Você está na página 1de 342

D u rk h e ím As Formas Elementares da Vida

Religiosa, p u b l i c a d a e m 1 9 1 2 ,
p e rte n c e ao c o n ju n to dos g ra n -

orm.as E l e m e n t a r ê
, " o ;l-
des te x to s

p o lo g ia
fu n d a d o re s

re lig io s a . N essa
da a n tro -

o b ra

da Vida Religiosa D u rk h e im

rig o ro s o das
se re v e la

fo rm a s
um

de
a n a lis ta

re lig io s i-

dade que se m a n ife s ta m a tra v é s

dos ritu a is e s is te m a s de c re n ç a s

a rc a rc a s, m as s o b re tu d o um filó -

so fo in s p ira d o c u ja s a firm a ç õ e s

d e m o n s tra m um a g ra n d e a c u i-

dade in te le c tu a l e m a n tê m um a

im p re s s io n a n te a tu a lid a d e .

R om pendo com a tra d iç ã o da

época que c o n s id e ra v a os fe n ô -

m e n O S I ' ' . . .a. o s o s com o um te c i-


do de tiç õ e s , das q u a is os

hom ei ib e rta v a m d e s e n v o l-
vend~ • .. éus c o n h e c im e n to s ,

Durkheim m o s tra que o fato reli-


gioso, a o c o n trá rio , é um a das

bases e s s e n c ia is d a s o c ia lid a d e .

Michel Maffesoli

91D863f.Pn
Autor: DUl'kholm, 8mll ..., -
I BIBLIOTECAS DA PUCMINAS
BELO HORIZONTE

IN T R O D U Ç Ã O
'/'I/II/ti XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
til'//iIIlCl/:W S F O R M E S É L É M E N T A IR E S D E L A V /E R E L IG /E U S E 2
'opyrlghl ~ L iv r a r ia M a r tin s F o n te s E d ito r a L td a ., O B JE T O D if\PESQ O IS~(' "':0 I
qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
S O a P a u lo , 1996, p a r a a p r e s e n te e d iç ã o
S o c io lo g ia r e lig io s a e te o r ia d o c o n h e c im e n to
l ' ed ição
j u l h o d e /9 9 6
T rad u ção
P a u lo N e v e s
R ev isão d a trad u ção
E duardo B randão
R ev isão g ráfica
S a n d r a R o d r ig u e s G a r c ia
E lv ir a d a R o c h a K u r a ta
P ro d u ção g ráfica
G e r a ld o A lv e s
P ag in ação
S tu d io 3 D e s e n v o lv im e n to E d ito r ia l

P ro p o m o -n o s estu d ar n este liv ro a relig ião m ais p ri-


D ad o s In tern acio n ais d e C atalo g ação n a P u b licação (C IP )
m itiv a e m ais sim p les atu alm en te co n h ecid a, fazer su a
(C âm ara B rasileira d o L iv ro , S P , B rasil)
an álise e ten tar su a ex p licação . D izem o s d e tlm sistem a
D u rk h eim , É m ile, 1 8 5 8 -1 9 1 7 . relig io so q u e ele é o m ais p rim itiv o q u e n o s~ a..9 -o .2 P -
A s fo rm as elem en tares d a v id a relig io sa: o sistem a to têm ico
rv ar, q u an d o p reen ch e as d u as co n d içõ es seg u in tes: em
n a A u strália / É m ile D u rk h eim ; trad u ção P au lo N ev es. - S ão
P au lo : M artin s F o n tes, 1 9 9 6 . - (C o leção T ó p ico s). p rim eiro lu g ar, q u e se en co n tre em .so cíed ad es cu j.íL o rg a-
nízação n ão éu ltrap assad a p o r n en h u m a....Q JJ.tr.a.-em -.s.i.m p li-
T ítu lo o rig in al: L es fo rm es élém en taires d e Ia v ie relig ieu se.
IS B N 8 5 -3 3 6 -0 5 1 5 -3
Idade'; (; p reciso , além d isso , C U Jeseja p o ssív el ex p licá-Ia
m fazer in terv ir n en h u m elem en to to m ad o de um a reli-
I. R elig ião e so cio lo g ia 2 . R elig ião p rim itiv a 3 . T o tem ism o g ião an terio r.
- A u strália I. T ítu lo . n. S érie.
F arem o s o esfo rço d e d escrev er a eco n o m ia d esse
9 6 -2 4 0 4 C D D -3 0 6 .6 sistem a co m a ex atid ão ' e a fid elid ad e d e u m etn ó g rafo
o u d e u m h isto riad o r. M as n o ssa tarefa n ão se lim itará a
Ín d ices p ara catálo g o sistem ático :
I. T o tem ism o : R elig ião : S o cio lo g ia 3 0 6 .6 isso . A so cio lo g ia co lo ca-se p ro b lem as d iferen tes d aq u e-
les d a h istó ria o u d a etn o g rafia. E la n ão b u sca co n h ecer
as fo rm as ex tin tas d a civ ilização co m o ú n ico o b jetiv o de
T o d o s o s d ir e ito s p a r a a lín g u a p o r tu g u e s a co n h ecê-Ias e reco n stitu i-las, C o m o to d a ciên cia p o sitiv a,-
reservados à L iv r a r ia M a r tin s F o n te s E d ito r a L td a .
tem p o r o b jeto , acim a d e tu d o ,. ex p licar l!!!lli-g alid ªd e~
. R u a C o n s e lh e ir o R a m a lh o , 3 3 0 /3 4 0 0 1 3 2 5 -0 0 0
S ã o P a u lo SP B r a s il T e le fo n e 2 3 9 -3 6 7 7 atu al, p ró x im a d e- n ó s, cap az -p o rtãiíiü d e afetar n o ssas
VI AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA
t OBJETO DA PESQUISA V II

id é ia s e nossos a to s : essa re a lid a d e é o hom em e , m a is d e d u ra r. Se não e s tiv e s s e fu n d a d a n a n a tu re z a d a s c o is a s ,


e s p e c ia lm e n te , o hom em de h o je , p o is não há o u tro que e la te ria e n c o n tra d o nas c o is a s r e s i s t ê n c i a '; ' in s u p e rá v e is .
e s te ja m o s m a is , in te re s s a d o s em conhecer bem . A s s im , A s s im , q u a n d o a b o rd a m o s o e s tu d o das re lig iõ e s p rim iti-
não e s tu d a re m o s a re lig iã o a rc a ic a que ire m o s a b o rd a r, vas, é com a c e rte z a de que e la s p e rte n c e m ao re a l e o
p e lo s im p le s p ra z e r de c o n ta r suas e x tra v a g â n c ia s e s in - . I e x p rim e m ; v e re m o s esse p rin c íp io re to m a r a to d o m o-
~J
g u la rid a d e s . S e a 't o m a m o s c o rn o o b je to de nossa p e s q u i- m e n to a o lo n g o d a s a n á lis e s e d a s d is c u s s õ e s a s e g u ir, e o
sa é que n o s p a re c e u m a is a p ta que o u tra q u a lq u e r p a ra que c e n su ra re m o s nas e s c o la s das q u a is nos se p a ra m o s é
fa z e r e n te n d e r a n a tu re z a re lig io s a do hom em , is to é , i)ã - p re c is a m e n te h a v ê -Ia d e s c o n h e c id o . C e rta m e n te , quando
ra n o s re v e la r um a s p e c to e s s e n c ia l e p e rm a n e n te da hu- se c o n s id e ra apenas a le tra das f ó r r n u la s .v e s s a s c re n ç a s e
m a n id a d e , p rá tic a s re lig io s a s p a re c e m , às vezes, d e s c o n c e rta n te s , e
M as essa p ro p o s iç ã o não d e ix a de p ro v o c a r fo rte s podem os s e r te n ta d o s a a trib u í-Ia s a um a e s p é c ie de a b e r-
o b je ç õ e s . C o n s id e ra -s e e s tra n h o que, p a ra chegar a co- ra ç ã o in trín s e c a . M a s , d e b a ix o do s ím b o lo , é p re c is o sa-
nhecer a h u m a n id a d e p re s e n te , s e ja p re c is o com eçar por ber a tin g ir a re a lid a d e que e le fig u ra e lh e dá sua s ig n ifi-
a fa s ta r-s e d e la e tra n s p o rta r-s e aos com eços da h ís tó ria x cação v e rd a d e ira . O s rito s m a is b á rb a ro s ou o s m a is e x tra -
E s s a m a n e ira de p ro c e d e r a fig u ra -s e com o p a rtic u la rm e n - v a g a n te s , o s m ito s m a is e s tra n h o s tra d u z e m a lg u m a ne-
te p a ra d o x a l na q u e s tã o que nos ocupa, D e fa to , c o s tu - e s s íd a d e h u m a n a , a lg u m a s p e c to d a v id a , s e ja in d iv id u a l
m a m -se a trib u ir às re lig iõ e s um v a lo r e um a d ig n id a d e \ .1 s o c ia l. A s ra z õ e s que o fie l c o n c e d e a s i p ró p rio p a ra
d e s ig u a is ; d iz -s e , g e ra lm e n te , q u ,e n e m to d a s c o n tê m a ju s tific á -Ia s podem ser - e m u ita s vezes, d e fa to , s ã o - e r-
m esm a p a rte de v e rd a d e . P a re c e , p o is , que não se pode rô n e a s; m as a s ra z õ e s v e rd a d e ira s não d e ix a m de e x is tir;
c o m p a ra r as fo rm a s m a is e le v a d a s do p e n s a m e n to re li- c o m p e te à c iê n c ia d e s c o b ri-Ia s .
g io s o com a s m a is in fe rio re s sem re b a ix a r a s p rim e ira s ao N o fu n d o , p o rta n to , não há re lig iõ e s fa ls a s . T odas
n ív e l das segundas, A d m itir que os c u lto s g ro s s e iro s das s ã o 'v e r d a d e i r a s a seu m odo: to d a s c o rre sp o n d e m , a in d a
trib o s a u s tra lia n a s podem a ju d a r-n o s a c o m p re e n d e r o que de m a n e ira s d ife re n te s , a c o n d iç õ e s dadas d a e x is tê n -
c r is .! .0 :n js m o , p o r e x e m p lo , não é supor que e s te p ro c e d e c ia hum ana. C e rta m e n te não é Im p o s s ív e l d ís p ô -la s se-
da m esm a m e n ta lid a d e , ou s e ja , q u e é fe ito das m esm as gundo um a o rd e m h ie rá rq u ic a . U m as podem s e r s u p e rio -
s u p e rs tiç õ e s e re p o u sa so b re os m esm os e r r o s ? E i s a í Co- Jes a o u tra s , no s e n tid o de e m p re g a re m fu n ç õ e s m e n ta is
m o a im p o rtâ n c ia te ó ric a a lg u m a s vezes a trib u íd a à s re li- m a is e le v a d a s , de se re m m a is ric a s e m id é ia s e em s e n ti-
g iõ e s p rim itiv a s pôde passar por ín d ic e de um a irre lig io - m e n to s , de n e la s haver m a is c o n c e ito s , m enos sensações
s id a d e s is te m á tic a que, ao p re ju lg a r o s re s u lta d o s da pes- e im a g e n s , e de sua s is te m a tiz a ç ã o ser m a is e la b o ra d a .
q u is a , o s v ic ia v a d e a n te m ã o . M as, por re a is que s e ja m essa c o m p le x id a d e m a io r e essa
N ão cabe e x a m in a r aqui se houve re a lm e n te e s tu d io - m a is a lta id e a lid a d e , e la s n ã o são s u fic ie n te s p a ra c la s s ifí-
sos que m e re c e ra m essa c rític a e q u e fiz e ra m d a h is tó ria e a r a s re lig iõ e s c o rre s p o n d e n te s em g ê n e ro s se p a ra d o s.
da e tn o g ra fia re lig io s a . u m a m á q u ín a de g u e rra c o n tra a T odas são ig u a lm e n te re lig iõ e s , com o to d o s o s se re s v iv o s
re lig iã o . Em to d o caso, esse não p o d e ria ser o p o n to de são ig u a lm e n te v ív o s ] d o s m a is h u m ild e s p la s tíd io s ao ho-
v is ta de um s o c ió lo g o \C o m e fe ito , é um p o s tu la d o essen- m em , P o rta n to , se nos d irig im o s à s re lig iõ e s p rim itiv a s ,
c ia l d a s o c io lo g ia que um a in s titu iç ã o hum ana não pode não é com a id é ia de d e p re c ia r a re lig iã o d e u rn a m a n e ira
re p o u sa r so b re o e rro e a m e n tira , caso c o n trá rio não po- g e ra l; p o is essas re lig iõ e s não são m enos re s p e itá v e is que
V III AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA IX

as o u tra s . E la s c o rre sp o n d e m às m esm as n e c e s s id a d e s , ra d a à m a n e ira c a rte s ia n a , is to é, um c o n c e ito ló g ic o , um


desem penham o m esm o p a p e l, dependem das m esm as p u ro p o s s ív e l, c o n s tru id o p e la s fo rç a s do e s p írito . O que
causas; p o rta n to , podem s e rv ir m u ito bem p a ra m a n ife s ta r devem os e n c o n tra r é u m a re a lid a d e c o n c re ta q u e só a o b se r-
a n a tu re z a d a v id a re lig io s a e , c o n s e q ü e n te m e n te , p a ra re - vação h is tó ric a e e tn o g rá fíc a é capaz de nos re v e la r. M as,
s o lv e r o p ro b le m a que d e s e ja m o s tr a ta r .' " e m b o ra essa concepção fu n d a m e n ta l deva s e ro b tid a por
p ro c e d im e n to s d ife re n te s , c o n tin u a .s e n d o v e rd a d e iro que
M as por que c o n c e d e r-lh e s um a e s p é c ie d e p re rro g a - Ia é c h a m a d a a te r u m a in flu ê n c ia c o n s id e rá v e l so b re to -
tiv a ? P o r q u e e s c o lh ê -Ia s de p re fe rê n c ia a to d a s a s d e m a is ' . d a a s é rie d e p ro p o s iç õ e s . que a c iê n c ia e s ta b e le c e . A evo-
com o o b je to de nosso e s tu d o ? Isso se· d e v e u n ic a m e n te a' lu ç ã o b io ló g ic a fo i c o n c e b id a d e fo rm a c o m p le ta m e n te d i-
ra z õ e s d e m é t o d o '. . ' \.. fe re n te a p a rtir do m o m e n to em que se soube d a e x is tê n -
it
Em p rim e iro lu g a r, n ã o podem os chegar a c o m p re e n - . c ia d e se re s m o n o c e lu la re s . A s s im ta m b é m , o d e ta lh e dos
der a s re lig iõ e s m a is re c e n te s a não ser acom panhando na 'f a t o s re lig io s o s é e x p lic a d o d ife re n te m e n te , c o n fo rm e se
h is tó ria a m a n e ira com o e la s p ro g re s s iv a m e n te se com pu- . ponha n a o rig e m d a e v o lu ç ã o o n a tu r is m o ..o a n im ís m o ou
se ra m . A h is tó ria , com e fe ito , é o ú n ic o m é to d o d e a n á lis e a lg u m a o u tra fo rm a re lig io s a . M esm o o s e s tu d io s o s m a is
e x p lic a tiv a que é p o s s ív e l a p líc a r-lh e s . S ó e la n o s p e rm ite '\ p e c ia liz a d o s , se não p re te n d e m lim ita r-s e a u n ia ta re fa
decom por um a in s titu iç ã o em seus 'e l e m e n t o s c o n s titu ti- de p u ra e ru d iç ã o , se d e s e ja m e x p lic a r o s fa to s que a n a li-
vos, um a vez que nos m o s tra esses e le m e n to s nascendo a m , s ã o o b rig a d o s a e s c o lh e r um a d e s s a s h íp ó te s e s e n e la
no te m p o uns após o s o u tro s . P o r o u tro la d o , a o s itu a r ca- . in s p ira r. Q u e ira m ou não, a s q u e s tõ e s que e le s S e c o lo - .
da um d e le s rio c o n ju n to d e . c irc u n s tâ n c ia s em que s e o ri- . cam a d q u ire m n e c e s s a ria m e n te a s e g u in te fo rm a : de que
g in o u , e la nos p ro p o rc io n a o ú n ic o m e io capaz de d e te r- ) l) m a n e ira o n a tu ris m o o u o a n im is m o fo ra m d e te rm in a d o s a
m in a r .~ u s a s que õ s u s c ita ra m . Toda v e z , p o rta n to , que a d o ta r, aqui ou a c o lá , ta l a s p e c to p a rtic u la r, a e n riq u e c e r-
. e m p re e n d e m o s e x p lic a r um a c o is a hum ana, to m a d a num se ou a e m p o b re c e r-se d e s te ou d a q u e le m odo: Uma vez
m o m e n to d e te rm in a d o do te m p o - 'q u e r se tra te de um a que não se pode 'e v i t a r t o m a r um p a rtid o so b re esse p ro -
c re n ç a re lig io s a , de um a re g ra m o ra l, de um p re c e ito ju rí- b le m a in ic ia l, e u m a vez que a s o lu ç ã o q u e lh e é dada e s tá ;
d ic o , de um a té c n ic a e s té tic a ou de um re g im e e c o n ô m i- ,g e s tin a d a a a fe ta r o c o n ju n to da c iê n c ia , convém a b o rd á -
co -, é p re c is o com eçar por re m o n ta r à sua fo rm a m a is 10 fro n ta lm e n te ..É o q u e n o s p ro p o m o s fa z e r.
s im p le s e p rim itiv a , p ro c u ra r e x p lic a r o s c a ra c te re s a tra v é s A liá s , in c lu s iv e sem c o n s id e ra r essas re p e rc u ssõ e s in -
d o s q u a is e la s e d e fin e nesse p e río d o d e s u a e x is tê n c ia , fa - d ire ta s , o e s tu d o das re lig iõ e s p rim itiv a s te m , por si mes-,
zendo v e r, d e p o is , de que m a n e ira e la g ra d a tiv a m e n te se , m o, um in te re s s e im e d ia to que é d e p rim e ira im p o rtâ n c ia .
-r
o

d e s e n v o lv e u e c o m p lic o u , de que m a n e ira to rn o u -s e o Se, de fa to , é ú til s a b e r em que c o n s is te e s ta o u aque-


que é n o m o m e n to
c u ld a d e
g re s s iv a s ,
a im p o rtâ n c ia ,
da
c o n s id e ra d o .

d e te rm in a ç ã o
p a ra essa
do
O ra , c o n c e b e -se
s é rie
p o n to
de
de
e x p lic a ç õ e s
p a rtid a
sem

do
d ifi-
p ro -
qual
'r la re lig iã o
é a re lig iã o
to d a s as épocas,
p a rtic u la r,
de um a
te n to u
im p o rta
m a n e ira
a in d a
g e ra l.
a c u rio s id a d e
m a is

dos
e x a m in a r
É o p ro b le m a
filó s o fo s ,
que,
o que
em
e não
., ,
e la s d e p e n d e m . E ra u m p rin c íp io c a rte s ia n o que, no enca- sem ra z ã o , p o is e le in te re s s a à h u m a n id a d e in te ira . In fe -
d e a m e n to d a s v e rd a d e s c ie n tífic a s , o p rim e iro e lo desem - liz m e n te , o m é to d o que e le s c o s tu m a m e m p re g a r p a ra re -
- penha um papel p re p o n d e ra n te . C la ro que não s e tra ta de o lv ê -lo é p u ra m e n te d ia lé tic o : lim ita m -s e a a n a lis a r a
c o lo c a r na base d a c iê n c ia d a s re lig iõ e s um a noção e la b o - id é ia que fa z e m da re lig iã o , quando m u ito ilu s tra n d o os
x AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSAZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
OBJETO DA PESQUISA Xl

re s u lta d o s dessa a n á lis e com e x e m p lo s to m a d o s das re li- d o s fié is ; c o n fo rm e os hom ens, o s m e io s , a s c irc u n s tâ n c ia s ,
g iõ e s q u e re a liz a m m e lh o r seu id e a l. M as, se esse m é to d o ta n to a s c re n ç a s com o o s rito s s ã o e x p e rim e n ta d o s d e fo r-
deve ser abandonado, o p ro b le m a p e rm a n e c e de pé e o m as d ife re n te s . A q u i, s ã o s a c e rd o te s , a li, m o n g e s , a lh u re s ,
g ra n d e s e rv iç o que a filo s o fia p re s to u fo i im p e d ir que e le le ig o s ; há m ís tic o s e ra c ío n a lís ta s , te ó lo g o s e p ro fe ta s , e te .
fo sse p re s c rito p e lo desdém dos e ru d ito s . O ra , ta l p ro b le - Em ta is c o n d iç õ e s , é d ifíc il p e rc e b e r o que é com um a to -
'1 ;
,m a pode s e r re to m a d o por o u tra s v ia s . C om o to d a s a s re - dos. C la ro que se pode e n c o n tra r o m e io de e s tu d a r p ro -
lig iõ e s são c o m p a rá v e is , e com o to d a s são e s p é c ie s de v e ito s a m e n te , a tra v é s de um ou o u tro desses s is te m a s , es-
um m esm o g ê n e ro , há n e c e s s a ria m e n te e le m e n to s essen- te ou a q u e le fa to p a rtic u la r que n e le s se acha e s p e c ia l-
c ia is que lh e s são com uns. C om is s o , não nos re fe rim o s m e n te d e s e n v o lv id o , com o o s a c rifíc io ou o p ro fe tis m o , a
s im p le s m e n te aos c a ra c te re s e x te rio re s e v is ív e is que to - . v id a m o n á s tic a ou os m is té rio s ; m as com o d e s c o b rir O

das a p re s e n ta m ig u a lm e n te e que lh e s p e rm ite m d a r, des- fu n d o com um da v id a re lig io s a sob a lu x u ria n te v e g e ta -


