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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Programa de Pós-graduação em Geografia

LEFEBVRE, Henri. A revolução Urbana. Tradução de Sérgio


Martins. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.

● CAPÍTULO I - DA CIDADE À SOCIEDADE URBANA


● CAPÍTULO III - O FENÔMENO URBANO

Disciplina: Seminário temático: Metrópole e


Globalização na América Latina - Semestre 2022/1
Prof. Paulo Roberto R. Soares

Discente: Adriano Rodrigues José.


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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O autor parte desta hipótese: “a urbanização completa da


sociedade” (LEFEBVRE, 1999, p. 13).

O termo “sociedade urbana” refere-se “à sociedade que nasce da


industrialização”. (LEFEBVRE, 1999, p. 13).

Tecido urbano: “o conjunto das manifestações do predomínio da


cidade sobre o campo.” (LEFEBVRE, 1999, p. 15) (grifo nosso).

A expressão “sociedade urbana” - resposta a uma necessidade


teórica. (...) se trata (...) de uma elaboração, de uma pesquisa, e
mesmo de uma formação de conceitos. Um movimento do
pensamento em direção a um certo concreto (...). Esse movimento,
caso se confirme, conduzirá a uma prática, a prática urbana,
apreendida ou re-aprendida. (LEFEBVRE, 1999, p. 16)

(...) A essa pesquisa, a essa elaboração, associam-se procedimentos


de método. (LEFEBVRE, 1999, p. 16)
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- Da ausência de urbanização à culminação do processo.


(LEFEBVRE, 1999, p. 18).
- O eixo é temporal e espacial. Temporal: se desenvolve no tempo.
Espacial: o processo se estende no espaço que ele modifica.
(LEFEBVRE, 1999, p. 18)
- Balizas: em torno do zero inicial encontram-se os primeiros grupos
humanos que marcaram e nomearam o espaço (...). Importa é saber
que em muitos lugares no mundo (...) a cidade acompanhou e
seguiu de perto a aldeia. (LEFEBVRE, 1999, p. 18)
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- Cidade política: vida social organizada, da agricultura e da aldeia;


(LEFEBVRE, 1999, p. 19)

- A cidade mercantil tem seu lugar (...) depois da cidade política. (...)
a troca comercial torna-se função urbana; essa função faz surgir
uma forma e, em decorrência, uma nova estrutura do espaço
urbano. (LEFEBVRE, 1999, p. 21)

- Reviravolta, inversão: a cidade aumenta seu peso perante o


campo; o campo torna-se “circunvizinhança” da cidade; as pessoas
da aldeia deixam de trabalhar para os senhores territoriais,
produzem para a cidade, para o mercado urbano, cientes que os
mercadores de trigo ou madeira os exploram, e assim encontram
no mercado o caminho da liberdade - “entre eles e a natureza,
entre seu centro e núcleo (de pensamento, de existência) e o
mundo, instala-se a mediação essencial: a realidade urbana.”
(LEFEBVRE, 1999, p. 22)

- processo histórico: a implosão-explosão, ou seja, a enorme


concentração (de pessoas, de atividades, de riquezas, de coisas e de
objetos, de instrumentos, de meios e de pensamento) na realidade
urbana, e a imensa explosão, a projeção de fragmentos múltiplos e
disjuntos (periferias, subúrbios, residências secundárias, satélites
etc.). (LEFEBVRE, 1999, p. 24)
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- A cidade industrial precede e anuncia a zona crítica. O


crescimento da produção industrial superpõe-se ao crescimento
das trocas comerciais e as multiplica. Esse crescimento vai do
escambo ao mercado mundial, da troca simples entre dois
indivíduos até a troca dos produtos, das obras, dos pensamentos,
dos seres humanos. (LEFEBVRE, 1999, p. 24)

A realidade urbana modifica as relações de


produção, sem, aliás, ser suficiente para
transformá-las. Ela torna-se força produtiva, como a
ciência. (...) Como construir cidades ou “alguma
coisa” que suceda o que outrora foi a Cidade? Como
pensar o fenômeno urbano? Como formular,
classificar, hierarquizar, para resolvê-las, as
inumeráveis questões que ele coloca e que
dificilmente passam, não sem múltiplas
resistências, ao primeiro plano? Quais os progressos
decisivos a serem realizados na teoria e na ação
prática para que a consciência alcance o nível do
real que a ultrapassa e do possível que lhe escapa?
(LEFEBVRE, 1999, p. 24)
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(...) o fenômeno urbano surpreende por sua


enormidade; sua complexidade ultrapassa os meios
do conhecimento e os instrumentos da ação
prática. Ele torna quase evidente a teoria da
complexificação, segundo a qual os fenômenos
sociais vão de uma certa complexidade (relativa) a
uma complexidade maior. (...) As relações sociais
nunca são simples (...). A teoria da complexidade
pode parecer filosófica, e mesmo idealista
(ideológica). (LEFEBVRE, 1999, p. 49)

