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“16.

Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem
curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz.
17. Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu
sobre a terra durante três anos e meio.
18. Orou outra vez, e o céu enviou chuva, e a terra produziu os seus frutos.”

Tiago 5:16-18 NVI

"Elias era humano como nós". Quando olhamos as maravilhas que Deus opera
através de grandes homens, a nossa tendência é de idealizarmos um padrão
distante das nossas realidades. Atendo aos detalhes das escrituras conseguimos
olhar então a humanidade desses personagens. O grande comentarista Alexander
Maclaren escreveu, “As Escrituras jamais se esquivam dos defeitos dos heróis".
Que maravilhoso, só nos resta compreender que é somente mediante a graça de
Deus que podemos realizar. Pois todos nós estamos sujeitos aos vales e aos altos
montes, o que determina nosso sucesso ou nosso fracasso mediante a essas
circunstâncias e unicamente a nossa confiança no Senhor. Pois essa é a nossa
certeza de que ele nunca nos abandona, e a sua graça está sempre a nos guardar,
produzindo então um testemunho. Este é o testemunho que temos hoje em nossas
mãos, as escrituras, o testemunho da relação de Deus com a sua criação.

A história de Elias surge de repente em 1 Reis, em meio à dinastia do Rei Acabe (rei
das dez tribos do norte), rei este que viveu segundo os erros de Jeroboão, e ainda
fez coisas horrivelmente piores sendo influenciado por sua esposa perversa
Jezabel. Elias surge então no capítulo 17 como um profeta ousadamente levantado
por Deus, desafiando o rei e a idolatria que ele permitiu chegar à nação. Por causa
das orações desse homem, não choveu na terra por três anos e meio, orações
estas que deveriam estar cheias de súplicas ao Senhor para que tirasse a idolatria
do meio do povo, e que o coração do povo se voltasse a Deus. No capítulo 18, Elias
desafia os profetas de Baal, quando olho para a vida de Elias eu vejo uma
característica muito clara: ele era um homem corajoso, disposto a ser boca de Deus
mediante a uma sociedade totalmente corrompida. Naquele dia no monte Carmelo,
o povo teve testemunhos de que Deus era o Senhor de Elias e também o Deus de
Israel.

MAs a obediência de Elias, e o seu testemunho perante a sociedade, não lhe


isentaram de perseguição, é não era qualquer tipo de perseguição, mas era a
ameaça a sua vida. O homem tão ousado e corajoso que vemos no capítulo 18 é o
mesmo homem que se encontra deprimido e pede a Deus que tire sua vida no
capítulo 19.
texto do comentarista Wiersbe “Com que rapidez passamos do alto da
montanha do triunfo para o vale da provação! Precisamos nos humilhar diante
do Senhor e nos preparar para as provas que costumam vir depois das
vitórias. Se Elias pudesse descrever a um conselheiro aquilo que estava
sentindo e pensando, o conselheiro teria diagnosticado seu estado como um
caso típico de colapso emocional total. Elias estava fisicamente exausto e
havia perdido o apetite. Estava deprimido consigo mesmo e com seu
trabalho, sendo controlado, cada vez mais, pela autopiedade. "Eu fiquei só"!
Em vez de buscar a ajuda de outros, Elias isolou-se e, pior de tudo, quis
morrer (na verdade, Elias não experimentou a morte, pois foi levado ao céu
num carro de fogo. Ver 2 Rs 2). O profeta concluiu que havia fracassado em
sua missão e decidiu que era hora de desistir, mas não foi assim que o
Senhor encarou sua situação. Deus sempre enxerga além de nossas
mudanças de humor e das orações impetuosas que fazemos e se compadece
de nós como os pais se com padecem de seus filhos desanimados (Sl
103:13, 14). O capítulo 19 nos mostra como Deus nos trata com carinho e
paciência quando passamos pelas profundezas do desespero e sentimos
vontade de desistir. 1 Reis 19 começa com Elias fugindo e tentando se salvar.
