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Ecodesign – Visão geral para 2023

Como o design reduz o impacto ambiental? Comece com os fundamentos


do Ecodesign e do Design Circular.

Pegada e ACV

O que é Ecodesign?

Ecodesign (ou design ecológico) é o design de produtos ou serviços que


leva em consideração o impacto ambiental ao longo do ciclo de vida de um
produto .

O termo design ecológico foi estabelecido no início da década de 1970. No


entanto, o termo Ecodesign refere-se frequentemente à Diretiva Europeia
de Ecodesign de 2005. Esta diretiva estabeleceu uma estrutura com
requisitos para determinados produtos.

Neste artigo explicaremos os fundamentos do Ecodesign, o estado atual


da legislação e como o Ecodesign está a ser colocado em prática.

A Diretiva Europeia de Ecodesign

A Diretiva Europeia de Ecodesign ( Diretiva 2009/125/EC ) estabelece


padrões ecológicos para produtos que consomem energia nos estados
membros da União Europeia. Abrange 26 grupos de produtos, que
contribuem com grandes quantidades de emissões de gases com efeito
de estufa.

Grupos de produtos afetados pela Diretiva Ecodesign da UE

• Ar condicionado
• Fornos domésticos e exaustores
• Lâmpadas e luminárias elétricas
• Máquinas de lavar louça domésticas
• Aparelhos de refrigeração domésticos
• Máquinas de secar roupa domésticas
• Máquinas de lavar domésticas
• Aquecedores de ambiente local
• Armários refrigerados profissionais
• Unidades de ventilação residencial
• Caldeiras a combustível sólido e conjuntos de caldeiras a
combustível sólido, aquecedores suplementares, controles de
temperatura e dispositivos solares
• Aquecedores de ambiente, aquecedores combinados, conjuntos de
aquecedores de ambiente, dispositivos de controlo de temperatura
e dispositivos solares e conjuntos de aquecedores combinados,
sistemas de controlo de temperatura e dispositivos solares
• Televisores
• Aspirador de pó
• Aquecedores de água, tanques de armazenamento de água quente
e pacotes de aquecedores de água e dispositivos solares
• Máquinas de lavar e secar roupa combinadas para uso doméstico
• Produtos de aquecimento de ar, produtos de resfriamento,
resfriadores de processo de alta temperatura e unidades ventilo-
convectoras
• Circuladores (circuladores autônomos sem glândulas e circuladores
sem glândulas integrados em produtos)
• Computadores e servidores de computador
• Motores elétricos
• Fontes de alimentação externas (consumo de energia elétrica sem
carga e eficiência ativa média de fontes de alimentação externas)
• Ventiladores acionados por motores com potência elétrica de
entrada entre 125 W e 500 kW
• Decodificadores simples
• Transformadores de potência de pequeno, médio e grande porte
• Consumo de energia elétrica em modo de espera e desligado de
equipamentos elétricos e eletrônicos domésticos e de escritório
• Bombas de água
• Fonte: União Europeia

Os EUA, Austrália, Brasil, China e Japão têm legislação semelhante à


Diretiva de Ecodesign da UE.
Produtos de Ecodesign: Como é o design ecológico na prática?

Então, como é o Ecodesign na prática? Para se ter uma ideia disso, aqui
estão 5 exemplos de Ecodesign ao longo do ciclo de vida do produto.

Modelos de ciclo de vida do produto

Fase de matéria-prima: escovas de dente de bambu

O principal objetivo do Ecodesign na fase da matéria-prima é a utilização


de menos ou melhores materiais de forma a reduzir o impacto dos nossos
produtos.

As escovas de dente de bambu são um exemplo bem conhecido disso: em


vez de plástico, que precisa ser devidamente reciclado e muitas vezes
acaba em aterros sanitários, as escovas de dente de bambu podem
simplesmente ser compostadas. O bambu também é uma mercadoria
renovável e de rápido crescimento, o que os plásticos não são.

