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CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS
JOÃO PESSOA - PB
2011
ALANNE TAMIZE DE MEDEIROS SALVIANO
JOÃO PESSOA - PB
2011
S182p Salviano, Alanne Tamize de Medeiros.
Processamento da carne-de-sol com carne maturada:
qualidade sensorial e textura / Alanne Tamize de
Medeiros
Salviano.- João Pessoa, 2011.
115f. : il.
Orientador: Ricardo Targino Moreira.
Dissertação (Mestrado) – UFPB/CT
Dedico.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida, pela força, paz e sabedoria, e por sempre iluminar meus
passos.
desenvolvimento do trabalho.
Ao Prof. Dr. Ricardo Targino Moreira, não apenas pela dedicada orientação no
Minha eterna gratidão pelas orientações desde o início da graduação. Será sempre um orgulho
A Profa. PhD. Marta Suely Madruga, pela imensa colaboração e boa vontade durante
A Profa. Dra. Solange de Sousa pelo tempo dedicado na avaliação deste trabalho e
As Professoras Dra. Esmeralda Paranhos dos Santos e Dra. Edilma Pinto Coutinho
A Yuri Montenegro Ishihara, pela dedicação ao trabalho que fizemos juntas, pela
carinho e apoio desde que nos conhecemos, tanto nas horas de alegria e diversão quanto nos
As grandes amigas Ana Paula Loura, Ertha Janine Lacerda de Medeiros, Juliana
Targino de Souza, Marcelo Lima dos Santos, Rayssa Julliane de Carvalho, Sonnalle Silva
Costa, Suênia Samara dos Santos Félex e Taliana Kênia Alves Bezerra pela amizade e
Claudionor José de Oliveira, Eunice Ribeiro e Gilvandro Ferreira da Costa pela disposição e
colaborações.
Sendo impossível citar todos os nomes, agradeço a todos que, de alguma forma,
Aa Atividade de água
ADQ Análise Descritiva Quantitativa
A.O.A.C Association of Official Analytical Chemists
CBM Carne bovina maturada
CBF Carne bovina resfriada
CSC Carne-de-sol comercial
CSM Carne-de-sol maturada
CST Carne-de-sol tradicional
CRA Capacidade de retenção de água
FC Força de Cisalhamento
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Kgf Quilograma força
LAQA Laboratório de Análises Químicas de Alimentos
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MP Matéria-prima
NaCl Cloreto de sódio
NaL Lactato de sódio
NaDia Diacetato de sódio
pH Potencial Hidrogeniônico
PPGCTA Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos
UFPB Universidade Federal da Paraíba
WBSF Warner-Bratzler Shear Force
SUMÁRIO
RESUMO GERAL................................................................................................................... 16
GENERAL ABSTRACT......................................................................................................... 17
INTRODUÇÃO GERAL......................................................................................................... 18
CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................. 20
1CARACTERÍSTICAS DA CARNE-DE-SOL...................................................................... 21
2 MICROBIOLOGIA DA CARNE-DE-SOL......................................................................... 23
3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA CARNE.................................................................. 25
3.1 Avaliação Sensorial............................................................................................................ 26
3.1.1 Análise Descritiva Quantitativa...................................................................................... 27
3.2 Avaliações Objetivas.......................................................................................................... 27
3.2.1 Textura da carne ............................................................................................................. 28
3.2.2 Atividade de Água (Aa) ................................................................................................. 29
3.2.3 Capacidade de retenção de água e pH ............................................................................ 29
3.2.4 Cor .................................................................................................................................. 30
4 MATURAÇÃO CÁRNEA................................................................................................... 31
4.1 Enzimas envolvidas no processo de maturação................................................................. 32
5 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 34
16
GENERAL ABSTRACT
SALVIANO, A. T. M. Processing of matured sun meat: Sensory Quality and Texture. João
Pessoa, 2011, 115f. Dissertation (Master’s Degree in Food Science and Technology), Federal
University of Paraíba.
Sun meat is a widely accepted foodstuff in the Brazilian northeast, with processing generally
carried out by hand by small producers who, due to the absence of specific legislation, show
differences in their acquisition processes, which influences the final quality with considerable
variation in its physical-chemical, microbiological and sensory aspects. This study aimed to
characterize the sun meat processing commercialized in the municipality of João Pessoa/PB
through structured interviews with shopkeepers and producers and to evaluate the physical-
chemical, microbiological and sensory characteristics of sun meat processed with previously
matured raw material compared to sun meat commercialized in the municipality of João
Pessoa/PB. Three sun meat samples were evaluated, with two being processed at pilot scale,
differentiated by the previous treatment of the raw material, one being traditional and the
other having matured previously during 14 days. The samples were processed using the
commercial cut inside round (m. semimenbranosus e m. adductor femoris), following the
processing stages (preparation of the raw material, salting, washing, drying and refrigeration)
in accordance with the survey carried out among the producers of the city of João Pessoa/PB.
The processed samples were compared with a commercial sample from the city of João
Pessoa/PB, which were evaluated in relation to its physical-chemical quality: composition,
centesimal composition, chlorates, water activity (Aa), pH, water retention capacity (CRA),
color (L*, a*, b*) and shear force with a Warner-Bratzler blade, microbiological analysis
(total coliforms and thermotolerant bacteria, Salmonella sp e Estafilococos coagulase
positiva) and sensory analysis, by trained panelists, and, acceptance by potential consumers.
79 shopkeepers were interviewed in 15 visited establishments of which, 31,6% process their
own sun meat they commercialize, and the slaughterhouses’ operation was checked (39,2%)
regarding the supply of sun meat commercialized in these establishments. A similarity in the
processing techniques of processed sun meat was observed for both small producers and
slaughterhouses, however, a lack of standardization of operations was found in relation to the
type and salting time and the way in which drying was realized in the sun meat processing.
The maturing process did not influence the physical-chemical, nor the microbiological quality
of the sun meat, not being different from the traditional, nor the commercial sun meat.
However, the addition of sodium chlorate and the salting time of the present study were
sufficient to reduce the humidity and to increase the chlorate concentrations of the products,
but these variations were not sufficient to reduce the Aa, no difference was observed (p≥ 0,05)
between the raw material and the products. However, low content of chlorates between 2,49
and 4,66, elevated. Aa between 0,94 and 0,95 and pH between 5,8 and 6,1 show the high
perishability of the product, which should have double attention for the use of good practices
during its processing, using matured raw material. The maturing process also did not
influence the sensory quality of the sun meat, not having any difference (p≥ 0,05), according
to both the trained panelists and the acceptance test, where the three samples obtained an
acceptance rate of over 60%. The maturing process did not produce the expected effects.
Therefore, further study with longer maturing times, and, or, new techniques with the intent of
providing even greater tenderness of the sun meat, is recommended.
17
INTRODUÇÃO GERAL
18
processo tecnológico que utiliza condições controladas em que a carne fresca é embalada a
vácuo e mantida a temperatura de -1 a 2°C por 14 dias (ARIMA, 2006). A maturação prévia
da matéria-prima para posterior processamento da carne-de-sol poderia favorecer um aumento
na qualidade sensorial desse produto, de forma que esse processo tecnológico não
comprometa a qualidade microbiológica da carne-de-sol.
19
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
20
1 CARACTERÍSTICAS DACARNE-DE-SOL
21
Lira e Shimokomaki (1998) afirmaram que a menor quantidade de cloreto de sódio, o
maior teor de umidade e a elevada atividade de água contribuem para uma vida de prateleira
curta de, aproximadamente quatro dias. No entanto, a carne-de-sol não possui uma quantidade
de sal suficiente para considerar este produto totalmente conservado pela salga.
Sua comercialização e distribuição são feitas em feiras livres, mercados municipais,
armazéns, supermercados e açougues. O produto é exposto, na maioria das vezes pendurado
nos balcões ou disposto em bandejas. Nas condições tecnológicas observadas na elaboração
da carne-de-sol sem as boas práticas de fabricação, é perceptível que se trata de um produto
regional, que não é produzido em escala industrial e não sofre ação da inspeção veterinária.
Desta forma, observa-se falta de condições adequadas no que se refere aos aspectos higiênicos
sanitários (AZEVEDO, 2005).
O consumo da carne-de-sol não desapareceu com a modernidade, ao contrário, a
refrigeração nos últimos tempos, tem sido usada pelos consumidores para aumentar a sua
conservação.
