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Introdução
“Se de repente achar. Falta uma voz no ar. Carros de fogo vieram me buscar”. A
famosa música Carros de Israel, de Stênio Marcius traz a memória um dos mais fantásticos
episódios da bíblia. A subida de Elias aos céus. O que aconteceu na vida desse homem que
o levou aos céus ? Havia nele algo de especial? Nessa pequena biografia tentarei dar
respostas se não satisfatórias, ao menos biblicamente embasadas, a essas e outras
perguntas sobre o profeta Elias.
O Profetismo em Israel
Elias era profeta. Isso por si só deve nos chamar atenção para este homem, afinal,
qual era função dos profetas ? A palavra hebraica usada para se referir a esses homens é
nabhi’ e os textos de Ex 4.16; 7.1 e Jr 1.5,6 nos mostram que o nabhi’ é um orador revestido
da autoridade de uma divindade para falar oficialmente em nome dela². Mais
especificamente um profeta bíblico é a voz de Yahweh, o guardião de sua aliança. Apesar
da presença de profetas desde o livro de gênesis, há um período chave no qual o ministério
profético exerce a função basilar de manutenção do relacionamento de Deus com seu povo,
esse é o período da monarquia. Durante a teocracia tribal de Israel em seu estabelecimento
na terra Deus falava diretamente com o mediador da aliança como Moisés, Josué e alguns
juízes. Porém, com o estabelecimento da monarquia há uma corrente interrupta de
revelação profética. A respeito desta revelação, é importante ressaltar que ela se refere
principalmente a guarda da aliança e rememoração da mesma do que de predição, apesar
de este se fazer presente. Ademais, é importante ressaltar que a despeito do papel do
monarca como governante terreno, o profeta era o arauto da teocracia. O rei poderia estar
no trono, mas Yahweh era o rei. E todo governante humano deveria manter-se submisso as
suas leis. Contudo, apesar de estar sempre em relação com o governo de Israel, o profeta
não é um político, mas um mensageiro do SENHOR. Por fim , um último aspecto importante
do ministério profético é o que Geerhardos Vos chama de fator de continuidade:
O profeta lembra a Israel quem é Yahweh e o que Ele fez por seu povo no passado.
Acusando-os de no presente pecar contra as suas leis e estatutos e anunciando juízo e
esperança que, conforme a aliança, Deus traria no futuro. A escala temporal e a forma
revelacional do ministério de um profeta é definida pelo SENHOR conforme a necessidade
1. PINK. A. W. A vida do Profeta Elias. Editora os Puritanos, 2019, 1ª Ed.
2. VOS. Geerhardus. Teologia Bíblica- Antigo e Novo Testamento. Cultura Cristã, 2019, 2ª Ed. pg 237.
3. Ibidem pg 230.
do povo. Vistos a seguir, o ministério de Elias contém pouco conteúdo preditivo. Contudo,
ele recebe poder do SENHOR para realizar prodígios como nenhum profeta, à exceção de
Moisés e de seu discípulo Eliseu, antes ou depois. A razão para isso será dada
posteriormente no contexto no qual esse profeta foi levantado pelo SENHOR.
" Acabe, filho de Onri, fez o que o Senhor reprova, mais do que qualquer outro antes dele.
Ele não apenas achou que não tinha importância cometer os pecados de Jeroboão, filho de Nebate,
mas também se casou com Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, e passou a prestar culto a Baal
e adorá-lo.No templo de Baal, que ele mesmo tinha construído em Samaria, Acabe ergueu um altar
para Baal. Fez também um poste sagrado. Ele provocou a ira do Senhor, o Deus de Israel, mais do
que todos os reis de Israel antes dele.”
1 Reis 16:30-33¹
Apesar de reis não dizer muito sobre Onri, escritos assirios se referem a Israel como “terra
de Onri” e a estrela moabita de Massa, um importante escrito semítico, fala do domínio de
Onri sobre Moabe. Seu filho, Acabe, descrito como pior dos reis de Israel, tem como seus
principais pecados o culto a Baal e o casamento com a princesa fenícia Jezabel. O culto ao
deus canaanita Baal está presente desde a chegada do povo na terra. Baal é, na verdade,
um título para o deus Hadade, responsável pela chuva e pela fertilidade. Numa terra
semiárida de base agrícola, a chuva e a fertilidade eram essenciais para a vida. Por isso, o
culto a Baal esteve presente na maioria dos reinos apostatas de Israel e Juda. O casamento
de Acabe com Jezabel e a constitucionalização do culto a Baal em Israel estão diretamente
ligados. Por fim, esse rei também aumenta a idolatria em Israel por meio da construção de
postes ídolos a Aserá, deusa canaanita da fertilidade.
O misterioso Elias
Esse é o contexto no qual Deus levantou Elias como seu arauto. Porém, quem é
esse homem? A. W. Pink chama o seu aparecimento de dramático. Elias carrega em seu
nome (Eliyah no original hebraico, significa “meu Deus é Javé”) um prenúncio do que será
sua mensagem. A cidade de onde ele veio, Tisbe, não e mencionada em nenhum outro
local do antigo testamento, sua localização nunca foi confirmada. Não há como confirmar
sua tribo, podendo ser tanto de Gade quanto de Manassés pela localização de Gileade
entre os territórios dessas duas tribos. Essa falta de informações a respeito da origem de
Elias, harmonizada com sua surpreendente subida lança sobre ele um ar de mistério que
lembra o sacerdote Melquisedeque. Assim, colocando lado a lado o maior sacerdote e o
maior profeta do antigo testamento temos um vislumbre daquele que juntamente com o
ofício de rei será: profeta e sacerdote por excelência, Jesus Cristo.
A caverna do Profeta
Em seguida desses eventos Jezabel jura a morte de Elias. Ele, então, foge para o
deserto caminhando por quarenta dias até o monte Horebe, lá escondido e com medo, o
Senhor fala com ele por meio de uma brisa suave após uma tempestade e um incêndio. O
Senhor questiona duas vezes a motivação de Elias estar ali e duas vezes Elias responde
reclamando da desobediência de Israel, da morte dos profetas e da possibilidade de sua
morte. Elias está cansado, mesmo diante de tudo o que Deus havia feito, o mal parecia
vencer, isso o consumia. Mas Yahweh que havia demonstrado a todos por meio de Elias
que era Deus, misericordiosamente agora mostra a Elias. O Senhor conta a Elias todos os
seus planos e o que ele deveria fazer. Além disso, ele mostra que ao contrário do que Elias
pensava ele havia guardado sete mil fiéis. O que acontece em seguida é o cumprimento da
palavra do Senhor: Elias unge Eliseu como seu sucessor, unge Jeú como novo rei, unge o
novo rei da Síria e declara o fim do reinado de Acabe e Jezabel.