Sustentabilidade e

inovação: fios e linhas de

costura
Mais sustentáveis, novos fios permitem que a reciclagem
das roupas custe menos e tenha menor impacto ambiental.
Nesta matéria, mostramos como é possível investir nessas
soluções e reforçar o seu compromisso com a
sustentabilidade.

Helen Palmer
10.25.22 - 9 minutos

Resortecs
Resumo
As linhas de costura podem afetar o impacto ambiental da roupa e seu potencial de
reciclagem de modo significativo, por isso, é vital utilizar fios, enfeites e detalhes
sustentáveis em toda a cadeia de produção.
Os fornecedores de fios estão cada vez mais adotando modelos circulares. A Coats
Group, por exemplo, desenvolveu um roadmap que acompanha todo o produto em sua
jornada de circularidade. Junto com a Resortecs, que criou fios dissolvíveis, a empresa
se uniu à iniciativa CE100 da Ellen MacArthur Foundation, que reúne nomes
importantes da indústria que estão trabalhando em prol da economia circular.
Nesta matéria, identificamos as empresas que estão investindo em fios dissolvíveis,
biodegradáveis e recicláveis e novas tecnologias de coloração que consomem menos
água, incorporando a circularidade desde o design até a manufatura.

Resortecs

Para que os fios sustentáveis tenham escala de mercado, é fundamental que as empresas apoiem
e invistam nesse tipo de iniciativa

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Fios dissolvíveis
Fios que se dissolvem no calor e na água vão facilitar a desmontagem das peças,
promovendo a economia circular.

Prós e contras: os fios dissolvíveis e solúveis facilitam a desmontagem das peças e

reduzem a necessidade da remoção dos fios, uma tarefa geralmente trabalhosa e cara.
Esses novos fios já estão disponíveis, mas para atingirem escala de mercado, é preciso
que as empresas apoiem e invistam neles.
Solúvel em água: em fevereiro, a Coats Group lançou os fios dissolvíveis da linha
EcoCycle – e já está trabalhando em outros 20 projetos para testá-los em peças de
diversas marcas. Duráveis ao longo da vida útil da roupa, os fios se dissolvem em um
processo industrial de lavagem a uma temperatura de 95 °C, facilitando a desmontagem
e a reciclagem da peça.
Dissolvível no calor: a belga Resortecs desenvolveu a tecnologia Smart Stitch, que
remove as costuras da roupa por meio de um forno industrial. Segundo a empresa, o
processo é cinco vezes mais rápido e praticamente não impacta a qualidade do tecido.
Marcas pioneiras: recentemente, a Bershka se juntou à Resortecs em uma coleção-
cápsula jeans, parte da iniciativa Sustainability Innovation Hub, da Inditex. Em 2021, a
empresa trabalhou com a H&M na coleção Circular Design Story, que utilizou fios
sustentáveis para incorporar bijuterias e paetês de plástico reciclado em peças da
varejista sueca.
Como implementar: marcas e varejistas que tiverem interesse em inovar devem se unir
aos fabricantes de fios dissolvíveis para testá-los em produtos de diversas categorias.
Bershka x Resortecs

Neste ano, como parte da sua iniciativa de circularidade, a Bershka lançou uma linha jeans agênero
utilizando os fios da Resortecs. Fáceis de reciclar, as peças foram disponibilizadas em 60 países

2
Fios biodegradáveis e compostáveis
A compatibilidade de fios, enfeites e tecidos é fundamental para compostar e
reciclar as roupas ao final da vida útil delas.

