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ESCOLA SUPERIOR DE EDUCADORES DE

INFÂNCIA MARIA ULRICH

CONQUISTA DA AUTONOMIA: QUAL O PAPEL DO REFORÇO


POSITIVO?

Maria Leonor Granate Leite Santos

Relatório Final realizado no âmbito da área


Científica de Prática de Ensino Supervisionada

Mestrado em Educação Pré-Escolar

Orientadora: Mestre Helena Quintela

Lisboa
2015


ESCOLA SUPERIOR DE EDUCADORES DE


INFÂNCIA MARIA ULRICH

CONQUISTA DA AUTONOMIA: QUAL O PAPEL DO REFORÇO


POSITIVO?

Maria Leonor Granate Leite Santos

Relatório Final realizado no âmbito da área


Científica de Prática de Ensino Supervisionada

Mestrado em Educação Pré-Escolar

Orientadora: Mestre Helena Quintela

Lisboa
2015

II

 



Quero agradecer à minha orientadora


Professora Helena Quintela, pela
disponibilidade, atenção, paciência,
dedicação e profissionalismo.

À minha família, em particular aos meus


pais.

Aos meus amigos, em especial à Teresa


Sarmento, por toda a ajuda que me deu
durante a elaboração do Relatório Final.

III

 

Resumo:

Este Relatório Final assenta no Paradigma Qualitativo e Interpretativo e insere-se


no âmbito da Área Científica da Prática de Ensino Supervisionada – PES, do Mestrado
em Educação Pré-escolar, na Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich.

Este estudo emergiu durante o estágio, foi no decorrer deste que pude constatar
sobre importância da conquista da autonomia na vida de uma criança. Surgiu então a
questão na qual me foquei para esta investigação – A conquista da autonomia: Qual o
papel do reforço positivo.

Os dados para esta investigação foram recolhidos numa instituição privada, ao


longo do meu percurso de estágio, no corrente ano lectivo 2011/2012. Este trabalho
advém do instrumento de recolha de dados, as Notas de Campo, que sustentam todo o
meu estudo.

Os dados recolhidos foram analisados por mim e depois fundamentados com


autores de referência, isto possibilitou-me compreender algumas estratégias e atitudes a
utilizar enquanto educadora.

A fundamentação teórica utilizada permitiu-me justificar a reflexão e a análise das


Notas de Campo. E pude verificar com isto que os dados analisados apontam para uma
forte relação entre o papel do adulto na conquista da autonomia da criança e a
motivação da própria criança na mesma conquista.

IV

 

Palavras-chave

Autonomia

Reforço-positivo

Conquista

Iniciativa

 

Abstract

This Final Report is based on the Qualitative and Interpretive Paradigm and falls
within the framework of the Scientific Field of Prática de Ensino Supervisada –
PES (Supervised Teaching Practice), from the Master in Preschool Education at Escola
Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich.

This study emerged during the internship, when I could observe the importance of
the conquest of autonomy in the life of a child. The question then arose in which I
focused on for this investigation - The conquest of autonomy: What is the role of
positive reinforcement.

The data for this investigation were collected at a private institution during my
internship in the academic year 2011/2012. This work derives from data collection
instrument, the Field Notes, that sustain all of my study.

The collected data were analyzed by me and then grounded with referenced
authors, this enabled me to understand some strategies and attitudes I could use as an
educator.

The theoretical basis that was used allowed me to justify the reflection and analysis
of the Field Notes. And by this I could verify that the analyzed data point to a strong
relation between the adult role in the child's conquest of autonomy and the child's own
motivation in that achievement.

VI

 

Key Words

Autonomy

Positive reinforcement

Achievement

Initiative

VII

 

Índice:
1. Introdução ................................................................................................... 9
2. O problema: A relevância (porquê?) ………………………..…….........11
A conquista da autonomia: Qual o papel do reforço positivo?
3. Os objectivos: A adequação (para quê?) ……………………………… 17
Intencionalidade
Objectivos do trabalho
4. Metodologia: A autenticidade (como?) ………………………………... 19
Posicionamento paradigmático (qualitativo e interpretativo)
As Notas de Campo como instrumento de recolha de dados
Descrição de procedimentos
Implementação – Cronograma (o quê/quando?)
5. Leitura dos dados (análise e interpretação) – A sustentabilidade…… 24
Indicadores; Significado/Significados;
Adequação da Notas de Campo e fundamentação teórica
6. Conclusões: A transformação ………………………………………..... 31
Breve resumo sobre os aspectos fundamentais do trabalho
7. Referências Bibliográficas ………………………….…………………...34
8. Anexos …………………………………………………………………... 36
Notas de Campo

VIII

 

Introdução
O presente Relatório Final, que se encontra redigido sob o antigo acordo ortográfico,
insere-se no âmbito da Área Científica de Prática de Ensino Supervisionada (PES), que
por sua vez, se encontra incluída no Mestrado em Educação Pré-escolar.

A minha pergunta de partida - A conquista da autonomia: Qual o papel do


Reforço Positivo?- por ser um tema que sempre me suscitou interesse ao longo do meu
percurso enquanto estudante e estagiária, surgiu-me naturalmente a partir da recolha de
Notas de Campo, no contexto da minha prática pedagógica na Escola “Avé-Maria”.