Até meados do século XX, a carne-de-sol tinha consumo praticamente restrito à região
Nordeste. Mais para o final do século XX grandes centros (São Paulo, Rio de Janeiro e
Brasília) também vai despontando como consumidora, em razão da migração de populações
nordestinas e a popularização do produto como prato típico nacional. Segundo Norman et
al.(1983), o consumo de carne-de-sol na grande João Pessoa/PB representava 48,6% das
vendas das carnes na região. Com o crescimento do turismo em nosso país, aumenta também,
o potencial de consumo da carne-de-sol tendo em vista que, os turistas procuram pelos
recursos naturais da região e por atrações culturais como comidas típicas.
A carne-de-sol, devido às suas características de preparo rápido, textura macia, gosto
e aroma agradáveis qualifica-se como componente do cardápio de restaurantes “fast food”.
Sendo um produto de conveniência, tem o potencial para conquistar o consumidor doméstico,
que busca diversidade de opções de carne de preparo rápido. A exploração desses mercados e
o crescimento do consumo de carne de sol nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste são
limitados pela qualidade sanitária e pela curta vida-de-prateleira do produto tradicional
(CARVALHO JR., 2002). Para o autor a carne-de-sol tem potencial para ser fabricada em
escala industrial, sendo capaz de atrair os consumidores que buscam diversidade de opções de
alimentos de preparo rápido.
A expansão do comércio e consumo da carne-de-sol depende, entre outros aspectos, de
uma vida útil maior e de uma mudança no processo de fabricação, transformando-o em um
processo industrial; por ser um processo muito artesanal e normalmente realizado em
22
condições precárias de higiene, a conservação e qualidade do produto ficam comprometidas.
Outro fator importante, que caracteriza à necessidade de aumentar a vida-de-prateleira da
carne-de-sol, é que as empresas produtoras de alimentos, principalmente de produtos cárneos,
estão concentrando as unidades de produção longe dos grandes centros populacionais,
tornando as cadeias de distribuição mais longas (CARVALHO JR., 2002). Contudo, o autor
preconiza que o produto seja sempre fabricado com matéria-prima inspecionada, dentro de
padrões rígidos de higiene, e que, para ser de conveniência e ao mesmo tempo ter a sua vida
útil prolongada, tenha baixo teor de sal e seja embalado e conservado sob refrigeração.
2 MICROBIOLOGIA DA CARNE-DE-SOL
23
bactéria não sobrevive aos obstáculos impostos pelo processamento, havendo uma diminuição
considerável da sua contagem durante a secagem, o que não é tão surpreendente quando a
bactéria se desenvolve em elevados valores de atividade de água, acima dos valores limites
para alimentos de umidade intermediária (PAWSEY; DAVIES, 1976). Os resultados obtidos
pelos autores mostraram que a elevada concentração salina (10 a 20%) e principalmente os
valores intermediários de Aa (0,70 a 0,75) são importantes obstáculos colocados na produção
de charque, sendo afetivos para inibir o crescimento do S. aureus.
A carne-de-sol é um produto que não se enquadra dentro dos parâmetros de umidade
intermediária devido a menor concentração salina (5 a 6%) e, consequentemente, uma maior
Aa (0,92) (SHIMOKOMAKI et al., 1987, LIRA; SHIMOKOMAKI, 1998).
Costa e Silva (2001) detectaram uma baixa frequência de S. aureus ao avaliarem
amostras de carne-de-sol provenientes de estabelecimentos inspecionados e não-
inspecionados, estando presente em 14,6% das amostras dos estabelecimentos inspecionados
e em 10,4% das amostras dos não-inspecionads. Apesar da baixa incidência desse micro-
organismo, a média da contagem foi superior a 5log UFC/g, representando o risco da presença
da enterotoxina, suficiente para desencadear a intoxicação alimentar (PEARSON;
DUTSON,1986).
Devido a ocorrência disseminada no homem e nos animais, torna-se muito difícil
evitar a contaminação de alimentos pelo Staphylococcus aureus. A prevenção da intoxicação
estafilocócica em alimentos pode ser alcançada pelo controle de sua contaminação, mediante
práticas adequadas de higiene e sanitização industrial, principalmente durante à manipulação
dos produtos. Além disso, pela refrigeração adequada dos alimentos susceptíveis a
contaminação e proliferação do S. aureus, consegue-se manter as populações a níveis
reduzidos, minimizando os riscos de intoxicações (PEREIRA et al., 1994).
A principal linhagem de Escherichia coli associada com processos patológicos
ocasionados pela ingestão de alimentos é a Escherichia coli enterohemorrágica, que possui
como reservatório natural o gado, razão pela quais os alimentos de origem animal,
principalmente a carne bovina, vem sendo o principal veículo deste patógeno (FRANCO;
LANDGRAF, 1996).
De um modo geral, estirpes E.coli podem multiplicar-se em alimentos e são
necessários de 105 a 107 UFC/g para causarem infecção (PINTO et al., 1998). Escherichia
colipode resistir a determinadas concentrações de cloreto de sódio em alimentos (até 5%),
geralmente, na carne e nos produtos cárneos com elevadas concentrações de sal,
contaminados por Escherichia coli, ocorre um declínio gradual no numero de micro-
24
organismos vivos. Sperber citado por Costa e Silva (1999),observou que espécies E. coli,
geralmente não sobrevivem em uma atividade de água abaixo de 0,95 e concentrações de sal
acima de 8,5%. Esses mesmos autores conseguiram uma significativa redução da população
em substratos com atividade de água em torno de 0,90.
Silva (1991) detectou a presença de E. coli em 45,0% das amostras de carne-de-sol
comercializadas em feiras livres do Recife. Costa e Silva (1999), ao avaliarem amostras de
carne-de-sol comercializada no município de João Pessoa-PB, coletadas em estabelecimentos
não inspecionados, verificaram uma grande contaminação por micro-organismos de origem
fecal, ou seja, o Número Mais Provável desse grupo de micro-organismos foi superior a dois
ciclos logarítmicos em 81,2% das amostras analisadas, limite máximo estabelecido pela
legislação brasileira. Nos estabelecimentos inspecionados, apenas 18,7% das amostras
encontravam-se fora dessa especificação.
Entretanto, mesmo nas amostras com pequena incidência de coliformes a 45 °C
verificou-se a presença de Escherichia coli em 56,3% do total das amostras; já aquelas
provenientes dos estabelecimentos não inspecionados apresentaram o micro-organismo em
66,7% das amostras. A presença de E. coli não é tolerada, mesmo em pequenas quantidades,
visto que algumas cepas desse micro-organismo são comprovadamente enterotoxigênicas e
têm sido envolvidas em surtos de gastroenterites severas (CHAPMAN, 1995).O autor ressalta,
que mesmo quando no alimento, estão presentes apenas cepas não patogênicas de E. coli,
estas podem adquirir resistência a antibióticos e podem transferir plamídios a micro-
organismos patogênicos, contendo a informação genética, que confere resistência, tornando-
os ainda mais virulentos, quando envolvidos em gastroenterites.
25
3.1 Avaliação Sensorial
26
de processamento de carnes, assim como a de alimentos em geral, é altamente dependente de
métodos objetivos para a avaliação da qualidade, visto que estes são mais rápidos que a
análise sensorial.
27
3.2.1 Textura da carne
28
3.2.2 Atividade de água (Aa)
Sendo a água o meio universal das reações biológicas, sua presença afeta diretamente
as reações que ocorrem na carne durante o armazenamento e processamento (SÁ, 2004). A
perda de água na carne está intimamente relacionada com a capacidade desta em reter líquidos
em sua estrutura morfológica.
A capacidade de retenção de água (CRA) é uma propriedade importante em termos de
qualidade tanto na carne destinada ao consumo direto, como para a carne destinada à
industrialização. Pode ser definida como a capacidade da carne de reter sua umidade ou água
durante a aplicação de forças externas, como corte, aquecimento, trituração e prensagem
(FLORES; BERMELL, 1984).
De acordo com Dabés (2001), parâmetros indicadores da qualidade da carne, como a
capacidade de retenção de água, traduzem sensação de suculência para o consumidor no
momento da mastigação. A menor capacidade de retenção de água da carne implica perdas do
29
valor nutritivo através do exsudado liberado, resultando em carne mais seca e com menor
maciez.
As perdas de água, sejam pela exsudação durante o resfriamento, pela pressão sob os
tecidos durante a estocagem ou pela desnaturação das proteínas durante o cozimento, confere
ao produto características sensoriais indesejáveis, como diminuição da suculência e perda de
peso (LAKSHMANAN et al., 2007). Segundo Bressan et al. (2001), o pH final é relevante na
determinação da capacidade de retenção de água, nas perdas de peso e em outros atributos de
qualidade da carne.
