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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

IGEO CCMN
Departamento de Geografia

GEONIMIA E A CARTOGRAFIA
GEONIMIA UM
HISTÓRICA: E CARTOGRAFIA NAOS
ESTUDO SOBRE
HIDROGRAFIA FLUMINENSE
NOMES DA HIDROGRAFIA
FLUMINENSE

Prof. Dr. Paulo Márcio Leal de Menezes


GeoCart – Laboratório de Cartografia
RESUMO

1 – Introdução
2 – Nomes Geográficos, Topônimos e Geônimos
3 – Taxionomia dos Topônimos
4 – A Importância do Estudo Geonímico
5 – Geonímia do Rio de Janeiro
6 – Geonímia Hidrográfica do Rio e Janeiro
7 - Conclusões
1 - INTRODUÇÃO
Nomes geográficos: nomeiam ou identificam um determinado espaço
geográfico.

Um lugar que possua um nome que o identifique, certamente garante tanto a


sua existência, como também o conhecimento de sua posição e localização no
espaço.

A ação de nominar ou nomear um lugar é essencialmente humana,


estabelecendo, inicialmente, uma relação cultural, diretamente ligada à
ocupação, posse e conhecimento do local ou área nomeada.

Estudo bastante desenvolvido, por volta do fim do século XIX e meados do


século XX (1830 a 1970).

Hoje desenvolvido apenas em algumas áreas da lingüística.


Voltando a ser objeto de estudo, devido às inúmeras relações que podem ser
estabelecidas.
Fortes relacionamentos diretos com diversas ciências: a História, Geografia,
Cartografia, Lingüística, Antropologia, Economia, Gestão Territorial, entre
outras.

Indispensáveis para diversos níveis da comunicação humana:


aspecto político
aspecto cultural

Em alguns casos a própria pronúncia ou sotaque do nome, pode ter uma


importância fundamental para a identificação do local de onde é oriunda.

Arroix e Arroz
Grafia, pode alterar substancialmente o seu significado,
Computacionalmente qualquer alteração por mínima que seja, pode gerar
um nome diferente em uma base de dados.

Justificativa para padronização, seja na grafia dos nomes existentes, como


também em uma orientação para a criação de novos nomes geográficos,
notadamente na esfera executiva, através de nomes administrativos.
A análise evolutiva de uma área, de uma feição geográfica ou de um lugar,
mostrará também aspectos culturais, locais, políticos e outros, que podem recair
sobre o lugar.

Desenvolvimento de uma base de dados georreferenciada, permite que se


mostre a evolução espaço-temporal de uma área, levando-se em conta o aspecto e
a observação dos nomes geográficos a ela associados, desde suas características
no aspecto lingüístico, alterações de grafia, de nomes, permitindo que se
estabeleçam ligações e articulações diversas sobre o espaço-tempo.

Base de dados do BNDES possuí 12500 municípios cadastrados

PROPOSTA DO TRABALHO
Apresentar conceitos sobre nomes geográficos,
Importância para a pesquisa histórica-geográfica-cartográfica.
Estudo geonímico da Hidrografia do Estado do Rio de Janeiro
2 – NOMES GEOGRÁFICOS, TOPÔNIMOS E GEÔNIMOS

Estudo dos nomes geográficos faz parte da Onomatologia, também


Onomástica parte da Glotologia que estuda os nomes próprios em geral.

Toponímia, vocábulo formado pelos radicais, topo e onyma


significado estudo dos nomes de países, sítios, povoações, nações, assim como
rios, lagos, mares, montes, montanhas,
nomes de lugares ou nomes geográficos.

Antroponímia estuda os nomes próprios individuais.


Toponímia e Antroponímia estão contidas no sistema onomástico

Toponímia pode ser considerada como um termo semanticamente rico,


sua definição pode variar dependendo do aspecto que venha a ser abordado

Toponímia: ciência que se propõe a estudar a origem e transformações dos


nomes de lugares. (Rostaing, 1948)
estudo dos nomes de lugares, caracterizando portanto os nomes
geográficos. (Furtado, 1957)
Conceituação dentro de um contexto espacial: nomeia um lugar, uma feição,
seja ela natural ou artificial.

Compõe-se de uma parte genérica e outra especifica.


Exemplos: Rio Amazonas, Rio Paraná, Serra Geral, Serra do Mar, Lagoa
dos Patos, Lagoa Mirim

Rio, serra e lagoa, constituem o gênero geográfico, ao qual corresponde o


termo geográfico.