de o in íc io da p e s q u is a , um a d e fin iç ã o p ro v is ó ria ; a des- ção que a re c o b re rC o m o , sob o choque das te o lo g ia s ,
c o b e rta desses s ig n o s a p a re n te s é re la tiv a m e n te fá c il, p o is d a s v a ria ç õ e s dos ritu a is , e la m u ltip lic id a d e d o s g ru p o s, da
a o b se rv a ç ã o que e x ig e não p re c is a ir a lé m da s u p e rfíc ie d iv e rs id a d e dos in d iv íd u o s , e n c o n tra r os e s ta d o s fu n d a -
das c o is a s . M a s ' a s ' s e m e lh a n ç a s e x te rio re s supõem o u tra s , m e n ta is c a ra c te rís tic o s da rn c n ta lld a d e re lig io s a em g e ra l?
que são p ro fu n d a s. N a base de to d o s o s s is te m a s d e c re n -' A lg o dtfcrcruc o c o r r e
bem n a s s o c ie d a d e s in fe rio re s . ! 4 ', .
çase de to d o s às c u lto s , deve n e c e s s a ria m e n te hayer um mcnor.dcscnvolvírnento d a s in d iv id u a lid a d e s , a m enor
c e rto n ú m e ro de re p re s e n ta ç õ e s fu n d a m e n ta is e de a titu - ix tc n s ã o d o g ru p o , a h o m o g e n e id a d e d a s c irc u n s tâ n c ia s ex-
des ritu a is que, apesar da d iv e rs id a d e d e fo rm a s que ta n to te rio re s , tu d o c o n trib u i p a ra re d u z ir a s d ife re n ç a s e as va-
um as com o o u tra s p u d e ra m re v e s tir, tê m se m p re a m es- ria ç õ e s ao m ín im o . O g rú p o re a liz a , de m a n é irá re g u lã r, "
m a s ig n ific a ç ã o o b je tiv a e desem penham por to d a p a rte um a u n ifo rm id a d e in te le c tu a l e m o ra l c u jo e x e m p lo só rà -
as m esm as fu n ç õ e s. São esses e le m e n to s p e rm a n e n te s ra m e n te se e n c o n tra nas s o c ie d a d e s m a is avançadas. Tu- ()( u .
que c o n s titu e m o .q u e há de e te rn o c: d e hum ano na re li- do é com um a to d o s , O s m o v im e n to s são e s te re o tip a d o s ;(:ú :" " , ~ '; j i -
g iã o ; e le s são o c o n te ú d o o b je tiv o da id é ia que se e x p ri- to d o s e x e c u ta m os m esm os nas m esm as c irc u n s tâ n c ia s , e~
m e quando se fa la da re lig iã o em g e ra l. De que m a n e ira , esse c o n fo rm is m o da c o n d u ta nâo fa z se n ã o tra d u z ir odo
01/
p o rta n to , é p o s s ív e l a tin g i-lo s ? ' p e n s a m e n to . Sendo to d a s a s c o n s c iê n c ia s a rra s ta d a s nos
" N ão, c e rta m e n te , o b se rv a n d o a s re lig iõ e s c o m p le x a s m esm os tu rb ilh õ e s , o tip o in d iv id u a lp ra tic a rn e n te s e 'c o n - .
que a p a re c e m na s e q ü ê n c ia da h is tó ria . C ada um a é fo r- :- fu n d e com O t~ p o g e n é riro A o m esm o te m p o em que tu -
m ada de ta l v a rie d a d e de e le m e n to s , que é m u ito d ifíc il õé u rilfo rm e , tu d o é s im p le s . N ada m a is to s c o que esses
d is tin g u ir n e la s o s e c u n d á rio do p rin c ip a l e o e s s e n c ia l do m ito s c o m p o s to s de um m esm o e ú n ic o te m a que se re -
a c e s s ó r i o '. Q ue se pense em re lig iõ e s com o as d o . E g ito , p e te sem c e ssa r, que esses rito s fe ito s de um : pequeno nú-
da Í n d i a 'o u d a A n tig u id a d e d á s s ic a ! É um a tra m a espessa m e ro e le g e s to s re c o m e ç a d o s in te rm in a v e lm e n te . A , im a g i- ,
de c u lto s m ú ltip lo s ,' v a riá v e is com a s lo c a lid a d e s , com os p o p u la r ou s a c e rd o ta l não te v e a in d a te m p o nem
te m p lo s , com a s g e ra ç õ e s; as d in a s tia s , as in v a s õ e s , e le . de re fin a r e tra n s fo rm a r a m a té ria -p rim a das id é ia s
I:,
N e la s , a s s u p e rs tiç õ e s p o p u la re s e s tã o m esdadas aos dog- . tic a s re lig io s a s ; e s ta se m o s tra , p o rta n to , nua e se
m as m a is re fin a d o s . N em o p e n s a m e n to , nem a a tiv id a d e s p o n ta n e a rn e n te à o b se rv a ç ã o , que não p re c is a
re lig io s a e n c o n tra m -s e ig u a lm e n te d is trib u íd o s na m assa um pequeno e sfo rç o p a ra d e s c o b ri-la i O acessó-
X II AS FORMAS ELEMENTARES DA \l7DA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA X III

rio , o s e c u n d á rio , os d e s e n v o lv im e n to s de lu x o não v ie - m esm a ra z ã o que a d e s c o b e rta dos se re s m o n o c e lu la re s ,

ra m a in d a o c u lta r o p rin c ip a J 2 . T u d o é re d u z id o ao in d is - de que fa lá v a m o s há pouco, tra n s fo rm o u a id é ia que se

p e n s á v e l, à q u ilo sem o que não p o d e ria haver re lig iã o . fa z ia c o rre n te m e n te da v id a . C om o nos se re s m u ito s im -

M a s o in d is p e n s á v e l é ta m b é m o e s s e n c ia l,' o u s e ja , o q u e p le s a v id a se re d u z a seus tra ç o s e s s e n c ia is , e s te s d ific il-

a c im a d e tu d o n o s im p o rta c o n h e c e r. m e n te podem s e r ig n o ra d o s .

A s c iv iliz a ç õ e s p rim itiv a s c o n s titu e m , p o rta n to , casos ..M a s a s r e lig iõ e s p rim itiv a s não p e rm ite m apenas des-

p riv ile g ia d o s , por se re m casos s im p le s . E is p o r que, em ta c a r o s e le m e n to s c o n s titu tív o s da re lig iã o ; tê m ta m b é m

to d a s a s o rd e n s de fa to s , a s o b se rv a ç õ e s dos e tn ó g ra fo s a 'g r a n d e v a n ta g e m de fa c ilita r sua e x p lic a -ç ã o . P o s to que /'

fo ra m com fre q ü ê n c ia v e rd a d e ira s re v e la ç õ e s que re n o v a - n e la s o s fa to s são m a is s im p le s , a s re la ç õ e s ' e n tre o s fã to S t? '


p!!p-E.tJ 'f($' aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ra m o e s tu d o d a s in s titu iç õ e s h u m a n a s . P o r e x e m p lo , an- são ta m b é m m a is e V id e n te s .~ ra z õ e s p e la s q u a is os ho-

te s d a m e ta d e do s é c u lo X IX , to d o s e s ta v a m c o n v e n c id o s .i. m ens e x p lic a m seus a to s nao fo ra m a in d a e la b o ra d a s e

de que o pai e ra o e le m e n to e s s e n c ia l da fa m ília ; n ã o se d e s n a tu ra d a s por um a re fle x ã o e ru d ita ; e s tã o m a is p ró x i-

c o n c e b ia sequer que pudesse haver um a o rg a n iz a ç ã o fa - m as, m a is chegadas à s m o tiv a ç õ e s que re a lm e n te d e te r-

m ilia r c u ja p e d ra a n g u la r não fo sse o poder p a te rn o . A m in a ra m esses a t~ . P a ra c o m p re e n d e r bem um d e lírio e

d e s c o b e rta d e B a c h o fe n v e io d e rru b a r e s s a v e lh a concep- poder a p lic a r-lh e o tra ta m e n to m a is a p ro p ria d o , o m é d ic o

ção. A té te m p o s bem re c e n te s , c o n s id e ra v a -s e e v id e n te te m n e c e s s id a d e de saber qual fo i se u p o n to de p a rtid a .

que a s re la ç õ e s m o ra is e ju ríd ic a s que c o n s titu e m o pa- O ra , esse a c o n te c im e n to é ta n to m a is f~ c il d e d is c e rn ir

re n te s c o fo sse m apenas um o u tro a s p e c to d a s re la ç õ e s fi- q u a n to m a is se puder o b se rv a r ta l d e lírio num p e río d o

s io ló g ic a s que re s u lta m da c o m u n id a d e de d e s c e n d ê n c ia ; p ró x im o d e s e u c o m e ç o . A o c o n trá rio , q u a n to m a is a d o e n -

B a c h o fe n e seus su c e sso re s, M ac L ennan, M o rg a n e m u i- ça se d e s e n v o lv e no te m p o , m a is e la se fu rta à o b se rv a -

to s o u tro s , e s ta v a m a in d a sob a in flu ê n c ia desse p re c o n - ção: é que, p e lo c a m in h o , um a s é rie de in te rp re ta ç õ e s in -

c e ito . D e s d e que conhecem os a n a tu re z a do c lã p rim itiv o , te rv ie ra m , te n d e n d o a re c a lc a r no in c o n s c ie n te o e s ta d o

sabem os, ao c o n trá rio , que o p a re n te s c o não p o d e ria ser o rig in a l e a s u b s titu í-lo por o u tro s , a tra v é s dos q u a is é d i-

d e fin id o .p e la c o n s a n g ü in id a d e . P a ra v o lta rm o s à s re li- fíc il à s v e z e s re e n c o n tra r o p r im e ir o . -E n tre um d e lírio s is -

g iõ e s , a s im p le s c o n s id e ra ç ã o das fo rm a s re lig io s a s que te m a tiz a d o e a s im p re s s õ e s p rim e ira s que lh e d e ra m o ri-

nos são m a is fa m ilia re s fe z a c re d ita r d u ra n te m u ito te m p o gem , a d is tâ n c ia é g e ra lm e n te c o n s id e rá v e l. O m esm o va-

que a noção de d ~ J ~ s'e r a c a r a c t e r í s t i c a d e tu d o o que é re - le p a ra o p e n s a m e n to re lig io s o . À m e d id a que e le ~ . ._ ~


[íg ío s ó . O ra , a re líg íã o q u e e s tu d a re m o s m a is à & in te - é, ã ê llã fils tõ ría , as causas que o c h a m a ra m à e X is tê n c ia ,
em g ra n d e p a rte , e s tra n h a a to d a id é ia de d iv in d a d e ; as "--e m b o ra se m p re p e rm a n e c e n d o a tiv a s , n ã o -S ã O m a is p e r-

fo rç a s à s q u a is se d irig e m seus rito s são m u ito d ife re n te s ~ senão a tra v é s aeum v a s to s is te m - e io te rp re ta -

d a q u e la s que ocupam o p rim e iro lu g a r em nossas re li- ç S )e s q u e a s d e fo rm a ffiJ A s m ito o g ia s p o p u la re s e a s s u tis

g iõ e s m o d e rn a s; não o b s ta n te , e la s n o s a ju d a rã o a m e lh o r te O J .~ f iz e r a m su a o b ra : so b re p u se ra m a o s s e n tim e n to s

c o m p re e n d e r e s ta s ú ltim a s . A s s im , n a d a m a is in ju s to que p rim itiv o s s e n tim e n to s m u ito d ife re n te s que, e m b o ra lig a -

o desdém que m u ito s h is to ria d o re s c o n se rv a m a in d a pe- dos aos p rim e iro s , dos q u a is são a fo rm a e la b o ra d a , só

lo s tra b a lh o s dos e tn ó g ra fo s . É c e rto , ao c o n trá rio , que a im p e rfe ita m e n te d e ix a m tra n s p a re c e r sua n a tu re z a v e rd a -

e tn o g ra fia d e te rm in o u m u ita s vezes, nos d ife re n te s ra m o s d e ira . A d is tâ n c ia p s ic o ló g ic a e n tre a causa e o e fe ito , e n -

da s o c io lo g ia , a s m a is fe c u n d a s re v o lu ç õ e s . A liá s , é p e la tre a c a u s a a p a re n te e a causa e fe tiv a , to rn o u -s e m a is c o n -


X IV AS FORMAS ELEMENTARES DA V7DA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA xv

s id e rá v e l e m a is d ifíc il d e p e rc o rre r p a ra o e s p írito . O d e - ç õ e s, a n a tu re z a fa z e s p o n ta n e a m e n te s im p lific a ç õ e s do


s e n v o lv im e n to d e s ta o b ra s e rá u m a ilu s tra ç ã o e u m a v e ri- m esm o tip o n o in íc io d a h is tó ria . Q u e re m o s apenas tira r
fic a ç ã o d e s s a o b s e rv a ç ã o m e to d o ló g ic a . V e re m o s d e q u e " ;' p ro v e ito d e la s . E c la ro q u e s ó 1 2 o d e r~ ~ ? ~ ~ ~ g t...P ,o r_ e ~ ~ ~ _
a n e ira , n a s re lig iõ e s p rim itiv a s , o fa to re lig io s o tra z a in - é to d o , fa to s m u ito e le m e n ta re s . Q u a n d o , n a m e d id a d o
d a v is ív e l a m a rc a d e s u a s o rig e n s : bem m a is d ifíc il n o s p õ 'S S íV e 1-o
, s tiv e rm o s á tin g id ô ,'" a in d a a s s im n ã o e s ta rã o

U
te ria s id o in fe ri-Ia s c o m b a s e n a s im p le s c o n s id e ra ç ã o
re lig iõ e s m a is d e s e n v o lv id a s .
O e s tu d o q u e e m p re e n d e m o s é , p o rta n to , um a m a-
das e x p lic a d a s a s n o v id a d e s d e to d o tip o q u e s e p ro d u z ira m
n a s e q ü ê n c ia d a e v o lu ç ã o . M a s , s e n ã o p e n s a m o s e m n e -
g a r a im p o rtâ n c ia d o s p ro b le m a s q u e e la s c o lo c a m , ju lg a -
n e ira e re to m a r, m a s e m c o n i - ~ ltrc > fõ - m o s q u e ta is p ro b le m a s g a n h a m e m s e r tra ta d o s n a s u a
b le ~ d a s re rrg i~ - e , p o r o rig e m , e n te n d e -s e d e v id a h o ra , e q u e h á in te re s s e e m a b o rd á -I o s s o m e n te
m p rim e írõ co a , p o r c e rto a q u e s tã o n a d a d e p o is d a q u e le s c u jo e s tu d o ire m o s e m p re e n d e r.
e ie n tífic a e deve s e r re s o lu ta m e n te d e s c a rta d a /
N ã o h á u m m s a n te ra d ic a l e m q u e a re 1 íã :t)re rr~ e -
~
ç a d o a e x is tir, e n ã o s e tra ta d e e n c o n tra r u m e x p e d ie n te II
q u e n o s p e rm ita tra n s p o rta r-n o s a e le e m p e n s a m e n to .
C o m o to d a in s titu iç ã o h u m a n a , a re lig iã o n ã o c o m e ç a e m . M a s n o s s a p e s q u is a n ã o in te re s s a a p e n a s à c iê n c ia 1, ).!...E
p a rte a lg 1 u n a -:A s s im , to d a s a s " 'ê S p 'e ê iila ç õ e s d e s s e g ê n e ro d a s re lig iõ e s . T o d a re lig iã o , c o m e fe ito , te m u m la d o p e lo j f'f.L
s ã o ju s ta m e n te d e s a c re d ita d a s ; 's ó p o d e m c o n s is tir em q u a l v a i a lé m d o c írc u lo d a s id é ia s p ro p ria m e n te re lig io - 1::'"
c o n s tru ç õ e s s u b je tiv a s e a rb itrá ria s q u e n ã o c o m p o rta m s a s e , s e n d o a s s im , o e s tu d o d o s fe n ô m e n o s re lig io s O s 'l V'

c o n tro le d e e s p é c ie a lg u m a . B e m d ife re n te é o p ro b le m a fo rn e c e u m m e io d e re n o v a r p ro b le m a s g u e a té a g o ra s ó
que c o lo c a m o s . G o s ta ría m o s d e e n c o n tra r um m e io de ." fo ra m d e b a tid o s e n tre filó s o fo s . .
d is c e rn ir a s c a u s a s , s e m p re p re s e n te s , de que dependem H á m u ito s e s a b e q u e ~ t? rim e i!:p s s is te m a ~ ~ e re p re -
a s fo rm a s m a is e s s e n c ia is d o p e n s a m e n to e d a p rá tic a re li- s e n ta ç õ e s q u e o h o m e m p ro d u z iu d o m u n d o e desí p ró -
g io s a . O ra , p e la s ra z õ e s q u e a c a b a m d e s e r e x p o s ta s , e s - 1 2 rio s ã o d e o n g e rriT e T íg io s a :'" 'N [o h i re IT g iã o q u e n ã o s e ja -
s a s c a u s a s s ã o m a is fa c ilm e n te o b s e rv á v e is q u a n d o a s s o - j.'u m a c o s m o lo g ia a o m e S riiõ re m p o q u e u m a e s p e c u la ç ã o ,
c ie d a d e s e m q u e a s o b s e rv a m o s são m enos c o m p lic a d a s . , -fN.·vI s o b re o d iv in o ) S e a filo s o h a e a s c ie n c ia s n a s c e ra m d a re -
E is p o r q u e buscam os nos a p ro x im a r d a s o rig e n s> . ~ ~ ~ o "~ t ,Ilig iã o , é .~ u ~ a p ró p r~ a re l~ g iã o c o m e ç < ,:lUp o r fa z e r a s v e ~
g u e p re te n d a m o s a trib u ir à s re lig iÔ .e s in fe rio re s v irtu d 9 ~\''', ~ ....vLzes d e c ie n c ia s e d e filo s o fia s M a s o q u e fo im e n o s n o ta d o
p a rtic u la r~ s . P e lo c o n trá rio , e la s s ã o ru d im e n ta re s e g ro s - ,/\ O U é q u e e la n ã o s e lim ito u a e n riq u e c e r com um c e rto n ú :-
s e ira s ; ~ o é à cáSo, p o rta n to , d e fa z e r d e la s m o d e lo s que ~\\J]'\\)~ o ,~ e s p -írito h u m ~ o p ~ e v ia m e n te fo r~ -
a s re lig iõ e s p o s te rio re s a p e n a s te ria m re p ro d u z id o . M as. . \' \ ~ ; t;ttm b é m ~ n trib u iu ~~s ho-
s e u p ró p rio a s p e c to g ro s s e iro a s to rn a in s tru tiv a s , p o is , m e n s n ã o lh e d e v e m a p e n a s ;e p :iIte n o tá v e l, a m a fé ria
d e s te
q~s
m odo, e la s c o n s titu e m .e x p e riê n c ia s
fª-!Q s -W t!is re la ç Q .e ~ s _ :1 offiã i§ fá c e is d e ~
côm odas em
C " .5 le s e u s c o .,g h e c im e n to s , Illi!S -Í.g )J a lm e n te~ fo rm a S e g U n d o
v ~ e s s g s ...c .o n lli:.d m ~
O fís ic o , p a ra d e s c o b rir a s le is d o s fe n ô m e n o s q u e e s tu d a , . N a ra iz d e n o s s o s ju lg a m e n to s , h á u m c e rto n ú m e ro
p ro c u ra s im p lific a r esses ú ltim o s , d e s e m b a ra ç á -lo s de d e n o ç S '> e se s s e n c ia is q u e d o m in a m to d a a n o s s a v id a in -
s e u s c a ra c te re s s e c u n d á rio s . N o q u e c o n c e rn e à s in s titu i- te le c tu a l; s ã o a q u e la s que o s filó s o fo s , d e s d e A ristó te le s,
XVI AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA X V II

c h a m a m d e c a te g o ria s d o e n te n d im e n to : n o ç õ e s d e te m - m o s a tra v é s d e m a rc a s o b je tiv a s , u m te m p o q u e n ã o s e ria


p o , d e e s p a ç o s , d e g ê n e ro .Id e n ú m e ro , d e -c a u s a , d e s u b s - u m a s u c e s s ã o d e a n o s , m e s e s , s e m a n a s , d ia s e h o ra s ! S e -
-tâ n c ia , d e p e rs o n a lid a d e , e tc . E la s c o rre s p o n d e m à s p ro - ria a lg o m a is o u m e n o s im p e n s á v e l. S ~ p O d a ro s c 0 } c e b e
p rie d a d e s m a is u n iv e rs a is d a s c o is a s . S ã o c o m o q u a d ro s o te m p o s e n e le d is tin g u irm o s m o m e n to s i e re n te s , O ra ,
s ó lid o s q u e e n c e rra m o p e n s a m e n to ; e s te n ã o p a re c e po- q u a l é a o rig e m d e s s a d ife re n c ia ç ã o ? C e rta m e n te o s e s ta -
d e r lib e rta r-s e d e le s s e m s e d e s tru ir, p o is tu d o in d ic a q u e d o s d e c o n s c iê n c ia q u e já e x p e rim e n ta m o s p o d e m re p ro -
não podem os p e n s a r o b je to s q u e n ã o e s te ja m n o te m p o d u z ir-s e e m n ó s , n a m e s m a o rd e m e m q u e s e d e s e n ro la -
ou no espaço, que não s e ja m n u m e rá v e is , e tc . A s o u tra s ra m p rlm ítív a m e n te : e , a s s im , p o rç õ e s d e n o s s o p a s s a d o
noções s ã o c o n tin g e n te s e m ó v e is ; to n c e b e m o s que pos- v o lta m a n o s s e r p re s e n te s , e m b o ra d is tin g u in d o -s e espon-
s a m fa lta r a u m h o m e m , a u m a s o c ie d a d e , a um a época, ta n e a m e n te d o p re s e n te . M a s , p o r im p o rta n te q u e s e ja e s -_
e n q u a n to a q u e la s nos p a re c e m quase in s e p a rá v e is do s a d is tin ç ã o p a ra n o s s a e x p e riê n c ia p riv a d a , e la e s tá lo n g e
fu n c io n a m e n to n o rm a l d o e s p írito . São com o a o s s a tu ra d e b a s ta r p a ra c o n s titu ir a n o ç ã o o u c a te g o ria d e { e m p à -
d a in te lig ê n c ia . O ra , q u a n d o a n a lis a m o s m e to d ic a m e n te E s ta n ã o c o n s is te s im p le s m e n te n u m a c o m e m o ra ç ~ -
a s c re n ç a s re lig io s a s p rim itiv a s , e n c o n tra m o s n a tu ra lm e n - c ia l o u in te g ra l, d e n o s s a v id a tra n s c o rrid a . É u m . q u a d ro
--_._~
te e m n o s s o c a m in h o a s p rin c ip a is d e s s a s c a te g o ria s . E la s ~ ºs tra to e im p e s s o a l q u e e n v o lv e n ã o a R e n a s " 1 l~ is -
n a s c e ra m n a re lig iã o e d a re lig iã o , s ã o u m p ro d u to do te n c ia in d iv iO ü ã I, ~ a d a h u m a n id a d e . É c o rn o u m p a i-
p e n s a m e n to re lig io s o . É u m a c o n s ta ta ç ã o q u e h a v e re m o s h e i ilim ita d ã , e m q u e to d a a d u ra ç ã o s e m o s tra s o b o o lh a r
d e fa z e r v á ria s v e z e s 'a o lo n g o d e s ta o b ra . d o e s p írito e e m q u e to d o s o s a c o n te c im e n to s p o s s ív e is
E s s a o b s e rv a ç ã o p o s s u i já u m in te re s s e p o r s i p ró - podem s e r s itu a d o s e m re la ç ã o a p o n to s d e re fe rê n c ia fi-
p ria ; m a s e is o q u e lh e c o n fe re s e u v e rd a d e iro a lc a n c . x o s e d e te rm in a d o s . N ã o é o m e u te m p o q u e e s tá a s s im
t""
A c o n c lu s ã o g e ra l d o liv ro u e s e . " li- ( \ o rg a n iz a d o ; é o te m p o ta l c o m o é o b je tiv a m e n te pensado

