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Santa Maria, RS
2021
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO……………….…………………………………………………………..3
2 BIOGRAFIA………………………………………………………………………………4
2.1 1919-1930………………………………………………………………………………….4
2.2 1930-1934………………………………………………………………………………….5
2.3 1934-1939………………………………………………………………………………….6
2.4 1939-1950………………………………………………………………………………….7
2.5 1950-1957………………………………………………………………………………….7
3 TEORIA…………………………………………………………………………………...9
3.1 ORIGEM E INFLUÊNCIAS TEÓRICAS……………………..…….…………….………9
3.2 FUNDAMENTOS DA VEGETOTERAPIA CARACTERO-ANALÍTICA...……….…..10
3.2.1 Caráter…………………………………………………………………………………..10
3.2.2 Couraça Caracterológica……………………………..……………..……..……………11
3.2.3 Bioenergia…………………………..…………………………………………………..11
3.2.4 Caráter Genital e Potência Orgástica……………….…………………....……………..12
3.2.5 Energia Orgônica…………………………...…………..……………………………....12
3.3 PRÁTICA CLÍNICA REICHIANA….………………..……..………………..…..……..13
3.4 RECEPÇÃO CRÍTICA………………………………………..………………….……....14
4 TERAPIAS PÓS-REICHIANAS……....………………………………….….………...16
4.1 ANÁLISE BIOENERGÉTICA…………………..…………...…...……………………...16
4.2 BIOSSÍNTESE………………….………………………………......……………….……16
4.3 SOMATERAPIA…………...……...……………………………………………………...17
5 CONCLUSÃO……………...….……………………………………….……………….19
REFERÊNCIAS………………...…..………………………………………………...……..20
1. INTRODUÇÃO
Wilhelm Reich foi o médico e psicanalista que ganhou notoriedade por seu
pioneirismo no desenvolvimento da psicoterapia voltada para a relação somática entre
distúrbios psicomentais e a rigidez muscular e corporal. Como um dos mais controversos
discípulos de Freud, alicerçou sua tese em diversas teorias psicanalíticas em desenvolvimento
na época, assim como propôs suas ideias a fim de preencher algumas lacunas que observara
com o trabalho da psicanálise freudiana, como a inconsistência do método da associação livre
como carro chefe na transferência com o paciente.
A fim de compreender as influências do projeto científico e terapêutico reichianos, faz
se necessário, inclusive, considerar o contexto histórico em que esta figura se inseriu no
percurso de sua vida. Reich presenciou e participou ativamente do conturbado período da
Primeira Guerra Mundial, tal como o período entre guerras e a ascensão dos governos
autoritários europeus, inspirando seus estudos sobre o fascismo e seu interesse pelas teorias
marxistas, também em evolução naquele tempo.
Por consequência, na trajetória de suas mais de 15 obras escritas, Reich foi
acompanhado de severas críticas e refutações: pensadores da psicologia, do marxismo, da
física, da biologia e da medicina não mediram esforços na tentativa de negar as ideias do
autor, que, apesar dos conflitos, persistiu com seu trabalho até o fim de sua vida. Ademais,
mesmo com todas as controvérsias, sua teoria serviu de inspiração para o surgimento de novas
vertentes do saber psicológico. Evoluções de suas ideias surgiram tanto de seus discípulos
quanto de diversos campos fora da psicologia, evidenciando que as propostas do psiquiatra,
apesar de sua radicalidade, serviram como contribuição para muitas teorias posteriores e
atuais.
Portanto, a dissertação traz como objetivo contextualizar a vegetoterapia
caracteroanalítica visionada por Wilhelm Reich, um personagem da psicologia que, apesar de
imensamente controverso, pôs em pauta uma nova discussão no âmbito terapêutico, com
propostas muito a frente de seu tempo. Para isso, expomos um breve resumo de sua biografia,
a fim de compreender como a vida do teórico relaciona-se com seu trabalho, assim como as
bases para tal. Em sequência, buscamos simplificar os conceitos e fundamentos da terapia
reichiana, apresentar sua proposta de metodologia clínica e abordar uma de suas principais
teorias no âmbito da física, a descoberta de energia orgônica. Por fim, apresentamos algumas
evoluções de suas ideias, por meio do estudo de autores pós e neo-reichianos, teorias que
renovaram os saberes apresentados por seu antecessor.