Amazonas, Paraná, Geral, do Mar, dos Patos e Mirim, a parte específica, que
precisa a espécie do lugar ou acidente nomeado.

O gênero, determina o elemento geográfico; a espécie, qualifica unicamente.

A Cartografia considera, impositivamente, esses dois elementos,


a parte genérica de um topônimo, indica a que tipo de acidente se refere este
nome, se a um curso dágua ou se a uma forma orográfica, por exemplo,
enquanto a específica particulariza, identifica e qualifica com precisão o
acidente, ao mesmo tempo em que, no aspecto geral, exprime um atributo
característico do lugar.
Topônimos e nomes geográficos são claramente sinônimos.

Em uma abordagem histórica, nomes geográficos são testemunhas da


ocupação antrópica de um espaço geográfico.

Ficam registradas, a passagem temporal de gerações, de culturas, povos e


grupos lingüísticos, indicando claramente a ocupação e o domínio de um
território.
Geonímia foi definido por Houaiss (1999) ATLAS MIRADOR.

Todos os Atlas nos glossários geográficos, apresentam a relação dos nomes


geográficos através de um código, definido por letras e números, que
identificam páginas e quadrângulo das coordenadas geográficas que
caracterizam a localização do nome
Houaiss (1999), o código poderia ser substituído pelas coordenadas
geográficas, identificando diretamente o quadrângulo de inclusão do
topônimo.

Extensão do conceito de topônimos e topomínia, entendendo-se a geonímia


como os nomes próprios de lugares e acidentes geográficos.

Pode ser verificado que o conceito expandiu-se possibilitando a associação de


coordenadas geográficas aos nomes geográficos.

Nomes geográficos, considerados como informação geográfica ou um


exemplo de geoinformação,

Ampla e irrestrita possibilidade de ter coordenadas geográficas associadas,


em qualquer nível de escala de observação, levando-se portanto, para a
representação cartográfica, a conseqüente associação ao sistema de
coordenadas da representação.

Geonômio: nomes geográficos identificadores de quaisquer feições


geográficas naturais ou antrópicas, recorrentes sobre a superfície da Terra e,
portanto, passíveis de serem georreferenciadas. Menezes e Santos (2006)
3 – TAXIONOMIA DOS TOPÔNIMOS

O estudo lingüístico da Toponímia permite classificar, segundo o conteúdo


léxico-semântico, em diversas taxionomias toponímicas de natureza física e
de natureza antropoculturais. (DICK. 1992)

O estudo das vertentes taxionômicas permite estabelecer conclusões sobre a


ocupação antrópica

Define tendências das diversas denominações, aspectos culturais,


antropológicos, épocas políticas etc.

A determinação da época ou o aspecto temporal da atribuição do nome é um


dos aspectos de maior importância no estudo topo-geonímico
Rio de Janeiro – Mapa Comemorativo da Independência - 1922
Taxionomia de Natureza Física

Taxionomia Significado Exemplos


Astrotopônimos: topônimos relativos aos Estrela, Serra da Estrela,
corpos celestes em geral
Cardinotopônimos: topônimos relativos às Passa Três,
posições geográficas em geral
Cromotopônimos: topônimos relativos à escala Ponta Negra, Serra
cromática Vermelha,
Dimensiotopônimos: topônimos relativos às Ilha Grande,
características dimensionais
dos acidentes geográficos,
como extensão, comprimento,
largura, grossura, espessura,
altura, profundidade
Fitotopônimos: topônimos de índole vegetal, Coqueiros, Laranjeiras,
espontânea, em sua
individualidade
Geomorfotopônimos: topônimos relativos às formas Serra do Morro,
topográficas: elevações de
terrenos
Hidrotopônimos: topônimos resultantes de Serra do Mar, Rio Turvo
acidentes hidrológicos em
geral.
Litotopônimos: topônimos de índole mineral, Itaorna
relativos também à
constituição do solo,
representados por indivíduos
Meteorotopônimos: topônimos relativos a Terra Fria, Cabo Frio,
fenômenos atmosféricos
Morfotopônimos: topônimos que refletem o Volta Redonda,
sentido de forma geométrica
Zootopônimos: topônimos de índole animal, Serra das Araras, Quatis,
representados por indivíduos Toca da Onça
domésticos ou não
Os locais foram batizados com nomes dados devido às características
existentes na época do local, na época de sua designação.

