos exemplares foram queimados. O Dr. Allport não se
deu por vencido e buscou outra editora nos EUA e, em 1962, conseguiu
que o livro fosse publicado novamente. E editora, porém, impôs algumas
condições: primeiro, mudar o título do livro para algo menos dramático - de
del campo de la muerte al existencialismo passou a se chamar El hombre
em busca de sentido (Man’s search for meaning). E a segunda condição era
que Frankl agregasse um capítulo em que explicasse alguns conceitos de
seu pensamento. Com essas novidades, o livro foi editado e alcançou êxito
editorial absoluto. Desde então, esse livro é considerado pelos editores um
long seller.
NOTA: Um best seller é um livro que se publica e vende muito; mas um
long seller é um livro que se publica e os editores já sabem que sempre será
muito vendido.. De fato, até o dia de hoje esse livro é publicado e sempre
está esgotado. Foi feito um ranking dos livros mais lidos durante os anos da
pandemia e esse de Frankl está entre os mais lidos no mundo inteiro.
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Vida e Obra de Viktor Frankl
como recurso terapêutico. Ele dizia que, se o que havia sido terapêutico para
aquele homem tinha sido a leitura do livro.
O livro “Logoterapia em contos” do professor Claudio Garcia Pintos aborda
a biblioterapia. Começou no Brasil um movimento em torno disso, inclusive
com a escrita de livros com essa finalidade.
O livro The will to meaning (em português, A Vontade De Sentido -
Fundamentos E Aplicações Da Logoterapia) é um livro muito recomendável
pelo seguinte: Frankl é um pouco desordenado ao escrever. Não há um só
livro para entender os conceitos, porque em cada livro ele repete os conceitos
e agrega alguma coisa. Porém, este livro é um curso de Logoterapia que ele
deu nos EUA, por isso é um dos que está mais bem organizado. É como um
manual de Logoterapia.
Em 1970 são criados grupos de estudos durante as viagens que fazia
e é fundado o Instituto de Logoterapia na Universidade de San Diego. Os
institutos de Logoterapia, nesse momento, vão surgindo em todo os EUA.
Frankl era alpinista. Muitos caminhos nos Alpes recebem o seu nome por
ele ter sido o primeiro a explorá-lo. Em Mendoza, Viktor foi até a Cordilheira dos
Andes e a primeira coisa que fez foi beijar a montanha. Ele tinha um problema
de saúde, sequela dos tempos do campo de concentração, e morreu por causa
desse problema de coração. Começou a ter um problema de vista também,
estava praticamente cego quando morreu. Seguir escalando montanhas
era, portanto, um risco muito grande para ele, tanto pelo problema cardíaco
como pelo problema de vista. Os médicos e sua família lhe pediam para
deixar o alpinismo. Num dado momento, Viktor aceita e diz: vou deixar a
montanha, mas não penso em abandonar as alturas. Não entenderam muito
o que ele tinha querido dizer, mas ele sabia. Numa próxima viagem aos EUA,
teve aulas para aprender a ser piloto de avião. De fato, aprendeu e pilotou
aviões. Também pediu a Eleonore que fizesse o mesmo curso pelo seguinte
motivo: ele era um homem com problemas cardíacos, portanto, se houvesse
algum problema com ele durante o voo, alguém teria que pousar o avião.
Por isso, Eleonore aceitou o desafio e também aprendeu.
Em 1970 ocorre outro fato significativo. Frankl viaja para Roma a fim
de participar de um encontro. Ao chegar em Roma, foi contatado por
um enviado Papa Paulo VI, membro da Opus Dei, que lhe disse que Sua
Santidade gostaria de ter uma audiência privada com ele. Frankl aceita e
vai ao encontro do Papa juntamente com Eleanore (católica). Ao terminar
a audiência, Viktor já está indo embora quando o secretário do Papa vai ao
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Pós-Graduação em Logoterapia e Análise Existencial
seu encontro e pede que ele volte, pois o Papa queria dizer-lhe algo mais.
Viktor volta ao Vaticano e o Papa, tomando-lhe as mãos, pede que reze por
ele. Viktor fica terrivelmente emocionado com a atitude do Papa. Como ele
podia pedir a um humilde psiquiatra judeu que rezasse por ele? Já em Viena,
Frankl fica sabendo que o Papa Paulo VI, quando ainda era um sacerdote
comum, fora encarregado de organizar no Vaticano o sistema de asilo aos
judeus perseguidos pelos nazistas. O homem que se tornara Papa, havia
arriscado sua vida ao acolher judeus perseguidos pelos nazistas - entre eles,
seu irmão Walter - nos anos mais obscuros do nazismo. O encontro com o
Papa Paulo VI foi um dos eventos mais importantes para Viktor.
Na década de 80, os congressos vão acontecendo um atrás do outro.
Dentre eles, o I Congresso Mundial de Logoterapia em San Diego, California.