Lakshmanan et al. (2007) definem capacidade de retenção de água como a habilidade
do músculo de resistir à perda de água, importante tanto do ponto de vista comercial quanto
do consumidor.
A retenção da água ligada é influenciada por mudanças na estrutura protéica,
distribuição do fluído nos espaços intra e extracelular, pH, força iônica e forças físicas, como
pressão e calor durante o processamento (JONSSON et al., 2001).
O cozimento induz as mudanças estruturais e diminui a capacidade de retenção de
água da carne (CRA), que está ligada à suculência. Segundo Silva (2007), à temperatura de 60
a 70 °C, a rede do tecido conectivo e fibras musculares conjuntamente encolhem de modo
longitudinal, e a extensão deste encolhimento aumenta com a temperatura. Em consequência,
tem-se uma grande perda de água que é obtida no cozimento. Presume-se que a água é
expelida pela pressão exercida por este encolhimento no tecido conectivo, exercendo
influência na percepção sensorial de suculência nas amostras de carne.
O aumento da CRA pode ser acompanhado pela adição de cloreto de sódio acima do
ponto isoelétrico protéico (pI) em sistemas cárneos. No entanto, mudanças no conteúdo de
água e no músculo podem influenciar importantes atributos de qualidade como textura,
aparência e estabilidade na estocagem (LAKSHMANAN et al., 2007). Especificamente, a
distribuição celular, o estado de ligação e a mobilidade da água são mais importantes que o
total de água contido na determinação da qualidade e estabilidade do alimento (RUAN;
CHEN, 1998).
3.2.4 COR
A carne in natura tem sua coloração modificada quando a mioglobina, o pigmento em
maior concentração no músculo, é oxidada a metamioglobina, de coloração marrom. Vários
fatores contribuem para a oxidação da mioglobina, tais como a pressão parcial de oxigênio,
30
temperatura, presença de íons metálicos, luz, pH, oxidação lipídica e microflora. Em produtos
cárneos reestruturados, os fatores que contribuem para a aceleração da descoloração, são a
moagem e mistura (pela incorporação de oxigênio), adição de cloreto de sódio e o
congelamento (CHU et al., 1987).
De acordo com Lytraset al. (1999), as taxas de desnaturação da mioglobina em
concentrações de sal de 1,5, 2,0 e 3,0% de NaCl em temperaturas entre 55 e 75°C, foram
duas vezes maiores que em amostras controle (sem NaCl).
Segundo Offere Trinick (1983), há uma correlação, anteriormente pontuada por Hamm
(1960), entre a cor da carne e a capacidade de retenção de água, que pode ser explicada em
termos de modificações do volume das miofibrilas. Esses autores sugerem que no
desenvolvimento do rigor, as miofibrilas encolhem substancialmente, resultando em um
aumento da dispersão de luz. No caso de carnes com anomalias no processo de instalação do
rigor mortis, nas carnes escuras, firme e seca, a queda de pH é menor que em um músculo
normal, consequentemente, o encolhimento das miofibrilas é menor, então o músculo é
mais translúcido. Já, no caso das carnes PSE (pálidas, moles e exsudativas), os espaços entre
os miofilamentos são menores que em condições normais, exsudam mais água, produzindo
uma carne que dispersa mais luz que o normal.
De acordo com Velinov et al.(1990), amostras de músculo longissimus dorsi tratadas
com NaCl e polifosfato apresentaram a superfície vermelho intenso, enquanto as
amostras controle apresentaram vermelho menos intenso e maior luminosidade. Segundo
os autores, a camada de proteínas coaguladas na superfície afetou a cor e, deste modo, os
músculos tratados com salmoura apresentaram visualmente coloração vermelho escuro. As
diferenças de cor foram em parte, atribuídas a observação de que os espaços intracelulares das
amostras tratadas foram preenchidos com proteínas coaguladas, e também à probabilidade da
redução na presença de água.
4 MATURAÇÃO CÁRNEA
A maturação tem sido uma alternativa tecnológica muito difundida e utilizada pela
indústria da carne para melhorar e padronizar a textura, por possibilitar a ação de proteases
endógenas.
A maturação é um processo pós-abate de alterações naturais que ocorrem na carne
durante o armazenamento, desde -1°C até temperaturas abaixo da desnaturação, cujo
resultado é o desenvolvimento do amaciamento, de sabor e aroma característicos desejáveis,
31
tornando assim, a carne mais tenra e aromática devido, sobretudo, à atividade enzimática
(PARDI et al., 2001; ARIMA, 2006).
No Brasil, o tempo de maturação que se pratica é de 14 a 21 dias. Neste processo, é
importante levar em consideração as características do gado brasileiro, constituído por 80% de
bovinos de origem indiana. As pesquisas têm demonstrado que as carnes do gado das raças
européias apresentam os efeitos da maturação com 14 dias, enquanto que as carnes das raças
indianas o tempo é de 21 dias. Além disso, deve-se considerar também a comercialização da
carne, se é realizada através de rede de distribuição ou se é diretamente para o consumidor
final e o tempo decorrente do abate até o consumo (ARIMA, 2006).
Para que ocorra uma maturação correta, é importante que exista uma acidificação
adequada da carne com pH final entre 5,4 e 5,8. Durante a maturação se produz um ligeiro
incremento do pH e este valor não deve ser superior a 6,0, pois se torna muito susceptível à
alteração bacteriana (ARIMA, 2006).
32
30% da calpaína II é ativada num processo natural de maturação (DRANSFIELD et al.,
1994).
Uma das principais evidências, que apontam para as calpaínas, como reguladoras do
processo de amaciamento, é o fato de que durante o processo de maturação da carne as
calpaínas degradam as proteínas miofibrilares em determinados pontos internos das
moléculas, melhorando a maciez da carne, porém, não são capazes de levar o processo de
hidrólise até aminoácidos.
O enfraquecimento da estrutura da linha Z promove o amaciamento da carne. Grandes
mudanças na maturação são causadas pelas calpaínas, entre 3 a 4 dias post-mortem
(MORAES e AZEVEDO, 2003). As calpaínas não atuam diretamente sobre a miosina e a
actina, porém, degradam as linhas Z e digerem as proteínas desmina, titina, nebulina,
tropomiosina, troponina e proteína C. A hidrólise da tropomiosina e troponina facilita a
desestruturação e a liberação dos filamentos finos, resultando nos monômeros de actina,
enquanto que a digestão da proteína C, em um mecanismo semelhante desestabiliza e libera
os filamentos grossos, resultando nos monômeros de miosina (KUBOTA et al., 1993).
As proteínas titina e nebulina reforçam transversalmente a estrutura miofibrilar e a
ação da μ-calpaína e m-calpaína sobre estas enzimas e auxilia no enfraquecimento desta
estrutura. Finalmente, a digestão da desmina e das linhas Z também enfraquece a estrutura
miofibrilar, principalmente as linhas Z, que são necessárias para manter juntos os sarcômeros
(KUBOTA et al., 1993; ROÇA, 2000).
O complexo do sistema calpaínas é constituído também pela presença da calpastatina,
uma enzima que inibe a ação das calpaínas, desta forma diminuindo a degradação das
proteínas miofibrilares durante o processo de maturação, reduzindo assim a maciez. A
calpastatina tem grande influência na maciez da carne após 24 horas e também nas carnes
maturadas, cessando seus efeitos só quando termina a calpaína ou o sistema enzimático é
destruído pelo cozimento. Carnes com alta atividade de calpastatina no primeiro dia post-
mortem necessitam de maior força para serem cortadas, ou seja, são menos macias
(RÜBENSAM et al., 1998).
33
5 REFERÊNCIAS
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of tenderness. Journal Animal Science. v. 75, n. 6, p. 1521-1524, 1997.
34
CHIRIFE, J.; RESNICK, S. Unsaturated solutions of sodium chloride as reference sources of
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35
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VASCONCELOS, O. Por cima da carne seca. Revista Globo Rural. Rio de Janeiro, v. 1, n.5,
p.15-20, 1986.
38
CAPÍTULO II
39
RESUMO
40
ABSTRACT
Sun meat is a typical foodstuff in the Brazilian northeast, with processing generally carried
out by hand by small producers who, due to the absence of specific legislation, show
differences in their acquisition processes, which influences the final quality.
