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ANÁLISE DOS TOPÔNIMOS DOS MUNICÍPIOS DO BAIXO TOCANTINS

Elisa Valente Cavalcante


Fábio Rodrigues Melo
Jacyara Julyane Capela Lobato
Quéren-Léo da Silva Lima

RESUMO:
Este trabalho foi desenvolvido como requisito do processo de avaliação da
disciplina Filologia Românica, ministrada pela professora dra. Benedita Maria
do Socorro Campos Sousa, com o objetivo de pesquisar, investigar e conceituar
os topônimos escolhidos para nomear os municípios do Baixo Tocantins, bem
como descobrir a motivação por trás de suas nomenclaturas, levando em
consideração os contextos: históricos, culturais e geográficos no qual eles foram
desenvolvidos. Para isso, temos como base de nossa pesquisa contribuições
teóricas de Dick (1990), Lima (2008), Bastiani (2017) e Andrade (2010).
Contamos também com documentos de valor histórico escritos, esses os quais
tornam possíveis os estudos dos topônimos atualmente.

Palavras-chave: Baixo Tocantins; topônimos; município; taxonomia.

1. INTRODUÇÃO
Investigar a língua abrange diversas possibilidades para compreender as
transformações sócio-históricas de determinadas palavras existentes no português, desde
sua origem até os tempos atuais, remontando no passado às suas origens, sua formação e
todas as transformações que essa mesma língua passou levando em consideração sua
evolução através do tempo e do espaço.
É nesse contexto que se define a filologia como uma forma de interpretar e
explicar os textos escritos (LIMA, 2008, p.14). Assim, uma das maneiras de se
recuperar e ter conhecimento de uma língua é por meio de textos antigos e, por isso, a
análise filológica possui grande importância para reconstrução da história.
Para compreender melhor como a língua pode ser investigada sob a perspectiva
histórica, a Toponímia é um termo proveniente do grego, em que topos (τόπος) significa
‘lugar’ e onoma (ὄνοµα) significa ‘nome’, ou seja, a toponímia é a disciplina
responsável por investigar os nomes dos lugares. Logo, essa área de investigação tem
como objeto de estudo os topônimos, isto é, nomes usados para batizar tanto acidentes
geográficos da natureza física quanto acidentes de natureza antropo-cultural. Andrade
(2010) descreve que a toponímia é uma disciplina que:
Estuda os nomes de lugares e designativos geográficos: físicos,
humanos, antrópicos ou culturais. As particularidades da
toponímia são a busca pela etimologia, o caráter semântico da
palavra e suas transformações linguísticas, principalmente os
fonético-fonológicos e as morfológicas. (ANDRADE, 2010,
p.106)

Portanto, de acordo com a afirmação do autor, percebe-se que através dos


estudos toponímicos faz-se possível investigar a proveniência dos topônimos e os seus
significados, levando em consideração seus aspectos motivacionais, visto que são
enunciados linguísticos carregados de significados.
Em vista disso, deve-se salientar a importância dos topônimos para a
humanidade, com a finalidade de conhecer, demarcar e caracterizar os aspectos físicos
que eles designam, tornando-os distintos, possibilitando assim o processo de
conhecimento de aspectos históricos de uma comunidade. Nesse viés, Dick (1990)
evidencia a relevância desse estudo, pois assim são considerados:
[...] importantes fatores de comunicação, permitindo, de modo
plausível, a referência da entidade por eles designada.
Verdadeiros “testemunhos históricos” de fatos e ocorrências
registrados nos mais diversos momentos da vida de uma
população encerram, em si, um valor que transcede ao próprio
ato de nomeação: se a situar-se como crônica de um povo,
gravando ao presente para o conhecimento das gerações futuras,
o topônimo é o instrumento dessa projeção temporal. (DICK,
1990, p. 21-22)

