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SANTOS
2021
PATRÍCIA SCHNEK GUERRA
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
Santos/2021
PATRÍCIA SCHNEK GUERRA
TERRITÓRIO E POLÍTICAS SOCIAIS NA TEKOÁ PARANAPUÃ
EXAMINADORA:
_____________________________________
Prof.ª Dra. Renata Cristina Gonçalves dos Santos
Universidade Federal de São Paulo – Baixada Santista.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de conclusão de curso aos amigos da Tekoá Paranapuã, que desde minha
aproximação pudemos trocar muitos saberes. Registro minha profunda admiração e respeito
pela luta cotidiana ao direito da terra originária.
#marcotemporalnão#PL490não!
Aguyjevete!
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos amigos e amigas da Tekoá Paranapuã: Ara Mirim (Vanessa), Karai Mirim
(Gilson), Karai (Dida), Karai Popyguâ (Rogério), Papa (Eleno), Para Poty (Eliana), Pará Poty
Mirim (Daniela), Para Poty Nhenduá (Suelen), Tupã Mirim (Mariano), Werá Mirim (Ronildo)
e Yva Mirim (Suzana) pelos ensinamentos tradicionais e pela disponibilidade de sempre, em
poder partilhar das ações. Com vocês, pude e posso refletir quanto a minha própria
espiritualidade, cultura, e inserção política nesta sociedade. Só tenho a agradecer por tudo. Com
muito afeto. Há’evete!
Agradeço aos meus país Cristina e Marco, pelo apoio em todo este período da
graduação, sem vocês, os caminhos seriam bem mais difíceis. Agradeço imensamente pelos
esforços e por tudo que fizeram e fazem por nós. Agradeço às minhas queridas e amadas irmãs,
Pamela e Jaqueline, e também aos meus pequenos sobrinhos: Guilherme e Murilo.
Ao meu companheiro e amigo Vitor, que esteve do meu lado cotidianamente (apesar
das dificuldades nestes últimos tempos pandêmicos), pacientemente e contribuindo com
reflexões, através de altas conversas. Você foi essencial para conclusão deste período. Só tenho
a agradecer.
As minhas amigas de adolescência/infância, Tata e Angélica, que sempre me apoiaram
em minhas decisões, e a minha querida afilhada Cora Teodora. As minhas queridas amigas da
república que não vou listar, pois são muitas, mas a cada uma, tenho grande admiração.
A professora e orientadora Raiane Assumpção, que brilhantemente têm coordenado a
Frente de Cultura e Resistência Indígena, contribuindo com importantíssimas reflexões nas
inserções dos povos na universidade pública. Agradeço por estimular a potência de cada
integrante e além disso, lutar por uma universidade plural. Muito Obrigada pelo trabalho
coletivo.
Aos meus colegas extensionistas: Bruna, Esther, Guilherme, Luma, Marina, Thayná e
Vinicius. Em especial Leila, quem tenho grande admiração, pois me ensinou e me ensina muito
em todo este processo de aprendizado, levo essa amizade consolidada para a vida.
Agradeço todos os docentes do curso de Serviço Social, em especial e em memória a
Professora Andréa Torres. Andréa Torres Presente!
TERRITÓRIO E POLÍTICAS SOCIAIS NA TEKOÁ PARANAPUÃ
RESUMO: Este trabalho de conclusão do curso de Bacharel em Serviço Social tem o objetivo
de compreender o território e seu significado para o povo guarani, especificamente da Tekoá
Paranapuã, para analisar a garantia dos direitos sociais. Ao relacionar com às políticas sociais,
numa perspectiva crítica da realidade encontrada na comunidade, buscamos compreender
brevemente os contextos da formação sócio histórica do Brasil, que se estendem até a
atualidade, no que se refere às expropriações de terras, materializada nas opressões e o
genocídio desta população. Além disso, a partimos das experiências das ações realizadas em
conjunto com a Frente de Cultura e Resistência Indígena do PET (Programa de Educação
Tutorial) – Educação Popular e a comunidade da Paranapuã de São Vicente, para percorrer
pelas políticas de saúde, assistência, educação, alimentação e saneamento, além do
aprofundamento na cosmologia Guarani Mbyá, prioritariamente, no que se refere a participação
indígena para a construção de tais políticas. Neste sentido, no âmbito do Serviço Social,
discorremos o compromisso da profissão com os povos tradicionais, bem como às necessidades
de incorporação nos debates tanto na categoria profissional quanto para os agentes que atuam
com as populações indígenas devido o Nhandereko ser a resistência do povo Guarani, frente
ao modo de produção capitalista e por conseguinte o Estado opressor.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1 ....................................................................................................................... 14
TERRITÓRIO ...................................................................................................................... 14
1.1 O Território na Perspectiva Juruá e Indígena ........................................................... 14
1.2 A relação com o Território ........................................................................................ 23
1.3 A disputa do território ............................................................................................... 28
1.4 O direito ao território. ................................................................................................ 33
CAPITULO 2 ....................................................................................................................... 40
POLÍTICAS SOCIAIS .......................................................................................................... 40
2.1 Política Social na perspectiva Juruá ......................................................................... 40
2.2 O Serviço Social e a Política Social Indigenista ........................................................ 45
2.3 Direito indígena? ...................................................................................................... 51
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 60
ANEXO I TERMO DE RESPONSABILIDADE ......................................................................64
9
INTRODUÇÃO
A aproximação da UNIFESP/BS1 com a Tekoá Paranapuã iniciou por meio do PET
(Programa de Educação Tutorial) - Educação Popular, pelas ações e atividades da “Frente de
Cultura e Resistência Indígena”. Este espaço oportunizou para as e os extensionistas
experiências acerca da cultura Guarani, conhecimento sobre os desafios das políticas sociais
que permeiam a comunidade e sua relação com o território. A aproximação explicitou que a
terra é um meio essencial para subsistência e para o Nhandereko2 no cotidiano da comunidade
da Tekoá3.
As ações realizadas em conjunto com o PET me oportunizaram também, experiências
e reflexões quanto a cosmologia guarani, e sobre a relação sócio histórica do Brasil. Ao longo
desta aproximação com a comunidade, me surgiu um incomodo quanto à judicialização do
território, e os grandes esforços para garantia de direitos fundamentais das famílias que estão
inseridas na Tekoá, principalmente referente a autonomia no modo de vida Guarani Mbyá.
Para ilustrar minha participação e aproximação com a Tekoá, gostaria de abordar os
primeiros momentos em que iniciei um processo de conscientização, quanto a visão de mundo
Guarani. Em uma das primeiras visitas à comunidade, estava observando as crianças em frente
à escola indígena inserida na Paranapuã, pude observar que elas andavam em grupos, falavam
guarani e todas subiam e desciam medianos morros de terra para brincar. Confesso que fiquei
apreensiva, pois, para mim naquele momento, as crianças corriam risco de se machucarem,
fiquei observando com preocupação e me encarreguei de cuidar delas, iludida e sem ao menos
perceber que tal ação não era precisa, pois na minha concepção seria necessário que crianças
fossem tuteladas por adultos.
Com o tempo de aproximação, pude perceber que a relação das crianças com os adultos
é de extrema confiança, aprendizagem e educação, as crianças estão em todas as pautas de lutas
e acompanham os adultos nos momentos de luta, bem como são ensinados desde pequenos a
se relacionar com a natureza de forma autônoma e natural, um exemplo disso, é a prática dos
Xondaros.
O que gostaria de ressaltar aqui é que enquanto Juruá4, iniciei minha aproximação com
a comunidade com a minha visão de mundo, e meu processo de conscientização quanto a visão
de mundo Guarani, foi se dando e se dá com as experiências concretas que me trouxeram e me
trazem transformações e muitas reflexões quanto ao meu local, enquanto consciência de quem
sou, para que pudesse/possa trilhar ações, tanto com a comunidade quanto aos Juruá Kuery5,
nos espaços em que estou inserida. A comunidade e a participação no projeto de extensão,
contribuem para essa transformação de rompimentos com ideologias enraizadas por minhas
origens e também para tomadas de consciência, pois, passo a desenvolver criticidade o que
pensava antes de minha aproximação sobre o “ser indígena”.