Fase de Processamento: Reciclagem de grânulos

Durante o processamento de matérias-primas em produtos, ocorrem


frequentemente desperdícios e perdas. Além disso, energia e água estão
sendo utilizadas no processo de fabricação.

A Lightweight Containers, fabricante de barris de cerveja, reaproveita os


resíduos gerados na fase de beneficiamento como matéria-prima na
produção de seus produtos. Isso reduziu significativamente
o impacto geral de seus produtos.

Fase de transporte: E-Bikes em vez de carros movidos a


combustíveis fósseis

A fase de transporte muitas vezes desempenha um papel menor no


impacto global de um produto. No entanto, alterações neste processo
podem contribuir para uma melhor pegada do produto .

Fonte: Coolblue

A loja holandesa de eletrônicos Coolblue entrega seus produtos em e-


bikes coloridas, em vez de remessas convencionais movidas a
combustíveis fósseis, reduzindo assim o impacto durante toda a fase de
transporte.

Fase de Uso: Redução da lavagem de camisas

Como nossos clientes usam nossos produtos? Na moda, a maior parte do


impacto de um produto ocorre na fase de uso. As peças de vestuário são
lavadas, passadas e secas. Mas mesmo aqui, os princípios da concepção
ecológica podem ajudar a reduzir o impacto de um produto.

Fonte: Kickstarter/LABFRESH

A startup LABFRESH , com sede em Amsterdã, vende camisas


masculinas que repelem manchas e são antibacterianas. Dessa forma, as
camisas precisam ser lavadas bem menos e podem ser usadas por uma
semana seguida. Isto reduz o consumo de água e energia para lavar as
camisas e aumenta significativamente a vida útil dos seus produtos.

Fase de Resíduos: Facilitando a reutilização e a reciclagem

Não importa se é um bem de consumo rápido (FMCG) ou um produto com


um ciclo de vida mais longo – em algum momento, os produtos estão a ser
eliminados. Projetar a eventual deterioração de um produto é uma tarefa
central do Ecodesign.
A MudJeans , uma empresa de moda holandesa, estabeleceu muitas
medidas para tornar os seus produtos mais circulares. Para reduzir o
desperdício, lançaram (entre outras atividades) um programa de leasing
dos seus jeans.

Rótulos de ecodesign: o que significam?

A Diretiva Europeia de Ecodesign está intimamente ligada à UE


Ecológico. No entanto, existem muito mais rótulos no mercado, o que pode
causar confusão tanto para consumidores como para empresas. Na
norma ISO 14020-14025 , são definidos três tipos de rótulos: rótulos
autodeclarados, rótulos ambientais e declarações ambientais de
produtos. Em nosso guia, você pode aprender mais detalhadamente como
essas normas ISO funcionam .

Normas ISO para Gestão Ambiental

Existem prémios especiais de Ecodesign?

Até ao momento, não existem prémios de Ecodesign transeuropeus ou


internacionais. No entanto, existem prémios locais de Ecodesign. Um
exemplo respeitável é o Bundespreis Ecodesign , o prêmio alemão de
Ecodesign lançado em 2013.
Design circular vs. Ecodesign

Como parte do movimento em direção a uma Economia Circular ,


a Fundação Ellen MacArthur estabeleceu princípios de design para design
circular. Estes estão alinhados com os princípios do design ecológico, mas
vão um pouco mais longe e fornecem uma estrutura completa para o
design de produtos. Você pode encontrar o guia aqui .
https://www.circulardesignguide.com/

O que é Economia Circular?

A economia circular é uma nova forma de pensar o nosso futuro e como


nos relacionamos com o planeta, dissociando a prosperidade econômica
e o bem-estar humano do consumo crescente de novos recursos. Para
isso, materiais circulam no máximo de seu valor como nutrientes
técnicos ou biológicos em sistemas industriais integrados,
restaurativos e regenerativos.

