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Histerese magnética

Sângela Laisla Vieira e Luiz Bernardo Palma Nunes1


1 Departamento de Fı́sica, Universidade Federal de Minas Gerais, MG, Brasil

I. Introdução Onde M ⃗ é a magnetização do material, que diz respeito a


ordem dos momentos magnéticos naquele instante, e µ0 é a
A histerese é a tendência de um sistema de conservar permeabilidade magnética no vácuo.
suas propriedades na ausência de um estı́mulo que as ge- Nas proximidades de P1 , a curva se torna horizontal, mos-
rou, ou ainda, é a capacidade de preservar uma deformação trando que a magnetização M ⃗ está próxima da magnetização
efetuada por um estı́mulo. Podem-se encontrar diferentes de saturação, ou seja, os momentos magnéticos do material se
manifestações desse fenômeno. A histerese mais conhecida encontram alinhados.
ocorre no magnetismo, mas também pode ocorrer em diversas Quando o campo aplicado H diminui gradualmente a partir
áreas como mecânica clássica, tráfego, biologia, epidemiolo- do ponto P1 , não há uma diminuição correspondente do fluxo
gia entre outras. induzido B. A movimentação das fronteiras dos domı́nios de
um material ferromagnético não é completamente reversı́vel, e
parte da magnetização permanece no material mesmo quando
Descrição teórica o campo aplicado H é reduzido à zero. A magnetização
do material quando H é nulo, no ponto r, é denominada de
magnetização residual Mr , e o valor do fluxo B é chamado de
Quando um material ferromagnético é submetido a um
fluxo residual Br ou remanência.
campo magnético externo, existe um ponto que todos
Se o campo aplicado é gradualmente intensificado na
os momentos magnéticos do material estão alinhados ao
direção oposta à inicial, o campo B somente se anulará ao
campo externo, conhecido como magnetização de saturação.
aplicar um campo igual a Hc , denominado campo coercivo ou
Após ter atingido a saturação, um aumento posterior do
coercividade. Continuando o processo de variação do campo
campo magnético não produz mais nenhum aumento da
aplicado, o campo B percorre o ciclo fechado indicado na fi-
magnetização M. Quando o campo magnético é reduzido a
gura.
zero, alguma magnetização persiste. Esse efeito é denomi-
A magnetização e a desmagnetização de um material que
nado de histerese.
possui histerese produzem perda de energia, dada pela área
A curva de histerese é própria para cada material e pode ser
interna da curva de histerese, e a temperatura do material au-
vista na Figura (1) a seguir.
menta durante o processo. O ciclo de histerese varia muito
sensivelmente de um material ferromagnético para outro, e
esta diversidade é muito útil em aplicações tecnológicas. Por
isso a analise da magnetização residual Mr e da permeabili-
dade magnética Km , dada pela equação (2), do material é de
suma importância.

Bmax
Km = (2)
Hmax

II. Método experimental

Objetivo

Identificar um material ferromagnético através da analise


Figura 1: Curva de histerese magnética. Fluxo induzido B, de sua curva de Histerese, determinando sua Mr e seu Km .
em função do campo magnético aplicado H.

A curva de histerese mostra o gráfico do fluxo magnético in- Materiais


duzido B em função do campo magnético aplicado H. Quando
H aumenta gradualmente, a partir de zero, B aumenta de zero – Sensor de tensão
seguindo a curva que vai da origem O até o ponto P1 , e é dada
pela expressão: – Fonte de tensão alternada.
⃗B = µ0 (H
⃗ + M)
⃗ (1)
Experimento 8. Histerese magnética.

– Transformador (1.00 ± 0.05) · 103 e (1.00 ± 0.05) · 104


espiras
– núcleo de material ferromagnético
– capacitor (1.08 ± 0.05) · 10−5 F
– Resistores de (5.6 ± 0.3) · 10Ω e (6.7 ± 0.4) · 102 Ω

A. Procedimentos e Resultados

Para observação da Histerese magnética do material anali-


sado, foi montado um circuito como o esquematizado na fi-
gura (2), com um sensor de tensão ligado com o canal A no
capacitor, e o canal B na resistência R1 .
Figura 3: Gráfico de campo induzido em função do campo
externo aplicado, feito a partir da transformação das tensões
coletadas em A e B no experimento.