É notório, assim, o valor do papel desempenhado pela toponímia,


especificamente pelo seu objeto de estudo, o topônimo, já que a partir de sua
investigação é possível fazer um resgate da intencionalidade do denominador ao
nomear um lugar, o que acarreta, por consequência, o conhecimento não só das
particularidades das regiões designadas, mas também a identidade do grupo que o
habita.
Partindo destas definições, este artigo tem como objetivo principal realizar
um estudo acerca dos nomes de cidades do Baixo Tocantins, buscando assim o
levantamento de informações sobre a origem e formação de cada município.
Visto que há escassez de pesquisas dessa natureza temática, este trabalho visa
contribuir de forma significativa para que se possa registrar e conhecer a toponímia
presente em nossa microrregião, haja vista que os estudos linguísticos também são
reflexos do lugar no qual pertencemos.
Nesse sentido, espera-se também que este estudo possa despertar o interesse de
outros pesquisadores a fim de possivelmente realizarem outros estudos referentes a esta
temática. Cabe ressaltar que o estudo está pautado nas contribuições teóricas de Dick
(1990), Lima (2008) e Bastiani (2017).

2. TOPÔNIMOS: CONCEITOS E ORIGENS


Como já mencionado anteriormente, a filologia investiga a língua e suas
múltiplas possibilidades para compreender as transformações históricas e sociais de
textos antigos, levando em consideração sua evolução por meio do tempo e do espaço.
Nesse sentido, o estudo de nomes próprios, que cabe a toponímia, é uma das áreas que
abrange possibilidades investigativas.
A toponímia é uma ciência que estuda, investiga e explica o nome próprio dos
lugares levando em consideração: origem, contexto histórico e social, identidade étnica
e cultural, dentre outros fatores. Por isso, é de grande relevância para que se possa
entender todas as influências etimológicas e linguísticas relacionadas aos nomes de
lugares. Paralelemente a isso, para Andrade (2010):
Todo trabalho toponímico constitui um caminho possível para o
conhecimento do modus vivendi e da cosmovisão das
comunidades linguísticas que ocupam um determinado espaço.
É nesse momento que são exteriorizados e evidenciados os
aspectos sociais, religiosos, antropoculturais e organizacionais
política e linguística de um determinado grupo. (ANDRADE,
2010, p. 193).

Isto é, o contexto sócio-histórico de um lugar é capaz de ser influente no âmbito


da perspectiva linguística e, consequentemente, acaba influenciando na escolha dos
nomes dos lugares nos quais estamos inseridos. Logo, é nesse sentido que os estudos
toponímicos são importantes, já que os registros encontrados explicam a origem dos
nomes, com o intuito de que se possa registrar, conhecer e preservar as influências dos
lugares na língua e na cultura de uma comunidade.
Assim, de maneira tradicional, os estudos sobre os topônimos estiveram sempre
relacionados com a teoria criada por Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick,
proposta na década de 1992. A taxionomia proposta por Dick (1992) leva em
consideração as características dos topônimos que são possíveis analisar e os organizar
em categorias de taxes toponímicas, sendo essas subdividas em duas modalidades:
antropoculturais ou físicas.
QUADRO 1: Taxionomias toponímicas de Dick (1990).
NATUREZA FÍSICA NATUREZA ANTROPO-CULTURAL
Astrotopônimos Animotopônimos/ nootopônimos
Cardinotopônimos Antropotopônimos
Cromotopônimos Axiotopônimos
Dimensiotopônimos Coronotopônimos
Fitotopônimos Cronotopônimos
Geomorfotopônimos Dirrematotopônimos
Hidrotopônimos Ecotopônimos
Litotopônimos Ergotopônimos
Meteorotopônimos Etnotopônimos
Morfotopônimos Hierotopônimos
Zootopônimos Hagiotopônimos
Historiotopônimos
Numerotopônimos
Poliotopônimos
Sociotopônimos
Somatotopônimos
Fonte: Dick (1990)

