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INSTITUTO DE FÍSICA
CORREÇÃO DE ASTIGMATISMO EM
CAVIDADES COM MEIOS BIRREFRINGENTES
NITERÓI
2021
GABRIEL DE OLIVEIRA ESTEVES DIAS
CORREÇÃO DE ASTIGMATISMO EM
CAVIDADES COM MEIOS BIRREFRINGENTES
NITERÓI
2021
Ficha catalográfica automática - SDC/BIF
Gerada com informações fornecidas pelo autor
CDD -
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Eduardo Rodrigues de Souza (UFF)
(Orientador)
____________________________________________________
Prof. Dr. Gabriel Bié Alves (UFF)
(Coorientador)
____________________________________________________
Prof. Dr. José Augusto Oliveira Huguenin (UFF)
____________________________________________________
Prof. Dr. Lucas Maurício Sigaud (UFF)
Niterói
2021
Dedicatória: Dedico a minha mãe por
todo esforço e trabalho, para que fosse
possível eu chegar até aqui.
AGRADECIMENTOS
Agora, queria agradecer a outra pessoa que se tornou uma das minhas maiores
forças para chegar até aqui, minha namorada Jhenifer, que viveu cada momento
desse desafio comigo, sempre estando ao meu lado para me apoiar, me ajudar a
levantar quando eu caia e acreditando em mim quando nem eu acreditava. Sempre
me proporcionando os melhores momentos, as melhores risadas, sendo a melhor
amiga e companheira que eu poderia querer, pois ela é essa pessoa incrível e sem
precisar se esforçar para isso. Obrigado por me aguentar por todo esse tempo, por
cada risada, por cada carinho, por cada palavra de conforto e por sempre me dá
seu colo quando eu precisei, obrigado por ser meu BOzinho e segurar meus BO’s.
Obrigado por escolher estar comigo!
Gostaria de agradecer aos meus amigos Thiago, Carol, Bruna, Dayvid, Mariana
(Pudim) e Yngrid pela amizade, pelos vários momentos que contribuíram em minha
formação e por toda ajuda em momentos de dificuldades.
E por último, mas não menos importante, meu agradecimento à alguns pro-
fessores que tive ao longo da minha graduação, que muitas vezes me inspiraram
e me incentivaram, principalmente aqueles no qual foi possível quebrar a barreira
professor/aluno e criar uma amizade.
Galileu Galilei
RESUMO
BS Beam Splitter
EPR Einstein-Poldoski-Rosen
HG Hermite-Gauss
HR High Reflection
LG Laguerre-Gauss
PZT Piezoelétrica
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2 TEORIA BÁSICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1 Propagação da luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2 Feixe Gaussiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.1 Parâmetros de um feixe gaussiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3 Modos transversos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.4 Feixes Astigmáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.5 Matriz ABCD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.5.1 Aplicação de matrizes ABCD em feixes gaussianos . . . . . . . 28
2.6 Cavidades Ópticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.6.1 Cavidade de Fabry-Pérot . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.6.2 Cavidades ópticas e feixes gaussianos . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3 DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL . . . . . . . . . . . . 38
3.1 Acoplamento de um feixe laser em uma cavidade óptica . . . . . . . . . 38
3.2 Montagem experimental da cavidade óptica bow-tie . . . . . . . . . . . 42
3.2.1 Aparato Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2.2 Construção da Cavidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.1 MOTIVAÇÃO: Geração de feixes com MAO no OPO . . . . . . . . . . 50
4.2 Astigmatismo e condições de ressonância na cavidade bow-tie . . . . . 52
4.2.1 Simulação das cinturas da cavidade bow-tie levando em conta
o astigmatismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.2 Ressonâncias na cavidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.3 Compensação do astigmatismo proveniente do cristal com o uso da ca-
vidade bow-tie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
5 CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
13
1 INTRODUÇÃO
2 TEORIA BÁSICA
A luz sempre foi objeto de estudos, desde a antiguidade com a criação de obje-
tos ópticos, passando por Newton e sua teoria corpuscular até Thomas Young que
observou interferência da luz em seu experimento, que colocou em xeque o modelo
corpuscular.
