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Cadernos Camilliani

V. 15 n.1, 2018

SINAIS CAPIXABAS: UM ESTUDO ONOMÁSTICO


SIGNS CAPIXABAS: AN ONOMASTIC STUDY
Rosalba Dias Lemos 1; Maria Madalena Padovan 2; Mirella Leandro Oliveira de Assis 3

Resumo
O objetivo deste trabalho é mostrar que os sinais de lugares do Espírito Santo na Libras e sua
formação, tem na sua originalidade, motivos semelhantes a criação dos nomes de lugares da
Língua Portuguesa, e não são sinais sem sentido. O principal é a valoração a pesquisa
etimológica e informações relevantes sobre o tema destacado. O corpus foi retirado por meio de
pesquisa com indivíduos capixabas surdos vivenciados no estado do Espírito Santo e por
experiências vividas pela autora deste artigo. As fontes inspiradoras foram: sinais de cidades,
sinais de pessoas e sinais de pontos turísticos do Espírito Santo. Portanto, a relação com a
onomástica, que é o estudo das transformações, origem e morfologia dos nomes próprios, será
abrangido o ramo da toponímia, que é o estudo de nomes próprios de lugares, que no caso da
Libras é o estudo da origem dos sinais de lugares. Esta tarefa responderá a hipóteses como: Os
sinais de lugares da Libras foram criados aleatoriamente? Qual é a história por trás de um
sinal de lugar? Existem referências semelhantes entre os nomes de lugares da Língua
Portuguesa e os sinais de lugares da língua de sinais? Ao final da pesquisa, mostra-se que a
Língua de Sinais quanto a formação do sinal de um lugar, é movida por motivos semelhantes
aos dos nomes de lugares da Língua Portuguesa.
Palavras-chave: Língua, sinais, cidades, história.

Abstract
The objetive of this work is to show that the Espírito Santo State places signs in pounds and its
formation, has in its originality, reasons like the creation of the place names of the Portuguese
language, and signs are not meaningless. The main thing is the valuation the etymological
research and relevant information on the topic highlighted. The corpus was removed through
research with deaf individuals experienced in Espirito Santo state and experiences the author
of this article. The source of inspiration was: signs of cities, signs of people and signs sights of
the Espírito Santo. Therefore, the relationship with onomastics, which is the study of change,
origin and morphology of names, will be covered the branch of place names, which is the study
of proper names of places, in the case of Libras is the study of the origin of signs of places. This
task will answer hypotheses as: Signs of places Pounds were created randomly? What is the
story behind a place of signal? There are references similar to the place names of the
Portuguese language and the signs of places of sign language? At the end of the research, it is
shown that sign language as the formation of a place signal is moved for reasons similar to the
names of places in the Portuguese language.
Keywords: Homicides; moral; disrespect; Woman.

1 Mestra em Educação pela The Grandal College And University, Instituição de Vínculo Atual: Secretaria Municipal de Educação de

Vila Velha –Vila Velha/ES


E-mail: zalba2005@hotmail.com
2 Mestra em Educação pela The Grandal College And University, Instituição de Vínculo Atual: Secretaria de Estado da Educação/ES

Secretaria de Educação Municipal da Serra/ES


E-mail: maria.padovan@hotmail.com
3 Mestra em Educação pela The Grandal College And University, Instituição de Vínculo Atual: Secretaria Estadual de Saúde/ES

E-mail: mirell_0024@hotmail.com

Recebido em: 11/09/2017 – Aprovado em: 17/10/2017


Cadernos Camilliani, Cachoeiro de Itapemirim – ES, v 15, n. 1, p. 1-12, Abril. 2018
Rosalba Dias Lemos, Maria Madalena Padovan & Mirella Leandro Oliveira de Assis 2