Em seguida, o profeta discute com o Senhor e tenta se defender. Por fim,
Elias obedece ao Senhor, entrega-se a ele e é restaurado ao serviço. Na
verdade, em todo esse processo, Elias estava reagindo a quatro mensagens
distintas.

1. A MENSAGEM PERIGO DO INIMIGO (1 Rs 19:1-4) Quando a chuva


torrencial começou a cair, Jezabel estava em Jezreel e talvez tenha pensado
que Baal, o deus da tempestade, havia triunfado no monte Carmelo. Porém,
ao voltar para casa, Acabe contou à rainha uma história bem diferente. Acabe
era um homem fraco, mas deveria ter assumido o partido de Elias e honrado
o Senhor, que havia demonstrado seu poder de modo tão dramático. Porém,
Acabe precisava conviver com a rainha e sabia que, sem o apoio de Jezabel,
ele não era ninguém. Jezabel era obstinada e perversa; nem ela nem o rei
Acabe aceitaram as evidências claras apresentadas no monte Carmelo de
que Jeová era o verdadeiro Deus vivo. Em vez de se arrepender e de chamar
a nação de volta ao Senhor, Jezabel declarou guerra a Jeová e a Elias, o 470
1 REIS 1 9 : 1 - 2 1 servo fiel do Senhor, e Acabe permitiu que ela tomasse
essa atitude. Por que Jezabel mandou uma carta para Elias quando poderia
ter enviado soldados e dado cabo do profeta? Elias estava em Jezreel e não
teria sido difícil assassiná-lo numa noite tão conturbada e tempestuosa.
Jezabel não era apenas uma mulher perversa, mas também uma estrategista
sagaz que soube tirar vantagem da derrota de Baal no monte Carmelo. Acabe
não tinha pulso algum, mas sua esposa era bem diferente! Elias havia se
tornado um homem benquisto pelo povo. Assim como Moisés, fizera descer
fogo do céu e, como Moisés, havia exterminado os idólatras (Lv 9:24; Nm 25).
Se Elias desaparecesse, o povo ficaria imaginando o que havia acontecido e
se mostraria mais propenso a adorar Baal outra vez, deixando Acabe e
Jezabel livres para fazer as coisas a seu modo. Além disso, quer fosse por
Baal quer por Jeová, as chuvas estavam caindo outra vez, e havia trabalho a
fazer! É possível que Jezabel tenha suspeitado que Elias fosse forte
candidato a um colapso físico e emocional depois de seu dia pesado no
monte Carmelo - e estava certa. O profeta era tão humano quanto nós, e
como os patriarcas da igrejas antiga costumavam dizer a seus discípulos:
"Cuidado com as reações humanas depois de esforços sagrados". A carta de
Jezabel cumpriu seu propósito, e Elias fugiu de Jezreel. Num momento de
medo, quando se esqueceu de tudo o que Deus havia feito por eles nos três
últimos anos, Elias tomou seu servo, deixou Israel e rumou para Berseba, a
cidade no mais extremo sul de Judá. Charles Spurgeon comentou que Elias
"bateu em retirada diante de um inimigo derrotado". Deus havia respondido à
sua oração (18:36, 37), e a mão de Deus havia estado sobre ele na
tempestade (18:46), mas, a essa altura, o profeta vivia pelas aparências e
não pela fé (ver Sl 16:7, 8). Durante três anos, Elias não havia tomado
qualquer atitude sem ouvir e obedecer às instruções do Senhor (1 7:2, 3, 8, 9;
18:1), mas aqui vemos o profeta correndo adiante do Senhor a fim de salvar a
própria vida. Quando os servos de Deus saem da vontade de seu Senhor,
