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Fortaleza
2019
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Rebeca Alexandrino Rabelo
Fortaleza
2019
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Dedicatória
Agradecimento
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Agradeço primeiramente a Deus que me propiciou a
vitória, pois Deus capacita os seus e os faz vencedores,
agradeço a minha mãe, digníssima dona Luciene
Alexandrino Rabelo por ser a precursora da escrita na
família e através de seus magníficos poemas da Flor do
Norte acender em mim a centelha de amor pela literatura e
dessa forma também escrever histórias maravilhosas
fazendo pulsar este meu coração bombeando as letras
para contar as história de meus livros e eu também não
podia esquecer se você caro leitor pois qual o sentido de
escrever se não fosse pelo amor ao conhecimento e para
levar a historia com todo o carinho até você pois sintam-se
abraçados em cada letra.
Rebeca Alexandrino Rabelo
Epígrafe
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Nos pequenos gestos é que podemos medir o valor dos
homens íntegros e assim os pequenos se tornam
grandiosos pela beleza de seus atos, e o nordestino é sem
duvida perito em resiliência.
Rebeca Alexandrino Rabelo
Apresentação
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Nesse livro será contada a história de Francisco José do
Nascimento o lendário Dragão de uma forma que você
nunca viu, será como olhar através dos olhos dele e voltar
no tempo para reviver todas as coisas que aconteceram
para culminar na libertação dos escravos em 25 de março
de 1884 quatro anos antes de a lei áurea que só foi
promulgada em 13 de maio de 1888.
Sem duvida o feito histórico de Dragão auxiliou para que
culminasse na concretização da lei áurea assinada pela
princesa Isabel, bem como emplacar o início da construção
de uma nova sociedade abolindo a escravidão e dando aos
negros a oportunidade de recontar sua historia e reconstruir
sua identidade cultural e étnica.
Essa incrível história mostrará a trajetória de Dragão do
mar desde sua infância até as conquistas mais importantes
de sua vida e assim você leitor vai se emocionar e viajar
nas mais belas histórias de uma pessoa real gente da
gente que mudou a história.
Prefácio
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Ouse sonhar tal qual Dragão do Mar sonhou por um
mundo onde a justiça e a igualdade se faz presente através
de cada um de nós, as vezes os milagres são apenas
pessoas boas que agem diferente e mudam tudo em um
pequeno ato, um pequeno gesto pode ser que através
disso você também entre para a história assim como Chico
da Matilde entrou, por isso ouse agir pois somente os
homens de ação que acreditam em seus ideais é que vão
contemplar os bons frutos de seus atos.
Ouse fazer um desejo pois desejar abre caminhos para a
esperança e ela é o que nos mantem vivos, por isso
acredite em seu coração e em sua própria bondade, pois
ao fazê-lo outros acreditarão nisso também, porque assim
como o foi preciso Dragão do mar dar o primeiro passo
para se iniciar o movimento pelo abolicionismo para que
outros pegassem o exemplo, você também carrega em sua
mão a escolha de fazer alguma coisa ou ser totalmente
omisso.
Sumário
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7
Capa...............................................................1
Folha de rosto.................................................2
Dedicatória......................................................3
Agradecimento................................................4
Épigrafe...........................................................5
Apresentação..................................................6
Prefácio...........................................................7
1 Pequeno Chico da Matilde...........................9
2 Navio Tubarão.............................................22
3 Fortaleza 1870.............................................35
4 Palavra e ação.............................................47
5 Navio Espirito Santo....................................58
6 Delfina e Thereza........................................67
7 Sem tempo a perder....................................73
8 Jangada liberdade.......................................82
9 A guerra.......................................................91
Sobre a autora................................................97
Bibliogbrafia....................................................99
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-Eu me chamo Francisco José do Nascimento, filho de
Manoel do Nascimento um pescador e Matilde Maria da
Conceição que era rendeira, como tantos outros Franciscos
de vida sofrida e filho do Ceará eu vim de origem muito
humilde e simples, quantos Franciscos há nesse mundão
de meu Deus?
-Eu não sei ... Mas eu só sei de uma coisa, nada e nem
ninguém poderá dizer quem você é apenas por causa do
seu nome ou de onde você veio.
-As vezes me pego pensando em meu próprio nome
Francisco José do Nascimento... Para ironia do destino ou
um designo muito significativo de Deus pois a partir de mim
tanta coisa mudou na história do meu Ceará que realmente
posso dizer que a luta pela liberdade e a abolição
começava a se desenrolar ali, naquele lindo dia de 15 de
abril de 1839 quando nasci, meus pais contaram-me que
naqueles tempos eram tempos muitos difíceis em que a
criança cedo se tornava homem e aprendia a engolir o
choro para trabalhar e levando o sustento para casa ajudar
os pais, mas o que eu não sabia era que naquela tarde de
abril ensolarado o sol de Aracati brilharia com muito mais
resplendor para a justiça e a coragem dos homens de bem
e que meu choro ao nascer um dia entonaria o brado
retumbante da liberdade dos cativos, pois ninguém nunca
se vê grande até que precise mostrar o caráter, a fibra que
tem e se tornar o que um dia vocês jovens chamariam de o
Dragão do Mar .
-Como será a infância de vocês aí do futuro, acho que
nunca poderei imaginar nem nas minhas mais longínquas
partes da imaginação e olha que como todo bom Cearense
eu sou mestre na criatividade.
-Na minha época não se tinha muito tempo para brincar
porém o pouco de tempo que me restava para a criança ser
criança eu lembro-me de jogar cabiçulina com os filhos dos
vizinhos, a bola era de meia mesmo bem artesanal e como
toda criança eu amava futebol e como não tinha brinquedos
caros na minha época se brincava com boi de osso pois
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meus pais não tinham condições de comprar algo melhor e
dentro daquela imensa simplicidade eu era muito feliz por
ter pai e mãe, isso já era tudo para mim.
-Hoje em dia diriam que minha cor seria parda, meu pai
possuía a pele mais escura e minha mãe alta e forte tinha a
pele mais clara, mas o que significa cor da pele para você?
-Se para mim não existe uma cor que designe cor de pele,
se todos os tons divinamente arquitetados por Deus são
como seu ilustríssimo aquarela e o conceber de uma nova
vida é a mistura dos tons em uma nova tonalidade divina,
talvez por isso olhei sempre para o meu semelhante com
olhos de amor pois não sou superior e nem inferior a
ninguém, somos todos iguais e nada vai mudar o fato de
que eternamente seremos muito mais do que a nossa
aparência aparenta ser, debaixo de nossas peles há um
sangue vivo que pulsa nas veias e que faz bater um
coração humano assim como o de teu próximo e se tu não
ouvires o grito de existência de um coração é porque você
deixou de ser um ser humano.
-Lembro-me que meu pai costumava me levar para ir ver o
mar e ele dizia:
-Meu filho, o filho de peixe peixinho é, eu vou te ensinar o
único ofício que seu velho pai aprendeu durante toda a
vida, posso não saber ler as letras dos homens porém eu
leio o mapa das estrelas para voltar a terra firme quando já
não vejo mais a terra na linha do horizonte, seu velho pai
sabe quando o mar está para peixe por causa do ciclo da
lua bem como sei também quando o mar estará tormentoso
e sua ressaca se for desafiada pode lhe custar a vida.
Dessa forma eu que era apenas um menino filho de
pescadores em Canoa Quebrada, como tantas outras
crianças da vilinha de pescadores eu também não tinha lá
muita escolha, havia um grande mistério naquele universo
azul um negocio naquela vastidão que eu não sei muito
bem como explicar, parece destino quando o azul do mar
de Aracati te chama, pode ser um convite para se tornar
um genuíno guerreiro do mar.
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Dragão do mar de verdade são os guerreiros do mar do
meu Ceará que enfrentam as ondas, o mar bravio e trazem
para suas casas o sustento, são como meu pai e eu fomos,
sobreviventes das altas e baixas da maré do respirar do
mar que sobe e desce, sobreviventes do sol que torra o
juízo de qualquer cristão vivente no pico do meio dia, o
calor assola o mar castiga más a labuta não pode parar
pois barriga não espera.
Meu pai sempre dizia assim:
-Vê que céu e que mar, pois isso é tudo o que posso deixar
como herança para você meu filho.
-Eu sinceramente já estava muito satisfeito em ter uma
herança tão vasta o mar até onde a vista alcançasse e um
ofício que eu exerceria pelo resto de minha vida com
dedicação, por um momento eu me sentia um pequeno rei
dos mares, a melhor herança que um pai pode deixar para
um filho é o ensinamento de um oficio pois se te dou o
peixe podes se viciar na facilidade de ter tudo na mão
enquanto se eu te ensinar a pescar, toda vez que sentir
fome saberá exatamente o que fazer, pois assim como
José ensinou o oficio de carpinteiro ao seu filho Jesus ,
meu pai me e ensinou a arte de pescar.
- Lembro-me que minha mãe dizia para eu tomar cuidado,
ela sempre estava orando por mim pedindo a Nossa
Senhora dos navegantes para guardar meus caminhos, na
missa sei que seu pensamento era no sentido de pedir a
Deus que a pesca melhorasse e quem sabe com isso
pudesse trazer melhorias a casa.
Minha mãe sempre dizia isso ao meu pai:
-Amor vá com cuidado e que Deus o acompanhe.
-No meu tempo o dia de domingo era muito especial, era o
melhor dia da semana pois mesmo muito simples Matilda
minha mãe separava as melhores roupas para que nunca
se fosse malamanhado para a igreja, o dia do domingo era
o dia em que a religiosidade tomava de conta de toda a
cidade de Aracati e o respeito pelo dia do descanso se
fazia presente, eu que naquele tempo era criança ainda,
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tinha de seguir a tradição e os costumes dos mais velhos e
procurar brincar com as outras crianças sem sujar as
roupas porém nem as advertência de minha mãe me fazia
parar a algazarra da brincadeira junto as outras crianças
era preciso aproveitar o tempo pois eu sabia que no dia
seguinte todo o trabalho como pescador junto ao meu pai
começaria outra vez .