~ = ρ
~ ·E
∇ (2.1)
ε0
~ ·B
∇ ~ =0 (2.2)
~
~ = − ∂B
~ ×E
∇ (2.3)
∂t
~
~ = µ0 J~ + µ0 ε0 ∂ E ,
~ ×B
∇ (2.4)
∂t
onde E
~ eB
~ são os vetores de campo elétrico e magnético, respectivamente, ρ é
Usando a identidade ∇
~ × (∇
~ × E)
~ = ∇(
~ ∇~ · E) ~ e o fato de que estamos
~ − ∇2 E)
∂ 2 Ex
∇2 Ex = µ0 ε0 (2.7a)
∂t2
∂ 2 Ey
∇2 Ey = µ0 ε0 2 (2.7b)
∂t
2
∂ Ez
∇2 Ez = µ0 ε0 2 . (2.7c)
∂t
Uma solução bastante usada da equação de ondas é conhecida como feixe gaus-
siano, essa solução aparece para o caso de tomarmos o Laplaciano em coordenadas
cilíndricas, com uma simetria azimutal, na equação de onda. Essa solução é bastante
conveniente para descrição de feixes laser. Portanto, em coordenadas cilíndricas, te-
mos:
∂2 1 ∂ 1 ∂2 ∂2
∇2 = + + + , (2.8)
∂r2 r ∂r r2 ∂φ2 ∂z 2
levando em conta a simetria azimutal, o termo da derivada em relação a φ pode ser
descartado, dessa forma:
∂2 1 ∂ ∂2 ∂2
∇2 = + + = ∇ 2
⊥ + , (2.9)
∂r2 r ∂r ∂z 2 ∂z 2
~ r, t) = E(~
E(~ ~ r)e−iωt . (2.10)
~ + k 2 (~r)E
∇2 E ~ = 0. (2.11)
onde k 2 = µεω 2 , podendo depender de r, caso seja considerado um meio tipo lente.
Para simplificar as contas, vamos considerar que o meio é homogêneo, de forma que
k seja constante1 , não variando com r. Como o Laplaciano na Equação 2.9 não
envolve termo temporal e considerando que a onda tem sua propagação em torno
no eixo z, podemos ter a seguinte solução:
onde ψ(r, z) é um termo com dependência longitudinal e transversal, com uma lenta
variação ao longo de z e e−ikz é uma fase longitudinal.
1
As contas mais detalhadas para o termo k 2 (r) podem ser encontradas em [13]
18
A equação acima, denominada equação paraxial, não tem uma solução simples,
mas conforme as referências [13, 14, 15] mostram, podemos tomar uma solução
tentativa que possui a seguinte forma:
Q(z)r2
ψ(r, z) = ψ0 exp −i P (z) + . (2.14)
2
onde temos que w(z) é largura transversal do feixe, R(z) é o raio de curvatura da
frente de onda do feixe e η(z) é a fase de Gouy. Na Figura 1 é apresentado o perfil
de propagação do feixe gaussiano.
Da equação Equação 2.16 observa-se que ela é uma função gaussiana (apresenta
a forma Ae−cx ), a partir da qual é possível ver que a intensidade de um feixe
2
gaussiano cai conforme nos afastamos do centro dele, e que para r = 0 temos a
máxima intensidade do feixe. A Figura 1 ilustra o padrão transversal da intensidade
e como ele varia com r.
19
• Largura transversal
A largura transversal do feixe gaussiano, tem sua evolução ao longo do eixo z, como
pode ser observada na Figura 1. Ela é matematicamente descrita por:
" 2 #
λz
w2 (z) = w02 1 + . (2.17)
πw02 n
2
no qual r = w(z) e a partir da Equação 2.16 obtém-se I = I0 w0
w(z)
1
e2
, apontando
o lugar geométrico, cuja a intensidade cai por um fator 1/e2 em cada plano z.
• Raio de curvatura
A frente de onda do feixe gaussiano apresenta um raio de curvatura R(z) que varia
com a propagação do feixe, essa dependência em z é dada por:
" 2 2 #
πw0 n
R(z) = z 1 + . (2.18)
λz
• Distância de Rayleigh
• Divergência
A partir da Equação 2.17 é notável que a largura do feixe diverge conforme o feixe
se propaga na direção z. Tomando a distância de Rayleigh como referência, já que
conhecemos o comportamento da largura a essa distância, e considerando um z zR
a Equação 2.17 pode ser reescrita da seguinte forma:
z
w(z) ≈ w0 . (2.20)
zR
Da trigonometria podemos escrever que:
w0 z/zR w0
tan θ = = , (2.21)
z zR
21
levando em conta o limite para ângulos pequenos e usando a Equação 2.19 é obtido:
λ
θ≈ , (2.22)
πw0 n
• Fase de Gouy
A fase de Gouy é uma fase adicional que aparece quando o feixe passa por uma
região de focalização, ela é descrita da seguinte forma:
z
η(z) = tan−1 . (2.23)
zR
O efeito dela é acrescentar uma mudança de fase acumulativa de π/2 em cada lado
da cintura do feixe, ocorrendo entre os limites z → −∞ e z → +∞ [16].
