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Análise Física de Anomalias e Defeitos em

Razão de Recalques Diferenciais em SVVIE.

Micael Manassés Cardoso


Raíssa Gallo

Araçatuba – SP
2023
Análise Física de Anomalias e Defeitos em
Razão de Recalques Diferenciais em SVVIE.

Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Civil


Orientador: Prof. Dr. André Luís Gamino
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
UniSALESIANO - Araçatuba

Araçatuba – SP
2023
GAMINO, André Luís – 1978

Análise Física de Anomalias e Defeitos em Razão de Recalques


Diferenciais em SVVIE.

72 páginas – Trabalho de Conclusão de Curso

UniSALESIANO – Centro Universitário Católico Auxilium

1.SVVIE; 2.patologias; 3.vistoria predial; 4.recalque diferencial;


5.agentes de degradação; 6.desempenho em serviço.
Análise Física de Anomalias e Defeitos em Razão de Recalques
Diferenciais em SVVIE.

Acadêmicos(as):Micael Manassés Cardoso


Raíssa Gallo

Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Civil


Orientador: Prof. Dr. André Luís Gamino
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
UniSALESIANO – Araçatuba

____________________________________________
Prof. Dr. André Luís Gamino
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSALESIANO
Data:
AGRADECIMENTOS

Aos nossos queridos familiares,

É com profundo apreço e gratidão que foi expressado nossa sincera admiração
por vossa incansável dedicação e apoio ao longo desta jornada acadêmica. Vossas
palavras de encorajamento, compreensão e amor incondicional nos sustentaram durante
os desafios e triunfos que foi enfrentado na realização deste trabalho. Vossas
contribuições para nosso desenvolvimento não podem ser subestimadas, e está sendo
eternamente agradecidos por vossa presença constante em nossas vidas.

Aos nossos estimados colegas de classe,

Compartilhar este período de estudos e crescimento intelectual com cada um de


vocês foi uma verdadeira honra. É sabido que nossa amizade e colaboração transcenderão
os limites acadêmicos, tornando-se alicerces para futuras parcerias profissionais. Juntos,
foi enfrentado desafios e celebramos conquistas, e está sendo confiantes de que, no mundo
do trabalho, será continuado a prosperar juntos, enriquecendo nossas vidas e a sociedade
como um todo.

À respeitada instituição de ensino,

Manifesta-se gratidão profundamente à nossa instituição por proporcionar um


ambiente de aprendizado estimulante, recursos excepcionais e um corpo docente
dedicado que nos guiou em nossa busca pelo conhecimento. Os valores, princípios e
habilidades adquiridos aqui serão a base de nosso sucesso futuro, e está sendo orgulhosos
de ser parte desta comunidade educacional.
Ao nosso distinto orientador,
Foi expressado nossa mais sincera gratidão ao nosso orientador por sua
orientação perspicaz, expertise e inestimável apoio ao longo de todo o processo de
pesquisa e elaboração deste trabalho. Suas valiosas contribuições intelectuais e mentorias
críticas foram fundamentais para o sucesso deste projeto. Está sendo honrados por ter tido
a oportunidade de aprender com alguém tão dedicado e inspirador.

Ao Programa Universidade para Todos ( PROUNI),


Manifesta-se gratidão por ter concedido a bolsa de estudos a qual a Raíssa foi
beneficiada durante todo o ensino na universidade, o programa torna o ensino superior
acessível a todos e investe no potencial de acadêmicos de modo a tornar trabalhos como
este possíveis.

Em suma, a todos que contribuíram de maneira significativa para a conclusão


deste trabalho, nosso reconhecimento é profundo e eterno. Nossa jornada acadêmica e
pessoal foi enriquecida por vossas presenças, e foi esperado honrar essas influências ao
embarcar em nossas futuras empreitadas profissionais.

Com a mais sincera gratidão,

Micael e Raíssa.
RESUMO
Ainda que fosse notória a ascensão tecnológica dos materiais e mão de obra na
área da construção civil, foi possível constatar uma elevada incidência de patologias e,
para esse estudo em especial, focou-se em SVVIE. Uma vez que houve desmazelo em
relação às possíveis anomalias explicitadas, foi inevitável lidar com suas consequências.
Em uma edificação, fez-se necessário acompanhar defeitos que puderam ser apresentados
no decorrer do tempo, intentando a identificação e caracterização dos mesmos a fim de
descontinuá-los, apontando procedimentos adequados de recuperação para cada tipo de
situação. Pretendeu-se, com este trabalho, analisar anomalias e defeitos no SVVIE de uma
edificação unifamiliar padrão R8-N (NBR 12721), baseando-se nas premissas de vistoria
e análise sensorial da NBR 16747 e, complementarmente, nos conceitos técnicos da NBR
15575-4 em razão da aferição da não conformidade nas relatadas descontinuidades, e na
análise sensorial enquanto vistoria do bem tangível. Propôs-se, com esta análise física,
apresentar, como causa das anomalias encontradas "in loco", os agentes causadores das
manifestações patológicas, bem como os agentes de degradação, qual seja, o recalque
diferencial.

Palavras-chave: SVVIE; patologias; vistoria predial; recalque diferencial; agentes de


degradação; desempenho em serviço.
ABSTRACT
While the technological advancement of materials and labor in the field of civil
construction was evident, a high incidence of pathologies was still observed, with a
particular focus on SVVIE for this study. Given the neglect regarding the potential
anomalies that were explicitly mentioned, dealing with their consequences became
inevitable. In a building, it became necessary to monitor defects that could arise over
time, aiming to identify and characterize them in order to discontinue them, while
indicating appropriate recovery procedures for each type of situation. This work aimed to
analyze anomalies and defects in the SVVIE of a standard single-family building R8-N
(NBR 12721), relying on the premises of inspection and sensory analysis from NBR
16747, and additionally, on the technical concepts of NBR 15575-4 due to the assessment
of non-compliance in the reported discontinuities, as well as sensory analysis serving as
an inspection of the tangible asset. Through this physical analysis, the goal was to present
the root causes of anomalies found "in loco," including the agents responsible for
pathological manifestations and degradation, namely, the differential settlement.

Keywords: SVVIE, pathologies, building Inspection, differential settlement, degradation


agents, service Performance.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Principais formas de recalques das edificações........................................ 9
Fonte: Velloso; Lopes (2004)
Figura 2 – Fissuração típica (real) nos cantos das aberturas, sob atuação de sobrecargas.10
Fonte: Thomaz (1989)

Figura 3 - Fissuras por recalque de fundação de pilar de canto.........................................10


Fonte: Consoli; Milititsky; Schinaid (2005)

Figura 2 – Representação real do sistema de vedação (SVV)...........................................11


Fonte:http://www.monteiroengenharia.com/disciplinas/construcoes/conteudo_construco
es/aula7_alvenaria_de_vedacao.pdf (adaptado)

Figura 5 – Plaquetas de controle de abertura de fissuração...............................................12


Fonte:https://www.aecweb.com.br/revista/materias/patologias-do-concreto/6160

Figura 6 – Esquemática do recalque diferencial...............................................................15


Fonte: Rebello (2008)

Figura 7 – Efeito do recalque diferencial..........................................................................16


Fonte: Alonso (1991)

Figura 8 – fissura provocada por recalque diferencial......................................................16


Fonte: Rebello (2008)

Figura 9 – Representação gráfica da fissuração em relação à mediatriz............................19


Fonte: Berberian (2019)

Figura 10 – Caracterização do tipo de deformação..........................................................19