estão sujeitos a cometer todo tipo de insensatez e a falhar naqueles que são
seus pontos mais fortes. Quando Abraão fugiu para o Egito, falhou em sua fé,
que era sua maior força (Gn 12:1 Oss). O ponto mais forte de Davi era sua
integridade, e foi nisso que falhou quando começou a mentir e a tramar ao
longo do episódio com Bate-Seba (2 Sm 11 - 12). Moisés era o mais manso
dos homens (Nm 12:3) e, no entanto, perdeu a calma e o privilégio de entrar
na Terra Prometida (Nm 20:1-13). Pedro era um homem corajoso, mas sua
coragem falhou e ele negou a Cristo (Mc 14:66-72). Assim como Pedro, Elias
era um homem ousado, mas sua coragem falhou quando o profeta soube da
mensagem de Jezabel. Mas por que fugir para Judá, especialmente quando
Jeorão, o rei de Judá, era casado com Atalia, filha de Acabe (2 Rs 8:16- 19; 2
Cr 21:4-7)? Essa Atalia é a figura infame que reinou posteriormente sobre a
terra e que tentou exterminar todos os herdeiros reais da linhagem de Davi (2
Rs 11). O lugar mais seguro para todo filho de Deus é o lugar determinado
pela vontade de Deus, mas Elias não esperou para descobrir qual era a
vontade de Deus. Viajou de 140 a 160 quilômetros até Berseba e deixou seu
servo lá. Será que disse ao servo: "Fique aqui até eu voltar?" ou
simplesmente libertou o homem para a segurança dele? Se o inimigo viesse
atrás de Elias, o servo estaria mais seguro em algum outro lugar. Além disso,
se o servo não soubesse onde Elias estava, não poderia dar a informação ao
inimigo. Berseba possuía significado especial para os israelitas por sua
ligação com Abraão (Gn 2 1 :22, 33). Um "zimbro" é, na verdade, um arbusto
com flores que cresce no deserto e que fornece sombra para rebanhos e
viajantes. Seus galhos são finos e flexíveis como os galhos de um chorão e
são usados para 1 REIS 1 9 : 1 - 2 1 471 atar pacotes (o termo hebraico
usado para esse arbusto é "am arrar"). As raízes dessa planta são usadas
como combustível, constituindo um ótimo tipo de carvão (Sl 120:4). Sentado à
sombra, Elias fez algo sábio: ele orou. Sua oração, porém, não foi muito
sábia. "Cansei de tudo isso!", disse ao Senhor, "portanto tire-me a vida". Em
seguida, o profeta apresentou o motivo de seu pedido: "não sou melhor do
que meus pais". Em momento algum, Deus pediu que Elias fosse melhor do
que alguém, mas apenas que ouvisse sua Palavra e lhe obedecesse. A
combinação de colapso em ocional, exaustão, fome e uma sensação
profunda de fracasso, acrescidos de falta de fé no Senhor, levaram Elias a
uma depressão profunda. Havia, porém, um elemento de orgulho em tudo
isso e certa dose de autopiedade, pois Elias estava certo de que seu
ministério no monte Carmelo colocaria o povo de joelhos. Talvez, também,
esperasse que Acabe e Jezabel se arrependessem, deixassem Baal e
servissem a Jeová. Suas expectativas não foram preenchidas, de modo que
ele se considerou um fracassado. Mas é raro o Senhor permitir que seus
servos vejam todo o bem que fizeram , pois caminhamos pela fé e não por
aquilo que vemos, e Elias descobriu, mais tarde, que sete mil pessoas em
Israel não haviam se curvado a Baal e adorado o deus cananeu. Sem dúvida,
o ministério dele havia influenciado muitas dessas pessoas.

