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Não sabe dizer não?

Especialista ensina impor


limites no trabalho, com filhos, amigos e no
relacionamento amoroso
Em entrevista ao GLOBO, a autora americana Melissa Urban,
explica a importância do não para evitar ansiedade, depressão e
burnout

Você é o tipo de pessoa que não consegue negar nada? Vai a um show ou balada com
os amigos mesmo não estando com vontade. Ri de algum comentário que não lhe
agrada para não chatear o outro, recebe visitas em sua casa que não lhe convém
porque fazem parte da família? Se a resposta foi sim para algumas ou todas as frases
acima, você precisa estabelecer limites em sua vida, de acordo com a especialista
americana Melissa Urban.
Urban acaba de lançar o livro no Brasil “Como colocar limites – Melhore seus
relacionamentos e conquiste sua liberdade” no Brasil pela editora Sextante. O
manuscrito é um guia de como homens e mulheres devem impor limites em seu dia a
dia, seja com a família, amigos, filhos, trabalhos e relacionamentos, no intuito de ter
uma vida mais saudável e preservar a saúde mental.
— Quando você não tem limites, faz o que todos querem ou esperam que você faça,
vai construindo uma raiva dentro de si, além de ansiedade, ressentimento e
esgotamento físico. Uma hora isso vai explodir e vai ser tão frustrante. Porque você
sente que não expressou isso para os outros e está te machucando por dentro. O que
pode trazer comportamentos não saudáveis, como problemas com bebida,
medicamento para dormir, ansiedade, medo, traumas e depressão — Explica Urban
em entrevista ao GLOBO.
A nutricionista aprendeu a colocar limites em sua vida da pior maneira. Desde
pequena ela afirma que sempre foi considerada uma “criança boazinha que tirava
notas máximas na escola, raramente se metia em encrencas, estudava muito e
preferia os livros às reuniões sociais”, porém, aos 16 anos sofreu um abuso sexual de
um parente e tudo mudou. Ela não só guardou esse segredo para si, como ao contar
aos seus pais, eles decidiram não revelar para ninguém com medo de que isso
pudesse arruinar a paz na família.

Na entrevista, a autora fornece exemplos de problemas que podem aparecer na vida


real nas mais diversas esferas de relacionamento: seja com um amigo, família, filhos,
no trabalho, ou com seus relacionamentos amorosos, e ensina maneiras de como
lidar com eles. Confira:

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Trabalho

Alguns dos pontos que Urban afirma que é preciso acender um alerta é quando os
gestores frequentemente esperam que os colaboradores façam horas extras,
trabalhem à noite ou nos fins de semana. Ou quando outras pessoas na empresa
também mandam e-mail à noite e aos fins de semana, durante as férias ou licença. Os
funcionários estão sempre exaustos, ou reclamam com certa frequência de
adoecimento na empresa por estarem trabalhando na capacidade máxima ou acima
dela para dar conta da carga de trabalho, das metas e dos prazos.

A autora também afirma que é preciso prestar atenção em detalhes mais sérios como
se a cultura da equipe ou da empresa deixa passar ou tolera assédio moral, piadas
sem graça, homofobia, racismo, machismo.

— Sempre recebo mensagens de pessoas que foram obrigadas a abrir ou ler e-mails
nas férias, ou que o chefe liga horas após o horário de trabalho, tarde da noite, para
falar sobre algo do dia seguinte que não é uma emergência. São exemplos claros de
que a pessoa deve colocar um limite — diz.

Urban oferece três níveis diferentes para responder ao limite estabelecido: verde,
amarelo e vermelho. O verde é como um primeiro sinal, que você não quer ser
grosseiro, mas quer mostrar de forma clara que aquilo é um limite. O amarelo é
quando o primeiro aviso não surtiu efeito e você pode ser um pouco mais incisivo. Já
o vermelho, é o ultimato. Os dois primeiros avisos não funcionaram, a pessoa não
entendeu e ainda está ultrapassando o limite estabelecido e já é considerado um
alarme para você. Então pode ser grosseiro e impor até uma consequência.

— Nesse caso, se um gestor ou colega de trabalho espera que você leia um e-mail ou
participe de uma reunião virtual durante suas férias, pode ir direto para o sinal
vermelho. Pois é um limite ultrajante durante sua recompensa de trabalho que é o
seu momento de descanso.