This study aimed to characterize the sun meat processing commercialized in the municipality
of João Pessoa/PB through structured interviews with shopkeepers and producers to verify the
origin of the sun meat processing charactersistics commercialized on the street markets and
public markets in the municipality of João Pessoa. 79 shopkeepers were interviewed in 15
visited establishments of which, 31,6% process their own sun meat they commercialize, and
the strong operation of the slaughterhouses was checked (39,2%) regarding the supply of sun
meat commercialized in these establishments. A similarity in the processing techniques of
processed sun meat was observed for both small producers and slaughterhouses, however, a
lack of standardization of operations was found in relation to the type and salting time and the
way in which drying was realized in the sun meat processing. The lack of standardization in
the processing of commercialized sun meat on street markets and public markets of the
municipality of João Pessoa/PB is favored by the inexistence of legislation, indicating the
necessity of standardization of the processing through specific legislation and inspection by
competent organs in order to obtain products with greater competitivity and quality.
41
1 INTRODUÇÃO
42
Para Felício (2002), a carne-de-sol tem potencial para ser fabricada em escala
industrial, sendo capaz de atrair os consumidores que buscam diversidade de opções de
alimentos de preparo rápido. Contudo, este mesmo autor preconiza que o produto deve ser
sempre fabricado com matéria-prima inspecionada, dentro dos padrões rígidos de higiene, e
que, para ser de conveniência deve ter baixo teor de sal e ser conservado sob refrigeração.
A modernização na tecnologia do seu processamento deverá ser adotada com o
cuidado de resguardar as características do produto firmadas há séculos, provenientes do seu
processo de fabricação (NÓBREGA, 1982). CARVALHO JR. (2002), ressalta a importância
de conhecer as condições em que o produto tradicional é elaborado para compreender os
fatores que contribuem para o desenvolvimento das suas características sensoriais, tão
apreciadas pelos consumidores.
O consumo de carne-de-sol na Paraíba representa 16% dos produtos cárneos bovino
comercializados no Estado, destacando-se como um dos maiores consumidores do produto no
Brasil, com uma média de consumo de 1,405 Kg / per capita/ ano (IBGE, 2009).
Em face dessas questões, torna-se relevante o levantamento sobre a forma de
processamento da carne-de-sol, de forma que se possa propor a padronização do seu
processamento e garantir a disponibilidade de um produto de maior qualidade.
Desta forma, objetivou-se neste trabalho caracterizar o processamento da carne-de-sol
comercializada no município de João Pessoa/PB, com o intuito de propor a padronização do
seu processo de fabricação de forma a melhorar sua qualidade, sem promover sua
descaracterização.
43
2 METODOLOGIA
44
Figura 2 - Questionário de caracterização do processamento da carne-de-sol.
2.1População e Amostra
45
Desenvolvimento Urbano (SEDURB), da prefeitura Municipal de João Pessoa, no primeiro
trimestre de 2010.
Após o levantamento, foram constatadas 23 feiras e mercados públicos cadastrados na
SEDURB, dos quais 15 comercializavam carne-de-sol, fazendo parte da real população
avaliada. Os demais estabelecimentos não fizeram parte da amostragem, pois não
comercializavam carne-de-sol.
Para efeito deste estudo, os estabelecimentos (feiras/mercados) foram divididos por
regiões do município de João Pessoa/PB: Norte, Sul, Leste e Oeste. No Quadro 1, são
apresentados os estabelecimentos onde foram aplicados os questionários com as respectivas
regiões a que pertencem.
46
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 – Distribuição de mercados públicos e feiras livres por região no município de João
Pessoa/PB.
REGIÕES
Norte Sul Leste Oeste Total
Mercado 3 4 2 4 13
Feira 0 1 0 1 2
Total 3 5 2 5 15
47
fundamental completo; 25,3% com o ensino médio completo e; 12,7% com nível superior
completo.
Os comerciantes das regiões norte e sul apresentam maior nível de escolaridade, com
36,6% e 47,7% respectivamente, com escolaridade maior ou igual ao ensino médio. Já as
regiões leste e oeste se destacaram pelo menor nível de instrução, onde a quase totalidade dos
comerciantes (100% e 91%), respectivamente, declararam possuir o ensino fundamental
incompleto.
Em relação ao tempo de trabalho comercializando carne-de-sol, a grande maioria dos
comerciantes (45,6%) comercializa carne-de-sol há mais de 15 anos, 26,6 % comercializam
entre 6 e 15 anos e apenas 15,2% estão no mercado há menos de cinco anos. Quando avaliado
o tempo de trabalho por região, observa-se que a região norte (Tabela 2) se destaca pelo maior
número de comerciantes (56,7%) com mais de 15 anos no mercado. Tal fato justifica-se
devido a concentração dos bairros mais antigos da cidade nessa região e por ser o principal
setor comercial da cidade.
Tabela 2 - Tempo de trabalho dos comerciantes por região do município de João Pessoa/PB.
REGIÕES
Tempo de Norte Sul Leste Oeste
trabalho F % F % F % F %
0-5 anos 3 10 3 14,3 1 16,7 2 9,1
6-10 anos 2 6,7 9 46,9 1 16,7 3 13,6
11-15 anos 3 10 2 9,5 3 50 7 31,8
Mais de 15 anos 17 56,7 3 14,3 1 16,7 7 31,8
Não informou 5 16,7 4 19 - - 1 4,5
F= Frequência das respostas
48
100
90
80
70
60 Individualmente
50 Familiar
40 De 2 a 5 func
30 Mais de 5
20
10
0
Norte Sul Leste Oeste
49
mercado consumidor. Já a região norte se destaca por apresentar o maior e mais tradicional
mercado público da região metropolitana de João Pessoa (Mercado Central).
50
Tabela 5-Variáveis do processamento da carne-de-sol comercializada no município de João
Pessoa/PB.
VARIÁVEL FREQUÊNCIA PERCENTUAL
Corte
Coxão-mole 25 96,2
Coxão-duro 1 3,8
Uso manteação
Sim 26 100,0
Emprego incisões
Sim 18 69,2
Não 8 30,8
Tipo de sal
Fino 22 84,6
Médio 2 7,7
Grosso 2 7,7
Quantidade de sal (%)
0a5 2 7,7
6 a 10 22 84,6
Acima 10 2 7,7
Tempo salga (horas)
Até 2h 7 27,0
De 3 a 4h 16 61,5
8h 3 11,5
Tipo de salga
Seca1 10 38,5
Mista2 16 61,5
Temperatura salga
Ambiente (26° C)3 3 11,5
Refrigerada (± 4 °C) 23 88,5
Lavagem
Sim 26 100,0
Submete a secagem
Sim 25 96,2
Não 1 3,8
Forma de secagem
Estendida 20 80,0
Pilha 5 20,0
Tempo secagem
Até 30 min 20 80,0
De 40 min a 2 horas 5 20,0
Uso de embalagem
Sim 2 7,7
Não 24 91,3
Tempo para comercialização
Até 24h 15 57,7
De 24h a 48h 6 23,1
Mais 48h 5 19,2
1
O exudado é drenado durante a salga; 2A carne permanece no exudado liberado durante
a salga; 3Temperatura média anual - Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia.
51
De uma forma geral, a carne-de-sol comercializada no município de João Pessoa/PB
segue as mesmas etapas de processamento, conforme o fluxograma da Figura 4.
Preparação da matéria-prima
Salga
Lavagem
Secagem
Refrigeração e comercialização
a) Preparação da matéria-prima
52
b) Salga
c) Lavagem
Transcorrido o tempo de salga as carnes são lavadas, para retirar o excesso de sal.
Geralmente a lavagem é realizada em água corrente.
d) Secagem
53
e) Refrigeração e comercialização
As carnes processadas pelos frigoríficos logo após a lavagem são levadas para câmara
frigorífica e mantidas sob refrigeração até o momento da comercialização.
54
4 CONCLUSÕES
55
5 REFERÊNCIAS
56
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA – INMET. Acesso em 10 dez. 2010.
Online. Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/htmlclima.
php?lnk=http://www.inmet.gov.br/html/clima/graficos/index4.html>.
PARDI, M. C.; SANTOS, I. F.; SOUZA, E. R.; PARDI, H. S. Ciência, higiene e tecnologia
da carne. Goiânia: UFG, 2001. 623p.