A pergunta de partida do meu relatório final, como referi anteriormente surgiu


espontaneamente durante o estágio ao deparar-me com crianças que estão a entrar numa
fase de constante procura de autonomia (3 anos). Isto porque tanto fisicamente como
intelectualmente nesta idade a criança adquire capacidades que a vão ajudar a tornar-se
autónoma. Como por exemplo, a criança começa a conseguir realizar as tarefas diárias
sozinha (vestir, comer, arrumar, etc). Também é nesta idade que a curiosidade da
criança começa a surgir frequentemente, e a consciência de si própria desenvolve-se
bastante nesta fase do desenvolvimento. Quis então perceber e reflectir melhor sobre a
conquista da autonomia para depois poder encontrar estratégias de actuação sobre este
tema.

Visto que a autonomia, é analisada como um processo que se inicia na infância e se


desenvolve por toda a vida do ser humano, considero que o educador tem um papel
fundamental na sua conquista, pois sendo o educador uma referência para a criança,
julgo que cabe-lhe equilibrar esta fase, dando simultaneamente segurança e liberdade à
criança.

Utilizando uma metodologia de investigação qualitativa, este relatório focaliza-se na


compreensão do processo de conquista de autonomia em crianças de três anos de idade.

Assim, este relatório começa com uma introdução, onde exponho a questão, bem
como a razão da sua escolha. Seguidamente o Problema, onde explico de forma mais
aprofundada o problema/questão que está na base deste relatório e a justificação da
escolha do mesmo, bem como a sua contextualização e sustentação teórica.

Seguidamente apresento os Objectivos do relatório, onde explico a minha


intencionalidade, metas concretas e a definição operacional dos termos, para uma
melhor compreensão dos conceitos sobre os quais me irei debruçar.

 

No capítulo que se segue explico a Metodologia do trabalho é esta baseada no
paradigma qualitativo/interpretativo por se tratar de um estudo na área das ciências
humanas. Aclaro as características do paradigma qualitativo, o cronograma do relatório
e defino qual a importância das Notas de Campo como instrumento de recolha de
dados.

Analisei as minhas Notas de Campo, retirando destas os indicadores e os


significados, interpretando-as a partir de duas categorias distintas:

“Categoria A” – Estratégias do adulto de reforço positivo para a conquista da


autonomia da criança.

“Categoria B” – A iniciativa da criança para a conquista da autonomia.

Concluo o trabalho, com um breve resumo sobre os seus aspectos fundamentais,


tentando uma verificação no sentido dos objectivos terem sido ou não alcançados, e
expressando as dificuldades e as aprendizagens que obtive ao realizá-lo.

Depois das conclusões apresento o capítulo das Referências Bibliográficas, onde


menciono, por ordem alfabética, os autores que consultei e referi ao longo desta
investigação.

Os anexos, onde se inserem as Notas de Campo utilizadas, encontram-se no fim deste


relatório.

Desta forma, propõe-se neste relatório final entender de forma mais aprofundada
qual o processo da conquista da autonomia na criança em idade pré-escolar e quais as
estratégias que o educador deve utilizar para um melhor desenvolvimento desta.




O Problema

No âmbito da Área Científica de Prática de Ensino Supervisionada surgiu-me de


forma natural um novo interesse. Tive a oportunidade de verificar os benefícios que a
autonomia oferece às crianças e ao funcionamento prático de uma instituição. Pois a
autonomia é tão importante nos processos educacionais, quanto nos processos sociais.
Foi no decorrer do último estágio que adquiri maior consciência sobre a importância da
autonomia na educação e no desenvolvimento do ser humano.

A escola onde realizei o estágio é católica e fundamenta a sua actividade educacional


na pessoa de Jesus Cristo e na Sua Mensagem. Comprometida na promoção da pessoa
total, na sua formação humana e espiritual. Cultiva os valores humanos que considera
fundamentais e essenciais, são estes: Fé, Cultura e Vida.

“Proporciona uma abertura às diferenças e complementaridade humanas com o


incentivo à tolerância e à procura dos valores cristãos que tornam o homem
verdadeiramente feliz. Orienta a reflexão e a acção no sentido do amor para que as
crianças experimentem a fonte do Amor – Deus Pai.”

(Retirado do site oficial da Escola “Ave-Maria” – Direcção)

Seria difícil não constatar, que para esta escola é especialmente importante o tema da
autonomia na medida em que está registrada como um objectivo a ser desenvolvido
junto aos alunos pelo colectivo docente. Como estagiária, pude observar que prima
bastante pela autonomia e tem como um dos seus objectivos orientar a criança para uma
“autonomia responsável”, pois para esta escola “a criança autónoma respeita a
autonomia do outro e está preparada para o Amor, o Diálogo, a Compreensão e a
Tolerância.” (Retirado do site oficial da Escola “Ave-Maria” – Direcção).

Este foi um aspecto que pude observar, pois fiquei admirada com o grau de
desenvolvimento e autonomia que crianças de três anos podem alcançar.

