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As Anotações
de Malte Laurids Brigge
Tradução e Prefácio de
Maria Teresa Dias Furtado
Clássicos
Índice
Prefácio
As Anotações de Malte Laurids Brigge 15
Documento
Carta de R. M. Rilke ao tradutor polaco, Witold Hulewicz,
sobre As Anotações de Malte Laurids Brigge 229
Questionário 233
;L.
Pormenor de Die Dame mit dem Einhorn (Museu de Cluny).
Prefácio
O POETA
Bibliografia
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Biblioteca Nacional
cada uma delas tenha um poeta. (Sabe Deus o que têm ! ) Não
existem trezentos poetas. Mas vê bem que destino me coube:
eu, talvez o mais indigente de todos estes leitores, um estran
geiro, tenho um poeta. Embora seja pobre. Embora o fato que
todos os dias visto já comece a apresentar algumas partes co
çadas pelo uso, embora os meus sapatos possam merecer re
paros. É verdade que o meu colarinho está limpo, a minha
roupa também e com este meu aspecto poderia entrar em
qualquer pastelaria, mesmo nos grandes boulevards, e esco
lher sem receio um bolo, retirando-o de uma bandeja. Nin
guém acharia que isso dava nas vistas, nem me repreenderia,
nem me mandaria embora, pois afinal a minha mão, proce
dente da alta sociedade, é lavada quatro a cinco vezes por dia.
Sim, as unhas estão limpas, o indicador não está sujo de tinta,
e especialmente os pulsos estão irrepreensíveis. Os pobres
não se lavam até esse ponto, como é sabido. É , pois, possível
tirar certas conclusões a partir da sua higiene. E tiram-se.
Tiram-nas nas lojas. Mas, por outro lado, há certos indiví
duos, no boulevard Saint-Michel, por exemplo, e na rue Raci
ne, que não se deixam enganar, não dão qualquer importância
aos punhos. Vêem-me e sabem-no. Sabem que eu, de facto,
lhes pertenço, que apenas estou a fazer um pouco de comédia.
Até porque é Carnaval. E eles não querem ser desmancha
-prazeres. Apenas esboçam um sorriso um pouco irónico e
piscam o olho. Ninguém viu. Quanto ao resto, tratam-me cor
tesmente. Basta apenas que alguém se encontre nas proximi
dades, e nessa altura até são subservientes. Procedem como se
eu usasse uma pele e o meu carro se aproximasse para me vir
buscar. Muitas vezes dou-lhes duas moedas e tremo ante a
possibilidade de eles as recusarem. Mas aceitam-nas. E tudo
estaria bem se não voltassem a sorrir um pouco ironicamente
e a piscar o olho. Quem são eles? O que querem de mim? Es
tão à minha espera? Como me reconhecem? É verdade que a
minha barba está pouco cuidada e faz lembrar um pouquinho
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O moldador que tem uma loja pela qual passo todos os dias
expôs à porta duas máscaras. O rosto da jovem afogada, mol
dado na morgue porque era belo, porque sorria, porque sorria
tão enganosamente como se o soubesse. E, por baixo, o rosto
dele, que sabe. Este nó duro de sentidos firmemente tensos.
Esta implacável autocondensação de urna música que conti
nuamente se quer libertar. A face daquele a quem um Deus
quis fechar o ouvido para que mais nenhuns sons houvesse se
não os seus. Para que ele não fosse confundido pelos turvos
ruídos efémeros. Ele, em quem habitavam a sua clareza e a
sua duração; para que apenas os sentidos sem som lhe trans
mitissem o mundo, silenciosamente, um mundo tenso, expec
tante, inacabado, anterior à criação do som.
Aperfeiçoador do mundo: tal como aquilo que enquanto a
chuva cai sobre a terra e sobre as águas, caindo negligente
mente, caindo ao acaso - de novo se ergue de tudo mais in
visível e alegre da sua lei, e ascende e paira e forma os céus :
assim de ti se ergueu a ascensão das nossas quedas e deu ao
mundo uma abóbada de música.