1 1 λ
= −i . (2.24)
q(z) R(z) πnw2 (z)
√ x √ y
w0
ψm,n = Em,n (x, y, z) = E0 Hm 2 Hn 2
w(z) w(z) w(z)
1 ik
2
exp −(x + y ) 2
+ − ikz + i(m + n + 1)η(z) (2.27)
w2 (z) 2R(z)
De forma geral, essas soluções são conhecidas como feixes Hermite-Gauss (HGmn ),
cujo nome vem pelo fato de que quando é tomado o módulo quadrado de 2.27 para
analisar os perfis de intensidade transversos desses modos (Im,n ∝ |Em,n |2 ) ficará um
23
com:
" 2 #
λ(z − zx ou y )
wx2 ou y (z)
= 2
w0x ou y 1+ 2
πw0x ou y n
"
2 2 #
πw0x n
ou y
Rx ou y (z) = z 1 + . (2.32)
λ(z − zx ou y )
As fases de Gouy para as duas direções nessa situação tem a seguinte forma:
−1 z − zx
ηx (z) = tan
z
Rx
z − zy
ηy (z) = tan−1 (2.33)
zRy
com:
2
πw0x ou y n
zRx ou y = (2.34)
λ
Na Figura 5, o raio luminoso (a) que sai do objeto O e incide na lente, passando
(a) y0 y0
pelo foco f com altura y 0 e com um ângulo θi = tan−1 f
≈ f
, emerge da lente com
(a)
altura y 0 e θe = 0 [13]. Com isso, é possível formar o seguinte sistema de equação
matricial, onde temos uma matriz N que transforma os parâmetros iniciais do feixe
(a):
0 0
y A B y
= (2.35)
0 C D y 0 /f
abrindo a Equação 2.35 caímos no seguinte sistema de equações:
y0
y 0 = Ay 0 + B (2.36a)
f
y0
0 = Cy 0 + D . (2.36b)
f
Agora, analisando o raio b que sai do objeto e incide na lente com uma altura −y
(b) (b)
e um ângulo θi = 0, emerge da lente com altura −y e ângulo θe = tan−1 y
f
≈ fy , é
obtida a seguinte equação matricial:
−y A B −y
= (2.37)
y/f C D 0
−y = −Ay (2.38a)
y
= −Cy. (2.38b)
f
Guiando-se por esse procedimento, é possível determinar uma matriz, com co-
eficientes A,B,C e D para cada elemento óptico e para uma propagação livre ou
por um dielétrico, o que configura o nome deste método como Método da Matriz
ABCD.
28
Na Figura 6 são apresentados outros tipos de matrizes ABCD que são de uso
comum para os cálculos deste trabalho, tais como propagação livre (Figura 6a),
reflexão em espelho curvo com incidência normal (Figura 6b) e reflexão com ângulo
de incidência arbitrário em espelho curvo (Figura 6c).
Na Seção 2.2, quando foi discutido sobre feixes gaussianos aparece um parâmetro
denominado raio de curvatura complexo dado pela Equação 2.24 que descreve ao
mesmo tempo o raio de curvatura (parte real) e a largura do feixe gaussiano (parte
29
imaginária). Para caracterizar o feixe gaussiano basta saber como o R(z) e w(z) se
comportam ao longo dessa propagação [13]. Como também já foi comentado, o feixe
gaussiano é uma onda, logo não segue os princípios da óptica geométrica. Mas como
demonstrado na referência [14], o formalismo de matriz ABCD pode ser aplicado
para descrição da propagação do feixe. Neste caso com feixes gaussianos, a variação
do parâmetro q(z) é dada da seguinte forma:
Aqi + B
qi+1 = , (2.41)
Cqi + D
Existem diversas configurações de cavidades, das quais três são ilustradas na Fi-
gura 7. Dizemos que elas estão em ressonância quando a luz incidente é inteiramente
transmitida, quando há uma interferência construtiva entre os refletidos dentro da
cavidade [14]. No caso de cavidades lineares, Figuras 7a e 7b, a condição de resso-
nância é satisfeita se o perímetro (distância entre os espelhos) for múltiplo de λ/2.
