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ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina

ESTUDO DE ADSORÇÃO DE CHUMBO POR CARVÃO MINERAL

Ana Lucia Pereira de Araujo


Taís Wroitas Sereza
Marcelino Luiz Gimenes
Onélia Aparecida Andreo dos Santos

PRÓXIMA

Realização:

ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável


NISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP
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ESTUDO DE ADSORÇÃO DE CHUMBO POR CARVÃO


MINERAL
Ana Lucia Pereira de Araujo 2 ,Taís Wroitas Sereza 3 , Marcelino Luis Gimenes 4 e Onélia Aparecida
Andreo dos Santos 5 .

RESUMO – Este trabalho apresenta um estudo experimental da remoção de


chumbo de um efluente sintético por meio da adsorção com carvão mineral. Os
estudos cinéticos foram realizados na faixa de pH entre 3 e 5,5 intervalo no qual a
precipitação do metal foi mínima. Utilizou-se sistemas de banho finito tendo sido
observado que o equilíbrio foi atingido em aproximadamente 4,0 horas. Os
resultados mostraram que 70% do chumbo foi removido nos primeiros 5 minutos
pelo carvão. A partir dos dados experimentais foram ajustados os modelos das
isotermas de adsorção de Langmuir e Freundlich.

PALAVRAS-CHAVE: efluente líquido; chumbo; carvão; adsorção.

2
Aluna de Mestrado do Curso de Pós-Graduação de Engenharia Química da Universidade Estadual
de Maringá. analpa@deq.uem.br
3
Aluna de Iniciação Científica do Curso de Graduação de Engenharia Química da Universidade
Estadual de Maringá
4
Prof. Dr. do Departamento de Engenharia Química/DEQ-CTC da Universidade Estadual de Maringá
5
Profa. Dra. do Departamento de Engenharia Química/DEQ-CTC da Universidade Estadual de
Maringá.

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1. Introdução

Atualmente, a preocupação com o meio ambiente tem crescido. A população


têm exigido dos governantes e legisladores maior empenho na manutenção da
qualidade de vida. Um dos resultados deste movimento pode ser observado na
criação de órgãos controladores e de leis ambientais que limitam as descargas de
efluentes nas correntes de ar, nos córregos, rios e lagos.
O desenvolvimento industrial e o surgimento de novas tecnologias ocorrido nas
últimas décadas deve ser compatível com a preservação dos recursos naturais e
para isso novas técnicas de tratamento dos efluentes se fazem necessárias, a fim de
que seja possível aliar baixos custos à eficiência da preservação ambiental e da
saúde pública (Siqueira, 2002).
A poluição química talvez seja um dos tipos mais graves de contaminação da
água. Atualmente, resíduos que contem altas concentrações de metais pesados vem
exigindo cuidados especiais, devido ao seu nível de periculosidade quanto à
contaminação de lençóis freáticos e cursos de água e, também, quanto aos males
que causa ao ser humano e outras formas de vida.
Os efeitos de metais na água e efluentes variam de benéficos para
perigosamente tóxico (APHA, 1998). Exemplos benéficos pode ser encontrado em
muitas reações enzimáticas essenciais que usam metais pesados em baixas
concentrações. Porém, a maioria dos elementos conhecidos como metais pesados
são responsáveis por inúmeras enfermidades, desde simples alergias até problemas
respiratórios, estes elementos não são metabolizados pelos organismos produzindo
assim, o efeito de bioacumulação.
Considerando os aspectos nocivos apresentados pelos metais pesados, o
desenvolvimento de processos para remoção de metais de efluentes é muito
importante. A necessidade crescente de depuração de águas contaminadas com
íons metálicos fez com que surgissem processos em escala industrial cada vez mais
diversificados (Barros, 2003).
Industrialmente, o processo mais empregado para remoção de metais pesados
é a precipitação química, embora não seja suficientemente eficiente quando aplicado
ao tratamento de efluentes com baixas concentrações de íons metálicos dissolvidos
e muitas vezes não permita atingir os padrões exigidos pela legislação ambiental,
sendo necessária à aplicação de um processo complementar para o polimento final
do efluente. Neste sentido o processo de adsorção tem sido muito utilizado.
As principais vantagens do processo de adsorção em relação a precipitação
química são: a recuperação de metais, seletividade, pequeno volume de lodo e
capacidade de remover baixas concentrações de metais em efluentes (Ali & El-
Bishtawi, 1997).
Diversos materiais adsorventes têm sido objeto de estudos e propostos para a
remoção de metais de soluções aquosas. Estes adsorventes devem apresentar
características adequadas para a sua implementação em escala industrial, tais
como: alta capacidade de adsorção, seletividade, regenerabilidade, compatibilidade
e baixo custo (Cossich, 2000). O carvão apresenta estas características e é ainda
um dos adsorventes mais utilizados na remoção de impurezas de gases e líquidos.
Este trabalho tem como objetivo estudar o processo de adsorção do chumbo
de um efluente sintético utilizando carvão mineral. Este estudo envolve as seguintes
etapas: determinação das melhores condições de pH, tempo de equilíbrio e
obtenção das isotermas de Langmuir e Freundlich.

