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Em termos históricos como já vimos, Wilhelm Reich foi aceito como membro da
Sociedade Psicanalítica de Viena em 1920 com 23 anos de idade. Nessa organização
elaborou a técnica da Análise do Caráter, formulou a Teoria do Orgasmo, escreveu
trabalhos endereçados à educação de crianças e adolescentes e, sem o apoio de Freud,
propôs uma articulação conceitual entre a psicanálise e o marxismo.
Nessa época, Freud já havia desenvolvido sua teoria sobre a neurose e atribuído sua
origem à repressão sexual. Reich levou o conceito além e propôs que a repressão se dava
não apenas no plano psíquico, mas também no físico.
Ele acreditava que o corpo respondia à repressão gerando tensão muscular, o que, com
o passar do tempo, se traduzia em dores crônicas e doenças. Dizia que era uma
"armadura" ou uma "couraça" que moldava o físico e o caráter do indivíduo e
determinava como essa pessoa encarava sua existência.
O conceito despertou interesse, mas Reich propunha uma solução radical para o
problema: a repressão deveria ser combatida não apenas verbalmente, como ensinava
Freud, mas também fisicamente. Com esse objetivo, desenvolveu uma terapia que
rompeu com uma das doutrinas básicas da psicanálise: a neutralidade entre o profissional
e seu paciente, sabemos que hoje o psicanalista atua com outra postura, como pode-se
observar nas próprias leituras de obras de Klein, Lacan e outros. O que sugere que nós
psicanalistas possamos utilizar complementar a um tratamento, a terapia reichiana.
REICH E A VEGETOTERAPIA (A SEGUNDA TÉCNICA)
Não foram apenas as massagens que geraram controvérsia: havia a teoria por trás delas.
O objetivo da vegetoterapia era liberar a energia sexual reprimida, que, segundo Reich,
era a causa de muitos dos males da sociedade, incluindo o nazismo.
Mas a principal forma de liberação de energia reprimida proposta por ele eram as
relações sexuais, que permitiriam a uma pessoa se tornar livre - isso transformaria
sociedades e o mundo. Com esse propósito, criou várias clínicas sexuais e advogou pelo
sexo, inclusive entre adolescentes. É obvio que causou muita polêmica, pois falar em sexo
sempre foi um grande tabu na sociedade, e ainda é até hoje.
REICH E A ORGONOTERAPIA (A TERCEIRA TÉCNICA) – (PSICO) TERAPIA REICHIANA
Após ter adquirido uma razoável experiência clínica, Reich fundamentou ainda mais suas
ideias sobre a “potência orgástica” em obra escrita em 1926 e publicada no ano seguinte (Die
Funktion des Orgasmus - “A função do orgasmo”).
Em 1939, perseguido pelo nazismo, Reich fugiu para os Estados Unidos com ajuda de um
amigo, onde começou uma nova etapa de sua carreira que atrairia ainda mais críticas e
ceticismo da comunidade científica.
Reich queria comprovar que sua teoria sobre o orgasmo tinha uma base biológica. Para
isso, investigou se o conceito freudiano de libido tinha relação com eletricidade ou
alguma substância química que atravessava o corpo (uma teoria que o próprio Freud
sugeriu e logo abandonou em torno de 1890).
Pouco depois de chegar à Nova York, anunciou que havia descoberto uma forma de
energia vital que era liberada durante o orgasmo e anunciou o nascimento de uma nova
ciência: a orgonomia.
Essa forma de energia foi chamada por ele de "orgone" (derivado de "orgasmo" e
"organismo"), descrito por ele como de cor azul, por meio de um microscópio e no céu,
com um telescópio especial criado por ele, o organoscópio.
Segundo Reich, o orgone estava por todos os lados e era a mesma energia espiritual que
outros chamavam de Deus. Reich acreditava que, quando essa energia estancava ou
diminuía, causava decadência, enfermidade e morte.
Por isso, a partir de 1940, ele começou a desenvolver "acumuladores de orgone": caixas
ou cápsulas que atuariam como bloqueadores de campos eletromagnéticos, permitindo
que dentro do espaço se concentrasse a "energia orgônica".
A pessoa deveria entrar no acumulador, idealmente nua, e permanecer ali pelo maior
tempo possível para obter benefícios que, segundo Reich, incluíam curar o câncer.
Os curiosos objetos começaram a atrair interesse, e a imprensa não tardou em
ridicularizar o austríaco, chamando seus inventos de "caixas sexuais".
Para demonstrar que sua descoberta era rigorosa cientificamente, Reich conseguiu que
o renomado físico alemão Albert Einstein (1879-1955) pusesse seus inventos à prova. Em
13 de janeiro de 1941, ele levou um pequeno acumulador para Einstein, que o investigou
por dez dias em seu sótão.
REFERÊNCIAS
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