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Marco Bettine
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All content following this page was uploaded by Marco Bettine on 19 May 2023.
Resumo
Vicente Matheus foi um presidente importante para a história e evolução do Sport Club Corinthians
Paulista. O presente estudo buscou, por meio de pesquisa bibliográfica e documental, entender a figura deste
presidente, sua gestão e influência direta nos resultados obtidos e na história do clube, a partir de suas
decisões administrativas e articulações políticas.
Unitermos: Vicente Matheus. Corinthians. Presidência. Gestão.
Resumen
Vicente Matheus fue un presidente importante en la historia y evolución del Sport Club Corinthians
Paulista. El presente estudio busca, a través de la investigación bibliográfica y documental, entender la figura
de este presidente, su administración y su influencia directa en los resultados y en la historia del club, de sus
decisiones administrativas y las articulaciones políticas.
Palabras clave: Vicente Matheus. Corinthians. Presidência. Gestión.
Abstract
Vicente Matheus was an important president in the history and evolution of Sport Club Corinthians
Paulista. The present study sought, through bibliographic and documentary research, understand the figure of
this president, his management and direct influence on the results and in club history, from its administrative
decisions and policies joints.
Keywords: Vicente Matheus. Corinthians. Presidency. Management.
1/1
Introdução
Este estudo tem uma abordagem qualitativa e descritiva. Ele foi realizado por meio de
pesquisa bibliográfica e documental que estudou os aspectos históricos e políticos do Brasil e do
Sport Clube Corinthians Paulista, durante o período de 1955 a 1995.
1. Vicente Matheus
Em São Paulo, a família de Vicente Matheus cresce, e ele ganha dez irmãos. Com o objetivo
de ajudar o seu pai, começa a trabalhar cedo. Com o trabalho prosperando, a família inicia a
exploração de pedreiras em Ribeirão Pires e em Pilar (que posteriormente teve seu nome
alterado para Mauá), local onde Vicente Matheus apaixonou-se pelo futebol. Vicente Matheus
jogava de médio-volante no Pilar, e nessa época, ao assistir a um jogo do Corinthians de Neco,
Grané e Tatu, ficou encantado, passando a tentar imitar os jogadores corintianos 3.
Já com a maioridade, Vicente Matheus tomava conta dos negócios e da família. Os negócios
prosperaram, aumentando assim a produtividade das pedreiras, o que possibilitou o nascimento
da pavimentadora dos Matheus.
Vicente Matheus continuou interessado pelo futebol, frequentando o Parque São Jorge nos
finais de semana, na época em que o profissionalismo teve início no futebol. Em 1934 casou-se
com Ruth, com quem teve duas filhas, seguindo sempre à frente dos negócios da família. No
final da década de 1930, a pavimentadora ganhou uma concorrente na prefeitura para
pavimentar a Rua São Jorge. Nesta época, Vicente Matheus apreciando o local e o bairro,
decidiu mudar-se com a sua esposa e filhas para uma casa localizada em frente ao Parque São
Jorge 3.
Nos anos quarenta, Matheus entra para o grupo de dirigentes do Sport Club Corinthians
Paulista tornando-se seu conselheiro, com a referência de ser um homem bem sucedido nos
negócios. Vicente Matheus então começa a tomar posição política dentro do clube, apoiando
Alfredo Ignácio Trindade para presidente. Posteriormente, Matheus se torna diretor de
patrimônio e logo um dos diretores de futebol.
2. Presidência
O Brasil vinha de uma mudança política, influenciada pela Segunda Guerra Mundial e,
posteriormente pela Guerra Fria, que alterou a sua economia. Em um clima de incerteza, o
Presidente Dutra investiu na realização da Copa do Mundo de 1950, sendo frustrado o sonho no
famoso “Maracanasso”, com o Brasil saindo derrotado na final pelo Uruguai em pleno Maracanã
lotado. Getúlio Vargas presidiu o Brasil e trouxe uma efervescência na política brasileira, com a
criação da Eletrobrás e da Petrobrás. Em meio a essa turbulência, o Brasil foi para a Copa de
1954 4.