2. A MENSAGEM DE GRAÇA DO ANJO (1 Rs 19:5-8) Às vezes, quando o


coração está pesado e a mente e corpo estão exaustos, o melhor remédio é
dormir - simplesmente tirar um cochilo! Referindo-se a Marcos 6:31, Vance
Havner costumava dizer: "quem não repousa num lugar separado, sempre
acaba estafado", e esse era o caso de Elias. Quando estamos exaustos, tudo
parece dar errado. Enquanto o profeta dormia, o Senhor enviou um anjo para
suprir suas necessidades. Tanto no hebraico quanto no grego, o termo
traduzido por "anjo " também significa "mensageiro", de modo que alguns
concluem que esse visitante prestativo era outro viajante que o Senhor
colocou ao lado de Elias na hora certa. Porém, no versículo 7, o visitante é
chamado de "anjo do S e n h o r " , título dado pelo Antigo Testamento à
segunda pessoa da Trindade, Jesus Cristo, o Filho de Deus. Em passagens
como Gênesis 16:10, Êxodo 3:1-4 e Juízes 2:1-4, o anjo do Senhor fala e
atua como Deus o faria. Na verdade, o Anjo do Senhor em Êxodo 3:2 é
chamado de "Deus" e "o Senhor " no restante do capítulo. Assim , podemos
supor que esse visitante prestativo era nosso Senhor Jesus Cristo. Tanto
Elias quanto o apóstolo Pedro foram despertados por anjos (At 12:7), no caso
de Elias, para receber alimento, no caso de Pedro, para ser libertado da
prisão. O anjo havia preparado uma refeição simples, porém apropriada, com
pão fresco e água. O profeta comeu, bebeu e se deitou novamente para
dormir (Jesus preparou um café da manhã com peixe e pão para Pedro e seis
outros discípulos; Jo 21:9, 13). O texto não diz quanto tempo o Senhor
permitiu que Elias dormisse antes de despertá-lo pela segunda vez e
dizer-lhe para comer. O Senhor sabia que Elias planejava visitar o monte
Sinai, um dos lugares mais sagrados da história de Israel, e que esse monte
ficava cerca de 400 quilômetros de Berseba, de modo que o profeta precisava
de forças para a viagem. Porém, não importa qual seja nosso destino, a
jornada é sempre longa demais para nós e precisamos das forças de Deus
para alcançar nosso objetivo. Com o Deus foi bondoso em preparar uma
"mesa no deserto" para seu servo desanimado (Sl 78:19; ver também Sl
23:5)! Elias obedeceu ao mensageiro de Deus e conseguiu viajar quarenta
dias e quarenta noites sustentado por aquelas duas refeições. Ao recapitular
com o Deus ministrou a Elias no relato de 1 Reis 18 e 19, vemos um paralelo
com a promessa em Isaías 40:31. O profeta havia passado três anos
escondido por Deus, tempo durante o qual "esperou no Senhor". Quando
Deus o enviou ao monte Carmelo, capacitou Elias a "subir com asas como
águias" e a triunfar sobre os profetas de Baal. Depois que Elias orou e que a
472 1 REIS 1 9 : 1 - 2 1 chuva começou, o Senhor o fortaleceu e ele "correu e
não se cansou" (18:46) e, em seguida, Deus o sustentou quarenta dias para
que "caminhasse e não se fatigasse" (19:8). Elias não estava vivendo
inteiramente na vontade de Deus, mas foi perspicaz o suficiente para saber
que deveria esperar no Senhor, a fim de ter forças para o ministério e para a
jornada adiante dele. Os anjos do Senhor são seus embaixadores especiais
enviados a ministrar ao povo de Deus (Hb 1:14; Sl 91:11). Um anjo livrou
Daniel de ser devorado por leões (Dn 6:22), e anjos serviram a Jesus durante
sua tentação no deserto (M c 1:12, 13). Um anjo fortaleceu Jesus no jardim
do Getsêmani (Lc 22:43) e outro animou Paulo à bordo do navio durante um a
tempestade (A t 27:23). O s anjos no céu se regozijam quando um pecador se
converte (Lc 15:7, 10), e ao chegarmos ao céu e Deus nos der o privilégio de
rever nossa caminhada na terra, iremos, sem dúvida alguma, descobrir que
desconhecidos que nos ajudaram de diferentes maneiras eram, na verdade,
anjos de Deus enviados pelo Senhor para nos ajudar e proteger.