1. Introdução

A Libras, Língua Brasileira de Sinais, não é apenas um conjunto de mímicas


e gestos sem sentido tampouco é a tradução da língua literal da Língua
Portuguesa. O que a diferencia das outras línguas é sua modalidade visual-
espacial enquanto as demais são orais e auditivas. Este trabalho não objetiva
estudar a Libras em si, mas fazer referência sobre o estudo dos nomes próprios
de lugares e a pesquisa da originalidade dos sinais capixabas no que tange aos
sinais de lugares e cidades.
Esta tarefa remete a um tempo historicamente singular para estudos, e
merece uma nomenclatura igualmente importante por se tratar dos fenômenos
linguísticos, isto é, a Toponímia. A Toponímia é a parte da Onomástica que
estuda a origem e evolução dos nomes próprios de lugares. A Onomástica,
segundo o dicionário Aurélio é o estudo e investigação da origem,
transformações, morfologia dos nomes próprios. Vem do grego antigo
ὀνομαστική, ato de nomear, dar nome, é o estudo dos nomes próprios de todos
os gêneros, das suas origens e dos processos de denominação no âmbito de
uma ou mais línguas ou dialetos. A Onomástica é considerada uma parte da
linguística, com fortes ligações com a história e a geografia.
Em se tratando de língua de sinais será o estudo da origem e evolução do
sinal de um determinados lugares do estado do Espírito Santo. Nas pesquisas,
encontram-se as respostas para a formação do sinal quanto ao seu significado,
levando em consideração o léxico da língua de sinais: Configuração de Mão,
Ponto de Articulação, Movimento e Orientação, ou seja, dentro dos Parâmetros
da Libras, vê-se os motivos pelos quais os sinais foram criados e até hoje
usados, o que possibilita a releitura histórica e aprofundamento nos estudos
da Libras a partir dos sinais de cidades e lugares.

2. Relevância dos estudos da toponímia

A Toponímia ou Toponomástica, parte da Onomástica que estuda a origem e


evolução dos nomes próprios de lugares é um processo dinâmico e em se
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tratando da Libras – Língua Brasileira de Sinais, então é a Onomástica que


estuda a origem e evolução dos sinais de lugares e ou sinais de pessoas.
Como já dito a Toponímia estuda a evolução e origem dos nomes próprios de
lugares, e por sua vez na Libras , os sinais de lugares, sua criação pelos
surdos naturalmente pelo campo visual. Portanto, os usuários nativos,
estabelecem um sinal para um determinado local e usam no seu dia-a-dia.

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Estes criadores dos sinais, geralmente são indivíduos surdos daquela origem
que usam sempre que necessário para fazer referência a determinado lugar por
meio de um sinal e então, acontece o que podemos classificar como o fenômeno
linguístico da concretização do sinal se dá pelo uso do sinal pela comunidade
surda. Na hipótese de outro surdo chegar para aquela localidade e criar um
outro sinal, ao usá-lo, os usuários da Libras, surdos ou ouvintes, já o
informarão que determinado local ou cidade tem sinal e apresentam-no. A
criação do sinal das cidades na maioria das vezes é baseada em alguma
característica aparente que se sobrepõe pela vista local, em algum
acontecimento histórico ou específico do local, e em última instância
naturalmente recorre-se as iniciais da Língua Portuguesa. A importância deste
estudo é comprovada pelo reconhecimento que a criação do sinal de um lugar
na Libras, marca um tempo, uma ocasião, marca a história de cultura e
identidade de um povo de geração em geração.
O ato de dar nome aos lugares evidencia no léxico os efeitos da sociedade
sobre o linguístico e como o mundo social nele se apresenta, refletindo e o
modo de ver a forma como seus membros organizam o mundo que os rodeia.
Segundo Melo, 2014, essa pesquisa é muito mais que nomear ou sinalizar
lugares e perceber apenas o lado linguístico, mas sim conhecer as crenças,
costumes, ideologias, com etnias com as denominações das sociedades de
todos os tempos, com a cultura de cada lugar e influências internas e externas
que as localidades sofrem e/ou exercem sobre os nomeadores. No caso dos
sinais dos lugares as evidências também estão no léxico, ou seja, nos
parâmetros da Libras na formação deste sinal, os efeitos são os mesmo que
remete as mesmas crenças, costumes e influências de quem deu o sinal e de
um povo com sua história.
Importante é não confundir o nome dos municípios com o objeto real
segundo Carvalhinhos, 2009, p.83, ou seja, a municipalidade propriamente
dita, o topônimo não é o lugar em si, mas uma de suas representações,
carregando em sua estrutura sêmica elementos da língua, da cultura, da época
de sua formação, enfim, o homem denominador.
Segundo Seabra (2006,p.7)