4 Juruá é utilizado para retratar o não-índio (colonizador), Borghetti (2014), nos traz dois possíveis significados:
“Juru”, cujo significado é boca e “á”, cujo significado é aberta, portanto, pode significar “desembocadura de um
rio”, “boca vazia”, ou “sem boca”. O outro possível significado pode ser de que no encontro entre os indígenas,
espanhóis e portugueses, estes, tinham bigodes e barbas longas, onde não podiam ver suas bocas, sendo
considerados pelos indígenas os “sem bocas”. Importante ressaltar que o negro é chamado de Juruá Cambá, uma
vez que o significado de Cambá é negro.
5 Kuery é utilizado para o plural, ou seja, Juruá Kuery é o mesmo que “os não-indígenas”.
11
sujeitos do território indígena para sua construção, mas, sim, com pressupostos sobre a cultura
Guarani.
O território da Tekoá Paranapuã, é ocupado em sua maior parte pela etnia Guarani
Mbyá e outra parte pela etnia Tupi Guarani. A Tekoá está localizada no Município de São
Vicente, em área de sobreposição ao Parque Estadual Xixová Japuí, atualmente é administrado
pela Fundação Florestal do estado de São Paulo. A retomada do território ocorreu em 2004.
Esta área foi ocupada anteriormente por parentes indígenas, antes mesmo, do Estado se apossar
da área.
Após a retomada o Estado, representado pela Fundação Florestal, entrou com uma ação
civil pública na justiça para reintegração de posse. Foi instaurado um processo de
judicialização, e a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) perde em 1ª instância, avançando o
processo para a 2ª instância, com a instalação, pelo juiz responsável, um procedimento de
mediação entre as partes - conciliar os interesses destes dois grupos, sendo que a proposta da
comunidade indígena, representada pela FUNAI é o uso compartilhado do território.
Neste caminho da mediação houve uma centralidade nas políticas sociais, em que os
direitos fundamentais, no que se refere a saúde, educação, habitação e saneamento, foram
levados para instituições de poder - Ministério Público Federal e Estadual - para que fossem
garantidos.
É fundamental a compreensão de dois elementos que permeiam e refletem no cotidiano
e no modo de vida Guarani Mbyá (Nhandereko), sendo: o território e as políticas sociais no
modo de produção capitalista. Ainda, é fundamental buscar a compreensão da relação entre o
território, na perspectiva Guarani, bem como da política social, sendo ela, um dispositivo do
Estado; ou seja, uma perspectiva de Juruá caracterizando uma relação contraditória entre
Estado e o acesso à terra pela população indígena. Sendo o Nhandereko uma resistência perante
o Estado que funciona como componente do modo de produção e reprodução capitalista;
portanto gerador de uma violência estrutural.
A pesquisa realizada foi de natureza qualitativa, com levantamento bibliográfico e de
dados por meio documental, tendo como base os materiais produzidos ao longo das ações de
extensão, como o projeto Photovoice em parceria com o Sesc Vila Mariana e os vídeos
produzidos pela Tekoá Paranapuã em parceria com Sesc Santos, além de relatórios produzidos
no apoio ao processo de mediação.
As experiências e produções dos materiais da extensão foram fundamentadas no
referencial teórico-metodológico de Paulo Freire, na concepção de Educação Popular, que
12
que você apaga aquela pessoa pelo que ela é, pelo o que ela foi e pelo o que ela projeta ser”
(VIEIRA, 2018, p. 161).
Por fim, acredita-se em uma contribuição com o Serviço Social, uma vez que, como
área de conhecimento, vêm avançando na produção referente ao racismo estrutural6 na
sociedade brasileira, mas ainda com pouco acúmulo no que tange aos povos indígenas, sendo
fundamental para as perspectivas teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-político da
profissão.
6Pode-se considerar o racismo estrutural, como aspecto estruturante nas relações sociais da sociedade. O racismo
enquanto estrutura das relações sociais, “organiza os privilégios e as opressões sociais de modo que garanta a
supremacia da branquitude”. (OLIVEIRA, 2020, p. 76).
14
CAPÍTULO 1
TERRITÓRIO
conservação das matas é um interesse vital, pois este é ainda o único espaço
para, enquanto sociedade, viverem seu modo de vida segundo sua
cosmologia. Ao contrário, a produção econômica, base de sustentação da
sociedade nacional em seu conjunto, em que pese as diferenças sociais e sua
diversidade cultural (LADEIRA, 2015, p. 51).
Conforme abordado por Ladeira (2015), é “natural que as áreas ocupadas pelos índios
contemplem áreas de matas preservadas que atualmente compõe as Unidades de Conservação”,
sendo necessário essa compreensão para os processos de desapropriação de terras, como é o
caso da Tekoá Paranapuã, que aqui iremos tratar.
Segundo Milton Santos (2000), ao longo da história, o Estado-Nação foi um divisor de
águas no que se refere ao território, trazendo uma noção jurídico-política para este, bem como
o território era o fundamento do Estado-Nação, noção derivada do conhecimento e conquista
de mundo. Além disso, do ponto de vista institucional, jurídico-político, a política pública e
cidadania são determinadas e implementadas a partir do Estado-Nação Já na
contemporaneidade, temos uma noção de território através da transnacionalização, ou seja,
ultrapassa fronteiras nacionais englobando mais de um país, o que antes não tínhamos em todo
o globo o território estatizado, hoje, também não é todo o globo que tem a transnacionalização
dos territórios. Neste sentido, autor nos traz a categoria de território usado, ou seja, a ideia de
território com objeto e ação, onde há espaço humano e espaço habitado.
Ao nos deparar com a obra de Octavio Ianni (1978), o qual realizou seus estudos da
luta pela terra e a expansão do capitalismo na região da Amazônia, especificamente no
município de Conceição de Araguaia, foi possível sintetizar a categoria de território usado e
sua relação histórica.
Ao nos trazer a compreensão de que a terra, a depender das relações econômicas e
políticas, e também, diante das transformações das relações de produção, das forças produtivas
e da divisão social do trabalho; a terra modifica, ganhando novos formatos sociais:
[...] vou falar um pouco do território, como o povo guarani /indígena conhece
o espaço e sua/seu convívio onde ele vive, e qual o conhecimento que ele tem,
a partir da área onde ele é localizado[...] Então o espaço onde o indígena
conhece como território indígena ne? da comunidade, então ele já vem com
esse propósito de cuidar e manejar daquela área, mas ele tem seu próprio
conhecimento em relação a preservação ambiental (MIRIM, 2020).
Portanto, a fala em que Werá Mirim nos traz o significado do território para a
comunidade, vai ao encontro com a categoria de território usado de Milton Santos, uma vez
que o território para os indígenas é “o espaço de seu convívio, onde ele vive, e qual o
conhecimento que ele tem a partir da área onde ele é localizado”, ou seja, para a comunidade
da Tekoá Paranapuã, o território se faz a partir do seu convívio, em que possa vivenciar o
Nhandereko em seu cotidiano, sendo a comunidade, parte do território.
Ainda, para Milton Santos (2000), todo o globo terrestre é compartimentado ou
fragmentado, onde os melhores pedaços ficam com atores de poder e o restante para os demais,
por um lado, a ação direta do ser humano, e por outro, a presença política. Antigamente, toda
a superfície terrestre era compartimentada, já nos tempo atuais, sua maior parte é fragmentada.