2. BIOGRAFIA
Nascido em 1897, Wilhelm Reich cresceu para se tornar uma das figuras mais
polêmicas da história da psicanálise. Após o suicídio de sua mãe e o falecimento de seu pai
para a tuberculose, Reich cuidou da fazenda da família até 1914, quando as tropas russas
invadiram a região da Bukovina e o forçaram a fugir de sua terra natal junto com seus irmãos.
No ano seguinte, se juntou ao Exército Austro-Húngaro durante a Primeira Guerra Mundial,
no qual serviu como tenente até 1918. Após o fim da guerra, Reich adentrou o curso de
medicina na Universidade de Viena, onde nasceria a base para suas teorias futuras.
2.1 1919-1930
2.2 1930-1934
Reich se mudou para Berlim em 1930 onde continuou seus trabalhos e criou a Verlag
für Sexualpolitik, sua editora, que seria de extrema importância nos anos seguintes em que o
Partido Comunista Alemão e o Jornal Internacional de Psicanálise se recusariam a publicar as
obras mais controversas do autor devido ao seu posicionamento controverso sobre sexo na
adolescência exposto em uma conferência e à obra The Sexual Struggle of Youth (1932), que
causaria sua exclusão do partido (SHARAF, 1983, p. 169). Nesse período ele também
escreveu o que é considerada sua obra prima: Análise do Caráter (1933), na qual apresentava
um programa que distanciava a psicanálise de simplesmente análise de sintomas e buscava
reconfigurar a estrutura de caráter neurótico, introduzindo a ideia de “armadura” como uma
relação entre bloqueios emocionais e tensões corporais (CORRINGTON, 2003, p. 133).
Em 1933 Hitler se tornou chanceler da Alemanha e o partido nazista começou a atacar
os textos de Reich, obrigando-o a se mudar para fugir da perseguição que já havia alcançado
diversos de seus amigos. Após garantir sua segurança em Viena, viajou para a Dinamarca,
onde entrou em conflito com o governo e com o partido comunista do país devido a seus
trabalhos com sexualidade juvenil e não teve seu visto renovado. Mudou-se para a Suécia em
sequência e novamente teve problemas com o governo, inclusive com boatos de que ele
estava comandando um bordel com sua esposa, o que fez com que perdesse seu visto
novamente e fosse obrigado a voltar para Dinamarca por um período de tempo usando um
nome falso, até que conseguiu se fixar em Oslo, na Noruega (CORRINGTON, 2003, p. 181)
2.3 1934-1939
Nos cinco anos que passou na Península Escandinava, Reich passou a tentar
estabelecer uma base biológica para sua teoria, desenvolvendo assim a “Fórmula do
Orgasmo” (baseada nos estudos de Friedrich Klaus) e descobrindo o que seria o primeiro
passo para sua pesquisa sobre uma nova forma de energia. Ao observar a degradação de uma
variedade de substâncias ‒ orgânicas e inorgânicas ‒ sob o microscópio, ele percebeu que,
mesmo após processos de isolamento e esterilização dos materiais, surgiam vesículas do
produto “morto” com diversas características similares à de seres vivos, como movimentação
interna, reprodução e alimentação, às quais Reich deu o nome de “bions”: formas de vida
transicionais entre o vivo e o não-vivo (SHARAF, 1983, p. 217-221).
Ao adentrar uma área de pesquisa que o próprio Reich admitia não se sentir
suficientemente preparado e tirar conclusões tão discordantes dos conhecimentos biológicos
da época, as críticas feitas pela comunidade científica norueguesa foram expectáveis. Dentre
refutações de seus estudos e ameaças de cancelar seu visto, mais de cem artigos denunciando
o caso circularam os jornais de Oslo, culminando na permanência do psicanalista na cidade,
porém sem permissão de praticar psicoterapia (SHARAF, 1983, p. 232-233). A campanha
teve um forte impacto na mente de Reich, tornando um profissional sério e aberto à críticas
em um homem isolado, agressivo e paranóico, afastando-se de seus amigos e cultivando
ciúmes fervorosos de sua esposa na época, Elsa Lindenberg, ao ponto de atacar um de seus
colegas de trabalho durante um ensaio (mesmo que o próprio mantivesse diversos casos de
traição com pacientes e outras mulheres nesse período de tempo). Quando Reich recebeu um
convite para emigrar e continuar seus estudos nos Estados Unidos, ela se negou a
acompanhá-lo e pôs um fim no relacionamento entre os dois (SHARAF, 1983, p. 253-255).
