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E ROMANA
As Origens
O Caos
O estado primordial, primitivo do mundo é o Caos.
Era, segundo os poetas, uma matéria que existia desde toda
a eternidade, sob uma forma vaga, indefinível, indescritível,
em que os princípios de todos os seres particulares estavam
confundidos. O Caos era, ao mesmo tempo, uma divindade
por assim dizer rudimentar, mas capaz de fecundidade. Ele
gerou a Noite e, mais tarde, Érebo.
A Noite
Deusa das trevas, filha do Caos, a Noite é a mais anti-
ga das divindades. Certos poetas fazem-na filha do Céu e
da Terra; Hesíodo qualifica-a como um dos Titãs e designa-
a mãe dos deuses, porque sempre se acreditou que a noite
e as trevas haviam precedido todas as coisas. Ela desposou
Érebo, seu irmão, de quem teve o Éter e o Dia. Mas havia
gerado sozinha, sem comércio com nenhuma divindade, o
inelutável e inflexível Destino, a Parca negra, a Morte, o
Sono, a turba dos Sonhos, Momo, a Miséria, as Hespérides,
guardiãs dos pomos de ouro, as implacáveis Parcas, a terrí-
vel Nêmesis, a Fraude, a Concupiscência, a triste Velhice e
a obstinada Discórdia. Numa palavra, tudo o que há de
importuno na vida era tido como uma produção da Noite.
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As Origens
Érebo
Filho do Caos, irmão e esposo da Noite, pai do Éter e
do Dia, Érebo foi metamorfoseado em rio e precipitado no
Inferno por ter socorrido os Titãs. Também se toma por
uma parte do Inferno e pelo próprio Inferno.
Pela palavra Éter, os gregos entendiam o Céu, distinto
dos corpos luminosos. Sendo dia feminino em grego (He-
merá), dizia-se que Éter e Dia foram o pai e a mãe do Céu.
Essas estranhas uniões significam apenas que a Noite exis-
tia antes da criação, que a Terra estava perdida na escuridão
que a cobria, mas que a luz, varando o Éter, havia ilumina-
do o universo.
Em linguagem menos mitológica, podemos simples-
mente dizer que a Noite e o Caos precederam a criação dos
céus e da luz.
Eros e Anteros
Caos, a Noite e Érebo só puderam se unir e procriar
pela intervenção de uma força divina, eterna como os ele-
mentos do próprio Caos, pela intervenção manifesta de um
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Mitologia Grega e Romana
O Destino
O Destino é uma divindade cega, inexorável, oriunda
da Noite e do Caos. Todas as outras divindades lhe eram
submetidas. O céu, a terra, o mar e o inferno estavam sob
seu império; nada era capaz de mudar o que ele havia deci-
dido; numa palavra, o Destino era, ele próprio, essa fatali-
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Telus
Telus, deusa da terra, muitas vezes tomada pela pró-
pria Terra, é chamada pelos poetas de Mãe de todos os
deuses. Ela representa o solo fértil e também o fundamen-
to sobre o qual repousam os elementos que geram-se uns
aos outros. Faziam-na mulher do Sol ou do Céu, porque é
a ambos que deve sua fertilidade. Representavam-na como
uma mulher corpulenta com muitas mamas. Como a Terra,
costuma ser confundida com Cibele. Antes de Apolo tomar
posse do oráculo de Delfos, era Telus que aí proferia seus
oráculos. Ela própria os pronunciava; mas em tudo estava
de parceria com Netuno. Na sequência, Telus cedeu todos
os seus direitos a Têmis e esta a Apolo.
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.As Origens
Titéia
Titéia, ou ainda a antiga Vesta, mulher de Urano, foi a
mãe dos Titãs, nome que significa filho de Titéia ou da Terra.
Além de Titã propriamente dito, Saturno e Oceano, ela teve
por filhos Hipérion, Jápeto, Tia, Réia ou Cibele, Têmis, Mne-
mósine, Febe, Tétis, Brontes, Estérope, Argeu, Coto, Briareu,
Giges. Também teve do Tártaro o gigante Tífon, que se dis-
tinguiu na guerra contra os deuses.
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Réia, ou Cibele
Apesar de ser pai dos principais deuses - Júpiter, Ne-
tuno e Plutão - , Saturno não teve dos poetas o título de pai
dos deuses, talvez por causa da crueldade que exerceu
sobre seus filhos, ao passo que Réia, sua esposa, era cha-
mada mãe dos deuses, a Grande Mãe, e era honrada sob es-
se nome.
Os diferentes nomes pelos quais se designa a mãe de
Júpiter exprimiam, sem dúvida, atributos diferentes da mes-
ma pessoa. Na realidade, essa deusa, qualquer que seja o
nome pelo qual a designem, é sempre a Terra, mãe comum
de todos os seres. Réia, ou Cibele, era filha de Titéia e do Céu,
irmã dos Titãs, mulher de Saturno.
As fábulas de Réia e de Cibele se confundem. Nos poe-
tas, há com frequência até mesmo uma confusão entre es-
sas duas deusas e a antiga Vesta, mulher de Urano. No en-
tanto, é o nome de Cibele que, nas cerimonias do culto e
nas crenças religiosas dos povos, parece ter sido o mais ge-
ralmente eleito. Eis o que se contava de Cibele.
Filha do Céu e da Terra e, mais tarde, a própria Terra,
Cibele, mulher de Saturno, era cognominada a Boa Deusa,
a Mãe dos deuses, por ser mãe de Júpiter, Juno, Netuno,
Plutão e da maioria dos deuses de primeira ordem. Logo
depois do seu nascimento, sua mãe a expôs numa floresta,
onde os animais selvagens cuidaram dela e alimentaram-
na. Apaixonou-se por Átis, jovem e belo frígio a quem con-
fiou seu culto, contanto que ele não violasse seu voto de
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Réia ou Cibele.
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Ops
Op s, a mesma que Cibele e Réia, o u aind a a Terra, é
representada como uma venerável matrona que estende a
mão direita para oferecer seu socorro e que, com a esquer-
da, dá pão ao pobre. Também era vista como a deusa das
riquezas. Seu nome significa socorro, ajuda, assistência.
Não há por que espantar-se com ver a Terra personifi-
cada com tanta frequência sob denominações diferentes.
Fonte inesgotável de riquezas, mãe fecunda de todos os
bens, ela se oferecia à adoração dos povos sob aspectos di-
ferentes, conforme o clima ou a região. Daí suas múltiplas
lendas e seus incontáveis atributos.
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Minerva.
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seminu. Primitivamente elas cortavam os cabelos, porém,
mais tarde, passaram a ter cabelos compridos. Quando o
luxo se propagou em Roma, foram vistas passeando em
suntuosa liteira e até num carro magnífico, com numeroso
séquito de mulheres e escravos.
Latona
Filha do titã Céu, segundo Hesíodo, filha de Saturno,
segundo Homero, foi amada por Júpiter. Com ciúme da
rival, Juno fez a serpente Píton persegui-la e a Terra prome-
ter não lhe dar refúgio nenhum. A ponto de dar à luz, per-
corria o mundo em busca de um asilo. Netuno teve dó da
sua sorte e, com um golpe de seu tridente, fez sair do mar a
ilha de Delos. Momentaneamente transformada em codorna
por Júpiter, Latona refugia-se nessa ilha, onde põe no mundo
Apolo e Diana, à sombra de uma oliveira ou de uma palmei-
ra. A ilha de Delos, a princípio flutuante, foi fixada mais
tarde por Apolo no meio das Cíclades, sendo estas, por as-
sim dizer, arrumadas em círculo em torno dela.
Latona era venerada em particular em Delos e Argos.
Assim como Juno ou Lucina, ela presidia ao nascimento
dos homens, e as mães, em suas angústias e sofrimentos,
lhe dirigiam invocações.
Apolo, ou Febo
(Em grego, os nomes Phoibos e Apollon por vezes são reu-
nidos.)
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vemo-lo com a metade do rosto clara e a outra negra e
sombria, o que indica que ora está no céu ou na terra, ora
no inferno, para onde conduz as almas dos mortos.
Quando era representado com uma longa barba e uma
figura de ancião, prestavam-lhe um manto que caía até os
pés.
Mercúrio, dizem, é pai do deus Pã, fruto de seus amores
co m Penélope. Mas Penélo pe não foi a única mortal o u deusa
honrada com seus favores. Houve também Acacális, filha de
Minos, Herse, filha de Cécrope, Eupolêmia, filha de Mirmidão,
que lhe deu vários filhos, Antianira, mãe de Equíon, Prosér-
pina e a ninfa Lara, de quem teve os deuses Lares.
Como Hermes era o nome grego de Mercúrio, chama-
vam-se por esse nome certas estátuas feitas de mármore e,
às vezes, de bronze, sem braços nem pés. Os atenienses, e
a seu exemplo, os outros povos da Grécia e inclusive, mais
tarde, os romanos, colocavam hermes nos cruzamentos das
cidades e das grandes estradas, porque Mercúrio presidia às
viagens e aos caminhos. Comumente, o hermes não é mais
que uma pilastra encimada por uma cabeça; se tem duas ca-
beças, é sempre a de Mercúrio reunida à de uma outra di-
vindade.
Quarta-feira é o dia da semana a ele consagrado (Mer-
curii dies).
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Marte repousando.
Estátua da vila Ludovisi, provável
imitação da obra de Escopas de Paros.
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do da festa do deus, os Sálios, levando os escudos e trajando
uma túnica de púrpura, percorriam a cidade dançando e
pulando.
Seu chefe caminhava à frente, começava a dança e os
demais imitavam seus passos. Essa procissão soleníssima
terminava no templo do deus com um suntuoso e delicado
banquete. Entre os numerosos templos que Marte tinha em
Ro ma, o mais célebre fo i o que A ugusto d ed ico u-lhe, sob o
nome de Marte Vingador.
Ofereciam-lhe como vítimas o touro, o leitão, o carnei-
ro e, mais raramente, o cavalo. O galo e o abutre lhe eram
consagrados. As damas romanas lhe sacrificavam um galo
no primeiro dia do mês que leva seu nome e foi nesse mês
que o ano romano começou até o tempo de Júlio César.
Os antigos sabinos adoravam-no sob a efígie de uma
lança (quiris), donde o nome Quirinus dado a seu filho Ró-
mulo e o de Quirites empregado para designar os cidadãos
romanos.
Havia em Roma uma fonte venerada e especialmente
consagrada a Marte. Nero banhou-se nela. Esse desprezo
pelas crenças populares apenas aumentou a aversão que o
povo sentia por esse tirano. A partir desse dia, como sua
saúde tornou-se débil, não se duvidou de que seu sacrilé-
gio atraíra sobre ele a vingança dos deuses.
Os monumentos antigos representam o deus Marte de
uma maneira bastante uniforme, na figura de um homem
com capacete, lança e escudo; ora nu, ora em traje de guer-
ra, mesmo com um manto nos ombros. Em alguns aparece
com barba, mas quase sempre é imberbe e às vezes traz na
mão o bastão de comando. Em seu peito distingue-se a égi-
de com a cabeça de Medusa. Ora está montado em seu car-
ro puxado por cavalos fogosos, ora está a pé, sempre numa
atitude guerreira. Seu epíteto Gravidus significa: "aquele que
avança a passos largos".
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bastão ou num tirso, espécie de longo dardo. É facilmente
reconhecível por sua coroa de hera, pela taça que segura,
por seu ar jovial e até um pouco galhofeiro.
Apesar desse retrato tão pouco lisonjeiro, Sileno, quan-
do não estava ébrio, era um grande sábio, capaz de dar a
seu divino aluno lições de filosofia.
Numa égloga de Virgílio, os vapores do vinho não im-
pedem esse estranho ancião de expor sua doutrina sobre a
formação do mundo.
O séquito de Baco era numerosíssimo. Sem contar Si-
leno e as Bacantes, notavam-se nele ninfas, sátiros, pasto-
res, pastoras e até o deus Pã. Todos levavam o tirso enlaça-
do por folhagens, vides, coroas de hera, taças e cachos de
uva. Baco abre a marcha e todo o cortejo o segue, dando
gritos e soando ruidosos instrumentos musicais.
As Bacantes, ou Mênades, eram primitivamente as nin-
fas ou as mulheres que Baco levara consigo para conquis-
tar a índia. Mais tarde foram designadas por esse nome as
moças que, simulando um transporte báquico, celebravam
as Orgias, isto é, as festas de Baco, com atitudes, gritos e
pulos desordenados. Tinham olhos ferozes, a voz ameaça-
dora; suas cabeleiras esvoaçavam esparsas sobre seus om-
bros nus. Baco é representado comumente com chifres,
símbolo da força e do poder, coroado de pâmpano, hera ou
figueira, com traços de um homem jovem, sorridente e di-
vertido. Traz numa das mãos um cacho de uvas ou um chi-
fre em forma de taça; na outra, um tirso cheio de folhagens
e fitas. Tem olhos negros e caem sobre seus ombros os lon-
gos cabelos louros com reflexos dourados. Na maioria das
vezes é imberbe, sendo a sua juventude eterna como a de
Apolo. Veste um manto de púrpura.
Ora está sentado num tonel, ora montado num carro
puxado por tigres ou panteras, às vezes por centauros, uns
deles tocando lira, outros, flautas duplas. Nos monumentos
mais antigos, é representado com uma cabeça de touro; em
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as loucuras da embriaguez. Distinguiam-se as grandes e as
pequenas Dionisíacas; aquelas eram celebradas por volta
de fevereiro; estas, no outono. Por ocasião das Dionisíacas,
instituíam-se não só corridas, lutas, jogos, mas também con-
cursos de poesia e de representações dramáticas.
Em Roma, celebravam-se em homenagem a Baco ou
Líber festas ditas Liberais. Nessas festas, licenciosíssimas, as
senhoras romanas não se envergonhavam de dizer coisas
indecentes e de coroar as menos honestas representações
do deus. No ano 558 da fundação da cidade, o senado pro-
mulgou um decreto para remediar esse abuso, remédio ine-
ficaz, sendo os costumes ou os usos mais fortes que as leis.
Coisa notável, faziam-se a Baco, assim como a Mer-
cúrio, libações de vinho misturado com água, enquanto as
libações aos outros deuses se faziam com vinho puro.
O culto de Baco ou Dioniso foi introduzido bastante
tarde na religião grega. Pelo menos, é bem posterior ao dos
grandes deuses propriamente ditos; parece ter sido impor-
tado para a Grécia da Alta Ásia, ou, talvez, do Egito. Em
todo caso, se Baco apareceu tardiamente, nem por isso teve
menos adoradores.
Ele teve de Ariadne vários filhos: Cérano, Toas, Enópion,
Taurópolis etc, que são conhecidos apenas de nome.
Têmis
Têmis, filha do Céu e da Terra, ou de Urano e Titéia,
era irmã mais velha de Saturno e tia de Júpiter. A fábula diz
que ela queria guardar sua virgindade, mas que Júpiter for-
çou-a a casar-se com ele e que a fez mãe de três filhas, a
Equidade, a Lei e a Paz.
Dizem ainda ser Têmis mãe das Horas e das Parcas. No
Olimpo, essa deusa está sentada perto do trono de Júpiter;
ajuda o deus com seus conselhos, que são todos inspirados
na prudência e no amor à justiça. Preside ou assiste às deli-
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Cupido, ou Amor
Achamos conveniente explicar anteriormente o que os
gregos entendiam, num sentido bastante geral, pelas pala-
vras Eros e Anteros. Essas duas expressões assumiram, com
o tempo, um significado muito mais restrito, tanto na língua
comum como na língua poética. Eros acabou, pois, desig-
nando o "amor", com a acepção do termo latino equivalen-
te, amor. Seu composto, Anteros, teve por conseguinte não
só o sentido de contra-amor, mas também, e com maior
frequência, o de amor por amor.
Vénus, dizem os poetas, queixou-se a Têmis de que
Eros, seu filho, continuava criança, ao que a deusa consul-
tada respondeu que ele não cresceria enquanto ela não
tivesse outro. Então sua mãe lhe deu como irmão Anteros,
com quem começou a crescer. Por essa bonita ficção, os
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poetas quiseram dar a entender que o amor, para crescer,
precisa de contrapartida. Representava-se Anteros, bem co-
mo seu irmão, pela figura de uma criança com asas, uma
aljava, flechas e um talabarte.
O nome Cupido, em latim, implica a idéia de amor vio-
lento, de desejo amoroso, em grego Imeros. Contudo, na mito-
logia latina, presta-se a esse deus mais ou menos a mesma ori-
gem, a mesma história que ao deus grego Eros, amor.
Cupido, segundo a maioria dos poetas, nasceu de Mar-
te e Vénus. Assim que viu o dia, Júpiter, que entreviu em
sua fisionomia todas as perturbações que ele causaria, quis
obrigar Vénus a desfazer-se dele. Para furtar-se à cólera de
Júpiter, ela o escondeu nos bosques, onde mamou o leite
dos animais ferozes. Assim que foi capaz de manejar o ar-
co, fez um de freixo, empregou o cipreste para as flechas e
experimentou nos animais as flechadas que destinava aos
homens. Depois trocou seu arco e sua aljava por outros, de
ouro.
Cupido costuma ser representado como uma criança
de sete a oito anos, ar ocioso, mas maroto, armada de um
arco e uma aljava cheia de flechas ardentes, às vezes de
uma tocha acesa ou de um capacete e de uma lança; coroa-
do de rosas, emblema dos prazeres. Ora é cego, porque o
Amor não percebe defeitos no objeto amado; ora traz uma
rosa numa mão e um golfinho na outra. Às vezes, vemo-lo
entre Hércules e Mercúrio, símbolo do que podem, no amor,
o valor e a eloquência. Às vezes é situado perto da Fortuna,
que tem como ele uma venda nos olhos. É sempre pintado
com asas, e essas asas são de cor azul, púrpura e ouro.
Mostra-se no ar, no fogo, na terra e no mar. Conduz carros,
toca lira ou monta leões, panteras e, às vezes, um golfinho,
a fim de indicar que não há criatura que escape ao poder
do Amor.
Não é raro vê-lo representado junto de sua mãe, que
toca com ele, brinca com ele ou aperta-o ternamente con-
tra o coração.
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O Olimpo
íris
Filha de Taumas e Electra, íris era a mensageira dos
deuses e, sobretudo, de Juno, do mesmo modo que Mer-
cúrio era mensageiro de Júpiter. Como Taumas era filho da
Terra, íris, por sua origem, deve ser considerada como tão
antiga quanto os mais antigos deuses. Sempre sentada per-
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Mitologia Grega e Romana
Hebe e Ganimedes
Hebe era filha de Júpiter e Juno. Segundo alguns poetas,
somente Juno era sua mãe: ela a concebera espontaneamen-
te, comendo grande quantidade de alfaces selvagens num
banquete oferecido por Apolo. Encantado com a beleza da
filha, Júpiter nomeou-a deusa da juventude e confiou-lhe a
honrosa função de servir a bebida na mesa dos deuses. Um
dia, porém, ela deixou-se cair de uma maneira pouco decen-
te, e Júpiter tirou-lhe a função para dá-la a Ganimedes. No
entanto, Juno, sua mãe, manteve-a a seu serviço e confiou-lhe
a tarefa de atrelar seu carro. Mais tarde, havendo-se tornado
imortal e tomado lugar entre os deuses, Hércules desposou
Hebe no céu e teve dessa deusa uma filha, Alexíara, e um
filho, Aniceto. A pedido de Hércules, rejuvenesceu Iolau,
sobrinho e companheiro desse herói.
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Ganimedes e a águia.
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As Graças, ou Cárites
As Graças, ou Cárites, eram filhas de Júpiter e Eurínome
ou Eunômia; segundo outros, do Sol e Egle, ou de Júpiter e
Juno; ou, segundo a opinião mais comum, de Baco e Vé-
nus. A maioria dos poetas conta três Graças e chama-as Aglaia
(brilhante), Talia (verdejante) e Eufrosine (alegria da alma).
Companheiras de Vénus, a deusa da beleza lhes devia o
encanto e a atração que garantem seu triunfo. Seu poder se
estendia a todas as boas coisas da vida. Elas dispensavam aos
homens não só a graça, a alegria, a constância de humor e
a facilidade dos modos, mas também a liberalidade, a elo-
quência e a sabedoria. Sua mais bela prerrogativa era presi-
dir aos benefícios e ao reconhecimento.
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As Musas
As Musas eram filhas de Júpiter e Mnemósine, ou Me-
mória. Do mesmo modo que as Graças, têm seu lugar no
Olimpo, nas reuniões, nos banquetes, concertos, divertimen-
tos dos deuses. Todas são jovens, igualmente belas, embo-
ra diferentes em seu género de beleza. Segundo Hesíodo,
são em número de nove e, tanto na Terra como no Olimpo,
cada uma tem suas atribuições, que, se não são distintas,
pelo menos são determinadas:
Clio, nome formado de uma palavra grega que signifi-
ca glória, renome, era a musa da História. É representada
pela figura de uma moça coroada de louros, levando na
mão direita uma trombeta e, na esquerda, um livro que tem
como título Tucídides. Somam-se às vezes a esses atributos
o globo terrestre, sobre o qual está pousada, e o Tempo, que
se vê junto dela, a fim de mostrar que a História abraça
todos os lugares e todos os tempos. Suas estátuas às vezes
trazem uma guitarra na mão e um plectro na outra, pois Clio
também era considerada a inventora da guitarra.
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Mitologia Grega e Romana
As Horas
Pela palavra Horas, os gregos designaram primitiva-
mente não as divisões do dia, mas do ano. As Horas eram
filhas de Júpiter e Têmis. Hesíodo conta três: Eunômia, Dice
e Irene, isto é, a Ordem, a Justiça e a Paz. Homero chama-
as porteiras do céu e confia-lhes a tarefa de abrir e fechar as
portas eternas do Olimpo. Assim, a mitologia grega a prin-
cípio reconheceu apenas as três Horas ou três Estações: a
Primavera, o Verão e o Inverno. Depois, quando se lhes
acrescentou o Outono e o solstício do inverno, isto é, sua
parte mais fria, a mitologia criou duas novas Horas, Carpo
e Talate, que estabeleceu para cuidar das frutas e das flores.
Enfim, quando os gregos dividiram o dia em doze partes
iguais, os poetas multiplicaram o número das Horas até
doze, dedicadas a servir a Júpiter, e denominaram-nas as do-
ze irmãs.
Foram essas divindades que se encarregaram da edu-
cação de Juno; coube-lhes também a missão de descer ao
inferno para pegar Adônis e trazê-lo de volta a Vénus.
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Mitologia Grega e Romana
As Parcas
As Parcas, divindades responsáveis pela sorte dos ho-
mens, eram três irmãs, filhas da Noite ou de Érebo, ou de
Júpiter e Têmis, ou então, segundo alguns poetas, filhas da
Necessidade e do Destino. A obscuridade de seu nascimen-
to indica que exerceram suas funções fatais desde a origem
dos seres e das coisas: são tão velhas quanto a Noite, a
Terra e o Céu. Chamam-se Cloto, Láquesis e Átropos, e sua
morada é vizinha à das Horas, nas regiões olímpicas, de
onde velam não apenas pela sorte dos mortais, mas tam-
bém pelo movimento das esferas celestes e a harmonia do
mundo. Possuem um palácio em que o destino dos homens
está gravado em ferro e bronze, de sorte que nada pode
apagá-lo. Imutáveis em seus desígnios, têm nas mãos o fio
misterioso que simboliza o decorrer da vida, nada podendo
dobrá-las e impedi-las de cortar-lhe a trama. Uma vez, po-
rém, consolaram Prosérpina da violência que lhe fora feita,
aplacaram a dor de Ceres, aflita com a perda da filha e,
quando essa deusa foi ultrajada por Netuno, foi graças aos
rogos das Parcas que a deusa aceitou sair de uma caverna
da Sicília onde Pã a descobriu.
Cloto, assim chamada de uma palavra grega que signi-
fica "fiar", parece a menos velha, para não dizer a mais moça
das Parcas. É ela que tem nas mãos o fio do destino huma-
no. É representada vestindo uma longa túnica de diversas
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O Olimpo
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Mitologia Grega e Romana
Hipérion
Hipérion, filho de Urano e irmão de Saturno, casou-se
com Téia, segundo Hesíodo, e foi pai do Sol e da Lua. Se-
gundo outros poetas, casou-se com Basiléia, sua irmã, com
quem teve um filho e uma filha, Hélios e Selene, ambos
notáveis por sua beleza e sua virtude, o que atraiu sobre
Hipérion o ciúme dos outros Titãs. Estes, tendo conspirado
entre si, combinaram matar Hipérion e afogar seus filhos.
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O Sol.
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Os Deuses Subolímpicos
Faetonte e as Helíades
Faetonte era filho de Apolo, isto é, do Sol e de Clime-
ne, filha de Oceano. Tendo tido uma desavença com Épafo,
filho de Júpiter e Io, que negava fosse Faetonte filho do Sol,
conforme se gabava, este foi se queixar à sua mãe. Climene
remeteu-o ao próprio Sol para se informar acerca do seu
nascimento. Faetonte foi, pois, ao palácio do Sol e explicou
a esse deus o motivo da sua vinda. Em seguida, conjurou-o
a conceder-lhe um favor que atestaria sua verdadeira ori-
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Mitologia Grega e Romana
gem e que ele iria pedir. Sem esperar que Faetonte se expli-
casse mais e só ouvindo seu amor paterno, o Sol jurou por
Estige nada lhe recusar. Então o jovem temerário pediu-lhe
permissão para iluminar o mundo apenas um dia, condu-
zindo seu carro.
O Sol, comprometido por uma promessa irrevogável,
fez todos os esforços possíveis para que seu filho desistisse
de uma empresa tão difícil, mas inutilmente. Faetonte, com
a obstinação de uma criança que não conhece o perigo,
persiste em seu pedido e sobe no carro. Os cavalos do Sol
logo percebem a mudança de condutor e se desviam do
caminho cotidiano. Ora, subindo demais, ameaçam o céu com
um incêndio inevitável, ora, descendo demais, secam os rios
e queimam as montanhas.
Secada até as entranhas, a Terra queixa-se a Júpiter que,
para prevenir a subversão do universo, lança seu raio no
filho do Sol e precipita-o no Erídano.
As Helíades, suas irmãs, também filhas do Sol e de Cli-
mene, chamavam-se Lampetusa, Faetusa e Febe. A morte de
seu irmão causou tão viva dor que elas choraram quatro
meses inteiros. Os deuses transformaram-nas em álamos e
suas lágrimas, em grãos de âmbar.
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Os Deuses Subolímpicos
Os Astros
Os Astros, esses fogos eternos de que a abóbada celes-
te é salpicada, haviam recebido dos poetas uma origem
sagrada ou divina. Muitos eram objeto de um culto especial
ou de uma veneração particular. Às vezes todos eram invo-
cados pelos mortais nas circunstâncias críticas. Os heróis,
os grandes homens pareciam aspirar apenas a se elevar até
eles pelo mérito e o brilho de suas belas ações. Ir em dire-
ção aos astros era abrir o caminho para a imortalidade,
adquirir os títulos de uma glória imorredoura, numa pala-
vra, colocar-se no nível e na morada dos deuses.
Os Astros, dizia-se, eram filhos do titã Astreu e de He-
ribéia, ou da Aurora. Com seu pai, quiseram escalar o Olim-
po. Com seu raio, Júpiter dispersou sua multidão infinita no
espaço e eles permaneceram presos ao céu.
No entanto, um grande número de astros vem sucessi-
vamente tomar lugar no céu primitivo e estrelado. Impres-
sionados com suas evoluções e seu brilho fulgurante, os
mortais deles fizeram seres divinos, cuja personificação a
fábula popularizou.
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Mitologia Grega e Romana
Órion
A lenda de Órion é contada de diversas maneiras pelos
poetas. Segundo uns, era filho de um camponês da Beócia
chamado Hirieu, que teve a honra de hospedar em sua
cabana Júpiter, Netuno e Mercúrio. Em recompensa pela
hospitalidade que haviam recebido, os deuses fizeram nas-
cer milagrosamente da pele de uma novilha a criança cha-
mada Órion.
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Os Deuses Suboltmpicos
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Mitologia Grega e Romana
cios para conjurar seus efeitos. Para uns, Sírius não era mais
que o cão de Órion, o fiel e ardente companheiro do caça-
dor; para outros, era o cão dado por Júpiter para ser o guar-
dião de Europa, ou ainda o que Minos deu a Prócris, filha de
Erecteu, rei de Atenas, quando esta se casou com o filho
de Eolo, Céfalo.
Conta-se enfim que, havendo Icário de Atenas, amigo
de Baco, sido morto por pastores da Ática, a quem fizera
tomar vinho, sua filha Erígone ficou inconsolável. Acompa-
nhada de Maira, sua cadela sagaz e fiel, Júpiter colocou-a
na constelação da Canícula.
Icário tampouco foi esquecido por Júpiter: teve seu
lugar no céu. O amo dos deuses fez dele a constelação do
Boieiro (Bootes), perto da Grande Ursa e que parece segui-
la. Também é chamada Arcturo.
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Os Deuses Subolímpicos
As Plêiades
Filhas de Atlas e Plêione, ela mesma filha de Oceano e
Tétis, as Plêiades eram em número de sete: Maia, Electra,
Taígete, Astérope, Mérope, Alcione e Celeno.
Maia foi amada por Júpiter, de quem teve Mercúrio.
Esse deus também lhe deu a nutrir Arcas, filho de Calisto, o
que atraiu sobre ela o ressentimento de Juno.
Ovídio deriva de seu nome o do mês de maio. Sacri-
ficava-se a Maia uma porca prenhe, vítima também oferta-
da a Cibele ou à Terra.
Electra, também amada de Júpiter, foi mãe de Dárdano.
Ela o pôs no mundo na Arcádia. Mais tarde, porém, ele foi
para a Frigia, onde se casou com a filha do rei Teucro; depois,
construiu ao pé do monte Ida uma cidade a que deu seu
nome e que veio a ser a célebre Tróia. Diz-se que, depois da
ruína de Tróia, Electra não quis mais aparecer na companhia
de suas irmãs, e, de fato, essa estrela das Plêiades é quase
invisível.
Taígete teve, de Júpiter, Taígeto, que deu seu nome à
montanha da Arcádia.
Astérope não tem posteridade conhecida, mas foi es-
posa de um Titã.
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Mitologia Grega e Romana
As Híades
As Híades, ou chuvosas, assim chamadas da palavra
grega que significa chover, eram filhas de Atlas, como as
Plêiades. Aitra, sua mãe, era filha de Tétis e Oceano. Quan-
to a seu número, os poetas não estão de acordo. De ordi-
nário, contam-se sete: Ambrósia, Eudora, Faisile, Corônis, Po-
lixo, Faio e Dione.
Tendo seu irmão Hias sido dilacerado por uma leoa, elas
choraram sua morte com tão viva dor que os deuses, toma-
dos de compaixão, transportaram-nas para o céu. Tornando-
se um grupo de estrelas, estão situadas na constelação do
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Os Deuses Subolímpicos
Os signos do Zodíaco
O Zodíaco (palavra derivada do grego Zôdion, pequeno
animal) é o espaço do céu que o sol parece percorrer duran-
te o ano. É dividido em doze partes, onde ficam as doze
constelações a que se dá o nome de signos do Zodíaco:
Áries, Touro, Gémeos, Câncer, Leão, Virgem, Balança, Escor-
pião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. A disposição
dos astros, nessas diferentes constelações,
evocou primeiro a idéia desses diferentes
signos, e cada um deles encontrou mais
tarde seu lugar na mitologia.
Áries, primeiro dos doze signos, é, diz-
se, o carneiro do tosão de ouro, imolado a
Júpiter e transportado ao firmamento.
O Touro é o animal sob a forma do qual
Júpiter raptou Europa, ou, segundo certos
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Mitologia Grega e Romana
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Os Ventos
As alturas celestes, região etérea em que os astros são
fixados, desfrutam de uma paz eterna. Mas abaixo delas,
bem abaixo, na região das nuvens e na proximidade da terra,
grassam as tempestades ruidosas, as tormentas e os ventos.
Divindades poéticas, os Ventos são filhos do Céu e da
Terra. Hesíodo os diz filhos dos gigantes Tifoeu, Astreu e
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Mitologia Grega e Romana
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Mitologia Grega e Romana
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Os Deuses Suboltmpicos
A Tempestade
Os romanos haviam deificado a Tempestade. Ela pode
ser considerada como uma ninfa do ar. Marcelo mandara
co nstruir para ela u m pequeno templo , em Ro ma, fo ra da
porta Capena.
Encontramos em monumentos antigos sacrifícios à Tem-
pestade. É representada com o rosto irritado, numa atitude
furibunda e sentada em nuvens tempestuosas, entre as quais
estão vários ventos que sopram em direções opostas. Ela es-
palha a mancheias o granizo que quebra árvores e destrói
colheitas. Sacrificavam-lhe um touro preto.
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Divindades do Mar e das Águas
O Oceano
Para os antigos, o Oceano é primitivamente um rio imen-
so que rodeia o mundo terrestre. Na mitologia, é o primeiro
deus das águas, filho de Urano ou Céu, e de Gaia, isto é, a
Terra. É o pai de todos os seres. Homero diz que os deuses
originavam-se de Oceano e Tétis. No mesmo poeta, vê-se
que os deuses iam com frequência à Etiópia visitar Oceano
e tomar parte das festas e sacrifícios que aí eram celebrados.
Enfim, conta-se que Juno, desde seu nascimento, foi confia-
da por Réia, sua mãe, aos cuidados de Oceano e Tétis, para
fazê-la escapar da cruel voracidade de Saturno.
Portanto, Oceano é velho como o próprio mundo. É
por isso que é representado sob a forma de um velhote
sentado nas ondas do mar, com uma lança na mão e um
monstro marinho perto de si. Esse ancião segura uma urna
e derrama água, símbolo do mar, dos rios e das fontes.
Ofereciam-lhe habitualmente em sacrifício vítimas gran-
des e, antes das expedições difíceis, faziam-lhe libações.
Não era venerado apenas pelos homens, mas também pelos
deuses. Nas Geórgicas de Virgílio, a ninfa Cirene faz, no meio
do palácio do Peneu, na nascente desse rio, um sacrifício a
Oceano; três vezes seguidas, ela derrama vinho no fogo do
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Mitologia Grega e Romana
Tétis e as Oceânides
Tétis, filha do Céu e da Terra, casou-se com Oceano, seu
irmão, e tornou-se mãe de três mil ninfas, chamadas Oceâ-
nides. Atribuem-lhe ainda como filhos não só os rios e as fon-
tes, mas também Proteu, Etra, mãe de Atlas, Persa, mãe de
Circe etc. Conta-se que tendo Júpiter sido amarrado pelos
outros deuses, Tétis libertou-o com a ajuda do gigante Egêon.
Ela se chamava Tétis de uma palavra grega que signifi-
ca nutriz, sem dúvida porque é a deusa da água, matéria-
prima que, segundo uma crença antiga, entra na formação
de todos os corpos.
O carro dessa deusa é uma concha de forma maravilho-
sa e de uma brancura de marfim nacarado. Quando percorre
seu império, esse carro, puxado por cavalos-marinhos mais
brancos que a neve, parece voar na superfície das águas. Em
torno dela, os golfinhos, brincando, pulam no mar; ela é acom-
panhada pelos Tritões, que trombeteiam com suas conchas
recurvadas, e pelas Oceânides coroadas de flores, cujos cabe-
los caem sobre seus ombros ao sabor dos ventos.
Tétis, deusa do mar, esposa de Oceano, não deve ser
confundida com Têtis, filha de Nereu e mãe de Aquiles. Aliás,
a ortografia dessas duas palavras é diferente.
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Divindades do Mar e das Águas
Ill
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Netuno.
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Mitologia Grega e Romana
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Divindades do Mar e das Águas
Tritão
Filho de Netuno e Anfitrite, Tritão era um semideus ma-
rinho. A parte superior de seu corpo, até a cintura, figurava
um homem nadando; a parte inferior era a de um peixe de
rabo comprido. Era o arauto do deus do mar, a quem sem-
pre precedia, anunciando sua chegada ao som de uma con-
cha curva. Algumas vezes é levado à superfície das águas,
outras aparece num carro puxado por cavalos azuis.
Os poetas atribuem a Tritão outra função que não a de
arauto de Netuno: a de acalmar as águas e fazer cessar as
tempestades. Assim, em Ovídio, Netuno, querendo chamar
de volta as águas do dilúvio, manda Tritão soprar sua con-
cha, ao som da qual as águas se retiram. Em Virgílio, quan-
do Netuno quer aplacar a tempestade que Juno provocou
contra Enéias, Tritão, assistido por uma Nereide, se esforça
para salvar as naus naufragadas.
Os poetas admitem vários Tritões com as mesmas fun-
ções e a mesma figura.
Proteu
Proteu, deus marinho, era filho de Oceano e Tétis, ou,
segundo outra tradição, de Netuno e Fenícia. Os gregos atri-
buem-lhe Palene, cidade da Macedónia, como pátria. Dois
de seus filhos, Tmolo e Telégono, eram gigantes, monstros
de crueldade. Não tendo podido conduzi-los a sentimentos
de humanidade, tomou Proteu a decisão de se retirar para o
Egito, com o auxílio de Netuno, que lhe cavou uma passa-
gem sob o mar. Também teve filhas, entre outras a ninfa
Idotéia, que apareceu a Menelau quando, ao voltar de Tróia,
esse herói foi levado pelos ventos contrários à costa do Egi-
to, e ensinou-lhe o que precisava fazer para saber de Proteu
os meios de voltar à sua pátria.
Proteu era o guardião dos rebanhos de Netuno, isto é,
dos peixes grandes e das focas. Para recompensá-lo pelos
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Mitologia Grega e Romana
Glauco
Filho de Netuno e Naís, ninfa do mar, Glauco foi pri-
meiro um célebre pescador de Antêdon, na Beócia. Tendo
um dia posto na relva da praia os peixes que acabara de
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Divindades do Mar e das Águas
Sáron
Sáron, antigo rei de Trezena, tinha paixão pela caça. Um
dia em que caçava um cervo, perseguiu-o até a beira do
mar. Tendo o cervo se jogado na água, pulou atrás dele e, dei-
xando-se levar pelo ardor, encontrou-se sem perceber em
alto-mar, onde, esgotado e não podendo mais lutar contra
as águas, se afogou.
