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A CúPULA POlíTICA MINEIRA NA REPÚBLICA VELHA:

AS ORIGENS SOCIOECONõMICAS E RECRUTAMENTO


DE GOVERNADORES, VICE-GOVERNADORES E
DEPUTADOS FEDERAIS*

DAVID V. FLEISCHER**

1. Introdução; 2. Recrutamento legislativo; 3. O papel do


PRM e o coronelismo; 4. Padrijes de carreira; 5. COllclusões.

1. Introdução

Este trabalho procuro fazer a historiografia política de Minas Gerais


durante a República Velha, através de uma análise da sua cúpula política
eleita durante este período. Esta tarefa será levada a cabo pela análise
dos antecedentes socioeconômicos, do recrutamento e de padrões de car-
reira das pessoas que ocuparam três posições-chave da cúpula política
estadual: governadores, vice-governadores e deputados federais.

1.1 Antecedentes e recrutamento político


o conceito de "recrutamento político" foi elaborado sistematicamente pela
primeira vez por Lester Seligman na década de 50.1 Com o surgimento da
análise funcional nas ciências sociais na década de 60, o recrutamento
político chegou a ser incluído como uma das funções de "entrada" (input)
vistas como operantes em todos os sistemas políticos. 2

* O autor agradece os comentários e sugestões do colega, Prof. Fernando Corre a


Dias do Departamento de Ciências da Universidade de Brasília.
** Professor adjunto da Universidade de Brasília.
1 Seligman, Lester G. Recruitment in politic. Political Research Orgallizatioll and
Design (PROD), v. 1, n. 4, p. 4-17, 1958; e A prefatory study of Leadership in Oregon.
Western Political Quarterly, v. 12, n. 1, p. 153-67, 1959. Para uma conceitualização
mais recente, veja seu Rlcruiting political elites. Morristown, General Learning Press,
1970; e Patterns of recruitment. Chicago, Rand McNally, 1975.
2 Almond, Gabriel A. & Coleman, James S. A política das áreas em desenvolvimento.
Rio, Freitas Bastos, p. 38-40, 1969; e - - - & Powell, G. Bingham. Uma teoria de
política comparada. Rio, Zahar, p. 20, 35-6, 1972.

R. Cio poI., Rio de Janeiro, 20(4) :9-54, oul. / dez. 1977


Estudos sobre o recrutamento político podem ser agrupados em três
linhas gerais de investigação: a) estudos de elites; b) estudos psicológicos
sobre motivações, atitudes e predisposições das elites; e c) estudos de
antecedentes socioeconômicos e de padrões de carreira de líderes políticos.
Por se tratar de um estudo histórico, o presente trabalho encontra-se nesta
terceira categoria. 3
Talvez a abordagem mais comum usada em investigações sobre o recru-
tamento político tenha sido a de examinar os antecedentes socioeconômicos
e os padrões de avanço na carreira de ocupantes de importantes cargos
políticos. Usualmente, uma ou mais posições institucionais específicas são
escolhidas para definir a seção da elite a ser examinada, e dados sobre
os antecedentes e a carreira política são coletados para as pessoas que, ou
têm ocupado tais posições, ou têm sido candidatas a tais posições (caso
sejam cargos eletivos), durante um certo período de tempo.
Estes estudos feitos sobre períodos bastante longos (de 30 a 50 anos)
muitas vezes são utilizados para avaliar as relações entre mudanças tipo
macro na sociedade, nos sistemas econômico e político, e a composição
da elite política. Freqüentemente, ligações causais são postuladas numa
direção ou outra (ou como uma espécie de ciclo contínuo).
Porém, estas variáveis de antecedentes, quando estudadas ao longo do
tempo, podem revelar importantes mudanças estruturais na elite, especial-
mente nas configurações de acesso relativo às decisões políticas de grande
porte. Em sua análise da Assembléia Nacional Turca entre 1920 e 1957,
Frey concluiu que as proporções de advogados, médicos, outros profis-
sionais e comerciantes aumentaram constantemente, enquanto as dos mili-
tares, funcionários e religiosos diminuíram ao longo deste período. "Loca-
lismo", isto é, a percentagem de deputados nascidos na região representada
configura um índice que aproxima uma curva "tipo-U"; de 62% em 1920,
os "locais" abaixaram para 30% em 1935, para aumentar de novo até
65% em 1957. 4
Frey explica que estas mudanças na composição ocupacional da Assem-
bléia acompanharam o desenvolvimento político da nação - o crescimento
do sistema multi partidário, e o maior prestígio e importância de certas
ocupações na Turquia. Com relação ao localismo, Frey afirma que isto
reflete a morte de Mllstafa Kemal (Ataturk) em 1938, o início do sistema
multi partidário em 1946, e o aumento constante dos deputados provindos
da advocacia e do comércio (que tiveram bases mais locais).
Em seu estudo longitudinal dos deputados ingleses, Guttsman consegue
ligar mudanças na estrutura ocupacional e de classes na Câmara Baixa
com certos "divisores de águas" decisivos na história política do país, tais
como: extensões sucessivas do direito ao voto durante o século XIX, e
3 Para um bom resumo geral do conceito de elites, veja Parry, Geriant. Political
elites. New York, Praeger, p. 15-29, 1969; Bottomore, T. B. Elites e sociedade. Rio,
Zahar, p. 1-21; e Prewitt, Kenneth & Stone, Allan. The ruling elites. New York,
Harper & Row, 1973. p. 1-28.
4 Frey, Frederick W. The Turkish political elite. Cambridge, The MIT Press, 1965.
p. 180-92.

10 R.C.P. 4/77
mudanças nos níveis de urbanização e a configuração econômica da
nação. 5
Dogan, no seu trabalho sobre deputados franceses durante a Terceira
e a Quarta Repúblicas, documenta o declínio da classe alta francesa e a
conseqüente predominância das classes médias (e mais tarde das mais
baixas) refletidas nas mudanças na composição da Assembléia Naciona1. 6
No entanto, Aron nos adverte que a aquisição do "poder político"
através de maiorias nos legislativos nacionais não foi acompanhada pela
conquista do poder econômico por parte das classes médias e baixas na
França. 7 Bottomore faz a mesma observação para a Grã-Bretanha em
termos de ascensão política das classes trabalhadoras (documentada por
Guttsman), e a sua subseqüente não-aquisição do poder econômico da
década de 20 à de 50. 8
Embora estes estudos forneçam subsídios úteis sobre mudanças nas
relações de poder e prestígio dentro de uma elite; alterações nos sistemas
social, econômico e político; e os mecanismos de promoção política nos
níveis mais altos da elite, pouca ou nenhuma inferência pode ser feita
sobre como ou por que certos atores políticos foram inicialmente recrutados
e subseqüentemente alcançaram as posições atuais dentro da elite.
Para poder fazer estes tipos de inferências, entrevistas intensivas seriam
necessárias com uma parcela ampla da elite política. Porém, além de serem
extremamente caras, metodologias desta natureza tendem a usar uma
análise transeccional (cross-seccional analysis) , em vez de longitudinal;
assim comprometendo quaisquer conclusões a respeito de mudanças no
prazo maior. 9

1.2 Recrutamento político em Minas Gerais


O presente trabalho é uma continuação e ampliação de um estudo anterior
sobre deputados federais mineiros. 10 Numa época mais recente, cabe-nos
mencionar o esforço pioneiro e hercúleo do Prof. Orlando M. Carvalho,
que compilou dados de antecedentes para 31.660 ativistas políticos de
Minas Gerais (em 1948). Numa tentativa de associar a política estadual
5 Guttsman, WiJliam L. The British political elite. London, MacGibbon & Key, 1963.
6 Dogan, Mattei. Political ascent in a class society: French deputies, 1870-1958. In:
Marvick, Dwaine, ed., Political decision-makers. New York, The Free Press, 1961.
p. 57-90. Veja também McRae Jr., Duncan. Parliament, parties and society in France,
1946-1958. New York, St. Martin's Press, 1967. p. 47-55.
7 Aron, Raymond. Social structure and the ruling class: part I. British Joumal of
Sociology, v. 1, n. 1, p. 15-6, 1950.
8 Bottomore, T. B. op. cito p. 37-40. Este autor utiliza dados sobre a distribuição
de renda reportados em Strachey, John. Contemporary capitalismo London, Gollancz,
1956. p. 137-8.
9 Para uma discussão dos problemas envolvidos em entrevistar amostras longitudinais
de políticos mineiros, veja Fleischer, David V. Political recruitment in the state of
Minas Gerais, Brasil (1 '190-1970). Tese de Ph.D., University of Florida, 1972.
Apêndice 1, p. 285-304; \; ---o O trampolim político: mudanças nos padrões de
recrutamento político em Minas Gerais. Revista de Administração Pública, V. 7, n. 1,
p. 99-116, 1973.
10 Fleischer, David V. Political recruitment . .. op. cit.

República Velha 11
e municipal com mudanças no sistema social, Carvalho comparou dados
para deputados federais e estaduais, prefeitos, vereadores e membros de
diretórios locais por rartido, com mudanças demográficas observadas entre
os censos de 1940 e 1950. 11
Mais recentemente, um questionário que foi aplicado entre deputados
estaduais mineiros eleitos em 1966 continha alguns itens sobre antece-
dentes sociais e cargos previamente ocupados; dados estes que foram
comparados com partido e atitudes sobre o desenvolvimento econômico no
estadoY Em dois trabalhos recentes, foi analisado o recrutamento de
deputados federais e estaduais mineiros eleitos após 1945. 13 O recrutamento
de elites burocráticas na nova capital de Belo Horizonte foi o enfoque
de um estudo sobre a República Velha. H
Existe um número considerável de estudos sobre o poder local em Minas
Gerais que tratam, embora perifericamente, da seleção e recrutamento
inicial de políticos em nível local. Cinco destes estudos foram comparados
criticamente por José Murilo de Carvalho. 15
Em resumo, existe um razoável grupo de trabalhos sobre elites políticas
em Minas Gerais, mas a República Velha ainda carece de um estudo mais
compreensivo da sua elite política durante seus 40 anos de existência. Ir,

1.3 Uma nota metodológica


Os dados que proporcionaram a presente análise foram levantados de
várias fontes, na sua maioria encontradas no Arquivo Público MineiroY

11 Carvalho, Orlando M. Ensaios de sociologia eleitoral. Belo Horizonte:. Edições


RBEP, 1954. p. 66-80.
12 Bastos, Tocary A. & Walker, Thomas W. Partidos e forças políticas em Mina<
Gerais. Rel'ista Brasilein de Estudos Políticos. v. 31, p. 117-58, 1971.
r:J Fleischer. David V. A bancada federal mineira. Re\'Ísta Brasileira de Estudaç
Políticos, v. 45, a sair; e A redemocratização em Minas. Cademos do DCP. UF!v1G,
v. 4, a sair.
H Siqueira, Moema Miranda de. Elites políticas em Minas Gerais. ReI'. Bras. de
Est. Pai .. v. 29. p. 173-9, 1970.
13 Carvalho, José Murilo de. Estudos do poder local no Br.1sil. Rev. Bras. de Est.
Pai., v. 25/26, p. 231-4S. 1969. Um estudo recente sobre o poder local foi especial-
mente bem montado, e comparou os métodos "reputacional", "institucional" e t!"Ci5ioll-
making de identificar e analisar elites locais em Caeté. Minas Gerais. Sih'a, Celso 1.
da. Marchas e contramarchas do mandonismo local. Belo Horizonte, Edições RBEP,
1973.
16 Um estudo "compreensivo" da elite política estadual desta época deyeria também
incluir membros da Comissão Executiva do PRM, senadores federais e 5ecretários
de estado. Portnnto, estes são excluídos do presente trabalho em razão do seu menor
fôlego. Ainda poderiam ser incluídos deputados e senadores estaduais, mas os dados
para este grupo são bastante incompletos.
17 O autor gentilmente agradece o apoio e o estímulo recebidos pelo então diretor
do Arquivo Público Mineiro, Dr. João Gomes Teixeira, e os demais funcionários da
época (1969 a 1971). As principais fontes de dados foram: Minas Gerais (órgão
oficial do governo de Minas Gerais); Dunshee de Abranches Moura, João. GOI'er/lOs
e congressos da República dos Estados Unidos do Brasil. Rio, M. Abranches, 1918;
Lyra, Augusto Tavares de. O Senado da República, 1890-1930. Revista do Imtituto
de História e Geografia Brasileira, v. 210, p. 3-102, 1951; Godinho, Wanor R. &
Andrade, Oswaldo S. Constituintes brasileiros de 1934. Rio, Imprensa Oficial, 1934;

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Os dados foram codificados em cartões tipo IBM e analisados por compu-
tador. 18
Para os deputados federais, a análise inclui todos os eleitos e os
suplentes que tiveram exercício durante o período. Dos 241 parlamentares
levantados, apenas 32 têm dados incompletos (13,3 % ). Como fica claro
na análise estatística apresentada, o tratamento excluiu estes para tornar
a análise mais comparativa. 19
Para os governadores e vice-governadores do estado (presidentes e vice-
presidentes de Minas Gerais na época), foram incluídas as 24 pessoas que
exerceram mandatos entre 18 de julho de 1891 até 5 de setembro de 1933.
Destes, cinco vice-governadores assumiram mandatos incompletos como
governador, e duas pessoas tiveram dois exercícios diferentes como gover-
nador.~o
Ao longo do trabalho, as operacionalizações dos vários conceitos utili-
zado~ e a construção de variáveis serão descritas quando aparecem no
texto pela primeira vez.