Em 1956, o sucessor de Vargas, Juscelino Kubitscheck, tomou posse da presidência do país
com o slogan “50 anos em 5”, reforçando o “nacional–desenvolvimentismo”, e construindo
Brasília, a nova capital da República.
O Corinthians tinha um time de base forte que ganhara alguns títulos importantes na década
de 1950. O presidente anterior, Alfredo Ignácio Trindade trouxera mudanças positivas para o
clube, tais como o parque aquático que existe até hoje. Todavia, Vicente Matheus, antes o
diretor de futebol do clube, acabou unindo forças com Wadih Helu, com o propósito de
destronar a presidência de Alfredo Ignácio Trindade 1.
Matheus já havia perdido a eleição de 1957 na qual somente os conselheiros podiam votar.
Algumas mudanças ocorreram, e os sócios foram autorizados a votar nos conselheiros
quadrienais para eleger o novo presidente. Vicente Matheus, com a promessa de reformar o
Parque São Jorge, construir um ginásio moderno de esportes, ampliar o conjunto de piscinas,
fortalecer os esportes amadores e contratar grandes jogadores, conseguiu vencer a eleição,
tornando-se assim o presidente do Sport Club Corinthians Paulista.
Durante a sua primeira gestão (1959-1961), Vicente Matheus, na época com 51 anos de
idade, regularizou as finanças do clube e trouxe para este toda a tecnologia que podia lhe
proporcionar. Em uma entrevista, a fala de Vicente Matheus marcou uma de suas famosas
“pérolas”: “O difícil não é fácil” ao falar da dificuldade de achar grandes jogadores para
contratar 3.
Vicente Matheus acabou perdendo as eleições para o seu vice Wadih Helu e não conseguiu
se reeleger devido aos maus resultados do time e do insucesso do craque Almir. Wadih Helu foi
um presidente que contribuiu muito para a melhora da infraestrutura do clube.
Com a chegada de João Havelange à CBD, o futebol brasileiro começou a tomar ares de
profissionalismo para a disputa da Copa de 1958, na qual o Brasil sagrou-se campeão.4
Em 1962, o Brasil sagra-se novamente campeão do mundo de futebol, pontuando que logo
após a sua vitória, ocorreu o golpe militar sustentado por AIs, retirando Jango da presidência
da república.
Após dez anos de domínio de Wadih Helu na presidência e dez anos de oposição, Matheus
volta, assumindo o posto de Martinez, que o tinha indicado. Porém, não mostrou sucesso na
administração do clube. Iniciou-se então a mais longa administração de Matheus na
presidência, que teve a duração de nove anos, que amargariam um longo jejum de títulos.
Nessa época um dos maiores ídolos do clube, Rivelino, jogava. Ele ganhou apenas um título
e acabou saindo como o vilão do time devido à perda do titulo do Campeonato Paulista de
1974. Neste mesmo período, também era fundada a principal torcida organizada do clube, a
Gaviões da Fiel.
Vicente Matheus foi o primeiro a ter a ideia de um estádio que fosse localizado em Itaquera,
sendo a concessão do terreno noticiada:
“Agora, o estádio”. Com essa frase, logo após a conquista do título tão esperado, o
Presidente Vicente Matheus se lançava para a conquista de nova meta: a construção de um
estádio que realmente pudesse comportar a massa corinthiana, sem depender mais do
Pacaembu ou do Morumbi. O primeiro passo foi o terreno. Como o Corinthians perdeu parte do
clube com a construção da marginal, Vicente Matheus foi pedir ao prefeito então Olavo Setubal,
um terreno para a construção do estádio, junto ao Parque São Jorge. Mas o Prefeito ofereceu
outro, junto à futura estação Itaquera do Metrô, um local que será urbanizado, com uma infra-
estrutura privilegiada para servir ao estádio *.