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Mitologia Grega e Romana
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Divindades do Mar e das Águas
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Mitologia Grega e Romana
Circe
Irmã de Pasífae e Eetes, era filha do Sol e da ninfa Per-
sa, uma das Oceânides, ou, segundo outros, do Dia e da Noi-
te. Maga hábil, a ponto de, dizia-se, fazer as estrelas desce-
rem dos céus, destacava-se sobretudo na arte dos envenena-
mentos. A primeira tentativa que fez de seus talentos nesse
género foi com o rei dos sarmatas, seu marido, crime que a
tornou tão odiosa a seus súditos que estes forçaram-na a
fugir. O Sol transportou-a em seu carro para a costa da Etrú-
ria, chamada desde então cabo de Circe, e a ilha de Ea tor-
nou-se o lugar de sua residência. Foi lá que ela transformou
em monstro a jovem Cila, porque era amada por Glauco, por
quem Circe tivera uma violenta paixão. Fez o mesmo com
Pico, rei da Itália, que transformou em pica-pau, porque ele
se recusou a deixar sua mulher Canente para ligar-se a ela. A
infortunada Canente ficou tão triste que, de tanto se lamen-
tar, evaporou-se nos ares.
Lançado nas costas habitadas por essa temível maga,
Ulisses só escapou de seus artifícios graças às recomenda-
ções de Mercúrio e ao socorro de Minerva. Mas ela achou
um meio de detê-lo nos ardis do amor. Para agradá-lo, res-
tituiu a forma original a seus companheiros, a quem meta-
morfoseara em animais; Ulisses ficou um ano com ela e a
fez mãe de dois filhos, Ágrio e Latino.
A perfídia, os filtros e os malefícios de Circe não a im-
pediram de ser colocada entre os deuses. Adoravam-na na
ilha de Ea e ela tinha um monumento numa das ilhas cha-
madas Farmaeusas, perto de Salamina.
A fábula de Circe, que transformava os homens em bru-
tos por suas seduções e seus sortilégios, é uma alegoria que
se tornou tão popular quanto a expressão "companheiros
de Ulisses".
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Divindades do Mar e das Águas
Cila e Caríbáis
Cila, ninfa de uma beleza esfuziante, inspirara um vio-
lento amor a Glauco, que não dá importância às tempesta-
des e se deleita nas águas azuladas. Metade homem, meta-
de peixe, não se dando conta nem da sua feiúra, nem da
sua deformidade, por mais que esse deus marinho invocas-
se o céu, a terra e o mar como testemunhas da sinceridade
de seu co ração , a ninfa permanecia insensível a suas juras e
enlevos. Ele recorreu a Circe. A maga, que gostava de Glau-
co a ponto de sentir ciúmes, lhe fez pérfidas promessas.
Preparou um veneno que jogou em seguida na fonte em
que a ninfa costumava banhar-se.
Mal Cila entrou na fonte, viu-se transformada num mons-
tro que tinha seis garras, seis focinhos e seis cabeças; uma
matilha de cachorros saía-lhe do corpo em torno da cintu-
ra e seus uivos contínuos aterrorizavam todos os passantes.
Apavorada com sua forma monstruosa, Cila jogou-se no
mar perto dos rochedos e recifes que tomaram seu nome
no estreito da Sicília.
Cila tem uma voz terrível e seus gritos pavorosos pare-
cem o rugido de um leão; é um monstro cujo aspecto pro-
vocaria arrepios até mesmo num deus. Quando vê os na-
vios passarem no estreito, sai de seu antro e os atrai a si, a
fim de engoli-los. Foi assim que se vingou de Circe, fazen-
do naufragar os barcos de Ulisses, seu amante.
Tendo roubado uns bois de Hércules, Caríbdis, filha de
Netuno e da Terra, foi fulminada por Júpiter e transforma-
da num perigoso sorvedouro que se encontra no estreito da
Sicília, diante do antro de Cila. Homero supôs que ele en-
gole as águas três vezes por dia e três vezes as vomita com
mugidos horríveis.
Desses dois sorvedouros, o menos perigoso é o de
Caríbdis. Daí o provérbio: "Cair de Caríbdis em Cila."
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Mitologia Grega e Romana
As Sereias
Quando numa noite calma de primavera ou de outono
o marinheiro deixa sua embarcação deslizar suavemente
não longe da costa, em paragens semeadas de rochedos ou
recifes, ouve ao largo, no marulho das ondas, o gorjeio das
aves do mar. Esse gorjeio, entrecortado às vezes por gritos
estridentes e zombeteiros, se eleva nos ares e passa invisí-
vel, com um estranho siflar de asas, por cima do marinhei-
ro atento, dando-lhe a ilusão de um concerto de vozes hu-
manas. Sua imaginação então lhe representa moças ou me-
ninas divertindo-se e procurando desviá-lo de seu caminho.
A i dele caso se aproxime do lugar em que ouve mais vozes,
isto é, dos rochedos à flor da água onde, para a ave mari-
nha, a pesca é frutífera: infalivelmente seu barco vai se que-
brar e se perder nos recifes.
É esta, sem dúvida, a origem da fábula das Sereias, mas
a imaginação dos poetas lhes criou uma lenda mais maravi-
lhosa.
Elas eram filhas do rio Aquelóo e da musa Calíope. Ge-
ralmente são três: Partênope, Leucósia e Lígia, nomes gre-
gos que evocam as idéias de candura, brancura e harmonia.
Outros chamam-nas Aglaofone, Telxiêpia e Pisínoe, deno-
minações que exprimem a doçura da sua voz e o encanto
das suas palavras.
Conta-se que, na época do rapto de Prosérpina, as Se-
reias foram à terra de Apolo, isto é, à Sicília, e que Ceres, em
punição por não terem socorrido sua filha Prosérpina, trans-
formou-as em pássaros.
Ovídio, ao contrário, diz que as Sereias, desoladas com
o rapto de Prosérpina, rogaram aos deuses que lhes dessem
asas para irem procurar sua jovem companheira por toda a
terra. Elas habitavam rochedos escarpados à beira-mar,
entre a ilha de Capri e a costa da Itália.
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Divindades do Mar e das Águas
Uma Sereia.
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Mitologia Grega e Romana
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Divindades do Mar e das Águas
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Mitologia Grega e Romana
Os Ciclopes
Os Ciclopes eram gigantes monstruosos, filhos de Ne-
tuno e Anfitrite ou, de acordo com outros, do Céu e da
Terra. Tinham um só olho no meio da testa, daí seu nome
(Cuclos, círculo, e ops, olhar). Viviam dos frutos que a terra
lhes dava sem cultivo e do produto de seus rebanhos. Não
eram governados por nenhuma lei. É-lhes atribuída a cons-
trução primitiva das cidades de Micenas e Tirinto, formadas
de massas de pedras tão enormes que eram precisos dois
pares de bois para arrastar a menor delas.
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Divindades do Mar e das Águas
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Mitologia Grega e Romana
Os Rios
"Tratem de nunca atravessar as águas dos rios de curso
eterno sem antes lhes ter dirigido uma prece, de olhos fitos
em suas esplêndidas correntes, sem antes molhar suas mãos
em sua onda agradável e límpida", aconselha Hesíodo.
Os Rios são filhos de Oceano e Tétis. Hesíodo conta
três mil. Em todos os povos antigos, eles tiveram sua parte
nas honras da divindade. Tinham seus templos, seus alta-
res, suas vítimas preferidas. Normalmente, eram-lhes imola-
dos cavalos ou touros. Sua nascente era sagrada. Supunha-
se que, numa gruta profunda, onde nenhum mortal podia
penetrar sem favor divino, o Rio, divindade real, tinha seu
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Divindades do Mar e das Águas
As Náiades
As ninfas que presidiam às fontes, aos córregos e rios
eram objeto de uma veneração e um culto particulares. Elas
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Mitologia Grega e Romana
OAquelóo
Seria demasiado longo enumerar e caracterizar todos
os rios celebrados pelos poetas, mas a mitologia deve ao
menos uma menção aos mais conhecidos dentre eles.
O Aquelóo, rio do Epiro, que
corria entre a Etólia e a Acarnânia,
era tido como o mais antigo rio da
Grécia. Foi às suas margens que se
estabeleceram e viveram os homens
primitivos, ao que se diz. Depois de
terem comido as glandes macias da
floresta de Dodona, eles vinham ma-
tar a sede nas águas doces do Aque-
Hércules vence
Aquelóo. lóo. Eis a fábula que se contava so-
bre esse rio.
Aquelóo era filho de Oceano e Tétis, ou, segundo ou-
tros, do Sol e da Terra. Amante de Dejanira, que lhe fora
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Divindades do Mar e das Águas
Alfeu e Aretusa
Os antigos observaram, de um lado, que Alfeu, peque-
no rio da Élida que vem das montanhas da Arcádia, parecia
desaparecer várias vezes debaixo da terra e, de outro, que
a fonte Aretusa, que jorra de um rochedo na ponta da ilha
de Ortígia, perto de Siracusa, fornecia água doce em abun-
dância, embora estando cercada pelo mar. Essa observação
sugeriu aos poetas a seguinte fábula.
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Mitologia Grega e Romana
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Divindades do Mar e das Águas
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Mitologia Grega e Romana
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Divindades do Mar e das Águas
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Mitologia Grega e Romana
As Fontes
As Fontes, como os rios, em geral eram filhas de Tétis e
Oceano. Elas se achavam sob a proteção de ninfas e génios,
com os quais se identificavam. Aquelas a cujas águas se atri-
buía uma virtude curativa ou salutar eram as mais venera-
das. Nos dias de festas solenes, por ocasião de uma come-
moração pública, eram cobertas de folhagens e de verdura,
envoltas de flores e guirlandas, e a gente fazia-lhes libações;
numa palavra, recebiam todas as honras da divindade.
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Divindades do Mar e das Águas
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Mitologia Grega e Romana
As Águas Paradas
Os lagos, lagoas e pântanos, objetos de um culto reli-
gioso, tinham, como as fontes e rios, suas divindades tute-
lares. Não só a imaginação dos poetas punha ninfas e náia-
des em seus sorvedouros misteriosos ou entre seus caniços,
como os povos erguiam às suas margens templos ou san-
tuários consagrados às divindades mais poderosas.
Diana era venerada em particular à beira do lago Estín-
falo, na Arcádia. Havia em seu templo uma estátua de ma-
deira dourada conhecida pelo nome de Estinfalia. Em torno
da imagem dessa deusa estavam arrumadas outras estátuas
de mármore branco, que representavam sob a forma de
moças as diversas aves do lago. A i dos habitantes da cida-
de vizinha, Estínfalo, se viessem a desprezar o culto da deu-
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Divindades do Mar e das Águas
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As Montanhas, os Bosques,
as Divindades Campestres
As Montanhas
As Montanhas eram filhas da Terra. Eram tidas em qua-
se toda parte como lugares sagrados, muitas vezes adora-
das até como divindades. As medalhas antigas figuram-nas
como génios, cada um dos quais é caracterizado por algum
produto do país.
Na Grécia, a cadeia do Pindo era toda consagrada a Marte
e Apolo, mas os poetas aplicaram-se a cercar de fábulas ou
lendas particulares os principais cimos dessa montanha.
Assim, como o monte Eta, na Tessália, se estende até o
mar Egeu, situado na extremidade oriental da Europa, pre-
tendia-se que o sol e as estrelas se erguiam ao lado dessa
montanha e que de lá nasciam o dia e a noite. Héspero (Vés-
per) era venerado lá. O monte Eta lembra a morte e a pira
de Hércules.
O Parnaso, a mais alta montanha da Fócida, tem dois
picos famosos: um era consagrado a Apolo e às Musas, o
outro a Baco. É entre esses dois picos que nasce a fonte de
Castália. Foi nessa montanha que Deucalião e Pirra se reti-
raram na época do dilúvio. Os antigos criam-na situada no
meio da terra; pelo menos, o era no meio da Grécia.
O Citéron, na Beócia, era consagrado às Musas e a
Júpiter, mas era na montanha vizinha, o Hélicon, que as
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Mitologia Grega e Romana
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As Montanhas, os Bosques, as Divindades Campestres
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As Montanhas, os Bosques, as Divindades Campestres
As Oréades, as Napéias
Do grego Oros, montanha, e napos, vale, são formadas
as duas palavras, Oréades e Napéias. As Oréades, ninfas
das montanhas, não se deleitavam apenas em percorrer os
cimos rochosos e as escarpas, mas também se dedicavam à
caça. Saíam de suas grutas em grupos vivos e alegres para ca-
çar o cervo, perseguir o javali e aceitar com suas flechas as
Mitologia Grega e Romana
Os bosques
Os grandes bosques, tanto quanto os mares, os lagos e
as águas correntes e profundas, inspiraram aos primeiros
homens um terror religioso. O vagido ou o murmúrio do
vento nas grandes árvores lhes causava uma emoção que
levava seu pensamento a um poder superior e divino. A s-
sim, as florestas, os bosques foram os primeiros lugares
destinados ao culto da divindade. Aliás, era nos bosques
que os primeiros homens fixavam de preferência sua resi-
dência, e era natural que fizessem os deuses morarem onde
eles mesmos moravam. Mas escolhiam os lugares mais som-
brios para o exercício da sua religião. Parecia-lhes que, na
meia-luz, sob as sombras quase impenetráveis aos raios do
sol, a divindade se aproximava com maior facilidade deles,
se comunicava mais livremente e dava maior atenção às suas
preces. Mais tarde, quando, reunidos em sociedade, os ho-
mens ergueram templos, a arquitetura desses edifícios, com
suas altas colunas, suas abóbadas, sua semi-obscuridade, ain-
da lembrava a floresta dos tempos primitivos.
Em memória dessas velhas eras, sempre se plantavam
em torno dos templos e dos santuários pelo menos algumas
árvores tão respeitadas quanto os próprios templos. Com
frequência essas árvores eram bastante numerosas para for-
mar todo um bosque sagrado. Era nesses bosques que as pes-
soas se reuniam nos dias de festa. Lá realizavam banquetes
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As Montanhas, os Bosques, as Divindades Campestres
p ú b l i c o s , a c o m p a n h a d o s d e d a n ç a s e j o g o s . Lá f a z i a m r i c a s
oferendas. A s mais belas árvores e r a m ornadas de festões e
fitas, c o m o as estátuas d o s d e u s e s . O s b o s q u e s sagrados e r a m
c o m o asilos o n d e o h o m e m e os próprios animais inofensi-
v o s t i n h a m direito à proteção da divindade.
E m Claro, ilha do mar Egeu, "havia u m bosque consa-
grado a A p o l o , onde n u n c a entrava animal venenoso", con-
ta E l i a n o . " V i a m - s e n o s a r r e d o r e s m u i t o s c e r v o s , q u e , p e r -
s e g u i d o s p e l o s c a ç a d o r e s , se r e f u g i a v a m d e n t r o d o b o s q u e ;
os cachorros, repelidos p e l a força onipotente d o deus, l a -
t i a m e m v ã o e n ã o o u s a v a m entrar, e n q u a n t o o s c e r v o s p a s -
t a v a m s e m n a d a temer."
E m Epidauro, o templo de Esculápio era rodeado por
u m b o s q u e sagrado cingido de todos os lados p o r grandes
m a r c o s . N e s s e r e c i n t o , n ã o se d e i x a v a m o r r e r n e n h u m d o s
doentes que v i n h a m consultar o deus.
A s florestas m a i s v e n e r a d a s d a G r é c i a e r a m as d e N e -
m é i a , n a Argólida, o n d e e r a m c e l e b r a d o s , e m h o m e n a g e m a
H é r c u l e s , os J o g o s N e m e u s , e a d e D o d o n a , n o E p i r o , o n d e ,
p o r u m a g r a ç a d e Júpiter, o s c a r v a l h o s p r o f e r i a m o r á c u l o s .
As Dríades e Hamadríades
D a p a l a v r a g r e g a drus, c a r v a l h o , v e m o n o m e d a s D r í a -
d e s . E r a m n i n f a s p r o t e t o r a s d a s florestas e b o s q u e s . Tão
robustas quanto viçosas e leves, p o d i a m vagar e m liberda-
de, formar coros de dança e m torno dos carvalhos que lhes
e r a m c o n s a g r a d o s e s o b r e v i v e r às á r v o r e s p o s t a s s o b a s u a
p r o t e ç ã o . N ã o l h e s e r a p r o i b i d o c a s a r e m - s e . A s s i m , Eurídi-
ce, m u l h e r de O r f e u , era u m a Dríade.
A crença dos p o v o s n a existência dessas divindades
florestais o s i m p e d i a d e d e s t r u i r c o m d e m a s i a d a f a c i l i d a d e
os grandes bosques. P a r a cortar as árvores, era preciso p r i -
m e i r o consultar os ministros d a religião e obter deles a ga-
rantia de q u e as Dríades os h a v i a m a b a n d o n a d o .
147
Mitologia Grega e Romana
E s s a s n i n f a s s ã o representadas s o b a f o r m a d e m u l h e r e s
c u j o c o r p o , e m s u a parte inferior, t e r m i n a n u m a e s p é c i e d e
arabesco, e x p r i m i n d o p o r seus c o n t o r n o s a l o n g a d o s u m t r o n -
c o e as raízes d e u m a árvore. A parte s u p e r i o r s e m n e n h u m
véu é sombreada por u m a abundante cabeleira que cai sobre
os o m b r o s a o s a b o r d o s v e n t o s . A c a b e ç a p o r t a u m a c o r o a d e
c a r v a l h o . Às v e z e s , p õ e m u m m a c h a d o e m s u a s m ã o s , p o r -
q u e se a c r e d i t a v a q u e essas n i n f a s p u n i a m os ultrajes c o m e t i -
d o s c o n t r a as árvores q u e g u a r d a v a m .
A s Hamadríades e r a m ninfas cujo destino dependia de
certas á r v o r e s c o m a s q u a i s n a s c i a m e m o r r i a m , o q u e a s
distinguia das Dríades. E r a principalmente c o m os carvalhos
q u e elas t i n h a m essa união. N o entanto, n ã o e r a m de todo
inseparáveis deles. E m H o m e r o , vemo-las escaparem das
árvores e m q u e estão encerradas, a f i m de i r e m oferecer
sacrifícios a V é n u s n a s g r u t a s , j u n t o c o m o s Sátiros. S e g u n -
d o Séneca, elas t a m b é m saíam de seus carvalhos para ouvir
o canto do divino Orfeu.
R e c o n h e c i d a s aos q u e as p r o t e g i a m contra a morte, p u -
n i a m s e v e r a m e n t e a q u e l e s c u j a m ã o sacrílega o u s a v a atacar as
árvores, d e q u e d e p e n d i a m . T e s t e m u n h a disso é Erisícton, q u e
o u s o u l e v a r u m m a c h a d o c r i m i n o s o a u m a floresta consagra -
da a Ceres.
Veremos adiante c o m o a F o m e encarregou-se de seu
castigo.
A s Hamadríades n ã o eram, pois, imortais; mas a dura-
ç ã o da sua existência era ao m e n o s igual à v i d a das árvores
sob cuja casca m o r a v a m .
P e l o n o m e d e M e l í a d e s t a m b é m s ã o d e s i g n a d a s as n i n -
fas q u e h a b i t a m o s b o s q u e s o u a r v o r e d o s d e f r e i x o s . P r e -
tendia-se q u e essas d i v i n d a d e s estendiam m a i s particular-
m e n t e s u a p r o t e ç ã o às c r i a n ç a s q u e , e m r a z ã o d e s e u n a s -
cimento furtivo, e r a m a b a n d o n a d a s o u às v e z e s p e n d u r a -
das nos galhos das árvores.
148
As Montanhas, os Bosques, as Divindades Campestres
O u t r o s m i t ó l o g o s c o n s i d e r a m as M e l í a d e s o u E p i m é l i -
des c o m o ninfas a q u e m cabia especialmente o cuidado c o m
os rebanhos.
S u a m ã e , Mélia, f i l h a d e O c e a n o , f o i a m a d a p o r A p o l o ,
de q u e m t a m b é m teve dois filhos, T e r e n o e o a d i v i n h o I s -
mênias.
149
Mitologia Grega e Romana
e x p e r i m e n t a d o o d e s p r e z o d a q u e l e q u e amava, retirou-se
p a r a o f u n d o d o s b o s q u e s e p a s s o u a h a b i t a r a p e n a s as c a -
v e r n a s e r o c h e d o s . Aí s e c o n s u m i u d e d o r e p e s a r . I n s e n s i -
v e l m e n t e , s u a c a r n e e m a g r e c e u , a p e l e c o l o u - s e a seus o s s o s ,
seus próprios ossos se petrificaram, e d a n i n f a n ã o restou
mais q u e a v o z . P o r toda parte ela escuta, e m parte a l g u m a
é visível e, s e o u v e a l g u m a s f r a s e s , d e l a s s ó r e p e t e as últi-
mas palavras.
D e acordo c o m alguns autores, Pã apaixonou-se pela
ninfa E c o e teve c o m ela u m a filha, c h a m a d a Siringe.
Pã
150
As Montanhas, os Bosques, as Divindades Campestres
d o e l i m i t a d o s u a s f u n ç õ e s , c o l o c a r a - o n o s c a m p o s , perto d o s
pastores e dos rebanhos.
E r a v e n e r a d o s o b r e t u d o n a Arcádia, país d e m o n t a n h a s ,
o n d e p r o f e r i a o r á c u l o s . O f e r t a v a m - l h e e m sacrifí cio m e l e
leite d e c a b r a . C e l e b r a v a m e m s u a h o m e n a g e m as L u p e r c a i s ,
festa q u e , e m s e g u i d a , se d i f u n d i u p o r t o d a a Itália, a o n d e
o arcadiano E v a n d r o l e v a r a o culto de Pã. D e ordinário, é
representado feiíssimo, de cabelos e barba m a l cuidados,
c o m chifres e o corpo de bode da cintura para baixo, n ã o
d i f e r i n d o e n f i m d e u m f a u n o o u d e u m sátiro. L e v a c o m f r e -
q u ê n c i a u m c a j a d o e u m a flauta d e sete t u b o s , c h a m a d a f l a u -
ta d e P ã , p o r q u e , d i z - s e , f o i e l e s e u i n v e n t o r g r a ç a s à m e t a -
morfose d a n i n f a Siringe e m caniços d o Ládon.
T a m b é m era tido c o m o deus dos caçadores, mas, q u a n -
d o se d e d i c a v a à c a ç a , e r a m e n o s o terror d o s a n i m a i s s e l -
vagens do que das ninfas, que perseguia c o m seus ardores
a m o r o s o s . C o s t u m a estar à e s p r e i t a atrás d o s r o c h e d o s e
d o s arbustos; p a r a ele, o c a m p o n ã o t e m mistérios. F o i a s s i m
que descobriu e pôde revelar a Júpiter o lugar e m que C e -
res estava escondida depois do rapto de Prosérpina.
N a literatura latina, Pã foi frequentemente c o n f u n d i d o
c o m F a u n o e Silvano. Vários autores consideraram-nos u m a
m e s m a d i v i n d a d e sob diferentes nomes. A s próprias Luper-
c a i s e r a m c e l e b r a d a s e m s u a tríplice h o m e n a g e m . N o e n -
tanto, P ã é o ú n i c o d o s três q u e f o i a l e g o r i z a d o e t i d o c o m o
símbolo da Natureza, segundo o significado de seu nome.
P o r isso atribuem-lhe chifres, p a r a assinalar, s e g u n d o os m i -
t ó l o g o s , o s r a i o s d o s o l ; a v i v a c i d a d e d e s u a tez e x p r i m e o
b r i l h o d o c é u ; a p e l e d e c a b r a estrelada q u e u s a n a a l t u r a d o
e s t ô m a g o r e p r e s e n t a a s estrelas d o f i r m a m e n t o ; e n f i m , s e u s
pés e suas pernas hirtos de pêlos designam a parte inferior
d o m u n d o , a terra, as árvores e as plantas.
Seus amores suscitaram-lhe rivais por v e z e s temíveis.
U m deles, B ó r e a s , q u i s t o m a r - l h e v i o l e n t a m e n t e a n i n f a Pitis,
que a Terra, tomada de compaixão, transformou e m pinhei-
151
Mitologia Grega e Romana
ro. E i s p o r q u e e s s a á r v o r e , q u e a i n d a c o n s e r v a , a o q u e se
diz, os sentimentos d a ninfa, coroa Pã c o m s u a folhagem,
enquanto o sopro de Bóreas provoca seus gemidos.
P ã t a m b é m é a m a d o p o r S e l e n e , isto é , a L u a , o u D i a -
n a , q u e , p a r a v i r visitá-lo n o s v a l e s e grutas d a s m o n t a n h a s ,
despreza o belo e eterno dorminhoco Endimião.
A f á b u l a d o g r a n d e P ã d e u lugar, n o r e i n a d o d e T i b é -
rio, a u m acontecimento que interessou vivamente a cidade
de R o m a e m e r e c e ser contado. N o m a r E g e u , narra Plutar-
co, estava a n a u do piloto T a m o certa noite nas paragens de
determinadas ilhas, q u a n d o o vento cessou completamen-
te. T o d a s as p e s s o a s a b o r d o e s t a v a m b e m despertas, a m a i o -
r i a i n c l u s i v e p a s s a v a o t e m p o b e b e n d o j u n t a s , q u a n d o se
o u v i u de repente u m a v o z que v i n h a das ilhas e c h a m a v a
T a m o . Este deixou-se chamar duas vezes s e m responder,
mas da terceira v e z replicou. A v o z ordenou-lhe que, q u a n -
d o c h e g a s s e e m c e r t o lugar, gritasse q u e o g r a n d e P ã m o r -
r e r a . T o d o s n a n a u f o r a m t o m a d o s d o m e d o e d o terror.
D e l i b e r a r a m se T a m o d e v i a obedecer à v o z , e T a m o c o n -
c l u i u que, q u a n d o chegassem ao lugar indicado, se ventas-
se o bastante p a r a p r o s s e g u i r e m , n ã o seria p r e c i s o d i z e r n a d a ,
m a s , s e a c a l m a r i a o s d e t i v e s s e lá, e r a p r e c i s o c u m p r i r a
ordem recebida. F o i surpreendido por u m a calmaria nesse
l u g a r e l o g o p ô s - s e a gritar c o m t o d a a s u a f o r ç a : " O g r a n -
d e P ã m o r r e u ! " M a l c e s s o u d e gritar, o u v i r a m - s e d e t o d a
parte q u e i x u m e s e gemidos, c o m o de u m grande n ú m e r o
d e p e s s o a s s u r p r e e n d i d a s e aflitas c o m a n o t í c i a .
T o d o s os que estavam n o n a v i o f o r a m testemunhas des-
sa estranha aventura. O rumor propagou-se e m pouco tem-
p o até R o m a . O i m p e r a d o r T i b é r i o q u i s v e r p e s s o a l m e n t e
T a m o ; v i u - o , interrogou-o, r e u n i u os sábios para saber deles
q u e m era esse grande Pã, e concluíram que era o filho de
Mercúrio e Penélope.
O u t r o s m i t ó l o g o s , i n t e r p r e t a n d o e s s e fato, p r e f e r i r a m
v e r nele a morte d o antigo m u n d o r o m a n o e o advento de
u m a n o v a sociedade.
152
As Montanhas, os Bosques, as Divindades Campestres
Mársias
O sátiro Mársias, originári o d e C e l e n e , n a F r i g i a , e r a f i -
lho de Hiagne, que é tido c o m o o inventor da h a r m o n i a fri-
gia. N a escola e sob a direção de u m p a i que c o m p ô s n o -
m o s o u cânticos p a r a a m ã e dos deuses, B a c o , Pã e as o u -
tras d i v i n d a d e s d o p a í s , Mársias n ã o t a r d o u a s o b r e s s a i r - s e
n a m ú s i c a . E c u l t i v o u s u a arte c o m a r d e n t e p a i x ã o . E l e u n i a
a m u i t o espírito, gosto e indústria, u m a s a b e d o r i a e u m a v i r -
tude a toda prova.
Seu génio revelou-se sobretudo n a invenção d a flauta,
e m que s o u b e reunir todos os sons q u e antes se a c h a v a m
r e p a r t i d o s e n t r e os d i v e r s o s t u b o s d a f l a u t a p a s t o r i l ; e p a r -
t i l h a c o m o p a i a h o n r a d e ter m u s i c a d o p e l a p r i m e i r a v e z
os hinos consagrados aos deuses.
Ligado a Cibele, a c o m p a n h o u - a e m todas as suas v i a -
gens, que c o n d u z i r a m ambos a Nisa, onde encontraram
A p o l o . F o i lá q u e , o r g u l h o s o d e s u a s n o v a s descobertas, Már-
sias o u s o u lançar ao d e u s u m desafio q u e foi aceito.
Não foi s e m dificuldades que A p o l o v e n c e u seu con-
corrente, e a crueldade c o m q u e tratou o v e n c i d o mostrou
quanto estava surpreso e i n d i g n a d o c o m tão hábil resistên-
c i a . C o n t a - s e q u e o i n f o r t u n a d o sátiro, d e m a s i a d o c o n f i a n -
te e m s e u saber, f o i a m a r r a d o a u m a á r v o r e e e s f o l a d o v i v o .
Mas acrescenta-se que, passado o calor do s e u ressentimen-
to e a r r e p e n d i d o d e s u a b a r b á r i e , A p o l o r o m p e u a s c o r d a s
d a s u a g u i t a r r a o u d a s u a l i r a e d e p o s i t o u - a c o m as flautas
d e Mársias n u m a c a v e r n a d e B a c o , a q u e m c o n s a g r o u s e u s
instrumentos.
E s s e sátiro f e z e s c o l a e t e v e n u m e r o s o s d i s c í p u l o s . U m
destes, o m a i s c é l e b r e , f o i O l i m p o , q u e t a m b é m r e c e b e u a s
lições d o d e u s Pã.
A s r e p r e s e n t a ç õ e s d e Mársias d e c o r a v a m v á r i o s edifí-
c i o s . V i a - s e n a c i d a d e d e A t e n a s u m a estátua d e M i n e r v a
q u e c a s t i g a v a o sátiro p o r ter-se a p r o p r i a d o d a s flautas q u e
153
154
As Montanhas, os Bosques, as Divindades Campestres
Priapo
155
Mitologia Grega e Romana
156
As Montanhas, os Bosques, as Divindades Campestres
Aristeu
Filho de A p o l o e de Cirene, Aristeu foi criado pelas
n i n f a s q u e l h e e n s i n a r a m a t a l h a r o leite, a c u l t i v a r as o l i v e i -
ras e a criar abelhas. A m a n t e da n i n f a Eurídice, foi causa d a
sua morte, perseguindo-a n o dia de suas núpcias com
Orfeu: quando fugia dele, a infeliz n ã o percebeu sob seus
pés u m a serpente escondida no mato. A picada da serpen-
te t i r o u - l h e a v i d a . P a r a v i n g á - l a , a s n i n f a s , s u a s c o m p a n h e i -
r a s , f i z e r a m t o d a s as a b e l h a s d e A r i s t e u p e r e c e r e m . Sua
m ã e , Cirene, a q u e m i m p l o r o u socorro para reparar essa per-
da, levou-o a consultar Proteu, de q u e m ficou sabendo a
causa de s e u infortúnio, e r e c e b e u a o r d e m de aplacar a a l -
m a d e Eurí dice c o m sacrifícios e x p i a t ó r i o s . D ó c i l a s e u s c o n -
selhos, Aristeu i m o l o u imediatamente quatro jovens touros
e o u t r a s tantas n o v i l h a s ; v i u s u r g i r e n t ã o u m a n u v e m d e
abelhas que lhe permitiram reconstituir suas colméias.
Casou-se c o m Autônoe, filha de C a d m o , c o m q u e m teve
Actáion. D e p o i s d a morte desse filho dilacerado p o r seus
cães, retirou-se para Céos, ilha d o m a r E g e u , então devas-
tada por u m a peste que ele fez cessar oferecendo aos d e u -
s e s sacrifícios; d a í p a s s o u à S a r d e n h a , q u e f o i o p r i m e i r o a
c i v i l i z a r , e m s e g u i d a à Sicília, o n d e d i f u n d i u o s m e s m o s b e -
n e f í c i o s e, e n f i m , à T r á c i a , o n d e B a c o i n i c i o u - o n a s o r g i a s .
Estabelecido no monte H e m o , que escolhera para morada,
desapareceu de repente para sempre. O s deuses puseram-no
e n t r e as estrelas e, s e g u n d o certos a u t o r e s , t o r n o u - s e o s i g -
n o de Aquário.
O s gregos v e n e r a m - n o desde então c o m o u m deus, so-
b r e t u d o n a Sicília; f o i e l e u m a d a s g r a n d e s d i v i n d a d e s c a m -
pestres, e os pastores r e n d i a m - l h e u m culto particular.
Heródoto conta q u e Aristeu apareceu e m Cízico depois
d a s u a m o r t e , q u e d e s a p a r e c e u u m a s e g u n d a v e z e, a p ó s
t r e z e n t o s a n o s , t o r n o u a r e a p a r e c e r e m M e t a p o n t o . Lá o r d e -
n o u aos h a b i t a n t e s q u e l h e e r i g i s s e m u m a estátua a o l a d o
157
Mitologia Grega e Romana
da d e A p o l o , o r d e m a q u e estes o b e d e c e r a m d e p o i s d e te-
r e m consultado o oráculo. Segundo Plutarco, Aristeu deixa-
v a e r e t o m a v a s u a a l m a à v o n t a d e e, q u a n d o e l a saía d e s e u
c o r p o , o s assistentes v i a m - n a s o b a f o r m a d e u m c e r v o .
Dafnis
D á f n i s , p a s t o r d a Sicília, f i l h o d e M e r c ú r i o e d e u m a
ninfa, a p r e n d e u c o m o próprio Pã a cantar e a tocar flauta
e foi protegido das Musas, q u e lhe inspiraram o a m o r à
poesia. F o i o primeiro, diz-se, a exceler n a poesia pastoral.
Antes dele, os pastores l e v a v a m u m a v i d a selvagem; ele
s o u b e civilizá-los, e n s i n o u - l h e s a r e s p e i t a r e v e n e r a r o s
deuses; p r o p a g o u entre eles o culto de B a c o , q u e celebra-
v a s o l e n e m e n t e . Notável p o r s u a b e l e z a e s u a s a b e d o r i a , e r a ,
ao m e s m o tempo, querido dos deuses e dos homens. Q u a n -
d o m o r r e u , as n i n f a s c h o r a r a m - n o , P ã e A p o l o , q u e s e -
g u i a m seus passos, desertaram os c a m p o s , a própria terra
t o r n o u - s e estéril o u c o b r i u - s e d e s a r ç a s e e s p i n h o s .
M a s D á f n i s f o i a d m i t i d o n o O l i m p o e, u m a v e z r e c e b i -
d o entre o s d e u s e s , t o m o u s o b a s u a p r o t e ç ã o o s p a s t o r e s e
os rebanhos. O c a m p o m u d o u de aspecto, cobriu-se de ver-
d u r a , d e f l o r e s e d e c o l h e i t a s . N a s m o n t a n h a s , s ó se o u v i -
r a m gritos d e a l e g r i a e c a n t o s j u b i l o s o s . N o s r o c h e d o s , n o s
a r v o r e d o s e c o a v a m estas p a l a v r a s : " D á f n i s , s i m , D á f n i s é
u m deus."
E s s e d e u s c a m p e s t r e t i n h a s e u s t e m p l o s , s e u s altares;
f a z i a m - l h e l i b a ç õ e s , c o m o a B a c o e a C e r e s ; p a r a os h a b i -
tantes d o c a m p o e r a q u a s e o u t r o A p o l o .
Diz-se que não contente de guardar seus belos reba-
nhos, ele t a m b é m ia à caça. E era tal o encanto que esse
caçador divino espalhava à sua volta, que, ao morrer, seus
c ã e s t a m b é m s e d e i x a r a m m o r r e r d e dor.
158
As Montanhas, os Bosques, as Divindades Campestres
159
Mitologia Grega e Romana
160
Divindades do Campo e da Cidade
Particulares a Roma
Faunos, Silvanos
161
Mitologia Grega e Romana
Vertumno
162
Divindades do Campo e da Cidade Particulares a Roma
Flora
F l o r a e r a u m a n i n f a d a s ilhas A f o r t u n a d a s , situadas, a c r e -
dita-se, a o c i d e n t e d a África: o s g r e g o s c h a m a v a m - n a C l ó -
ris. Zéfiro a m o u - a , raptou-a e fez d e l a s u a esposa, conser-
vando-a n o brilho da juventude e dando-lhe o império das
flores. Seu h i m e n e u celebrou-se n o m ê s de m a i o , e os poe-
tas, d e s c r e v e n d o as e s t a ç õ e s , n ã o se e s q u e c e m d e d a r l u g a r
a esses dois esposos n o cortejo d a P r i m a v e r a . F l o r a era ado-
rada entre os sabinos, q u e transportaram esse culto a R o m a .
Pomona
163
Mitologia Grega e Romana
Pales
O deus Termo
O d e u s T e r m o , d a família d o s F a u n o s e d o s S i l v a n o s ,
e r a o p r o t e t o r d o s m a r c o s q u e se p õ e m n o s c a m p o s e o
vingador das usurpações. T a m b é m era u m deus exclusiva-
mente romano. O culto dessa divindade fora estabelecido
p o r N u m a , d e p o i s d a r e p a r t i ç ã o d a s terras e n t r e o s c i d a -
d ã o s . S e u p e q u e n o t e m p l o se e r g u i a n a r o c h a T a r p é i a . M a i s
tarde, tendo T a r q u i n i o , o Soberbo, querido construir n o C a -
pitólio u m t e m p l o p a r a J ú p i t e r , f o i p r e c i s o d e s l o c a r as e s t á -
t u a s e m e s m o os s a n t u á r i o s q u e lá já se e n c o n t r a v a m .
