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Circuitos Magnéticos

1 Circuitos magnéticos nas condições de corrente


contínua
1.1 Introdução. Substâncias ferromagnéticas e não-
ferromagnéticas
Da física sabe-se que pelas suas propriedades magnéticas todas as substâncias
podem dividir-se em diamagnéticas, paramagnéticas e ferromagnéticas.
Substâncias diamagnéticas são aquelas que tendem a desviar-se de um campo
magnético mais forte e a sua permeabilidade relativa  r é ligeiramente inferior à
unidade (para o bismuto é 0.99983).
Substâncias paramagnéticas são aquelas que têm uma permeabilidade relativa r
ligeiramente superior à unidade (para a platina é 1.00036).
Substâncias ferromagnéticas são as que têm valores altos de permeabilidade relativa
r, até 104 ou mesmo 106, tais como ferro, níquel, cobalto, etc.
Para o nosso estudo basta classificá-las simplesmente em ferromagnéticas e não-
ferromagnéticas. As primeiras incluem substâncias de permeabilidade relativa muitas
vezes maior que a unidade, enquanto que as últimas têm permeabilidades relativas
praticamente iguais à unidade.

1.2 Parâmetros do campo magnético


Os parâmetros de um campo magnético são a intensidade magnética (ou grandeza do
campo magnético) H, indução magnética (ou densidade de fluxo magnético) B, e
magnetização J.
A intensidade magnética H em qualquer ponto de um campo magnético é definida pela
força que produz, ou com a qual está associada, a indução magnética no mesmo
ponto.
A indução magnética B em qualquer ponto de um campo magnético é a quantidade
vectorial que determine a f.e.m. induzida num condutor elementar que se move
através do campo nesse ponto.
A magnetização J em qualquer ponto de um campo magnético é definida como o
momento magnético por unidade de volume.
As três quantidades estão relacionadas pela expressão abaixo:
B  0 (H  J )

Eq. 1
em que  0 é a permeabilidade do vácuo.
A unidade de indução magnética é o tesla que é igual a um weber por metro quadrado.
A magnetização J em qualquer ponto de um campo magnético é um vector que tem a
mesma direcção de H nesse ponto e é directamente proporcional à intensidade
magnética (no interior da substância). Assim:

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J  H

Eq. 2
em que  é a susceptibilidade magnética da substância e é por sua vez uma função
de H. Substituindo a Eq. 2 na Eq. 1 e pondo 1    r , temos:
B  0 r H

Eq. 3

No sistema internacional de unidades 0  4  .107 henry/m  1, 256.106 henry/m .


A permeabilidade relativa de um meio,  r , é igual à razão entre a permeabilidade
desse meio e a permeabilidade do vazio, e assim é uma grandeza sem dimensões.
Para as substâncias ferromagnéticas é uma função de H.
O fluxo magnético  através de uma área S é o integral duplo da componente normal
do vector indução magnética ao longo da área, ou
   B dS
S

Eq. 4
Em que dS é um elemento da área S.
Os circuitos são em geral resolvidos em função de B e H. Quanto a J raras, vezes é
usado. Quando necessário, o seu valor pode ser tirado da Eq. 1.

1.2.1 Propriedades básicas das substâncias ferromagnéticas


As propriedades magnéticas das substâncias ferromagnéticas são convenientemente
representadas desenhando as curves de B em função de H.
Como é sabido da física as substâncias ferromagnéticas apresentam um atraso entre
a indução magnética e a intensidade magnética aplicada chamado de histerese. O
fenómeno de histerese é análogo ao da inércia mecânica, e, falando aproximadamente
é devido à fricção entre os domínios. Devido à histerese, para um dado ciclo
magnético, B tem dois valores para cada valor de H, um quando H aumenta e outro
quando H diminui. A curva resultante é fechada e é conhecida como ciclo de histerese
de uma dada substância. Pode haver ciclos simétricos e assimétricos.
A Fig. 1, mostra um conjunto de ciclos de histerese simétricos. Estes são obtidos
quando uma substância magnética é colocada num campo magnético alternado de
uma intensidade suficiente para levar a indução magnética ao máximo; sendo depois a
grandeza do campo progressivamente diminuída, a substância apresenta ciclos de
histerese de área progressivamente menor. Para cada máximo + B há um máximo –B
igual em grandeza. O mesmo se passa com H. As extremidades dos ciclos limitam
uma curva chamada curva de magnetização normal. Para valores muitos altos de H,
as curvas de H crescente e de H decrescente são quase coincidentes em  Hmax.

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Para uma substância que nunca foi magnetizada (isto é, no estado virgem), podem ser
necessários muitos ciclos de magnetização até se obter um ciclo fechado. O que se
obtém para Hmax designa-se por ciclo limite de histerese, e diz-se que a substância
está magnetizada ciclicamente.

Fig. 1

Quando a intensidade magnética é reduzida a partir do valor de saturação, a indução


magnética apresenta um atraso em relação a intensidade magnética aplicada. Para H
reduzido a zero, a indução magnética está ainda perto do seu valor de saturação e é
igual a Br, indução residual ou remanescente. Para reduzir B a zero, aplica-se um
campo magnético negativo Hc chamado de força coerciva. A porção Br Hc do ciclo de
limite de histerese chama-se de curva de desmagnetização. Ela dá quase todas as
características requeridas numa substância para ser usada como íman permanente ou
como memória de computadores.

