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A busca da excitação em Elias e Dunning: uma contribuição para o estudo do


lazer, ócio e tempo livre

Article · January 2005


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Marco Bettine
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Vicente Matheus: presidência, gestão e
influência no Sporte Clube Corinthians Paulista
Vicente Matheus: presidencia, gestión e influencia en el Sporte Clube Corinthians
Paulista
Vicente Matheus: presidency, management and influence in the Sporte Clube
Corinthians Paulista
*Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Brasil Felipe Procópio da Silva*
**Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Brasil. Marco Antonio Bettine de Almeida**
LUDENS – Pró-Reitoria de Pesquisa - USP marcobettine@gmail.com
Pesquisas Interdisciplinares em Sociologia do Esporte (Brasil)

Resumo
Vicente Matheus foi um presidente importante para a história e evolução do Sport Club Corinthians
Paulista. O presente estudo buscou, por meio de pesquisa bibliográfica e documental, entender a figura deste
presidente, sua gestão e influência direta nos resultados obtidos e na história do clube, a partir de suas
decisões administrativas e articulações políticas.
Unitermos: Vicente Matheus. Corinthians. Presidência. Gestão.

Resumen
Vicente Matheus fue un presidente importante en la historia y evolución del Sport Club Corinthians
Paulista. El presente estudio busca, a través de la investigación bibliográfica y documental, entender la figura
de este presidente, su administración y su influencia directa en los resultados y en la historia del club, de sus
decisiones administrativas y las articulaciones políticas.
Palabras clave: Vicente Matheus. Corinthians. Presidência. Gestión.

Abstract
Vicente Matheus was an important president in the history and evolution of Sport Club Corinthians
Paulista. The present study sought, through bibliographic and documentary research, understand the figure of
this president, his management and direct influence on the results and in club history, from its administrative
decisions and policies joints.
Keywords: Vicente Matheus. Corinthians. Presidency. Management.

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de


2012. http://www.efdeportes.com/

1/1

Introdução

Este estudo buscou compreender a figura de Vicente Matheus, indivíduo de suma


importância para o Sport Club Corinthians Paulista, que no período de 1955 à 1995, presidiu
este clube por três passagens (1959 a 1961, 1972 a 1981 e 1987 a 1991) 1. A justificativa para a
escolha de tal tema é a de que este presidente influenciou o Sport Club Corinthians Paulista,
tanto na tomada de decisões administrativas e políticas, quanto na escolha de profissionais que
iriam atuar (jogadores) e trabalhar (comissão técnica). Além disso, sua influência direta nos
resultados obtidos no campo mostra que o presidente do clube é um dirigente detentor de um
poder incomparável no futebol. Este estudo buscou compreender a atuação e a influência deste
presidente, a partir da teoria de Max Weber 2 de que o sujeito da ação social pode interferir na
sua realidade, por meio de suas ações sociais.

Este estudo tem uma abordagem qualitativa e descritiva. Ele foi realizado por meio de
pesquisa bibliográfica e documental que estudou os aspectos históricos e políticos do Brasil e do
Sport Clube Corinthians Paulista, durante o período de 1955 a 1995.
1. Vicente Matheus

Vicente Matheus nasceu em 28 de maio de 1908, na pequena cidade de Toro na Espanha.


Seu pai foi um artesão, antes de vir ao Brasil, fez uma passagem pela Argentina, onde não
conseguiu fazer com que os seus negócios se desenvolvessem. Ao chegar à São Paulo, seu pai
decidiu arrendar uma pedreira na zona leste da cidade, e obtendo sucesso, pôde trazer para o
país sua esposa e seu filho Vicente, que na época tinha apenas seis anos de idade 3.

Em São Paulo, a família de Vicente Matheus cresce, e ele ganha dez irmãos. Com o objetivo
de ajudar o seu pai, começa a trabalhar cedo. Com o trabalho prosperando, a família inicia a
exploração de pedreiras em Ribeirão Pires e em Pilar (que posteriormente teve seu nome
alterado para Mauá), local onde Vicente Matheus apaixonou-se pelo futebol. Vicente Matheus
jogava de médio-volante no Pilar, e nessa época, ao assistir a um jogo do Corinthians de Neco,
Grané e Tatu, ficou encantado, passando a tentar imitar os jogadores corintianos 3.