2.4 1939-1950
Chegando nos Estados Unidos, sozinho e abalado, Reich focou seus estudos em
aprofundar o conhecimento sobre os bions e suas capacidades energéticas. Ele construiu
Gaiolas de Faraday onde injetava ratos de laboratório com bions e buscava examinar as luzes
e vapores que seriam produzidos. A partir desses experimentos, o teórico criou o conceito de
“Energia Orgônica”: uma energia onipresente, biológica e cósmica, que pode ser observada
principalmente no céu com o uso de um telescópio especial e nos ratos aos quais foram
introduzidos bions (TURNER, 2011, p. 220-221). De acordo com Reich, materiais
não-metálicos como algodão e lã tinham a capacidade de absorver essa energia, enquanto
metálicos como aço e ferro seriam capazes de refleti-la para ambas as direções. A partir disso,
as Gaiolas de Faraday foram modificadas e isoladas, criando os chamados “acumuladores de
orgone”, com os primeiros em tamanho humano sendo criados em 1940 e começando
tratamentos experimentais gratuitos em voluntários portadores de câncer em 1941.
Em novembro de 1942, após ser preso pelo FBI sob alegações de ser um inimigo da
pátria, possivelmente devido aos seus envolvimentos passados com partidos comunistas ou às
suas obras controversas e subversivas (SHARAF, 1983, p. 271-272), Reich comprou uma
fazenda abandonada que reformaria ao longo dos anos para ser seu laboratório principal de
estudos, chamado de “Orgonon”, passando a morar lá a partir de 1950 pois, de acordo com o
próprio Reich: “Eu tenho apenas alguns anos produtivos restantes e devo preservar cada
momento.” (SHARAF, 1983, p. 340, 356).
2.5 1950-1957
Em 1947, a reputação de Reich recebe outro ataque, desta vez na forma de artigos
escritos por Mildred Eddie Brady sob o título de “The New Cult of Sex and Anarchy”, no qual
Mildred desdenhava e atacava toda a teoria orgônica, tendo como alvo não apenas o teórico,
mas a psicanálise como um todo (TURNER, 2011, p. 274). Tais artigos não apenas sujaram
ainda mais seu nome e trabalho, mas também causaram com que a Food and Drugs
Administration (FDA) abrisse uma investigação contra Reich, que se estenderia pelos
próximos 10 anos.
A FDA passou anos investigando o Orgonon e entrevistando colegas, estudantes e
pacientes do psicanalista, questionando sobre os acumuladores, até que em 1954 eles
apresentaram uma liminar de 27 páginas contra Reich na base de que não existiam provas
concretas da existência da energia orgônica e de que os acumuladores estavam sendo
comercializados sob falsas afirmações (SHARAF, 1983, p. 418). Após diversos debates entre
os conhecidos próximos de Reich, ele decidiu não comparecer ao tribunal para fazer sua
defesa, optando portanto por um documento enviado ao juiz da corte que iria lidar com o
caso, na prerrogativa de que uma pesquisa científica não pode ser decidida na justiça.
Entretanto, o documento não possuía valor legal ao considerar a falta à audiência presencial,
fazendo com que Reich perdesse a disputa legal (SHARAF, 1983, p. 420-423).
Com isso, as medidas do FDA entraram em vigor: todos os acumuladores
comercializados deveriam ser destruídos e qualquer obra escrita que tivesse conexões com
energia orgônica seria retirada de circulação. Mesmo com o choque do evento, Reich
continuou seus trabalhos e, durante uma viagem para o Arizona, sem seu conhecimento, um
de seus sócios, Michael Sivert, violou a liminar ao tentar vender um acumulador, o que levou
Reich e Sivert a serem levados para a corte novamente.
Ambos foram considerados culpados e condenados ‒ Reich com dois anos de prisão e
Sivert com um ano e um dia ‒ e foi emitida uma nova ordem contra os trabalhos do teórico:
dessa vez ordenando a destruição de todos os acumuladores restantes e a queima de todas as
obras ligadas à esse material, marcando um dos piores marcos da censura nos Estados Unidos.
Reich morreu na prisão em 1957 após ter todos seus recursos negados e deixando seu último
testamento que estabelecia a transformação do Orgonon no Museu Wilhelm Reich para
preservar o que havia restado de seu legado.
3. TEORIA
3.2.1 Caráter
3.2.3 Bioenergia
A ideia de bioenergia ou energia vital encontra suas raízes na teoria libidinal de Freud,
da qual Reich resgata, em especial, os efeitos do acúmulo de energia na constituição de
sintomas neuróticos no paciente, e o coloca como fator determinante no trabalho de estruturas
neuróticas (ALBERTINI, 2015). Por meio de seu trabalho sobre dissolução de couraça, o
autor elabora que as sensações físicas decorrentes da perda de rigidez muscular são devido à
movimentação dessa energia vital, que por anteriormente estar em situação de inércia, se torna
energia vegetativa, fonte energética de sintomas (FADIMAN, FRAGER, 1986).
