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Helen Palmer
01.18.23 - 15 minutos
Zara
Resumo
Para evitar o pior cenário das mudanças climáticas, até 2030 o mundo precisa
reduzir as emissões de CO2 em metade dos níveis registrados em 2010.
O CO2, que nunca esteve tão concentrado na atmosfera como nos dias atuais, já pode ser
encontrado em uma infinidade de produtos que usamos todos os dias. Porém, também
pode ser usado para aumentar a durabilidade e resistência de plásticos e concreto, além
de ter o potencial de substituir fibras derivadas de petróleo na indústria têxtil.
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) já deixou
claro que a tecnologia de captura de carbono será fundamental para limitar o
aquecimento global a 2°C, meta estabelecida no Acordo de Paris. A ONU estima que a
indústria da moda seja responsável por entre 8% e 10% de todas as emissões de carbono
do mundo, enquanto outras estimativas colocam essa porcentagem entre 2% e 8%.
Expoentes da indústria de captura de carbono estão desenvolvendo tecnologias que
usam o composto como matéria-prima. Entre elas, temos processos de engenharia que
transformam CO2 e metano (capturados em filtros industriais ou diretamente do ar) em
materiais e ingredientes usando um processo chamado captura e utilização de carbono
(CCUS). Essas tecnologias estão em fase de pesquisa, desenvolvimento, investimento ou
pilotagem, e algumas marcas vanguardistas já ajudaram a indústria de carbono a chegar
a uma conclusão: é preciso muito trabalho antes que elas se tornem disponíveis e
acessíveis em escala industrial.
Essa matéria analisa os processos e oportunidades que a captura de carbono oferece
para a indústria de moda, destacando empresas relevantes nesse mercado e marcas que
já estão testando essa tecnologia.
Made of Air
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Captura de carbono na indústria têxtil
Expoentes da indústria de tecnologia têxtil estão capturando metano e CO2 do ar
e usando biotecnologia e química verde para transformá-los em materiais com
baixa pegada de carbono.
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Estudo de caso: a LanzaTech amplia sua capacidade de captura de
carbono
Fundada em Chicago, a LanzaTech dominou as manchetes no ano passado graças
à sua parceria com a Zara e a Lululemon. Juntas, criaram peças de roupa
conceituais usando uma fibra sintética à base de CO2 capturado em
siderúrgicas.
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Estudo de caso: celulose à base de carbono
Fundado em 2020, o Rubi Laboratories – um dos ganhadores do Prêmio Mudança
Global da Fundação H&M e membro do Programa de Inovação Global 2022 da
Fashion for Good – desenvolveu uma tecnologia de produção de celulose que
está em vias de ser patenteada.
Potencial comercial: esse processo tem um grande diferencial, pois usa menos água,
terras e substâncias químicas do que a celulose produzida a partir de línter de algodão
ou árvores, gerando uma viscose rastreável, sustentável e livre de substâncias químicas.
Essa fibra pode ser processada com os mesmos equipamentos usados na manufatura da
viscose, o que a faz compatível com a produção industrial.
Inspirada na fotossíntese, a tecnologia do Rubi armazena emissões das indústrias têxtil e
Rubi Laboratories Rubi Laboratories
alimentícia em um biorreator, onde enzimas estabilizadas as transformam em fibras
celulósicas longas, biodegradáveis e carbono negativas. Essa celulose pode ser
processada da mesma forma que o liocel e a viscose, o que facilitaria sua aplicação
comercial. A startup afirma que cada peça feita com esse material captura o equivalente
a duas banheiras de CO2 da atmosfera.
Investimentos recentes: o Rubi acaba de receber um aporte de US$ 4,5 milhões para
aperfeiçoar essa tecnologia, em um investimento conjunto da Talis Capital, Incite
Ventures e Collaboration Fund. No momento, a empresa está testando o processo em
protótipos com suas parceiras Ganni e ThredUp.