Cova da Onça: Maricá, RJ, foi dado devido as onças que habitavam o lugar.

Cala a Boca: Maricá, RJ, tem este nome devido a um bandido chamado
Cunha Marujo, que berrava “Cala Boca, desgraçado, se não morre”.
Por sua vez os tropeiros e viajantes eram aconselhados a “Cala a boca e não
faça ruído, pois os bandidos podem ouvi-lo”.

Pão de Açúcar, pela semelhança com o produto obtido no processamento de


cana de açucar.

Nos dias de hoje muitas das qualidades ou características relativas aos nomes
podem não mais existir ou fazer parte das características locais atuais, mas
na época era algo bastante marcante.
Taxionomia de Natureza Antropo-cultural

Os nomes geográficos de natureza antropo-cultural podem apresentar as


tendências de domínio, poder, políticas, homenagens religiosas e políticas entre
outros.
Através do estudo da época da denominação pode estabelecer os períodos de
influências diversas: políticas, culturais e outras.
Taxionomia Significado Exemplos
Animotopônimos: topônimos relativos à vida Serra das Almas, Dores do
psíquica, à cultura espiritual, Macabu
abrangendo todos os produtos
do psiquismo humano, cuja
matéria prima fundamental, e
em seu aspecto mais
importante como fato cultural,
não pertence à cultura física
Antropotopônimos: Topônimos relativos aos Rio Candinho, Praia do
nomes próprios individuais: Abraão
Axiotopônimos: topônimos relativos aos Comendador Levy
títulos e dignidades de que se Gasparian
fazem acompanhar os nomes
próprios individuais
Corotopônimos: topônimos relativos aos Friburgo, Rio da Aldeia
nomes de cidades, regiões,
estados, países, continentes.
Cronotopônimos: topônimos que encerram Nova Friburgo, Córrego
indicadores cronológicos Velho
representados, em Toponímia,
pelos adjetivos novo/nova,
velho/velha
Dirrematotopônimos: topônimos constituídos por Serra do Deus Me Livre
frases ou enunciados
lingüísticos.
Ecotopônimos: topônimos relativos às Serra da Carioca
habitações de um modo geral
Ergotopônimos: topônimos relativos aos Rio do Esmeril
elementos da cultura material
Etnotopônimos: topônimos referentes aos Campos dos Goytacazes
elementos étnicos, isolados ou
não (povos, tribos, castas)
Hierotopônimos: topônimos relativos aos Rio Canaã,
nomes sagrados de diferentes
crenças: cristã, hebraica,
maometana, etc; às
efemérides religiosas; às
associações religiosas; aos
locais de culto
Hagiotopônimos: topônimos relativos aos São João do Meriti,
santos e santas do hagiológio
romano
Mitotopônimos: topônimos relativos às Saco do Inferno
entidades mitológicas
Historiotopônimos: topônimos relativos aos Córrego Bandeira,
movimentos de cunho
histórico-social e aos seus
membros, assim como às
datas correspondentes
Hodotopônimos: topônimos relativos às vias de Canal da Passagem
comunicação rural ou urbana
Numerotopônimos: topônimos relativos aos Passa Vinte, Três Barras
adjetivos numerais
Poliotopônimos: topônimos constituídos pelos Aldeia Velha, Arraial do
vocábulos vila, aldeia, cidade, Cabo
povoado, arraial
Sociotopõnimos: topônimos relativos às Serra do Sapateiro
atividades profissionais, aos
locais de trabalho e aos
pontos de encontro dos
membros de uma comunidade
(largo, páteo, praça)
Somatotopônimos: topônimos empregados em Ribeirão do Pescoço do
relação metafórica a partes do Cavalo
corpo humano ou do animal
4 – A IMPORTÂNCA DO ESTUDO GEONÍMICO

Nomes geográficos: testemunhos históricos do povoamento, descobrimento,


conhecimento, presença, permanência entre outros, sobre e do espaço
geográfico.

Passagem de gerações, raças, povos e grupos lingüísticos, na sucessão da


ocupação de um território, assinaladas pelo conhecimento humano e a
expansão do espaço terrestre conhecido e habitado.

Individualização e humanização do espaço geográfico, diferenciado de


qualquer outro local: assinatura e o seu batismo.