Datam da antiguidade as primeiras reflexões sobre a natureza do nome.


Apesar desta constatação, o estudo do nome ou do léxico, é sempre um
tema atual, de grande multiplicidade, uma vez que congrega o
linguístico e o extra linguístico.
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O vínculo antroponímico nome próprios de pessoas usados também como o


nome das cidades do Espírito Santo é permeado por relações de poder, posse e
identidade de domínio territorial, determinados grupos de prestígios
socioeconômico capixaba, consubstanciado no signo toponímico e no conteúdo
simbolizado por ele a ser interpretado pela comunidade. São casos como as
cidades de Domingos Martins, Alfredo Chaves, Afonso Claudio, Colatina, Pedro

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Canário, Marechal Floriano e nos pontos turísticos como Parque Moscoso e


Praça Tancredo Neves.
Na Libras, o vínculo antroponímico, que no caso seria o sinal de pessoas que
seja usado também como sinal de uma cidade ou local no Espírito Santo, vê-se
que essas relações são de identidade, caso específico da cidade de Santa Teresa
que recebeu o sinal do Sr. Antônio Fontana morador da cidade, ou da Praça
Tancredo Neves situada em Vitória, que recebeu o sinal do próprio ex-
presidente Tancredo Neves, sinal específico do nariz do ex-presidente, os dois
dedos, indicador e dedo médio, puxando a ponta do nariz para baixo, o que
indicava a característica do nariz do próprio ex-presidente.

3. Alguns sinais do estado do espírito santo e seus registros

É escasso o registro de sinais de lugares em se tratando de Brasil, e não


seria diferente no estado do Espírito Santo. Ao verificar-se a ausência de
material registrado para o estudo dos lugares e seus sinais, é possível que um
dos motivos da inexistência de registro seja a falta de consenso quanto a
definição do sinal ou a grande discussão que há entre um ou outro sinal. Isto
pode acontecer porque os surdos, usuários nativos, divergem quanto ao uso de
certos sinais e mudam-no.
Com respeito aos sinais do estado do Espírito Santo e os seus registros, o
primeiro registro dos sinais com foco cultural capixaba publicado em 2014
denominado - LIBRAS - e, o sabor dos sinais capixabas é o único documento
que contempla o registro dos sinais das cidades, pontos turísticos do Espírito
Santo entre outros. Trata-se de uma pesquisa com caráter descritivo e que tem
como principal fonte relatos vivenciados por surdos capixabas o que garante
em parte o aprofundamento aos estudos toponímicos do estado do Espírito
Santo no que tange a Libras.
Porém é preciso conhecer a realidade de alguns nomes de lugares, na Língua
Portuguesa, no contexto, lugares capixabas. Nomes estes que tem história, que
foram criados não aleatoriamente. Os parâmetros para a criação da Língua
Portuguesa são os mesmos que criam um sinal, a diferença está em que nem
sempre processo da relação do nome da cidade e o sinal dela, são diferentes.
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Mesmo porque, neste caso, quem nasceu primeiro foi o nome da cidade, é
estabelecido mesmo que a maioria ouvintes não saiba o seu significado ou
origem, pois o interesse é somente o topônimo e seu uso como um nome,
denominador para identificação.
Na formação e colocação do sinal, por sua vez, a motivação e os impulsos
foram outros, que não os mesmos da Língua Portuguesa, o sinal da cidade não
tem o mesmo significado semântico que a cidade. Esta comparação fica clara