Para o autor, o território compartimentado possui algumas características, sendo:
conflitivo e hierárquico, irá depender do tempo em que estamos e será complementar. Existe
também, um acontecer solidário ao meio, mas, este acontecer solidário não exclui as relações
distantes. O território compartimentado atravessa o passado e o presente. Através da existência
da solidariedade do meio e a identificação entre os atores sociais que ali vivem/habitam, há
possibilidade de regulação interna, ou seja, ajustes do local em que se vive (SANTOS, 2000).
Quando todo o globo era compartimentado, já existia também a diferenciação entre
quem possuía maior ou menor avanço tecnológico, porém, por haver a solidariedade do meio,
7
Vídeo em que a Tekoá Paranapuã apresenta o território no projeto “Sementes Guarani”, em parceria com o SESC
Santos e os membros do PET Educação popular – Frente de Cultura e Resistência indígena. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=SRAxAYnCXoE. Acesso em: 13 de Março de 2021.
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Cada empresa, porém, utiliza o território em função dos seus fins próprios e
exclusivamente em função desses fins. As empresas apenas têm olhos para os
seus próprios objetivos e são cegas para tudo o mais. Desse modo, quanto
mais racionais forem as regras de sua ação individual tanto menos tais regras
serão respeitosas do entorno econômico, social, político, cultural, moral ou
geográfico, funcionando, as mais das vezes, como um elemento de
perturbação e mesmo de desordem. Nesse movimento, tudo que existia
anteriormente à instalação dessas empresas hegemônicas e convidado a
adaptar-se às suas formas de ser e de agir, mesmo que provoque, no entorno
preexistente, grandes distorções, inclusive a quebra da solidariedade social.
(SANTOS, 2000, p. 41).
Ainda,
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O documentário8 “O mundo global visto do lado de cá”, nos ilustra os fatos marcantes
acerca deste processo de fragmentação, que iniciou no fim do século XX. O Consenso
Washington9 (1989) foi um fato ocorrido para incorporação do neoliberalismo na América
Latina. No Brasil houveram alguns movimentos sociais de resistência contra a tomada de ações
para implementar o neoliberalismo. Já países como a Bolívia e Argentina tiveram grandes
manifestações para barrar a exploração de empresas internacionais em seus territórios, essas
lutas que foram essenciais para impor limites nesta disputa de poderes, como por exemplo: a
privatização da água na Bolívia que foi barrada devido as pressões populares, mas, não barrou
o avanço do mundo privado sob os países em desenvolvimento. (TENDLER, 2006).
Além disso, Milton Santos vai nos atentar quanto aos locais que são atingidos pelos
reflexos da mundialização, também há movimento nos atores que ali vivem, o que nos traz a
reflexão de que é fundamental a busca a histórica, mesmo que este mesmo local tenha passado
por diversas transformações, aspecto este, fundamental em que Milton vai denominar de
metáfora do retorno.
[...] Mesmo nos lugares onde os vetores da mundialização são mais operantes
e eficazes, o território habitado cria novas sinergias e acaba por impor, ao
mundo, uma revanche. Seu papel ativo faz-nos pensar no início da história,
ainda que nada seja como antes. Daí, essa metáfora do retorno. (SANTOS,
1998, p.15)
8 Documentário “O mundo globalizado visto do lado de cá” produzido pelo cineasta brasileiro Sílvio Tendler,
Caliban Produções, Rio de Janeiro, 2006, em que reflete as perversidades da globalização, em conjunto com
entrevista com o autor Milton Santos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-
UUB5DW_mnM&t=3556s. Acesso em: 14 de Março de 2021.
9 Segundo o economista Marcelo Carcanholo (2007, p. 146), o Consenso de Washington foi um “um programa
de ajuste neoliberal” compostos por três elementos: o primeiro, da “estabilização macroeconômica” (redução da
inflação, com controle das contas governamentais), o segundo, a privatização de estatais e serviços públicos,
reformas de abertura comercial, “garantindo a liberação dos preços”, e o terceiro, em que o autor referência como
o mais perigosos, “o funcionamento da economia de mercado, com prudência fiscal, apoiada na iniciativa
privada”. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/AnaliseEconomica/article/view/10901/6483. Acesso em: 09 de
Março de 2021.
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de São Vicente, uma vez que estão permeados cotidianamente pelos aparatos jurídicos do
Estado.
Desde o período colonial, os povos tradicionais estão em luta, como disse a liderança
Werá Mirim (Gilson), em uma atividade relacionada à unidade curricular de Classe e
Movimentos Sociais10, em que Gilson foi convidado e nos apresentou a ideia de que o indígena,
desde o período colonial, sempre esteve na luta pelo território, e nesta mesma atividade nos
apresenta também a ideia de que hoje, o povo indígena luta no papel, na justiça. Nesse sentido,
Gilson nos faz refletir, o quanto o aparato legalista do Estado os obrigam a lutar neste formato,
uma vez que buscam melhores condições para que possam viver do modo de vida Guarani, e
assim, garantir seus meios de subsistência.
De acordo com Marx e Engels (2008), com o estabelecimento da grande indústria e do
mercado mundial, a burguesia conquista o domínio político do Estado representativo, em que
os filósofos irão denominar o estado como um “comitê que administra os negócios da
burguesia”. Para os autores, a burguesia concentrou propriedades em poucas mãos, ou seja, a
expropriação de terra foi fundante para a expansão capitalista no Estado moderno.
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Live realizada no dia 01 de Outubro de 2020, coordenada pela docente Joana Flores para Unidade Curricular,
classe e movimentos sociais, da Unifesp Baixada Santista, em que Gilson foi convidado à falar referente a luta do
território na Tekoá Paranapuã.
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Cleirray, indígena que residia na Tekoá Paranapuã, argumenta em seu artigo, publicado
na obra organizada pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP), sobre as limitações da
comunidade da Paranapuã em seu cotidiano, além de exemplificar o quão essas medidas
jurídicas e interferências estatais afetam o modo de ser Guarani, o Nhandereko.
A retomada do território da Tekoá Paranapuã, ocorreu no ano de 2004, pelos Tupis
Guaranis e Guarani Mbyá. É fundamental considerar a importância histórica e cultural da
presença dos Guarani para a região de São Vicente, devido historicamente este território ser
habitado pelo povos indígenas e desde então, este espaço ter passado por diversas
transformações.
No século XIX, na região do morro do Japuí, foi instalado o “Curtume Cardamone”,
local que o manguezal e a água era utilizado para tratamento do couro. Já na praia de Paranapuã,
especificamente o local onde a comunidade da Tekoá Paranapuã está inserida, encontrava-se
uma área para travessia de gado para abate, por isso, a área era conhecida como “Praia das
Vacas”. (SANTOS, 2019, p.126).
Outras atividades foram evidenciadas durante este período da colonização até a
atualidade, relacionadas à agricultura, fábricas, fortaleza para proteção militar devido a
expansão do porto de Santos, expansão na infraestrutura da região como: a linha férrea e a
rodovia Anchieta, que marcaram as fragmentações e transformações deste território (SANTOS,
2019, p. 124).
O território foi utilizado também para implantação de uma unidade da FEBEM
- Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor, e até hoje permanecem algumas estruturas
de concreto no local. No ano de 1993, através do Decreto 37.536, foi instituído o PEXJ (Parque
Estadual Xixová Japuí.
Segundo Santos (2019), o decreto foi resultado de solicitações de instituições de
Pesquisa como a CEPEL/UNESP - Centro de Ensino e Pesquisa do Litoral Paulista, algumas
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ONGs e associações de moradores, cujo objetivo era a preservação da mata ao redor, visto que
a região é uma das primeiras regiões colonizadas do país.
Após a instituição do Decreto em 1993, a fundação florestal não possuía uma instalação
administrativa física no local, e somente após a retomada da comunidade indígena que a
administração passou a instalar-se no território, desencadeando em pedido de reintegração de
posse da comunidade. A FUNAI (representando a Paranapuã) perde em primeira instância, pois
a comunidade não foi incorporada no processo até a atualidade, portanto, os reflexos da decisão
judicial incidem sobre a Tekoá Paranapuã, e ao recorrer em segunda instância instaurou-se, a
pedido do Juiz responsável, o processo de mediação (SANTOS, 2019, p. 126).