2. Recrutamento legislativo

Durante a República Velha existiram quatro cargos legislativos em Minas


Gerais: deputado e senador estadual, e deputado e senador federal. Dados
para o exercício e a renovação foram coletados para o legislativo estadual,
mas dados biográficos e de carreira política foram muito escassos. Assim,
somente dados sobre a circulação de parlamentares estaduais serão apre-
sentados, apenas para efeito de comparação.
Os senadores federais cumpriram mandatos de seis e nove anos (em
comparação aos três anos dos deputados federais), por isso constituíram
um grupo numericamente menor; portanto, esta parte do presente trabalho
tratará apenas do cargo de deputado federal.
A Assembléia Nacional Constituinte reuniu-se no Rio de Janeiro em
novembro de 1890, para elaborar a nova Carta Republicana. Terminada
esta tarefa em 26 de fevereiro de 1891, a Assembléia transformou-se na
primeira legislatura regular da República Velha. 21 Nesta qualidade, o
Congresso foi reconvocado em 15 de junho de 1891 com a substituição
de cinco membros da bancada mineira original. Assim, o primeiro triênio
legislativo terminou em 25 de setembro de 1893. Embora esta primeira
e Silva. Gastão Pereira da. Constituintes de 46. Rio, Ed. Spinoza, 1947, além d:l
necrológio de ilustres personagens mantido pelo Arquivo Público Mineiro.
lS O sistema de codificação encontra-se reproduzido em Fleischer, David V. O recru-
tamento político em Minas. op. cit. p. 77-83. A computação foi feita com o conjunto
de programas SPSS (St2tistical package for the social sciences); inicialmente pele
~ortheast Regional Data Center da University of Florida (em 1971), e na versão
atual pelo Centro de Processamento de Dados da Universidade de Brasília. O autor
agradece esta valiosa colaboração.
19 Para uma enumeração total dos deputados federais, veja apêndice 1.
20 Os 19 governadores e 12 vice-governadores estão enumerados nos apêndices 2 e 3.
Observe-se que a coleta destes dados foi completa.
21 Em virtude do art. 1.0, ~ 4.° das Disposições Transitórias da Constituição de
1890. Dunshee de Abranches Moura, J. op. cito

República Velha 13
legislatura tivesse um mandato um pouco maior, será trrtada como tendo
três anos, como as demais, para simplificar a análise. Legislaturas regulares
de três anos foi a norma até 1930, sendo que quando a revolução de
outubro eclodiu, a 14~ legislatura estava reunida há apenas seis meses.
Outra Assembléia Nacional Constituinte reuniu-se em 15 de novembro
de 1933 e redigiu uma nova constituição no ano seguinte. Ao contrário
da Assembléia Constituinte Republicana, a de 1934 não se converteu em
legislatura regular. Novas eleições foram realizadas em 1935 para uma
legislatura que durar:i pouco mais de dois anos, vindo a ser fechada pelo
Estado Novo em novembro de 1937. Estas últimas duas legislaturas (a
Constituinte de 1934 e a Legislatura de 1935), são denominadas a 15~
e 1M legislaturas, respectivamente. Estas são consideradas como compreen-
dendo um período transicional, e estão anexadas ao período pré-1930 para
efeitos de comparação.
As 16 legislaturas a serem analisadas são estas:
P 1890-1893 9~ 1915-1917
2~ 1894-1896 1O~ 1918-1920
3~ 1897-1899 1P 1921-1923
4~ 1900-1902 12~ 1924-1926
5~ 1903-1905 13~ 1927-1929
6~ 1906-1908 14~ 1930-1932
7~ 1909-1911 15~ 1933-1934
8~ 1912-1914 16~ 1935-1937
As legislaturas (e também as coortes) são denominadas pelo ano da
primeira sessão legislatura: por exemplo, a legislatura de 1900, ou a
quarta legislatura, abrangendo um mandato de 1900 a 1902.

2.1 Ocupação principal

A distribuição ocupacional dos deputados é apresentada no quadro 1 para


as 16 coortes. 22 As proporções para agricultura, finanças e bancos, e fun-
cionários públicos são mínimas ao longo do período. Nas últimas três
coortes da República Velha (l2~, 13~ e 14~) há um recrutamento de
elementos do setor indústria e comércio bem acima da média.

22 A palavra coorte vem do latim, e significa as 10 turmas ou subpartes de uma


legião romana, que eram denominadas cronologicamente; por exemplo, a primeira
coorte era a mais antiga dentro da legião (a primeira a chegar), enquanto a 10. 3
coorte era a mais recentemente chegada à legião. Por este motivo o termo "coorte",
embora de origem militar, serve perfeitamente para denominar as novas turmas de
deputados estreantes, em cada legislatura. Muitos deputados tiveram ocupações múl-
tiplas. Os quadros 1 e 2 categorizam ocupação em termos de maior sustento econô-
mico. Assim, um deputado que era um "advogado", mas cuja atividade econômica
principal era professor numa escola normal, teria sido codificado como "professor".
Observa-se que dados incompletos tendem a aumentar da 1O. a à 14. a legislatura.
Isto porque não há obras de referência biográfica disponíveis para o período 1918
a 1930 (pós-Abranches). O tratamento estatístico exclui estes dados ausentes sistema-
ticamente, para efetivar comparações mais fiéis.

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Quadro 1
Ocupação principal por coorte, deputados federais, 1890-1937 (em percentagens)*
Coorte

I I I I
Média

I
Ocupação
principal
I I 2
\
3
1
4
1
5
1
6 7
1
8
1
9 10
I 11
1
12 13
/
14 15 16 geral

Indústria
e comércio 7,5 5,0 0,0 5,9 0,0 9,1 10,0 0,0 8,3 0,0 0,0 37,S 11,1 17,2 16,7 8,6

Agricultura 7,5 0,0 0,0 0,0 0,0 9,1 0,0 20,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 6,9 0,0 3,3

Advogados
e juízes 40,0 30,0 40,0 52,9 83,4 36,3 40,0 20,0 41,7 25,0 28,6 25,0 44,5 31,0 16,7 38,8

Professores 10,0 10,0 6,7 11,8 8,3 0,0 10,0 20,0 0,0 12,5 42,8 25,0 0,0 0,0 16,7 9,1

Outros
profissionais 30,0 50,0 40,0 17,6 8,3 27,3 40,0 40,0 41,7 37,5 28,6 12,5 33,3 41,4 33,2 33,3

Outros func.
públicos 2,5 0,0 13,3 11,8 0,0 18,2 0,0 0,0 0,0 12,5 0,0 0,0 0,0 3,4 0,0 4,3

Finanças
e bancos 2,5 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 8,3 12,5 0,0 0,0 11,1 0,0 16,7 2,9

Total % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100.0 100,0 100,0 100,0 100,0

Total (N) (40) (20) (15) (17) (12) (11) (10) (5) (12) (8) (7) (8) (9) (29) (6) (209)

Ocupação NA (2) (2) (O) (2) (I) (O) (O) (2) (1 ) (3) (7) (2) (8) (O) (3) (32)

• Coortes 12 e 13 são integradas em razão do seu pequeno número de deputados.


De modo geral as profissões jurídicas (advogados, juízes e promotores)
formam o grupo mais numeroso (38,8% ).~3 Mas nas 2~, 31.1, 7~, 8'\ 91.1,
1O a, 111.1, 15~ e 161.1 coortes foram superadas ou igualadas pelos outros
profiss:onais.~4 Como se explica que isto ocorra em 9 das 16 coortes, e no
final os bacharéis levem uma vantagem numérica na média geral? Dois
fatores poderiam seI envolvidos: a) estas nove coortes formam uma
minoria do total; e b) os bacharéis tiveram menor "durabilidade" (longe-
vidade de mandato) do que os profissionais. O primeiro fator parece não
ser o caso, pois estas nove coortes formam um total de 112 entre 209
deputados com ocupação apurada. Assim, o segundo fator parece mais
plausível.
Em termos da representação total por legislaturas no quadro 2, podemos
ver que a ascendência dos profissionais toma embalo com a 131.1 legislatura
(de 1927 em diante), e pode ser vista como uma mudança significativa,
pois em contrapartida as proporções de advogados são menores, profissão
esta freqüentemente vista como importante para a promoção de uma
carreira política - tanto em termos de socialização pré-política como a
sua facilidade em elaborar projetos de lei que favoreçam sua atuação
efetiva na arena legis!ativa. 25
A partir de 1921, os professores passam a engrossar as fileiras da bancada
federal mineira, mas sofreram um declínio após 1930. Embora os funcio-
nários públicos sejam uma constante nas bancadas mineiras ao longo do
período todo (quadro 2), são desproporcionalmente mais numerosos nas
6'\ 7Z) e 8'.1 legislaturas (1906 a 1914), passando a diminuir depois. Porém,
se examinarmos as coortes (quadro 1), verificaremos que de 1909 a 1930
apenas a coorte de 1918 contém elementos deste grupo. Esta é uma obser-
vação muito importante, pois é um grupo ligado ao fenômeno de corone-
lismo, e tem uma longevidade muito elevada.~6
Contrastando o período de 1934 a 1937 com a República Velha, encon-
tramos mais elementos da indústria e comércio, e menos professores e
advogados na época pós-1930, provavelmente devido, em parte, ao novo
sistema de representação proporcional e profissional vigente neste período.
2.2 Regionalismo
A representação reg:onal do estado foi dividida em 12 "distritões" que
elegeram da 2Z) até a 5 a legislaturas, e em sete distritos para a 6'~ até a

~;) Por exemplo. advog<:dos, juízes, promotores e procuradores.


~4 Por exemplo. engenheiros, médicos, dentistas, farmacêuticos.
~:; Para uma discussão mais detalhada da significância da advocacia na política, veja
Eulau. Hcinz & Spraguc, John. Lu\\'yers in politics. Indianapolis, Bobbs-Merrill, 1964;
Schles;p.ger. Joseph A. Lawyers in politics: a clarified view. Midll'est fOI/mal of
PoliTical Scicnci?, v. I. n. 1, p. 26-39, 1957: Barber, James D. The 1(J\l'/llakers: recruiT-
menr anc/ adapTarion to legislaTive life. Ncw Haven, Yale University Press, 1965
p. 67-9. 234-5; Schlesinger, Joseph A. Ambition and politics: political car~ers in th"
L'ilired STates. Chicago, Rand McNally. 1966. p. 6-7; e Wells, R. S. The legal pr:)
fession anel politics. Mid\\est foumal of Poli;ical Science, v. 8, n. 1, p. 166-90, 1964.
Para uma visão do ca:;o brasileiro, veja Venâncio Filho, Alberto. Das arcadas ao
b{;chareiislIlo. São Paulo, Editora Perspectiva, 1977.
'!fi Veja quadro 5, p. 35, em Fleischer, D. V. Po/itical recruitment . .. J.linas. op. cit.