Com o gráfico da figura (3), é possı́vel determinar o campo


externo necessário para que o material fosse completamente
magnetizado, isto é Hmax = (4.1 ± 0.2) · 10−3 T , e o campo
máximo induzido Bmax nele de (1.0 ± 0.1) · 10−3 T .
Os resultados obtidos experimentalmente foram compara-
dos com uma previsão teórica utilizando-se na equação (3)
e (4) os valores de tensões máximas no capacitor (2.34 ±
0.07) · 10−1V , e no resistor R1 (7.4 ± 0.3)V . Os valores es-
timados teoricamente de (4.14 ± 0.01) · 10−2 T para Hmax e
Figura 2: Esquema do circuito utilizado. Com uma fonte de
(1.0 ± 0.3) · 10−3 T para Bmax condizem com os resultados ob-
frequência 1Hz, uma resistência R1 56Ω, um transformador de
tidos experimentalmente, o que sugere que o método experi-
1000/10000 espiras, com um núcleo ferromagnético e um ca-
mental trás uma boa primeira aproximação para tais valores.
pacitor de capacitância 10µF
Através do gráfico da figura (3) foi observado também
o campo residual Br (1.5 ± 0.2) · 10−3 T do material. E
O campo magnético induzido na bobina de (1.00 ± 0.01) · utilizando-se Bmax , Hmax , na equação (2), e Br na equação (1),
104 é diretamente proporcional a tensão A no capacitor e dado foram obtidos os valores da permeabilidade magnética do ma-
pela equação (3) abaixo. terial, e sua magnetização residual.
Sendo sua permeabilidade Km de (2.4 ± 0.1) · 10−2 , e km
Vc R2C relativa dada pela razão entre Km e µ0 de (1.94±0.01)·104 µ0 .
B= (3)
Ns A E sua magnetização residual de (1.19 ± 0.02) · 102 A/m.
A coercividade do material também foi determinada a partir
Onde Vc é a tensão lida no ponto A, Ns o numero de espiras e do gráfico e corresponde ao módulo de Hc (4.0 ± 0.5) · 10−3 T .
A a área da seção reta do núcleo ferromagnético. Ao comparar os resultados experimentais com previsões
Já o campo magnético aplicado H na bobina de (1.00 ± teóricas, e a permeabilidade magnética tabelada para este ma-
0.01) · 103 espiras, é diretamente proporcional a tensão no ca- terial de (2.0 · 104 µ0 ) é possı́vel constatar que o material uti-
nal B do resistor R1 . E é dada por: lizado no núcleo da bobina é um tipo de ferro comercial, co-
nhecido como ferro doce.
Nµ0Vr O ferro doce é empregado geralmente em transformadores,
H= (4) motores ou aplicações em que seja necessário obter o mais
2R1 r
elevado campo magnético possı́vel para uma dada corrente.
Onde N é o numero de espiras, r o raio da bobina, e Vr a Já que possui alta permeabilidade magnética e um ciclo de
tensão lida no canal B. histerese o mais estreito possı́vel, como é possı́vel constatar
As medidas realizadas de Vc e Vr , foram utilizadas nas por seu campo induzido Bmax , e pela sua remanência medidos
equações (3) e (4) respectivamente, para que através de um experimentalmente, além da clara área estreita da curva da
gráfico de B em função H fosse possı́vel analisar e determinar figura (3).
o material ferromagnético utilizado. Para uma melhor noção do quanto o ferro doce é desmagne-
tizável seria interessante ainda, realizar o mesmo experimento
para outro material ferromagnético e comparar seus ciclos de

2
Experimento 8. Histerese magnética.

histerese. ∂B
Vs = −N2 · A ·
∂x
Substituindo temos:
III. Conclusão

O intuito geral do experimento foi a identificação de um dB −Vc (t) · R2 · ω · c


=
material ferromagnético através da analise de sua curva de dt N2 · A
histerese magnética. Para isso foram tomadas medidas de
tensão fornecida e induzida em um transformador com um Logo temos:
núcleo ferromagnético. Que foram utilizadas em um gráfico
de campo induzido no material em função do campo aplicado −R2 · ω · c
Z
Vc · sen w · t ′ dt ′

externamente. B (t) = ·
N2 · A
Através do gráfico foi possı́vel determinar algumas propri-
edades do material do núcleo, tal como sua permeabilidade
magnética relativa (1.94 ± 0.01) · 104 µ0 , sua remanência Br Vc · R2 · c
B=
(1.5 ± 0.2) · 10−3 T , sua magnetização residual (1.19 ± 0.02) · N2 · A
102 A/m, além da sua coercividade Hc (4.0 ± 0.5) · 10−3 T .
Comparando os resultados experimentais com valores tabe- Sendo assim:
lados e estimados teoricamente, foi possı́vel concluir que o
núcleo era feito de ferro comercial também conhecido como VCmax · R2 · c
ferro doce. Este tipo de material possui uma magnetização Bmax =
residual relativamente pequena se comparado aos outros. O N2 · A
que o torna ideal para aplicações que precisão dissipar pouca
energia.
Demonstre a equação (3)
Por fim, é possı́vel afirmar que a analise da curva de his-
terese magnética de um material, é uma ferramenta poderosa
para o entendimento de suas propriedades magnéticas e sua Pela lei de Biot-savart temos:
utilidade no cotidiano.
µ0 · I dl
Z
H′ = 2
4·π c1 r
IV. Apêndice
µ0 · I
A. Questões H′ =
2·r
Mostre que o campo criado por um solenoide de raio r Como esse é o valor para 1 espira para N espiras temos:
com N espiras, pode ser aproximado pela equação (4)
µ0 · I · N1
Campo na bobina direita H′ =
4·r
Em termos da tensão nos polos do resistor:
Vc = Ic · Xc

Como Ic = Vs /Z e xc <<< R2 µ0 ·VR1 · N1


H′ =
4 · r · R1
Vs · Xc Vs
Vc = =
R2 ω · c · R2 B. Incertezas
Como:
As incertezas calculadas neste experimento foram obtidas
através do método de derivadas parciais cuja expressão para a
∂φB incerteza de uma gradeza X, que dependa de variáveis A e B
Vs = −N2 ·
∂x é dada por:
Área da expira aproximadamente s 2  2
∂ ∂
∆X = (X) ∆A + (X) ∆ B (5)
Z ∂A ∂B
B= B · dA = B · A

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