Você está na página 1de 11

Rádio Spread Spectrum (Espalhamento Espectral)

Este tutorial apresenta os aspectos técnicos dos Rádios Spread Spectrum (Técnica de
Espalhamento Espectral) aplicados aos Sistemas de Transmissão de Dados.

Autores

Félix Tadeu Xavier de Oliveira

Engenheiro Eletrônico (FESP 86), tendo atuado na área de Engenharia de Sistemas planejando e
implantando Sistemas de Comunicação VHF/SHF, Sistemas Trunking, Sistemas de Pager e
Sistemas de Localização de Veículos via Satélite. Ocupa atualmente o cargo de Coordenador de
Projetos de Rádio e Planejamento de Redes Rádio da Pegasus Telecom.

Huber Bernal Filho

Engenheiro de Teleco (MAUÁ 79), tendo atuado nas áreas de Redes Ópticas, Sistemas Celulares e
Sistemas de Supervisão e Controle. Ocupou diversas posições de liderança em empresas de Teleco
sendo as mais recentes as de Gerente de Planejamento de Redes da Pegasus Telecom, Consultor
para a Compag (Sistemas Antifraudes para Celulares) e Coordenador na Atech (Projeto Sivam).

Duração estimada: 15 minutos

www.teleco.com.br 1
Spread Spectrum: O que é

Tecnologia

Spread Spectrum é uma técnica de codificação para a transmissão digital de sinais. Ela foi
originalmente desenvolvida pelos militares durante a segunda guerra mundial, com o objetivo de
transformar as informações a serem transmitidas num sinal parecido com um ruído radioelétrico
evitando assim a monitoração pelas forças inimigas.

A técnica de spread spectrum consiste em codificar e modificar o sinal de informação executando


o seu espalhamento no espectro de freqüências. O sinal espalhado ocupa uma banda maior que a
informação original, porém possui baixa densidade de potência e, portanto, apresenta uma baixa
relação sinal/ruído. Para os receptores convencionais esta comunicação pode até ser imperceptível.

Desenvolvimento

O desenvolvimento da tecnologia spread spectrum viabilizou a transmissão de dados via rádio com
alta confiabilidade e com taxas de transmissão cada vez melhores, o que possibilitou o seu uso na
implementação de redes locais (LAN’s) ou regionais (WAN’s), trazendo grande mobilidade e
flexibilidade para seus usuários. Esta tecnologia é também uma alternativa para a implementação
da última milha das redes de operadoras de serviços de telecomunicações.

Os rádios spread spectrum utilizam os protocolos padronizados para redes sem fio (IEEE 802.11),
e suas interfaces suportam os principais protocolos de redes existentes. O padrão IEEE 802.11
originalmente previa taxas de transmissão de até 2 Mbit/s. A versão IEEE 802.11b prevê a
utilização de taxas de até 11 Mbit/s.

Aplicações

As interfaces de dados típicas disponíveis são do tipo Ethernet, embora possam ser encontradas
também portas RS-232, V.35, RS-485 e E1/T1. Os serviços mais comuns oferecidos são de
interligação de redes corporativas ou de acesso a Internet (que compete diretamente com serviços
do tipo ADSL) sendo que, em ambos os casos, a banda oferecida para cada usuário depende da
arquitetura implementada.

Observa-se, entretanto, que alguns desses sistemas não possuem funcionalidades que permitam a
implementação de serviços do tipo VPN (Virtual Private Network) ou VLAN (Virtual LAN) sem o
uso de equipamentos adicionais, tais como Switch’s ou IP Mux’s.

Freqüências

Os rádios spread spectrum utilizam as faixas de freqüências livres adotadas por vários países,
inclusive o Brasil, denominadas internacionalmente como bandas ISM (Instrumentation, Scientific
& Medical) definidas nas faixas de 900 MHz, 2,4 GHz e 5,8 GHz.

www.teleco.com.br 2
Spread Spectrum: Processos de Transmissão

A técnica de spread spectrum é implementada através dos seguintes processos: Salto de Freqüência
(Frequency Hopping), Seqüência Direta (Direct Sequence) ou então uma combinação dos dois
processos chamada de Sistema Híbrido.

Salto em Freqüência (Frequency Hopping)

Na técnica de spread spectrum empregando a tecnologia por saltos de freqüência, a informação


transmitida “salta” de um canal para outro numa seqüência chamada de pseudo-aleatória. Esta
seqüência é determinada por um circuito gerador de códigos “pseudo-randômicos” que na verdade
trabalha num padrão pré-estabelecido.

O receptor por sua vez deve estar sincronizado com o transmissor, ou seja, deve saber previamente
a seqüência de canais onde o transmissor vai saltar para poder sintonizar estes canais e receber os
pacotes transmitidos.