Rubi Laboratories
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Adoção comercial
Para provar que as fibras à base de carbono capturado têm viabilidade
comercial, algumas marcas estão desenvolvendo protótipos em parceria com
expoentes da área.
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Acessórios
Resinas, compósitos e couros à base de CO2 reciclado já estão sendo testados
em óculos, relógios e acessórios.
Óculos: em 2021, a marca londrina Pangaia Lab lançou uma coleção-cápsula de óculos
com lentes de CO2Made, um policarbonato criado pela Twelve, marca californiana
especialista em reutilização de carbono. Para testar a futura viabilidade comercial do
modelo, foram lançadas 200 unidades nas cores preto, prata e azul-cobalto. A H&M
também lançou armações de óculos sustentáveis em 2020. Os modelos eram feitos com
um composto à base de biochar vegetal e sustentável da empresa berlinense Made of
Air.
Rastreados por blockchain e com selo OEKO-TEX, o AirCarbon (biomaterial alternativo
Skybaron H&M
ao couro) da empresa californiana Newlight Technologies já é usado pela Covalent. As
armações de resina da marca são feitas com 78% de AirCarbon, 10% de borracha natural
seca e 12% de material sintético.
Acessórios em couros alternativos: a Covalent também já usou o AirCarbon em itens
básicos, como uma tote bag, uma bolsa clutch e uma capinha de celular feitos com 51%
AirCarbon, 14% biomateriais e 35% EVA sintético.
Relógios: a SkyBaron, marca novaiorquina e marketplace de captura e reciclagem de
CO2, usou o material à base de carbono reciclado da Carbon Upcycling Technology e um
design do estúdio taiwanês 22Studio para criar o Carbon Watch. O protótipo possui um
mostrador de carbono capturado, ponteiros de latão e pulseira de couro, resultando
num visual luxuoso.
Como implementar: trabalhar com empresas inovadoras no desenvolvimento de Pangaia Covalent Fashion
pequenos itens e acessórios é uma boa forma de acelerar a adoção comercial dos
produtos à base de CO2.
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Cores
Fabricantes inovadores estão transformando fuligem e biochar (biocarvão
vegetal) em novos pigmentos, corantes e tintas. Em outras palavras, usando
dióxido de carbono para tingir e pintar materiais.
Tintas à base de carbono: a AIR-INK da Graviky Labs é uma tinta atóxica, carbono
neutra e solúvel em água feita a partir de uma mistura de fuligem condensada, óleos e
soluções líquidas. Com sede na Índia, a empresa tem como objetivo transformar sua
própria poluição em novos produtos. A Pangaia, marca também conhecida pela
inovação, usou a AIR-INK em uma pequena coleção de camisetas estampadas em 2021, e
planeja utilizá-la em grande parte das suas peças estampadas nos próximos anos.
Em 2021, a marca britânica Vollebak lançou uma camiseta feita com uma mescla de
Nike Vollebak
liocel e linho e estampada com o corante à base de espirulina criado pela Living Ink,
empresa de Denver, Colorado. Para criar esse corante sustentável, a empresa transforma
algas em biochar (um biocarvão obtido pela queima de biomassa de origem vegetal),
processo que preserva todo o CO2 capturado por elas. Em seguida, esse carvão é
misturado com um aglutinante acrílico à base de água e transformado em uma tinta
capaz de armazenar carbono por anos. De acordo com a Living Ink, a tinta é capaz de
remover até 4,16 quilos de CO2 do ar. A tinta eco6 da especialista em inovação HEMP
BLACK é derivada do caule do cânhamo, um material rico em carbono. De origem
biológica e certificado pela USDA, o carbono armazenado pela planta é misturado a uma
solução aquosa e atóxica, resultando em uma tinta que pode ser usada em superfícies e
tecidos porosos e não porosos.