Como dito, a judicialização deste território reflete negativamente sobre a vida e o modo
de vida guarani, uma vez que o há influências do Estado frente ao cotidiano dos Guarani Mbyá
que habitam esse espaço, sendo de difícil compreensão os elementos da cosmologia guarani
pelos Juruá Kuery. O Estado, por sua vez, não considera este modo de vida, e também não
considera as especificidades da cultura e sua relação com a terra.
O território para os Guarani Mbyá possui uma diferenciação da perspectiva de território
dos Juruá Kuery. Para os guarani, o espaço em que vivem não é apenas um local
geograficamente definido, e sim, a busca de um local em que possam viver de acordo com o
Nhandereko. Além disso, a perspectiva de espaço/território ideal está ligada a ideia de um local
em que possa existir movimento, em constante transformação. (BORGHETTI, 2014).
A terra, para os Guarani, é mais do que um local para morar. Para eles, a terra
é a própria vida, a garantia de que viverão nos moldes dos seus valores
tradicionais, como a utilização da língua e a vivência da religião. Segundo os
próprios, não pode ser substituída por outra, porque faz parte de sua
experiência histórica e o seu “modo de ser” está nela fundado, pois “terra
boa”, para os Guarani, é o resultado da socialização dos espaços geográficos
que formam seu território. Nesse sentido, socializar as crianças nesses
padrões implica, também de acordo com eles, vivenciar seu território
(BORGHETTI, 2014, p. 13).
Um dos elementos presentes da cosmologia guarani, está presente a busca pela Terra
Sem Males, em que buscam um território ideal para produzir e reproduzir o Nhandereko. A
busca da terra sem males, é um dos elementos que explicam as antigas e atuais retomadas do
povo guarani Mbyá e Tupi guarani.
A Terra Sem Mal seria um lugar onde os Mbyá pudessem realizar o tekó –
modo de ser autêntico e verdadeiro (MELIÁ apud LITAIFF, 1996, p.52).
Segundo Litaiff (idem), Yvy Marae’í pode ser comparada a um “remoto e
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Um dos fatores que levaram os Tupi Guarani e os Guarani Mbyá a realizar o processo
de retomada da Paranapuã está relacionada com a cosmologia guarani, sendo, a busca da Terra
Sem Males. Além disso, há também um processo histórico, em que a cidade de São Vicente
passou por um processo violento de colonização Europeia, tendo em vista a história do Brasil.
De acordo com Santos (2019), o fato do território da Tekoá Paranapuã estar a beira-mar
influenciou o povo indígena a retomar o local, devido “simbolicamente estar associada à Terra
Sem Males”.
O fato dos Guarani Mbyá estarem inseridos no PEXJ possui uma intenção, a qual está
intrinsicamente ligada à cosmologia Guarani, fato este que, para a visão de mundo dos Juruá
Kuery, especificamente, aqueles que possuem cargos representativos do Estado, se confrontam
de forma que cria-se uma disputa. A formação sócio histórica brasileira é um movimento que
perpassa nessas disputas e resistências cotidianamente, não somente no território da
comunidade, mas também, em diversos grupos que resistem até a atualidade, como os caiçaras,
ribeirinhas e quilombolas.
É importante considerar e compreender o modo de ser Guarani e sua relação com o
território para construção de políticas públicas condizentes com os preceitos deste povo, uma
vez que as relações sociais, e também com o território dos Juruá foram programados e
planejados com uma visão de mundo eurocêntrica. Portanto, o ponto de partida para esta
construção se dá no entendimento de sua cultura e também sobre sua relação com o território.
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A palavra “Tekoá” não exerce um papel apenas como tradução da palavra da língua
portuguesa “aldeia”, o significado vai além desta compreensão. A Tekoá é carregada pelas
crenças dos povos indígenas e se relacionam com a espiritualidade, cultura, saúde, alimentação
e educação, por isso, viver em uma Tekoá é desenvolver o Nhandereko.
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Assim como o significado da palavra Tekoá, vai além de uma tradução, o território
também possui um significado e uma compreensão própria para os povos indígenas, que
confronta com a compreensão de território dos Juruá Kuery (não-indígenas). Para os Guarani,
o território não é um espaço delimitado geograficamente, uma vez que a terra, os elementos da
natureza, ser humano e os animais, fazem parte de um todo, o planeta terra. Para os Guarani, o
território é inseparável dos demais elementos no que se refere as manifestações da cultura,
portanto, o território é parte do modo de vida Guarani, diferentemente da concepção de
território para os Juruá Kuery, em que apresenta limites geográficos através de instrumentos
concretos, políticos e permeado pelas relações de poder.
De acordo com o professor Tupã Mirim11, o Yvyrupa12 é o globo em que vivenciamos
hoje, não apenas para os indígenas, mas, também o mundo em que o Juruá vive. Para ele, o
Yvyrupa é o local onde os seres vivos habitam, local que não possui fronteiras, pois não há
fronteiras ao pensar no globo. É o local onde o povo indígena consegue sobreviver, não só no
Brasil, mas também, em uma escala global.
Segundo o diário de campo apresentado na dissertação de mestrado de Borghetti (2004,
p. 12), para que a terra indígena seja considerada uma Tekoá, é fundamental a presença da Opy
(Casa de Reza), e também que se integre uma liderança espiritual. Estas são categorias próprias
dos povos indígenas constituídas de geração em geração, a partir de suas vivências cotidianas
e também através da educação indígena, que resistem até a atualidade e tem como intenção a
manutenção da cultura Guarani Mbyá.
A educação indígena é outro elemento da cultura que está relacionada também à outros
aspectos, diferenciando-se da educação dos Juruá Kuery e que está relacionada ao território.
Para além da educação formal13 diferenciada, a educação em território indígena, se manifesta
também de modo próprio e natural, que tem por garantia a resistência do povo Guarani. Os
ensinamentos que são passados geralmente dos mais velhos para os mais novos estão
relacionados com sua cosmologia, ou seja, o Nhandereko.
11
Professor que ministrou as aulas do curso de Língua e Cultura Guarani Guarani Mbya - Nhanhe Mbo'e Mokoin
Avyu Py, em que tive a oportunidade de participar. Patrocinado pelo Instituto British Council, com o apoio do
coletivo PlantaSonhos e o PET (Programa de Educação Tutorial) – Educação Popular, Frente de Cultura e
Resistência Indígena, 2021.
12
Segundo NACIF (2020, p. 50), Yvy rupa é a Terra Toda, e não podem ser de um em particular e sim de todos
os que habitam.
13 A educação indígena diferenciada prevista na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), em que abordaremos suas especificidades no capítulo 02 deste trabalho.
25
14
O PET (Programa de Educação Tutorial) – Educação Popular - UNIFESP/BS, Frente de Cultura e Resistência
Indígena me oportunizou a participar no projeto: “Estratégias de enfrentamento à Covid-19” em parceria com o
SESC Vila Mariana. O projeto contou com a participação diversas populações em vulnerabilidade social, dentre
elas, a Tekoá Paranapuã.
Para elaboração deste projeto, utilizamos a metodologia do Photovoice, que consiste em captação de imagens
pelos participantes, através de fotografias que representassem o cotidiano da comunidade diante a Pandemia do
novo coronavírus – Covid-19. Foram onze lideranças a participar do projeto. A partir dos temas geradores
identificados durante os diálogos iniciais do projeto, foram selecionadas as imagens e construídos os títulos e suas
respectivas legendas. Apresentou-se temas relacionados a mediação (proveniente do processo judicial), terra,
alimentação, preservação do meio ambiente, escola/criança e saúde/medicina tradicional.