3 . A MENSAGEM DE PODER DO CRIADOR (1 Rs 19:9-14) O Sinai ficava a
cerca de 400 quilômetros de Berseba, uma jornada de dez dias a duas
semanas. Haviam se passado no máximo três semanas desde que Elias
havia fugido de Jezreel, mas sua viagem estendeu-se e levou quarenta dias
(19:8)! Se Elias estava com tanta pressa de se distanciar dos executores
enviados por Jezabel, por que demorou tanto tempo para completar a
jornada? Talvez o Senhor tenha dirigido seus passos (Sl 37:23) - e suas
paradas - de modo que gastasse um dia por ano que os israelitas havia
passado no deserto depois de libertados do Egito. Foi a incredulidade e o
medo de Israel em Cades-Barnéia que levaram a seu julgamento (Nm 13 -
14), e foi a incredulidade e o medo de Elias que o fizeram fugir para o deserto
(Jesus passou quarenta dias no deserto quando foi tentando; Mt 4:2). Uma
vez que estava rumando para o Sinai, é possível que Elias tivesse planejado
a viagem de modo a passar quarenta dias no deserto, imitando Moisés que
passara quarenta dias no alto do monte com o Senhor (Êx 34:28). Elias teve
de tratar da adoração a Baal, e Moisés teve de tratar da adoração ao bezerro
de ouro (Êx 32). Encontrava-se tão deprimido que sentia-se disposto a
renunciar a seu chamado e até mesmo à vida. Quando o Senhor finalmente
falou a Elias, não foi para repreendê-lo nem para instruí-lo, mas para lhe fazer
uma pergunta: "Que fazes aqui, Elias?" As palavras do profeta não
responderam, de fato, à pergunta, o que explica por que Deus a repetiu (v.
13). Elias apenas disse ao Senhor (o Onisciente) que havia passado por
várias provações em seu ministério, mas que havia sido fiel a Deus. Porém,
se havia sido um servo fiel, o que estava fazendo escondido numa caverna a
centenas de quilômetros de seu local designado de ministério? Nessa
resposta, Elias revela tanto orgulho quanto pena de si mesmo e, ao usar o
pronome "eles", exagera o tamanho de sua oposição. Dá a impressão de que
absolutamente todos os israelitas do reino do Norte se voltaram contra ele e
contra o Senhor, quando, na verdade, era Jezabel quem desejava matá-lo. O
refrão "eu fiquei só" transmite a ideia de que era indispensável à obra de
Deus, quando, na verdade, nenhum servo de Deus é indispensável. Em
seguida, Deus ordenou a seu profeta que se colocasse no monte à entrada
da caverna, mas, ao que parece, Elias não obedeceu até que ouviu um
murmúrio suave (v. 12). Também é possível que ele tenha saído da caverna,
mas corrido de volta para dentro dela quando Deus começou a mostrar seu
grande poder. As palavras "eis que passava o Senhor " nos lembram da
experiência de Moisés no monte (Êx 3 3 :2 1 , 22 ). Tudo o que Elias
precisava era de uma nova visão do poder e da glória de Deus. Primeiro, o
Senhor fez 1 REIS 1 9 : 1 - 2 1 473 passar um vento forte, tão intenso que
fendeu os montes e que despedaçou as penhas, mas o profeta não recebeu
mensagem alguma de Deus. Em seguida, o Senhor causou um grande
terremoto que abalou o monte, mas nenhuma Palavra de Deus veio do
terremoto. Depois disso, o Senhor trouxe um grande fogo, mas este também
não deu a Elias mensagem alguma de Deus. Ao testemunhar essas
demonstrações dramáticas de poder, sem dúvida o profeta pensou na
ocasião em que a lei foi entregue (Êx 19:16-18). O que Deus estava
procurando realizar na vida de Elias por meio dessas lições práticas
impressionantes e assustadoras? Dentre outras coisas, lembrava seu servo