O desenho intencional de produtos e processos para


a circularidade possibilita o aproveitamento inteligente dos recursos em
usos industriais contínuos. Nesse sistema circular, eliminamos o conceito
de “lixo”, já que resíduos se tornam nutrientes em novos processos – e
produtos ou materiais podem ser reparados, reutilizados, atualizados ou
reinseridos em novos ciclos com a mesma qualidade ou superior, ao
invés de serem “jogados fora”.
Este modelo baseia-se no entendimento do funcionamento efetivo de
processos que ocorrem na natureza, e sua replicação em processos
industriais, otimizando os sistemas produtivos e negócios.

Neste novo sistema industrial, entendemos que fluxos de materiais são de


dois tipos: nutrientes biológicos, projetados para retornar à biosfera de
forma segura; e nutrientes técnicos, que são projetados para circular em
alta qualidade na tecnosfera, sem entrar na biosfera.

Economia Linear

A economia circular contrasta com o sistema produtivo atual, que tem a prática
de ‘extrair-produzir-descartar’, e é o que chamamos de economia linear.

Em um sistema linear, o crescimento econômico depende do consumo


de recursos finitos, o que traz o risco iminente de esgotamento de
matérias-primas. Com menos recursos disponíveis, há custos cada vez
mais elevados de extração, o que traz instabilidade e insegurança em
relação ao futuro.

Junto com os problemas associados à extração insustentável de recursos,


temos também a poluição decorrente da produção e descarte de produtos.
O modelo linear gera um volume sem precedentes de resíduos
inutilizados e potencialmente tóxicos para os seres humanos e os
sistemas naturais.

A ideia de uma economia circular vem para nos guiar no desafio de


superar esses dilemas, e criar novas formas – mais inteligentes – de habitar
este planeta.
Economia Circular

A economia circular propõe eliminar o conceito de lixo: cada material é


aproveitado em fluxos cíclicos, o que possibilita sua trajetória do berço ao
berço (ou em inglês Cradle to Cradle) – de produto a
produto, preservando e transmitindo seu valor.

O destino final de um material ou produto deixa de ser apenas uma


questão de gerenciamento de resíduos, mas parte do processo de
design de produtos e sistemas que já pensam em próximos usos desde
a sua concepção.

Esse novo pensamento vem para iluminar o desafio de transformar o atual


sistema industrial, social e econômico. Ele propõe um outro tipo de
relacionamento com nossos bens e materiais, que permite economizar
recursos e energia, gerar novos tipos de negócio e criar empregos locais.

A economia circular é um movimento que vem sendo construído


dinamicamente nas últimas décadas por diversos atores e setores da
sociedade, entre fundações, governos, empresas e organizações da
sociedade civil de todo o mundo.
É uma ideia mobilizadora, que sinaliza a possibilidade de interações
benéficas entre os seres humanos e o planeta, em uma visão positiva do
futuro que a gente quer – e precisa – construir.

Um ótimo recurso para entender os princípios básicos da Economia


Circular é a animação “Economia Circular: Re-pensando o Progresso”,
produzida pela Fundação Ellen MacArthur com o artista Luke
Stenzhorn, reproduzida abaixo com legendas em Português.

O que éDesign Circular?

Para entender o que é design circular, precisamos perceber como o design


de produto ‘tradicional’ contribuiu para o desenvolvimento insustentável
da economia linear, e o papel crucial de um novo olhar para o desenho
industrial na transição para a economia circular.

Talvez por ser de origem estrangeira, no Brasil a palavra ‘design’ é muitas


vezes malcompreendida. Associada a móveis caros ou depilação de
sobrancelhas, pode soar como algo supérfluo. Nada mais longe da
verdade.
Segundo a designer e pesquisadora Mônica Moura, “Design significa ter e
desenvolver um plano, um projeto, significa designar. É trabalhar com
a intenção, com o cenário futuro, executando a concepção e
o planejamento daquilo que virá a existir”. Mais sucintamente, nas
palavras do pioneiro Alexandre Wollner: “design é projeto”.

