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1.

Há evidências empíricas de que o emprego de técnicas e estratégias de


mediação de conflitos contribuem para a manutenção de um ambiente civilmente
estável no contexto das manifestações públicas reivindicatórias, facilitando o
entendimento entre as partes quanto ao exercício concomitante de direitos
fundamentais ora colidentes e, consequentemente, promovendo a redução de
danos pela máximo retardamento do recurso à ultima ratio?
2. Considerando a conjuntura atual do sistema estadual de segurança pública
cearense, a institucionalização da mediação de conflitos como estratégia e
ferramenta de intervenção por parte da tropa de choque da PMCE traria
benefícios sociais relevantes?

2 JUSTIFICATIVA

Manifestações públicas reivindicatórias são uma constante na atual conjuntura


social brasileira, especialmente nas grandes cidades. A despeito das motivações –
ideológicas, políticas, trabalhistas, religiosas – entidades ou lideranças
independentes promovem com frequência atos em defesa das pretensões –
legítimas ou não – daqueles que representam, normalmente em oposição a ações
ou omissões do poder público, nas diversas esferas de governo. Por imposição da
lei, a PMCE está inserida nesse contexto como órgão diretamente responsável pela
preservação da ordem pública e pelo controle de eventuais distúrbios civis.
Por óbvio, no cumprimento dessas missões, a Instituição tem sua atuação
limitada por uma série de restrições de ordem legal e ética, notadamente em razão
de seu compromisso objetivo com o respeito à cidadania, a preservação dos direitos
individuais e coletivos e a natureza pacificadora da atividade policial, caracterizada
pela promoção do desfecho menos gravoso para as situações de conflito que se
apresentem. Nesse sentido, o aperfeiçoamento dos mecanismos de interação com a
sociedade tem papel determinante na busca pela paz social.
Apesar da ampla adesão institucional a esses compromissos, imposta
inexoravelmente pelas normas e pelo contexto social vigente, os atuais protocolos
para as intervenções em manifestações públicas reivindicatórias não preveem
taxativamente o emprego de instrumentos de composição e solução pacífica de
conflitos, embora seu uso empírico seja uma realidade facilmente observável.
Portanto, há que se considerar a inadequação dessa prática, visto que a ausência
de regulamentação e qualificação para o exercício dessa atividade compromete o
melhor resultado possível, ferindo o princípio da efetividade, que se caracteriza pela
adequada, tempestiva e eficiente solução das controvérsias.
Em muitas situações, medidas preventivas como o levantamento prévio de
informações acerca do desenvolvimento dos eventos sociais críticos e o
posicionamento estratégico da tropa de choque no espaço público não são
suficientes para impedir ações ilegais e garantir os direitos das pessoas não
envolvidas. No entanto, a rápida identificação de lideranças e a abertura de um
canal qualificado de diálogo entre estas e o comando da operação tem o potencial
de evitar tensões e gerar um clima de cooperação mútua, criando uma conjuntura
voltada ao atendimento do interesse de todos, anulando a necessidade de recorrer à
força.
Nesse contexto, uma equipe de mediadores exclusivamente dedicada e com
conhecimentos técnicos sobre ações de choque, mas atuando simplesmente como
facilitadores da comunicação, sem poder de decisão e sem comando sobre a tropa,
usando técnicas e estratégias adequadas de resolução de conflitos, assumiria o
papel de terceiro imparcial, com esforços voltados integralmente à garantia da
composição de interesses. Como missão precípua, os mediadores manteriam as
partes – manifestantes e comando da tropa de choque – cientes dos termos uma da
outra, mas à distância, evitando assim eventuais animosidades e emprego
prematuro ou impróprio das técnicas de controle de multidões.
Os resultados da pesquisa proposta podem ser imediata e plenamente
aproveitados no aperfeiçoamento do serviço público em questão, pois quadros da
PMCE que contam com larga experiência em intervenções estratégicas em
movimentos sociais e gestão de multidões em conflitos agrários, grandes eventos
esportivos e culturais, reintegrações de posse e manifestações reivindicatórias das
mais diversas ordens, estão em condições de incorporar o conhecimento e qualificar
as ações institucionais.
Ressalte-se que, apesar das iniciativas serem recentes, o uso de mediadores
em manifestações públicas reivindicatórias não é exatamente uma novidade no
Brasil. Em algumas unidades da federação a prática já está consolidada em
legislação específica (SÃO PAULO, 2020), conta com a manifesta aceitação da
opinião pública (ARAÚJO, 2019; MINAS GERAIS 2017) e tem passado pela
validação acadêmica de sua efetividade (MALAGUTTI, 2020; OLIVEIRA, 2016).

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