-Eu era muito jovem ainda para entender, como que uma
igreja que prega Deus aceitava tão abertamente que
existisse a escravidão, como pode um homem achar que
pode ser dono de outro homem como se ele fosse uma
mercadoria e quantas vezes enquanto pescava com meu
pai via os navios negreiros chegarem e de lá em condições
cruéis e desumanas saírem de lá seres humanos
acorrentados, despidos tratados como animais e vendidos
como a força de mão de obra nas fazendas para os
senhores de engenho e aqui em Aracati para as fazendas
de algodão e de criação de gado, o negócio era altamente
lucrativo um trabalhador que morre de tanto trabalhar e não
recebe nada por isso, porém a igreja fazia vistas grossas
para a realidade que estava diante de seus olhos, pois
quando o homem esquece de ter humanidade para com o
próximo é sinal de que pode-se perder a fé em todo o resto.
-Foi onde vendo isso meus olhos de criança já tão cedo
viram pela primeira vez até que ponto o ser humano pode
ser cruel e conseguir se superar no quesito maldade, tudo
em nome do mercado consumidor e da produtividade, a
produção não era com aquela parafernalha que vocês hoje
chamam de máquinas, a máquina que hoje colhe e faz o
que 1000 pessoas demorariam muito tem para fazer
naquele ano a máquina era o escravo, a força da
produtividade era o escravo que sendo nobres de sua
saudosa terra eram capturados, aglomerados, traficados e
trazidos ao Brasil como sequestrados de sua nação, cheio
de saudade e de bem querer a sua amada África a terra
mãe e que proibidos de falar sua língua pátria, proibidos de
cultuar seus deuses e de transmitir os conhecimentos mais
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amplos de sua cultura por ser considerados contrários ao
que pregava a religião católica, como é que transmitiriam
valores de geração em geração como era feito em sua terra
natal, sendo que tinha de ser feito tudo escondido, o
etnocídio não foi só de vidas mais também da cultura
africana ancestral, através da caça aos negros para o
escravagismo e a proibição de sua cultura e culto religioso.
-O que foi que eles fizeram para merecer serem tratados
assim, era isso que eu me perguntava quando via as
jangadas chegarem até o navio negreiro e transportarem
suas vitimas inocentes para mão do carrasco que os
mataria de tanto trabalhar e que seria por sua vez seu
senhor o dono da fazenda, seu futuro proprietário como se
o ser humano fosse como um bicho que se compra e se
vende quando bem se tem vontade e pensando nisso eu
comecei a amar a liberdade e assim como eu era livre
passei a desejar que eles pudessem provar desse mesmo
sentimento de igualdade.
-Qual é o crime mais grave, a falta de humanidade para
com o próximo ou a omissão da ação porque lhe convém?
-Eu sonho com o dia em que seremos todos iguais como as
gotas do mar se unem para formar os oceanos pensava
eu , como que em um sonho e como todo cearense
também é feito de sonhos eu também sonhava em poder
dar uma vida melhor para os meus pais porque a vida na
vila de pescadores era muito difícil .
-Foi aí que aprendi desde cedo que o nordestino é o povo
mais batalhador que existe no mundo, pode sofrer sim, mas
é porque lutou, pelejou ,fez de tudo para ter um espaço e
ninguém deu a oportunidade, até recorrer ao santo de
devoção se recorre porém sem resposta, no céu se procura
pela barra e a barra não tem, a chuva não vem e a angustia
no coração entra sem dó e não tem oração que dê jeito na
situação é da coragem que o nordestino cria a força de
onde nem tem para resistir e fazer de seu sertão sua
morada fidedigna na cara e na coragem, pois não é só fé é
também esforço.
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-O nordestino nunca foi fraco é o espécime mais resistente
que dei de fé pois migra com a seca, cria meios de viver
onde tudo parece inóspito e sem possibilidades e a
inteligência e a criatividade é que faz com que transformem
todo o mundo ao seu redor, o nordestino devia ser
estudado porque como a gente posso garantir que não tem
não.
-Uma vez meu pai me disse quando eu era pequeno, filho
as velas são assim mesmo, porque fica mais fácil de
colocar na direção certa, dá até para navegar contra a
maré.
-Hoje eu entendo o que meu pai me disse de uma forma
muito mais profunda, nessa existência assim como a
jangada é capaz de navegar contra a maré devido seu
formato, nós homens também navegamos contra a maré na
jangada da vida e nessa vida nos deparamos com tantas
situações onde temos de tomar uma decisão difícil, a vida
muitas vezes não vai no sentido que a gente quer, más
cabe ao capitão de seu barco tomar as cordas de sua
jangada e dar a vida sua devida direção nem que seja
conta a maré.
-Na atualidade você jovens dirão palavras lindas para
explicar uma vela de uma jangada, dirão que só é capaz de
navegar contra a maré porque é aerodinâmica e que esse
princípio foi o mesmo usado por Alberto Santos Dumont
quando usando o principio mecânico da alavanca em 23 de
outubro de 1906 fez o seu lendário avião e o fez voar, eu
não alcancei a era do tal bicho voador que leva gente
porque eu pertenci a era em que a coroa portuguesa ainda
governava o Brasil e os meios de transporte eram por terra
e água e eu morri sem ver um único avião no céu, porem
eu fico imensamente orgulhoso pois no fundo de meu
coração eu sempre soube que o brasileiro seria capaz de
tirar os pés do chão e voar tal como os pássaros do céu.
-Vocês do futuro dirão que as nossas jangadas estão
relacionadas a uma tal dinâmica dos fluidos e que nossas
velas seriam chamadas de velas latinas porque é coisa
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típica daqui do meu Ceará, pois de tudo isso eu como
pescador só sei que são triangulares e que quando úmidas
concentram em si o poder de empurrar a jangada no mar,
mas os estudados dirão que isso se dá devido a diferença
da pressão do ar e que por isso nós jangadeiros
conseguimos fazer a magia acontecer de navegar contra o
vento.
-Com meu pai aprendi que a graciosa curva quase que
uma parabólica na parte superior do triangulo de nossa
jangada e a outra assimétrica é de proposito por causa do
mastro que é feito para girar suavemente, pra lá e pra cá
dando o sentido a jangada, naquele tempo nem eu e nem
meu pai sabíamos que isso era o principio mecânico da
alavanca em torno do eixo, o nordestino muitas vezes
desconhece a matemática e a física da coisa, mas mesmo
assim faz seu invento funcionar extremamente bem porque
eu desconheço um nordestino que não tenha a criatividade
no sangue e a engenhosidade no juízo.
- Com meu pai aprendi até a construir e a reparar a
embarcação, lembro-me de muito pequeno meu pai dizer
assim:
-Filho a jangada é feita de seis paus e quando ouvires dizer
que fulano ou ciclano vai ver com quantos paus se faz uma
canoa é porque ainda está muito da devagar a raiva do
dizente porque uma canoa só é um único pau e só, um
tronco que cavado a moda indígena que é esculpido um
oco nele e a pessoa vai para dentro e vai embora rio
abaixo, raiva mesmo devia de ser a pessoa dizer a outra
que ela ia ver com quantos paus se faz uma jangada pois
são seis, dois mesmo no centro e por isso chamamos de
“meios”, dois simétricos cada um de um lado que
chamamos de “mimburas” pois assim os índios chamam
essas duas madeiras das partes extremas de nossa
jangada e mais dois extremos que chamamos de “bordos”.
-Eu criança ouvindo aquilo ficava fascinado e em minhas
memórias ouvia meu pai explicar sobre como era feita a
janganda e eu me lembro de fechar meus olhos para
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imaginar uma obra de arte daquela pedaço por pedaço
como um enorme quebra-cabeças que ia se montando em
minha imaginação a medida que meu pai ia me contando
sobre cada pequeno detalhe da embarcação que
trabalhávamos todos os dias debaixo do esplendoroso sol
do Aracati naquele mar tão belo e cheio de fartura em
Canoa quebrada, e meu pai narrava para mim exatamente
assim:
-Filho agora vou contar como é o construir de uma beleza
flutuante dessas, os “meios” e as “mimburas” são
encaixados por cavilhas de madeira com resistência mais
dura do que a da madeira que faz a madeira das peças da
jangada para termos a certeza de que ela não vai se abrir
ao meio com a braveza do mar, agora com relação aos
paus que formam os “bordos” colocamos eles muito bem
encaixados nas “mimburas” dessa forma eles devem ficar
mais elevados para só depois sobre essa estrutura primeira
se colocar os dois bancos de madeira, nesses bancos
formosos é onde colocamos quatro hastes de madeira
presas as mimburas e depois ainda colocamos uma tábua
para que sustente com mais rigidez, “o banco de vante” é
onde colocamos o mastro da nossa jangada, já “o banco de
ré” é onde eu fico pois eu sou o mestre e diretor da jangada
por isso meu filho esse banco também leva o nome de
“banco do mestre” pois é nele que o capitão vai e é no meu
“banco do mestre” onde tem meu remo e com ele dirijo
para qual rumo a embarcação vai, já sobre os remos eles
ficam muito bem encaixados e seguros entre as mimburas
e os paus do meio é por isso que esse encaixe chamamos
de “o meio de boreste”, para que saiba exatamente tudo
sobre nossa jangada meu filho veja bem aqui, exatamente
aqui fica a abertura entre os paus do meio que é onde
passa a “tábua de bolina”, ela serve para a gente soltar no
mar para reduzir o caimento quando a proa está bem
cingida a linha do vento e evitar problemas ,esse tipo de
navegação inteligente é chamada de “navegar á bolina”.
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-Meu pai foi meu grande mestre e ele ensinou tudo o que
eu precisava saber para poder seguir o mesmo ofício que
ele e eu era o seu maior orgulho o pequeno pescador que
tão pequeno já conhecia desde os elementos de uma
jangada até os samburás os cestos que minha mãe fazia e
que na volta da pesca eu trazia repletos de peixes para a
alegria geral.
-Como poderia me esquecer, lembro minha mãe Matilde
pegar as taquaras e o cipó e sentada em um tamborete
tecia habilidosamente os cestos que eu e papai trazíamos
com os peixes, nesse mesmo cesto colocávamos as iscas
e eram extremamente uteis no transporte de nossa pesca
diária, com isso aprendi que as mulheres tinham um papel
muito importante na vila dos pescadores de Canoa
Quebrada, elas educavam seus filhos até onde conseguiam
transmitir seus valores e conhecimentos, faziam todos os
afazeres da casa e ainda faziam cestos que eram
verdadeiras preciosidades para o transporte dos peixes
para a terra firme, mas minha mãe era muito mais
habilidosa na arte da renda onde desenvolvia com primor
verdadeiras obras de arte para vender e tirar o sustento da
casa e ser um meio de renda extra para nós.