Fonte: Ortiz, 1983 apud Milititsky et al., 2015

Figura 11 – Ruptura da capacidade de suporte no solo sob uma fundação contínua..........20


Fonte: Braja (2017)
Figura 12 – Decomposição dos esforços solicitantes........................................................20
Fonte: Braja (2017)

Figura 13 – Distribuição da força passiva na cunha CD....................................................21


Fonte: Braja (2017)

Figura 14 – Analogia para exemplificação da tensão em solo saturado............................21


Fonte: Pinto (2006)

Figura 15 – Efeito da aplicação do carregamento (𝑝).......................................................22


Fonte: Pinto (2006)

Figura 16 – Recalque elástico em fundação rígida e flexível............................................23


Fonte: Braja (2017)
Figura 17 – Ensaio de prova de carga...............................................................................24
Fonte: Nunes; et al (2018)

Figura 18 – (a) Caixas de areia, (b) Plataformas carregadas e (c) Estruturas ou vigas
ancoradas no terreno........................................................................................................25
Fonte: BARATA (1984)

Figura 19 – Tipos e suas respectivas porcentagens de incidência de fissuras sem gravidade


em CA (Concreto Armado) .............................................................................................25
Fonte: Dal Molin (1988)

Figura 20 – Tipos e suas respectivas porcentagens de incidência de fissuras de grau


moderado em CA (Concreto Armado).............................................................................26
Fonte: Dal Molin (1988)

Figura 21 – Tipos e suas respectivas porcentagens de incidência de fissuras de grau


moderado em CA (Concreto Armado) ...........................................................................26
Fonte: Dal Molin (1988)

Figura 22 – Imagem de satélite localizando o Residencial Primavera..............................27


Fonte: Google Earth (2018)

Figura 23 – Planta baixa do pavimento tipo do Residencial Primavera............................27


Fonte: Laudo de Estabilidade Estrutural do Edifício Residencial Primavera (2017)

Figura 24 – Edifício Residencial Primavera no dia em que foi embargado......................28


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018)

Figura 25 – Exemplo de mapa de danos...........................................................................29


Fonte: Tinoco (2009)

Figura 26 – Edifício Residencial Primavera no dia em que foi embargado......................29


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018)

Figura 27 – Quantitativo de fissuras por tipologia nos cômodos......................................30


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018)

Figura 28 – Mapeamento de fissuras na parede com janela dos quartos...........................30


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018)

Figura 29 – Mapeamento de fissuras na parede da porta de entrada da sala.....................31


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018)

Figura 30 – Esquema da incidência de fissuras conforme a distância da extremidade


crítica do recalque............................................................................................................31
Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018)

Figura 31 – Aferição da abertura de fissuras com um fissurômetro..................................33


Fonte: Brito (2004)
Figura 32 – Função de Gauss de densidade de frequência x abertura de fissura................35
Fonte: Autoral (2023)

Figura 33 – Aplicação de gesso em fissura (à esquerda) e abertura de janela de inspeção


(à direita)..........................................................................................................................36
Fonte: Noronha (2018)

Figura 34 – Fissuras devido à ausência de elementos estruturais.....................................37


Fonte: Caporrino (2018)

Figura 35 – Fissuras devido à transferência e carga das vigas superiores.........................37


Fonte: Caporrino (2018)

Figura 36 – Fissura devido à transferência e carga das vigas superiores com baixa
aderência bloco/argamassa...............................................................................................38
Fonte: Caporrino (2018)

Figura 37 – Fissuras devido às deformações em toda a estrutura igualmente (a);


deformações inferiores (b); e deformações superiores (c)................................................38
Fonte: Caporrino (2018)

Figura 38 – Resumo de causas das fissuras.......................................................................40


Fonte: Duarte (1998); Grimm (1988)

Figura 39 – Resumo de causas das fissuras.......................................................................41


Fonte: Duarte (1998); Grimm (1988)

Figura 40 – Identificação das fissuras...............................................................................44


Fonte: Autoral (2023)

Figura 41 – Fissura “nº1”.................................................................................................45


Fonte: Autoral (2023)

Figura 42 – Esquemática da fissura “nº1”.........................................................................46


Fonte: Autoral (2023)

Figura 43 – Fissura “nº2”.................................................................................................47


Fonte: Autoral (2023)

Figura 44 – Esquemática da fissura “nº2”.........................................................................48


Fonte: Autoral (2023)

Figura 45 – Fissuras “nº3 e 4”...........................................................................................49


Fonte: Autoral (2023)

Figura 46 – Esquemática da fissura “nº3 e 4”...................................................................50


Fonte: Autoral (2023)

Figura 47 – Esquemática extrapolada do recalque diferencial..........................................51


Fonte: Autoral (2023)
Figura 48 – Esquemática extrapolada do recalque diferencial..........................................52
Fonte: Autoral (2023)

Figura 49 – Gabarito de fissuras.......................................................................................53


Fonte: FENIX INDUSTRIA. Fissurometro: Gabarito para Fissuras, Régua F-04 Transp.
Disponível em: https://industriafenix.com.br/produto/fissurometro-gabarito-fissuras-
regua-f-04-transp-fenix/. Acesso em: 30 set. 2023.

Figura 50 – Utilização do gabarito de fissuras.................................................................53


Fonte: Autoral (2023) – Página 51.

Figura 51 – Relatório fotográfico.....................................................................................59


Fonte: Autoral (2023)

Figura 52 – Captura de tela do Microsoft Excel, parte integrante do pacote Office 360,
datada de 18 de novembro de 2023...................................................................................60
Fonte: Autoral (2023)

Figura 53 – Captura de tela da interface do Lumion 2023.................................................60


Fonte: Lumion

Figura 54 – Captura de tela da interface do SketchUp 2023..............................................61


Fonte: SketchUp

Figura 55 – Captura de tela da interface do Autocad 2023..............................................61


Fonte: Autocad
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Denominação das Aberturas de fissura característica......................................18
Fonte: Adaptado Olivari (2003)

Tabela 1 – Classificação ABC de Pareto.........................................................................18


Fonte: Paula et al (2021) adaptado

Tabela 3 – Fases do Diagnóstico......................................................................................33


Fonte: Adaptado de Lichtenstein (1985), Souza; Ripper, (1998)

Tabela 4 – Cálculo de 𝑤𝑘 e Gráfico de Gauss da fissura “n°4”......................................54


Fonte: Autoral (2023)

Tabela 5 – Cálculo de 𝑤𝑘 e Gráfico de Gauss da fissura “n°4”.......................................55


Fonte: Autoral (2023)

Tabela 6 – Cálculo de 𝑤𝑘 e Gráfico de Gauss da fissura “n°4”.......................................56


Fonte: Autoral (2023)

Tabela 7 – Cálculo de 𝑤𝑘 e Gráfico de Gauss da fissura “n°4”.......................................57


Fonte: Autoral (2023)

Tabela 8 – Denominação das Aberturas de fissura característica......................................58


Fonte: Adaptado Olivari (2003)
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9

2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 13

3. JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 14

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 15

5. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 32

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 44

7. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 62

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 63


9

1. INTRODUÇÃO
O conceito de recalque na engenharia civil refere-se à distorção diferencial em
edificações causada pela consolidação do solo sob a fundação (Milititsky, Consoli,
Schnaid, 2015). Além de representar uma ameaça à segurança estrutural, os problemas
decorrentes do recalque podem gerar disputas legais entre proprietários e vizinhos, uma
vez que afetam não apenas a edificação em questão, mas também a estabilidade dos
terrenos adjacentes.

