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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE FÍSICA

CURSO DE BACHARELADO EM FÍSICA

GABRIEL DE OLIVEIRA ESTEVES DIAS

CORREÇÃO DE ASTIGMATISMO EM
CAVIDADES COM MEIOS BIRREFRINGENTES

NITERÓI
2021
GABRIEL DE OLIVEIRA ESTEVES DIAS

CORREÇÃO DE ASTIGMATISMO EM
CAVIDADES COM MEIOS BIRREFRINGENTES

Trabalho de conclusão de curso de gra-


duação apresentado ao Departamento
de Física da Universidade Federal Flu-
minense como parte dos requisitos para
obtenção do grau de Bacharel em Física.

Orientador: Prof. Dr.Carlos Eduardo


Rodrigues de Souza

Co-orientador: Prof. Dr.Gabriel Bié


Alves

NITERÓI
2021
Ficha catalográfica automática - SDC/BIF
Gerada com informações fornecidas pelo autor

E79c Esteves dias, Gabriel de Oliveira


Correção de astigmatismo em cavidades com meios
birrefringentes / Gabriel de Oliveira Esteves dias ; Carlos
Eduardo Rodrigues de Souza, orientador ; Gabriel Bié Alves,
coorientador. Niterói, 2021.
65 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Física)-


Universidade Federal Fluminense, Instituto de Física,
Niterói, 2021.

1. Cavidade Óptica. 2. Astigmatismo. 3. Oscilador


Paramétrico Óptico. 4. Produção intelectual. I. Rodrigues
de Souza, Carlos Eduardo, orientador. II. Alves, Gabriel Bié,
coorientador. III. Universidade Federal Fluminense. Instituto
de Física. IV. Título.

CDD -

Bibliotecário responsável: Debora do Nascimento - CRB7/6368


GABRIEL DE OLIVEIRA ESTEVES DIAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Física da Universidade
Federal Fluminense como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Física.

Aprovado em 20 de maio de 2021.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Eduardo Rodrigues de Souza (UFF)
(Orientador)

____________________________________________________
Prof. Dr. Gabriel Bié Alves (UFF)
(Coorientador)

____________________________________________________
Prof. Dr. José Augusto Oliveira Huguenin (UFF)

____________________________________________________
Prof. Dr. Lucas Maurício Sigaud (UFF)

Niterói
2021
Dedicatória: Dedico a minha mãe por
todo esforço e trabalho, para que fosse
possível eu chegar até aqui.
AGRADECIMENTOS

Eu gostaria de agradecer primeiramente a Deus, por me dá forças, tanto físicas


quanto psicológicas, para conseguir chegar até aqui e nunca me desamparando.

Depois gostaria de agradecer a minha mãe, por todos seus ensinamentos de


vida, pela mulher forte que ela é, seus sacrifícios até hoje para que eu tivesse uma
educação de qualidade e fosse capaz de chegar até aqui, por todo seu apoio e seu
amor incondicional. Obrigado mãe!

Gostaria de agradecer também a minha irmã, por sempre se preocupar comigo


e querer me ver bem, mesmo sendo nova demais para entender os desafios que a
faculdade e a vida adulta nos trás, ela se esforçava para tentar me ajudar de alguma
forma.

Agora, queria agradecer a outra pessoa que se tornou uma das minhas maiores
forças para chegar até aqui, minha namorada Jhenifer, que viveu cada momento
desse desafio comigo, sempre estando ao meu lado para me apoiar, me ajudar a
levantar quando eu caia e acreditando em mim quando nem eu acreditava. Sempre
me proporcionando os melhores momentos, as melhores risadas, sendo a melhor
amiga e companheira que eu poderia querer, pois ela é essa pessoa incrível e sem
precisar se esforçar para isso. Obrigado por me aguentar por todo esse tempo, por
cada risada, por cada carinho, por cada palavra de conforto e por sempre me dá
seu colo quando eu precisei, obrigado por ser meu BOzinho e segurar meus BO’s.
Obrigado por escolher estar comigo!

Gostaria de agradecer ao meu orientador, Carlos Eduardo, por me aceitar como


orientando, por sua paciência, empenho em me ajudar, por todos os seus ensina-
mentos, por toda a sua compreensão, por seu empenho e horas dedicadas a esse
trabalho. Agradeço também ao meu co-orientador, Gabriel Bié, por sua participa-
ção, dedicação e ajuda durante o desenvolvimento deste trabalho de pesquisa e nesta
monografia.

Queria agradecer aos meu colegas de laboratório por todos os conhecimentos


transmitidos, tanto experimentais quanto teóricos e por todas as ajudas.

Gostaria de agradecer aos meus amigos Thiago, Carol, Bruna, Dayvid, Mariana
(Pudim) e Yngrid pela amizade, pelos vários momentos que contribuíram em minha
formação e por toda ajuda em momentos de dificuldades.

E por último, mas não menos importante, meu agradecimento à alguns pro-
fessores que tive ao longo da minha graduação, que muitas vezes me inspiraram
e me incentivaram, principalmente aqueles no qual foi possível quebrar a barreira
professor/aluno e criar uma amizade.

O caminho para a formação em física não é fácil, onde dediquei incontáveis


horas, onde me privei da companhia dos meus amigos e da minha família, espero
que possam compreender isso. Obrigado por todo apoio!
A Matemática é o alfabeto no qual Deus
escreveu o Universo.

Galileu Galilei
RESUMO

Esta monografia aborda o astigmatismo em uma cavidade óptica do tipo bow-tie,


a fim de usar o resultado apresentado, neste trabalho, como uma possível aplica-
ção na montagem de um Oscilador Paramétrico Óptico (OPO) para a produção
de feixes com momento angular orbital (MAO). Nesta monografia são apresentados
resultados teóricos a respeito da propagação da luz nesta cavidade, quantificação
do astigmatismo presente na cavidade e resultados experimentais de uma cavidade
bow-tie montada no Laboratório de Óptica Quântica da UFF (LOQ-UFF). Basea-
dos na propagação de feixes Hermite-gaussianos de primeira ordem, foi desenvolvido
um procedimento de análise que nos permite verificar as condições geométricas ne-
cessárias para a compensação do astigmatismo presente no feixe laser causado por
um cristal não linear, com a utilização de uma cavidade bow-tie na montagem de
um OPO e consequente produção de um modo Laguerre-gaussiano com MAO. Tal
trabalho está inserido no contexto da produção de feixes gêmeos como recursos físi-
cos para a Informação Quântica e contribui para o desenvolvimento dos OPO’s no
LOQ-UFF, visto que o astigmatismo oriundo da birrefringência desses cristais é uma
das principais dificuldades em se produzir feixes com MAO em OPO’s que oscilem
simultaneamente. Com esse pensamento foi desenvolvida uma modelagem analítica
e computacional que permite verificar as condições necessárias para a compensação
do astigmatismo do cristal com o astigmatismo da cavidade e avaliar a melhor geo-
metria para a cavidade bow-tie, com vistas em aplicações quânticas de criptografia,
metrologia e computação.

Palavras-chave: Cavidade Óptica; Astigmatismo; Momento Angular Orbital


da luz; Oscilador Paramétrico Óptico.
ABSTRACT

Astigmatism in a bow-tie optical cavity is investigated, in order to use it as


a possible application in the assembly of an Optical Parametric Oscillator (OPO),
generating orbital angular momentum (OAM) beams. This work presents not only
theoretical results regarding the propagation of light in this cavity and quantification
of astigmatism but also experimental results of a bow-tie cavity built at UFF Quan-
tum Optics Laboratory. Based on the propagation of first-order Hermite-Gaussian
beams, an analysis procedure was developed which allow us to certify the necessary
conditions for the compensation of light astigmatism in the laser beam caused by a
non-linear crystal, with the use of a bow-tie cavity in the assembly of an OPO and
consequent production of a Laguerre-Gaussian mode with orbital angular momen-
tum. Such work is inserted in the context of generation of twin beams as physical
resources for Quantum Information and it contributes to the development of OPO’s
at LOQ-UFF, since astigmatism resulting from the birefringence of these crystals is
one of the main difficulties in producing orbital angular momentum beams in OPO’s
which oscillate simultaneously. From this perspective, an analytical and computa-
tional modeling was developed which allows us to verify the necessary conditions to
compensate astigmatism of the crystal with astigmatism of the cavity and to evalu-
ate the best geometry for the bow-tie cavity, especially for quantum cryptography,
metrology and computing applications.

Keywords: Optical Cavity; Astigmatism; Orbital Angular Momentum of light;


Optical Parametric Oscillator.
LISTA DE FIGURAS

1 À esquerda: Representação do perfil de intensidade transverso do feixe


gaussiano, onde a intensidade é máxima em r = 0 e tende a zero conforme
r cresce. À direita: Representação da propagação longitudinal do feixe
gaussiano e parâmetros do feixe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2 Representação pictórica do perfil de intensidade transverso dos modos (a)
Hermite-Gauss e (b) Laguerre-Gauss. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3 Representação dos modos LG10 (acima) e LG−1
0 (abaixo) como combinação

de modos HG10 e HG01 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24


4 Representação pictórica da propagação longitudinal de um feixe gaussiano
com astigmatismo causado por uma lente cilíndrica e representação do
perfil transversal elíptico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5 Esquema de traçado de raios da formação de uma imagem a partir de uma
lente convergente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
6 Exemplo de matrizes ABCD de três casos diferentes. a) Livre propaga-
ção; b) Incidência normal em um espelho curvo; c) Incidência com ângulo
arbitrário em um espelho curvo, onde Ref = R cos θ na direção plano de
incidência e Ref = R/ cos θ na direção do plano perpendicular ao plano de
incidência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
7 Exemplo de cavidades ópticas. a) Cavidade linear com dois espelhos pla-
nos; b) Cavidade linear com dois espelhos curvos; c) Cavidade em anel do
tipo Bow-Tie. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
8 Esquema simplificado de uma cavidade de Fabry-Pérot composta de dois
semi espelhos planos, M1 e M2 , e um índice de refração n entre os espelhos,
onde uma onda plana incide em um ângulo θ0 sofrendo diversas reflexões e
transmissões nos espelhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
9 Esquema para dedução da diferença de caminho. . . . . . . . . . . . . . . . 32
10 Picos de transmissão para uma cavidade Fabry-Pérot para três valores de
R diferentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
11 Representação pictórica de uma cavidade bow-tie formada por quatro es-
pelhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
12 Imagem meramente ilustrativa do layout da cavidade bow-tie, formada por
dois semi-espelhos curvos (M3 e M4 ) e dois planos (M1 e M2 ) e um PZT
acoplado ao semi-espelho M2 e cinturas características w1 e w2 . . . . . . . 38
13 Comportamento de w1 (em azul) e w2 (em laranja) em função de l1 . . . . . 39
14 a) esquema experimental do método da faca; b) Intensidades medidas no
detector conforme a lâmina corta o feixe. Fonte:[1] . . . . . . . . . . . . . 40
15 Esquema ilustrativo de um sistema de lentes com distâncias focais f1 , f2 e
f3 para realização do acordo de modos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
16 Simulação da posição das lentes (em vermelho) para que ocorra o acordo
de modo da cintura do feixe (em amarelo) coincida com a cintura exigida
pela cavidade (em azul) em uma distância de 150 cm de w0 (origem do
eixo z). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
17 Ilustração do esquema experimental, onde é mostrado os principais ele-
mentos usados para montagem da cavidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
18 Representação do alinhamento de M1 e M4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
19 Montagem experimental da cavidade bow-tie. Os suportes dos espelhos
curvos estão montados sobre transladadores XY , com o intuito de facilitar
a movimentação dos espelhos para alinhamento. . . . . . . . . . . . . . . . 45
20 Picos de ressonância (em azul) e sinal de rampa enviado para o PZT (em
amarelo). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
21 Imagens retiradas da filmagem do feixe transmitido pela cavidade. . . . . . 47
22 Gráficos em 2D referentes aos três pontos mencionados onde pode-se com-
parar suas intensidades em escala de cinza, obtido utilizando o programa
ImageJ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
23 Gráficos em 3D referentes aos três pontos mencionados, onde é possível
ver o comportamento gaussiano da intensidade dos feixes. As escalas dos
gráficos não têm relevância, nesse caso, uma vez que a intenção da produção
desses gráficos era a inspeção do comportamento da intensidade do feixe
nas imagens capturadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
24 Curva da função de Airy (em vermelho) ajustada aos dados experimentais
(em preto). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
25 Exemplo de OPO formado por uma cavidade linear composta por dois
semi-espelhos e um cristal não linear. Na figura, é retratado um feixe laser
verde de bombeio com comprimento de onda 532 nm sendo convertido em
dois feixes infravermelhos, com comprimento de onda 1064 nm, através da
CPD. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
26 Representação da cavidade óptica em anel do tipo bow-tie composta por
dois semi-espelhos planos e dois semi-espelhos curvos e comprimento total
L = l1 + 2l2 + l3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
27 Simulação do comportamento de w1x e w1y em função de θ para uma cavi-
dade bow-tie com L = 524, 8 mm e l1 = 53, 8 mm. . . . . . . . . . . . . . . 54
28 Simulação do comportamento das posições das frequências de ressonância
de uma cavidade óptica vazia com um feixe astigmático. . . . . . . . . . . 57
29 A esquerda, representação da cavidade bow-tie com dois cristais, um em
cada cintura, onde d0 = l1
2
e LB = L − 2d0 . A direita, representação da
cavidade bow-tie equivalente considerando os caminhos ópticos de difração,
onde LA = Lix,y − 2d0 e i = (e, o). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
30 Simulação do comportamento de |∆Φe | e |∆Φo | em função de θ com L =
405 mm, lc1 = 5 mm, lc2 = 10 mm e com d0 = 55 mm em (a), com
d0 = 88 mm em (b) e com d0 = 84 mm em (c). . . . . . . . . . . . . . . . 61
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BS Beam Splitter