Cavidades em anel, como a cavidade Bow-tie, ilustrada na Figura 7c, a condição
é satisfeita quando o perímetro é múltiplo inteiro de λ. Essa característica acaba
sendo uma ferramenta usada como filtro de frequências de feixes [13].
30
Para essa análise, é considerada uma onda plana com uma amplitude de campo
E0 incidindo no espelho M1 com ângulo θ0 em relação à normal, como mostra a
Figura 8, sofrendo tanto reflexão quanto transmissão.
Et = A1 + A2 + A3 + · · · (2.42)
A1 = tt0 E0
onde φ é a fase adquirida pelo feixe em uma ida e volta no meio cujo índice de
refração é n, então Et pode ser escrito da seguinte forma:
tt0 E0
Et = tt0 E0 (1 + tt0 rr0 eiφ + (rr0 )2 e2iφ + · · · ) = . (2.44)
1 − rr0 eiφ
O cálculo para o campo refletido pode ser feito de forma análoga. A diferença de
fase φ pode ser expressa a partir da diferença de caminho ∆L entre duas reflexões
consecutivas, realizadas pelo feixe dentro da cavidade [13]:
2π(∆L)n
φ= . (2.45)
λ
A diferença de caminho pode ainda ser expressa com base na geometria. Isso pode
ser visto usando a Figura 9 como guia, com isso é possível inferir que ∆L = AB+BC,
onde AB = d cos 2θ
cos θ
e BC = d
cos θ
, dessa forma encontra-se ∆L = 2d cos θ de maneira
que:
4πnd cos θ
φ= . (2.46)
λ
32
T 2 |E0 |2
It = Et∗ Et = . (2.47)
(1 − Reiφ )(1 − Re−iφ )
Figura 10: Picos de transmissão para uma cavidade Fabry-Pérot para três valores
de R diferentes.
A função de Airy pode ser escrita em termos da frequência do feixe que interage
com a cavidade. para ver isso basta analisar a Equação 2.46 e usar que λ = c/ν, de
forma que encontra-se:
4πndν cos θ
φ= , (2.49)
c
substituindo a Equação 2.49 teremos a função da intensidade transmitida em função
de ν:
I0
It = 2 2πndν cos θ
. (2.50)
1 + F sin c
∆ν
F = (2.53)
δν
com ∆ν sendo a distância entre os picos (FSR) e δν a largura do pico a meia altura.
π
F = . (2.58)
−1 √1
2 sin F
Conforme foi visto acima, em uma cavidade óptica a luz fica confinada sempre
retornando ao seu ponto inicial nas mesmas condições, tendo isso em mente é possível
usar o conteúdo de propagação de feixes gaussianos (Subseção 2.5.1) para calcular
os parâmetros que o feixe deve ter dentro da cavidade, como por exemplo a cintura
(w) que a cavidade comporta. Os parâmetros podem ser obtidos a partir da relação
entre o raio complexo e os elementos da matriz ABCD referente a evolução da luz
na cavidade óptica. Em resumo, em um dado plano c, temos qc , e após uma volta
completa na cavidade, deve-se voltar a encontrar qc , assim:
Aqc + B
qc = (2.59)
Cqc + D
l1
A B 1 2
1 0
⇒ =
C D 0 1 − R2 1
l1
1 L − l1 1 0 1
2 , (2.60)
0 1 − R2 1 0 1
de maneira que N1 é referente à propagação do ponto qc até o espelho curvo M3 ,
N2 é a matriz referente à reflexão no espelho curvo M3 , N3 é referente à propagação
do feixe saindo de M3 até M4 , passando pelos espelhos M2 e M1 , respectivamente,
a matriz N4 é referente a reflexão no espelho curvo M4 e o caminho é fechado com
a matriz N5 que dá a propgação do espelho curvo M4 até o ponto qc .
Figura 11: Representação pictórica de uma cavidade bow-tie formada por quatro
espelhos.
