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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE PSICOLOGIA

Yagor Gassen Machado e Luiza Silva Corrêa

WILHELM REICH: VIDA, TEORIA E CONTRIBUIÇÕES.

Santa Maria, RS
2021
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO……………….…………………………………………………………..3
2 BIOGRAFIA………………………………………………………………………………4
2.1 1919-1930………………………………………………………………………………….4
2.2 1930-1934………………………………………………………………………………….5
2.3 1934-1939………………………………………………………………………………….6
2.4 1939-1950………………………………………………………………………………….7
2.5 1950-1957………………………………………………………………………………….7
3 TEORIA…………………………………………………………………………………...9
3.1 ORIGEM E INFLUÊNCIAS TEÓRICAS……………………..…….…………….………9
3.2 FUNDAMENTOS DA VEGETOTERAPIA CARACTERO-ANALÍTICA...……….…..10
3.2.1 Caráter…………………………………………………………………………………..10
3.2.2 Couraça Caracterológica……………………………..……………..……..……………11
3.2.3 Bioenergia…………………………..…………………………………………………..11
3.2.4 Caráter Genital e Potência Orgástica……………….…………………....……………..12
3.2.5 Energia Orgônica…………………………...…………..……………………………....12
3.3 PRÁTICA CLÍNICA REICHIANA….………………..……..………………..…..……..13
3.4 RECEPÇÃO CRÍTICA………………………………………..………………….……....14
4 TERAPIAS PÓS-REICHIANAS……....………………………………….….………...16
4.1 ANÁLISE BIOENERGÉTICA…………………..…………...…...……………………...16
4.2 BIOSSÍNTESE………………….………………………………......……………….……16
4.3 SOMATERAPIA…………...……...……………………………………………………...17
5 CONCLUSÃO……………...….……………………………………….……………….19
REFERÊNCIAS………………...…..………………………………………………...……..20
1. INTRODUÇÃO

Wilhelm Reich foi o médico e psicanalista que ganhou notoriedade por seu
pioneirismo no desenvolvimento da psicoterapia voltada para a relação somática entre
distúrbios psicomentais e a rigidez muscular e corporal. Como um dos mais controversos
discípulos de Freud, alicerçou sua tese em diversas teorias psicanalíticas em desenvolvimento
na época, assim como propôs suas ideias a fim de preencher algumas lacunas que observara
com o trabalho da psicanálise freudiana, como a inconsistência do método da associação livre
como carro chefe na transferência com o paciente.
A fim de compreender as influências do projeto científico e terapêutico reichianos, faz
se necessário, inclusive, considerar o contexto histórico em que esta figura se inseriu no
percurso de sua vida. Reich presenciou e participou ativamente do conturbado período da
Primeira Guerra Mundial, tal como o período entre guerras e a ascensão dos governos
autoritários europeus, inspirando seus estudos sobre o fascismo e seu interesse pelas teorias
marxistas, também em evolução naquele tempo.
Por consequência, na trajetória de suas mais de 15 obras escritas, Reich foi
acompanhado de severas críticas e refutações: pensadores da psicologia, do marxismo, da
física, da biologia e da medicina não mediram esforços na tentativa de negar as ideias do
autor, que, apesar dos conflitos, persistiu com seu trabalho até o fim de sua vida. Ademais,
mesmo com todas as controvérsias, sua teoria serviu de inspiração para o surgimento de novas
vertentes do saber psicológico. Evoluções de suas ideias surgiram tanto de seus discípulos
quanto de diversos campos fora da psicologia, evidenciando que as propostas do psiquiatra,
apesar de sua radicalidade, serviram como contribuição para muitas teorias posteriores e
atuais.
Portanto, a dissertação traz como objetivo contextualizar a vegetoterapia
caracteroanalítica visionada por Wilhelm Reich, um personagem da psicologia que, apesar de
imensamente controverso, pôs em pauta uma nova discussão no âmbito terapêutico, com
propostas muito a frente de seu tempo. Para isso, expomos um breve resumo de sua biografia,
a fim de compreender como a vida do teórico relaciona-se com seu trabalho, assim como as
bases para tal. Em sequência, buscamos simplificar os conceitos e fundamentos da terapia
reichiana, apresentar sua proposta de metodologia clínica e abordar uma de suas principais
teorias no âmbito da física, a descoberta de energia orgônica. Por fim, apresentamos algumas
evoluções de suas ideias, por meio do estudo de autores pós e neo-reichianos, teorias que
renovaram os saberes apresentados por seu antecessor.
2. BIOGRAFIA

Nascido em 1897, Wilhelm Reich cresceu para se tornar uma das figuras mais
polêmicas da história da psicanálise. Após o suicídio de sua mãe e o falecimento de seu pai
para a tuberculose, Reich cuidou da fazenda da família até 1914, quando as tropas russas
invadiram a região da Bukovina e o forçaram a fugir de sua terra natal junto com seus irmãos.
No ano seguinte, se juntou ao Exército Austro-Húngaro durante a Primeira Guerra Mundial,
no qual serviu como tenente até 1918. Após o fim da guerra, Reich adentrou o curso de
medicina na Universidade de Viena, onde nasceria a base para suas teorias futuras.