CCD Charge Coupled Device

CPD Conversão Paramétrica Descendente

EPR Einstein-Poldoski-Rosen

FSR Free Spectral Range

HG Hermite-Gauss

HR High Reflection

LG Laguerre-Gauss

LOQ Laboratório de Óptica Quântica

MAO Momento Angular Orbital

OPO Oscilador Paramétrico Óptico

PBS Polarization Beam Splitter

PZT Piezoelétrica
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2 TEORIA BÁSICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1 Propagação da luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2 Feixe Gaussiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.1 Parâmetros de um feixe gaussiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3 Modos transversos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.4 Feixes Astigmáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.5 Matriz ABCD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.5.1 Aplicação de matrizes ABCD em feixes gaussianos . . . . . . . 28
2.6 Cavidades Ópticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.6.1 Cavidade de Fabry-Pérot . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.6.2 Cavidades ópticas e feixes gaussianos . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3 DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL . . . . . . . . . . . . 38
3.1 Acoplamento de um feixe laser em uma cavidade óptica . . . . . . . . . 38
3.2 Montagem experimental da cavidade óptica bow-tie . . . . . . . . . . . 42
3.2.1 Aparato Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2.2 Construção da Cavidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

4 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.1 MOTIVAÇÃO: Geração de feixes com MAO no OPO . . . . . . . . . . 50
4.2 Astigmatismo e condições de ressonância na cavidade bow-tie . . . . . 52
4.2.1 Simulação das cinturas da cavidade bow-tie levando em conta
o astigmatismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.2 Ressonâncias na cavidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.3 Compensação do astigmatismo proveniente do cristal com o uso da ca-
vidade bow-tie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

5 CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
13

1 INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos, a troca de dados e processamento de informações torna-


se cada vez mais intensa e junto a isso a necessidade que o processamento desses
dados ocorra de forma cada vez mais rápida. Dessa necessidade, a luz vem sendo
objeto de estudo para implementação de sistemas quânticos de informação, como
foi proposto por Feynman em 1982 [2]. Exemplos das tecnologias que avançam em
seu desenvolvimento e que frequentemente são baseados em estados quânticos do
campo eletromagnético são a criptografia quântica [3], teletransporte quântico [4] e
também os computadores quânticos [4]. As pesquisas na Óptica Quântica caminham
em direção do processamento, da compactação, transporte e armazenamento de
informações e com isso utilizá-las com o objetivo de se ter um computador quântico
que lide com problemas intratáveis por computadores clássicos [4].

Uma ferramenta que é bastante usada em protocolos de informação é o momento


angular orbital (MAO) transportado por vórtices paraxiais, usualmente descritos
em termos dos modos Laguerre-Gauss (LGlp ). Sua combinação com outros graus de
liberdade, como a polarização através do emaranhamento, dão origem a aplicações
em teletransporte e criptografia quântica [5, 6, 7]. Uma forma de produção do
emaranhamento entre o MAO e a polarização é através da conversação paramétrica
descendente (CPD), que acontece através de um meio não linear (um cristal, por
exemplo) que quando combinada a um ressonador óptico (também conhecido como
cavidade óptica), concebem o que é conhecido como Oscilador Paramétrico Óptico
(OPO), proposto a primeira vez por Kroll [8] em 1962 e construído por Giordmaine
e Miller [9] em 1965. O OPO é capaz de produzir um par de feixes gêmeos intensos
emaranhados em quadraturas com polarizações diferentes (sinal e complementar).

Contudo, um aspecto proveniente do meio não linear onde ocorre a CPD no


OPO é a ocorrência de astigmatismo dos feixes lasers produzidos com MAO. O as-
tigmatismo consiste na focalização em pontos diferentes para cada uma das direções
perpendiculares à direção de propagação do feixe. Esse efeito acaba deslocando os
picos de ressonância dentro da cavidade que compromete severamente a conservação
de MAO na mesma [10].
14

Dessa dificuldade surgiu a ideia de encontrar maneiras de construir OPO’s que


não sofram com o astigmatismo do cristal. É observado que cavidades ópticas po-
dem apresentar astigmatismo por conta de sua geometria [11], com isso a ideia
apresentada nessa monografia é a compensação do astigmatismo proveniente dos
cristais não lineares com o da cavidade óptica, especificamente nesse trabalho uma
do tipo bow-tie (em tradução livre do inglês, gravata borboleta), e por consequência
produzindo feixes gêmeos com MAO e com versatilidade.

De modo a apresentar os resultados desse estudo do astigmatismo na cavidade


bow-tie de maneira organizada, no Capítulo 2 é apresentado os conteúdos básicos im-
portantes para a discussão dos resultados nos capítulos subsequentes. Neste capítulo
partiu-se das equações de Maxwell, seguindo para descrição de um feixe gaussiano,
passando pela descrição de um feixe astigmático. É discutido também sobre como
tratar sua evolução espacial, através do formalismo de matriz ABCD. E no final
desse capítulo é realizada uma discussão sobre cavidades ópticas e algumas de suas
características.

No Capítulo 3 é apresentado a descrição experimental da construção da cavi-


dade bow-tie. Nele foi apontado os elementos ópticos e equipamentos experimentais
utilizados para a construção, assim como os procedimentos para incidência do feixe
laser na cavidade.

No Capítulo 4 é discutido a motivação para esse trabalho, assim como o desen-


volvimento teórico para analise do astigmatismo na cavidade bow-tie e mais adiante
o prosseguimento de uma método de análise da compensação do astigmatismo de um
OPO formado por uma cavidade bow-tie e cristais não lineares. Apresentando no fi-
nal parâmetros de cavidade capaz realizar essa compensação. Por fim, no Capítulo 5
finalizamos com as conclusões e perspectivas.
15

2 TEORIA BÁSICA

2.1 PROPAGAÇÃO DA LUZ

A luz sempre foi objeto de estudos, desde a antiguidade com a criação de obje-
tos ópticos, passando por Newton e sua teoria corpuscular até Thomas Young que
observou interferência da luz em seu experimento, que colocou em xeque o modelo
corpuscular.

Uma das grandes mudanças de pensamento sobre como tratar a natureza da


luz veio através de James Clerk Maxwell que por meio do seu trabalho colocou de
forma clara um conjunto de equações bem conhecidas da época (tirando o termo de
corrente de deslocamento que foi introduzido por ele na lei de Ampére), que envolvia
campos elétrico e magnético, as quais permitiram a descrição da luz como sendo uma
onda eletromagnética. As equações são conhecidas nos dias de hoje como equações
de Maxwell. Essas equações são dadas por:

~ = ρ
~ ·E
∇ (2.1)
ε0
~ ·B
∇ ~ =0 (2.2)
~
~ = − ∂B
~ ×E
∇ (2.3)
∂t
~
~ = µ0 J~ + µ0 ε0 ∂ E ,
~ ×B
∇ (2.4)
∂t

onde E
~ eB
~ são os vetores de campo elétrico e magnético, respectivamente, ρ é

a densidade volumétrica de cargas do meio, ε0 é a constante de permissividade do


vácuo, µ0 a constante de permeabilidade do vácuo e J~ é o vetor densidade de corrente
elétrica. Uma descrição mais aprofundada dessas equações pode ser encontrada em
livros de eletromagnetismo [12].

Com essas equações podemos fazer algumas combinações, na linguagem mate-


mática moderna, e chegar na equação da onda eletromagnética. A fim de facilitar
essas manipulações consideraremos um sistema em um meio isotrópico, onde ρ = 0
16

e J~ = 0. Com isso, aplicando a operação do rotacional na Equação 2.3 encontra-se:


~
~ × (∇
∇ ~ × E) ~ × ∂ B = − ∂ (∇
~ = −∇ ~ × B).
~ (2.5)
∂t ∂t

Usando a identidade ∇
~ × (∇
~ × E)
~ = ∇(
~ ∇~ · E) ~ e o fato de que estamos
~ − ∇2 E)

considerando um meio isotrópico (onde teremos ∇·


~ E~ = 0 e ∇·
~ B~ = µ0 ε0 ∂ E~ ) obtemos:
∂t
!
~
−∇2 E~ = − ∂ µ 0 ε0 ∂ E ,
∂t ∂t
~
∂ 2E
~ = µ 0 ε0
⇒ ∇2 E . (2.6)
∂t2

De forma análoga, podemos obter a mesma equação para o campo magnético.


Tomando o Laplaciano em coordenadas cartesianas e considerando uma dependência
do campo nas três direções do plano cartesiano, teremos o seguinte conjunto de
equações:

∂ 2 Ex
∇2 Ex = µ0 ε0 (2.7a)
∂t2
∂ 2 Ey
∇2 Ey = µ0 ε0 2 (2.7b)
∂t
2
∂ Ez
∇2 Ez = µ0 ε0 2 . (2.7c)
∂t

Essas equações diferenciais de segunda ordem têm a forma de equações de onda,


de forma que Maxwell conclui que tanto o campo elétrico quanto o campo magnético

podiam ter formas ondulatórias com uma velocidade de propagação v = 1/ µ0 ε0 .
Fazendo a substituição dos valores de µ0 e ε0 encontra-se uma velocidade v muito
próxima a velocidade da luz medida por Armand Fizeau [13] em seu experimento da
roda dentada, cerca de 313240 km/s, dessa forma Maxwell conjectura uma relação
entre a luz e as ondas eletromagnéticas.