Nessa época, surge a figura da Dra. Elisabeth Lukas, que fundou, em 1986
o Instituto de Logoterapia no sul da Alemanha. Foi a primeira pessoa a dar
um curso de capacitação em Logoterapia. Consideramos a dra. Elisabeth a
primeira e mais destacada discípula de Viktor Frankl. Foi a primeira vez que
uma pessoa apresentou uma tese de doutorado baseada no pensamento de
Frankl. A dra. Lukas vive hoje na Áustria.
Em 1988, em Viena, organizou-se o evento em el DIA DE LA MEMORIA
pelos 50 anos do Anschluss (anexação da Áustria a Alemanha). Um dos
oradores principais desse evento foi Frankl. Uma das questões que ele aborda
é a chamada “culpa coletiva”. Nesse sentido, todos os alemães são culpados
pelo holocausto - os que viveram à época do holocausto e todos os que
vierem depois deles - , todos os alemães são maus e devem ser depreciados.
Frankl nunca concordou com isso, pelo simples fato de que, para ele, a culpa
é PESSOAL. Porém, Frankl foi muito criticado por ser contrário ao conceito de
“culpa coletiva”. Não obstante isso, em 1968, ele se afirmou em sua posição de
uma maneira muito contundente, quando apresenta a ideia de que existem
duas classes de pessoas: santos e porcos; explica que há santos e porcos em
todos os grupos, nações e famílias. Não são todos maus ou bons. Portanto,
houve nazistas que expuseram suas vidas para salvar judeus, assim como
houve judeus que no campo de concentração roubavam comida dos seus
camaradas. Houve judeus porcos e nazistas santos. Esse posicionamento foi
o momento mais importante da história política de Viktor Frankl. O que ele
estava fazendo era uma verdadeira terapia coletiva, ele estava tratando uma
neurose coletiva, e liberando muitos jovens do peso que seguiam carregando
pelo erro de outros.
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houvesse sobrevivido.
Ella contou que Tilly sobrevivera ao campo, porém, acabou não resistindo
à tifo e morreu poucos dias depois de ser resgatada; disse também que
Tilly havia cumprido a promessa de sobreviver ao campo motivada pela
esperança de reencontrar Viktor.
Foi difícil se separar de Ella Meyer, mas tinha que ir. Viktor, entre lágrimas,
falou para Ella: dia 27/04/1945, dia em que saí do campo de Dachau começaram
a liberar-me. Hoje, 27/04/1984 terminaram de fazê-lo. Ele sentiu que foi o
momento que pôde encerrar a sua história no campo de concentração,
depois de tantos anos.
Em 1985 regressa à Argentina, convidado pelo presidente Dr. Raúl Alfonsín.
A Argentina havia saído de uma ditadura há poucos anos. A aula magna da
faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires tinha capacidade
para 900 pessoas. No momento da palestra de Frankl, no entanto, havia 1400
pessoas no local. Depois de 1985, ele ainda voltou 3 vezes para a Argentina,
recebendo várias distinções honoris causa, sendo que a mais importante foi
a recebida pela Universidade Católica Argentina (que nunca havia concedido
esse título para alguém que não fosse do clero).
Em 1988 Frankl viajou para Israel, onde teve seu segundo Bar Mitzvah (uma
segunda afirmação de sua fé judaica). Muito se ouve a respeito de uma suposta
conversão de Frankl ao catolicismo, mas isso não procede. Frankl nasceu e
morreu judeu. E mais: em sua vida privada era uma pessoa extremamente
religiosa; orava todos os dias de acordo com os costumes judeus. Mas isso
não impedia que Frankl tivesse muitos amigos não judeus, inclusive João
Paulo II e Madre Teresa de Calcutá. Viktor era filho de pais muito religiosos;
Gabriel Frankl, era um judeu de muita atividade em todos os serviços da
sinagoga. No entanto, apesar de a casa deles ser tradicionalmente judia,
Frankl possuía um sendo ecumênico muito importante. Quando criança,
por exemplo, costumava visitar o convento das monjas carmelitas que ficava
a uma quadra de sua casa. Todas as tardes, as monjas organizavam jogos,
serviam chocolate quente e, seguramente, ensinavam o catecismo católico
às crianças do bairro . E os pais nunca acharam inconveniente que seu filho
estivesse em meio às monjas católicas, mostrando a abertura ao catolicismo,
sem que isso significasse uma negação da própria fé. Numa visita a Buenos
Aires, os organizadores, sabendo que era muito religioso, levaram Frankl a
uma sinagoga central. Porém, quando podia escapar dos organizadores,
Frankl ia orar na catedral metropolitana de Buenos Aires, pois dizia haver um
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Vida e Obra de Viktor Frankl
clima na catedral que o fazia sentir a presença de Deus. Um dia uma pessoa
o reconhece na Catedral e questiona o que um judeu estaria fazendo num
templo católico; ao que Frankl respondeu: perdão, acaso Deus não está em
todas as partes?
Esse sentido ecumênico em Frankl, de alguma forma também se mostra
em sua postura como cientista: ele nunca vai estar contra algum autor;
geralmente, ele diz que concorda com algumas coisas e discorda de outras,
mas nunca vai contra o autor.
