Você está na página 1de 2

RECONCILIAÇÃO, UM CAMINHO PARA A PAZ

“Só o fato de existirem questões entre vocês já mostra que vocês estão
falhando completamente. Não seria melhor agüentar a injustiça? Não seria melhor ficar
com o prejuízo?” 1 Coríntios 6:7

“O primeiro em pedir desculpas é o mais valente. O primeiro em perdoar é o


mais forte. O primeiro em esquecer é o mais feliz.”
Papa Francisco

Estamos atravessando dias difíceis de grande perplexidade. O conflito


em Gaza entre palestinos e israelenses, e o conflito separatista na Ucrânia,
têm produzido horror e comoção em todo o mundo civilizado. Atônitos,
acompanhamos com muita apreensão os ataques de ambas as partes,
imaginando as possíveis conseqüências de um eventual agravamento desses
conflitos.

É claro que em ambos os lados de uma guerra há quem defenda as


próprias razões, culpando compulsoriamente o lado adversário pelo estopim
do conflito. Defendem convictamente suas lógicas, e acreditam ou se forçam
a acreditar que o direito ou a verdade que os motivaram ao confronto, os
garantirá vitória exemplar e definitiva, que virá como a demonstração cabal
de que estavam certos... Sempre estivemos certos.

É bem verdade que conflitos armados como esses, são a manifestação


extrema de interesses que se antagonizaram em algum momento. São também
a conseqüência desastrosa do fracasso de toda e qualquer tentativa
diplomática em evitar a guerra. Atitudes conciliatórias e apoio a acordos de
paz não faltaram. Assistimos a diversas declarações de chefes de estados de
diversas nações influentes, na tentativa de fazerem recuar em suas iminentes
rotas de colisão. Infelizmente nada conseguiu evitar que vidas estejam sendo
ceifadas por tiros, bombas e mísseis.

Para piorar a barbárie, civis vêem sendo os principais atingidos direta


ou indiretamente nesses conflitos. Mais de mil e duzentos mortos em Gaza
somando-se as baixas de ambos os lados. Um avião transportando cientistas
foi abatido, quando sobrevoava a zona de guerra entre o exército ucraniano e
os rebeldes separatistas. Mais de 200 pessoas estavam naquela aeronave. E os
danos á humanidade certamente não pararão por aí.

Ora, guardadas as devidas proporções, não é isso mesmo que


vivenciamos em nosso dia-a-dia, em cenários reduzidos e com atores muito
mais próximos de nós? A intolerância vem provocando constantes impasses e
inevitáveis conflitos, em relações as mais variadas. Seja entre casais,
vizinhos, familiares, torcedores... A imposição vem se tornando demonstração
aceitável de superioridade, nos mais diversos segmentos e níveis da
sociedade. Ninguém quer ceder. Ninguém aceita parecer mais fraco por
reconhecer seus erros ou por aquiescer com a falha alheia.
Se você pede desculpas é um fraco. Se você perdoa, é um bobão...
Um banana! Caso se atreva a esquecer uma afronta qualquer, um prejuízo
causado por terceiros, você é apontado na rua como um otário. O
enfrentamento é a atitude enaltecida e esperada pela maioria. A afronta a
reação legítima. O acerto de contas é o caminho para se sentir com a alma
lavada. Não vemos isso todos os dias? Não reagimos nós mesmos assim,
consciente ou instintivamente? Nada mais animal e equivocadamente aceito
do que o revide. Ser inflexível não tem sido entendido como firmeza de
caráter, personalidade forte ou ainda determinação? Nada mais valorizado nas
grandes corporações, do que a competitividade e o espírito combativo.

Essa disputa diuturna promove rixas, intrigas, mentiras, traições,


ofensas... Agredidos e agressores se enfrentam e se opõem com a dureza de
quem não se permite recuar um só centímetro de suas posições. Fazem
acaloradas defesas de suas pretensas razões, e não se oferecem, nem que por
hipótese, o benefício da dúvida, quanto a legitimidade de suas motivações.
Ninguém quer ceder.

Por intolerância, imposições mútuas e mágoas, torcedores se agridem


na entrada dos estádios, cônjuges se matam e famílias inteiras se dissolvem
por não conseguirem superar feridas que teimam em não cicatrizar. Ninguém
quer dar um passo atrás. Não há quem cruze esse rio de traumas ou pule o
muro do orgulho ferido. Há até quem se explique: Eu até perdôo, mas
esquecer não esqueço não... É ruin hein!

É verdade. É ruim. Muito ruim mesmo. Porque a reconciliação é o


caminho mais direto e talvez o único para a paz. Negligenciá-la é se lançar
numa aventura que ninguém pode prever o final. Por outro lado, conciliar
interesses, condescender com a fraqueza alheia, e sublimar a vingança, pode
produzir maravilhosos sentimentos de completude e realização. Desculpas
podem desviar a ira do ofendido. O perdão libertará o coração indulgente. E
apagar voluntariamente da memória a ofensa sofrida, renovará o espírito e
recuperará a alegria de viver.

Vivemos dizendo que o mundo precisa de paz. Mas antes, para isso,
precisamos promover a paz no cantinho onde vivemos. Em casa, na
vizinhança, na empresa em que trabalhamos. Na rua, no trânsito... Quem
sabe se somados, pequenos e legítimos ambientes de paz, nos levem à tão
sonhada paz mundial. Vamos tentar?

Você também pode gostar