2.1 1919-1930

Em 1919 conheceu Sigmund Freud durante um seminário sobre sexologia e, mesmo


ainda sendo um estudante, conseguiu se tornar membro da Associação Psicanalítica de Viena
em 1920. Reich se formou em 1922 e começou seus trabalhos na Policlínica Psicanalítica de
Freud em Viena, que oferecia análises gratuitas ou com custo reduzido, o que o introduziu a
pacientes de classes mais baixas da sociedade ‒ como fazendeiros e proletários ‒ e suas
neuroses, dificilmente acessadas por clínicas comuns pois esses indivíduos eram
diagnosticados como “psicopatas” devido à ações autodestrutivas e personalidades
antissociais que desenvolviam e acabavam sendo ignorados pela sociedade por receberem o
valor negativo de “maléficos” (SHARAF, 1983, p. 67). Esse contato desenvolveu ainda mais
seu interesse nas causas sociais e econômicas do sofrimento psicológico ‒ que seria de
extrema importância para os estudos políticos de Reich ‒ e foi a base para o primeiro livro do
teórico: “The Impulsive Character: A Psychoanalytic Study of the Pathology of the Self
(1925)”.
A partir de 1924, Reich elaborou o conceito de “Potência Orgástica”, no qual
descreveu o orgasmo como a forma de liberar uma energia que se acumula naturalmente no
corpo e que, caso não seja corretamente exalada ou esteja reprimida, causa problemas tanto
psicológicos quanto musculares; um artigo do teórico de 1929, no qual ele conectava as
estruturas de caráter com a potência orgástica, mostrou que a nova teoria do psicanalista se
tornaria o objetivo de seus estudos sobre análise do caráter (SHARAF, 1983, p. 178). Reich
contraiu tuberculose em 1927 e foi internado em um sanatório na Suíça onde, de acordo com
Christopher Turner (2011), teve uma crise existencial e política, retornando para Viena alguns
meses depois e presenciando o Massacre de Viena, experiência que ele descreveria como seu
primeiro encontro com a irracionalidade humana. Essa experiência mudou o teórico, que
entrou no Partido Comunista da Áustria no ano seguinte.
No livro “People in Trouble”, de 1953, Wilhelm Reich descreve mais
aprofundadamente seus pensamentos sobre esse evento:

Como se fosse atingido por um golpe, de repente se reconhece a futilidade científica,


a falta de sentido biológico e a nocividade social de pontos de vista e instituições
que até aquele momento pareciam totalmente naturais e evidentes. É um tipo de
experiência escatológica tão frequentemente encontrada de forma patológica em
esquizofrênicos. [...] O que chamamos de “progresso cultural” genuíno nada mais é
do que o resultado de tal percepção. Pestalozzi, Rousseau, Voltaire, Nietzsche e
muitos outros são seus representantes. A diferença entre a experiência de um
esquizofrênico e a iluminação de uma mente criativa forte está no fato de que essa
clareza revolucionária se desenvolve, na prática, através de longos períodos de
tempo, muitas vezes ao longo de séculos. Tal percepção racional inunda a
perspectiva geral das massas durante revoluções sociais [...] (REICH, 1953, p. 7)

Reagindo à experiência possivelmente traumática do massacre, Reich criou o chamado


movimento “Sex-Pol” (German Association for Proletarian Sexual Politics), abrindo seis
clínicas de educação sexual gratuita para a classe trabalhadora, além de uma clínica móvel
que no total buscavam informar e ajudar a população com seus problemas sexuais concretos,
além de trazer a sexualidade como uma temática política relevante (SHARAF, 1983, p. 129).
Em 1929, Reich publicou o artigo “Dialectical Materialism and Psychoanalysis”, no qual
escreve que caso o materialismo dialético de Marx fosse aplicado na psicologia de Freud, a
ligação entre psicanálise e luta de classes seria ainda mais compatível, que foi a temática
central de seus ensaios sobre a Sex-Pol.

2.2 1930-1934

Reich se mudou para Berlim em 1930 onde continuou seus trabalhos e criou a Verlag
für Sexualpolitik, sua editora, que seria de extrema importância nos anos seguintes em que o
Partido Comunista Alemão e o Jornal Internacional de Psicanálise se recusariam a publicar as
obras mais controversas do autor devido ao seu posicionamento controverso sobre sexo na
adolescência exposto em uma conferência e à obra The Sexual Struggle of Youth (1932), que
causaria sua exclusão do partido (SHARAF, 1983, p. 169). Nesse período ele também
escreveu o que é considerada sua obra prima: Análise do Caráter (1933), na qual apresentava
um programa que distanciava a psicanálise de simplesmente análise de sintomas e buscava
reconfigurar a estrutura de caráter neurótico, introduzindo a ideia de “armadura” como uma
relação entre bloqueios emocionais e tensões corporais (CORRINGTON, 2003, p. 133).
Em 1933 Hitler se tornou chanceler da Alemanha e o partido nazista começou a atacar
os textos de Reich, obrigando-o a se mudar para fugir da perseguição que já havia alcançado
diversos de seus amigos. Após garantir sua segurança em Viena, viajou para a Dinamarca,
onde entrou em conflito com o governo e com o partido comunista do país devido a seus
trabalhos com sexualidade juvenil e não teve seu visto renovado. Mudou-se para a Suécia em
sequência e novamente teve problemas com o governo, inclusive com boatos de que ele
estava comandando um bordel com sua esposa, o que fez com que perdesse seu visto
novamente e fosse obrigado a voltar para Dinamarca por um período de tempo usando um
nome falso, até que conseguiu se fixar em Oslo, na Noruega (CORRINGTON, 2003, p. 181)