Nota: quando Frankl faleceu, em 1997, as pessoas que frequentavam a
Universidade Católica davam os pêsames ao professor Cláudio Garcia Pintos
e à professora Martha Iglesias, pois consideravam-nos familiares de Viktor.
Nos diários havia avisos sobre a morte de Frankl tanto com uma cruz, como
se Frankl fosse católico, quanto com uma estrela davi, dando certeza de que
ele era judeu, ou ainda sem símbolo nenhum, como se fosse agnóstico. Isso
por causa da duvida que circulava sobre a fé de Frankl.
Dos 10 livros mais influentes na América, O homem em busca de sentido
aparece em 8º lugar.
Em 1993 ele recebe uma nova distinção Honoris Causa, desta vez
outorgada pela universidade de Chicago. Ele é o cientista com mais
distinções honoris causas do século XX: são 30 distinções Honoris Causas
concedidas por Universidades dos 5 continentes. A distinção de Chicago
era a de número 30. No ato, a Universidade quis distinguir não só a Viktor
Frankl, mas também a Eleonore Frankl, considerando sua importância para
o desenvolvimento da Logoterapia, por isso ela também recebeu a distinção
honoris causa. Um pouco antes do evento, porém, Frankl disse que não queria
receber a distinção, pois desejava que, naquela noite, naquele ato, o mundo
inteiro estivesse atento somente a Eleanore. As autoridades da Universidade
aceitaram e assim aconteceu. Durante o ato, ele ficou sentado com o público
e quando chamaram Eleanore ao palco ela foi aplaudida pelas 3000 pessoas
presentes.no local. Quando ela saiu do palco, Viktor se aproximou, tomou o
rosto dela com as duas mãos e deu-lhe um beijo na testa. Isso, disse depois
Eleonore, é amor. Naquele momento as 3000 pessoas se colocaram de pé e
seguiram aplaudindo.
Nota: Muito provavelmente, se não houvesse Eleonore não estaríamos
falando hoje de Frankl. Ela foi suporte em todos os sentidos na vida dele. Ele
nunca escreveu nada: ele sempre ditava e era Eleonore quem escrevia. Essa
mulher consagrou sua vida a Viktor, viveu só para ele. Viktor não queria que
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Pós-Graduação em Logoterapia e Análise Existencial
Eleonore cozinhasse, pois achava que era uma perda de tempo; só permitia
que ela o fizesse uma única vez por ano, para fazer uma receita especial que
ele gostava.
Em 1995, a pedido dos editores, Frankl decidiu escrever um pequeno
livro autobiográfico (Recollections em inglês, O que não está escrito em
meus livros em português). Também em 1995, o Conselho Pontifício para
os agentes da saúde escreveu um tratado de bioética em que declara a
Logoterapia como a psicoterapia privilegiada. Nunca antes, em 2000 anos
de história, a Igreja Católica havia sugerido em um documento como esse,
ao falar sobre saúde psíquica, uma linha de psicoterapia a ser seguida. Esse
documento foi emitido no pontificado de João Paulo II.
A última conferência de Frankl foi em 16/10/1996. O ano de 1996 foi um
ano muito difícil para Frankl. Ele teve perdas familiares, inclusive de sua irmã
Stella. A notícia da morte de sua irmã teve um impacto muito grande sobre
ele. A relação deles, desde crianças, era muito forte - ela era um dos amores
de Viktor. Tal foi o impacto da notícia de sua morte que, na tarde daquele
dia, ele sofreu um ataque cardíaco, tendo que ser internado com urgência.
A partir daí, ele nunca se recuperou completamente, tendo que ser assistido
todos os dias porque lhe faltava ar. De alguma maneira, o falecimento de
Frankl começa quando recebe a notícia da morte de sua irmã.
Em 1997 publica seu último livro, uma versão ampliada do Deus
inconsciente. Notem que um de seus primeiros livros é Man’s Search for
Meaning e o último chama-se Man’s Search for Ultimate Meaning.
Em 1997 chegamos ao ponto final da sua história. Viktor sofria do coração
e tinha um problema de vista, terminando sua vida praticamente cego.
Foi internado e disseram-lhe que a única alternativa era uma cirurgia para
colocação de cateteres, um procedimento arriscado para alguém em seu
estado de saúde, mas sem o qual ele corria o risco de morrer a qualquer
momento. Ele mesmo tomou a decisão de ser operado, livrando a família
dessa decisão. Ao chegar para operar, as enfermeiras choravam e ele as
apoiava. Antes de entrar, olhou para Eleonore e disse que havia deixado
uma mensagem para ela em um livro dele. Operou, tudo ocorreu bem, mas
faleceu poucos dias depois, em 02 de Setembro de 1997, na mesma semana
que faleceu Madre Teresa.
Anos antes de falecer, Frankl tinha recebido uma distinção especial pela
República da Áustria, outorgando-lhe honras como um dos filhos mais
importantes do país. Por causa disso, ele foi enterrado com as mesmas honras
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
▶ En El Principio Era El Sentido – Reflexiones en Torno al Ser Humano -
Viktor E. Frankl
▶ Um Sentido Para a Vida - Psicoterapia e Humanismo - Viktor E. Frankl
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