-Minha mãe como tantas senhoras da vila de pescadores
desenvolvia a renda e naquele artesanato entrelaçando e
cortando fios de algodão ela fazia desenhos belíssimos em
um vazado perfeito que eu olhava e minha mente dava um
nó mas que ela tecendo sabia exatamente como se faz e
minha mãe dona Matilde dizia:
-Veja Chico meu filho como é, há muitos tipos de renda
porém as que mais se desenvolvem aqui no Ceará é a
renda de “Bilros” e o chamado “Filé” que é uma técnica
mista influenciada por índios e europeus cada um
influenciou com uma parte para culminar no que aqui no
Ceará se chama de filé a renda mista, já a renda de Bilros
está aqui desde o século 17 e dizem que chegou aqui
através dos colonos portugueses e é através dessa renda
em especial que o artesanato passou a ser reconhecido lá
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pela Europa, essa é a chamada renda da terra feita na
almofada de bilros e eu só não posso te ensinar como é
que se faz porque essa tradição só pode ser passada de
mãe para filha.
-Minha mãe era inacreditavelmente guerreira e forte
trabalhava até tarde para terminar todos os afazeres de
casa, cuidava de nós e ainda batalhava para terminar as
rendas para vender e apurar algum dinheiro, ela e meu pai
tentaram de todas as formas se manterem aqui, porem
uma seca muito grande se iniciou em 1845 e com apenas 6
anos vi os sonhos se desfizerem como castelos de areias e
nossas pegadas serem desfeitas pelo mar, o que eu posso
dizer sobre isso... senão o triste fato que igual como tantas
crianças da vila de pescadores de Canoa Quebrada eu vi
meu pai abraçar muito forte minha mãe entre lágrimas e
pedir que ela o esperasse, e ele jurou que assim que
encontrasse um emprego mandaria noticias por cartas e
que assim que juntasse dinheiro o suficiente mandaria nos
buscar, minha mãe se fez de forte mas eu vi quando ela
chorou porque sentiu que um pedaço de seu coração partia
para um lugar chamado Amazonas que era para onde meu
pai iria para tentar a vida, Manoel meu pai reuniu suas
poucas coisas em uma pequena mala surrada e se foi.
-Uma das lembranças mais tristes de minha infância foi ter
visto meu pai partir por causa da seca para tentar a vida
em outro lugar para tentar trazer o sustento para casa e ao
mesmo tempo sobreviver a seca cruel do ano de 1845, fui
para a soleira da porta e lá fiquei vendo o meu herói pouco
a pouco ir desaparecendo na linha do horizonte assim
como os navios somem no mar aberto, meu pai que tanto
me ensinou, meu pai que me contava histórias que era a
minha melhor companhia e que me ensinou tantas coisas
do mundo agora estava indo embora e agora seria somente
Deus eu e minha mãe.
-Naquela mesma noite não consegui dormir e perguntava
para minha mãe se meu pai voltaria para casa e minha
mãe respondia que logo logo ele estaria de volta e que eu
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não me preocupasse, então para tirar meu foco da tristeza
da partida de meu pai ela me contava histórias cheias de
fantasias coisas que só existem nas lendas do magnifico
imaginário nordestino, com aquele poder da paciência e da
persuasão que só mãe possui, ela me pegou no colo
enxugou minhas lágrimas de criança e me fez dormir
tranquilo, ela me consolava e me acalentava porem quem
iria consola-la, o homem da casa havia ido tentar a vida em
outra região e agora o que faria sem o apoio e a ajuda dele
enquanto não mandasse algum dinheiro.
-Depois que meu pai foi embora nada mais foi como era
antes, os dias pareciam uma eternidade eu tentava animar
minha mãe porém a situação por si só não era das
melhores, por diversas vezes a vi olhando para o mesmo
caminho por onde seu amado Manoel passou para ir
embora , nessas horas cheia de saudade levava as mãos
ao coração, como quem tenta sustentar a dor abstrata com
as próprias mãos ,como se isso fosse possível, sendo que
todo o amor guardado escorria entre os dedos juntamente
com o peso do tempo e a ausência era quem reclamava a
falta de seu grande amor e por isso eu via uma lágrima
solitária e fria escorrer naquele rosto nordestino, e aquela
lágrima era uma gota no oceano de lágrimas das muitas
famílias que estavam passando situação semelhante a
minha.
-A seca avançava sem dó e na minha época as notícias
andavam o mundo através de jornal e revistas, aquele mar
de letras comunicava noticias que não eram das mais
animadoras, na verdade falava sobre o avanço da seca em
todo o nordeste, assolando o gado e o tão cobiçado ouro
branco o algodão que era amplamente comercializado para
o exterior, e a guerra da Cessação nos Estados Unidos
estava apenas se iniciando, uma guerra entre o norte e o
sul pelo fim da escravidão, claro que não podia dar certo o
que começou errado pois pessoas não são mercadoria que
se possa comprar e vender, o negro tem direito a dignidade
e não pode ser negado dele o fato de que possui alma fato
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que os brancos muito mentiram para justificar seus atos
cruéis disseram o mesmo dos índios porém a verdade
sempre vem a tona, os políticos daqui do Brasil
murmuravam sobre a libertação dos cativos mas não era
porque fossem bondosos, mas sim porque queriam
transformar o escravo em consumidor no mercado de
consumo, não tiveram a preocupação de nem sequer
pensar em como inserir o negro na sociedade de forma que
tivesse oportunidade, dignidade e respeito, pois é muito
fácil para os políticos demagogos falarem quando o
problema não é com eles, quando quem irá sofrer as
consequências não serão eles que estão no poder.
-Como uma criança não podia imaginar que tudo isso
indiretamente e diretamente trazia tantas mudanças para a
vida de meus familiares, pois como eu poderia imaginar
que enquanto Aracati passava por toda essa reviravolta
devido as condições climáticas no Amazonas estava
apenas iniciando o que seria chamado depois de ciclo
promissor da extração da borracha, se hoje em dia vocês
chamam de bóia fria aqueles que saem de sua terra para
trabalhar durante um período para reunir riquezas para
trazer para casa na minha época o nome dado era de
retirantes.
-O que é um retirante senão uma pessoa assim como você
que está ali apenas por uma chance de sobreviver e salvar
a vida dos seus, me pergunto ... Que pecado há nisso?
Absolutamente nenhum, mas a visão que se tem é
perseguir só pelo simples fato que não fala como você, não
tem o mesmo costume que você e porque pensa diferente
de você, hoje vocês do futuro chamam isso de xenofobia,
outra coisa que penso muito é assim como o Norte e o Sul
dos Estados Unidos estavam em conflito por causa da luta
pela causa abolicionista aqui no Brasil já se começava a
pensar diferente era o iluminismo chegando as mentes
brasileiras pois o vento nortista exalava o cheiro da
liberdade e da paz coisa que não agradava Dom Pedro I.
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-Enquanto isso meu pai distante de nós e quando chegava
notícias do Amazonas era motivo de muita festa e
celebração, pois a maior felicidade de um nordestino é
saber que seu ente querido está bem, minha mãe guardava
com muito amor as cartas de meu pai e para ela aquilo era
o tesouro mais precioso do mundo.
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trabalho para os menores se tenham como privilegiados
pois no meu tempo nada disso existia, o que existia de
verdade era o fato de que eu tinha pressa em ter algum
sustento para não passar necessidade e poder ajudar
minha mãe, sim eu era um pequeno grandioso guerreiro e
eu nem fazia ideia disso.
-Minha mãe conseguiu um emprego para mim e eu fiquei
sob a tutela de um senhor dono de um navio a vapor
chamado Tubarão, foi aí onde eu senti o quanto um pai faz
falta, pois se meu pai não tivesse faltado, eu não estaria
aqui, a ausência do senhor da casa designa tantas coisas
inclusive a mudança de todo um destino.
-Passei a ser moleque de recados e enquanto trabalhava
fazendo todos os serviços do navio me deparava com a dor
e o sofrimento dos negros que vinham amontoados dentro
do compartimento da mercadoria, vi como eram tratados e
aquilo entrou em minha mente como algo para jamais ser
esquecido.
-Uma coisa são os olhos de um adulto verem a
pervercidade humana e outra coisa completamente
diferente são os olhos de uma criança verem a mesma
coisa, foi aonde cedo eu percebi que estava entrando no
mundo dos adultos mas eu não era adulto, esse mundo era
desumano, cruel e violento, foi onde eu comecei a entender
o verdadeiro significado da palavra liberdade e eu tinha a
certeza de que de certa forma eu também era cativo
daquela situação pois eu estava ali por causa de uma série
de fatos que culminaram em onde eu estava agora e se eu
pudesse escolher com certeza não estaria ali, ver todo
aquele sofrimento me moldou e eu fui me tornando pouco a
pouco o homem que eu queria ser, uma pessoa critica que
começava pouco a pouco a entender o porque que era tão
importante a abolição dos escravos.
- Todos os dias durante anos que perdi trabalhando
naquele navio Tubarão, eu vi como funcionava o tráfico
negreiro onde as famílias eram separadas e uniam pessoas
de tribos diferentes afim de que por não entender o dialeto
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um do outro ficassem sem conseguir se comunicar e assim
não pudessem fugir e nem organizar motins, se ouvia muito
falar sobre a doença da saudade o “banzo” era quando o
cativo sentia tanta saudade de sua terra natal que não
comia mais nada e morria de fome e de sede, havia
também o absurdo de passarem óleo de baleia para que os
escravos ficassem com a pele brilhante dando o aspecto de
saudável sendo que no navio eram tratados a pão e água ,
vendo tudo isso eu pensava...
-Como é que quando se lavava animais os tratavam com
água, boa ração e tudo do bom e do melhor com muita
fartura para que quando chegasse ao seu destino
chegasse bem e saudáveis, mas quando era carregando
seres humanos não se tinha esse cuidado os deixavam
junto a fezes, não eram bem alimentados ao chegar ao
destino muitos estava doentes, magros e abatidos, como é
possível que o mais nobre dos seres fosse tratado daquela
maneira.
-De todas as coisas que vi e ouvi no navio a vapor Tubarão
teve uma que me serviu muito em minha idade adulta,
aprendi o oficio que eu desempenharia por toda a minha
vida, ser um prático de navegação e dessa forma não
deixar o navio encalhar, o prático é aquele que deve
conhecer como a palma de sua mão cada canto do lugar
aonde vai, a profundidade , a força da correnteza, o peso
máximo que aquele navio pode comportar para que não
haja percas, a minha presença como prático era muito
importante pois eu não sei se vocês sabem, más o porto de
Fortaleza na minha época era péssimo para se atracar em
terra firme, então se fazia necessário alguém experiente e
que soubesse exatamente até onde o navio podia ir sem
causar nenhuma avaria.