De acordo com Thomaz (2009), os Sistemas Verticais de Vedações e Instalações


Elétricas (SVVIEs) estão sujeitos a danos causados por recalques diferenciais, incluindo
separação estrutural, esmagamento e, em casos extremos, a ruptura do elemento de
vedação. A Norma Brasileira NBR 15575-2 (2021) enfatiza a importância de projetar
estruturas considerando o Estado Limite de Serviço (ELS), onde deslocamentos acima de
limites definidos comprometem a funcionalidade e durabilidade do sistema.
Existem três formas principais de deformação de uma edificação sob cargas,
conforme ilustrado na Figura 3. O primeiro (a) é causado por recalque vertical
homogêneo, resultando principalmente em danos estéticos e funcionais. O segundo (b)
ocorre quando há giro da estrutura, também gerando danos estéticos e funcionais. O
terceiro (c) acontece quando os pilares do centro recalcam mais do que os da periferia,
podendo resultar em danos estruturais, segundo Velloso; Lopes (2004).

Figura 4 - Principais formas de recalques das edificações


Fonte: Velloso; Lopes (2004)

Dado o supracitado, é possível salientar a expressão física das consequências,


comumente, na alvenaria de vedação. A mesma, conforme Thomaz et al (2009),
destinam-se a dividir espaços e precisam suportar as cargas de utilização e seu peso
próprio. Dito isto, nota-se que a aplicação de carga na alvenaria de vedação, dada pelo
10

recalque diferencial, foge da sua finalidade proporcionando os defeitos na mesma, como


por exemplo a fissuração. A mesma pode ser apresentada tanto em vedações completas,
quanto nas com aberturas, conforme as imagens esquemáticas da Figura 5 à Figura 6.

Figura 2 – Fissuração típica (real) nos cantos das aberturas, sob atuação de
sobrecargas.
Fonte: Thomaz (1989)

Figura 3 - Fissuras por recalque de fundação de pilar de canto.


Fonte: Consoli; Milititsky; Schinaid (2005)

Os defeitos oriundos do recalque diferencial são apresentados, também, em


sistemas de vedação vertical (SVV) representado na Figura 7. A definição dos mesmos,
baseia-se na ideia de delimitar espaços internos verticalmente, protegendo-os contra
ações externas inconvenientes como chuva, vento, frio, calor, entre outros (SABBATINI,
11

et al., 2013). Deve, também, proporcionar questões mínimas de moradia como, conforto,
higiene, segurança e saúde aos que utilizam (OLIVEIRA; SABBATINI, 2003).
Tendo em vista esses possíveis problemas, é necessário tomar certos cuidados.
Determinar se a fissuração está em progresso ou já estabilizou é de grande importância
pois é isso que vai determinar a técnica para o tratamento.
Segundo Piancastelli (1997), aberturas em progresso (ativas) possuem variações
ainda constantes evidenciando que a estrutura não se consolidou. Já quando não há mais
movimentação na fissura com o transcorrer do tempo, entende-se que houve a
estabilização da edificação (passivas).

Figura 8 – Representação real do sistema de vedação (SVV)


Fonte: Monteiro Engenharia. Disponivel em:
http://www.monteiroengenharia.com/disciplinas/construcoes/conteudo_construcoes/aul
a7_alvenaria_de_vedacao.pdf (adaptado). Acesso em: 10 de mar. 2023.

A determinação da fissura em ativa ou passiva, é definida por plaquetas rígidas,


as mais simples, de gesso ou vidro que, ao serem solicitadas com a variação da fissura,
rompem. Existem técnicas mais precisas como o fissurômetro que determina a perda de
12

desempenho frente às aberturas características das fissuras observadas ‘in loco’ (Figura
5).

Figura 5 – Plaquetas de controle de abertura de fissuração


Fonte:AEC WEB. Disponível em:
https://www.aecweb.com.br/revista/materias/patologias-do-concreto/6160
Acesso em: 10 de mar. 2023.
13

2. OBJETIVOS

Este trabalho de conclusão de curso teve como finalidades:

• Identificar e caracterizar as patologias causadas, especificamente, por


recalque diferencial, via análise sensorial;
• Caracterizar as aberturas de fissura com base no emprego de equipamento
especifico, sendo esse o fissurômetro;
• Analisar qual é o estado de estabilização da fissura;
• Realizar uma vistoria sucinta “in loco” e utilizar, parcialmente, a NBR
16747 (2020), no que tange à determinação das classificações das
patologias;
14

3. JUSTIFICATIVA

A indústria da construção civil desempenha um papel inegável na economia


global, contribuindo significativamente para o PIB, variando de 3% a 10% em países
desenvolvidos e em desenvolvimento. Além disso, é uma importante fonte de emprego,
independente do estágio econômico (BARREIRO JÚNIOR, 2003 apud CARVALHO,
2003).
A patologia na construção civil é um mercado amplo e oneroso, a realização deste
trabalho de conclusão de curso residiu no aprofundamento das anomalias e defeitos em
razão de recalques diferenciais, tendo como foco os sistemas de vedação vertical internos
e externos, os quais desempenham a função de proteção contra intempéries.
O assentamento do solo com o passar do tempo gera um recalque diferencial que
torna a edificação suscetível a anomalias, a pesquisa presente neste trabalho aborda
métodos de reparo dos danos gerados analisando fisicamente tais anomalias.
15

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A edificação unifamiliar padrão R8-N, definida pela NBR 12721 (2006), segue
critérios de categorização, incluindo tipo de projeto, materiais, acabamentos e estruturas,
permitindo uma estimativa precisa dos custos na construção. "R8" faz parte desse sistema.
"N" refere-se à norma técnica NBR 12721 (2006), importante na avaliação de custos
unitários na construção civil.

Recalque, conforme NBR 6122 (1996), é o movimento vertical descendente de


um elemento estrutural. Em qualquer edificação, ocorrem deslocamentos verticais após
conclusão, resultando em desnivelamento, desaprumo e fissuração (CAPUTO, 2012).
Oliveira (2012) destaca que esses deslocamentos são causados pela deformação do solo
sob carga da estrutura ou peso próprio dos elementos de fundação. O rebaixo da
edificação devido ao adensamento do solo resulta em recalque na área de apoio da
fundação, sendo denominado recalque diferencial se não ocorrer uniformemente em toda
a estrutura.
Segundo Rebello (2008), a caracterização do recalcamento desigual resume-se à
aplicação de carga, de qualquer natureza, de forma divergente na estrutura num todo,
resultando numa deformação de solo destoante do total, conforme mostra a Figura 6 –
Esquemática do recalque diferencial e Figura 7 – Efeito do recalque diferencial.

Figura 6 – Esquemática do recalque diferencial


Fonte: Rebello (2008)
16

As principais anomalias apresentadas na edificação, segundo Sumensse; Sanders


(2016), são as fissurações, rachaduras ou trincas. Tais elementos possuem uma
característica peculiar de se deformarem a 45° nos sistemas de vedação vertical. Rebello
(2008), também comenta que a fissuração a 45° decorre sempre do lado de maior recalque
vertical conforme Figura 8 – fissura provocada por recalque diferencial.