>
g iã o é u m a c O is a e m in e n te m e n te s o c ia l. A s re p re s e n ta ç õ .e s \ro r to d o s o s h o m e n s d e u m a m e s m a c iv iliz a ç ã o . A p e n a s
onmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
re lig io s a s s ã o re p re s e n ta ç õ e s . c ,? le tiv a s Q u e e x p rim e m re a - IS S Ojá é s u fic ie n te p a ra fa z e r e n tre v e r q u e u m a ta l ))fg a n i-
Jtt\I(E :1
lid a d e s c ô lê tiv a s j o s rito s s ã o m a n e ira s d ~ g !.u ;IJ le s ó s u r- zação d e v e s e r ç Q le tiv 3 fE , d e fa to , ~ o b s e rv a ç ã o e s tà b ~ -
g e m n o in te rio r d e g ru p o s c o o rd e n a d o s e s e d e s tin a m a ~ S :,.e~ le e s s e s p o n to s d e re fe rê n c ia J n d J _ s ~ s á v ~ , e m re la -
i!s c ita r. m a n te r o u re fa z e r a lg u n s eÚ âdQ s ;;;;;;:n :ta iS 2 ê s s e s 'Í ~~~ { ção a o s q u a ls .t'º-,-Ias. a s Ç ,q J s ~ ,s
\s e la ~ s ~ f,i~ e m B o ra lm e r.t
g O m o s . M a § , e n tã Q , s e a s c a te g ~ rja s s ã o d ~ o ...tig ~ m r~ lig io - Y ,/ r te ,-m ro -to m a d o s da vJela s o c ia l. :A s d iv isõ e s e m d ia s , s e m a -
a , e la s d e v e m a rtic ip a r d a n a tu re z a com um a to d o os' ~ a s , m e s e s , a n o s , c tc ., e o rre s p o n d e m à p e rio d ic id a d e d o s
fa to s re l.i~ ta m e m e a s d e v e m s e r c o is a s s o c ia is , rito s , d a s fe s ta s , d a s c e rim ô n ia s p ó b lícas> . U m c a le n d á rio
p .r.o d u to s d o p e n s a m e n to c o le .tiy o . C o m o , " n o e s ta d o a tu a l
d e n o s s o s c o n h e c im e n to s d e s s e s a s s u n to s , d e v e m o s e v ita r
)~r\ e x p rim e o ritm o d a : a tiv id a d e c o le tiv ;a , a .? m e s m s te p 2 .Q
q u e te m p o r fu n ç ã o a s s e g u ra r s u a re g u la rid a d e 6 J
to d ã te s e ra d ic a l e e x c lu s iv a , p e lo m e n o s é le g ítim o s u p o r I O m e s m o a c o n te c e -c o m o ~ ç o . C o m o d e m o n s tro u
q u e s e ja m ric a s e m e le m e n to s s o c ia is .. H a m e lin " , o e s p a ç o n ã o é e s s e m e io v a g o e in d e te rm in a -
A liá s , é o q u e s e p o d e , desde já , e n tre v e r p a ra a lg u - d o q u e K a n t h a v ia im a g in a d o : p u ra m e n te e a b s o lu ta m e n -
m a s d e la s . Q u e s e te n te , p o r e x e m p lo , im a g in a r o q u e s e - t te h o m o g ê n e o , e le n ã o s e rv iria p a ra n a d a e s e q u e r d a ria
ria a n o ç ã o d e te m p o , se puséssem os d e la d o o s p ro c e d i- n s e jo a o p e n s a m e n to . A re p re s e n ta ç ã o e s p a c ia l c o n s is te
m e n to s 'p e lo s q u a is o d iv id im o s , o m e d im o s , o e x p rim i- sse n c ía lm e n te n u rn a p rim e ira c o o rd e n a ç ã o in tro d u z id a
X V III AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA X IX

e n tre os dados d a e x p e riê n c ia s e n s ív e l. M a s e s s a c o o rd e - te q u a rte irõ e s do m undo e s tá e m ín tim a re la ç ã o com Um


nação s e ria im p o s s ív e l s e a s p a rte s do espaço s e e q u iv a - q u a rte irã o do pueblo, is to ( c o m 'u m g ru p o d e c lã s tv . "As-
le s s e m q u a lita tiv a m e n te , s e fo s s e m .re a lm e n te in te rc a m 1 ::5 iá - s im ; d iz C u s h in g , u m a d iv is ã o d e v e e s ta r e m re la ç ã o com
. weís u m a s p e la s o u tra s . P a ra p o d e r d is p o r e s p a c ia lm e n te o n o rte ; um a o u tra re p re s e n ta o o e s te , um a te rc e ira o
a s c o is a s , é p re c is o poder s itu á -Ia s d ife re n te m e n te : c o lo - s u l ll, e tc ." C a d a q u a rte irã o do puebio te m s u a c o r c a ra c te -
( car um as à d ire ita , o u tra s à e s q u e rd a , e s ta s e m ' c im a , rís tic a q u e o s im b o liz a ; c a d a re g iã o do espaço te m a sua,
a q u e la s e m b a ix o , a o n o rte o u a o s u l, a le s te o u a o e s te , q u e é e x a ta m e n te a d o q u a rte irã o c o rre s p o n d e n te . A o lo n -
e tc ., d o m e s m o m odo q u e , p a ra d is p o r te m p o ra lm e n te os o d a h is tó ria , o n ú m e ro d e c lã s fu n d a m e n ta is v a rio u ; o
e s ta d o s d a c o n s c iê n c ia , c u m p re poder lo c a liz á -lo s em da- n ú m e ro d e re g iõ e s v a rio u da m esm a m a n e ira . A s s im , a o r-
ta s d e te rm in a d a s . V a le d iz e r q u e o e s p a ç o n ã o p o d e ria ser g a n iz a ç ã o s o c ia l fo i o m o d e lo d a o rg a n iz a ç ã o e s p a c ia l,
e le p ró p rio s e , a s s im com o o te m o n ã o fo s s e d iv id id o e q u e é u m a e s p é c ie d e d e c a lq u e d a p rim e ira . A té m e s m o a
ç iífu re n c ia d o . as essas d iv iÇ u e lh e s ã e s s e n c ia ls d is tin ç ã o d e d ire ita e e s q u e rd a , lo n g e d e e s ta r im p lic a d a
de õna ro v ê ? P a ra o espaço m esm o, não h á d ire ita n a n a tu re z a do hom em e m g e ra l; é m u ito p ro v a v e lm e n te o
nem e s q u e rd a , nem a lto n e m b a ix o , nem n o rte nem s u l. p ro d u to d e re p re s e n ta ç õ e s re lig io s a s , p o rta n to c o le tiv a s v .
T odas essas d is tin ç õ e s ro v ê m , e v id e n te m e n te , d e te re m M a is a d ia n te s e rã o e n c o n tra d a s p ro v a s a n á lo g a s re la -
s id o a trib u íd o s v a lo re s a e tiv o s i e re n te s à s re _iõ e s . E, tiv a s .ã s n o ç õ e s d e g ê n e ro , d e fo rç a , d e p e rs o n a lid a d e , de
com o to os os om ens de um a m esm a c iv iliz a ç ã o re p re - e fic á c ia . P o d e -s e m esm o p e rg u n ta r se a noção d e c o n tra -
s e n ta m -s e o espaço da m esm a m a n e ira , é p re c is o , e v id e n - d iç ã o não depende, ta m b é m e la , d e c o n d iç õ e s s o c ia is . O
te m e n te , que esses v a lo re s a fe tiv o s e a s d is tin ç õ e s que que le v a a p e n s a r a s s im é q u e a in flu ê n c ia que e la e x e r-
d e le s dependem lh e s s e ja m ig u a lm e n te com uns; o que c e ~ U .9 ºre 5 U 2 e !J ...§ .a lJ le n tº~ a riQ u .s ~ g lJ n s lQ a J ? é R o c a s e as
im p lic ~ q u a s e n e c e s s a ria m e n te q u e rta is v a l'õ í" é s -e · d i~ t1 l'trb e 'S ' s o c ie d a d e s . O p rin c íp io d e id e n tid a d e d o m in a h o je o
lS ã O d ~ O rig e ~ ~ p e n s a m e n to c ie n tífic o ; m a s h á v a s to s s is te m a s d e re p re -
P o r s in a C á c a s o s e m q u e e s s e .c a râ te r s o c ia l to rn o u - s e n ta ç õ e s que d e s e m p e n h a ra m n a h is tó ria d a s id é ia s u m
s e m a n ife s to . E x is te m s o c ie d a d e s n a A u s trá lia ou na A m é- p a p e l c o n s id e rá v e l e n o s q u a is e le é fre q ü e n te m e n te ig n o -
ric a d o N o rte em que o espaço é c o n c e b id o sob a fo rm a l\i~ '~ .~J ra d o : são a s m ito lo g ia s , desde a s m a is g ro s s e ira s a té a s
de um c írc u lo im e n s o , p o rq u e o p ró p rio a c a m p a m e n to W ur m a is e la b o ra d a s » . E la s tra ta m s e m p a ra r d e s e re s q u e tê m
te m u m a fo rm a c irc u la ra , e o c írc u lo e s p a c ia l é e x a ta m e n - ~rJD \~ s im u lta n e a m e n te o s a trib u to s m a is c o n tra d itó rio s , que sào
te d iv id id o com o o c írc u lo trib a l e à im a g e m d e s te ú ltim o . O ao m esm o te m p o u n o s e m ú ltip lo s , m a te ria is e e s p iritu a is ,
D is tin g u e m -s e ta n ta s re g iõ e s q u a n to s s ã o o s c lã s d a trib o ,
cr.f'J\ \ \~\j\
que podem s u b d iv id ir-s e in d e fin id a m e n te sem nada p e r-
e é o lu g a r ocupado p e lo s c lã s n o in te rio r do acam pa-
~,~' d e r d a q u ilo q u e o s c o n s titu i; e ,m .J J ),J to J Q g ia ,~ é ...lJ m ..a x io m a
m e n to que d e te rm in a a o rie n ta ç à o d a s re g iõ e s . C a d a re - rX l~O '\~ .L R a rte e g lJ iv ~ o . E s s a s v a ria ç õ e s a que se sub-
g iã o d e fin e -s e p e lo to te m d o c lã a o q u a l e la é d e s tin a d a . m e te u n a h is tó ria a re g ra q u e p a re c e g o v e rn a r n o s s a ló g i-
E n tre o s z u n i, por e x e m p lo , o pueblo c o m p re e n d e s e te .,;\\~ o t\" c a a tu a l p ro v a m q u e , lo n g e d e e s ta r in s c rita desde to d a a
q u a rte irõ e s ; cada um d e le s ' é u m g ru p o d e .c l,ã s que te v e e te rn id a d e n a c o n s titu iç ã o m e n ta l do hom em , e s s a re g ra
sua u n id a d e : com to d a a c e rte z a , h a v ia p rim itiv a m e n te depende, p e lo m enos em p a rte , d e fa to re s h is tó ric o s , e
um ú n ic o c lã q u e d e p o is ? e s u b d iv id iu . O ra , o espaço p o rta n to s o c ia is . N ão sabem os e x a ta m e n te que fa to re s
c o m p re e n d e ig u a lm e n te s e te re g iõ e s e 'c a d a u m d e s s e s s e -' '" • são esses, m as podem os p re s u m ir q u e e x is te rn -+ ,

"
xx A S F O R M A S E L E M E N T A R E S D A V ID A R E L IG IO S A
O B J E T O D A P E S Q U IS A XXI

U m a v e z a d m itid a e s s a h ip ó te s e , o p ro b le m a do co- d ife re n te d o q u e s ã o , d e re p re s e n tá -Ia s c o m o s e tra n s c o r-


n h e c im e n to c o lo c a -s e e m n o v o s te rm o s . re s s e m num a o rd e m d is tin ta d a q u e la n a q u a l s e p ro d u z i-
I ~ai) A té o p re s e n te , q u a s d o u trin a s apenas h a v ia m se de- ra m . D ia n te d e la s , n a d a n o s p re n d e , e n q u a n to c o n s id e ra -
I ~ \J , !ro ~ o . P a ra u n s , ~ s c a te g o ria s n ã < 2 .]!.o d e m s e r d e riv a d a s ç õ e s d e u m o u tro g ê n e ro n ã o in te rv ie re m . E is ,~ p 'o rta n tõ -L )
1 -J
GoA~ . tyJ- s Ia e x p e riê n c ia : s ,ã c L lQ g ic a m e n te a n te rio re s a e la e a eoU::...
r ,é c io n a m .:j S ã o re p re s e n ta d a s com o dados s im p le s , irre d l.J -
d o is tip o s d e c o n h e c im e n to s q u e s e e n c o n tra m c o m o q u e
n O s d o is ô lo s c o n trã rIO s ã ã lm e T íg ê n c ia . N e s s a s c o n d íç õ e s .,
(f. tív e is , im a ~ e lL ª,º-e ~ I.2 T ritQ .J llim à n o
c o n s titu iç ã o
e m v irtu d e
n a tu ra l. P o r is s o s e d iz d e s s ã S c ã te g Q rl.a .S J 1 u e .
de sua
r~
jQ r ~ -"
t: m e te r a ra z ã o a e x p e riê n c ia é a z ê -la d e s a p a re c e r, p o is

:) ,,/( l
a ~ . é re d u z ir a u n iv e rs a lid a d e e a n e c e s s id a d e q u e a c a ra c te ri-
§as s ã o FEDCBA
ª - 1 2 r i o 1 ; i . p a ra o u tro s , a o c o n trá rio , e la s s e ria m

rt
'/. " .~ z a m a s e re m a p e n a s ~ a s a p a r~ ~ ilu s õ e s q u e , n a P li- .
c o n s tru íd a s , fe ita s de peças e pedaços, e o in d iv íd u o '
PC) or«<0fJ tic a , p o d e m s e r c õ m o a s , m a s q u e a n a a a c o rre s p o n d e m \
q u e s e ria o o p e rá rio d e s s a c o n s tru ç ã o » . } '\ r JU ,Ü fo ~ a s c o is a s ;)c o n s e q ü e n te m e n te ,\é re c u s a r to d a re a lid a d e '
..

M a s a m b a s a s s o lu ç õ e s le v a n ta m g ra v e s d ific u ld a d e s . ,o '
6 1 íl~ p b je tiv a ~ id a ló g ic a u e a s c a te g o riã s fê m p o r fu n ç ã o re - }
'1
A d o ta re m o s a te s e e m p iris ta ? E n tã o , c u m p re re tira r 1 .;:0 / v \ .g..ul e r e =0 rg 9 J llz a r. 9 e m p iris m c aSS1 o n d u z a o irra c io -
d a s c a te g o ria s to d a s a s s u a s p ro p rie d a d e s c a ra c te rís tic a s . '~.
(,./V t'ía lis m o ; ta lv e z a té s e ja p o r e s s e ú ltim o n o m e q u e c o n v e -
C o m e fe ito , e la s s e d is tin g u e m d e to d o s o s o u tro s c o n h e - J \ n h a d e s ig n á -lo .
c im e n to s p o r s u a u n iv e rs a lid a d e e s u a n e c e s s id a d e . E la s O s a p rio ris ta s , apesar d o s e n tid o o rd in a ria m e n te as-
s ã o o s c o n c e ito s m a is g e ra is q u e e x is te m , já q u e s e a p li- s o c ia d o à s d e n o m in a ç õ e s , s ã o m a is re s p e ito s o s c o m o s fa -
c a m a to d o o re a l e , m e s m o n ã o e s ta n d o lig a d a s a a lg u m to s . J á q u e n ã o a d m ite m c o m o v e rd a d e e v id e n te que as
o b je to p a rtic u la r, s ã o in d e p e n d e n te s d e to d o s u je ito in d i- c a te g o ria s s ã o fe ita s d o s m e s m o s e le m e n to s que nossas
v id u a l: s ã o o lu g a r-c o m u m e m q u e s e e n c o n tra m to d o s o s re p re s e n ta ç õ e s s e n s ív e is , e le s n ã o s ã o o b rig a d o s a em po-
e S I? írito s . !'1 a is : e s t~ s ~ e e n c o n t~ a m n e ~ e s s a ria ~ e n te a í~ 'li:. b re c ê -Ia s s is te m a tic a m e n te , a e s v a z iá -Ia s d e to d o c o n te ú -
p O IS a ra z a o , q u e n a o e o u tra c o is a s e n a o o c o n ju n to das '<.: ,") d o re a l, a re d u z i-Ia s a ser apenas a rtifíc io s v e rb a is . Ao
c a te g o ria s fu n d a m e n ta is , é in v e s tid a d e u m a a u to rid a d e ã .~ c o n trá rio , c o n s e rv a m to d a s a s c a ra c te rís tic a s e s p e c ífic a s
qual não podem os n o s fu rta r à v o n ta d e . Q uando te n ta - I d e la s . O s a p rio n s a s s a o ra C lO n a 1 Sa s ; rê e m ue o m un-
m o s in s u rg ir-n o s c o n tra e la , lib e rta r-n o s d e a lg u m a s des- I d o te m .J !D 1 ~ p e c to ló g L c n ....q u ea ra z a o e x p n m e e m in e n te -
sas noções e s s e n c ia is , d e p a ra m o -n o s c o m fo rte s re s is tê n -

I:,
, m e n te . M a s , p a ra is s o , p ~ s a m a trib u ir a o e s p írito um
\ c ia s . P o rta n to , e la s n ã o a p e n a s não dependem d e n ó s, c o -\ , c e rto poder d e u ltra p a s s a r a e x p e riê n c ia ).. d e a c re s c e n ta r
\m o t~ ~ b é m se 1IDpõém a -riQ i ofã;' o s d a d o s e m p íriC õ s ~ g u e lh e é 2 m e d ia ta m e n te d a d o ; o ra , d e s s e p o d e r
a p re s e n ta m c a ra c te rís tic a s d ia m e tra lm e n te o p o s ta s . Uma s in g u la r, e le s n ã o d ã o e x p lic a ç ã o n e m ju s tific a ç ã o . P o is
sensação, u m a im a g e m s e re la c io n a m s e m p re a u m o b je to n ã o é e x p lic a r d iz e r a p e n a s que esse poder é in e re n te à
d e te rm in a d o o u a u m a c o le ç ã o d e o b je to s d e s s e g ê n e ro e n a tu re z a d a in te lig ê n c ia hum ana. S e ria p re c is o fa z e r e n -
e x p rim e m o e s ta d o m o m e n tâ n e o d e u m a c o n s c iê n c ia p a r- te n d e r d e o n d e tira m o s e s s a s u rp re e n d e n te p re rro g a tiv a e
tic u la r: e la s s ã o e s s e n c ia lm e n te in d iv id u a is e s u b je tiv a s . d e q u e m a n e ira podem os v e r, n a s c o is a s , re la ç õ e s que o
A s s im , p o d e m o s d is p o r, c o m re la tiv a lib e rd a d e , d a s re p re - e s p e tá c u lo d a s c o is a s n ã o p o d e ria n o s re v e la r. D iz e r q u e
s e n ta ç õ e s q u e tê m e s s a o rig e m . É c la ro que, quando nos- a p ró p ria e x p e riê n c ia s ó é p o s s ív e l c o m e s s a c o n d iç ã o , é
sas sensações s ã o a tu a is , e la s s e im p õ e m a nós V ie fa to . ta lv e z d e s lo c a r o p ro b le m a , n ã o é re s o lv ê -lo . P o is s e tra ta
M as, d e d ir e ito , te m o s o p o d e r d e c o n c e b ê -Ia s d e m a n e ira p re c is a m e n te d e s a b e r p o r q u e a e x p e riê n c ia não se bas-
X X II AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA REllGIOSA OBJETO DA PESQUISA

ta , m a s s u p õ e c o n d iç õ e s que lh e s ã o e x te rio re s e a n te riO -) ,,)c ~


re s, e de que m a n e ira essas c o n d iç õ e s são re a liz a d a s 'fl')'
quando e com o convém . ~ re sp o n d e r a e s s a s g u e s tõ ~ ~ ,;P
~ g in o u -s e às vezes, p o r~ _ d a s ~es i! :ld iv i9 u a is ,,,,.~ 1
u m a ra z ã o s u p e rio r e p e rfe ita d a q u a l a s p rim e ira s e m a n a ,~ ~ )
ria m e n a q u a l c o n s e rv a ria m , por um a e s p é c ie d e p a rtic i- \ C J!~ ,1'<1_
pação m ís tic a , s u a m a ra v ilh o s ã fã C u IC Iã a e :ê a ra z a o ã lv i- .Vv
na. M as essa h ip ó te s e te m , n o m ín ím o , (} gwe in c o n v e - ~
ru e n te de s u b tra ir-s e a to d o c o n tro le e x p e rim e n ta l; não \\;'1 \
s a tis fa z p o rta n to à s c o n d iç õ e s re q u e rid a s d e u m a h ip ó te s e '\
c ie n tífic a . A lé m d is s o , a s c a te g o ria s d o p e n s a m e n to h u m a -,
n o ja m a is s ã o fix a d a s de um a fo rm a d e fin id a ; e la s s e fa -·
z e m , se d e sfa z e m , se re fa z e m p e rm a n e n te m e n te ; m u d a m -l(
c o n fo rm e o s lu a re s e a s é P o c a s~ z à o ~ v in a , ao con- I

trá rio é im u tá v e l. D e q u e m o d o S s a lm u tâ lh d a d e o a d e ::
~ p lic a r e s s a ín c e s s a n te v a ria b ilid a d e ?
T a is s ã o as duas concepções que h á s é c u lo s se cho-
cam um a c o n tra a o u tra ; e , s e o d e b a te s e e te rn iz a , é que
n a v e rd a d e o s a rg u m e n to s tro c a d o s s e e q u iv a le m s e n s i-
v e lm e n te . S e a ra z ã o é apenas um a fo rm a d a e x p e riê n c ia
in d iv id u a l, n ã o e x is te m a is ra z ã o . P o r o u tro la d o , s e re c o -
nhecem os o s p o d e re s que e la s e a trib u i, m as sem ju s tifi-
c á -Ia s, p a re c e q u e a c o lo c a m o s fo ra d a n a tu re z a e d a c iê n -
c ia . E m p re s e n ç a dessas o b je ç õ e s o p o s ta s , o e s p írito p e r)
;m a n e c e in c e rto . M a s , s e a d m itirm o s a o rig e m s o c ia l das
c a te g o ria s , um a nova a titu d e to rn a -s e p o s s ív e l, a titu d e
,( q u e p e rm !t~ ria , a c re d ita m o s nós, escapar a e s s a s d ific u ld a - Á .