-Devido as condições geológicas do porto de Fortaleza o
navio Tubarão precisava de embarcações menores para
lhe dar suporte e fazer o translado para a terra firme dos
escravos para que dessa forma ao chegarem na praia do
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peixe tivessem o destino traçado pelos compradores
senhores donos de fazendas.
-Só a titulo de conhecimento de vocês, a praia que hoje
vocês batizaram com o nome da índia dos lábios de mel, a
lendária índia Iracema foi idealizada por José de Alencar
quando em 1865 inspirado em lendas que contavam como
surgiram os primeiros cearenses criou essa historia, as
histórias que ele ouviu quando criança nomearam a praia
de Fortaleza que vocês conhecem aí no futuro como praia
de Iracema, mas aqui na minha época era a chamada praia
do peixe e era para cá que os negros eram trazidos e
despachados para seus destinos finais.
-Quando pensei que não fariam uma lei para tentar frear
perversidade humana com o tráfico que eu via desde
menino surgiu uma luz lá longe no fim do túnel, uma luz
que seria só o começo da luta pela libertação guiando
pelos caminhos legais o que seria o principio da abolição,
mas venhamos e convenhamos que se não fosse por esse
começo nada do que viria a seguir teria acontecido.
-A Lei Euzébio de Queiroz n°581 de 4 de setembro de 1850
instituiu que o tráfico de africanos para o império estaria
sujeito a repressão severa, eu soube que essa lei não foi
exatamente porque o governo brasileiro quisesse formaliza-
la mas sim porque houve pressão por parte britânica que o
Brasil desse por extinta a escravidão e tudo porque em
1807, o comércio de escravos foi proibido pelo governo
inglês, que, a partir daí, começou uma campanha pela
abolição do tráfico internacional, reunindo vários setores
sociais do Império Britânico. Esse movimento teve reflexos
já nos primeiros tratados entre a Inglaterra e o governo
português, no contexto da transferência da corte lusitana
para o Brasil, foi onde eu comecei a compreender que tudo
na verdade não era só pela questão da libertação dos
escravos, mas havia também um interesse financeiro, pois
queria que o escravo liberto passasse a ser consumidor
para o novo modelo de mercado que estava sendo
desenvolvido pelas elites e eu naquela época nunca que
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iria desconfiar de tudo isso de tão bem orquestrado que foi,
é onde vejo que somos todos peões nas mãos dos
grandiosos.
- Naquela época eu só pensei em uma única coisa que era
o começo do fim da escravidão e fiquei muito animado
quando ouvi pela primeira vez falar dessa lei.
-Como deve ser no futuro, será que a comunicação tem
liberdade para comunicar os fatos tal como são ou será que
são manipulados e contados de acordo com os interesses
de quem estiver no poder? Será que os meios de
comunicação do futuro sofrerão repressão como os daqui
de 1850 e será que vai ser considerado pensar diferente
algo abversivo e prejudicial ao sistema?
-Naquele mesmo ano o jornalismo eu ouvia dizer que
estava marcando colado junto as causas abolicionistas e
isso estava gerando muito desconforto para as elites que
precisavam da mão de obra escravagista dentre os jornais
que atuavam nessa defesa, podem ser destacados, A
Abolição, Oitenta e Nove, A Liberdade, O Amigo do
Escravo, A Gazeta da Tarde e muitos outros, eram
panfletos entregues na surdina, enquanto outros muito
destemidos e corajosos desafiavam a lei recitando poemas
e vendendo os jornais na rua, era visto como total
desobediência incentivar os negros a se rebelarem contra o
regime da escravidão , era tido como desobediência civil
dar abrigo para um escravo em fuga e era considerado
sequestro de escravos quando os abolicionistas
resgatavam os cativos, se querem realmente saber eu
tenho por sequestro o que os traficantes de escravos fazem
porque ali sim é um sequestro retirar pessoas de seu país
para escravizar em outro.
-Enquanto trabalhava, ouvi falar sobre os lideres que
formavam as primeiras vozes intelectuais contra a
escravidão, lembro-me muito bem em ter ouvido falar muito
sobre Maria Tomásia Filgueira Lima ela era casada com
Francisco de Paula Oliveira Lima e juntos fundaram a
Sociedade das cearenses libertadoras, ela se mostrou
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muito grandiosa em seus atos e como presidente dessa
sociedade juntou mais vinte e duas mulheres que se
reuniam debatiam sobre planos de ação para auxiliar na
mudança de mentalidade das pessoas sobre a escravidão
e assim, conversando com os donos de escravos
conseguiam conceder a liberdade aos cativos e quando o
valor pela liberdade tinha de ser pago se reuniam e
compravam a liberdade do escravo.
-Muitos de minha época diziam, mas que disparate uma
mulher como presidente de uma sociedade para libertar os
escravos e ainda por cima se meter em politica e em
assuntos de homem, aonde já se viu isso.
-Eu ouvia tudo isso e pensava, o lugar da mulher é aonde
ela quiser a mulher soma em todo lugar aonde vai pois a
sua forma humanística de ver o mundo torna tudo diferente
e trás muito mais sentido a luta e a causa, sem falar que as
mulheres estavam cada vez mais estudadas, inteligentes e
cada vez mais capazes, o acesso ao estudo era o que
refinava as mentes das mulheres que conseguiam ter o
acesso ao estudo, pois na minha época nem todo mundo
podia estudar, acredito que o fato de subestimarem as
mulheres era pelo fato de a sociedade ser muito patriarcal
e talvez o medo de reconhecer a importância da mulher na
historia e no desenrolar de tudo foi o que fez subjulgar
tanto o poder da inteligência feminina que já se fazia tão
presente mesmo em tempos tão difíceis.
-Quem foi que disse que no meu tempo em pleno 1850 não
tinha escritora mulher redondamente se enganou, no
Maranhão uma professora chamada Maria Firmina dos
Reis se tornaria a primeira romancista da América Latina e
seu livro “Ursula” se tornaria um sucesso, pois contaria
sobre o sofrimento dos escravos durante as viagens e isso
geraria toda uma conscientização, repudio popular contra
os traficantes negreiros e apoio as causas abolicionistas,
eu adorava quando diziam que ela era uma abolicionista
através da mensagem que repassava, seu pseudônimo era
“uma maranhence” mas sabiam que era ela, e o mais belo
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era que ela lecionava crianças brancas e negras sem
exclusão social, era de pessoas assim que o Brasil com
certeza precisava.
-Tinha um que comentavam ter sofrido na pele as marcas
do preconceito, e este era Luis Gama, seu pai era
português porém sua mãe era escrava e seu pai
preconceituoso como era deixou que um amigo vendesse
seu próprio filho, Luis aprendeu a ler com um estudante de
direito e dessa forma se tornou rábula o que no futuro
vocês conhecem como autodidata sem diploma porem
mesmo sem diploma ainda conseguiu libertar mais de 500
cativos.
-Falavam sobre Joaquim Nabuco do qual tinha ideais tanto
abolicionistas como de reforma agraria, em meio a tantos
nomes abolicionistas também estava José do Patrocínio,
filho de uma senhora negra e um padre que nunca o
reconheceu como filho e o criou dentro de sua fazenda,
vendo todo tipo de maldade contra os escravos, José do
Patrocínio estudou farmácia e foi jornalista e poeta e vez
por outra eu ouvia recitarem seus poemas sobre o grito da
liberdade, junto com André Rebouças estiveram a frente da
Confederação abolicionista.
-A única coisa que eu não era a favor e ficava muito
pensativo era sobre indenizar o senhor dono da fazenda
quando libertava um escravo, na verdade quem deveria ser
verdadeiramente indenizado este alguém deveria ser o
negro e não o seu senhor, porque que eu saiba quem foi o
maior prejudicado nessa história toda foi o escravo, pois ele
tinha sua família, sua vida normal, vivia muito bem em seu
país quando de repente foi capturado, sequestrado, levado
como um cativo e obrigado a esquecer sua história e viver
sob leis de um opressor cruel, no meu entendimento o
único que deveria ser indenizado era o negro.
- Eu só sei que aqui em 1850 eu já com 11 anos de idade
já tinha visto muita coisa horrenda, daquelas de botar muito
homem feito para tremer de medo e assombrar o sono de
muito cabra que se diz corajoso, enquanto eu trabalhava no
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embarque e desembarque dos escravos eu ouvia as
noticias lá da terra firme e não eram das mais animadoras.
-A seca cruel assolava mais ainda com uma fome que a
tudo consumia, o gado os pés de algodão e as vidas dos
sofredores que vinham a essas terras causticadas do sol.
-A coroa portuguesa havia proibido o tráfico da África para
o Brasil mas não proibiu o tráfico de uma região para outra
dos escravos que já existiam no Brasil, saindo de um lugar
para outro.
-Os traficantes negreiros eram muito espertos para
enxergar a oportunidade em cada entrelinha da lei Eusébio
de Queiroz e foi exatamente o que aconteceu, eles
encontraram uma alternativa para driblar a lei se fazendo
valer da seca para ganhar lucros com a retirada dos
escravos de uma região para outra.
-Eu refletia comigo mesmo enquanto auxiliava no
embarque dos escravos do navio Tubarão, meu Deus mais
uma vez o negro está sendo prejudicado nessa história tão
terrível, pois o negro já havia sido destituído de sua família
africana, foi obrigado a constituir novos laços e nova família
aqui e agora está sendo retirado mais uma vez de um lugar
para o outro ao bel prazer de seu senhor e para os
interesse financeiros dele e nada mais do que isso.
-Lembrei então das coisas terríveis que os cativos me
contavam, havia todo um sistema de castigo, os escravos
homens que detinham de boa saúde eram separados para
se tornarem escravos reprodutores e eram obrigados a ter
relação sexual para gerar mais força de trabalho para o
dono da fazenda, já as mulheres sofriam abusos de seus
senhores, como se não bastasse isso as senhora da casa
grande quando descobriam a infidelidade de seu marido
castigava severamente a escrava, lhes cortavam os seios,
quebravam-lhes os dentes, mutilavam seu corpo para que
a escrava nunca esquecesse o porque daquelas cicatrizes,
as mulheres escravas das quais eram mais belas o senhor
da casa grande as vestiam melhor para satisfazer aos seus
desejos sendo que eram obrigadas a viver daquela forma,
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consideradas as “jezabeus” elas não tinham culpa da
maldade de seus senhores, quando não podiam ter filhos
eram tratadas de forma muito precária, sendo colocadas
para fazer os serviços mais pesados juntos com os
trabalhadores braçais homens pois na visão do senhor da
fazenda já que ela não podia gerar filhos para ser mão de
obra ela só serviria para trabalhar até o fim de seus dias.