A tua música: a ela foi permitido envolver o mundo; não a
n ós. Tivessem-te construído um piano em Tebaida; e que um
Anj o te tivesse acompanhado até ao instrumento solitário
através de cadeias montanhosas do deserto onde repousam
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rá ele agora tão descorado por outrora ter sido colorido? Que
res perguntar-lho?
Mas às mulheres nada perguntes, quando vires alguma dar
de comer aos pássaros. A essas até as poderíamos seguir: elas
fazem-no ao passar, seria coisa fácil. Mas deixa-as em paz.
Não sabem como tudo aconteceu. De súbito têm uma porção
de pão na saquinha e de lá tiram grandes bocados,
estendendo-os na mão que sai da mantilha delida, bocados
que estão um pouco mastigados e húmidos. Faz-lhes bem a
sua saliva chegar ao mundo sobrevoado pelos passarinhos que
provam esse travo, mesmo que, naturalmente, em seguida o
esqueçam.
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Caro, meu caro Erik; talvez tenhas sido o meu único amigo,
pois nunca tive nenhum. É pena que não tenhas feito nenhum
caso da amizade. Teria gostado de te contar muita coisa. Tal-
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Mas agora, que tanta coisa muda, não será a nossa vez de
mudarmos? Não poderíamos tentar evoluir um pouco mais e
assumir lenta e gradualmente a parte que nos cabe do trabalho
no amor? Pouparam-nos a todos a sua dor, e desse modo nos
escorregou para o meio das distracções, como cai, por vezes,
na gaveta dos brinquedos de uma criança um bocado de ren
da verdadeira causando alegria e deixando de causar alegria e
por fim ali fica entre coisas partidas e escangalhadas, em pior
estado do que tudo o resto. Estamos estragados pelo prazer
fácil como todos os diletantes e é-nos atribuída a mestria. E se
desprezássemos os nossos êxitos, se começássemos desde o
princípio a aprender o trabalho do amor, que sempre foi feito
para nós? Se partíssemos e nos fizéssemos principiantes, ago
ra que tantas coisas mudam?
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dos, velas comuns. Mas estas duas velas, muito cedo naquela
nova obscuridade em que tudo começava, estas eram só para
o uso de uma pessoa. Colocadas no castiçal de dois braços,
brilhavam serenamente através dos pequenos abajures de tu
le, ovais e com rosinhas pintadas, que de vez em quando era
preciso puxar para baixo. Isso não incomodava, pois por um
lado não havia qualquer pressa e, por outro, acontecia que era
preciso algumas vezes levantar os olhos e reflectir quando se
escrevia uma carta ou uma página do diário que se começara
a escrever muito antes, com uma letra bem diferente, assusta
da e bela.
O conde Brahe vivia completamente à margem das filhas.
Achava ilusório aquilo a que muitos chamavam compartilhar
a vida com outros. («Sim, compartilhar», dizia ele.) Mas não
lhe desagradava que as pessoas lhe falassem das filhas. Ele
ouvia com atenção, como se elas vivessem noutra cidade.
Por isso foi algo fora do comum ele ter feito uma vez sinal
a Abelone depois do pequeno-almoço, para ela se aproximar:
«Parece que temos os mesmos hábitos, eu também escrevo
muito cedo. Podes ajudar-me.» Abelone ainda se lembrava
como se fosse no dia de ontem.
Logo na manhã seguinte foi conduzida ao gabinete de tra
balho do pai, que tinha fama de inacessibilidade. Não teve
tempo de o observar, pois sentaram-na imediatamente à se
cretária do lado oposto ao conde; aquele tampo parecia-lhe
uma planície em que os livros e os manuscritos empilhados fi
guravam como povoações.
O conde começou a ditar. Os que pensavam que ele estava
a escrever as suas memórias não se enganavam muito. Mas
não se tratava de recordações políticas ou militares, como se
esperava com alguma curiosidade. «A essas, esqueço-as», di
zia o velho conde secamente, quando o interrogavam sobre
factos como esses. Mas o que ele não queria esquecer era a
sua infância. Essa é que contava para ele. E, segundo ele acha-
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1 A morte, a morte.