Apesar de iniciarmos a metodologia do Photovoice através de temas geradores, foi possível notar durante os
encontros, que para a comunidade indígena não há uma separação das temáticas, pois todas elas abrangem mais
de uma dimensão. A saúde, por exemplo, está relacionada com a espiritualidade, bem como a espiritualidade está
relacionada a sua cultura.
15
Segundo Oliveira (2020, p. 65), os “xeramõi kuery, xamãs, lideranças espirituais[...] são as pessoas que guiam
e transmitem o conhecimento tradicional Guarani, se dá em consonância ao reconhecimento da história dos
ancestrais”.
16
Xondaro é uma palavra em Guarani que pode tanto designar uma dança, na qual os participantes realizam
movimentos de agilidade e são desafiados por uma pessoa que toma a frente na condução dos movimentos a
serem desempenhados, como também pode denominar um guerreiro, quem pratica a dança homônima e/ou uma
pessoa que possui a função de auxiliar nas atividades cerimoniosas, espirituais e cotidianas da comunidade
(Oliveira, 2020, p. 19).
17 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UHRA-7AtZWk. Acesso em: 26.de Maio de 2021
26
Xee má xerery Karai Papa, apy Xondaro ruvixa kyringue ambo'e vá'e ojeroky
haguã, Xondaro. Ojerokyagui hexarai he'yn haguã... Kova'e má ore reko i
pygua e ...Ha'e ro nhe mbo'e o pá mba e py va rã ... Há e gui ore vevui haguã
...Ore rexa pyxo avã guive.
Meu nome é Karai Papa, aqui como líder dos guerreiros. Eu também ensino
a dança dos guerreiro para as crianças, para que não se esqueçam e não se
percam, porque isso é a nossa cultura, essa dança na verdade é um preparo
pra ser um guerreiro. A dança é uma forma de treinar como se esquivar e
fortalecer os músculos fisicamente e mentalmente e como estar atento aos
ataques do inimigo (PAPA, 2020).
18
De acordo com Fernando (2016, p.40), Nhanderu é Deus.
27
demonstram os processos para a confecção tanto das cestarias, quanto dos bichinhos em
madeira, bem como sua importância, conforme descrição do material publicado19:
Vou mostrar para vocês como trabalhamos com artesanato. Para todos
saberem como é vida do indígena. Nós não trabalhamos com bambu e madeira
na lua nova. Aprendemos a trabalhar as artes através do nossos pais. Os cestos
serviam para usar na roça, guardar sementes ou carregar milho ou batatas mas
atualmente as necessidades são outras. Agradeço todas as pessoas que me
ajudam, com este trabalho no sentido de valorizar a cultura indígena guarani!
(MIRIM, 2020).
Diante a descrição apresentada no material produzido, Tupã Mirim nos aponta que os
artesanatos possuíam uma necessidade no cotidiano da comunidade, o fato da aldeia estar em
área de sobreposição, afeta também no plantio da comunidade, refletindo na autonomia
alimentar, pois o cultivo de alimentos da tradição Guarani é restringido pela fundação Florestal.
Vale ressaltar também que a alimentação da cultura Guarani, diferencia-se da
alimentação dos Juruá Kuery, a falta de autonomia alimentar no território possui interferência
direta no modo de vida e na cultura, além disso, as políticas sociais de segurança alimentar não
incluem suas especificidades alimentares.
Portanto, algumas das dimensões aqui apresentadas que permeiam a cultura são
afetadas devido a comunidade estar inserida no PEXJ, porém, do mesmo modo, há resistência
perante as tradições e ensinamentos Guarani. Referente as invasões em terras indígenas,
Oliveira nos aponta que:
Guarani que vivem fora desse território, na Região Norte do Brasil, sem
estabelecer vínculos de parentesco e de reciprocidade com as demais aldeias
no Sul e Sudeste, também reconhecem a mesma região da América do Sul
como território Guarani, uma vez que seus antepassados ali nasceram e
viveram (LADEIRA, 2001, p.99).
E no Art. 74:
Dessa forma, o Estado passa a ter domínio das terras que seriam de posse dos povos
indígenas, as terras já ocupadas deveriam passar por uma legitimação do Estado, sendo o
Governo imperial responsável por tal desapropriação. Para finalizar, Art. 75 nos traz:
Ou seja, as terras que forem legitimadas em seu aldeamento, serão de usufruto dos
indígenas, porém, em posse do governo. As terras que foram aldeadas, passam a ser terra de
uso público, e não mais dos povos que ali habitavam. Essa desapropriação é constante até a
30
planejamento territorial e pacto coletivo, no âmbito do qual se define o microzoneamento do território de uso da
comunidade, realizado com base em estudos técnicos e levantamento socioeconômico e ambiental, que contemple
a demanda de sustentabilidade econômica em compatibilidade com a conservação da sociobiodiversidade,
constituindo áreas a vigorar como especiais no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral
(culturais-antropológicas) ou a ser indicadas para a criação de Unidade de Conservação de Uso Sustentável (MPF,
2014, p. 34). Disponível em: manual-de-atuacao-territorios-de-povos-e-comunidades-tradicionais-e-as-unidades-
de-conservacao-de-protecao-integral (mpf.mp.br). Acesso em: 05 de Agosto de 2021.
33
mediação, com o objetivo de conciliar os interesses do povo Guarani, bem como da Fundação
Florestal.
Portanto, essa disputa do território que se encontra a aldeia, está limitada pela decisão
de permanência ou não povo indígena na região, diferentemente de um processo de demarcação
da terra, pois para demarcação através da FUNAI é necessário percorrer outros processos
administrativos, mas, para isso a comunidade precisa garantir em primeiro momento, seu
direito de permanência, antes mesmo de garantir o direito à terra. Neste sentido “a ação judicial
torna-se, portanto, um poderoso dispositivo “ordenador” de territorialidades e provoca, em
contrapartida, respostas distintas de cada grupo envolvido”. (SANTOS, 2019, p. 129).
A disputa pela terra, é um elemento intrínseco ao indígena, visto que sua própria cultura
tem uma relação direta com o território. Ao longo de nosso processo histórico, o Estado torna
difícil o acesso à terra para determinados grupos sociais.
Será que o povo indígena vai existir ainda? Então isso que a gente quer
garantir no futuro. A pressão é muito forte através dos governantes, criam leis
e a gente que fica sem saber para onde correr. Mas de tudo a gente tem lutado
e falar que vamos resistir sempre. O povo guarani é um povo muito forte.
Povo que nunca desistiu. É mais de 1500 anos resistindo. [...] A gente
resistiu, para que até hoje pudesse estar aqui para vocês verem a cultura
guarani. (FERNANDO, 2016, p. 42)
Conforme a fala de Cleirray, através das criações das legislações o povo Guarani perde
constantemente seu território, porém, devido as lutas e resistência da cultura, e do Nhandereko
é que o indígena mantém seu direito ao território e a cultura guarani. Os desafios enfrentados
pela comunidade da Tekoá Paranapuã estão relacionados a vivência do modo de vida Guarani
e o acesso aos serviços que promovam e garantam os direitos fundamentais previstos na
Constituição Federal de 1988, além do direito à terra.
O site26 da FUNAI nos explicita as etapas de demarcação de Terra Indígena, que são:
24 Serviço de Proteção ao Índio (SPI), desvinculado da localização de Trabalhadores Nacionais em 1918, através
do Decreto – Lei 3.454.
25 Lei 5.731 no ano de 1967.
26 Disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/2014-02-07-13-24-53. Acesso em: 10 de Junho de 2021.
36
houve a criação da tese do “Marco Temporal28”, tese que defende que as terras indígenas
poderão ser demarcadas com a data especifica de nossa constituinte. Portanto, o movimento
indígena, é obrigado a criar a bandeira de luta contra o marco temporal.