-Enganavam as escravas lhes prometendo que se
gerassem muitos filhos eles concederiam a liberdade a elas
e aos seus filhos caso cooperassem, era tudo mentira, não
passava de mais uma forma de engana-las, no fim eram
todos escravizados e muitas vezes o filho era separado de
sua mãe.
-Ouvi falar entre os cativos sobre um lugar do qual
chamavam de quilombo, diziam que se lá chegassem
estriam livres e que não precisariam mais sofrer castigos
nem do jagunço nem do seu senhor, contara-me que lá se
pode viver em paz, cultuar seus próprios deuses, transmitir
seus valores e tradições sem serem sumariamente
reprimidos, disseram-me que a natureza e eles lá são como
um só e que a identidade do povo africanos se torna viva
outra vez quando pisa naquele solo sagrado, aonde a
escravidão não tem vez, porém também me disseram que
aquele que não conseguir fugir e fosse pego o castigo era
tão grande que os gritos de dor e agonia eram tão
profundos que até a alma se despedaçava e o coração
quebrantado de dor se partia, quem era capturado como
negro fujão ia para o tronco servir de lição aos outros que
tentassem fugir e lá apanharia até perder as forças e os
sentidos, os outros cativos a tudo viam e compartilhavam
da mesma dor e o desejo de justiça e de liberdade era o
que os faziam um só povo outra vez.
-Durante o tempo em que trabalhei no navio Tubarão pude
aprender muito sobre a cultura africana, eles me contavam
alguns segredos de sua milenar e incrível tradição, se aqui
a igreja católica atrás de catequizar os índios disseram que
o verdadeiro nome de Tupã era Deus, os africanos porém
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foram muito mais astutos e para continuar adorando seus
deuses ouviram as caracteriscas dos santos católicos e as
assimilaram aos seus deuses.
-Contaram-me sobre Obatala e a história do saco que
continha a criação onde Exu seu irmão aprontou todas para
que Obatala não conseguisse fazer o mundo sozinho,
sujando as vestes brancas dele e o embebedando, conta-
se que Obatala dormiu e Exu do saco da criação tudo criou,
Obatala entrou em desespero e muito chorou subindo aos
céus Oxalá lhe disse, calma meu filho a criação ainda não
acabou, falta você fazer o homem a obra prima do Criador
vá a terra e procure o ingrediente perfeito para fazer o
homem e em seu coração não esqueçais de por a centelha
da justiça, do perdão e do amor, não se esqueça de dar um
agrado ao seu irmão pois Exu também trabalhou.
-Obatala o homem de branco que na cultura africana criou
os homens eles atrelaram a imagem de Jesus pela
bondade e o amor a humanidade e Exu atrelaram a
imagem do diabo mas a compreensão deles sobre o diabo
não é como a nossa, eles me disseram que assim como no
taoísmos dentro do mal há um pouco de bem por isso que
dizemos que há males que vem para o bem e no bem há
um pouco de mal pois na compreensão deles deve-se
haver o equilíbrio como um todo no quadro geral.
-A parte mais interessante ainda está por vir os cativos me
contaram que assim como na bíblia o homem veio do
barro, na cultura africana também foi assim, Obatala foi a
terra e foi em busca do elemento que melhor pudesse
formar o homem, tentou fazer de madeira mas se lascava,
tentou fazer de ferro mas era muito duro e sem flexibilidade
então em sua procura pelo material perfeito viu Nanã uma
deusa linda escultural toda feita de lama e a deusa moça
pediu dela seu barro para dele fazer sua obra prima, Nanã
disse que daria porém para ter parte na criação um acordo
devia ser feito e selado que quando o homem morresse
devolvesse o material do qual foi feito tal como fora
designado e assim Obatala aceitou e o acordo foi
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consumado pegou o barro e fez o homem e uma mulher
anatomicamente diferentes para que pudesse procriar e se
multiplicar pela terra e para finalizar levou o juízo a Ojalá
para ele como oleiro no fogo que cria coisas a inteligência
lapidar para o homem ter discernimento, para poder ser
sábio transmitir conhecimento e poder ensinar, para ser
inventor e construir e edificar.
- A grande diferença é que na cultura africana o homem e a
mulher vem do mesmo barro e são iguais enquanto na
minha religião a católica me ensinaram que a mulher foi
feita depois e foi da costela de Adão, perguntei para eles o
porque dessa diferença e eles me disseram que quando
dizemos que a mulher foi feita da costela estamos dando
um significado mais patriarcal enquanto que se disser que
veio do mesmo barro estamos a tornando um ser de igual
importância e relevância para o desenrolar da história da
humanidade, depois de ouvir isso aprendi sobre o valor e o
significado que tem a mulher que ela na verdade não
precisa de um tutor mas sim ela é quem nos cuida, parece
ser frágil como uma rosa porém são tão fortes que a tudo
suportam e tem o poder de trazer o mundo a vida que se
fossemos nós homens a traze-la eu não sei como seria, só
sei que com os valores que me repassaram foi que eu vim
entender o porque que Deus fez a mulher alma tão singular
poderosa e feminina.
-Os escravos me contaram que ao pressentir que seriam
sequestrados, cuidadosamente e zelosas as mães faziam
nas cabeças de suas filhas as tranças raiz recheadas de
arroz e outros grãos para que se caso conseguissem
escapar usassem esses grãos como forma de plantio para
recomeçar a vida em outro lugar pois não sabiam se seriam
separadas na viagem e até nisso mãe que é mãe se
preocupa.
-Foi aonde comecei a entender que aquele povo vindo de
outro continente era tão igual a gente, diferentes porém
iguais, seus relatos historias e lendas me fizeram sentir
como eles se sentiam e eu me senti cativado, sensibilizado
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com toda aquela covardia cometida e isso mudou para
sempre como eu compreendia tudo o que eu via.
-Aqui no Ceará a seca persistia de tal maneira que o gado
morria de fome e de sede e o algodão murchava e fenecia
o ouro branco a menina dos olhos dos branco ao calor do
sol nordestino sofria, porém sofriam muito mais as levas
dos escravos que para lá iam pois se já não tinha para o
gado como é que para os cativos trabalhadores tinha?
-Foi onde ouvi o plano engenhoso dos donos de escravos
que já não podiam manter seus cativos, devido a estiagem
e o custo que saia cada escravo os que precisavam de
menos mão de obra começaram a vende-los e a lei
Eusébio de Queiroz proibia o tráfico de um continente para
o outro porém nessa lei havia uma brecha, sabidos como
só eles eram logo entenderam que poderiam traficar os
escravos dentro das terras brasileiras, retirando de um
Estado e levando para outro sem nenhum problema.
-Dessa forma o negro que já havia perdido sua família na
África e que ao chegar em terras cearenses formou novos
laços e família teria suas raízes mais uma vez arrancadas
para ir para outro lugar desconstruindo o que havia sido
construído, desfazendo famílias inteiras que não mais se
veriam outra vez.
-Dessa forma os escravos eram selecionados e os fizeram
migrar como em caravanas causticantes a pé esses sairiam
aqui do nordeste para o sul, conduzidos a força eles iam e
deixados eram no galpão de Jacarecanga, lá passavam um
dia para recobrar as forças, a viagem a pé era tão longa
que chegavam exausto e sem condição de prosseguir
então os alimentavam com muito precária comida,
esperavam o novo dia nascer para os levar aos montes
para a Praia do peixe a mesma que vocês do futuro
chamam de praia de Iracema.
-Dali os navios negreiros chegavam e não atracavam pois
não havia nenhum porto seguro, o navio então longe se
situava porque eu não sei se vocês sabem mas Fortaleza
não era um lugar onde as embarcações de grande porte
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pudessem chegar muito perto, pois se corria o risco de se
ficar preso nos bolções de areia, a profundidade variava e o
navio podia ficar preso, é por essa razão se precisava do
translado em jangadas pois por serem de menor porte
passavam com maior facilidade pelas zonas em que a
profundidade variava.
-Simplesmente ao olhar nos olhos dos cativos não tinha
como não ver através de suas retinas a dor, o sofrimento e
o pedido de socorro, o jangadeiro levava mas ali mesmo
sentia no peito um profundo desgosto de colaborar com
aquela maldade e transladar o escravo ao navio que iria
para outro porto onde o negro sofreria tudo de novo, o
jangadeiro pensava o que posso fazer se sou tão pequena
peça nesse sistema cruel, más o que ele não sabia era que
a mudança viria e que o simples e pequeno ganharia
repercursão e valor e que seria através da união que se
faria a força para o pequeno ser vencedor .
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-Foi por volta desse ano 1870 que vim morar em Fortaleza
e dela muito tenho a contar, antes Fortaleza que era
apenas um povoado tido como modesto pequeno e sem
importância começou pouco a pouco a se destacar por
conta do apoio que fornecia as frotas de navios que iam
para o Maranhão e para o Piauí, houve um maior destaque
nessa região porque durante esse período houve a
separação da província do Piauí e com isso deu mais
destaque ainda para o algodão do Ceará, foi com a
promoção do povoado para vila que começou a atrair
investidores e melhorias, dessa forma começou o projeto
de transformação da cidade de Fortaleza e eu acompanhei
tudo isso.
-No principio as casas eram construídas nas chamadas
areias e ficavam um pouco desordenadas pois não havia
ao certo um planejamento urbano porem logo logo tudo iria
mudar, já antes de 1870 já haviam feito em 1800 o
chamado arruador , em 1812 o Coronel engenheiro Antônio
José da Silva Paulet já havia desenhado a planta de
Fortaleza toda esquadrinhada como xadrex para que
houvesse organização entre ruas de forma harmônica,
porem todo o traçado e todo o projeto passou por inúmeras
correções e transformações e dessa forma o levantamento
da planta de expansão de Fortaleza foi edificado por Adolfo
Herbster isso de 1859 a 1888.
-O ano em que vim morar em Fortaleza foi o ano em que se
deu o inicio da construção da estrada de ferro de Baturité
em 1870 ela tinha começo aqui em Fortaleza e ela servia
para escoar a produção tanto do algodão como a pastoril
que advinha do interior e foi justamente isso que fez com
que Fortaleza se tornasse a mais importante cidade do
Ceará e isso só contribuiu para o impulso e a consolidação
industrial na região cearense.