16 R.C.P. 4/77
Quadro 2
Ocupação principal por legislatura, deputados federais, 1890-1937
Legislatura

Ocupação
principal 2 3 4 5 6 7 8 I 9 I 10 I 11 I 12 I 13 I 14 I 15 I 16

Indústria
e comércio 5,0 8,1 8,1 7,7 2,6 5,3 2,5 0,0 2,7 2,5 3,2 7,7 11,1 7,7 17,4 11,4

Agricultura 7,5 2,8 0,0 0,0 0,0 2,6 0,0 2,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,3 2,9

Advogados
e juízes 42,5 30,7 29,7 43,6 57,9 47,3 35,0 25,7 40,5 37,5 35,4 30,8 22,3 34,6 28,3 34,3

Professores 10,0 11,1 10,8 12,8 13,2 10,5 15,0 20,0 10,8 15,0 19,4 26,9 29,6 11,5 4,3 8,6

Outras
profissões 30,0 38,9 40,6 25,6 15,8 21,1 35,0 37,1 35,2 32,5 32,3 26,9 29,6 38,6 39,2 37,0

Outros
func. púb. 2,5 2,8 8,1 7,7 7,9 13,2 12,5 14,3 8,1 7,5 9,7 7,7 7,4 3,8 6,5 2,9

Finanças
e bancos 2,5 5,6 2,7 2,6 2,6 0,0 0,0 0,0 2,7 5,0 0,0 0,0 0,0 3,8 0,0 2,9

Total % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Total (N) (40) (36) (37) (39) (38) (38) (40) (35) (37) (40) (31) (26) (27) (26) (45) (35)

Ocupação
N.A. CN) (2) (3) (2) (4) (2) (2) (2) (3) (2) (5) (lO) (11) (lO) (lI) (O) (3)
149- legislaturas.~7 No período de 1933 a 1937 o sistema de representação
proporcional profissional foi adotado. A figura 1 mostra a regionalização
geográfica utilizada neste trabalho.

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~7 Veja apêndices 4 e 5. Além do remanejamento das circunscnçoes, é interessante


notar que vários "pólos" regionais foram mantidos como sedes distritais, com·)
Leopoldina. Barbacena c Uberaba; enquanto no Sul, por exemplo, os centros mudaram
de Baependi e Campanha para Lavras e Pouso Alegre. Observa-se também que .1

18 R.C.P. 4/77
Distrito de primeira eleição fornece a base operacional para determinar
a região de base (ou apoio) política no quadro 3. Em certos casos, depu-
tados federais foram "trocados" temporariamente pela Comissão Executiva
do Partido Republicano Mineiro (PRM) para acomodar alguns chefes
regionais, e foram "e!eitos" por distritos completamente estranhos. Subse-
qüentemente voltaram a representar o distrito que abrangia a sua base
política.
As regiões Mata, Metalúrgica e Sul contavam com a maior parte da
população do estado e dos seus recursos econômicos, mas durante a
República Velha esta~ proporções estavam se mudando. A Metalúrgica,
que recebeu o impulso da nova capital (inaugurada em 1897), e do
crescimento da indústria siderúrgica após 1900, apresenta maior repre-
sentação geral (30,3 9é ). Porém, foi superada ou igualada pela Mata em
quatro legislaturas (lO~, 12~, 13~ e 16~). A representação da Zona da
Mata é mais ou menos consistente ao longo do período, após seu ponto
mais baixo na 1~ legislatura.~~ Após um declínio na 2~ legislatura, o Sul
te\'e um pequeno aumento na 9 a legislatura, e voltou à sua posição de
destaque na 13'.l legislatura em diante.
Das regiões periféricas, apenas cabe-nos citar o caso do Oeste que entrou
em declínio permanente após a 6'.l legislatura (com o remanejamento dos
distritos), e o Norte, com a sua representação considerável até a 9 a
legislatura.
Região de base política não é um indicador totalmente adequado para
analisar padrões regionais de recrutamento, sendo que tende a representar
uma situação ex post jacto (isto é, posterior à carreira pré-Câmara Federal,
neste caso). Foi uma distribuição um tanto arbitrária fixada rigidamente
pela divisão distrital e manipulada pela Comissão Executiva do PRM. Se
conjugamos este indicador com o de região de nascimento, o resultado é
muito mais esclarecedor com relação à mobilidade geográfica dos políticos
mineiros da época (migração política), O quadro 4 apresenta estes dados.
A mobilidade inter-regional indica a diferença percentual de deputados
nascidos na região que representam, com os nascidos em outras regiões
(ou estados). Desta maneira as regiões podem ser comparadas em termos
de "entradas" e "saídas" de futuros deputados. Uma percentagem positiva
significa que mais deputados (daquela coorte) de fora chegaram a fazer
desta região a sua base política do que os próprios nativos, e assim a
região pode ser chamada de "importadora" ou "atraente" de aspirantes
políticos. Por outro lado, uma percentagem negativa indica o inverso, e a
região é chamada de "exportadora" de futuros deputados que migraram
para outras regiões para estabelecer as suas bases políticas.

Sul e a Zona da Mata sempre tiveram a maior representação dentro da bancada


federal (até 1930),
~s Para uma análise do papel da "cidade-pólo" da região, veja Souza Paula, Maria
Carlota de. As vicissituaes da industrialização periférica: o caso de Juiz de Fora de
1930 a 1970. Tese de mestrado, Departamento de Ciência Política/UFMG, 1976.

República Velha 19
Quadro 3
Região de base política, por legislatura, deputados federais, 1890-1937

Legislatura
I I Média
Região 2 3 4 5 6 I 7 I 8 9 10 11 12 13 14 15 16
I I I
geral

Norte 7,1 10,3 12,8 16,3 7,5 10,0 9,5 10,5 5,1 6,7 7,3 8,1 8,1 8,1 4,3 2,6 7,5

Jequitin, 4,8 5,1 5,1 4,7 7,5 7,5 7,1 7,9 5,1 6,7 4,9 2,7 2,7 0,0 2,2 2,6 3,7

Rio Doce 2,4 2,6 0,0 4,7 0,0 0,0 2,4 2,6 2,6 2,2 2,4 0,0 0,0 0,0 4,3 2,6 2,9

Mata 14,3 20,5 20,5 18,6 22,5 27,5 23,8 26,3 25,6 31,1 24,4 29,7 32,4 27,0 19,6 28,9 24,1

Metalúrgica 28,6 25,6 38,5 30,2 37,5 32,5 33,3 28,9 28,2 26,7 29,3 29,7 27,0 '2),7 37,0 26,3 30,3

Sul 23,8 17,9 10,3 14,0 12,5 12,5 14,3 18,4 23,1 17,8 19,5 18,9 24,3 29,7 21,7 21,1 19,1

Oeste 11,9 15,4 12,8 11,6 12,5 7,5 4,8 2,6 5,1 4,4 7,3 8,1 2,7 2,7 8,7 5,3 6,6

Triângulo 0,0 2,6 0,0 0,0 0,0 2,5 4,8 2,6 2,6 2,2 2,4 0,0 2,7 2,7 0,0 2,6 2,1

Região N.A. 7,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,6 2,2 0,0 0,0 0,0 0,0 2,2 7,9 3,7

Total % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,00 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Total (N) (42) (39) (39) (43) (40) (40) (42) (38) (39) (45) (41) (37) (37) (37) (46) (38) (241)
Quadro 4
Mobilidade inter-regional de deputados federais em Minas
Gerais (região de base versus região de nascimento)
por coorte, 1890-1937*

Coorte
I I I I I I
Região I I I I I
1 I 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12/13 14 15 16

__L I
I I
I
I _J_ --- ----

Norte + 2,1 3,3 +13,3 5,3 + 7,7 -11,8 -22,2 3,3 ** - 9,1 - 7,7 0,0 +15,9 3,4 -11,1

Jequitin. 0,2 1,1 1,0 5,3 0,0 0,9 .. .. .. * .. + 9,1 .. .. * .. .... 3,4 ....
Rio Doce 0,2 + 4,8 .. * 0,0 7,7 .. +10,0 .. . .... - 9,1 .. . -10,0 - 5,9 + 3,4 ....
Mata -12,3 +15,7 - 3,1 0,0 0,0 +17,3 - 3,3 3,3 -11,7 +27,3 +20,0 +23,5 + 3,4 + 3,4 +",1

Metalúrg. + 0,2 - 5,6 +24,6 +15,8 +15,4 +27,3 +20,0 -16,7 +11,7 +18,2 + 7,5 +20,0 +17,6 +17,2 +22,2

Sul 5,0 + 2,3 - 1,0 5,2 7,7 -20,9 - 2,2 -10,0 1,7 + 9,1 +15,3 0,0 +29,4 3,4 -22,2

Oeste + 1,7 - 1,1 + 5,6 + 5,3 .. .. * .... .... 1,7 .. + 7,7 -10,0 -11,8 3,4 ....
Triângulo .. * + 4,8 * .. .. .... + 9,1 .. .. + 9,9 .. * .. . .. .... .. . * .. +11,1

Observa-se que: + % = Uma entrada líquida de deputados nascidos em outras reglOes. - % = Uma saída líquida de deputados para
outras regiões. 0,0 % = Entrada igual saída. * .. = Ambas as percentagens são zero (0,0 % menos 0,0%).
Em termos de uma estrutura de oportunidade política!!!! isto significa
que as regiões "exportadoras" têm mais aspirantes políticos do que a sua
estrutura de oportunidades políticas comporta, e que as "importadoras"
são carentes de aspirontes nativos em menor número do que as oportuni-
dades existentes.
As regiões Norte e Jequitinhonha, muito subdesenvolvidas e com pouca
densidade demográfica na época, embora variassem um pouco, tenderam
a ser "exportadoras", como também foi o caso do Rio Doce. O Triângulo,
estando ainda na fase de colonização e desenvolvimento agrícola, estava
representado apenas ocasionalmente na República Velha (ver quadro 3),
mas nestes casos era classificado como "importador"'. O Oeste foi coloni-
zado numa fase anterior, e teve uma representação esparsa, mas seu papel
tendeu a alternar entre "importador" e "exportador" até 1924 quando
firmou-se como "exportador".
As mudanças mais interessantes ocorreram nas três regiões mais desen-
volvidas e populosas. Uma vez estabelecidas as atividades siderúrgicas e a
nova capital (após a 3'.1 coorte), a Metalúrgica foi uma grande e consistente
"importadora" de futuros deputados federais. A Mata ficou menos atraente
após a 2'.1 coorte (quando a capital se mudou de Ouro Preto para Belo
Horizonte), e tornou-se uma região "exportadora" até 1918, quando
Arthur Bernardes foi eleito governador. Da 10'.1 coorte em diante, tornou-se
"importadora" novamente.
O caso do Sul é também interessante. Uma região densamente povoada,
de intensa produção agrícola (café com leite), e na época mais ligada
econômica e culturalmente às cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, o
Sul parece ter produzido mais futuros deputados (20% nascidos na região)
do que as outras regiões. Porém, a estrutura de oportunidades políticas da
região não podia oferecer carreiras políticas a todos os seus aspirantes
nativos. Por outro lado, a proximidade desta região às universidades de
São Paulo e Rio de Janeiro provavelmente facilitou a aquisição de carac-
terísticas preferidas como critérios para recrutamento pelo "sistema" do
PRM. Finalmente, cabe-nos mencionar que as regiões Sul e Mata foram
sempre as mais bem representadas dentro da Comissão Executiva do PRM.

2.3 Análise longitudinal


Os quadros 5 e 6 resumem as mudanças ao longo do tempo dos indicadores
do recrutamento para as 16 coortes e legislaturas, respectivamente.
A análise de "grupos de coorte" examina o aspecto mais saliente de
mudança ao longo do tempo; isto é, o grupo de novos deputados "calouros·'
que toma posse em cada sessão legislativa, de três em três anos. Mudanças
observadas nos grupos de coorte são mais estreitamente paralelas (coinci-
dentes) às mudanças tipo macro na sociedade e no sistema político, ao
passo que, mudanças na composição das legislaturas (neste caso a bancada
mineira) só serão refletidas no futuro em t+ 1 ou t+2 legislaturas. Pela
análise de coortes, os efeitos destas "classes" ou "gerações" de legisladores,

!!fI Schlesinger, J .A. Ambitioll olld Politics... op. cit., p. 11-2.