TAXIONOMIAS DA NATUREZA FÍSICA

 ASTROTOPÔNIMOS: Topônimos relativos aos corpos celestes estes em


geral.
Ex: Município de Aurora do Pará.
 CARDINOTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados às posições
geográficas de modo geral.
Ex: Município de Igarapé-Miri, Pará.
 CROMOTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados à escala cromática.
Ex: Preto(s) - Designação de uma ilha no distrito de Curuçambaba.
 DIMENSIOTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados às características
dimensionais dos acidentes geográficos, como extensão, latitude, espessura,
altura e profundidade.
Ex: Porto Grande – Vila localizada no interior da Vila de Mangabeira.
 FITOTOPÔNIMOS: Topônimos de origem vegetal.
Ex: Açaizal – Localizado próximo do município de Baião.
 GEOMORFOTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados às formas
topográficas (Montanha, monte, morro, colina, baixada, portos entre
outros).
Ex: Porto Grande – Vila localizada no interior da Vila de Mangabeira.
 HIDROTOPÔNIMOS: Topônimos decorrentes de acidentes
hidrográficos de modo geral.
Ex: Igarapé do Meio – Localizado no interior de município Mocajuba,
Pará.
 LITOTOPÔNIMOS: Topônimos de caráter mineral, relacionados
à constituição do solo, expostos por sujeitos (barro, pedra, ouro,
cristal).
Ex: Município de Ourém, Pará.
 METEOROTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados a fenômenos
atmosféricos.
 MORFOTOPÔNIMOS: Topônimos que permutam o sentido de
forma geométrica.
 ZOOTOPÔNIMOS: Topônimos de caráter animal, representados
por animais domésticos e não domésticos.
Ex: Ilha do Camaleão – Localizado próximo ao município de
Mocajuba, Pará.

TAXIONOMIAS NATUREZA ANTROPO-CULTURAL


 ANIMOTOPÔNIMOS ou NOOTOPÔNIMOS: topônimos relacionados
à vida psíquica e espiritual.
Ex: Paraíso do Tocantins, Tocantins.
 ANTROPOTOPÔNIMOS: topônimos relacionados a nomes próprios
individuais e de dignidades.
Ex: Vila São Joaquim do Ituquara – Vila localizada no interior de Belém.
 AXIOTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados aos títulos e dignidades.
Ex: Senador José Porfírio - PA – Município localizado perto de Altamira.
 CORONOTOPÔNIMOS: Topônimos relativos aos nomes de cidades,
países, estados, regiões e continentes.
Ex: França – Vila do interior de Baião.
 CRONOTOPÔNIMOS: Topônimos que apresentam indicadores
cronológicos, representados, em Toponímia, pelos adjetivos novo/nova/
velho/velha.
Ex: Novo Repartimento – Município próximo de Tucuruí; Nova Esperança
do Piriá – próximo ao Município do Garrafão do Norte.
 ECOTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados às habitações de modo
geral.
 ERGOTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados aos elementos da cultura
material.
 ETNOTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados aos elementos étnicos,
isolados ou não (castas, povo, tribos).
Ex: Carajás – Município do Estado do Pará.
 DIRREMATOTOPÔNIMOS: Topônimos constituídos por frases ou
enunciados linguística.
 HIEROTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados aos nomes sagrados de
crenças diversas como cristã, hebraica, maometana e outros; á associações
religiosas e locais de cultos.
Essa categoria pode apresentar duas subdivisões:
I. HAGIOTOPÔNIMOS: Topônimos relativos aos nomes de santos e santas do
hagiológio românico. Ex: Vila do Carmo – Vila localizada no interior do
Município de Cametá.
II. MITOTOPÔNIMOS: Topônimos referentes a entidades mitológicas. Ex:
Ajuruteua – Município localizado no Estado do Pará; Abaetetuba –
Município do Estado do Pará.
 HISTORIOTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados aos movimentos de
caráter histórico-social e aos seus componentes, assim como a datas que os
correspondem.
 HODOTOPÔNIMOS (ou Odotopônimos): Topônimo relacionado às vias
de comunicação urbana ou rural. Ex: Passagem Estrela, Pará.
 NUMEROTOPÔNIMOS: Topônimos relacionados a adjetivos numerais.
Ex: Dois Irmãos, Tocantins.
 POLIOTOPÔNIMOS: Topônimos formados pelos vocábulos vila, aldeia,
cidade, povoação, arraial. Ex: Vila Pinto, Pará.
 SOCIOTOPÔNIMOS: Topônimos referentes às atividades profissionais,
aos ambientes de trabalho e aos pontos de encontros dos moradores de tal
comunidade.
 SOMATOTOPÔNIMOS: Topônimos constituídos por relação metafórica
às partes do corpo humano ou de animal.