Corantes à base de CO2: a empresa holandesa DyeCoo usa CO2 reciclado para ativar
seus corantes concentrados, circulares e de baixo custo energético. Quando Pangaia Hemp Black
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O que vem por aí: acabamentos fotossintéticos
Ainda em fase de idealização e desenvolvimento, uma nova geração de
acabamentos têxteis está prestes a chegar ao mercado. Esses revestimentos
fotossintéticos permitirão que as roupas transformem CO2 em oxigênio ou
liberem carbono em ambientes controlados para viabilizar a produção de
alimentos.
de US$ 100 milhões entre a H&M Foundation, o Hong Kong Research Institute of Textiles
& Apparel (HKRITA) e o Hong Kong Innovation & Technology Fund.
Como implementar: especialistas em moda utilitária devem considerar o uso de
revestimentos 'vivos'. Esses novos acabamentos e tratamentos podem ajudar a oxigenar
ambientes e facilitar a produção alimentícia.
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Pontos de ação
Identifique onde a Trabalhe com empresas Firme parcerias pré- Troque os pigmentos Foque nos seus objetivos
tecnologia de captura de da área para converter competitivas com derivados de petróleo de longo prazo. Trabalhe
carbono pode se carbono em fibras e marcas e fornecedores por versões à base de com seriedade e evite o
encaixar na sua materiais com aplicação para inovar em escala carbono capturado greenwashing
estratégia de redução de comercial industrial
emissões
Para acelerar a adoção Nessa área, todos os projetos- A colaboração e o investimento Conhecidos como Carbon No futuro, fibras e materiais à
comercial dos materiais à base piloto devem ter um mesmo são essenciais para estimular a Black, os pigmentos pretos base de carbono capturado
de carbono, será preciso objetivo: fomentar e acelerar a inovação na área de captura de derivados de petróleo são serão uma importante
incentivar seus fornecedores a conversão de emissões da carbono. Use sua influência comprovadamente tóxicos. ferramenta de redução de
usar essa tecnologia em suas indústria da moda em para unir marcas, investidores, Tintas e corantes à base de emissões industriais. Vá além
fábricas. polímeros, tecidos, materiais e especialistas em inovação biochar e carbono capturado das coleções conceituais e
revestimentos neutros em tecnológica e fornecedores em podem substituir esses analise como sua empresa
carbono. prol de uma mesma missão: pigmentos e ajudar sua pode viabilizar a aplicação
alcançar todo o potencial das empresa a reduzir sua pegada comercial dessas tecnologias
tecnologias de baixo e zero de carbono. na próxima década.
carbono.
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Prós e contras
Prós Contras
O interesse pelas tecnologias de captura de carbono está crescendo. Nos últimos Essa tecnologia é cara, e enquanto o custo da liberação de carbono na atmosfera for
cinco anos, mais marcas e fornecedores se uniram para testar e desenvolver praticável, a indústria terá poucos incentivos econômicos para adotá-la. No entanto,
inovações tecnológicas nessa área. há uma série de estratégias que reduzem o uso de energia e tornam a captura de
carbono mais econômica.
Capturar emissões de carbono de filtros industriais pode reduzir o uso de fibras
derivadas de petróleo e a quantidade de água, terra e substâncias químicas Esses materiais ainda não estão disponíveis para grande parte das marcas – no
necessárias para cultivar e processar fibras vegetais. momento, sua presença no mercado se limita a projetos-piloto e coleções
colaborativas. No entanto, conforme a demanda por escalabilidade cresce, os
Materiais à base de CO2 capturado causam menos impacto ambiental e podem
preços tendem a baixar, tornando o uso dessas inovações mais acessível.
armazenar carbono de forma segura por muitos anos.
Especialistas em inovação e fabricantes terão de usar ou readaptar processos
Tecidos, fibras e filamentos à base de carbono capturado foram criados para serem
processados por equipamentos industriais tradicionais. Isso mostra que essas industriais existentes para baratear o custo de produção desses materiais.
tecnologias podem ser usadas, eventualmente, em escala industrial. Para elaborar uma estratégia sustentável de longo prazo, as marcas de moda devem
testar e investir nessas tecnologias emergentes.
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