O grupo de crianças com que estagiei era permanentemente estimulado a ser


autónomo, ou seja as crianças eram estimuladas a terem capacidade de decidir, de actuar
sozinhas e de superarem as dificuldades do quotidiano com que se deparavam. O grupo
era bastante homogéneo, e estava numa fase de constante descoberta. As crianças do
grupo já tinham adquirido a linguagem, e o nível de compreensão oral era apropriado
para a idade. As brincadeiras entre pares já começavam a ser cada vez mais constantes e
organizadas. Estas crianças já desempenhavam actividades em conjunto, no entanto, a



disputa pelo mesmo brinquedo e alguns conflitos entre pares ainda eram frequentes,
fazendo assim com que recorressem várias vezes ao adulto para resolução do problema.

“R dirige-se a mim e diz: «Leonor, a M diz que eu não posso brincar com ela
porque sou bebé!» (…).”

Nota de Campo, (09/05/2012)

Estas crianças encontravam-se numa fase de exercício de autonomia, e esta fase leva
à necessidade de se estabelecer algumas regras e limites considerados imprescindíveis.
A necessidade de estabelecer regras e limites tem a ver, essencialmente, com o saber
dizer “não” à criança. Pois, uma criança que cresce sem limites não significa que se
torne numa criança livre nem feliz, pelo contrário, muitas vezes estas crianças
encontram-se permanentemente angustiadas, têm pesadelos e são inseguras. Assim,
estabelecer regras e limites tem uma função estruturante na mente da criança, desde que
estas sejam claras, coerentes, firmes, constantes e consequentes. A criança precisa de
conhecer até onde pode ir para se sentir mais confiante e alimentar a auto-confiança,
porque isso fá-la-á sentir-se mais segura e consequentemente mais autónoma.

As crianças reproduziam gestos e atitudes umas com as outras e mostravam grande


prazer em imitar acções quotidianas dos adultos como por exemplo alimentar as
bonecas, falar ao telefone, fingir refeições. Mostravam autonomia nos momentos das
refeições, na ida à casa de banho, a transmitir recados e na organização da brincadeira
livre quer na sala quer no recreio.

A citação abaixo refere-se à 1ª infância, no entanto explica que é quando se dá a


maturação física que a conquista da autonomia se começa a desenvolver com maior
intensidade.

Durante este segundo período da infância, o desenvolvimento emocional e


pessoal progride para o que Erikson designa por estádio da autonomia versus
vergonha. Neste estádio, a criança emerge de uma dependência quase total em
relação à pessoa responsável pela sua educação e começa, em termos literais e
figurativos, a andar pelo seu próprio pé. A maturação física, que permite que o
bebé gatinhe, ande, corra, trepe, proporciona os meios necessários para um grande
salto no sentido da autonomia pessoal. É um período de exploração intensa, em
que a criança parece estar envolvida activamente em praticamente tudo.

(Sprinthall & Sprinthall, 1993,p.143)




Penso que os princípios e valores que regem a minha prática educativa estão
totalmente ligados aos princípios e valores que regem a minha vida pessoal. À medida
que fui amadurecendo, a minha perspectiva do mundo e a minha maneira de viver
tornaram-se mais sólidos. É muito importante ter oportunidade de decisão sobre os
problemas com que me deparo, sem nunca desprezar os valores que fui adquirindo. Um
dos aspectos que me permitiu solidificar os meus valores foi perceber que não se é feliz
sozinho, que a felicidade só é real sendo partilhada. Por isso, prejudicar, maltratar e
desrespeitar as pessoas que nos rodeiam nunca será a solução para viver bem; saber
defender e ser firme nas minhas opiniões e nos meus pontos de vista; não deixar que me
desrespeitem nem que me humilhem; são os pilares que sustentam a minha maneira de
estar. Portanto, como afirmei no início deste parágrafo, os valores e princípios que
regem a minha prática educativa não se conseguem separar dos princípios e valores que
regem a minha vida. Assim, o mais importante na minha prática educativa é talvez, mais
do que ensinar às crianças os planos curriculares, ensiná-las a viver, a tornarem-se
sujeitos das suas próprias histórias e a saberem “ler” o mundo que as rodeia. Por esta
razão, através do exemplo e da liberdade de experimentação, gostaria de “guiar” as
crianças com que futuramente irei trabalhar para que deem valor à vida; para que se
respeitem e respeitem o próximo, para que saibam diferenciar o respeito pelos adultos; e
por último, mas com a mesma importância, que se tornem crianças e adultos autónomos
ou seja, com capacidade de decisão e de escolha.

Durante o estágio fui-me apercebendo que o Reforço Positivo poderia ser um grande
pilar na conquista da autonomia. Apercebi-me, que ao reforçar positivamente um acto
de uma criança ou encorajá-la, aumentava a probabilidade de resposta por parte da
criança. Reforçar o comportamento positivo ajuda a criança a sentir-se bem com as suas
escolhas, o que, por sua vez, motiva-a a aperfeiçoar ainda mais o comportamento que
lhes traz gratificações. O Reforço Positivo é uma forma de incentivo, que faz com que a
criança se sinta reconhecida pelos seus esforços. Basta dizer ou ter atitudes simples com
a criança para que esta tenha mais vontade e incentivo para agradar e realizar novas
conquistas. E tudo o que a faça sentir-se válida e que lhe dê auto-estima, vai
consequentemente torna-la mais autónoma.