2B
Rc =
D−A
2
|B|1/2
λ
wc = i1/4 (2.63)
πn
h
D+A 2
1+ 2
Assim, wc é a cintura que se adapta à cavidade e para que ela seja estável ela tem
que ser real, de tal forma que a condição de estabilidade de uma cavidade genérica
é dada por:
D + A
2 ≤1
(2.64)
38
3 DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL
Já foi mostrado anteriormente que cavidades ópticas tem uma cintura caracterís-
tica devido a sua geometria e por sua vez o feixe incidente na cavidade também tem
uma cintura característica, dessa forma deve haver um acordo de modo entre esses
dois parâmetros, isso quer dizer que o feixe incidente deve ter o mesmo tamanho de
cintura que a cavidade. Logo é necessário conhecer a cintura aceita pela cavidade
para depois ajustar o do feixe incidente.
O passo seguinte é justamente o acordo de modos, onde deve haver uma modifica-
ção da cintura natural do feixe incidente. Mas antes disso deve se ter o conhecimento
do valor desse parâmetro. A medição do valor é feita através de um método cha-
mado coloquialmente de método da faca. De forma simples, esse método consiste no
corte do feixe laser em vários pontos diferentes (ao longo de seu eixo de propagação,
direção z) e da análise de sua intensidade nesses pontos conforme forem ocorrendo
40
Figura 16: Simulação da posição das lentes (em vermelho) para que ocorra o acordo
de modo da cintura do feixe (em amarelo) coincida com a cintura exigida pela
cavidade (em azul) em uma distância de 150 cm de w0 (origem do eixo z).
42
de saída de 500 mW , esse modelo produz feixes de luz verde (532 nm) com perfil
transversal gaussiano. Depois de deixar o Diablo o feixe passa por uma combina-
ção elementos ópticos, uma lâmina de meia onda (λ/2) e um divisor de feixe por
polarização (com a sigla PBS do inglês), que juntos tem como função o controle da
intensidade do feixe incidente.
Após o feixe sair pelo espelho M4 ele passa por um divisor de feixe (com a sigla
BS do inglês), o qual divide o feixe em dois, cada um com metade da intensidade
que o feixe tinha quando saiu da cavidade, um desses feixes vai para um detector
que envia o sinal para um osciloscópio, onde é possível observar as curvas dos picos
de transmissão da cavidade, e o outro feixe vai em direção a uma câmera para poder
ser feita a filmagem do feixe transmitido. Abaixo é apresentada uma ilustração da
montagem experimental e das posições dos aparatos usados.
44
A construção da cavidade é uma parte bem delicada, pois como esta possui
quatro espelhos, logo uma grande quantidade de graus de liberdade. Com isso, a
montagem se mostrou bem trabalhosa no quesito alinhamento, o caminho tomado
para o posicionamento e alinhamento dos espelhos da cavidade foi inspirado no
encontrado em [20].
3.3 RESULTADOS
Figura 20: Picos de ressonância (em azul) e sinal de rampa enviado para o PZT (em
amarelo).
Com a câmera CCD foi possível filmar os feixes gaussianos transmitidos e a partir
desse filme coletar imagens dos momentos em que a cavidade entrou em ressonância
e teve a máxima intensidade transmitida e com o auxílio do programa ImageJ, que
foi possível produzir gráficos desses picos, através da análise da intensidade de luz
capturada pela câmera por pixel da imagem produzida, a seguir, na Figura 21, é
possível ver as imagens colhidas da filmagem de três momentos diferentes, onde
houve a ressonância da cavidade:
47
Figura 22: Gráficos em 2D referentes aos três pontos mencionados onde pode-se
comparar suas intensidades em escala de cinza, obtido utilizando o programa ImageJ.
48
Figura 23: Gráficos em 3D referentes aos três pontos mencionados, onde é possível
ver o comportamento gaussiano da intensidade dos feixes. As escalas dos gráficos
não têm relevância, nesse caso, uma vez que a intenção da produção desses gráficos
era a inspeção do comportamento da intensidade do feixe nas imagens capturadas.
Outra análise foi feita através dos pontos fornecidos pelo osciloscópio dos picos
de transmissão da cavidade, mostrados na Figura 20. A quantidade de pontos forne-
cidos pelo osciloscópio era extremamente grande, de tal modo que essa quantidade
teve que ser reduzida computacionalmente, mas sem fazer com que perdesse a fi-
delidade a imagem, dessa forma foi possível plotar um gráfico (Figura 24) com os
pontos fornecidos e dessa forma fazer o ajuste de uma linha de tendência usando a
função de Airy.