Já com a maioridade, Vicente Matheus tomava conta dos negócios e da família. Os negócios
prosperaram, aumentando assim a produtividade das pedreiras, o que possibilitou o nascimento
da pavimentadora dos Matheus.

Vicente Matheus continuou interessado pelo futebol, frequentando o Parque São Jorge nos
finais de semana, na época em que o profissionalismo teve início no futebol. Em 1934 casou-se
com Ruth, com quem teve duas filhas, seguindo sempre à frente dos negócios da família. No
final da década de 1930, a pavimentadora ganhou uma concorrente na prefeitura para
pavimentar a Rua São Jorge. Nesta época, Vicente Matheus apreciando o local e o bairro,
decidiu mudar-se com a sua esposa e filhas para uma casa localizada em frente ao Parque São
Jorge 3.

Nos anos quarenta, Matheus entra para o grupo de dirigentes do Sport Club Corinthians
Paulista tornando-se seu conselheiro, com a referência de ser um homem bem sucedido nos
negócios. Vicente Matheus então começa a tomar posição política dentro do clube, apoiando
Alfredo Ignácio Trindade para presidente. Posteriormente, Matheus se torna diretor de
patrimônio e logo um dos diretores de futebol.

2. Presidência

Primeiramente, é necessário compreender alguns aspectos históricos e políticos do país,


diretamente relacionados à presidência de Vicente Matheus.

O Brasil vinha de uma mudança política, influenciada pela Segunda Guerra Mundial e,
posteriormente pela Guerra Fria, que alterou a sua economia. Em um clima de incerteza, o
Presidente Dutra investiu na realização da Copa do Mundo de 1950, sendo frustrado o sonho no
famoso “Maracanasso”, com o Brasil saindo derrotado na final pelo Uruguai em pleno Maracanã
lotado. Getúlio Vargas presidiu o Brasil e trouxe uma efervescência na política brasileira, com a
criação da Eletrobrás e da Petrobrás. Em meio a essa turbulência, o Brasil foi para a Copa de
1954 4.
Em 1956, o sucessor de Vargas, Juscelino Kubitscheck, tomou posse da presidência do país
com o slogan “50 anos em 5”, reforçando o “nacional–desenvolvimentismo”, e construindo
Brasília, a nova capital da República.

O Corinthians tinha um time de base forte que ganhara alguns títulos importantes na década
de 1950. O presidente anterior, Alfredo Ignácio Trindade trouxera mudanças positivas para o
clube, tais como o parque aquático que existe até hoje. Todavia, Vicente Matheus, antes o
diretor de futebol do clube, acabou unindo forças com Wadih Helu, com o propósito de
destronar a presidência de Alfredo Ignácio Trindade 1.

Matheus já havia perdido a eleição de 1957 na qual somente os conselheiros podiam votar.
Algumas mudanças ocorreram, e os sócios foram autorizados a votar nos conselheiros
quadrienais para eleger o novo presidente. Vicente Matheus, com a promessa de reformar o
Parque São Jorge, construir um ginásio moderno de esportes, ampliar o conjunto de piscinas,
fortalecer os esportes amadores e contratar grandes jogadores, conseguiu vencer a eleição,
tornando-se assim o presidente do Sport Club Corinthians Paulista.

Durante a sua primeira gestão (1959-1961), Vicente Matheus, na época com 51 anos de
idade, regularizou as finanças do clube e trouxe para este toda a tecnologia que podia lhe
proporcionar. Em uma entrevista, a fala de Vicente Matheus marcou uma de suas famosas
“pérolas”: “O difícil não é fácil” ao falar da dificuldade de achar grandes jogadores para
contratar 3.

Vicente Matheus se distanciou dos negócios para se dedicar exclusivamente ao Corinthians, e


passou a investir em Almir, atacante do Vasco da Gama. O Corinthians neste período tinha em
caixa três milhões em dinheiro que seriam insuficientes para a compra de Almir, segundo a
lenda Matheus tirou do seu próprio bolso seis milhões, junto com outros três integrantes do
clube, podendo desta forma comprar o passe de Almir, fechando a maior contratação de um
jogador de futebol no futebol brasileiro até aquele momento. Quando questionado se iria se
arrepender do gesto, uma vez que o clube não teria como pagá-lo pelo empréstimo, disse:
“Quem sai na chuva é para se queimar” 3.