'l d e s c o n tra n a s . I· b lo
A y r .o p o ~ S ã o f Y .n 9 ~ m e n ta l ~ ~ ~ o é ue o co . ~J\f'J\
n h e c ím e n to é fo rm a d o d ~ _ d ~ p é c ie s d ~ ~ le m e n to s i~ ~ \~
re d u tív e is um a o o u ! r ~ e .- S 0 m o g ~ d~ duas cam adas d iS -~ ~ ,
t i n t a s _ e_ _suy < : : : p o st a s 1 ,6 . N ossa h ip ó te s e rr:a n té r:: ~W~ 1 ~,
~ n te e s s e p rin c íp io . D e fa to , o s c o n h e c im e n to s q u e d ia - \\\ ~
m a m os e m p íric o S ;õ s ú n ic o s que o s te ó ric o s do e m p iris - \
m o u tiliz a ra m p a ra c o n s tru ir a ra z ã o , são a q u e le s que a
ação d ire ta d o s o b je to s s u s c ita em nossos e s p írito s . São,
p o rta n to , e~dós in d iv id u a is , q u e s e e x p lic a m in te ira m e n -
">

(1)
X X IV AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 08JETO DA PESQUISA :x x v

d a d e d e n o ssa n a tu re z a , te m p o r c o n se q ü ê n c ia , n a o rd e m BA m e sm o e m n o sso fo ro in te rio r, lib e rta r-n o s d e ssa s n o ç õ e s


, ~ \I\ p rá tic a , a irre d u tib ilid a d e d o id e a l m o ra l a o m ó b il u tilitá - fu n d a m e n ta is, se n tim o s q u e n ã o so m o s c o m p le ta m e n te li-
~~ rio , e , n a o rd e m d o p e n sa m e n to , a irre d u tib ilid a d e d a ra - v re s, q u e a lg o re siste a n O s;â e n :trO e fo ra d e -n ó s. F o ra d e
Jv \\~ zão à e X p e riê n c i.a...in ~ iv .id u a l.:J:iv n e ºiºa ~que p a rtic i P 3 .. "n Q s, h á a o p in iã o q u e n o s j~ ; m a s, a lé m d isso , ~
\1 \' < ;taso c le ~ ~ e ,,_ Q ..llljly tc l!d O n ~ tllJ:à ,!1 n e n te u ltra p a ssa a st.... S O :a .e .d a d e é ta m ~ J;tr~ se ºta d a e m n ó s, e la se o p õ e
m e S lllQ .,.:se .)a .q u ~ ))d op en sa.jseja q u a n d o a g e ._ ' 'd e sd e d e n tro d e n ó s a e ssa s v e le id a d e s re v o lu c io n á ria s;
E sse m e sm o c a rá te r so c ia l p e rm ite c o m p re e n d e r de t~ m o s a im p re ssi'õ "" d e n ã o · p o d e rm o s n o s e n tre g a r a -e la s
o n d e v e m a n e c e ssid a d e d a s c a te g o ria s. D iz -se d e u m a se m q u e -n o sso p e n sa m e n to d e ix e d e se r u m p e n sa m e n to
id é ia q u e e la é n e c e ssá ria q u a n d o , p o r u m a e sp é c ie d e v ~ rd a d e ira m e n te h u m a n o . T a l p a re c e se r a o rig e m - c iã ã u -
v irtu d e in te rn a , im p õ e -se a o e sp írito se m se r a c o m p a n h a - to rid a d e m u ito e sp e c ia l in e re n te à ra z ã o e q u e n o s fa z
d a d e n e n h u m a p ro v a . H á , p o rta n to , n e la , a lg o q u e o b ri- a c e ita r c o m c o n fia n ç a su a s su g e stõ e s. É a a u to rid a d e d a
g a a in te lig ê n c ia , q u e c o n q u ista a a d e sã o , se m e x a m e p ré - so c ie d a d e m esm aiv , c o m u n ic a n d o -se a c e rta s m a n e ira s d e
v io . E ssa e fic á c ia sin g u la r, o a p rio rism o a p o stu la , m a s p e n sa r q u e sã o c o m o a s c o n d iç õ e s in d isp e n sá v e is d e to d a
se m se d a r c o n ta d íssô .rp o ís d iz e r q u e a s c a te g o ria s sã o a ç ã o c o m u m . A n e c e ssid a d e c O JO q u e a s c a te g o ria s ~
n e c e ssá ria s p o r se re m in d isp e n sá v e is a Õ 1 'ü i1 c íõ n a Ií1 e íí:tõ ~. n Q s n ã o é , Q o rta n to , o , e fe ito d e sim p le s h á b ito s
a o p e n sa m e n to , é sim p le sm e n te re p e tir q u e sã o n e c e ssá - d e c u jo d o m ín io p o d e ría m o s n o s d e sv e n c ilh a n c o m u m .
ria s. M a s se e la s tê m a o rig e m q u e lh e s a trib u ím o s, n ã o h á p o u c o d e esfo rço ;' n ã o -é ta m b ê m -u m a n e c e ssid a d e físic a
n a d a m a is q u e su rp re e n d a e m su a a u to rid a d e . C o m e fe i- ~ u m e ta físic a , já q u e a S '· c .a -t@ .g Q fia ~ ,€
s l.a tn -G G 1 :J ,k H :'ffie :.!
to , e la s e x p rim e m a s re la ~ e s m a is g ~ ~ Q l!..e e ~ ta g a F € S -< L a s-é p o c a s: é ~ sp é C 1 e p a rtic u la r d e n e ~
ire a s c o isa s; u ltra p a ssa n o e m e x te n sã o to d a s a s n o ssa s ja c te m o ra l q u e e stá p a ra a v íé Iã in { e -le c fu ã l a ssim c o m o a _
õU trãs n õ ç õ e s, d o m in a m to d o d e ta lh e d e n o ssa v id a in te - o b rig a ç ã o m o ra l e stá p a ra a v o n tad e-v .
le c tu a l. S e , p o rta n to , a c a d a m o m e n to d o te m p o , o s h o -
m e n s n ã o se e n te n d e sse m a c e rc a d e ssa s id é ia s e sse n c ia is, ,{ ) { M a s, se a s c a te g o ria s n ã o tra d u z e m o rig in a lm e n te se -
se n ã o tiv e sse m u m a c o n c e p ç ã o hom ogênea d o te m p o , \, N V < "n ã o e sta d o s so c ia is, n ã o se se g u e d a í q u e e la s só p o d e m '
d o e sp a ç o , d a c a u sa , d o n ú m e ro , e tc ., to d a c o n c o rd â n c ia . \W ~ a p lic a r-se a o re sto d a n a tu re z a a títu lo d e m e tá fo ra s? S e
~~ - --
se to rn a ria im p o ssív e l e n tre a s in te lig ê n c ia s e , p o r c o n se -
- ~I ~ l' e la s sã o fe ita s u n ic a m e n te p a ra e x p rim ir c o isa s so c ia is,
g u in te , to d a v id a e m c o m u m . A ssim , U Q fie d a d e não po: ~(~ '(1'C· p a re c e q u e n ã o p o d e ria m se r e ste n d id a s a o s o u tro s re in o s
de abandonar as ca~ao liv re a rb ítrio d o s p a rtic u la - 0 1 ,,r.:I \ a n ã o se r p o r c o n v e n ç ã o . A ssim , n a m e d id a e m q u e n o s
'fe S S e iT IS ê a 5 ã O d O n a r e la p ~ ra p o d e r v iv ~ e la O ~I ~ se rv e m p a ra p e n sa r o m u n d o físic o o u b io ló g ic o , só p o -
não n e c e ssita a p e n a s d e u m su fic ie n te c o n fo rm ism o m o - ti ~ d e ria m te r o v a lo r d e sím b o lo s a rtific ia is, ta lv e z ú te is n a
ra l: h á u m m ín im o d e c o n fo rm ism o ló g ic o se m o q u a l e la O \~ç /p rá tic a , m a s se m re la ç ã o c o m a re a lid a d e . P o rta n to re ,to r-
ta m b é m n ã o p o d e p a ssa r. P o r e ssa ra z ã o , e la p e sa c o m 1,#1\ n a ría m o s,p o r o u tra v ia , a o n o m in a lism o e a o e m p irism o . !

to d a a su a a u to rid a d e so b re se u s m e m b ro s a fim d e p re - M a s in te rp re ta r d e ssa m a n e ira u m a te o ria so c io ló g ic a '


v e n ir a s d issid ê n c ia s. S e u m e sp írito in frin g e o ste n siv a - f d o c o n h e c im e n to é e sq u e c e r q u e , se a '5 o c ie d a d g é um a
m e n te e ssa s n o rm a s d o p e n sa m e n to , e la n ã o o c o risid e ra I re a lid a d e e sp e c ífic a , e Ja ~ o ré m , ~ m p é rio d e n tro
m a is u m e sp írito h u m a n o n o se n tid o p le n o d a p a la v ra , e ô e u m im p ê riQ : < ia fa z 'Q a rte _ . n a tu re z a , é su a 11laniL eslª-=.
tra ta -o e m c o n fo rm id a d e . P o r isso , quando te n ta m o s, cão m a is e le v a d a . D re in o S Q c ttl é u m re in o n a tu ra l q u e
-oJIHGFEDCBA
j/t/l, {o
I': ti ~ () ,I v

;/,1\ ,'j 'A 'Ó G'I' 1 ,- ; " ,,; ' ,," - - v"AJ" ~O c c -
'7 f\/"?J>()Yl f I ·v Y .tf
XXVI AS FO RM AS ELEM EN TARES D A V ID A R E L IG IO S A O B JE TO D A P E S Q U IS A X X V II

n ã Q .9 if e r e dos~ ~ , ~ !lã o ser por sua m a io r c o m p le x i- e m p iris m o não p o d e ria m v e n c e r. P o is e la s a p a re c e m , en-


dade, O ra , é im p o s s ív e l que a n a tu re z a , no que te m de tã o , não m a is com o noções m u ito s im p le s que q u a lq u e r
m a is e s s e n c ia l, s e ja ra d ic a lm e n te d ife re n te de si m esm a um é capaz d e e x tra ir d e s u a s o b se rv a ç õ e s p e s s o a is e que
aqui e a l i , A § . . . L c l a ç º - . e sÜ m d a m e n t a i s que e x is te m e n tre as a -im a g in a ç ã o p o p u la r d e s a s tra d a m e n te te ria c o m p lic a d o ,
. c . f ? : i s . < -i S j. u s t a t n e n t e a q u e la s que a s c a te g o ria s te m p o r. m as, ao c o n trá rio , com o h á b e is in s tru m e n to s de pensa-
fu n ç ã o e x p rim ir - n ã 9 p 0 d e r ia m ;- I 2 0 r ta n to ,_ s % . . , e s ? , e n c i '! : . L m e n to , que o s g ru p o s hum anos la b o rio s a m e n te fo rja ra m
m e~~& ~m lh a n te s c ;;& ,r o ffe in ()s ~ S e , p o r ra z õ e s ao lo n g o dos s é c u lo s e ,n o s q u a is a c u m u la ra m o m e lh o r
q u e te re m o s e in v e s tig a 2 , e la s s o b re s s a e m d e fo rm a de seu c a p ita l i n t e l e c t u a '! : 9 L 0 d a um a p a rt~ d a h is tó ria da
m a is e v id e n te - , "m undo s o c ia l, é im p o s s ív e l que não se, h u m a n id a Q .~ n e la s 1 i e_ _e n . c Q n t r a S Q m o q ~ e s u m f d a , - V f l l e -
e n c o n tre m a lh re s, a in d a que sob fo rm a s m a is e n c o b e r- d iz e r q u e , p a ra chegar a c o m p re e n d ê -Ia s e ju lg á -Ia s , cum -
t a s , A s o c i 'e d a d e a s to rn a m a is m a n ife s ta s , m as e la não p re re c o rre r a o u tro s p ro c e d im e n to s que não a q u e le s u ti-
te m esse p riv ilé g io . E is a í c o m o noções que fo ra m e la b o - liz a d o s a té o p re s e n te . P ~ ~ a b e r - d e ...q u e - s ã o _ f e ita s essas
ra d a s com base no m o d e lo das c o is a s s o c ia is podem a ju - c o n c e 1 2 .ç õ e s g u e não fo ra m c ria d a s por nós m esm os, não
d a r-n o s a pensar c o is a s d e o u tra n a tu re z a , se essas noções, p o d e ria s e r s u fic ie n te in te rro g a r 'n o s s a c o n s c iê n c ia : é p a ra
quando a s s im d e s v ia d a s de sua s ig n ific a ç ã o p rim e ira , de- fo ra d e n ó s que devem os o lh a r, é a h is tó ria que devem os
sem penham num c e rto s e n tid o o papel de s ím b o lo s , são o b se rv a r, é to d a um a c iê n c ia que é p re c is o in s titu ir, c iê n -
S ím b o lo s b e m -fu n d a d o s, S e , p e lo s im p le s fa to de se re m c ia c o m p le x a , que só pode avançar le n ta m e n te , por um
c o n c e ito s c o n s tru íd o s , há aí um a rtifíc io , ~ u m .a r tif íc io tra b a lh o c o le tiv o ,' e p a r a a qual a p re s e n te o b ra tra z , a tí-
que segue d e p e rto a n a tu ~ a ~ g M ~ S J 9 J : l ip ~ r a p ro - tu lo de e n s a io , a lg u m a s c o n trib u iç õ e s fra g m e n tá ria s , Sem
\x im a r-s e d e la c a d a v e z m a ~ o rta n to , C i oI>'tãt~ a s id é ig s fa z e r dessas q u e s tõ e s o o b je to d ire to de nosso e s tu d o ,
d e te m p o ,
d a d e se re m
de espaço,
c o n s tru í d a s 2 0 m
< !e g ê n e ro , de causa,
e I e m e 'i i t O s s õ c i a i s ,
1e p e r ~ o .n ~ li-
não se de-
a p ro v e ita re m o s
em seu n a s c im e n to
to d a o c a s iã o
p e lo m enos
que se o fe re c e r
a lg u m a s dessas
p a ra c a p ta r
noções, I
1
~ n c lu ir 9 lfe s e ja m d e s p ro v id a s d e to d o v a lo r o b je tiv ~ , a s q u a is , e m b o ra re lig io s a s por suas o rig e n s , h a v e ria m de
P e lá c o n trá rio , ~ Q tig ~ s o c ia l fa z a n t su or ue te : p e rm a n e c e r na base d a m e n ta lid a d e hum ana,
" ,,\1 \ npam fu n d a m e n to n a n a tu re z a d a s c o is a s 3 ~ ~i'N~ W \r'

~It' A s s im re n o v a â a , a te o ria do c o n h e c im e n to p a re c e
I ~rt",\ ~ 'd e s t i n a d a a re u n ir a s v a n ta g e n s c o n trá ria s das duas te o ria s
G~ riv a is , sem seus in c o n v e n ie n te s , E la c o n s e rv a to d o s os
\Iil~\~ p rin c íp io s e s s e n c ia is do a p rio ris m o ; m as, ao m esm o te m -
'~ '\ ~ po, in s p ira -s e nesse e s p írito de p o s itiv id a d e que o e m p i-
ris m o p ro c u ra v a s a tis fa z e r. C o n se rv a o poder e s p e c ífic o
d a ra z ã o , m a s ju s tific a -o , e sem s a ir d o m u n d o o b s e rv á v e l.
A firm a com o re a l a d u a lid a d e de nossa v id a in te le c tu a l,
m as e x p lic a -a , e m e d ia n te causas n a tu ra is . A s c a te g o ria s
d c iX ã m ç ie s e r C O O s rd e ra d a s fa to s p rim e iro s ' e não a n a lis á -
v e is , n o e n ta n to , p e rm a n e c e m d e u m a ' c o m p le x id a d e que
a n á lis e s s im p lís ta s c o m o a q u e la s com que s e c o n te n ta v a o
(:/\ P 1 T U L O I .

DEFINIÇÃO DO FENÔMENO RELIGIOSO


r'; DA RELIGIÃO!

P a ra saber qual a re lig iã o m a is p rim itiv a e m a is s im -


p le s que a o b se rv a ç ã o nos p e rm ite c o n h e c e r, é p re c is o
p rim e iro d e fin ir o que convém e n te n d e r por re lig iã o , caso
c o n trá rio c o rre ría m o s o ris c o de cham ar de re lig iã o um
s is te m a de id é ia s e de p rá tic a s que nada te ria de re lig io s o ,

)ll d e d e ix a r de la d o fa to s re lig io s o s sem p e rc e b e r sua


v e rd a d e ira n a tu re z a . O que m o s tra bem que o p e rig o na-
Ia te m de im a g in á rio e que de m odo nenhum se tra ta de
li m v ã o fo rrn a lís m o m e to d o ló g ic o é que, por não haver

to rn a d o essa p re c a u ç ã o , um e s tu d io s o , a quem não obs- 1<"":"


tn n t e a c i ê n c i a c o m p a ra d a das re lig iõ e s deve m u ito , o sr. ,(N)Y-"~fJ'
l 'r a z e r , não soube& econhecer o c a rá te r p ro fu n d a m e n t< ; jtl(lrl
re lig io s o das c re n ç a s e d Q s ....r i.to ue se rã o e s tu d a d o s m a is

tld la n te ê que, p a ra nós, c o n s titu e m o _ e rm e in ic ia l d a vi

Ia re lig io s a da hum a 'd a d . H á a í, o rta n to , um a q u e s tã o

que P~<:.~~ ..- º - J 1 ! ! g ª - m e n to _ e q ~ e deve s e r tra ta d a a n te s de)


llJ a l~ u tra ! N ão que possam os pensar em a tin g ir des-
I<.; já a s c a ra c te rís tic a s p ro fu n d a s e v e rd a d e ira m e n te e x p li-

çnl i v a s d a r e l i g i ã o : e l a s s ó p o d e m s e r d e te rm in a d a s ao tér-
m ln o da p e s q u is a . M as o que é n e c e s s á rio e p o s s ív e l é in -
,1 1 ( " ;1 r u m c e rto n ú m e ro de s in a is e x te rio re s , fa c ilm e n te
4 AS FORMAS ELEMENTARES DA WDA REliGIOSA )UESTÕES PRELIMINARES
5

p e rc e p tív e is , q u e p e rm ite m re c o n h e c e r o s fe n ô m e n o s re - fa lta p a ra q u e a m e lh o r fo rm a d e e s tu d a r a re lig iã o s e ja


mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
lig io s o s o n d e q u e r que s e e n c o n tre m , e que im p e d e m n s id e rá -la d e p re fe rê n c ia sob a fo rm a que a p re s e n ta
q u e o s c o n fu n d a m o s c o m o u tro s . É a e s s a o p e ra ç ã o p re li- n o s p o v o s m a is c iv iliz a d o s a ,
m in a r q u e ire m o s p ro c e d e r. M a s , p a ra a ju d a r o e s p írito a lib e rta r-s e dessas con-
M a s p a ra q u e e la d ê o s re s u lta d o s e s p e ra d o s , deve- 'c p ç õ e s u s u a is q u e , p o r s e u p re s tíg io , podem im p e d i-Io
m os com eçar p o r lib e rta r n o s s o e s p írito d e to d a id é ia p re - le v e r a s c o is a s ta is c o m o s ã o , c o n v é m , a n te s d e a b o rd a r
c o n c e b id a . O s hom ens fo ra m o b rig a d o s a c ria r p a ra si I q u e s tã o por nossa c o n ta , e x a m in a r a lg u m a s d a s d e fin i-
um a noção d o q u e é a re lig iã o , bem a n te s q u e a c iê n c ia s m a is c o rre n te s n a s q u a is e s s e s p re c o n c e ito s v ie ra m
d a s re lig iõ e s pudesse in s titu ir s u a s c o m p a ra ç õ e s m e tó d i- x p rim ir.
c a s . A s n e c e s s id a d e s d a e x is tê n c ia n o s o b rig a m a to d o s ,
c re n te s e in c ré d u lo s , a re p re s e n ta r d e a lg u m a m a n e ira as
c o is a s n o m e io d a s q u a is v iv e m o s , s o b re a s q u a is a to d o
m o m e n to e m itim o s ju íz o s e q u e p re c is a m o s le v a r e m c o n -
ta e m n o s s a c o n d u ta : M as com o e s s a s p ré -n o ç õ e s s e fo r- U m a n o ç ã o tid a g e ra l~ n t. o rn o c a ra c te rís tic a de
m a ra m s e m m é to d o , segundo o s a c a s o s e a s c irc u n s tâ n c ia s tudo o q u e é re lig io s o é a d e -.S D b ..rg ru ltu ra .E n te n d e -s e por
d a v id a , e la s n ã o tê m d ire ito a c ré d ito e devem s e r m a n ti- s s o to d a o rd e m d e c o is a s que u ltra p a s s a o a lc a n c e de
d a s rig o ro s a m e n te à d is tâ n c ia do exam e q u e ire m o s ' e m - n o s s o e n te n d im e n to ; o s o b re n a tu ra l é o m undo d o m ís té -
p re e n d e r. N ão é a nossos p re c o n c e ito s , a nossas p a ix õ e s , rio , d o in c o g n o s c ív e l, d O -iric o m p re e n ~ ív e i. A re lig iã o se-
a nossos h á b ito s que devem s e r s o lic ita d o s o s e le m e n to s rln , p o rta n to , u m a e s p & ie d e e s p e c u la ç ã o s o b re tu d o o
d a d e fin iç ã o q u e n e c e s s ita m o s ; é a re a lid a d e m esm a que rue escapa à c iê n c ia e , d e m a n e ira m a is g e ra l, a o p e n s a -
s e tra ta d e d e fin ir. m e n to c la ro . " A s re lig iõ e s , d iz IL S Q e n c e i) d ia m e tra lm e n te
~ ~ m o -n o s , p o is 7 -d iª-n te = d e s s a ~ a lid a d e . D e i- ta s p o r s e u s d o g m a s , c o n c o rd a m e m re c o n h e c e r ta c i-
x a n d o d e la d o io d a c o n c e p ç ã o d a re lig iã o e m g e ra l, c o n - tnmente q u e o m u n d o , c o m tu d o q u e c o n té m e tu d o que
s id e re rn o s a s re 'y 'g iõ e s e m s u a r~ a lid a d e c o n c re ta e p ro c u - () c c rc a ,~ -d P is té rio qye pede u m a e x p lic a ç ã o " ; p o rta n -
re m o s d e s ta c a ~ u e e la s p o a e m ~ r _ e m c .9 m u rril p o is a 1 0 , e le a s fa z c o n S IS tir e s s e n c ia lm e n te n a " c re n ç a n a o n i-
re lig iã o s ó p o d e s e r d e fin id a e m fu n ç ã o d a s c a ra c te rís tic a s p l· c s e n ~ d ~ .E g u m a c o iS a q u e v a i a lé m d a in te lig ê n c ia " 3 .
que s e e n c o n tra m p o r to d a p a rte onde houver re lig iã o . I)C:) m e s m o m o d õ :-M a x M ü lle r ~ to d a re lig iã o " u m
In tro d u z ire m o s p o rta n to n e s s a c o m p a ra ç ã o to d e s o s s is te - •.s fo rç o p a ra conceber o in c o n c e b ív e l, p a ra e x p rim ir o
m a s re lig io s o s que podem os c o n h e c e r, o s d o p re s e n te e ücxprimível, u m a a s p ira ç ã o a o in fín íto '< ,
os do passado, o s m a is s im p le s e p rim itiv o s a s s im com o É c e rto q u e o s e n tim e n to d o m is té rio n ã o d e ix o u de
o s m a is re c e n te s e re fin a d o s , p o is n ã o te m o s nenhum d i- Ilu /lc m p e n h a r um papel im p o rta n te em c e rta s re lig iõ e s ,
re ito e nenhum m e io ló g ic o d e e x c lu ir u n s p a ra s ó re te r p c c ia lm e n te n o c ris tia n is m o . M a s é p re c is o a c re s c e n ta r
o s o u tro s . P a ra a q u e le q u e v ê n a re lig iã o u m a m a n ife s ta - 11I<.! a im p o rtâ n c ia desse papel v a rio u s in g u la rm e n te nos
ç ã o n a tu ra l d a a tiv id a d e hum ana, to d a s a s re lig iõ e s são d ll'e re n te s m o m e n to s d a h is tó ria c ris tã . H á p e río d o s em
in s tru tiv a s , sem exceção, p o is to d a s e x p rim e m o hom em fllI\.! essa noção passa ao segundo p la n o e s e a p a g a . P a ra
à s u a m a n e ira e podem a s s im a ju d a r a c o m p re e n d e r m e- hom ens
I).~ d o s é c u lo X V II, p o r e x e m p lo , o dogm a nada
lh o r e s s e a s p e c to d e n o s s a n a tu re z a . A liá s , v im o s o q u a n - 111111:1 d e p e rtu rb a d o r p a ra a ra z ã o ; a fé c o n c ilia v a -s e sem
AS FORMAS ELEMENTARES DA VTDA RELIGIOSAxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
QUESTÕES PRELIMINARES 7