de que tudo na natureza obedecia ao Senhor (Sl 148) - o vento, os alicerces
da terra, o fogo - e de que não lhe faltava uma variedade de instrumentos
para fazer seu trabalho. Se Elias desejasse renunciar a seu chamado divino,
o Senhor teria outra pessoa para tomar o lugar dele. No final, Elias não
renunciou, mas recebeu o privilégio de chamar seu sucessor, Eliseu, e de
passar algum tempo com ele antes de ser levado para o céu. O vento, o
terremoto e o fogo são meios que o Senhor usa para se manifestar à
humanidade. Os teólogos chamam essas demonstrações de "teofanias",
termo originário de duas palavras gregas (theos = Deus; phaino = manifestar,
aparecer) que, juntas, significam "a manifestação de Deus". As nações pagãs
viam essas demonstrações espetaculares e adoravam as forças da natureza,
enquanto os israelitas as contemplavam e adoravam ao Deus que criou a
natureza (ver Jz 5:4, 5; Sl 18:16-18 e H c 3). Porém, essas mesmas
manifestações da presença e do poder impressionantes de Deus serão vistas
nos últimos dias antes de Jesus voltar à terra para estabelecer seu reino. Os
profetas do Antigo Testamento chamavam esse tempo de "Dia do Senhor"
(ver Joel 2:28 - 3:16; Is 13:9, 10; Mt 2 4 :29 e Ap 6 - 16). Talvez o Senhor
estivesse dizendo a Elias: "Você acredita que fracassou no julgamento do
pecado de Israel, mas um dia eu julgarei esse pecado com meu julgamento
absoluto e com pleto". Depois dessa exibição dramática de poder, veio "um
cicio tranqüilo e suave". Quando o profeta ouviu essa voz, saiu da caverna e
se encontrou com o Senhor. O grande poder e ruído das demonstrações
anteriores não tocaram Elias, mas quando ele ouviu o sussurro suave e
tranquilo, reconheceu a voz de Deus. Pela segunda vez (ver Jn 3:1), ouviu a
mesma pergunta: — "Que fazes aqui, Elias?" E mais uma vez, Elias repetiu a
resposta evasiva e egocêntrica. Deus estava dizendo a Elias: — Você pediu
fogo do céu e matou os profetas de Baal e, por sua oração, caiu uma chuva
torrencial, mas agora se sente um fracassado. Você precisa entender que não
trabalho de modo espalhafatoso, impressionante e dramático. Minha voz
suave traz a Palavra aos ouvidos e ao coração dos que a escutam. Sem
dúvida, há uma hora e um lugar certo para o vento, o terremoto e o fogo,
mas, na maioria das vezes, falo às pessoas em tom de amor suave e de
persuasão tranqüila. O Senhor não estava condenando o ministério corajoso
de seu servo, mas apenas lembrando Elias de que ele usa várias ferramentas
diferentes para realizar seu trabalho. A Palavra de Deus cai com o uma chuva
mansa que refrigera, purifica e produz vida (Dt 32:2; Is 55:10). Em nossos
dias de reuniões apoteóticas, de música alta e de promoções coercivas, é
difícil algumas pessoas entenderem que Deus raramente trabalha por
intermédio daquilo que é dramático ou colossal. Quando quis começar a
nação de Israel, enviou um bebê chamado Isaque; quando quis livrar essa
nação da escravidão, enviou outro bebê, Moisés. Enviou um adolescente
chamado Davi para matar o gigante filisteu, e, para cumprir sua missão, o
menino usou uma funda e uma pedra. Quando Deus quis salvar o mundo,
enviou seu Filho com um bebê frágil e desamparado. Hoje, Deus deseja
alcançar o mundo pelo ministério de "vasos de barro" (2 Co 4:7). Nas
palavras do D r .). O sw ald Sanders: "Os sussurros do Calvário são muito
mais poderosos que o 474 1 REIS 1 9 : 1 - 2 1 trovão do Sinai para conduzir
os homens ao arrependimento".