Vicente Matheus acabou perdendo as eleições para o seu vice Wadih Helu e não conseguiu
se reeleger devido aos maus resultados do time e do insucesso do craque Almir. Wadih Helu foi
um presidente que contribuiu muito para a melhora da infraestrutura do clube.

Com a chegada de João Havelange à CBD, o futebol brasileiro começou a tomar ares de
profissionalismo para a disputa da Copa de 1958, na qual o Brasil sagrou-se campeão.4

Em 1962, o Brasil sagra-se novamente campeão do mundo de futebol, pontuando que logo
após a sua vitória, ocorreu o golpe militar sustentado por AIs, retirando Jango da presidência
da república.

O futebol brasileiro em meio ao militarismo e à opressão obteve um revés na Copa de 1966.


Para a afirmação do “milagre econômico” no governo Médici, o Brasil sagrou-se tri-campeão do
mundo em 1970, e a CBD criou a Taça de Prata (antigo Brasileirão).
Em 1971 Vicente Matheus apoiou Miguel Martinez para derrubar Waldih Helu, que acabou
deixando a presidência do clube um ano depois. Desta maneira, Vicente Matheus pôde assumir
a presidência do Corinthians novamente. Os jornais da época noticiaram:

No dia 18 de Agosto de 1972, assume a Presidência do Corinthians Vicente Matheus, que


fora um dos diretores de futebol na conquista do 4º centenário. E com ele nascia a esperança
de ver o time campeão, o sonho da grande torcida corinthiana, que já aquela altura
representava 31 por cento da população de São Paulo *.

Após dez anos de domínio de Wadih Helu na presidência e dez anos de oposição, Matheus
volta, assumindo o posto de Martinez, que o tinha indicado. Porém, não mostrou sucesso na
administração do clube. Iniciou-se então a mais longa administração de Matheus na
presidência, que teve a duração de nove anos, que amargariam um longo jejum de títulos.

Nessa época um dos maiores ídolos do clube, Rivelino, jogava. Ele ganhou apenas um título
e acabou saindo como o vilão do time devido à perda do titulo do Campeonato Paulista de
1974. Neste mesmo período, também era fundada a principal torcida organizada do clube, a
Gaviões da Fiel.

A decadência do “milagre econômico” também se refletiu no futebol com o fracasso do país


nas duas próximas Copas, entrando em cena, em meio à turbulência da ditadura, o novo
presidente Geisel. Respostas vindas da sociedade começaram a surgir com o movimento
sindical, o movimento estudantil, a democracia corinthiana, e agregado a isso, o início da
redemocratização do país no governo de Figueiredo.

Em 1977, o Corinthians reformulado e com o retorno de Oswaldo Brandão, seu último


técnico campeão em 1954, conquistou o título paulista após 23 anos sem nenhuma vitória, fato
que entrou para a história do clube, sendo este um dos mais importantes títulos do Corinthians.
O feito seria repetido em 1979 com a presença de Sócrates no elenco, uma contratação que foi
muito comemorada pelo clube e pelo próprio presidente Vicente Matheus.

Vicente Matheus foi o primeiro a ter a ideia de um estádio que fosse localizado em Itaquera,
sendo a concessão do terreno noticiada:

“Agora, o estádio”. Com essa frase, logo após a conquista do título tão esperado, o
Presidente Vicente Matheus se lançava para a conquista de nova meta: a construção de um
estádio que realmente pudesse comportar a massa corinthiana, sem depender mais do
Pacaembu ou do Morumbi. O primeiro passo foi o terreno. Como o Corinthians perdeu parte do
clube com a construção da marginal, Vicente Matheus foi pedir ao prefeito então Olavo Setubal,
um terreno para a construção do estádio, junto ao Parque São Jorge. Mas o Prefeito ofereceu
outro, junto à futura estação Itaquera do Metrô, um local que será urbanizado, com uma infra-
estrutura privilegiada para servir ao estádio *.

Porém este sonho não se tornou realidade. Nesse momento, nota-se a astúcia de Vicente
Matheus ao articular os interesses do clube com os políticos, visto que a mesma matéria relata:

... o Presidente da República, general Ernesto Geisel, e seu sucessor, João Batista
Figueiredo, participam da solenidade de entrega do terreno. Afora esta em desenvolvimento o
projeto do arquiteto Icaro de Castro Mello, que, com seus sócios, Cláudio Ciancirullo e Eduardo
de Castro Mello, vinham há mais de quatro anos fazendo estudos para um estádio com mais de
200 mil lugares (maior que o Maracanã) *.