22 R.C.P. 4/77
Quadro 5

Resumo das mudanças longitudinais, indicadoras de recrutamento por coorte, deputados federais, 1890-1937
(médias e percentagens) *

Coorte
~-I-l-~I-~I­ ~I-
I - l I- - Médi'l
I 2 I 3 I 4 I 6 I 7 8 9 I 10 11 12/13 I 14 15 I 16 geral
I I I I I I I

Idade do primo
cargo político 30,00 27.(,7 24,90 24,(,0 23,15 29,64 25,89 32,80 '5,29 36,80 30,00 22,20 22,80 25,77 20,60 26,81

Carreira pré-
Clmara (anos) 4,67 4,36 5,20 12,11 17,15 10,27 16,90 13,00 14,15 18,83 18,29 13,00 17,33 16,11 17,50 11,51

N° de cargos
pré-Cúmara 1,42 1,27 2,13 3,79 tI.08 3,00 3,20 3,50 2,84 4,91 6,29 3,90 6Yi 2.41 3,78 2S1

Idade entrada
na Câmara 39,00 37,88 32,00 39,49 40,39 40,82 44,56 42,80 45,20 43,80 42,17 38,17 ~3,43 43,38 39.67 40,70

% educação
universitária 86,00 72,08 100,00 73,07 84,06 72,07 100,00 33,03 (,1,06 63,07 50,00 70,00 47,00 93.01 66,07 85.rR

% com parentes
na política 35,08 45,06 20,00 31,06 53,09 9,01 60,00 28,06 30,08 27,04 14,03 20,00 17,07 38,01 44,05 32,08

% mobilidade
geográfica 26,02 36,04 60,00 26,04 38,05 45,05 50,00 42,08 23,01 18,02 7,02 20,00 17,07 38,01 44,05 37.01

* Coortes 12 c 13 são integradas por razão do seu pequeno número de deputados.


em termos de longevidade e comportamento sobre decision-making, podem
ser observados ao longo do tempo quando eles progridem na carreira
política.

2.3.1 Institucionalização

Um exame das mudanças no indicador idade atual dos deputados (quadro


6), começa por iluminar certas tendências no processo de recrutamento.
Embora houvesse uma renovação muito alta (56,4%) na 2l!- legislatura, a
mudança positiva nas idades indica que as idades dos novos deputados
estavam quase iguais às idades dos egressos. Se esta tendência tivesse
continuado na 3l!- legislatura, uma idade média por volta de 45 anos seria
esperada. Mas como demonstra o quadro 6, uma mudança negativa ocorre.
A causa desta mudança encontra-se na 3l!- coorte (quadro 5), que teve a
mais jovem idade média de entrada na Câmara de todas as coortes -
32 anos. 30 Isto é um presságio importante.
As carreiras pré-Câmara dos deputados da 1l!- a 3l!- legislaturas e coortes
não sofreram grandes alterações. Mas uma mudança drástica acontece na
4~ coorte. Os novos deputados que entraram na Câmara em 1900 foram
recrutados de carreiras políticas mais de duas vezes maiores (em anos)
e de quase o dobro de cargos políticos, em comparação com a 3~ coorte.
Esta é uma mudança brusca para um recrutamento entre uma cadre política
que passou por uma seleção e treinamento (sargenteação) muito mais
longo, e teve as carreiras mais institucionalizadas. Em média, os novos
deputados da coorte de 1900 tiveram carreiras de 12,11 anos; ou seja,
iniciadas por volta de 1888, enquanto os da coorte de 1897 apresentaram
uma média de 5,20 anos; isto é, iniciaram as suas carreiras por volta de
1892. Sem dúvida, um recrutamento bem diferenciado.
Este fenômeno de institucionalização continua mais ou menos o mesmo
até a 1O~ e 11l!- coortes, que têm as carreiras mais longas de todas (mais
de 18 anos), e são justamente as coortes eleitas durante o mandato de
Arthur Bernardes como governador. Após a sua eleição como presidente
da República (1922), as 12~ e 13l!- coortes provêm de carreiras bem menos
institucionalizadas. Mas em 1930 (14l!- coorte), os indicadores aumentam
novamente, quando os novos "eleitos" pela Aliança Liberal foram sistema-
ticamente "degolados" pelo processo de "reconhecimento dos poderes" pela
Câmara Federal do Rio, e substituídos por gente fiel ao PRM.
A figura 2 compara a circulação de parlamentares mineiros durante o
período, sendo que os deputados e senadores estaduais tiveram mandatos
de 4 e 8 anos, respectivamente; as suas eleições só coincidiram com a da
bancada federal de 12 em 12 anos (em 1902, 1914 e 1926).31 Por ser
mais numerosa e uma representação mais simbólica, a Câmara estadual
apresentou uma renovação dos seus quadros sempre maior. Embora o

30 Nota-se que além de ser a mais jovem, esta coorte é a mais alta em educação
(100% com curso superior), e a mais baixa em termos de parentesco político (20%).
31 Observa-se que os àeputados sempre tomavam posse no ano seguinte, após li
sua eleição.

24 R.C.P. 4/77
Quadro 6
Resumo das mudanças longitudinais, indicadores de recrutamento por legislatura, deputados federais, 1890-1937
(médias e percentagens) *
Legislatura

Indicadores
de recruta- 2 3 4 5 6 I 7 I 8 9 10 11 12 13 14
I 15 I 16
mento
I I I I
Idade 1.0
cargo pol. 30,00 29,56 28,32 27,23 25,42 26,69 27,26 27,51 25,77 28,78 29,56 29,30 27,50 27,16 27,47 27,89

Carreira
pré-Câmara 4,67 5,13 5,31 9,00 12,53 11,46 11,88 13,84 12,87 13,60 13,60 13,54 12,08 12,27 15,47 16,22

N.O cargos
pré-Câmara 1,42 1,51 1,85 2,62 3,46 3,50 3,12 3,05 2,87 3,17 3,16 3,29 3,25 2,88 2,75 2,97

Idade
atual 39,00 42,29 40,18 43,03 43,34 44,00 47,54 49,95 48,80 52,06 50,74 49,65 49,21 48,59 47,96 49,00

% educação
universit. 86,00 71,01 76,09 71,04 79,05 76,09 82,09 74,04 71,08 86,01 96,05 96,02 96,02 92,01 95,06 92,01

% parentes
na política 33,04 46,03 33,03 32,06 30,01 30,01 38,02 36,09 36,00 31,02 22,06 19,03 22,03 34,06 39,02 51,06

% com mob.
geográfica 25,00 33,03 41,00 26,01 35,00 32,05 38,01 36,08 34,05 38,04 32,02 23,01 19,02 30,04 35,08 32,04

Renovação
% de novos 42,09 56,04 38,05 44,02 32,05 27,05 23,08 18,04 33,03 24,04 34,01 8,01 18,09 45,09 63,00 23,07
Senado mineiro tivesse um número mencr e raandatos bem maiores (fatores
que contribuiriam para uma baixa renovação), freqüentemente teve maior
circulação do que a bancada federal (mas nunca maior do que a Câmara
estadual) .3~
Não obstante as diferenças de tamanho, distritos eleitorais e ano de
eleição, as taxas de renovação destes três grupos são bastante paralelas,
indicando que as causas das flutuações observadas estavam surtindo efeitos
iguais dentro do recrutamento feito pelo PRM. Este paralelismo é de se
esperar em sistemas de partido único, mas também pode indicar que as
estruturas de oportunidade política destes três cargos estavam estritamente
interligadas. Se os dados de carreira política para os deputados e senadores
estaduais fossem disponíveis, a verificação de uma hipótese comparativa
deste tipo seria viável.

3. O papel do PRM e o coronelismo

Nos primeiros anos da República Nova, desenvolveram-se duas facções


na liderança política 00 estado: uma sediada na velha capital da província,
Ouro Preto, e chefiaàa por Cesário Alvim; e a outra sediada em Juiz de
Fora, o maior centro populacional e industrial do estado, e chefiada por
Fernando Lobo. 3Q
A disputa girava em torno de dois tópicos: a transferência da capital
estadual de Ouro Preto para a Serra do Curral, e a adoção de constituições
federal e estadual dando a Minas substancial autonomia política dentro
do novo sistema.;;'
Numa tentativa de compor uma chapa de representantes à Assembléia
Nacional Constituinte marcada para 15 de novembro de 1890, Lobo
convocou uma reunião de vários clubes republicanos locais para Juiz de
Fora no dia 15 de agosto do mesmo ano. 3õ Após dois dias de calorosos
debates estes 65 representantes aprovaram uma chapa oficial de candi-
datos. 36 Insatisfeitos com as manipulações "oficiais" de Alvim no encontro,
um grupo de dissidentes constituiu um veículo eleitoral independente; o
Partido Católico (ché'mado de Partido Constitucionalista, por Abranches).
Entre os integrantes desta chapa os que se tornaram célebres posterior-
mente foram: Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, João Penido, Carlos
Peixoto, Silviano Brandão, Sabino Barroso e Diogo VasconcelosY' Con-

3~ Porém, o legislativo estadual ficou unicameral, uma mudança introduzida em


1935. Para uma análise do Senado Mineiro durante a República Velha, veja Silveira
Neto, Honório. O Senado Mineiro (1891-1930). Revista de Informação Legislatil'U,
Senado Federal, n. 51, p. 199-314, 1976.
3:3 Lobo, Hélio. (;m I'Urão da República, Fernando Lobo. São Paulo, Editora Na·
cional, 1937. p. 39.
3, Id. ibid. p. 40. A f"cção Alvimj Ouro Preto era a favor da modernização da
velha capital e uma constituição mais unitária; enquanto o grupo Loboj Juiz de For.l
era favorável à mudanç" da capital para uma área mais neutra e a uma constituição
federal que concedesse maior autonomia ao estado.
;'5 O Farol, 2 e 17 ago. 1890.
36 O Farol, 17 ago. 1890.
37 O Farol, 9 set. 1890.

26 R.C.P. 4/77
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tudo, a chapa "oficial" foi responsável por 90% dos deputados eleitos
em 1890, e o Partido Católico não conseguiu recrutar novos deputados
depois da 2l;l coorte. 38
Mesmo antes de ser nomeado interventor provisório (pelo Presidente
Deodoro), Cesário Alvim começou a "punir" politicamente os dissidentes
de longe, no seu cargo de Ministro do Interior e Justiça no Rio. 39
As eleições para a Assembléia Constituinte Estadual deveriam ter sido
realizadas só após a Assembléia Nacional ter promulgado a nova Constitui-
ção Republicana (como foi o caso em 1935 e 1947). Porém, Alvim, já na
qualidade de interventor, apressou o processo e marcou o pleito para 25 de
janeiro de 1891. Para os dissidentes, a política de Alvim estava em oposição
direta à autoridade do Congresso Nacional. 40 As eleições foram realizadas
com abstenção considerável, e Cesário Alvim foi eleito e empossado como
o primeiro governador constitucional em 18 de julho de 1891. Mas seu
declínio começou em novembro do mesmo ano com seu apoio dado ao
golpe de Deodoro no Rio. Depois de uma abortada revolução separatista
no sul do estado, Alvim renunciou a seu mandato em fevereiro de 1892.
Apesar de poucos dos deputados "oficiais" conseguirem ser reeleitos para
a 2l;l legislatura de 1893 (por causa da saída de Alvim), os novos apre-
sentaram características de recrutamento quase iguais.
O período de 1897 pode ser considerado neutro, pois os governadores
Affonso Pena e Bias Fortes eram mais austeros e menos sectários politica-
mente do que Cesário Alvim. Este período foi de equilíbrio político, refle-
tido nos baixos índices de circulação nas bancadas (figura 2) e nas
mudanças nas idades e ocupações dos deputados federais observadas ante-
riormente.H Neste ambiente, surgiu um novo partido político instituciona-
lizado - o Partido Republicano Mineiro (PRM) e um novo estilo político
que durará até a década de 30.
Esta nova agremiação reuniu-se em Belo Horizonte em 1938 para a sua
fundação oficial. Entre os fundadores estavam: Bias Fortes, Francisco
Bressane, Bernardo Pinto Monteiro, Bueno Brandão, Delfim Moreira,
Wenceslau Braz, Silviano Brandão, Francisco Sales, Henrique Diniz e
Francisco Ferreira Alves. 42 Como foi observada anteriormente, a institu-
cionalização do recrutamento em Minas deu-se a partir da 4l;l coorte, dois
anos depois do estabelecimento oficial do PRM.