Figura 24: Curva da função de Airy (em vermelho) ajustada aos dados experimentais
(em preto).
49
A partir do ajuste dos pontos do gráfico com a função de Airy, foi encontrado
um coeficiente de finesse F = 202, 2, caracterizando picos bem estreitos, como pode
ser observado na Figura 24, dessa forma a cavidade tem uma boa eficiência, de tal
modo que a cavidade não tem perdas intracavidade tão relevantes, mesmo com a
presença de pequenos picos secundários.
50
4 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
Com base nas discussões feitas anteriormente, referente às propriedades dos feixes
gaussianos e sua evolução em sistemas ópticos, daremos prosseguimento ao assunto
do trabalho dessa monografia, geração de feixes laser com MAO usando um OPO.
Figura 25: Exemplo de OPO formado por uma cavidade linear composta por dois
semi-espelhos e um cristal não linear. Na figura, é retratado um feixe laser verde
de bombeio com comprimento de onda 532 nm sendo convertido em dois feixes
infravermelhos, com comprimento de onda 1064 nm, através da CPD.
Como foi mencionado acima esse trabalho de monografia está incluído em uma
linha de pesquisa que envolve a produção de feixes com MAO em OPO’s que está
presente na área de Informação Quântica. Existe diversos trabalhos recentes rela-
cionados ao tema e, em especial, do grupo de pesquisa do LOQ-UFF, por exemplo
[7, 22]. Trabalhos teóricos e experimentais que seguem no caminho das experiências
aqui realizadas.
Com base em uma antiga referência do grupo de pesquisa [10], foi observado
que o astigmatismo do cristal dificultava as componentes HG01 e HG10 do modo
LG±1
0 com MAO oscilarem simultaneamente. Em cavidades ópticas não lineares,
nas quais o trajeto do laser não pertence a uma linha reta, consequente incidindo
52
obliquamente nos espelhos curvos que a compõe, faz com que o feixe fique astig-
mático, já que cada direção enxerga um raio de curvatura diferente para o espelho
curvo (Figura 6c). Tendo isso em mente, nossa ideia partiu do princípio de que se-
ria possível compensar o astigmatismo introduzido pelo cristal com o astigmatismo
intrínseco de uma cavidade não linear.
(oval).
Um raciocínio análogo pode ser usado para encontrar a matriz resultante para o
w2 . A cavidade bow-tie apresenta pelo menos três graus de liberdade, dois ligados
aos comprimentos L, l1 e um ao ângulo θ entre o feixe laser e a normal do semi-
espelho curvo, de forma que é necessário fixar pelo menos dois desses parâmetros
e analisar o comportamento da cintura em função do parâmetro livre. Tendo as
matrizes resultantes e definindo a priori os parâmetros L e l1 é possível simular w1 e
w2 e analisar o efeito do astigmatismo da cavidade representada aqui pela variável
θ, o que pode ser visto na Figura 27, gerada por um programa desenvolvido pelo
autor desse trabalho.
54
Nota-se que para θ = 0◦ as cinturas para as duas direções são iguais, não havendo
a presença do astigmatismo. Conforme, θ aumenta o efeito se torna cada vez mais
visível.
são equivalentes a distância da cintura até o espelho curvo. Para o caso da cavidade
bow-tie, que como já visto, tem duas cinturas, teremos um termo referente a fase
de Gouy para cada cintura: um referente a distância da cintura w1 até o espelho
curvo e o outro referente a distância da cintura w2 até o espelho curvo. A condição
de ressonância para fase δ acumulada em uma volta na cavidade começando de w1
é dada por:
1 −1 l1 /2 −1 (L − l1 )/2
kL − 2 m + tan + tan −
2 zR1x zR2x
1 l1 /2 (L − l1 )/2
2 n+ tan−1
+ tan −1
= 2qπ, (4.5)
2 zR1y zR2y
onde o fator 2 vem do fato dos espelhos da cavidade serem simetricamente localizados
em relação a cintura do feixe dentro da cavidade. Os termos da fase de Gouy, de cada
direção, podem ser simplificados [23], de tal maneira que a Equação 4.5 é reescrita
da seguinte forma:
1 zR1x 1 zR1y
kL − 2 m + tan−1
−2 n+ tan−1
= 2qπ, (4.6)
2 f x − dx 2 f y − dy
onde dx,y são iguais a l1 /2 e os parâmetros fx e fy vem do astigmatismo da cavidade
e são dados por:
R cos θ
fx = (4.7a)
2
R
fx = , (4.7b)
2 cos θ
sendo R o raio de curvatura dos espelhos curvos e θ o ângulo entre o feixe o espelho
curvo, mostrado na Figura 26.