2.3 1934-1939

Nos cinco anos que passou na Península Escandinava, Reich passou a tentar
estabelecer uma base biológica para sua teoria, desenvolvendo assim a “Fórmula do
Orgasmo” (baseada nos estudos de Friedrich Klaus) e descobrindo o que seria o primeiro
passo para sua pesquisa sobre uma nova forma de energia. Ao observar a degradação de uma
variedade de substâncias ‒ orgânicas e inorgânicas ‒ sob o microscópio, ele percebeu que,
mesmo após processos de isolamento e esterilização dos materiais, surgiam vesículas do
produto “morto” com diversas características similares à de seres vivos, como movimentação
interna, reprodução e alimentação, às quais Reich deu o nome de “bions”: formas de vida
transicionais entre o vivo e o não-vivo (SHARAF, 1983, p. 217-221).
Ao adentrar uma área de pesquisa que o próprio Reich admitia não se sentir
suficientemente preparado e tirar conclusões tão discordantes dos conhecimentos biológicos
da época, as críticas feitas pela comunidade científica norueguesa foram expectáveis. Dentre
refutações de seus estudos e ameaças de cancelar seu visto, mais de cem artigos denunciando
o caso circularam os jornais de Oslo, culminando na permanência do psicanalista na cidade,
porém sem permissão de praticar psicoterapia (SHARAF, 1983, p. 232-233). A campanha
teve um forte impacto na mente de Reich, tornando um profissional sério e aberto à críticas
em um homem isolado, agressivo e paranóico, afastando-se de seus amigos e cultivando
ciúmes fervorosos de sua esposa na época, Elsa Lindenberg, ao ponto de atacar um de seus
colegas de trabalho durante um ensaio (mesmo que o próprio mantivesse diversos casos de
traição com pacientes e outras mulheres nesse período de tempo). Quando Reich recebeu um
convite para emigrar e continuar seus estudos nos Estados Unidos, ela se negou a
acompanhá-lo e pôs um fim no relacionamento entre os dois (SHARAF, 1983, p. 253-255).
2.4 1939-1950

Chegando nos Estados Unidos, sozinho e abalado, Reich focou seus estudos em
aprofundar o conhecimento sobre os bions e suas capacidades energéticas. Ele construiu
Gaiolas de Faraday onde injetava ratos de laboratório com bions e buscava examinar as luzes
e vapores que seriam produzidos. A partir desses experimentos, o teórico criou o conceito de
“Energia Orgônica”: uma energia onipresente, biológica e cósmica, que pode ser observada
principalmente no céu com o uso de um telescópio especial e nos ratos aos quais foram
introduzidos bions (TURNER, 2011, p. 220-221). De acordo com Reich, materiais
não-metálicos como algodão e lã tinham a capacidade de absorver essa energia, enquanto
metálicos como aço e ferro seriam capazes de refleti-la para ambas as direções. A partir disso,
as Gaiolas de Faraday foram modificadas e isoladas, criando os chamados “acumuladores de
orgone”, com os primeiros em tamanho humano sendo criados em 1940 e começando
tratamentos experimentais gratuitos em voluntários portadores de câncer em 1941.
Em novembro de 1942, após ser preso pelo FBI sob alegações de ser um inimigo da
pátria, possivelmente devido aos seus envolvimentos passados com partidos comunistas ou às
suas obras controversas e subversivas (SHARAF, 1983, p. 271-272), Reich comprou uma
fazenda abandonada que reformaria ao longo dos anos para ser seu laboratório principal de
estudos, chamado de “Orgonon”, passando a morar lá a partir de 1950 pois, de acordo com o
próprio Reich: “Eu tenho apenas alguns anos produtivos restantes e devo preservar cada
momento.” (SHARAF, 1983, p. 340, 356).