1!8 Veja quadro 11 em Fleischer, D. V. Political recruitmellt ... op. cit. p. 47.
39 Lobo, H. op. cit. p. 51. Isto traduziu-se em demissão de certos funcionários
públicos e conseqüente substituição por elementos "oficiais".
40 Id. ibid. p. 62.
41 Outra razão para este "equilíbrio" foi a concentração de recursos políticos e
econômicos na construção de Belo Horizonte. Talvez este possa ser comparado ao
período 60 anos mais tarde, quando outro mineiro baseou seu programa de metas na
construção da nova capital nacional.
42 Coelho, Levindo. Depoimento de um velho político mineiro. Rev. Bras. de Esf.
Pai., v. 2, p. 117, 1957. Coelho retirou-se do Senado Federal em 1954, depois de
40 anos de política mineira. Ele foi trazido para a Comissão Executiva do PRM
como substituto de Raul Soares em 1914, e como membro permanente com a morte
deste em 1924.

28 R.C.P. 4/77
o PRM tomou-se a mais importante estrutura de recrutamento até 1934,
e a sua Comissão Executiva, ou "Tarasca", como era vulgarmente cha-
mada,43 funcionou como um seleto conselho ou convenção partidária para
a escolha de candidatos. Como era confeccionada uma "lista oficial" pela
Tarasca? Levindo Coelho descreve o processo:
"A Executiva reunia-se preliminarmente em Palácio, com o presidente
do estado. O chefe do governo, que era sempre do PRM, sugeria o nome
ou nomes dos candidatos. O presidente tinha o cuidado de, escolhendo os
nomes de influência política no estado, organizar uma lista desses nomes
e, na reunião, analisava um por um, levando em consideração não apenas
o valor político dos mesmos, mas, principalmente, a idoneidade, o grau
de cultura, os predicados morais, os serviços que já houvessem apresentado
e as atividades por eles desenvolvidas, estas de real valor público. Nestas
condições, os membros da Comissão Diretora do PRM se retiravam para
a sede do partido, onde procediam a uma acurada apreciação dos nomes
indicados e, quase sempre, por unanimidade, eram escolhidos os candidatos
às eleições de presidente do estado, vice-presidente, senadores e deputados.
Lavrava-se a ata e os nomes dos candidatos seguiam para a publicação
no jornal do PRM, o Diário de Minas."44
Na prática, três homens dominavam a Tarasca durante 20 anos: Silviano
Brandão, Bias Fortes e Francisco Sales. Explicando as diferenças entre
doutores e coronéis durante o período, Francisco de Assis Barbosa descreve
estes três como representantes típicos do coronelismo. 45 O compromisso
coronelista funcionava desta maneira: "O presidente do estado atendia aos
pedidos de nomeação ou de força do chefe local - e este fazia as eleições
de acordo com o presidente."46
Torres nos dá uma idéia dos critérios usados pelo PRM no recrutamento
de deputados federais: "Dada a lei eleitoral de cinco deputados por distrito,
adotava-se a seguinte orientação: alguns candidatos, pessoas da terra, de
confiança dos chefes locais, representavam os interesses regionais - outros,

43 A palavra tarasca significa um boneco que representa um animal monstruoso que


era levado em procissões pentecostais, em Tarascon e outras cidades do Sul da
França, ou mais comumente, um monstro. Buarque de Holanda Ferreira, Aurélio
& Luz, José Baptista da. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 10. ed.
Rio, Editora Civilização Brasileira, 1961. p. 1.147.
44 Coelho, L. op. cit. p. 117-8.
45 Barbosa, Francisco de Assis. Juscelino Kubitschek: uma revisão na política brasi-
leira. Rio, José Olímpio, 1960. p. 169.
46 Oliveira Torres, João Camilo de. Estratificação social no Brasil. São Paulo, Difel,
1965. p. 107. Para uma discussão maior do conceito de coronelismo, veja Nunes
Leal, Victor. Coronelismo. enxada e voto. São Paulo, Alfa-Omega, 1975; Cintra, An-
tonio O. A política tradicional brasileira: uma interpretação das relações entre o
centro e a periferia. Cadelnos do DCP, UFMG, v. 1, p. 81-9, 1974; Queiroz, Maria
Isaura Pereira de. O coronelismo numa interpretação sociológica. In: Fausto, Boris
ed., O Brasil republicano, São Paulo, v. 1, Difel, 1975. Estrutura de poder e economia,
p. 153-90; Albuquerque, Roberto Cavalcanti de & Vilaça, Marcos Vinícius. Coronel,
coronéis. Rio, Tempo Brasileiro, 1965; Pang, Eul-Soo. Coronelismo in Northeast
Brazil. In: Kern, Robert, ed. The caciques. Albuquerque, University of New Mexico
Press, 1973. p. 65-88; e Sá, Maria A. Ferraz de. Dos velhos aos novos coronéis.
Recife, Pimes/UFPe, 1974.

República Velha 29
indicados pelo governo, homens de talento e cultura, mas sem prestígio,
compunham as chapas. H
Observa-se, assim, que certos políticos com excelentes dotes profissionais
e intelectuais, mas sem a base política local e os critérios tradicionais
(com exceção dos serviços prestados à administração estadual) - tais
como João Pandiá Calógeras, David Campista, Carlos Peixoto, Afrânio
de Melo Franco e Gastão da Cunha - foram recrutados, diretamente e
em idade muito jovem, para o Legislativo estadual e a bancada federal.
Desta maneira os líderes intelectuais da bancada mineira puderam dominar
a Câmara do Rio; por exemplo, a presidência da Câmara e a das mais
importantes comissões sempre foram ocupadas por mineiros.
Embora estes intelectuais prestassem serviços inestimáveis ao estado, na
bancada federal, como secretários e ministros de estado, nunca foram
escolhidos governadores. O caso de David Campista exemplifica bem.
Secretário de estado, brilhante ministro das Finanças, arquiteto do Acordo
de Taubaté, e candidato preferido de Affonso Penna, foi sempre preterido
em sua aspiração de ser governador de Minas (e mesmo presidem: da
República).4'
Embora o sistema funcionasse relativamente bem, não era sem confliLOs
internos, tanto horizontal (na cúpula) como verticalmente. A questão da
sucessão (para presidente estadual) de Silviano Brandão dividiu o PR\1
entre aqueles que eram a favor de Bernardo Monteiro e os que apoia\am
Francisco Sales. 4v
Sales era um polft;co maneiroso que desde 1888 tinha cuidadosamen,e
organizado clubes republicanos no Sul e pelo estado a fora, e havia culti-
vado os chefes regionais e membros da Tarasca; assim ganhou a eleição
facilmente.:;o Contudo, a sua própria sucessão não foi tão fácil de se
"fazer", pois a clÍpula estadual estava dividida em duas facções novamente:
os silvianistas e os biJ~tas. Agindo como árbitro entre as duas forças, Sales
conservou seu próprio prestígio e escolheu uma terceira força (considerada
neutra) na pessoa de João Pinheiro, e, ao mesmo tempo, pôde assegurar
seu domínio e influência no futuro com a inclusão de Bueno Brandão na
chapa oficial, como vice-governador. 51
A importância do papel de Sales no processo de recrutamento em l\linas
é revelada na seleção do seu secretariado (1902 a 1906): Delfim Moreira,
Antonio Carlos, Francisco Bressane, Olinto de Azevedo, Carlos Peixoto,
Afrânio de Melo Franco e João Luiz Alves. Sales continuou como figura
de ampla influência política até o governo de Delfim Moreira (1914-1918),
cuja sucessão tornou-se ponto de rebelião para os "renovadores" Raul
Soares e Arthur Bernardes.

47 Oliveira Torres, 1. C. op. cit. p. 106.


48 Carvalho, Antonio Gontijo de. Uma conspiraçlio contra a inteligência: a I'ida e
obra de DaI'id Campista Rio, Artenova, 1968. p. 110-6.
49 Machado Filho. Aire< da Mata. A vida e política de Francisco Sales. ReI'. Bras.
de Est. Pol., v. 18, p. 121, 1965.
50 Id. ibid. p. 120.
51 Id. ibid. p. 122-3.

30 R.C.P. 4,'77
o conflito interno durante este período num sentido vertical é evidente
em termos de deputados eleitos extrachapa, com índices bastante altos na
2l!-, 3l!- e 4l!- coortes, e maior ainda nas 7l!- e 8l!- coortes, justamente nos anos
de "funcionamento suave", de 1909 a 1915.5~
A tranqüila operação da Tarasca na distribuição de poder e de proteção
política foi temporariamente interrompida em 1918; indicações prévias
desta ruptura foram notadas na análise da 9~ coorte. O eixo do poder
deslocava-se do Sul em direção à Zona da Mata. Esse movimento foi
chefiado por dois membros da classe de 1900 da Faculdade de Direito de
São Paulo: Raul Soares, de Ubá, e Arthur Bernardes, de Viçosa. Este foi
recrutado para a política do PRM com grande facilidade, e Barbosa afirma
que os dominantes da Tarasca congratulavam-se com a entrada de uma
nova e hábil geração de políticos.o 3
Paulo Amora, o biógrafo de Bernardes, e Assis Barbosa divergem quanto
à extensão e os efeitos dos "renovadores" sobre o coronelismo em Minas.
O primeiro afirma que "a guerra contra o coronelismo foi limitada, afe-
tando somente aqueles que se mostravam insensíveis ao progresso',,~4 en-
quanto o último sustenta que, com "Bernardes na governança, começou
uma transformação radical na ação dos políticos mineiros, com a queda
dos coronéis, o que pôs o todo-poderoso Sales no ostracisI110".35
O novo regime alterou a estrutura do partido: o recrutamento da admi-
nistração pública foi suspenso, e os ex-governadores passaram a ser mem-
bros não-volantes (honorários) da Tarasca. Não se cumpria o compromisso
coronelista para com os chefes regionais dentro do "novo modelo" político
vigente.
Diante dos dados apresentados anteriormente, podemos avaliar os efeitos
do novo "modelo político" adotado por Arthur Bernardes, e verificar se de
fato "combateu-se" o coronelismo ou não.
Em primeiro lugar, parece que a norma de proibir o recrutamento
(legislativo) do funcionalismo pL'blico te\e um efeito fulminante: 12,5 %
da 10l!- coorte (eleita em 1917) foram funcionários, mas não se recrutou
nenhum funcionário nas quatro coortes seguintes. Notam-se, também,
menores índices de deputados originários das profissões jurídicas (muitos
destes juízes, promotores e procuradores) nas 10l!-, 1 H, 12~ e 13~ coortes.
Em contrapartida, o maior contingente da 11 l!- coorte (a primeira na qual
o Bernardes realmente influiu) compunha-se de professores (42,8 % ).
A política de Arthur Bernardes parece ter favorecido a sua região de
origem, a Zona da Mata, que apresentou um certo ressurgimento: a partir
da 10l!- coorte torna-se novamente uma "importadora" de talentos políticos.
e a sua representação na bancada federal aumenta consideravelmente da
1O~ legislatura em diante. 36 Por outro lado, o Sul (região de Francisco

52 Veja quadro 11 em Fleischer, D. V. Political recruitmellt .. op. cit. p. 47.


33 Barbosa. op. cit. p. 259.
54 Amora, Paulo. BernG/des: o estadista de Minas lia República. São Paulo, Editora
Nacional, 1964. p. 42.
õ5 Barbosa, Francisco de Assis. op. cit. p. 255.
56 Observa-se que houve uma seqüência de sucessores de Bernardes com bases polí-
ticas nesta região: Raul Soares, Melo Viana e Antonio Carlos. A terra natal de