Isso significa que a distância entre dois modos consecutivos de mesma ordem é igual
ao FSR que é a distância entre dois picos de transmissão (de mesma ordem) de uma
cavidade óptica, como foi mostrado em Subseção 2.6.1.
Observa-se que, caso os valores de zR fossem iguais, como no caso de uma ca-
vidade linear, essa diferença de frequência de ressonância seria zero. Dessa forma,
é notório que o efeito do astigmatismo se faz presente através do termo referente a
fase Gouy. Na Figura 28, é apresentada uma simulação de um espectro, calculado
em programa desenvolvido pelo autor desse trabalho no software Wolfram Mathe-
matica, representando as frequências de ressonância dos modos de ordem zero HG00
e dos modos HG10 e HG01 .
57
É possível observar que distância entre os picos HG10 e HG01 estão relacionados
com o astigmatismo da cavidade. Configura-se dessa forma a proposta a ser ana-
lisada da utilização deste astigmatismo intrínseco à cavidade na compensação do
astigmatismo do cristal não linear.
O problema causado por esse efeito se torna bem drástico quando se tem a
intenção de usar um OPO para produzir feixes convertidos com MAO’s opostos
como por exemplo a situação em que o sinal seja LG+1 e o complementar seja
58
No final da última seção chegou-se à conclusão que o termo da fase que contribuía
para a separação dos modos de primeira ordem (causado pelo astigmatismo) foi a fase
de Gouy. Dessa forma, temos como objetivo procurar uma configuração da cavidade
junto com o cristal, de forma que a diferença entre fases de Gouy acumuladas de
modos de mesma ordem seja zero, tanto para a polarização ordinária, quanto para
a extraordinária e com isso obter ambas as polarizações oscilando simultaneamente
com MAO. Vamos aqui nos ater aos modos de primeira ordem. Os feixes de modo
LGlp de primeira ordem podem ser decompostos na soma de dois feixes HGmn de
primeira ordem, como já foi mencionado, por conta disso o astigmatismo interfere
na transmissão do MAO.
lc2
dox = d0 − (1 − 1/ny )
2
lc2
doy = d0 − (1 − ny /n2 ), (4.14)
2
lc2
dey = d0 − (1 − n/n2x )
2
lc2
dex = d0 − [1 − (sin2 φ + n2x /n2z cos2 φ)/(n2x /n)]
2
e por conseguinte analisar a melhor configuração possível (L, d0 e θ) para que tanto
∆Φe quanto ∆Φo sejam (aproximadamente) nulos, indicando a condição de resso-
nância simultânea desejada.
Nota-se que na Figura 30a e na Figura 30b as diferenças de fase ∆Φe e ∆Φo
não vão a zero simultaneamente, logo as geometrias de cavidade nesses casos não
62
5 CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS
REFERÊNCIAS
[2] FEYNMAN, R. P. Simulating physics with computers. In: Feynman and com-
putation. [S.l.]: CRC Press, 2018. p. 133–153.
[5] SOUZA, C. et al. Quantum key distribution without a shared reference frame.
Physical Review A, APS, v. 77, n. 3, p. 032345, 2008.
[6] PADGETT, M. J. Orbital angular momentum 25 years on. Optics express, Op-
tical Society of America, v. 25, n. 10, p. 11265–11274, 2017.
[7] SILVA, B. P. da et al. Spin–orbit laser mode transfer via a classical analogue
of quantum teleportation. Journal of Physics B: Atomic, Molecular and Optical
Physics, IOP Publishing, v. 49, n. 5, p. 055501, 2016.
[18] DANGOISSE, D.; HENNEQUIN, D.; ZEHNLé, V. Les lasers-3e édition. [S.l.]:
Dunod, 2013.
[23] BARROS, R.; ALVES, G.; KHOURY, A. Gouy-phase effects in the frequency
combs of an optical parametric oscillator. Physical Review A, APS, v. 103, n. 2,
p. 023511, 2021.