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2. Materiais e Métodos

2.1. Materiais Utilizados

O carvão utilizado neste trabalho foi fornecido pela CARBOTRAT – Carbonífera


Criciúma S.A.
As caracterizações superficiais do adsorvente foi realizada a partir das
isotermas de adsorção física de N2 (77 K), obtidas em um adsortômetro
Quantachrome, modelo NOVA-1200. A área superficial específica foi calculada pelo
método BET e a distribuição do tamanho dos poros foi calculado pelo método BJH,
como mostrado na Tabela 1.

Tabela 1. Caracterização Superficial dos Adsorventes


Parâmetro Carvão Mineral
Área superficial específica (m2/g) 3
Volume de poros (cm3/g) 0,005
Diâmetro de poros (Å) 22

O efluente sintético contendo chumbo utilizado nos testes foi preparado na


forma de solução a partir do reagente nitrato de chumbo [Pb(NO3)2.], pureza analítica
fornecido pela Chimie Test.

2.2. Separação das Amostras

As amostras de carvão foram separadas e classificadas por peneiramento. Os


materiais foram classificados utilizando-se peneiras de tamanhos de 20, 28, 32 e
35 mesh. Utilizou-se carvão com tamanho de partícula entre 500 e 595 mm.

2.3. Teste de Precipitação do Metal

A finalidade da realização dos ensaios de precipitação foi determinar o pH no


qual não ocorre a precipitação do metal chumbo, fenômeno este, que poderia
interferir no processo de adsorção.
Os ensaios de precipitação do chumbo foram realizados a partir de uma
solução de metal, na concentração de 100 mg/L. Volumes de 100 mL desta solução
foram colocados em béqueres variando-se o pH das soluções entre 2,0 e 7,0,
utilizando-se soluções de NaOH 0,1 M e H2SO4 0,1 M. As amostras, com diferentes
pHs obtidos, permaneceram em repouso por 24 horas à temperatura ambiente para
decantação. Após este período as amostras foram filtradas em papel quantitativo de
filtração lenta e a fase líquida analisada por Espectrofotometria de absorção atômica
(AA), em um equipamento Varian SpectrAA-10 plus.

2.4. Teste Cinético

A finalidade do teste cinético foi avaliar o tempo de contato necessário para


que o equilíbrio entre o material adsorvente e a solução metálica seja atingido.