República Velha 31
Sales, Bueno Brandão e outras figuras tradicionais) viu a sua represen-
tação diminuída nas 10l!-, 1 H e 12l!- legislaturas.
Até aí parece que os efeitos do Governo Bernardes foram de "renova-
ção", mas se verificarmos as coortes por ele recrutadas, veremos que.
embora as IH, 12l!- e 13l!- coortes fossem as mais jovens, a 10l!- e a lll!-
passaram pelas carreiras mais institucionalizadas de todas, ao passo que a
12l!- e a 13l!- foram bem menos. Em termos de bancada de modo geral,
isto surtiu pouco efeito, pois as 10l!-, 11l!- e 12l!- legislaturas foram as mais
velhas.
Em termos de renovação dos quadros políticos (legislativos) em Minas,
a ação de Bernardes se fez sentir logo no início do seu governo. Os
maiores índices de renovação no Legislativo mineiro (Câmara e Senado)
ocorreram em 1919 {68% e 50%, respectivamente). A bancada federal
também teve logo seu mais alto índice de renovação desde 1900 na 11l!-
legislatura (eleita em 1921), 33,3%. Após estes pontos altos, os índices
de renovação são bem menores.
Finalmente, verificamos que a partir da 11l!- coorte os indicadores de
educação e parentesco político são bem mais baixos, e que o de localismo
é mais alto.
O secretariado recrutado por Bernardes foi o mais velho e com as
carreiras mais institccionalizadas de todos os governos no período 1891
a 1930 - 43 anos e 4,8 cargos em média, respectivamente. Coube a
Antonio Carlos fazer este tipo de "renovação" em 1926 com um secreta-
riado de 38 anos e com 3,1 cargos, em média. 51
A carreira política de Bernardes seguiu diretamente até a presidência
da República em 1922. A "política dos governadores" (de Minas Gerais
e São Paulo) continuou funcionando e Bernardes conseguiu "fazer" a
eleição de Washington Luiz, ex-governador de São Paulo, em 1926.
Contudo, sua posição de liderança dentro do PRM tornara-se precária.
A inesperada morte, em 1924, do sucessor de Bernardes no Palácio da
Liberdade, Raul Soares, facilitou o reaparecimento de forças opostas a
Bernardes e seus "renovadores". Fernando Mello Viana, que fora secretário
do Interior de Raul Soares, foi eleito para completar o mandato deste.
Junto com Antonio Carlos, que era líder da bancada mineira na Câmara,
Melo Viana pôde controlar a maioria da Tarasca. 58 Esta mudança, ou
melhor, esta volta ao funcionamento normal do sistema está refletida nos
indicadores de recrutamento para a 13l!- e a 14l!- coortes mencionadas.
Assim, o período final da Primeira República em Minas Gerais repre-
senta um retorno ao primitivo estilo do coronelismo, com Antonio Carlos
sucedendo a Mello Viana, como governador. Uma indicação da mudança
no estilo foi o reaparecimento de Francisco Sales que, segundo consta, foi
recebido em Palácio por Mello Viana no dia seguinte ao em que a Tarasca

Bernardes, Viçosa, foi grandemente beneficiada com a instalação da Universidade


Rural (Estadual) em 1922.
51 Fleischer, D. V. Political recruitment ... op. cito p. 162-4.
58 Barbosa, F. A. op. cito p. 311.

32 R.C.P. 4/77
nomeara Antonio Carlos, terminando assim seus oito anos de "ostra-
cismo".1i9
Durante este período, 1923 a 1930, apareceram os nomes de algumas
figuras recém-recrutadas e que iriam destacar-se na política mineira e
nacional na era pós-1930, tais como: Francisco Campos, Gabriel Passos,
Israel Pinheiro, José Maria AIkmim, Francisco Negrão de Lima, Juscelinl\
Kubitschek, Pedro Aleixo e Gustavo Capanema.

4. Padrões de carreira

Na figura 3 estão apresentadas as seqüências de carreira política pré-Câmara


dos Deputados Federais. Dos que ocuparam algum cargo, 54,5% vieram
diretamente de posições eletivas (cargo imediatamente anterior, ou cargo
"portal" no quadro de referência de Schlesinger), na sua maioria do Legis-
lativo estadual ("cargo-base", segundo Schlesinger).!IO Há um recruta-
mento razoável da burocracia estadual, destacando-se a posição do secre-
tário de Estado. Neste particular, as Secretarias de Interior, Educação e
Finanças, nesta ordem, foram as mais preferidas como trampolins políticos
mais eficazes em Minas. 61
Houve considerável circulação entre o Legislativo e a burocracia esta-
duais; as burocracias federais e estadual; e a prefeitura municipal e o
Legislativo estadual. Aparentemente, alguns futuros deputados federais
seguiram rotas puramente eletivas: vereador-prefeito-Iegislativo estadual
-deputado federal; enquanto outros optaram para uma seqüência mais bu-
rocrática: municipal-estadual-federal (ou secretário) -deputado federal.
Porém, outros ainda trilharam um padrão "ziguezague", alternando entre
cargos eletivos e burocráticos, por exemplo: burocracia municipal-pre-
feito-legislativo estadual-burocracia estadual-legislativo estadual-se-
cretário-deputado federal. Dentro da linha teórica sobre o coronelismo,
este último padrão seria o mais eficaz, onde o aspirante político negocia
apoio eleitoral futuro com os chefes regionais, em troca dos recursos dis-
poníveis ao seu cargo atual (secretaria, ou repartição pública estadual). 62

59 A Gazeta. São Paulo, 9 set. 1925; citada em Barbosa, F. A. op. cito p. 313.
nota 28.
60 O cargo-base é definido em termos de padrões comuns de experiência política,
que seja não necessariamente o primeiro nem o último cargo da seqüência analisada.
O cargo portal, por sua vez, é o trampolim imediatamente anterior ao cargo sob
análise. Schlesinger, 1. A. Ambition and politics . .. op. cit. p. 70-3.
61 Para uma avaliação da eficácia destes "trampolins", aos olhos dos políticos
mineiros (já na década de 60), veja Fleischer, D. V. O trampolim político ... op. cito
62 Para uma operacionalização e análise desta conceitualização do "compromisso
coronelista", veja Fleischer, D. V. A bancada federal mineira. op. cit.; e A rede mo-
cratização em Minas. op. cito Para uma versão à guisa de romance de tais negociações
entre o Ce!. Chico Belo e o Dr. Carvalho de Meneses, o Secretário do Interior),
veja Palmério, Mário A. A vila dos confins. Rio, José Olímpio, 1960. Outro exemplo
de coronelismo e suas relações com a política local encontra-se em Corrêa Dias.
Oscar. Brasílio. Rio, Editora Gráfica Record, 1968.

República Velha 33
As seqüências de carreira dos 19 governadores são delineadas na figura
4. Foram usados apenas três cargos "portais" - o Congresso Nacional,
Legislativo Estadual e secretário de estado, e este último com maior fre-
qüência. 63
Existe intensa circulação entre a burocracia federal e os legislativos
(estadual e federal); secretário de estado e os legislativos; a prefeitura e o
legislativo estadual; e a burocracia e o legislativo estaduais. Além do
mais, o padrão de alternações entre cargos eletivos e burocráticos está
mais acentuado do que no caso dos deputados federais. Governador do
estado é um cargo apside da cúpula estadual, e como vimos, muito cobiçado
e disputado pelas facções regionais. Por isso, aspirantes a esta posição
teriam que maximizar o uso do compromisso coronelista para estreitar as
relações com os chefes regionais e assegurar a sua eleição. Em decorrência,
observa-se que os futuros governadores na República Velha tiveram consi-
derável convívio com cargos políticos municipais.
Um padrão bem diferente revela-se para os vice-governadores na figura
5 . Nenhum dos futuros vice-governadores foram secretários estaduais,
enquanto sete dos futuros governadores passaram por este cargo. A grande
maioria dos vices vieram dos legislativos, principalmente do estadual, e
houve muito menos circulação e alternações, como foi observado no caso
dos governadores. No quadro 7 verificamos que realmente os vices ocupa-
vam bem menos cargos prévios (3,83 em média) do que os governadores
(6,21), embora a duração das carreiras fosse quase igual (23,15 e 34,30
anos em média).
Em termos de indicadores do recrutamento (ainda no quadro 7), veri-
ficamos que existem poucas diferenças em idade e nível educacional, mas
que os governadores exibem maiores índices de parentesco político e
localismo.
Uma possível conclusão diante destes fatos é que houve tendência a fazer
um certo balanceamento de forças regionais na composição de chapas para
governador e vice. Durante a República Velha os vice-governadores em
sua maioria foram recrutados da liderança do Legislativo estadual, o que
reflete o propósito de cooptar líderes que já haviam mobilizado o apoio
da maioria dos representantes das várias regiões estaduais. Basta lembrar
que apenas dois dos vices (Bueno Brandão e Olegário Maciel) consegui-
ram eleger-se diretamente para o cargo de governador durante o período.
Este balanceamento das chapas é confirmado pelas bases regionais dos
governadores e vices no quadro 7; enquanto o recrutamento daqueles con-
centrou-se no Sul, Mata e Metalúrgica, a distribuição dos vices foi mais
equilibrada entre sete das oito regiões estaduais, com certa concentração
na Mata e no Sul. Finalmente, cabe-nos salientar que três dos cinco vice-
governadores que assumiram mandatos incompletos como governador
foram obrigados pela liderança estadual a ceder o cargo, através de eleições

63 Júlio Bueno Brandão e Olegário Dias Maciel tiveram dois mandatos diferentes
como governador. Em primeiro lugar, como vice-governadores em exercício, e poste-
riormente como governadores eleitos. As figuras 4 e 5 representam as carreiras de
19 governadores, embora sejam 17 pessoas.

34 R.C.P. 4/77
Figura 3

Padrões de avanço na carreira, deputados federais, 1890-1937 (freqüência mínima 6)

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prévio [- ~"':"'-""='~ no Impcrlo

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Vereador
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I
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Figura 4

Padriíes de avanço na carreira para 19 governadores de Minas Gerais, 1890-1933

3.
Burocracia federal
~
Congresso
Nacional
I .~

3
I 6

~ . 7
Governador

I
J,rgi .. lalura
e~tadllal 4
~~ J~

Secretário de e"lado
8 (inclui vicql:overnaJor)

Jr
~N
4 I

2 . J
-~
Prefeiio

-
ou vice- Burocracia estadual
prefe110 I Burocracia
municipal 3
3

I
• 2

~ J
Figura 5

Padrões de avanço na carreira, 12 vice-governadores de Minas Gerais, 1891-1933

".
Burocraciã feJerat

Congresso
Naçional

J tgi ... l.lfllra


c~ladual

Prefeito '> .2 14urol..:ral.:ia.


ou vii,;c· c~taJual
prefeito
Bllrm:rad"
/lHlIlicipal

Vereador
Quadro 7
Perfil comparativo da elite política mineira: governadores, vice-governadores
e deputados federais

Perfil
I Gov.
1890-1933
I
Vice-gov.
1890-1933
I Dep. fedo
1890-1937
% % %
Região de base política
Norte 0,0 10,0 7,8
Jequitinhonha 0,0 10,0 3,9
Rio Doce 5,6 10,0 3,0
Mata 22,2 30,0 25,0
Metalúrgica 22,2 10,0 31,5
Sul 38,9 20,0 19,8
Oeste 11,1 10,0 6,9
Triângulo 0,0 0,0 2,1
Ocupação principal
Indústria e comércio 5,3 8,3 8,6
Agricultura 5,3 0,0 3,3
Advogados e juízes 47,3 25,0 38,8
Professores 15,8 41,7 9,1
Outros profissionais 26,3 25,0 33,3
Outros func. públicos 0,0 0,0 4,3
Finanças e bancos 0,0 0,0 2,9
Cargo "portal"
Burocracia federal 0,0 16,7 5,8
Legislatura federal 15,8 16,7 5,0
Secretário de estado 47,4 0,0 12,4
Burocracia estadual 0,0 0,0 14,1
Legislatura estadua! 36,8 58,3 30,3
Prefeito ou vice-pref. 0,0 8,3 5,0
Vereador 0,0 0,0 2,5
Burocracia municipal 0,0 0,0 3,3
Sem cargo prévio 0,0 0,0 21,6
Variáveis de recrutamento
Idade 1~ cargo 24,21 27,76 26,81
Carreira prévia (anos) 24,30 23,15 11,51
N~ de cargos prévios 6,21 3,83 2,50
Idade eleito gov'; dep. 50,26 51,64 40,70
% com educação univ. 78,09 75,00 85,08
% com parentes na política 73,07 50,00 32,08
% com mobilidade geográfica 5,03 16,06 37,01
(N) (19) (12) (241)
espeCIaIS, para outra pessoa (provavelmente considerada mais "fiel" pela
cúpula estadual) terminar o mandato-tampão.
Durante a República Velha em Minas, com seu todo-poderoso PRM,
esta técnica de chapas balanceadas, além de acomodar as aspirações regio-
nais, era uma combinação invencível. Porém, no período multipartidário
com a sua maior competição eleitoral (1947-1965), precisaria comparar
as várias chapas concorrentes nestas cinco eleições para comprovar a
continuação ej ou a eficácia deste critério no ambiente pós-1945.