Figura 7 – Efeito do recalque diferencial


Fonte: Alonso (1991)

Figura 8 – fissura provocada por recalque diferencial


Fonte: Rebello (2008)
17

Conforme apontado por Alonso (1991), a formação de fissuras pode estar


associada a distorções estruturais decorrentes de recalque diferencial. Em situações mais
severas, Rebello (2008) ressalta a possibilidade de surgimento de defeitos críticos, os
quais têm o potencial de levar ao colapso total ou parcial da estrutura. A exploração das
causas, origens, variedades de manifestações e implicações dessas anomalias compõe a
essência do estudo da patologia na construção civil.
Propõe-se, em primeiro momento, salientar as consequências diretas dos defeitos
causados no sistema de vedação por recalque diferencial e, diante disso, explicitar as três
categorias de danos causados à edificação, em relação à segurança e conforto, segundo
Teixeira; Godoy (1998):

• Danos Estruturais: diretamente ligados à estrutura da edificação, sejam pilares,


vigas, lajes, entre outros. Necessitam de atenção para reestruturação, caso
contrário, comprometerá a estabilidade da edificação podendo levar a ruína, logo
também, a segurança dos utilizadores (GOTLIEB, 1998);

• Danos Funcionais: referem-se à problemas de utilização da edificação como,


janelas e portas com mal funcionamento, tubulações com avarias, trilho de
elevador trabalhando em desaprumo comprometendo a vida útil do mesmo, entre
outros. Dependendo da gravidade das anomalias, faz-se necessário reforço
estrutural e adequação das peças (GOTLIEB, 1998);

• Danos Arquitetônicos: Defeitos explícitos à estética da obra, por qualquer


observador, como fissurações, separação de elementos de vedação com elementos
estruturais, recalques de pisos (TEIXEIRA; GODOY, 1998). Em situações como
essas, é opcional a decisão do reforço, pois não traz riscos à estabilidade da
estrutura, logo, não oferece riscos à segurança dos utilizadores (GOTLIEB, 1998).

Oliveira (2012) ressalta as evidências explicitadas externamente em alvenaria, vigas,


pilares, lajes, pisos e em outros ambientes, sendo elas as fissuras, trincas e rachaduras,
resultantes de tensões geradas nos materiais usados nos SVVIE. Essas cargas estão fora
do previsto de utilização do material utilizado para vedação convertendo-se em aberturas,
e que conforme sua espessura é classificada em fissura, trinca, rachadura, fenda ou brecha.
Essa classificação pode ser observada na Tabela 1 .
18

Tabela 1 – Denominação das Aberturas de fissura característica

Fonte: Adaptado Olivari (2003)

De modo a apresentar de maneira detalhada a importância do estudo das anomalias


nas construções civis, é preciso entender como as manutenções prediais funcionam e seus
tipos. As manutenções preventivas são regulares e planejadas de acordo com o manual
do equipamento ou as especificações necessárias visando garantir a qualidade e o
desempenho com eficiência máxima. Já a manutenção corretiva não é planejada e, devido
à falta de um plano de manutenção, afeta tanto o operacional quanto pode gerar um
desgaste no equipamento. A diferença delas em uma classificação chamada de ABC de
Pareto conforme a Tabela 1 . apresenta a Lei de Sitter que é um estudo sobre a recuperação
de estruturas e a diferença delas em uma classificação chamada de ABC de Pareto
conforme a Tabela 1 .
Tabela 1 – Classificação ABC de Pareto
19

Fonte: Paula et al (2021) adaptado


É iniludível enunciar que segundo a NBR 5674, as edificações, além de um valor
social fundamental possuem um valor econômico, que torna inviável considerá-las como
bens descartáveis, de modo a justificar a manutenção predial.
Segundo Thomaz (1989) as fissuras ocasionadas por recalque assemelham-se
muito com as ocasionadas por deflexão de componentes estruturais, diferenciando das
primeiras por apresentar-se em fissuras maiores, variando a dimensão da abertura em
recalques maiores. A fim de facilitar a identificação e a localização do recalque, aplica-
se a regra da mediatriz segundo a Figura 9.

Figura 9 – Representação gráfica da fissuração em relação à mediatriz.


Fonte: Berberian (2019)

Figura 10 – Caracterização do tipo de deformação.


Fonte: Ortiz, 1983 apud Milititsky et al., 2015.
20

Terzaghi (1943) sugeriu que para uma fundação contínua o efeito do solo acima
da base inferior pode ser considerado um substituto para uma sobrecarga equivalente
como a Figura 11.

Figura 11 – Ruptura da capacidade de suporte no solo sob uma fundação contínua.


Fonte: Braja (2017)

A capacidade de suporte último é obtida pela zona triangular 𝐴𝐷𝐶, convém


ressaltar que as zonas de cisalhamento são 𝐹𝐴𝐷 e 𝐷𝐶𝐸, devido a normal de 𝐴𝐷 e 𝐶𝐷 ,
demonstrados na Figura 12 e Figura 13.

Figura 12 – Decomposição dos esforços solicitantes.


Fonte: Braja (2017)
21

Figura 13 – Distribuição da força passiva na cunha CD.


Fonte: Braja (2017)

A analogia mecânica desenvolvida por Terzaghi exemplifica como uma tensão


aplicada em um solo saturado gera um adensamento do mesmo devido a redução do
índice de vazios exemplificado na Figura 14.

Figura 14 – Analogia para exemplificação da tensão em solo saturado.


Fonte: Pinto (2006)
22

Segundo Pinto (2006) grau de adensamento (𝑈𝑧 ) é gerado pela relação entre a
deformação (𝜀) sob a deformação nesse elemento ocorrida após determinado tempo
(𝜀𝑓 ).
𝜀
𝑈𝑧 = (1)
𝜀𝑓

Este fundamento é aplicado ao cenário da construção civil em que uma edificação


é construída sob um solo saturado que com o passar do tempo o peso aplicado na área
construída gera uma eliminação do índice de vazios e, logo, o recalque

Figura 15 – Efeito da aplicação do carregamento (𝑝).


Fonte: Pinto (2006)

Após a aplicação do carregamento (𝑝) a altura inicial (𝐻1 ) e transformada na altura


resultante (𝐻𝑜 ) devido ao adensamento do índice de vazios inicial.
Deste modo é a deformação é:
𝑝
𝜀= (2)
𝐻1

O assentamento resultante do adensamento em solos saturados se destaca em


comparação com o recalque observado em solos argilosos e siltosos orgânicos. No
contexto do ensaio de sondagem à percussão (SPT), o coeficiente de Poisson e o módulo
de elasticidade de um solo desempenham papéis cruciais. Isso se deve ao fato de que um
coeficiente de Poisson mais elevado está associado a um menor recalque do solo,
enquanto um módulo de elasticidade mais alto confere maior rigidez ao solo, resultando
em um recalque reduzido quando sujeito a carregamentos. (Figura 16 – Recalque elástico
em fundação rígida e flexível).
23

Figura 16 – Recalque elástico em fundação rígida e flexível.


Fonte: Braja (2017)

A compressão do solo engloba a diminuição de sua porosidade e índices de


vazios, com o intuito de aprimorar sua resistência às forças externas. Esse procedimento
afeta a coesão e o ângulo de atrito do solo. Apesar de compactação e densificação terem
como objetivo tornar o solo mais compacto, divergem no sentido em que a compactação
expulsa o ar, enquanto a densificação elimina a água intrínseca.

Em relação ao atrito lateral, conforme definido pela NBR 6122 (2019), refere-se
à demanda de estacas ou tubulões quando o assentamento do solo adjacente ultrapassa o
assentamento dos elementos de fundação. Esse fenômeno pode ser desencadeado pelo
próprio peso da fundação, sobrecargas na superfície, rebaixamento do lençol freático,
amolecimento da camada macia devido a estacas, entre outras causas. O ensaio SPT
consiste na obtenção da tensão admissível do solo pela relação:

𝑁𝑆𝑃𝑇
𝜎𝑎𝑑𝑚 = (𝑀𝑃𝑎) (3)
50

NSPT = índice de resistência à penetração médio do solo.