57
CAPÍTULO III
58
RESUMO
59
ABSTRACT
Sun meat is a slightly salted meat product with a great tradition and acceptance in the
Brazilian northeast, which has become popular due to its sensory peculiarities together with
its ease of preparation. However, due to a great variety in relation to its processing, a large
variation was found on the market in relation to its physical-chemical and microbiological
aspects. In this context, this study aimed to evaluate the physical-chemical and
microbiological characteristics of processed sun meat with previously matured raw material
compared to sun meat commercialized in the municipality of João Pessoa/PB. Samples were
prepared, using the commercial cut inside round (m. semimenbranosus e m. adductor
femoris), which were evaluated in relation to physical-chemical composition quality:
centesimal composition, chlorates, water activity (Aw), pH, water retention capacity (CRA)
and color (L*, a*, b*); microbiological analysis (total coliforms and thermotolerant bacteria,
Salmonella sp and Estafilococos coagulase-positive). The maturing process did not influence
the physical-chemical and microbiological quality of the meat, not differiating between the
traditional or the commercial sun meat. However, the addition of sodium chlorate and the
salting time of the present study were sufficient to reduce humidity and increase chlorate
concentrations of the products, but these variations were insufficient to reduce the Aw, with
no difference being observed (p≥ 0,05) between the raw material and the products. The low
rate of chlorates (2,49 and 4,66), increased Aw (0,94 and 0,95) and pH (5,8 and 6,1) show the
high perishability of the product, demonstrating the need for the combination of other
methods of conservation with the salting process.
60
1 INTRODUÇÃO
Até meados do século XX, a carne-de-sol tinha seu consumo praticamente restrito à
região Nordeste. No entanto, seu consumo vem despontando nos grandes centros do sul,
sudeste e região central do país, principalmente devido à migração de populações nordestinas
para essas regiões popularizando o produto como prato típico nacional. Outro fator que tem
contribuído com a popularização do produto é o crescimento do turismo na região, que
aumenta também o potencial de consumo da carne-de-sol, devido a procura dos turistas por
atrações culturais como patrimônios históricos, danças e comidas típicas.
61
A maturação previa da matéria-prima para posterior processamento da carne-de-sol
poderia favorecer um aumento na qualidade sensorial desse produto, de forma que esse
processo tecnológico não comprometa a qualidade microbiológica da carne-de-sol.
62
2 MATERIAL E MÉTODOS
63
2.2.1 Preparação da matéria-prima
Cada peça foi aberta ao meio e dividida paralelamente no sentido das fibras em quatro
cortes com aproximadamente cinco centímetros de espessura cada. Duas partes foram
destinadas para maturação e posterior processamento da carne-de-sol e as outras duas para o
processamento da carne-de-sol tradicional.
2.2.3 Salga
Foi realizada uma salga com sal refinado comercial na proporção de 10% em relação
ao peso da carne, o qual foi friccionado manualmente sobre os cortes, sendo metade em cada
lado. Após salgados, os cortes foram mantidos em temperatura ambiente (26 °C) por quatro
horas, virando após 2 h para melhor penetração do sal, promovida pelo peso das fatias e do
contato com o exudado.
2.2.4 Lavagem
Ao fim da salga, foi feita uma drenagem do exudado e lavagem em água corrente para
remoção do excesso de sal.
2.2.5 Secagem
2.2.6 Refrigeração
64
Preparação da matéria-prima
Lavagem
(Água corrente)
Secagem
(30 min/ sombra)
Refrigeração
(24 horas)
Figura 1- Fluxograma das etapas do processamento das carnes-de-sol.
65
2.3 Preparo das amostras para realização das análises físico-químicas
Para realização das análises de pH, capacidade de retenção de água e cor, após
realização do toalete as amostras foram acondicionas em bolsas plásticas de polietileno de
baixa densidade com zíper codificadas e refrigeradas em temperatura de 4 °C ± 2 °C por 24
horas até o momento das análises.
- Composição Centesimal
66
- Cloretos
Os Cloretos foram determinados por volumetria a partir das cinzas, de acordo com
metodologia da AOAC (2000), procedimento nº 935.47.
- pH
- CRA
Foi realizada por pressão, onde a amostra foi submetida a uma pressão de 10,00 Kgf.
cm2 por um período de cinco minutos de acordo com o método modificado por Moura (2000).
- Cor
Foram realizadas seis medições em pontos distintos da porção externa da carne e seis
medições em pontos distintos da porção interna das amostras.
67
2.6 Avaliação Microbiológica
Salmonellaspp/25g Ausência
Fonte: Adaptado de BRASIL (2001).
68
2.7 Análise estatística
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
AMOSTRAS
Lipídeos 1,13a ± 0,02 0,83a± 0,32 1,08a± 0,41 0,96b± 0,06 0,94b± 0,42
Cloretos 0,22a± 0,02 0,22a ± 0,32 4,00b ± 0,41 4,66b± 0,06 2,49c ± 0,42
Aa 0,97a± 0,01 0,97a± 0,01 0,95a± 0,02 0,94a± 0,02 0,94a± 0,02
Valor médio ± desvio padrão.abMédias seguidas de letras diferentes na mesma linha indicam haver
diferença significativa pelo teste de Tukey (p≤0,05). CBR= carne bovina resfriada; CBM = carne bovina
maturada; CST= carne-de-sol tradicional; CSM=carne-de-sol maturada; CSC= carne-de-sol comercial.
69
Carvalho Jr. (2002), encontrou na carne in natura valores de umidade de 75,11% e
cinzas 1,11% e, para carne-de-sol processada com 6% de NaCl, encontrou resultados de
umidade de 71,02% , valores próximos aos encontrados no presente estudo.
Assim como no presente estudo, Alves et al. (2010) encontraram valores superiores de
cinzas (4,06%) e proteínas (24,22%) para a carne salgada do Pantanal em relação à carne in
natura, que foi de 1,10% e 23,5% para cinzas e proteínas, respectivamente. Os valores de
cinzas e proteínas das carnes-de-sol do presente estudo apresentaram valores superiores em
relação à carne in natura e previamente maturada, enquanto que para umidade os valores
foram inferiores, evidenciando o processo de desidratação provocado pelo leve processo de
salga e secagem a que o produto foi submetido.
Ambiel (2004) avaliando o efeito combinado da adição de NaCl (4,0%) e NaL (1,2%)
em produto similar a carne-de-sol, verificou que apenas o cloreto de sódio teve efeito
significativo na perda de peso, encontrando uma perda de 7,3%. Souza (2005) também
70
avaliando o efeito combinado de cloreto de sódio e lactato de sódio em um sucedâneo da
carne-de-sol verificou uma perda de 6,1%.
Alves et al. (2010) encontraram valores de 69,11%, 2,71% e 0,97 para umidade,
cloretos e Aa, respectivamente, em carne salgada do Pantanal, adicionada de 3% de NaCl.
Farias (2010) verificou uma variação de 1,62% a 3,01% para cloretos e de 0,94 a 0,96
para Aa em diferentes amostras de carne-de-sol comercial na cidade de João Pessoa/PB. Della
Torre et al. (2009) analisando 43 amostras de carne-de-sol comercializadas em Casas do
Norte localizadas no município de Diadema (SP) verificou valores de umidade variando de
42,2 % a 68,1%, valores de cloreto de sódio de 3,8% a 19,0% e para Aa valores de 0,75 a
0,86. A grande variação dos valores de umidade, cloretos e Aa encontrados nas amostras
analisadas, demonstram que os autores citados consideram amostras que apresentam
características do charque como sendo carne-de-sol.
71
Os resultados encontrados no presente estudo demonstraram que os processos de salga
e secagem da carne-de-sol não foram suficientes para reduzir sua atividade de água (Aa) e
umidade a valores que a considerem como um alimento de umidade intermediária, pois,
apresentaram valores próximos aos da matéria-prima, ao contrário do charque e jerked beef
que apresentam valores de umidade que variam de 45,96 a 46,4% e 51,17 a 52,1%,
respectivamente (CORREIA e BISCONTINI, 2003; PINTO et al., 2006; YOUSSEF et al.,
2007). Podendo chegar até 45% para o charque (BRASIL, 1962) e 55% para o jerked beef
(BRASIL, 2000).
pH 5,8 a± 0,10 5,8a ± 0,04 6,0a± 0,02 5,8a ± 0,08 6,1a ± 0,06
Valor médio ± desvio padrão.abMédias seguidas de letras diferentes na mesma linha indicam haver
diferença significativa pelo teste de Tukey (p≤0,05). CBR= carne bovina resfriada; CBM = carne bovina
maturada; CST= carne-de-sol tradicional; CSM=carne-de-sol maturada; CSC= carne-de-sol comercial.