A sua facilidade de articulação e o seu bom relacionamento com políticos também foram
noticiados:

Na gestão do Sr. Vicente Matheus estiveram visitando o clube os presidentes da República


Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo, além de governadores e prefeitos como Paulo Egídio
Martins, Paulo Salim Maluf, Reinaldo de Barros, Olavo Setúbal, Salim Curiati e Mário Covas.
Nessa época, como resultado de muita luta, foi oferecida por 99 anos ao Corinthians uma área
de 200 mil metros quadrados para a construção de um estádio para 200 mil espectadores*.

Em 1981, Vicente Matheus colocou Waldemar Pires na presidência, pois não conseguiria se
reeleger, tornando-se assim o seu vice e saindo após um ano. Waldemar colocou no cargo de
diretor de futebol a figura de Adilson Monteiro, dirigente que se simpatizava com os jogadores e
concordava com os ideais de Sócrates 5, dando início à Democracia Corinthiana, que trouxe
consigo dois Campeonatos Paulistas e uma lição de cidadania.

Nessa época, os clubes brasileiros começaram a vincular marcas em seus uniformes. Para a
Copa de 1982, o Brasil tinha uma das mais belas seleções já vistas, porém caiu diante da Itália,
adiando o sonho do tetra. Nas duas próximas Copas também não se sairia bem. O Brasil sagrar-
se-ia tetra campeão da Copa do Mundo somente em 1994, com a genialidade de Romário.

Em 1985, Roberto Pasqua torna-se o presidente do clube, e posteriormente, em 1987,


Vicente Matheus assume novamente a sua presidência:

Matheus esta de volta – foi uma vitória folgada, comemorada com muita festa pelos
correligionários do novo presidente. Agora, Mateus quer realizar um velho sonho corintiano:
construir um estádio para o Corinthians *.

Carisma e muito trabalho, os segredos de Mateus *.

E sob sua tutela, com Nelsinho Batista comandando o time, o Corinthians sagra-se campeão
brasileiro pela primeira vez em 1990. Após dois mandatos, Matheus não poderia se reeleger
novamente, então, nas eleições de 1991 coloca sua esposa, Marlene Matheus como presidente
e sai como vice, com o propósito de continuar a liderar o clube. Em 1993 assume a presidência
outra ilustre figura, Alberto Dualib.

Politicamente, Tancredo seria eleito presidente, porém por questão de saúde passou o posto
a Sarney. Em meio à inflação, Collor foi o primeiro presidente eleito pelo voto popular, mas logo
foi deposto do cargo por suspeita de corrupção.

Matheus faleceu em 7 de fevereiro de 1997 no Hospital do Coração 3.

Observa-se que Vicente Matheus se enquadraria como o torcedor convicto que acompanha o
seu time e a seleção brasileira em qualquer circunstância, mesmo alternando períodos de
depressão e de euforia 6, sendo desta maneira o dirigente do clube, porém mais torcedor
apaixonado do que propriamente dirigente, uma vez que era visto rotineiramente assistindo aos
jogos ajoelhado na entrada dos vestiários. É possível observar que Vicente Matheus apresenta
ações racionais com respeito a fins (onde o sujeito busca racionalmente atingir um objetivo
previamente determinado), como a dominação do clube, e a obtenção de um papel de
destaque no cenário paulista. Porém, ele também apresenta ações racionais com relação à
emoção (onde a dimensão sentimental assume o papel primordial), quando detectamos as suas
demonstrações de torcedor apaixonado.

3. Gestão

Como gestor, o presidente de um clube de futebol articula as tarefas majoritariamente, com


atividades associadas à distribuição de recursos (orçamentos, instalações e pessoal) para
diferentes modalidades e equipes, resolução de assuntos relacionados com o pessoal técnico
(supervisão e avaliação de rendimento), gestão de conflitos e acompanhamento de questões da
vida dos atletas 7. Vicente Matheus fez mais que do que isso, pois além de ser gestor, foi um
apaixonado pelo clube. Não só geriu o clube, como investiu boa parte de sua vida dedicando-se
a ele.