Assim, a liberação de energia vegetativa se torna essencial para o processo de
excitação sexual e orgasmo, cujo processo Reich nomeia fórmula do orgasmo, característico
de todos os organismos. O fenômeno segue quatro partes: tensão mecânica, órgãos sexuais se
enchem de fluido; carga bioenergética, que produz intensa excitação; descarga bioenergética,
descarregamento dessa excitação por meio de prazerosas contrações musculares; e, por fim,
relaxamento mecânico, a satisfação plena (FADIMAN, FRAGER, 1986).
Wilhelm Reich, apesar de pioneiro nas psicologias corporais, obteve menor aceitação
que outros trabalhos inspirados em suas ideias. Durante sua produção e prática, o autor foi
perseguido por diversas críticas bastante severas a suas obras e trabalhos experimentais, não
recebendo boa recepção não só no campo da psicologia, mas como também em outras áreas
científicas como a física e a biologia.
Uma das críticas mais apontadas era a estimulação de descarga emocional, uma
abordagem que Leonard Berkowitz (1973), conforme citado por Fadiman e Frager (1986, p.
103), nomeia de “abordagem ventilacionista”, que Berkowitz afirma promover mais
expressão de emoções e comportamentos indesejáveis, como agressividade e hostilidade.
Com base na teoria comportamental, estimular a expressão dessas emoções contidas poderia
reforçar a repetição desse tipo de comportamento prejudicial no futuro. No entanto, Fadiman e
Frager, defendem que tais críticas não compreendem a visão de Reich:
Outra crítica popular das teorias reichianas foi o caráter de “produto final” que
representava o caráter genital e a potência orgástica como a cura, o estado ideal que o paciente
deveria atingir. Kelley (1971), citado por Fadiman e Frager (1986, p. 103), critica essa ideia
que, após curado, o indivíduo “não precisa de crescimento ou desenvolvimento posteriores”.
Adjacente a esta, Reich também é criticado por perpetuar o modelo médico de “paciente que
precisa ser curado”, reforçando a posição do terapeuta como indivíduo totalmente sadio, e
portanto, colocados num papel mais ativo em relação ao paciente, em posição de
superioridade (FADIMAN, FRAGER, 1986). Essa ideia torna-se alvo de críticas até mesmo
muito depois das intervenções propostas por Reich, como é explicitado pelo psicoterapeuta
brasileiro José Ângelo Gaiarsa, que aponta em entrevista:
Gaiarsa ainda defende que, apesar de aparentar aproximar o paciente do terapeuta por
meio do toque, Reich mantém esse abismo de relação da mesma maneira:
Reich negou a interação. [...] É que se você começa a mexer numa pessoa com
cuidado, você começa a estabelecer com ela elos emocionais muito importantes. [...]
Mas não pode. Então se repete a desigualdade: eu mexo em você, mas você não
mexe em mim. Pior ainda! Eu mexo ‘com’ você, mas, você não mexe ‘comigo’.
Essa negação que Reich continuou. [...] Se você começa a tocar com jeito, você
muda o caráter [...]. E é isso que o Reich tentou evitar, dizendo: “Olha, eu sou o
psiquiatra e você é o neurótico. Não me contamine”. (GAIARSA, 2006, p. 272)
Por fim, outros críticos também defendiam que a libertação de bloqueios excessivos
das emoções é apenas um de vários aspectos no crescimento do ser humano. As couraças,
portanto, não deveriam ser completamente dissolvidas para algumas situações, porque o
autocontrole e a capacidade do homem de controlar seu comportamento é essencial para
dirigir sua vida aos seus objetivos. Assim, o indivíduo não deve se tornar completamente
desencouraçado: deve aprender a equilibrar o autocontrole e a livre expressão (FADIMAN,
FRAGER, 1986).