72
das carnes-de-sol em relação a matéria-prima inicial. No entanto, não houve diferença entre as
carnes-de-sol. O aumento na capacidade de retenção de água se deve à extração e
solubilização das proteínas miofibrilares da carne pela ação do sal.
Efeito similar foi encontrado por Alves et al. (2010), que verificaram uma menor
perda de água por pressão na carne soleada, produto similar à carne-de-sol em relação a
matéria-prima. Para Sgarbieri (1998) as proteínas cárneas podem tanto reter como liberar
água, o que depende da concentração salina do meio.
3.3 Cor
Não foram constatadas diferenças (p≥0,05) entre as médias das carnes-de-sol para os
parâmetros L*,a*,b* tanto para a cor superficial como para a cor interna (Tabela 3). No
entanto, comparando a cor superficial das amostras com a cor interna, observou-se que
embora não significativo, a cor superficial apresentou menores médias para L* conferindo
uma menor luminosidade, apresentando-se mais opaca e menos atrativa que a cor interna, que
apresentou-se mais clara. Para essa alteração de cor, os produtores utilizam a expressão
“queima”, em que a superfície das peças da carne-de-sol torna-se visualmente amarronzada.
AMOSTRAS
Parâmetros CST CSM CSC
L*(luminosidade)
73
Carvalho Jr. (2002) verificou efeito semelhante na luminosidade de um produto
similar à carne-de-sol com valores de 31,63 ± 2,42 e 35,49 ± 2,05 para L* superficial e
interna, respectivamente.
Em relação a coordenada b*, em que se analisa a variação da cor azul (-) e amarela (+)
no diagrama de cromaticidade , ainda que a intensidade da cor amarela tenha sido maior no
centro das amostras, não foi observada diferença significativa (p≤0,05) para as CSM e CSC,
apenas para a CST.
Silva Sobrinho et al. (2004) avaliando o efeito da salga na qualidade da carne ovina
verificaram que a utilização de 15 e 20% de NaCl não alteraram o valor de L* das amostras,
mas para os valores de a* e b* a salga teve efeito significativo, reduzindo o valor de a* da
matéria-prima de 14,79 para 7,68 e o valor de b* de 3,40 para 0,38, por um período de quatro
horas.
74
Coliformes Totais e Coliformes 45° C (termotolerantes), respectivamente. A ANVISA,
através da RDC n°12 (BRASIL, 2001), não estabelece padrões na carne bovina in natura para
os demais micro-organismos apresentados na Tabela 4, no entanto, pode-se verificar que esses
micro-organismos não foram detectados nas amostras, indicando que as condições higiênico-
sanitárias foram satisfatórias durante o processamento das amostras.
Amostras
Microrganismos
Pesquisados CBR CBM CST CSM CSC
Estafilococos coagulase - - - - -
positiva (UFC/mL)
Coliformes 45°C(NMP/g) - - - - -
E. coli
75
4 CONCLUSÕES
76
5 REFERÊNCIAS
77
pagina=45&totalArquivos=446>. Acesso em 14ago. 2009.
FOLCH, J.; LESS, M.; STANLEY, S. A simple method for the isolation and purification of
total lipids from animal tissues. Journal of Biological Chemistry, v. 226, p. 497-509, 1957.
78
LEITE JUNIOR, A. F. S. L. Avaliação da qualidade microbiológica da carne-de-sol,
comercializada à temperatura ambiente ou sob refrigeração, em Campina Grande, Paraíba.
Higiene Alimentar, São Paulo, v. 14, n. 68/69, p. 87-92, 2000.
79
SILVA, N; JUNQUEIRA, V. C. A; SILEIRA, N. F. A; TANIWAKI, M. H; SANTOS, R.
F. S; GOMES, R. A. R. Manual de métodos de análise microbiológica de alimentos.3 ed.
São Paulo, 2007.
STATISTICAL ANALISYS SISTEM - SAS. SAS / STAT: Users guide. Version 6, 12 ed.
Cary: SAS Institute Inc., 2000.
80
CAPÍTULO IV
81
RESUMO
82
ABSTRACT
Sun meat is a widely accepted foodstuff in the Brazilian northeast, however, it shows great
varations in quality arising principally from differences in its processing since there aren’t any
identity and quality standards, nor any Brazilian quality legislation. Among the attributes that
contribute to the quality during sampling, the texture and tenderness are the most importantant
ones in determining the acceptability and satisfaction of the consumer. In this context, this
study aimed at evaluating the tenderness of the processed sun meat with previously matured
raw materials, through trained teams and to compare the sensory values with shear force
measurements with a Warner-Bratzler blade. Three sun meat samples were evaluated, with
two being processed at pilot scale, differentiated by the previous treatment of the raw
material, one being traditional and the other having previously matured during 14 days. The
samples were processed using the processing stages (preparation of raw material, salting,
washing, drying and refrigeration) in accordance with the survey carried out among the
producers of the city of João Pessoa/PB. The samples were compared to a commercial sample
in the city of João Pessoa/PB. The samples were evaluated in relation to instrumental texture
through the shear force (FC), sensory quality, by trained panelists, and, acceptance by
potential consumers. The maturing did not have any influence on the sun meat’s FC, nor on
the sensory quality; they did not differ in any sensory attribute. The FC did not show any
significant positive correlation. In the acceptance test, the three samples received an
acceptance rating of over 60%, not having any difference among them. The maturing process
did not produce the expected effects. Therefore, further study with longer maturing times,
and, or, new techniques with the intent of providing even greater tenderness of the sun meat,
is recommended.
83
1 INTRODUÇÃO
Por ser um produto cárneo levemente salgado, apresenta elevado teor de umidade e
atividade de água, proporcionando uma vida de prateleira relativamente curta (LIRA e
SHIMOKOMAKI, 1998). No entanto, este produto cárneo apresenta grande aceitação,
principalmente pela população nordestina brasileira, tendo participação importante na
culinária dessa região.
84
consumidores.A maturação tem sido uma alternativa tecnológica muito difundida e utilizada
pela indústria da carne para melhorar e padronizar a textura, por possibilitar a ação de
proteases endógenas.
Os métodos sensoriais além de serem caros, são muito demorados (TRAVESSA et al.,
2003). Portanto, muitos estudos têm sido realizados para verificar a maciez de carnes
utilizando métodos instrumentais, com o intuito de prever a aceitação da maciez de carnes por
painel de consumidores. O método instrumental mais utilizado é a força de cisalhamento
utilizando a lâmina de Warner-Bratzler.
A correlação linear da força de cisalhamento com a avaliação sensorial tem sido uma
ferramenta bastante utilizada, para verificar variações dos resultados objetivos e subjetivos
para maciez. Há uma diferença fundamental na avaliação sensorial utilizando equipe de
provadores treinados e consumidores não treinados (RISFIK, 1995). Na avaliação com painel
treinado a amostra é vista como um objeto de pesquisa científica sem interferência da
satisfação pessoal, enquanto que a equipe de consumidor não treinado leva-se em
consideração sua satisfação pessoal.
85
2 MATERIAL E MÉTODOS
No presente estudo foram avaliadas três amostras de carne-de-sol, das quais duas
foram processadas em escala piloto, diferenciadas pelo tratamento prévio da matéria-prima,
sendo uma tradicional e a segunda previamente maturada por 14 dias, tempo utilizado na
maturação comercial. As carnes-de-sol foram elaboradas seguindo as etapas de
processamento, de acordo com o levantamento realizado junto a produtores da cidade de João
Pessoa/PB. As amostras processadas foram comparadas com uma amostra comercial da
cidade de João Pessoa/PB. De cada processamento foram realizadas três repetições de cada
amostra. No experimento, as amostras foram identificadas como carne-de-sol tradicional
(CST), carne-de-sol maturada (CSM) e carne-de-sol comercial (CSC).
86
- Distância célula/base: 20 mm
- Força: 10g
- Cálculo: máxima força, área e distância
87
além da familiaridade com o produto e, habilidade de exprimir proporcionalidade através da
utilização de escalas. Inicialmente, os candidatos foram recrutados e submetidos a três testes
com o objetivo de verificar a sensibilidade mínima necessária para produzirem resultados
consistentes e reprodutíveis durante análise sensorial (DUTCOSKY, 2007).
88
Figura 2 - Questionário de recrutamento de provadores para ADQ de carne-de-sol.
89
Figura 3 - Ficha para verificar a habilidade dos provadores em exprimir proporcionalidade
por meio de escala.
90
Figura 4 - Ficha de avaliação para Testes Triangulares.