H flculdade com a ciência e a filosofia, e pensadores co- Ios m esm os procedim entos; m as, para aquele que crê ne-
1110 Pascal, que sentiam com intensidade o que há de pro- las, não são m ais ininteligíveis do que o são a gravidade
fundam ente obscuro nas coisas, estavam em tão pouca u a eletricidade para o físico de hoje. V erem os aliás, ao
harm onia com sua época que perm aneceram incom preen- longo <!ç:.sK l-Q hl:a,_q~ª-o de forç-ª5~nat1J.fais...derivou
dídos por seus contem porâneos>. Portanto, poderia ser uito provavel~nte da ..noçãc.de-forças •.r eligiosas.zassím ,
precipitado fazer, de um a idéia sujeita a tais eclipses, o não poderia haver entre estas e aquelas o abism o que se-
lem ento essencial ainda que apenas da religião cristã. para o racional do irracional. M esm o o fato de as forças
Em todo caso, o que é certo é que essa noção só religiosas serem geralm ente pensadas sob a form a de en-
aparece m uito tarde na história das religiões; ela é total- tidades espirituais, de vontades conscientes, de m aneira
m ente estranha não som ente aos povos cham ados prim iti- nenhum a é um a prova de sua irracionalidade. À razão
vos, m as tam bém a todos os que não atingiram um certo não repugna a priori adm itir que os corpos ditos inanim a-
grau de cultura intelectual. É verdade que, quando os ve- dos sejam , com o os corpos hum anos, m ovidos por inteli-
m os atribuir a objetos-insigm ficantes .virtu?es extraordi.ná- gências, ainda que a ciência contem porânea dificilm ente
rias, povoar o universo com pnncipros singulares, feitos se acom ode a essa hipótese. Q uando Leibniz propôs con-
dos elem entos m ais díspares, reconhecem os de bom gra- ceber o m undo exterior com o um a im ensa sociedade de
do nessas concepções um ar de m istério. A creditam o~ESiIC espíri~s entre os quais não havia e não podia haver se-
que os hom ens só puderam se resignar a idéias tão per- ' não relações espirituais, ele entendia agir com o racionalis-
turbadoras para nossa razão m oderna por incapacidade ta e não via nesse anim ism o universal nada capaz de
te encontrar outras que fossem m ais racionais. Em reali ofender o entendim ent _.~_- _
dade, porém , essas explicações que nos surpreendem afi- A liás, a idéia de sobrenaturaD tal com o a entende-
uram -se ao prim itivo as m ais sim ples do m undo. Ele não m os, data de O nteTIl:~sue2.e, com efeito, a idéia contrá- ~c.-i()l\lP\\" _

vê nelas um a espécie de ultima ratio a que a ínteíígêncía ria, da qual é a negaçao e gue nada tem de prim itiva,! Para ""I" cP · {f~ ,I

s6 se resigna em desespero de causa, m as sim a m aneira que s~.pud~Q ize'i=C ie cer'tãSfatoL,que J,ão sobreiíãtll- 1> 1-~\::~Ó qil

m ais im ediata de representar e com preender o que obser- rais, era precisof~ ~r Q sentim ento de 9~e .~xiste_1!!D .fl or- SOOIl
va a seu redor. Para ele, não há nada de estranho em po- dem natural das coisas, ou .s~ja, gue os fenôm en
ler-se, com a voz. ou o gesto, com andar os elem entos, ~o estã~ ITgãdos 'entre si,seg!!.!l<:E relações ne~s~-
deter ou precipitar o curso dos astros, provocar a chuva !~l1ai'i'iãctas leis U & v:eudguirido esse p!incíp!o,Jp.-
li pará-Ia, etc. O s ritos que em prega para assegurar a fer- fÕ Õ C iüêTri~essas leis devia necessariarneflte apare-
tJlldade do solo ou a fecundidade das espécies anim ais de cer com o extenor a natureza e, por consegüência, à ra7
iãà: pois 2,.9ue é ,?atural ness~_s_elltLd.Q :iD a~
llíf
ue se alim enta não são, a seus olhos, m ais irracionais do
são, aos nossos, os procedim entos técnicos que os ta.i.§relações necessi!rias não fazendQ ..S..e Flãe-€.x'j!)J.im .1r.
a~l'é'l)om O S utilizam para' a m esm a finalidade. A s potências a m ane.ira J;l.f1L qual as coisas se encadeiam IQ gicam en~.
I~I(,)e le põe em jogo por esses diversos m eios nada lhe M as essa noção ao aeterm inism o universal é de origem
1)[\ rocem ter de especialm ente m isterioso. São forças que recente; m esm o os m aiores pensadores da A ntiguidade
IIFcl'I..!lIl,
certam ente, daquelas que o conhecedor m oder- clássica não chegaram a tom ar plenam ente consciência
110 ('O I1C '(.'bee cujo uso nos ensina; elas têm um a outra dela. É um a conquista das ciências positivas; é o postula-
de com portar-se e não se deixam disciplinar pe-
11lll'IW ll':l do sobre o qual repousam e que elas dem onstraram por
AS FORMAS ELEMENTARES DA VTDA RELIGIOSA )IJIJ~S'7'é)ESPRELIMINARES 9
8

se u s p ro g re sso s. O ra , e n q u a n to e le in e x is tia o u a in d a n ã o
-e m a c o is a m a is c la ra do m undo; é que não p e rc e b e m
lia o b s c u rid a d e re a l; é que. não re c o n h e c e ra m a in d a a
s e e s ta b e le c e ra s o lid a m e n te , o s a c o n te c im e n to s m a is m a ra -
n c c e s s íd a d e d e re c o rre r a o s p ro c e d im e n to s la b o rio s o s das
v ilh o s o s nada p o s s u ía m que não p a re c e sse p e rfe ita m e n te
:lG n c ia s n a tu ra is p a ra d is s ip a r p ro g re s s iv a m e n te e s s a s tre -
c o n c e b ív e l. E n q u a n to n ã o s e s a b ia o q u e a o rd e m d a s c o i-
vas, O m esm o e s ta d o d e e s p írito e n c o n tra -s e n a ra iz d e
s a s te m d e im u tá v e l e d e in fle x ív e l, e n q u a n to n e la s e v ia a -
, ~ m u ita s ê re n ç a s re lig io s a s que nos su rp re e n d e m por seu
o b ra d e v o n ta d e s c o n t i n _e n t e s , d e v i a - s e a c h a r n a tu ra l q u e
s tr n p lís m o . F o i a c iê n c ia , e não a re lig iã o , qge e n s in o u
e s s a s v o n ta e s o u o u tra s udessem m o d ific á -Ia a rb itra ria -
~ te . É .s p o r ..9 .u e a s i n t e r v e n ç õ e s r n ír a c u osas que os an-
nos hom ens que a s c o is a s são c o m p l e x a s _ e _ d i f í .c e i s _ Q ê -
m p re e n a w '
tig o s a trib U la m a s e U s ã e u s e s não e fã ~ se u e n te n d e r,
~ d ê ffiã C 1 a p a la v ra . P a ra e le s , e ra m M a s, re sp o n d e je v o n s s , o e s p írito hum ano não te m
n e c e s s id a d e de um a c u ltu ra p ro p ria m e n te c ie n tífic a p a ra
~ J lo s b e lo ;: s a r o ~ r ~ e i s ,! 3 5 j e r c 5 s d e su rp rê sã e
n o ta r q u e e x is te m e n tre o s fa to s s e q ü ê n c ia s d e te rm in a d a s ,
d e m a r a v i l h a m e n t o / (8aú/+a'ta, mirabilia, miracula); m as
~m n is s o u ~ ~ c ie dêã~o a u rn u n a o rd e m c o n s ta n te de sucessão, e p a ra o b se rv a r, por
u tro la d o , q u e e s s a o rd e m é fre q ü e n te m e n te p e rtu rb a d a ,
m u n d o m is te rio s o g u e a ra z ã o n ã o p o d e p e n e tra r. I .
O dem os c ~ p re e n d e r ta m o m e Ifio r e s s a m e n ta lid a - A c o n te c e que o s o l s e e c lip s e b ru s c a m e n te , que a chuva
fa lte n a é p o c a e m q u e é e sp e ra d a , q u e a lu a d e m o re a re s-
d e n a m e d id a em q u e e la n ã o d e s a p a re c e u c o m p le ta m e n -
s u rg ir a p ó s s e u d e s a p a re c im e n to p e rió d ic o , e t c .C o m o es-
te d o m e io de nós. S e o p rin c íp io d o d e te rm in is m o e s tá
tã o fo ra d o c u rs o o rd in á rio d a s c o is a s , e s s e s a c o n te c im e n -
h o je s o lid a m e n te e s ta b e le c id o n a s c iê n c ia s fís ic a s e n a tu -
to s s ã o a trib u íd o s a causas e x tra o rd in á ria s , e x c e p c io n a is ,
ra is , fa z s o m e n te um s é c u lo que e le c o m e ç o u a in tro d u -
z ir-s e n a s c iê n c ia s s o c ia is , e s u a a u to rid a d e é a in d a con-
o u s e ja , e m sum a, e x tra ria tu ra is . É sob e ssa fo rm a que a
id é ia d e s o b re n a tu ra l te ria n a s c id o desde o in íc io d a h is tó -
te s ta d a . A penas um pequeno n ú m e ro de e s p írito s e s tá
ria , e fo i a s s im q u e , a p a rtir d e s s e m o m e n to , o pensam en-
c o n v e n c id o d a id é ia d e q u e a s s o c ie d a d e s e s tã o s u b m e ti-
to re lig io s o s e v iu m u n id o d e s e u o b je to p ró p rio .
d a s a le is n e c e s s á ria s e c o n s titu e m u m re in o n a tu ra l. D a í a
M as, em p rim e iro lu g a r, o s o b re n a tu ra l não se re d u z
c re n ç a d e q u e n e la s s e ja m p o s s ív e is v e rd a d e iro s .m íla g r e s .
de m odo a lg u m a o i m p r e v i s t Q .. O n o v õ f u ,? p a rte ~
A d m ite -s e , p o r e x e m p lo , 'q u e o l e g i s l a d o r pode c ria r u m a
T e ~ a .,~ ~ m _ c o m G - s e t l - G o n t r á g g ; S e c o n s ta ta m o s que, em
in s titu iç ã o d o n a d a p o r u m a s im p le s in ju n ç ã o de sua von-
g e ra l, o s fe n ô m e n o s se sucedem num a o rd e m d e te rm in a -
ta d e , tra n s fo rm a r u m s is te m a s o c ia l e m o u tro , a s s im com o
lgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
o s c re n te s d e ta n ta s re lig iõ e s a d m ite m q u e a v o n ta d e d iv i-
d a , o b se rv a m o s ig u a lm e n te que essa o rd e m é se m p re
a p ro x im a d a , que não é id ê n tic a duas vezes s e g u id a s , que
n a c rio u o m u n d o do nada ou pode a rb itra ria m e n te tra n s -
c o m p o rta to d o tip o d e e x c e ç õ e s , Por m enor q u e s e ja n o s -
\1 m u ta r o s s e re s u n s n o s o u tro s , N o q u e c o n c e rn e a o s fa to s
I s a e x p e riê n c ia , e s ta m o s h a b itu a d o s à fru s tra ç ã o fre q ü e n te
s o c ia is , te m o s a in d a um a m e n ta lid a d e d e p rim itiv o s , No
de nossas e x p e c ta tiv a s e essas decepções re to m a m m u ito
e n ta n to , s e , e m m a té ria d e s o c io lo g ia , ta n to s c o n te m p o râ -
s e g u id a m e n te p a ra que a s v e ja m o s com o e x tra o rd in á ria s ,
neos a p e g a m -se a in d a a e s s a c o n c e p ç ã o a n tiq u a d a , não é
U m a c e rta c o n tin g ê n c ia é um dado d a e x p e riê n c ia , a s s im
q u e a v id a d a s s o c ie d a d e s lh e s p a re ç a o b sc u ra e m is te rio -
c o m o u m a c e rta u n ifo rm id a d e ; p o rta n to , n ã o h á ra z ã o p a -
s a ; p e lo c o n trá rio , s e s e c o n te n ta m tã o fa c ilm e n te c o m ta is
ra re la c io n a r um a a causas e fo rç a s in te ira m e n te d ife re n -
e x p lic a ç õ e s , s e s e o b s tin a m n e s s a s ilu s õ e s q u e a e x p e riê n -
te s d a q u e la s de que depende a o u tra , A s s im , p a ra q u e te -
c ia d e s m e n te sem c e s s a r, é q u e o s fa to s s o c ia is lh e s p a re -
1 0 JIHGFEDCBA AS FORM AS ELEM ENTARES DA V ID A R E liG IO S A Q U ESTÕ ES P R E L IM IN A R E S 11

.n h a m o s a id é ia d o s o b r e n a tu r a l, n ã o é s u f ic ie n te q u e s e ja - id é ia c o n tr á r ia . P o r is s o , e la s ó o c o r r e num pequeno nú-


, v m o s te s te m u n h a s d e a c o n te c im e n to s in e s p e r a d o s ; é p r e c i- m e r o d e r e lig iõ e s a v a n ç a d a s . N ã o s e p o d e , p o r ta n to , fa z e r
fi
\'; ( } s o , a lé m d is s o , q u e e s te s s e ja m c o n c e b id o s c o m o im p o s s í- d e la a c a r a c te r ís tic a d o s fe n ô m e n o s r e lig io s o s s e m e x c lu ir
II 1\ v e is , is to é , c o m o in c o n c iliá v e is c o m u m a o rd e m q u e , c e r- d a d e f in iç ã o a m a io r ia d o s f a to s a d e f in ir .
ta o u e r r a d a , n o s p a re c e n e c e s s a r ia m e n te im p lic a d a na,
.' n a tu r e z a d a s c o is a s . O r a , e s s a n o ç ã o d e u m a o rd e m ne-

0 V;'fi' c e s s á r ia ,
c ~ u ír ã m ,
fo ra m a s c iê n c ia s
p o r ta n to a noção
p o s itiv a s ~ p o u c o
c o n tr á r ia n ã o p o d e r~ s
aPO uco
~\ Jad t II .

i s e r a n te a o r , , , ,j y1 U m a o u tr a id é ia p e la q u a l s e te n to u com f r e q ü ê n c ia
r=------- A lé m d is s o , s e ja c o m o f o r q u e o s h o m e n s te n h a m se d e f in ir a r e lig iã o é a d a d iv in d a d e . " A r e li~ é -
r e p r e s e n ta d o a s n o v id a d e s e a s c o n tin g ê n c ia s que a expe- v ílle , é a _ Q e .te r m in a ç ã o d a v id a h u m a n a R e ~ U m e n to
\ \ ( ) " r iê n c ia r e v e la , não há nada nessas r e p r e s e n ta ç õ e s que c l.e ..u mv ín c u lÇ l q u e u n e o e s p ír ito h u m a n O a o ~ s p 1 r ito m is -
" Y ;' I, p o s s a s e r v ir p a r a c a r a c te r iz a r a r e lig iã o . P o is a s c o n c e p ç õ e s r § r io s o n o q u a l r e c o n h e c e a d o m in a ç ã o so b re o m u n d o e
_ .) .111 r e lig io s a s tê m p o r o b je to , a c im a d e tu d o , e x p n m ir e expU - so ~ r~ o , é a o q iía l ê le quer s e n tir - s e u n id o :" 9 É
U'\ , (~r c 1 f f , n ã o -o -q u e ir á d e e x c e p c io n a l e a n o r iiI ã Í n a s c o is a s , v e rd a d e que, s e e n te n d e m o s a p a la v r a d iv in d a d e num .

rr' ;(
,n 'Â {

,\A ~
m a s , a o c o n tr á r i~
@ ase
q u e e la s tê m d e c o n s ta n te
s e m I lL e _ , O L d e .u s e s _ s e r - y _ e m m e n o s
m o n s tr u o s id a d e s , e x tr a v a g â n c ia s ,
p a ra
a n o m a lia s ,
e r e g u la r :
e x p lic a r
do que a I
,i (
In')
s e n tid o
q u a n tid a d e
p r e c is o e e s tr ito , a d e f in iç ã o
d e f a to s m a n if e s ta m e n te
d o s m o r to s , o s e s p ír ito s d e to d a e s p é c ie
d e ix a d e f o r a g r a n d e
r e lig io s o s , A s ~~
e d e to d a o r d e m ,
Q j\I '\ 1 m a rc h a h a b itu a l d o u n iv e r s o , d o m o v im e n to d o s a s tr o s , c Õ llL q lle _ a ~ ~ ~ e lig io § a d _ e ta n to s povos d iv e r s o s .
l f,}" A. d o r itm o d a s e s ta ç õ e s , d o c r e s c im e n to anual d a v e g e ta - povoou a n a tu r e z a , sã o se m p re o b je to d e ~ , às vezes,
i (<J ç ã o , d a p e r p e tu id a d e d a s e s p é c ie s , e te . P o r ~ to , a n < ? Ç - ª- º. a té d e u m ru k o r e g u la r ; n o e n ta n to n a o s e tr a ta d e d e u s e s
~ (l d o r e lig io s o e s tá lo n g e d e c o in c id ir c o m a ã o e x tr a o r d in â - n o s e n tid o p r ó p r io d a p a la v r a .' M a s , p a r a q u e a d e f in iç ã o
r io e d o im p r e v is to . ] e v o n s re sp o n d e que essa concepção o s c o m p re e n d a , b a s ta s u b s titu ir a , p a la v r a d e u s p e la d e s e r
. d a s f o r ç a s r e lig io s a s n ã o é p r im itiv a . N o c o m e ç o , e s ta s te - e s p ir itu a l, m a is a b r a n g e n te . F o i "0 q u e f e z T y lo r : " O p r i-
r ia m s id o im a g in a d a s p a r a ju s tif ic a r d e s o r d e n s 'e a c id e n - /( J f m e ir o p o n to e s s e n c ia l q u a n d o s e tr a ta d e e s tu a a r s is te m a -
te s , e s ó d e p o is u tiliz a d a s p a r a e x p lic a r a s u n if o r m id a d e s I I. -li tic a m e n te a s r e lig iõ e s d a s r a ç a s in f e r io r e s , é, ~e, ~
d a n a tu r e z a " , M a s n ã o se p e rc e b e o que te r ia le v a d o os n ir e p r e c is a r o que s e e n te n d e p o r r e lig iã o . S e s e c o n ti-
hom ens a a tr ib u ir s u c e s s iv a m e n te a e la s f u n ç õ e s tã o m a n i- - ir u à r T a z e n a o e n te n d e r e s s - a - p ã la v r a com o a c re n ç a num a
f e s ta m e n te c o n tr á r ia s . A lé m d is s o , a h ip ó te s e segundo a d iv in d a d e s u p r e m a ... u m c e r to n ú m e ro d e tr ib o s e s ta r á
q u a l o s se re s sa g ra d o s te r ia m s id o c o n f in a d o s d e in íc io e x c lu íd o do m undo r e lig io s o . M a s e s s a d e f in iç ã o d e m a s ia -
n u m p a p e l n e g a tiv o d e p e r tu r b a d o r e s , é in te ir a m e n te a r b i- d o e s tr e ita te m o d e f e ito d e id e n tif ic a r a r e lig iã o com a l-
tr á r ia . V e r e m o s , c o m e f e ito , q u e ; d e s d e a s r e lig iõ e s m a is g u n s d e s e u s d e s e n v o lv im e n to s p a r tic u la r e s ... P a r e c e p~e~
s im p le s q u e c o n h e c e m o s , e le s tiv e r a m p o r ta r e f a e s s e n c ia l f e r ív e l c o lo c a r s im p le s m e n te com o d e f in iç ã o m ín im a da
m a n te r , d e u m a m a n e ir a p o s itiv a , o c u r s o n o r m a l d a v id a " , r e lig iã o a c re n ç a e m s e r e s e s p ir itu a is ." 1 O P o s - s e r e s ~ ~ J 2 ir i-
A s s im , a id é ia d o m is té r io nada te m d e o r ig in a l. E la tu a is , d e v e m o s e n te n d e r s u je ito s c o n s c ie n te s , d o ta d o s d c ;
n ã o fo i d a d a ao hom em : fo i o h o m e m que a f o r jo u com p o d e re s s u p e r io r e s aos que possui o com um dos hom ens;
suas p r ó p r ia s m ão s, ao m esm o te m p o que c o n c e b ia a e s s a q u a lif ic a ç ã o convém , p o r ta n to , à s a lm a s d o s m o r to s ,
dI'
/1 1
\DCBA
12 AS FORM AS ELEM ENTARES DA V lD A R E L IG IO S A Q U ESTÕ ES P R E L IM IN A R E S 13

ao s g ên io s, ao s d em ô n io , tan ta q u an ta às d iv in d ad es p as p elas q u ais é p recisa p assar p ara ch eg ar a essa su -