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Que restava, pois, senão conter-se? Foi então uns meses antes
da sua decisão que se manifestou esta fraqueza; esta pequena
fadiga impossível, que era tão ridícula como quando um re
posteiro de uma j anela não quer ficar preso em cima. Tenho a
certeza de que ele julgou durante semanas que seria possível
dominar aquilo. De outro modo eu não teria tido a ideia de lhe
oferecer a minha vontade. Um dia compreendi de facto que a
dele se esgotara. E desde então, quando sentia que aquilo vi
nha, ficava de pé do meu lado da parede e pedia-lhe que se
servisse. E com o tempo tomou-se-me claro que ele aceitava.
Talvez ele não devesse fazê-lo, especialmente quando se vê
que afinal não servia de nada. Admitindo mesmo que conse
guíssemos criar um ligeiro atraso, continua a ser questionável
se ele estava de facto em condições de aproveitar os momen
tos que assim ganhávamos. E no que respeita aos meus gas
tos, comecei a senti-los. Bem sei que me perguntava se aque
la situação deveria continuar assim, precisamente naquela
tarde em que alguém chegou ao nosso andar. Isto causava
sempre grande barulho no pequeno hotel, por as escadas se
rem estreitas. Pouco depois, pareceu-me que estavam a entrar
no quarto do meu vizinho. As nossas portas eram as últimas
do corredor, a dele um tanto oblíqua e a pouquíssima distân
cia da minha. Eu sabia entretanto que, por vezes, ele recebia
visitas de amigos e, como já disse, não me interessava de to
do pelas suas circunstâncias. É possível que a sua porta tives
se sido ainda aberta várias vezes, que lá fora andassem de um
lado para o outro. Quanto a isso não tinha eu qualquer res
ponsabilidade.
E nessa noite a coisa foi pior do que nunca. Ainda não era
muito tarde, mas eu fora-me deitar por me sentir cansado;
pareceu-me provável conseguir dormir. Então sobressaltei-me
como se me tivessem tocado. Logo a seguir rebentou aquilo.
Saltava e rolava e corria para qualquer sítio e oscilava e batia.
O estrépito era horrível. Entretanto, no andar de baixo batiam
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linhas que ainda restam deve sair uma violência que ultrapas
se qualquer contradição. Quer seja ou não dito, tem que se ju
rar que, entre voz e tiro de pistola, ainda havia nele, infinita
mente comprimidos, vontade e poder de ser tudo. De outro
modo não se compreende o brilho magnífico da consequên
cia: que lhe tenham perfurado o roupão e lhe tenham dado es
tocadas em todo o corpo, para ver se conseguiam chegar ao
duro cerne de uma pessoa. E que ele já morto ainda usasse,
mesmo assim, durante três dias, a máscara à qual quase já ti
nha renunciado.
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Corno é possível que o teu amor não sej a por todos narra
do? Que aconteceu desde então que fosse mais notável? O que
é que os ocupa então? Tu própria conhecias o valor do teu
amor, dizia-lo em voz alta diante do teu maior poeta, para que
ele o tornasse humano; pois ele era ainda elemento. Mas o
poeta dissuadiu os homens do teu amor, ao escrever-te. Todos
leram estas respostas e acreditavam mais nelas, porque o poe
ta é para eles mais inteligível do que a Natureza. Mas talvez
venha a ser reconhecido que aqui estava o limite da sua gran
deza. Esta amante foi-lhe imposta e ele não o suportou. Quer
dizer que ele não conseguiu corresponder? Um tal amor não
precisa de qualquer correspondência, tem em si chamamento
e resposta: ele próprio atende o seu pedido. Dever-se-ia ter
humilhado perante esse amor em toda a sua magnificência e
escrever o que ele ditava, com as duas mãos, corno João em
Patrnos, de joelhos. Não havia escolha possível perante esta
voz que «exercia o ofício dos Anjos»; que viera para o envol
ver e arrebatar até à eternidade. Era esse o carro da sua ígnea
ascensão aos céus. Era esse o mito obscuro preparado para a
hora da sua morte e que ele deixou vazio.