1.3 Lei de Ampere


Uma corrente eléctrica passando através de um condutor produz um campo magnético
na sua vizinhança. A relação quantitativa entre a circulação do vector intensidade
magnética H ao longo de qualquer percurso fechado e a corrente total  I limitada
por este percurso é dada por

 H dl   I
em que o sentido positivo de integração (dl) e o sentido positivo da corrente estão
relacionados pela regra do saca-rolhas.
Esta é muitas vezes conhecida como a lei de Ampere. Ela traduz uma relação
empírica e pode provar-se experimentalmente com, o anel de Rowland.

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1.4 Força magnetomotriz


A força magnetomotriz (f.m.m.), F, de uma bobina percorrida por uma dada corrente é
dada pelo produto do número de espiras, N, da bobina, pela corrente, I, que circula
nas espiras da bobina, sendo a sua unidade o Ampere-espira.
A força magnetomotriz (f.m.m.), F, dá origem a um fluxo magnético num circuito
magnético, do mesmo modo que uma f.e.m. dá uma corrente eléctrica num circuito
eléctrico.
Como a f.e.m., a f.m.m. é uma quantidade vectorial. O seu sentido positivo está
indicado na Fig. 2 por uma seta. Este sentido pode ser encontrado aplicando-se a
regra do saca-rolhas: Fazendo rodar a cabeça do saca-rolhas no sentido da corrente
na bobina, o movimento progressivo do saca-rolhas dará o sentido da f.m.m. Como
alternativa pode usar-se a regra da mão direita para um enrolamento condutor de uma
corrente: Se a bobina é agarrada de modo que os dedos apontem na direcção de
deslocamento da corrente, o polegar estendido apontará na direcção do campo
magnético originado pela corrente.

Fig. 2
A Fig. 2 mostra em esboço várias formas de bobinadas enroladas num núcleo e os
respectivos sentidos da f.m.m., F.

1.5 Diferença de potencial magnético


A diferença de potencial magnético entre dois pontos a e b de um campo magnético é
o integral escalar da intensidade magnética entre esses pontos.
b
V Mab   Hdl
a

Eq. 5
Se H entre os dois pontos é constante e tem a mesma direcção que o elemento de
percurso dl, estão H dl  H dl cos 0 , e H pode ser colocado fora do sinal de
integração. Então,
b
V Mab  H  dl  H l ab
a

Eq. 6

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Em que lab é o percurso entre os pontos a e b do campo magnético. Como a f.m.m., a


diferença de potencial magnético mede-se em ampere-espira.
Se o circuito magnético entre dois pontos de um campo magnético pode ser dividido
em n partes de modo que para cada parte H = Hk seja constante, então
n
V Mab   H k l k
k 1

Eq. 7

1.6 Lei de Ohm para um circuito magnético


Por definição, a diferença de potencial magnético de um circuito magnético é
VM  H l
Por outro lado

B 
H 
0 r 0 r S
em que  é o fluxo magnético, e S a secção transversal do circuito magnético.
Consequentemente,

l
VM  
0 r S
ou
V M   RM
Eq. 8
em que
l
RM 
0 r S

Eq. 9
é chamada de resistência magnética ou, de preferência de relutância.

1.7 Leis de Kirchoff para os circuitos magnéticos


Como para os circuitos eléctricos, também os circuitos magnéticos podem ser
convenientemente calculados da 1ª e 2ª leis de Kirchoff.
A 1ª lei de Kirchoff para os circuitos magnéticos baseia-se na continuidade do fluxo
magnético. Ela diz-nos que a soma algébrica dos fluxos magnéticos em qualquer nó
de um circuito magnético é zero.

0
Eq. 10

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A 2ª lei de Kirchoff para os circuitos magnéticos estabelece que a soma algébrica das
diferenças de potencial magnético ao longo de qualquer percurso fechado é igual à
soma algébrica das forças magnetomotrizes ao longo do mesmo percurso.

V M  F   N I

Eq. 11
Antes de se escreverem as equações para um circuito magnético aplicando as leis de
Kirchoff, deve-se arbitrar um sentido positivo para os fluxos nos vários ramos e para o
somatório ao longo do circuito. Se o fluxo numa porção do circuito tem o sentido do
somatório a diferença de potencial magnético desta porção entrará no termo do
somatório com sinal positivo, e caso contrário com o sinal negativo. Do mesmo modo,
se a f.m.m. de uma porção do circuito tem o sentido do somatório, entrará no termo do
somatório, com sinal positivo e caso contrário com sinal negativo.

Como exemplo, escrevamos as equações de Kirchoff para o circuito ramificado da Fig.


3, que tem três ramos e duas f.m.m.

Fig. 3
Suponhamos que os fluxos (1, 2 e 3) se dirigem todos para o nó a.
Para a 1ª lei teremos:
1   2   3  0
Para a 2ª lei teremos:
H 1l1  H  1 1  H 2 l 2  H  2 2  F1  F2

H 1 l1  H  1 1  H 3 l 3  H 3 l 3  F1

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