O design como disciplina e profissão surgiu junto com a Revolução


Industrial. Ele chega a partir da necessidade de um novo pensamento
para a concepção e produção em massa, trazendo como principal
benefício a ampliação do acesso a produtos e serviços.
Porém, os critérios usados para esse processo não incluem a valorização
e recirculação dos recursos. Pelo contrário: a partir dos anos 30, num
esforço de estimular a economia depois da Grande Depressão de 1929,
designers passam a ser incumbidos de desenhar novos produtos a partir
da obsolescência programada. Esta estratégia vigora até hoje,
especialmente na indústria de eletrônicos. Isso significa que os produtos
são projetados com a intenção de que se tornem obsoletos e sejam
descartados e substituídos o mais rápido possível. A obsolescência pode
ser funcional, como no caso de lâmpadas que têm sua vida útil reduzida
pela substituição de materiais duráveis por outros de menor qualidade, ou
impressoras programadas para parar de funcionar após certo número de
impressões. E existe ainda a obsolescência percebida: criam-se novos
modelos com mudanças de estilo, estimulando consumidores a desejar
algo um pouco melhor ou mais novo, mesmo que seu produto ainda
funcione perfeitamente.

Para além dessa estratégia intencional que estimula o desperdício e o


consumismo, não é difícil perceber que o design atual não inclui o
objetivo de recuperar o valor dos materiais e componentes de um
objeto após o seu descarte. Em sua grande maioria, os produtos no
mercado não foram desenhados para serem reutilizados,
desmontados ou reciclados. A logística reversa desses produtos torna-
se, então, inviável, seja por motivos técnicos ou financeiros. Por não terem
sido concebidos com esse objetivo em mente, o processo de
desmontagem danifica componentes e materiais, e a reciclagem se limita
a uma subciclagem ou downcycle, resultando em materiais de qualidade
e funcionalidade inferior.

No âmbito da saúde e segurança, o desenho industrial também deixa


muito a desejar, com elementos tóxicos embutidos nas mais diversas
linhas de produção.

Um exemplo são roupas de poliéster com antimônio em sua composição


– um metal pesado potencialmente cancerígeno. Quando em contato
contínuo com a pele, a substância causa irritação e alergia, podendo gerar
problemas gastrointestinais e no sistema reprodutivo. E isso não é
comunicado de forma clara ao consumidor. Ao comprar uma camiseta
esportiva de poliéster, você não sabe que esses aditivos estavam incluídos
e que seriam ou poderiam ser prejudiciais à sua própria saúde ou à saúde
dos seus familiares.

A intenção do design na indústria atual se limita, assim, a criar um produto


atraente que seja acessível às pessoas, siga as regulamentações, goze
de desempenho suficiente ou aceitável e dure o bastante para atender às
expectativas do mercado.

Mas isso não é suficiente.

Agora que temos consciência das consequências negativas desse


modelo, e da economia linear como um todo, é fundamental mudarmos
os critérios que definem um bom design.

Não podemos dizer que um produto é de boa qualidade se ele é tóxico


para as pessoas ou para o planeta, e se os materiais usados na sua
composição se transformam em lixo após o primeiro uso. Por isso, o
desenho de produtos também precisa incluir critérios de circularidade e
de saúde humana e ambiental.

Esse quadro é desafiador, mas traz uma enorme oportunidade de


inovação através do design, em todas as indústrias.

Assim como os designers contribuíram para o desenvolvimento da


economia linear, eles têm o potencial de liderar a transição para uma
economia circular.

Se o lixo é um erro de design, o design circular é um elemento crucial


para criarmos um mundo sem lixo.

Ou seja, um mundo em que produtos e sistemas são projetados para


manter o valor dos recursos em circulação para as gerações futuras.

Em que, mais do que reduzir o impacto negativo de nossas atividades,


podemos criar processos benéficos para os seres humanos e para a
biosfera.

Os designers e fabricantes que quiserem se aventurar por este caminho


não estarão sozinhos. Cada vez mais profissionais, empresas e
organizações estão apostando neste modelo, e investigando os princípios
que guiam a transição para um futuro circular.

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