-Enquanto as melhorias que fizeram um pouco antes de
1870 posso aqui citar o liceu do Ceará para disseminar a
cultura e o Farol do Mucuripe que ambos foram feitos em
1845 era um cuidado que se tinha para que as
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embarcações não se destruíssem nos bancos de areia que
lá havia e salvar a vida dos tripulantes nas viagens
noturnas, a Capitania dos Portos do Ceará em 1857 para
dar suporte as frotas que vinham para a região do Ceará,
devido ao surto de febre amarela que houve em 1861
criaram a Santa casa de Misericória, aos padres que
vinham para Fortaleza para estudar em 1864 foi edificado o
Seminário da Prainha, para guardar o conhecimento nos
muitos exemplares que vinham de fora em 1867 foi
fundada a Biblioteca Pública e só para constar, o Passeio
publico não era conhecido como uma praça lá muito
amistosa não, pois lá era lugar onde se faziam execuções e
foi lá onde João de Andrade Pessoa Anta e Gonçalves
Inácio de Loyola Albuquerque e Mello mais conhecido
como padre Antônio Mororó foram executados e fora as
outras execuções que não foram noticiadas.
- Naquele tempo eu me lembro que não existia o que vocês
do futuro chamam de ônibus o que tínhamos eram as
máquinas a vapor tais como os navios e os trens ambos a
vapor, o que vocês aí do futuro chamam de ônibus no
principio eram os bondes puxados a carro de boi, a
eletricidade que você do futuro tanto gostam no meu tempo
eram o óleo de peixe que era utilizado para iluminação
pública e por isso as ruas tinham cheiro de peixe, meus
queridos jovens do futuro saibam que o que é inovação
tecnológica para vocês agora no futuro irão olhar para
vocês e as próximas gerações vão achar tão ultrapassado,
é o tempo que a nada perdoa ,a tudo destrói e a tudo
transforma.
-Quando nas terras fortalezenses cheguei já com meus 31
anos em 1870 nessas andanças da vida encontrei uma
jovem muito bela e sábia e com ela logo me casei, seu
nome era Francisca Joaquina moça linda como uma flor de
abril a desabrochar em um pleno dia de sol e céu azul
celeste tal como se o próprio sol quisesse brilhar mais
ainda para resplandecer o brilho daquele desabrochar em
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flor, assim era ela e para um homem ser totalmente
completo me falta a centelha do amor.
-Depois de casados nos mudamos para a Rua da
Alfandega na chamada praia do peixe e lá erguemos uma
humilde casa e vivemos humildemente tal como era
possível viver naquela época, não demorou muito para eu
me tornar prático de navio e ter esse oficio como profissão
no porto de Fortaleza eu tinha duas jangadas e também
delas tirava algum sustento, como prático eu auxiliava a
manobrar a embarcação para que não encalhasse e como
jangadeiro além de conseguir o sustento com a pesca fazia
o translado dos escravos para a terra quando os navios
negreiros chegavam.
-Até então nada havia mudado desde os meus tempos de
criança até os tempos atuais nada tinha se modificado a
escravidão ainda estava vigente e aquilo me doía muito,
até ao deitar para dormir eu pesava, que será das vidas
que serão levadas daqui e esse pensamento não saia da
minha cabeça, a lei Eusébio de Queiroz proibia o tráfico da
África para o Brasil mas não proibia o tráfico dentro das
terras brasileiras e por isso continuava a triste situação a
acontecer de novo.
-Até então os poderosos muitos falavam, muito papo e
pouca ação, a demagogia barata e a hipocrisia do falar
bonito e não fazer nada ainda era o que prevalecia, foi
quando mais uma vez o cenário mudou e a princesa Isabel
aproveitando que o rei Dom Pedro II estava em viagem ao
exterior assinou a lei do ventre livre, isso foi em 28 de
setembro de 1871, nessa lei dizia que as mulheres
escravas dariam a luz somente a filhos livres e que não
nasceriam escravos em solo brasileiro, houve quem
dissesse que foi tudo preparado porém pois o Brasil já
estava começando a entrar em um novo ciclo politico e a
monarquia tinha que repassar uma visão amistosa e
amigável mas venhamos e convenhamos, isso foi um bom
começo para o que viria depois, a própria princesa Isabel
ao disrcursar disse assim:
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-Congratulo-me convosco pela lei que decretastes a bem
da extinção gradual do elemento servil, esta reforma
marcará uma nova era no progresso moral e material do
Brasil. Tenho fé que seremos bem-sucedidos, sem prejuízo
da agricultura, nossa principal indústria, porque esse
cometimento é a expressão da vontade nacional inspirada
pelos mais elevados preceitos da religião e da política.
(Fonte: Agência Senado)
- A lei que a princesa Isabel a priori conseguiu sancionar
tão rápido nos bastidores acontecia que era lindo no papel
mas na realidade não era bem assim, muitos fazendeiros
de outras províncias já olhavam para essa lei pensando em
uma forma de que se não fosse possível anula-la que pelo
menos se pudesse atrasa-la ao máximo pois a mão de obra
não podia ser prejudicada ao ver dos fazendeiros, para eles
o escravo não podia ser liberto porque lhes traria prejuízo.
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continuar com a escravidão que estava sendo praticada
nas entrelinhas da lei, a lei Eusébio de Queiroz proibiu o
tráfico da África para o Brasil mas não proibiu o tráfico
interno então começou o trafico interno, agora com a lei do
ventre livre as crianças nasciam livres mas como sairiam
do sistema se precisavam da mãe, se a mãe permaneceria
escrava ,se o futuro jovem não tinha um plano para
inclusão deste na sociedade e se o senhor dono da
fazenda sabendo de tudo isso dificultaria mais ainda a vida
dos filhos do Brasil que nasciam livres porém tinham de
lutar por esse direito.
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reformas, empreendimentos de tal forma que pudessem
ficar conforme as tendências e os padrões de beleza que
eles viam lá fora, porque a nova moda do momento era
tentar imitar a beleza das coisas que existiam na Europa.
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moldada em nosso próprio corpo, acredito que vocês do
futuro nem saibam como é isso, como é ter de comprar a
fazenda de tecido e encomendar uma veste em um alfaiate
ou costureira, mas em algum lugar de 1871 se fazia roupa
exatamente assim, e haviam revistas com os modelos que
estavam na moda para que ninguém mandasse fazer um
modelo de roupa fora do padrão de estilo e tendência.
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-Dessa forma, foi desse laço de comercio entre Fortaleza e
e Europa que a cidade começou a se modernizar, os
jardins ficaram mais floridos, com arvores frondosas, com
seus lagos artificiais repletos de estatuas de deuses
mitológicos como decoração e foi assim que o Passeio
público que antes foi palco de execuções passou a ser um
lugar para os transeuntes apreciarem a visão do mar,
assim o passeio público se tornou um lugar para desfile de
lindos vestido das mulheres de alta sociedade e um cenário
mais elegante e social em pleno ano de 1876.
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já estive neles e tinham um estilo francês os cafés que
funcionavam aqui em Fortaleza na minha época eram o
Java, Fênix , Bien-bien , Garapiére e o café do comércio,
era uma verdadeira visão de se encher aos olhos os
senhores geralmente se sentavam no café faziam seu
pedido e ali ficavam para conversar, tendo por belíssima
visão a praça do Ferreira com toda sua beleza e
suntuosidade em jardins e esculturas enquanto
conversavam as suas senhoras iam fazer aquelas boas
comprinhas fazendo uma verdadeira reforma em seus
guarda-roupas nas famosas lojas Maison Art-Nouveau e na
renomada loja Torre Eiffel dessa forma quando retornavam
já haviam gastado todo o dinheiro de seus esposos com
aquela velha desculpa de que comprou somente o básico e
com certeza o passeio ainda passaria pelos jardins da
Praça do Ferreira antes de voltar para casa.
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que só tinham a eira, outras só a beira e as mais pobres
nem a eira e nem tão pouco a beira como era o caso da
casa onde eu vivia, não detinha de adornos de eira e beira
porem servia muito bem a mim e minha família e isso era o
que mais me importava, nas casas dos senhores de
fazenda se media seu estatos pela quantidade de quartos e
janelas já nós da classe mais humilde o mais importante
era não faltar o teto e o pão de cada dia.
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43
-Se falava muito sobre a crença na prosperidade e
esperança no futuro, mas me diga... como é possível
acreditar na prosperidade se ela é advinda do sangue do
suor e do sofrimento de meu semelhante, é impossível ser
prospero se for para ferir alguém, no começo pode até
parecer ser paz mas não é, é engano pois não existe
esperança no futuro se for para escravizar, inferiorizar uma
etnia, perseguir um povo ou destruir uma nação, no meu
tempo se esqueceram de contar que a verdadeira paz nós
só podemos construir unidos, todos nós em um só e talvez
vocês aí do futuro vendo todos esses equívocos e erros
terríveis do passado contem as gerações de suas gerações
como foi para que não se repita, porque eu vivi tudo isso
para poder contar a vocês.
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44
sociedade que tinha em sua raiz o escravagismo , como
trabalhar para mudar a forma de ver o mundo de uma
sociedade e fazê-los compreender que a liberdade também
liberta, libertar significa reconhecer a igualdade, reconhecer
o valor que não se trata de ser maior ou menor mas sim de
ser igual, como explicar a uma sociedade com mentalidade
patriarcal e retrograda que era preciso destruir o
preconceito para que dessa forma pudesse florescer essa
liberdade.
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45
-Da Associação Perseverança e por vir sei que começou
em 28 de setembro de 1879 e que funcionava como uma
cooperativa aonde as pessoas que ali ajudavam
colaboravam para juntar valores para comprar as alforrias e
foi dessa ideia que começaram a aparecer outras
associações com essa ideologia de movimento reformista,
pois aquela visão grotesca de ver os escravos passando a
pé acorrentados para serem levados pelos navios do tráfico
negreiro devia cessar.
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46
para vocês, foi a história dos três mosqueteiros, pela
Igualdade, a fraternidade e a liberdade tal qual como os
princípios que o iluminismo pregava e as aventuras de
Athos, Porthos e Aramis para a liberdade de Ana da Áustria
a rainha donzela em perigo, aqui no Ceará os três
mosqueteiros eram os nossos corajosos abolicionistas e a
donzela em perigo que precisava ser salva do preconceito
e da escravidão eram os cativos.