As vantagens desta técnica são:


• Os canais que o sistema utiliza para operação não precisam ser seqüenciais.
• A probabilidade de diferentes usuários utilizarem a mesma seqüência de canais é muito
pequena.
• A realização de sincronismo entre diferentes estações é facilitada em razão das diferentes
seqüências de saltos.
• Maior imunidade às interferências.
• Equipamentos de menor custo.

As desvantagens desta técnica são:


• Ocupação maior do espectro em razão da utilização de diversos canais ao longo da banda.
• O circuito gerador de freqüências (sintetizador) possui grande complexidade.
• O sincronismo entre a transmissão e a recepção é mais critico.
• Baixa capacidade de transmissão, da ordem de 2 Mbit/s.

www.teleco.com.br 3
Seqüência Direta (Direct Sequence)

Na técnica de spread spectrum empregando a tecnologia de Seqüência Direta, o sinal de


informação é multiplicado por um sinal codificador com característica pseudo-randômica,
conhecido como “chip sequence” ou pseudo-ruído (“pseudo-noise” ou PN-code). O sinal
codificador é um sinal binário gerado numa freqüência muito maior do que a taxa do sinal de
informação. Ele é usado para modular a portadora de modo a expandir a largura da banda do sinal
de rádio freqüência transmitido.

No receptor o sinal de informação é recuperado através de um processo complementar usando um


gerador de código local similar e sincronizado com o código gerado na transmissão.

Em razão da utilização de uma grande largura de banda para transmissão, os sistemas em


seqüência direta dispõem de poucos canais dentro da banda. Estes canais são totalmente
separados de forma a não gerar interferência entre eles.

A técnica de seqüência direta é também o principio utilizado pelo CDMA (Code Division
Multiple Access) na telefonia celular.

As vantagens desta técnica são:

• O circuito gerador de freqüência (sintetizador) é mais simples, pois não tem


necessidade de trocar de freqüência constantemente.
• O processo de espalhamento é simples, pois é realizado através da multiplicação do
sinal de informação por um código.
• Maior capacidade de transmissão, da ordem de 11 Mbit/s.

www.teleco.com.br 4
As desvantagens desta técnica são:

• Maior dificuldade para manter o sincronismo entre o sinal PN-code gerado e o sinal
recebido.
• Maior dificuldade para solução dos problemas de interferências.
• Equipamentos de maior custo.

Sistemas Híbridos

Os Sistemas híbridos combinam as duas técnicas de modulação: saltos em freqüência e


seqüência direta. Esses sistemas utilizam, alternadamente, uma técnica de cada vez,
mantendo a outra inoperante.

A norma ANATEL define que quando o sistema esta operando com salto em freqüência, cada
salto deve ter um tempo médio de ocupação em qualquer freqüência que não exceda 0,4 s, em um
período de tempo, em segundos, igual ao número de freqüências de salto utilizadas, multiplicado
por 0,4.

Quando o sistema estiver operando em seqüência direta o sistema deve ter densidade média de
potência de no máximo 8 dBm em qualquer faixa de 3 kHz, medida em um intervalo de 1 s.

www.teleco.com.br 5
Spread Spectrum: Arquiteturas Típicas

Os sistemas de rádio Spread Spectrum podem ser configurados para operar nas arquiteturas Ponto
a Ponto ou Ponto Multiponto.

Sistemas Ponto a Ponto

Na configuração Ponto a Ponto são utilizados dois rádios com antenas altamente diretivas
interligando dois pontos.

Esta configuração pode ter as seguintes aplicações:

• Atender isoladamente a um único usuário interligando, por exemplo, dois escritórios de


uma mesma empresa;
• Servir como solução de última milha para atender um usuário a partir de um Ponto de
Presença da rede multiserviços de uma operadora de serviços de telecomunicações.

Os serviços de interligação de redes corporativas ou de acesso a Internet podem ser implementados


utilizando os rádios spread spectrum com suas funcionalidades básicas. Caso seja necessário
compartilhar a banda do rádio para mais de um usuário, pode ser necessário o uso de equipamentos
do tipo Switch’s ou IP Mux’s (ponto usuário), além de roteadores no Ponto de Presença da
operadora de serviços de telecomunicações. Estes equipamentos permitem ainda oferecer a
funcionalidade de segurança entre as redes dos diversos usuários.