Prós e contras: o uso de matéria-prima compatível é fundamental para criar roupas

biodegradáveis. Esse é um dos pilares da economia circular, já que a compatibilidade
dos materiais reduz a emissão de microfibras e a geração de resíduos.
Fibras celulósicas compostáveis: a Coats Group criou o fio de liocel 100% circular
EcoRegen, feito de polpa de madeira certificada e ideal para malhas e lingerie, além de
dois fios de algodão BCI, o Tre Cerchi Vero e o Tre Cerchi Vero+ – este último, com
certificação Cradle to Cradle (C2C). Na mesma linha, o algodão mercerizado 100%
orgânico da AMANN também tem a certificação C2C.
O produtor estadunidense de fios American & Efird (A&E) desenvolveu o Anecot
Organic, um fio de algodão mercerizado 100% orgânico, com as certificações GOTS e
OCS. Ideal para jeans e itens casuais, o fio é biodegradável quando combinado com um
tecido similar.
Poliésteres biodegradáveis: recentemente, a Coats lançou seu poliéster biodegradável
Eco-B usando a formulação biofílica da CiCLO, compatível com poliéster e nylon. A
tecnologia incorpora áreas biodegradáveis nos polímeros, agindo como uma fonte de
nutrientes para os micróbios presentes no meio ambiente, o que acelera a degradação
do material para três anos em aterros e cursos de água. Todo o processo químico tem a
certificação ECO PASSPORT, emitida pela OEKO-TEX.
Como implementar: analise de que forma os fios compostáveis e biodegradáveis podem
reduzir o impacto da roupa ao final da vida útil. A norma EN 13432, da União Europeia, Coats Group
prevê quais materiais podem ser descritos como compostáveis e biodegradáveis, assim
como a norma ASTM D6400-99, dos EUA. A Coats Group acaba de lançar seu fio de poliéster biodegradável Eco-B, que tem baixa emissão
de microfibras graças à tecnologia da CiCLO

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Poliéster reciclado
Alinhado à economia circular, o poliéster reciclado emite menos CO2 que a fibra
virgem e reduz a geração de resíduos.

Prós e contras: apesar do menor impacto ambiental, o poliéster reciclado ainda emite
microplásticos, assim como a fibra virgem. Feito sob processos de reciclagem, o
polímero pode variar de cor, tornando necessário novos processos de coloração ou
alvejamento e aumentando o uso de água, energia e aditivos químicos.
Poliéster reciclado: em 2021, a Champion Thread Company (CTC) lançou poliésteres
100% reciclados, feitos com matéria-prima da Renu – o Poly ChampCore, com
multifilamentos, o ChampSpun, um poliéster clássico, e o AeroTex Plus, um poliéster
texturizado. Já o Serafil, da AMANN, é um poliéster GRS com filamento contínuo, feito
totalmente a partir de garrafas PET recicladas.
A American & Efird criou a sua linha de fibras recicladas ECO100 em parceria com a
ADNAS, que desenvolveu a solução de rastreabilidade CertainT. Com bolsões de ar, o fio
usa o poliéster reciclado (rPET) Repreve, desenvolvido pela Unifi, ideal para roupas
esportivas e de alta performance.
Até 2024, a Coats Group pretende fabricar todos os seus fios premium usando material
100% reciclado, com níveis de performance similares aos dos fios virgens. Desenvolvida
pela empresa, a linha de fios reciclados EvoVerde conta com o Epic, um poliéster ideal
para costura, o Gral, com multifilamentos, o Gramax, com texturas e filamentos
contínuos, ideal para revestimentos e técnicas de overloque, e o Sylko trilobal e o Sylko
Matt, para bordados. A Threads India também fornece poliésteres reciclados.
Como implementar: para reforçar o seu compromisso ambiental, utilize fibras A&E
recicladas com a certificação GRS. Use ferramentas de rastreamento para autenticar a
origem das suas fibras. Reforçando o seu compromisso ambiental, a A&E criou a linha de produtos ECO100, composta dos
fios Perma Core ECO100, Anefil Poly ECO100 e Wildcat ECO100

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Fios coloridos sob demanda
Além de diminuir a poluição da água causada pelos fios pré-coloridos, as
tecnologias de coloração sob demanda ajudam as marcas a reduzir seus
inventários.