A gestão desta célebre figura foi definida da seguinte forma pela imprensa: “Vicente
Matheus: com ele, o saneamento das finanças e uma nova era de prosperidade” *.

Segundo Borragine et al.8, o gestor desportivo deve possuir algumas competências:

1. Conhecimento esportivo: Ou seja, entender o esporte e a modalidade em


questão. Não podemos afirmar que Matheus era um exímio conhecedor do
futebol se tratando de técnica e tática, mas sim um assíduo telespectador;
2. A arte de negociar: Nisto Matheus era excelente, apesar de que em alguns
momentos, ele usou dinheiro do próprio bolso para fazer algo ou comprar
alguma coisa para o clube. Ele mostrava astúcia nas negociações, como por
exemplo, quando trouxe o craque Sócrates, indo pessoalmente ao Botafogo de
Ribeirão Preto conversar com os dirigentes e com o jogador com o objetivo de
contratá-lo;
3. Planejamento estratégico, identificar oportunidades futuras e possíveis
ameaças: Este quesito Matheus herdou de sua atividade profissional, ao ter que
planejar e negociar principalmente com a prefeitura na época de sua
pavimentadora;
4. Tomada de decisão: Fazer a escolha correta no momento certo também foi um
quesito trazido de sua atividade profissional. Matheus tinha que atuar no
momento certo e da forma correta ao tratar de negócios com seus clientes e
funcionários;
5. Aprender a conviver com reclamações e críticas: Isto Matheus teve que
aprender na prática em sua primeira gestão diante das dificuldades
vivenciadas, compostas por um número considerável de críticas e
endagamentos, principalmente oriundos da mídia;
6. Conhecimentos legais e jurídicos básicos: Aqui Matheus deixava a desejar por
não ter completado seus estudos;
7. Captação de recursos: Neste quesito Matheus mostrava sucesso,
principalmente ao negociar com políticos. Um exemplo disso foi a cessão que
tratava do terreno de Itaquera, da qual participou;
8. Atenção em motivar seus subordinados e funcionários: Não podemos afirmar
que Matheus motivava seus funcionários, mas há um consenso de que ele foi
um homem muito centralizador e que gostava do poder;
9. Supervisão de recursos humanos: Quanto a guiar e orientar os seus
subordinados, Matheus apresentava excelentes atitudes, que fazem parte da
herança de sua posição nos negócios da família.

Segundo Pimenta9, existem três perfis de gestores esportivos: (a) o perfil profissional
genérico (mundial), que engloba as competências no marketing e vendas, planejamento
estratégico, programação de eventos, comunicação, conhecimento legal e fiscal e gestão de
pessoas; (b) o perfil do profissional em atividade (Brasil), que engloba as competências no
conhecimento de esportes, habilidade de negociações, processo decisório, lidar com
reclamações, conhecimento legal e supervisão de recursos humanos; e (c) o perfil do
profissional esperado, que engloba as competências no conhecimento dos esportes,
planejamento estratégico, processo decisório, lidar com reclamações, captação de recursos e
motivação dos funcionários.

Vicente Matheus aproxima-se mais do perfil esperado, o que mostra como ele conseguiu se
manter no cargo por um longo tempo, apesar dele também se apresentar muito próximo dos
dois outros perfis de profissionais de gestão esportiva.

No mesmo estudo o autor conclui que para a maioria, as competências requeridas pelo
gestor esportivo que foram identificadas, derivam-se de duas grandes disciplinas, sendo elas a
administração e a comunicação9. Vicente Matheus aprendeu a administrar cuidando de seus
negócios, e a comunicação era algo natural em sua personalidade, muito explicita em seus
negócios e em suas exibições na imprensa.

Considerações finais

Vicente Matheus foi uma figura emblemática e autoritária que contribuiu muito para o Sport
Club Corinthians Paulista, sendo exaltado por uns e execrado por outros, um homem
apaixonado pelo clube que foi importante na história deste.

Dedicou sua vida ao trabalho árduo, porém gratificante. Juntamente com o seu interesse
pelo futebol, veio a paixão pelo Corinthians, que fez com que ele se tornasse o seu sócio,
diretor esportivo e presidente, ao mesmo tempo em que se tornava um milionário e bem
sucedido empresário.