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Aqui estou sentado, nesta noite fria, e escrevo e sei tudo is
so. Talvez o saiba porque outrora, quando era pequeno, veio
ao meu encontro aquele homem. Era muito grande, creio até
que daria nas vistas devido à sua altura.
Por muito inverosímil que pareça, consegui de algum
modo sair de casa sozinho ao cair da noite; corri, dobrei uma
esquina, e nesse mesmo momento fui contra ele. Não com
preendo como o que então aconteceu pôde decorrer em cerca
de cinco segundos. Por muito condensada que seja a sua des
crição, ela dura muito mais tempo. Tinha-me magoado ao em
bater contra ele; eu era pequeno, já me parecia muito não ter
chorado e involuntariamente esperava também ser consolado.
Como ele não o fez, parti do princípio de que estava perple
xo; supus que não se lembrava do dito adequado para resolver
esta situação. Já me dava por bastante contente por o poder
ajudar a esse respeito mas, para tal, era preciso olhar para o
seu rosto. Já disse que ele era grande. Mas não se inclinara
para mim, como seria bem natural, e deste modo encontrava
-se a uma altura para a qual eu não estava preparado. Conti
nuava diante de mim apenas o cheiro e a dureza particular do
seu fato que eu tocara. De repente apareceu o seu rosto. Co
mo era? Não sei, nem quero saber. Era o rosto de um inimigo.
E, ao lado deste rosto, quase colado a ele, à altura dos seus
olhos terríveis, como uma segunda cabeça, estava o seu punho
cerrado. Antes de ter tempo de baixar o meu rosto, já me pu
sera a correr; esquivei-me pela sua esquerda e corri sempre
em frente por uma deserta e horrível viela abaixo, a viela de
uma cidade estranha, de uma cidade em que nada se perdoa.
Nessa altura vivi o que agora compreendo: aquele tempo pe
sado, compacto, desesperado. O tempo em que o beijo de duas
pessoas que se reconciliavam era apenas o sinal para os assas
sinos que estavam por ali. Bebiam do mesmo cálice, monta-
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Por fora muita coisa mudou. Não sei como. Mas por dentro
e perante Ti, meu Deus, por dentro e perante Ti, Espectador:
não carecemos nós de acção? Apercebemo-nos, é certo, de
que não sabemos o nosso papel, procuramos um espelho, que
remos descaracterizar-nos, despoj ar-nos do que é falso e ser
autênticos. Mas algures, preso em nós, permanece ainda um
pedaço de disfarce de que nos esquecemos. Nas nossas so
brancelhas fica um vestígio de exagero, não notamos que os
cantos da boca estão retorcidos. E assim andamos nós, escár
nio e metade de nós mesmos: nem seres autênticos, nem ac
tores.
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valia a pena que ela o visse. Mas ela libertou-se dos outros e,
de repente, encontrava-se ao meu lado. O seu vestido ilumi
nou-me, o perfume floral do seu calor envolveu-me.
«Quero realmente cantar», disse ela em dinamarquês ao
longo da minha face, «não por eles o exigirem, não por causa
das aparências : porque agora tenho de cantar. »
Das suas palavras saía a mesma intransigência malévola da
qual ela acabara de me libertar.
Segui lentamente o grupo que a acompanhava. Mas, junto
de uma porta alta, fiquei para trás e deixei que as pessoas se
empurrassem e ordenassem. Encostei-me ao negro e polido
interior da porta, e esperei. Alguém me perguntou o que ia
acontecer, se iam cantar. Fingi não saber. Enquanto eu mentia,
ela já cantava.
Não conseguia vê-la do sítio onde estava. O espaço aumen
tou gradualmente à volta de uma daquelas canções italianas
que os estrangeiros acham muito autênticas por serem de uma
convenção evidente. Ela, que a cantava, não acreditava nisso.
Erguia-a com esforço, tomava-a com excessiva gravidade. Os
aplausos da frente indicavam que tinha acabado. Eu estava
triste e envergonhado. Surgiu um certo movimento e resolvi
juntar-me aos que se fossem embora.