O Marco temporal, deixa para trás todo o contexto histórico do país, e também não
reconhece o povo indígena, como tradicional, uma vez que passa a considerar o território
indígena somente o povo que estivesse nela em 1988, claramente, seguindo os interesses dos
ruralistas e na contramão da própria constituinte. Como bandeira de luta, surge a frase: “Nossa
História não Começa em 1988!”.
Segundo o protocolo de consulta, da Terra Indígena do Jaraguá:
Essa tese ignora todo o processo histórico de invasão desta terra e genocídio
contra a população indígena, assim como, as políticas governamentais de
deslocamento forçado, remoções e massacres ocorridos contra nós, povos
indígenas desde a chegada do jurua nesta terra. Sendo assim, se é para existir
um marco temporal, que este seja o ano de 1500 (PROTOCOLO DE
CONSULTA TERRA INDIGENA DO JARAGUÁ, s/d).
Portanto:
28 Segundo Terena, assessor jurídico da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), o marco temporal é
uma tese que “os povos indígenas só tem direito as terras que estavam ocupando no dia 05 de Outubro de 1988”,
ou seja, retira os direitos tradicionais em terras brasileiras. Disponível em: https://apiboficial.org/2020/10/20/o-
direito-originario-dos-povos-indigenas/. Acesso em: 28 de Julho de 2021.
29 Matéria da Folha de 05 de Novembro de 2018. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/11/no-que-depender-de-mim-nao-tem-mais-demarcacao-de-terra-
indigena-diz-bolsonaro-a-tv.shtml. Acesso em: 12 de Junho de 2021.
38
A disputa pela terra e o direito ao território são possíveis através da luta do povo
indígena, uma vez que a propriedade privada passa a ser um elemento essencial para manter a
ordem burguesa, por meio da utilização da máquina pública e que trabalha na direção da
desapropriação de uma terra de direito tradicional, favorecendo ruralistas, desencadeando no
retrocessos dos direitos indígenas.
40
CAPITULO 2
POLÍTICAS SOCIAIS
originários, como também as disputas para que possam permanecer em seus territórios - a
expropriação ocorrida frente à acumulação do capital.
Além disso, com a Independência do Brasil e a consolidação do Estado-nação surge o
“florescimento do espírito burguês” sem que houvesse um rompimento com o capital
internacional, desencadeando numa “não equiparação entre autonomização econômica e
autonomização política”, uma economia voltada para a exportação. (BEHRING; BOSCHETTI,
2011, p. 75).
32 De acordo com Urquidi (s/d), a declaração de Barbados de 1971 (patrocinado pelo Conselho Mundial de
Igrejas), reuniu antropólogos indigenistas da América Latina, que pela primeira vez, mencionaram a necessidade
de estar presente o povo indígena, além da responsabilização do Estado perante à colonização. Já o ano de 1977,
o segundo encontro de Barbados pode contar com a presença do povo indígena.
43
De acordo com a autora, essa mudança da concepção ocidental não ocorre de forma
espontânea, mas sim através da luta do povo indígena para reconhecimento de sua cultura, além
das revisões das ciências sociais que possibilitou discussões políticas-acadêmicas para
formação de conhecimentos.
Segundo a análise realizada por Berger33 (s/d), a “questão política como expressão da
questão social do campo”, é determinada pela expropriação de terras na América Latina,
sobretudo no Brasil, afetando a população indígena. No século XX uma série de legislações
reconhecem alguns direitos indígenas a partir de uma percepção ocidental: a constituição
federal, convenção OIT 169, estatuto do índio (1973), e no âmbito da educação, a Lei 11645/08,
que se torna obrigatório o estudo das populações de origem africanas e indígena (BERGER;
PINTO, 2019, p. 85).
A política indigenista, marcada pela tutela, hoje solicita novas abordagens que
têm como ponto de partida os anos 1970 e 1980, quando se reconhecem os
indígenas como sujeitos de direitos. O desafio maior hoje passa pela lente
com que vamos ler a realidade desses povos, que escape ao etnocentrismo e
compreenda sua cultura numa perspectiva crítica de totalidade, e aí sim,
caminhar dos direitos humanos (civis, políticos, sociais e ambientais) para as
políticas públicas onde eles conduzam e decidam o processo, inclusive o
orçamento (BERGER, s/d, p. 20).
O Estado fecha os olhos duas vezes, uma quando não quer agir em favor da
demarcação desses territórios, a outra é quando aquelas comunidades que
ainda não têm terra demarcada não pode acessar políticas diferenciadas
voltadas para as comunidades indígenas, age na lógica “se eu não demarquei,
logo não tenho obrigação”. Saúde, educação, soberania alimentar são alguns
exemplos de direitos que os indígenas não podem acessar por não ter terra
demarcada. Eles não conseguem implantar uma política de gestão territorial
ambiental porque não têm terra, e essa política é justamente a busca do bem
viver (VIEIRA, 2018, p. 164).
Estado, além disso, incorporar também nas discussões acadêmicas, obviamente incluindo o
Serviço Social.
No ano de 2013, o CEFESS Manifesta lança outro documento com a temática indígena
com o título: “Éramos livres e felizes...35”, em que traz o contexto histórico dos povos indígenas
no Brasil, e apresenta também o desafio de aprofundamento na temática para o Serviço Social,
bem como apresenta o compromisso firmado no 41º Encontro Nacional CEFESS/CRESS, e
reafirma os mesmos compromissos do CEFESS Manifesta do ano de 2012.
etnias para implantação de políticas condizentes ao cotidiano é um dever para construção das
políticas sociais diferenciadas.
Na live38 comemorativa do dia do assistente social de 2021, realizada pelo
CEFESS/CRESS, a indígena Eliz Pankararu39, nos explicita que a formação em serviço social
foi uma possibilidade encontrada para permanecer com o engajamento pela luta pelo território
em conjunto com as famílias ribeirinhas e pesqueiras na região do nordeste.
A convidada salienta também que estamos num país com pluralidade étnica, costumes,
e relações peculiares com a natureza. O serviço social, como categoria profissional, têm o
compromisso de vincular-se aos movimentos sociais de comunidades tradicionais para buscar
alternativas relacionadas às demandas reais dessas populações, sobretudo referente ao SUAS.
Além disso, Eliz considera fundante interpretar as expropriações de terras, além de
superar a ideia de formulação de políticas através de práticas homogeneizadoras, pois, a política
indigenista governamental possui prática colonizadora, devido “o fazer”, “o representar”
indígena, sem a participação dos povos. É necessário uma articulação com os povos indígenas,
com uma relação igualitária nas decisões, com o compromisso de fortalecer os espaços
autônomos, criar, lutar, e vincular às lutas nacionais.
A primeira vez que a população indígena teve representatividade na Conferência
Nacional de Assistência Social - CNAS, foi no ano de 201540, em que o cacique Audirlei
Fidelis, da Tekoá Vãn Ká, de Porto Alegre, em que diz: “Tem Cras que nunca teve contato com
indígena. Nós precisamos de ajuda. Precisamos aprender como funcionam as coisas [...]
[...]Não queremos um tratamento especial, mas um tratamento diferenciado”.
No entanto, não é comum que tenha representação indígenas nos encontros e decisões
das políticas públicas de proteção social, conforme apontado pela indígena e assistente social
Eliz Pankararu. Compreender a realidade e a cosmologia, além de lutar pela participação em
espaços de decisões políticas e orçamentárias é também lutar pelo direito ao território.
O SUS – Sistema Único de Saúde, por exemplo, tem muito o que avançar no que se
refere à saúde diferenciada, mesmo com a presença e implantação da SESAI - Secretária de
Saúde Indígena, que é pautada pela medicina ocidental, sendo insuficiente os diálogos entre às
lideranças e representações indígenas, ausentando-se, na prática, da perspectiva da saúde
indígena, conforme aponta Dinamam Tuxá:
Então, hoje a saúde indígena é uma saúde posta pelo governo, não os
atendendo em sua plenitude, pois reproduz sempre o modelo do colonizador
não respeitando a diversidade, pois não permite incorporar também práticas
tradicionais de cura aos processos pelos quais os indígenas são submetidos
nos hospitais convencionais.