Família
Quem não tem aquele tio não tão próximo que chega no Natal fazendo piadas
desrespeitosas, preconceituosas e os outros relevam, pois “faz parte da família”. Ou
aquele pai e mãe que querem ser pais de seus filhos e acabam desrespeitando suas
regras e limites, pois “sabem cuidar melhor do que você”.
— São os mais desafiadores. Porque não é tão fácil dar um passo atrás com membros
familiares como colegas de trabalho, por exemplo, ou amigos e estranhos em uma
farmácia. Você sente que tem que amar essa pessoa e ela tem que fazer parte da sua
vida, porque elas são a sua família — diz.
— Para aqueles familiares que vão visitar e acabam passando um tempo maior do
que o confortável, acabando com a calma familiar, levando o seu estresse ao máximo
e causando desconfortos mentais em sua família, a dica é comunicar antes da visita
que eles não podem ficar hospedados na casa, mas que você ajuda a buscar hotéis ou
aluguéis próximos se eles quiserem — afirma Urban — Está sendo claro com a
mensagem de que eles não podem ficar, sem dar desculpas e ainda oferece uma saída
para eles.

Relações amorosas
Assim como o tópico família, relacionamentos amorosos, como a vida de casado, não
se resolve com uma simples ligação ou mensagem de texto, elas precisam ser
conversadas e trabalhadas. Seja o marido que não ajuda em casa, ou um que não quer
postar fotos nas redes sociais para preservar a intimidade, ou o outro que prefere
uma relação aberta.
— Costumo dizer que é necessário ter conversas entre o casal e estabelecer seus
próprios limites e regras. Um faz a comida, então o outro lava. Um ajuda o filho na
lição de casa, então o outro leva para a escola, e assim por diante. São direitos iguais
dentro de casa, estabelecer regras domésticas, mas sem esquecer do tempo próprio,
como uma caminhada, ginástica, ir ao supermercado, e do tempo do casal — explica
Urban.
— É fundamental cada um, seu horário próprio, seus afazeres separados e seus
momentos — diz.

Filhos
Mesmo se eles forem pequenos, a nutricionista diz que os pais devem impor limites
aos filhos como uma forma de dar segurança às crianças. Isso pode ajudá-los a
espeitar os limites dos outros, ensinam que elas devem ser pacientes, aceitar as
consequências e proporcionam uma estrutura de autonomia.
Porém, ela defende que os limites devem ser estabelecidos referente a idade de cada
um e que com o passar do tempo, enquanto eles crescem, os limites vão se tornando
maiores também. Para crianças pequenas, por exemplo, de 2 a 4 anos, Urban diz que
é necessário ter limites razoáveis sobre quando elas podem ter a atenção dos pais,
ficar no colo ou pedir as coisas.
— Se eu estou chegando do mercado cheia de sacolas e meu filho me pede colo ou eu
estou no telefone e ele quer que eu o pegue. Eu falo: ‘não posso te pegar agora. Deixa-
me sair do telefone, ou deixar as coisas no balcão e eu já te dou colo’. Isso ajuda ele a
exercer a paciência — diz.
A especialista afirma que pode criar limites a favor deles também como permitir que
não abracem ou beijem ninguém se não quiserem, ou não deixar que o irmão
arranque um brinquedo da mão deles. Com cerca de cinco anos, pode adicionar o
fator tempo e decidir que horas é melhor para ele brincar, dormir e outros afazeres.

Dos 6 aos 12 anos, a nutricionista afirma que colocar um horário para ver televisão é
algo apropriado para o limite. Por exemplo, em sua casa, o filho dela não podia ver
televisão de manhã antes de ir para a escola, porque poderia tornar a saída da casa
deles estressante; o garoto também não podia entrar no escritório dos pais se não
tivesse permissão, para não invadir a privacidade deles e nem usar o telefone dos
pais sem pedir.
— Por outro lado, ele criou os próprios limites dele, como não podemos ler o diário
dele, ele se sente confortável em dizer que não quer abraços quando não está a fim,
pede meia hora para uma chamada de vídeo com amigos antes de começarmos o
dever de casa e não quer mais que eu lhe diga o que vestir — diz.
Com os adolescentes de 12 a 18 anos, os limites tendem a ser mais desafiadores, pois
eles querem mais privacidade, autonomia, bem como as oportunidades de comer
erros pode crescer. Os adolescentes mais novos podem ter permissão para ficar em
casa sozinhos, mas não para trazer amigos, ter as próprias contas em redes sociais,
mas apenas se forem privadas e viajar com amigos se você conhecer bem os
responsáveis.

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