Constituem a linguagem geográfica essencial, atribuindo ao local a sua alma,


caracterizada por um grupo de palavras, que por sua vez possuem um
significado, acepção ou sentido, expressando muito, tanto do terreno nomeado,
quanto do povoamento que foi estabelecido no local.

Através desta abordagem pode-se facilmente caracterizar a sua importância


tanto para a Cartografia como para a Geografia.
Identificar o vocábulo indicativo do nome geográfico
- restaurar o seu termo, significado e correta expressão,
- associar o aspecto histórico-temporal,
- associar as coordenadas geográfica,

Caracteriza a evolução não só do geônimo, mas também informações de uma


riqueza sem par relacionado ao espaço geográfico e demais características
associadas à este mesmo espaço geográfico.

Associado a um estudo lingüístico de um vocábulo, o nome geográfico pode


refletir a estrutura vertical ou dialetológica ou ainda a geologia lingüística
(histórica), bem como a estrutura horizontal ou geográfica do idioma.

Nomes geográficos retratam as vicissitudes da História, vida de um povo,


mentalidade da época e do próprio povo, e as suas características fisionômicas.

A ligação espaço-tempo é indissociável e implícita, por ser marcante e


determinante, as influências históricas, sociológicas, econômicas, antropológicas e
geográficas. (Souza 1930)
Topônimos, que são ou serão fósseis lingüisticos, caracterizam e refletem línguas,
dialetos e estratos lingüísticos das línguas faladas pelos povos que antecederam,
com influência nas que serão sucedidas.

Tôponimos, cientificamente estudados e traduzidos, podem revelar detalhes


importantíssimos sobre o aspecto histórico–cultural e geográfico do local.

No estado do Rio de Janeiro existe uma grande quantidade de nomes que são
oriundos do Tupi: Niterói (mar morto ou escondido), Carioca, Jacarépagua,
Jacuecanga, Parati, Pedra do Açu (Grande)

Se os engenheiros que projetaram as Usinas de Angra dos Reis, soubessem que o


significado de Itaorna é terra podre, talvez tivessem escolhido outro local.

Um outro estrato lingüístico também bastante presente no Brasil, e no Estado do


Rio de Janeiro, em uma escala um pouco menor, deve-se aos vocábulos de origem
africana.
Não há Geografia sem nomes geográficos.

Há algum tempo atrás, a própria Geografia chegou mesmo a constituir-se na


sustentação da ciência Geográfica, através da Geografia Descritiva.

Em termos de Cartografia não existe a figura de um mapa ou uma carta muda


que não possua nomes geográficos.

Sem esses componentes o mapa passa a representar um mero cartograma.

A diacronia dos nomes geográficos, associados como geônimos, permite


estabelecer o estudo espaço-temporal (histórico–geográfico), tendo no mapa
(visão cartográfica), uma das suas principais fontes de informação.

Em qualquer pesquisa histórica, ao surgir um nome, existe a necessidade primeira


de localizá-lo no espaço, caracterizando então a interface História, Geografia e
Cartografia.
o o o o
-4 4 -4 3 -4 2 -4 1

U N IV E R S ID A D E F E D E R A L D O R IO D E J A N E IR O
IG E O D e p a r ta m e n to d e G e o g r a fia
o L a b o r a tó r io d e C a r to g r a fia o
-2 1 -2 1

E S T A D O D O R IO D E J A N E IR O
P r o je ç ã o C ilin d r ic a d e E s p a ç a m e n t o R e g u la r
A t u a liz a d o a t é / / 199

o o
-2 2 -2 2

o o
-2 3 -2 3

E s c a la G r á fic a

o 10 km 5 0 10 20 30 40Km o o
-4 5 -4 2 -4 1
5 – GEONÍMIA DO RIO DE JANEIRO

Desenvolve-se por setores:


- Cidades, Distritos, povoados
- Elementos hidrográficos
- Elementos orográficos

Levantamento em mapas e documentos e alimentação de uma base de dados


espaço-temporal

Objetivos:
-Levantamento do geônimo no contexto espaço-tempo
-Caracterização etmológica, linguística, sócio-cultural do nome geográfico
atribuído ao local
-Verificação das alterações ocorridas nos nomes e determinação do(s)
motivo(s) da(s) mudança(s).
-Estudo e definição da motivação original e das alterações (se houver)
Municípios, Distritos e Povoados
92 Municípios, 178 Distritos e 478 (aprox) povoados
Extintos (7)
Vila da Rainha, Santo Antonio de Sá, São José d’El Rei, Vila Iguaçu, São
Francisco de Paula, São João Marcos, Vila de Estrela

Fatores de Influência na Geonímia Fluminense - 5 fatores

- Implantação do sistema de sesmarias.


