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REICH NA PSICANÁLISE

Em termos históricos como já vimos, Wilhelm Reich foi aceito como membro da
Sociedade Psicanalítica de Viena em 1920 com 23 anos de idade. Nessa organização
elaborou a técnica da Análise do Caráter, formulou a Teoria do Orgasmo, escreveu
trabalhos endereçados à educação de crianças e adolescentes e, sem o apoio de Freud,
propôs uma articulação conceitual entre a psicanálise e o marxismo.

Em 1934, em função de divergências políticas e teóricas, acabou sendo expulso da


Associação Psicanalítica Internacional e passou a trilhar um caminho independente, o que
resultou em novas produções científicas, ainda assim não abandou os conceitos teóricos
psicanalíticos. Reich foi um revolucionário ao se aprofundar na sexualidade humana e
nas desordens sexuais.

Nessa época, Freud já havia desenvolvido sua teoria sobre a neurose e atribuído sua
origem à repressão sexual. Reich levou o conceito além e propôs que a repressão se dava
não apenas no plano psíquico, mas também no físico.
Ele acreditava que o corpo respondia à repressão gerando tensão muscular, o que, com
o passar do tempo, se traduzia em dores crônicas e doenças. Dizia que era uma
"armadura" ou uma "couraça" que moldava o físico e o caráter do indivíduo e
determinava como essa pessoa encarava sua existência.

O conceito despertou interesse, mas Reich propunha uma solução radical para o
problema: a repressão deveria ser combatida não apenas verbalmente, como ensinava
Freud, mas também fisicamente. Com esse objetivo, desenvolveu uma terapia que
rompeu com uma das doutrinas básicas da psicanálise: a neutralidade entre o profissional
e seu paciente, sabemos que hoje o psicanalista atua com outra postura, como pode-se
observar nas próprias leituras de obras de Klein, Lacan e outros. O que sugere que nós
psicanalistas possamos utilizar complementar a um tratamento, a terapia reichiana.
REICH E A VEGETOTERAPIA (A SEGUNDA TÉCNICA)

Batizada de vegetoterapia, o método consistia em realizar massagens em seus pacientes


seminus para dissolver o que Reich chamou de "armadura muscular" ou "armadura de
caráter". Infelizmente a sociedade não estava preparada para tal abordagem, e isso gerou
um escândalo, e alguns de seus ex-pacientes até mesmo denunciaram que as massagens
feitas em todas as partes do corpo onde o terapeuta dizia detectar tensão equivaliam a
uma forma de abuso, não durou muito essa abordagem.

Não foram apenas as massagens que geraram controvérsia: havia a teoria por trás delas.
O objetivo da vegetoterapia era liberar a energia sexual reprimida, que, segundo Reich,
era a causa de muitos dos males da sociedade, incluindo o nazismo.

Ele acreditava que a armadura corporal impedia a pessoa de alcançar um orgasmo


completo e, por isso, não conseguia livrar-se de suas repressões. Reich escreveu que,
quando uma sessão era bem-sucedida, podia ver ondas de prazer atravessando o corpo
do paciente, o que chamou de "reflexo orgásmico".

Mas a principal forma de liberação de energia reprimida proposta por ele eram as
relações sexuais, que permitiriam a uma pessoa se tornar livre - isso transformaria
sociedades e o mundo. Com esse propósito, criou várias clínicas sexuais e advogou pelo
sexo, inclusive entre adolescentes. É obvio que causou muita polêmica, pois falar em sexo
sempre foi um grande tabu na sociedade, e ainda é até hoje.
REICH E A ORGONOTERAPIA (A TERCEIRA TÉCNICA) – (PSICO) TERAPIA REICHIANA

Após ter adquirido uma razoável experiência clínica, Reich fundamentou ainda mais suas
ideias sobre a “potência orgástica” em obra escrita em 1926 e publicada no ano seguinte (Die
Funktion des Orgasmus - “A função do orgasmo”).

A potência orgástica foi então definida “fenomenologicamente” como a “aptidão de a


personalidade e os afetos estarem completamente absorvidos ela experiência genital, apesar
de eventuais conflitos pessoais” (REICH, 1927/1980b, p.15).