3. METODOLOGIA
O presente trabalho terá como suporte teórico a distribuição toponímica em
categorias taxionômicas que representam os principais padrões dos topônimos no Baixo
Tocantins, sugerida por Dick (1990) em seu modelo toponímico brasileiro.
 A pesquisa se desenvolve a partir dos nomes de cinco municípios paraenses da
Amazônia tocantinense, sendo eles, respectivamente, Baião, Cametá, Limoeiro do
Ajuru, Mocajuba e Oeiras do Pará.
A partir das necessidades e objetivos do estudo em questão, adaptou-se o modelo
para uma ficha lexicográfico-toponímica que permite agrupar as informações essenciais
de cada topônimo analisado. Essas fichas serão organizadas por ordem alfabética,
considerando os seguintes elementos:
 Topônimo – corresponde ao nome do lugar como consta nos documentos e
mapas;
 Localização - indica a localização do município de acordo com as mesorregiões
do baixo Tocantins;
 Município – indica o município em que está situado o lugar a que se refere o
Topônimo;
 Etimologia - trata da origem e dos possíveis significados dos topônimos;
 Outros Topônimos - nomes anteriores presentes nos documentos consultados,
refletindo a mudança toponímica em momentos diferentes da história do lugar;
 Contexto Histórico - nesse item, apresentam-se as principais informações
contidas no histórico do lugar;
 Taxonomia - apresenta a classificação taxonômica do topônimo a partir das
Categorizações.
QUADRO 2. Ficha lexicográfico-toponímico

Topônimo: Município: 

Localização: 
Estrutura morfológica: 

Etimologia: 

Outros topônimos: 

Contexto histórico: 

Motivação toponímica: 

Mecanismo conceptual: 

Taxionomia: 
Fonte: adaptação própria com base no quadro de Dick (1990).
Para coleta das informações, foram realizadas pesquisas nas legislações
municipais obtidas nas páginas do site da Prefeitura Municipal de cada município
investigado, com o intuito de conhecer a origem/história dos topônimos em questão.

OBJETIVO GERAL:
 Estudar os topônimos existentes no Baixo Tocantins com a finalidade de
enquadrá-los em uma das taxionomias de Dick (1990), assim como
compreender a historicidade presente na construção de suas
denominações.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
 Identificar os significados dos nomes de municípios da Amazônia
tocantinense;
 Identificar as formas dos topônimos e quais as motivações para a sua
criação;
 Distribuir os topônimos em categorias taxionômicas.