- Existência da rede hidrográfica localizada no entorno do recôncavo da baía
de Guanabara.
- Presença marcante da Igreja Católica nas terras brasileiras, desde os dois
primeiros séculos de colonização, de forma particular no território
fluminense.
- Corrida às pedras preciosa e ao ouro na região das Gerais, evidenciado a
partir de 1695.
- Chegada da família real em 1808.
Sesmarias
-Os direitos adquiridos na ocasião da doação das capitanias eram hereditários,
mas cabia aos donatários apenas vinte por cento do total das terras. O restante
deveria ser concedido a terceiros: as sesmarias.
-Doadas a homens que provassem ser de muita posse e família, e cada
indivíduo só poderia receber uma sesmaria.
-As sesmarias eram doadas sob condições resolutivas, que previam ao
concessionário: medir e demarcar as terras; torná-las agricultáveis; e
confirmá-las em tempo hábil, depois de cumpridos os dois primeiros estágios.

-Sesmarias e Capitanias Hereditárias: marca o início efetivo da ocupação da


Colônia, com a instalação dos primeiros engenhos de açúcar e a fundação das
primeiras vilas e fortes na orla litorânea.

-Identificação com aquelas terras novas pelos recém-chegados europeus.


-As sesmarias atuaram como lastro exploratório e expansionista dos lugares
em conjunto com a Igreja, pois em cada uma delas a demonstração de
cristandade e fé do sesmeiro, o responsável pela sesmaria, ocorria através do
levantamento ao culto do santo de sua devoção, que na quase totalidade dos
casos, transformava-se no primeiro nome geográfico do lugar.
Alguns Exemplos
Cachoeira de Macacú
1644- Santo Antonio do Casserebu ou Casseribu.
Origem étnica híbrida português - povos originários. Motivação composta
hagio-animotopônimo..
1697 – Santo Antônio de Sá – composto hagio-antropotopônimo, origem
híbrida portuguesa e povos originários do Brasil.
1868 – Santíssima Trindade de Santana de Macacu – motivação híbrida hagio-
zôotopônimo, origem etnológica composta portuguesa e povos originários.
1898 – Santa’Ana de Japuíba – motivação híbrida hagio-fito topônimo.
Origem etnológica composta portuguesa e povos originários.
Japuíba – corruptela de yapú-yba, a árvore dos japús.
1923 – Cachoeiras, hidrotopônimo, origem portuguesa.
1943 – Cachoeiras de Macacu – Motivação hidro-zôotopônimo.
Origem étnica composta: portuguesa e povos originários.
Gentílico: cachoeirense.
São João da Barra

1622 – Atafona – Do árabe attãhuna, moinho.

1630 – São João da Praia do Paraíba – composto hagio-morfo-hidro topônimo,


origem híbrida portuguesa e povos originários do Brasil.
Paraíba – Do tupi corruptela de pará-ahyba : rio ruim, imprestável para a
navegação.

1667 – São João da Barra – composto hagio-geomorfo topônimo, origem


portuguesa.

Barra – Do latim barra, travessa. Origem obscura. Outra versão latim origem
celta (cimbrico bar, ramo, que se acha no inglês).

Motivação: hagiotopônimo
Origem étnica: portuguesa.
Gentílico: sanjuanense
Rede Hidrográfica
-Facilitou em muito, a comunicação entre o litoral e o interior.
-permitiu o transporte de víveres e abastecimento das áreas que se
desenvolviam inicialmente à sombra da monocultura do açúcar.

-No século XVIII serviu de suporte aos que iam em busca dos metais preciosos
nas Minas Gerais, povoando o interior do Estado.

As terras relativamente baixas, de Mangaratiba até o Espírito Santo tanto


facilitaram, quanto foram obstáculos, para a instalação dos primeiros núcleos
de povoação fluminenses no entorno da baía de Guanabara, a partir do Rio de
Janeiro, em 1565.

Penetraram na região seguindo o curso dos rios Meriti, Suruí, Sarapuí, Iguaçu,
Magé, Inhomirim, Guapimirim, Macacu, Guaxindiba, dentre outros e
efetivaram sua ocupação com a instalação dos primeiros engenhos.