Prós e contras: as novas tecnologias de coloração ajudam a reduzir os estoques de fios e

a poluição da água causada pelos fios pré-coloridos. No entanto, para ter escala de
mercado, elas precisam de apoio e financiamento das marcas.
Inovações: a tecnologia de fios sob demanda da sueca Coloreel dá a mesma flexibilidade
da estamparia digital aos bordados, utilizando as soluções Instant Thread Coloring Unit
(hardware) e Coloreel Studio (software de colorização), além de serviços de design e
digitalização.
Por meio da incorporação dessa tecnologia a qualquer máquina de bordar de cabeça
única ou múltipla, os fios de poliéster reciclado podem ser coloridos de modo eficiente.
Além de não desbotar, os bordados são laváveis a temperaturas entre 60 e 95 °C e
resistentes a abrasão, raios UV, luzes artificiais e transpiração. A empresa recebeu um
financiamento do banco verde finlandês Nefco para promover a tecnologia.
Para acelerar o seu sistema de coloração digital de fios sob demanda TS-1800, a
israelense Twine Solutions recebeu um aporte de US$ 28 milhões das firmas de
investimento Menora Mivtachim, Meitav Dash e Analyst – em 2018, a Coats Group
também investiu US$ 5 milhões para ter uma participação de 9,5% da empresa. Lançada
em 2015, essa tecnologia tinge fibras de poliéster virgens ou sem coloração para uso em
bordados, costuras e malharia. Seu processo Digital Selective Treatment (DST) mistura
as tintas Twine Digital Inks (TDIs) para customizar as cores; depois, o fio passa por uma
Coloreel
câmara dentro da máquina para coloração e tratamento.
Como implementar: faça parcerias com empresas inovadoras que ofereçam soluções Para sua coleção Futuro Optimisto P/V 23, a marca Casablanca utilizou a tecnologia de bordados
da Coloreel, com a consultoria da parceira Hand & Lock
eficientes e de baixo impacto ambiental para coloração dos fios.

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Pontos de ação
Use fios dissolvíveis para
facilitar o processo de
reciclagem
Os fios dissolvíveis no calor e na água
praticamente reduzem a necessidade de
remoção deles, uma tarefa geralmente
trabalhosa, poluente e cara.
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Utilize tecidos e fios
biodegradáveis compatíveis
Fibras naturais e celulósicas, como
algodão e liocel, podem ser
compostáveis e biodegradáveis. Além
disso, a incorporação dessas
propriedades aos novos materiais
sintéticos ajuda a reduzir a emissão de
microfibras.
Deixe de lado os fios sintéticos
virgens e utilize matéria-prima
certificada e reciclada
No momento em que a indústria se
afasta do poliéster virgem e utiliza
matéria-prima reciclada, garanta que os
seus fios sejam compatíveis. Use
certificações e ferramentas de
rastreamento para autenticar a origem
deles.
Invista em cores sob demanda e
não sobrecarregue o seu
estoque com fios para bordados
Novas tecnologias permitem que os fios
crus sejam coloridos enquanto são
bordados, sob demanda. Além de
reduzir a dependência dos fios pré-
coloridos, esse processo impede a
emissão de poluentes nos cursos de
água.
Prós e contras
Prós
O uso de fios dissolvíveis para costurar as roupas pode facilitar a desmontagem,
reduzindo os custos associados a essa tarefa trabalhosa.
Deixar de lado as fibras sintéticas virgens e utilizar versões recicladas diminui a sua
pegada de carbono. Além disso, o uso de fibras sintéticas biodegradáveis emite
menos microfibras.
Quando combinados com enfeites e materiais compatíveis, os fios de algodão e
liocel de base celulósica tornam a roupa mais fácil de ser compostada.
As tecnologias que colorem os fios virgens enquanto a costura é feita ajudam a
reduzir o seu inventário e ainda protegem os cursos de água da poluição causada
pelos processos de tingimento.
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Contras
As inovações no setor de fios dissolvíveis estão a cargo de marcas pioneiras, que
estão investindo em estratégias circulares. Essas tecnologias ainda não atingiram
escala de mercado.
A incorporação de plástico reciclado aos fios sintéticos tem um impacto ambiental –
e a inconsistência do processo às vezes requer uma nova coloração, o que significa
mais consumo de água, energia e aditivos químicos. Além disso, o poliéster
reciclado também emite microplásticos no meio ambiente.
Para que as roupas sejam totalmente compostáveis, os fios biodegradáveis naturais
precisam ser combinados com tecidos ecológicos compatíveis.
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