σadm =Tensão admissível do material.
24

Nota: valor médio do Nspt no bulbo de tensões não deve ser menor que 5 ou maior que
20;

A sondagem gera um reconhecimento do solo capaz de definir a fundação que


melhor atende das necessidades do solo, a fim de evitar posteriormente recalques
diferenciais.
Dentre os métodos diretos de diagnostico de uma Inclinação não homogênea está
a prova de carga. O ensaio de prova de carga é considerado um dos testes mais eficientes
para a verificação de segurança de uma estrutura já concluída, principalmente quando as
informações de projeto e construção não são conhecidas (OLIVEIRA; JUNIOR, 2007).
O estudo de caso a seguir refere-se a um diagnostico realizado no Edifício E-008 do
Parque de Material Aeronáutico de São Paulo – PAMA-S, construção concluída em 1945.
O ensaio consiste na aplicação de uma carga uniformemente distribuída na laje, o
carregamento permaneceu durante 12 horas (Figura 17).
.

Figura 17 – Ensaio de prova de carga.


Fonte: Nunes; et al (2018)

A partir deste ensaio é possível certificar-se se a estrutura está atendendo a NBR


16903 (2020) (Solo — Prova de carga estática em fundação profunda), deste modo
evitando que possíveis recalques diferenciais que poderão ser prejudicais a estabilidade
da edificação surjam.
O ensaio de placa em carga, apesar de ser utilizado com mais frequência em
meados de 1950 apresenta resultados favoráveis sobre a tensão admissível, a resistência
25

e capacidade de deformação de um solo. Tal ensaio consiste na transmissão dos esforços


por meio de um macaco hidráulico (Figura 18).

Figura 18 – (a) Caixas de areia, (b) Plataformas carregadas e (c) Estruturas ou vigas
ancoradas no terreno.
Fonte: BARATA (1984)
Dal Molin (1988) realizou uma pesquisa categorizando as principais causas de
fissuras apresentadas em estruturas de CA (Concreto Armado) como demonstradas nas
figuras 19. 20 e 21 subsequentes.

Figura 19 – Tipos e suas respectivas porcentagens de incidência de fissuras sem


gravidade em CA (Concreto Armado)
Fonte: Dal Molin (1988)
26

Figura 20 – Tipos e suas respectivas porcentagens de incidência de fissuras de grau


moderado em CA (Concreto Armado)
Fonte: Dal Molin (1988)

Figura 21 – Tipos e suas respectivas porcentagens de incidência de fissuras graves em


CA (Concreto Armado)
Fonte: Dal Molin (1988)

Com base nos dados expostos na pesquisa conduzida por Dal Molin (1988), é viável obter
uma compreensão das rachaduras manifestadas em construções, considerando uma
análise sobre a abertura de fissuras característica, destacando os principais pontos críticos
conforme evidenciado nos gráficos correspondentes a cada nível de gravidade.

Integrado no contexto do Curso da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, será


explorado um estudo de caso com ênfase na "Inspeção de um Edifício Residencial que
Passou por Recalque". Este estudo de caso será realizado com base em princípios,
27

metodologias e procedimentos que se assemelham ao TCC intitulado "Perícia de um


edifício residencial que sofreu recalque" de Matheus Fajardo Bortoli, também
desenvolvido nesta instituição.

Localizada na Rua Primavera, 218, Jardim La Salle o Edifício Residencial


Primavera, Lote 14, na Quadra 1021 do Loteamento Cividini, na cidade de Toledo – PR
foi o estudo de caso com sua área de 495m². ( Figuras 22, 23, 24 e 25).

Figura 22 – Imagem de satélite localizando o Residencial Primavera


Fonte: Google Earth (2018).

Figura 23 – Planta baixa do pavimento tipo do Residencial Primavera


Fonte: Laudo de Estabilidade Estrutural do Edifício Residencial Primavera (2017).
28

Figura 24 – Edifício Residencial Primavera no dia em que foi embargado


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018).

O estudo de caso deste edifício ocorreu devido ao isolamento e interdição pela


Coordenadoria Regional de Defesa e Proteção Civil de Toledo, no dia 31 de outubro de
2017. A Inclinação não homogênea segundo o laudo pericial da edificação foi em
decorrência das fortes chuvas que ocorreram no local em que o edifício está localizado.
Tal laudo teve como avaliação estrutural o monitoramento do deslocamento estrutural e
possíveis causas devido anomalias presentes na edificação.
Afim de uma análise mais coerente foi realizado um mapa de danos. De acordo
com Tinoco (2009), o Mapa de Danos é um documento do tipo gráfico-fotográfico, que
tem como objetivo sintetizar o resultado das investigações sobre as alterações estruturais
e funcionais nos materiais, nas técnicas, nos sistemas e componentes construtivos (Figura
25).
29

Figura 25 – Exemplo de mapa de danos


Fonte: Tinoco (2009).
Constaram que todas as aberturas internas causadas pelo recalque diferencial do
edifício são classificadas como fissuras, uma vez que estas possuem uma abertura inferior
à 0,5mm, como mostram a Figura 26.

Figura 26 – Edifício Residencial Primavera no dia em que foi embargado


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018).
30

Afim de mapear os cômodos e aberturas de fissuras características realizaram o


levantamento gráfico, conforme Figura 27.

Figura 27 – Quantitativo de fissuras por tipologia nos cômodos


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018).

Posteriormente tendo como foco os locais de maior predominância de fissuras,


Bortoli realizou o mapeamento gráfico de tais fissuras (Figuras 28 e 29).

Figura 28 – Mapeamento de fissuras na parede com janela dos quartos


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018).
31

Figura 29 – Mapeamento de fissuras na parede da porta de entrada da sala


Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018).

Tendo a ciência que a abertura de fissura era menor quanto mais distante esta
localizada do ponto crítico, afim de esquematizar a incidência de fissuras no Edifício
Residencial Primavera. Onde a área em vermelho apresenta os locais de incidências com
danos de maior proporção, ao passo que os pontos em verde apresentam os locais de
incidências com danos de menor proporção, Bortoli elaborou a Figura 30.

Figura 30 – Esquema da incidência de fissuras conforme a distância da extremidade


crítica do recalque
Fonte: Matheus Fajardo Bortoli (2018).
32

A partir dos dados apresentados anteriormente foi possível a realização de um


laudo pericial determinando possíveis soluções para a realização de um reforço de
fundação adequado para o estudo de caso.

5. MATERIAIS E MÉTODOS

De acordo com Lichtenstein (1985), o diagnóstico dizia respeito ao trabalho


executado a fim da resolução do problema, tendo em vista, também, a descrição das
atividades a serem feitas. Também identificava a manifestação (forma de ocorrência), a
natureza (tipo), a origem (causa primária) e o mecanismo (causa imediata) dos problemas
patológicos.
Para um diagnóstico preciso, faz-se necessário conhecer o problema, que pode ter
origens amplas, levando a um estudo aprofundado. Como descreve Souza; Ripper (1998)
esse estudo deve reunir o maior número de informações possíveis sobre o problema em
questão, sendo obtidas de série de atividades como exame visual do desgaste e de seu
meio ambiente; ensaios locais, rápidos e simples; estudos de laboratório; consultas quanto
à concepção da estrutura (conversa com os autores do projeto, estudo dos projetos),
quanto à execução (as anotações de canteiro, atas de reuniões de obra, documentos
diversos e correspondências disponíveis) e também quanto a sua utilização.
Para Souza; Ripper (1998) a metodologia para a inspeção de estruturas é dividida
em três etapas básicas: levantamento dos dados, análise e diagnóstico. A primeira é
extremamente delicada e deve ser feita por um engenheiro experiente. Em segundo lugar,
o analista deve ter uma compreensão profunda do comportamento da estrutura e de como
os sintomas patológicos são gerados e desenvolvidos. A etapa final, o diagnóstico, pode
levar o analista a várias conclusões, inclusive a demolição da estrutura caso sua
reconstrução se mostre impraticável. Na Tabela 3 podem ser visualizadas as fases do
diagnóstico e a descrição do objetivo almejado em cada uma.
33