4. RESULTADOS E ANÁLISES
Os municípios do Baixo Tocantins abaixo foram escolhidos por base de
finalidade/aproximação e pela quantidade de documentos e informações encontradas.
Nas análises feitas, deve-se abordar as taxionomias, etimologias e o motivo de cada
topônimo ter sido designado de tal forma.
4.1 BAIÃO
O município de Baião, fundado primeiramente como povoado em 1694, segundo
o site da prefeitura, está situado na mesorregião do Baixo Tocantins (Rio que corta a
região) na microrregião de Cametá, podendo ser acessado pela PA-151, BR-422 e pelo
Rio Tocantins. Segundo o DICIO (Dicionário Online de Português), o topônimo Baião
tem sua etimologia constituída em vários aspectos, tais como o regionalismo e a arte, o
ritmo musical, as danças e também como prato típico do Nordeste, o baião de dois. No
entanto, nesse caso, Baião seria um sobrenome utilizado por uma das famílias mais
antigas de Portugal.
O governador e capitão-general do Estado do Maranhão, Antônio de
Albuquerque Coelho de Carvalho, também conhecido como donatário de Camutá que
hoje é conhecida como Cametá, entregou uma vasta sesmaria (terras ‘abandonadas’)
como doação ao português Antônio Baião, com a condição de que povoasse aquele
lugar, impondo também que deveria povoar as margens do rio Tocantins e que
construísse uma casa decente. Tais fatos relatam o surgimento e anos iniciais da cidade.
Além do mais, em 30 de outubro 1769, o capitão-general Fernando da Costa de
Athayde Teive oficializou que, em homenagem ao português Antônio Baião, fundador
do povoado, o atual município fosse intitulado de Baião, encarregando então Manoel
Carlos da Silva, que era o Diretor dos índios, executar essa ordem.
QUADRO 3 – Classificação do topônimo Baião
Topônimo: Baião Município: Baião
Localização: Baião fica localizado na mesorregião do Baixo Tocantins (Rio que
corta a região) na microrregião de Cametá, podendo ser acessado pela PA-151, BR-
422 e pelo Rio Tocantins. A distância da capital paraense pela estrada é em torno de
265 quilômetros e pode ser feita através do Porto Arapari, em Barcarena, ou pela
rodovia Alça Viária. Localiza-se a uma latitude 02º47'26" sul e a uma longitude
49º40'18" oeste, estando a uma altitude de 30 metros. Sua população estimada em
2020 é de 48.459 habitantes. Possui uma área de 3202,399 km².
Etimologia: Baião é um dos sobrenomes mais antigos de Portugal.
Outros topônimos: Sesmaria.
Motivação toponímica: Homenagem ao fundador do povoado, Antônio Baião.
Taxionomia: Antropotopônimos.
Fonte: Elaboração dos autores.

4.2 CAMETÁ

A cidade de Cametá inicia-se com o topônimo de “Viçosa de Santa Cruz de


Camutá”, esse o qual se referia à vila colonial da época. Faz parte da mesorregião do
Nordeste Paraense, banhada pelo rio Tocantins, situando-se como sede principal da
microrregião do chamado Baixo Tocantins, na Amazônia tocantinense. Com uma
história ampla que perdura mais de três séculos, Cametá passou recentemente a
categoria de Patrimônio Histórico Nacional pela Lei de n.º 7537, de 16 de setembro de
1986, graças a sua notável tradição histórica.
Sob a perspectiva histórica do surgimento do município, no ano de 1635, o
administrador colonial português Feliciano Coelho de Carvalho, em nome da coroa
portuguesa, saiu em expedição para localizar novas terras em território brasileiro, a fim
também de combater colonos estrangeiros que ali tentassem conquistar. No período,
estima-se que espanhóis, franceses e holandeses tenham tentado invadir a região.
Dessa forma, Coelho de Carvalho ancorou sua caravela em terra firme da
margem esquerda do rio Tocantins e encontrou a tribo indígena dos Camutás, esses já
catequizados pelo Frei Cristóvão de São José em 24 de dezembro de 1653.
Nesse viés, anos antes, em 1617, o Frei Cristóvão de São José, como já
anteriormente mencionado, juntamente ao Frei Manuel da Piedade e Frei Cosme de São
Damião, religiosos franciscanos, sobem o rio Tocantins e desembarcam numa margem
de terra à esquerda do rio. Firma-se então o primeiro contato entre a “civilização Cristã”
e os índios “Camutás”. Iniciou-se então um trabalho de evangelização nos povos
originários daquela região, fato que contribuiu significantemente para a dinâmica social,
populacional e econômica do lugar, estruturando uma organização populacional que
passou a ser conhecida como “Camutá-tapera”.
A origem do topônimo "Cametá" vem da expressão da língua tupi "Caá”, que
significa floresta, mato ou vegetação densa, e "Mutá", que significa degrau, palanque ou
elevação. Assim, Cametá, em uma tradução mais livre significa "degrau da floresta".
Segundo fatos históricos - esses os quais foram coletados a partir de pesquisas em
materiais fornecidos pela prefeitura da cidade - a escolha da nomenclatura está
fortemente ligada aos povos originários que ali habitavam antes da chegada dos freis
jesuítas, pois cujos indivíduos moravam em casas construídas nos topos das árvores que
facilitavam a caça de animais para seu consumo, assim como também para se
protegerem de perigos noturnos.