4 TERAPIAS PÓS-REICHIANAS
4.2 BIOSSÍNTESE
Fonte: www.nellybodely.com/biosntese
Separando o diagrama entre as camadas circulares, tem-se a camada mais externa, que
representa as barreiras a serem superadas, a camada mediana, que contém as qualidades do
indivíduo a serem liberadas, e o centro, onde se encontra a essência que a terapia tenta
alcançar. Ao ser observado por camadas horizontais, o diagrama se divide novamente em três
partes: as frações 1 e 2 sendo relativas ao corpo físico, as 3 e 4 conectando ao âmbito
emocional e as 5 e 6 representando valores ligados à mente e ao imaginário. Por fim, sendo
dividido verticalmente ao meio, o lado esquerdo contém a parte interpessoal do diagrama,
onde estão as frações que envolvem a interação do indivíduo com o meio externo e as outras
pessoas, enquanto o lado direito aborda o intrapessoal, contendo as frações sobre suas
personalidade e imaginário.
Por meio do trabalho terapêutico em cada uma das áreas do diagrama, integrando as
diversas dimensões corporais, emocionais, mentais e espirituais do ser humano, a Biossíntese
busca possibilitar o redirecionamento das energias à aproximação do Âmago. Para que isso se
concretize, um corpo são, uma personalidade integrada e uma crença clara são essenciais na
busca do indivíduo por harmonia consigo mesmo (LUCKESI, 2016).
4.3 SOMATERAPIA
Fundada no Brasil por Roberto Freire e João da Mata no início dos anos 70, a
Somaterapia é um processo terapêutico-pedagógico que visa a libertação dos pacientes a partir
do exercício de suas individualidades e originalidades em situações de grupo, utilizando da
expressão corporal e da ludoterapia para desenvolver a criatividade do indivíduo. Além de
Reich, a Somaterapia também usa da Gestalt de Perls e da Antipsiquiatria de Cooper como
base, sendo composta por exercícios corporais e um estudo crítico do comportamento dos
participantes, construindo assim espaços de auto descoberta e liberdade.
De acordo com a teoria, desenvolvida durante o momento da Ditadura Militar no
Brasil, o indivíduo que é livre, é mais feliz, o que o permite perceber as amarras do
autoritarismo e age a favor de si mesmo e da comunidade, indo contra o sistema autoritário
que o rege, sendo esse o propósito final da Somaterapia:
Através da pesquisa aprofundada sobre a vida e obra de Wilhelm Reich, assim como
durante a redação do presente papel, não pudemos deixar de notar a perseverança e a
dedicação que o autor teve por seu trabalho por toda sua trajetória. Apesar das constantes e
severas críticas às suas ideias, participações negadas em eventos, rejeição em instituições, e
obstáculos em suas pesquisas, Reich manteve-se empenhado em difundir sua teoria e utilizar
da sua abordagem para tentar ajudar quem estivesse disposto a receber sua ajuda
Como pai das psicologias corporais, ele revolucionou o campo da psicanálise na época
com uma nova proposta de metodologia, divergência teórica que o proporciona imensas
controvérsias com a comunidade psicanalítica e científica, mas que posteriormente se torna
alicerce para novas formas de fazer psicologia, e para diversas ramificações em campos
bastante diferentes de suas origens. Isso ocorre devido à consistente e compreensível
aplicabilidade prática que a teoria, aparentemente complexa, desenvolve para o terapeuta.
Portanto, finalizamos este trabalho intrigados pelas ideias de Wilhelm Reich, um autor
por vezes controverso, mas que não deixa de trazer imensuráveis contribuições para a
psicologia hoje. Inspiramo-nos pela dedicação que o mesmo manteve por sua obra por toda
sua vida, e acreditamos que as críticas sobre seu trabalho também sirvam de aprendizagem
para olharmos os saberes da psicologia com outras lentes. Certamente, conhecer um pouco
das propostas à frente de seu tempo deste polêmico autor já é, por si, uma contribuição que
Reich deixa para nós por meio de seus escritos.
REFERÊNCIAS
GAIARSA, José Ângelo. Gaiarsa fala de Reich. [Entrevista concedida a] Sara Quenzer
Matthiesen. Interações, São Paulo, vol. XII, n. 22, p. 263-279, jul.-dez., 2006. Disponível
em: <https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=35402212> Acesso em: 4 de dez. de 2021.
MYRON, Sharaf. Fury on Earth: A Biography of Wilhelm Reich. Nova York: St. Martin's
Press/Marek, 1983.
REICH, Wilhelm. A Função do Orgasmo. São Paulo: Editora Brasiliense, ed. bras., 1973.
REICH, Wilhelm; BAXANDALL, Lee; OLLMAN, Bertell. SexPol Essays 1929-1934. Nova
York: Vintage Books, 1972.
REICH, Wilhelm. People in Trouble. Ohio: The Orgone Institute Press, 1953.