Para o estudo da propagação da luz basta escolhermos um desses campos como


referência, geralmente o escolhido é o elétrico, e realizar a solução da equação de
onda tendo assim uma função oscilatória do campo.
17

2.2 FEIXE GAUSSIANO

Uma solução bastante usada da equação de ondas é conhecida como feixe gaus-
siano, essa solução aparece para o caso de tomarmos o Laplaciano em coordenadas
cilíndricas, com uma simetria azimutal, na equação de onda. Essa solução é bastante
conveniente para descrição de feixes laser. Portanto, em coordenadas cilíndricas, te-
mos:
∂2 1 ∂ 1 ∂2 ∂2
∇2 = + + + , (2.8)
∂r2 r ∂r r2 ∂φ2 ∂z 2
levando em conta a simetria azimutal, o termo da derivada em relação a φ pode ser
descartado, dessa forma:

∂2 1 ∂ ∂2 ∂2
∇2 = + + = ∇ 2
⊥ + , (2.9)
∂r2 r ∂r ∂z 2 ∂z 2

Tomando esse Laplaciano, a solução da equação de onda, considerando uma onda


monocromática para o campo elétrico pode ser escrita como a multiplicação de um
termo espacial e uma fase temporal com frequência ω, da seguinte forma:

~ r, t) = E(~
E(~ ~ r)e−iωt . (2.10)

Substituindo a Equação 2.10 na Equação 2.6 encontra-se a equação de Helmholtz


com a seguinte forma:

~ + k 2 (~r)E
∇2 E ~ = 0. (2.11)

onde k 2 = µεω 2 , podendo depender de r, caso seja considerado um meio tipo lente.
Para simplificar as contas, vamos considerar que o meio é homogêneo, de forma que
k seja constante1 , não variando com r. Como o Laplaciano na Equação 2.9 não
envolve termo temporal e considerando que a onda tem sua propagação em torno
no eixo z, podemos ter a seguinte solução:

E(r, z) = ψ(r, z)e−ikz . (2.12)

onde ψ(r, z) é um termo com dependência longitudinal e transversal, com uma lenta
variação ao longo de z e e−ikz é uma fase longitudinal.
1
As contas mais detalhadas para o termo k 2 (r) podem ser encontradas em [13]
18

Aplicando a solução tentativa 2.12 na Equação 2.11 e considerando uma aproxi-


mação paraxial, de maneira que a variação de ψ em relação a z seja lenta o suficiente
∂2ψ ∂2ψ
para que ∂z 2
 k ∂ψ
∂z
, de tal modo que o termo proporcional a ∂z 2
seja desprezado,
assim:
∂ψ
∇2⊥ ψ − 2ik = 0. (2.13)
∂z

A equação acima, denominada equação paraxial, não tem uma solução simples,
mas conforme as referências [13, 14, 15] mostram, podemos tomar uma solução
tentativa que possui a seguinte forma:
Q(z)r2
  
ψ(r, z) = ψ0 exp −i P (z) + . (2.14)
2

A partir dessa solução, é possível chegar na equação do campo E que descreve a


propagação do feixe gaussiano tal que,
  
w0 1 ik
E(r, z) = E0 exp −i[kz − η(z)] − r 2
+ (2.15)
w(z) w2 (z) 2R(z)

k=
λ
r 2 = x2 + y 2 ,

onde temos que w(z) é largura transversal do feixe, R(z) é o raio de curvatura da
frente de onda do feixe e η(z) é a fase de Gouy. Na Figura 1 é apresentado o perfil
de propagação do feixe gaussiano.

O perfil de intensidade transverso ao longo da direção de propagação z desse


campo pode ser encontrado, usando o fato que I(r, z) ∝ |E(r, z)|2 , assim:
2
2r2
  
w0
I(r, z) = I0 exp − 2 (2.16)
w(z) w (z)
I0 ∝ |E0 |2 .

Da equação Equação 2.16 observa-se que ela é uma função gaussiana (apresenta
a forma Ae−cx ), a partir da qual é possível ver que a intensidade de um feixe
2

gaussiano cai conforme nos afastamos do centro dele, e que para r = 0 temos a
máxima intensidade do feixe. A Figura 1 ilustra o padrão transversal da intensidade
e como ele varia com r.
19

Figura 1: À esquerda: Representação do perfil de intensidade transverso do feixe


gaussiano, onde a intensidade é máxima em r = 0 e tende a zero conforme r cresce. À
direita: Representação da propagação longitudinal do feixe gaussiano e parâmetros
do feixe.

2.2.1 Parâmetros de um feixe gaussiano

O feixe gaussiano é de grande relevância porque corresponde ao principal tipo de


luz emitida por lasers em laboratórios de pesquisa. Na equação que o descreve temos
a presença de certos parâmetros físicos que o caracterizam, os quais são de grande
importância para tratá-lo de forma teórica e experimental. A Figura 1 ilustra alguns
desses parâmetros com relação a propagação do feixe.

• Largura transversal

A largura transversal do feixe gaussiano, tem sua evolução ao longo do eixo z, como
pode ser observada na Figura 1. Ela é matematicamente descrita por:
"  2 #
λz
w2 (z) = w02 1 + . (2.17)
πw02 n

Na posição z = 0 o feixe apresenta o que é chamado cintura, representado por w0 ,


onde ele tem sua menor largura. É perceptível que no plano z = 0 temos a maior
intensidade do feixe, basta substituir a Equação 2.17 em 2.16 e veremos que I = I0
em r = 0. As linhas verdes na Figura 1 que limitam o feixe são descritas pelo caso
20

 2
no qual r = w(z) e a partir da Equação 2.16 obtém-se I = I0 w0
w(z)
1
e2
, apontando
o lugar geométrico, cuja a intensidade cai por um fator 1/e2 em cada plano z.

• Raio de curvatura

A frente de onda do feixe gaussiano apresenta um raio de curvatura R(z) que varia
com a propagação do feixe, essa dependência em z é dada por:
"  2 2 #
πw0 n
R(z) = z 1 + . (2.18)
λz

É interessante notar que para z → 0 e para z → ∞ o raio de curvatura também


tende ao infinito, fazendo com que a frente de onda do feixe se assemelhe a uma
frente de onda plana.

• Distância de Rayleigh

Ele é um parâmetro do feixe gaussiano, definido como:


πw02 n
zR ≡ . (2.19)
λ

Na posição onde temos z = zR , obtemos uma largura do feixe w(zR ) = 2w0 e o
raio de curvatura vale R(zR ) = 2zR . É possível interpretar esse parâmetro como
sendo o que define uma distância, medida a partir da cintura do feixe, onde o feixe
ainda se apresenta colimado (não houve grande divergência).

• Divergência

A partir da Equação 2.17 é notável que a largura do feixe diverge conforme o feixe
se propaga na direção z. Tomando a distância de Rayleigh como referência, já que
conhecemos o comportamento da largura a essa distância, e considerando um z  zR
a Equação 2.17 pode ser reescrita da seguinte forma:
z
w(z) ≈ w0 . (2.20)
zR
Da trigonometria podemos escrever que:
w0 z/zR w0
tan θ = = , (2.21)
z zR
21

levando em conta o limite para ângulos pequenos e usando a Equação 2.19 é obtido:

λ
θ≈ , (2.22)
πw0 n

essa é a relação que fornece o ângulo de divergência do feixe gaussiano.

• Fase de Gouy

A fase de Gouy é uma fase adicional que aparece quando o feixe passa por uma
região de focalização, ela é descrita da seguinte forma:

z
η(z) = tan−1 . (2.23)
zR

O efeito dela é acrescentar uma mudança de fase acumulativa de π/2 em cada lado
da cintura do feixe, ocorrendo entre os limites z → −∞ e z → +∞ [16].

• Raio de curvatura complexo

Podemos definir esse raio de curvatura da seguinte maneira:

1 1 λ
= −i . (2.24)
q(z) R(z) πnw2 (z)

Ele é um artificio matemático para descrever ao mesmo tempo o raio de curvatura


do feixe gaussiano (parte real) e a largura do feixe (sua parte imaginária) usando as
Equações 2.17, 2.18 e 2.19 esse raio complexo pode ser também escrito na forma:

q(z) = z + izR . (2.25)

Esse parâmetro é bastante útil quando é preciso descrever a propagação do feixe


gaussiano através de elementos ópticos no formalismo matricial , que vai ser mos-
trado ainda nesse capítulo nas seções posteriores.

2.3 MODOS TRANSVERSOS

A Equação 2.15, que descreve a propagação do feixe gaussiano mostrado ante-


riormente, também é conhecida como modo fundamental. Isso provém do fato que
22

essa equação descreve a solução mais fundamental de uma família de soluções da


equação de Helmholtz (Equação 2.11). Para obter essa família de soluções é usada
uma solução tentativa com base no que já foi proposto anteriormente (Equação 2.14)
com a seguinte forma:
√ x √ y Q(z)(x2 + y 2 )
      
ψ(x, y, z) = ψ0 X 2 Y 2 exp −i Z(z) + ,
w(z) w(z) 2
(2.26)
onde X,Y e Z são funções reais. Aplicando essa solução em 2.13, considerando um
∇2⊥ em coordenadas cartesianas (x e y), e usando o método de separação de variáveis
[17], encontra-se a solução [14]

√ x √ y
   
w0
ψm,n = Em,n (x, y, z) = E0 Hm 2 Hn 2
w(z) w(z) w(z)
   
1 ik
2
exp −(x + y ) 2
+ − ikz + i(m + n + 1)η(z) (2.27)
w2 (z) 2R(z)

Os parâmetros w(z), R(z), w0 e η(z) continuam com a mesma definição apre-


sentada anteriormente, a função Hi (xj ) (i = m, n e xj = x, y) é conhecida como
polinômio de Hermite, que aparece de forma comum no tratamento do sistema de
um oscilador harmônico quântico.

A Equação 2.27 dá origem a um conjunto de soluções para a Equação 2.11


indexadas por m e n. Elas formam um conjunto completo e ortogonal de funções
conhecidas como modos de propagação. Tomando a Equação 2.27 e escolhendo
m = 0 e n = 0 obtemos a Equação 2.15 que descreve o feixe gaussiano, mostrando
que ela é a solução fundamental, como foi mencionado anteriormente. Uma forma
de classificar esse conjunto de funções é através da ordem dos modos dada por
N = m + n, assim o feixe gaussiano seria o modo de ordem N = 0. Para o modo
de ordem 1, teríamos m = 1 e n = 0 ou m = 0 e n = 1. A ordem dos modos vai
crescendo conforme m e n crescem.

De forma geral, essas soluções são conhecidas como feixes Hermite-Gauss (HGmn ),
cujo nome vem pelo fato de que quando é tomado o módulo quadrado de 2.27 para
analisar os perfis de intensidade transversos desses modos (Im,n ∝ |Em,n |2 ) ficará um
23

termo gaussiano modulado pelos polinômios de Hermite, da seguinte forma [17]:


2
√ x √ y 2(x2 + y 2 )
      
w0
I(r, z) = I0 2
Hm 2 2
Hn 2 exp − . (2.28)
w(z) w(z) w(z) w2 (z)

Os perfis de intensidade para o modo de ordem zero e para alguns modos


de ordem superior podem ser vistos na Figura 2a, pode ser visto também, nessa
mesma imagem, perfis de intensidades para outra família de soluções da equação de
Helmholtz, que envolve polinômios de Laguerre, chamados de modo de Laguerre-
Gauss (LGlp ). Essa família de soluções é encontrada resolvendo a equação paraxial
(Equação 2.13) em coordenadas cilíndricas, só que sem considerar uma simetria
azimutal, dessa maneira, encontra-se [17]:
|l|
2r2
  
w0 r
ψpl = Epl (r, φ, z) = E0 Llp
w(z) w(z) w2 (z)
r2 r2
 
exp − 2 − ik − ikz − ilφ + i(|l| + 2p + 1)η(z) (2.29)
w (z) 2R(z)
onde o índice p ≥ 0 é o índice radial, associado ao número de anéis que aparece
no perfil de intensidade do modo LG (Figura 2b), o l é conhecido com índice azi-
mutal que está ligado a dependência azimutal da fase do feixe [1], Llp é conhecido
como polinômio de Laguerre, os demais parâmetros têm os mesmos significados já
mostrados anteriormente. A classificação da ordem desses modos é definida como
N = 2p + |l|, onde l e p devem ser inteiros [1].