Tabela 3 – Fases do Diagnóstico

Fonte: Adaptado de Lichtenstein (1985), Souza; Ripper, (1998)

Após a identificação da fissura é necessário salientar a gravidade. Desse modo,


existe uma classificação vinculada à espessura da abertura, que costumeiramente é
determinada como fissuras, aberturas com menos de 0,5 mm, trincas, com mais de 0,5
mm e as rachaduras, mais graves e preocupantes, com mais de 1 mm de abertura
(CAMPOS, 2018). O instrumento utilizado para medição da abertura da fissura e, dessa
forma, classificá-la, é chamado fissurômetro (Figura 31).

Figura 31 – Aferição da abertura de fissuras com um fissurômetro.


Fonte: Brito (2004)
34

Após a obtenção dos dados de medida da fissura, faz-se necessário o tratamento


deles. O método a ser utilizado é o de Gauss, que se trata de um modelo probabilístico
utilizado para descrever, de forma geral, a frequência com que valores ocorrem num
histograma. A distribuição normal ou Gaussiana é uma das mais importantes distribuições
teóricas e práticas. Ela é muito utilizada na inferência estatística.
Para aplicar a distribuição normal, precisa-se obter o Desvio Padrão, conforme a
equação abaixo:

∑𝑛
𝑖=1(𝑥𝑖 −𝑥̅ )²
𝐷𝑝 = √ (4)
𝑛−1

𝐷𝑝 : 𝑑𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 − 𝑝𝑎𝑑𝑟ã𝑜;
𝑛: 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑛𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑗𝑢𝑛𝑡𝑜;
𝑥̅ : 𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑗𝑢𝑛𝑡𝑜;
𝑥𝑖 : 𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑗𝑢𝑛𝑡𝑜;

Logo após a obtenção do desvio-padrão, é necessário fazer a distribuição


Gaussiana, adaptando-a para funcionar conforme a NBR 12655 (2022) que tem
parâmetros apropriados para dados de 𝑓𝑐𝑘 do concreto obtidos em corpos de prova.

A adequação é feita com a substituição das amostras em 𝑓𝑐𝑘 para as de espessura


de abertura da fissura. Posteriormente, é feito um gráfico de distribuição normal pela
função de Gauss de densidade de frequência por dados da amostra de espessura da
abertura, conforme Figura 32 abaixo.
35

Figura 32 – Função de Gauss de densidade de frequência x abertura de fissura.

Fonte: Autoral (2023)


𝐷𝑝 : 𝑑𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 − 𝑝𝑎𝑑𝑟ã𝑜;
𝑤𝑚 : 𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑒 𝑓𝑖𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎

Segundo a NBR 12655(2022), os dados obtidos devem ser considerados apenas


os que possuem probabilidade dentro dos 95%, excluindo os valores pouco prováveis
(5%). Por conta disso, é utilizado o coeficiente estatístico de distribuição normal relativo
aos 5%, sendo ele o fator de multiplicação ”1,65”. Logo, para obter a espessura da
abertura característica, a que deve ser considerada para classificação do tipo de abertura,
utiliza-se a equação abaixo:

𝑤𝑘 = 𝑤𝑚 − 1,65 . 𝐷𝑝 (5)

𝑤𝑘 : 𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑒 𝑓𝑖𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 𝑐𝑎𝑟𝑎𝑐𝑡𝑒𝑟í𝑠𝑡𝑖𝑐𝑎;


𝐷𝑝 : 𝑑𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 − 𝑝𝑎𝑑𝑟ã𝑜;
𝑤𝑚 : 𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑒 𝑓𝑖𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎;
1,65: 𝑐𝑜𝑒𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑡í𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑖𝑠𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 𝑟𝑒𝑙𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑎 𝑒𝑥𝑐𝑙𝑢𝑠ã𝑜 𝑑𝑜𝑠 5%;
36

Além da identificação do tipo da abertura, faz-se necessário verificar a


estabilidade da mesma, ou seja, se ainda continua se movimentando ou se já estagnou
(NORONHA, 2018). Uma das opções mais rápidas para avaliar essa atividade é a
aplicação do gesso nas fissuras. Sendo o gesso um material bastante frágil, qualquer
movimentação na abertura resultaria num rompimento visível. Além disso, Noronha
(2018) afirma que a abertura de janelas de inspeção é importante, ou seja, retirada de
revestimento até que se avalie a profundidade da fissura, conforme mostra a Figura 33.

Figura 33 – Aplicação de gesso em fissura (à esquerda) e abertura de janela de inspeção


(à direita).
Fonte: Noronha (2018).

A manifestação de fissuras na alvenaria é decorrente, principalmente, de fatores


como a falta de elementos estruturais em vãos como portas e janelas (falta de verga e
contraverga). Também é possível vê-las por decorrência de excesso de carga,
deformações na estrutura e Inclinação não homogênea das fundações. A alvenaria de
vedação é capaz de suportar o peso próprio. Porém, ela fica suscetível a fissuras em
aberturas, onde concentram-se tensões devido à ausência de apoio. A identificação das
fissuras é uma etapa de muita importância para o desenvolvimento de uma solução
plausível. Podem ser caracterizadas pela observância do local do surgimento, angulação,
37

abertura, entre outros fatores. No caso da falta de elementos estruturais em aberturas,


pode-se notar características como exemplificado na figura 34.

Figura 34 – Fissuras devido à ausência de elementos estruturais.


Fonte: Caporrino (2018).

Outra causa bastante decorrente é a transferência de cargas das vigas da estrutura


para a vedação sob elas (SOUSA, 2014). A ruptura normalmente segue a direção do
carregamento podendo ter variações em detrimento às características da alvenaria em
relação à homogeneidade e coesão. Dessa forma, sendo a alvenaria homogênea, a ruptura
pode ser vista conforme a figura 35. Tendo falta de coesão na estrutura da alvenaria, a
argamassa, sendo o plano frágil, apresenta a fissura contornada conforme a figura 36.

Figura 35 – Fissuras devido à transferência e carga das vigas superiores.


Fonte: Caporrino (2018).
38

Figura 36 – Fissura devido à transferência e carga das vigas superiores com baixa
aderência bloco/argamassa.
Fonte: Caporrino (2018).

Sabe-se que a estrutura pode sofrer alterações devido ao recalque diferencial e,


com sua movimentação, a alvenaria é afetada diretamente por estar confinada entre seus
elementos, como vigas e pilares. A movimentação gera o esmagamento de algumas áreas
e o alongamento de outras, o que resulta em fissuras. Logo, as manifestações vão estar de
acordo com a deformação da estrutura (CAPORRINO, 2018). Na Figura 37-a está
representado como as fissuras surgem quando os elementos estruturais superiores e
inferiores se deformam igualmente. Já na Figura 37-b e 37-c, é apresentado um esquema
da manifestação das fissuras quando a deformação é maior nos elementos de apoio
inferiores ou superiores, nessa ordem.

Figura 37 – Fissuras devido às deformações em toda a estrutura igualmente (a);


deformações inferiores (b); e deformações superiores (c).
Fonte: Caporrino (2018).