-O flumens, que veio caracterizar o gentílico – fluminense - foi fator


preponderante e decisivo na expansão da hinterlândia fluminense. O colono do
foi obrigado, por circunstâncias da própria paisagem natural do território, a
vencer lagoas, alagadiços, charcos, terrenos inundados, brejos e pântanos.
Exemplos

Fósseis lingüísticos de origem portuguesa, até hoje existentes:


Canal do Mangue; rio do Brejo, fazenda do Brejo, capela de Nossa Senhora
da Conceição do Pantanal são marcas no território, da influência que esses
fatores naturais tiveram na relação do colono com o ambiente.

A ocorrência de brejos que se formavam ao longo de muitos rios fluminenses,


não apenas eram um empecilho a ocupação efetiva do solo, ao impor-se como
uma barreira natural a penetração, mas também acarretava uma série de
problemas de salubridade.

O Rio Meriti, um dos mais importantes, era conhecido como Rio dos
Mosquitos. Epidemias que grassaram no século XIX, tiveram como causa
preponderante esta insalubridade, principalmente na baixada fluminense.
Presença marcante da Igreja Católica

-incentivada e permitida pelo poder político da época, que tinha seus recursos
totalmente comprometidos com o aparelho burocrático e com a defesa externa.

-papel pioneiro na mediação entre a cultura portuguesa e a dos povos


originários do Brasil, ao entrelaçar as suas inerentes funções religiosas ao
poder da Coroa portuguesa, tomando para si o papel que a economia da época
não conseguia exercer: agregação da população.

-A partir da matriz saíam incursões de sacerdotes, que seguiam as margens dos


rios, subiam as montanhas, erigiam capelas, fundavam colégios, organizavam
aldeamentos dos nativos e exerciam a catequização.

-As povoações surgiam em torno de capelas simples, construídas por iniciativa


dos proprietários rurais.

-Elevação de algumas dessas capelas a sedes paroquiais, transformando-as em


curatos – povoados com a liderança espiritual de um cura ou vigário - ou
freguesias, com a presença constante e diária de um sacerdote
O fator eclesiástico influenciou de forma considerável a geonímia fluminense

-Cultos e quermesses reuniam fregueses para o convívio social. Em torno da


matriz organizava-se um arraial, local de trocas, pequenos comércios, ranchos e
moradas.

-A permanência do colono na freguesia de origem, facilitou a identidade do


mesmo com essa freguesia, que de forma natural assumia o nome de santos do
hagiológio católico romano.

-A imposição dos sacerdotes católicos, jesuítas em sua esmagadora maioria, da


criação e utilização de uma língua franca, a Língua Geral, que se traduzia numa
mistura de palavras portuguesas, africanas e dos povos nativos que se
comunicavam nas terras fluminenses em tupi.
Motivação Toponímica dos Nomes Geográficos - RJ

22%

17%

Hidrotopônimos
14% Litotopônimos
Hagiotopônimos
Zôotopônimos
Antropotopônimos

22%

25%
Origem Étnica Nomes Geográficos - RJ

4%

16%
27%

Povos Originários
Português
Português-Povos Originários
Outros

53%
Constata-se a marcante influência da Língua Geral na denominação dos nomes
geográficos fluminenses, apesar da proibição da utilização da língua tupi, e da
expulsão dos jesuítas a partir de 1759.

Maior influência, porém, ocorreu a partir da predominância do contato


intercultural.

É maciça sua presença nos litotopônimos (Itatiaia, Itaperuna, Itaocara etc),


zôotopônimos (Sapucaia, Saquarema, Tanguá etc), fitotopônimos (Piraí,
Miracema, Maricá etc.) e até mesmo nos nomes do hagiológio da Igreja
Católica, acompanhando a nomenclatura dos santos (São João do Meriti, São
Francisco de Itabapoana, São José de Ubá etc).
Corrida às pedras preciosas e ao ouro na região das Gerais

- 1705 a 1750, 80.000 pessoas passaram-se de Portugal para a Colônia.


Praticamente a metade da população do reino.

- Necessidade de caminhos a partir da baixada e recôncavo da baía, escoassem


a produção oriunda das Minas Gerais.

-A transferência da capital da colônia para o Rio de Janeiro em 1763 prova do


deslocamento do eixo econômico do Nordeste para o Centro-Sul e a
centralização da política empreendida pelo Estado Português.