p ro p riam en te d itas. É im artan te n o tar, d e im ed iata, a p ressão : a retid ão , a m ed itação . e, en fim , a sab ed o ria, a
co n cep ção p articu lar d a r íg ião q u e está im p licad a n essa p len a p asse d a d o u trin a. A trav essad as essas três etap as,
d efin ição . O ú n ica com é cio . q u e p o d em o s m an ter co m ch eg a-se ao . térm in o . d a cam in h a, à Iíb ertação , à salv ação .
seres d essa esp écie se ach a d eterm in ad a p ela n atu reza p ela N irv an a.
q u e lh es é atrib u íd a. S ão . seres co n scien tes, n ão . p o d em o s, O ra, em n en h u m d esses p rin cíp io s está en v o lv id a a
p o rtan to , ag ir so b re eles, sen ão . c a m a ag im o s so b re as d iv in d ad e. O b u d ista n ão . se p reo cu p a em sab er d e an d e
consciências em g eral, isto . é, p o r p ro ced im en to s psicoló- v em esse m u n d o . d a d ev ir em q u e ele v iv e e so fre, to rn a-o
g icas, tratan d o . d e co n v en cê-lo s o u d e co m o v ê-Io s, seja c a m a u m fator? e to d o a seu esfo rço está em ev ad ir-se
p o r m eia d e p alav ras (invocações, p reces), seja p ar o fe- d ele. P a r o u tro lad o , p ara essa ab ra d e salv ação , ele só
kjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ren d as e sacrifício s.cE já-Q 1 L ea ~ ig iãa!eria por a b ~ p o d e can tar co n sig o m e s m a : "n ão . tem n en h u m d eu s p ara
g u laL n assas_ t:cla~ õ es co m esses seres esp eciais, só p o d e- ag rad ecer, assim c a m a , n a co m b ate, n ão . ch am a n en h u m
.ria.lM tv er relig ião . ;ru reh á-p r~ ces, sacrifício s, rito s p ~ ia- d eu s em seu au x ília"ls. E m v ez d e rezar, n a sen tid a u su al
tórios, ete. T eríam o s, assim , u m critério m u itõ S T ríip les q u e d a p alav ra, em v ez d e v o ltar-se p ara u m ser su p erio r e im -
'p erm iT IR a d istin g u ir a q u e é relig io so d a q u e n ão . é. É a p lo rar su a assistên cia, co n cen tra-se em si m e s m a e m ed i-
esse critério . q u e se referem sistem aticam en te P razer!' e, ta. Isso . n ão . sig n ifica "q u e n eg u e fro n talm en te a ex istên cia
co m ele, v árias etn ó g rafo si-. d e seres ch am ad as In d ra, A g n i, V aru n aw , m as ju lg a q u e
C o n tu d o , p ar m ais ev id en te q u e p assa p arecer essa n ão . lh es d ev e n ad a e q u e n ão . p recisa d eles", p ais a p o -
d efin ição , em co n seq ü ên cia d e h áb ito s d e esp írita q u e d er d esses seres só p o d e esten d er-se so b re a s b en s d este
d ev em o s à n o ssa ed u cação . relig io sa, h á m u itas fato s ao s m u n d o , a s q u ais, p ara a b u d ista, são . sem v alo r. EQI.t<mta,...
q ~ J1 àD _ éJ-p M v el e g ~ ,_ lli2 ..en tan ~ ~ i-· ~ Ie e at"k 0 ]n a sen tid O aeaesin teressar-seãa q u estão . d e
to .ao d am ín in ..d ª,-r~ !i_ g iã.a. - sab er se ex istem o u n ão . d eu ses. A liás, m e s m a se ex istis-
E m p rim eiro lu g ar, ex istem g ran d es relig iõ es em q u e sem e estiv essem in v estid o s d e alg u m p o d er, a san ta, a li-
\ \ '" a id éia d e d eu ses e esp íritas está au sen te, n as q u ais, p ela b ertad a, ju lg a-se su p erio r a eles; p ais a q u e faz a d ig n id a-
(J~
'I ,j\ m en o s, el~ d esem p en h a tão-só u m p ap el secu n d ária e d e d o s seres n ão . é a ex ten são . d a ação . ~ e..
'dI ~ ap ag ad o ,..-E -G -G as.Q .Q 9b u d ism o .. O b u d ism o , d iz B u rn au f, -ªs,S 9 isa?, é ex clu siv am en te a g rau d e seu av an s;:a n a ca-
\ \ "ap resen ta-se, em o p o sição ao . b ram an ism o , c a m a um a T in h $ ..gvÚíh~iç;[~<y -- .
~ ~ m o ral sem d eu s e u m ateísm o . sem N atureza'< s. "E le n ão . E v erd ad e q u e a B u d a, p ela m en o s em certas d iv isõ es
recan h ece u m d eu s d a q u al a h a m e m d ep en d a, d iz d a Ig reja b u d ista, acab o u p ar ser co n sid erad o u m a esp é-
B arth ; su a d o u trin a é ab so lu tam en te atéia"1 4 , e O ld en b erg , cie d e d eu s. T em seu s tem p lo s; to rn o u -se a b j e t a d e u m
p o r su a v ez, ch am a-a "u m a relig ião . sem d eu s"> . D e fato , c u l t a q u e, p ar sin al, é m u ita sim p les, p ais se red u z essen -
a essen cial d a b u d ism o . can sis,te em q u atro p ro p o siçõ es cialm en te à o feren d a d e alg u m as flo res e à ad o ração d e \
q u e a s fiéis ch am am as q u atro n o b res verdades-c. relíq u ias o u im ag en s co n sag rad as. N ão . é m u ita m ais d a
A p rim eira co lo ca a ex istên cia d a d o r c a m a lig ad a ao . q u e u m c u l t a d a lem b ran ça. M as essa d ív ín ízação d a B u -
p erp étu a fluxo. d as co isas; a seg u n d a m o stra n a d eseja a d a, su p o n d o -se q u e a ex p ressão . seja ex ata, p rim eiram en -
cau sa d a d o r; a terceira faz d a su p ressão . d a d eseja a ú n i- te é p articu lar ao . ch am ad a b u d ism o . seten trio n al. "O s b u -
c a m eia d e su p r~ m ir a d a r ; a q u arta en u m era as três eta- d istas d a S u l, d iz K ern , e a s m en o s av an çad as en tre a s
"cbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I)
14 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA QUESTÕES PRELIMINARES 15

b u d is ta s
h o je
mo se fo sse
do N o rte ,
c o n h e c id o s ,
um
podem os
fa la m
h o m e m ." 2 1
do
a firm a r
fu n d a d o r
C e rta m e n te ,
com
de
base
sua
e le s
nos
d o u trin a
a trib u e m
dados
co-
ao
t
~\
nheça
ria te r s id o
e p ra tiq u e

Ia ; m a s, u m a
c o n h e c id a
a boa d o u trin a .
se o B uda
v e z fe ita e s s a
C la ro q u e
não
re v e la ç ã o ,
tiv e s s e
a o b ra
e la n ã o
v in d o
do
pode-
re v e lá -
B uda es-
B uda p o d e re s e x tra o rd in á rio s , s u p e rio re s aos que possui ,~ ta v a c u m p rid a . A p a rtir d e s s e m o m e n to , e le d e ix o u de ser
o com um dos m o rta is ; m as e ra um a c re n ç a m u ito a n tig a .,~ um fa to r n e c e s s á rio d a v i.d a r e lig io s a . A p r á .t i c a d a s q u a t r o
n a Ín d ia , e a liá s m u ito com um num a s é rie d e re lig iõ e s d i- ~" v e rd a d e s sa g ra d a s s e ria p o s s ív e l a in d a que a le m b ra n ç a
v e rsa s, que um g ra n d e s a n to é d o ta d o d e v irtu d e s excep- ~ " ,- .d a q u e le que a s f e z 'c o n h e c e r se apagasse d a s m e m ó ría s w ,
c ío n a ís -e , não o b s ta n te , um s a n to não é um deus, com o A lg o b e m . d ife re n te O c o rre c o m o c ris tia n is m o , que, sem a _~_
ta m p o u c o um s a c e rd o te ou um m á g ic o , a d e s p e ito d a s fa - id é ia se m p re p re s e n te e o c u lto se m p re p ra tic a d o d e tris -
c u ld a d e s so b re -h u m a n a s que g e ra lm e n te lh e s são a trib u í- to , é in c o n c e b ív e l; p o is é p o r C ris to s e m p re v iv o e a c a d a
d a s . P o r o u tro la d o , segundo o s e s tu d io s o s m a is a u to riz a - d ia im o la d o que a c o m u n id a d e d o s fié is c o n tin u a a com u-
dos, essa e s p é c ie de te ís m o e a m ito lo g ia c o m p le x a que n ic a r-s e com a -fo n te su p re m a d a v id a e s p írítu a lo .
c o s tu m a a c o m p a n h á -l o não s e ria m senão um a fo rm a d e ri- Tudo o que p re c e d e a p lic a -s e ig u a lm e n te a um a ou-
vada e d e s v ia d a d o b u d is m o . A p rin c íp io , B uda te ria s id o tra g ra n d e re lig iã o da Ín d ia , o ja in is m o . A liá s , as duas
c o n s id e ra d o apenas com o " o m a is s á b io dos hom ens"> . d o u trin a s .tê m s e n s iv e lm e n te a m esm a concepção do
"A concepção de um B uda que não s e ria u m hom em que m undo e d a v id a . "C om o o s b u d is ta s , d iz B a rth , o s ja in is -
a lc a n ç o u o .r n a is a lto g ra u de s a n tid a d e , d iz B u rn o u f, não ta s s ã o a te u s . N ão a d m ite m c ria d o r; p a ra e le s , o m u n d o é
p e rte n c e ao c írc u lo das id é ia s que c o n s titu e m o fu n d o e te rn o , e negam e x p lic ita m e n te que possa haver um ser
m esm o dos S u tra s s í m p l e s '< s , e ,' a c r e s c e n ta o m esm o au- p e rfe ito p a ra to d a a e te rn id a d e . ]a in a to rn o u -s e p e rfe ito ,
to r, " s u a h u m a n id a d e p e rm a n e c e u um fa to tã o in c o n te s ta - m as não o e ra o te m p o to d o + A s s im com o o s b u d is ta s do
v e lm e n te re c o n h e c id o d e to d o s que o s a u to re s d e le n d a s , N o rte , o s ja in is ta s , ou p e lo m enos a lg u n s d e le s , s e v o lta -
aos q u a is c u s ta v a m tã o pouco o s m ila g re s , não tiv e ra m ra m p o ré m a um a e s p é c ie de d e ís m o ; nas in s c riç õ e s do
sequer a id é ia de fa z e r d e le um deus após sua morte'<>. D ecão, fa la -s e d e u m ]in a p a ti, e s p é c ie d e ]a in a su p re m o ,
A s s im , c a b e p e rg u n ta r s e a lg u m a v e z e le c h e g o u a despo- que é cham ado o p rim e iro c ria d o r; m a s ta l lin g u a g e m , d iz
ja r-s e c o m p le ta m e n te desse c a rá te r hum ano, e s e te r n o s .o o m esm o a u to r, " e s ta e m c o n tra d iç ã o com a s d e c la ra ç õ e s
d ire ito de a s s im ilâ -Io c o m p le ta m e n te a' um deus> . Em to - m a is e x p líc ita s d e s e u s e s c rito re s m a i s a u t o r i z a d o s 'w .
do caso, s e ria um deus de um a n a tu re z a m u ito p a rtic u la r A liá s , s e e s s a in d ife re n ç a p e lo d iv in o d e s e n v o lv e u -s e
e c u jo papel de m odo nenhum s e a s s e m e lh a ab das ou- ~ a t a l 'p o n t o n o b u d is m o e no ja in is m o , é que e la já e s ta v a
tra s p e rs o n a lid a d e s d iv in a s . P o is u m deus é , a n te s de tu - e m g e rm e n o b ra m a n is m o , d o q u a l d e riv a ra m am bas a s re -
do, um s e r v iv o com o qual o hom em deve e pode con- lig iõ e s . A o m e n o s em a lg u m a s d e s u a s fo rm a s , a e s p e c u la -
ta r; o ra , o B uda m o rre u , e n tro u no N irv a n a , nada m a is ç ã o b ra m â n ic a c u lm in a v a em " u m a e x p lic a ç ã o fra n c a m e n - .
pode so b re a m a rc h a d o s a c o n te c im e n to s h u m a n o s-". te m a te ria lis ta e a té ia do u n ív e rs o ? » . C om o te m p o , as
x iT 1 C lN tl. E n fim , e não im p o rta o que se pense da d iV in d a d e \ m ú ltip la s d iv in d a d e s que os povos d a Ín d ia h a v ia m d e in í-
u.Di'STA d o B u d a , o fa to é q u e essa é um a concepção in te ira m e n te c io a p re n d id o a a d o ra r a c a b a ra m com o que s e fu n d in d o
" ''< - l s T A e x te rio r ao que há de re a lm e n te e s s e n c ia l. no b u d is m o .. num a e s p é c ie d e p rin c íp io uno, im p e s s o a l e a b s tra to , es-
C om e fe ito , o b u d is m o c o n s is te , a n te s de tu d o , na noção s ê n c ia d e tu d o o que e x is te . E s s a re a lid a d e su p re m a , que
de s a lv a ç ã o , e a s a lv a ç ã o supõe u n ic a m e n te que se co- nada m a is p o s s u i de um a p e rs o n a lid a d e d iv in a , o h o m e m
16 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA L QUESTÕES PRELIMINARES 17

c o n té m e m s i, o u m e lh o r , id e n tif ic a - s e c o m e la , u m a v e z É v e rd a d e que esses r ito s s ã o p u r a m e n te n e g a tiv o s ;


q u e n a d a e x is te f o r a d e la . :e a r .a - ê f l{ ;G n tr á ,.,,- - 1 a - - e - :u ~ a , ~ ? e ix ~ desef r e lig io s o s . A r e m d is s o , h á o u tr o s
e ) .e ...n ã e - ) 3 1 'e e i- s - a ..,...- p e F ta - & tG .,- - b uf socr a r d e s i m e s m o ne- q u e r e c la m a m d o f ie l p r e s ta ç õ e s a tiv a s e p o s itiv a s , e que,
p~m a p o io e x te r io r ; b a s r .a c o n c e n tr a r - s e e 1 E -s i e m e d J ! ..a r . no e n ta n to , são da m esm a n a tu r e z a . E le s a tu a m por si
"Q uando, d iz O ld e n b e r g , o b u d is m o la n ç a - s e nesse g ra n - m esm os, sem que s u a e f ic á c ia dependa d e a lg u m poder
d e e m p r e e n d im e n to d e im a g in a r um m undo d e s a lv a ç ã o d iv in o ; s u s c ita m m e c a n ic a m e n te o s e f e ito s q u e s ã o s u a r a -
em que o hom em s a lv a - s e a s i m e s m o e d e c r ia r u m a r e li- z ã o d e s e r . N ã o c o n s is te m em p re c e s, nem em o fe re n d a s
g iã o s e m d e u s , a e s p e c u la ç ã o b r a m â n ic a já h a v ia p r e p a r a " d ir ig id a s a um s e r a c u ja b o a v o n ta d e o r e s u lta d o e sp e ra -
d o à te r r e n o p a r a e s s a te n ta tiv a ..A n o ç ã o d e d iv in d a d e re - d o s e s u b o r d in a ; esse r e s u lta d o é o b tid o p e la execução
cuou g r a d a tiv a m e n te ; a s f ig u r a s d o s a n tig o s deuses pouco a u to m á tic a d a o p e ra ç ã o r itu a l. T a l é o c a s o , e m p a r tic u la r ,
a pouco se apagam ; o B r a m a p o n tif ic a e m s u a e te r n a q u ie - d o s a c r if íc io n a \r e lig iã o v ê d ic a . " O s a c r if íc io ; d iz B e r g a ig -
tu d e , m u ito a c im a d o m u n d o te r r e s tr e , e r e s ta a p e n a s um a n e , e x e rc e u m a I n f lu ê n c ia d ir e ta so b re o s fe n Ô m e n o s ce-
ú n ic a p e s s o a a to m a r p a r te a tiv a n a g r a n d e o b r a d a lib e r ta - le s te s " 3 6 ; e le é o n ip o te n te por si m esm o e sem nenhum a
ç ã o : o h o m e m ." 3 2 E is , p o r ta n to , um a p o rç ã o c o n s id e r á v e l in f lu ê n c ia d iv in a . F o i e le , p o r e x e m p lo , que ro m p e u as
'1;
d a e v o lu ç ã o r e lig io s a q u e c o n s is tiu , em sum a, num re c u o . p o r ta s d a c a v e rn a o n d e e s ta v a m e n c e r r a d a s a s a u ro ra s e
p r o g r e s s iv o d a id é ia d e s e r e s p ir itu a l e d e d iv in d a d e . E is a í f e z b r o ta r a lu z d o d ia 3 7 . D o m e s m o m o d o , fo ra m h in o s
g ra n d e s r e lig iõ e s em que a s in v o c a ç õ e s , a s p r o p ic ia ç õ e s , a p r o p r ia d o s que, por um a ação d ir e ta , f iz e r a m c a ir s o b r e
o s s a c r if íc io s , a s p re c e s p r o p r ia m e n te d ita s , e s tã o m u ito a te r r a a s á g u a s d o c é u , e isto apesar dos deuses». A p r á ti-
lo n g e d e te r u m a p o s iç ã o p r e p o n d e r a n te e q u e , p o r ta n to , -, c a d e c e r ta s a u s te r id a d e s te m a m esm a e f ic á c ia . E m a is :
n ã o a p r e s e n ta m o s in a l d is tin tiv o n o q u a l s e p r e te n d e re - " O s a c r if íc io é d e ta l f o r m a o p r in c íp io por e x c e lê n c ia ,
conhecer a s m a n if e s ta ç õ e s p r o p r ia m e n te r e lig io s a s . T :l:e ~ e le é r e la c io n a d a não s o m e n te a o r ig e m dos ho-
M as, m esm o n o in te r io r d a s r e lig iõ e s d e ís ta s , encon- m ens, m a s ta m b é m a dos deuses. T al concepção pode,
tr a m o s u m g r a n d e n ú m e ro d e r ito s q u e s ã o c o m p le ta m e n - com ra z ã o , p a re c e r e s tr a n h a . N o e n ta n to , e la s e e x p lic a
te in d e p e n d e n te s d e to d a id é ia de deus o u d e se re s e s p i- com o um a d a s ú ltim a s c o n s e q ü ê n c ia s d a id é ia d a o n ip o -
r itu a is . A n te s d e m a is n a d a , h á u m a s é r ie d e in te r d iç õ e s . A tê n c ia d o s a c r if íc io . " 3 9A s s im , e m to d a a p r im e ir a p a r te do
B íb lia , p o r e x e m p lo , o rd e n a à m u lh e r v iv e r is o la d a to d o tr a b a lh o d e B e r g a ig n e , só são a b o rd a d o s s a c r if íc io s em
m ês d u r a n te um p e r ío d o d e te r m in a d o õ e ; o b r ig a - a a um q u e a s d iv in d a d e s não desem penham nenhum p a p e l.
is o la m e n to a n á lo g o d u r a n te o partoõ+; p r o íb e a tr e la r ju n - E s s e f a to n ã o é p a r tic u la r à r e lig iã o v é d ic a , sendo, ao
to s o ju m e n to e o c a v a lo , u s a r u m v e s tu á r io em que o câ- c o n tr á r io , d e g ra n d e g e n e r a lid a d e . Em to d o c u lto h á p r á ti-
nham o s e m is tu r e com o lin h o » , sem que s e ja p o s s ív e l c a s q u e a tu a m por si m esm as, p o r u m a v ir tu d e q u e lh e s é
p e rc e b e r que papel a c re n ç a e m je o v á pode te r d e s e m p e - p r ó p r ia e sem que nenhum d e u s s e in te r c a le e n tr e o in d i-
nhado nessas in te r d iç õ e s ; P O \S e le e s tá a u s e n te d e to d a s v íd u o que e x e c u ta o r ito e o o b je tiv o buscado. Q uando,
a s r e la ç õ e s a s s im p r o ib id a s e não p o d e r ia e s ta r in te r e s s a - r ia f e s ta d o s T a b e r n á c u lo s , o ju d e u m o v im e n ta v a o a r a g i-
d o p o r e la s . O m e s m o se pode d iz e r d a m a io r p a r te das ta n d o r a m o s d e s a lg u e ir o _ s e g u n d o u m c e r to r ítm ó .I e f à pa-
in te r d iç õ e s a lim e n ta r e s . E essas p r o ib iç õ e s não s ã o p a r ti- :ç a f a z e r o v e n to le v a n ta r - s e e a chuva c a ir ; e il,Ç r ~ ~ h t.a Y a - s e
c u la r e s a o s h e b re u s, m a s a s e n c o n tr a m o s , so b fo rm a s d i- que_ o fe n ô m e n o d e s e ja d o r e s u lta s s e a u to m a tic a m e n te do ~
v e rsa s e c o m o m e sm o c a r á te r , e m n u m e r o s a s r e lig iõ e s . r i~ ~ c o n ta n io q u e e s te f o s s e e x e c u ta d õ õ " é lo r m a c o r r e ta " .
~gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
-
BIBUOTECA DA PUC· M~
I 18 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA I, QUESTÕES PRELIMINARES 19

A liá s , é is s o o q u e e x p lic a a im p o rtâ n c ia p rim o rd ia l dada e sfo rç o u -se por a b s o rv ê -l o s e a s s im ilá -lo s ; im p rim iu -lh e s
por quase to d o s o s c u lto s à p a rte m a te ria l d a s c e rim ô n ia s . um a c o r c ris tã . T o d a v ia , m u ito s d e le s p e rs is tira m a té u m a
E s s e fo rm a lis m o re lig io s o , m u ito p ro v a v e lm e n te a fo rm a d a ta re c e n te o u p e rs is te m a in d a com u m a re la tiv a a u to n o -
p rim á ria d o fo rm a lis m o ju ríd ic o , advém de que a fó rm u la m ia : fe s ta s d a á rv o re d e m a io , d o s o ls tíc io d e v e rã o , d o c a r-
a p ro n u n c ia r, o s m o v im e n to s a e x e c u ta r, te n d o em si m es- n a v a l, c re n ç a s d iv e rs a s re la tiv a s a g ê n io s , a d e m ô n io s lo -
m o s a fo n te d e s u a e fic á c ia , a p e rd e ria m , se n ã o se c o n fo r- c a is , e te . E m b o ra o c a rá te r re lig io s o d e s s e s fa to s v á s e a p a -
m assem e x a ta m e n te a o tip o c o n s a g ra d o p e lo s u c e s s o . gando, sua im p o rtâ n c ia re lig io s a , não o b s ta n te , é ta l q u e
A s s im há rito s sem deuses e , in c lu s iv e , h á rito s dos p e rm itiu a M a n n h a rd t e s u a e s c o la re n o v a re m a c iê n c ia d a s
q u a is d e ri;a m os- deuses. N em to d a s a s v irtu d e s re lig io s a s re lig iõ e s . U m a d e fin iç ã o q u e n ã o le v a s s e is s o e m c o n ta n ã o
e m á iia m d e p e rs o n a lid a d e s d iv in a s , e há re la ç õ e s c u ltu - c o m p re e n d e ria , p o rta n to , tu d o o q u e é re lig io s o .
ra is q u e v is a m o u tra c o is a que não u n ir, o h o m e m a um a , O s fe n ô m e n o s re lig io s o s c la s s ific a m -s e n a tu ra lm e n te
d 1 v in a a d e . P o rta n to , a re lig iã o v a i a lé m d a id é ia d e d e u s e s em d u a s c a te g õ ri-ª~ fU rld a m e rita i~ : a s c re n ç a s e o s rito s , A s -*
ou d e e s p írito s , lo g o não pode s e d e fin ir e x c lu s iv a m e n te p rim e ira s s ã o e s ta d o s d a o p in iã o , c o n s is te m em re p re se n -
em ~nção d e s ta ú ltim a . ~, ta ç õ e s ; os segundos são m odos de ação d e te rm in a d o s .
E n tre -e s s e s d o is tip o s d e fa to s h á e x a ta m e n te a d ife re n ç a
q u e se p a ra o p e n s a m e n to d o m o v im e n to .
III O s rito s só podem s e r d e fin id o s e d is tin g u id o s das
o u tra s p rá tic a s hum anas, n o ta d a m e n te das p rá tic a s m o-
D e s c a rta d a s essas d e fin iç õ e s , é nossa vez de nos co- ra is , p e la n a tu re z a e s p e c ia l de seu o b je to . C om e fe ito ,
lo c a rm o s d ia n te d o p ro b le m a . um a re g ra m o ra l, a s s im com o um rito , n o s p re s c re v e m a-
Em p rim e iro lu g a r o b se rv e m o s que, em to d a s essas n e ira s d e a g ir, m a s q u e s e d irig e m a o b je to s de um gêne-
fó rm u la s , é a n a tu re z a d a re lig iã o e m s e u c o n ju n to que se ro d ife re n te . P o rta n to , t-o o b je to do rito q u e p re c is a ría -
te n ta e x p rim ir d ire ta m e n te . P ro c e d e -se com o s e a re lig iã o m o s c a ra c te riz a r p a ra o d e rm o s c a ra c te riz ~ -
fo rm a sse um a e s p é c ie d e e n tid a d e in d iv is ív e l, quando e la to . O ra , é n a c re n ç a ~e a n a tu re z a e s p e c ia aesse o b je to -
~ um to d o fo rm a d o d e - .p a r t e s ; tt um s is te m a m a is o u m e - rse e x p rim ~ s s im , só se E ode d e fin ir ~ o após s e te r-
n o s ç o m p le x o .d e m itQ s ,_ d e d o g m a s ,- º~ r it0 s ., de e .e .tim Q - d e fin id o a c re n ç a s/ ~
~ s-O ra , u~ não pode ~ e r d e fin id o senão em re la - - T odas a s c r e f ! . Ç ! ; l sr e l i g i o s a s c o n h e c id a s , s e ja m s im -
ção às a rte s que o fo rm a m . m a is m e tó d ic o , p o rta n to , p le s ó il c o m p le x a s , a~m um ~o c a rá te r C G .: : ..