T o d o s os deuses c e d e r a m s e m resistência o lugar que o c u -
p a v a m , mas o deus T e r m o resistiu contra todos os esforços
164
Divindades do Campo e da Cidade Particulares a Roma
q u e f i z e r a m p a r a retirá-lo e f o i p r e c i s o d e i x á - l o n o lugar.
A s s i m , ele p e r m a n e c e u n o próprio t e m p l o q u e f o i erguido
n e s s e lugar. O p o v o r o m a n o p e n s o u v e r n e s s e fato u m a g a -
rantia da duração eterna de seu império; ademais, persua-
diu-se de q u e n ã o há n a d a mais sagrado d o q u e os limites
de u m campo.
O deus T e r m o foi representado primeiro sob a figura de
u m a g r a n d e p e d r a q u a d r a n g u l a r o u d e u m c e p o ; m a i s tar-
de, atribuíram-lhe u m a c a b e ç a h u m a n a posta n u m m a r c o
piramidal; mas estava sempre s e m braços e s e m pés, para
q u e , d i z - s e , n ã o p u d e s s e m u d a r d e lugar.
N o d i a d a s u a festa, o f e r e c i a m - l h e leite, m e l , f r u t a s , r a -
r a m e n t e p e q u e n a s ví timas; n a q u e l e d i a t a m b é m o r n a v a m -
se c o m g u i r l a n d a s o s m a r c o s d o s c a m p o s e, i n c l u s i v e , d a s
grandes estradas.
Juno
165
Mitologia Grega e Romana
R o m a u m t e m p l o q u e p e r m a n e c i a aberto e m t e m p o d e g u e r -
ra e que era fechado e m tempo de paz. Esse templo foi fe-
chado u m a v e z sob o reinado de N u m a ; a segunda vez, de-
p o i s d a s e g u n d a g u e r r a p ú n i c a , e três v e z e s , e m d i v e r s o s
intervalos, sob o reinado de Augusto.
Ovídio diz que J a n o tem u m a d u p l a face porque exer-
ce seu p o d e r sobre o c é u e sobre o mar, a s s i m c o m o sobre
a terra; é t ã o a n t i g o q u a n t o o m u n d o ; t u d o se a b r e o u se f e -
c h a à sua vontade. Só ele governa a vasta extensão do u n i -
v e r s o . P r e s i d e às p o r t a s d o c é u e g u a r d a - a s j u n t o c o m as
Horas. O b s e r v a ao m e s m o tempo o oriente e o ocidente.
É r e p r e s e n t a d o t e n d o n u m a m ã o u m a c h a v e e, n a o u -
tra, u m a v a r a , p a r a a s s i n a l a r q u e é o g u a r d i ã o d a s p o r t a s
(Januae) e q u e p r e s i d e a o s c a m i n h o s . S u a s estátuas m u i t a s
v e z e s m a r c a m c o m a m ã o d i r e i t a o n ú m e r o trezentos e, c o m
a esquerda, o n ú m e r o sessenta e cinco, para e x p r i m i r a m e -
dida do ano. E r a o p r i m e i r o a ser i n v o c a d o q u a n d o se fazia
u m sacrifício a q u a l q u e r o u t r o d e u s .
H a v i a e m R o m a vários templos de J a n o , u n s de J a n o
Bifronte, outros de J a n o Quadrifonte. Além da porta de J a -
nículo, h a v i a m sido erguidos, fora dos muros de R o m a , do-
z e altares a J a n o , r e l a t i v o s a o s d o z e m e s e s d o a n o .
No reverso das suas medalhas, via-se u m n a v i o o u sim-
plesmente u m a proa, e m memória da chegada de Saturno
n a Itália a b o r d o d e u m a n a u .
O m ê s d e j a n e i r o (januarius), a q u e m o rei N u m a deu
seu nome, lhe era consagrado.
Posteridade de Jano
O s l a t i n o s a t r i b u í a m a S a t u r n o u m f i l h o n a s c i d o n o Lá-
cio, Pico, esposo da bela Canente, filha de Jano. Por esse
c a s a m e n t o , f o r a m r e u n i d a s d u a s famílias d e d e u s e s a b o r í -
genes. Pico, amador de cavalos, ocupou-se sobretudo das
p a s t a g e n s ; e, a p e s a r d a s u a m e t a m o r f o s e e m p i c a - p a u , c o n -
166
Divindades do Campo e da Cidade Particulares a Roma
Jutuma
Carmenta
C a r m e n t a , d i v i n d a d e r o m a n a e, a o m e s m o t e m p o , p r o -
fetis a d a A r c á d i a , t e v e d e M e r c ú r i o E v a n d r o , c o m o q u a l f o i
p a r a a Itália, o n d e F a u n o , r e i d o L á c i o , os r e c e b e u f a v o r a -
velmente. D e p o i s d a s u a morte, foi admitida entre os d e u -
s e s I n d í g e t e s d e R o m a . T i n h a u m altar p e r t o d a p o r t a C a r -
mental e u m templo n a cidade. É representada c o m os tra-
167
Mitologia Grega e Romana
ç o s d e u m a m o ç a c u j o s c a b e l o s , q u e se f r i s a m n a t u r a l m e n t e ,
c a e m e m anéis sobre seus ombros; usa u m a coroa de favas
e p e r t o d e l a se e n c o n t r a u m a h a r p a , s í m b o l o d e s e u c a r á t e r
profético.
168
Os Deuses da Pátria, da Família,
da Vida Humana
169
Mitologia Grega e Romana
Os Cabiros
E m certas i l h a s d a G r é c i a , o c u l t o d a s d i v i n d a d e s a r c a i -
cas, anteriores à religião n a c i o n a l , perpetuara-se e m a n t i v e -
ra-se, durante longos séculos, ao lado d o culto p o r a s s i m
d i z e r o f i c i a l . Até a c o n q u i s t a d a G r é c i a e m e s m o até o s últi-
m o s dias d a República r o m a n a , essas divindades pré-histó-
r i c a s , se n ã o t i n h a m m a i s m i n i s t r o s , p e l o m e n o s t i n h a m c e r -
to n ú m e r o d e fiéis a d o r a d o r e s .
A i n i c i a ç ã o a o s m i s t é r i o s d e s s a s d i v i n d a d e s , as m a i s a n -
tigas d o m u n d o m i t o l ó g i c o , e r a u m f a v o r s e m p r e p r o c u r a -
do. A supremacia dos deuses do O l i m p o n ã o havia alterado
n e m a lembrança dessas potências misteriosas, n e m o sen-
timento de sua grandeza.
Nessa classe, d e v e m o s incluir os Cabiros d a Samotrá-
c i a , os T e l q u i n e s d e R o d e s , o s D á c t i l o s , o s C u r e t e s , o s C o -
r i b a n t e s d e C r e t a . É b a s t a n t e difícil, s e n ã o i m p o s s í v e l , f o r -
necer detalhes precisos sobre a origem, o caráter e o culto
desses deuses. O s autores n ã o estão de acordo entre si so-
b r e todos esses p o n t o s . D e resto, c o m o os i n i c i a d o s n o s m i s -
térios s ã o o b r i g a d o s a m a n t e r u m s i l ê n c i o a b s o l u t o s o b r e
s u a s c r e n ç a s e s u a s práticas r e l i g i o s a s , c o n c e b e - s e q u e s ó
se c o m e t e r a m r a r a s i n d i s c r i ç õ e s . N a p r ó p r i a A n t i g u i d a d e ,
n ã o há mais d o que simples conjeturas sobre o assunto.
O s C a b i r o s e r a m f i l h o s d e V u l c a n o ; esta e r a a o p i n i ã o
mais geral, e m b o r a alguns autores os d i g a m filhos de J ú -
p i t e r o u d e P r o s é r p i n a . E x p l o r a v a m as m i n a s d e f e r r o , e m
p a r t i c u l a r as d a S a m o t r á c i a , m a s t r a b a l h a v a m t o d o s o s m e -
tais. T a l v e z s e u c u l t o t e n h a v i n d o d o E g i t o , p o i s , e m M ê n f i s ,
tinham u m templo; contudo, diz-se mais costumeiramente
que v ê m d a Frigia. N a Samotrácia, estabeleceram os céle-
bres mistérios cujo c o n h e c i m e n t o era objeto dos votos de
q u e m se t i v e s s e d i s t i n g u i d o p o r s u a c o r a g e m e s u a s v i r t u -
d e s . C a d m o , O r f e u , H é r c u l e s , Cástor, P ó l u x , U l i s s e s , A g a -
m ê m n o n , Enéias, se acreditarmos n a fábula, fizeram-se i n i -
170
Os Deuses da Pátria, da Família, da Vida Humana
c i a r e m tais mistérios. P e l o m e n o s , n o s t e m p o s h i s t ó r i c o s ,
Filipe, pai de Alexandre, aspirou e alcançou a honra dessa
iniciação.
O s pelasgos, n a é p o c a de sua migração para a Grécia,
l e v a r a m e s s a s festas m i s t e r i o s a s a A t e n a s . L i c o , q u e p r o v é m
d e s s a última c i d a d e e se t o r n o u m a i s t a r d e r e i d a M e s s ê n i a ,
estabeleceu-as e m Tebas; seus sucessores fizeram-nas cele-
brar e m seus Estados.
E n é i a s f e z a Itália c o n h e c e r o c u l t o d o s C a b i r o s ; A l b a
r e c e b e u - o e R o m a e r g u e u n o C i r c o três altares a e s s e s d e u -
ses, q u e e r a m i n v o c a d o s n o s i n f o r t ú n i o s d o m é s t i c o s , n a s
t e m p e s t a d e s e, s o b r e t u d o , n o s f u n e r a i s , s e m n u n c a d e s i g -
ná-los por seu próprio nome. E r a m chamados apenas c o m
u m termo geral: "Deuses poderosos" o u "Deuses associa-
dos". Alguns autores pretenderam, mas s e m provas, que
e r a m Plutão, Prosérpina e Mercúrio, divindades infernais
o u que presidiam à morte. C o m o o culto dos Cabiros era
b e m i n f e r i o r a o d e s s e s d e u s e s , s ó se d e v e reter d e s s a s u p o -
sição o caráter fúnebre dessas forças misteriosas e divinas.
N a s i n i c i a ç õ e s , o p o s t u l a n t e e r a s u b m e t i d o a p r o v a s terrí-
v e i s m a s n ã o p e r i g o s a s ; d e p o i s v e s t i a m - n o c o m trajes m a g -
níficos, faziam-no sentar n u m trono i l u m i n a d o por m i l
l u z e s ; p u n h a m - l h e n a testa u m a c o r o a d e o l i v e i r a , u m c i n t o
de púrpura e m torno da cintura, e os outros iniciados e x e -
c u t a v a m d a n ç a s s i m b ó l i c a s ante s e u s o l h o s .
O u t r o s p r e t e n d e r a m q u e os C a b i r o s a princípio n ã o e r a m
m a i s q u e h á b e i s m á g i c o s q u e se e n c a r r e g a v a m d e e x p i a r os
c r i m e s d o s h o m e n s p o r m e i o d e certas f o r m a l i d a d e s o u c e r i -
m o n i a s . V i a m v i r até eles os g r a n d e s c u l p a d o s e m a n d a v a m -
n o s e m b o r a a b s o l v i d o s e t r a n q u i l i z a d o s . M o r r e n d o esses
C a b i r o s , ter-se-ia feito d e l e s d e u s e s e suas c e r i m o n i a s d e
e x p i a ç ã o ter-se-iam t o r n a d o o f u n d o d e seus mistérios.
N u m a m e d a l h a de T r a j a n o está representado u m deus
Cabiro: tem a cabeça coberta c o m u m gorro que termina
e m p o n t a ; n u m a m ã o s e g u r a u m g a l h o d e c i p r e s t e e, n a o u -
171
Mitologia Grega e Romana
tra, u m e s q u a d r o . T r a z n o s o m b r o s u m m a n t o e s t e n d i d o e
calça coturnos.
E m T e b a s , L e m n o s e s o b r e t u d o n a S a m o t r á c i a , as C a -
b i n a s , o u festas s o l e n e s e m h o m e n a g e m a o s C a b i r o s , e r a m
celebradas à noite.
Os Telquines
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Os Deuses da Pátria, da Família, da Vida Humana
Os deuses Penates
173
Mitologia Grega e Romana
Os deuses Lares
174
Os Deuses da Pátria, da Família, da Vida Humana
Os Génios
Além d a s d i v i n d a d e s tutelares, d e s i g n a d a s p e l o s n o m e s
d e P e n a t e s e L a r e s , o s i m p é r i o s , a s p r o v í n c i a s , as c i d a d e s ,
os c a m p o s , e m s u m a , todos os lugares t i n h a m s e u g é n i o
protetor e c a d a h o m e m tinha o seu. C a d a u m , n o aniversá-
r i o d o s e u n a s c i m e n t o , o f e r e c i a sacrifí cios a s e u g é n i o . O f e -
r e c i a - l h e v i n h o , f l o r e s , i n c e n s o , m a s n ã o se d e g o l a v a m víti-
m a s n e s s a s e s p é c i e s d e sacrifícios.
O s Lares e os Penates e r a m divindades especialmente
veneradas pelos r o m a n o s , e m b o r a os gregos t a m b é m cos-
t u m a s s e m i n v o c a r o s d e u s e s d o lar. M a s e s s e s d o i s p o v o s
acreditavam igualmente nos génios, nos bons que prote-
g e m e c o n d u z e m ao b e m , assim c o m o nos maus, que pre-
judicam e c o n d u z e m ao mal.
O b o m Génio é representado pela figura de u m belo
r a p a z c o r o a d o d e f l o r e s o u e s p i g a s d e trigo; o m a u G é n i o ,
c o m os traços d e u m a n c i ã o d e b a r b a c o m p r i d a , c a b e l o s c u r -
tos e t e n d o n a m ã o u m a c o r u j a , a v e d e m a u a g o u r o .
A Fortuna
175
Mitologia Grega e Romana
n e n t e , c o m p l a c e n t e , v i t o r i o s a . E m E g i n a , t i n h a u m a estátua
q u e trazia e m suas m ã o s u m a cornucópia; perto dela esta-
v a u m C u p i d o alado.
A Má F o r t u n a é expressa sob a figura de u m a m u l h e r
exposta n u m n a v i o s e m mastro e s e m timão, e cujos véus
são rasgados pela violência dos ventos.
T o d o s o s e s f o r ç o s , t o d o s o s d e s e j o s , t o d a s as s ú p l i c a s
d o h o m e m t e n d i a m apenas a conjurar os traços d a Fortuna;
e, e m c a d a c o n d i ç ã o , c a d a c i r c u n s t â n c i a d a v i d a , e l e e n c o n -
tra p e r t o d e s i a l g u m a d i v i n d a d e q u e se t o r n a s u a a u x i l i a r .
No momento e m que sua mãe o põe no mundo, ela é
a s s i s t i d a e s o c o r r i d a p o r J u n o o u s u a f i l h a , Ilítia, a bela fian-
deira. E l e c r e s c e , se d e s e n v o l v e , m a s p r e c i s a d e s a ú d e . E s t a
l h e será p r o p o r c i o n a d a p o r E s c u l á p i o , p r i m e i r o , d e p o i s p o r
Higéia.
176
Os Deuses da Pátria, da Família, da Vida Humana
d i o s ; p r a t i c o u c o m t a m a n h a h a b i l i d a d e e s u c e s s o a arte d e
c u r a r os f e r i m e n t o s e as d o e n ç a s , q u e f o i c o n s i d e r a d o o d e u s
da cirurgia e da medicina.
A c o m p a n h o u Hércules e J a s ã o n a e x p e d i ç ã o da Cól-
quida e prestou grandes serviços aos Argonautas. Não c o n -
tente c o m c u r a r o s d o e n t e s , c h e g o u a r e s s u s c i t a r o s m o r t o s .
V i m o s n a fábula de A p o l o c o m o essa temeridade foi p u n i -
da. C o m o Esculápio parecia u s u r p a r a s s i m os direitos d a
divindade suprema, senhora da vida dos homens, Júpiter
exterminou-o c o m u m raio. Mas, depois da sua morte, n ã o
se d e i x o u d e p r e s t a r - l h e as h o n r a s d i v i n a s .
Certo autor pretende que ele f o r m a v a n o c é u a conste-
l a ç ã o q u e se c h a m a v a Serpentário. Segundo Pausânias, seus
d e s c e n d e n t e s r e i n a r a m n u m a p a r t e d a M e s s ê n i a , e f o i d e lá
q u e M a c á o n e Podalírio, seus dois filhos, partiram par a a
guerra de Tróia.
Seu culto foi estabelecido primeiro e m Epidauro, lugar
d e s e u n a s c i m e n t o ; d e lá p r o p a g o u - s e e m s e g u i d a a t o d a a
Grécia. Veneravam-no e m E p i d a u r o sob a forma de u m a
serpente.
U m a estátua de o u r o e m a r f i m , obra de T r a s i m e d e s de
Paros, representava-o sob o aspecto de u m h o m e m senta-
do n u m trono, tendo u m bastão n u m a das mãos e apoiando
a outra n a c a b e ç a de u m a serpente, c o m u m cachorro dei-
tado perto de si.
O galo, a serpente, a tartaruga, s í m b o l o s d a vigilância e
d a prudência necessárias aos m é d i c o s , e r a m - l h e e s p e c i a l m e n -
te consagrados. C o b r a s domesticadas e r a m alimentadas n o
t e m p l o d e E p i d a u r o , e pretendia-se i n c l u s i v e q u e e r a s o b esse
aspecto q u e Esculápio se d e i x a v a v e r ; p e l o m e n o s o s r o m a n o s
a c r e d i t a v a m q u e ele h a v i a v i n d o a eles s o b essa f o r m a , q u a n -
do mandaram u m a embaixada a Epidauro para implorar a
p r o t e ç ã o d o d e u s contra a peste q u e a s s o l a v a s u a cidade.
A t e n a s e R o m a c e l e b r a v a m s o l e n e m e n t e a s festas c h a -
m a d a s Epidáurias o u Esculápias e m h o m e n a g e m a esse
177
178
Os Deuses da Pátria, da Família, da Vida Humana
Higéia
179
Mitologia Grega e Romana
Himeneu
O deus H i m e n e u , filho de B a c o e Vénus, presidia ao ca-
s a m e n t o . C e r t o s poetas f a z e m - n o n a s c e r d a m u s a Urânia, o u -
tros d a m u s a C a l í o p e e d e A p o l o . Q u a l q u e r q u e seja a s u a
genealogia, esse deus d e s e m p e n h a u m p a p e l importante n a
v i d a h u m a n a , e seu culto era apreciadíssimo e m toda parte.
O s atenienses sempre o i n v o c a v a m nas cerimonias do casa-
m e n t o ; n a s festas s o l e n e s , c h a m a v a m - n o p o r u m c a n t o d e
triunfo: " H i m e n e u , H i m e n e u ! Ó H i m e n e u , H i m e n e u ! "
E r a representado sob o aspecto de u m rapaz louro co-
r o a d o d e flores, s o b r e t u d o d e m a n j e r o n a , t r a z e n d o n a m ã o
direita u m a tocha e n a esquerda u m véu amarelo, cor que
era, e m R o m a , particularmente destinada ao casamento.
Assim, nas bodas romanas, o véu da noiva era de u m ama-
relo fulgurante. Por vezes, esse deus, coroado de rosas, u s a
u m traje b r a n c o b o r d a d o d e flores; c e r t o s m i t ó l o g o s l h e
atribuem u m anel de ouro, u m jugo e peias nos pés, alego-
ria tornada ainda mais transparente por duas tochas c o m
u m a só c h a m a , postas e m suas m ã o s o u perto dele.
Como e Momo
Morfeu
Se, a p ó s s e u s t r a b a l h o s a q u e o s g r a n d e s d e u s e s p r e s i -
d e m , o h o m e m desejasse repousar, M o r f e u , filho do Sono e
180
Os Deuses da Pátria, da Família, da Vida Humana
da N o i t e , c o m u m a p a p o u l a n a m ã o , c h e g a v a t r a z i d o p o r
s u a s asas d e b o r b o l e t a e a p e n a s t o c a v a a p e s s o a c o m o
caule da planta, o que bastava para adormecê-la.
O Sono, p a i dos Sonhos e irmão da Morte, tinha sua
m o r a d a aprazível n a ilha de L e m n o s , s e g u n d o H o m e r o , o u ,
s e g u n d o O v í d i o , n o p a í s d o s c i m é r i o s . E s s e d e u s q u e se i n -
t r o d u z t ã o m i s t e r i o s a m e n t e e m n o s s o ser, f a z e n d o - n o s e s -
q u e c e r n o s s a s tristezas, n o s s a s f a d i g a s e r e p a r a n d o n o s s a s
forças, r e p o u s a v a , sob os traços de u m a criança o u de u m
efebo, n o f u n d o de u m a gruta silenciosa e impenetrável à
luz do dia. C o m u m a das mãos segurava u m dente, c o m a
outra, u m a c o r n u c ó p i a ; e os S o n h o s , s e u s f i l h o s , d o r m i a m
dispersos aqui e ali, sobre papoulas, e m volta da sua cama.
Portanto, noite e dia, a v i d a h u m a n a inteira transcorria
e m c o m p a n h i a e sob os olhares dos deuses. D e p o i s da mor-
te, o s h o m e n s e n c o n t r a v a m - s e n o I n f e r n o e m m e i o a o u t r a s
divindades.
181
O Mundo Infernal
O Inferno
183
Mitologia Grega e Romana
t r o d u z i r p a r t i c u l a r i d a d e s d i v e r g e n t e s e, n ã o r a r o , c o n t r a d i -
tórias. N o e n t a n t o , é p o s s í v e l f a z e r u m a idéia g e r a l d o m a p a
geográfico d o I n f e r n o tal c o m o a Antiguidade o i m a g i n a v a
e m seu conjunto. Distinguiam-se nele quatro regiões prin-
cipais.
A p r i m e i r a , mais próxima d a terra, era o Érebo; além
deste f i c a v a o I n f e r n o dos m a u s ; n a terceira região estava o
T á r t a r o e a q u a r t a c o m p r e e n d i a o s C a m p o s Elísios.
N o Érebo, via-se o palácio d a Noite, b e m c o m o o do
S o n o e d o s S o n h o s : e r a a m o r a d a d e C é r b e r o , d a s Fúrias e
d a M o r t e . E r a lá q u e e r r a v a m d u r a n t e c e m a n o s as s o m b r a s
infortunadas cujos corpos n ã o h a v i a m recebido sepultura;
e, q u a n d o U l i s s e s e v o c o u os m o r t o s , os q u e l h e a p a r e c e -
r a m , diz H o m e r o , saíram apenas d o Érebo.
O I n f e r n o d o s m a u s e r a o l u g a r t e m í v e l d e t o d a s as
e x p i a ç õ e s . E r a lá q u e o c r i m e s o f r i a s e u j u s t o castigo, lá q u e
o r e m o r s o roí a s u a s vítimas, lá e n f i m q u e se f a z i a m o u v i r a s
l a m e n t a ç õ e s e o s gritos a g u d o s d a dor. Lá se v i a m t o d o s o s
géneros de tortura. E s s a região p a v o r o s a , cujas planícies
n ã o e r a m mais que aridez, cujas montanhas e r a m só rochas
e escarpas, encerrava lagos gelados e lagos de enxofre e p e z
f e r v e n t e , o n d e as a l m a s e r r a v a m s u c e s s i v a m e n t e i m e r s a s e
s o f r i a m s u c e s s i v a m e n t e as p r o v a ç õ e s d e u m f r i o o u d e u m
calor extremos. E l a era cercada de pântanos lamacentos e
fétidos, de rios de águas estagnadas o u e m brasa, f o r m a n -
d o u m a b a r r e i r a i n t r a n s p o n í v e l e n ã o d e i x a n d o às a l m a s
n e n h u m a esperança de fuga, de consolo, n e m de socorro.
O Tártaro propriamente dito v i n h a depois desse Infer-
n o : e r a a p r i s ã o d o s d e u s e s . C e r c a d o p o r u m m u r o tríplice
de bronze, sustentava os vastos f u n d a m e n t o s d a terra e dos
m a r e s . S u a p r o f u n d i d a d e d i s t a n c i a v a - o tanto d a s u p e r f í c i e
d a t e r r a q u a n t o esta e r a a f a s t a d a d o c é u . E r a lá q u e e s t a v a m
e n c e r r a d o s o s Titãs, o s G i g a n t e s e o s d e u s e s a n t i g o s e x p u l -
s o s d o O l i m p o p e l o s d e u s e s r e i n a n t e s e v i t o r i o s o s ; e r a lá
t a m b é m q u e se e n c o n t r a v a o p a l á c i o d o r e i d o I n f e r n o .
184
O Mundo Infernal
O s C a m p o s Elísios c o n s t i t u í a m a m o r a d a f e l i z d a s a l -
m a s v i r t u o s a s . R e i n a v a lá u m a e t e r n a p r i m a v e r a ; a terra s e m -
pre sorridente cobria-se s e m cessar de verdura, folhagens,
flores e frutas. À s o m b r a dos arvoredos cheirosos, dos bos-
ques, dos maciços de rosas e murtas alegrados pelo canto
e o chilrear dos passarinhos, banhados pelas águas do Lete
de s u a v e murmúrio, as almas afortunadas g o z a v a m o mais
delicioso repouso e desfrutavam de u m a juventude perpé-
t u a , s e m i n q u i e t u d e n e m dor. D e i t a d o s e m leitos d e a s f ó d e -
l o , p l a n t a d e f o l h a g e m pálida, o u p r e g u i ç o s a m e n t e s e n t a -
dos n a relva fresca, os heróis contavam-se u n s aos outros
s u a s f a ç a n h a s , o u e s c u t a v a m os p o e t a s c e l e b r a r e m s e u n o m e
e m versos de u m a alegria deslumbrante. E n f i m , nos C a m -
p o s Elísios, h a v i a m s i d o r e u n i d o s t o d o s o s e n c a n t o s e o s
prazeres, c o m o h a v i a m sido acumulados n o Inferno dos
c u l p a d o s t o d a sorte d e t o r m e n t o s .
D i a n t e d o v e s t í b u l o d o I n f e r n o , n a estreita p a s s a g e m
que leva à sombria m o r a d a , habitam espectros assustadores.
F o i lá q u e a D o r , o L u t o , o s R e m o r s o s t o r t u r a n t e s , a s páli-
d a s D o e n ç a s , a triste V e l h i c e , o T e r r o r , a F o m e , m á c o n s e -
lheira, a vergonhosa Indigência, a Fadiga, o Esgotamento, a
M o r t e , e l e g e r a m d o m i c í l i o . Lá t a m b é m p o d e - s e v e r o S o n o ,
i r m ã o d a M o r t e , as A l e g r i a s c u l p a d a s e, e m f a c e d e l e s , a
G u e r r a mortífera, as jaulas de ferro das E u m ê n i d e s e a cega
Discórdia, cuja cabeleira de serpentes é enlaçada de faixas
ensanguentadas. N o m e i o do vestíbulo ergue-se u m o l m o
frondoso, imenso, n o q u a l residem os Sonhos quiméricos -
v e m o - l o s a d e r i n d o s o b t o d a s as f o l h a s . N e s s e lugar, e n c o n -
tram-se ainda muitos outros espectros monstruosos de toda
espécie e de toda c o n f o r m a ç ã o ; representam centauros, se-
r e s h í b r i d o s , gigantes d e c e m b r a ç o s , a h i d r a d e L e r n a , u m a
Q u i m e r a q u e v o m i t a c h a m a s e d á a s s o b i o s horríveis, G ó r g o -
n a s , H a r p i a s , h o m e n s c o m p o s t o s d e três c o r p o s r e u n i d o s
n u m s ó . É p o r e s s a v e r e d a p a v o r o s a q u e c h e g a m as s o m -
185
Mitologia Grega e Romana
b r a s , e d a í e l a s se e n c a m i n h a m a t é s e u s j u í z e s , m a s é p r e -
ciso que atravessem primeiramente os rios infernais.
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O Mundo Infernal
Plutão, ou Hades
187
Mitologia Grega e Romana
188
O Mundo Infernal
189
Mitologia Grega e Romana
190
O Mundo Infernal
Á t r o p o s , l h e t i v e s s e c o r t a d o u m c a b e l o fatal a q u e a v i d a e s -
tava presa.
A Sicília e r a o l u g a r e m q u e o c u l t o d e s s a d e u s a e r a
mais solene, e os sicilianos n ã o p o d i a m garantir a fidelida-
d e d e s u a s p r o m e s s a s p o r u m j u r a m e n t o m a i s forte d o q u e
j u r a n d o p o r P r o s é r p i n a . N o s f u n e r a i s , batia-se n o p e i t o e m
s u a h o n r a ; o s a m i g o s , o s serviçais d o m o r t o p o r v e z e s c o r -
t a v a m os cabelos e jogavam-nos n a fogueira fúnebre para
dobrar essa divindade. I m o l a v a m - l h e cachorros, c o m o a
H é c a t e , e s o b r e t u d o n o v i l h a s estéreis. O s a r c a d i a n o s l h e h a -
v i a m consagrado u m templo c o m o nome de Conservado-
ra, p o r q u e i n v o c a v a m - n a p a r a e n c o n t r a r o b j e t o s p e r d i d o s .
Essa deusa é ordinariamente representada ao lado de
seu esposo, n u m trono de é b a n o e segurando u m a tocha
que lança u m a c h a m a mesclada c o m u m a fumaça escura.
N a c e n a d o rapto, aparece desmaiada de terror n o carro
q u e d e v e transportá-la p a r a o I n f e r n o . A p a p o u l a é s e u atri-
b u t o ordinário. Se p o r v e z e s p õ e m - l h e n a m ã o direita u m b u -
191
Mitologia Grega e Romana
q u ê d e n a r c i s o , é p o r q u e , s e g u n d o se c o n t a , e s t a v a o c u p a -
da e m colher essa flor primaveril q u a n d o foi surpreendida
e raptada p o r Plutão.
D a v a m - l h e e m g r e g o o n o m e d e C o r a , isto é , " m o ç a " ,
porque supunha-se que a rainha do império dos Mortos
n ã o d e v i a ter f i l h o s o u p o r q u e a i n d a n ã o e r a m a i s q u e u m a
adolescente, q u a n d o d e s c e u ao Inferno. N o entanto, teve
u m filho de Júpiter, q u e se fez a m a r p o r ela sob a f o r m a de
u m a serpente. Esse filho, chamado Sabázio, era de u m a
habilidade notável, foi ele que soube costurar B a c o n a c o x a
de seu pai.
Prosérpina e Plutão n ã o e r a m sempre n e m por toda
parte considerados c o m o divindades infernais. A l g u n s p o -
v o s q u e se d e d i c a v a m s o b r e t u d o à a g r i c u l t u r a v e n e r a v a m -
nos c o m o as d i v i n d a d e s misteriosas d a f e c u n d a ç ã o d a terra
e s ó c o m e ç a v a m a s e m e a d u r a d e p o i s d e l h e s t e r e m feito
sacrifícios.
Caronte
192
O Mundo Infernal
t a c a d o d e u m a á r v o r e fatídica, l h e s e r v i s s e d e s a l v o - c o n d u -
to. F o i a s s i m q u e a S i b i l a d e C u m o s t e v e d e d a r u m a o p i e -
d o s o Enéias, q u a n d o este q u i s d e s c e r a o I n f e r n o . P r e t e n d e - s e
até que Caronte foi p u n i d o e e x i l a d o durante u m a n o nas
p r o f u n d e z a s o b s c u r a s d o T á r t a r o p o r ter a t r a v e s s a d o H é r -
cules, que não estava m u n i d o desse magnífico e precioso
ramo.
O barqueiro do Inferno é representado c o m o u m v e -
l h o t e m a g r o , g r a n d e e r o b u s t o ; s e u s o l h o s v i v o s , s e u rosto
majestoso, e m b o r a severo, têm u m a m a r c a divina. Sua bar-
ba é branca, comprida e densa; suas roupas são de u m a cor
e s c u r a e m a n c h a d a s p e l a l a m a p r e t a d o s r i o s i n f e r n a i s . Está
d e o r d i n á r i o d e p é e m s u a b a r c a e s e g u r a o r e m o c o m as
duas mãos.
Cérbero
C é r b e r o , c a c h o r r o d e três c a b e ç a s , c o m o p e s c o ç o h i r -
to d e s e r p e n t e s , f i l h o d o gigante T í f o n e d o m o n s t r o É q u i d -
na, era irmão de Orto, da Q u i m e r a , da Esfinge, da Hidra de
L e r n a e d o Leão de Neméia. Seus dentes negros, cortantes,
p e n e t r a v a m até a m e d u l a dos ossos e injetavam e m s u a
mordida u m v e n e n o mortal. Deitado n u m antro à m a r g e m
do Estige, onde estava amarrado c o m laços de serpentes,
guardava a porta do I n f e r n o e d o palácio de Plutão. E r a c a -
r i n h o s o c o m as s o m b r a s q u e e n t r a v a m e a m e a ç a v a c o m s e u s
l a t i d o s e s e u s três f o c i n h o s a r r e g a n h a d o s as q u e q u e r i a m
sair. H é r c u l e s a c o r r e n t o u - o , q u a n d o r e t i r o u A l c e s t e d o I n -
f e r n o e a r r a n c o u - o d o t r o n o d e P l u t ã o , s o b o q u a l o c ã o se
havia refugiado.
N a Tessália e e m diferentes regiões d a Grécia, mostra-
v a m - s e c a v e r n a s p o r o n d e , dizia-se, Hércules h a v i a trazido
p a r a a terra esse m o n s t r o infernal. M a s , d e a c o r d o c o m a c r e n -
ça o u a lenda popular mais difundida, era pela caverna do
c a b o T ê n a r o , n a Lacônia, q u e C é r b e r o , acorrentado e d e c a -
193
Mitologia Grega e Romana
Os juízes do Inferno
D e p o i s d e ter r e c e b i d o as h o n r a s d a s e p u l t u r a e a t r a -
v e s s a d o o E s t i g e e o A q u e r o n t e , as a l m a s c o m p a r e c e m d i a n -
te d e s e u s j u í z e s . Lá o s p r í n c i p e s d e s p o j a d o s d e s e u p o d e r
e o s r i c o s p r i v a d o s d e s e u s t e s o u r o s s ã o p o s t o s n o nível d o s
humildes e dos pobres; os culpados n ã o p o d e m contar c o m
n e n h u m apoio, n e n h u m a proteção; a calúnia t a m b é m n ã o
p o d e m a i s d e n e g r i r , n e m m e s m o a t i n g i r as p e s s o a s d e b e m .
O t r i b u n a l está s i t u a d o n u m l u g a r c h a m a d o C a m p o d a V e r -
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O Mundo Infernal
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Mitologia Grega e Romana
196
O Mundo Infernal
s e n t e n ç a é p r o n u n c i a d a a o s c r i m i n o s o s , e l a se a r m a d e s u a
chibata v i n g a d o r a , fustiga-os i m p l a c a v e l m e n t e e insulta-os
a o s e l a m e n t a r e m ; c o m a m ã o e s q u e r d a , a p r e s e n t a - l h e s ser-
p e n t e s horrí veis e c h a m a s u a s b á r b a r a s irmãs p a r a s e c u n d á -
la. E r a ela que, para p u n i r os mortais, e s p a l h a v a a peste e
o s flagelos c o n t a g i o s o s ; f o i e l a t a m b é m q u e p e r s e g u i u E t é o -
cles e Polinices e fez nascer neles aquele ódio insuperável
q u e s o b r e v i v e u i n c l u s i v e à m o r t e . E s s a Fúria t i n h a n o m o n -
te C i t é r o n u m t e m p l o r o d e a d o d e c i p r e s t e s , o n d e É d i p o ,
cego e banido, v e i o buscar asilo.
M e g e r a , s u a irmã, t e m p o r m i s s ã o s e m e a r e n t r e o s h o -
m e n s as q u e r e l a s e a s d e s a v e n ç a s . É e l a t a m b é m q u e p e r -
s e g u e os c u l p a d o s c o m m a i o r o b s t i n a ç ã o .
A l e c t o , a t e r c e i r a Fúria, n ã o d e i x a a o s c r i m i n o s o s n e -
n h u m descanso; atormenta-os s e m trégua. O d i o s a ao pró-
prio Plutão, só respira vingança e n ã o há f o r m a que ela n ã o
a s s u m a p a r a trair o u s a t i s f a z e r s u a r a i v a . É r e p r e s e n t a d a ar-
m a d a de víboras, tochas e chicotes, c o m os cabelos cheios
de serpentes.
P o r v e z e s d á - s e o n o m e d e Erínias à p r i m e i r a d a s F ú -
r i a s , t e n d o s e u n o m e se t o r n a d o u m t e r m o g e n é r i c o e m p r e -
g a d o p a r a d e s i g n a r a t o d a s e l a s j u n t a s . A s Erínias t i n h a m
u m t e m p l o perto d o A r e ó p a g o , e m Atenas. E s s e t e m p l o ser-
v i a d e a s i l o inviolável a o s c r i m i n o s o s . E r a lá q u e t o d o s
aqueles que c o m p a r e c i a m diante do tribunal do Areópago
e r a m o b r i g a d o s a o f e r e c e r u m sacrifí cio e a j u r a r s o b r e o s
altares q u e e s t a v a m d i s p o s t o s a d i z e r a v e r d a d e .
N o s sacrifícios o f e r e c i d o s às Erínias, E u m ê n i d e s o u F ú -
rias, e r a m empregados o narciso, o açafrão, o zimbro, o p i l -
riteiro, o cardo, o sabugueiro o u ébulo, e q u e i m a v a m - s e
madeiras de cedro, amieiro e cipreste. I m o l a v a m - l h e s o v e -
lhas prenhes, carneiros e rolas.