Caminho Velho: ia de São Paulo, de Piratininga até Taubaté, subia a Serra da


Mantiqueira, passava por São João del Rey e ia para Vila Rica, Caetés, Sabará.
Dali havia extensões para Tijuco (Diamantina), Jaguará, até a região da
Fazenda Meia Ponte, hoje Pirenópolis, Goiás.

“Caminho dos Guaianás”. Os viajantes tinham de ir a uma embarcação até


Paraty, subir e descer a Serra do Mar, no trecho em que essa se chamava Serra
do Cunha, em seguida ir até Taubaté
-Caminho aberto por Garcia Rodrigues Paes Leme, entre 1699 e 1704,
estabeleceu uma ligação mais rápida e direta com a Capitania de Minas
Gerais, tornando-se a principal via de escoamento. Ficou conhecido como
“Caminho Novo”.

“Caminho Novo do Pilar” ou do “Guaguassú”. Foi construído do interior para


o litoral, a partir das cidades onde se extraíam o ouro, passava em Barbacena e
Juiz de Fora, atingindo o vale do Paraíba.

-Variante do Caminho Novo conhecido como “Caminho do Inhomirim”,


aberto pelo sargento-mór Bernardo Soares Proença, iniciado em 1721 e
concluído em 1724.

“Caminho Novo do Tinguá” conhecida como “Caminho de Terra Firme”. Ia


pela Serra do Tinguá, e após a Serra do Mar ia encontrar-se com o caminho de
Garcia Paes e o caminho de Bernardo Proença, no lugar hoje denominado Stº
Antônio da Encruzilhada, reunindo-se em um só caminho em direção à
margem direita do rio Paraíba.
Observa-se que pelo menos dois dos nomes geográficos fluminenses, cuja
motivação na denominação ocorreram a partir de expressões, ou frases
populares, os dirrematotopônimos, surgiram a partir da busca do ouro nas
minas.

Varre-Sai, que surgiu a partir de uma parada para os tropeiros,

Cantagalo, a partir de um foragido do Estado Português, mais conhecido


como Mão-de-Luva, que garimpava sem pagar os impostos.
Vinda da família real em 1808

-modificou de forma considerável os rumos não só da cidade do Rio de Janeiro,


mas também do Estado fluminense e do próprio país.

-A população aumentou consideravelmente nesse período, havendo a


necessidade de abastecê-la, fato esse que estimulou a produção de gêneros
alimentícios.

-Áreas do Recôncavo da Guanabara como São Gonçalo, Praia Grande e Magé,


tiveram a produção de gêneros alimentícios incrementada de forma
significativa, sendo que os produtos lá produzidos, atingiam o porto do Rio de
Janeiro por caminhos terrestres e fluviais.

-A melhoria dos antigos caminhos, a abertura de novas estradas e o incentivo a


formação de novos núcleos populacionais com imigrantes, ajudaram na
expansão do ecúmeno fluminense,.
6 – GEONÍMIA HIDROGRÁFICA DO RIO DE JANEIRO

Elementos Hidrográficos

-Rede hidrográfica, composta de: rios, córregos e ribeirões; canais; lagos e


lagoas; brejos, pântanos e manguezais
Costeira e interiorana

-Praias, enseadas, baías, pontas e cabos; ilhas, lajes, recifes e baixios


Costeira

A motivação toponímica é semelhante a estabelecida para os nomes das


povoações, com algumas variações, levando-se mais em conta a motivação
católica, indígena e apresentando já nomes de origem africana, raro nas
demais áreas

Trabalho em fase de coleta e catalogação de nomes


Hidrografia do Estado do Rio de Janeiro
e Estados Limítrofes

Espírito Santo

IS
ERA
G
I N AS
M
Text

o
tic
l ân
SÃO PAULO At

Oceano
²
0 30 60 120 180 240
Quilometros
Caracterização da Hidrografia Fluminense

-Desenvolvida entre as Serras do Mar e Mantiqueira;


-Não existem rios navegáveis, à embarcações de maior porte, apenas pequenas
embarcações;
-Rios de serra, com corredeiras e pequenas cachoeiras;
-Apenas um rio de maior porte, atravessando todo o Estado, limítrofe com
Minas Gerais e parte de São Paulo: Rio Paraíba do Sul;
-Áreas de brejo, a partir do Rio de Janeiro até a divisa com Espírto Santo;