2.5 1950-1957

Em 1947, a reputação de Reich recebe outro ataque, desta vez na forma de artigos
escritos por Mildred Eddie Brady sob o título de “The New Cult of Sex and Anarchy”, no qual
Mildred desdenhava e atacava toda a teoria orgônica, tendo como alvo não apenas o teórico,
mas a psicanálise como um todo (TURNER, 2011, p. 274). Tais artigos não apenas sujaram
ainda mais seu nome e trabalho, mas também causaram com que a Food and Drugs
Administration (FDA) abrisse uma investigação contra Reich, que se estenderia pelos
próximos 10 anos.
A FDA passou anos investigando o Orgonon e entrevistando colegas, estudantes e
pacientes do psicanalista, questionando sobre os acumuladores, até que em 1954 eles
apresentaram uma liminar de 27 páginas contra Reich na base de que não existiam provas
concretas da existência da energia orgônica e de que os acumuladores estavam sendo
comercializados sob falsas afirmações (SHARAF, 1983, p. 418). Após diversos debates entre
os conhecidos próximos de Reich, ele decidiu não comparecer ao tribunal para fazer sua
defesa, optando portanto por um documento enviado ao juiz da corte que iria lidar com o
caso, na prerrogativa de que uma pesquisa científica não pode ser decidida na justiça.
Entretanto, o documento não possuía valor legal ao considerar a falta à audiência presencial,
fazendo com que Reich perdesse a disputa legal (SHARAF, 1983, p. 420-423).
Com isso, as medidas do FDA entraram em vigor: todos os acumuladores
comercializados deveriam ser destruídos e qualquer obra escrita que tivesse conexões com
energia orgônica seria retirada de circulação. Mesmo com o choque do evento, Reich
continuou seus trabalhos e, durante uma viagem para o Arizona, sem seu conhecimento, um
de seus sócios, Michael Sivert, violou a liminar ao tentar vender um acumulador, o que levou
Reich e Sivert a serem levados para a corte novamente.
Ambos foram considerados culpados e condenados ‒ Reich com dois anos de prisão e
Sivert com um ano e um dia ‒ e foi emitida uma nova ordem contra os trabalhos do teórico:
dessa vez ordenando a destruição de todos os acumuladores restantes e a queima de todas as
obras ligadas à esse material, marcando um dos piores marcos da censura nos Estados Unidos.
Reich morreu na prisão em 1957 após ter todos seus recursos negados e deixando seu último
testamento que estabelecia a transformação do Orgonon no Museu Wilhelm Reich para
preservar o que havia restado de seu legado.
3. TEORIA

3.1 ORIGEM E INFLUÊNCIAS TEÓRICAS

O desenvolvimento da vegetoterapia caracteroanalítica, assim como as demais


propostas de Reich em outros campos, enraíza-se em bases que precedem o autor e até mesmo
que cresceram paralelamente aos construtos reichianos. Em algumas questões, apropria-se
inteiramente dos conceitos dessas outras teorias, em busca de apresentar evoluções para estas
ideias, como no marxismo, ou propunha-se a preencher lacunas anteriormente ignoradas pelas
mesmas, tal como procurou realizar com a psicanálise.
Como discípulo de Freud, Reich fundamenta seus conceitos a partir, principalmente,
das teorias de repressão e recalque psicanalíticas. Em seu livro Análise do Caráter, de 1933,
Reich propõe evoluções à abordagem freudiana, e baseia seus principais construtos em cima
delas (os conceitos de caráter e couraça caracterológica). Como elencado por Rego (2003), o
teórico propõe uma transição de foco da análise por associação livre, baseada no conteúdo da
fala do paciente, para priorizar a forma que o paciente expressava-se como ponto chave da
transferência, uma vez que o primeiro método só passaria a ser eficaz quando o paciente
estivesse livre de resistências. Assim como ressaltado por Reich (1948, p. 151 na ed. bras.)“O
"como", isto é, a forma do comportamento e das comunicações era muito mais importante do
que o que o paciente dizia ao analista. As palavras podem mentir. A expressão nunca mente.”
Dessa forma nascem os conceitos de caráter, estrutura defensiva global do ego, e de couraças
caracterológicas, manifestações da defesa do caráter presentes tanto na psique quanto no
corpo, que deveriam ser dissolvidas no trabalho terapêutico (REGO, 2003).
Os conceitos posteriores de energia vital e energia orgônica também se alicerçam em
construtos psicanalíticos, em especial a teoria da libido, a qual Reich, destoando da maioria
dos analistas pós-reichianos, deu maior importância. O autor tentou incluir no conceito todos
os processos biológicos e psicológicos básicos, apresentando o prazer como o livre
movimento dessa energia psíquica (real e mensurável), do âmago do organismo à periferia
externa, e a ansiedade como contrapartida à este fluxo, afastando a energia da liberação para o
mundo externo.
Baseado nisso, Reich propõe a terapia “como um processo cujo propósito é permitir o
livre fluxo de energia por todo o corpo, pela dissolução sistemática dos blocos da couraça
muscular.” (FADIMAN, FRAGER, 1986, p. 91). Assim, a abordagem clínica nomeada como
análise do caráter visa como objetivo intervir diretamente nas couraças, que bloqueiam o
fluxo de energia, através de uma metodologia voltada para as resistências somáticas no
próprio corpo do paciente (REGO, 2003).
Devido à sua ativa participação na política, muitos dos temas de interesse de Reich
surgiram a partir de lentes do marxismo, ideologia em ascensão na época, levando ao seu
envolvimento no próprio Partido Comunista Alemão (PCA). O teórico afirmava considerar a
psicanálise uma ciência materialista inerentemente, por lidar diretamente com necessidades e
experiências humanas reais, como os conflitos psíquicos, que possuem uma relação
fundamentalmente dialética com suas resoluções. Devido à essas influências, Reich busca
desenvolver uma análise das raízes da ideologia no caráter do indivíduo, em seu livro
Psicologia de Massa do Fascismo, de 1933, e observa os efeitos do autoritarismo na formação
do caráter de crianças que crescem com a ascensão do regime Nazista alemão (FADIMAN,
FRAGER, 1986).
Também destacamos suas ideias revolucionárias a respeito da sexualidade humana e
sua abordagem na medicina: Reich era um advogado de políticas sexuais muito a frente de seu
tempo, até mesmo dentro do próprio partido no qual participava. Por meio de sua principal
atividade no PCA, as clínicas de higiene sexual, o psicólogo defendeu uma série de liberdades
sexuais, como o direito ao controle de natalidade, por meio de anticoncepcionais e abolição
das proibições em relação ao aborto, promoção de educação sexual pela prevenção de ISTs e
treinamento médico extensivo a respeito de higiene sexual, entre outras medidas (FADIMAN,
FRAGER, 1986). No entanto, suas propostas sofreram com os tabus e noções retrógradas de
sua época, nunca sendo totalmente aceitas pelas autoridades partidárias.