p ro c u ra r c a ra c te riz a r os enom enos e le m e n ta re s d o s q u a is m um : supõem u m a c la s s i ic a ç ã o d a s c o is a s , re a is o u id ~ a is


to d a re lig iã o re s u lta , a n te s d o s is te m a p ro d u z id o por sua ~ os hom ens c õ í1 ê e D e m -le m a u ã s C la s s e s , · e m a o is gê-
u n iã o . E s s e m é to d o im p õ e -s e s o b re tu d o p e lo fa to d e e x is - peros o p o s to s ~ g n a d o s e ra lm e n t~ o i- d O iS te rm o s •~
tire m fe n ô m e n o s re lig io s o s que não d iz e m re s p e ito a ne- d is tin to s que as palavras_~tanQ-e~sa·rada aduzem bas-
nhum a re lig iã o d e t e r m i n a d a . _ É - O . s _ a s od o s q u e c o n s titu e m tã iite õ t:u r-k tliV íS ã õ do m undo em d o is d ó m ín i~ e
a m a tê ría d o .f o lc le r e . E m g e ra l, s ã o re s to s d e re llg iõ e s de- c o m p re e n d e m , !lm , tu d o o qlle é s ~ g r a d ~ , o u tro , !2 :;d o ~ .
s a p a re c i~ v ê n c ia s in o rg a n iz a d a s ; m a s h á o u tro s que é p ro fa n o , ta l é o tra ç o d is tin tiv o d o p e n s a m e n to re li-
ta m b é m que se fo rm a ra m e s p o n ta n e a m e n te s o b a in flu ê n - g iO s o : a s c re n ç a s , o s m ito s , o s g n o m o s ., a s le n d a s , sã o re -
c ia d e c a u s a s lo c a is . N o s p a ís e s e u ro p e u s, o c ris tia n is m o .E ..r e s e n t- a ç õ e s o u s is t~ m ~ ~ d ~ e n ta ç õ e s que e x E !l:
20 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSAaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
QUESTÕES PRELIMINARES 21

~ tu re z a das c o is a s sa g ra d a sJ a s v irtu d e s e os po- segunda s e ja sa g ra d a em re la ç ã o à p rim e ira . O s e sc ra v o s


d e re s que lh e s são a trib u íd o s , s u ã l 'i : l s t ó r i a suas re la ç õ e s dependem de seus se n h o re s, o s s ú d ito s deseu re i, o s s o l-
Illú J u a s e com as c o is a s p ro fa n a s. M a s , p O r c o is a s sa g ra - dados de seus c o m a n d a n te s , a s c la s s e s in fe rio re s das c la s -
9, c o n v é m não e n te n d e r s im p le s m e n te esses s e e -p e s- ses d irig e n te s , a s s im com o o a v a re n to depende de seu
s o a is que cham am os deuses ou e s p írito s : um ro c h e d o , o u ro e o a m b ic io s o , do poder e das m ãos que o d e tê m ;

~~Q Y m a á rv o re , um a fo n te , um s e ix o , um pedaço de m a d e ira , o ra , s e d iz e m o s às vezes de um hom em que e le te m a re -


~,rJ)
P ~
(J,~~
um a

te rito
casa
~ a g ra d a .
qu
V! em


rito p o d e
o
a p a la v ra ,

te n h a
te r e s s e
em
um a

a lg u m
c o is a
c a rá te r;
g ra u .
q u a lq u e r
in c lu s iv e ,
H á
pode
não
p a la v ra s ,
ser
e x is -
fra -
lig iã o
v a lo r
ção
dos se re s
e m in e n te
a s i p ró p rio ,
ou
e um a
é c la ro
das c o is a s
e s p é c ie
que,
aos

em
de
q u a is a trib u i,
s u p e rio rid a d e
to d o s esses
a s s im , u m

casos,
em re la -
a pa-
s e s , fó rm u la s que só podem ser I? ro n u n c ia d a s p ~ la boca la v ra é to m a d a num s e n tid o m e ta fó ric o e que não há na-
de p e rso n a g e n s c o n sa g ra d o s; ha g e s to s e m o v im e n to s da, nessas re la ç õ e s , que s e ja p ro p ria m e n te re lig io s o -ê .
que não podem ser e x e c u ta d o s por to d o o m undo. Se o Por o u tro la d o , convém não p e rd e r de v is ta que há
s a c rifíc io v é d íc o te v e ta l e fic á c ia , se in c lu s iv e , segundo a c o is a s sa g ra d a s de to d o tip o e que há a q u e la s d ia n te das
m ito lo g ia , fo i g e ra d o r de deuses, ao in v é s de ser apenas q u a is o hom em se s e n te re la tiv a m e n te à v o n ta d e . U m
um m e io de c o n q u is ta r seus fa v o re s, é que e le p o s s u ía a m u le to te m um c a rá te r sa g ra d o , no e n ta n to o re s p e ito
um a v irtu d e c o m p a rá v e l à dos se re s m a is sa g ra d o s. O c ír- que in s p ira nada te m de e x c e p c io n a l. M esm o d ia n te de
c u lo dos o b je to s sa g ra d o s não pode, p o rta n to , ser d e te r- seus deuses, o hom em nem se m p re s e e n c o n tra num a po-
m in a d o de um a vez por to d a s ; sua e x te n s ã o é in fin ita - s iç ã o de a c e n tu a d a in fe rio rid a d e " p o is m u ita s vezes e x e r-
m e n te v a riá v e l c o n fo rm e a s re lig iõ e s . E ~que_m ~ ce so b re e le s um a v e rd a d e ira c o e rç ã o fís ic a p a ra o b te r o
o b u d i s r n Q . .. . é _ u m a J . . . e l i g ~ . . Q . u e . , . . . . 1 l a . l a l t a . . . c L e d e u . s . e ~ que d e s e ja . B a te -s e no fe tic h e com o qual não se e s tá
a d m ite a e x is tê n c ia de c o is a s sa g ra d a s, que são a s g u a tro c o n te n te , re c o n c ilia n d o -s e com e le caso venha a se m os-
v e rd a d e s s à n ta s e ã S p r á tic a § ..Q lI e d e la s d e riv a m " , tra r m a is d ó c il a o s d e s e jo s de seu a d o ra d o ré . P a ra o b te r a
M as lim ita m o -n o s a té aqui a e n u m e ra f;à títu lo de chuva, la n ç a m -s e p e d ra s n a fo n te ou no la g o sa g ra d o on-
e x e m p lo s , um c e rto n ú m e ro de c o is a s sa g ra d a s; c u m p re de se supõe re s id ir o deus da chuva; a c re d ita -s e , d e s te
a g o ra in d ic a r a tra v é s de que c a ra c te rís tic a s g e ra is e la s se m odo, o b rig á -I o a s a ir e a s e m o s tra r+ . A liá s , s e é v e rd a d e
d is tin g u e m d a s c o is a s p ro fa n a s. que o hom em depende de seus deuses, a d e p e n d ê n c ia ~
P o d e ría m o s ser te n ta d o s a d e fin i-Ia s , de in íc io , p e lo rê é íp ra -c a . T a IT lb é m os deuses tê m n e c e s s id a d e d o ho-

'"
~ -:----......-. - ;;;.,~' ---.., ' . i

lu g a r que g e ra lm e n te lh e s é a trib u íd o na h ie ra rq u ia dos m em : sem a s o fe re n d a s e os s a c rifíc io s , e le s m o rre ria m .


se re s. E la s c o s tu m a m ser c o n s id e ra d a s com o s u p e rio re s T e re m o s o c a s iã o de m o s tra r que essa d e p e n d ê n c ia dós
em d ig n id a d e e em p o d e re s à s c o is a s p ro fa n a s e, em p a r- deuses em re la ç ã o a seus fié is m a n té m -s e in c lu s iv e n a s re -
tic u la r, ao hom em , quando e s te é apenas um hom em e lig iõ e s m a is id e a lis ta s .
nada p o s s u i, por s i p ró p rio , de sa g ra d o . C om e fe ito , o ho- M as, se um a d is tin ç ã o p u ra m e n te h ie rá rq u ic a é um
m em é re p re s e n ta d o ocupando, em re la ç ã o a e la s , u m a s i- c rité rio ao m esm o te m p o m u ito g e ra l e m u ito im p re c is o ,
tu a ç ã o in fe rio r e d e p e n d e n te ; e essa re p re s e n ta ç ã o por não nos re s ta o u tra c o is a p a ra d e fin ~ g rª-d º- em ~- ~
c e rto não d e ix a d e s e r v e rd a d e ira . Só que n is to não há na- ~çào ap~~,-ª-.E;~o ~ er sua h e te ro g e ~ ~ id a _ d ~ E~ que
d a -q u e s e ja re a lm e n te c a ra c te rís tic o do sa g ra d o . N ã o b a s ta to r n a .e s s a - h e te r o g e n e íd a d e s u f íe íe n te .p a r a c a r a c te r ís a r .s e -
que um a c o is a s e ja s u b o rd in a d a a um a o u tra p a ra que a ~ e lh a n te c la s s ific a ç ã o das c o is a s e d is tin g u i-Ia de q u a l-
V' .' .\(,. 'V'..,.. ~ l" - A I-"
rJ/ \1 r \ 'l rV J " I:}
0'; ,." ',l '\~ ' 'I.I:I.}·
d.J
.
'1.11
1i J/' ~\', IJ'

"lP< lJt \.nn ~fi


r
22 IHGFEDCBA

h '1. If'
AS FORM AS ELEM ENTARES DA V ID A R E L IG IO S A Q U ESTÕ ES P R E L IM IN A R E S 23
10
,I;, (\~Ji!'"

uer outra é justam ente o fato de ela ser m uito particl!L ar:
lI" ~ tu
re, que a pessoa determ inada que ele era cessa de existir ,,.;'c,p.«;.c;,\
iJl.ffO 9€.

--"* .e l a é a b s o l u t a . N ão existe na história do pensam ento hu-


~-
~ tra~ stantaneam ente,
1
substitui a preceaert-
-' '--
PJ' I\.~.?-~h~
~ C l""''-
m ano um outro exem plo de duas categorias de coisas tão e. E le renasce SOID um a nova form a.rG enstdera-se que ce- I" tv.flft..tO
profundam ente diferenciadas, tão radicalm ente opostas rlm ônias apropriadas realizam essa m orte e esse renasci- 1 '~ .
um a à outra. A oposição tradicional entre o bem e o m al m ento, entendiqbs não num sentido sim plesm ente sim bó-
não é nada ao lado desta; pois o bem e o m al são duas es- lico, m as tom a~ s ao pé da lerra= . tl!o é isso um a prova (,
pécies contrárias de um m esm o gênero, a m oral, assim co- l).'ª 1
d~ q1!o~ . .5 0 ão de çs,:m tinuidade entre o -ser-pftrãi1õ SJV I [ ,
m o a saúde e a doença são apenas dois aspectos diferen-
tes de um a m esm a ordem de fatos, a vida, ao passo que o
sagrado e o profano foram sem pre e em toda parte conce-
lte_ele~ ;;...e,o ser religioso ém que se: torna?
E ssa heter geneidade inclusive é tal.que-rrãõráro
genera num verdadeiro@ !ili[gonis]0.
_ .~OI

O s dois m un.dos
d e-t ~ j:)

bidos' pelo espírito hum ano com o gêneros' separados, co- não são apen~ ncebidos com o separados, m as com o_
m o dois m undos entre os quais nada existe em com um . A s hoSl'iSêfivãIS um do outro. C om o só pode pertencer ple-
energias que se m anifestam num não são sim plesm ente as nam ente a um se tiver sãido inteiram ente do outro, o ho-
que se encontram no outro, com alguns graus a m ais; são m em é exortado a retirar-se totalm ente do profano, para
de outra natureza. C onform e as religiões, essa oposição foi levar um a vida exC lusiV am ente rel@ osa. D aí a vida m o-
concebida de m aneiras diferentes. N um a, para separar es- nástica que, ao lado e fora do m eio natural onde v iv eo
ses dois tipos de coisas, pareceu suficiente localizá-Ias em . hom erneom üm , organiza artíflclalm ente um o~ eio,
regiões distintas do universo físico; noutra, algum as delas fechadó -ao' prim eiro e que uase sem pre tende ~ ser o
são lançadas num m eio ideal e transcendente, enquanto o seu opostoj D aí ascetism o rriístico cujo objeto é extirpar
m undo m aterial é entregue às outras em plena proprieda- dõl10m em tudo o que nele pode perm anecer aeapeg
de. M as, se as form as do contraste são variâveis+>, o fato ao m undo prõfaiío" D aí, enfim , todas as form as de suicí-
m esm o do contraste é universal. dio religtoso, coroam ento lógico desse ascetism o, pois a
Isso não significa; porém , que um ser jam ais possa única m aneira de escapartotalI!J.ent~ à vida profana é
passar de um desses m undos para o outro; m as a m aneira últim a instância, evadír-se totalm ente da V Ida
com o essa passagem se produz, quando ocorre, põe em A oposição desses dois gêneros trá, aliás, traduzir-se
evidência a dualidade essencial dos dois reinos. A passa- exteriorm ente por um signo visível que perm ita reconhe-
gem im plica, com efeito, um a verdadeira m etam orfose. É cer com facilidade essa classificação m uito especial, onde
o que dem onstram particularm ente os ritos de iniciação, quer que ela exista. C om o a noção de sagrado está, no
tais com o são praticados por um a quantidade de povos. A pensam ento dos hom ens, sem pre e em toda parte separa-
iniciação é um a longa série de cerim ônias que têm por da da noção de profano, com o concebem os entre elas
objeto introduzir o jovem na vida religiosa: ele sai pela um a espécie de vazio lógico, ao espírito repugna invenci-
prim eira vez do m undo puram ente profano onde trans- veílnente que as coisas côrrespondentes sejam confundi-
correu sua prim eira infância para entrar no círculo das das ou sim plesm ente postas em contato, pois tal prom is-
coisas sagradas. O r~ ssa m udança d.::.-e~ ~ .Ç .onceb!::. cuidade ou m esm o um a contigüidade dem asiado direta
da, não com o < 2...§iQ !.pl"êS "efegulara esenv.Q !Y im ..ent2 de contradizem violentam ente o estado de dissociação em
germ es preexistentes, m as com o um a transform ação t o t i u s
- . ~ .-----
s u b s t a n t i a e . D iz-se que, naquele m om ento, o jovem m or-
-- - --
9ue se achª-D l tais idéias nas C ollscrê~ claS )A cO ísasagra~
e, por excelência, aguela < L ueo profano não deve e não po-
_ .- -. - -- - '-
24 AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA QUESTÕES PRELIMINARES 25

d e im p u n e m e n te to c a r. C la ro q u e essa in te rd iç ã o não po- m e a s c irc u n s tâ n c ia s em que se a p lic a , s e ria , no fu n d o ,


d e ria chegar ao p o n to de to rn a r im p o s s ív e l to d a c o m u n i- por to d a p a rte , id ê n tic o a si m esm o: < trªta -s e d e u m to d c o
cação e n tre o s d o is m undos, p o is , se o p ro fa n o não pu- I f õ 'r m a d o d e p a rte s d is tin ta s e re la tiv a m e n te in d ív id u a liz g -
desse de m a n e ira nenhum a e n tra r em re la ç ã o com o sa- dasJC ada g ru p o hom ogêneo d e c o is a s sa g ra d a s, ou m es-
g ra d o , e s te de nada s e rv iria . M as esse re la c io n a m e n to , m o cada c o is a sa g ra d a de a lg u m a im p o rtâ n c ia , c o n s titu i
a lé m de se r se m p re , por si m esm o, um a o p e ra ç ã o d e lic a - um c e n tro o rg a n iz a d o r em to rn o do q u a l g ra v ita um g ru -
da, que re q u e r p re c a u ç õ e s e um a in ic ia ç ã o m a is ou m e- po d e c re n ç a s e d e rito s , u m c u lto p a rtic u la r; e não h á re -
n o s c o m p lic a d a + , de m odo nenhum é p o s s ív e l sem que o lig iã o , p o r m a is u n itá ria que s e ja , q u e não re c o n h e ç a um a
p ro fa n o p e rc a suas c a ra c te rís tic a s e s p e c ífic a s , sem que se p lu ra lid a d e d e c o is a s s a g ra d a s . M esm o o c ris tia n is m o , pe-
to rn e e le p ró p rio sa g ra d o num c e rto g ra u e num a c e rta lo m e n o s em s u a fo rm a c a tó lic a , a d m ite , a lé m d a p e rso n a -
m e d id a . O s d o is g ê n e ro s não podem s e a p ro x im a r e con- lid a d e d iv in a - a liá s , trip la ao m esm o te m p o que una -, a
se rv a r a o m e sm o te m p o s u a n a tu re z a p ró p ria . V irg e m , o s a n jo s , o s s a n to s , a s a lm a s d o s m o rto s , e te .
T em os, d e s ta vez, um p rim e iro c rité rio das c re n ç a s A s s im , um a re lig iã o não se re d u z g e ra lm e n te a um
re lig io s a s . C la ro q u e , no in te rio r desses d o is g ê n e ro s fu n - c u lto ú n ic o ,m a s c o n s is te em um s is te m a de c u lto s d o ta -
d a m e n ta is , h á e s p é c ie s s e c u n d á ria s que, por sua vez, são d o s d e c e rta a u to n o m ia . E s s a a u to n o m ia , p o r s in a l, é v a riá -
m a is ou m enos in c o m p a tív e is um as com a s o u tra s w . M as v e l. À s v e z e s , o s c u lto s s ã o h ie ra rq u iz a d o s e s u b o rd in a d o s
o c a ra c te rís tic o do fe n õ m e n o re lig io s o é que e le supõe a um c u lto p re d o m in a n te , no qual acabam in c lu s iv e por
se m p re um a d iv is ã o b ip a rtid a do u n iv e rs o c o n h e c id o e s e r a b s o rv id o s ; m a s o c o rre ta m b é m e s ta re m s im p le s m e n te
c o n h e c ív e l em d o is g ê n e ro s que c o m p re e n d e m tu d o o ju s ta p o s to s e c o n fe d e ra d o s. A re lig iã o que ire m o s e s tu d a r
que e x is te , m as que se e x c lu e m ra d ic a lm e n te . A s c o is a s n o sfo rn e c e rá ju s ta m e n te um e x e m p lo d e s ta ú ltim a o rg a -
VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
sa g ra d a s são a q u e la s que a s p ro ib iç õ e s p ro te g e m e is o - n iz a ç ã o .
la m ; a s c o is a s p ro fa n a s, a q u e la s a que s e a p lic a m essas A o m esm o te m p o , e x p lic a -s e que possa h a v e r g ru p o s
p ro ib iç õ e s e que devem p e rm a n e c e r à d is tâ n c ia das p ri- de fe n ô m e n o s re lig io s o s que não p e rte n c e m a nenhum a
m e ira s . A s(c re n ç a s re lig ío s ã s -s ã o re p re s e n ta ç õ e s que ex- re lig iã o c o n s titu íd a : é que e le s n ã o e s tã o ou não m a is ' e s -
p rim e m a n a tu re z a das c o is a s sa g ra d a s e a s re la ç õ e s que tã o in te g ra d o s num s is te m a re lig io s o . Se um dos c u lto s
e la s m a n tê m , s e ja e n tre s i, s e ja com a s c o is a s p ro fa n a s. em q u e s tã o c o n s e g u ir m a n te r-s e por ra z õ e s e s p e c ia is
E n fim , o s rito s s ã o re g ra s d e c o n d u ta que p re sc re v e m co- quando o c o n ju n to do q u a l fa z ia p a rte d e sa p a re c e , e le irá
m o o hom em deve c o m p o rta r-s e com a s c o is a s s a g ra d a s . s o b re v iv e r apenas no e s ta d o d e s in te g ra d o . Foi o que
Q uando um c e rto n ú m e ro de c o is a s sa g ra d a s m an- a c o n te c e u a ta n to s c u lto s a g rá rio s que s o b re v iv e ra m a si
té m e n tre s i re la ç õ e s de c o o rd e n a ç ã o e de s u b o rd in a ç ã o , p ró p rio s no fo lc lo re . Em c e rto s casos, não é sequer um
d e m a n e ira a fo rm a r u m s is te m a d o ta d o de um a c e rta u n i- c u lto , m as um a s im p le s c e rim ô n ia , um rito p a rtic u la r que
dade, m as que não p a rtic ip a e le p ró p rio de nenhum o u tro p e rs is te sob e ssa fo rm a -s. .
s is te m a do m esm o g ê n e ro , o c o n ju n to das c re n ç a s e dos . E m b o ra essa d e fin iç ã o s e ja a p e n a s p re lim in a r, e la já
rito s c o rre s p o n d e n te s c o n s titu i um a re líg íã o . V ê -se , por p e rm ite e n tre v e r em q u e te rm o s se deve c o lo c a r o p ro b le -
_ essa d e fin iç ã o , que um a re lig iã o não c o rre sp o n d e neces- m a que d o m in a n e c e s s a ria m e n te a c iê n c ia das re lig iõ e s .
s a ria m e n te a um a ú n ic a e m esm a id é ia , não se re d u z a Q uando se a c re d ita que os se re s sa g ra d o s só se d is tin -
um p rin c íp io ú n ic o que, e m b o ra d iv e rs ific a n d o -s e c o n fo r- guem d o s d e m a is p e la m a io r in te n s id a d e dos p o d e re s que
QUESTÕES PRELIMINARES
AS FORMAS ELEMENTARES DA WDA RELIGIOSAihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 27
26

lh e s s ã o a trib u íd o s , 51 g u e s tã o de~r d e g u e m a n e ira os


hom ens ~ e ra m te r a id é ia desses s e re s ) é b a s ta n te s Iffi-
p le s : b a s ta e x a m in a r q u a is s ã o a s f o r ç ~ s q u e , .e o r s u a ex-
c _ e p c io ~ l ~gg, fo ra m capazes d e im Q re s s io n a r t ã Q .Y i -
v a m e n te ~ e s p írito hum ano p a r g i n s .e i r a r s e n t i m e n t o ~ l i -