Essas deusas temíveis e r a m p o r toda parte objeto de
h o m e n a g e n s p a r t i c u l a r e s . E r a c o m r e s p e i t o q u e se p r o n u n -
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Mitologia Grega e Romana
c i a v a s e u n o m e , e m a l se o u s a v a o l h a r p a r a as s u a s e s t á t u a s
e os santuários que lhes e r a m consagrados.
A l g u n s a u t o r e s c o n f u n d i r a m Erínias c o m N ê m e s i s e,
p o r c o n s e g u i n t e , as Erínias c o m as N ê m e s i s . E s t a s , s e g u n d o
Hesíodo, e r a m apenas duas. U m a , a Pudicícia, v o l t o u ao
céu depois da Idade de O u r o ; a outra, a verdadeira Nê-
mesis, filha de É r e b o e d a Noite, p e r m a n e c e u n a terra e n o
Inferno, para zelar pela punição dos erros e pela e x e c u ç ã o
d a s r e g r a s imprescrití veis d a J u s t i ç a . E l a f a z i a u m a i n s p e ç ã o
e s p e c i a l d a s o f e n s a s c o m e t i d a s c o n t r a os p a i s p e l o s f i l h o s .
E r a i n v o c a d a n o s tratados d e p a z e g a r a n t i a a estrita o b s e r -
v a ç ã o destes. E r a e l a q u e m a n t i n h a a f é j u r a d a , v i n g a v a a
infidelidade dos juramentos, recebia os votos secretos, cur-
v a v a as c a b e ç a s o r g u l h o s a s , t r a n q u i l i z a v a o s h u m i l d e s e
c o n s o l a v a as a m a n t e s a b a n d o n a d a s . N u m m o s a i c o d e H e r -
culano, v e m o s a infeliz Ariadne consolada por Nêmesis: a
n a u d e T e s e u s i n g r a o s m a r e s e se afasta, e n q u a n t o , p e r t o
d e A r i a d n e , A m o r s e e s c o n d e e d e r r a m a lágrimas.
E m r e s u m o , Fúrias e N ê m e s i s t i n h a m p o r d e v e r a m a -
n u t e n ç ã o d a o r d e m e d a h a r m o n i a n a família, n a s o c i e d a d e
e no m u n d o moral. Inspiravam o temor dos remorsos, dos
castigos inevitáveis e, p o r i s s o m e s m o , f a z i a m o s h o m e n s
c o m p r e e n d e r e m as d o ç u r a s d e u m a c o n s c i ê n c i a h o n e s t a e
as v a n t a g e n s d a v i r t u d e . N ã o é e m v ã o q u e se v i a N ê m e s i s
c o m u m dedo n a boca e segurando u m freio o u u m agui-
l h ã o . E r a fácil d e d u z i r d a í q u e e l a r e c o m e n d a v a a d i s c r i ç ã o ,
a prudência, a moderação n a conduta, ao m e s m o tempo
que incitava ao bem.
198
O Mundo Infernal
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Mitologia Grega e Romana
200
O Mundo Infernal
f o m e , s o b á r v o r e s c u j o s f r u t o s s ã o e r g u i d o s b e m alto p o r
u m v e n t o c i o s o c a d a v e z q u e s u a m ã o tenta c o l h ê - l o s .
Outra tradição representa esse criminoso d e b a i x o de
u m r o c h e d o cuja q u e d a a m e a ç a a c a d a instante a sua cabe-
ç a ; m a s e s s e s u p l í c i o e r a , antes, s e g u n d o se c o n t a , o d e F l é -
gias, avô de Esculápio.
Sísifo, f i l h o d e É o l o e n e t o d e H é l e n , e r a i r m ã o d e S a l -
m o n e u q u e , t e n d o c o n q u i s t a d o t o d a a Élida, f o i f u l m i n a d o
e precipitado n o Tártaro p o r Júpiter porque, q u e r e n d o fa-
zer-se passar por u m deus, imitava o barulho d a trovoada
e m p u r r a n d o u m a carreta n u m a ponte de bronze e lançan-
d o t o c h a s a c e s a s s o b r e a l g u n s i n f e l i z e s . Sísifo r e i n o u e m C o -
rinto, depois q u e Medéia se retirou. D i z - s e q u e h a v i a acor-
r e n t a d o a M o r t e e q u e a r e t e v e até q u e M a r t e l i b e r t o u - a , a
p e d i d o de Plutão, cujo império estava deserto. H o m e r o e x -
p l i c a q u e Sísifo a c o r r e n t a r a a M o r t e p o r q u e e v i t a v a a g u e r -
r a e até t r a b a l h a v a p a r a m a n t e r a p a z e n t r e s e u s v i z i n h o s .
T a m b é m era, diz H o m e r o , o mais sensato e o mais p r u d e n -
te d o s m o r t a i s .
N o e n t a n t o , os p o e t a s c o l o c a m - n o u n a n i m e m e n t e n o
I n f e r n o e p r e t e n d e m q u e está c o n d e n a d o a rolar s e m ces-
s a r u m a e n o r m e p e d r a a t é o alto d e u m a m o n t a n h a ; c h e -
gando ao cume, a pedra logo desce por seu próprio peso e
ele é obrigado de imediato a subi-la de n o v o , n u m trabalho
que n ã o lhe dá n e n h u m descanso.
C o m o m e r e c e u t a l suplício? A l e g a m - s e várias r a z õ e s .
C o m o Tântalo, teria r e v e l a d o os segredos dos deuses. H a -
v e n d o J ú p i t e r r a p t a d o E g i n a , f i l h a d o r i o A s o p o , este se d i r i -
g i u a Sísifo p a r a s a b e r q u e f i m l e v a r a s u a f i l h a ; Sísifo, q u e
tinha conhecimento do rapto, p r o m e t e u a A s o p o informá-
l o , c o n t a n t o q u e este d e s s e á g u a à c i d a d e l a d e C o r i n t o . A
e s s e p r e ç o , Sísifo r e v e l o u o s e g r e d o e f o i p u n i d o n o I n f e r n o
por causa disso. Segundo outros, foi por haver desviado
Tiro, sua sobrinha, filha de Salmoneu, de seus deveres. O u -
tros, e n f i m , s e m l e v a r e m c o n t a o retrato f a v o r á v e l q u e H o -
201
Mitologia Grega e Romana
m e r o p i n t a d e Sísifo, d i s s e r a m q u e e l e e x e r c i a t o d a sorte d e
b a n d i t i s m o n a Ática e q u e m a t a v a t o d o s o s e s t r a n g e i r o s q u e
caíam e m suas mãos; que Teseu, rei de Atenas, moveu-lhe
g u e r r a , m a t o u - o n u m c o m b a t e e q u e Sísifo é p u n i d o p o r
todos os crimes q u e cometeu n a terra. E s s a pedra que o
f a z e m rolar s e m cessar p o d e muito b e m ser o e m b l e m a de
u m príncipe ambicioso que alimentou durante muito tem-
p o e m sua cabeça desígnios n ã o executados.
I x í o n , f i l h o d e A n t í o n , r e i d o s lápitas, n a T e s s á l i a ,
casou-se c o m Clia, filha de D e i o n e u , e recusou dar os pre-
sentes q u e lhe prometera para desposar s u a filha, o q u e
obrigou D e i o n e u a retirar-lhe os cavalos. D i s s i m u l a n d o o
ressentimento, Ixíon atraiu seu sogro à sua casa e o fez cair
n u m f o s s o a r d e n t e , o n d e este p e r d e u a v i d a . E s s e c r i m e
causou horror; Ixíon n ã o encontrou ninguém que quisesse
e x p i á - l o e f o i o b r i g a d o a f u g i r d e t o d o s os o l h a r e s . A b a n d o -
n a d o por todo o m u n d o , recorreu a Júpiter, q u e teve p i e d a -
de de seus remorsos, recebeu-o no céu e admitiu-o à mesa
dos deuses.
D e s l u m b r a d o c o m os encantos de J u n o , o ingrato Ixíon
teve a insolência de lhe declarar s e u amor. O f e n d i d a por
s u a t e m e r i d a d e , a s e v e r a d e u s a f o i se q u e i x a r a J ú p i t e r , q u e
formou c o m u m a n u v e m u m fantasma semelhante à sua
Castigo de Ixíon.
202
O Mundo Infernal
e s p o s a . I x í o n c a i u n a a r m a d i l h a e e s s a u n i ã o imaginária
d e u à luz os Centauros, monstros metade h o m e n s , metade
cavalos.
Júpiter, considerando-o c o m o u m l o u c o cuja razão h a -
v i a s i d o p e r t u r b a d a p e l o néctar, c o n t e n t o u - s e c o m b a n i - l o ;
m a s v e n d o q u e e l e se g a b a v a d e t ê - l o d e s o n r a d o , p r e c i p i -
tou-o c o m u m raio n o Tártaro, o n d e Mercúrio, p o r sua or-
d e m , f o i amarrá-lo p e l o s q u a t r o m e m b r o s n u m a r o d a c e r c a d a
de serpentes e q u e gira s e m n u n c a parar.
OLete
203
Tempos Heróicos, Crenças Populares
As diferentes idades
205
Mitologia Grega e Romana
Deucalião e Pirra
206
Tempos Heróicos, Crenças Populares
207
Lendas Tebanas
Rapto de Europa
F i l h o d e N e t u n o e d a o c e â n i d e Líbia, A g e n o r , r e i d a F e -
nícia, c a s o u - s e c o m A g r í o p e o u T e l é f a s s a , c o m q u e m t e v e
u m a f i l h a , E u r o p a , e três f i l h o s , C a d m o , F ê n i x e Cílix. E u -
ropa aliava a u m a incomparável beleza u m a alvura tão ful-
gurante que suspeitavam que ela tivesse roubado a m a q u i a -
g e m d e J u n o . U m d i a , Júpiter, e n a m o r a d o , v e n d o - a b r i n c a r
à b e i r a - m a r c o m suas c o m p a n h e i r a s , transforma-se e m touro,
aproxima-se d a princesa c o m u m ar doce e carinhoso, dei-
xa-se ornar de guirlandas, come algumas ervas e m sua bela
mão, recebe-a e m seu dorso, lança-se ao mar e alcança a
nado a ilha de Creta.
E l a c h e g o u à ilha pela foz d o rio Lete, que passava e m
Gortina. V e n d o nesse rio plátanos sempre verdes, os gregos
a p r e g o a r a m q u e foi sob essas árvores q u e aconteceram os
encontros entre Júpiter e E u r o p a . P o r isso E u r o p a foi repre-
sentada bastante triste, sentada s o b u m plátano, a o p é d o q u a l
e s t á u m a á g u i a a q u e m e l a d á as costas. D e s e u s três f i l h o s ,
Minos, R a d a m a n t o e Sarpédon, os dois primeiros são juízes
n o Inferno; o terceiro, tendo querido roubar o trono de s e u
irmão mais v e l h o , foi obrigado a sair de Creta e fugir para
a Ásia M e n o r , o n d e f u n d o u u m a c o l ó n i a .
Depois da sua morte, E u r o p a foi considerada u m a d i -
v i n d a d e p e l o s c r e t e n s e s . E l e s c h e g a r a m até a i n s t i t u i r u m a
209
Mitologia Grega e Romana
210
Lendas Tebanas
Antíope
211
Mitologia Grega e Romana
Anfíon
212
ê . \
Touro Farnese.
213
Mitologia Grega e Romana
Níobe
214
Lendas Tebanas
H o m e r o d á o n o m e d e heróis a o s h o m e n s q u e se d i s t i n -
g u e m por sua força, sua coragem e suas façanhas; Hesíodo
designa especialmente por essa palavra os filhos de u m
deus e de u m a mortal. O tipo de Hércules corresponde ao
m e s m o t e m p o a ambas as c o n c e p ç õ e s .
A lenda de Hércules, c o m variantes e amplificações, e n -
contra-se e m q u a s e todos os p o v o s d a A n t i g u i d a d e , n o E g i t o ,
n a G r é c i a , n a F e n í c i a , n a í n d i a e até n a G á l i a . C í c e r o c o n t a
seis h e r ó i s c o m o n o m e d e H é r c u l e s ; Varrão, q u a r e n t a e três.
O m a i s c o n h e c i d o , o q u e o s gregos e o s r o m a n o s v e n e r a v a m
e a q u e se referem quase todos os m o n u m e n t o s , é, i n c o n -
testavelmente, o H é r c u l e s t e b a n o , f i l h o d e J ú p i t e r e A l c m e n e ,
m u l h e r d e Anfitrião.
T e b a n o de nascimento, Hércules é originário de Argos.
P o r A l c m e n e e Anfitrião, p e r t e n c i a à família d e P e r s e u e, d o
n o m e d e s e u a v ô p a t e r n o A l c e u , c o s t u m a ser d e s i g n a d o p e l o
de Alcides.
215
Mitologia Grega e Romana
T e n d o Anfitrião, f i l h o d e A l c e u e n e t o d e P e r s e u , m a t a -
d o p o r d e s c u i d o E l e c t r í o n , r e i d e M i c e n a s , s e u tio, p a i d e
A l c m e n e , a f a s t o u - s e d e A r g o s , s u a pátria, e r e t i r o u - s e p a r a
T e b a s , o n d e se c a s o u c o m a p r i m a . E s t a p ô s u m a c o n d i ç ã o
p a r a o c a s a m e n t o : q u e Anfitrião v i n g a s s e a m o r t e d e s e u i r -
m ã o morto pelos teleboios, habitantes de pequenas ilhas
d o mar J ô n i o , vizinhas de ítaca. F o i durante essa e x p e d i ç ã o
q u e J ú p i t e r , d i s f a r ç a d o d e Anfitrião, v e i o e n c o n t r a r A l c m e -
n e e a t o r n o u m ã e d e H é r c u l e s , n o m e q u e s i g n i f i c a glória
de Hera o u de Juno.
A o m e s m o tempo que Hércules, A l c m e n e pôs no m u n -
d o íficles. Q u e r e n d o s a b e r q u a l d o s d o i s g é m e o s e r a s e u
f i l h o , c o n t a A p o l o d o r o , Anfitrião m a n d o u d u a s s e r p e n t e s
a o b e r ç o d a s c r i a n ç a s : íficles p a r e c e u t r a n s i d o d e m e d o e
q u i s f u g i r ; q u a n t o a H é r c u l e s , e s t r a n g u l o u as d u a s s e r p e n -
tes e m o s t r o u , d e s d e o s e u n a s c i m e n t o , q u e e r a d i g n o d e
ter J ú p i t e r p o r p a i .
N o entanto, a maioria dos mitólogos diz q u e foi J u n o
que, desde os primeiros dias de Hércules, d e u provas i n -
contestes do ódio que tinha por ele d e v i d o à s u a m ã e , m a n -
d a n d o d o i s horríveis d r a g õ e s a s e u b e r ç o p a r a devorá-lo. M a s
a c r i a n ç a , s e m se p e r t u r b a r , a g a r r o u - o s e d e s p e d a ç o u - o s . A
d e u s a a c a l m o u - s e e, a p e d i d o d e P a l a s , até c o n s e n t i u e m
d a r - l h e s e u leite p a r a t o r n á - l o i m o r t a l . F o i e n t ã o q u e o leite
da deusa, sugado fortemente por Hércules, respingou n o
c é u e f o r m o u a V i a Láctea.
O j o v e m herói teve vários mestres. A p r e n d e u c o m
R a d a m a n t o a m a n e j a r o a r c o , c o m Cástor a c o m b a t e r a r m a -
do; o centauro Quíron foi seu mestre de astronomia e m e -
dicina; Lino, filho de Ismênio, neto de A p o l o , ensinou-lhe a
t o c a r u m i n s t r u m e n t o q u e se f r i c c i o n a v a c o m o a r c o , e, c o -
m o H é r c u l e s d e s a f i n a s s e a o tocar, L i n o r e p r e e n d e u - o c o m
certa severidade; p o u c o dócil, Hércules n ã o p ô d e suportar
a reprimenda, jogou-lhe o instrumento n a cabeça e matou-o
c o m o golpe.
216
Lendas Tebanas
217
Mitologia Grega e Romana
218
Lendas Tebanas
E r i m a n t o era u m a m o n t a n h a d a Arcádia, c é l e b r e p o r
u m javali que devastava seus arredores. Hércules capturou
o a n i m a l v i v o , e Euristeu, v e n d o o herói trazer o javali nos
o m b r o s , a p a v o r o u - s e e f o i se e s c o n d e r s o b u m a c u b a d e
bronze.
O quarto a s s e g u r o u - l h e a vitória s o b r e a c o r ç a d e p é s
de bronze.
Nas encostas e nos v a l e s d o monte Mênalo, n a Arcádia,
encontrava-se u m a corça de pés de bronze e chifres de o u -
ro, tão rápida n a corrida q u e n i n g u é m p o d i a alcançá-la. E l a
d e u ao herói muito trabalho, porque, sabendo que era con-
sagrada a D i a n a , Hércules n ã o queria matá-la c o m suas fle-
chas. Portanto, perseguiu-a c o m ardor e acabou pegando-a
n o m o m e n t o e m que atravessava o Ládon.
O quinto f o i o e x t e r m í n i o d a s a v e s d o l a g o Estínfalo.
N a A r c á d i a , n o l a g o Estínfalo, h a v i a a v e s m o n s t r u o s a s ,
c u j a s asas, a c a b e ç a e o b i c o e r a m d e f e r r o , as u n h a s c u r v a s
e a c e r a d a s . E l a s l a n ç a v a m d a r d o s d e f e r r o c o n t r a q u e m as
a t a c a v a ; o d e u s Marte e m p e s s o a as t r e i n a r a p a r a o c o m b a t e .
E r a m e m tão grande número e de u m tamanho tão extraor-
dinário q u e , q u a n d o v o a v a m , s u a s asas i n t e r c e p t a v a m a
claridade do sol. T e n d o recebido de Minerva címbalos de
b r o n z e próprio p a r a espantar essas aves, Hércules utilizou-
o s p a r a atraí-las p a r a f o r a d o b o s q u e o n d e s e r e t i r a v a m e
exterminou-as a flechadas.
N o sexto, e l e d o m o u o t o u r o d a i l h a d e C r e t a e n v i a d o
por Netuno contra Minos e levou-o a Euristeu. Este d e i x o u
escapar o temível a n i m a l q u e foi devastar a planície de M a -
ratona. Hércules teve de empreender u m a n o v a luta contra
o t o u r o e, f i n a l m e n t e , m a t o u - o .
N o sétimo, c a p t u r o u as é g u a s d e D i o m e d e s .
D i o m e d e s , r e i d a Trácia, f i l h o d e Marte e d e C i r e n e , t i n h a
é g u a s f u r i o s a s q u e c u s p i a m fogo. C o n t a - s e q u e as a l i m e n t a -
v a c o m carne h u m a n a e lhes d a v a a devorar todos os es-
t r a n g e i r o s q u e t i n h a m a m á sorte d e l h e c a i r n a s m ã o s . H é r -
219
Mitologia Grega e Romana
c u l e s c a p t u r o u D i o m e d e s , d e u - o p a r a ser d e v o r a d o p o r s u a s
próprias éguas, levou-as e m seguida para Euristeu e soltou-
as n o m o n t e O l i m p o , o n d e f o r a m d e v o r a d a s p e l a s feras.
F o i nessa e x p e d i ç ã o q u e Hércules f u n d o u n a Trácia a
cidade de Abdera, e m memória de seu amigo Abdero, que
as é g u a s d e D i o m e d e s h a v i a m d e v o r a d o .
O oitavo d o s t r a b a l h o s d e H é r c u l e s é s u a vitória s o b r e
as A m a z o n a s .
A n a ç ã o das A m a z o n a s , estabelecida às margens e n a
v i z i n h a n ç a d o P o n t o E u x i n o , n a Ásia e n a E u r o p a , t o r n a r a -
se t e m í v e l . E s s a s m u l h e r e s g u e r r e i r a s v i v i a m s ó d o s s a q u e s
e dos produtos de sua caça. Vestiam-se de peles de animais
selvagens; sua roupa, presa ao ombro esquerdo e caindo
até o joelho, d e i x a v a descoberta toda a parte direita d o
corpo. Seu a r m a m e n t o se c o m p u n h a de u m arco, de u m a
aljava guarnecida de flechas o u dardos, e de u m machado.
Seu escudo tinha a forma de u m crescente e cerca de u m
p é e meio de diâmetro. N a guerra, sua rainha u s a v a u m cor-
pete formado de pequenas escamas de ferro, preso c o m u m
cinto; todas t i n h a m u m capacete o r n a d o de p l u m a s , mais
o u m e n o s b r i l h a n t e s , insígnias d e s u a p o s i ç ã o hierárquica o u
de sua dignidade. Estavam c o m frequência a cavalo, mas tam-
b é m c o m b a t i a m a p é . C o m sua rainha Pentesiléia, t i n h a m
ido ao socorro de Tróia; u m a de suas rainhas, Harpálice,
célebre pela ligeireza de sua corrida, submeteu a seu poder
toda a Trácia. N o t e m p o de Hércules, elas o b e d e c i a m à rai-
n h a Hipólita.
T e n d o Euristeu ordenado que o herói trouxesse o cinto
d e s s a p r i n c e s a , H é r c u l e s f o i b u s c a r essas g u e r r e i r a s , m a t o u
M í g d o n e  m i c o , i r m ã o s d e Hipólita, q u e l h e d i s p u t a v a m a
passagem, derrotou as A m a z o n a s e raptou s u a r a i n h a , q u e
deu como esposa a seu amigo Teseu.
N o nono de seus trabalhos, l i m p o u os estábulos de
Áugias.
220
Lendas Tebanas
R e i d e Élis e f i l h o d o S o l , Á u g i a s , u m d o s A r g o n a u t a s ,
p o s s u í a e s t á b u l o s q u e c o n t i n h a m três m i l b o i s e q u e n ã o
h a v i a m sido l i m p o s fazia trinta anos. T e n d o sabido d a che-
gada de Hércules e m seus Estados, propôs-lhe limpá-los
c o m a promessa de u m décimo de seu rebanho. O herói des-
v i o u o rio A l f e u e o fez passar pelos estábulos. L e v a d o o es-
t r u m e e l i m p o o ar, H é r c u l e s a p r e s e n t o u - s e p a r a r e c e b e r o
prémio de s e u trabalho. C o m o hesitasse e n ã o ousasse re-
cusá-lo abertamente, Áugias remeteu-o ao julgamento de
seu filho, Fileu. Este decidiu e m favor de Hércules. Seu p a i
e x p u l s o u - o de sua presença e obrigou-o a refugiar-se n a
i l h a d e D u l í q u i o . H é r c u l e s , i n d i g n a d o c o m esse p r o c e d i m e n -
to, s a q u e o u a c i d a d e d e Élis, m a t o u Á u g i a s , c h a m o u F i l e u
de volta e deu-lhe os Estados de s e u pai.
N o décimo, c o m b a t e u G é r i o n e t r o u x e s e u s bois. F i l h o
d e C r i s a o r e Calírroe, G é r i o n e r a , s e g u n d o H e s í o d o , o m a i s
forte de t o d o s o s h o m e n s e r e i d a Erítia, r e g i ã o d a E s p a n h a
v i z i n h a d o o c e a n o . O s poetas posteriores a H e s í o d o d e l e f i z e -
r a m u m gigante d e três c o r p o s , q u e t i n h a , p a r a g u a r d a r s e u s
r e b a n h o s , u m c a c h o r r o d e d u a s c a b e ç a s e u m d r a g ã o d e sete.
H é r c u l e s m a t o u - o c o m s e u s guardiões e l e v o u s e u s bois.
N o décimo primeiro, c o l h e u o s p o m o s d e o u r o d o jar-
d i m das Hespérides, filhas de Atlas.
N o décimo segundo, r e t i r o u T e s e u d o I n f e r n o .
Atribuí ram-lhe m u i t a s o u t r a s a ç õ e s m e m o r á v e i s . C a d a
p a í s e q u a s e todas as c i d a d e s d a G r é c i a h o n r a v a m - s e p o r ter
s i d o o teatro d e a l g u m feito m a r a v i l h o s o d e s s e h e r ó i . A s s i m ,
e l e e x t e r m i n o u o s C e n t a u r o s , m a t o u Busí ris, A n t e u , H i p o -
c o o n t e , E u r i t o , P e r i c l í m e n o , Érix, L i c o , C a c o , L a o m e d o n t e
etc.; a r r a n c o u C é r b e r o d o i n f e r n o ; d e lá t a m b é m r e t i r o u A l -
ceste; l i b e r t o u H e s í o n e d o m o n s t r o q u e i a d e v o r á - l a e P r o -
m e t e u d a águia que lhe c o m i a o fígado; aliviou Atlas, q u e
vergava sob o peso do céu, que suportava e m seus ombros;
s e p a r o u as d u a s m o n t a n h a s d e s d e e n t ã o c h a m a d a s Colu-
nas de Hércules-, c o m b a t e u c o n t r a o r i o A q u e l ó o , d e q u e
221
Mitologia Grega e Romana
Hércules e Cérbero.
222
Lendas Tebanas
223
Mitologia Grega e Romana
Nesso e Dejanira.
224
Lendas Tebanas
225
Hércules Farnese.
226
Lendas Tebanas
227
Diversos personagens ou heróis secundários
cujas fábulas estão estreitamente ligadas
à de Hércules
íficles
í ficles o u í ficlo, i r m ã o d e H é r c u l e s , f i l h o d e A l c m e n e e
d e Anfitrião, f o i d u r a n t e a l g u m t e m p o c o m p a n h e i r o do
h e r ó i . F o i f e r i d o já n a p r i m e i r a e x p e d i ç ã o d o i r m ã o c o n t r a
A r g e u , r e i d o s eleatas, e m o r r e u e m F e n é i a , n a Arcádia. O s f e -
n e a t a s l h e r e n d i a m t o d o s o s a n o s s o b r e s e u t ú m u l o as h o n -
ras heróicas.
Hilo
H i l o , f i l h o d e H é r c u l e s e d e D e j a n i r a , f o i c r i a d o n a corte
de C e i x , rei de T r a q u i n e , n a Tessália, a q u e m o herói c o n -
fiara sua m u l h e r e seus filhos enquanto estava o c u p a d o e m
seus famosos trabalhos. E n v i a d o por Dejanira e m busca do
p a i , t e m a tristeza de encontrá-lo n o m o m e n t o e m que a c a -
b a de vestir a túnica de Nesso. Sentindo q u e v a i sucumbir,
Hércules recomenda-lhe que o leve ao monte Eta, coloque-o
n u m a p i r a , p o n h a f o g o n e l a c o m s u a s p r ó p r i a s m ã o s e, e n -
fim, despose Iole.
F o i H i l o q u e m a t o u E u r i s t e u n o c o m b a t e deste c o n t r a o s
Heráclidas. N o entanto, m a i s tarde, tendo desafiado Atreu,
c h e f e d o s p e l ó p i d a s , c o m a c o n d i ç ã o d e q u e , se f o s s e v e n -
c i d o , os H e r á c l i d a s s ó p o d e r i a m e n t r a r n o P e l o p o n e s o c e m
229
Mitologia Grega e Romana
Ceix e Alcione
C e i x , r e i d e T r a q u i n e , f i l h o d e Lúcifer e a m i g o d e H é r -
cules, pereceu n u m naufrágio q u a n d o ia a Claro consultar
o oráculo de Apolo. Sua esposa Alcione, filha de Éolo, da
raça de Deucalião, presa do desespero, precipitou-se n o
mar. O s d e u s e s r e c o m p e n s a r a m a fidelidade c o n j u g a l dos d o i s
metamorfoseando-os e m alcíones e quiseram que o mar f i -
casse c a l m o durante todo o t e m p o e m q u e essas aves fizes-
s e m seus n i n h o s . O alcíone era consagrado a Tétis p o r q u e ,
conta-se, esse pássaro c h o c a n a água e entre os caniços. E r a
considerado símbolo da paz e da tranquilidade. E m R o m a , os
dias e m q u e n ã o se a d v o g a v a , c h a m a v a m - s e c o m u m e n t e dias
de alcíone.
lotou
F i l h o d e íficles e s o b r i n h o d e H é r c u l e s , I o l a u f o i c o m p a -
nheiro de seus trabalhos, participou c o m ele d a e x p e d i ç ã o
contra os Argonautas, casou-se c o m Mégara, repudiada pelo
h e r ó i , p ô s - s e à frente d o s Heráclidas c o m H i l o e a j u d o u - o a
v e n c e r E u r i s t e u . C o n d u z i u u m a c o l ó n i a d e tespí adas à Sar-
d e n h a , p a s s o u à Sicília e v o l t o u à G r é c i a , o n d e , d e p o i s d a
s u a m o r t e , f o r a m - l h e d e d i c a d o s m o n u m e n t o s h e r ó i c o s . Hér-
c u l e s d e r a o e x e m p l o , p o r q u e d e d i c a r a , n a Sicília, u m b o s -
q u e a I o l a u e instituíra sacrifícios e m s u a h o n r a . O s h a b i t a n -
tes d e A g i r a , n a Sicília, l h e d e d i c a v a m s e u s c a b e l o s .
Folo
230
Lendas Tebanas
Busíris
Busí ris, r e i , o u m e l h o r , t i r a n o d a E s p a n h a , e r a f a m o s o
p o r suas crueldades. I m o l a v a a Júpiter todos os estrangei-
r o s q u e t i n h a m a m á sorte d e a b o r d a r e m s e u s E s t a d o s . C o n -
ta-se q u e , t e n d o o u v i d o s e r e m e l o g i a d a s a s a b e d o r i a e a b e -
l e z a d a s f i l h a s d e A t l a s , f e z u n s p i r a t a s raptá-las; m a s H é r -
c u l e s p e r s e g u i u os raptores, m a t o u a todos, l i b e r t o u as Atlân-
t i d e s e f o i à E s p a n h a m a t a r Busíris. O u t r o s p r e t e n d e m q u e
esse tirano era rei do Egito.
Anteu
F i l h o d e N e t u n o e d a T e r r a , A n t e u , gigante a q u e m a
fábula atribui sessenta e quatro côvados de altura, detinha
t o d o s os q u e p a s s a v a m p e l a s a r e i a s d a Líbia, f o r ç a v a - o s a
lutar contra ele e esmagava-os c o m s e u peso, p o r q u e fize-
ra a N e t u n o a p r o m e s s a de erigir u m t e m p l o c o m crânios
humanos.
H é r c u l e s , a q u e m p r o v o c a r a , a b a t e u - o três v e z e s , m a s
e m vão, porque a Terra, sua mãe, lhe d a v a novas forças ca-
da v e z que ele a tocava. Percebendo-o, o herói ergueu-o
e n t ã o n o ar e estrangulou-o e m seus braços. E s s e A n t e u
231
Mitologia Grega e Romana
Hipocoonte
Êurito
R e i d e E c á l i a , c i d a d e d a Etólia s e t e n t r i o n a l , e r a c é l e b r e
p o r s u a m e s t r i a n o tiro c o m a r c o . P r o m e t e r a s u a f i l h a I o l e a
q u e m o superasse. Hércules venceu-o. Mas Eurito recusou-
se a c u m p r i r s u a p r o m e s s a e f o i m o r t o p e l o h e r ó i .
Érix
Aquenon e Pàssalo
232
Lendas Tebanas
Caco
233
Mitologia Grega e Romana
Laomedonte e Hesíone
234
Lendas Tebanas
Alceste
235
Mitologia Grega e Romana
Daí a f á b u l a q u e r e p r e s e n t a A l c e s t e m o r r e n d o e f e t i v a -
mente por seu marido, e Hércules combatendo a Morte e
a g r i l h o a n d o - a c o m c o r r e n t e s d e d i a m a n t e até ter esta c o n -
s e n t i d o restituir A l c e s t e à l u z . E s s a t r a d i ç ã o f o i a d o t a d a p o r
E u r í p i d e s n a s u a tragédia Alceste.
Mégara
Ônfale
Ô n f a l e e r a r a i n h a d a Lídia, n a Ásia M e n o r . N u m a v i a -
g e m , Hércules deteve-se n a corte dessa princesa e ficou tão
cativado c o m sua beleza que esqueceu seu valor e suas fa-
çanhas para se entregar aos prazeres do amor. " E n q u a n t o
Ônfale, coberta c o m a pele do leão de Neméia, segurava a
maça", conta agradavelmente Luciano, "Hércules, vestido
de mulher, trajando u m a túnica púrpura, fazia trabalhos de
lã e p e r m i t i a q u e Ô n f a l e l h e b a t e s s e às v e z e s c o m s u a c h i -
nela." Encontramo-lo assim representado e m monumentos
antigos. H é r c u l e s t e v e d e Ô n f a l e u m f i l h o c h a m a d o A g e s i -
lau, de q u e m faz-se Creso descender. Malis t a m b é m foi a m a -
236
Lendas Tebanas
d a p o r H é r c u l e s d u r a n t e a e s c r a v i d ã o d e s s e h e r ó i n a corte d e
Ônfale. E r a u m a das criadas dessa princesa.
Iole
Iole, filha de Eurito, rei d a Ecália, perseguida p o r Hér-
cules que devastava os Estados de s e u p a i , precipitou-se d o
alto d a s m u r a l h a s ; m a s o v e n t o , i n f l a n d o s u a t ú n i c a , s u s t e n -
t o u - a n o ar e d e s c e u - a s e m q u e e l a se m a c h u c a s s e . S e g u n d o
outros, Eurito recusou sua filha ao herói, o que foi a causa
d a s u a p e r d a e d a d e s e u f i l h o ífito. F o i o a m o r d e H é r c u l e s
p o r I o l e q u e c a u s o u o c i ú m e d e D e j a n i r a e o e n v i o d a túni-
ca fatal de Nesso.
237
Mitologia Grega e Romana
lançaria m e l h o r o d i s c o , p e g a r i a m a i s á g u a e m d e t e r m i n a -
d o tempo, c o m e r i a antes u m touro de p e s o igual e beberia
mais. Hércules v e n c e u sempre. E n f i m , Lépreas, n u m acesso
de cólera e embriaguez, tendo desafiado Hércules a c o m -
bater, f o i m o r t o p e l o h e r ó i .
238
Os Labdácidas
Édipo
239
Mitologia Grega e Romana
p e s s o a s ; este o r d e n o u c o m u m t o m a l t a n e i r o q u e É d i p o l h e
d e i x a s s e l i v r e a p a s s a g e m ; f o r a m à s v i a s d e fato s e m s e c o -
nhecerem e Laio foi morto.
Chegando a Tebas, Édipo encontrou a cidade assolada
pela Esfinge. Esse monstro, filho de Équidna e Tífon, fora
e n v i a d o p o r J u n o , irritada c o m os tebanos. T i n h a c a b e ç a e
peito de mulher, garras de leão, c o r p o de cachorro, rabo de
d r a g ã o e a s a s d e p á s s a r o . E x e r c i a s u a s d e v a s t a ç õ e s às p o r -
tas d e T e b a s , n o m o n t e F i c e u , d e o n d e , l a n ç a n d o - s e s o b r e
o s p a s s a n t e s , p r o p u n h a - l h e s e n i g m a s difíceis e l i q u i d a v a o s
que não conseguiam explicá-los.
E i s o e n i g m a q u e a E s f i n g e p r o p u n h a a todos: " Q u a l é o
animal que t e m quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e
três à noite?" E m s e u d e s t i n o e s t a v a m a r c a d o q u e e l a p e r d e -
ria a v i d a q u a n d o a l g u é m adivinhass e s e u e n i g m a . M u i t a s p e s -
s o a s já h a v i a m s i d o vítimas d o m o n s t r o e a c i d a d e e r a p r e s a
de grande pânico.
Creonte, irmão de Jocasta, que assumira o governo de-
pois da morte de Laio, m a n d o u dizer por toda a Grécia que
d a r i a a m ã o d a s u a irmã e s u a c o r o a a q u e m l i b e r t a s s e T e -
b a s d o v e r g o n h o s o t r i b u t o q u e e l a p a g a v a a o m o n s t r o . Édi-
p o apresentou-se para explicar o enigma e foi feliz o bas-
tante p a r a a d i v i n h á - l o . D i s s e q u e e s s e a n i m a l e r a o h o m e m ,
que, e m s u a infância, a ser considerada c o m o a m a n h ã d a
v i d a , c a m i n h a frequentemente c o m as m ã o s e os pés; ao
m e i o - d i a , isto é , n a f o r ç a d a i d a d e , p r e c i s a a p e n a s d e s u a s
d u a s p e r n a s ; m a s à n o i t e , isto é , n a v e l h i c e , p r e c i s a d e u m
c a j a d o , c o m o u m a t e r c e i r a p e r n a , p a r a se sustentar. C h e i a d e
despeito por ver-se adivinhada, a Esfinge jogou-se n u m pre-
cipício e rebentou a c a b e ç a contra os rochedos.
J o c a s t a , p r é m i o d a vitória, t o r n o u - s e e n t ã o m u l h e r d e
Édipo e lhe d e u dois filhos, Etéocles e Polinices, e duas f i -
lhas, Antígona e Ismene.
Vários anos depois, o reino foi devastado p o r u m a pes-
te c r u e l . O o r á c u l o , r e f u g i o o r d i n á r i o d o s d e s d i t o s o s , é d e
240
Os Labdácidas
241
Édipo em Colona.
242
Os Labdácidas
afastadas. E m s e g u i d a a t e r r a t r e m e e s e e n t r e a b r e s u a v e -
m e n t e p a r a r e c e b e r É d i p o s e m v i o l ê n c i a e s e m dor, e m p r e -
sença de T e s e u , o único a saber o segredo do g é n e r o da s u a
morte e do lugar do seu túmulo. E m b o r a a vontade, que faz
o crime, n ã o tenha tido n e n h u m a participação nos horrores
de s u a v i d a , os poetas n ã o d e i x a m de colocá-lo n o Tártaro,
c o m todos os criminosos célebres.