Figura 2: Representação pictórica do perfil de intensidade transverso dos modos (a)


Hermite-Gauss e (b) Laguerre-Gauss.

Os polinômios de HG e LG formam bases completas e ortogonais. Sendo assim,


é possível escrever um modo LGlp na base dos modos HGmn (e vice-versa), onde
24

elementos de mesma ordem em uma família se relacionam apenas com elementos


com a mesma ordem da outra família. Tomando como os modos LGlp de primeira
ordem, eles podem ser escritos como uma combinação dos modos HG10 e HG01 ,
como ilustra a Figura 3.

Figura 3: Representação dos modos LG10 (acima) e LG−1


0 (abaixo) como combinação

de modos HG10 e HG01 .

2.4 FEIXES ASTIGMÁTICOS

O astigmatismo consiste em uma deformação de um feixe luminoso em uma dire-


ção transversal ao eixo de propagação, indicando que os raios luminosos apresentam
diferentes pontos focais para cada direção transversal a direção de propagação. Esse
efeito pode ser observado, conforme ilustrado na Figura 4. Na ilustração em ques-
tão, um feixe gaussiano simétrico atravessa uma lente cilíndrica que o deforma,
comprimindo-o ao longo da direção x [14]. Experimentalmente, esse efeito pode ser
causado de forma análoga por uma lente esférica inclinada em relação ao plano de
propagação.

O astigmatismo pode ser descrito na equação de propagação do feixe conside-


rando que a função Q(z) que aparece na solução tentativa 2.26 seja diferente para
as direções x e y conforme o feixe se propaga em z. Assim, a solução tentativa fica
da seguinte forma:
√ √
   
x y
ψ(x, y, z) = ψ0 X 2 Y 2
wx (z) wy (z)
Qx (z)x2 Qy (z)y 2
  
exp −i Z(z) + + . (2.30)
2 2

Realizando cálculos de forma análoga aos feitos em [14] e [17], encontra-se a


25

seguinte expressão para a propagação do feixe:


√ √ √
w0x w0y
   
x y
Em,n (x, y, z) = E0 p Hm 2 Hn 2
wx (z)wy (z) wx (z) wy (z)
    
2 1 ik 2 1 ik
exp −x + −y +
wx2 (z) 2Rx (z) wy2 (z) 2Ry (z)
     
1 1
exp −ikz + i m + ηx (z) + n + ηy (z) (2.31)
2 2

com:
"  2 #
λ(z − zx ou y )
wx2 ou y (z)
= 2
w0x ou y 1+ 2
πw0x ou y n
"
2 2 #
πw0x n

ou y
Rx ou y (z) = z 1 + . (2.32)
λ(z − zx ou y )

As fases de Gouy para as duas direções nessa situação tem a seguinte forma:
 
−1 z − zx
ηx (z) = tan
z
 Rx 
z − zy
ηy (z) = tan−1 (2.33)
zRy

com:
2
πw0x ou y n
zRx ou y = (2.34)
λ

Abaixo temos a Figura 4 que ilustra a situação de um feixe com astigmatismo


produzido por uma lente cilíndrica e a posição dos parâmetros do feixe.

Figura 4: Representação pictórica da propagação longitudinal de um feixe gaussi-


ano com astigmatismo causado por uma lente cilíndrica e representação do perfil
transversal elíptico.
26

2.5 MATRIZ ABCD

O traçado de raios é um método frequentemente utilizado para realizar a descri-


ção do comportamento da luz em sistemas ópticos. Nele, os raios luminosos (vetores
perpendiculares a frente de onda) são descritos por um conjunto de parâmetros que
representam a distância ao eixo óptico (y) e por um ângulo (θ) entre o eixo óptico
e a linha do raio de luz. A luz, através da interação com elementos de sistema
óptico, sofre refrações e reflexões que alteram sua trajetória, que analiticamente são
descritas por meio de alterações nos parâmetros y e θ (Figura 5). O tratamento
analítico desses parâmetros se torna bastante complexo, envolvendo a solução de
diversas equações algébricas, quando o sistema óptico possui muitos elementos. To-
davia, os cálculos podem ser extremamente simplificados se as equações algébricas
forem mapeadas em vetores matriciais e os elementos ópticos em matrizes, dessa
forma a descrição da propagação da luz e formação de imagens pode ser resumir em
um simples produto de matrizes que pode ser efetuado computacionalmente. Esse
mapeamento constitui o que é chamado de óptica matricial [17], esse formalismo
será utilizado na descrição da cavidade bow-tie aqui nesta monografia.

De forma simples e considerando a aproximação paraxial (onde sin θ = tan θ ≈ θ,


para ângulos pequenos em relação ao eixo óptico), a ideia desse formalismo pode
ser vista através da formação de imagens por uma lente convergente e ilustrado na
(Figura 5).

Figura 5: Esquema de traçado de raios da formação de uma imagem a partir de


uma lente convergente.
27

Na Figura 5, o raio luminoso (a) que sai do objeto O e incide na lente, passando
(a) y0 y0
pelo foco f com altura y 0 e com um ângulo θi = tan−1 f
≈ f
, emerge da lente com
(a)
altura y 0 e θe = 0 [13]. Com isso, é possível formar o seguinte sistema de equação
matricial, onde temos uma matriz N que transforma os parâmetros iniciais do feixe
(a):     
0 0
y A B y
 =   (2.35)
0 C D y 0 /f
abrindo a Equação 2.35 caímos no seguinte sistema de equações:

y0
y 0 = Ay 0 + B (2.36a)
f
y0
0 = Cy 0 + D . (2.36b)
f

Agora, analisando o raio b que sai do objeto e incide na lente com uma altura −y
(b) (b)
e um ângulo θi = 0, emerge da lente com altura −y e ângulo θe = tan−1 y
f
≈ fy , é
obtida a seguinte equação matricial:
    
−y A B −y
 =   (2.37)
y/f C D 0

onde é encontrado que:

−y = −Ay (2.38a)
y
= −Cy. (2.38b)
f

Das Equações 2.38a e 2.38b encontra-se A = 1 e C = −1/f , substituindo esses


valores em Equação 2.36a e 2.36b, obtém-se B = 0 e D = 1, então a matriz N
referente a lente, que transforma tanto o raio a quanto o raio b é dada por:
   
A B 1 0
N = = . (2.39)
C D − f1 1

Guiando-se por esse procedimento, é possível determinar uma matriz, com co-
eficientes A,B,C e D para cada elemento óptico e para uma propagação livre ou
por um dielétrico, o que configura o nome deste método como Método da Matriz
ABCD.
28

Operacionalmente, conforme adiantado acima, um sistema óptico composto de


n elementos pode ser tratado como uma única matriz,

Nsis = Nn N(n−1) ...N1 , (2.40)

resultante da multiplicação das matrizes dos vários elementos.

Na Figura 6 são apresentados outros tipos de matrizes ABCD que são de uso
comum para os cálculos deste trabalho, tais como propagação livre (Figura 6a),
reflexão em espelho curvo com incidência normal (Figura 6b) e reflexão com ângulo
de incidência arbitrário em espelho curvo (Figura 6c).

Figura 6: Exemplo de matrizes ABCD de três casos diferentes. a) Livre propagação;


b) Incidência normal em um espelho curvo; c) Incidência com ângulo arbitrário em
um espelho curvo, onde Ref = R cos θ na direção plano de incidência e Ref = R/ cos θ
na direção do plano perpendicular ao plano de incidência.

2.5.1 Aplicação de matrizes ABCD em feixes gaussianos

Na Seção 2.2, quando foi discutido sobre feixes gaussianos aparece um parâmetro
denominado raio de curvatura complexo dado pela Equação 2.24 que descreve ao
mesmo tempo o raio de curvatura (parte real) e a largura do feixe gaussiano (parte
29

imaginária). Para caracterizar o feixe gaussiano basta saber como o R(z) e w(z) se
comportam ao longo dessa propagação [13]. Como também já foi comentado, o feixe
gaussiano é uma onda, logo não segue os princípios da óptica geométrica. Mas como
demonstrado na referência [14], o formalismo de matriz ABCD pode ser aplicado
para descrição da propagação do feixe. Neste caso com feixes gaussianos, a variação
do parâmetro q(z) é dada da seguinte forma:

Aqi + B
qi+1 = , (2.41)
Cqi + D

qi e qi+1 são os parâmetros em planos consecutivos perpendiculares ao eixo óptico e


os parâmetros A,B,C e D são os elementos da matriz resultante da multiplicação das
matrizes dos elementos óptico. O feixe gaussiano evolui no caminho entre o plano
qi e qi+1 de forma que se são conhecidos R e w em qi , e determinados os elementos
da matriz ABCD, é possível encontrar R e w em qi+1 (a parte real do lado direito
da Equação 2.41 é referente a R e a parte imaginária referente a w).

2.6 CAVIDADES ÓPTICAS

Cavidades ópticas são dispositivos geralmente compostos de espelhos e lentes e


destinados ao confinamento e amplificação da intensidade da luz em determinada
região do espaço [13]. Elas constituem dispositivos de fundamental importância na
física do Laser e nas Ópticas Não linear e Quântica. Nessas áreas, normalmente
deseja-se estudar processos da interação da luz com a matéria, onde é investigado
efeitos ópticos perceptíveis apenas quando a luz é muito intensa [18].

Existem diversas configurações de cavidades, das quais três são ilustradas na Fi-
gura 7. Dizemos que elas estão em ressonância quando a luz incidente é inteiramente
transmitida, quando há uma interferência construtiva entre os refletidos dentro da
cavidade [14]. No caso de cavidades lineares, Figuras 7a e 7b, a condição de resso-
nância é satisfeita se o perímetro (distância entre os espelhos) for múltiplo de λ/2.
Cavidades em anel, como a cavidade Bow-tie, ilustrada na Figura 7c, a condição
é satisfeita quando o perímetro é múltiplo inteiro de λ. Essa característica acaba
sendo uma ferramenta usada como filtro de frequências de feixes [13].
30

Figura 7: Exemplo de cavidades ópticas. a) Cavidade linear com dois espelhos


planos; b) Cavidade linear com dois espelhos curvos; c) Cavidade em anel do tipo
Bow-Tie.

2.6.1 Cavidade de Fabry-Pérot

A cavidade de Fabry–Pérot é um exemplo de cavidade linear formada essenci-


almente por dois espelhos planos. Ela pode ser usada como base para análise do
comportamento da intensidade do feixe transmitido por uma cavidade óptica e no
intuito conhecer os parâmetros que interferem na transmissão.

Para essa análise, é considerada uma onda plana com uma amplitude de campo
E0 incidindo no espelho M1 com ângulo θ0 em relação à normal, como mostra a
Figura 8, sofrendo tanto reflexão quanto transmissão.