Após a realização dos testes de pré-seleção para a equipe treinada de 17 pessoas, que
inicialmente demonstraram interesse em participar, 14 foram pré-selecionadas através dos
seguintes requisitos:
− No questionário de recrutamento responderam as questões de maneira clara, não
demonstraram aversão ao produto, não indicaram impedimentos para a realização das análises
(questões de saúde), acertaram pelo menos 70% dos testes com o uso de escalas (permitindo-
se uma diferença de ± 20% da resposta em relação ao valor correto) e assinaram o termo de
consentimento em participar voluntariamente dos testes;
−Acertaram 100% a ordenação das concentrações das soluções do gosto salgado
apresentadas;
− Identificaram corretamente pelo menos 70% dos aromas que 50% dos provadores
reconheceram;
− Acertaram pelo menos 70% dos testes triangulares.
A equipe selecionada foi reunida sob a supervisão de um líder para apresentação dos
atributos sensoriais pré-definidos (maciez, suculência e gosto salgado), juntamente com suas
respectivas definições (COSTA, 2005) e referências (Tabela 1). Utilizou-se como referência
para o atributo maciez os cortes lagarto e filé bovino para expressar pouco e muito macio,
91
respectivamente. Para o atributo suculência utilizaram-se os mesmos cortes para a maciez,
diferindo no tempo de cocção (NASSU, 2007). Para representar pouca suculência o lagarto
foi grelhado até atingir a temperatura no centro geométrico de 85°C e para representar muita
suculência o filé foi grelhado até a temperatura no centro geométrico atingir de 75°C. Como
referência para o gosto salgado utilizou o contrafilé salgado nas proporções de 1% e 5% para
representar pouco e muito salgado, respectivamente. Uma discussão aberta foi levantada para
que os provadores avaliassem se as referências condiziam com as intensidades dos atributos
apresentados.
Logo na primeira sessão a equipe decidiu que a referência utilizada para representar a
intensidade máxima do gosto salgado (5%) não era suficiente, propondo um aumento da
concentração, ficando em 8%. Na mesma sessão foi apresentada a ficha de avaliação
descritiva, onde ao lado de cada descritor, foi colocada uma escala não estruturada de 9 cm,
ancorada nas extremidades pelos termos pouco/nenhum e muito/intenso (Figura 5).
92
Figura 5 - Ficha de avaliação descritiva de carne-de-sol.
93
2.3.4 Seleção final da equipe de provadores
O entendimento dos atributos e a discriminação das amostras foram melhorando no
decorrer das sessões de treinamento, principalmente devido à familiarização da equipe com os
produtos. Assim, depois de seis sessões de treinamento foi realizada a seleção final dos
provadores que compuseram a equipe treinada.
A repetibilidade dos julgamentos da equipe foi considerada boa, já que a maior parte
dos provadores não apresentou problemas em relação aos atributos. Dos 14 provadores que
participaram do treinamento 11 foram selecionados para realizar a avaliação sensorial final
das amostras de carne-de-sol. Com base em seu baixo poder discriminativo e falta de
consenso com a equipe em muitos atributos, os provadores identificados como 2 e 11, não
foram selecionados. O provador 8 foi eliminado por falta no período da ADQ.
Com este objetivo, cada provador avaliou, em triplicata, três amostras de carne-de-sol.
Utilizou-se a ficha de avaliação descritiva previamente desenvolvida, onde cada descritor foi
avaliado quantitativamente por meio de uma escala não estruturada de nove centímetros,
ancorada em seus extremos em termos de intensidade (pouco/nenhum, muito/intenso). Os
dados gerados por cada julgador foram avaliados através da Análise de Variância (ANOVA),
cujos fatores de variação foram amostras e repetição. Os níveis de significância (p) dos
valores de F (amostras) e F (repetições) foram computados para cada provador, em cada
atributo. Os provadores foram selecionados com base em sua capacidade discriminativa (pF
amostras < 0,50) , reprodutibilidade (pF repetições > 0,05) e consenso com a equipe, em mais
de 80% dos descritores de acordo com a metodologia proposta por Damásio e Costell (1991).
O poder de discriminação de cada provador e sua repetibilidade de julgamentos,
obtidos no final da fase treinamento estão expressos na Tabela 2 e Tabela 3, respectivamente.
Na avaliação das amostras de carne-de-sol, bons índices de discriminação e
repetibilidade foram obtidos pela maioria da equipe. Verificou-se que a maioria dos
provadores não apresentou deficiência discriminatória nos atributos avaliados. Os provadores
apresentaram maior dificuldade em discriminar as amostras com relação à suculência.
94
Tabela 2. Valores de pF repetição por provador em cada atributo sensorial avaliado.
PROVADOR
ATRIBUTO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Maciez 0,63 0,748 0,144 0,930 0,843 0,218 0,997 0,750 0,444 0,782 0,890 0,459 0,360 0,444
Suculência 0,721 0,777 2,130 0,161 0,250 0,119 0,186 0,462 0,147 0,278 0,011* 0,624 0,927 0,199
Gosto salgado 0,994 0,861 0,645 0,842 0,016* 0,220 0,119 0,444 0,444 0,385 0,850 0,662 0,043* 0,829
*Valores abaixo do recomendado (p>0,05)
95
2.3.5 ADQ das carnes-de-sol
97
Figura 6 - Ficha de recrutamento para aceitação sensorial da carne-de-sol.
98
Figura 7 - Ficha do teste de aceitação, preferência e intenção de compra das
carnes-de-sol.
99
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como pode ser observado na Tabela 4, não houve efeito significativo entre as
amostras (p>0,05), onde os valores da força de cisalhamento variaram de 3,08 kgf
para carne-de-sol processada com carne maturada a 3,5 kgf carne-de-sol tradicional.
Os valores de FC obtidos neste estudo ficaram próximos aos valores encontrados por
Carvalho Jr.(2002) que foi de 4,16 Kgf para um produto similar à carne-de-sol
processada com coxão-mole e adicionado de 4% de NaCl. No entanto, os valores
foram inferiores aos relatados por Sousa (2005) que encontrou valores de 8,32kgf em
produto similar a carne-de-sol processada com coxão mole adicionado 3% de NaCl e
tratada com lactato de sódio (NaL) e diacetato de sódio (NaDia) armazenada a 10°C.
Silva Sobrinho et al. (2004) avaliando o efeito da salga na FC de pernil de
ovino obtiveram médias de 11,66 e 16,04 kgf para os produtos salgados com 15% e
20%, respectivamente, demonstrando uma relação inversamente proporcional na
proporção de NaCl e maciez da carne.
Youssef et al. (2007) avaliando a relação da composição química do charque
de V lateralis m.com sua força de cisalhamento obtiveram valor de 9,89 kgf. Os
autores relatam que a menor maciez do charque esta ligada a sua menor umidade
(46,4%). Como a carne-de-sol apresenta o teor de umidade bem maior que a carne de
charque, ficando próxima da matéria-prima, sua FC tende a ser menor que a FC do
charque.
100
carcaça bovina de acordo com a força de cisalhamento, em muito macios os
músculos que obtiveram valores de FC inferior a 3,9 kgf; intermediário, valores de
FC entre 3,9 kg e 4,6 kg e duro os músculos que obtiveram valores de FC acima de
4,6 kgf. Bickerstaffe et al. (1997) consideraram que a carne com força de
cisalhamento acima de 11 kgf é classificada como dura, entre 8 e 11 kgf como
aceitável e abaixo de 8 kgf como macia. Já Destefanis et al. (2008) classificaram
como macia carnes com FC inferior a 4,37 kgf e como dura carnes com FC acima de
5,37 kgf. Essa variação da maciez depende de muitos fatores, como tipo de músculo,
processo industrial aplicado, preparo da amostra, método de cocção, processo de
medição instrumental utilizado (DESTEFANIS et al., 2008).
101
Já para o atributo gosto salgado houve efeito significativo entre as amostras,
a carne-de-sol tradicional diferiu significativamente da comercial. No entanto a
carne-de-sol processada a partir da carne maturada não diferiu das demais. A CST e
CSM obtiveram as maiores médias (5,6 e 5,3, respectivamente), ficando bem
próximos do gosto salgado considerado ideal (4,5) com diferença inferior a 0,9
pontos numa escala de 9 pontos, enquanto que a CSC apresentou a menor média
(3,2) com uma diferença bem maior (1,4) do gosto salgado considerado ideal.
Embora não tenha tido diferença na aceitação pela equipe treinada, alguns
julgadores descreveram no espaço reservado para comentários na ficha de avaliação
que a menor média atribuída a CSC para a aceitação global estava relacionada a
menor percepção do gosto salgado o que descaracterizava o produto.