Para avaliar se as ocorrências de fissuras ou descolamentos são toleráveis,


precisam atender às seguintes características, conforme o local do aparecimento, seguindo
as orientações da norma NBR 15575-4 (2013):
39

a) sistema de vedação vertical interna (SVVI) ou faces internas de sistema de


vedação vertical externa (SVVE) (fachadas);

- Fissuras no corpo dos SVVI ou nos seus encontros com elementos


estruturais, destacamentos entre placas de revestimento e outros
seccionamentos do gênero, desde que não sejam detectáveis a olho nu
por um observador posicionado a 1,00 m da superfície do elemento em
análise, em um cone visual com ângulo igual ou inferior a 60°, sob
iluminamento igual ou maior que 250 lux, ou desde que a soma das
extensões não ultrapasse 0,1 m/m2, referente à área total das paredes
do ambiente; ⎯ descolamentos localizados de revestimentos,
detectáveis visualmente ou por exame de percussão (som cavo), desde
que não impliquem descontinuidades ou risco de projeção de material,
não ultrapassando área individual de 0,15 m² ou área total
correspondente a 15 % do elemento em análise; (NBR 15575-4, 2021,
p.7)

- Descolamentos localizados de revestimentos, detectáveis visualmente


ou por exame de percussão (som cavo), desde que não impliquem
descontinuidades ou risco de projeção de material, não ultrapassando
área individual de 0,15 m² ou área total correspondente a 15 % do
elemento em análise; (NBR 15575-4, 2021, p.7)

b) fachadas ou sistemas de vedação vertical externo (SVVE);

⎯ fissuras no corpo das fachadas, descolamentos entre placas de


revestimento e outros seccionamentos do gênero, desde que não sejam
detectáveis a olho nu por um observador posicionado a 1,00 m da
superfície do elemento em análise, em um cone visual com ângulo igual
ou inferior a 60°, sob iluminamento natural em dia sem nebulosidade;
(NBR 15575-4, 2021, p.7)

⎯ descolamentos de revestimentos localizados, detectáveis visualmente


ou por exame de percussão (som cavo), desde que não impliquem
descontinuidades ou risco de projeção de material, não ultrapassando
40

área individual de 0,10 m² ou área total correspondente a 5 % do pano


de fachada em análise. (NBR 15575-4, 2021, p.7)

Logo após a determinação da tolerabilidade, é necessário determinar a origem das


fissuras. Conforme a Figura 38 abaixo, é possível analisar, através das decorrentes
fissuras, a possível causa do problema e tomar as devidas providências.

Figura 38 – Resumo de causas das fissuras.


Fonte: Duarte (1998); Grimm (1988).
41

Figura 39 – Resumo de causas das fissuras.


Fonte: Duarte (1998); Grimm (1988).
42

Por último, faz-se necessário a utilização parcial da NBR 16747 (2020), no que
tange à determinação das classificações das patologias. cabe ao inspetor predial as
recomendações com relação a organização das prioridades, em patamares de urgência. As
recomendações técnicas para correção das anomalias, falhas de uso, operação ou
manutenção, devem ser organizadas em patamares de urgência, conforme mostrado a
seguir.

a) CRÍTICO (prioridade 1): Impacto Irrecuperável, propiciando ações

necessárias quanto à perda de desempenho, saúde e/ou a segurança dos

usuários, e/ou a funcionalidade dos sistemas construtivos, com possíveis

paralisações. Alto custo de manutenção e de recuperação;

b) MÉDIO (prioridade 2): Impacto parcialmente recuperável, propiciando ações

necessárias quanto à perda parcial de desempenho (real ou potencial), impacto

sobre a funcionalidade da edificação. Não possui prejuízo à operação direta de

sistemas e a saúde e segurança dos usuários;

c) MÍNIMO (prioridade 3): Impacto recuperável, propiciando ações necessárias

quanto à perda de desempenho (real ou potencial), pequenos prejuízos à

estética. Baixo ou nenhum comprometimento do valor da edificação. Neste

caso, as ações podem ser feitas sem urgência porque a perda parcial de

desempenho não tem impacto sobre a funcionalidade da edificação, não causa

prejuízo à operação direta de sistemas e não compromete a saúde e segurança

do usuário.
43

Posteriormente, as irregularidades constatadas devem ser classificadas em


anomalias, caracterizadas pela perda do desempenho do elemento ou sistema construtivo
oriundo de um vício construtivo, ou falhas, caracterizadas pela perda de desempenho
decorrente do uso, operação e manutenção. As anomalias possuem uma subdivisão que
leva em consideração as seguintes informações:

• ANOMALIAS - (vícios de construção)

I. Endógena: Originária da própria edificação (projeto, materiais e


execução);

II. Exógena: Originária de fatores externos a edificação, provocados por


terceiros;

III. Natural: Originária de fenômenos da natureza (previsíveis, imprevisíveis);

IV. Funcional: Originária do uso ou término da vida útil.

Os softwares utilizados para obter os resultados foi o:

• AutoCAD (2022), para desenvolver o desenho técnico da planta baixa e elevações


das representações das aberturas das fissuras;

• SketchUp (2022), utilizado na modelagem de representação da extrapolação das


aberturas de fissura;

• Lumion 12 (2022), para renderização da modelagem de extrapolação;

• Excel (2019), usado nos cálculos de desvio-padrão e abertura de fissura


característica e na criação dos gráficos de Gauss.
44

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para a obtenção dos resultados foi utilizada as metodologias explicitadas no tópico


5 deste trabalho. Observa-se por meio da identificação numérica na planta baixa
representada na figura 1 que há um total de 4 (quatro) fissuras identificadas na edificação.
Cada uma delas foram devidamente monitoradas, sendo aferido sua abertura, tolerância
e estabilidade.

Figura 40 – Identificação das fissuras (situação sem escala) medidas em m.


Fonte: Autoral (2023).
45

A princípio foi aplicado a NBR 15575-4 (2021), para analisar se é tolerável as


fissuras. O dia de aferimento foi 12/10/2023, e os registros fotográficos estão agrupados
na Figura 41.

Figura 41 – Fissura “nº1”.


Fonte: Autoral (2023).
46

As fotografias da figura 1, referentes à fissura de nº”1”, foram tiradas a um metro


de distância da fissura e com boa iluminação e foram detectadas a olho nu, portanto não
é tolerável. Foi feito uma esquemática das medidas de comprimento e progresso das
fissuras e representação por setas da direção do deslocamento e da possível origem da
causa conforme figura 42.

Figura 42 – Esquemática da fissura “nº1” (situação sem escala) medidas em m.


Fonte: Autoral (2023).
47

As fotografias da figura 43, referentes à fissura de nº”2”, foram tiradas a um metro


de distância da fissura e com boa iluminação e foram detectadas a olho nu, portanto não
é tolerável.

Figura 43 – Fissura “nº2”.


Fonte: Autoral (2023).
48

Foi feito uma esquemática das medidas de comprimento e progresso das fissuras
e representação por setas da direção do deslocamento e da possível origem da causa
conforme figura 44.

'

Figura 44 – Esquemática da fissura “nº2” (situação sem escala) medidas em m.


Fonte: Autoral (2023).
49

As fotografias da figura 45, referentes às fissuras de nº”3 e 4”, foram tiradas a um


metro de distância das fissuras e com boa iluminação e foram detectadas a olho nu,
portanto não são toleráveis.

Figura 45 – Fissuras “nº3 e 4”.


