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Herança grega
Se conseguimos compreender a importância da herança grega para nossa civilização contemporânea - que está
cerca de 3000 anos distante dela - não é difícil imaginar a influência que os gregos exerceram nas civilizações
que lhes eram mais próximas em termos temporais. É o caso dos romanos, por exemplo, que dominaram a
Grécia política e militarmente. No entanto, culturalmente, adaptaram-se aos modelos gregos.
Mas podemos ir mais além. Se o fim do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., representa o fim da
influência greco-romana nos padrões culturais do mundo ocidental, que passou a ser modelado pelo
cristianismo, por outro lado, a cultura e a mitologia greco-romana são retomadas ao fim da Idade Média no
período que ficou conhecido como Renascimento, bem como no século 18, quando se desenvolve um
movimento cultural conhecido como Neoclassicismo.
Religião e arte
Por outro lado, é importante deixar claro que a mitologia grega ou greco-romana, em suas origens mais
remotas está ligada a uma visão de mundo de caráter religioso. Ao contrário, à medida que avançamos no
tempo em direção aos nossos dias, a mitologia vai se esvaziando do significado religioso e ganhando,
principalmente, um caráter artístico. Em outras palavras, no século 15, ao retratar uma deusa greco-romana
como Vênus, o pintor Sandro Botticelli não a encarava como uma entidade religiosa, mas como um ideal
estético de beleza.
Na verdade, mesmo em termos de Antigüidade, é muito difícil fazer uma separação entre mitologia e arte. A
arte da Grécia antiga, por exemplo, trata essencialmente de temas mitológicos. E foi através da arte que
tomamos contato com a mitologia grega: além de uma grande quantidade de templos (arquitetura), de
esculturas, baixo-relevos e pinturas, a literatura grega é a principal fonte que temos dessa mitologia. Em
especial, podemos destacar a obra de Homero, a "Ilíada" e a "Odisséia", que datam provavelmente do século 9
a.C., e a de Hesíodo, "Teogonia", escrita possivelmente no século seguinte.
Homero e Hesíodo
Essas três obras podem ser consideradas as fontes básicas para o conhecimento da mitologia grega. A
"Teogonia" narra a origem dos deuses (Theos, em grego, significa deus). Já a "Ilíada" e a "Odisséia" tratam de
aventuras de heróis, respectivamente Aquiles e Odisseu, embora a participação dos deuses em ambas as
narrativas sejam fundamentais. No entanto, além delas existem ainda muitas outras obras antigas que têm
como personagens entidades mitológicas - sejam deuses, semi-deuses ou heróis.
Entre elas, merecem destaque as tragédias (obras teatrais) de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, pois através delas
conseguimos perceber com maior facilidade o significado simbólico que os mitos têm para a própria existência
humana. Por meio delas, talvez se evidencie mais o significado que os mitos têm em termos psicológicos, que
acabaram levando psiquiatras como Sigmund Freud e Carl Jung a analisar o significado dos mitos.
Vamos deixar de lado, porém, o significado ou os significados dos mitos. Tudo o que se disse até agora teve
como exclusiva função apresentar o contexto que envolve os mitos apenas para podermos apresentar a você,
leitor, os próprios mitos, ou melhor, pelo menos alguns deles.