Assim, depois de ter reflectido sobre a importância da conquista da autonomia na


vida de uma criança e de me ter apercebido que um dos grandes factores: o Reforço
Positivo, não o único, mas determinante para que esta se desenvolva, emergiu o




problema que se integra na minha decisão de trabalho: A conquista da autonomia:
qual o papel do reforço positivo?

No registo das Notas de Campo constatei que espontaneamente utilizava o Reforço


Positivo como forma de incentivar as crianças a conseguirem chegar aos seus próprios
objectivos e também como forma de as elogiar pelo esforço e pelos actos conseguidos
por elas mesmas.

“ (…) Quando acabou de descer olhou para mim e disse: “O P (2,11) conseguiu
descer as escadas todas sozinho, sem ajuda! A Leonor viu?”. Respondi: “Vi pois!
Muito bem, espetacular!”. (…) ”

Nota de Campo, (19/03/2012)

Penso que encorajar a acção de uma criança (Reforço Positivo) por um esforço ou
por uma conquista, motiva-a e leva-a a adquirir maior autonomia. O adulto, ao reforçar
positivamente um esforço ou uma conquista da criança, está a ajuda-la a sentir que é
capaz de fazer bem e está também a elevar-lhe a auto-estima. É ao sentir-se capaz que a
criança vai-se tornando mais segura e consequentemente autónoma. Portanto, segundo
esta lógica, penso que o Reforço Positivo é um factor essencial para a conquista da
autonomia.

Julgo que muitas vezes inconscientemente os adultos reagem mais aos


comportamentos negativos da criança do que aos comportamentos positivos e às
conquistas, pois quando a criança faz o que é “esperado” para a sua idade, raramente
obtém reconhecimento dos adultos, sendo considerado que fez apenas “a sua
obrigação”. O adulto tem de ter em conta que cada criança tem o seu ritmo e que o seu
desenvolvimento surge de maneira progressiva e espontânea. Sem dúvida, que necessita
do estímulo e do apoio dos adultos presentes na sua vida, para que este processo seja o
mais saudável possível. Deve então haver um equilíbrio e bom senso, para não exigir
mais do que ela possa dar. E se para “aquela” criança houve uma situação que implicou
esforço e dedicação, mesmo que fosse o “esperado” pelo adulto, deve-se sempre
reconhecer e reforçar positivamente a atitude.

Considero que o Reforço Positivo pode ser uma estratégia eficaz na conquista da
autonomia, pois ao ser reconhecida pelos comportamentos adequados, a criança tanto
vai tentar comportar-se novamente daquela maneira (pois gosta de ser reconhecida e




gosta de agradar os adultos que fazem parte da sua vida), como, fica mais motivada a
realizar novas conquistas e a sentir-se “livre” e “à vontade” para tomar as suas decisões.

Para Skinner um reforço positivo é qualquer estímulo que, quando acrescentado


à situação, aumenta a probabilidade de ocorrência na resposta. (…) O reforço é
definido como algo que se observou aumentar a probabilidade de repetição da
resposta.

(Citado por Sprinthall & Sprinthall, 1993,p.226)

Na Nota de Campo abaixo referenciada encontra-se um exemplo do que referi


anteriormente. A criança que não queria comer a cenoura, ao ser motivada experimenta.
Por fim, acaba por gostar da sensação de ser reconhecida, comendo mais um pedaço de
cenoura.

“Digo-lhe: “Mas se a M (3,5) experimentar várias vezes, assim bocadinhos


pequenos, vai aprender a gostar, ainda por cima a cenoura que faz os olhos
bonitos!”. M experimenta um bocado de cenoura. Digo-lhe: “ Boa M, mas que
linda!”. Acaba de engolir olha para a auxiliar e diz: “ Carol, eu consegui comer
cenoura! Olhe eu!” E come mais um bocado de cenoura.” A Carol e eu olhamos para
M a sorrir. Carol exclama: “ Que linda M, que grande conquista!”.

Nota de Campo, (16/04/2012)

A auxiliar depois desta situação ter acontecido explicou-me que M tem algumas
dificuldades em comer a salada, e são raras as vezes que come, o normal, quando
alguém insiste para que coma, é pôr na boca e cuspir a salada para o prato.

Numa tentativa que M comesse a cenoura tentei incentivá-la com algo que lhe iria
suscitar interesse dizendo-lhe que a cenoura iria fazer-lhe bem e que se a comesse
ficaria com os olhos mais bonitos. O meu incentivo resultou, pois M comeu a salada e
sentiu-se bastante realizada por ter conseguido fazê-lo.

Na minha opinião, é nestas pequenas conquistas realizadas pela criança, que o adulto
deve aproveitar para a reforçar positivamente e para a motivar, mostrando assim à
criança que esta é capaz disto e de muito mais.

Por esta razão, os adultos que convivem diariamente com crianças, não devem nunca
desprezar estes pequenos momentos diários para as reforçar positivamente. Pois a




criança vai se tornando cada vez mais confiante, tendo oportunidade de desenvolver a
sua autonomia.

São vários processos bem-sucedidos e reconhecidos positivamente pelo adulto e pela


própria criança que fazem com que a autonomia se vá formando nela. Uma criança
autónoma consegue espontaneamente ser livre nas suas opiniões e decisões. Por esta
razão, acho que se torna bastante importante que uma criança saiba reconhecer os seus
actos bem-sucedidos, tornando-se assim fundamental o papel do educador em apoiar a
criança a reconhecer as suas conquistas.