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quando vê-se o sinal da cidade de Colatina e a história da origem do nome


desta cidade. A cidade de Colatina, apelidada carinhosamente de Princesinha
do Norte, tem seu nome de origem em homenagem a esposa do presidente do
estado do Espírito Santo de então daquela cidade, a Sra. Colatina.
O nome do município é uma homenagem a Colatina Soares de Azevedo, neta
materna de Joaquim Celestino de Abreu Soares, barão de Paranapanema, e
esposa de José de Melo Carvalho Muniz Freire, presidente do Espírito Santo de
1892 a 1896 e de 1900 a 1904.

Figura 1: Sinal de Colatina.

Fonte: Pesquisa feita pela autora

Este é o sinal atual da cidade de Colatina – O sinal origina-se fundamentado


na escrita do Português. O sinal veio da imagem, o surdo visualizou a palavra
COLATINA e fez ligação com COLA viu a semântica deste substantivo que
derivou o verbo colar, passar cola, originando então ao sinal da cidade de
Colatina. Prova-se então, que o sinal e o nome original da cidade, não fazem
referências entre si. O nome da cidade remete ao tempo histórico e o sinal, a
palavra. Cada qual mantém a forma que lhe aprouve bem, no caso do surdo
que é por natureza mais visual, foi a formação do sinal baseado na imagem e
pela semântica da palavra Cola.

4. Resultados e discussão

Cidade Santa Teresa - Sinais

A história de Santa Teresa começa em 1875, quando chegaram os primeiros


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imigrantes italianos, trazidos pela Expedição Tabachi. A tradição diz que o


nome da cidade provém da fé de uma das colonizadoras que, aos pés de uma
árvore conhecida na região por Pau-Peba, fixou uma imagem de Santa Teresa,
trazida da Itália. À sombra dessa árvore se reuniam os colonizadores para
suas orações. No entanto, documentos da época revelam que o nome da cidade
é anterior a colonização.

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A formação do sinal da cidade de Santa Teresa teve origem pelo vínculo


antroponímico, pela identidade e cultura surda. Até chegar-se ao sinal que hoje
é usado para identificar a cidade de Santa Teresa aconteceu um processo de
mudanças históricas e linguísticas.
O primeiro sinal de Santa Teresa aconteceu há anos, quando só havia um
morador surdo de origem da cidade. Este morador, o sr. Antônio Fontana,
vinha de Santa Teresa para Vitória durante vários anos a fim de estudar na
escola Oral e Auditiva. Ele ganhou um sinal: medir a perna em palmos. Sinal
dado pelo fato de ser muito alto ou provavelmente por ser o mais alto da
turma.
Anos se passaram, e este homem surdo ainda é o único morador da cidade,
agora com sua esposa. Ele era a referência surda para a visita ao local pelos
surdos de outros lugares. Automaticamente, foram ligando a cidade com o
sinal daquele surdo morador, então este foi o fato que originou um dos 1º.
Sinais da cidade de Santa Tereza, o sinal do próprio surdo, os palmos como a
medida do da perna.
Com o passar dos anos, aconteceu processo de redução do sinal, foi usado
apenas 2 palmos para identificação do sinal da cidade de Santa Tereza, uma
formação por Derivação Regressiva motivados para agilizar a comunicação e
obter rápido entendimento.
Segundo Quadros (2004), a Língua Brasileira de Sinais cria novas unidades
a partir de formas já existentes e mantém a locação, configuração de mão e
orientação inalteradas. Este é um novo campo de estudo na linguística
aplicada às línguas de sinais a ser aprofundado - identificar os processos de
derivação de outras classes de sinais.
A derivação regressiva é explicada quando na formação de palavras surge
uma nova não por acréscimo mas por redução. Por exemplo: boteco de
botequim, compra de comprar. O processo de derivação regressiva aconteceu
também no caso do pronome VOCÊ. Esta palavra sofreu grandes
transformações da primitiva VOSSA MERCEDES usada pelos portugueses no
século XIV até chegar ao VOCÊ de hoje ou mesmo o CÊ, usado informalmente,
foi um longo caminho.
Segundo Ali (1976) no século XIV a locução nominal vossa mercedes que
logo foi suprimida apresentando-se como vossa mercê, não era considerada um
pronome ainda, era um título honorífico, uma homenagem correspondente à
terceira pessoa do singular, embora se associasse aos pronomes da segunda
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pessoa como vós ou vosso. Com a extensão do uso VOSSA MERCÊ para os
fidalgos é que tal forma adquiriu o status de tratamento. Até chegar ao você,
houve um estágio intermediário – VOSMECÊ, em que ocorre a síncope que é a
supressão de fonemas no meio da palavra – que foi abandonado, até chegar ao
VOCÊ. Existem outros estágios históricos do pronome você, porém não serão
descritos aqui.

