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O PROFETA ELIAS
O termo profeta, segundo o dicionário bíblico McKenzie, é a tradução do
hebraico “nabi”, da raiz “chamar”, “clamar em alta voz”, pode significar ainda “aquele que
é chamado”.
Embora seja um fenômeno comum aos povos do oriente vizinhos a Israel,
entre os judeus a profecia assume características peculiares principalmente por sua
independência frente ao sacerdócio e demais instituições religiosas e a monarquia. O
profeta de Israel chama em nome de Deus recordando o dever de fidelidade a aliança.
Na bíblia, o símbolo maior da tradição profética é o profeta Elias, da
mesma forma que a Lei é atribuída a Moisés. Basta lembrar a cena da transfiguração de
Jesus onde estes dois personagens surgem como representantes da fé de Israel, pois o
testemunho dos antigos é resumido na Lei e nos profetas (conferir Mt 22,40 e Lc 16,27-31).
O próprio nome Elias, que significa "Javé é Deus" ou "Javé é meu Deus",
já expressa seu caráter e sua função na história bíblica. Ele foi um campeão do monoteísmo
de Javé. É ele quem mantém a fé em Javé entre o povo e quem luta com vigor pelos Seus
direitos. Sua árdua luta contra todo sincretismo religioso faz deste profeta, que "surgiu
como fogo e cuja palavra queimava como uma tocha", uma figura de primeira linha na
sucessão das duas Alianças. Enquanto o livro do Eclesiástico (48,1-11) canta suas glórias,
os livros dos Reis nos contam sua vida. Os relatos sobre sua atividade profética estão
reunidos nos capítulos 17, 18, 19 e 21 do primeiro livro dos reis e nos capítulos 1 e 2 do
segundo livro dos reis. Constituem resgate da memória popular sobre a luta de Elias contra
os profetas de Baal. Luta entre Javé e os ídolos.
Como não deixou oráculos escritos a recordação de seus feitos está na
memória popular onde se misturam fatos históricos e lendários. Se não temos registros de
seus oráculos, vale-nos a força de seu exemplo. Na tradição cristã é apontado como
inspirador do ideal monástico e dos carmelitas. A festa de Santo Elias é celebrada em 22 de
julho.A influência de Elias é tão grande que sua volta é esperada como sinal precursor da
chegada do Messias (ver Ml 3,23), daí a pergunta que os discípulos fazem a Jesus ao descer
do monte após a transfiguração1. Em Tg 5,17 Elias é apontado como modelo de oração. O
movimento monástico do séc. IV tomou a Elias como seu modelo, pondo em relevo a
continência, a pobreza, a vida no deserto, o jejum, sua oração: nosso príncipe é Elias (cf.
Cassiano, Conlatio, 14, 4 em CSEL, XIII, p. 400).
Baal era o Deus da fertilidade e os camponeses cananeus ofereciam-lhe
sacrifícios em troca de uma boa colheita. Em contato com estes costumes os camponeses do
antigo Israel também ofereciam seus sacrifícios a Baal sem achar que o culto a fertilidade
entrava em choque com a fé em Javé libertador. Por isto o rei Acab ao oficializar o culto a
Baal, estimulado pela sua mulher, a Fenícia Jezabel, encontra apoio no meio do povo.
Tornando Baal “um deus oficial” Acab tem também a intenção de uma chancela “divina”
para o seu reinado, suas guerras de conquista e suas atitudes contrárias a lei.
Na contramão da posição oficial, o ministério de Elias inicia com uma seca
mandada por Javé. Com este gesto Elias proclama que Javé é Senhor da natureza e dele
Israel recebe seu sustento. A mesma posição é defendida por todos os profetas, de modo
especial recordamos a luta do profeta Oséias para mostrar que Javé é o único Deus, esposo
do povo, e que lhe dá o sustento com abundancia de trigo e vinho. A chuva só retorna após
o duelo realizado no monte Carmelo onde Elias vence e degola os profetas de Baal diante
da população reunida, fato descrito no capítulo 18 do primeiro livro dos reis.
Um dos pontos altos de sua trajetória e de todo o primeiro testamento esta
no capítulo 19 do primeiro livro dos reis, trecho que serve de inspiração para o segundo
Congresso Eucarístico Diocesano. Vamos conferir toda a perícope, na tradução da Bíblia de
Jerusalém.
“Acab contou a Jezabel tudo o que fizera Elias e
como passara a fio de espada todos os profetas. Então Jezabel
mandou a Elias um mensageiro para lhe dizer: “Que os deuses me
façam este mal e acrescentem este outro, se amanhã a esta hora eu
não tiver feito da tua ida o que fizestes a vida deles!”. Elias teve
medo; levantou-se e partiu para salvar a vida. Chegou a Bersabéia,
que pertence a Judá, e deixou lá seu servo. Quanto a ele, fez pelo
deserto a caminhada de um dia e foi sentar-se debaixo de um
junípero. Pediu a morte dizendo: ”Agora basta, Senhor! Retira-me a
vida pois não sou melhor que meus pais.” Deitou-se e dormiu
debaixo do junípero. Mas eis que um anjo o tocou e disse-lhe:
“Levanta-te e come.” Abriu os olhos e eis que à sua cabeceira, havia
um pão cozido em pedras quentes e um jarro de água. Comeu,
1
Por que motivo os escribas dizem que é preciso que Elias venha primeiro? (Mc 9,11)
bebeu e depois tornou a deitar-se. Mas o anjo do Senhor veio pela
segunda vez, tocou-o e disse: “Levanta-te e come, pois do contrário
o caminho será longo demais”. Levantou-se, comeu e bebeu e,
depois, sustentado por aquela comida, caminhou quarenta dias e
quarenta noites até a montanha de Deus, o Horeb”.(1Rs 19,1-8)
2
Jo 1,35-36
3
conferir salmos 22,,2 e 31,6
4
At 2,46
5
Lc 24,13-35
Primeiro é preciso ter convicções. Mesmo quando achou que estava
sozinho contra todos Elias não abandonou a sua fé. Defendia a fidelidade a aliança e
chamava o povo a conversão. O chamado a conversão é o primeiro anúncio feito por Jesus6.
Depois é preciso buscar aliados. Deus manda Elias procurar apoios e
chega a apontar nomes das pessoas a quem ele deve se dirigir. Jesus mesmo diz que
“Quem não é contra nós é por nós”7. Precisamos aprender a vencer os preconceitos para
agir em conjunto com outras Igrejas, sindicatos, artistas, associações civis e qualquer
instituição que lute em defesa da vida. Se buscarmos o mesmo objetivo as diferenças não
podem nos afastar dos outros, elo contrário, devem nos enriquecer.
Por fim temos a certeza que não estamos sozinhos. O Deus que nos envia é
que nos sustenta. Ao se fazer presença, pela eucaristia, no meio da comunidade reunida
Jesus nos lembra que somos o povo que ele adquiriu para seu louvor e glória 8. Não existe
cristão sem Igreja. Não existe igreja sem pão.
O pão que desceu dos céus9 e o novo Maná. Alimenta o povo de Deus que
continua sua caminhada em busca do Reino, atravessando os desertos para construir e
conquistar a terra prometida. Vamos acordar para a missão e dar o primeiro passo.As
estradas serão criadas pelo nosso andar.
6
Mc 1,14-15
7
Mc 9,40
8
Ef 1,14
9
Jo 6,33
10
Pedro Casaldáliga in, Na Procura do Reino”