Assim, considero que a criança deve ser valorizada pelo esforço e não pelo produto
final, e deve também saber valorizar-se e valorizar os outros, ficando mais motivada a
ser autónoma. Na Nota de Campo abaixo citada, podemos observar um exemplo do que
acabei de referir, a criança é reforçada e estimulada a fazer sozinha, acabando por ser a
própria criança a valorizar-se pelo esforço e pela conquista.

“ (…) Então, pego num sapato, alargo os atacadores e digo-lhe: “Veja lá se


consegue melhor assim.” M (3,5) pega no sapato e consegue calçá-lo. Repito o
mesmo com o outro e M consegue novamente calçar o sapato. Digo-lhe: “Boa! Vê
como consegue calçar os sapatos sozinha!?”, “ Sim, pois é a M afinal consegue
calçar os sapatos, a M é crescida e já vai fazer 4 anos!”, responde M sorrindo.”

Nota de Campo, (21/03/2012)

Para a construção da autonomia o educador deve então criar um ambiente favorável,


de confiança, e que faça com que a criança se sinta aceite e compreendida. As crianças
aprendem melhor quando se sentem bem no local de aprendizagem (a escola).

Diante desta perspectiva e depois de uma reflexão geral sobre a influência do reforço
positivo na conquista da autonomia surgem as seguintes questões:

Que desafios deve promover o educador para o exercício da autonomia?

Como é que o trabalho educativo do educador de infância, pode favorecer o


processo de conquista de autonomia na criança de 3 anos de idade?

Como é que o educador estimula na criança a capacidade de ser autónomo, ou


seja, a capacidade de decisão e iniciativa?

Qual o papel do reforço positivo para favorecer a conquista da autonomia?




Os Objectivos

As palavras podem ser interpretadas de várias formas e ter vários significados, por
isso é bastante importante e necessário esclarecer qual o significado dos termos
utilizados neste relatório. Assim, irei definir quais os conceitos-chave do enunciado do
problema e irei definir o que significam neste contexto.

Depois destas definições irei então enumerar as finalidades, os objectivos e a


adequação destes para a elaboração deste relatório.

Conquista – acção de lutar para se obter o que se quer; o que se obtém através de
esforço ou trabalho (Grupo Porto Editora, Dicionários e Enciclopédias, Infopédia).

Autonomia - faculdade de se governar por si mesmo; liberdade ou independência


moral ou intelectual (Grupo Porto Editora, Dicionários e Enciclopédias, Infopédia).

A palavra autonomia vem do grego autos “si mesmo” e nomos “lei”, e


significa autogoverno, autoconstrução, ou seja, capacidade de autodeterminação e
de autorregulação (… ) A autonomia não é um valor fechado em si mesmo, mas
um valor que se determina numa relação de interacção social.

(Torres, Santana, Villela, 2009, p.101)

A autonomia é a capacidade da criança levar a cabo acções de independência e


exploração habitualmente acompanhadas por afirmações do tipo: “o que estará
para lá do sítio onde estou?” e “Deixem-me fazer isto sozinho”. É que, embora as
crianças necessitem experimentar um forte sentimento de ligação emocional
relativamente aos seus pais e educadores, necessitam simultaneamente de
desenvolver um sentido de identidade própria enquanto pessoas autónomas e
independentes, com capacidade para efectuar escolhas e tomar decisões.

(Hohmann & Weikart, 1995, p.66)

Ou seja, autonomia é tanto a capacidade de fazer sozinho acções diárias


como a capacidade de decisão e de escolha.

Reforço Positivo – aquilo que serve para dar mais força, solidez, intensidade e
resistência (Grupo Porto Editora, Dicionários e Enciclopédias, Infopédia). “Para
Skinner um reforço positivo é qualquer estímulo que, quando acrescentado à situação,
aumenta a probabilidade de ocorrência na resposta. (…) O reforço é definido como algo
que se observou aumentar a probabilidade de repetição da resposta.” (Sprinthall &
Sprinthall, 1993,p.226)




A intencionalidade desta investigação é aprofundar o conhecimento sobre o papel do
reforço positivo na conquista da autonomia. Como educadora, pretendo investigar os
procedimentos que envolvem o reforço positivo na aprendizagem e que melhor se
adequem ao desenvolvimento da autonomia.

Assim, de forma a estruturar melhor este trabalho decidi organizar os meus


objectivos por itens:

• Reflectir sobre a importância do reforço positivo na conquista da


autonomia da criança;

• Identificar estratégias do educador para o exercício da autonomia;

• Perceber o papel do reforço positivo na conquista da autonomia;

• Perceber a importância da motivação/iniciativa da criança para alcançar a


própria autonomia.




Metodologia

Segundo Fernandes (1991), no paradigma qualitativo não se considera a existência


de uma só interpretação (objectiva) da realidade, pelo contrário, admite-se que há várias
interpretações da realidade, tantos quantos o número de investigadores que a procuram
interpretar.

No paradigma qualitativo, o investigador é o “instrumento” de recolha de dados.


Assim, a qualidade, legitimidade e fiabilidade dos dados depende muito da sua
sensibilidade, da sua integridade e do seu conhecimento. Guba (1990, p.17) considera o
paradigma qualitativo “um conjunto de crenças que orientam a acção”.