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Conforme Quadros (2004) criar novas palavras no processo de composição é


muito comum nas línguas do mundo e frequente na língua de sinais brasileira.
Assim como o processo de composição também o de derivação pode acontecer
com frequência como foi o caso do sinal da cidade de Santa Tereza.
Regras morfológicas são aplicadas para criar novas unidades com
significados. Vejam os exemplos, segundo Quadros (2004), são sinais criados
pelo processo de composição: O sinal do verbo SABER aglutinado ao sinal de
ESTUDAR dá-se formação do sinal ACREDITAR.

Figura 2: Sinal de Acreditar

FONTE: Quadros (2004)

Como já visto o resultado do processo da composição do sinal é um novo


significado criado. Quadros (2004) diz que não é possível predizer o significado
de um novo sinal apenas observando o sinal composto. Veja o exemplo do
sinal de SAPO e CAIR que aparecem juntos para formar o sinal de SAPUCAIA –
município em Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Muitos sinalizadores nativos
surpreendem-se ao conhecer a origem do sinal, pois o significado do composto
não é obvio simplesmente pela junção dos sinais. Vê-se também que é um sinal
formado pelo fato linguístico relacionado a semântica das palavras SAPO e
CAIR, o que mostra claramente a influência da Língua Portuguesa na língua de
sinais.

Figura 3: Sinal da cidade Sapucaia


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FONTE: QUADROS, 2004


Veja o processo da mudança do sinal da cidade, com a derivação regressiva.
Este é o sinal do único surdo morador da cidade de Santa Teresa cujo sinal foi
usado também para identificar a sua cidade - o

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Figura 4: 1º. Sinal usado. Sinal do surdo morador da cidade

FONTE: Pesquisa feita pela autora

2º. Sinal - O sinal da cidade ficou reduzido apenas a 2 palmos na coxa, essa
foi a identificação do sinal de Santa Teresa por anos.
3º. Sinal - O processo de regressão foi acontecendo naturalmente até chegar
ao sinal seguinte: apenas uma mão, tocando na perna com o punho e ponta
dos dedos, fazendo alusão aos 2 palmos usados anteriormente. O sinal de 2
palmos na perna, ainda é usado por alguns surdos quando se referem à cidade
de santa Teresa, até hoje.