4 . A MENSAGEM DE ESPERANÇA DO Senhor (1 Rs 19:15-21) Elias não


tinha nada de novo a dizer ao Senhor, mas o Senhor tinha uma nova
mensagem de esperança para seu servo frustrado. Não faltavam motivos
para o Senhor rejeitar seu servo e deixar que morresse na caverna, mas não
foi essa a abordagem que ele usou. "Não nos trata segundo os nossos
pecados [...]. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó" (Sl
103:10, 14). Primeiro, o Senhor disse a Elias para voltar a seu posto de
trabalho. Quando estamos fora da vontade de Deus, precisamos retornar pelo
caminho que viemos e recomeçar (Gn 13:3; 35:1-3). A resposta franca para a
pergunta "Que fazes aqui, Elias?" era "Nada! Estou só me afogando em
autopiedade!" Mas Elias foi chamado a servir, e havia tarefas a cumprir.
Quando Josué ficou abatido com a derrota de Israel em Ai, passou o dia com
o rosto prostrado em terra diante de Deus, mas a resposta de Deus foi:
"Levanta-te! Por que estás prostrado assim sobre o rosto?" (Js 7:10). Quando
Samuel lamentou o fracasso de Saul, Deus o repreendeu. "Até quando terás
pena de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel?
Enche um chifre de azeite e vem " (1 Sm 16:1), e Samuel obedeceu e ungiu
Davi para ser o próximo rei. Não importa quanto ou com que frequência seus
servos tenham falhado com ele, Deus nunca fica sem saber o que fazer.
Cabe a nós obedecer à sua Palavra, levantar e obedecer às suas ordens! A
primeira incumbência de Elias foi ungir Hazael rei da.Síria; e, mesmo sendo
esta uma nação gentia, era o Senhor quem escolhia seus líderes. "O
Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer" (Dn
4:25). Em seguida, deveria ungir Jeú rei de Israel, pois, apesar de o reino
estar dividido, Israel ainda se encontrava sob a aliança divina e deveria
prestar contas ao Senhor. Sua terceira incumbência era ungir Eliseu seu
sucessor. Elias havia se queixado de que a geração passada havia falhado
com ele, e a geração presente havia feito o mesmo (19:4). Então, Deus o
chamou para ajudar a preparar a geração futura ungindo dois reis e um
profeta.7 Trata-se de uma versão do Antigo Testamento daquilo que
encontramos em 2 Timóteo 2:2. As pessoas indicadas pelo Senhor não eram
particularmente importantes na estrutura social daquela época. Hazael era
um servo do rei Ben-Hadade, Jeú era um capitão do exército e Elias era um
agricultor. Porém, quando Elias e Jeú concluíram seu trabalho, a adoração a
Baal havia sido quase inteiramente extinta em Israel (2 Rs 10:18- 31). Uma
única geração não é capaz de fazer tudo, mas cada geração deve
providenciar para que as pessoas da geração seguinte sejam chamadas e
treinadas e para que tenham à sua disposição as ferramentas necessárias
para dar continuidade à obra do Senhor. Deus estava dizendo a Elias para
deixar de chorar pelo passado e fugir do presente, pois era hora de começar
a preparar outros para o futuro. Quando Deus está no controle, sempre há
esperança. Porém, o Senhor não apenas enviou seu servo para recrutar
novos obreiros, como também lhe deu a certeza de que o trabalho deles não
seria em vão. Deus usaria as espadas de Hazael e de Jeú e as palavras e o
trabalho de Eliseu para realizar seus propósitos na terra. Além disso, garantiu
a Elias que o ministério dele não havia sido um fracasso, pois ainda havia
sete mil pessoas na terra fiéis a Jeová. Sem dúvida, o profeta não estava
sozinho, e, no entanto, Deus o enviou a tocar a vida de três indivíduos. O
Senhor não ordenou que Elias reunisse todas as sete mil pessoas fiéis numa
grande assembléia e que pregasse um sermão. Por certo, há um lugar para
sermões e encontros de grupos numerosos, mas não devemos jamais
subestimar a importância de trabalhar com indivíduos. Jesus falou a grandes
multidões, mas sempre teve tempo para os indivíduos e suas necessidades.