Porém este sonho não se tornou realidade. Nesse momento, nota-se a astúcia de Vicente
Matheus ao articular os interesses do clube com os políticos, visto que a mesma matéria relata:
... o Presidente da República, general Ernesto Geisel, e seu sucessor, João Batista
Figueiredo, participam da solenidade de entrega do terreno. Afora esta em desenvolvimento o
projeto do arquiteto Icaro de Castro Mello, que, com seus sócios, Cláudio Ciancirullo e Eduardo
de Castro Mello, vinham há mais de quatro anos fazendo estudos para um estádio com mais de
200 mil lugares (maior que o Maracanã) *.
A sua facilidade de articulação e o seu bom relacionamento com políticos também foram
noticiados:
Em 1981, Vicente Matheus colocou Waldemar Pires na presidência, pois não conseguiria se
reeleger, tornando-se assim o seu vice e saindo após um ano. Waldemar colocou no cargo de
diretor de futebol a figura de Adilson Monteiro, dirigente que se simpatizava com os jogadores e
concordava com os ideais de Sócrates 5, dando início à Democracia Corinthiana, que trouxe
consigo dois Campeonatos Paulistas e uma lição de cidadania.
Nessa época, os clubes brasileiros começaram a vincular marcas em seus uniformes. Para a
Copa de 1982, o Brasil tinha uma das mais belas seleções já vistas, porém caiu diante da Itália,
adiando o sonho do tetra. Nas duas próximas Copas também não se sairia bem. O Brasil sagrar-
se-ia tetra campeão da Copa do Mundo somente em 1994, com a genialidade de Romário.
Matheus esta de volta – foi uma vitória folgada, comemorada com muita festa pelos
correligionários do novo presidente. Agora, Mateus quer realizar um velho sonho corintiano:
construir um estádio para o Corinthians *.
E sob sua tutela, com Nelsinho Batista comandando o time, o Corinthians sagra-se campeão
brasileiro pela primeira vez em 1990. Após dois mandatos, Matheus não poderia se reeleger
novamente, então, nas eleições de 1991 coloca sua esposa, Marlene Matheus como presidente
e sai como vice, com o propósito de continuar a liderar o clube. Em 1993 assume a presidência
outra ilustre figura, Alberto Dualib.
Politicamente, Tancredo seria eleito presidente, porém por questão de saúde passou o posto
a Sarney. Em meio à inflação, Collor foi o primeiro presidente eleito pelo voto popular, mas logo
foi deposto do cargo por suspeita de corrupção.
Observa-se que Vicente Matheus se enquadraria como o torcedor convicto que acompanha o
seu time e a seleção brasileira em qualquer circunstância, mesmo alternando períodos de
depressão e de euforia 6, sendo desta maneira o dirigente do clube, porém mais torcedor
apaixonado do que propriamente dirigente, uma vez que era visto rotineiramente assistindo aos
jogos ajoelhado na entrada dos vestiários. É possível observar que Vicente Matheus apresenta
ações racionais com respeito a fins (onde o sujeito busca racionalmente atingir um objetivo
previamente determinado), como a dominação do clube, e a obtenção de um papel de
destaque no cenário paulista. Porém, ele também apresenta ações racionais com relação à
emoção (onde a dimensão sentimental assume o papel primordial), quando detectamos as suas
demonstrações de torcedor apaixonado.
3. Gestão
A gestão desta célebre figura foi definida da seguinte forma pela imprensa: “Vicente
Matheus: com ele, o saneamento das finanças e uma nova era de prosperidade” *.
Segundo Pimenta9, existem três perfis de gestores esportivos: (a) o perfil profissional
genérico (mundial), que engloba as competências no marketing e vendas, planejamento
estratégico, programação de eventos, comunicação, conhecimento legal e fiscal e gestão de
pessoas; (b) o perfil do profissional em atividade (Brasil), que engloba as competências no
conhecimento de esportes, habilidade de negociações, processo decisório, lidar com
reclamações, conhecimento legal e supervisão de recursos humanos; e (c) o perfil do
profissional esperado, que engloba as competências no conhecimento dos esportes,
planejamento estratégico, processo decisório, lidar com reclamações, captação de recursos e
motivação dos funcionários.