3.2 FUNDAMENTOS DA VEGETOTERAPIA CARACTEROANALÍTICA

3.2.1 Caráter

O caráter é um conceito colocado em pauta inicialmente por Freud, em seu texto de


1908, Caráter e Erotismo Anal, mas que é posteriormente mais elaborado para se tornar um
construto na teoria reichiana. Caráter, portanto, segundo Reich, é o conjunto de padrões
consistentes de comportamento cotidiano do indivíduo, e se manifesta em atitudes
conscientes, postura, forma de gesticulação e hábitos de movimentação corporal em geral
(FADIMAN, FRAGER, 1986). A partir desse conceito, que o autor fundamenta no livro
Análise do Caráter, de 1933, Reich propõe uma mudança de foco na psicanálise, tratando
pacientes colocando a natureza do caráter como ponto central da interpretação do analista,
substituindo a análise exclusiva da fala (REGO, 2003).

3.2.2 Couraça Caracterológica

A couraça surge do conceito de repressão e resistência, bases psicanalíticas, e


elabora-se como a primeira forma de repressão dos impulsos sexuais infantis pelo medo de
punição. Conforme essas defesas do ego se desenvolvem e tornam-se cronicamente ativadas,
tornam-se traços de caráter, ou couraça caracterológica. Couraça, portanto, representa a soma
de todas as forças de defesa repressoras organizadas no ego, que possibilita enrijecer sua
formação na psique e torná-la aceitável pelo mesmo (FADIMAN, FRAGER, 1986).
Assim, com a racionalização das couraças, o indivíduo passa a desenvolver não só
rigidez psíquica, como também rigidez somática: cada atitude do caráter tem uma atitude
física correspondente. As couraças psíquicas, portanto, são equivalentes às físicas, se
substituem, mas não se separam, e representam funções equivalentes na psique. Reich
diferencia sua teoria da psicanálise ao afastar o conceito de traços de caráter de sintomas
neuróticos. O último, conceito psicanalítico, apresenta a ideia que sintomas neuróticos são
experienciados como externos e estranhos ao indivíduo, enquanto o primeiro, traços de caráter
neurótico, integra-se na personalidade do indivíduo, por ser experimentado como parte do
autoconceito individual (FADIMAN, FRAGER, 1986). Por consequência, o encouraçamento
do caráter passa a produzir sintomas, uma vez que é sustentado pelo acúmulo de energia
vegetativa, cujo fluxo é bloqueado (REGO, 2003).
Reich busca, na psicoterapia, dissolver gradualmente os sete segmentos de couraça:
ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico. O trabalho no relaxamento
das couraças se dava principalmente pela análise detalhada da postura e hábitos do paciente,
trazendo eles à consciência, e incentivando a eliciação de emoções reprimidas em cada
segmento de couraça, que acabam por bloquear uma das três excitações biológicas: ansiedade,
raiva ou excitação sexual. A prática evolui de eliciações para o trabalho direto com o corpo,
com o toque direto na musculatura enrijecida em cada segmento (FADIMAN, FRAGER,
1986).

3.2.3 Bioenergia
A ideia de bioenergia ou energia vital encontra suas raízes na teoria libidinal de Freud,
da qual Reich resgata, em especial, os efeitos do acúmulo de energia na constituição de
sintomas neuróticos no paciente, e o coloca como fator determinante no trabalho de estruturas
neuróticas (ALBERTINI, 2015). Por meio de seu trabalho sobre dissolução de couraça, o
autor elabora que as sensações físicas decorrentes da perda de rigidez muscular são devido à
movimentação dessa energia vital, que por anteriormente estar em situação de inércia, se torna
energia vegetativa, fonte energética de sintomas (FADIMAN, FRAGER, 1986).
Assim, a liberação de energia vegetativa se torna essencial para o processo de
excitação sexual e orgasmo, cujo processo Reich nomeia fórmula do orgasmo, característico
de todos os organismos. O fenômeno segue quatro partes: tensão mecânica, órgãos sexuais se
enchem de fluido; carga bioenergética, que produz intensa excitação; descarga bioenergética,
descarregamento dessa excitação por meio de prazerosas contrações musculares; e, por fim,
relaxamento mecânico, a satisfação plena (FADIMAN, FRAGER, 1986).