5. Conclusões

Inicialmente, podemos concluir que houve um recrutamento bem diferen-


ciado no preenchimento destas três posições-chave da liderança política
mineira durante a República Velha.
Enquanto o recrutamento dos governadores e deputados federais con-
centrou-se nas três regiões mais desenvolvidas e populosas do estado (Me-
talúrgica, Mata e Sul), os vice-governadores foram mais dispersos regio-
nalmente.
Tanto os governadores quanto os deputados vieram predominantemente
das profissões jurídicas e outras, 73,6% e 72,1 %, respectivamente. A pro-
porção desta categoria ocupacional entre os vice-governadores era menor
(50,0%), e muitos eram professores (41,7%).
Até aí há bastante paralelismo entre os perfis dos governadores e depu-
tados federais. Provavelmente, em grande parte, devido ao fato de o Legis-
lativo federal ter sido um "cargo-base" importante para os governadores.
Como seria de esperar, os governadores apresentaram indicadores de
recrutamento dos mais eficazes: entraram na política com menos idade,
tiveram carreiras políticas mais longas, e evidenciaram os maiores índices
de parentesco político e localismo.
Estes últimos dois critérios são de suma importância para o recrutamento
político em Minas. No estudo anterior, o indicador de parentesco político
chegou a explicar em boa parte a variação na idade de primeira eleição
dos deputados federais, que não tiveram carreiras prévias. 64 Isto indica que
o fato de possuir laços de parentesco com famílias de tradicional impor-
tância na política mineira facilitou e acelerou as carreiras desta gente,
especialmente quando a rota de recrutamento era direta e não-institu-
cionalizada.
Os grupos de parentesco regionais ainda desempenharam um papel signi-
ficativo no recrutamento da burocracia estadual em Belo Horizonte. Usando
os mesmos dados compilados por Cid Rebelo Horta, Moema Miranda
Siqueira catalogou 87 grupos de parentesco derivados. Dos 584 funcio-
64 Fleischer, D. V. Political recruitment o oo op. cito p. 62-9. Parentesco político foi
operacionalizado de dois modos: Cid Rabelo Horta (Famílias governamentais de
Minas Gerais. Segundo Seminário de Estudos Mineiros, Belo Horizonte, UFMG,
1956) identifica os deputados cujos pais ou sogros são considerados por ele como
membros de "importantes famílias governamentais de Minas". O segundo indicador
vem das biografias de Dunshee de Abranches, op. cito, nas quais identifica seus
pais ou sogros como tendo participado ativamente na política em qualquer plano.

República Velha 39
nanos públicos lotados na capital em 1900, 38 % foram identificados
com estas linhagens. Até 1913, o funcionalismo havia crescido em mais
de 60% (até 4.096), mas a proporção com parentesco político havia dimi-
nuído para 21 % .65 Isto talvez reflita um declínio do papel de parentesco
no recrutamento político (pelo menos burocrático) em Minas neste período.
Foram os fatores da instalação da nova capital e da indústria siderúrgica
que contribuíram para a maior atratividade da região Metalúrgica como
"importadora" de futuros deputados. A produção pelo Sul de um grande
número de vocações políticas nas Universidades de São Paulo e do Rio
(20% dos deputados), bem acima das possibilidades de absorção local,
motivou grande êxodo desta região "exportadora" para as demais regiões.
A menor atratividade da Zona da Mata após a mudança da capital foi
notada, até a ascendência da "dupla renovadora" - Arthur Bernardes e
Raul Soares, em 1918 e 1922 - quando esta região voltou à condição de
"importadora" .
Após as três primeiras coortes, o recrutamento de deputados abrupta-
mente se tomou "institucionalizado", ou seja, a seleção e eleição pelo
recém-criado P~\1 de novos deputados cujas carreiras foram mais longas,
tanto em termos de anos quanto de número de cargos ocupados.
Isto contrasta com o período pós-1945, quando este fenômeno não se
repetiu e as primeiras coortes (1946/47 e 1951) foram justamente as mais
institucionalizadas, devido ao fator de "represamento" do Estado Novo.
Em 1889 não houve uma interrupção na atividade política e eleitoral,
como houve de 1937 a 1945. Assim, quando se abriram as comportas
em 1945, muita gente que havia iniciado a carreira política nas décadas
de 1920 e 1930 foi eleita deputado. 66
Verificou-se um recrutamento de uma bancada federal bem diferenciado
em termos da capacidade intelectual e ligações com a política regional!
local. Enquanto mais ou menos 1/3 da bancada federal era composto de
intelectuais sem base eleitoral local, o resto fora escolhido para representar
lealmente os interesses interioranos.
Procedeu-se a uma avaliação empírica dos efeitos dos "renovadores",
Arthur Bernardes e Raul Soares, sobre o recrutamento. Embora estacasse
o recrutamento (1918-1924) de funcionários públicos a cargos eletivos
reduzindo-se a influência dos coronéis na Tarasca, e se efetivasse um
ressurgimento político da Zona da Mata e um conseqüente declínio do
Sul, o recrutamento "renovador", tanto da bancada federal quanto do
secretariado, foi o mais institucionalizado da República Velha.
Após a curta duração destas "reformas", em 1926 os dados acusam um
retorno à normalidade política no estado, isto é, atendimento do compro-
misso coronelista.
Observou-se um proposital balanceamento regional das chapas para
governador e vice-governador. Este cargo, mais ligado ao Legislativo
Estadual, teve um recrutamento mais disperso regionalmente e nenhum
65 Siqueira, Moema M. op. cit. p. 179.
66 Para maior detalhamento do fenômeno de "represamento" no caso dos deputados
federais eleitos pós-1945, veja Fleischer, D. V. A bancada federal mineira. op. cito

40 R.c.P. 4{77
dos seus ocupantes passou pelo carbo-base de maior importância (em
termos de confiança da cúpula e de treinamento político) no recrutamento
de governadores - secretário de Estado. Por isso, quando porventura um
vice assumia a presidência do estado, logo a cúpula tratava de substituí-lo
através de eleições suplementares para preencher o mandato-tampão.
O recrutamento político em Minas durante a República Velha funcionou
dentro do que podemos chamar de um "tácito acordo de cavalheiros".
Embora existissem rivalidades (na sua maioria regionais) na cúpula polí-
tica estadual, estas diferenças sempre foram resolvidas "em casa", com a
premissa de preterição para então "esperar a sua vez", assim, Minas
apresentou-se unida externamente (após 1898) dentro do jogo político
nacional, o que foi também o caso de São Paulo. Em razão disto, estes
dois estados compartilharam tranqüilamente o mando nacional (até 1929)
no esquema da "política dos governadores café-com-Ieite".67
Finalmente, podemos consubstanciar, com esta investigação sobre a
República Velha em Minas, a utilidade do conceito de recrutamento político
e a análise de antecedentes socioeconômicos de elites políticas. Ficaram
claramente demonstradas as estreitas ligações entre as mudanças políticas,
sociais e econômicas no sistema estadual, e o processo de recrutamento
político. Recrutamento este que, por sua vez, surtiu certo efeito sobre o
próprio sistema estadual e o recrutamento posterior - dentro do padrão
cíclico descrito no início do presente trabalho.

67 Para uma análise dos papéis de Minas Gerais e São Paulo na política nacional
desta época, veja Wirth, lohn D. Minas e a nação: um estudo de poder e dependência
regional, 1889-1937. In: Fausto, B., ed. op. cit. p. 76-99; Love, l. L. Autonomia e
interdependência: São Paulo e a federação brasileira, 1889-1937. Fausto, B., ed. op.
cito p. 53-76, respectivamente. Em contraste, os estados da Bahia e Pernambuco
tinham a tradição e a força eleitoral de compartilhar o jogo político nacional, mas
por não apresentar uma união interna (para efeitos externos, pelo menos), foram
facilmente dominados e até intervencionados pelo poder central. Veja Pang, Ene-Soo.
op. cit. e Levine, Robert. Pernambuco e a federação brasileira, 1889-1937. In: Fausto,
B. op. cito p. 122-51. Para o caso mais sui generis do Rio Grande do Sul, veja Love,
I. L. O regionalismo gaúcho e as origens da Revolução de 1930. São Paulo, Perspec-
tiva, 1975; - - - o O Rio Grande do Sul como fator de instabilidade na República
Velha. In: Fausto, B., ed. op. cito p. 99-122. Um bom estudo do caso de um "estado
periférico" encontra-se em Campos, Francisco Itami. Coronelismo em estado perifé-
rico: Goiás na Primeira República. Tese de mestrado apresentada ao Departamento
de Ciência Política/UFMG, 1975.