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-Quando a Sociedade Cearense Libertadora iniciou suas
atividades, começaram a traçar estratégias para levantar
dinheiro para comprar as alforrias dos cativos, como toda
ajuda era bem vinda então eles aceitavam doações em
réis, doações em gêneros alimentícios e disso começaram
a desenvolver mais ações, com os donativos arrecadados
iniciou as quermesses, os bingos e os leilões.
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48
-O nome dessa dama sobralense tão inteligente era Maria
Tomásia Figueira Lima e com seus 54 anos naquele ano
de 1880 ela estava junto ao panteão dos nobres
pensadores abolicionistas liberais e por influencia dela foi
que se iniciou o que seria um futuro jornal para transmitir os
feitos dos revolucionários e abolicionistas fortalezenses.
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49
melhor nome para batizar esse jornal com ideologia tão
verdadeira e nobre, qual seria o nome que assim que os
fortalezenses lessem tivessem como nome de referencia e
que desse destaque as causas sociais e ao mesmo tempo
repassasse a imagem e o sentimento da abolição.
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50
grande entusiasmos e nas praças o assunto não podia ser
outro só dava o jornal O libertador como tema central.
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51
-Podiam ser dois modos de ver a mesma coisa com ações
distintas sim, porém foi através dessas duas formas de luta
contra o escravagismo que se consolidava ali uma luta
legitima, bem embasada, formada por pessoas criticas e
inteligentes que como cidadãos e pessoas pertencentes a
sociedade tinham o direito de transformar aquela realidade
e difundir as ideias para que essa transformação fosse
possível, muitas vezes não é só com as ideias no papel e
apenas pensando que tornamos nossos sonhos reais, por
essa razão tinha também o campo da ação que era por em
prática, levar a frente as ideias tão debatidas entre quatro
paredes das associações, não permitir que a ideia
morresse, fazer florescer a consciência dentro de cada
mente pois o medo do império, da repressão, de ser tido
como desobediência existia mais eles não podiam parar,
podia ser que fossem pegos e presos ou até mesmo
executados porem as ideias uma vez transmitidas e
brotando na mente fértil do povo não tem como destruir e
nem calar a voz, porque as ideias sobrevivem até a morte
de seu próprio precursor, as ideias uma vez faladas se
tronam gigantes nas vozes de todos a cada vez que é
recontada.
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52
-Eram os abolicionistas Joaquim Nabuco que era do grupo
dos moderados, José do Patrocínio que era mais radical e
Castro Alves que ora era moderado e ora era radical.
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53
Letras teve o apoio dele e quem é que não conhecia a
amizade de longa data dele com Machado de Assis.
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54
Hinos do Equador, Os escravos e a Cachoeira de Paulo
Afonso e como não me transportar nos versos que ele
sabia fazer tão bem bolados que perecia que se podia ver
aquela cena descrita em poesia.
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55
e na arte de recitar tocando os corações daqueles que o
escutavam, mesmo com tuberculose e com o pé esquerdo
amputado ainda era um grandioso guerreiro abolicionista.
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56
-Aconteceu que em um intervalo de uma peça teatral no
São Luis em 26 de janeiro de 1881 esse que hoje vocês
chamam de Cine São Luis, aproveitando-se que a alta
sociedade estava ali reunida o abolicionista Pedro Artur de
Vasconcelos aproveitou para por em prática seu discurso
dizendo:
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-Nossa sociedade fala em um tempo prospero onde se tem
fé em um futuro melhor, onde se tem credibilidade em um
otimismo e na paz, mas eu digo em verdade que é
impossível se alcançar tudo isso se for escravizando, é
impossível se obter paz enquanto essa paz custar o
sangue e o sofrimento de um povo, então em nome de tudo
o que acredito eu venho essa noite acabar com a hipocrisia
convocar a verdade e que através de minha voz muitos
mais se levantem porque é tempo de liberdade, é tempo de
nos unirmos em prol daqueles que precisam, nossos
irmãos que estão cativos.
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-José do Amaral, mas esqueçamos um pouco as
formalidades me chame só de José, temos assuntos muito
mais importantes a tratar do que meras formalidades.
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59
-Meus caros amigos daí do futuro eu nunca pensei que a
praia do peixe que vocês chamam de praia de Iracema
seria palco de um ato tão lindo e verdadeiro em prol da
libertação dos escravos, eu nunca imaginei que a praia do
peixe iria ser o lugar aonde pessoas que acreditavam na
liberdade se reuniriam para fazer uma paralização, nunca
em meus sonhos eu poderia sonhar coisa mais bela do que
aquilo e era justamente a coragem daqueles que foram de
casa em casa convocar o povo que estava tornando tudo
aquilo real diante de nossos olhos cearenses, foi onde eu
entendi que sozinhos podemos ser muito pequenos más
quando reunidos o povo tem tanto poder que qualquer
império treme em sua base, e que o povo não é cego, na
verdade o povo precisa entender melhor para compreender
seu poder transformador dentro da sociedade e a força que
detém em suas mãos para mudar o curso da história, pois
a história é feita dos muitos pequenos que se reúnem para
serem grandiosos, da fé daqueles que acreditam que a
união fará toda a diferença entre a vitória e a derrota e
daqueles que tem a coragem de questionar de ter voz
altiva, de não aceitar o sistema tal como ele é e saber
como derrotar a ignorância com a sabedoria.
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60
-A primeira coisa que deram por falta foram as jangadas,
escalés e catleias e os traficantes atordoados perguntavam
uns aos outros naquele navio, cadê os jangadeiros?
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história para ninguém botar defeito, naquela tarde a
sociedade fortalezense não falava de outra coisa, o
assunto da vez era a paralização que estava havendo na
Praia do peixe, as pessoas ávidas por noticias compravam
logo um exemplar do jornal a 40 réis e logo, logo já não
tinham mais nem jornal tamanha foi a procura logo se
esgotou e não tinha para quem queria.
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-José Napoleão já tinha sido escravo mas com sua
espertice e conhecimento começou a ajudar no tráfico junto
com os patrões e nesse tráfico onde ele negociava seus
próprios irmãos de pátria ele começou a lucrar com isso
quando recebia o dinheiro dava uma parte e ficava com
outra, juntou tanto que conseguiu comprar sua própria
alforria e a alforria de seus parentes, todos da vila de
pescadores conheciam a história dele, esperto, sagaz e
argiloso tal como era não iria querer participar de um
negócio desses e perder o lucro que tinha e ainda por cima
sair prejudicado e no diálogo ali mesmo ele se anulou da
história, se esgueirou para não participar e indicou a mim
Chico da Matilde para liderar.
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o navio negreiro queria a todo custo desembarcar os
escravos na Praia do Peixe.
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cargas que talvez nem saibam que foi nessa região aonde
muito possivelmente teria sido o primeiro desembarque da
expedição espanhola de Vicente Yáñez Pinzón em 26 de
janeiro de 1500 e que o pioneiro projeto para o porto de
Fortaleza apareceu em 1870 criado por Charles Neate, nas
ideias dele o projeto tinha de ter um quebra-mar e conter
sistemas que auxiliassem o atracar dos navios e que tinha
de ser no lado direito da foz do Riacho Pajeú perto do Forte
de Nossa Senhora de Assunção, os chamados quebra-mar
da minha época são os espigões que vocês conhecem hoje
e que na minha época só haviam o trapiche e a paliçada
improvisadas de paus e pedras e graças a ser exatamente
assim que a história estava ao nosso favor.
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65
gente eram os verdadeiros heróis e todos estavam tão
orgulhosos que logo os exemplares se esgotaram de novo,
por nós o Navio Espirito Santo podia enferrujar em alto mar
esperando, porque enquanto isso aqui na terra firme nós
estávamos festejando.
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-Justamente falando sobre essa circunstancia que chegou
ao meu conhecimento que Major Camerindo de Castro
Menezes filho do Major Facundo e Florência de Andrade
estava de planos de levar duas escravas para o Pará e por
lá mesmo vende-las, ele alegava que as duas trabalhariam
como criadas, empregadas porém a verdade é que seriam
vendidas .
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67
aproveitando daquela situação criada junto conosco veio
toda uma população.
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o jornal queria deixar bem claro que não se tratavam de
criadas más sim escravas que iriam ser traficadas no Pará
e ouvindo e redigindo os relatos delas trazer dessa forma
toda a verdade a tona.
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participando da ação e que tivesse cargo público para que
através da demissão pudesse prejudicar e de alguma forma
tentar impor poder e força e colocar o demitido como
exemplo.
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outros pais de família eu havia perdido meu emprego por
defender aquilo que eu achava ser o correto.
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71
-Esses pequeninos quilombos, os esconderijos que
conseguíamos encontrar para proteção daquelas vidas
eram muito sigilosos e guardados com muito carinho por
nós os abolicionistas.
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Capitulo 7 Sem tempo a perder
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parou para pensar que devido a forma em que vivem, a
alimentação, o trabalho insalubre e sofrimento e as
doenças muitos escravos não chegam nem aos 40 anos o
que dirá 60, os idosos que como escravos já eram muito
maltratados por não conseguirem trabalhar com o mesmo
vigor da juventude, agora serão mais maltratados ainda
agora que não tendo outro canto para ir terão de trocar o
teto e a comida por o trabalho na casa do senhor da
fazenda.
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-Vocês do futuro talvez estejam achando muito estranho
esse nome de Vila do Acarape, então eu vou facilitar mais
para vocês, para ser mais exato a Vila do Acarape da
minha época se chama hoje cidade de Redenção, a
distancia que separa Redenção de Fortaleza é 93,9 km se
fosse em linha reta eram só 57,69 km e a viagem que
vocês tanto reclamam que hoje só leva 1hora e 43 minutos
na minha época era na diligencia e só faltava não chegar lá
e se hoje vocês reclamam que ainda existe alguns trechos
sem pavimentação , no meu tempo era tudo de terra batida
e o caminho era repleto de buracos e atoleiros.
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75
-Como todo bom cearense eu não posso esquecer de
contar como foi a festa comemorando a libertação que
tivemos e que contava com a participação de todo o povo,
era tanta gente que era difícil até se situar, parecia um
formigueiro humano tinha de ir se infiltrando na multidão
com cuidado para nos pés alheios não pisar.
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76
mesmo salão onde houve a cerimonia e o quadro está até
hoje na mesma sala como prova e registro de tudo o que
aconteceu.