3.2.4 Caráter Genital e Potência Orgástica

O conceito inicia com Freud, como indicação do último estágio de desenvolvimento


psicossexual; Com Reich, o caráter genital representa o indivíduo que atinge o que o autor
chama de potência orgástica. Seu desenvolvimento ocorre com a renúncia das couraças,
adquirindo a capacidade de descarregar a excitação sexual reprimida plenamente, livre de
inibições. Dessa forma, o indivíduo sofre uma mudança drástica e espontânea no seu
funcionamento, seu movimento se torna livre e desinibido, e passa a seguir suas próprias
inclinações morais. Surge, portanto, um indivíduo auto-regulado, cujo Id e Superego (que se
torna “sexo-afirmativo”) entram em harmonia, com capacidade de experimentar livremente o
orgasmo sexual (FADIMAN, FRAGER, 1986).

3.2.5 Energia Orgônica

Reich desperta interesse no estudo físico da energia, e por meio de pesquisas


experimentais, chega à descoberta do que ele chama de Energia Orgônica. O conceito deriva
de uma junção das palavras organismo e orgasmo, e constitui uma energia biológica
específica, que governa o organismo e expressa-se nas emoções e movimentos, mensurável
por meio de experimentos.
Entretanto, os experimentos administrados por Reich com o acúmulo de energia
orgone causam imenso repúdio pela comunidade científica, por suas numerosas falhas
experimentais, e em especial por sua contradição à conceitos pré reconhecidos pela física. Em
pesquisa laboratorial, foram elencadas as seguintes propriedades para a energia orgônica: livre
de massa, inércia e peso; presente em todo o universo, inclusive no vácuo; substrato de grande
maioria dos fenômenos naturais, como atividade eletromagnética e gravitacional; e ambientes
com alta concentração de energia orgônica atraem energia de ambientes menos concentrados,
propriedade que vai contra a lei da entropia física (FADIMAN, FRAGER, 1986).

3.3 PRÁTICA CLÍNICA REICHIANA

A vegetoterapia caracteroanalítica busca possibilitar ao paciente atingir o caráter


genital, por meio do trabalho de dissolução gradual de cada um dos sete segmentos de couraça
física e psicológica, desenvolvendo a potência orgástica. Essa plena entrega genital, traz, com
o fluxo livre de energia, a capacidade de orgasmo pleno e satisfatório, junto com a
reconsolidação de memórias da infância, estranhamento da moralidade do mundo externo, e a
busca mais consciente pelos seus próprios desejos, sem inibição (FADIMAN, FRAGER,
1986).
O processo terapêutico considera dois obstáculos no trabalho do analista: a couraça
caracterológica e a repressão sexual. As couraças, como já elaborado, causam tensão muscular
e a incapacidade de expressar emoções de fato pelo bloqueio do fluxo energético causado
pelas mesmas. Em outra instância, a repressão sexual como empecilho é uma retomada da
ideia freudiana de repressão e recalque. Reich busca desse conceito os prejuízos que a
repressão social e cultural da sexualidade humana causam em cada uma das principais fases
da vida, como elencadas por Fadiman e Frager (1986, p. 99):
- INFÂNCIA: surgem os primeiros mecanismos de repressão, em especial pelo
ambiente familiar, que é inerentemente neurótico;
- PUBERDADE: repressão social impede o adolescente de atingir vida sexual real,
mantendo a ligação infantil com o ambiente neurótico familiar;
- IDADE ADULTA: a cultura do casamento não reflete nas necessidades sexuais reais
do casal, uma vez que há manutenção de uma infelicidade por demanda de condições
econômicas, repetindo o ambiente neurótico experienciado na infância;
Assim, por fatores sociais e culturais, o homem desenvolve medo do prazer,
representado pelas couraças musculares. Portanto, é por meio da dissolução gradual dos
segmentos encouraçados que a civilização pode atingir um estado de harmonia com a natureza
humana: um processo que trabalha do segmento ocular até o pélvico por meio de abordagens
diretamente relacionadas com o corpo (FADIMAN, FRAGER, 1986).
Em cada segmento de couraça, diferentes técnicas de eliciação emocional e
movimentação eram empregadas, como as elaboradas por Fadiman e Frager (1986, p. 97-98):
- OCULAR: abrir bem os olhos, simular expressão de medo ou surpresa, emoções que
mobilizem pálpebras e testa;
- ORAL: chorar, produzir sons para mobilizar a mandíbula, morder, vomitar, gritar;
- CERVICAL: não pode ser pressionado, é dissolvido apenas por eliciação emocional,
como gritar, berrar, vomitar;
- TORÁCICO: trabalho de respiração profunda, estimular movimentação violenta dos
membros superiores, como bater;
- DIAFRAGMÁTICO: dissolução depende da libertação das 4 couraças anteriores -
dissolve-se com respiração profunda e vômito;
- ABDOMINAL: dissolução simples, movimentação e toque;
- PÉLVICO: dissolução mais importante, depende da libertação de todos os outros
segmentos - dissolve-se com a movimentação dos membros inferiores e mobilização
dos músculos pélvicos;
Dessa maneira, o paciente é “curado”, por meio de técnicas de eliciação, toque e
respiração profunda, atingindo o estado de caráter genital e total desencouraçamento.