Figura 5: 1º. Sinal de Santa Tereza

FONTE: Pesquisa feita pela autora

No início desta pesquisa percebia-se a falta de respostas, a dificuldade pelos


surdos quanto a origem do sinal da cidade - os 2 palmos na perna. Teve uma
hipótese de ser o sinal do surdo morador da cidade, mas com uma diferença, a
versão dizia que o surdo tinha a perna amputada, como justificativa para o
sinal na perna, teve-se até a suspeita relacionando com a Maria Fumaça, que
era a referência da cidade. Esta versão foi dissipada com a visita a cidade, ao
conhecer o homem, que ainda é o único morador surdo da cidade de Santa
Teresa. Ele não tem a perna amputada como se dizia, e contou sobre o tempo
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que frequentava a escola Oral e Auditiva em Vitória. O sinal do Sr Antônio é o


mesmo, 3 ou 4 palmos na perna.
Hoje em dia o sinal da cidade sofre uma mudança que já está consolidada
como sinal, pela imagem do BEIJA FLOR, muito usada pela mídia para
simbolizar a cidade, que é de grandes riquezas naturais e biodiversidades,
demonstrada até na bandeira da cidade. O sinal do beija-flor, o colibri, origina

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o sinal da própria cidade de Santa Teresa, então este é o atual sinal usado para
identificar Santa Teresa, o sinal de passarinho fazendo alusão ao beija-flor.
Quanto ao nome da cidade e suas características físicas é uma relação feita
pelas línguas orais para algumas cidades. Este processo também se dá com os
nomes das cidades que segundo Carneiro, de Faria e Lemos (2014), o nome do
bairro Maruípe em Vitória, tem origem atribuída ao mosquito de picada muito
forte, Maruí de Maruim, também conhecido como mosquitinho do mangue.
"Maruí e "maruim" são termos oriundos do tupi mberu'i, que significa "mosca
pequena”, sendo que Maruípe significa caminho de mosquitos.
Da mesma forma que as palavras ou nomes dos lugares da língua oral, os
sinais das cidades do Espírito Santo por sua vez, também foram formados com
base nos fatos históricos ou também fazendo referência as características da
cidade como podemos constatar no sinal da cidade de Santa Teresa.
Assim ficou o sinal da cidade de Santa Teresa:

Figura 6: SINAL DE SANTA TEREZA / BANDEIRA DE SANTA TERESA

FONTE: Autores

Existem outros sinais de lugares do Espírito Santo que tiveram a sua


formação fundamentada em motivos os mais diversos. Quando o surdo não viu
alguma característica visual ou fato histórico marcante, o sinal foi dado
baseado na Língua Portuguesa usando as iniciais do nome da cidade. Este
sinal, às vezes pode ser considerado errado por alguns usuários, pelo fato de
ser um sinal influenciado pela Língua Portuguesa e não pelas características
da cidade. Porém, pode-se declarar que segundo pesquisas este é um fenômeno
comum que pode ocorrer em qualquer língua, quando sabe-se que a própria
Língua Portuguesa é mista pois sofreu influência de diversas outras.
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O Sinal de Cachoeiro de Itapemirim

A formação do sinal da cidade de Cachoeiro de Itapemirim tem origem bem


diferente, baseado num tempo marcante de musicalidade no Brasil e
mostrando momento cultural do povo capixaba. O sinal da cidade, não
apresenta aos ouvintes usuários de Libras a facilidade de entendimento lógico

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e que parece um sinal incongruente. Ter o conhecimento e entender o sinal


pelo significado do próprio sinal faz parte da boa apreensão e memória
principalmente para os usuários ouvintes.
Segundo Carneiro, de Faria e Lemos (2014), a formação do sinal da cidade
de Cachoeiro de Itapemirim se deu devido ao fato do cantor Roberto Carlos,
ser de origem da cidade. Esta é a referência da cidade, “lugar onde nasceu
Roberto Carlos”, fato sempre preservado na memória da cidade.
Todo o ano, este cantor conhecido internacionalmente, promovia um show
para a cidade onde nascera. Neste show se assobiava, naturalmente havia
muita homenagem, aplausos, os capixabas cachoeirenses curtiam o cantor e
sua boa música. O aspecto visual ao surdo era de pessoas com a mão na boca
assobiando para o show do cantor. Daí nasceu o sinal do cantor Roberto
Carlos, o mesmo sinal do assobio, que, por conseguinte deu origem ao sinal da
cidade desde então, por muitos anos usados pelos surdos em homenagem ao
cantor. Na época da origem do sinal, poderia ser entendido em Português
assim: - Vamos a Cachoeiro, onde nasceu homem Roberto Carlos!
Porventura, caso se conheça um 2º. Sinal, ainda a maioria dos usuários da
Libras surdos e ouvintes referem-se a Cachoeiro de Itapemirim com os 2 dedos
na boca – o assobio.