Vicente Matheus aproxima-se mais do perfil esperado, o que mostra como ele conseguiu se
manter no cargo por um longo tempo, apesar dele também se apresentar muito próximo dos
dois outros perfis de profissionais de gestão esportiva.
No mesmo estudo o autor conclui que para a maioria, as competências requeridas pelo
gestor esportivo que foram identificadas, derivam-se de duas grandes disciplinas, sendo elas a
administração e a comunicação9. Vicente Matheus aprendeu a administrar cuidando de seus
negócios, e a comunicação era algo natural em sua personalidade, muito explicita em seus
negócios e em suas exibições na imprensa.
Considerações finais
Vicente Matheus foi uma figura emblemática e autoritária que contribuiu muito para o Sport
Club Corinthians Paulista, sendo exaltado por uns e execrado por outros, um homem
apaixonado pelo clube que foi importante na história deste.
Dedicou sua vida ao trabalho árduo, porém gratificante. Juntamente com o seu interesse
pelo futebol, veio a paixão pelo Corinthians, que fez com que ele se tornasse o seu sócio,
diretor esportivo e presidente, ao mesmo tempo em que se tornava um milionário e bem
sucedido empresário.
Enquanto gestor dedicou grande parte de seu tempo ao clube, abdicando dos negócios da
família, pois por vezes tirou dinheiro de seus investimentos para aplicar no clube, mesmo
sabendo que estas quantias jamais retornariam às suas mãos. Atuou politicamente no clube até
o final de sua vida, e em determinados momentos nos quais não podia ter o poder, indicava
alguém e permanecia liderando, se não como a principal figura da gestão, como forte influente
e com participação ativa, assim como quando colocou Marlene Matheus, sua esposa, na
presidência.
Teve grande relevância no fortalecimento do clube, suas gestões junto com as de Alfredo
Ignácio Trindade e Wadih Helu colaboraram para a profissionalização, massificação e para uma
transição baseada nos fatos que estavam ocorrendo no futebol e no cenário político e
econômico do Brasil na época.
Vicente Matheus apresentou uma influência direta nos resultados do clube. É certo que não
acertou todas as vezes, como no caso de Almir, quando tirou o dinheiro do caixa do
Corinthians, além de desembolsar uma grande quantia de seu próprio bolso para investir em
um jogador que não deu certo. Suas ações refletiram diretamente nos resultados, e quando
estes não eram satisfatórios, a busca por mudanças era confiada geralmente aos técnicos e aos
craques do time, como aconteceu com Rivelino, que saiu do Corinthians sendo considerado o
vilão do jejum de títulos.
Matheus obteve resultados importantes e trouxe grandes títulos em sua gestão ao clube,
como o Campeonato Paulista de 1977 conquistado após um longo jejum de 23 anos sem
ganhar nenhum título, num momento em que seus principais rivais já tinham ganhado títulos
de expressão.
Foi um gestor competente e apesar de não ter formação acadêmica na área, tinha uma
grande bagagem e experiência profissional por ter atuado na prática como gestor nos negócios
familiares desde muito novo, e por ter transformado uma pequena pedreira em um império dos
Matheus. Sendo assim, ele uniu sua experiência profissional e empreendedora à sua paixão
para se dedicar ao clube, e apesar de não ser um profundo conhecedor do jogo de futebol em
si, tinha um perfil ideal de gestor esportivo, comprovado por sua facilidade e competência nas
articulações e negociações com políticos, outros presidentes de clubes e empresários para
benefício do Corinthians.
Notas
Referências bibliográficas
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 174 | Buenos Aires, Noviembre de 2012
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