Uma coisa não pode e não deve excluir a outra, deve haver um diálogo e a
expansão das possibilidades de acesso a modos de cura pela população
indígena. O que vem de suas culturas e o que é trazido também pelos médicos
formados nas cadeiras das universidades. (VIEIRA, 2018, p. 166).
Além disso:
Partir da cosmovisão dos povos indígenas, considerando suas crenças e o que representa
a saúde é fundamental para consolidação das políticas de saúde, uma vez que há saberes
ancestrais passados de geração em geração, e, portanto, o diálogo entre os saberes é
imprescindível para implementação descentralizada da saúde dos povos. Infelizmente, “os
conhecimentos dos indígenas são considerados arcaicos pelos agentes de Estado e substituídos
por inovações, não a partir de um diálogo de saberes”, devido serem vistos como
insubordinados e não qualificados em participar das decisões, resultando na desarticulação nas
“formas endógenas de produção e reprodução da vida”. (NACIF, 2020, p. 265).
A equipe da SESAI que atende a Tekoá Paranapuã está vinculada ao Distrito Sanitário
Especial Indígena41 - DSEI do Litoral Sul, e conta com a equipe de médicos, enfermeiros,
técnico de enfermagem, dentista, além do AIS - Agente Indígena de Saúde e o Agente Indígena
de Saneamento – AISAN, e estão previstas visitas semanais à comunidade. A relação de
judicialização do território é um fator imposto que dificulta ainda mais o avanço no diálogo
quanto a saúde propriamente indígena, uma vez que o atendimento se dá devido aos esforços e
41Os DSEIs foram implantados no ano de 1999 em diversos distritos, devido pressão de movimentos indigenistas,
Ministério Público Federal, entidades internacionais, movimentos ambientalistas, entre outros (OLIVEIRA,
2019).
49
Portanto, é muito im portante principalm ente no campo das políticas p úblicas, ob servar os impactos das ações governam entais e dos empreendimentos capitalistas na config uração da paisagem das aldeias Guarani. Elas afetam diretamente suas dinâm icas socioculturais e o nível de pressão podendo causar ainda m ais m obilidade quando o obj etivo destas p olí ticas m uitas vezes es tá relacionado ao fetiche polít ico-adm inistrativ o de fixar os pov os in dígenas no território.
42 Ofício da secretaria de assistência social, referente ao atendimento do CRAS São Vicente, em resposta para a
FUNAI. O oficio foi enviado para construção do PUT (Plano de Uso Tradicional), em que a Frente de Cultura e
Resistência indígena (PET Educação Popular), participa do grupo de trabalho para elaboração do documento.
43
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social, 2017.
51
Segundo Ladeira (2001), a ocupação indígena nas terras em meio a Mata Atlântica de
acordo visão de mundo Guarani Mbyá, “não compreendidos pela sociedade nacional”, provoca
temor em representantes do Estado, sendo, as políticas públicas aparatos que “visam a um
52
Vale lembrar que a história mostra que os índios não conseguiram prevalecer
sobre as armas, tendo sofrido com o extermínio e a expulsão de suas terras
tradicionais [...]
Portanto, exigir dos indígenas a comprovação de propriedade civil é desprezar
o direito originário consagrado no artigo 231 da Constituição Federal [...]
44Antônio Daloia atua na ação civil da Tekoá Paranapuã e atua no Ministério Público Federal (MPF) do município
de Santos. Publicou o artigo referente o direito às terras tradicionais da baixada santista e Vale do Ribeira no livro
do CRP (Conselho Regi onal de Psicologia), em que explicita sua atuação e os direitos da comunidade da
Paranapuã permanecer no território.
53
Conforme já abordado, por não ter o acesso à terra em sua totalidade, é imposto para a
comunidade da Paranapuã formatos e limitações de seu modo de vida, no que se refere às
questões saúde, educação, soberania alimentar, saneamento entre outras que envolvam o
Nhandereko, todos esses elementos possuem um conhecimento ancestral e diferenciado, sendo
a resistência da cultura fundamental para a luta de permanência e uso e autonomia na relação
com o território.
A ideia de raça criada pelo agentes da colonização e escravização reflete na dominação
do colonizador que “produziu um efeito a desumanização e exploração da força de trabalho
escravizada na América”. Esta movimentação “desencadeou no genocídio, etnocídio e na
intolerância à diversidade étnica e cultural”, além disso, a ideia da superioridade do homem
branco e sua manutenção “sustenta as desigualdades sociais e a violação de direitos dos grupos
étnicos que foram colonizados”. (OLIVEIRA, 2020, p. 29).
indígena. “Então, eu já nasci com o racismo institucional sendo implantado desde o início da
minha vida e essas são experiências certamente compartilhadas por nós, populações indígenas
e negras ao longo desses mais de anos de Brasil”. (VIEIRA, 2018, p. 162).
Ainda, Dinamam (2016), irá refletir quanto os acessos ás políticas públicas em terras
que não são demarcadas pelo Estado. Aponta que 70% das terras das regiões do Nordeste,
Centro-oeste e Sul não são demarcadas, portanto, não possuem acesso às políticas públicas
diferenciadas, e salienta que:
Mesmo que atualmente o ataque tenha sido intensificado, não podemos nos limitar
apenas ao governo atual; pois, conforme dito, há um processo histórico e hierarquizado na
relação de opressão. Em governos anteriores, infelizmente, também não pudemos presenciar
avanços significativos no que se refere a garantia do território indígena. No caso da comunidade
da Paranapuã, por exemplo, o Estado de São Paulo que busca a retirada dos Guarani Mbyá,
portanto, existe uma articulação enraizada no que se refere as estratégias de espoliação de
terras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho foi construído a partir da hipótese de que as políticas sociais não
contemplam o modo de vida guarani, sendo, esta hipótese confirmada, porém, com algumas
ressalvas.
A primeira ressalva se refere quanto a necessidade de maior aprofundamento a partir
de relatos dos indígenas da Tekoá Paranapuã direcionadas às políticas sociais existentes, a
partir disso, os retornos serão mais próximos da realidade dos Guarani Mbyá e Tupi Guarani,
pois, a confirmação da hipótese, é a partir da construção e percepção que pude ter ao longo
deste processo de pesquisa e extensão, em conjunto com as tomadas de consciência nas ações
com a comunidade.
No entanto, é explícito a ausência quanto a efetivação das políticas no território,
sobretudo a respeito das tradições. Tanto nas políticas de assistência, que são relações
tecnicistas devido ao não acompanhamento efetivo com a população em serviços ofertados em
conjunto com o modo de vida Guarani Mbyá. Já no âmbito da saúde, a espiritualidade dos
Guarani Mbyá e Tupi Guarani, por exemplo, não é considerada no que se refere aos
atendimentos realizados pela SESAI. No que se refere a educação, devido os professores serem
os indígenas esta relação se aproxima da visão de mundo da população, porém, somente no
ensino fundamental, uma vez que o ensino médio não é realizado na aldeia, motivo pelo qual
há um afastamento dos jovens, pois as relações do ensino formal e convencional é carregado
de preconceito e não contempla o modo de vida indígena.
Foi possível notar que para as construções das políticas sociais quase não há presença
indígena, e do mesmo modo, não há uma relação direta com a cosmologia de cada povo
existente, visto que são diversos povos no Brasil. Além disso, apesar de estarem previstas nas
legislações, contraditoriamente, o Estado possui estratégias de não efetivação dos direitos
existentes, apesar de apresentar deveres perante os povos originários.
A segunda ressalva é quanto as políticas sociais são mitigadoras frente as opressões no
modo de produção capitalista para os povos indígenas, uma vez que a origem da acumulação
de capital é a expropriação de terras. Apesar dos direitos indígenas serem fundamentais neste
57
modo de produção para garantia de permanência, reitero que sua efetivação não é eficaz, uma
vez que há explicitamente estratégias e projetos para manutenção da grande burguesia.