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77
sentimento de abolicionismo que pairava nas mentes
fortalezenses.
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78
declarou o Ceará livre da escravidão, nós abolicionistas
não cabíamos em nós mesmos de tanta felicidade.
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79
-Nós indenizamos o senhor da fazenda para libertar o
escravo, mas nós não percebemos que quem deveria ser
duplamente indenizado eram os escravos, pois eles foram
sequestrados de sua pátria, traficados como se fossem
mercadorias, foram separados de suas famílias para
sempre, obrigados a trabalhar sendo castigados enquanto
todo o lucro ia para o seu senhor.
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80
Libertador ainda noticiava cenas extremamente absurdas, a
abolição estava nos papeis mas não nas mentes daqueles
que usavam do racismo.
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81
Capitulo 8 Jangada Liberdade
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82
Terra da luz, porque foi nessa cidade aonde tudo começou,
foi onde a elite letrada junto do povo e dos jangadeiros
fizeram a paralização que deu o ponta-pé inicial para a
abolição e também porque foi de fortaleza que se deu
todos os preparativos que culminaram na alforria dos
escravos de redenção, José do Patrocínio chamou
Fortaleza de terra da luz pois as grandes ideias vieram
dessa cidade.
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-Depois de toda aquela luta pela abolição eu me afastei um
pouco dos meus amigos abolicionistas fiquei mais voltado a
minha rotina normal.
-De repente o grande destaque de toda uma luta
abolicionista se tornou gente simples do povo outra vez, um
anônimo, não achei ruim muito pelo contrário eu vim de
família simples e voltar a ser simples era muito gratificante.
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84
-Dessa forma o Ministro da Agricultura Rodrigo Augusto da
Silva em 8 de maio de 1888 fez todas as analises e passou
adiante para que fosse feita uma votação para validar o
projeto de lei.
-Depois de ter passado por todo esse protocolo foi que foi
votada e aprovada definitivamente logo na primeira votação
pouco antes das 13:00 da tarde daquele 12 de maio de
1888.
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em vão pois estava sendo reconhecida ali naquele
documento assinado pela princesa Isabel, ouvir tudo isso
me fez pensar em como acreditar no poder da mudança e
fazer algo para mudar o sistema se torna algo capaz da
sacudir toda uma sociedade e todo um sistema para
modificar suas estruturas e naquele instante eu me senti
verdadeiramente especial em tudo o que fiz.
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86
o código comercial do Brasil, separou igreja de Estado,
institucionalização do casamento civil porque até então só
se podia casar de fosse na igreja, fez a primeira
constituição republicana, más nem tudo eram flores,
começou a crise do encilhamento e isso gerou especulação
financeira e alta inflação, isso gerou tanta tensão política
que pelo fato de Deodoro ter sido presidente em sufrágio
indireto tudo isso culminou na centralização e tendência
federalista pela parte dos militares e assim o Congresso
Nacional se dissolveu , foram tantas reviravoltas que o
Marechal Deodoro renunciou em 23 de novembro de 1891
e um ano depois no dia 23 de agosto de 1892 morreu de
dispneia.
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87
Floriano Peixoto receberia o título de o Marechal de Ferro e
fazia jus a esse nome, pois ele perseguia e matava seus
inimigos, o poder o havia deixado cego e por essa razão
ele decidiu pegar uma cidade da qual tinha o nome de
Nossa Senhora do Desterro e nomeá-la de Florianópolis.
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88
Nogueira Aciolly pois pensei que ele traria melhoras para a
população de Fortaleza, más me enganei outra vez e dessa
vez foi de amargar mesmo, imaginem vocês que Nogueira
Aciolly prometeu fazer obras para melhoria da vida dos
fortalezenses e nada saiu do papel, até as tais pontes que
ele prometeu constava nos papeis como feita mais ele
carregou todo o dinheiro.
-O governo de Nogueira Aciolly foi marcado por muitas
divergências e escândalos, inclusive seu vice Manuel
Vitorino esteve por traz da divergência com Prudente
Morais e do enforcamento de Marcelino Bispo de Mello que
foi encontrado morto em situação suspeita envolvendo uma
cadeira e um lençol e que no final a culpa recaiu sobre o
capitão Deocleciano Martyr e José de Sousa Velloso.
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89
retirada dos centros para as periferias, os cortiços do
centro do Rio de Janeiro estavam sendo destruídos, mas a
população sem o acesso a água e ao saneamento estavam
erguendo suas casa onde dava e assim se iniciaram as
primeiras favelas pela falta de um projeto de urbanização
para aquelas pessoas que foram removidas de seus lares,
como que depois de tudo isso o povo não ficaria
desconfiados .
- Aqui em Fortaleza estávamos tendo a fome, a seca cruel,
a epidemia da varíola mortal e a ignorância do Aciolli que
dizia que essa doença não iria dar em nada, eu me
perguntava como é que um líder consegue ser tão
inconsequente e ignorante fazendo jus ao seu pseudônimo
de Babaquara, assim a população fortalezense se
desencantou de vez com ele e passou a ter repudio devido
a negligencia dele.
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90
-Para completar houve uma questão de um alistamento
obrigatório do qual queriam obrigar os jangadeiros a se
alistarem, mas eu sabia que isso não podia ser pois eles
tinham família e como essas famílias iriam sobreviver sem
o provedor do sustento.
Capitulo 9 A guerra
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aceitou a renuncia de Accioli desde que ele cumprisse com
as exigências de jamais ser candidato ao governo do
Ceará, não aceitar nenhuma ajuda do Governo Federal
para ser re-colocado no governo do Estado, deixar de
imediato o Palácio da Luz e partisse o quanto antes junto
com sua família para o sul e de garantia de que não
retornaria deixaria dois reféns José Accioli e Graccho
Cardoso, tutelados mas com livre trânsito.
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92
-Queridos jovens daí do futuro o cenário aqui não era lá
dos mais animadores, a cunho mundial o mundo estava
marchando para a primeira guerra mundial, aqui no Brasil
aconteceria o que se chamaria de Trindade Messiânica
pois foram três grandes guerras , guerra de Canudos tendo
a frente Antônio o conselheiro na Bahia que foi em 1897 , a
guerra do contestado no sul do país em 1912 e a guerra
daqui do Ceará que seria em 1914,chamada de a Sedição
do Juazeiro e que foi o único movimento que manteve
origens de cunho conservador e que mantinha os vínculos
com a igreja, sem contar que teve a presença do padre
Cicero , um presidente interino , o apoio da oligarquia e a
ausência de estratégia do exercito brasileiro.
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-Passaram-se três dias e em 18 de dezembro de 1913
Franco Rabelo enviou de suas tropas para fazer a invasão
a cidade do Crato e depois a Juazeiro tendo no comando
Alípio Lopes para dar um fim a chamada sedição.
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-Aquele dia foi muito triste, partir vendo a cidade de
Fortaleza tomada pelas trincheiras e banhada pelo sangue
daqueles que lutavam no dia 19 de março de 1914
juntamente com as tropas de Floro Bartolomeu estava a
tropa federal, e depois de ocuparem as regiões de Miguel
Calmon, Senador Pompeu, Quixeramobim e outras cidades
o cerco conseguiu atingir Franco Rabelo que não teve
escolha e nem sequer teve como reagir sendo deposto em
15 de março de 1914, exatamente dez dias depois de
minha morte.
-Olhando para tudo o que passei, vejo que minha vida fez
parte da historia do meu querido Ceará, como sei de todas
essas coisas mesmo depois de minha morte?
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onde vivi tantos anos de minha vida a chamando de praia
do peixe eu me despeço pois minha alma é banhada por
esse mar e esse brilho de Fortaleza que tanto encanta e
seduz , da terra que emana e brota ideias, cultura, arte e
liberdade a terra da luz.
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Sobre a autora
Sou Rebeca Alexandrino Rabelo escritora desde meus
13 anos então escrever é a minha maior paixão, desde que
me encontrei no maravilhoso mundo das letras eu nunca
mais deixei de escrever, hoje com 27 anos o amor pelo
conhecimento é o que me faz acreditar em um futuro
melhor onde o conhecimento possa ser transmitido
derrubando as fronteiras e obstáculos semeando uma nova
geração consciente da história de nosso povo, sendo
conhecedores de nossa cultura e tomando posse de seu
espaço na sociedade como jovens críticos, sábios e
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97
questionadores, para que sejam grandes adultos edificando
a nação brasileira.
Quem realmente sou eu? Eu sou aquela que acredita que
sim é possível despertar o amor pelo nosso querido Brasil
em nosso leitor e na nossa juventude, acredito que acima
de tudo a literatura tem o poder transformador de edificar
mentes e formar verdadeiros cidadãos, o escritor só pode
se tornar completo se conseguir levar uma mensagem
transformadora a sociedade, uma folha em branco é na
verdade um universo de possibilidades e as palavras tem
poder e quem as escreve tem por dom dar a vida as
palavras para que toquem a mente e o coração de cada
leitor.
Página
98
Bibliografia
Página
99
Redação, Diário do Nordeste. «Túmulo do abolicionista Dragão do Mar é
localizado no Cemitério São João Batista, em Fortaleza». 19 de Novembro de
2020. Consultado em 6 de fevereiro de 2021
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construção do herói jangadeiro (1934-1958)». Dissertação de Mestrado.
Consultado em 21 de maio de 2019
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News Brasil. Consultado em 15 de agosto de 2021
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Moreno Rocha, Saulo (2018). «Esboços de uma biografia de musealização: o
caso da Jangada Libertadora» (PDF). Universidade Federal do Estado do Rio
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dezembro de 2019
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Tomo 1: Alves, Castro (1944a). Obras Completas de Castro Alves. Col: Livros
do Brasil. 1. [S.l.]: Companhia Editora Nacional. 500 páginas. Introdução e
notas de Afrânio Peixoto. Contendo os livros "Espumas Flutuantes" e "Hinos do
Equador"
Tomo 2: Alves, Castro (1944). Obras Completas de Castro Alves. Col: Livros do
Brasil. 2. [S.l.]: Companhia Editora Nacional. 562 páginas. Introdução e notas
de Afrânio Peixoto. Contendo os livros "Os Escravos", "Gonzaga ou a
Revolução de Minas" e "Relíquias", e ainda "Correspondência"
________, Antônio Prado no Império e na República - Seus Discursos e Atos
Coligidos e apresentados por sua filha Nazaré Prado, F. Briguiet & Cia.
Editores, Rio de Janeiro, 1929.
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