Como é evidente, o paradigma qualitativo pressupõe o recurso ao método qualitativo.


Será esta a metodologia – investigação qualitativa - que irei utilizar para a elaboração do
Relatório Final.

Bogdan e Biklen, apresentam a investigação qualitativa a partir de uma perspectiva


mais social, caracterizada por dar relevância à descrição e à observação participante. Por
esta razão, denomina-se uma investigação qualitativa, pois os dados recolhidos devem
ser detalhadamente descritivos e recolhidos num contexto natural.

De acordo com Bogdan e Biklen (1994) são cinco as características essenciais da


investigação qualitativa:

• “Na investigação qualitativa a fonte directa de dados é o ambiente natural,


constituindo o investigador o instrumento principal.” (p. 47). - O ambiente natural
como fonte directa de observação. O investigador deve inserir-se no contexto
natural para a recolha de dados. Sendo que desta forma, o investigador torna-se
membro do contexto, conseguindo compreendê-lo melhor e interpretar melhor
as acções que ali se vivem.
• “A investigação qualitativa é descritiva.” (p. 48). - Visto que se trata de
uma investigação descritiva, os dados recolhidos pelo investigador são
elaborados através de palavras ou imagens e são analisados em toda a sua
riqueza, nada deve ser desprezado. Para poder fundamentar as observações da
melhor forma possível o investigador pode utilizar Notas de Campo, entrevistas,
fotografias, vídeos, documentos, registos, entre outros. É essencial que o
investigador conheça bem as realidades observadas, para isso deve recolher e




analisar detalhadamente dados descritivos, para que assim se torne mais
compreensível e esclarecedor o objecto de estudo.
• “Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que
simplesmente pelos resultados ou produtos.” (p. 49). - Maior interesse pelo
processo do que pelo produto/resultado. Neste tipo de investigação, mais
importante que os produtos, são os processos. Conhecer a natureza dos
fenómenos ou acontecimentos a observar é assim muitíssimo importante -“O
interesse é o Processo e não o produto/resultado”-. Isto acontece porque o
investigador, ao observar, tem de reconhecer expectativas, procedimentos e
interacções. O investigador desenvolve conceitos, ideias e entendimentos a partir
de padrões encontrados nos dados, em vez de recolher dados para provar alguma
teoria.
• “Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma
indutiva.” (p. 50). - Análise de dados é realizada de forma intuitiva. Os dados são
tendencialmente analisados de forma indutiva. O investigador não se centra,
somente em considerações já formadas, mas sim tira as suas conclusões à
medida que recolhe e analisa diferentes dados. Assim, o investigador parte dos
dados para a elaboração da teoria.
• “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa." (p. 50). -
A importância vital do significado. Os investigadores procuram perceber as
sensações, a forma de interpretar as situações e a forma como os sujeitos que
está a investigar, se estruturam no ambiente.

Este tipo de investigação, dá grande importância aos registos detalhados e aos


interesses das pessoas que estuda. Obviamente que a presença do investigador pode
modificar o comportamento das pessoas que pretende estudar, todavia os investigadores
devem interagir com os sujeitos de forma mais natural possível e ao mesmo tempo de
forma não intrusiva. Para que isto aconteça, o investigador deve ter, previamente,
conhecimentos aprofundados do contexto que pretende estudar, para assim conseguir
“inturmar-se” da melhor forma possível.

Com isto, posso concluir que o grande objectivo deste tipo de investigação é
perceber a fundo os comportamentos e as experiências humanas.

  

No início de uma investigação sabe-se pouco sobre as pessoas que vão ser estudadas,
portanto, a formulação das questões virá depois, e é resultante da recolha de dados,
como por exemplo de Notas de Campo.

Estas serão o instrumento que irei utilizar durante esta investigação. As Notas de
Campo devem ter uma parte muito descritiva, para que quem as lê consiga imaginar
exactamente o que aconteceu. Devem ter também, uma parte inferencial onde o
investigador deve colocar o que sentiu, as suas questões as suas hipóteses e ideias. E por
fim, uma parte reflexiva onde a partir da parte descritiva juntamente com as inferências,
o investigador deve comentar, justificar e fundamentar teoricamente, baseando-se em
autores de referência.

Segundo Biklen e Bogdan (1994. p.150), “as notas de campo são as «fatias de vida»
a que o investigador assiste e que capta de forma objetiva e detalhada, são «o relato
escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da recolha e
refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo”.

 


Seguidamente irei enumerar os procedimentos deste relatório, ou seja o conjunto de
etapas realizadas neste processo:

1ª Etapa - Recolha de Notas de Campo de forma aleatória. Na primeira fase de


estágio, realizada no mês de Janeiro e Fevereiro, foram retiradas notas de campo
exploratórias e foi realizada uma síntese reflexiva das respectivas notas de campo. Na
segunda fase de estágio, realizada de Março a Junho, foram também retiradas notas de
campo exploratórias.

2ª Etapa – A emergência do problema. Depois da análise dessas notas de campo em


Orientação Tutorial grupal, definiu-se o problema, sob orientação das Professoras
Deolinda Botelho e Anabela Farinha

3ª Etapa – Recolha de Notas de Campo focalizadas. Após a definição do problema,


iniciou-se a recolha de notas de campo focalizadas, consideradas pertinentes para a
elaboração do relatório final.