Sistemas Ponto Multiponto

Na configuração Ponto Multiponto o conceito é atender vários usuários simultaneamente a partir


de um único ponto chamado de estação Master. Este ponto é estrategicamente posicionado para
cobrir uma área de interesse de atendimento. Ele pode ser:

www.teleco.com.br 6
• Um escritório central ou matriz de uma empresa, a partir do qual se interligam outros
escritórios na mesma região (filiais);
• Um Ponto de Presença da rede multisserviços de uma operadora de serviços de
telecomunicações, a partir do qual se atendem vários usuários de uma região.

Na arquitetura Ponto Multiponto, são formadas células que podem utilizar antenas tipo
omnidirecional (360º) ou diretiva setorial. O ângulo de abrangência da antena diretiva pode ser de
30º, 60º, 90º ou 120º dependendo da área de cobertura desejada. Estas células podem ser
configuradas para trabalhar com várias antenas posicionadas seqüencialmente formando setores
consecutivos que proporcionam uma grande área de cobertura.

Dependo da demanda existente numa região específica é possível instalar várias antenas (cada uma
com seu rádio) posicionadas nessa direção com o objetivo de aumentar a capacidade de banda da
célula. Nesses casos, onde a estação Master possui vários rádios operando simultaneamente, é
conveniente realizar um sincronismo entre os rádios para evitar interferências do próprio sistema.

Assim como na arquitetura Ponto a Ponto, podem ser oferecidos os serviços de interligação de
redes corporativas ou de acesso a Internet utilizando os rádios spread spectrum com suas
funcionalidades básicas.

O compartilhamento de banda do rádio para mais de um usuário ou uso de mais de um rádio por
setor da célula pode demandar o uso de equipamentos do tipo Switch’s ou IP Mux’s (nos pontos dos
usuários), além de roteadores no Ponto de Presença (estação Master) da operadora de serviços de
telecomunicações. Também neste caso estes equipamentos permitem oferecer a funcionalidade de
segurança entre as redes dos diversos usuários.

www.teleco.com.br 7
Spread Spectrum: Regulamentação

Nos Estados Unidos a regulamentação para operação dos sistemas que utilizam a tecnologia spread
spectrum foi estabelecida pelo Federal Communications Commission – FCC, através da
recomendação contida no FCC Rules – Title 47 – Part 15, e a padronização de codificação foi
definida pelo Institute of Electrical and Electronics Engineers – IEEE, através da recomendação
802.11.

No Brasil a legislação para este tipo de sistema foi inicialmente definida pela ANATEL, através da
Norma 02/93, posteriormente pela Norma 012/96 (resolução 209 de Jan/2000) e atualmente pela
resolução 305 de Jul/2002 – Regulamento sobre Equipamentos de Radiocomunicação de Radiação
Restrita.

As faixas de freqüências estabelecidas para uso por equipamentos de radiocomunicação


empregando a técnica de spread spectrum, para aplicações Ponto a Ponto e Ponto Multiponto,
estão assim definidas: 902 a 928 MHz, 2400 a 2483,5 MHz e 5725 a 5850 MHz.

Desta forma, os sistemas que utilizam a tecnologia de spread spectrum não necessitam da licença
ANATEL para a sua instalação e operação, desde que sejam atendidos os requisitos das
Resoluções 209 e 305.

A regulamentação vigente estabelece as condições de operação para os sistemas que operam por
Saltos de Freqüência, para os sistemas que operam em Seqüência Direta e para os Sistemas
Híbridos. O resumo a seguir apresenta principalmente as recomendações relativas aos níveis de
potência para cada tipo.

Sistemas de Salto em Freqüência

Nas faixas de 900 MHz a potência de pico máxima de saída do transmissor não deve ser superior a
1 Watt para sistemas que empreguem no mínimo 50 canais de salto e 0,25 Watt para sistemas
empregando menos de 50 canais de salto.

Sistemas operando nas faixas de 2,4 GHz e 5,8 GHz devem trabalhar com potência de pico
máxima de saída do transmissor não superior a 1 Watt.

Sistemas de Seqüência Direta

Nesse sistema a potência de pico máxima de saída do transmissor não pode ser superior a 1 Watt
para todas as faixas de freqüências.

Sistemas Híbridos

Os sistemas que utilizam uma combinação das técnicas de modulação em seqüência direta e saltos
em freqüência devem alcançar um ganho de processamento de, no mínimo, 17 dB na combinação
dessas técnicas. Cabe ressaltar que a Resolução 305 estabeleceu a potência de saída do transmissor
para cada sistema baseado numa antena com Ganho de 6 dBi.

www.teleco.com.br 8
A resolução estabelece também que os sistemas Ponto a Ponto operando na faixa de 2,4 GHz,
podem fazer uso de antenas de transmissão com ganho direcional superior a 6 dBi, desde que a
potência de pico máxima na saída do transmissor seja reduzida de 1 dB para cada 3 dB que o
ganho direcional da antena exceder a 6 dBi.