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Os testes cinéticos foram realizados em sistemas de banho finito em


erlenmeyer de 50 mL contendo 0,1 g (massa seca) de adsorvente e 25 mL de
solução de chumbo (100 mg/L).
Os experimentos foram realizados em duplicata utilizando solução inicial com
pH igual a 5,0 à temperatura de 300C, sob agitação constante em “shaker”. Foram
retiradas amostras em intervalos de tempo pré-estabelecidos, filtradas em papel
quantitativo de filtração lenta e a fase líquida analisada por Espectrofotometria de
absorção atômica em relação as concentrações de chumbo para obter a curva de
concentração de metal em função do tempo.
A quantidade de metal adsorvida em cada tempo foi calculada utilizando-se a
Equação 1:
V (C0 − Ct )
q= (1)
ms
Em que:
C0 é a concentração inicial da solução metálica (t=0), Ct é a concentração da
solução metálica no tempo t, em mg/L, V é o volume da solução metálica no frasco
em L e ms a massa do adsorvente (base seca) em g.

2.5. Isotermas de Adsorção

Para a obtenção da isoterma, 25 mL de solução de chumbo com


concentrações variadas entre 30-1000 mg/L, foram colocados em erlenmeyers de 50
mL contendo 0,1 g (massa seca) de adsorvente. As amostras foram mantidas sob
agitação, em “shaker”, durante 10 horas, tempo necessário para que o equilíbrio
fosse atingido.
Foram utilizadas soluções de hidróxido de sódio 0,1 M e ácido sulfúrico 0,1 M
para ajustar o pH em 5,0. O controle do pH foi feito durante todo o ensaio, com
medidas realizadas a cada hora em pHmetro.
Ao final do ensaio, as amostras foram filtradas em papel quantitativo de
filtração lenta e a concentração do chumbo na fase líquida foi analisada por
espectrofotometria de absorção atômica.
A quantidade de metal adsorvida (qeq) foi calculada, em cada um dos frascos,
utilizando-se a Equação 2:
V (C 0 − C f )
q eq = (2)
ms
Em que:
C0 e Cf são as concentrações iniciais e de equilíbrio em mg/L, V é o volume da
solução de metal nos frascos em L e ms é a massa do adsorvente (base seca) em g.
Para o ajuste dos dados de equilíbrio experimentais, utilizou-se o modelo de
isoterma de Langmuir e Freundlich representados pelas Equações (3) e (4),
respectivamente.
q max ⋅ b ⋅ C eq
q eq = (3)
1 + b ⋅ C eq

qeq = k ⋅ Ceqm (4)

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3. Resultados e Discussão

3.1. Precipitação do metal

A Figura 1 apresenta os resultados dos testes de precipitação do chumbo.


Observa-se nesta figura que a quantidade mínima de precipitação do chumbo ocorre
entre pH 3 e 5,5. Em decorrência disto, para minimizar a interferência da
precipitação, adotou-se para os estudos da adsorção o valor de pH 5.
Comparativamente a mínima precipitação obtida por Siqueira et al (2002) e Abdel-
Halim et al (2002) foram em pH 4,5 e 4.0, respectivamente.

100
Metal precipitado (ppm)

80

60

40

20

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
pH

Figura 1. Quantidade de chumbo precipitado em função do pH.

3.2. Teste Cinético

A Figura 2 mostra a quantidade removida de chumbo (fração removida) pelo


carvão mineral. A partir dos dados experimentais do teste cinético observou-se que
um tempo de contato de aproximadamente 3,0 horas foi suficiente para alcançar o
equilíbrio.
1-[(Ct-Ceq)/(Co-Ceq)]

1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
Tempo (h)

Figura 2. Fração de remoção de chumbo pelo carvão (pH=5; Temperatura=300C).

Pode-se observar, ao longo deste período, que a quantidade de chumbo


removida pelo carvão permaneceu em torno de 91% para uma concentração inicial
de 100 mg/L de metal. Os dados obtidos mostram que a remoção do metal ocorre
rapidamente nos primeiro 5,0 minutos, quando 70% do metal em solução é removido
pelo carvão. Ghoul et al (2003) obtiveram 90% de remoção de chumbo após
40 minutos usando sílica gel modificada quimicamente.