E s t a a história d e s s e p r í n c i p e , s e g u n d o o s p o e t a s trági-
cos e segundo Sófocles, que, p a r a m e l h o r inspirar o terror
e a p i e d a d e , a c r e s c e n t o u várias c i r c u n s t â n c i a s à l e n d a t r a d i -
c i o n a l . P o r q u e , s e g u n d o H o m e r o , É d i p o d e s p o s o u d e fato
sua m ã e , m a s n ã o teve filhos c o m ela; p o r q u e Jocasta se
m a t o u l o g o d e p o i s d e s e ter r e c o n h e c i d o i n c e s t u o s a . D e -
pois da morte de Jocasta, Édipo casou-se c o m Eurigaméia,
t e v e q u a t r o f i l h o s c o m e l a , r e i n o u e m T e b a s a s e u l a d o e lá
a c a b o u seus dias. É v e r d a d e q u e se mostrava s e u túmulo
e m A t e n a s , m a s s e u s o s s o s d e v e r i a m ter s i d o t r a z i d o s d e
Tebas.
Etéocles e Polinices
243
Mitologia Grega e Romana
244
Os Labdácidas
Antígona
Filha de Édipo e Jocasta, Antígona foi ao m e s m o tempo
u m m o d e l o de piedade filial e de d e v o ç ã o fraterna. D e p o i s
d e ter s e r v i d o d e g u i a a s e u p a i c e g o e a s s i s t i d o a s e u s últi-
m o s momentos, v o l t o u a T e b a s e foi testemunha d a luta tão
triste e t ã o e n c a r n i ç a d a e n t r e E t é o c l e s e P o l i n i c e s . D e p o i s
d a m o r t e d e s s e s d o i s p r í n c i p e s , C r e o n t e , s e u tio, q u e s e tor-
nara rei, proibiu expressamente fosse enterrado o corpo de
P o l i n i c e s , m o r t o c o m as a r m a s n a m ã o c o n t r a s e u paí s . A n -
tígona resolveu infringir essa o r d e m para c o n s u m a r u m de-
v e r que considerava sagrado. Esforçou-se por obter o as-
s e n t i m e n t o e o c o n c u r s o d e s u a irmã, I s m e n e . M a s esta, d e
c a r á t e r f r a c o , t e m e r o s a ante o p o d e r d o r e i , n ã o t e v e a c o r a -
g e m d e se a s s o c i a r a s e u n o b r e e p i o d e s í g n i o . P r o c u r o u i n -
clusive dissuadir Antígona de u m a empresa tão arriscada e
temerária.
M a s Antígona, t e n d o sentimentos elevadí ssimos b e m a c i -
m a das a p r e e n s õ e s pusilânimes d e I s m e n e , s a i u d e T e b a s d u -
r a n t e a n o i t e e, a f r o n t a n d o a vigilância d e C r e o n t e , d i s p e n -
sa a s e u irmão Polinices os últimos deveres. Nesse m o m e n -
to, é s u r p r e e n d i d a e d e t i d a p o r u m g u a r d a , q u e a c o n d u z
ao rei. Este a condena implacavelmente à morte. Antígona
escuta c o m firmeza sua condenação e responde orgulhosa-
mente ao tirano que "é melhor obedecer aos deuses do que
aos h o m e n s " .
C o n d u z e m a corajosa princesa a u m a caverna que d e v e
ser tapada e onde ela d e v e morrer de fome. E n q u a n t o c a -
m i n h a p a r a o suplí cio, n ã o p o d e i m p e d i r - s e d e ter d ó d a s u a
sorte. H ê m o n , f i l h o d e C r e o n t e , q u e a a m a e s o n h a t o r n a r -
s e s e u e s p o s o , i m p o t e n t e p a r a libertá-la, m a t a - s e d e d e s e s -
pero. Acrescenta-se q u e Antígona, para escapar d a morte p a -
v o r o s a a q u e C r e o n t e a c o n d e n a r a , se e s t r a n g u l o u e m s u a
sombria masmorra.
245
Mitologia Grega e Romana
Tirésias
246
Os Labdácidas
Tirésias e n c o n t r o u a morte ao p é d o m o n t e T i l f u s o , n a
B e ó c i a , o n d e h a v i a u m a fonte cuja água foi mortal p a r a ele.
E n t e r r a r a m - n o p e r t o d e s s a f o n t e e, e m T e b a s , r e n d e r a m - l h e
honras divinas.
Anfiarau
O u t r o a d i v i n h o f a m o s o , cuja l e n d a está intimamente
l i g a d a à G u e r r a d o s Sete c o n t r a T e b a s , é A n f i a r a u , f i l h o d e
A p o l o e Hipermnestra, bisneto de Melampo. Por u m impor-
tante serviço p r e s t a d o às m u l h e r e s d o país, ele r e c e b e r a u m a
porção do reino de Argos. Essa partilha deu lugar a longas
querelas entre esse a d i v i n h o e Ádrasto, herdeiro p r e s u m i d o
do reino.
N ã o e s t a n d o e m c o n d i ç õ e s d e f a z e r f a c e a o s partidá-
rios de Anfiarau, que usurpara a coroa matando T a l a u , seu
p a i , Á d r a s t o f o i o b r i g a d o a d e i x a r s u a pátria. E n f i m , o c a s a -
m e n t o d o u s u r p a d o r c o m E r i f i l a , irmã d e Á d r a s t o , a p l a c o u
as d i s s e n s õ e s e r e s t a b e l e c e u Á d r a s t o n o t r o n o .
T e n d o p r e v i s t o , p o r s u a arte divinatória, q u e d e v i a p e -
r e c e r n a g u e r r a d e T e b a s , A n f i a r a u se e s c o n d e u ; m a s s u a
m u l h e r E r i f i l a , s e d u z i d a p e l o p r e s e n t e d e u m colar, r e v e l o u
s e u e s c o n d e r i j o a P o l i n i c e s . O b r i g a d o a partir, A n f i a r a u e n -
carregou seu filho Alcmêon da sua vingança.
D i a n t e de T e b a s , às vésperas d a s u a morte, estando à
m e s a c o m os chefes d o exército, u m a águia precipitou-se
sobre a sua lança, tomou-a, depois deixou-a cair n u m lugar
o n d e se c o n v e r t e u e m l o u r e i r o . N o d i a s e g u i n t e , a terra se
abriu sob s e u carro e tragou-o c o m seus cavalos. Segundo
outros, foi o próprio Júpiter que, c o m u m raio, precipitou a
ele e a s e u carro nas entranhas d a terra, o u q u e o t o r n o u
imortal. A p o l o d o r o é o ú n i c o q u e o inscreve entre os A r g o -
nautas. T e v e c o m sua m u l h e r Erifila, além de Alcmêon, u m
f i l h o , o a d i v i n h o A n f í l o c o , e três f i l h a s , E u r í d i c e , D e m o n a s -
sa e Alcmene.
247
Mitologia Grega e Romana
248
Lendas Atenienses
N a t u r a l d e Sais, n o E g i t o , e p r i m e i r o r e i a t e n i e n s e , C é -
crope construiu, o u , segundo outros, e m b e l e z o u a cidade
de Atenas. Casou-se c o m Aglaura, filha de Acteu, e d e u o n o -
m e de Cecrópia à cidadela que ergueu. Submeteu os p o v o s
m a i s p e l a d o ç u r a d o q u e p e l a f o r ç a , d i s t r i b u i u a Ática e m
doze cantões, constituiu o tribunal do Areópago, estabele-
ceu o culto de Júpiter c o m o deus soberano, aboliu o uso de
s a c r i f i c a r ví timas h u m a n a s e r e g u l a m e n t o u p o r l e i s a i n s t i -
t u i ç ã o d o s c a s a m e n t o s . F o i a l c u n h a d o Difues, isto é , Biforme,
talvez porque, sendo de origem egípcia, t a m b é m era grego
p o r s e u e s t a b e l e c i m e n t o n a Ática.
É representado metade h o m e m , metade serpente.
D e i x o u três f i l h a s : A g l a u r a , H e r s e e P â n d r o s o .
Voltando u m dia do templo de Minerva acompanhada
de jovens atenienses, H e r s e atraiu os olhares de Mercúrio,
q u e v e i o p e d i - l a e m casamento. A g l a u r a , s u a irmã, c o m c i ú m e
d e s s a p r e f e r ê n c i a , p e r t u r b o u o s a m o r e s d o d e u s ; este b a -
teu-lhe c o m seu caduceu e transformou-a e m pedra. Herse
t e v e u m t e m p l o e m A t e n a s e r e c e b e u as h o n r a s h e r ó i c a s .
Aglaura, apesar da sua maldade ciumenta, t a m b é m teve u m
templo e m Salamina depois d a s u a morte, tendo-se estabe-
l e c i d o e m s u a h o n r a o b á r b a r o c o s t u m e d e i m o l a r u m a víti-
ma humana.
249
Mitologia Grega e Romana
Pandíon
Erecteu
250
Lendas Atenienses
C r e u s a , Clitônia e Orítia, q u e se a m a v a m t ã o t e r n a m e n t e q u e
se e m p e n h a r a m p o r j u r a m e n t o a n ã o s o b r e v i v e r u m a s às
outras.
Estando e m guerra c o m os eleusinos, E r e c t e u soube d o
o r á c u l o q u e s e r i a v e n c e d o r se aceitasse i m o l a r u m a d a s s u a s
f i l h a s . Clitônia f o i e s c o l h i d a c o m o vítima e s u a s i r m ã s f o r a m
fiéis a o j u r a m e n t o . O p a i d e l a s r e c h a ç o u E u m o l p o , f i l h o d e
Netuno, m a s foi precipitado v i v o n o seio d a terra, que N e -
t u n o entreabriu c o m u m golpe de s e u tridente. O s atenien-
ses p u s e r a m E r e c t e u e n t r e o s d e u s e s e c o n s t r u í r a m - l h e u m
templo n a cidadela.
S e g u n d o o u t r a tradição, Prócris t o r n o u - s e e s p o s a d e C é -
falo, que a matou n u m a caçada; Creusa casou-se c o m X u t o ,
p a i a d o t i v o d e í o n ; Clitônia, c o m o s a c e r d o t e B u t e s ; e Orítia
foi raptada por Bóreas.
J á c o n h e c e m o s a fábula de Bóreas.
C é f a l o , m a r i d o d e Prócris, e r a f i l h o d e É o l o . A u r o r a ,
impressionada c o m a sua beleza, raptou-o, mas e m vão; o u ,
segundo outros, dele teve Faetonte e deixou-o voltar para
junto de Prócris, a q u e m a m a v a a p a i x o n a d a m e n t e . P a r a p ô r
à p r o v a a fidelidade de s u a esposa, ele disfarçou-se de n e -
gociante e tentou seduzi-la. Ofereceu-lhe tão ricos presen-
tes, q u e e l a e s t a v a a p o n t o d e s u c u m b i r às s u a s s o l i c i t a ç õ e s ,
quando, fazendo-se reconhecer, ele repreendeu-lhe sua fra-
q u e z a . C o n f u s a , Prócris a b a n d o n o u s e u m a r i d o e r e t i r o u - s e
p a r a os b o s q u e s .
S u a a u s ê n c i a a p e n a s r e a v i v o u o a m o r d e Céfalo. E l e f o i
buscá-la, reconciliou-se c o m ela e recebeu de suas mãos dois
p r e s e n t e s q u e h a v e r i a m d e ser f u n e s t o s a a m b o s : u m c ã o
que Minos lhe dera e u m a lança que n u n c a errava o alvo.
Esses presentes a u m e n t a r a m a paixão de Céfalo p e l a caça.
I n q u i e t a c o m s u a s a u s ê n c i a s e e n c i u m a d a , Prócris r e -
solveu segui-lo e m segredo e emboscou-se n u m a ramagem
espessa. Seu esposo, exausto, v e i o por acaso repousar sob
u m a á r v o r e v i z i n h a e, c o n f o r m e o c o s t u m e , i n v o c o u o d o c e
251
Mitologia Grega e Romana
hálito d o Zéfiro. S u a m u l h e r , q u e o o u v i a , s u p o n d o q u e e l e
falava a u m a rival, fez u m m o v i m e n t o que agitou a folha-
g e m ; C é f a l o a c r e d i t o u q u e se t r a t a v a d e u m a n i m a l , a t i r o u
a lança que ganhara dela e matou-a.
P e r c e b e n d o s e u erro, m a t o u - s e d e d e s e s p e r o c o m a m e s -
m a lança. Júpiter, c o m o v i d o c o m o infortúnio dos dois es-
p o s o s , t r a n s f o r m o u - o s e m astros.
B u t e s , f i l h o d e P a n d í o n e d e Z e u x i p e , m a r i d o d e Clitô-
nia, sacerdote de M i n e r v a e de Netuno, obteve depois d a
m o r t e as h o n r a s d i v i n a s . E l e t i n h a u m altar n o t e m p l o d e
Erecteu, e m Atenas.
Egeu
Niso
252
Lendas Atenienses
alto d a s m u r a l h a s , c o r t o u e s s e c a b e l o fatal d e s e u p a i e n -
quanto ele d o r m i a e ofereceu-o ao príncipe, objeto de s e u
a m o r . M i n o s f i c o u h o r r o r i z a d o c o m u m a a ç ã o t ã o i n d i g n a e,
aproveitando a traição, e x p u l s o u d a s u a p r e s e n ç a a pérfida
princesa.
D e s e s p e r a d a , ela quis se jogar n o mar, m a s os deuses
transformaram-na e m cotovia. Niso, seu pai, metamorfoseado
c m gavião, n ã o cessa de persegui-la nos ares e fere-a a b i -
cadas.
Teseu
253
Mitologia Grega e Romana
ses c o n t a v a m q u e t e n d o v i n d o e n c o n t r a r - s e c o m Pitéu,
Hércules d e s p i u sua pele de leão para pôr-se à mesa. Vários
f i l h o s d a c i d a d e , T e s e u e n t r e o u t r o s , q u e t i n h a a p e n a s sete
a n o s , atraí dos p e l a c u r i o s i d a d e , a c o r r e r a m à c a s a d e Pitéu;
mas todos tiveram grande m e d o da pele do leão, c o m exce-
ç ã o de T e s e u , que, arrancando u m m a c h a d o das mãos de
u m escravo e acreditando v e r u m leão, foi atacá-lo.
Antes de partir de T r e z e n a , E g e u p ô s s e u calçado e s u a
espada debaixo de u m a enorme pedra e ordenou a Etra
q u e n ã o lhe mandasse o filho a A t e n a s antes q u e ele esti-
vesse e m condições de levantar aquela pedra. M a l fez de-
zesseis anos, T e s e u conseguiu movê-la e t o m o u a espécie
d e t e s o u r o q u e e l a c o b r i a , m e d i a n t e o q u a l se f e z r e c o n h e -
cer c o m o filho de E g e u .
E l e foi p a r a Atenas, m a s antes de fazer-se reconhecer
c o m o herdeiro do trono, decidiu tornar-se digno de suas fa-
çanhas e imitar Hércules, objeto d a sua admiração. H a v i a ,
d e resto, e n t r e e l e s , l a ç o s d e p a r e n t e s c o : Pitéu, p a i d e E t r a ,
e r a i r m ã o d e Lisídice, m ã e d e A l c m e n e .
C o m e ç o u l i m p a n d o a Ática d o s b a n d o l e i r o s q u e a i n -
f e s t a v a m e, e m p a r t i c u l a r , Sínis o u C e r c í o n . E s s e b a n d o l e i -
ro, dotado de u m a força extraordinária, obrigava os passan-
tes a l u t a r e m c o n t r a e l e e e x t e r m i n a v a o s q u e v e n c i a . V e r -
g a v a as á r v o r e s m a i s grossas, a p r o x i m a v a s u a c o p a d o c h ã o ,
a m a r r a v a as vítimas aí e, q u a n d o as á r v o r e s t o r n a v a m a se
erguer, a s ví timas e r a m e s q u a r t e j a d a s .
D e p o i s d e ter-se p u r i f i c a d o n o altar d e J ú p i t e r , à m a r -
g e m d o C e f i s o , p o r ter m a n c h a d o a s m ã o s c o m o s a n g u e d e
tantos c r i m i n o s o s , T e s e u v o l t o u a A t e n a s p a r a f a z e r - s e r e c o -
nhecer. E n c o n t r o u a cidade n u m a estranha confusão. A fei-
t i c e i r a M e d é i a g o v e r n a v a s o b o r e i n a d o d e E g e u e, t e n d o
sabido d a chegada do estrangeiro que fazia falar muito de
si, tratou de torná-lo suspeito ao rei e c h e g o u a m a q u i n a r
s e u e n v e n e n a m e n t o d u r a n t e u m b a n q u e t e , à m e s a deste.
Mas n o m o m e n t o e m que T e s e u ia levar aos lábios a taça
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Lendas Atenienses
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Mitologia Grega e Romana
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Ariadne.
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257
Mitologia Grega e Romana
Teseu e as Amazonas.
258
Lendas Atenienses
Pirítoo
259
Mitologia Grega e Romana
ç o u - s e s o b r e Pirítoo e e s t r a n g u l o u - o . S a b e m o s o q u e a c o n -
teceu c o m T e s e u e a q u e m d e v e u sua libertação.
Hipólito
Fedra
260
Lendas Atenienses
Minos
M i n o s , s e g u n d o d o n o m e , f i l h o d e Licaste e n e t o d o p r i -
m e i r o M i n o s , o j u i z d o I n f e r n o , t o r n o u - s e temível a s e u s v i z i -
n h o s , s u b m e t e u várias i l h a s v i z i n h a s e fez-se s e n h o r d o mar.
H a v e n d o seus dois irmãos pretendido disputar-lhe a coroa,
M i n o s r o g o u aos d e u s e s q u e l h e d e s s e m u m s i n a l d a s u a
a p r o v a ç ã o ; e N e t u n o , a t e n d e n d o a e s s e rogo, f e z sair d o m a r
u m t o u r o d e u m a b r a n c u r a o f u s c a n t e . É a esse último M i n o s
q u e se d e v e m reportar as fábulas d e Pasífae, d o M i n o t a u r o , d a
guerra contra os atenienses e de Dédalo. E l e p e r e c e u perse-
g u i n d o esse artista até a Sicília, o n d e o r e i C ó c a l o s u f o c o u - o
n o banho. O corpo, d e v o l v i d o a seus soldados, foi enterrado
n a Sicília p o r estes, q u e , p a r a e s c o n d e r o u f a z e r respeitar
s e u s restos, e r g u e r a m u m t e m p l o a V é n u s n o p r ó p r i o l u g a r
d a s e p u l t u r a . M a i s tarde, q u a n d o f o r a m construí dos o s m u r o s
de Agrigento, descobriu-se seu túmulo, e suas cinzas recolhi-
das foram solenemente levadas para Creta.
Pasífae
261
Mitologia Grega e Romana
m a r . S e g u n d o o u t r o s m i t ó l o g o s , e s s a p a i x ã o f o i o efeito d a
vingança de Netuno contra Minos, que tendo o costume de
lhe sacrificar todos os anos o mais belo de seus touros, e n -
controu u m tão bonito que quis conservá-lo e imolou u m
de m e n o r valor. Irritado, N e t u n o fez Pasífae enamorar-se
pelo touro conservado. Dédalo, então a serviço de Minos,
fabricou, p a r a favorecer Pasífae, u m a v a c a de bronze.
E s s a fábula t e m s u a e x p l i c a ç ã o n o ódio dos gregos, e m
particular dos atenienses, por Minos. T e m por origem v e -
rossímil u m e q u í v o c o s o b r e a p a l a v r a Taurus, nome de u m
almirante cretense por q u e m a rainha, desdenhada por M i -
nos, e n a m o r a d o de Prócris, o u durante u m a longa e n f e r m i -
dade desse príncipe, ficou loucamente apaixonada. Dédalo
foi p r o v a v e l m e n t e o confidente dessa intriga. Pasífae teve
u m par de gémeos, u m dos quais parecia-se c o m Minos, o
outro c o m T a u r o , o q u e d e u lugar à fábula do Minotauro,
monstro metade touro, metade h o m e m .
Dédalo e ícaro
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Lendas Atenienses
263
Mitologia Grega e Romana
Demofonte e Fílis
264
Lendas Etólias
Meléagro
M e l é a g r o e r a f i l h o d e E n e u , r e i d e Cálidon, n a Etólia, e
d e Altéia, f i l h a d e T é s p i o ( o u T é s t i o ) . T e n d o s u a m ã e m a n -
d a d o consultar o oráculo sobre o destino d e s e u f i l h o q u e a c a -
b a v a de nascer, foi-lhe respondid o q u e só viveria o tempo
n e c e s s á r i o p a r a c o n s u m i r o tição q u e a r d i a e m s u a lareira. A l -
téia a p r e s s o u - s e a retirar e s s e tição, a p a g o u - o e c o n s e r v o u - o
c o m grande cuidado.
H a v e n d o E n e u e s q u e c i d o D i a n a n u m sacrifício q u e f e z
a o s d e u s e s , esta d e u s a f i c o u t ã o irritada q u e m a n d o u u m j a -
v a l i m o n s t r u o s o d e v a s t a r os c a m p o s d e Cálidon. O r e i r e u n i u
t o d o s os j o v e n s p r í n c i p e s d o país p a r a livrá-lo d o a n i m a l e
p ô s à frente destes s e u f i l h o , M e l é a g r o . E s t e já h a v i a p a r t i c i -
p a d o d a e x p e d i ç ã o d o s A r g o n a u t a s , s o b a c o n d u t a d e s e u tio
Leodaco, irmão de E n e u , e c o m seus caçadores e cães logo
d e u c a b o d o temível j a v a l i . M a s A t a l a n t e , f i l h a d e Iásio, r e i d a
Arcádia, e d e C l i m e n e , q u e p a r t i c i p a r a d e s s a c a ç a d a , ferira o
animal primeiro. Por essa ação ousada, ela mereceu a admi-
ração e o amor de Meléagro, que quis lhe oferecer a cabeça
d o m o n s t r o . O s dois tios m a t e r n o s d o j o v e m prí ncipe se o p u -
seram, pretendendo que essa h o n r a lhes era devida.
Rebenta então u m a guerra entre os etólios e os curetes
c o m a n d a d o s pelos descontentes. O s etólios, e m b o r a infe-
265
Mitologia Grega e Romana
riores e m número, v e n c e m e n -
quanto Meléagro está à s u a f r e n -
te; m a s M e l é a g r o o s abandona,
i n d i g n a d o p o r q u e Altéia, s u a m ã e ,
desesperada c o m a morte de seus
dois irmãos, que ele matara n o
c o m b a t e , o v o t o u às Fúrias. A s o r -
te m u d a , o s curetes f i c a m e m v a n -
tagem. Meléagro, c e d e n d o às sú-
plicas de sua esposa Cleópatra,
r e t o m a as a r m a s , r e c h a ç a d e f i n i t i -
v a m e n t e o i n i m i g o , m a s as F ú -
rias, c h a m a d a s p e l a s i m p r e c a ç õ e s
Meléagro. da m ã e , a b r e v i a m seus dias. Este
é o relato de H o m e r o .
S e g u n d o outros poetas, Altéia, m ã e d e M e l é a g r o , s a b e n -
d o d a morte de seus dois irmãos, mortos p o r ele, só d e u
ouvidos a seu furor: jogou imediatamente n o fogo o tição a
q u e as P a r c a s h a v i a m u n i d o o d e s t i n o d e M e l é a g r o . O prí n-
c i p e l o g o se s e n t e d e v o r a d o p o r u m f o g o s e c r e t o , d e f i n h a ,
se c o n s o m e c o m o tição e e x a l a o último suspiro.
Cleópatra n ã o p ô d e sobreviver à p e r d a d o marido, e
Altéia, q u e c a u s a r a s u a m o r t e , e n f o r c a - s e d e d e s e s p e r o .
A m o r t e d e M e l é a g r o é r e p r e s e n t a d a e m vários b a i x o s -
relevos antigos. Charles L e b r u n tratou do tema; s e u q u a d r o
faz parte d a c o l e ç ã o d o M u s e u d o L o u v r e .
Tideu
F i l h o de E n e u , r e i de Cálidon, e de Euribéia, o u de A l -
téia, T i d e u f o i b a n i d o d a s u a pátria p o r h a v e r m o r t o p o r
acidente seu irmão Melanipo. Retirou-se e m Argos, junto de
Ádrasto, q u e lhe d e u e m casamento s u a filha Deípile, d o
q u a l n a s c e u D i o m e d e s . E s s a aliança c o m p r o m e t e u - o n a q u e -
rela de Polinices, que, c o m o ele, era genro de Ádrasto. T i -
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Lendas Etólios
267
Lendas Tessálicas
O centauro Quíron
269
Mitologia Grega e Romana
Centauro.
270
Lendas Tessálicas
r e u p r o n t a m e n t e e a p l i c o u u m r e m é d i o q u e s e u antigo m e s -
tre l h e h a v i a e n s i n a d o ; m a s o m a l e r a i n c u r á v e l , e o i n f e l i z
c e n t a u r o , s o f r e n d o d o r e s horrí veis, p e d i u a J ú p i t e r q u e p u -
sesse f i m a s e u s d i a s . C o m o v i d o c o m a s u a súplica, o p a i d o s
deuses transferiu a Prometeu a imortalidade que Quíron de-
v i a à sua qualidade de filho de Saturno e colocou o Centau-
r o n o Z o d í a c o , o n d e f o r m o u a c o n s t e l a ç ã o d e Sagitário.
U m d o s restos m a i s p r e c i o s o s d a p i n t u r a a n t i g a é o q u a -
dro encontrado e m Herculano, onde Quíron é representa-
d o d a n d o u m a lição de música a Aquiles.
Peleu
271
Mitologia Grega e Romana
A n t e a f a l s a n o t í c i a d e q u e e l e i a se c a s a r c o m E s t é r o -
pe, filha de Acasto, sua m u l h e r Antígona matou-se de de-
sespero.
P e l e u casou-se e m segundas núpcias c o m Tétis, filha
d e N e r e u e D ó r i s , irmã d e N i c o m e d e s , r e i d e C i r o , a m a i s
b e l a d a s N e r e i d a s . E s s a n i n f a , d e s c o n t e n t e c o m ter u m m o r -
tal c o m o e s p o s o , d e p o i s d e ter v i s t o J ú p i t e r , N e t u n o e A p o -
lo b u s c a r e m seu amor, assumiu, c o m o outro Proteu, dife-
rentes formas para fugir de P e l e u . Mas esse príncipe, pelos
conselhos de Quíron, acorrentou-a e manteve-a agrilhoada.
A s b o d a s se r e a l i z a r a m n o m o n t e P é l i o n c o m g r a n d e m a g -
nificência e todos os deuses f o r a m convidados, c o m e x c e -
ç ã o d a d e u s a Discórdia. D e P e l e u e Tétis n a s c e r a m vários
filhos, que m o r r e r a m e m tenra idade, e e n f i m Aquiles.
P e l e u m a n d o u s e u filho e s e u neto, Pirro o u Neoptóle-
m o , à frente dos mirmidões, ao cerco de Tróia. D e d i c o u ao
r i o E s p e r q u e u a c a b e l e i r a d e A q u i l e s , se v o l t a s s e s ã o e s a l v o
à pátria. T e v e a d o r d e s a b e r d a m o r t e d e s s e v a l o r o s o h e r ó i
e s o b r e v i v e u vários a n o s à g u e r r a d e T r ó i a .
N a Andrômaca de Eurípides, o v e l h o P e l e u aparece n o
tempo e m que Menelau e H e r m i o n e , sua filha, preparam-se
para matar Andrômaca; ele a liberta de suas m ã o s após u m a
v i v a c o n t e s t a ç ã o , n a q u a l os d o i s p r í n c i p e s c h e g a m à s i n -
v e c t i v a s . L o g o d e p o i s , é i n f o r m a d o d a m o r t e trágica d e s e u
neto, Pirro; fica desesperado e deseja ser enterrado sob as
ruínas d e T r ó i a . T é t i s v e m c o n s o l á - l o e p r o m e t e - l h e a d i v i n -
d a d e . P a r a tanto, m a n d a - o retirar-se n u m a g r u t a d a s i l h a s
Afortunadas, onde receberá Aquiles deificado. E l a lhe pro-
m e t e q u e virá lá p e g á - l o c o m c i n q u e n t a N e r e i d e s p a r a l e v á -
lo, c o m o esposo, ao palácio de N e r e u , dando-lhe a qualida-
de de semideus.
O s habitantes de Pela, n a Macedónia, ofereciam sacri-
fí cios a P e l e u . P r e t e n d e - s e i n c l u s i v e q u e , n u m a é p o c a r e -
m o t a , e r a - l h e i m o l a d a t o d o a n o u m a vítima h u m a n a .
272
Lendas Tessâlicas
Atamas
Filho de Éolo, neto de Deucalião, Atamas era rei de T e -
bas o u de O r c ô m e n o , n a Beócia. D e Néfele, sua primeira
mulher, nasceram u m filho e u m a filha, Frixo e Hele. T e n d o
B a c o inspirado seus furores a Néfele, ela fugiu para a flo-
resta. D e p o i s d e havê-la p r o c u r a d o e m v ã o , A t a m a s c a s o u - s e
c o m I n o , o u Leucotéia, filha de C a d m o , cujos maus-tratos
f o r ç a r a m F r i x o e H e l e a fugir. E n f u r e c i d o p o r T i s í f o n e , q u e
J u n o i n s t i g a r a c o n t r a e l e , A t a m a s s a i u a c o r r e r feito l o u c o
por s e u palácio, gritando que queria u m a leoa e dois leõe-
zinhos, e arrancou dos braços de I n o seu filho Learco, que
esmagou contra a muralha.
Frixo e Hele
273
Mitologia Grega e Romana
A p ó s h a v e r t e n t a d o e m v ã o s a l v a r a irmã, F r i x o c o n t i -
n u o u sua viagem. Exausto de cansaço, fez seu carneiro
chegar a u m cabo habitado por bárbaros v i z i n h o s d a Cól-
q u i d a . O s h a b i t a n t e s se d i s p u n h a m a m a s s a c r á - l o q u a n d o o
carneiro despertou-o sacudindo-o e informou-o, c o m v o z h u -
m a n a , d o perigo a q u e se e x p u s e r a . F r i x o m o n t o u de n o v o
n o c a r n e i r o e se f o i p a r a a C ó l q u i d a , a t u a l Mingrélia, p r o -
v í n c i a d a Ásia, q u e c o n f i n a c o m o m a r N e g r o . F o i r e c e b i d o
pelo rei Eetes, filho do Sol e de Persa, irmão de Circe e P a -
sífae, p a i d e A b s i r t o e d e M e d é i a ; ele s a c r i f i c o u o c a r n e i r o , s e -
g u n d o u n s a Júpiter, segundo outros ao deus Marte, e p e n -
d u r o u o tosão n u m a faia, n u m c a m p o consagrado a Marte.
Para guardá-lo, foi encarregado u m dragão, que vigiava dia
e n o i t e ; e, p a r a m a i o r s e g u r a n ç a , o c a m p o f o i c e r c a d o d e
touros furiosos, que t i n h a m pés de bronze e lançavam c h a -
mas pelas ventas.
T e n d o Eetes m a n d a d o assassinar F r i x o , todos os prín-
cipes da Grécia, informados dessa barbárie e das p r e c a u -
ções tomadas para guardar o precioso tosão, decidiram
p u n i r o assassino e i d e a r a m o projeto d e reconquistar o T o s ã o
de Ouro, que foi executado por Jasão acompanhado dos
Argonautas.
Os Argonautas
274
Lendas Tessálicas
q u e a n a u Argo p r o f e r i a o r á c u l o s e a f e z g a n h a r o s e p í t e t o s
d e diserta e d e sagrada.
Acredita-se que os Argonautas e r a m cinquenta e dois,
e x c l u s i v e as pessoas de s e u séquito; J a s ã o , promotor d a e x -
pedição, foi reconhecido também c o m o seu chefe.
Relacionam-se, após Jasão, Hércules; Acasto, filho de
Pélias; E u r i t o , f a m o s o c e n t a u r o ; M e n é c i o , p a i d e P á t r o c l o ;
A d m e t o , r e i d a T e s s á l i a ; Etálidas, f i l h o d e M e r c ú r i o ; A n f i a -
rau; A n f i d a m a s e C e f e u , arcadianos, filhos de A l e u ; Anfíon,
f i l h o d e H i p e r á s i o , r e i d e P a l e n e , n a Arcádia; Tífis, d a B e ó -
cia, piloto da n a u ; A n c e u , filho de Netuno; A n c e u , filho de
L i c u r g o , r e i d o s t e g é a t e s , n a Arcádia; A r g o s , f i l h o d e F r i x o ;
C á s t o r e P ó l u x ; Astérion, d a r a ç a d o s e ó l i d a s ; Astério, i r m ã o
d e Nestor; Á u g i a s , f i l h o d e F o r b a s , r e i d a Élida; I o l a u , c o m -
p a n h e i r o d o s t r a b a l h o s d e H é r c u l e s ; Cálais e Z e t e s , f i l h o s
d e B ó r e a s ; C e n e u , f i l h o d e E l a t o ; C l i t o e ífito, f i l h o s d e E u r i t o ,
275
Mitologia Grega e Romana
r e i d a Ecália; E u m e d o n t e , f i l h o d e B a c o e A r i a d n e ; D e u c a -
lião, f i l h o d o p r i m e i r o M i n o s ; E q u í o n , f i l h o d e M e r c ú r i o , q u e
serviu de espião durante a viagem; Ergino e Eufemo, filhos
d e N e t u n o , q u e t a m b é m e x e r c e r a m a f u n ç ã o d e pilotos; G l a u -
c o , f i l h o d e Sísifo; I d a s e L i n c e u , f i l h o s d e A f a r e u ; í d m o n ,
famoso adivinho, filho de A p o l o ; Iolau, p r i m o de Hércules;
í ficlo, f i l h o d e T é s t i o ; í f i c l o , p a i d e P r o t e s i l a u ; L a e r t e , p a i d e
Ulisses; Linco, filho de Épito, que tinha a visão tão aguda;
M e l é a g r o , f i l h o d e E n e u , r e i d e Cálidon; T i d e u , p a i d e D i o -
medes; M o p s o , célebre a d i v i n h o ; Butes, ateniense; Náuplio,
filho de Netuno e A m i m o n e ; Neleu e Periclímeno, seu filho;
Oileu, pai de Ajax; Peleu, pai de Aquiles; Filâmon, filho de
A p o l o e Q u i o n e ; T e s e u e s e u a m i g o Pirítoo; e n f i m , o p o e t a
Orfeu.
O s A r g o n a u t a s e m b a r c a r a m n o c a b o d e Magnésia, n a
Tessália, a p o r t a r a m p r i m e i r o n a i l h a d e L e m n o s , e n t ã o h a b i t a -
d a p o r u m a c o l ó n i a d e m u l h e r e s , se n ã o o e r a p e l a s A m a -
z o n a s ; daí p a r a a Samotrácia, o n d e c o n s u l t a r a m o r e i F i n e u ,
f i l h o d e A g e n o r , q u e l h e s p r o m e t e u fazê-los c h e g a r s ã o s e s a l -
v o s à Cólquida, se q u i s e s s e m libertá-lo das H a r p i a s ; e n t r a r a m
n o H e l e s p o n t o ; c o s t e a r a m a Ásia M e n o r ; a t i n g i r a m o P o n t o
E u x i n o p e l o estreito das S i m p l é g a d e s o u i l h a s Cianéias.
Essas ilhas, o u , antes, esses recifes situados n a entrada
d o Ponto E u x i n o , só d e i x a m entre si u m e s p a ç o de vinte
estádios. A s vagas d o m a r v ê m quebrar-se neles c o m gran-
de estrépito e seu borrifo f o r m a c o m o que u m a névoa q u e
e s c u r e c e o c é u . A s s u s t a d o s ante a v i s t a d e s s e estreito, o s A r -
g o n a u t a s s ó t e n t a r a m a p a s s a g e m d e p o i s d e h a v e r feito s a -
crifícios a J u n o e N e t u n o . O s terríveis r e c i f e s , a c r e d i t a v a - s e ,
e r a m móveis, a p r o x i m a v a m - s e u n s dos outros e a f u n d a v a m
as n a u s q u e t e n t a v a m passar. N e t u n o , e n t ã o , i m p e d i u - o s d e
c h o c a r - s e c o n t r a a Argo e f i x o u - o s p a r a s e m p r e .
P r o s s e g u i n d o a v i a g e m , o s A r g o n a u t a s s e g u i r a m a costa
d a Ásia, c h e g a r a m a E a , c a p i t a l d a C ó l q u i d a , e e x e c u t a r a m
sua empresa. Conseguido o Tosão de O u r o c o m a ajuda de
276
Lendas Tessâlicas
Jasão e Medéia
Jasão era filho de Éson, neto de Éolo, e de Alcimede.
Seu pai, rei de Iolco, na Tessália, fora destronado por Pé-
lias, irmão de Jasão por parte de mãe, e o oráculo predisse
que o usurpador seria escorraçado por u m filho de Éson.
277
Mitologia Grega e Romana
Por isso, assim que o príncipe nasceu, seu pai fez correr o
boato de que a criança era doente. Poucos dias depois,
noticiou sua morte e fez todos os preparativos para os fune-
rais, enquanto sua mãe levou-o secretamente ao monte Pé-
lion, onde o centauro Quíron lhe ensinou todas as ciências
que professava. Ensinou-lhe sobretudo a medicina, o que
fez o jovem príncipe receber o nome de Jasão (de uma pa-
lavra grega que significa curar), e m vez de Palamedes, que
tivera ao nascer.
Aos vinte anos, querendo sair de seu refugio, Jasão foi
consultar o oráculo, que lhe ordenou que se vestisse à ma-
neira dos magnésios, que acrescentasse a essa vestimenta
uma pele de leopardo semelhante à que Quíron usava, que
se munisse de duas lanças e que fosse assim vestido à corte
de Iolco. O que Jasão fez.