QUADRO 4 – Classificação do topônimo Cametá


Topônimo: Cametá Município: Cametá

Localização: Mesorregião do Nordeste Paraense e é sede da


microrregião de mesmo nome.

Etimologia: Vem da expressão da língua tupi "Caá”, que significa


floresta, mato ou vegetação densa, e "Mutá", que significa degrau ou
elevação. Em uma tradução mais livre significa "degrau da floresta".

Outros topônimos: Viçosa de Santa Cruz de Camutá; Camutá-tapera.

Motivação toponímica: Os povos nativos que habitavam a região


eram chamados de “camutás", pelos tupinambás, pois moravam em
casas construídas nos topos das árvores que facilitavam a caça de
animais.

Taxionomia: Etnotopônimos, isto é, referentes aos elementos étnicos


(Povos ou tribos).

Fonte: Elaboração dos autores.


4.3 LIMOEIRO DO AJURU
Localiza-se, segundo o livro “Limoeiro do Ajuru: história e geografia”, na
mesorregião do nordeste do estado do Pará, precisamente, na microrregião de Cametá,
na zona fisiográfica intitulado Tocantins. Seu território ocupa a margem esquerda do rio
Tocantins (praticamente em sua foz), e também na margem direita do rio Pará.
Segundo SENA (2007), atribui a etimologia desse topônimo com duas
explicações. A primeira é de que o povoado, antes denominado somente de “limoeiro”,
localizava-se na foz desse rio de mesmo nome. Assim, foi acrescentado “Ajuru”, pois
era uma planta (rosácea licanea) abundante no lugar. A segunda explicação aproveita o
histórico de limoeiro acrescentando “Ajuru”, cujo significado seria papagaio, sendo essa
a versão abonada oficialmente. Ademais, deve-se destacar que o nome do município
seria apenas “limoeiro”, porém com a existência de um município em Pernambuco com
o mesmo nome foi então acrescentado “Ajuru” a sua nomenclatura.
Ainda de acordo com a obra “Limoeiro do Ajuru: história e geografia”, afirma-
se que, possivelmente, o local da atual sede do município tenha sido fruto de uma
doação a um comerciante de Cametá chamado Manoel de Vasconcelos, no ano de 1772.
Apesar disso, é somente no ano de 1960 que se iniciam movimentos em prol da
emancipação da vila. Nessa época, Bernadino da Costa e Silva foi eleito como
Deputado Estadual pela região do Tocantins. Assim, uma vez eleito, começou a
demostrar interesse em solucionar os problemas da região, o que o levou a apresentar na
Assembleia Legislativa do Estado do Pará um projeto de emancipação da região leste de
Cametá, que obteve sua aprovação no dia 29 de dezembro de 1961.