Enquanto gestor dedicou grande parte de seu tempo ao clube, abdicando dos negócios da
família, pois por vezes tirou dinheiro de seus investimentos para aplicar no clube, mesmo
sabendo que estas quantias jamais retornariam às suas mãos. Atuou politicamente no clube até
o final de sua vida, e em determinados momentos nos quais não podia ter o poder, indicava
alguém e permanecia liderando, se não como a principal figura da gestão, como forte influente
e com participação ativa, assim como quando colocou Marlene Matheus, sua esposa, na
presidência.
Teve grande relevância no fortalecimento do clube, suas gestões junto com as de Alfredo
Ignácio Trindade e Wadih Helu colaboraram para a profissionalização, massificação e para uma
transição baseada nos fatos que estavam ocorrendo no futebol e no cenário político e
econômico do Brasil na época.

Vicente Matheus apresentou uma influência direta nos resultados do clube. É certo que não
acertou todas as vezes, como no caso de Almir, quando tirou o dinheiro do caixa do
Corinthians, além de desembolsar uma grande quantia de seu próprio bolso para investir em
um jogador que não deu certo. Suas ações refletiram diretamente nos resultados, e quando
estes não eram satisfatórios, a busca por mudanças era confiada geralmente aos técnicos e aos
craques do time, como aconteceu com Rivelino, que saiu do Corinthians sendo considerado o
vilão do jejum de títulos.

Matheus obteve resultados importantes e trouxe grandes títulos em sua gestão ao clube,
como o Campeonato Paulista de 1977 conquistado após um longo jejum de 23 anos sem
ganhar nenhum título, num momento em que seus principais rivais já tinham ganhado títulos
de expressão.

Foi um gestor competente e apesar de não ter formação acadêmica na área, tinha uma
grande bagagem e experiência profissional por ter atuado na prática como gestor nos negócios
familiares desde muito novo, e por ter transformado uma pequena pedreira em um império dos
Matheus. Sendo assim, ele uniu sua experiência profissional e empreendedora à sua paixão
para se dedicar ao clube, e apesar de não ser um profundo conhecedor do jogo de futebol em
si, tinha um perfil ideal de gestor esportivo, comprovado por sua facilidade e competência nas
articulações e negociações com políticos, outros presidentes de clubes e empresários para
benefício do Corinthians.

Notas

* Extraído do acervo do Memorial do Corinthians. Responsável: David José Costa.

Referências bibliográficas

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Editora Nacional, 2008.
2. WEBER, M. Economia e Sociedade: Fundamentos da sociologia
compreensiva. Tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. 3ª ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994.
3. RAMOS, L. Vicente Matheus: quem sai na chuva é para se queimar. São Paulo:
Editora do Brasil, 2001.
4. GUTERMAN, M. O futebol explica o Brasil – Uma história da maior expressão
popular do país. São Paulo: Editora Contexto, 2009.
5. SILVA, F. P. et al. Influência do movimento democrático no Corinthians e os
reflexos no futebol e no momento político do Brasil. Lecturas Educación Física y
Desportes (Buenos Aires) v.16, n° 158, p. 1-12, Julio,
2011. http://www.efdeportes.com/efd158/influencia-do-movimento-
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6. FAUSTO, B. De Alma lavada e coração pulsante. Revista de Historia da USP.
São Paulo. Dossiê História e Futebol, n.163, P. 139 – 148, Dezembro, 2010.
7. MAÇÃS, V. M. O. O director desportivo nas organizações do futebol em Portugal
– caracterização da atividade dos gestores de desporto nos clubes de futebol
profissional e não profissional. 2006. 46 – 47. Tese (Doutorado em Educação
Física e Desporto) – Escola de Ciências da vida e do Ambiente (ECVA),
Universidade Tràs-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 2006.
8. FERRAZ, T. M. et al. Gestão esportiva: Competências e qualificações do
profissional de educação física. Lecturas Educación Física y Desportes (Buenos
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2010. http://www.efdeportes.com/efd147/gestao-esportiva-competencias-e-
qualificacoes.htm
9. PIMENTA, R. C. O perfil profissional do gestor de organizações esportivas
brasileiras. 2001. 88 – 93. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) –
Escola Brasileira de Administração Pública, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo,
SP, 2001.

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