Figura 8: Esquema simplificado de uma cavidade de Fabry-Pérot composta de dois


semi espelhos planos, M1 e M2 , e um índice de refração n entre os espelhos, onde
uma onda plana incide em um ângulo θ0 sofrendo diversas reflexões e transmissões
nos espelhos.
31

A amplitude total do campo transmitido pela cavidade Et é dada pela soma de


todas as amplitudes transmitidos Ai , assim:

Et = A1 + A2 + A3 + · · · (2.42)

Os espelhos M1 e M2 tem coeficientes de transmissão (t e t0 ) e de reflexão (r e


r0 ) que devem ser contabilizados em cada amplitude conforme o feixe interage com
os espelhos refletindo ou transmitido, dessa forma é possível ver que:

A1 = tt0 E0

A2 = tt0 rr0 eiφ E0

A3 = tt0 (rr0 )2 e2iφ E0 (2.43)

onde φ é a fase adquirida pelo feixe em uma ida e volta no meio cujo índice de
refração é n, então Et pode ser escrito da seguinte forma:

tt0 E0
Et = tt0 E0 (1 + tt0 rr0 eiφ + (rr0 )2 e2iφ + · · · ) = . (2.44)
1 − rr0 eiφ

O cálculo para o campo refletido pode ser feito de forma análoga. A diferença de
fase φ pode ser expressa a partir da diferença de caminho ∆L entre duas reflexões
consecutivas, realizadas pelo feixe dentro da cavidade [13]:

2π(∆L)n
φ= . (2.45)
λ

A diferença de caminho pode ainda ser expressa com base na geometria. Isso pode
ser visto usando a Figura 9 como guia, com isso é possível inferir que ∆L = AB+BC,
onde AB = d cos 2θ
cos θ
e BC = d
cos θ
, dessa forma encontra-se ∆L = 2d cos θ de maneira
que:
4πnd cos θ
φ= . (2.46)
λ
32

Figura 9: Esquema para dedução da diferença de caminho.

A intensidade da amplitude do campo transmitido é dada por It ∝ |Et |2 . De


forma a simplificar a explicação aqui nesse texto, consideramos que os dois espelhos
têm coeficientes de transmissão e reflexão iguais, dessa forma tt0 = T e rr0 = R,
onde T e R são conhecidos como amplitude de transmissão e amplitude de reflexão,
respectivamente. Portanto:

T 2 |E0 |2
It = Et∗ Et = . (2.47)
(1 − Reiφ )(1 − Re−iφ )

Considerando I0 = |E0 |2 e a conservação de energia T + R = 1, a expressão pode


ser reescrita como:
I0
It = φ
, (2.48)
1 + F sin2 2

onde F = 4R/(1−R)2 é conhecido como a constante de finesse. Essa função descreve


a intensidade transmitida pela cavidade que é conhecida como função de Airy. Na
Figura 10 é possível ver a forma dessa função, esses gráficos foram obtidos através
de um simples programa, feito pelo autor desse trabalho, no Wolfram Mathematica.
Quando φ = 2mπ, com m sendo um número inteiro, a função apresenta os picos
de máximo e para φ = (2m + 1)π, com m também sendo um número inteiro ela
apresenta seus pontos de mínimo. Logo, a distância entre dois picos de ressonância
é ∆φ = 2π. Observa-se que para valores diferentes de R, consequentemente de F a
largura dos picos de transmissão também muda na Figura 10.
33

Figura 10: Picos de transmissão para uma cavidade Fabry-Pérot para três valores
de R diferentes.

A função de Airy pode ser escrita em termos da frequência do feixe que interage
com a cavidade. para ver isso basta analisar a Equação 2.46 e usar que λ = c/ν, de
forma que encontra-se:
4πndν cos θ
φ= , (2.49)
c
substituindo a Equação 2.49 teremos a função da intensidade transmitida em função
de ν:
I0
It = 2 2πndν cos θ
. (2.50)
1 + F sin c

Onde a frequência de ressonância ocorre quando o argumento da função sin2 na


Equação 2.50 é mπ. Dessa forma,
mc
νm = . (2.51)
2nd cos θ
Com isso, a distância entre dois picos consecutivos, também conhecida como inter-
valo espectral livre (FSR do inglês free spectral range) será:
c
∆ν ≡ νm+1 − νm = . (2.52)
2nd cos θ

A constante de finesse constitui um fator de qualidade da cavidade óptica, ou


seja, quão estreito é o pico de transmissão. Quanto maior a constante de finesse,
34

maior será o fator de qualidade da cavidade, significando que o pico de transmissão


é mais estreito. Essa constante geralmente é obtida experimental de forma indireta
por meio da grandeza finesse (F ), definida como

∆ν
F = (2.53)
δν

com ∆ν sendo a distância entre os picos (FSR) e δν a largura do pico a meia altura.

De forma a obter a relação entre F e F , consideremos o caso no qual a frequência


corresponde a metade da intensidade do pico, isso ocorre quando:
 
2πndν cos θ
F sin 2
= 1. (2.54)
c

Esse resultado fornece dois valores de frequências vizinhas ao máximo,


 
c 1
ν=± sin −1
√ . (2.55)
2πndν cos θ F
Portanto a largura do pico δν é dada por:
 
c 1
∆ν1/2 = ν+ − ν− = 2 sin−1 √ , (2.56)
2πnd cos θ F
usando a Equação 2.52 a largura a meia altura é reescrita como:
 
2 1
∆ν1/2 = ∆ν sin −1
√ . (2.57)
π F
Por fim, voltando na definição de finesse:

π
F =  . (2.58)
−1 √1
2 sin F

A finesse é obtida experimentalmente de forma direta por meio de um oscilos-


cópio, quando este encontra-se ligado a um fotodector que capta a luz transmitida
pela cavidade.

2.6.2 Cavidades ópticas e feixes gaussianos

Um problema encontrado em cavidades ópticas diz respeito a sua estabilidade,


que está ligada com as perdas experimentadas pela luz em uma volta completa
35

através da cavidade. No caso ideal, de cavidade estável, o feixe sempre retorna ao


mesmo ponto da cavidade com as mesmas condições iniciais. Cavidades formadas
por espelhos planos tendem a ser bastante sensíveis (instáveis), pois sua condição
de estabilidade requer que o feixe seja perfeitamente colimado, que na prática não
ocorre. Além disso qualquer desalinhamento nos espelhos faz com que a luz escape
da cavidade após poucas reflexões. O problema da estabilidade sempre deve receber
atenção no estudo de cavidades, tornando-se mais complicado no estudo de cavidades
mais complexas, geralmente formada por mais de dois espelhos. Todavia, a partir
de agora, veremos um formalismo matemático que leva em conta a propagação dos
feixes gaussianos em sistemas periódicos (como em cavidades ópticas) permitindo
assim, encontrar as condições de estabilidade.

Conforme foi visto acima, em uma cavidade óptica a luz fica confinada sempre
retornando ao seu ponto inicial nas mesmas condições, tendo isso em mente é possível
usar o conteúdo de propagação de feixes gaussianos (Subseção 2.5.1) para calcular
os parâmetros que o feixe deve ter dentro da cavidade, como por exemplo a cintura
(w) que a cavidade comporta. Os parâmetros podem ser obtidos a partir da relação
entre o raio complexo e os elementos da matriz ABCD referente a evolução da luz
na cavidade óptica. Em resumo, em um dado plano c, temos qc , e após uma volta
completa na cavidade, deve-se voltar a encontrar qc , assim:

Aqc + B
qc = (2.59)
Cqc + D

onde A,B,C e D são os termos da matriz resultante da multiplicação das matrizes


referentes ao percurso do feixe saindo do plano, onde se tem o parâmetro qc e vol-
tando a ele depois de percorrer toda a cavidade. Tomando como exemplo o caso de
uma cavidade bow-tie, Figura 11, a seguinte multiplicação de matrizes descreve o
caminho percorrido pelo feixe, definindo o perímetro da cavidade L = l1 + 2l2 + l3 ,
tem-se:
NABCD = N5 N4 N3 N2 N1
36

    
l1
A B 1 2
1 0
⇒ =  
C D 0 1 − R2 1
   
l1
1 L − l1 1 0 1
   2 , (2.60)
0 1 − R2 1 0 1
de maneira que N1 é referente à propagação do ponto qc até o espelho curvo M3 ,
N2 é a matriz referente à reflexão no espelho curvo M3 , N3 é referente à propagação
do feixe saindo de M3 até M4 , passando pelos espelhos M2 e M1 , respectivamente,
a matriz N4 é referente a reflexão no espelho curvo M4 e o caminho é fechado com
a matriz N5 que dá a propgação do espelho curvo M4 até o ponto qc .

Figura 11: Representação pictórica de uma cavidade bow-tie formada por quatro
espelhos.

Resolvendo a Equação 2.59 para 1/qc , encontra-se:


p
1 (D − A) ± (D − A)2 + 4BC
= . (2.61)
qc 2B

Agora usando a propriedade de que a matriz ABCD que descreve o sistema


deve ser unitária (AD − BC = 1) [13, 14, 15] a Equação 2.61 pode ser reescrita da
seguinte forma: q
D+A 2

1 (D − A) 1− 2
= ±i . (2.62)
qc 2B B
e a partir da equação Equação 2.24 é possível ver que:
q 2
(D − A) 1 − D+A2 1 λ
±i = −i 2
2B B Rc πwc n
37

2B
Rc =
D−A

2
|B|1/2

λ
wc =  i1/4 (2.63)
πn
h
D+A 2
1+ 2

Assim, wc é a cintura que se adapta à cavidade e para que ela seja estável ela tem
que ser real, de tal forma que a condição de estabilidade de uma cavidade genérica
é dada por:
D + A
2 ≤1
(2.64)
38

3 DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL

Neste capítulo, será apresentada uma descrição da montagem de uma cavidade


óptica bow-tie que foi montada no Laboratório de Óptica Quantica (LOQ). O pro-
jeto original consistia da montagem da cavidade e na medida experimental do as-
tigmatismo. Entretanto, o projeto caminhou para uma direção mais teórica para
os cálculos da compensação do astigmatismo, será mostrado mais a frente, após
ponderarmos ser um resultado bem promissor e nossa saída para continuidade da
pesquisa no contexto da pandemia. Todo o trabalho de montagem experimental e
modelagem teórica da cavidade bow-tie foi realizado pelo autor desse trabalho.

3.1 ACOPLAMENTO DE UM FEIXE LASER EM UMA CAVIDADE ÓPTICA

Já foi mostrado anteriormente que cavidades ópticas tem uma cintura caracterís-
tica devido a sua geometria e por sua vez o feixe incidente na cavidade também tem
uma cintura característica, dessa forma deve haver um acordo de modo entre esses
dois parâmetros, isso quer dizer que o feixe incidente deve ter o mesmo tamanho de
cintura que a cavidade. Logo é necessário conhecer a cintura aceita pela cavidade
para depois ajustar o do feixe incidente.

Figura 12: Imagem meramente ilustrativa do layout da cavidade bow-tie, formada


por dois semi-espelhos curvos (M3 e M4 ) e dois planos (M1 e M2 ) e um PZT acoplado
ao semi-espelho M2 e cinturas características w1 e w2 .

Através da Figura 12 é possível vislumbrar o fato da cavidade bow-tie possuir


39

duas cinturas características. Para o acordo de modo, só há necessidade de fazer


para uma das cinturas, pois a outra irá ser formada automaticamente na propagação
do feixe dentro da cavidade. O cálculo das cinturas foi feito através da Equação 2.61
com o auxílio de um programa desenvolvido no Wolfram Mathematica, considerando
a mesma propagação descrita pela multiplicação de matrizes da Equação 2.60, para
o cáculo de w2 a multiplicação de matrizes ocorre de forma semelhante, só que
partindo do ponto onde w2 ocorre. Para as contas foram fixados os parâmetros
l2 = 133 mm e l3 = 200 mm e considerando o uso de semi-espelhos curvos, com raio
de curvatura R = 50 mm, a partir disso foi possível simular w1 e w2 em função de
l1 , Figura 13.

Figura 13: Comportamento de w1 (em azul) e w2 (em laranja) em função de l1 .