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3.3. Isotermas de Adsorção

Os dados experimentais obtidos foram ajustados pelos modelos das isotermas


de adsorção de Langmuir e Freundlich [equações (3) e (4)]. Os parâmetros de
equilíbrio destes modelos são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Parâmetros de equilíbrio para os modelos de adsorção


Modelo de Langmuir Modelo de Freundlich
qmáx 57,8034 k 1,4699
b 0,0122 m 0,6262
R2 0,9733 R2 0,9901

Pode-se observar, à vista dos valores dos coeficientes de regressão (R2) na


Tabela 2, que o modelo da isoterma de adsorção de Freundlich apresentou um
melhor ajuste para os dados de adsorção de chumbo nas condições estudadas.
Os dados de equilíbrio dos sistemas de adsorção chumbo-carvão e as
respectivas curvas dos modelos da isoterma de Langmuir e de Freundlich estão
ilustradas na Figura 3.

100
q(ppm de chumbo/g de

80
carvão)

60

40
Dados experimentais

20
Freundlich
Langmuir
0
0 200 400 600 800
Concentração de equilíbrio (ppm)

Figura 3. Dados de equilíbrio do sistema de adsorção do chumbo pelo carvão


(pH=5; temperatura=300C).

4. Conclusões

As análises de precipitação do metal mostraram que a faixa de pH


recomendada para o estudo de adsorção do chumbo situa-se entre valores de 3 e
5,5, que é a faixa na qual o processo de adsorção é pouco influenciado pelo
fenômeno da precipitação. Com base nestes resultados os estudos de adsorção
foram conduzidos no pH 5.
O estudo dos dados de equilíbrio, nas condições experimentais empregadas,
mostrou que na presença do carvão mineral foram removidos 70% do chumbo nos
primeiros 5 minutos demonstrando a eficácia deste adsorvente.
Os dados de equilíbrio nos ensaios experimentais de adsorção do chumbo pelo
carvão mineral, em sistema batelada, foram ajustados pelos modelos das isotermas

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de adsorção de Langmuir e Freundlich, a partir destes foram determinados seus
parâmetros. Observou-se que o modelo da isoterma de adsorção de Freundlich
apresentou um melhor ajuste para os dados de adsorção de chumbo-carvão nas
condições experimentais estudadas.

5. Agradecimentos

Os autores deste trabalho agradecem ao CNPq pela concessão de bolsas de


mestrado e iniciação científica.

6. Referências Bibliográficas

SIQUEIRA, R.A., BARBOSA, C.M.B.M., ABREU, C.A.M., RODRIGUES, M.G.F.,


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In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA QUÍMICA-COBEQ, 15., 2002,
Natal – RN. 1CD.

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1998.

BARROS, M.A.S.D. Avaliação do mecanismo de troca iônica de cromo em sistemas


zeolíticos, Tese de Doutorado Universidade Estadual de Maringá, Maringá – PR,
2003.

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COSSICH, E.S. Biossorção de cromo (III) pela biomassa da alga marinha


Sargassum sp. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas-
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ABDEL-HALIM, S.S., SHEHATA, A.M.A., EL-SHAHAT, M.F., Removal of lead ions


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1678-1683, 2003.

GHOUL, M., BACQUET, M., MORCELLET, M, Uptake of heavy metals from


synthetic aqueous solutions using modified PEI – silica gels, Water Research., v. 37,
p. 329-374, 2003.

ABSTRACTS – This work presents an experimental study of the removal of lead of a


synthetic effluents through the adsorption with mineral carbon. The kinetic studies
were carried out in under pH condition in which precipitation of the metal were
minimal. Adsorption systems of finite bath had been used and it was observed that
equilibrium was reached after approximately 4,0 hours. The outcomes showed that
70% of the lead were removed in the first 5 minutes by the use of carbon.
Experimental data were fitted to Langmuir and Freundlich adsorption isotherm model’
s.

KEY-WORDS: effluents; lead; carbon; adsorption.

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