Neste sentido, o Nhandereko significa a resistência ao modo de produção capitalista,
portanto, mesmo que os indígenas estejam no mesmo modo de produção, seu modo de vida
não condiz com a organização societária atual, por isso, sua resistência se dá frente à
acumulação originária de capital, que se define como:
Assim, observa-se que o capitalismo tem uma tendência para sua acumulação na
expropriação de terra, em que separa os produtores de sua terra e os tornam trabalhadores
assalariados para a reprodução do capital. Com isso, percebemos que a população indígena a
mais de 500 anos está em resistência à acumulação originaria de capital na América Latina.
É essencial para o modo de produção capitalista expropriar as terras destes povos, com
a legitimação do Estado, que busca impor aos indígenas a separação de suas terras através de
limitações territoriais, criando uma dependência que não permita a possibilidade de serem
produtores de seus meios de subsistência a partir de seu modo de vida, por isso, o Nhandereko
é também a resistência a este processo de exploração que é incorporado pelos Juruá Kuery e
materializado através das opressões e negação dos direitos previstos advindos da luta dos povos
indígenas.
A espiritualidade que é a própria consciência da visão de mundo dos indígenas, e está
relacionada na sua relação com a terra não é considerada pelo Estado nestes processos de
construções e participação dos povos, por outro lado, percebe-se que ainda hoje, apesar de
vivermos um Estado teoricamente laico, o cristianismo está presente nas participações sendo
representados pelos agentes da bancada evangélica, por exemplo. Em instituições públicas, é
“comum” nos depararmos com imagens que remetem o cristianismo, pois historicamente, há
58
uma relação de dominação em que as religiões de matriz africana ou não cristãs, e aqui
especificamente, as crenças dos povos originários são marginalizados.
O educador popular Paulo Freire (1979), nos apresenta a categoria de conscientização,
como um processo de afastamento e entendimento da realidade que envolve a práxis (ação-
reflexão-ação), nos aponta também que a utopia é “a dialetização dos atos de denunciar e
anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante”,
portanto, ela é um “compromisso histórico”. Neste sentido, a conscientização:
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63
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Título do Projeto de Pesquisa: Território e Políticas Sociais na Tekoá Paranapuã.
Pesquisador Responsável: Raiane Patrícia Severino Assumpção.
Campus UNIFESP/ Departamento: Baixada Santista/ Pró Reitoria de Extensão e Cultura.
Objetivo acadêmico: Elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso.
Nome do aluno: Patrícia Schnek Guerra.
Equipe de Pesquisa: Raiane Patrícia Severino Assumpção e Patrícia Schnek Guerra.
Local onde será realizada a pesquisa: Campus Baixada Santista.
E-mail para contato: schnekpatricia@gmail.com e/ou raianeps@uol.com.br
Eu, Raiane Patrícia Severino Assumpção, pesquisador responsável pelo projeto acima especificado, declaro
que:
1. O projeto de pesquisa não incluirá participantes de pesquisa, nem utilizará materiais obtidos diretamente
de seres humanos (por exemplo células, sangue periférico, tecidos, entre outros), nem utilizará
imagem/som/questionários/entrevistas/grupo focal que permitam sua identificação individual, dados de
prontuários de assistência do paciente, fichas de cadastros pessoais e/ou fichas escolares;
2. O projeto de pesquisa não utilizará animais vertebrados não humanos nem materiais obtidos diretamente
de animais vertebrados não humanos (por exemplo células, sangue periférico, tecidos, entre outros);
3. Estou ciente de que se nesta pesquisa houver manipulação genética (organismos geneticamente
modificados), será necessário obter carta de aprovação da Comissão Interna de Biossegurança da Unifesp
(CIBio), e que é minha responsabilidade obtê-la antes do início da pesquisa (Lei nº 11.105/2005
http://www2.unifesp.br/reitoria/orgaos/comissoes/cibio/index.php?cod=apresenta);
4. Estou ciente de que caso a pesquisa envolva acesso a patrimônio genético brasileiro e/ou conhecimento
tradicional, o projeto deverá ser cadastrado no sistema auto declaratório SisGen, conforme Lei nº
13.123/2015, antes da sua publicação e/ou comercialização do produto, sendo de minha responsabilidade
realizar e manter este cadastro atualizado (https://sisgen.gov.br/);
5. Estou ciente de que caso os dados utilizados nesta pesquisa não forem de acesso público e/ou se a
pesquisa não for realizada em local público, será necessário obter o documento de autorização emitido pela
instituição em que será realizada a pesquisa e/ou detentora dos dados a serem utilizados, onde deverá
conter as atividades que serão desenvolvidas e assinatura do dirigente institucional ou pessoa por ele
delegada, com identificação de cargo/função e respectiva assinatura, antes do início da pesquisa (Lei no
12.527/2011);
6. Estou ciente de que se houver coleta de exemplares biológicos e/ou se a pesquisa for realizada em
unidades de conservação federais ou em cavidade natural subterrânea, será necessário obter documento de
autorização do Ministério do Meio Ambiente, conforme Instrução Normativa nº 03/2014 do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade, e é de minha responsabilidade obter este documento antes do
início da pesquisa (https://www.icmbio.gov.br/sisbio/);
7. Estou ciente de que se o projeto tiver a possibilidade de gerar conhecimento passível de proteção
intelectual (patentes, direito autoral, novos tratamentos, marcas, softwares, cultivares, segredo industrial), é
minha responsabilidade entrar em contato com a Agência de Inovação Tecnológica e Social (Agits);
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Campus Baixada Santista/ Pró Reitoria de Extensão e Cultura (?)
Exemplo: Rua Silva Jardim, 136, Vila Matias– Santos/São Paulo
Telefone: (13) 3229-0100– site: https://www.unifesp.br/campus/san7
Serviço Público Federal
Ministério da Educação
Universidade Federal de São Paulo
Campus Baixada Santista
Departamento Pró Reitoria de Extensão e Cultura
8. Estou ciente de que se houver uso do Hospital São Paulo ou algum de seus ambulatórios ou setores será
necessário anexar autorização expedida pelo Comitê de Ensino, Pesquisa e Extensão do Hospital São Paulo
(CoEPE/HSP), e é minha responsabilidade obter este ofício antes do início da pesquisa (email:
coep@huhsp.org.br);
9. Estou ciente de que se houver o uso de agentes radioativos, será necessário obter documento de
autorização do Núcleo de Proteção Radiológica (NPR) e é minha responsabilidade obter este documento
antes do início da pesquisa (para maiores informações sobre o NRP, contato: npr@unifesp.br; VOIP:2882);
10. O referido projeto cumpre as normas legais vigentes relacionadas à proteção intelectual, boas práticas e
ética em pesquisa e que será minha responsabilidade zelar pela correta condução do projeto de pesquisa;
11. Comprometo-me a manter a confidencialidade dos dados coletados e gerados pela pesquisa bem como
manter a privacidade de seus conteúdos. Também é minha a responsabilidade não repassar os dados
coletados ou o banco de dados em sua íntegra, ou parte dele, a pessoas não envolvidas na equipe da
pesquisa;
12. Declaro a precisão de todas as informações acima fornecidas e comprometendo-me a informar todos os
demais pesquisadores envolvidos no projeto sobre elas.
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Pesquisador Responsável
Raiane Patrícia Severino Assumpção
Assinatura do orientando
Patrícia Schnek Guerra
De acordo,
________________________________
Soraya Soubhi Smaili
Reitora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
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Campus Baixada Santista/ Pró Reitoria de Extensão e Cultura (?)
Exemplo: Rua Silva Jardim, 136, Vila Matias– Santos/São Paulo
Telefone: (13) 3229-0100– site: https://www.unifesp.br/campus/san7