Em sua autobiografia científica de 1942 — “The function of th e orgasm” — ele relembrou


que um importante aspecto da potência orgástica dizia respeito à possibilidade de o indivíduo,
na experiência sexual, “entregar-se ao fluxo da energia biológica sem quaisquer inibições.”
(REICH, 1942/1989, p. 102).

Em 1939, perseguido pelo nazismo, Reich fugiu para os Estados Unidos com ajuda de um
amigo, onde começou uma nova etapa de sua carreira que atrairia ainda mais críticas e
ceticismo da comunidade científica.
Reich queria comprovar que sua teoria sobre o orgasmo tinha uma base biológica. Para
isso, investigou se o conceito freudiano de libido tinha relação com eletricidade ou
alguma substância química que atravessava o corpo (uma teoria que o próprio Freud
sugeriu e logo abandonou em torno de 1890).
Pouco depois de chegar à Nova York, anunciou que havia descoberto uma forma de
energia vital que era liberada durante o orgasmo e anunciou o nascimento de uma nova
ciência: a orgonomia.
Essa forma de energia foi chamada por ele de "orgone" (derivado de "orgasmo" e
"organismo"), descrito por ele como de cor azul, por meio de um microscópio e no céu,
com um telescópio especial criado por ele, o organoscópio.
Segundo Reich, o orgone estava por todos os lados e era a mesma energia espiritual que
outros chamavam de Deus. Reich acreditava que, quando essa energia estancava ou
diminuía, causava decadência, enfermidade e morte.
Por isso, a partir de 1940, ele começou a desenvolver "acumuladores de orgone": caixas
ou cápsulas que atuariam como bloqueadores de campos eletromagnéticos, permitindo
que dentro do espaço se concentrasse a "energia orgônica".
A pessoa deveria entrar no acumulador, idealmente nua, e permanecer ali pelo maior
tempo possível para obter benefícios que, segundo Reich, incluíam curar o câncer.
Os curiosos objetos começaram a atrair interesse, e a imprensa não tardou em
ridicularizar o austríaco, chamando seus inventos de "caixas sexuais".
Para demonstrar que sua descoberta era rigorosa cientificamente, Reich conseguiu que
o renomado físico alemão Albert Einstein (1879-1955) pusesse seus inventos à prova. Em
13 de janeiro de 1941, ele levou um pequeno acumulador para Einstein, que o investigou
por dez dias em seu sótão.

REFERÊNCIAS
Albertini, P (2016). Na Psicanalise de Wilhelm Reich. São Paulo: Zagodoni.
Dadoun, R. (1991). Cem flores para Wilhelm Reich (R. E. F. Frias, trad.). São Paulo:
Moraes.
Freud, S. (1976). Moral sexual ¿civilizada' e doença nervosa moderna. In S. Freud,
Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J.
Salomão, trad., vol. 9, pp. 187-208). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado
em 1908).
Reich, W. (1974). Psicologia de massa do fascismo (J. S. Dias, trad.). Porto, Portugal:
Publicações Escorpião. (Trabalho original publicado em 1933).
Reich, W. (1974). Escuta, Zé Ninguém! (3a ed., M. de F. Bivar, trad.). Lisboa/Santos:
Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1948).
Reich, W. (1978). A função do orgasmo: Problemas econômico-sexuais da energia
biológica (M. G. Novak, trad.). São Paulo: Brasiliense. (Trabalho original publicado em
1942).
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Editores. (Trabalho original publicado em 1930, ampliado em 1936).
Reich, W. (1983). Children of the future: on the prevention of sexual pathology (D.
Jordan, I. Jordan & B. Placzek, trads.). New York: Farrar Straus Giroux.
Reich, W. (1995). Análise do caráter (2ª ed. M. L. Branco & M. M. Pecegueiro, trads.).
São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1933, ampliado em 1945 e 1949).
Reich, W. (1996). Paixão de juventude: uma autobiografia 1897-1922. (C. S. Martins &
S. Rios, trads.). São Paulo: Brasiliense.

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