Fonte: Autoral (2023).
50

As fissuras foram desenvolvidas de forma inclinada a partir da abertura (janela)


no SVVI. Foi feito uma esquemática das medidas de comprimento e progresso das
fissuras e representação por setas da direção do deslocamento e da possível origem da
causa conforme figura 46.

Figura 46 – Esquemática da fissura “nº3 e 4” (situação sem escala) medidas em m.


Fonte: Autoral (2023).
51

Dada as deformações e deslocamentos das fissuras mapeadas, é possível concluir


a causa provável que seria o recalque diferencial do solo. As características das
fissurações em 45° apontando as mediatrizes para as mesmas direções possibilita
identificar a origem dessa Inclinação não homogênea. A figura 47 a seguir demonstra, de
forma extrapolada, a movimentação geral da edificação. As imagens esquemáticas
expõem claramente o tipo de movimentação e rupturas dos SVVI’s.

Figura 47 – Esquemática extrapolada do recalque diferencial.


Fonte: Autoral (2023).
52

Figura 48 – Esquemática extrapolada do recalque diferencial.


Fonte: Autoral (2023).

Diante das informações obtidas no monitoramento é possível observar que as


direções dadas pelas inclinações das fissuras apontam para o mesmo sentido e todas com
as mesmas características de recalque diferencial. Com isso, nota-se que, na região do
banheiro, as bases da casa sofreram, possivelmente, com o adensamento do solo local o
qual propiciou a diferença com o adensamento das outras regiões da edificação que não
sofreram alteração. Isso resulta nas fissurações apresentadas em 45°, nas mediatrizes
apontando para o mesmo sentido e na abertura (janela) no SVVI com fissurações
apresentadas nos cantos, suscitando o parecer de um factível recalque diferencial.
53

Posteriormente foi obtido as informações de abertura de fissura com o


equipamento adequado, sendo esse o fissurômetro que é um pequeno instrumento
destinado a medir, de forma expedita e econômica, os movimentos relativos que se
verificam em um ponto de uma fissura ou fenda existente em uma SVV ou qualquer outro
elemento estrutural de uma edificação. O instrumento utilizado neste caso está
representado na figura 49.

Figura 49 – FENIX INDUSTRIA. Gabarito de fissuras (Fonte:


https://industriafenix.com.br/produto/fissurometro-gabarito-fissuras-regua-f-04-transp-fenix/ (2023)).
Acesso em: 30 set. 2023.

O instrumento usufruído é o gabarito de fissuras, modelo DT-076 da marca


Indústria Fenix, transparente com medidas em centímetros de 20,0 x 30,0 x 5,0. A sua
utilização é feita por comparação dos traços no gabarito com as aberturas de fissuras,
conforme a figura 50.

Figura 50 – Utilização do gabarito de fissuras.


Fonte: Autoral (2023).
54

Posteriormente, com os dados aferidos, foi obtido os cálculos necessários para a obtenção
da abertura de fissura característica, relativa às fissuras nomeadas como “nº1, 2, 3 e 4”.

Tabela 4 – Cálculo de 𝑤𝑘 e Gráfico de Gauss da fissura “n°1”.

”cm”

Fonte: Autoral (2023).


55

Tabela 5 – Cálculo de 𝑤𝑘 e Gráfico de Gauss da fissura “n°2”.

”cm”

Fonte: Autoral (2023).


56

Tabela 6 – Cálculo de 𝑤𝑘 e Gráfico de Gauss da fissura “n°3”.

”cm”

Fonte: Autoral (2023).


57

Tabela 7 – Cálculo de 𝑤𝑘 e Gráfico de Gauss da fissura “n°4”.

”cm”

Fonte: Autoral (2023).


58

Tabela 8 – Denominação das Aberturas de fissura característica

Fonte: Adaptado Olivari (2003)

Utilizando a classificação dada por Olivari (2003), é possível determinar que as aberturas
aferidas estão enquadradas em:
Identificação da abertura Denominação

Fissura “nº1”: Trinca (0,64 mm);

Fissura “nº2”: Fissura (0,22 mm);

Fissura “nº3”: Fissura (0,49 mm);

Fissura “nº4”: Fissura (0,23 mm);

A verificação de estabilidade se dá pela aplicação do gesso nas fissuras e


observação da movimentação para se determinar a atividade ou passividade da fissura. A
aplicação ocorreu no mesmo dia do relatório fotográfico (Figura 51), 12/10/2023, e no
dia 12/11/2023, um mês depois percebeu-se que todas as fissuras não apresentaram
movimentação. Portanto, todas as aberturas de fissuras estão classificadas como passivas.
59

Figura 51 – Relatório fotográfico


Fonte: Autoral (2023).

No âmbito computacional, destaco a relevância do Microsoft Excel (Figura 52),


componente essencial do pacote Office 360, desempenhando um papel crucial na
formulação da Função de Gauss. Essa função é empregada para modelar a distribuição da
densidade de frequência das fissuras, proporcionando uma representação estatística
robusta das variações nas aberturas dessas fissuras.
60

Figura 52 – Captura de tela do Microsoft Excel, parte integrante do pacote Office 360,
datada de 18 de novembro de 2023.
Fonte: Autoral (2023).

Para uma representação visual detalhada, foi recorrido às ferramentas


especializadas de modelagem tridimensional, como o SketchUp 2023 (Figura 53),
Lumion 2023 (Figura 54) e o AutoCAD 2023 (Figura 55).

Figura 53 – Captura de tela da interface do Lumion 2023.


Fonte: Lumion
61

Figura 54 – Captura de tela da interface do SketchUp 2023.


Fonte: SketchUp.

Figura 55 – Captura de tela da interface do Autocad 2023.


Fonte: Autocad.
62

7. CONCLUSÕES

Ao longo deste estudo, foi explorado os métodos e teorias que resultam em uma
análise meticulosa sobre as anomalias e defeitos em razão de recalques diferenciais esta
pesquisa buscou compreender e analisar as implicações dos recalques diferenciais em
sistemas de vedação vertical interna e externa, identificando as causas subjacentes.
A análise da abertura de fissura característica revelou-se um componente
fundamental neste estudo. A capacidade de determinar e monitorar a abertura de fissuras
características desempenha um papel crucial na avaliação da segurança e da integridade
estrutural. A abertura dessas fissuras é um indicador importante de deformações
excessivas e pode alertar sobre a necessidade de intervenções preventivas. Além disso, o
conhecimento da abertura de fissura característica é essencial para o dimensionamento
adequado de sistemas de vedação vertical e a escolha dos materiais apropriados. A
compreensão desse parâmetro contribui significativamente para a prevenção de
anomalias e defeitos em razão de recalques diferenciais.
Outro aspecto fundamental deste estudo foi a realização de dois estudos de caso.
O primeiro, conduzido de autoria própria, permitiu-nos aplicar os conhecimentos teóricos
e metodológicos adquiridos durante a pesquisa em um contexto prático. Isso nos permitiu
avaliar as soluções propostas em condições reais, validando a eficácia das estratégias
recomendadas. Além disso, a análise do TCC de Matheus Fajardo Bortoli (2018)
enriqueceu nossa pesquisa, fornecendo um ponto de referência valioso e comparativo. O
estudo de caso desse autor acrescentou uma perspectiva complementar, ampliando nossa
compreensão das implicações dos recalques diferenciais em sistemas de vedação vertical.
A combinação dessas abordagens proporcionou uma visão abrangente do tema, realçando
a complexidade e a relevância do problema.
Para lidar com tais desafios, foi identificado um conjunto de estratégias e práticas
recomendadas que incluem a implementação de fundações adequadas, monitoramento
contínuo de recalques e manutenção preventiva.
63

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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