Figura 7: SINAL DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM – (SINAL DE ASSOBIO)

FONTE: Autora

Esta mesma cidade, segundo pesquisa com moradores surdos idosos, já teve
o sinal de “CACHORRO”. Algumas vezes, estes surdos ainda referem-se a
Cachoeiro com o sinal de cachorro. O fato que originou este sinal era que o
ônibus da cidade, um dos primeiros, tinha a figura de um cachorro estampado
na lateral. O antigo ônibus era a referência da cidade, o que originou o seu
sinal.
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O marco histórico na formação dos sinais de Cachoeiro, também acontece


ao se nomear lugares no Espírito Santo. Veja no caso do bairro Praia do Suá.
Existe a versão que segundo Carneiro, de Faria e Lemos (2014) há anos havia
muitos franceses moradores naquela região, e cumprimentavam com “Bonsoir”
[bÓswaR], que seria - Boa Tarde - ,e pelo hábito do cumprimento, então
começou a ser chamada de Praia do Suá dado ao fato da semelhança da

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pronúncia Suá comparado ao BONSOIR do cumprimento dos moradores


franceses.

5. Considerações finais

Os ouvintes pressupõem que as línguas de sinais sejam versões sinalizadas


das línguas orais. No entanto, embora haja aspectos comuns entre as línguas
de sinais e as orais, devido a certo empréstimo linguístico, as línguas de sinais
são autônomas, não derivando das orais e possui peculiaridades que as
distinguem umas das outras e das línguas orais. As línguas de sinais,
entretanto possuem razões semelhantes na formação do sinal de lugar ou de
cidade, tal qual o processo motivador na designação do nome próprio de lugar,
ou seja, existem semelhanças quanto à fundação de um topônimo e ao
processo de formação do sinal de um lugar.
Quando se vê os nomes de lugares em homenagem às pessoas de influência
política como o caso já citado da Sra. Colatina, que a atual geração
desconhece, nem se quer faz alusão do passado é usado como demarcação de
grupos dominantes de poder do estado na tentativa de cristalização semântica
de um poder por meio do léxico no signo toponímico, ou seja, pelo nome
próprio de lugar. O mesmo pode acontecer com o sinal de um lugar, quando
recebe um sinal com origem em um antropônimo - sinal de uma pessoa - ,com
a diferença que o sinal do lugar pode ser também de uma pessoa comum, sem
nenhuma influência política e que até desconheça o fato de sê-lo usada como
tal referência.
O sinal da cidade com origem num antropônimo - sinal de alguma pessoa -,
pode lançar novos olhares sobre a história não só da Língua de Sinais como
das culturas e sociedades de maneira ampla e ligar à vida dos usuários dessa
língua ao longo do tempo, as migrações para a cidade, novas famílias, tudo que
tange ao movimento social e cultural.
Finalizamos destacando que está pesquisa se torna importante e instiga à
sua continuidade, pois o corpus utilizado é uma representação mínima de
outros dados motivadores de investigação. Este artigo poderá fornecer
subsídios a futuras pesquisas sobre o léxico das Línguas de Sinais com
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respeito aos estudos da toponímia capixaba, um instrumento precioso para a


memória, viabilizando a compreensão da representação do mundo biossocial e
as transformações da sociedade por meio do sinal de lugar do Estado do
Espírito Santo.

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