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ENUNCIAÇÃO, GRAMÁTICA E

POLÍTICA DE LÍNGUA NA
ATUALIDADE
MARIANA GONÇALVES, 771501
VICTORIA MARQUES, 771513
■ Título: Enunciação, Gramática e Politica de Língua na Atualidade
■ Autor: Luiz Francisco Dias
■ Livro: Seminários 4 FAPESP (O Político e a Política de Línguas na Enunciação)
As línguas se constituem em uma relação necessária entre a dimensão material e a
dimensão simbólica. Nessa relação, o simbólico se “historiciza” e o material se faz
articulável.
Demanda de Saturação: em outras palavras, temos, de um lado, formações simbólicas
não projetadas nas unidades e nas formas articuladas que projetam formações
simbólicas dispersas (em sentido análogo, Bakhtin (1990) afirmou que o signo reflete e
refrata ao mesmo tempo).
Essa demanda de saturação faz da sintaxe um ponto em que a conjunção reúne o que
já foi diverso e a disjunção distingue o que já foi unitário. Frente a isso, cabe aos
estudos sintáticos explicar:
A) os mecanismos de formação da linearidade a partir desses processos de enunciação
que determinam o uno e o múltiplo. Os estudos sintáticos operam com relação entre o
plano da organicidade linguística e o plano do enunciável.
B) A relação entre as instancias de enunciação que determinam o uno e o múltiplo. Os
estudos sintáticos operam com relação entre o plano da organicidade e o plano do
enunciável.
■ Plano da Organicidade: não é autônomo, porque a materialidade linguística não
tem uma base primaria de identidade física.
Ex.: lápis (tem uma base de identidade na sua própria dimensão).
Neste caso, a dimensão simbólica é projetada da dimensão material.
Simbólico: escrever
Material: objeto, lápis.
Os “objetos linguísticos”, ao contrario, não ganham identidade a partir de uma projeção
da sua dimensão material. Palavras, sintagmas, sentenças, não são entidades
distinguíveis a partir da sua dimensão material, É na relação com o plano do
enunciável que esses “objetos” ganham identidade.
■ Plano do Enunciável: é regulado pelo discurso. O plano do enunciável diz
respeito às instancias nas quais o dizer ganha pertinência.
Trabalham segundo a tese de que a enunciação é o acontecimento histórico relativo à
produção do enunciado (Guimaraes, 1995). Dessa forma, o plano do enunciável diz
respeito às instancias nas quais o dizer ganha pertinência. Essas instancias
correspondem a diferentes extratos no campo da memoria, vale dizer, diferentes
domínios de discurso. Nas suas palavras “a temporalidade do acontecimento constitui
o seu presente e um depois que abre o lugar do sentidos, e um passado que não é
lembrança ou recordação pessoal de fatos anteriores. O passado é, no acontecimento,
memoria de enunciações, ou seja, se dá como parte de uma nova temporalização, tal
como latência de futuro. É nesta medida que o acontecimento é diferença na sua
própria ordem: o acontecimento é sempre uma nova temporalização, um novo espaço
de conviviabilidade de tempos, sem a qual não há sentido, não há acontecimento de
linguagem, não há enunciação.”
A demanda de pertinência do linguístico é
divida em 3 componentes:
■ Demanda de pertinência do linguístico a uma identidade enquanto
idioma
Orlandi diz que o séc XIX é um “momento intelectual definidor na direção de se pensar
a língua, suas instituições e seus sujeitos.”
A gramática, naquela época, tinha como função dar forma aos limites da identidade
brasileira, devia constituir o cidadão brasileiro.
Na passagem para o séc XX a língua deixa de ser um monumento e passa a ser um
artefato. Com isso, Orlandi classifica a língua do séc XIX como “língua do Brasil”, por
ser a própria pertinência ao Brasil e como “língua no Brasil” a do séc XX, por se tratar
de uma especificação da língua que passa a ser uma localização.
■ Demanda de pertinência do linguístico às normalidades
Década de 30 e 40: intenso debate sobre a denominação apropriada
língua portuguesa X língua brasileira
Para um extenso grupo de intelectuais, a língua brasileira remetia ao português falado pelos
brasileiros que não dominavam a escrita, devido à esse empecilho de não ser calcada na
escrita, não possuía do status capaz de sustentar o nome como idioma nacional. Essa
posição contribuiu para que o nome seja do jeito que falamos língua portuguesa
Distinção entre:
culto X popular
(língua escrita) X (língua falada)
Tendo a língua culta, 3 características:
a) Permite estética de elaboração de frase, produzindo exatidão e clareza (o que se
projeta da língua: beleza, exatidão)
b) é usada pelos melhores escritores (o que é projetado)
c) retém no tempo a melhor expressão de cultura de um povo. (a própria projeção da
cultura de um povo)
■ Circulo peculiar:
Falante comum, para escrever com clareza é preciso domínio da língua culta, língua
essa que é configurada pelos grandes escritores (falantes especiais).
Por sua vez, esses escritores, exercitando a língua culta “apuram” a cultura e devolve
ao falante comum.
Logo, aquilo que se entende por correção na gramatica está na relação entre cultura e
exatidão/clareza.
Essa relação não é natural e passa por dispositivos normativos (regras de
concordância, colocação pronominal) fundamentado no uso dos grandes escritores.
Luiz Francisco escreve nesse capítulo “essa é uma das faces mais cruéis da política de
língua”
-Há um acesso desigual a esses dispositivos.
As diferenças de normatividade afetam diretamente o falante. Por isso, muitos
brasileiros admitem não saber falar corretamente a língua portuguesa.
■ Demanda de pertinência do linguístico às categorizações enunciativas
Nessa subdivisão ele fala sobre os estudos das funções gramaticais (sujeito e complemento
verbal) em slogans. A especificidade dos slogans no tocante a essas funções está no fato de
que é muito comum eles aparecerem sem o sujeito ou complemento.
Ex.: “bebeu, jogou, furtou; beberá, jogará, furtará”
Os verbos na terceira pessoa do singular, sem marca de indeterminação, era de se esperar
o preenchimento lexical do lugar do sujeito.
Sendo isso um processo de “publicização” , ou seja, são repassados e repetidos como
suporte de um saber não datado, supra individual.
Os tipos de exemplos na gramática:
A) Os exemplos são construídos pelo próprio gramatico, sem que se obedeça a uma
categorização
B) os exemplos pertencem a um corpus especifico, obedecendo às categorizações
relativas ao tipo jornalístico, literário ou técnico.
C) os exemplos são retirados aleatoriamente de obras de escritores consagrados.
■ Gramática, enunciação e política de língua:
A relação entre o simbólico e o material configurando uma demanda de saturação pode
ser o ponto de partida para o sentido de politica de língua. Nesse caso, o politico
estaria na própria injunção (necessária) do sujeito a essa demanda.
Quanto à demanda de pertinência, a relação com a gramatica se dá nas seguintes
formas:
■ No que se refere à demanda de pertinência do linguístico a uma identidade
enquanto idioma, a gramatica fornece visibilidade ao sujeito em relação com sua
nação.
■ No que se refere à demanda de pertinência do linguístico às normatividades, a
gramatica hierarquiza as diferenças de uso, situando o falante em seu grupo.
■ No que se refere à demanda de pertinência do linguístico ás categorizações
enunciativas, a gramatica situa o sujeito em relação aos meios, aos fins e às formas
de produção linguística.
■ Considerações finais:

■ o real motivo de o brasileiro sentir que não sabe falar português


■ Como o culto hierarquiza o falante
■ Como a determinação do nome da nossa língua aconteceu
■ A gramatica também é necessária para explicar a linearidade existente na língua.
Resumo
As línguas se constituem em uma relação necessária entre a dimensão material e a dimensão simbólica. Nessa relação, o simbólico se
“historiciza” e o material se faz articulável (ex: lápis, tem uma base de identidade na sua própria dimensão. O simbólico é projetado na
dimensão material. Simbólico: lápis; material: escrever).
A demanda de saturação diz respeito à formações simbólicas não projetadas nas unidades e nas formas articuladas que projetam
formações simbólicas dispersas (em sentido análogo, Bakhtin (1990) afirmou que o signo reflete e refrata ao mesmo tempo). Essa
demanda de saturação faz da sintaxe um ponto em que a conjunção reúne o que já foi diverso e a disjunção distingue o que já foi unitário.
Frente a isso, cabe aos estudos sintáticos explicar os mecanismos de formação da linearidade a partir desses processos de enunciação
que determinam o uno e o múltiplo e a relação entre as instâncias de enunciação que determinam o uno e o múltiplo.
O plano da organicidade diz que os “objetos linguísticos”, ao contrário, não ganham identidade a partir de uma projeção da sua dimensão
material. Palavras, sintagmas, sentenças, não são entidades distinguíveis a partir da sua dimensão material, é na relação com o plano do
enunciável que esses “objetos” ganham identidade.
O plano do enunciável é regulado pelo discurso. O plano do enunciável diz respeito às instancias nas quais o dizer ganha pertinência.
A demanda de pertinência do linguístico se divide em 3 componentes:
Em relação à demanda de pertinência do linguístico a uma identidade enquanto idioma, a gramática fornece visibilidade ao sujeito em
relação a sua nação;
Quanto à demanda de pertinência do linguístico às normatividades, a gramática hierarquiza as diferenças de uso, situando o falante em
seu grupo “cultos aqueles que dominam a escrita e não cultos aqueles que não dominam”;
No que se refere à demanda de pertinência do linguístico às categorizações enunciativas, a gramática situa o sujeito em relação aos
meios, aos fins e às formas de produção (se é uma propaganda, um slogan etc.).
• Círculo Peculiar: falante comum depende das apurações gramaticais feitas pelos falantes especiais (escritores) produzidas em suas
obras e sendo devolvidas aos falantes comuns, como nem todo falante comum têm acesso às apurações e obras dos escritores, muitos
brasileiros consideram que não sabem falar o português “correto”.
• O nome “língua portuguesa” ficou assim determinado pelo fato de que, aqueles que queriam que mudasse para “língua brasileira” não
dominavam a escrita, qualificação considerada de suma importância para que sustentasse o nome como brasileira.

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