MACIEZ
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
G. SALGADO SUCULÊNCIA
102
tal., 1997). Embora as características observadas pelos julgadores treinados sejam
próximas das características observadas pelos consumidores, devido a complexidade
da satisfação humana, apenas a avaliação do próprio consumidor pode fornecer essa
informação (RAMOS e GOMIDE, 2007).
103
das medidas instrumentais com o painel treinado para as amostras avaliadas no
sentido perpendicular ao eixo das fibras. No entanto, os mesmos autores observaram
uma forte correlação (-0,80, p < 0,05) entre FC e os valores de maciez do painel
treinado de amostras retiradas no sentido paralelo ao eixo das fibras do músculo.
Destefanis et al. (2008) verificaram uma correlação forte (-0,72, p< 0,01) entre FC e
a resposta dos consumidores.
Entre os atributos sensoriais, a maciez e a suculência apresentaram grande
correlação entre si (0,88, p < 0,05) indicando que os provadores avaliaram como
mais macias as carnes mais suculentas.
Resultados similares foram apresentados por Shackelford et al. (1995), que
observaram uma correlação de 0,51 (p<0,05) entre suculência e maciez do músculo
Longissimus dorsi. Silva et al.(1999) também reportaram uma significativa
correlação (P < 0,001) entre suculência e maciez de amostras do músculo
Longissimus thoracis, após maturação de 1, 6 e 13 dias, com valores de 0,88,
0,80 e 0,87, respectivamente. Borges et al. (2006) ao avaliarem a dureza da carcaça
caprina, verificaram uma correlação de –0,75 (p<0,001) entre a dureza e suculência,
ou seja, os provadores avaliaram como menos suculentas as carnes mais duras.
Tanto a suculência como a maciez apresentaram correlação com a aceitação
(0,88 e 0,80, p < 0,05) demonstrando a forte influência desses atributos na aceitação
do produto. Yancey et al.(2010) também reportaram uma significativa correlação
(p<0,001) entre maciez e aceitação global de amostras do músculo Longissimus
thoracis, após maturação de 14 e 28 dias, com valores de 0,81 e 0,70
respectivamente.
104
Tabela 7. Perfil da equipe de consumidores da carne-de-sol.
Número de consumidores Percentual (%)
Gênero
Feminino 36 43,4
Masculino 47 56,6
Faixa Etária
18 a 25 anos 55 66,0
26 a 33 anos 19 23,0
34 a 41 anos 3 3,6
42 a 49 anos 2 2,4
Acima de 50 anos 4 5,0
Escolaridade
Ens. Fundamental 3 3,6
Ens. Médio 7 8,4
Ens. Superior 56 67,5
Pós-Graduação 17 20,5
Dados do consumo da carne-de-sol
Consumo
Semanal 51 61,5
Quinzenal 23 27,7
Mensal 9 10,8
Local de compra/consumo
Bares e Restaurantes 25 30,1
Feiras livres/mercados 13 15,7
Supermercados 43 51,8
Outros 2 2,4
Preferência horário de consumo
Almoço 58 69,8
Jantar 12 14,5
Aperitivo (tira-gosto) 13 15,7
Forma de preparo
Como churrasco 12 14,5
Assa ou Frita 69 83,1
Pratos preparados 2 2,4
TOTAL 83 100
105
A frequência de consumo de carne-de-sol entre os provadores da equipe
(Tabela 8) é considerada alta; a maioria da equipe (61,5%) consome o produto pelo
menos uma vez por semana, demonstrando a presença constante do produto na mesa
dos consumidores. Verificou-se que as pessoas que consomem o produto raramente
foram a minoria (10,8%). Por outro lado, as pessoas que consomem carne-de-sol
quinzenalmente somaram 27,7%, um percentual relativamente alto da equipe.
A maioria da equipe (51,8%) adquire a carne-de-sol em supermercados,
enquanto que 30,1 % consomem em bares e, ou, restaurantes e 15,7% preferem
adquirir o produto em feiras livres ou mercados públicos, fator este que revela a forte
cultura da região, apesar da precariedade higiênico-sanitária desses estabelecimentos
(FARIAS, 2010).
Em relação a forma de preparo e horário para consumo, grande parte dos
consumidores (83,1% e 69,8%, respectivamente) indicaram a opção frita ou assada e
preferem consumir no horário do almoço.
Tabela 8– Média dos atributos sensoriais para o teste de aceitação das carnes-de-sol
AMOSTRAS
1
ATRIBUTOS CST CSM CSC
Gosto Salgado 7,3a ± 1,42 7,0a ± 1,65 7,3a ± 1,24
Aroma 6,9a± 1,50 7,1a ± 1,42 7,3a ± 1,45
Maciez 6,9a± 1,50 7,2a ± 1,79 6,9a ± 1,71
Suculência 7,0a ± 1,56 7,0a ± 1,54 7,2a ± 1,62
a a
Aceitação Global 7,0 ± 1,47 7,0 ± 1,40 7,2a ± 1,28
Médias ± desvio padrão, a letras iguais sobrescritas na mesma linha indicam não haver
diferença significativa (p>0,05); 1Escala de 9 pontos, 9=gostei extremamente e 0= desgostei
extremamente.
106
Os valores aceitação das carnes-de-sol pelos consumidores obtiveram notas
semelhantes as atribuídas pelo painel treinado.
Ambiel (2004) avaliando o efeito da adição de 1,2% de NaL na aceitação de
um produto similar à carne-de-sol com 4% de sal, verificou para os atributos aroma,
gosto salgado, maciez e aceitação global, valores da escala próximos (6,75; 6,53;6,78
e 6,75, respectivamente) aos valores encontrados no presente estudo para as três
carnes-de-sol.
A aceitação das carnes-de-sol pelos consumidores para cada atributo podem
ser melhor visualizadas na Figura 9. Foi considerado como aceita a soma dos valores
acima de 5 na escala (entre gostei ligeiramente e gostei extremamente), como neutro
a soma das notas 5 (nem gostei/nem desgostei) e como rejeição a soma das notas
abaixo de 5 (entre desgostei ligeiramente e desgostei extremamente).
107
Aceitação e rejeição das carnes-de-sol
Percentual aceitação/rejeição
2,4 100,0 8,4
Percentual aceitação/rejeição
Maciez Suculência
Percentual aceitação/rejeição
Aceitação global
Percentual aceitação/rejeição
108
A Figura 10 mostra a frequência de respostas dos consumidores em relação a
intenção de compra para as três carnes-de-sol. Foi considerado como compraria, a
soma dos valores 4 e 5 na escala (provavelmente compraria e certamente compraria),
talvez comprasse/talvez não comprasse, a soma das notas 3e, como não compraria a
soma das notas 2 e 1(provavelmente não compraria e certamente não compraria).
A intenção de compra confirma a aceitação das carnes-de-sol, onde todas
obtiveram percentual dos provadores que comprariam o produto acima de 60%, não
diferindo significativamente entre si.
70%
60%
50%
63,5 72,4 72,3
40%
30%
20%
10%
Carne-de-sol Carne-de-sol Carne-de-sol
tradicional maturada comercial
109
4 CONCLUSÕES
110
5 REFERÊNCIAS
111
COSTA, M. R. Processamento acelerado de presunto cru com uso de
transglutaminase em carne desossada: Perfis sensorial, colorimétrico e de textura
em comparação com produtos tradicionais. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de
Alimentos) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. 2005.
MEILGAARD, M.; CIVILLE, V.; CARR, B.T. Sensory Evaluation Techniques. 3ed.,
Boca Raton: CRC Press Inc., 1999. 387p.
112
NASSU, R. T. Análise Sensorial de Carne: Conceitos e recomendações. Comunicado
Técnico. São Carlos, SP, 2007.
RISVIK, E. (1995). Sensory quality of meat as evaluated by trained taste panels and
consumers. In K. Lundstro } m, I. Hansson, & E. Wiklund (Eds.), Composition of meat
in relation to processing nutritional and sensory quality: From farm to fork (p. 87–
93). Utrecht: ECCEAMST.
113
SILVA SOBRINHO, A. G. S; ZEOLA, N. M. B. L; SOUZA, H. B. A; LIMA, T. M. A.
Qualidade da carne ovina submetida ao processo de salga. Ciência e Tecnologia de
Alimentos. Campinas, p. 369-372, jul-set, 2004.
114
CONCLUSÕES GERAIS
115