A partir desses gráficos, foi selecionado l1 = 54 mm que fornece w1 = 15, 48 µm,


w2 = 157, 9 µm e um ângulo de inclinação dos espelhos com a normal de θ = 8, 64◦ .
Tendo esses valores, a melhor escolha para adequar o feixe laser incidente foi w2 ,
pois fornece uma cintura maior e por conta disso facilita na hora de realizar o acordo
de modos.

O passo seguinte é justamente o acordo de modos, onde deve haver uma modifica-
ção da cintura natural do feixe incidente. Mas antes disso deve se ter o conhecimento
do valor desse parâmetro. A medição do valor é feita através de um método cha-
mado coloquialmente de método da faca. De forma simples, esse método consiste no
corte do feixe laser em vários pontos diferentes (ao longo de seu eixo de propagação,
direção z) e da análise de sua intensidade nesses pontos conforme forem ocorrendo
40

os cortes, como mostra a Figura 14. Então é anotado o deslocamento da lâmina na


direção x, entre os pontos onde ocorre 84% da intensidade e 16% da intensidade. O
ponto com distância zero, na direção z, foi escolhido como sendo a saída do aparelho
que emite o feixe laser e dessa forma foram feitos os cortes em intervalos de 5 cm
(podendo ser outro valor dependendo do número de pontos que se deseje analisar).
A partir desse processo é possível gerar um gráfico que relaciona a largura w(z) em
relação a posição z da lâmina. Um ajuste dos pontos do gráfico gerado com a Equa-
ção 2.17, forneceu uma cintura natural de w0 = 82, 4 µm a uma posição z = 9, 89 cm
da saída do aparelho.

Figura 14: a) esquema experimental do método da faca; b) Intensidades medidas no


detector conforme a lâmina corta o feixe. Fonte:[1]

Posteriormente, tendo essas informações, a laboração foi a alteração de w0 =


82, 4 µm para w2 = 157, 9 µm, através do acordo de modos. Essa mudança do
tamanho da cintura e também a posição onde ela ocorre, é feita através da combi-
nação de lentes convergentes, onde a distância focal (f ) de cada lente, a distância
entre elas e w0 são determinados com base no formalismo de matriz ABCD. De tal
modo que usando a matriz resultante do sistema de lentes, as Equações 2.24, 2.41 e
considerando o raio de curvatura complexo qi como sendo na posição onde w0 ocorre
e qi+1 na posição que w2 ocorre, é possível encontrar essas distâncias. A Figura 15
41

ilustra a ideia da montagem desse sistema de lentes.

Figura 15: Esquema ilustrativo de um sistema de lentes com distâncias focais f1 , f2


e f3 para realização do acordo de modos.

As contas para encontrar as distâncias focais e as distâncias das lentes em relação


w0 foram esquematizadas em um programa do Wolfram Mathematica, no qual for-
neceu o uso de uma lente com f1 = 175 mm e outras duas com f2,3 = 200 mm com
distâncias a = 23, 5 cm, b = 48, 6 cm e c = 90, 77 cm, respectivamente, e gerando w2
a uma distância 150 cm de w0 . A Figura 16, mostra o gráfico gerado pelo programa,
indicando a posição das lentes, o comportamento da largura do feixe e onde ocorre
a cintura do feixe, com seu respectivo valor.

Figura 16: Simulação da posição das lentes (em vermelho) para que ocorra o acordo
de modo da cintura do feixe (em amarelo) coincida com a cintura exigida pela
cavidade (em azul) em uma distância de 150 cm de w0 (origem do eixo z).
42

Tendo posicionado as lentes é novamente realizado o método da faca para conferir


os resultados teóricos do programa com a realidade, garantido assim menos erros
experimentais que possam prejudicar na montagem da cavidade.

3.2 MONTAGEM EXPERIMENTAL DA CAVIDADE ÓPTICA BOW-TIE

3.2.1 Aparato Experimental

Para a realização da montagem da cavidade é necessário a combinação de ele-


mentos ópticos e eletrônicos pré cavidade e pós cavidade, a fim de conduzir o feixe
até a cavidade. A Figura 17 ilustra o trajeto do feixe, bem como os elementos ópticos
utilizados na montagem.

Figura 17: Ilustração do esquema experimental, onde é mostrado os principais ele-


mentos usados para montagem da cavidade.

O feixe de bombeio é proveniente de um laser modelo Diablo do fabricante In-


nolight, é um laser de Nd:YAG dobrado em frequência, com uma potência máxima
43

de saída de 500 mW , esse modelo produz feixes de luz verde (532 nm) com perfil
transversal gaussiano. Depois de deixar o Diablo o feixe passa por uma combina-
ção elementos ópticos, uma lâmina de meia onda (λ/2) e um divisor de feixe por
polarização (com a sigla PBS do inglês), que juntos tem como função o controle da
intensidade do feixe incidente.

Em seguida o feixe atravessa o conjunto de três lentes convergentes (L1 , L2 e


L3 ), produzidas pelo fabricante, responsáveis pelo acordo de modo. Essas lentes
estão presas, cada uma, em um transladadores XY Z para um melhor ajuste de suas
posições. Em seguida o feixe é desviado por dois espelhos planos (E1 e E2 ) para ser
direcionado a cavidade e por seguinte mais dois espelhos planos para o auxílio do
alinhamento da cavidade.

Para a realização da montagem da cavidade bow-tie foi utilizado quatro semi-


espelhos, sendo dois HR (alta reflectância do inglês high reflection) côncavos com raio
de curvatura R = 50 mm e dois planos com T 1% (transmissão de 1%), todos os semi-
espelhos da cavidade foram fixados com suportes Polaris de 1/200 (meia polegada)
produzidos pela Thorlabs, que garantem uma estabilidade mecânica melhor do que
suportes convencionais, no espelho M2 foi acoplado um PZT (a sigla é referente a sua
fórmula química P b[Zr(x) T i(1−x) ]O3 [19]) que consiste de uma cerâmica piezoelétrica,
que tem como característica a contração e a dilatação quando nela é aplicada uma
voltagem. Sua função é dar pequenas alterações na posição do espelho ao longo
do tempo, no qual está colado, permitindo a sintonia da cavidade. Para aplicar a
voltagem no PZT foi usado um gerador de funções, que produzindo uma voltagem
de 2 V com uma frequência de 4 Hz, juntamente com um amplificador.

Após o feixe sair pelo espelho M4 ele passa por um divisor de feixe (com a sigla
BS do inglês), o qual divide o feixe em dois, cada um com metade da intensidade
que o feixe tinha quando saiu da cavidade, um desses feixes vai para um detector
que envia o sinal para um osciloscópio, onde é possível observar as curvas dos picos
de transmissão da cavidade, e o outro feixe vai em direção a uma câmera para poder
ser feita a filmagem do feixe transmitido. Abaixo é apresentada uma ilustração da
montagem experimental e das posições dos aparatos usados.
44

3.2.2 Construção da Cavidade

A construção da cavidade é uma parte bem delicada, pois como esta possui
quatro espelhos, logo uma grande quantidade de graus de liberdade. Com isso, a
montagem se mostrou bem trabalhosa no quesito alinhamento, o caminho tomado
para o posicionamento e alinhamento dos espelhos da cavidade foi inspirado no
encontrado em [20].

Figura 18: Representação do alinhamento de M1 e M4

O primeiro semi-espelho a ser colocado foi o M1 e em seguida o M4 , com isso foi


colocado um espelho plano com a face refletora virada para o M1 de forma a refletir
o feixe sobre ele mesmo como mostra a Figura 18 e com isso alinhar a angulação
dos espelhos, que é o mesma para todos. Em seguida é colocado o espelho M3 ,
aliando-o, a fim de que o feixe seja refletido por ele com a inclinação certa, para
conferir isso, é colocado um espelho plano com a face refletora virada para o M3 ,
com o intuito de fazer o mesmo teste realizado anteriormente. Por fim é colocado
o espelho M2 , justando sua inclinação, inicialmente, de forma bruta para garantir
que o feixe percorra o caminho da cavidade sobre ele mesmo. Sempre se deve tomar
cuidado para que não haja variação na altura do feixe, mantendo-o sempre paralelo
a mesa óptica e garantindo que os braços l1 e l3 estejam paralelos entre si. Na
Figura 19 é possível ver a cavidade montada em laboratório.
45

Figura 19: Montagem experimental da cavidade bow-tie. Os suportes dos espe-


lhos curvos estão montados sobre transladadores XY , com o intuito de facilitar a
movimentação dos espelhos para alinhamento.

Após a colocação e o alinhamento bruto dos espelhos, foram necessárias várias


horas de um alinhamento fino para que a cavidade ficasse o mais próximo da res-
sonância. A verificação se a cavidade está bem alinhada e consequentemente em
ressonância é através do osciloscópio, no qual é possível ver os picos de ressonância
de transmissão da cavidade, que nada mais é que a transmissão de maior intensi-
dade do modo fundamental (já que a cavidade foi bombeada com feixe no modo
fundamental), que já foi discutido na Subseção 2.6.2. A cavidade quando não está
devidamente alinhada é possível ver picos secundários no osciloscópio, que represen-
tam modos de ordem superior sendo transmitidos pela cavidade.

3.3 RESULTADOS

Os resultados experimentais obtidos com o alinhamento da cavidade foram ob-


tidos com o auxílio de um detector ligado a um osciloscópio e uma câmera CCD.
46

Na Figura 20 é possível observar, em duas escalas diferentes, os picos de ressonân-


cia (ch2 em azul) transmitidos pela cavidade e o sinal de rampa (ch1 em amarelo)
enviado para o PZT para seu funcionamento. Na escala maior, é possível notar a
presença de pequenos picos secundários, mas eles representam menos de 10% do pico
principal, dessa forma iremos desprezá-los.

Figura 20: Picos de ressonância (em azul) e sinal de rampa enviado para o PZT (em
amarelo).

Com a câmera CCD foi possível filmar os feixes gaussianos transmitidos e a partir
desse filme coletar imagens dos momentos em que a cavidade entrou em ressonância
e teve a máxima intensidade transmitida e com o auxílio do programa ImageJ, que
foi possível produzir gráficos desses picos, através da análise da intensidade de luz
capturada pela câmera por pixel da imagem produzida, a seguir, na Figura 21, é
possível ver as imagens colhidas da filmagem de três momentos diferentes, onde
houve a ressonância da cavidade:
47

Figura 21: Imagens retiradas da filmagem do feixe transmitido pela cavidade.

É perceptível pela imagem que a intensidade da luz capturada é mais intensa no


meio do feixe e menos intenso nas extremidades, foi levando isso em consideração
que o ImageJ foi capaz de reproduzir gráficos desses pontos (Figuras 22 e 23), dessa
forma foi possível constatar que essas imagens foram de feixes gaussianos, já que os
gráficos da intensidade apresentaram um comportamento gaussiano, mostrando que
houve o alinhamento da cavidade e o acoplamento do laser a mesma por um certo
tempo. Outro fator que é possível de se visualizar na Figura 23 é a deformação
da seção transversal do feixe, não apresentando um comportamento circular, mas
sim elíptico, causado pelo astigmatismo da cavidade bow-tie, assunto esse que será
discutido no próximo capítulo.

Figura 22: Gráficos em 2D referentes aos três pontos mencionados onde pode-se
comparar suas intensidades em escala de cinza, obtido utilizando o programa ImageJ.
48

Figura 23: Gráficos em 3D referentes aos três pontos mencionados, onde é possível
ver o comportamento gaussiano da intensidade dos feixes. As escalas dos gráficos
não têm relevância, nesse caso, uma vez que a intenção da produção desses gráficos
era a inspeção do comportamento da intensidade do feixe nas imagens capturadas.