O termo "conservei", no versículo 18, significa "reservei para mim". Trata-se
do "remanescente segundo a eleição da graça" sobre 1 REIS 1 9 : 1 - 2 1 475
o qual Paulo escreveu em Romanos 11:1-6. Não importa quanta perversidade
pareça haver no cenário internacional, Deus sempre tem um remanescente
fiel a ele. Por vezes, esse remanescente é pequeno, mas Deus é sempre
grande e cumpre seus propósitos. Elias voltou, sem demora, pelo caminho
por onde havia vindo e retomou seu posto de trabalho. Abel-Meolá ficava a
cerca de 240 quilômetros do Sinai (v. 16), e lá Elias encontraria Eliseu arando
um campo. O nome de Eliseu significa "Deus é salvação". O fato de Eliseu
estar usando doze juntas de bois - vinte e quatro animais caros - indica que a
situação financeira de sua família provavelmente era melhor do que a da
maioria dos israelitas.8 Sem dizer uma palavra ao jovem, Elias lançou seu
manto sobre ele para indicar que o Senhor o havia chamado para servir ao
profeta e, posteriormente, ser seu sucessor. Eliseu e sua família faziam parte
do "remanescente da graça" que Deus havia separado para si. Não importa
quão sombrios pareçam os tempos, Deus tem seu povo e sabe quando
chamá-lo. A conduta de Eliseu parece contradizer as palavras de Jesus em
Lucas 9:57-62, mas não é o caso. Eliseu seguiu Elias com obediência
sincera, enquanto os homens no registro do Evangelho estavam hesitantes e
tinham suas reservas, e Jesus sabia disso. Eliseu provou seu compromisso
matando dois dos bois e usando a madeira dos implementos agrícolas como
lenha para cozinhar a carne para um banquete de despedida. Em termos
contemporâneos, estava "queimando as pontes atrás de si". Uma vez tendo
tirado as mãos do arado, não tinha intenção alguma de voltar atrás. A
resposta de Elias significa: — O que foi que eu fiz? Não fui eu quem chamou
você, mas sim, o Senhor. Acaso estou impedindo você de ir? Faça o que o
Senhor lhe pedir. O texto não diz qual foi a reação da família e dos amigos de
Eliseu a sua mudança súbita de vocação, mas não há indicação alguma que
tenham sido contrários à decisão de Eliseu. Fazendo uma revisão deste
capítulo, vemos os erros cometidos por Elias e como o Senhor prevaleceu
sobre eles realizando sua vontade. Elias andou de acordo com as aparências
e não pela fé, e, no entanto, o Senhor o sustentou. Concentrou-se em si
mesmo e em seus fracassos em vez de olhar para a grandeza e o poder de
Deus. Teve maior preocupação em fazer mais do que seus ancestrais haviam
feito no passado do que em chamar e preparar novos servos para o futuro.
Isolou-se do povo de Deus e, portanto, perdeu a força e o estímulo de sua
comunhão e oração. Porém, não sejamos duros demais com Elias, pois teve
ouvido sensível o suficiente para escutar a voz suave e tranqüila do Senhor e
fez o que Deus lhe ordenou. O Senhor o repreendeu com brandura, tirando-o
da caverna e restituindo-o ao serviço ativo. Tenhamos essas coisas em mente
e lembremo-nos delas da próxima vez em que estivermos debaixo de nosso
zimbro ou dentro de nossa caverna! Por fim, estejamos entre aqueles que
olham para o futuro e que buscam recrutar outros para servir ao Senhor.
Exaltar ou criticar o passado não leva a lugar algum; o importante é fazer
nosso trabalho no presente e preparar outros para dar continuidade a ele
depois que tivermos partido. Deus sepulta seus obreiros, mas sua obra
continua.

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