3.4 RECEPÇÃO CRÍTICA

Wilhelm Reich, apesar de pioneiro nas psicologias corporais, obteve menor aceitação
que outros trabalhos inspirados em suas ideias. Durante sua produção e prática, o autor foi
perseguido por diversas críticas bastante severas a suas obras e trabalhos experimentais, não
recebendo boa recepção não só no campo da psicologia, mas como também em outras áreas
científicas como a física e a biologia.
Uma das críticas mais apontadas era a estimulação de descarga emocional, uma
abordagem que Leonard Berkowitz (1973), conforme citado por Fadiman e Frager (1986, p.
103), nomeia de “abordagem ventilacionista”, que Berkowitz afirma promover mais
expressão de emoções e comportamentos indesejáveis, como agressividade e hostilidade.
Com base na teoria comportamental, estimular a expressão dessas emoções contidas poderia
reforçar a repetição desse tipo de comportamento prejudicial no futuro. No entanto, Fadiman e
Frager, defendem que tais críticas não compreendem a visão de Reich:

Estas críticas representam uma compreensão pouco profunda do trabalho de Reich,


no qual a liberação emocional nunca é simplesmente estimulada como uma
finalidade em si mesma. Pode ser verdade que a descarga de emoções intensas leve a
um aumento de sua expressão [...]. Entretanto, sua ênfase estava sempre na
dissolução da couraça, dos bloqueios dos sentimentos que distorcem o
funcionamento psicológico e físico de um indivíduo. (FADIMAN, FRAGER, 1986,
p. 103)

Outra crítica popular das teorias reichianas foi o caráter de “produto final” que
representava o caráter genital e a potência orgástica como a cura, o estado ideal que o paciente
deveria atingir. Kelley (1971), citado por Fadiman e Frager (1986, p. 103), critica essa ideia
que, após curado, o indivíduo “não precisa de crescimento ou desenvolvimento posteriores”.
Adjacente a esta, Reich também é criticado por perpetuar o modelo médico de “paciente que
precisa ser curado”, reforçando a posição do terapeuta como indivíduo totalmente sadio, e
portanto, colocados num papel mais ativo em relação ao paciente, em posição de
superioridade (FADIMAN, FRAGER, 1986). Essa ideia torna-se alvo de críticas até mesmo
muito depois das intervenções propostas por Reich, como é explicitado pelo psicoterapeuta
brasileiro José Ângelo Gaiarsa, que aponta em entrevista:

A nossa psicologia é uma mentira de alto a baixo, nesse sentido específico. O


terapeuta não tem problemas, ou pior, se ele tem, vai resolvê-lo com o de cima,
nunca com o interessado. [...] Isso é a própria essência do autoritarismo,
compreende? Só os de cima têm autoridade, os de baixo não. Isso é muito ruim na
nossa psicologia [...] (GAIARSA, 2006, p. 271)

Gaiarsa ainda defende que, apesar de aparentar aproximar o paciente do terapeuta por
meio do toque, Reich mantém esse abismo de relação da mesma maneira:

Reich negou a interação. [...] É que se você começa a mexer numa pessoa com
cuidado, você começa a estabelecer com ela elos emocionais muito importantes. [...]
Mas não pode. Então se repete a desigualdade: eu mexo em você, mas você não
mexe em mim. Pior ainda! Eu mexo ‘com’ você, mas, você não mexe ‘comigo’.
Essa negação que Reich continuou. [...] Se você começa a tocar com jeito, você
muda o caráter [...]. E é isso que o Reich tentou evitar, dizendo: “Olha, eu sou o
psiquiatra e você é o neurótico. Não me contamine”. (GAIARSA, 2006, p. 272)

Por fim, outros críticos também defendiam que a libertação de bloqueios excessivos
das emoções é apenas um de vários aspectos no crescimento do ser humano. As couraças,
portanto, não deveriam ser completamente dissolvidas para algumas situações, porque o
autocontrole e a capacidade do homem de controlar seu comportamento é essencial para
dirigir sua vida aos seus objetivos. Assim, o indivíduo não deve se tornar completamente
desencouraçado: deve aprender a equilibrar o autocontrole e a livre expressão (FADIMAN,
FRAGER, 1986).
4 TERAPIAS PÓS-REICHIANAS

4.1 ANÁLISE BIOENERGÉTICA

Desenvolvida por Alexander Lowen e conhecida como “Terapia Neo-Reichiana”


(visto que a técnica utilizada é muito similar à de Reich, com apenas algumas contribuições e
modificações feitas por Lowen), a Análise Bioenergética tem como base a ligação entre mente
e corpo, unindo processos terapêuticos psicológicos, corporais e relacionais para alcançar uma
melhor qualidade de vida. Ela ajuda a liberar tensões musculares e a encontrar melhores
maneiras de se relacionar com os outros, permitindo que o indivíduo melhore. O terapeuta
precisa observar e interpretar a linguagem corporal de seu paciente, ressoando com sua
energia e identificando seu estado, para então aplicar técnicas que abordem os diversos
aspectos de sua relação consigo mesmo, incluindo sua autopercepção, autoexpressão e
autodomínio.
Nas palavras do próprio Lowen: “A Análise Bioenergética se apoia no conceito
simples de que cada pessoa é seu corpo. Nenhuma pessoa existe fora de seu corpo, por meio
do qual se expressa e se relaciona com o mundo ao seu redor. Se você é seu corpo e seu corpo
é você, ele expressa quem você é. É a sua maneira de estar no mundo.”