República Velha 41
Apêndice 1

Deputados federais de Minas Gerais, 1890-1937

Legislatura
Nome do deputado federal O O O O O O O O O 1 1 1 1 1 1 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 O 1 2 3 4 5 6
Adalberto Dias Ferraz da Luz X X *
Adélio Dias Maciel X X
Affonso Penna Júnior * S
Afrânio de Mello Franco X X X X * X X S
Agenor de Senna X
Agenor Ludgero Alves X
Alaor Prata Soares X X X X * X X
Albertino Ferreira Drumond X X
Alberto Surek X
Aleixo Paraguassu X S
Alexander Stokler Pinto de Menezes X
Alfredo Pinto Vieira de Mello X X
Álvaro Augusto de Andrade Botelho X X X X X X
Américo Ferreira Lopes X
Américo Gomes Ribeiro da Luz X
Anthero de Andrade Botelho X X X X X X X X * S
Antônio Affonso Lamounier Godofredo X X X X X X X X X X
Antônio Augusto de Lima * X X X X X S *
Antônio Augusto Ribeiro de Almeida X
Antônio Belfort Ribeiro Arantes * X
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada * X X * X X
Antônio da Silveira Brum X X X
Antônio de Pádua Assis Rezende X X X
Antônio Dias Ferraz Júnior X
Antônio do Prado Lopes Pereira X
Antônio Dutra Nicácio X
Antônio Esperidião Gomes da Silva X
Antônio Garcia Adjuto X
Antônio Gomes Lima X X S
Antônio Gonçalves Chaves X
Antônio Jacob da Paixão X
Antônio Luiz Monteiro da Silveira X
Antônio Martins Ferreira da Silva X *
Antônio Máximo Nogueira Penido X
Antônio Olyntho dos Santos Pires X *
Antônio Pinto da Fonseca X
Antônio Torquato Fortes Junqueira * X
Antônio Zacharias da Silva X X X
Aristides de Araújo Maia X
Arthur Bernardes Filho X
Arthur da Silva Bernardes * X * X
Arthur Ferreira Torres X X X *
Astolpho Dutra Nicácio X X X X X *
Astolpho Pio da Silva Pinto *
Augusto Clementino da Silva X
Augusto das Chagas Viegas X X
Augusto Glória Ferreira Alves X X
Augusto Mário Caldeira Brant * X S
Augusto Viana do Castelo X X X X
Basílio de Magalhães X
Belmiro de Medeiros Silva X S
Benedicto Cordeiro Campos Valladares * X
Benedito Valladares Ribeiro *
Legislatura
Nome do deputado federal O O O O O O O O O 1 1 1 1 1 1 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 O 1 2 3 4 5 6
Bernardino de Senna Figueiredo X X
Bernardo Pinto Monteiro X X *
Camillo Felintho Prates * X X X X X X X
Camillo Soares de Moura Filho X X
Carlos Coimbra da Luz X
Carlos Honório Benedicto Ottoni * X
Carlos Justiniano das Chagas X X
Carlos Peixoto de Melo Filho * X X X X
Carlos Pinheiro Chagas X
Carlos Vaz de Melo X X X *
Celso Porfírio de Araújo Machado X X
Christiano Monteiro Machado X X X
Christiano Pereira Brazil X X X X *
Clemente de Faria X
Clemente Medrado Fernandes X X
Constantino Luiz Palleta X
Cornélio Vaz de Melo * X X S
Daniel Serapião de Carvalho X X X X
Dario Magalhães * S
David Moretzsohn Campista X *
Delfim Moreira Jr. X S
Delphim Moreira da Costa Ribeiro •
Djalma Pinheiro Chagas X
Dolor de Brito Franco X
Domingos da Silva Pôrto X
Domingos de Figueiredo X
Domingos José da Rocha *
Domingos Moreira dos Santos Penna * X
Duarte de Abreu X
Edgar da Cunha Pereira *
Eduardo Carlos Vilhena do Amaral * X S
Eduardo Pimentel Barboza X X X
Elpídio Martins Cannabrava X X
Emílio Jardim de Rezende * X X S
Epaminondas Estêves Ottoni X X X X *
Estevão Lôbo Leite Pereira X X
Eugênio da Cunha Mello X S
Euler de Salles Coelho X
Eustáquio Garção Stockler X
Euvaldo Lodi X
Fausto Dias Ferraz X X
Feliciano Augusto de Oliveira Penna *
Feliciano Lima Duarte X
Fidélis Reis X X X
Francisco Alvaro Bueno de Paiva * X X X *
Francisco Antônio de Salles X
Francisco Bernardino Rodrigues da Silva X X
Francisco Bressane de Azevedo X X X X X
Francisco Campos Valladares X X X X
Francisco Coelho Duarte Badaró X X
Francisco Correia Ferreira Rabello *
Francisco de Paula Amaral *
Francisco de Paula Mayrink E X X X P
Francisco Honório Ferreira Brandão X
Francisco Luiz da Silva Campos X
Francisco Luiz da Veiga X X X * X X X X
Francisco Manuel Paraizo Cavalcanti X
Legislatura
Nome do deputado federal O O O O O O O O O 1 1 1 1 1 1 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 O 1 2 3 4 5 6
Francisco Mendes Pimentel *
Francisco Negrão de Lima X X
Francisco Paoliello X X X
Francisco Peixoto Soares de Moura X X X S
Francisco Rodrigues Pereira Jr. X
Frederico de Oliveira Campos X
Gabriel de Paula Almeida Magalhães X
Gabriel de Rezende Passos X X
Garibaldi de Castro Mello X X S S
Gastão da Cunha X X
Gomes Freire de Andrade X
Henrique Cézar de Souza Vaz *
Henrique de Magalhães Sales X X X X
Herculano César Pereira da Silva X
Honorato José Alves X X X X X X X S
Ildefonso Moreira de Faria Alvim X X
lrineu de Mello Machado E E E E E X P
Jaime Gomes de Souza Lemos X X X
Jefferson de Oliveira X
João Antônio de Avellar X
João Baeta Neves X X S
João da Matta Machado * X X *
João das Chagas Lobato X *
João de Almeida Lisboa X S
João Henrique Sampaio Vieira da Silva X
João Jacques Montandon * S
João José Alves *
João Luiz Alves X •
João Luiz de Campos X X X X X X X X
João Nogueira Penido X X
João Nogueira Penido Filho X X X X X X * X X X X
João Pandiá Calógeras X X X X X X *
João Pinheiro da Silva X
João Pinheiro Filho X
João Quintino Teixeira X
João Rezende Tostes X
João Tavares Corrêa Beraldo X X
Joaquim Baptista de Melo X
Joaquim Domingues Leite de Castro X X
Joaquim Ferreira de Salles * X X X
Joaquim Furtado de Menezes X X
Joaquim Gonçalves Ramos X X X
Joaquim Leonel de Rezende Filho X X X X X
Joaquim Thomas de Carvalhaes *
José Alves Ferreira e Mello X X X
José Antônio da Silveira Drummond *
José Bento Nogueira X X X *
José Bento Nogueira Júnior X *
José Bernardes de Faria * X X
José Bonifácio de Andrada e Silva * X X X X X X X X X X
José Braz Pereira Gomes X X X X
José Bernardino Alves Jr. X
José Caetano da Silva Campolina * X
José Caetano de Almeida Gomes X X
José Cândido da Costa Sena X
José Carlos Ferreira Pires X X X
José Carneiro de Rezende X X X X X X X * X
Legislatura
Nome do deputado federal O O O O O O O O O 1 1 1 1 1 1 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 O 1 2 3 4 5 6
José Cupertino de Siqueira X X
José da Costa Machado e Souza X X
José Francisco Bias Forte X X X
José Gonçalves de Souza X X X
José Joaquim Ferreira Rabello X
José Joaquim Monteiro da Silva X
José Maria de Alkmim X X
José Martins de Carvalho Mourão X X
José Monteiro Ribeiro Junqueira X X X X X X X X X X X
José Moreira Brandão Castelo-Branco F. * X X X *
José Raymundo Telles de Menezes X
José Vieira Marques X X
Josino Alcântara de Araújo * X X X X X
Juarez Ferreira Lopes X
Júlio Bueno Brandão * X X
Júlio Bueno Brandão Filho X X S X S
Juscelino Kubitschek de Oliveira X
Lamartine Ribeiro Guimarães X X X
Landulpho Machado Magalhães X X X X * X
Lauro de Oliveira J acques X
Leopoldo de Oliveira *
Levindo Eduardo Coelho X X X
Lindolpho Caetano de Souza e Silva X X X X X *
Luiz Arthur Detzi X *
Luiz Eugênio Monteiro de Barros X X X
Luiz Martins Soares X X
Lycurgo Leite X S
Manoel Alves da Silva *
Manoel Fulgêncio Alves Pereira X X X X X X X X X X X X
Manoel Thomáz de Carvalho Britto X * X
Mário Gonçalves Mattos X X
Múcio Continentino X
Necésio José Tavares * *
Nelson Coelho de Senna * X S S
Noraldino Lima X
Octaviano Ferreira de Brito X X
Octávio Campos do Amaral X S
Octávio Estêves Ottoni ...
Odilon Barros Martins de Andrade X X
Odilon Duarte Braga X X
Olavo Tostes X
Olegário Dias Maciel X X X X X X
Olintho Augusto Ribeiro
Olintho Máximo de Magalhães
'" X
Pacífico Gonçalves Silva Mascarenhas X
Paulo Pinheiro da Silva X
Pedro Aleixo X X
Pedro Luiz de Oliveira
Pedro Macário de Almeida
'" X
Pedro Matta Machado X * X X
Pedro Rache X
Polycarpo de Magalhães Viotti X X
Polycarpo Rodrigues Viotti X
Raul de Faria X X X
Raul Noronha Sá * X X X X X
Raul Soares de Moura
Rodolpho Custódio Ferreira X '"
Legislatura
Nome do deputado federal O O O O O O O O O 1 1 1 1 1 1 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 O 1 2 3 4 5 6
Rodolpho Ernesto de Abreu * X X *
Rodolpho Gustavo da PaixJo X X X X X X
Sabino Barrozo * X X X X * *
Salvador FeIício dos Santos *
Sandoval Soares de Azevêdo X X
Sebastião Gonçalves Mascarenhas X X X
Simão da Cunha Alves Pereira X
Simão da Cunha Pereira X X
Theodomiro Carneiro Santiago X X X X
Theóphilo Benedicto Ottoni X
Theotônio de Magalhães Castro X X
Virgílio de Melo Franco X S
Viriato Dinis Mascarenhas X X X
Waldomiro de Barros Magalhães X X X X X X X
Washington Ferreira Pires X X
Wenceslau Bráz Pereira Gomes X X
Zorasto Rodrigues Alvarenga X X

Chave dos símbolos usados:

x- Serviu mandato completo


E - Serviu mandato completo (outro estado)
* - Serviu mandato parcial
P - Serviu mandato parcial (outro estado)
S - Suplente, período 1934-37
Apêndice 2

Governadores de Minas Gerais


1891-1933

Mandato
Nome do governador
Entrou Saiu

José Cesário de Faria Alvim 18.07.1891 14.03.1892


Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira* 14.03.1892 14.07.1892
Affonso Augusto Moreira Penna 14.07.1892 06.09.1894
Crispim Jacques Bias Fortes 07.09.1894 06.09.1898
Francisco Silviano de Almeida Brandão 07.09.1898 21.02.1902
João Cândido da Costa Sena * 21.02.1902 06.09.1902
Francisco Antônio Sales 07.09.1902 06.09.1906
João Pinheiro da Silva 07.09.1906 26.10.1908
Júlio Bueno Brandão* 26.10.1908 03.04.1909
Wenceslau Brás Pereira Gomes 03.04.1909 06.09.1910
Júlio Bueno Brandão 07.09.1910 06.09.1914
Delfim Moreira Costa Ribeiro 07.09.1914 06.09.1918
Arthur da Silva Bernardes 07.09.1918 06.09.1922
Eduardo Carlos Vilhena do Amaral* 16.02.1922 16.04.1922
Raul Soares de Moura 07.09.1922 04.08.1924
Olegário Dias Maciel * 04.08.1924 21.12.1924
Fernando Melo Viana 22.12.1924 06.09.1926
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada 07.09.1926 06.09.1930
Olegário Dias Maciel 07.09.1930 05.09.1933

• Vice-governador em exercício.
Apêndice 3

Vice-governadores de Minas Gerais


1891-1933

Mandato
Nome do vice-governador
Entrou Saiu

Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira* 18.07.1891 14.03.1892

Francisco Bernardino Rodrigues Silva 14.07.1892 06.09.1894

João Nepomuceno Kubitschek 07.09.1894 06.09.1898

João Cândido da Costa Sena * 07.09.1898 21.02.1902

Pacífico Gonçalves da Silva Mascarenhas 07.09.1902 06.09.1906

Júlio Bueno Brandão** 07.09.1906 26.10.1908

Júlio Bueno Brandão 03.04.1909 06.09.1910

Antônio Martins Ferreira da Silva 07.09.1910 06.09.1914

Levindo Ferreira Lopes 07.09.1914 06.09.1918

Eduardo Carlos Vilhena do Amaral * * 07.09.1918 06.09.1922

Olegário Dias Maciel** 07.09.1922 04.08.1924

Olegário Dias Maciel 22.12.1924 06.09.1926

Alfredo Sá 07.09.1926 06.09.1930

Pedro Marques de Almeida 07.09.1930 05.05.1933

* Assumiu o mandato de governador.


** Assumiu temporariamente o mandato de governador.
Apêndice 4

Circunscrições eleitorais em Minas Gerais, 1893 a 1905*

Sedes distritais

1. Ouro Preto
2. Barbacena
3. Leopoldina
4. Juiz de Fora
5. Baependi
6. Campanha
7. Formiga
8. Sabará
9. Diamantina
10. Minas Novas
11. Montes Claros
12. Uberaba

* De acordo com art. n 9 36 de Lei n 9 35, de 26 de janeiro de 1892; e Decreto·lei


n9 153, de 3 de agosto de 1893.
Apêndice 5

Circunscrições eleitorais em Minas Gerais, 1905 a 1930*

Sedes distritais

1. Belo Horizonte
2. Leopoldina
3. Barbacena
4. Lavras
5. Pouso Alegre
6. Uberaba
7. Grão Mogol

'" De acordo com art. n9 58 de Lei n9 1.269, de 15 de novembro de 1904; e


Decreto-lei n9 1.425, de 27 de novembro de 1905.

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