Rio Acarí, Rio Alcântara, Rio Barra Mansa, Rio Botas, Rio Carioca, Rio
Carukango, Rio Capivari, Rio Comprido, Rio Dois Rios, Rio Faria, Rio
Guandu, Rio Guandu-Mirim, Rio Guaxindiba, Rio Iguaçu, Rio Itabapoana,
Rio Macabu, Rio Macabuzinho, Rio Mazomba, Rio Meriti, Rio Muriaé, Rio
Majé, Rio Macaé, Rio Maracanã, Rio Paraíba do Sul, Rio Paraibuna, Rio Pati,
Rio Pendotiba, Rio Piabinha, Rio Piraí, Rio Pomba, Rio Santa Catarina, Rio
São João, Rio Sarapuí, Rio Tinguá

Trabalho em fase de coleta


Hidrografia do Estado do Rio de Janeiro
e Estados Limítrofes

Principais Rios

Text

²
0 25 50 100 150 200
Quilometros
Levantamento atual

-Topônimos existentes nas folhas de mapeamento topográfico sistemático


(1:25000 à 1:1000000) – Números aproximados – pesquisa não concluída

Rios: 757
Córregos: 1163
Ribeirões: 854
Lagoas: 134
Canais: 74
Brejos: 231
Pântanos: 14
Manguezais: 7

Foi verificada a ocorrência de diversos nomes iguais atribuídos a acidentes


diferentes

Levantamento ainda não terminado


Levantamento histórico

-Topônimos existentes nas folhas de mapeamento topográfico sistemático


(1:25000 à 1:1000000) – Números aproximados – pesquisa não concluída

Estão sendo consultados os mapas históricos existentes sobre a Capitania e


Província do Rio de Janeiro e áreas contidas.

-Mapa da Nova Luzitânea


-Aparências e Demostrações (Albernas)
-Mapas da Colônia e do Império
-Documentos diversos (Dicionário Geográphico do Império do Brazil)
João Teixeira Albernas
1666

Sirapuy
Aguassú
Macacu
Guaximdiua
Província do Rio de Janeiro - 1830
Carta Topográfica da Capitania do Rio de Janeiro – (Cópia)
Mapa de 1767

Margem Direita Margem Esquerda


Rio Parahiba Ribeirão do Barreiro Ribeirão do Pascoal Francisco
Rio do Bananal Rio Perepetinga
Rio Piray Ribeirão do Licenciado
Rio Piabanha Ribeirão da Pedra
Rio Muriaé Rio Preto
Rio Preto

Hidrografia extraída do mapa de 1767 Rio Piabanha Rio das Ararars


Rio da Cidade
Rio Seco
Rio Tamarari
Rio Morto
Rio Magé

Arrio Fagundes,
Arrio das Pedras

Rio Pereilinga (cabeceira do Paraiba)


Rio Jacuy
Rio Parati guaçu
Rio Tapacú
Rio Pesinguaba
Rio Parati mirim
Rio dos Meros
Rio Patetib
Rio Guarauna
Rio Guaitacá mirim
Rio Guaitacá guaçu
Corr Morto
Rio S Roque
Rio Taquaral
R Sgosalo?
Rio Mambucaba
Batuba
Luis Moreno
Rio Baracuy?
Rio Arino
Rio Japuiba
Rio Ingaiba
Rio do Saco
Rio Iriri
7 – CONCLUSÕES
-A pesquisa ainda encontra-se em fase de coleta de informações.

-Espera-se ao final dos trabalhos, a coleta de cerca de 15000 geônimos.

-Paralelamente ao estudo hidrográfico, desenvolve-se com outras duas


equipes, o estudo da costa e o estudo dos nomes de povoamentos (exceto
municípios, que já se encerrou com uma tese de doutorado.

-A corografia está sendo extraída, porém não tem ainda um estudo previsto
específico, sendo incorporado ao estudo das povoações.

-Em outubro, durante a III Reunião de Consulta sobre Cartografia, serão


divulgados os resultados, ainda que parciais sobre a pesquisa.

- Um resultado parcial sobre os nomes geográficos da hidrografia do Rio de


Janeiro mostra o seguinte quadro:
Motivação Toponímica

-Hidrotopônimos: 29%
-Dimensiotopônimos: 27%
-Morfotopônimos: 13%
-Hagiotopônimos: 10%
-Hierotopônimos: 5%
-Outros: 16

Origem Étnica

-Português: 29%
-Povos originários: 38%
-Afro: 18%
-Português e originários: 12%
- Outros: 3%

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