4ª Etapa – Escolha/identificação das finalidades e objectivos para o trabalho.

5ª Etapa – Definição Operacional de Termos.

6ª Etapa – Breve definição do paradigma e metodologia qualitativa, enunciando as


respectivas características.

7ª Etapa – Explicar as Notas de campo como instrumento de recolha de dados.

8ª Etapa – Cronograma, identificação e construção dos procedimentos.

9ª Etapa – Em junho, em regime de orientação tutorial, foi-nos explicado como


deveríamos realizar a parte seguinte do trabalho: Leitura dos dados: A sustentabilidade.

10ª Etapa – Por fim, foi elaborada a conclusão do trabalho, a introdução, o resumo e
as referências bibliográficas que o suportam. Por último a apresentação de dados
compilados no terreno foram anexados.

 

PES Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Outubro/Novembro

      
Recolha de Notas de
Campo de forma
aleatória.
      
A emergência do
problema.
      
Recolha de Notas de
Campo focalizadas.
      
Orientação Tuturial
      
Recolha
Bibliográfica
      
Definição
Operacional de
Termos.
      
Escolha/identificação
das finalidades e
objectivos para o
trabalho.
      
Breve definição do
paradigma e
metodologia
qualitativa.
      
Explicar as Notas de
campo como
instrumento de
recolha de dados.
      
Cronograma,
identificação e
construção dos
procedimentos.
      
Leitura dos dados: A
sustentabilidade;
Conclusões;
Introdução
Referências
bibliográficas;
Anexos


 

Leitura dos dados

Durante a minha investigação e na fase de levantamento das Notas de Campo tive


oportunidade de recolher acontecimentos que, na minha opinião, ilustraram a conquista
da autonomia por parte das crianças com que estagiei durante a prática de ensino
supervisionada.

Para poder realizar a análise interpretativa dos dados, tive de primeiramente


analisar atentamente as Notas de Campo. Assim, comecei por lê-las cuidadosamente
salientando os indicadores significativos, depois agrupei-as de acordo os significados
que possuíam para que as pudesse dividir em categorias distintas.

Encontrei dois indicadores distintos, pois pude observar que se destacavam dois
tipos de atitude no processo de conquista da autonomia. O primeiro aborda o papel do
adulto na conquista da autonomia da criança (que se resume no caso ao reforço positivo)
e o segundo aborda a iniciativa da criança para a conquista da autonomia.

Numa análise mais cuidada das Notas de Campo recolhidas em tempo de estágio,
pude verificar que algumas palavras se destacavam, por terem grande importância na
minha investigação: autonomia, reforço positivo, incentivar, encorajar, vitoriar, escolha,
experiências, explorar, decidir, competências.

Depois de ler várias vezes as Notas de Campo, pude constatar que se encontram
muito presentes duas categorias. Pois, verifiquei que constantemente reforçava
positivamente as crianças para que estas alcançassem sozinhas os objectivos
pretendidos. E outras vezes as próprias crianças mostravam esforço e iniciativa para
fazerem sozinhas.

Assim sendo, seleccionei duas categorias que denominei como:

“Categoria A” – Estratégias do adulto de Reforço Positivo para a conquista da


autonomia da criança.

“Categoria B” – A iniciativa da criança para a conquista da autonomia.

 

Categoria A: Estratégias do adulto de Reforço Positivo para a conquista da
autonomia da criança.

Penso que é importante, antes de desenvolver esta categoria, recordar que o processo
de conquista da autonomia não se resume ao reforço positivo, no entanto, durante esta
investigação quis aprofundar mais a fundo a relação entre reforço positivo e autonomia.
Sendo assim, nesta categoria vou ter como assunto maior o papel do adulto empregando
o reforço positivo na conquista da autonomia.

Relembrando o que é reforço positivo e como referi na Adequação do Relatório,


segundo Skinner é: “ (…) qualquer estímulo que, quando acrescentado à situação,
aumenta a probabilidade de ocorrência da resposta. (…) O reforço é definido como algo
que se observou aumentar a probabilidade de repetição da resposta.” (citado por
Sprinthall & Sprinthall, 1993,p.226)

Como Skinner refere, um reforço positivo “é qualquer estímulo que aumenta a


probabilidade de resposta”, portanto com o que tive oportunidade de observar,
considero que quando Skinner menciona “estímulo” tanto pode ser o encorajamento, o
elogio e o incentivo, como a liberdade de experiência que o adulto concede à criança.

Pude observar durante o estágio, no registo das Notas de Campo e na reflexão destas,
que o reforço positivo era uma estratégia muitas vezes presente no dia-a-dia. Assim, em
nove Notas de Campo foram frases como as que se seguem que me fizeram
consciencializar disso:

“ (…) «Vá, calce lá os sapatos sozinha que sei que é capaz!» (…) ” N.C.
(21/03/2012).

“ (…) «Boa! Vê como consegue (…)» (…) ” N.C. (21/03/2012).

“ (…) «Boa, assim é linda!» (…) ” N.C. (23/03/2012).

“ (…) «Que linda M, que grande conquista!» (…) ” N.C. (16/04/2012).