Os sistemas que operam na faixa de 5,8 GHz utilizados exclusivamente em aplicações Ponto a
Ponto, podem fazer uso de antena de transmissão com ganho direcional superior a 6 dBi sem
necessidade de uma correspondente redução na potência de pico máxima na saída do transmissor.

www.teleco.com.br 9
Spread Spectrum:Considerações finais

Os sistemas rádio que utilizam a tecnologia spread spectrum são de fato uma alternativa para
oferecer serviços de telecomunicações, especialmente de acesso a Internet. Sua utilização
apresenta as seguintes vantagens:

• Não necessita de licença de operação expedida pela ANATEL, minimizando o custo e o


prazo de implantação.
• Para atender usuários que necessitam de acesso a Internet operando com baixas taxas de
transmissão, esta solução de acesso torna-se atrativa uma vez que o custo para o usuário é
relativamente pequeno, em comparação com o custo das soluções que utilizam os sistemas
de rádios microondas convencionais na arquitetura Ponto a Ponto.

Os sistemas oferecidos pelos fabricantes utilizam os diversos processos de transmissão existentes.


Entretanto, até o momento não se conseguem argumentos técnicos suficientes quanto à
performance, robustez e o custo das diversas soluções, para se afirmar a vantagem de algum dos
processos de transmissão sobre os demais.

Desta forma, o projetista deve comparar as funcionalidades e os processos de transmissão do


diversos sistemas, e considerar também as peculiaridades das regiões onde o sistema será instalado,
para que o projeto do sistema rádio como um todo seja elaborado com o menor custo e o melhor
rendimento.

Entre os critérios a serem utilizados para essa análise, destacam-se os seguintes:

• Em sendo utilizada uma faixa livre de freqüências, estas acabam sendo ocupadas sem
nenhum controle e, dessa maneira, problemas de interferência por congestionamento do
espectro podem afetar o desempenho do sistema.
• A taxa de transmissão efetiva (“throughput”) em geral é menor do que a taxa nominal dos
equipamentos, devido ao protocolo de transmissão utilizado.
• Para a viabilização dos enlaces nestas faixas de freqüência é necessário trabalhar com linha
de visada direta entre as antenas.
• O projetista deve adotar uma margem de nível de sinal de recepção que garanta uma relação
sinal/ruído suficiente para o bom funcionamento do sistema, sempre respeitando os limites
definidos nas recomendações da legislação vigente.

www.teleco.com.br 10
Spread Spectrum:Teste seu entendimento

1) Considerando as características da técnica Spread Spectrum, qual das afirmações abaixo é


correta:
A característica fundamental dos sistemas Spread Spectrum é aumentar a largura de banda
passante operando com baixa densidade de potência.
A característica fundamental dos sistemas Spread Spectrum é comprimir a largura de banda
passante levando a informação praticamente no nível de ruído.
O sinal espalhado ocupa uma banda maior que a informação original, e possui alta
densidade de potência e, portanto, apresenta uma alta relação sinal/ruído.
Nenhuma das anteriores

2) Considerando os tipos de sistemas que utilizam a técnica Spread Spectrum, qual das
afirmações abaixo é correta:
O espalhamento espectral obtido pela técnica por Salto de Freqüência é realizado através da
multiplicação do sinal de informação por um código binário.
O espalhamento espectral obtido pela técnica de Seqüência Direta é realizado através da
multiplicação do sinal de informação por um código binário.
O espalhamento espectral obtido pela técnica Híbrida usa freqüência fixa e um código
binário para modular o sinal de informação a ser transmitido.
Nenhuma das anteriores

3) Considerando-se a regulamentação vigente no Brasil, qual das afirmações abaixo é correta:


A norma ANATEL estabelece que os sistemas ponto a ponto operando na faixa de 2,4 GHz,
devem usar antenas de transmissão com ganho direcional superior a 6 dBi.
A norma ANATEL estabelece que os sistemas ponto a ponto operando na faixa de 2,4 GHz,
podem usar antenas de transmissão com ganho direcional superior a 6 dBi, desde que a
potência de pico máxima na saída do transmissor seja reduzida de 1 dB para cada 3 dB que
o ganho direcional da antena exceder a 6 dBi.
Os sistemas que operam na faixa de 5,8 GHz e utilizados exclusivamente em aplicações
Ponto a Ponto do serviço fixo podem fazer uso de antena de transmissão com ganho
direcional superior a 6 dBi, porém com a correspondente redução na potência de pico
máxima na saída do transmissor.
Nenhuma das anteriores

www.teleco.com.br 11

Você também pode gostar