QUADRO 5 – Classificação do topônimo Limoeiro do Ajuru


Topônimo: Limoeiro do Ajuru Município: Limoeiro do Ajuru
Localização: situa-se na mesorregião do nordeste do Pará, microrregião de Cametá
no baixo Tocantins. Localiza-se cerca de 197 km da capital do Pará, suas
coordenadas geográficas são, 1º 5’43” de latitude, e 49º 22’50” longitude, possuindo
uma altitude de 8 m.
Etimologia: limoeiro tem origem no latim (Citrus limonum); e Ajuru tem origem no
Tupi (ayu'ru) que significa papagaio.
Outros topônimos: Limoeiro.
Motivação toponímica: vegetação farta das espécies: (Citrus limonum) e (rosácea
licanea).
Taxionomia: Fitotopônimos.
Fonte: Elaboração dos autores.
4.4 MOCAJUBA
O Município de Mocajuba é considerado o menor no que se refere à área da
microrregião de Cametá. No entanto, é o que mais progrediu devido ao processo de
urbanização, primordialmente sob à influência da riqueza obtida com o cultivo da
pimenta-do-reino. Sua fundação como município, segundo o IBGE, data o ano de 1895,
sendo um processo que durou dois anos até a consolidação.
O surgimento desse município, segundo Freitas (2022, p.6), ocorre a partir de
sua formação no Rio ou Furo Tauaré, passando a ser habitado por um pequeno povoado
denominado Maxi, ganhando diversas denominações como: Maxi, Freguesia de
Mocajuba, Vila de Mocajuba e, por fim, Mocajuba. O pequeno povo “maxiniense”
organizavam-se pequenas quantidades de residências e uma capela de igreja católica.
No entanto, sua história se inicia no ano de 1853 quando a Assembleia
Legislativa Provinciana criou a resolução de nº 228, em dezembro do mesmo ano, a
qual elevou à condição daquele povoado a freguesia. Contudo, o lugar não era propício
para o desenvolvimento do município e, a partir desse fato, os habitantes de “Maxi”
foram se deslocando para uma propriedade do Sr. João Machado, um dos incentivadores
da mudança, que doou um sítio em perfeitas condições para o acolhimento de um
núcleo populacional.
Mediante a Lei de nº 271, de 16 de outubro de 1854, a transferência dos
habitantes para as propriedades doadas foi aprovada e, também, por meio da Lei de nº
707, de 04 de abril de 1872, o Presidente da Província do Pará, Abel Pereira da Graça,
fez saber aos moradores de Mocajuba que a Assembleia Legislativa Provincial decretou
a referida lei pela qual o pequeno povoado foi elevado à condição de Vila.
Assim, em 1895 foi construída a sede da Administração Municipal e foi
inaugurada no dia 15 de novembro do mesmo ano. Ainda nesse contexto, a vila de
Mocajuba foi elevada a categoria de cidade por meio da Lei Estadual de nº 324, em 06
de julho de 1985. Por fim, no dia 18 de setembro de 1895, o Governador Lauro Sodré,
assinou o decreto criando a prefeitura de segurança pública na cidade de Mocajuba.
Existem duas hipóteses para a origem do topônimo: a primeira é de que a
palavra seja formada pela junção dos vocábulos mbocá (cabo) e juba (amarela), ou seja,
cabo amarelo. Possivelmente uma alusão a curva que o Tocantins faz em frente à cidade
parecendo contornar um cabo devido a existência do rio Tauaré. Entretanto, a versão
aderida oficialmente é de que deriva de mucaiyba - designação de uma palmeira da
família das palmáceas e da subfamília das cocosídeas derivado do termo tupi mucayba,
que é a designação de uma palmeira das (Acrocomia wallaceana) que fornece frutos
amarelados de aroma agradável e comestíveis.
Nesse município é chamada de mucajá, já em outras regiões: macaúba,
bocaiúva, coco-de-catarro, mucajá e macajuba. Destaca-se que na frente da cidade, logo
às margens do rio, ainda resistem algumas dessas palmeiras. Segundo Freitas (2022), o
nome do município provém do fato de haver muitas árvores da fruta mucajá,
consequentemente ao longo do tempo sofrendo várias alterações até ser chamada de
Mocajuba.

QUADRO 6 – Classificação do topônimo Mocajuba


Topônimo: Mocajuba Município:
Mocajuba
Localização: Município do Baixo Tocantins - Microrregião de Cametá.
“Localiza-se a uma latitude 02º35’03” sul e a uma longitude 49º30’26” oeste,
estando a uma altitude de 30 metros.
Etimologia: De origem indígena Tupi
Outros topônimos: Maxi, Freguesia e Vila de Mocajuba.
Motivação toponímica: vegetação abundante de uma palmeira cujo seus frutos
é o Mucajá.
Taxionomia: Fitotopônimos
Fonte: Elaboração dos autores.