E m seu caminho, viu-se detido pelo rio ou torrente
Anauro, que transbordara. Uma velha que encontrou à mar-
gem ofereceu-lhe carregá-lo e m seus ombros. Era Juno, que
alguns autores apresentam como enamorada por sua bele-
za; outros pretendem que J u n o só tinha afeto por Jasão,
porque v i a nele o herói que iria vingá-la u m dia de Pélias,
a quem odiava. Acrescenta-se uma circunstância à travessia
do rio: no trajeto, Jasão perdeu u m de seus sapatos. Essa
particularidade minuciosa adquire u m pouco mais de inte-
resse porque o oráculo, que predissera a Pélias que u m
príncipe do sangue dos eólidas o destronaria, acrescentara
que tomasse cuidado com u m homem que apareceria dian-
te dele com u m pé descalço e o outro calçado.
Chegando a Iolco, Jasão chama a atenção de todo o
povo por seu bom aspecto e pela singularidade da sua i n -
dumentária, dá-se a conhecer como filho de Éson e pede
ousadamente a seu tio a coroa que este usurpara. Pélias,
odiado por seus súditos e tendo notado o interesse que o
jovem príncipe inspirava, nada ousa empreender contra
ele; sem recusar-se abertamente, procura eludir o reclamo
278
Lendas Tessâlicas
279
Mitologia Grega e Romana
280
Lendas Tessâlicas
281
Mitologia Grega e Romana
282
Lendas Tessâlicas
Hipsípile
Hipsípile era filha de Toas, rei da ilha de Lemnos, e de
Mirina. Havendo as mulheres de Lemnos faltado com o res-
peito a Vénus e negligenciado seus altares, esta deusa, para
puni-las, tornou-as odiosas e insuportáveis a seus maridos,
que as abandonaram. Ofendidas com tal afronta, urdiram
u m complô contra todos os homens de sua ilha e degola-
ram-nos durante u m a noite. A p e n a s Hipsípile c o n s e r v o u a
vida de seu pai. Ela o fez passar secretamente à ilha de Quio.
Depois do massacre dos homens, foi eleita rainha de Lemnos.
Entretanto, os Argonautas, rumando para a Cólquida,
demoraram-se nessa ilha e Jasão, seu chefe, apaixonou-se
vivamente pela rainha, só a deixando depois de lhe ter pro-
metido voltar para ela assim que houvesse conquistado o
Tosão de Ouro. Mas, seduzido por Medéia, Jasão não se
lembrou mais de Hipsípile e essa princesa ficou inconsolá-
vel por tamanha ingratidão.
Logo teve outra tristeza. As lêmnias, tendo sabido que
o rei Toas, poupado por sua filha, reinava na ilha de Quio,
obrigaram Hipsípile a depor a coroa e a fugir. E l a se escon-
dera à beira-mar; mas lá foi capturada por uns piratas e, e m
seguida, vendida a Licurgo, rei da Neméia, na Argólida, que
a fez ama de seu filho, Arquêmoro.
U m dia, havendo deixado o bebé ao pé de uma árvore,
sobre u m tufo de aipo silvestre, para ir mostrar uma fonte a
estrangeiros, ela o encontrou, ao voltar, morto por uma ser-
pente. Licurgo quis matá-la, mas os estrangeiros, que não
eram senão Ádrasto, rei de Argos, e os príncipes argivos, to-
maram sua defesa e salvaram-lhe a vida.
Fizeram à criança pomposos funerais.
E m memória desse acidente, a fonte foi chamada de
Arquêmora e, segundo certos autores, foram instituídos os
jogos nemeus, celebrados de três em três anos, nos quais os
vencedores se coroavam com aipo e cobriam-se de luto.
283
Mitologia Grega e Romana
Orfeu
Orfeu era filho de Eagro, rei da Trácia, e da musa Ca-
líope, ou, segundo outros, filho de Apolo e Clio, pai de M u -
seu e discípulo de Lino. Músico hábil, cultivara sobretudo a
cítara, que recebera de presente de Apolo ou de Mercúrio;
acrescentara inclusive duas cordas às sete que tinha esse
instrumento. Seus acordes eram tão melodiosos, que en-
cantavam até mesmo os seres insensíveis. As feras vinham
depor sua ferocidade a seus pés; os passarinhos vinham pou-
sar nas árvores à sua volta; os rios suspendiam seu fluxo e
as árvores formavam coros de dança - alegorias ou exage-
ros poéticos que exprimem ou a perfeição de seus talentos,
ou a arte maravilhosa que soube empregar para atenuar os
costumes ferozes dos trácios e fazê-los passar da vida sel-
vagem às doçuras da vida civili-
zada.
Sua reputação de sábio e de
poeta inspirado pelos deuses era
difundida em todo o mundo an-
tigo desde o tempo dos Argo-
nautas, que se sentiram honra-
dos em associá-lo à sua expedi-
ção. Seu pai, Eagro, iniciara-o nos
mistérios de Baco, e Orfeu tra-
Orfeu encanta os animais. tou de estudar a origem, a histó-
ria e os atributos de todas as di-
vindades; tornou-se inclusive uma espécie de pontífice quali-
ficado para render aos deuses as honras que eles preferiam.
Não contente de penetrar os mistérios da religião grega,
284
Lendas Tessâlicas
285
Mitologia Grega e Romana
286
Lendas Argivas
Belerofonte
Belerofonte era filho de Glauco, rei de Éfiro ou de Co-
rinto, e de Eprímedes, filha de Sísifo. Seu verdadeiro nome,
Hiponous (bippos, cavalo, nous, inteligência), lhe fora dado
porque foi o primeiro a ensinar a arte de domar o cavalo e
conduzi-lo sem rédea. D e acordo com alguns mitólogos, o
nome sob o qual é conhecido vinha-lhe de Bêlero, a quem
havia matado (phoneus ou phoneutes, matador).
Havendo, pois, tido a infelicidade de matar na caça seu
irmão Bêlero ou Pirén, foi se refugiar na corte de Preto ou
Proclo, rei de Argos. Antéia ou Estenebéia, mulher desse
príncipe, apaixonou-se pelo jovem herói e, sendo-lhe este
insensível, acusou-o diante do marido de ter tentado sedu-
zi-la. Para não violar os direitos da hospitalidade, o rei man-
dou-o à Lícia, com cartas endereçadas a Iobates, rei desse
lugar e pai de Estenebéia, pelas quais informava-o da injú-
ria que recebera e pedia-lhe que o vingasse.
O rei Iobates deu-lhe uma acolhida hospitaleira; os nove
primeiros dias da sua chegada passaram-se em festas e ban-
quetes; enfim, no décimo, tendo aberto as cartas de que seu
hóspede era portador, o rei de Lícia ordenou-lhe que fosse
combater a Quimera, monstro nascido de Tífon e Équidna e
criado por Amisodar. A Quimera tinha cabeça de leão, rabo
287
Mitologia Grega e Romana
288
Lendas Argivas
Io
Segundo Ovídio, Io era filha do rio ínaco; segundo ou-
tros, de fnaco, primeiro rei de Argos, ou mesmo de Triopas,
sexto sucessor de ínaco. Júpiter apaixonou-se por essa prin-
cesa e, para evitar a fúria de Juno, com ciúmes dessa intri-
ga, cobriu-a com uma nuvem e transformou-a em vaca.
Suspeitando de u m mistério, J u n o impressionou-se com a
beleza do animal e pediu-o a Júpiter. Este não ousou recu-
sar-lhe, com medo de aumentar suas suspeitas, e a deusa
confiou a guarda da vaca a Argos, o de cem olhos. Depois
de Mercúrio ter matado esse guardião vigilante e libertado
Io, Juno irritada mandou uma Fúria, outros dizem u m mos-
cardo, perseguir a infeliz princesa. Io ficou tão agitada, que
atravessou o mar a nado, foi para a Ilíria, atravessou o
monte Hêmus, chegou à Cítia e ao país dos cimérios; de-
pois de ter vagado e m outras regiões, deteve-se à beira do
Nilo, onde, tendo Júpiter aplacado Juno, sua primeira for-
ma lhe foi restituída. F o i lá que pôs no mundo Épafo e mor-
reu pouco tempo depois.
Quanto a Épafo, assim que nasceu foi raptado pela ciu-
menta Juno, que o confiou aos curetes, fato que, chegando
ao conhecimento de Júpiter, levou-o a matar todos eles.
Preto e as Prétides
Preto, irmão de Acrísio, destronado por este, refugiou-
se na corte de Iobates, rei da Lícia, seu sogro, que lhe pro-
porcionou u m exército com o qual recuperou o trono de
Argos. Esse príncipe desposara Estenobéia. Foi morto por
Perseu por ter usurpado de Acrísio o trono de Argos; mas
Megapento, seu filho, vingou-se, matando Perseu.
As Prétides, ou filhas de Preto, ousaram comparar sua
beleza à de Juno, tendo sido punidas com uma loucura que
as fez crer que estavam transformadas em vacas, o que as
fazia percorrer os campos mugindo. Melampo, filho de A m i -
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Mitologia Grega e Romana
290
Lendas Argivas
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Mitologia Grega e Romana
292
Lendas Argivas
Dãnao e as Danaides
Dânao, príncipe egípcio, tentou tomar a coroa de seu
irmão Egito, tendo sido obrigado, por isso, a fugir do país.
Refugiou-se no Peloponeso, expulsou de Argos o rei Estê-
nelo, filho de Perseu e de Andrômeda, e apoderou-se de seu
reino. Dânao tinha cinquenta filhas e seu irmão Egito cin-
quenta filhos. Este, com inveja da força do irmão e temendo
vê-la crescer ainda mais se, pelo casamento de suas filhas,
contraísse numerosas alianças com os príncipes da Grécia,
quis dar como esposas a seus filhos suas primas irmãs. Man-
dou-os pois a Argos, à frente de u m exército, para reforçar
o pedido.
Fraco demais para resistir a eles, Dânao consentiu no ca-
samento de suas cinquenta filhas com seus cinquenta sobri-
nhos, mas com a condição secreta de que as Danaides, ar-
madas com u m punhal escondido sob suas roupas, massa-
crassem seus maridos na noite de núpcias. O projeto foi exe-
cutado, e apenas Hipermnestra poupou seu marido, Linceu.
Júpiter, para punir essas filhas cruéis, condenou-as a
encher eternamente no Tártaro u m tonel furado.
Hipermnestra, que abominara executar a ordem de seu
pai embora houvesse feito o juramento, foi encarcerada por
Dânao, que queria fazê-la morrer como culpada de traição.
Citou-a em justiça, mas ela foi absolvida pelos argivos. E m
293
Mitologia Grega e Romana
294
Os Pelópidas
Pélope
Filho de Tântalo, rei da Lídia, Pélope foi obrigado a sair
de seu país por causa da guerra que Tros lhe declarara para
vingar a morte de Ganimedes, seu filho, ou, segundo ou-
tros, por causa dos terremotos que afligiam seu país, e reti-
rou-se para a Grécia, junto de Enomau, rei de Pisa, que o
recebeu com bondade.
Esse rei, pai de Hipodâmia, prometera só dar sua filha
e m casamento ao pretendente que o vencesse na corrida de
carros. O vencido devia pagar com a morte a sua derrota.
Possuindo u m carro e cavalos rápidos, conduzidos por Mír-
tilo, o mais hábil dos escudeiros, Enomau não duvidava de
ser sempre o vencedor. Se ele impunha tão dura condição ao
casamento da filha, era porque u m oráculo lhe anunciara
que seu genro seria a causa da sua morte, e ele queria des-
fazer-se de todos os pretendentes. Armado dos pés à cabeça,
montava em seu carro, deixava o concorrente partir e, como
sempre era mais veloz, perseguia-o e trespassava-o com sua
lança ou sua espada, sem permitir que chegasse ao fim.
Treze pretendentes já haviam sido vencidos e mortos
por Enomau, quando Pélope se apresentou para concorrer.
Graças à cumplicidade do escudeiro Mírtilo, que serrou e m
parte o eixo do carro de Enomau antes da corrida, ele não
295
Mitologia Grega e Romana
Atreu e Tiestes
Atreu, filho mais velho de Pélope e
Morte de Enomau. de Hipodâmia, sucedeu a Euristeu, rei de
Argos, com cuja filha mais velha, Érope,
se casara. Tiestes, seu irmão, devorado por uma ambição
reforçada por uma natureza feroz e inclinada para o crime,
não pôde aceitar que os Estados de Pélope se tornassem
quinhão de Atreu.
A felicidade da família e a prosperidade do império esta-
vam vinculadas à posse de u m carneiro que tinha u m tosão
de ouro e que Mercúrio dera a Pélope. Por seus artifícios,
Tiestes conseguiu roubá-lo. A essa injúria, acrescentou o mais
sangrento ultraje, corrompendo Érope, mulher de Atreu.
296
Os Pelópidas
297
Os Tindáridas
Tíndaro e Leda
Filho de Ébalo, rei de Esparta, e de Gorgofone, filha de
Perseu e Andrômeda, Tíndaro devia suceder naturalmente
a seu pai; mas Hipocoonte, seu irmão, disputou-lhe a coroa
e obrigou-o a se retirar para Messênia, até ser restabelecido
no trono por Hércules. Casou-se com Leda, filha de Téstio,
rei da Etólia. Essa princesa, amada por Júpiter, que, para ter
êxito em seus amores, assumiu a forma de u m cisne, teve
quatro filhos - encerrados, segundo a fábula, e m dois ovos
divinos. U m desses ovos continha Pólux e Helena, conside-
rados oriundos de Júpiter e, por conseguinte, imortais; no
outro, encontravam-se Cástor e Clitemnestra, ambos mortais,
por serem oriundos de Tíndaro.
D e acordo com outra tradição, Leda era apenas u m ape-
lido de Nêmesis, a implacável deusa da vingança e do cas-
tigo. Dando a Helena essa deusa por mãe, os poetas quise-
ram sem dúvida exprimir tanto as tristezas que sua beleza
lhe causou, como a vingança cruel que ela atraiu sobre os
troianos e a família de Príamo.
Cástor e Pólux
Cástor e Pólux costumam ser designados pela denomi-
nação comum de Dióscuros, isto é, filhos de Júpiter (kou-
299
Mitologia Grega e Romana
300
Os dois foram incluídos entre os
grandes deuses da Grécia. Elevaram-lhes
u m templo e m Esparta, lugar de seu nas-
cimento e de sua sepultura, e em Atenas,
que haviam salvo da pilhagem.
Aqueles fogos que às vezes brilham
na ponta dos mastros em tempo de tem- os Dióscuros
pestade e que os marinheiros chamam de a cavalo,
fogos de Santelmo, chamavam-se fogos
de Cástor e Pólux, porque, durante a expedição dos Argo-
nautas, n u m dia de tempestade, viram-se fogos pairando
e m torno da cabeça dos Tindáridas.
Os romanos tinham grande veneração por essas duas
divindades; os homens juravam pelo nome de Pólux (Edepol),
as mulheres pelo de Cástor (Ecastor). As histórias grega e
romana são cheias de aparições milagrosas desses dois ir-
mãos. Os atenienses acreditaram vê-los combater com eles
contra os persas, em Maratona; os romanos não duvidaram
de tê-los por auxiliares no lago Regilo contra os latinos. E m
Roma, chegou-se a elevar u m templo em reconhecimento a
essa feliz intervenção. Nos sacrifícios, eram-lhes imolados
cordeiros brancos.
Nos monumentos e nas medalhas, os Dióscuros costu-
m a m estar juntos, figurando como robustos adolescentes
de uma beleza irretocável. É bastante frequente trazerem à
cabeça u m barrete ou u m capacete em forma de meia casca
de ovo, lembrando a sua origem. São representados ora a
pé, com uma lança na mão e segurando u m cavalo pela
rédea, ora montados em cavalos brancos.
Helena
Filha de Júpiter e Leda, que era mulher de Tíndaro, ir-
mã de Pólux, Cástor e Clitemnestra, Helena foi causa de tan-
tas desgraças devidas à sua beleza fatal, que muitos poetas,
301
Mitologia Grega e Romana
Afrodite e Helena.
302
Os Tindáridas
303
Mitologia Grega e Romana
Clitemnestra
Clitemnestra, irmã de Helena, filha de Júpiter ou de Tín-
daro e Leda, casou-se em primeiras núpcias com u m filho
de Tiestes, Tântalo, com quem teve u m filho. Agamêmnon
matou o pai e o filho e raptou Clitemnestra, contra a sua v o n -
tade. Para vingar essa afronta, Cástor e Pólux declararam-
lhe guerra, mas Tíndaro, que aconselhara o rapto, reconci-
liou os Dióscuros com Agamêmnon, que se tornara seu
genro.
Este, antes de partir para o cerco de Tróia, confiou sua
esposa e seus Estados a Egisto, mas encarregou ao mesmo
tempo u m poeta e músico fiel de vigiar a conduta de seu
lugar-tenente e de sua mulher. Ambos foram infiéis: Egisto
apaixonou-se por Clitemnestra e maquinou com ela a mor-
te do marido. Quando Agamêmnon voltou, a esposa adúl-
tera o fez assassinar. Depois desse assassinato, bem como do
de Cassandra e seus filhos, Clitemnestra casou-se publica-
mente com Egisto, seu cúmplice, e coroou-o.
Após alguns anos de tranquilidade, Egisto e Clitemnestra
foram mortos, por sua vez, por Orestes, filho de Clitemnes-
tra e de Agamêmnon.
E m Electra, de Sófocles, Clitemnestra toma como pre-
texto do assassinato do marido a morte de Ifigênia, consen-
tida por Agamêmnon.
O assassinato de Agamêmnon inspirou, além de Sófo-
cles e Eurípides, Alfieri, Lemercier, Soumet e, também, o cé-
lebre pintor Guérin, cujo quadro se encontra no Museu do
Louvre. Essa composição tão dramática é considerada uma
das mais belas obras da Escola francesa.
304
Os Átridas
Agamêmnon
Rei de Argos e de Micenas, neto de Pélope, Agamêmnon
era, como seu irmão Menelau, filho de Plístenes. Mas, como
ambos foram criados pelo tio Atreu, Homero e outros poe-
tas os designam pelo nome de Átridas. Teve de Clite-
mnestra, sua mulher, quatro filhas, Ifigênia, Electra, Ifianassa,
Crisótemis, e u m filho, Orestes.
Tendo a guerra de Tróia sido decidida, foi eleito gene-
ralíssimo do exército dos gregos. A frota que devia trans-
portar o exército para a Ásia estava reunida no porto de Áu-
lis, mas retida pelos ventos contrários. Para obter ventos
favoráveis, Agamêmnon, incitado pelo oráculo de Calce,
sacrificou a Diana sua filha Ifigênia. Talvez ela não tenha
sido realmente sacrificada. D e fato, conta-se que, acalmada
pela submissão do rei, Diana raptou essa princesa e substi-
tuiu-a por uma corça, que foi imolada em seu lugar.
Diante dos muros de Tróia, Agamêmnon teve uma vio-
lenta altercação com Aquiles, a quem foi obrigado a devol-
ver a jovem cativa Briseis, que roubara àquele.
Depois do cerco de Tróia, amou apaixonadamente a pro-
fetisa Cassandra, filha de Príamo, sua prisioneira, e levou-a
para Argos. Cassandra lhe predissera que ele pereceria se
voltasse à pátria; mas a sorte das profecias de Cassandra era
305
Mitologia Grega e Romana
Menelau
Irmão de Agamêmnon e marido de Helena, Menelau
reinava e m Esparta, onde sucedera a Tíndaro, seu sogro.
Desonrado pelo troiano Páris e indignado com a fuga de
Helena, informou do fato todos os príncipes da Grécia, que
se haviam comprometido pelos mais solenes juramentos a
prestar socorro ao esposo de Helena, se esta viesse a ser
raptada. Portanto, foi por instigação sua que os gregos pe-
garam e m armas e sitiaram Tróia.
O cerco já durava bastante tempo. U m dia, estando gre-
gos e troianos face a face, Páris e Menelau propõem bate-
rem-se n u m combate singular e resolver entre si a querela.
Os dois adversários entram e m liça. Menelau está com a
vantagem, mas Vénus, vendo seu favorito prestes a sucum-
bir, furta-o aos golpes do inimigo e leva-o para a cidade, o
que significa que Páris foge. E m vão Menelau reclama da
perfídia. D e longe, u m troiano atira-lhe uma flecha, que o
fere levemente, e as hostilidades recomeçam.
Depois da tomada de Tróia, Menelau, reconciliado com
Helena, só volta para Esparta oito anos depois. Diz-se que
foi retido na costa do Egito pelos deuses, a quem não ofe-
recera as hecatombes que lhes devia.
Censuram-no por ter extorquido de Agamêmnon o sa-
crifício de Ifigênia, por ter cedido ao ciúme de Hermione,
sua filha, ao querer matar Andrômaca e Pirro, e por não ter
socorrido energicamente seu sobrinho Orestes.
306
Orestes e Pttades
Orestes, filho de Agamêmnon e Clitemnestra, ainda era
bastante moço quando seu pai, voltando de Tróia, foi assas-
sinado por Clitemnestra e Egisto, cúmplice desta. Electra, sua
irmã, conseguiu subtraí-lo da fúria desses assassinos, fazen-
do-o fugir para junto do tio Estrófio, rei da Fócida, marido
de Anaxíbia, irmã de Agamêmnon. F o i lá que Orestes con-
traiu c o m s e u p r i m o P í l a d e s , f i l h o d e s s e p r í n c i p e , a a m i z a -
de que os tornou inseparáveis.
Adulto, Orestes amadureceu o projeto de vingar a mor-
te de seu pai, deixou a corte de Estrófio com Pílades, entrou
secretamente e m Micenas e escondeu-se junto de Electra.
Combinaram começar espalhando pela cidade o boato
da morte de Orestes. Egisto e Clitemnestra ficaram tão ale-
gres, que foram de imediato ao templo de Apolo dar graças
aos deuses. Orestes aí adentrou com alguns soldados, dis-
persou os guardas e matou, com a própria mão, sua mãe e
o usurpador.
A partir desse momento, as Fúrias ou Erínias começa-
ram a atormentá-lo. Primeiro foi a Atenas, onde o Areópago
absolveu-o, ou, para empregar a expressão consagrada,
expiou-o por seu crime. Como os votos dos juízes empata-
ram, a própria Minerva deu o seu e m seu favor. E m reco-
nhecimento pelo benefício, o príncipe elevou u m altar a
essa deusa, sob o nome de Minerva Guerreira.
Não contente com esse julgamento, Orestes foi para
Trezena submeter-se à expiação e, como ninguém ousava
recebê-lo, teve de hospedar-se n u m lugar à parte. Enfim,
comovidos com esses infortúnios, os habitantes de Trezena
expiaram-no. Durante muito tempo mostrou-se nessa cida-
de a pedra e m que se haviam sentado os nove juízes que
procederam à expiação; chamavam-na Pedra Sagrada.
Orestes foi restabelecido em seus Estados por Demofon-
te, rei de Atenas. Entretanto, as Fúrias vingadoras não ces-
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Mitologia Grega e Romana
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Estava então numa idade avançadíssima e, após a morte de
Menelau, havia acrescentado ao reino de Micenas o de E s -
parta.
Segundo outra lenda, Orestes também se casou com
Erígone, filha de Egisto e Clitemnestra, com quem teve u m
filho chamado Pentilo, que sucedeu a seu pai no trono de
Micenas. Quanto a Erígone, depois da morte do marido tor-
nou-se sacerdotisa e consagrou-se ao culto de Diana.
309
Outros Heróis Gregos da
Guerra de Tróia
Aquiles
Aquiles, o eácida, isto é, neto de Êaco, filho de Tétis e
Peleu, rei da Ftiótida, nasceu em Larissa, cidade da Tessália
às margens do Peneu. A o nascer, Tétis, sua mãe, mergu-
lhou-o na água do Estige, tornando-o invulnerável, exceto
no calcanhar, por onde o segurava. E l a própria se encarre-
gou da sua primeira educação e deu-lhe como governante
Fênix, filho de Amintor, príncipe dos dólopos, refugiado na
corte de Peleu. E m seguida, teve como mestre o centauro
Quíron, que, ornando sua bela inteligência com os conhe-
cimentos mais úteis, não descuidou de desenvolver e forta-
lecer seu corpo. Ele o alimentava, conta-se, com miolos de
leão e de tigre, a fim de lhe proporcionar uma coragem e
uma forças irresistíveis.
E m sua infância, tendo sua mãe lhe proposto optar en-
tre uma carreira longa e obscura e uma vida curta, mas glo-
riosa, elegeu a última. Entretanto, Tétis, instruída pelos orá-
culos de que Tróia nunca seria tomada sem seu filho, mas
que este pereceria ante seus muros, mandou-o vestido de
moça e com o nome de Pirra para a corte de Licomedes, rei
de Ciro. Valendo-se desse disfarce, ele se deu a conhecer a
Deidâmia, filha de Licomedes, casou-se secretamente com
ela e tiveram u m filho, chamado Pirro.
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Mitologia Grega e Romana
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Outros Heróis Gregos da Guerra de Tróia
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Mitologia Grega e Romana
Pátroclo
Filho de Menécio, rei dos lócrios, e de Estênela, Pátro-
clo matou o filho de Anfidamas, n u m arroubo de juventude
causado pelo jogo, tendo sido por isso obrigado a deixar a
sua pátria. Encontrou asilo na corte de Peleu, que o fez ser
educado por Quíron com seu filho Aquiles; daí essa amiza-
de tão terna e tão constante entre os dois heróis.
Ante as muralhas de Tróia, Pátroclo, não conseguindo
que seu amigo esquecesse o ressentimento contra os gre-
gos e entrasse na luta contra os troianos, dele obtém, con-
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Mitologia Grega e Romana
Filoctetes
Filoctetes era filho de Péan e fiel companheiro de Hér-
cules, que, ao morrer, deixou-lhe suas temíveis flechas. Ele
se comprometera, por juramento, a nunca revelar o lugar
e m que depositara as cinzas desse herói. Mas os gregos, a
ponto de partir para o cerco de Tróia, souberam pelo orá-
culo de Delfos que, para se assenhorear dessa cidade, ti-
nham de estar de posse das flechas de Hércules; enviaram,
então, emissários a Filoctetes para saber e m que lugar elas
estavam escondidas.
Filoctetes, que não queria n e m violar seu juramento,
nem privar os gregos da vantagem que essas flechas po-
diam proporcionar-lhes, depois de alguma resistência mos-
trou com o pé o lugar e m que Hércules fora inumado e
confessou que tinha as armas deste em seu poder.
Essa indiscrição custou-lhe caro em seguida, pois, quan-
do ia a Tróia, uma dessas flechas caiu no mesmo pé com o
qual havia indicado o lugar da sepultura de Hércules, for-
mando uma úlcera de cheiro tão infecto que, a pedido de
Ulisses, ele foi deixado na ilha de Lemnos, onde sofreu
durante dez anos todos os males e todas as dores do isola-
mento.
Entretanto, depois da morte de Aquiles, tendo os gre-
gos percebido que era impossível tomar a cidade sem as
flechas que Filoctetes levara consigo para Lemnos, Ulisses,
embora inimigo mortal desse herói, encarregou-se de ir bus-
cá-lo e trazê-lo de volta; o que de fato fez, com o concurso
de Diomedes e de Neoptólemo ou Pirro, filho de Aquiles.
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Outros Heróis Gregos da Guerra de Tróia
Nestor
Nestor, rei de Pilos, era o mais moço dos doze filhos de
Neleu. Por parte de Clóris, sua mãe, era neto de Níobe. Seus
onze irmãos tomaram parte da guerra de Neleu e Áugias
contra Hércules e foram mortos por esse herói; salvou-o,
então, sua tenra idade. Na época da Guerra de Tróia, em que
conduziu noventa naus, já era bastante idoso e reinava so-
bre a terceira geração.
É o cavaleiro de Gerênia, o ancião favorito de Homero.
O retrato de Nestor que o poeta nos proporciona é muito
mais acabado do que todos os demais. Volta sem cessar a
ele; e, depois de ter esboçado cuidadosamente todos os
seus traços nos grandes quadros da Ilíada, dá-lhes o último
toque na Odisseia: sabedoria, equidade, respeito aos deuses,
polidez, graça, doçura, eloquência, atividade, valor, todas
as virtudes políticas e guerreiras de Nestor são pintadas.
Para dele formar uma idéia completa, depois de tê-lo visto
na Ilíada, sábio conselheiro, valoroso capitão, vigilante sol-
dado, há que vê-lo na Odisséia, feliz e tranquilo, levando
uma vida sossegada e m sua casa, no meio de sua família,
cercado de uma porção de crianças que o amam e o respei-
323
Mitologia Grega e Romana
Diomedes
Filho de Tideu e neto de E n e u , rei de Cálidon, Diome-
des foi educado pelo centauro Quíron, junto com vários
heróis da Grécia. Comandou os etólios no cerco de Tróia e
distinguiu-se por tantas belas ações que foi considerado o
mais corajoso do exército, depois de Aquiles e Ajax, filho
de Télamon. Homero representa-o como favorito de Palas-
Minerva. Auxiliado por essa deusa, matou vários reis com a
própria mão e saiu glorioso de combates singulares contra
Heitor, Enéias e os outros príncipes troianos. C o m Ulisses,
apoderou-se das flechas de Filoctetes, em Lemnos, e dos ca-
valos de Reso, e levou o Paládio.
Feriu Marte e a própria Vénus, que vinha socorrer seu
filho Enéias, a quem só salvou cobrindo-o com uma n u -
vem. A deusa sentiu-se tão despeitada que, para se vingar,
inspirou à sua mulher, Egíale, uma violenta paixão por u m
outro. Informado dessa afronta, Diomedes teve dificulda-
des para escapar das ciladas que ela lhe armou quando de
seu regresso, refugiando-se no templo de Juno, e foi tentar
estabelecer-se na Itália. Lá, havendo o rei Dauno lhe cedi-
do uma parte de seus Estados e lhe dado sua filha em casa-
mento, Diomedes fundou a cidade de Arpi ou de Argiripa.
Depois da sua morte, foi venerado como u m deus e
ganhou u m templo ou u m bosque sagrado à beira do T i -
mavo.
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Outros Heróis Gregos da Guerra de Tróia
Idomeneu
Idomeneu, rei de Creta, filho de Deucalião e neto do
segundo Minos, conduziu as tropas de Creta ao cerco de
Tróia, com uma frota de oitenta naus, distinguindo-se por
algumas façanhas. Depois da tomada da cidade, esse prínci-
pe, carregado de despojos troianos, voltava a Creta quando
foi pego por uma tempestade em que pensou fosse perecer.
No perigo aflitivo em que se v i a , prometeu a Netuno
imolar-lhe, se voltasse a seu reino, o primeiro ser vivo que
se apresentasse ante ele na praia de Creta. A tempestade
cessou e ele chegou bem a seu destino, onde seu filho,
advertido da chegada do rei, foi o primeiro ser que apare-
ceu à sua frente.
Podemos imaginar a surpresa e, ao mesmo tempo, a
dor de Idomeneu ao percebê-lo. E m vão os sentimentos do
pai agiram e m seu favor; u m zelo cego de superstição pre-
valeceu e ele decidiu imolar o filho ao deus do mar. Vários
autores antigos pretendem que esse horrível sacrifício foi
consumado e vários modernos seguiram essa tradição. O u -
tros sustentam que o povo, tomando a defesa do jovem prín-
cipe, retirou-o das mãos do pai furioso.
Como quer que seja, os cretenses, horrorizados com a
ação bárbara de seu rei, levantaram-se unanimemente con-
tra ele e obrigaram-no a deixar seus Estados. Ele retirou-se
para a costa da grande Hespéria, isto é, da Itália, onde fun-
dou Salento. Fez serem observadas e m sua nova cidade as
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Mitologia Grega e Romana
Protesilau
Protesilau, filho de íficlo, príncipe da Tessália, acabava
de casar-se com Laodâmia, filha de Acasto, sucessor de Pé-
lias, da família de Jasão, quando rebentou a Guerra de Tróia.
Ele abandonou a jovem esposa no dia seguinte às núpcias
para participar da expedição. Embora u m oráculo tivesse
prometido a morte ao primeiro guerreiro grego que desces-
se na praia inimiga, ele se devotou para a salvação do exér-
cito. Como ninguém ousava descer à terra, precipitou-se
para fora de seu navio e foi morto por Heitor.
Laodâmia ficou inconsolável. Para aliviar sua dor, man-
dou fazer uma estátua que lhe lembrasse seu esposo. U m
dia, Acasto, seu pai, querendo poupar-lhe esse triste espe-
táculo, atirou a estátua no fogo; Laodâmia aproximou-se das
chamas, jogou-se nelas e pereceu.
Ao voltarem de Tróia, os gregos, para glorificar o devo-
tamento de Protesilau, instituíram as Protesiléias, festas ou
jogos que eram celebrados em Fílace, lugar de nascimento
desse herói.
Calcas
Filho de Testor, u m dos Argonautas, Calcas recebeu de
Apolo a ciência do presente, do passado e do futuro. O
exército dos gregos que se reunia para o cerco de Tróia to-
mou-o como seu sumo sacerdote e seu adivinho. Tendo vis-
to subir numa árvore uma serpente que, depois de ter de-
vorado nove passarinhos n u m ninho e sua mãe, fora em se-
guida transformada e m pedra, predisse que o cerco duraria
dez anos. F o i ele que, para obter os ventos favoráveis à
frota retida no porto de Áulis, aconselhou o sacrifício de Ifi-
gênia; ele também que, para fazer cessar a peste, flagelo ter-
326
Outros Heróis Gregos da Guerra de Tróia
Palamedes
Filho de Náuplio, rei da ilha de Eubéia, e discípulo de
Quíron, Palamedes seguira os outros príncipes gregos ao
cerco de Tróia. Viu-se às voltas com o ódio do temível Ulis-
ses por vários motivos. Primeiro, foi ele que descobriu e
revelou aos gregos a loucura simulada desse herói; também
ele que, diante de Tróia, acusou Ulisses de perfídia e impre-
vidência, ao deixar faltar víveres para o exército, embora
tivesse ido à Trácia a pretexto de comprá-los; enfim, Pala-
medes desaprovava essa guerra longa e ruinosa movida pe-
la Grécia aos troianos.
Por sua vez, Ulisses acusou-o perfidamente de traição.
Para dar crédito à sua acusação, escondeu uma soma con-
siderável de dinheiro na tenda de Palamedes, pretendeu
que ele a recebera de Príamo, forjou uma carta desse rei pa-
ra fornecer provas, e Palamedes, condenado à morte pelo
conselho de guerra, foi injustamente lapidado.
Pirro ou Neoptólemo
Pirro, ou Neoptólemo, filho de Aquiles e Deidamia, foi
educado na corte de seu avô materno, Licomedes, rei de
Ciro, até a morte de seu pai. Havendo u m oráculo declarado
então que a cidade de Tróia não podia ser tomada se não
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Mitologia Grega e Romana
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Heróis Troianos da Guerra de Tróia
Príamo
Filho de Laomedonte, neto de lio, bisneto de Tros, Pría-
mo, por ter tomado o partido de Hércules contra seu pai, que
lhe faltara com a palavra, recebeu do herói a coroa em re-
compensa de sua equidade.
Esse príncipe reconstruiu Tróia, que Hércules havia ar-
ruinado, e ampliou os limites de seu reino, que logo se tornou
assaz próspero. Mas sua velhice foi entristecida pelo cerco
da cidade, a ruína desta e a perda de seus filhos. Foi morto
em seu palácio, no meio de seus deuses, por Pirro.
D e nada lhe adiantou abraçar o altar de Júpiter-Prote-
tor: o filho de Aquiles arrancou-o brutalmente e passou-lhe
a espada através do corpo.
D e várias mulheres teve u m grande número de filhos. D e
Hécuba teve Heitor, Páris, Deífobo, Heleno, Polites, Antifo,
Hipônoo, Polidoro, Troilo, Creusa, Laódice, Polixena e Cas-
sandra. Homero representa-o como u m príncipe equitativo,
mas de uma fraqueza cega por seu filho Páris, raptor de H e -
lena e causa de todas as suas desgraças.
Hécuba
Filha de Dimas ou de Cisseu, rei da Trácia, irmã de Tea-
no e mulher de Príamo, Hécuba teve dele, diz Homero, cin-
329
Mitologia Grega e Romana
Teano
Filha de Cisseu, irmã de Hécuba e mulher de Antenor,
Teano era suma sacerdotisa de Minerva e m Tróia. Quando
Hécuba e as mulheres troianas vieram implorar o socorro
da deusa, a bela Teano, diz Homero, pôs as oferendas no
colo de Minerva, acompanhando-as de súplicas que foram
rejeitadas.
Segundo uma tradição, foi ela que entregou o Paládio
aos gregos.
330
Heróis Troianos da Guerra de Tróia
Antenor
Príncipe troiano, marido de Teano e cunhado de Pría-
mo, Antenor teve uma próspera família, dezenove filhos,
diz-se, entre os quais contam-se: Antiloco, morto n u m com-
bate por Ajax, filho de Télamon; Anteu, que Páris matou por
acidente; Laodoco, sob cujos traços Minerva aconselhou a
Pândaro que atirasse uma flecha para impedir o combate sin-
g u l a r e n t r e Páris e M e n e l a u ; e n f i m , A t a m a n t e , A q u e l a u , etc.
Antenor foi acusado de haver traído a pátria não só
porque recebeu os embaixadores gregos que vieram pedir
Helena de volta, mas também porque reconhecera, em Tróia,
Ulisses disfarçado, e não o revelou aos troianos.
Depois da tomada dessa cidade, embarcou com os seus,
foi parar na Itália, na costa dos vênetos, e fundou uma cida-
de com seu nome, que depois foi chamada Pádua.
Heitor
Filho de Príamo e de Hécuba, marido de Andrômaca,
pai de Astíanax, Heitor, o mais forte e valoroso dos troia-
nos, defendeu energicamente sua pátria contra o exército
dos gregos. Saiu glorioso de vários combates contra os mais
temidos guerreiros, como Ajax, Diomedes etc.
Os oráculos predisseram que o império de Príamo não
poderia ser destruído enquanto vivesse o corajoso Heitor.