~ \h .1
g iO '
g ra r M as se, com o
a s d ife re m
te n ta m o s
e m n a tu re z a
e s ta b e le c e r,
d a s c o is a s p ro fa n a s ,
a s c o is a s
se são de
sa-

) \\ _M O - /~ ? u t r a e s s ê n c ia , o p r o b l e : ,n a é m u i t o m a i s c o m p l e x o .
~ (1 ' ~ e p re C is o Q e rg u n ta r e n ta o o q u e le v o u o h o m e m a
)~ ,v e r no m undo d o is J ;llu n d o s h e te ro g é iiê o s e in c o m p a rá -
\\ ~ ~ v e is , q u a n d o nada n a e x p e d e n c I .a s e n s ív e l p a re c ia dever
lje ,h - I h e a id é ia d e u m a d .! ! J ! .liã â d et ã o r n d ic a 1 .J

IV

E n tre ta n to , e s s a d e fin iç ã o nã~é a in d a c o m p le ta , p o is


~ u a lm e n te _ a duas o rd e n s d e -fa to s que, e m b o ra
ª ,p ~ ~ d o s e ~ t~ : s i, p ~ s : ! r ª - t a .: s e d
a g Ia e a a re h g Ia !J~ -- - - - - - - . . : c'". \ I I
T ã m o e - 'a ma ia é fe ita d e c re n a s e d e rito s A s s im ,I) 1'0[(
com o a re lig ia o , ~ e .u s m i t Q .L ~ s - d Q § f l 1 a s ) e le s s ã o fIV " " ,
ri
apenas m a is ru d im e n ta re s , c e rta m e n te p o rq u e , buscando
I\ r'
fin s té c n ic o s e u tilitá rio s a a g ia não p e rd e seu te m p o
Y li 'uJ{
com e s p e c u la ç õ e s . E la te m i. u a lm e n te suas c e rim õ n ia s ,
s ~ u s s a c rifíc io s ,
't o ~ ~ ç a s .
'Ç ã s q ~ ã O
suas p u ri ic a ç õ e s ;
O s se re s
são apenas
que
suas
o -m á g Ic o
da m esm a
p re c e s, ~-
in v o c a ,
n a tu re z a
a s fo r-
9 .,u e
.'
~ f o r ç a s e o s s e r e s a o s q u a i .§ s e d I r í ~ a re lIg iã o ; c o m m u i-
t a .f r e q ü ê n c í a , são e x a ta m e n te o s m e ~ Ã s s im , desde
a s s o c ie d a d e s m a is in fe rio re s , a s a lm a s dos m o rto s são
c o is a s e s s e n c ia lm e n te sa g ra d a s e são o b je to d e rito s re li-
~. A o m esm o te m p o , p o ré m , e la s je s e m p e n h a ra m
n a m a g ia } lm p a p e l c o n s id ~ T a n to n a A u s trá lia 50 co-
- , 'f i 1 õ l 1 ã M ê í a i 1 e s I a 5 1 , ta n to n a G ré c ia com o nos povos c ris -
~!, a ? a Im a s dos m o r t o s ,S U ; ; ; s ossadas, seus c a b e lo s ,
e s tã o
-, - e n t r ê O S m t e f i i .1 e 'é I I T r i o s m u i t a s
- - '- - ~ -
vezes u tiliz a d o s p e lo
AS FORM AS ELEM ENTARES DA V ID A R E L IG IO S A Q U E S T Õ E S P R E L IM IN A R E S 29
\t,---,
rSi
28
I, I~
X'' '11' "r ~ ~ n ç a sll2 !Q ,P ...ria m e n te re lig i~ !.o se m p re c o - u m a m e sm a v id a , N ã o existe ig rei!!:.m á g ica . E n tre o m á g i-
,',f U II} ;l SO e tiv id a d e

,\\~
\I
l ,;'
I"

J.~
~ d e te rm in a d a , q u e d e c la ra a d e rir
a e la s e 1 2 .r~ ic a r o s rito s q u e lh e s sã o so IIa á rio s. T a is c re n :
ç a s n ã o sã o a p e n a s a d m itid a s, a títu lo in d iv id u a l, p o r to -
c o e o s in d iv íd u o s q u e o c o n sU lta m , c o m o ta m b é m e n tr
e sse s in d iv íd u o s, n ã o h á v ín s:.!!.lo sd u rá v e is q u e fa ç a m d e -
le s o s m e m b ro s d e u m m e sm o ç o rp o m o ra l, c o m p a rá v e l
,1
1 \1 \ d o s o s m e m b ro s d e ssa c o le tiv id a d e , m a s sã o p ró p ria s d o à q u e le fo rm a d o p e lo s fié is d e u m m e sm o d e u s," p e lo s p ra -
" 1\ g ru p o e fa z e m su a u n id a d e . O ~ in d iy íd l,l.Q 2 ..9 .u e c o m p õ e m tic a n te s d e u m m e sm o c u lto . O m á g ic o t~ m u m a c lie n te la ,
,\t .~ c o le 'i.v id ~ d e se I!!:,e m -= s~lig a d o s u n s a Q i-Q W jQ s P"?1"0 '011 n ã o u m a ígreja, ,e se u s c lie n té sp o d e m p e rfe ita m e n te não
,\\ sim flk '} s.fa tQ ~ d e ...te .[e U L u mféª c o m u m . U m a so c ie d a d e c u jo s> J \O~ m a n te r e n tre 'sh 1 e p h u m ré lâ c lô iiâ m e n to , a o .p o n to d ê sé .:
m e m b ro s e stã o u n id o s p o r se re p re se n ta re m d a m e sm a OQ Iv J ig n o ra re m U l} S a o s o u tro s.im esiiio a s re la ç õ e s q u e e sta b e ~
r~ &Q ./
m a n e ira o m u n d o sa g ra d o e p o r tra d u z ire m

~ m a m o s u m a ~ O ra , n ã o e n c o n tra m o s,~
e ssa re p re -
se n ta ç ã o c o m u m e m p rá tic a s id ê n tic a s, é isso a q u e c h a -)I'
h istó ria , ~ - r:
\ff le c e m c o m o m á g ic o sã o ,~ rri..:g e ra l,a c id e n ta is e p a ssa g e i-
]:a .§ i são e m tu a o se m e lfia n te s à s d e u rrl"C Iõ e n te c o m se u
~. O c a rá te r o fic ia l e p ú b lic o c o m q u e à s v e z e s e le é
Jig i~ 9se m ig re ja . A s v e z e s a ig re ja é e strita m e n te n a c io n a l,) in v e stid o n ã o m o d ific a e m n a d a a situ a ç ã o ; o fa to d e
\~ o u tra s v e z e s e ste n d e -se p a ra a lé m d a s fro n te ira s; o ra e x e rc e r su a fu n ç ã o a b e rta m e n te n ã o o u n e d ê m a n e Ira
a b ra n g e u m p o v o in te iro (R o m a , A te n a s, o p o v o h e b re u ), E 1 á is ;!.g y la r ~ d u rá v e l a o s...sL ';!,e
re c o rre m - a se u s se rv iç ;s;
o ra c o m p re e n d e a p e n a s u m a d e su a s fra ç õ e s (a s so c ie d a - E v e rd a d e q u e , ~ m c ~ rto s c a so ~ Q S m á g ic o s f~
d e s c ristã s d e sd e o a d v e n to d o p ro te sta n tism o ); o ra é d iri- e n tre si so c ie d a d e s: a c o n te c e d e se re u n ire m m a is o u m e -
\ g id a p o r u m c o rp o d e sa c e rd o te s, o ra f= m a is o u m e n o s -fio s p e río a ic a m e n te p a ra c e le b ra re m e m c o m u m c e rto s rio .
'- ) d e sp ro v id a d e q u a lq u e r ó rg ã o d irig e n te o fícialv . M a s, o n - !Q §; c o n h e c e m o s o lu g a r q u e o c u p a m a s re u n iõ e s (fê re iti~
t
''I d e q u e r q p e o ~ ~ rv e m Q s u m a v id a re lig !Q § a , e la te m p o r c e ira s n o fo lc lo re e u ro p e u .-M a s, a n te s d e m a is n a d a , n o -
s~ ~ ru o d e fin id 0 M e sm o o s c u lto s d ito s p riv a - ta r-se -á q u e ta is ,+ sso c ia ç õ ~ s'd e m o d o n e n h u m sã o in d is-
d o s, c o m o o c u lto d o m é stic o o u o c u lto c o rp o ra tiv o , sa tis- e n sª,v e is a o fu n c io n a m e n to d ~ a g ía ; sã o in c lu S IV e ra ra s
fa z e m e ssa c o n d iç ã o , p o is sã o se m p re c e le b ra d o s por e b a sta n te e x c e p c io n a ís.j O m á g ic o n ã o te m ã m e riO r ile :
u m a c o le tiv id a d e - a fa m ília o u a co rp o ração . A liá s, a ssim c e ssic Ia d e , p a ra p ra tic a r su a a rte , d e u n ir-se a se u s c o n fra -
c o m o e ssa s re lig iõ e s p a rtic u la re s sã o , n a m a io ria d a s v e - d e s. E le é so b re tu d o u m iso la ç lo ; e m g e ra l, lo n g e d e b u s-
z e s, a p e n a s fo rm a s e sp e c ia is d e u m a re lig iã o m a is g e ra l _ c a r a so c ié d a d e , a e v it~ M e s~ o e m re la ç ã o -a se u s c o le - OU dl~~j'
q u e a b a rc a a to ta lid a d e d a v id a 59 , e ssa s ig re ja s re strita s, n a g a s, c o n se rv a se m p re u m a a titu d e re !')e rv a d a ."6 1 A o c o n triq 1),.v!1...,
Lj"/J\çj)':>
re a lid a d e , n ã o sã o m a is q u e c a p e la s d e u m a ig re ja m a is rio , a re lig iã o é ín se a rá v e l d a id é ia d e i re · . 0 5 e sse
v a sta , a q u a l,_ p .o .r~ m e sm a , m e re c e p rim e Iro a sp e c to , já e x iste e n tre â ~ m á g ia e re lig iã o u m a
â

a in d a m a i[se r c h a m a d a p o r ..e sse n o m e 6 0 . d ife re n ç a essen cíal.iálém d o m a is, e so b re tu d o , e ssa s so -


A lg o b e m d ife re n te se d á c o m a m a g ia . C la ro q u e a s c ie d a d e s m á g ic a s, q u a n d o se formam,' ja m a is c o m p re e n -
c re n ç a s m á g ic a s ja m a is d e ix a ~ d e te r a lg u m a g e n e ra lid a - d e m , m u ito p e lo c o n trá rio ; to d o s o s a d e p to s d a ~ ,
d e ; c o m fre q ü ê n c ia e stã o d ífu sas e m la rg a s c a m a d a s d e m a s a p e n a s o s m á g ic o s; o s le ig o s, se é p o ssív e l c h a m á -l o s
p o p u la ç ã o e h á in c lu siv e m u ito s p o v o s e m q u e se u n ú - a ssim , o u se ja , a ..Q u d e s e m p ro ~ ito d o s g .Q a is o s rito s sã o
m e ro d e p ra tic a n te s n ã o é m e n o r q u e o d a re lig iã o p ro - c e le b ra d o s, a q u e le s, e m su m a , g ~ ~ re se n ta m o s fié is
p ria m e n te d ita . M a s e la s n ã o tê m p o r e fe ito lig a r u n s a o s ~ e g u la re ~ , sã o e x c lu íd o s d e sse s e n c o n tro s. O ra ,
o u tro s se u s a d e p to s e u n i-lo s n u m m e sm o g ru p o , v iv e n d o A <? m á g ic o e stá 1 2 a ra .JL IT l.flg iaassim c o m o o sa c e rd o te p a ra
30 QUESTÕES PRELIMINARES
AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSAnmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 31

a re lig iã o , e u m c o lé g io d e s a c e rd o te s n ã o é u m a ig re ja , ro d e re lig iõ e s a m e ric a n a s , a s s im c o m o d a re lig iã o rorna-


com o ta m p o u c o o s e ria u m a c o n g re g a ç ã o re lig io s a que na C P afa c ita r a p e n a s d o is e x e m p lõ s T ;- p o is e la é , c o .!!2 Q ..
p re s ta s s e a a lg u m s a n to , n a s o m b ra d o c la u s tro , u m c u lto v e re m o s m a is a d ia n te , e s tre ita m e n te s o lid á ria à id é ia d e
p a rtic u la r. U m a ig re ja n ã o é s im p le s m e n te u m a c o n fra ria ~e a jd ~ ia - d e a lm a n ã o é .s i.J lSq u e p o s S ã m s e r in te ira -
s a c e rd o ta l.ê a c o m u n id ª-d e m o ra l fo rm a d a p o r to d o s os m e n te abandonadas ~ _ a rQ illio d o s 1 2 a rtic u la re s ) E m u m a
c re n te s d e u m a m e s m a fé " ta n to o s fié is c o m o o s s a c e rd o - p a la v ra , é a ig re ja d a q u a l e te é m e m b ro Q u e e n s in a a o in -
te s . U m a s O C lJ d a ç e d e s s e g ê n e ro n o rm a lm e n te não se ve- d iv íd u o oque S ã o _ e .s 5 _ e d
s e1Js~ p e s s o a is , qual é seu pa-
rific a n a m a g fê ~ d ~ q ~ a n e ira d e v e e n tra r ~ to c o m e le s ) d e
M a s , s e in tro d u z im o s a noção d e ig re ja n a d e fin iç ã o q u e m a n e ira d e v e h o n @ -lo s ~ Q u a n d o a n a lis a m o s m e to d i-
d e re lig iã o , n ã o e s ta re m o s e x c lu in d o d e la , a o m e s m o te m - c a m e n te a s d o u trin a s d e s s a ig re lã . s e ja u a l fo r, s u r e u m
p o , a s re lig iõ e s in d iv id u a is q u e o in d iv íd u o in s titu i p a ra s i m o m e n to e m C lu e é 1 1 fo n tr_ a m o s~ o J ~ ille to a g u e -ª,s _ q u e A .iJ
m e s m o ' e c e le b ra p o r c o n ta p ró p ria ? O ra , h á p o u c a s s o c ie - ~ re s p e fto a o s c (flro s e s p e c iã iS ) P o rta n to , n ã o te m o s a í
d a d e s e m q u e e s ta s n ã o o c o rra m ~ d a O jib ~ , c o m o V ;= - 'tia s re lig iõ e s d e tip o s d IT e ie O te s e v o lta d a s e m s e n tid o s
re m o s m a is a d ia n te , te m s e u rnanitú p e s s o a q u e e le p ró - o p o s to s , m a s s im , d e a m b o s o s la d o s , a s m e s m a s id é ia s e
p rio e s c o lh e e a o q u a l p re s ta d e v e re s re lig io s o s p a rtic u la - o s m e s m o s J 2 rin c íp io s J a p lic a d o s a q u i à s c irc u n s tâ n c ia s
re s ; o m e la n é s io n a s ilh a s B a n k s te m s e u tamantu/s, o ro - u e in te re s s a m à c c le tiv id a q ~ e m s e u c o n ju n to , a li, à v id a
m ano te m s e u geniusr-; o c ris tã o , s e u s a n to p a d ro e iro e d o in d iv íd u o . .á .Q lid a rie d a g e J é in c lu s iv e tã o e s tre ita g g e ,
s e u a n jo d a g u a rd a , e tc . T o d o s e s s e s c u lto s p a re c e m , por e m a lg u n s p o v o s 66 , a s c e rim ô n ia s a tra v é s d a s q u a is o fie l
d e fin iç ã o , in d e p e n d e n te s d a id ~ ia d e g ru p _ o . E e s s a s re li- e n tra p e la p rim e ira v e z e m c o m u n ic a ç ã o c o m s e u g ê n io
g iõ e s in d iv id u a is n ã o a p e n a s s ã o m u ito fre q ü e n te s n a h is - p ro te to r s e m is tu ra m a rito s d e c a rá te r p ú b lic o in c o n te s tá -
tó ria : a lg u n s s e p e rg u n ta m h o je s e e la s n ã o e s tã o d e s tin a - v e l, a s a b e r, 9 s rito s d e in ic ia ç ã o 67.
d a s a s e to m a r a fo rm a e m in e n te d a v id a re lig io s a e s e n ã o R e s ta m a s a s p ira ç õ e s c o n te m p o râ n e a s a u m a re lig iã o
c h e g a rá o d ia e m q u e n ã o h a v e rá o u tro c u lto s e n ã o ' a q u e le q u e c o n s is tiria in te ira m e n te e m e s ta d o s in te rio re s e s u b je -
q u e c a d a u m c e le b ra rá liv re m e n te e m s e u fo ro in te rio r= . tiv o s , e q u e s e ria liv re m e n te c o n s tru íd a por cada um de
M a s , d e ix a n d o p ro v is o ria m e n te d e la d o e s s a s e s p e c u la - n ó s . M a s , p o r m a is re a is q u e s e ja m , e la s n ã o p o d e ria m
ç õ e s s o b re o fu tu ro , s e n o s lim ita rm o s a c o n s id e ra r a s re li- a fe ta r n o s s a -d e fin iç ã o , p o is e s ta s ó p o d e a p lic a r-s e a fa to s
iõ e s ta is c o m o s ã o n o p re s e n te e ta is c o m o fo ra m no' c o n h e c id o s e 're a liz a d o s , n ã o a v irtu a lid a d e s in c e rta s . P o -
p .a s .s ~ a p a re c e c o m e v id ê n c ia que~ c u lto s in d iv i- d e m o s d e fin ir a s re lig iõ e s ta is c o m o s ã o o u ta is c o m o fo -
d u a is c o n s titu e m , n ã o s is te m a s re lig io s o s d is tin to s e a u tô - ra m , n ã o ta is c o m o te n d e m m a is o u m e n o s v a g a m e n te a

"""'-_
'2 Q !!!9 s , m a s s im p le s a s p e c to s d a re lig iã o com um a to d a s e r. É p o s s ív e l q u e e s s e in d iv id u a lis m o re lig io s o s e ja d e s -
ig re ja d a q u a l o s in d iv íd u o s fa z e m p a rte .{ o s a n to p a d ro e i- tin a d o a tra d u z u -s e n o s fa ~ m a s , p a ra p o d e r d iz e r e m .
ro d o s c rts fã o s e e s c o lh id o n a lis ta o fic ia d o s s a n to s re c o - q u~e m e d id a , s .e tla )2 re c is o já s a b e r o q u e é a re l~ g iã o ,~ _
n h e c id o s p e la ig re ja c a tó lic a , e s ã o ig u a lm e n te re g ra s c a - q u e e le m e n to s fe ita , d e q u e c a u s ã S T e S ü :lta , q u e fu n ç ã o >
é

n ô n ic a s q u e p re s c re v e m d e q u e m a n e ira c a d a fie l d e v e -re e n c h e ; q u e s tõ e s to d a s e s s a s cuja so lu ç ã ô " não s e p o d e


c u m p rir e s s e c u lto p a rtic u la r. D o m e s m o m o d o , a id é ia d e p re ju lg a r e n q u a n to não s e tiv e r u ltra p a s s a d o 'o lim ia r d a
que cada hom em te m n e c e s s a ria m e n te um ê n ià ro te to r p e s q u is a . É s o m e n te ao cabo desse e s tu d o q u e p o d e re -
núme- m o s tra ta r d e a n te c ip a r o fu tu ro .
-e s-tá , s o b fo rm a s 1 e re n te s , n a b a s e d e u m g ra n d e
-,
32WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
AS FORM AS ELEM ENTARES DA V ID A R E L IG IO S A baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C hegam os, p o is , à s e g u in te d e fin iç ã o : u m a . . ! § . l i g i ã o§ . C A P ÍT U L O II

.-J :!:!!! s is te m a s o lid á r iQ d e c r e r J : .~ !,d e J 2 I{ ttic a s r e la ~ AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES


c o ~ r a d a s ,_ is to é ,
p~q11e
s _ e p a fa d a s , p r o ib id a s ,
r e ú n e m n u m a m e s m a c o m jtn L d ~ l,
crenças e
DA RELIGIÃO ELEMENTAR
c h a m a d a - . i g ! $ . . a , t o d o s a q , u e l e s Ç J . u ea e l a s Ç l d e r e m ) 0 se-
gundo e le m e n to que p a rtic ip a a s s im de nossa C le fin iç ã o
não é m enos e s s e n c ia l que o p rim e iro , p o is , ao m o s tra r
que a i d é i a 'ü e ; : t ~ 1 i g i i l 0 - € " , ! f i s @ j 9 a r á : v e ld a i d é i a d e ig ~ j< !:z e le
fa z p re s s e n tir que a re lig iã o d e v ~ -~ ~ r_ u m a c o ís a -e m ín e n te -
: m € H 'l t a c o l e t í v a 6 _ 8 .

I- O animismo

M u n id o s dessa d e fin iç ã o , podem os s a ir em busca da


re lig iã o e le m e n ta r que nos p ro p o m o s a lc a n ç a r.

A s re lig iõ e s , m esm o a s m a is g ro s s e ira s que a h is tó ria


e a e tn o g ra fia nos fa z e m c o n h e c e r, já s ã o de um a c o m p le -
x id a d e que s e a ju s ta m al à id é ia que a lg u m a s vezes se fa z
da m e n ta lid a d e p rim itiv a . N e la s e n c o n tra m o s não apenas
um s is te m a c e rra d o de c re n ç a s e de rito s , m as in c lu s iv e
ta l p lu ra lid a d e de p rin c íp io s d ife re n te s , ta l riq u e z a de no-
ções e s s e n c ia is , que p a re c e u im p o s s ív e l p e rc e b e r n e la s
o u tra c o is a que o p ro d u to ta rd io de um a e v o lu ç ã o b a s ta n -
te lo n g a . D onde se c o n c lu iu que, p a ra d e s c o b rir a fo rm a
re a lm e n te o rig in a l d a v id a re lig io s a , e ra n e c e s s á rio d e sc e r,
a tra v é s da a n á lis e , m a is a b a ix o dessas re lig iõ e s o b se rv á -
v e is , d e c o m p ô -Ia s em seus e le m e n to s com uns e fu n d a -
m e n ta is , p a ra d e s c o b rir s e , e n tre e s te s ú ltim o s , h a v e ria a l-
gum do qual o s o u tro s d e riv a ra m .
A o p ro b le m a a s s im c o lo c a d o , duas s o lu ç õ e s c o n trá ria s
fo ra m p ro p o s ta s .

Você também pode gostar