4.5 OEIRAS DO PARÁ


De acordo com o IBGE, o município de Oeiras do Pará se localiza ao norte
paraense, na microrregião de Cametá e limita-se ao norte com o rio Pará, fazendo divisa
ao oeste com o município de Bagre e ao sul com os municípios de Mocajuba e Baião, e
ainda ao leste com Limoeiro do Ajuru e Cametá.
Segundo POMPEU (2007), seu primeiro nome foi “Araticu”, nome de um rio
que banha a cidade. Essa nomenclatura inicial, de acordo com o “Dicionário de
Topônimos Brasileiros de Origem Tupi”, trata-se de um metaplasmo da palavra
“araticum” que denomina uma árvore da família das anonáceas, espécie essa muito
abundante na localidade. A outra hipótese teria sido a partir do vocábulo “oirama”, uma
espécie de planta ribeirinha (Salix martiana), que significa oreiana-branca.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o topônimo seria de origem lusitana, assim
como muitos outros nomes de cidades paraenses. Logo, ao longo dos anos passou por
muitas transformações, sendo a primeira “Araticu” e, por seguinte, trocado por
“Oeiras”, e para “Araticu” novamente. Posteriormente, tentaram retornar ao nome
“Oeiras”, porém, a nomenclatura já era existente em uma cidade do Piauí. Por isso, foi
acrescentado o termo “do Pará” ao nome, assim o especificando.
Oeiras, historicamente, já fez parte da freguesia de São João Batista do
Curralinho (atualmente município de Curralinho). Isso ocorreu em virtude da lei
provincial de nº. 479, de 06 de março de 1865, em um contexto no qual Curralinho foi
elevada à categoria de vila em 11 de novembro de 1865, determinando-se, assim, a
imediata instalação da nova vila e a mudança da sede municipal de Oeiras para ela.
Dessa forma, o município passou por uma nova anexação ao município de Curralinho
por conta da redivisão territorial do estado e, posteriormente, desmembrou-se desse
somente no ano de 1868.

QUADRO 7 – Classificação do topônimo Oeiras do Pará


Topônimo: Oeiras do Pará Município: Oeiras do Pará
Localização: situado no norte do Pará, na microrregião de Cametá, faz divisa com
Bagre, Mocajuba, Baião, Limoeiro do Ajuru e Cametá, tem as seguintes
coordenadas: latitude: 2º 0’9”sul, longitude: 49º 50’ 44” oeste.
Etimologia: Oeiras tem uma possível origem de “oirama” uma planta da região
ribeirinha.
Outros topônimos: Araticu, Oeiras.
Motivação toponímica: nome de plantas abundantes na região.
Taxionomia: Fitotopônimos.
Fonte: Elaboração dos autores.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos dos topônimos são necessários para que haja conhecimento sobre as
origens dos nomes dos lugares nos quais os indivíduos habitam. Assim, é possível
conhecer todo o processo que levou a formação dessas localidades, levando em
consideração os aspectos sociais, culturais, históricos, etimológicos e taxonômicos.
Portanto, ao realizar-se esta pesquisa, foi possível observar que os topônimos do
Baixo Tocantins não se constituem a partir de um padrão taxonômico igual, pois suas
origens se diferem uns dos outros, fato que possivelmente se explicaria por causa da
grande diversidade cultural presente nos processos sócio-históricos de cada município.
Os topônimos foram descritos e classificados a partir de um modelo proposto
por Dick (1990), adaptado para uma versão que se encaixasse melhor aos materiais
analisados. Dessa forma, os dados provam que os aspectos físicos da natureza, bem
como os valores sociais, ideológicos, culturais e históricos se relacionam com os fatores
linguísticos; consequentemente contribuindo para a formação da origem dos topônimos.
Ademais, pode-se concluir que a maioria dos topônimos analisados é de origem
europeia, principalmente de origem portuguesa e, também, de línguas indígenas, como o
tupi, cujos povos eram falantes predominantes na região. Vale ressaltar, por fim, que
não foram encontrados resquícios de línguas africanas nos topônimos analisados, apesar
dos povos afrodescendentes fazerem parte da formação cultural e étnica da região do
Baixo Tocantins.
Assim, levando em consideração a escassez de documentos escritos que possam
explicar as origens dos municípios, estudos como estes são de extrema relevância para a
preservação de fatos históricos. Portanto, espera-se que a pesquisa possa contribuir com
a educação daqueles que, sobretudo, consideram importante o papel da cultura e da
história como instrumento de valorização da identidade cultural e historial da população
do Baixo Tocantins.

REFERÊNCIAS

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