Durante a retirada de Aquiles, ele pôs fogo até nas naus ini-
migas e matou Pátroclo, que queria opor-se a seu avanço.
O desejo de vingança chama Aquiles de volta ao combate.
A o verem o terrível guerreiro, Hécuba e Príamo temem pe-
los dias de seu filho e fazem-lhe as mais vivas exortações
para dissuadi-lo de travar o combate; mas este é inexorável
e, preso a seu destino, Heitor espera por seu rival.
Apolo abandona-o. Minerva, sob as feições de seu ir-
mão Deífobo, engana-o e entrega-o à morte. Depois de lhe
tirar a vida, Aquiles o expõe ao covarde furor dos gregos,
331
Mitologia Grega e Romana
Andrômaca
Filha de Étion, rei da Cilicia, Andrômaca foi mulher de
Heitor. Privada de seu esposo, morto e m combate singular
por Aquiles, logo v i u reduzir-se a cinzas a cidade de que
Heitor era o principal sustentáculo, e coube e m partilha ao
filho do assassino deste, a Pirro, que a levou para Épiro e
com ela se casou.
Teve enfim, por terceiro esposo, Heleno, irmão de seu
primeiro marido, que se tornara rei do Epiro. Embora tenha
subido com ele ao trono, não deixava de se entregar à triste-
za, não podendo esquecer seu caro Heitor, para quem man-
dou construir em terra estrangeira u m magnífico monumento.
D e seu primeiro esposo, teve Astíanax; teve Molosso, Pie-
lo e Pérgamo do segundo, e Cestrino do último.
Cita-se Andrômaca como esposa e mãe modelar. Seu ca-
ráter e seus infortúnios inspiraram grandes poetas, por exem-
plo, Eurípides, Virgílio e Racine, depois de Homero, o maior
de todos.
332
Heróis Troianos da Guerra de Tróia
Páris
Páris, também chamado Alexandre, era filho de Pría-
mo, rei de Tróia, e de Hécuba. Antes de seu nascimento, os
adivinhos consultados anunciaram que a criança esperada
causaria u m dia a ruína de Tróia. Ante essa predição, assim
que Páris nasceu, Príamo deu-o a u m de seus domésticos
Mitologia Grega e Romana
334
Heróis Troianos da Guerra de Tróia
Polixena
Polixena, filha de Príamo e Hécuba, foi amada por Aqui-
les, que a v i u durante uma trégua. Este a pediu e m casa-
mento a Heitor. O príncipe troiano a prometeu, se ele acei-
tasse trair o s g r e g o s ; m a s u m a c o n d i ç ã o t ã o v e r g o n h o s a
pôde apenas suscitar a indignação de Aquiles, sem contu-
do diminuir seu amor. Quando Príamo foi reclamar o corpo
de seu filho, levou consigo a princesa, para ser recebido de
maneira mais favorável.
De fato, conta-se que o príncipe grego renovou seu pedi-
do e até aceitou casar-se secretamente com Polixena, em pre-
sença da família desta, num templo de Apolo que ficava entre
a cidade e o campo dos gregos. Páris e Deífobo, seu irmão,
para lá foram com Príamo e, no momento em que Deífobo
abraçava Aquiles, Páris desferiu-lhe u m golpe mortal.
Desesperada com a morte de u m príncipe que amava
e por ser a causa involuntária desta, Polixena retirou-se pa-
ra o campo dos gregos, onde foi recebida com honras por
Agamêmnon.
Sobre o desditado fim dessa princesa, há duas versões
bem diferentes. Para uns, tendo escapado durante a noite,
foi até o túmulo do esposo e trespassou o seio.
U m a outra tradição mais conhecida relata que Polixena
foi imolada pelos gregos sobre o túmulo de Aquiles. Foi a que
Eurípides, em sua tragédia Hécuba, e Ovídio, em suas Meta-
morfoses, seguiram.
Laocoonte
Filho de Príamo e de Hécuba, segundo uns, ou irmão
de Anquises, segundo outros, Laocoonte exercia na cidade
de Tróia as funções de sacerdote de Netuno e de Apolo.
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Mitologia Grega e Romana
336
Heróis Troianos da Guerra de Tróia
Heleno
Filho de Príamo e de Hécuba, o mais esclarecido dos adi-
vinhos da Tróade e único filho desse rei que sobreviveu à
ruína da sua pátria, formado na arte divinatória por Cas-
sandra, sua irmã, Heleno predizia o futuro pela trípode, pelo
louro jogado no fogo, pela astrologia e, enfim, pela observa-
ção do voo dos pássaros e a compreensão de sua linguagem.
Por volta do fim do cerco de Tróia, irritado por não
haver podido obter a mão de Helena, ele se retirou para o
monte Ida. Ulisses, a conselho de Calcas, surpreendeu-o à
noite e levou-o prisioneiro para o campo dos gregos. F o i
então que esse adivinho lhes fez saber que jamais destrui-
riam Tróia sem a presença e o concurso de Filoctetes.
Tendo se tornado escravo de Pirro, filho de Aquiles,
soube conquistar sua amizade com predições úteis a esse
príncipe. E m reconhecimento, Pirro não só cedeu a Heleno
a viúva de Heitor como esposa, mas também deixou-o co-
mo seu sucessor ao reino do Epiro. O próprio filho de Pirro,
Molosso, só reinou após a morte de Heleno e, ainda assim,
partilhando seus Estados com Cestrino, filho desse príncipe.
Á •
Cassandra
Filha de Príamo e de Hécuba, Cassandra foi amada por
Apolo, que lhe concedeu o dom da profecia. E m seguida, o
deus arrependeu-se e, não podendo tirar-lhe o dom de pre-
dizer, desacreditou suas predições e a fez passar por louca.
Seus prognósticos, suas advertências foram capazes apenas
de torná-la odiosa.
Havendo predito reveses a Príamo, a Páris e a toda a
cidade, foi encerrada numa torre, na qual não cessava de
deplorar as desgraças de sua pátria. Seus gritos e suas lágri-
337
Mitologia Grega e Romana
Anquises
Descendente de Tros, o fundador de Tróia, por parte de
Assáraco e Cápis, teve a rara fortuna de agradar a uma deu-
sa, e Vénus anunciou-lhe que lhe daria u m filho que seria
criado pelas ninfas até os cinco anos, idade em que ela lho
restituiria. Esse filho devia ser Enéias.
Anquises não pôde calar sua felicidade; para puni-lo
por sua indiscrição, Júpiter fulminou-o com seu raio, que
contudo apenas feriu-o de maneira insignificante. Depois da
tomada de Tróia, não lhe foi fácil decidir-se a partir da cida-
de. Uma trovoada, que ele tomou por u m augúrio favorá-
vel, determinou-o.
Enéias levou-o até as naus, ele embarcou com os deuses
penates e com o que tinha de mais precioso. Viveu até os oi-
tenta anos e foi enterrado no monte Ida, segundo Homero,
e, segundo Virgílio, e m Drépano, na Sicília, onde morreu e
onde seu filho lhe ergueu u m túmulo.
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Heróis Troianos da Guerra de Tróia
Sarpédon
Filho de Júpiter e de Laodâmia, filha de Belerofonte,
Sarpédon reinava nessa parte da Lícia banhada pelo Xanto
e tornava seus Estados prósperos tanto por sua justiça
quanto por seu valor. Ele veio acudir Príamo com numero-
sas tropas e foi u m dos mais intrépidos defensores de Tróia.
Era de uma estatura gigantesca. U m dia, avançou con-
tra Pátroclo, que fazia os troianos fugirem, e quis combatê-
lo. Vendo seu filho perto de sucumbir sob os esforços de seu
adversário, Júpiter compadeceu-se: ele sabia que o destino
condenara Sarpédon a morrer nesse momento; no entanto,
delibera se não o arrancará da morte, eludindo, dessa vez, os
decretos do Destino. Ante as repreensões de Juno, determi-
na-se a ceder; mas, ao mesmo tempo, faz cair no chão uma
chuva de sangue, para honrar a morte de u m filho tão caro.
Depois que Sarpédon foi morto, os gregos não pude-
ram levar mais que as armas para seus barcos. O próprio
Apolo veio, por ordem de Júpiter, retirar o corpo do guer-
reiro do campo de batalha, lavou-o nas águas do Escaman-
dro, perfumou-o com ambrósia, vestiu-o com roupas imor-
tais e entregou-o nas mãos do Sono e da Morte, que o le-
varam prontamente para a Lícia, em meio a seu povo.
339
Emigração Troiana
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Mitologia Grega e Romana
342
Emigração Troiana
Latino
Latino, rei do Lácio, era filho de Fauno e da ninfa Mari-
cá. Teve com sua esposa Amata u m filho morto na flor da
idade. Restava-lhe apenas uma filha, Lavínia, jovem princesa
pedida em casamento por vários príncipes da Itália, sobretu-
do por Turno, rei dos rútulos, que Amata, sua tia, favorecia.
Mas espantosos prodígios haviam retardado essa união.
U m dia em que a princesa queimava perfumes no altar,
o fogo pegou em seus cabelos e suas roupas e propagou à
sua volta turbilhões de chama e fumaça, sem que ela sen-
tisse nada. Consultados, os adivinhos auguraram que seu
destino seria brilhante, mas fatal a seu povo; e Fauno proi-
biu que Latino casasse sua filha com u m príncipe do Lácio,
anunciando u m estrangeiro cujo sangue, mesclado com o
seu, devia elevar até o céu a glória do nome latino.
Foi então que Enéias chegou à Itália e foi pedir asilo a
Latino. O rei recebeu-o bem e, lembrando-se do oráculo de
Fauno, fez aliança com Enéias e ofereceu-lhe sua filha em
casamento. Os latinos se opuseram e forçaram seu príncipe
à guerra. O troiano levou vantagem e tornou-se possuidor da
princesa e herdeiro de Latino.
Viúva de Enéias e vendo seu trono ocupado por Ascânio,
Lavínia temeu por seus dias. Foi se esconder nas florestas,
onde deu à luz u m filho que tomou o nome de Sílvio. A au-
sência dessa princesa fez o povo murmurar; Ascânio foi obri-
gado a mandá-la buscar e a ceder-lhe a cidade de Lavínio.
Evandro
Evandro foi o chefe de uma colónia de arcadianos que
veio se estabelecer na Itália, nos arredores do monte Aven-
tino. Esse príncipe levou para lá, com a agricultura, o uso das
343
Mitologia Grega e Romana
Ascânio, oujulo
Ascânio, ou Julo, era filho único de Enéias e Creusa, f i -
lha de Príamo. Na noite da tomada de Tróia, estando Enéias
e Anquises indecisos quanto ao partido que deveriam
tomar, uma ligeira chama que viram bruxulear de repente
e m torno da cabeça de Ascânio, sem lhe queimar os cabe-
los, pareceu-lhes u m presságio favorável, que os decidiu a
buscar u m novo lugar para fixar residência nos países es-
trangeiros.
344
Emigração Troiana
Niso e Euríalo
Dois jovens guerreiros romanos, Niso, filho de Hirtaco,
e Euríalo, filho de Ofeltes, haviam seguido Enéias até a Itá-
lia. Eram ligados por uma amizade indissolúvel. Certa noite,
na ausência de Enéias, quando estava montando guarda à
porta do campo atacado pelos rútulos, Niso, o mais velho dos
dois, concebeu o plano de atravessar as linhas inimigas pa-
ra ir buscar o herói, seu chefe. Euríalo aprova o amigo e,
apesar da sua idade, não quer deixá-lo partir só: recomen-
da sua mãe a Julo, e os dois jovens guerreiros partem jun-
tos. Depois de terem massacrado u m grande número de rú-
tulos adormecidos, encontram u m destacamento latino
conduzido por Volcens. Niso escapa, Euríalo é capturado e
vai perecer; Niso volta e pede inutilmente para morrer e m
lugar do jovem amigo. Euríalo é degolado e Niso só sucum-
be depois de ter vingado a morte do amigo com a de Vol-
cens.
Este o resumo do admirável relato de Virgílio, no nono
livro da Eneida.
345
Lendas Populares
Dido
Filha de Belo, rei de Tiro, Dido casara-se com u m sacer-
dote de Hércules chamado Sicarbas ou Siqueu, o mais rico
de todos os fenícios. Depois da morte de Belo, Pigmalião,
seu filho, subiu ao trono. Esse príncipe, ofuscado pela pai-
xão das riquezas, surpreendeu u m dia Siqueu quando ofe-
recia sacrifício aos deuses, e assassinou-o ao pé do altar.
Ocultou por muito tempo esse assassinato, iludindo sua
irmã com uma vã esperança. Mas a sombra de Siqueu, pri-
vada das honras da sepultura, apareceu e m sonho a Dido,
mostrou-lhe o altar ao pé do qual fora imolado, e aconse-
lhou que fugisse e levasse os tesouros escondidos desde há
muito n u m lugar que lhe indicou.
Ao despeitar, Dido dissimula sua dor, prepara sua fuga,
trata com uns navios que estavam no porto, onde recebe
todos os que odiavam ou temiam o tirano, e parte com as
riquezas de Siqueu e as do avaro Pigmalião. A flotilha arri-
bou primeiro na ilha de Chipre, onde Dido raptou cinquen-
ta moças, que deu a seus companheiros. D e lá, conduziu
sua colónia para a costa da África, onde construiu Cartago.
Para fixar os limites de sua nova cidade, ela compra tan-
tas terras quanto o couro de u m boi cortado e m tiras pode
cercar, o que lhe proporciona espaço bastante para poder
347
Mitologia Grega e Romana
Pigmalião
Pigmalião, filho de Belo, rei de Tiro, irmão de Dido e
de Ana, e que matou Siqueu, seu cunhado, para apoderar-se
de seus tesouros, não deve ser confundido com outro Pig-
malião, famoso estatuário da ilha de Chipre.
Este, revoltado contra o casamento por causa da má con-
duta das Propoitides, de que era testemunha todos os dias,
devotou-se ao celibato. Mas apaixonou-se por uma estátua de
marfim, obra de seu cinzel, e, à custa de muita súplica, conse-
guiu que Vénus lhe desse vida. Satisfeito seu pedido, casou-se
com ela, com quem teve u m filho, chamado Pafos, que foi
mais tarde fundador de uma cidade a que deu seu nome.
348
Lendas Populares
Midas
F i l h o de Górgias e Cibele, Midas r e i n o u n a q u e l a parte
da grande Frigia e m que corre o Pactolo. Tendo Baco vindo
a esse país acompanhado dos Sátiros e do bom velhote Si-
leno, este último deteve-se perto de uma fonte em que Mi-
das mandara derramar vinho para atraí-lo. Alguns campo-
neses que o encontraram bêbado nesse lugar, depois de tê-
lo adornado com guirlandas, conduziram-no a Midas. Esse
príncipe, instruído nos mistérios por Orfeu e Eumolpo, re-
cebeu o melhor que pôde o velho Sileno, reteve-o por dez
dias que se passaram em diversões e banquetes, e devol-
veu-o a Baco.
Esse deus, encantado com rever seu pai adotivo, disse
ao rei da Frigia que lhe pedisse tudo o que desejasse. Midas
pediu-lhe para fazer com que tudo o que tocasse se trans-
formasse e m ouro. Baco acedeu.
As primeiras experiências de Midas deslumbraram-no,
mas como seus próprios alimentos transformavam-se e m
ouro, viu-se pobre no meio de toda aquela abundância en-
ganadora que o condenava a morrer de inanição, e foi obri-
gado a rogar a Baco que lhe retirasse u m dom fatal que de
bom só tinha a aparência. Comovido por seu arrependimen-
to, Baco mandou que mergulhasse no Pactolo. Midas obe-
deceu e, perdendo a virtude de converter em ouro tudo
quanto tocava, comunicou-a ao Pactolo, que desde então
rola uma areia de ouro.
Ovídio acrescenta a essa primeira fábula a que segue.
"Pã, aplaudindo-se u m dia em presença de algumas jovens
349
Mitologia Grega e Romana
Baucis e Filemon
Baucis, mulher pobre e idosa, vivia com seu marido F i -
lêmon, quase tão velho quanto ela, numa pequena cabana.
Júpiter, disfarçado de simples mortal e acompanhado de
Mercúrio, quis visitar a Frigia. Os dois viajantes chegaram a
uma aldeola, perto da qual moravam Filêmon e Baucis;
simulando sucumbir ao cansaço, bateram em todas as por-
tas, pedindo hospitalidade. Nenhum habitante quis recebê-
los. Saíram da aldeia e foram bater na cabana dos dois
velhotes que se empenharam em cobri-los de zelos.
Tudo era pobre e velho e m casa de Filêmon e Baucis,
mas sua generosidade, seu bom coração supriam a fortuna,
e tudo o que tinham foi posto à disposição dos deuses. Pa-
ra recompensá-los, Júpiter convidou-os a segui-lo até o alto
de uma montanha; eles o seguiram docilmente, apesar da
sua idade avançada e da dificuldade da marcha. Lá em cima,
olharam para trás e viram toda a aldeia e as cercanias sub-
mersas, com exceção de uma pequena cabana, que foi
350
Lendas Populares
Hero e Leandro
Hero, sacerdotisa de Vénus, morava em Sesto, cidade
situada à beira do Helesponto, do lado da Europa; em face
ficava Abido, do lado da Ásia, onde morava o jovem Lean-
dro. Este, tendo-a visto numa festa de Vénus, apaixonou-se
e fez-se amar por ela, e vinha vê-la atravessando a nado o
Helesponto, n u m trajeto, naquele lugar, de oitocentos e se-
tenta e cinco passos.
Hero mantinha todas as noites u m archote aceso no
alto de uma torre, para conduzi-lo e m sua rota. Depois de
vários encontros, o mar tornou-se tempestuoso. Sete dias se
passaram. Leandro, impaciente, não pôde esperar a bonan-
ça, lançou-se ao mar, faltaram-lhe forças e as ondas lança-
ram seu corpo na praia de Sesto. Não querendo sobreviver
a seu amante, Hero precipitou-se no mar.
Algumas medalhas representam Leandro precedido por
u m Cupido que voa, de tocha na mão, para guiá-lo em sua
perigosa travessia.
351
Mitologia Grega e Romana
Píramo e Tisbe
Píramo, jovem assírio, era apaixonado pela jovem e bela
Tisbe, que tinha por ele os mesmos sentimentos. Moravam
na mesma cidade, quase na mesma casa, mas não podiam
nem se ver, nem conversar livremente, a tal ponto seus pais
punham obstáculos a seus encontros e conversas. Planeja-
ram então encontrar-se fora da cidade, sob uma amoreira
branca.
Era uma noite de lua. Tisbe, envolta n u m véu, chegou
primeiro ao encontro combinado. Aí foi atacada por uma
leoa que tinha o focinho ensanguentado, e da qual Tisbe
fugiu com tamanha precipitação que deixou cair o véu. A
fera, encontrando-o e m seu caminho, despedaçou-o e en-
sangúentou-o.
Píramo chegou pouco depois, pegou o véu que reco-
nheceu aterrorizado e, acreditando que Tisbe tivesse sido
devorada, matou-se com sua espada. Nesse ínterim, Tisbe,
que saíra do lugar e m que estava escondida, voltou ao pon-
to de encontro; mas, descobrindo Píramo que expirava, pe-
gou a espada fatal e enfiou-a no coração.
Conta-se que a amoreira tingiu-se do sangue desses
amantes e que as amoras que dava, de brancas que eram,
tornaram-se vermelhas.
Esse tema foi tratado em versos por La Fontaine.
Cicno
Filho de Estênelo, rei da Ligúria, unido por laços de
sangue a Faetonte por parte de mãe, ao saber da morte do
amigo, Cicno abandonou seus Estados para chorá-lo à beira
do Erídano, porque estava inconsolável e m sua dor. O dia
inteiro e, muitas vezes, à noite, ia solitário ao longo do rio,
352
Lendas Populares
Os Pigmeus
Povo fabuloso que se dizia haver existido na Trácia, os
pigmeus eram homens de pequeníssima estatura. T i n h a m
no máximo u m côvado de altura; suas mulheres eram mães
de família aos três anos de idade e velhíssimas aos oito. Suas
cidades e suas casas eram construídas apenas de cascas de
ovos; no campo, enfurnavam-se e m buracos que faziam
debaixo da terra; cortavam seu trigo com machadinhas, co-
mo se se tratasse de abater uma floresta.
U m exército desses homúnculos atacou Hércules que
adormecera depois da derrota do gigante Anteu e tomou,
para vencê-lo, as mesmas precauções que se tomavam para
formar u m cerco: as duas alas desse pequeno exército caem
sobre a mão direita do herói e, enquanto o corpo de batalha
ataca a esquerda e os arqueiros acossam os pés, a rainha,
com seus mais bravos súditos, lança u m assalto à cabeça.
Hércules acorda e, rindo do projeto desse formigueiro, en-
volve-os todos em sua pele de leão e leva-os a Euristeu.
Os pigmeus viviam e m guerra contra os grous, que,
todos os anos, vinham da Cítia atacá-los. Nossos campeões,
montados em perdizes, ou, segundo outros, em cabras e car-
neiros de tamanho proporcional ao deles, armavam-se dos
pés à cabeça para ir combater seus inimigos.
353
Mitologia Grega e Romana
Giges
Giges era u m pastor de Candaules, rei da Lídia. Pas-
seando u m dia no campo, percebeu uma escavação profun-
da que se produzira na terra em consequência de chuvas tor-
renciais. Teve a curiosidade de nela penetrar e lá fez uma
estranha descoberta. Diante dele encontrava-se u m enorme
cavalo de bronze, em cujos flancos havia portas. Abrindo-as,
Giges v i u dentro do cavalo o esqueleto de u m gigante que
tinha u m anel de ouro no dedo. Pegou o anel, também o
colocou no dedo e, sem dizer palavra acerca da sua aventu-
ra, foi ter com os outros pastores das redondezas.
Quando estava em companhia deles notou que todas
as vezes que virava a pedra do anel para dentro, do lado da
palma da mão, tornava-se invisível para todos, mas não dei-
xava de ver e de ouvir o que sucedia à sua volta. Assim que
virava a pedra para fora, em sua posição costumeira, torna-
va-se de novo visível.
354
Lendas Populares
Mtlon de Crotona
Mílon de Crotona, filho de Diotimo, foi u m dos mais cé-
l e b r e s atletas da G r é c i a . C o n t a - s e q u e foi seis v e z e s v e n c e -
dor de luta nos jogos olímpicos, a primeira vez na categoria
de crianças. Apresentou-se uma sétima vez em Olímpia, mas
não pôde combater, por falta de antagonista. Nos outros
jogos da Grécia, teve por toda parte o mesmo sucesso.
Era dotado de uma força extraordinária e, para dar uma
idéia desta, contam dele coisas surpreendentes. Segurava uma
romã na mão e, pela simples aplicação de seus dedos, sem
esmagar nem espremer a fruta, segurava-a tanto que nin-
guém conseguia arrancá-la dele. Punha o pé e m cima de
u m disco untado de óleo, por conseguinte muito escorrega-
dio; no entanto, qualquer que fosse o esforço que se fizes-
se, não era possível abalá-lo, nem fazê-lo recuar. Cingia a ca-
beça com uma corda, à guisa de fita; depois prendia a res-
piração; nesse estado violento, o sangue subia-lhe à testa e
inchava-lhe a tal ponto as veias, que a corda rebentava.
Mantinha o braço direito atrás das costas, a mão aberta, o
polegar erguido, os dedos juntos, e então nenhum homem
teria podido separar-lhe o dedinho dos outros.
O que se diz da sua voracidade é quase incrível: vinte
libras de carne, outras tantas de pão e quinze pintas de
vinho mal bastavam para saciá-lo. U m dia, tendo percorri-
do todo o comprimento do estádio carregando nos ombros
u m touro de quatro anos, matou-o com u m soco e comeu-o
inteiro no mesmo dia.
Teve certa vez a oportunidade de fazer u m belo uso de
sua força. U m dia em que ouvia as lições de Pitágoras, o
355
Mitologia Grega e Romana
Rómulo e Remo
Sílvio Procas, décimo segundo rei de Alba Longa, dei-
x o u dois filhos, o mais moço dos quais, Amúlio, apoderou-
se do trono em prejuízo de Numitor, seu irmão mais velho.
Para garantir a coroa para si e seus filhos, Amúlio matou
356
Lendas Populares
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Mitologia Grega e Romana
358
Lendas Populares
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Algumas Divindades Alegóricas
o.;
Harpócrates
Harpócrates, deus do silêncio, era, ao que se diz, de ori-
gem egípcia. Pretendiam-no filho de ísis e Osíris, e é con-
fundido por certos mitólogos com Horus. Na Grécia e e m
Roma, sua estátua era frequentemente posta na entrada dos
templos, o que significava que é preciso venerar os deuses
pelo silêncio, ou que os homens, tendo da divindade ape-
nas u m conhecimento imperfeito, só devem falar dela com
respeito. Os antigos costumavam ter e m seus sinetes uma
figura de Harpócrates, para ensinar que se deve guardar o
segredo das cartas.
Era representado com as feições de u m rapaz n u , ou
vestindo uma túnica que se arrasta pelo chão, trazendo na ca-
beça uma mitra à egípcia ou u m cesto, levando numa das
mãos uma cornucópia e na outra uma flor de lótus, ou uma
aljava. O símbolo que o distingue acima de tudo é que tem
o segundo dedo na boca, para recomendar silêncio e dis-
crição. A coruja, símbolo da noite, por vezes é posta ao pé
da estátua.
Entre as plantas, o pessegueiro e o lótus lhe eram par-
ticularmente consagrados, porque, diz Plutarco, a folha do
pessegueiro tem a forma de uma língua e seu fruto a de u m
coração, emblema do perfeito acordo que deve existir entre
a língua e o coração.
361
Mitologia Grega e Romana
Pluto
Deus das riquezas, Pluto era posto entre os deuses i n -
fernais, porque as riquezas são tiradas do seio da terra, mo-
rada dessas divindades. Ele nasceu de Ceres e de Jasão, na
Ilha de Creta. Esse deus, ao que parece, tinha em sua juven-
tude uma excelente vista; mas, tendo declarado a Júpiter
que só queria andar com a Virtude e a Ciência, o pai dos
deuses, com ciúme da gente de bem, cegara-o para tirar-lhe
os meios de discerni-las. Pelo menos, esta é a lenda de Aris-
tófanes, autor da comédia intitulada Pluto. Luciano acres-
362
Algumas Divindades Alegóricas
centa que, desde que ficou cego, esse deus, que além do
mais é manco, anda quase sempre com os maus.
D e ordinário, Pluto é representado na figura de u m ve-
lhote que traz na mão uma bolsa. Segundo os antigos, vinha
a passos lentos e voltava com asas, porque as riquezas se
adquirem demoradamente e são bem depressa dissipadas.
363
Mitologia Grega e Romana
A Boa-Fé
A Boa-Fé, deusa dos romanos, tinha seu culto estabe-
lecido no Lácio numa época bastante remota, anterior, diz-
se, ao reinado de Rómulo. O rei Numa, pelos conselhos da
ninfa Egéria, elevou-lhe u m templo no monte Palatino e,
mais tarde, teve outro no Capitólio, perto do de Júpiter. T i -
nha ela sacerdotes e sacrifícios que lhe eram próprios.
Era representada com as feições de uma mulher vestida
de branco, com as mãos postas. Nos sacrifícios que lhe eram
oferecidos, sempre sem efusão de sangue, seus sacerdotes
deviam estar velados com u m pano branco e ter a mão en-
volta neste.
Duas mãos postas juntas eram o símbolo da Boa-Fé.
U m antigo deus dos sabinos, Dius Fidius, ou simples-
mente Fidius, cultuado em Roma, também era considerado
como o deus da Boa-Fé. Os romanos juravam por essa divin-
dade. A fórmula de juramento Me Dius Fidius e, por abrevia-
ção, Medi Edi, significava "que Dius Fidius me proteja!"
A Fraude, ou Mã-Fé
A Fraude, ou Má-Fé, era uma divindade monstruosa e
infernal. E r a representada com uma cabeça humana de f i -
sionomia agradável, com o corpo pintalgado de várias cores
e a extremidade deste e m forma de serpente com a cauda
de u m escorpião. O Cocito era o elemento e m que esse
monstro vivia. Só ficava com a cabeça fora da água, o resto
do corpo estava sempre imerso no rio, para mostrar que os
enganadores sempre oferecem belas aparências e escon-
dem cuidadosamente a armadilha que preparam.
Também foi representada com as feições de uma m u -
lher com duas cabeças, metade jovem, metade velha, nua até
a cintura. Na mão direita, traz dois corações e, na esquerda,
uma máscara. D e baixo de uma saia saem a cauda de u m
escorpião e as garras de u m abutre.
364
Algumas Divindades Alegóricas
A Inveja
Os gregos fizeram da Inveja u m deus porque a palavra
phtonos, que, e m sua língua, exprime a inveja, é masculina;
os romanos fizeram dela uma deusa. Seu nome, Invidia, é
derivado de u m verbo que significa "olhar com o mau olha-
do". Para preservar seus filhos contra o mau olhado, isto é,
contra a influência do génio malfazejo, os gregos recorriam
a práticas supersticiosas, o mesmo acontecendo entre os
romanos.
Representava-se essa divindade com as feições de u m
velho espectro feminino, com a cabeça cingida de serpen-
tes, os olhos vesgos e cavos, uma tez lívida, uma magreza
horrível, serpentes nas mãos e outra roendo-lhe o coração.
Algumas vezes está a seu lado uma hidra de sete cabeças.
A Inveja é u m monstro que o mérito mais notável não
pode sufocar.
A Calúnia
Os atenienses tinham feito da Calúnia uma divindade.
O grande pintor Apeles foi caluniado por invejosos junto a
Ptolomeu, rei do Egito, mas clarificou o espírito desse prín-
cipe oferecendo-lhe uma de suas obras-primas, admirável e
cativante alegoria cuja descrição é a seguinte.
A Credulidade, com as orelhas compridas de Midas,
está sentada no trono; a Ignorância e a Suspeita rodeiam-
na. A Credulidade estende a mão à Calúnia, que avança na
direção desta, com o rosto inflamado. Essa figura principal
ocupa o meio do quadro; ela sacode uma tocha com uma
das mãos e, com a outra, arrasta a Inocência pelos cabelos.
Esta é representada com os traços de uma moça jovem e
bela, que ergue as mãos ao céu e invoca-o como testemunha
dos tratamentos injustos que sofre. Diante da Calúnia cami-
nha a Inveja, cuja função principal é servir-lhe de guia; e ela
se faz auxiliar pela Fraude e o Artifício, o que designa a sua
365
Mitologia Grega e Romana
A Fama
A Fama era mensageira de Júpiter. Os atenienses ha-
viam-lhe erguido u m templo e veneravam-na com u m culto
regulamentado. Entre os romanos, Fúrio Camilo também lhe
construiu u m templo.
Os poetas representam-na como uma deusa enorme,
com cem bocas e cem ouvidos. T e m asas longas que, por bai-
xo, são guarnecidas de olhos. Os artistas modernos pintaram-
na de túnica arregaçada, com asas nas costas e uma trombeta
na mão.
Belona
Na fábula de Marte, viu-se que Belona, sua irmã ou sua
mulher, atrela e conduz com o Terror e o Medo o carro
desse deus. Considera-se geralmente Belona como filha de
Ceto e Fôreis, família de monstros a que pertencem as Gréias
e as Górgonas. Essa deusa personifica a Guerra sangrenta e
furiosa.
Ela possuía em Roma u m templo e m que o Senado
concedia audiência aos embaixadores. À porta desse tem-
plo havia uma pequena coluna chamada guerreira, na qual
se atirava uma lança toda vez que era declarada uma guer-
ra. Mas seu templo mais famoso se encontrava em Comane,
366
Algumas Divindades Alegóricas
A Paz
A Paz, filha de Júpiter e de Têmis, teve u m templo e
estátuas entre os atenienses; porém, foi ainda mais venera-
da entre os romanos, que lhe consagraram na V i a Sacra o
maior e mais magnífico templo que houve em Roma. Esse
templo, iniciado por Agripino, foi concluído por Vespasia-
no; encerrava os ricos despojos que esse imperador e seu
filho haviam tomado do templo de Jerusalém.
Essa deusa é representada com os traços de uma m u -
lher de fisionomia doce e benévola, levando numa das mãos
uma cornucópia e, na outra, u m ramo de oliveira. Às vezes,
traz u m caduceu, uma tocha caída e espigas de trigo. Fa-
ziam-lhe sacrifícios sem efusão de sangue.
Aristófanes faz de Vénus e das Graças as companheiras
da Paz.
A Discórdia
A Discórdia, divindade malfazeja, foi expulsa do céu por
Júpiter, porque não cessava de perturbar e indispor entre si
os habitantes do Olimpo. Tendo descido à terra, ela sente
367
Mitologia Grega e Romana
A Concórdia
Assim como a Paz, com quem é confundida, a Concór-
dia era filha de Júpiter e Têmis. Invocavam-na para a união
das famílias, dos cidadãos, dos esposos, etc. Suas estátuas
representam-na coroada de guirlandas, empunhando numa
das mãos duas cornucópias entrelaçadas e, na outra, u m fei-
x e de varas, ou uma romã, símbolo de união. Por vezes, é-lhe
atribuído u m caduceu, quando se quer exprimir que ela é
o fruto de uma negociação.
Tinha vários templos entre os romanos. No maior, o do
Capitólio, o Senado realizava com frequência assembléias.
Justiça
A Justiça está no céu perto do trono de Júpiter. Nas
artes, é representada com o aspecto de Têmis ou Astréia.
368
Algumas Divindades Alegóricas
Prudência
A Prudência, deusa alegórica, distinta de Métis, primei-
ra esposa de Júpiter, era representada na maioria das vezes
com os traços de uma mulher de dois rostos, u m olhando
para o passado, o outro para o futuro. Os modernos atri-
buem-lhe u m só rosto e, como emblema, u m espelho cir-
cundado por uma serpente; alguns acrescentam u m capa-
cete, uma guirlanda de folhas de amoreira, u m cervo que
rumina e uma flecha com o peixe chamado rêmora. Perto
dela, ainda é posta uma clepsidra, uma ave noturna, u m
livro, e t c , tudo isso símbolo da circunspecção.
A Velhice
Sabe-se que a juventude é confundida com Hebe, de
quem toma emprestados os traços. Quanto à Velhice, triste
divindade, é filha do Érebo e da Noite. E l a possuía u m tem-
plo e m Atenas e u m altar e m Cádiz.
É caracterizada pela figura de uma mulher idosa, co-
berta de panos negros ou da cor das folhas mortas. Na mão
direita, leva uma taça e apóia-se com a esquerda n u m caja-
do. Perto dela costuma ser posta uma clepsidra quase esgo-
tada.
A Fome
A Fome, divindade, é filha da Noite. Virgílio a situa nas
portas do Inferno e outros à beira do Cocito. D e ordinário,
é representada agachada n u m campo árido, onde algumas
árvores despojadas de folhagem dão uma sombra triste e
rara; ela arranca com as unhas algumas plantas inférteis.
369
Mitologia Grega e Romana
A Pobreza
A Pobreza, divindade alegórica, é filha do Luxo e da
Ociosidade. Também fazem-na nascer da Devassidão, por-
que os devassos incorrigíveis rumam para uma ruína certa.
Segundo Teócrito, a Pobreza, e m grego Penia, é mãe da
Indústria e de todas as Artes. É ela que desperta a ativida-
de dos homens, fazendo-os sentir sua penúria e as vanta-
gens do bem-estar.
É representada com os traços de uma mulher pálida,
inquieta, mal vestida, respigando n u m campo já ceifado.
370
Algumas Divindades Alegóricas
A Volúpia
A Volúpia é uma deusa personificada com os traços de
uma bela mulher cujas faces são coloridas do mais vivo en-
carnado: suas cores são artificiais, seus olhares denotam uma
grande languidez e sua atitude carece de modéstia. Está
estendida n u m leito de flores e traz na mão uma bola de
vidro dotada de asas.
A Verdade
A Verdade, filha de Saturno ou do Tempo, é mãe da
Justiça e da Virtude. Píndaro lhe atribui como pai o sobera-
no dos deuses. É representada sob a figura de uma mulher
sorridente, mas modesta: está nua, traz na mão direita u m
sol que ela olha, na esquerda, u m livro aberto com uma pal-
ma e, sob u m de seus pés, o globo terrestre.
Algumas vezes, tem u m espelho que, com frequência,
é ornado de flores. Mais raramente, é representada em toda
a sua nudez e saindo de u m poço.
A Virtude
Filha da Verdade, a Virtude era mais do que uma deusa
alegórica. Os romanos ergueram-lhe u m templo. Também
haviam elevado u m à Honra, sendo preciso passar por u m
para chegar ao outro, idéia engenhosa pela qual queriam
fazer entender que a Honra reside tão-só nas ações virtuosas.
A Virtude é representada pela figura de uma mulher
simples e modesta, vestida de branco e cuja atitude impõe
respeito. Está sentada numa pedra quadrada e apresenta ou
usa uma coroa de louros. Às vezes, traz na mão uma lança
ou u m cetro; também atribuem-lhe asas despregadas para
significar que se eleva acima do vulgar por seus esforços
generosos. O cubo sobre o qual repousa indica sua solidez.
371
Mitologia Grega e Romana
A Persuasão
A deusa da Persuasão, em grego Pitho, em latim Suada
ou Suadela, era tida como filha de Vénus. Encontra-se de
ordinário em seu cortejo ou a seu lado, com as Graças.
Teseu, depois de persuadir todos os povos da Ática a
se reunirem numa mesma cidade, introduziu nessa ocasião
o culto dessa deusa. Hipermnestra, filha de Dânao, depois
de ter ganho sua causa contra o pai, que a processou na jus-
tiça por haver salvo a vida de seu marido contra suas or-
dens, dedicou u m santuário a essa mesma deusa.
Pitho também tinha no templo de Baco, e m Mégara,
uma estátua feita por Praxíteles. Egialeu, filho de Ádrasto,
rei de Argos e de Mégara, construíra u m templo para ela,
porque, numa época de peste, Apolo e Diana, irritados con-
tra esta última cidade, haviam-se deixado convencer pelas
preces de sete meninos e sete meninas.