Outra análise foi feita através dos pontos fornecidos pelo osciloscópio dos picos
de transmissão da cavidade, mostrados na Figura 20. A quantidade de pontos forne-
cidos pelo osciloscópio era extremamente grande, de tal modo que essa quantidade
teve que ser reduzida computacionalmente, mas sem fazer com que perdesse a fi-
delidade a imagem, dessa forma foi possível plotar um gráfico (Figura 24) com os
pontos fornecidos e dessa forma fazer o ajuste de uma linha de tendência usando a
função de Airy.

Figura 24: Curva da função de Airy (em vermelho) ajustada aos dados experimentais
(em preto).
49

A partir do ajuste dos pontos do gráfico com a função de Airy, foi encontrado
um coeficiente de finesse F = 202, 2, caracterizando picos bem estreitos, como pode
ser observado na Figura 24, dessa forma a cavidade tem uma boa eficiência, de tal
modo que a cavidade não tem perdas intracavidade tão relevantes, mesmo com a
presença de pequenos picos secundários.
50

4 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

4.1 MOTIVAÇÃO: GERAÇÃO DE FEIXES COM MAO NO OPO

Com base nas discussões feitas anteriormente, referente às propriedades dos feixes
gaussianos e sua evolução em sistemas ópticos, daremos prosseguimento ao assunto
do trabalho dessa monografia, geração de feixes laser com MAO usando um OPO.

O OPO é um dispositivo resultante da combinação de uma cavidade óptica e


um meio com polarizabilidade não linear (um cristal, por exemplo). Quando há a
incidência de um feixe suficientemente intenso de bombeamento com frequência ωb
no OPO, ocorre uma interação não linear de segunda ordem na região delimitada
pelo cristal, resultando na geração de outros dois feixes denominados de sinal e com-
plementar com frequências menores, dadas respectivamente por ωs e ωi , de tal forma
que wb = ωs + ωi . Na visão quântica, esta relação expressa a conservação de energia
no processo, indicando que um fóton do feixe de bombeio é aniquilado e convertido
em outros dois fótons nos campos de sinal e complementar, processo esse conhecido
como Conversão Paramétrica Descendente (CPD). Relações de conservação do mo-
mento linear também podem ser verificadas no processo não linear, as quais, devido
à anisotropia do cristal utilizado, basicamente resultam em conversões com os fótons
na mesma polarização (tipo-I), ou em polarizações ortogonais (tipo-II). Tais fótons
convertidos guardam correlações do tipo EPR (Einstein-Poldoski-Rosen) entre as
quadraturas de seus campos, o que desperta o interesse para aplicações em proto-
colos de informação quântica em variáveis contínuas [21]. Abaixo, na Figura 25, é
apresentado um esquema de OPO.
51

Figura 25: Exemplo de OPO formado por uma cavidade linear composta por dois
semi-espelhos e um cristal não linear. Na figura, é retratado um feixe laser verde
de bombeio com comprimento de onda 532 nm sendo convertido em dois feixes
infravermelhos, com comprimento de onda 1064 nm, através da CPD.

Como foi mencionado acima esse trabalho de monografia está incluído em uma
linha de pesquisa que envolve a produção de feixes com MAO em OPO’s que está
presente na área de Informação Quântica. Existe diversos trabalhos recentes rela-
cionados ao tema e, em especial, do grupo de pesquisa do LOQ-UFF, por exemplo
[7, 22]. Trabalhos teóricos e experimentais que seguem no caminho das experiências
aqui realizadas.

A ideia do tema dessa monografia decorreu de um trabalho realizado no LOQ-


UFF em 2018 [22]. Nesse trabalho foi apresentado a construção de um OPO, para
a produção de feixes convertidos (sinal e complementar) com MAO. Entretanto,
por conta do astigmatismo advindo do cristal não linear, o experimento foi deveras
complicado. Nesta dificuldade que surgiu a ideia de se investigar com mais detalhes
maneiras de se produzir OPO’s que não fossem tão sensíveis ao astigmatismo dos
cristais não lineares.

Com base em uma antiga referência do grupo de pesquisa [10], foi observado
que o astigmatismo do cristal dificultava as componentes HG01 e HG10 do modo
LG±1
0 com MAO oscilarem simultaneamente. Em cavidades ópticas não lineares,
nas quais o trajeto do laser não pertence a uma linha reta, consequente incidindo
52

obliquamente nos espelhos curvos que a compõe, faz com que o feixe fique astig-
mático, já que cada direção enxerga um raio de curvatura diferente para o espelho
curvo (Figura 6c). Tendo isso em mente, nossa ideia partiu do princípio de que se-
ria possível compensar o astigmatismo introduzido pelo cristal com o astigmatismo
intrínseco de uma cavidade não linear.

Esse projeto começou a se materializar partindo da análise de uma cavidade


óptica em anel do tipo bow-tie, mostrada na Figura 26, cujo o astigmatismo advém
da incidência oblíqua nos espelhos curvos que a compõe.

Figura 26: Representação da cavidade óptica em anel do tipo bow-tie composta


por dois semi-espelhos planos e dois semi-espelhos curvos e comprimento total L =
l1 + 2l2 + l3 .

4.2 ASTIGMATISMO E CONDIÇÕES DE RESSONÂNCIA NA CAVIDADE BOW-


TIE

De forma a realizar o estudo do astigmatismo da cavidade bow-tie, realizamos


sua modelagem a fim de determinar suas cinturas, de acordo com os parâmetros
geométricos como o perímetro e raios de curvatura dos espelhos.

Os parâmetros geométricos l1 , l2 , l3 e R estão relacionados entre si e a cintura


da cavidade, a partir da Equação 2.63 e, consequentemente, por meio dos elementos
da matriz ABCD resultante da propagação do feixe na cavidade.

O astigmatismo na cavidade bow-tie está ilustrado na Figura 26. Observe que em


um feixe astigmático, tem-se wx 6= wy , o que torna o perfil de intensidade achatado
53

(oval).

4.2.1 Simulação das cinturas da cavidade bow-tie levando em conta o


astigmatismo

Nesta subseção apresenta-se o cálculo da matriz resultante para a cavidade bow-


tie usando o mesmo raciocínio que foi usado na Subseção 2.6.2. Tomando o ponto
onde w1 ocorre como referência e ponto de partida, observa-se que o feixe percorre
uma distância l1 /2, depois sofre uma reflexão no semi-espelho curvo, logo depois
realiza uma propagação de L−l1 (com L = l1 +2l2 +l3 ) onde passa pelos semi-espelhos
planos, que tem como sua única função mudar a direção de propagação do feixe,
depois sofre outra reflexão no semi-espelho curvo e por último percorre novamente
uma distância l1 /2 completando uma volta. A multiplicação de matrizes ABCD
mantém-se a mesma mostrada na Equação 2.60, no entanto para o astigmatismo ser
levado em conta nessa análise é preciso substituir as matrizes referentes a reflexão
no espelho curvo, pelas matrizes
 
1 0
 , (4.1)
2
− R cos θ
1
quando é considerada a direção x, ou por
 
1 0
 , (4.2)
2
− R/ cos θ 1

para a direção y [16].

Um raciocínio análogo pode ser usado para encontrar a matriz resultante para o
w2 . A cavidade bow-tie apresenta pelo menos três graus de liberdade, dois ligados
aos comprimentos L, l1 e um ao ângulo θ entre o feixe laser e a normal do semi-
espelho curvo, de forma que é necessário fixar pelo menos dois desses parâmetros
e analisar o comportamento da cintura em função do parâmetro livre. Tendo as
matrizes resultantes e definindo a priori os parâmetros L e l1 é possível simular w1 e
w2 e analisar o efeito do astigmatismo da cavidade representada aqui pela variável
θ, o que pode ser visto na Figura 27, gerada por um programa desenvolvido pelo
autor desse trabalho.
54

Figura 27: Simulação do comportamento de w1x e w1y em função de θ para uma


cavidade bow-tie com L = 524, 8 mm e l1 = 53, 8 mm.

Nota-se que para θ = 0◦ as cinturas para as duas direções são iguais, não havendo
a presença do astigmatismo. Conforme, θ aumenta o efeito se torna cada vez mais
visível.

4.2.2 Ressonâncias na cavidade

A condição de ressonância está ligada ao fato do feixe gausssiano realizar uma


volta completa (ao longo de um perímetro L) dentro da cavidade, de forma que
adquire uma fase de 2π [14], condição esta que está ligada à interferência cons-
trutiva entre sucessivas passagens na cavidade de forma que ocorra uma oscilação
autossustentável do campo intracavidade. Dessa forma a condição é dada por:

δ(L) − δ(0) = q2π (4.3)

onde q é um número inteiro e representa a ordem longitudinal da ressonância. Com


isso partindo das Equações 2.31 e 2.33, referente a um feixe astigmático, é possível
verificar que a fase longitudinal na cavidade bow-tie, é dada por:
       
1 z − zx 1 z − zy
δmn = kz − m + tan−1
+ n+ tan−1
(4.4)
2 zRx 2 zRy
onde o primeiro termo é referente a fase de onda plana e o segundo, a fase de Gouy.
Considerando a evolução de um feixe dentro de uma cavidade os termos z−zx e z−zy
55

são equivalentes a distância da cintura até o espelho curvo. Para o caso da cavidade
bow-tie, que como já visto, tem duas cinturas, teremos um termo referente a fase
de Gouy para cada cintura: um referente a distância da cintura w1 até o espelho
curvo e o outro referente a distância da cintura w2 até o espelho curvo. A condição
de ressonância para fase δ acumulada em uma volta na cavidade começando de w1
é dada por:
     
1 −1 l1 /2 −1 (L − l1 )/2
kL − 2 m + tan + tan −
2 zR1x zR2x
     
1 l1 /2 (L − l1 )/2
2 n+ tan−1
+ tan −1
= 2qπ, (4.5)
2 zR1y zR2y
onde o fator 2 vem do fato dos espelhos da cavidade serem simetricamente localizados
em relação a cintura do feixe dentro da cavidade. Os termos da fase de Gouy, de cada
direção, podem ser simplificados [23], de tal maneira que a Equação 4.5 é reescrita
da seguinte forma:
       
1 zR1x 1 zR1y
kL − 2 m + tan−1
−2 n+ tan−1
= 2qπ, (4.6)
2 f x − dx 2 f y − dy
onde dx,y são iguais a l1 /2 e os parâmetros fx e fy vem do astigmatismo da cavidade
e são dados por:
R cos θ
fx = (4.7a)
2
R
fx = , (4.7b)
2 cos θ
sendo R o raio de curvatura dos espelhos curvos e θ o ângulo entre o feixe o espelho
curvo, mostrado na Figura 26.

Usando-se a definição do vetor de onda k = 2πn0 ν/c e isolando ν, encontra-se


que:
qc c
νq(m,n) = + (Φmn ), (4.8)
n0 L 2πn0 L
onde:
       
1 zR1x 1 zR1y
Φmn =2 m+ tan−1
+2 n+ tan−1
. (4.9)
2 fx − dx 2 fy − dy
Usando a definição de FSR (Equação 2.52) para uma cavidade em anel encontra-se
que:
∆νF SR
νq(m,n) = q∆νF SR + (Φmn ). (4.10)

56

Essa equação fornece as frequências de ressonância para os modos transmitidos


pela cavidade bow-tie, nota-se que para o modo gaussiano (m = 0 e n = 0) é
(0,0)
encontrado que νq = q∆νF SR +(∆νF SR /π)Φ00 . Tomando-se a diferença entre dois
modos gaussianos de ordens longitudinais consecutivas transmitidos pela cavidade,
é possível ver que:
(0,0)
νq+1 − νq(0,0) = ∆ν = ∆νF SR . (4.11)

Isso significa que a distância entre dois modos consecutivos de mesma ordem é igual
ao FSR que é a distância entre dois picos de transmissão (de mesma ordem) de uma
cavidade óptica, como foi mostrado em Subseção 2.6.1.