- O fenômeno urbano depende, primeiro, dos métodos descritivos,


eles próprios variados.(LEFEBVRE, 1999, p. 49)

(...) “o urbano” (...) não se define tão-somente por


esse aspecto: lugar de passagens e/ou de trocas. A
realidade urbana não se vincula só ao consumo, ao
“terciário”, às redes de distribuição Ela intervém na
produção e nas relações de produção. (...) Elude-se a
problemática, evitam-se questões cruciais (por
exemplo, as do centro e da centralidade,
implicando o risco de ratificar seja a degradação
dos centros, seja sua consolidação “elitista” e
autoritária). (LEFEBVRE, 1999, p. 50)
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- Sem os procedimentos progressivos e regressivos (no tempo e no
espaço) da análise, sem esses múltiplos recortes e fragmentações, é
impossível conceber a ciência do fenômeno urbano. Entretanto, os
fragmentos não constituem um conhecimento. (LEFEBVRE, 1999, p.
52)

Metodologicamente é mesmo recomendado


abordar o fenômeno urbano pelas propriedades
formais do espaço antes de estudar as contradições
do espaço e os seus conteúdos, ou seja, de
empregar o método dialético. (LEFEBVRE, 1999, p.
52)

- Ideia de que a complexidade do fenômeno urbano “torna


indispensável uma cooperação interdisciplinar.” (LEFEBVRE, 1999, p.
55)

(...) tais conhecimentos fragmentários resultam da


divisão do trabalho. No domínio teórico (científico e
ideológico), a divisão do trabalho tem as mesmas
funções e níveis que na sociedade. Uma diferença se
impõem entre a divisão técnica do trabalho (...) e a
divisão social, que faz surgir (...) funções desiguais,
privilégios, hierarquias. Não sem conexões com a
estrutura de classes, as relações de produção e de
propriedade, as instituições e as ideologias.
(LEFEBVRE, 1999, p. 61)
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- A crítica radical define um relativismo metodológico e teórico, um


pluralismo epistemológico. Os “objetos” são afetados por esse
relativismo, assim como os modelos, os quais são provisórios.
(LEFEBVRE, 1999, p. 65)

- Nenhum método assegura uma “cientificidade”, teórica ou prática,


absoluta. (LEFEBVRE, 1999, p. 65)

- A construção de modelos não escapa à crítica. Sua utilização é


válida quando mensura a distância entre os modelos e o real. A
reflexão crítica tende a substituir a construção de modelos pela
orientação, que abre vias e descortina um horizonte.

“É o que propomos aqui: não construir um modelo


do urbano, mas abrir uma via em direção a ele.”
(LEFEBVRE, 1999, p. 66)
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Certamente não é o espaço (social, urbano,


econômico, epistemológico etc.) que pode
proporcionar a forma, o sentido, a finalidade. No
entanto, vemos essa tese surgir de todos os lados: o
espaço como regra, norma, forma superior, em
torno do qual poder-se-ia realizar um consenso de
cientistas, quando não um “corpus” das ciências.
(LEFEBVRE, 1999, p. 71)

- Apenas um ponto é incontestável: é impossível reunir os


especialistas (das ciências parcelares) em torno de uma mesa na
qual se coloque um “objeto”. (LEFEBVRE, 1999, p. 73)

Que fazer? Colocamos, a partir de agora, a noção de


estratégia urbana (...). O que implica distinções
entre prática política e prática social, entre prática
cotidiana e prática revolucionária, ou, noutros
termos, uma estrutura da práxis. A prática social é
analisada enquanto prática industrial e prática
urbana. O primeiro objetivo da estratégia seria o de
arrancar a prática social à prática industrial para
orientá-la em direção à prática urbana, de modo
que esta transponha os obstáculos que barram seu
caminho. (LEFEBVRE, 1999, p. 73)

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