Mas subitamente fez-se silêncio. Fez-se um silêncio que
ainda há pouco ninguém pensara ser possível; durou, adquiriu
tensão, e então ergueu-se nele a sua voz. (Abelone, pensei.
Abelone.) Desta vez era forte, plena e no entanto não era gra
ve; de uma só peça, sem falha, sem costura. Era uma canção
alemã desconhecida. Ela cantou-a com uma simplicidade es
pantosa, como se fosse algo imperioso. Cantava:
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Caro Amigo
Seu
R. M. Rilke
Questionário
61 1 85 e ss.
Jacob de Cahors (Papa João XXII, o mais espiritual, de
maior religiosidade e mais produtivo de entre os Papas do
exílio) retractara- se. Propositadamente, esta retractação
(p. 1 85) não é logo explicitada: adiante (p. 1 86) é patenteada a
tese que tomara a convicção do Papa chocante e infundada.
Imagine o que significava para a Cristandade de então ouvir
dizer que ninguém, na outra vida, ainda gozava da bem
-aventurança e que o acesso a ela só se dava após o Juízo Fi
nal, que tanto lá como aqui tudo se encontrava em angustio
sa expectativa ! Que imagem para a aflição de uma época, a
cabeça da Cristandade usar o poder do seu múnus para pro
jectar a sua insegurança até aos Céus. (A natureza de Malte
em busca de segurança tinha de reparar neste exemplo.) E o
jovem príncipe luxemburguês, cardeal aos onze anos, mor
rendo aos 1 8 e beatificado imediatamente (o filho do conde
de Ligny) parece-lhe, por sua vez, como uma refutação da
desconfiança do Papa e é também assinalado.
Em relação a todas estas figuras acontece-me, de resto, não
ser capaz de referir dados precisos ! O Malte ficou concluído
por volta do ano 1 909 (já há 1 6 anos !), já não tenho as fontes
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«Beau Sire Dieu, und dann die Auferstehung . . . » tudo isto
transmite, em surdina, o monólogo interior de algum senhor
da época, que tinha o pressentimento de vir a ser assassinado.
Pensa cavalheirescamente em Deus, na Ressurreição. Sub
juga-o o carácter estranhamente vazio e amplo e de certo
modo sem validade do seu ainda-ser. «Em tais horas mal o
alcançava a exaltação de uma amada» ; mal era capaz de ainda
exaltar esta ou aquela aventura amorosa; as figuras dessas mu
lheres tinham-se tomado imprecisas e como que ocultas nas
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Os «Baux»: paisagem magnífica na Provença, terra de pas
tores, ainda hoje marcada pelas ruínas do castelo dos prínci
pes des Baux, uma estirpe principesca de imponente audácia,
célebre nos séculos XIV e xv pela magnificência e força dos
seus homens e pela beleza das suas mulheres . . .
(Mais informações em folha à parte.)
[Folha à parte]
No que respeita aos príncipes des Baux, sim, bem pode
dizer-se que um tempo petrificado pesa sobre essa estirpe.
A sua existência está, por assim dizer, petrificada na paisagem
dura e cinzento-prateada, na qual as intempéries têm degrada
do o inaudito castelo; esta paisagem, perto de Arles, é um es
pectáculo inesquecível da Natureza, uma colina, ruína e po
voação, abandonadas, de novo transformadas em falésia com
todas as casas e destroços de casas. Em volta, em grande ex
tensão, pastagens: por isso se invoca aqui o pastor, aqui, jun
to ao Teatro de Orange e no cimo da Acrópole, com os seus
240 Rainer Maria Rilke
l . FAUSTO 1 7 . DE PROFUNDIS
Johann W. Goethe Oscar Wilde
1 1 . EWALD TRAGY
Rilke
1 3 . ENSAIOS (Antologia)
Montaigne
1 5 . AS ILHAS ENCANTADAS
Hermann Melville
1 6. A MORTE DE EMPÉDOCLES
Hõlderlin
.1
j
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