Fídias havia representado a deusa Pitho na base do trono
de Júpiter Olímpico, no momento em que ela coroa Vénus.
Num baixo-relevo antigo, conservado em Nápoles, vemo-la
num grupo que representa Vénus e Helena sentadas com
Páris e u m Génio alado, ou o Amor, de pé. Reproduzimos
parcialmente esse baixo-relevo na página 302.
E m Roma, Suada, deusa da persuasão e da eloquência,
também presidia aos casamentos.
Nas artes, a Persuasão é personificada com os traços de
uma mulher de fisionomia feliz. Seu penteado simples é enci-
mado por u m ornamento em forma de língua humana; suas
roupas modestas são envoltas numa rede de ouro, e ela está
ocupada em atrair para si u m animal estranho cujas três cabe-
ças são as de u m macaco, de u m gato e de u m cachorro.
A Sabedoria
Os antigos representavam a Sabedoria com a figura de
Minerva, trazendo u m ramo de oliveira na mão, emblema
372
Algumas Divindades Alegóricas
O Reconhecimento
Mnemósine ou a Memória
Mnemósine, ou a deusa Memória, amada de Júpiter e
mãe das nove Musas, é representada como u m a mulher
que apoia o queixo na mão, numa atitude de meditação.
Alguns antigos pintaram-na com os traços de u m a mulher
de idade quase madura; tem u m penteado enriquecido por
pérolas e pedrarias, e segura a ponta da orelha c o m os dois
primeiros dedos da mão direita.
A Vitória
Os gregos faziam da Vitória u m a poderosa divindade.
Era filha do Estige e de Palante, ou Palas, esta última filha
de Crius e Euríbia. Os sabinos chamavam-na Vacuna.
A deusa Vitória tinha vários templos na Grécia, na Itália
e e m Roma. É representada de ordinário com asas, trazen-
do n a mão u m a coroa de louros e, na outra, u m a palma.
Algumas vezes está montada n u m globo.
Quando os antigos queriam designar uma vitória naval,
representavam-na de pé na proa de u m navio.
373
Mitologia Grega e Romana
A Amizade
A Amizade, divindade alegórica, era muito estimada en-
tre os gregos e os romanos. Na Grécia, suas estátuas eram
vestidas com uma túnica afivelada; traziam a cabeça nua e
o peito descoberto até o lugar do coração, aonde levava a
mão direita, abraçando com a esquerda u m ramo seco em
torno do qual crescia uma vide carregada de uvas.
Os romanos representavam-na sob a figura de uma mo-
cinha simplesmente vestida com uma túnica branca, o colo
seminu, coroada de murta e de flores de romãs entrelaça-
das, com essas palavras na fronte: Inverno e verão. A orla da
sua túnica trazia estas duas outras palavras: A morte e a vida.
Com a mão direita, mostrava seu lado aberto até o coração;
lia-se aí: De perto e de longe. Também era pintada descalça.
A Saúde
Vimos que a Saúde, ou Higéia, filha de Esculápio e
Lampécia, era venerada pelos gregos como uma das divin-
dades mais poderosas. Os romanos haviam adotado o culto
dessa deusa, que veneravam sob o nome de Salus. Consa-
graram-lhe vários templos em Roma e instituíram u m colé-
gio de sacerdotes encarregados de servi-los. Apenas esses
sacerdotes tinham o direito de ver a estátua da deusa; pre-
tendiam também ser os únicos com o direito de pedir aos
deuses a saúde dos particulares e do Estado, porque o I m -
pério romano, considerado como u m grande corpo, estava
sob a proteção dessa divindade.
Ela era representada pela figura de uma jovem sentada
n u m trono, coroada de ervas medicinais, com uma pátera na
mão direita e uma serpente na esquerda. Perto dela, havia
u m altar e m torno do qual uma serpente jazia de modo que
sua cabeça se destacasse acima do altar.
374
Algumas Divindades Alegóricas
A Esperança
Divindade alegórica, a Esperança era particularmente
reverenciada pelos romanos. Eles lhe ergueram vários tem-
plos. Segundo os poetas, era irmã do Sono, que suspende
nosso penar, e da Morte, que lhe põe fim. Píndaro chama-a
de ama dos anciãos.
É representada sob os traços de uma jovem ninfa, com
ar marcado por uma grande serenidade, sorrindo com gra-
ça, coroada de flores nascentes e levando na mão u m buquê
dessas flores. T e m por emblema a cor verde, sendo a fres-
ca e abundante verdura u m presságio de bela safra de grãos.
Os modernos lhe deram por atributo uma âncora de navio,
símbolo que não se encontra em nenhum monumento antigo.
A Piedade
A Piedade presidia ela mesma ao culto que lhe ren-
diam, à ternura dos pais pelos filhos, aos cuidados respei-
tosos dos filhos para com seus pais e à afeição do homem
para com seu semelhante. Ofereciam-lhe sacrifícios, em par-
ticular entre os atenienses; em Roma, era igualmente muito
estimada.
Normalmente, vemo-la sob o aspecto de uma mulher
sentada, coberta por u m grande véu, segurando uma cor-
nucópia na mão direita e pousando a esquerda sobre a ca-
beça de uma criança; a seus pés, uma cegonha.
Mânio Acílio Glabrion construiu e m Roma u m templo
à Piedade, em homenagem a essa moça que alimenta seu
pai na prisão. É o tema do quadro de Andrea dei Sarto, co-
nhecido pelo nome de Caridade romana.
Os Jogos e os Risos
Os Jogos, e m latim Joci, são os deuses que presidem a
todos os prazeres, qualquer que seja a sua natureza, do
375
Mitologia Grega e Romana
376
Os Oráculos
A Pítia, ou Pitonisa
Os gregos davam o nome de Pitonisas a todas as mulhe-
res que exerciam o ofício de adivinhas, porque o deus da
adivinhação, Apolo, era cognominado Pítio, seja por ter ma-
tado a serpente Píton, seja por ter estabelecido seu oráculo
em Delfos, cidade primitivamente chamada Pito.
A Pítia, ou Pitonisa, propriamente dita era a sacerdotisa
do oráculo de Delfos. Sentada numa trípode, isto é, u m
banco com três suportes, acima do buraco medonho de on-
377
Mitologia Grega e Romana
378
não conhecia nem perfumes, nem tudo o que u m luxo refi-
nado leva as mulheres a imaginar. Procuravam-na de prefe-
rência numa casa pobre, onde teria vivido numa ignorância
completa de todas as coisas. Se soubesse falar e repetir o
que o deus lhe ditava, sabia o bastante.
O oráculo nem sempre era desinteressado. Mais de
uma vez, instigado por seus ministros, Apolo se fez corte-
são da riqueza ou do poder pela boca de sua sacerdotisa.
Os atenienses, por exemplo, acusaram a Pítia de filipizar,
isto é, de ter-se deixado corromper pelo ouro de Filipe da
Macedónia.
O costume de consultar a Pítia remontava aos tempos
heróicos da Grécia. Conta-se que Fêmonoe foi a primeira
sacerdotisa do oráculo de Delfos que fez o deus falar e m
versos hexâmetros, e acrescenta-se que ela vivia sob o rei-
nado de Acrísio, avô de Perseu.
As Sibilas
A Sibila também era uma mulher adivinha ou versada
na adivinhação. Essa palavra, contudo, tem maior extensão
do que a de Pítia e se aplica, por conseguinte, a u m gran-
de número de profetisas. As Sibilas, cujo nome em grego
dório significa "vontade de Júpiter", não foram, provavel-
mente, a princípio, mais que sacerdotisas desse deus; toda-
via, seu ministério logo se estendeu a todas as divindades e
se exerceu inclusive nos países mais distantes da Grécia.
A mais célebre delas é a Sibila de Cumos, onde Apolo
tinha seu santuário numa gruta quase tão misteriosa quan-
to a de Delfos. E l a proferia seus oráculos com a exaltação
de uma pitonisa e, ademais, por vezes escrevia-os, mas em
folhas soltas. Assim foram redigidos os famosos Livros sibi-
linos, que continham o destino de Roma e cuja aquisição
foi feita por Tarquinio, o Antigo.
379
Mitologia Grega e Romana
A adivinhação
E m todos os tempos e entre todos os povos, o homem,
inquieto quanto a seu porvir, empenhou-se e m encontrar
os meios de conhecê-lo ou evitá-lo, não só nas grandes cir-
cunstâncias, mas também, por assim dizer, no dia-a-dia e
no transcurso ordinário da sua vida. Por isso, tanto na Gré-
cia como e m Roma, as pessoas não se limitaram a procurar
saber o futuro nos oráculos das Pítias ou das Sibilas; em-
preendeu-se descobri-lo de mil outras maneiras, e inven-
tou-se a adivinhação.
Essa pretensa ciência, cuja origem se presta a tantas con-
jeturas e comentários, florescera na antiga Ásia, no Egito e,
sobretudo, na Caldéia. Fazia parte da teologia dos gregos e foi
elevada, em Roma, ao grau de instituição do Estado. Possuía
suas máximas, suas regras precisas e nitidamente formuladas.
Distinguiam-se duas espécies de adivinhações: uma ar-
tificial, a outra natural.
Chamava-se adivinhação artificial u m prognóstico ou
uma indução baseada em sinais exteriores, ligados a acon-
tecimentos por vir; e adivinhação natural aquela que pres-
sagiava as coisas por u m movimento puramente interior e
u m impulso do espírito independente de todo e qualquer
sinal exterior. D e u m lado, supunha-se que a divindade que
preside à marcha dos acontecimentos manifesta de ante-
mão sua vontade por meio de fenómenos sensíveis, no céu,
nos astros, no ar, na terra, nos animais, nas plantas, nas vís-
ceras das vítimas, na fisionomia dos homens e até nas l i -
nhas da mão. Por outro lado, atribuía-se à alma, nem sem-
380
pre sem razão, o dom da previdência natural, mas exagera-
va-se essa faculdade divinatória, considerando-a uma guar-
diã interior do corpo, que por vezes solta-se de seus gri-
lhões e v e m , seja no êxtase, seja nos sonhos, desvendar ao
homem os segredos do futuro.
Na Grécia, os adivinhos, os intérpretes dos sonhos, os
sacerdotes ou arúspices encarregados da inspeção das víti-
mas desfrutavam de grande consideração e tinham autori-
dade. Estavam ligados ao serviço dos templos e dos altares;
acompanhavam até os exércitos e m suas expedições. Mas
era sobretudo em Roma que suas funções revestiam u m
caráter oficial.
Os augures
O augúrio, adivinhação que consistia primitivamente
na observação do canto e do voo dos pássaros e da manei-
ra como comiam, estendeu-se e m seguida à interpretação
dos meteoros e dos fenómenos celestes. E m Roma, os m i -
nistros oficialmente encarregados dessa adivinhação tam-
b é m tinham o nome de áugures.
O colégio dos áugures, instituído, segundo se diz, por
Rómulo, foi composto primeiro por três, depois por quatro
e, enfim, por nove membros, sendo quatro patrícios e cinco
plebeus. Esses ministros eram altamente considerados; uma
lei das Doze Tábuas chegava inclusive a proibir, sob pena
de morte, a desobediência aos áugures.
Não se fazia nada de importante sem consultá-los. No
entanto, parece que, por volta do fim da república, sua au-
toridade havia caído u m pouco em descrédito, e os romanos
esclarecidos diziam sem dúvida, com Cícero, que não con-
cebiam como u m áugure podia olhar para o outro sem rir.
A ciência augurai achava-se contida em livros que os
adivinhos eram obrigados a aprender ou consultar. Essa ciên-
cia se reduzia a doze itens ou artigos principais, em confor-
midade com os doze signos do zodíaco.
381
Mitologia Grega e Romana
382
Os Oráculos
Os presságios e as sortes
Distinguiam-se os presságios dos augúrios pelo fato de
que estes eram deduzidos de sinais buscados e interpreta-
dos segundo as regras da arte augurai, enquanto os pressá-
gios, que se ofereciam fortuitamente, eram interpretados por
cada um, de uma maneira mais vaga e mais arbitrária. A o
que se dizia, podiam ser reduzidos a sete classes, a saber: 1?
as palavras fortuitas; 2? palpitações de algumas partes do
383
Mitologia Grega e Romana
384
presentada com os traços de uma moça bem vestida, tra-
zendo sobre o peito uma caixinha quadrada, própria para
conter o que é necessário para tirar as sortes.
E m geral, tirava-se a sorte por meio de dados. E m a l -
guns templos, o próprio consulente os lançava, de onde a
expressão tão comum entre os romanos e mesmo entre os
gregos: "a sorte caiu", ou "o dado está lançado".
Esse género de adivinhação era praticado e m muitos
lugares da Grécia, notadamente e m D o d o n a . D u a s cidade-
zinhas da Itália, Preneste e Âncio, tinham o privilégio de
conter a sorte; e ia-se frequentemente de Roma interrogá-la
aí. Mas ia-se também interrogá-la na Sicília, no templo dos
irmãos Palicos.
Estes, irmãos gémeos, eram filhos de Júpiter e da ninfa
Talia. Essa ninfa, temendo o ressentimento de Juno, pediu
ao senhor do Olimpo que a escondesse nas entranhas da
terra. Pouco depois, saíram da terra dois meninos que fo-
ram chamados Palicos e considerados deuses. Perto do seu
templo havia u m laguinho de água fervente e sulfurosa,
sempre cheio, sem nunca transbordar, e que era tido como
o berço de que os dois irmãos haviam saído. Por muito
tempo, era perto desse lago que os gregos iam fazer jura-
mentos solenes; mais tarde, o templo dos Palicos tornou-se
u m asilo para os escravos maltratados por seus amos; en-
fim, o lago dos irmãos Palicos foi utilizado para tirar sortes:
jogavam-se nele fórmulas escritas e m bilhetes que flutua-
v a m ou caíam no fundo, segundo o presságio fosse ou não
favorável.
385
As Cerimonias e os Jogos
Sacerdotes e sacerdotisas
A princípio, o sacerdócio pertencia aos chefes de famí-
lias, ou patriarcas, em seguida passou aos chefes dos povos.
Entre os gregos, os príncipes se encarregavam antigamente
de quase todas as funções sacerdotais; ao lado de sua espa-
da, traziam encerrada n u m estojo a faca do sacrificante. Mais
tarde, houve famílias inteiras exclusivamente consagradas à
intendência dos sacrifícios e do culto de certas divindades.
Era o caso, por exemplo, da família dos Eumólpidas de Ate-
nas, que deu o hierofante, ou sumo sacerdote, de Ceres em
Elêusis durante mil e duzentos anos.
Entre os romanos, a instituição dos sacerdotes tinha u m
caráter ao mesmo tempo político e religioso. O sacerdócio
era uma espécie de magistratura encarregada de adminis-
trar ou, pelo menos, vigiar tanto os negócios do Estado co-
mo os da religião. Os sacerdotes, eleitos pelo povo, foram
escolhidos a princípio entre os patrícios, mas a igualdade
religiosa não tardou a se estabelecer e os plebeus entraram
em todos os colégios sacerdotais. No entanto, nas eleições
sacerdotais, levou-se e m conta a honorabilidade e a emi-
nência das famílias.
Há que distinguir duas classes de sacerdotes romanos.
Uns não eram vinculados a nenhum deus particular, como
387
Mitologia Grega e Romana
Os sacrifícios
E m Roma, a lei das Doze Tábuas ordenava só empre-
gar nos sacrifícios ministros castos e isentos de máculas. O
sacrificante, vestido de branco e coroado de folhagem,
começava sempre a cerimonia com votos e preces. No prin-
cípio, só se ofereciam aos deuses os frutos da terra, pelo
menos assim havia rigorosamente prescrito o rei Numa;
contudo, depois desse príncipe, o uso de imolar animais foi
introduzido e m Roma e a efusão de sangue era vista como
muito agradável à divindade.
Os animais destinados ao sacrifício eram chamados víti-
mas ou hóstias. Eles deviam ser sadios, e cada deus tinha o
seu preferido. Quando o sacrifício começava, u m arauto man-
dava fazer silêncio; os profanos eram afastados e os sacerdo-
tes jogavam na vítima uma massa de farinha de trigo e sal. E m
latim, essa massa é chamada mola, de onde v e m a palavra
imolar para exprimir a consumação do sacrifício, se bem
que, originalmente, essa cerimonia fosse apenas preliminar.
388
As Cerimónias e os Jogos
389
Mitologia Grega e Romana
Fastos
E m Roma, dava-se o nome de Fastos às tábuas ou ca-
lendários e m que eram indicados, dia a dia, as festas, os jo-
gos, as cerimonias do ano, com a divisão entre dias fastos
e nefastos, permitidos e proibidos, isto é, dias destinados
aos negócios e dias destinados ao repouso. Atribui-se essa d i -
visão à sábia política do rei Numa. E m geral, os dias nefas-
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As Cerimónias e os Jogos
391
Mitologia Grega e Romana
Os jogos públicos
Na Grécia e em Roma, os jogos públicos tiveram desde
a origem u m caráter essencialmente religioso. Foram insti-
tuídos na Grécia nos tempos heróicos, seja para aplacar a
cólera dos deuses, seja para obter seu favor ou agradecer
seus benefícios. Na opinião dos povos, a divindade, tendo
todas as nossas paixões, deixava-se desarmar ou conquistar
pelo efeito do prazer e das diversões.
E m Roma, nas grandes calamidades, oferecia-se a cer-
tos deuses u m banquete solene, costume vindo da Grécia e
primitivamente do Egito. Para essa cerimonia, desciam-se as
estátuas de seu lugar ordinário; dispunham-nas em almofa-
das macias cobertas de suntuosos tapetes; diante delas, ar-
rumavam-se mesas carregadas de pratos e perfumadas de
flores. D e noite, as mesas eram servidas, no dia seguinte o
banquete recomeçava e isso durante vários dias. Era o que
se chamava lectistérnio.
Sensíveis aos prazeres da mesa, os deuses, segundo a
crença popular, não deviam ser menos sensíveis às diver-
sões públicas em que o homem, para variar o espetáculo,
multiplicava seus esforços e despendia de certa forma to-
dos os recursos de sua atividade e de seus talentos.
Entre os gregos, o sacrifício solene pelo qual começa-
v a m regularmente todos os jogos indicava o motivo de sua
instituição, mas os exercícios de que se compunham esta-
beleciam entre as diferentes cidades designadas para deles
tomar parte uma rivalidade de que o sentimento religioso
parecia excluído. Na realidade, esses grandes espetáculos
não eram mais que u m concurso nacional em que cada ci-
dade, zelosa da vitória, prometia o triunfo ou as mais belas
recompensas ao vencedor.
D o ponto de vista político, os resultados desses jogos
não podiam deixar de ser favoráveis. Independentemente
do vínculo que constituíam entre todos os povos da mesma
392
As Cerimónias e os Jogos
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Mitologia Grega e Romana
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As Cerimónias e os Jogos
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Mitologia Grega e Romana
Funerais
E m Atenas, bem como em Roma, era costume perfu-
mar os corpos antes de sepultá-los. A inumação foi o modo
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Mitologia Grega e Romana
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As Cerimonias e os Jogos
399
índice Remissivo
401
Mitologia Grega e Romana
402
índice Remissivo
Anfitrite 99, H l , 112, 114, 115, 315, 326, 327, 328, 331, 332,
126, 253 334, 335, 337, 339, 341, 350,
Aniceto 74 372, 377, 378, 379, 393
Anoitecer 4 Apolodoro 214, 216, 247, 267
Anquises 335, 338, 3 4 1 , 342, Apolônio de Rodes 282
344 Apuleio 73
Antêdon 116, 117 Aquário 97, 99, 157
Antéia 287 Aquelau 331
Antenor 330, 331 Aquelóo 122,124,130,131,134,
A n t e r o s 5 , 6, 7 0 , 7 1
221, 223, 248
Anteu 221, 2 3 1 , 3 3 1 , 353
A q u e n o n 232
Antiamira 55
Aqueronte 186, 187, 190, 192,
Antícira 290
194, 196, 203, 235
Anticléia 317
Aqueruso 187
Antífates 336
Aquilão 105, 106
Antifo 329
Aquiles 7, 48,110,134,195, 269,
Antígona 240, 241, 245, 271, 272
271, 272, 276, 305, 308, 311,
Antiguidade V I I I , 38, 60, 99,
312, 313, 314, 315, 316, 318,
169, 170, 183, 184, 215, 225,
322, 324, 327, 328, 329, 330,
241, 244, 323
331, 332, 334, 335, 337, 341
Antiloco 3 3 1 , 334
Antínoe 281 A r X I I , 149, 150
Antíon 202 Arábia 6 l , 65
Antíope 2 1 1 , 212, 256, 258 Arcádia 43, 68, 94, 95, 111, 131,
Antonino, o Piedoso 234 132, 133, 138, 142, 151, 167,
Apeles 64, 365 186, 219, 229, 237, 248, 265,
Ápio Cláudio Pulcher 382 275, 281, 308, 377, 388
Apollon 33 Arcas 94, 95
Apolo X , 7, 8, 18, 33, 34, 35, 36, Arcturo 94, 106
38, 39, 52, 67, 70, 74, 79, 80, Areópago 56,197, 249, 262, 307
84, 87, 89, 90, 93, 94, 99,103, Ares X , 55
112, 117, 122, 127, 133, 135, Arestor 52
137, 141, 142, 147, 149, 153, Aretusa 44, 131, 132, 143, 190
155, 157, 158, 165, 174, 176, Argeu 9, 24, 229
177, 179, 180, 189, 200, 214, Argiripa 324
216, 230, 234, 235, 241, 247, Argo 274, 275, 276, 277
248, 256, 259, 263, 272, 276, Argólida 133, 139, 147, 212,
279, 284, 286, 303, 307, 313, 227, 283
403
Mitologia Grega e Romana
404
índice Remissivo
Atlas 50, 92, 95, 96, 110, 143, Belerofonte 96, 138, 287, 288,
144, 221, 231, 291 339
Atreu 229, 244, 296, 297, 305 B e l o 347, 348
Átridas 305 Belona 57, 366
Átropos 82, 83, 191 Belvedere (Apolo de) 37, 38
Augé 223, 237 Benevolentes ( A s ) 196
Áugias 220, 221, 237, 275, 323 Beócia 92, 116, 134, 137, 141,
Áugures 381 176, 195, 212, 247, 273, 275,
Augusto 10, 32, 36, 59, 64, 139, 377
166 Béroe 65
Áulis 305, 326 Bianor 136
Aurora 19, 40, 85, 89, 9 1 , 92, Biblis 138
93, 105, 251 Biforme 249
Ausônio 64 Bifronte (Jano) 166
Austro 105, 106 Bisaltis 112
Autóctones 169 Bizâncio 77
Automedonte 314 B o a Deusa 12, 14
Autônoe 157, 211 Boa-Fé 206, 364
Aventino (monte) 11, 162, 233, Boieiro 93, 94
343, 344, 358 Boileau 214
Averno 139, 183 Bolonha 234
Averrunco 384 Bootes 94
Bóreas 35, 104, 105, 106, 134,
B 142, 151, 152, 251, 275
Boreasmas 106
Bacanais 68 Borghese (Palácio) 161
Bacantes 66, 67 Borghese (Vila) 215
B a c o 14, 48, 65, 66, 67, 68, 69, Bosio, F.-J. 131
76, 79, 84, 94, 117, 118, 119, Bosques 141, 146
130, 139, 141, 142, 153, 155, Brescia 4
157, 158, 159, 160, 180, 192, Briareu 9, 22, 24
212, 231, 255, 273, 276, 284, Briseis 305, 313
285, 349, 372, 388 Briseu 313
Balança 97, 98 Bromius 68
Basiléia 86, 87 Brontes 9, 127
Baucis 350, 351 Busíris 221, 231
Bebrícia 300 Butes 232, 251, 252, 276
Bêlero 287 Byrsa 348
405
Mitologia Grega e Romana
C Canas 44
Câncer 97, 98, 218
Cabírias 172 Candaules 354, 355
Cabiros 14, 170, 171, 172, 173 Cândia (ilha de) 21
Caco 221, 233, 234 Canéforas 68
Cádiz 225, 369 Canente 120, 166
Cadméia 210, 212 Canícula 93, 94
Cadmo 57, 66, 118, 157, 170, Cão 93
209, 210, 211, 239, 273 Caos 3, 5, 6, 7, 17
Cafareu 315 Capadócia 367
Caelus 9, 196 Capaneu 57, 243
Caíque 135 Capena 107
Caístro 135 Cápis 338
Calábria 323 Capitólio 11, 164, 364, 368
Cálais 275 Capri 122
Caláuria 388 Capricórnio 97, 98, 159
Calce 305 Caracala 225
Calciêcon 370 Caranguejo 98
Cálcis 263 Cária 40
Caldéia 380 Caríbdis 121, 277, 318
Cálidon 223, 256, 265, 266, 271, Caricio 246
276, 324 Caridade romana 375
Calígula 11 Cárites 76
Calíope 79, 122, 131, 180, 284 Carmenta 167
Calipatira 394 Carmental (porta) 167
Calipso 318 Caronte 192, 193
Calírroe 221, 248, 291 Carpideiras 398
Calisto 94, 95, 150 Carpo 80
Calopódio 49 Carracci (Aníbal) 128, 234
Calúnia 365, 366 Carro 95
Camenas 79 Cartago 25, 342, 347, 348
Camilo (Fúrio) 366 Cáspio (mar) 143
Campânia 139 Cassandra 304, 305, 315, 329,
Campe 19 337, 338
Campestres (divindades) 141 Cassiopéia 292, 293
Campo de Marte 174, 359, 396 Castália 79, 137, 141, 378
Campo da Verdade 195 Cástor 5 1 , 98, 133, 170, 216,
Campos Elísios 184, 185, 195, 269, 271, 275, 297, 299, 300,
227, 315 301, 304
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Mitologia Grega e Romana
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Mitologia Grega e Romana
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índice Remissivo
Justiça 23, 70, 80, 98, 198, 206, Lares 55, 172, 173, 174, 175,
368, 371 362
Juturna 167, 362 Larissa 311
J u v e n a l 106 Larvae 174
Juventa 138 Latino 120, 321, 342, 343
Latinos 27, 106, 166, 205, 301,
L 343
Latmos 40
Labdácidas 239 Latona 2 1 , 33, 38, 39, 44, 2 0 0 ,
Lábdaco 239 214, 215
Lacedêmon 132 Laurência ( A c a ) 357
Lacedemônia 45, 133 Lauso 357
Lacedemônios 133, 199, 370, Lavínia 342, 343
373, 376 Lavínio 342, 343
Lácio 10, 165, 166, 167, 189, Leandro 351
233, 343, 362, 364 Leão 97, 98, 193
Lacônia 142, 186, 193 Learco 118, 119, 273
Ládon 132, 133, 142, 151, 219 Lebrun 8, 266
Laerte 276, 317, 319, 320 Lectistérnio 392
La Fontaine 73, 351, 352 Leda 133, 299, 301, 302, 304
Laio 239, 240 Lei 69
Lampadofórias 102 Lêlex 132
Lampécia 179, 374 Lemercier 304
Lampetusa 90 Lêmnias 283
Lampo 86 Lêmnio 49
Lampsaceno 156 Lemnos 48, 127, 172, 181, 276,
Lâmpsaco 155, 156 279, 283, 322, 324, 328
Lango (ilha de) 21 Lêmures 174
Lanúvio 25 Lendas argivas 287
Laocoonte 335, 336 Lendas atenienses 249
Laodâmia 326, 339 Lendas etólias 265
Laódice 329 Lendas populares 347
Laodoco 331 Lendas tessâlicas 269
Laomedonte 34, 86, 114, 221, Leodaco 265
234, 235, 329 Leonardo da Vinci 126
Laprade (V. de) 73 Lépreas 237, 238
Láquesis 82, 83 Lerna 98, 139, 185, 218
Lara 55, 362 Lesbos 286
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Mitologia Grega e Romana
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índice Remissivo
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Mitologia Grega e Romana
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índice Remissivo
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Mitologia Grega e Romana
Orfeu 79, 84, 117, 123, 135, Palas (Atena ou Minerva) 21, 27,
142, 147, 148, 157, 170, 172, 29, 6 1 , 64, 211, 216, 315, 324,
190, 194, 276, 277, 284, 285, 336, 338
286, 349 Palas ( a tritoniana) 29
Orgias 66, 67 Palas (filho de Crias e Euríbia)
Oriente 105, 207 186
Órion 40, 86, 92, 93, 94, 98 Palas (filho de Evandro) 344
Orítia 142, 251 Palas (gigante) 21
Orontes 341 Palas (irmão de Egeu) 252, 255
Oropo 134 Palatino (monte) 14, 36, 344,
Oros 145 358, 364
Ortígia 131, 132 Palêmon 118, 119
O i t o 193 Palene 5 1 , 115, 275, 300
Osíris 3 6 l Pales 164
Ossa 19, 134 Palicos 385
Oto 2 1 , 112, 142 Palilia 164
Ouranos 9, 79 Palilias 164
Outono 80 Pamiso 132, 133
Ovídio X I , 56, 89, 95, 106, 115, Panatenéias 28, 29, 255
122, 156, 162, 166, 172, 181, Pândaro 28, 331
200, 233, 260, 286, 289, 296, Pandíon 250, 252
313, 316, 335, 349, 370 Pandora 99, 101
Pândroso 249, 250
P Pânope 119, 200
Paraíso (terrestre) 138
Pã 34, 43, 55, 66, 67, 68, 82, Parca (negra) 3
133, 134, 142, 150, 151, 152, Parcas 3, 7, 69, 70, 82, 83, 84,
153, 154, 156, 158, 159, 161, 196, 266
320, 349, 350, 377 Páris 24, 27, 5 1 , 6 1 , 110, 133,
Pactolo 349 302, 303, 306, 313, 323, 329,
Pádua 331 331, 333, 334, 335, 337, 338,
Páfia 61 341, 368, 372
Pafo 57, 61, 62, 377 Parnaso 35, 70, 79, 80, 98, 137,
Paládio 29, 3 1 , 173, 318, 324, 141, 206
330, 332 Paros 58, 177
Palamedes 278, 317, 327, 334 Partenon 28
Palante o u Palas 373 Partênope 122, 223, 237
Palântidas 255 Partenopeu 243
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Mitologia Grega e Romana
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Mitologia Grega e Romana
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índice Remissivo
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Mitologia Grega e Romana
Tebano (Hércules) 215 17, 19, 2 1 , 29, 33, 47, 69, 70,
Tebas 66, 118, 171, 172, 210, 73, 77, 82, 85, 90, 95, 100,
211, 212, 214, 216, 227, 236, 103, 109, 110, 118, 121, 124,
239, 240, 241, 243, 244, 245, 126, 127, 130, 141, 149, 150,
246, 247, 256, 267, 273, 279, 151, 172, 183, 186, 196, 200,
282, 313 231
Tebe 57 Terrestre (Hécate) 285
Tegeu 388 Terror 29, 57, 78, 185, 366
Téia 85, 86, 90 Teséia 125
Télamon 235, 269, 271, 315, Teseu 66, 84, 119, 134, 198,
316 202, 220, 221, 225, 241, 243,
Teléfassa 209 252, 253, 254, 255, 256, 258,
Telefo 237 259, 260, 261, 264, 269, 276,
Telégono 115, 319, 320, 321, 282, 300, 302, 372
322 Tesmofória 44
Telêmaco 317, 319, 321 Téspias 142, 149
Telquines 14, 170, 172 Téspio ou Téstio 223, 265, 276,
Telus 7, 8, 70, 127 299
Telxiêpia 122 Téssala 237
Têmis 8, 9, 2 1 , 69, 70, 80, 82, Tessália 34, 9 1 , 134, 141, 165,
98, 100, 206, 367, 368 193, 202, 206, 229, 235, 259,
Tempe 134 269, 271, 275, 276, 277, 281,
Tempestade 107, 118 311, 326
T e m p o 11, 77, 199, 371 Testor 326
Tempos heróicos 205 Tétis 9, 22, 23, 24, 47, 70, 87,
Tênaro 183, 186, 193, 285 89, 95, 96, 102, 109, 110,
Tênedos (ilha de) 36, 119 115, 117, 118, 128, 130, 134,
Tênedos 31 135, 136, 186, 230, 272, 277,
Teno 114 291, 311, 312, 313, 314, 332,
Teócrito 370 334, 368
Teodósio 45 Teucro 95, 315, 316
Tera 214 Thorwaldsen 5
Tereno 23, 149 Tia 9
Tereu 250 Tiberino 136
Termo 156, 164, 165 Tibério 152
Termodonte 96 Tibre 135, 136, 233, 342, 356,
Termópilas 207 357, 362
Terpsícore 78 T i d e u 243, 266, 267, 276, 324
Terra X I I , 3, 5, 7, 8, 9, 12, 15, Tiestes 244, 296, 297, 304, 306
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índice Remissivo
431
Mitologia Grega e Romana
432
índice Remissivo
433
MITOLOGIA GREGA
E ROMANA
P. Commelin
-
•
Tradução
EDUARDO BRANDÃO
mWk
, 1
wmfmar tinsfontes
S A O PAULO 201 I
Título original: MYTHOLOG1E GRECQUE ET ROMAINE.
Copyright © 1993, Livraria Martins Fontes Editora Ltda.,
São Paulo, para a presente edição.
V. edição 1993
« e d i ç ã o 2011
2? tiragem 2011
Tradução
EDUARDO BRANDÃO
Revisão da tradução
Paulo Neves
Revisões gráficas
Ivete Batista dos Santos
Ana Luiza França
Dinarte Zorzanelli da Silva
Produção gráfica
Geraldo Alves
Paginação/Fotolitos
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
Capa
Katia Harumi Terasaka
Commelin, P.
Mitologia grega e romana / P. Commelin; tradução Eduardo Bran-
dão. - 4? ed. - São Paulo : Editora W M F Martins Fontes, 2011. -
(Clássicos W M F )
10-13091 CDD-292.13
índices para catálogo sistemático:
1. Mitologia clássica 292.13
Introdução VII
As origens 3
O Olimpo 17
Os deuses subolímpicos 85
Divindades do mar e das águas 109
As montanhas, os bosques, as divindades campestres... 141
Divindades do campo e da cidade particulares a Roma. 161
Os deuses da pátria, da família, da vida humana 169
O mundo infernal 183
Tempos heróicos, crenças populares 205
Lendas tebanas 209
Os labdácidas 239
Lendas atenienses 249
Lendas etólias 265
Lendas tessâlicas 269
Lendas argivas 287
Os pelópidas 295
Os tindáridas 299
Os átridas 305
Outros heróis gregos da Guerra de Tróia 311
Heróis troianos da Guerra de Tróia 329
Emigração troiana 341
Lendas populares 347
Algumas divindades alegóricas 361
Os oráculos 377
As cerimonias e os jogos 387
VII
Mitologia Grega e Romana
mais ante seus olhos para que ela não lhes busque a causa.
A humanidade dirige-se primeiro à ciência; mas, se a ciên-
cia é incapaz de instruí-la, como precisa de uma explicação
suficiente ou satisfatória, dirige-se a seu próprio coração e
à sua imaginação.
Na infância dos povos, diz-se, tudo não é mais que cren-
ças, que artigos de fé. Por certo. Mas na idade madura dos
povos, mesmo quando a ciência supõe ter desvendado u m
grande número de mistérios da natureza, pode a humanida-
de se gabar de evoluir em plena luz? Não resta ainda no
mundo uma infinidade de recônditos tenebrosos? Admi-
tindo-se inclusive que todos os segredos da natureza visível
e palpável fossem revelados, acaso não restará sempre esse
mundo metafísico, invisível e inapreensível, sobre o qual a
ciência tem tão pouco poder e que a filosofia, apesar de seus
esforços, não pôde até agora nem clarear, nem penetrar?
A Antiguidade, cujos conhecimentos científicos eram
tão imperfeitos, tão rudimentares, pôs uma divindade por
toda parte onde, para ela, só havia mistério. É isso que ex-
plica, e m parte, o grande número de deuses. Há mais, po-
rém. Tudo o que provocou a admiração, o espanto, o temor
ou o horror nos primeiros homens adquiriu, a seus olhos,
u m caráter divino. Para a humanidade primitiva, a divinda-
de representa tudo o que supera a concepção humana. Deus
não é apenas o ser absoluto, perfeito, onipotente, sobera-
namente generoso e bom, é também o ser extraordinário,
monstruoso, prodígio a uma só vez de força, de malevolên-
cia e de maldade. E não são apenas os seres animados que
se vêem revestidos desse caráter divino, aos olhos da h u -
manidade das primeiras idades: as próprias coisas são divi-
nas. Numa palavra, não é a divindade que penetra as coi-
sas, as próprias coisas é que são realmente a divindade.
Uma alma divina, difundida por toda parte neste mundo,
divide-se numa infinidade de almas igualmente divinas,
repartidas de todos os lados entre a diversidade das criatu-
VIII
Introdução
IX
Mitologia Grega e Romana
X
-Introdução-
EXO/ UD/ 0 XI
Mitologia Grega e Romana
XII
Introdução
S e j a - n o s r e c o n h e c i d o q u e as n u m e r o s a s g r a v u r a s e o s
d e s e n h o s q u e i l u s t r a m e e n r i q u e c e m esta o b r a t ê m , t o d o s ,
u m caráter de autenticidade. U n s , tomados dos m o n u m e n -
tos a n t i g o s , t ê m o v a l o r d e d o c u m e n t o s indiscutíveis; o u -
tros, r e p r o d u ç õ e s d e a d m i r á v e i s o b r a s - p r i m a s , d a r ã o u m a
idéia d o s r e c u r s o s q u e a e s c u l t u r a e a arte e m g e r a l e n c o n -
tram nas inspirações dos poetas e nas c o n c e p ç õ e s religio-
sas d a m i t o l o g i a .
XIII
Júpiter. Época greco-romana.
Museu do Louvre - Col. Giraudon.