4.2 BIOSSÍNTESE

Biossíntese é uma vertente da psicoterapia que também envolve movimentação de


energias, porém visando quebrar as barreiras que a mente cria (tal qual as armaduras de
Reich) para alcançar seu “Âmago” ou “Essência”, iniciando o contato do paciente com o Self.
Fundada por David Boadella, essa terapia utiliza de um diagrama de compreensão dos
“Campos de Experiência na Vida” para guiar o terapeuta (Figura 1), que pode ser lido de
diversas maneiras.
Figura 1 ‒ Exemplo do Diagrama de Campos de Experiência na Vida

Fonte: www.nellybodely.com/biosntese

Separando o diagrama entre as camadas circulares, tem-se a camada mais externa, que
representa as barreiras a serem superadas, a camada mediana, que contém as qualidades do
indivíduo a serem liberadas, e o centro, onde se encontra a essência que a terapia tenta
alcançar. Ao ser observado por camadas horizontais, o diagrama se divide novamente em três
partes: as frações 1 e 2 sendo relativas ao corpo físico, as 3 e 4 conectando ao âmbito
emocional e as 5 e 6 representando valores ligados à mente e ao imaginário. Por fim, sendo
dividido verticalmente ao meio, o lado esquerdo contém a parte interpessoal do diagrama,
onde estão as frações que envolvem a interação do indivíduo com o meio externo e as outras
pessoas, enquanto o lado direito aborda o intrapessoal, contendo as frações sobre suas
personalidade e imaginário.
Por meio do trabalho terapêutico em cada uma das áreas do diagrama, integrando as
diversas dimensões corporais, emocionais, mentais e espirituais do ser humano, a Biossíntese
busca possibilitar o redirecionamento das energias à aproximação do Âmago. Para que isso se
concretize, um corpo são, uma personalidade integrada e uma crença clara são essenciais na
busca do indivíduo por harmonia consigo mesmo (LUCKESI, 2016).

4.3 SOMATERAPIA
Fundada no Brasil por Roberto Freire e João da Mata no início dos anos 70, a
Somaterapia é um processo terapêutico-pedagógico que visa a libertação dos pacientes a partir
do exercício de suas individualidades e originalidades em situações de grupo, utilizando da
expressão corporal e da ludoterapia para desenvolver a criatividade do indivíduo. Além de
Reich, a Somaterapia também usa da Gestalt de Perls e da Antipsiquiatria de Cooper como
base, sendo composta por exercícios corporais e um estudo crítico do comportamento dos
participantes, construindo assim espaços de auto descoberta e liberdade.
De acordo com a teoria, desenvolvida durante o momento da Ditadura Militar no
Brasil, o indivíduo que é livre, é mais feliz, o que o permite perceber as amarras do
autoritarismo e age a favor de si mesmo e da comunidade, indo contra o sistema autoritário
que o rege, sendo esse o propósito final da Somaterapia:

"Lutamos porque estamos por demais amarrados, porque vivemos em condições de


escravidão econômica e de inibição. Enquanto não forem soltas nossas amarras, não
poderá triunfar finalmente o desejo de criação sobre o desejo de destruição."
(FREIRE, 1991, p. 53)
5 CONCLUSÃO

Através da pesquisa aprofundada sobre a vida e obra de Wilhelm Reich, assim como
durante a redação do presente papel, não pudemos deixar de notar a perseverança e a
dedicação que o autor teve por seu trabalho por toda sua trajetória. Apesar das constantes e
severas críticas às suas ideias, participações negadas em eventos, rejeição em instituições, e
obstáculos em suas pesquisas, Reich manteve-se empenhado em difundir sua teoria e utilizar
da sua abordagem para tentar ajudar quem estivesse disposto a receber sua ajuda
Como pai das psicologias corporais, ele revolucionou o campo da psicanálise na época
com uma nova proposta de metodologia, divergência teórica que o proporciona imensas
controvérsias com a comunidade psicanalítica e científica, mas que posteriormente se torna
alicerce para novas formas de fazer psicologia, e para diversas ramificações em campos
bastante diferentes de suas origens. Isso ocorre devido à consistente e compreensível
aplicabilidade prática que a teoria, aparentemente complexa, desenvolve para o terapeuta.
Portanto, finalizamos este trabalho intrigados pelas ideias de Wilhelm Reich, um autor
por vezes controverso, mas que não deixa de trazer imensuráveis contribuições para a
psicologia hoje. Inspiramo-nos pela dedicação que o mesmo manteve por sua obra por toda
sua vida, e acreditamos que as críticas sobre seu trabalho também sirvam de aprendizagem
para olharmos os saberes da psicologia com outras lentes. Certamente, conhecer um pouco
das propostas à frente de seu tempo deste polêmico autor já é, por si, uma contribuição que
Reich deixa para nós por meio de seus escritos.
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Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade) -
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/livredocencia/47/tde-19052017-163042/publico/a
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LEMOS, Nartan. Terapias Neo-Reichianas/Bioenergética, Nartan Lemos De Corpo e Alma,


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LUCKESI, Cipriano Carlos. Biossíntese: Uma Psicoterapia Iniciática, Instituto Brasileiro de


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