Uma peculiaridade surge considerando modos de ordem superior: dois modos de


mesma ordem podem ter frequências de ressonância diferentes. Em particular, para
modos de ordem N = 1 onde é possível ter m = 1 e n = 0 ou m = 0 e n = 1,
verifica-se que a diferença de frequência entre os modos HG10 e HG01 para uma
mesma ordem longitudinal q,
    
∆νF SR zR1x zR1y
νq(1,0) − νq(0,1) = tan−1
− tan−1
(4.12)
π f x − dx f y − dy

não é nula, implicando em frequências de ressonâncias deslocadas para os modos de


primeira ordem.

Observa-se que, caso os valores de zR fossem iguais, como no caso de uma ca-
vidade linear, essa diferença de frequência de ressonância seria zero. Dessa forma,
é notório que o efeito do astigmatismo se faz presente através do termo referente a
fase Gouy. Na Figura 28, é apresentada uma simulação de um espectro, calculado
em programa desenvolvido pelo autor desse trabalho no software Wolfram Mathe-
matica, representando as frequências de ressonância dos modos de ordem zero HG00
e dos modos HG10 e HG01 .
57

Figura 28: Simulação do comportamento das posições das frequências de ressonância


de uma cavidade óptica vazia com um feixe astigmático.

É possível observar que distância entre os picos HG10 e HG01 estão relacionados
com o astigmatismo da cavidade. Configura-se dessa forma a proposta a ser ana-
lisada da utilização deste astigmatismo intrínseco à cavidade na compensação do
astigmatismo do cristal não linear.

4.3 COMPENSAÇÃO DO ASTIGMATISMO PROVENIENTE DO CRISTAL COM


O USO DA CAVIDADE BOW-TIE

O OPO produz um par de feixes convertidos através da CPD. No nosso estudo


foi considerado um OPO tipo-II que produz feixes convertidos com polarizações or-
togonais entre si (Figura 25). O cristal não linear possui índice de refração diferente
para cada direção de polarização, de forma que os feixes convertidos acabam expe-
rimentando diferentes índices de refração ao atravessarem o cristal, daí que vem o
astigmatismo causado pelos cristais não lineares [10].

O problema causado por esse efeito se torna bem drástico quando se tem a
intenção de usar um OPO para produzir feixes convertidos com MAO’s opostos
como por exemplo a situação em que o sinal seja LG+1 e o complementar seja
58

LG−1 . No exemplo em questão a situação da oscilação simultânea dos feixes LG+1


e LG−1 implicaria também na oscilação simultânea de HG10 e HG01 para o sinal e
para o complementar, efeito esse estudado que acabou sofrendo dificuldades em ser
realizado, por conta do astigmatismo, em um trabalho anterior do grupo. [22].

No entanto, no nosso trabalho aqui, conforme foi adiantado, vislumbramos a


utilização de cavidades ópticas em anéis (que causam astigmatismo por natureza) de
forma a compensar o astigmatismo inerente de cristais e consequentemente produzir
ambos os feixes convertidos com MAO’s opostos.

No final da última seção chegou-se à conclusão que o termo da fase que contribuía
para a separação dos modos de primeira ordem (causado pelo astigmatismo) foi a fase
de Gouy. Dessa forma, temos como objetivo procurar uma configuração da cavidade
junto com o cristal, de forma que a diferença entre fases de Gouy acumuladas de
modos de mesma ordem seja zero, tanto para a polarização ordinária, quanto para
a extraordinária e com isso obter ambas as polarizações oscilando simultaneamente
com MAO. Vamos aqui nos ater aos modos de primeira ordem. Os feixes de modo
LGlp de primeira ordem podem ser decompostos na soma de dois feixes HGmn de
primeira ordem, como já foi mencionado, por conta disso o astigmatismo interfere
na transmissão do MAO.

O aparato vislumbrado consiste em um OPO com dois cristais rodados de 90◦


entre si, conforme mostrado na Figura 29. Enquanto um cristal afeta mais uma
polarização do que a outra o segundo cristal faz o contraio, de forma que uma
polarização não sofra mais o efeito do cristal do que a outra, de tal maneira que
o astigmatismo possa ser compensado simultaneamente pela cavidade ótica. Com
a inserção dos cristais, o feixe que se propaga na cavidade não irá mais percorrer
efetivamente os caminhos l1 e L, mas sim caminhos ópticos de difração com valores
diferentes. Sendo assim, é possível fazer alusão à cavidade com dois cristais como
sendo equivalente a uma cavidade com parâmetros iguais a esses caminhos ópticos
(Figura 29) que ocorrem justamente por conta dos cristais [10]. Denominando-se
59

l1 /2 = d0 , os caminhos ópticos equivalentes podem ser calculados da seguinte forma:

Lox = L − lc2 (1 − 1/ny )

Loy = L − lc2 (1 − ny /n2 ) (4.13)

Ley = L − lc2 (1 − n/n2x )

Lex = L − lc2 [1 − (sin2 φ + n2x /n2z cos2 φ)/(n2x /n)]

lc2
dox = d0 − (1 − 1/ny )
2
lc2
doy = d0 − (1 − ny /n2 ), (4.14)
2
lc2
dey = d0 − (1 − n/n2x )
2
lc2
dex = d0 − [1 − (sin2 φ + n2x /n2z cos2 φ)/(n2x /n)]
2

onde nx , ny e nz são os índices de refração do cristal referente a cada direção, os


índices e e o são referentes as polarizações extraordinária e ordinária dos feixes
convertidos pela CPD que ocorre no cristal do OPO e φ é o ângulo de corte do
cristal que é encomendado junto ao fabricante, tabelado para diferentes regimes de
operação em frequência do OPO. No caso do cristal KTP bombeado a 532 nm esse
ângulo vale 23, 5◦ para uma operação próxima à degenerescência em frequência dos
feixes convertidos.
60

Figura 29: A esquerda, representação da cavidade bow-tie com dois cristais, um em


cada cintura, onde d0 = l1
2
e LB = L−2d0 . A direita, representação da cavidade bow-
tie equivalente considerando os caminhos ópticos de difração, onde LA = Lix,y − 2d0
e i = (e, o).

A fase de Gouy acumulada em uma volta completa na cavidade a partir de w1 ,


levando em conta que a cavidade tem um comprimento fixo e uma dada frequência
de operação tanto para o sinal quanto para o complementar, pode ser reescrita da
seguinte forma [23]:
 i  i
zRy
     
1 zRx 1
i
Φmn = 2 m + tan−1
+2 n+ tan−1
(4.15)
2 fx − dix 2 fy − diy

onde i = (o, e) é referente as polarizações ordinária e extraordinária. A distância


de Rayleigh, zR , para cada direção e polarização pode ser obtida através de contas
semelhantes as feitas em [23] e encontra-se que:

(dex,y − fx,y )fx,y


2
e
(zRx,y )2 = o − (dex,y − fx,y )2 (4.16)
Lx,y /2 − d0 − fx,y

(dox,y − fx,y )fx,y


2
o
(zRx,y )2 = e − (dox,y − fx,y )2 (4.17)
Lx,y /2 − d0 − fx,y

É de interesse a diferença entre a fase de Gouy acumulada para as duas polari-


61

zações e modos de mesma ordem consecutivos, encontrando:


 i  i
zRy
 
i i i −1 zRx −1
∆Φ = Φ10 − Φ01 = 2 tan − 2 tan
fx − dix fy − diy
 zi i
zRy

Rx
fx −dxi − i
fy −dy
= 2 tan−1  i zi
zRx
 (4.18)
Ry
1 + (fx −di )(fy −di )
x y

e por conseguinte analisar a melhor configuração possível (L, d0 e θ) para que tanto
∆Φe quanto ∆Φo sejam (aproximadamente) nulos, indicando a condição de resso-
nância simultânea desejada.

Considerando ∆Φi para as duas polarizações, onde foi levado em consideração


uma cavidade bow-tie com L = 405 mm, d0 = 55 mm, 88 mm, 84 mm e considerando
dois cristais com comprimentos lc1 = 5 mm e lc2 = 10 mm, com índices de refração
nx = 1, 7479, ny = 1, 8296, nz = 1, 7404 e n = 1, 7467 para um comprimento de onda
de 1064 nm (já que os feixes convertidos tem esse comprimento de onda), é possível
encontrar o comportamento de ∆Φi em função de θ como mostra a Figura 30 abaixo.

Figura 30: Simulação do comportamento de |∆Φe | e |∆Φo | em função de θ com


L = 405 mm, lc1 = 5 mm, lc2 = 10 mm e com d0 = 55 mm em (a), com d0 = 88 mm
em (b) e com d0 = 84 mm em (c).

Nota-se que na Figura 30a e na Figura 30b as diferenças de fase ∆Φe e ∆Φo
não vão a zero simultaneamente, logo as geometrias de cavidade nesses casos não
62

são de interesse para compensação do astigmatismo, mostrando que não é qualquer


configuração de cavidade que se mostra útil para o objetivo principal desse trabalho.
Para o caso da Figura 30c, tanto ∆Φe quanto ∆Φo vão a zero simultaneamente por
volta de θ = 1, 7◦ para o caso em que d0 = 84 mm, logo teoricamente uma cavidade
com as características descritas anteriormente e com esse ângulo seria capaz de
corrigir o astigmatismo dos feixes convertidos e com isso ter a oscilação simultânea
dos mesmo com MAO. Esse resultado é bastante animador, por mostrar ser possível
teoricamente a construção de OPO’s com o anulamento do efeito do astigmatismo.
Esse tratamento do astigmatismo da forma que foi apresentado nesse trabalho não é
encontrado na literatura e é cabível de fazer parte de uma publicação mais completa
envolvendo outros tipos de arquiteturas de cavidade que estão sendo trabalhadas da
mesma forma para a compensação do astigmatismo.
63

5 CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS

Esse trabalho apresentou o estudo do astigmatismo e montagem de uma cavidade


óptica do tipo bow-tie com o intuito de usar o astigmatismo proveniente da cavidade
para compensar o produzido pelo cristal, para uma futura montagem de um OPO
capaz de produzir feixes gêmeos com MAO.

Foram feitas contas com o intuito de conhecer os parâmetros da cavidade, como


suas cinturas ω1 e ω2 e sua geometria a fim de que houvesse o casamento de modos
entre o feixe de bombeio e a cavidade, de forma que fosse possível sua montagem e
estudo. A cavidade montada em laboratório tem um comprimento total L = 520 mm
e cinturas ω1 = 15, 48 µm e ω2 = 157, 9 µm, apresentando um coeficiente de finesse
F = 202, 2. Foi também apresentado os aparatos experimentais utilizados para sua
montagem, estabilidade e análise.

Seguindo pelo lado teórico foi realizada a modelagem do astigmatismo adquirido


por um laser propagando pela da cavidade bow-tie juntamente com a propagação
no meio não linear de dois cristais girados de 90◦ entre si, com o eixo de propagação
do feixe como sendo o eixo de rotação, todos compondo OPO (cavidade + os dois
cristais). Dessa forma foi possível a verificação da possibilidade do anulamento
do astigmatismo, com ∆Φe e ∆Φo indo a zero simultaneamente, considerando uma
cavidade com L = 405 mm, dois cristais do tipo KTP com comprimentos lc1 = 5 mm
e lc2 = 10 mm e um ângulo de inclinação dos espelhos curvos com a normal de
θ = 1, 7◦ .

Esse resultado sugere então, a possibilidade da construção de um OPO capaz de


transferir MAO do feixe de bombeio para os feixes convertidos, sinal e complementar,
capazes de oscilar simultaneamente MAO opostos. A partir desse estudo novos
caminhos foram abertos com o intuito de avaliar outras cavidades astigmáticas e
dessa forma sistematizar o processo de compensação de astigmatismo em OPO’s.
64

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