“ (…) «Boa P, já viste a torre que fizeste? Tão grande! Estás mesmo crescido!» (…)
” N.C. (03/05/2012).

“ (…) «Mas a R (…) Já sabe fazer muitas coisas sozinha, e já brinca com os
amigos!» (…) ” N.C. (09/05/2012).

 

Através da leitura, análise e interpretação das notas de campo, pude constatar que ao
longo da minha acção pedagógica utilizava com frequência o reforço positivo
constatando que este pode ser uma estratégia muito eficaz de incentivo à autonomia da
criança.

Observei que ao serem reforçadas positivamente, as crianças esforçavam-se mais


para conseguirem alcançar o objectivo pretendido e mostravam-se satisfeitas pelas suas
conquistas.

Desta forma, analisei que quanto mais a criança for reforçada positivamente, mais
vontade e aptidão tem para fazer sozinha e consequentemente para ter capacidade de
decisão, portanto de alcançar a sua autonomia.

Como referi anteriormente, considero que reforço positivo não passa apenas por
elogiar ou incentivar a criança, mas também, por dar liberdade à criança para ela própria
experimentar, transmitindo assim que temos confiança nela. Só experimentando é que a
criança pode ter “espaço” para ganhar a capacidade de decisão. Portanto, é
experimentando que a criança vai conquistando a sua autonomia.

“Em nosso entender, o papel do professor mantém-se essencial mas muito difícil
de aferir: consiste basicamente em despertar a curiosidade da criança e estimular-
lhe o espírito de investigação. Isto é conseguido através do encorajamento da
criança para que coloque os seus problemas, e nunca através de imposições de
problemas para resolver ou do «impingir» de soluções. Acima de tudo, o adulto
deve continuamente encontrar novas formas de estimular a actividade da criança e
estar preparado para adaptar a sua abordagem conforme a criança vai colocando
novas questões ou imaginando novas soluções”

(Piaget 1976, citado por Hohman & Weikart, 1995, p.32)

É muito importante o papel do educador para a conquista da autonomia da criança. O


educador em vez de solucionar os problemas às crianças, deve encontrar estratégias que
façam com que as crianças tenham vontade de encontrar as soluções para os seus
problemas, de querer investigar e de saber mais. Para que assim se sintam e se tornem
cada vez mais autónomas nas suas decisões e atitudes.

Assim, penso que o Reforço Positivo transmitido pelo adulto é realmente uma
estratégia de incentivo à criança para que esta vá alcançando a sua autonomia. Não só
porque o adulto presente na vida da criança (pai, mãe, educador, etc.) é o modelo que
esta quer seguir e por quem quer sentir-se reconhecida, como também, a criança sente-

 

se satisfeita e feliz com as suas conquistas e consequentemente com mais vontade de
concretizar novas conquistas.

“Quando a criança tem experiências com adultos em formas que conduzem ao


aparecimento de sentimentos de confiança, autonomia e iniciativa, em lugar de
desconfiança, vergonha, dúvida e culpa, tenderá a desenvolver atitudes e
sentimentos de esperança, aceitação, força de vontade e a capacidade e vontade
para alcançar objectivos.”

(Hohman & Weikart, 1995, p.64)

Considero que a influência dos educadores na conquista da autonomia é de grande


importância, pois a criança tem contacto diariamente com o seu educador e este é visto
como grande referência. Por esta razão, considero essencial que o educador não perca
de vista a importância do reforço positivo para que a criança consiga alcançar aos
poucos a sua autonomia, pois as crianças têm necessidade de ser elogiadas, encorajadas
e de terem liberdade de experimentar.
Julgo que é necessário ter em conta que o reforço positivo não é apenas elogiar
aquilo que a criança fez bem, é também mostrar-lhe que apesar do erro ou de por vezes
não conseguir fazer algo, ela tem boas capacidades e pode tentar ir por outro “caminho”.
O reforço positivo transmitido pelo adulto, irá certamente, dar confiança à criança para
arriscar mais e para querer fazer melhor e sozinha. Ou seja, tornar-se mais autónoma.
Pude também analisar que muitas vezes o reforço positivo pode ser transmitido
indirectamente, por exemplo se a criança não se mostra interessada por
fazer/comer/dizer alguma coisa, por vezes o melhor é não ser pressionada pelo adulto,
pois isso pode causar maior resistência por parte da criança. Penso que o adulto nestes
casos, deve dar liberdade e espaço à criança para esta escolher e para sozinha decidir
como actuar. Na referência abaixo descrita, verifica-se um exemplo do que acabei de
referir, neste caso sobre um alimento:
Por vezes é por inquietação que a criança recusa um alimento novo. O
desconhecido pode com efeito ser inquietante em vez de interessante e agradável.
Em vez de a atrair por um impulso ou curiosidade, afasta a criança que, se se
insiste, acaba por empurrar a colher e o prato. Por vezes, se se deixa o alimento ao
alcance da criança sem forçar nem sequer atrair a sua atenção, verifica-se que ela
se interessa progressivamente até acabar, pouco depois, por o adoptar e até gostar
particularmente dele.
(David, 1998, p.61)

 

Acredito que o adulto consiga cumprir o seu papel na conquista da autonomia da
criança, fazendo ao máximo com que esta acredite nas suas capacidades, incentivando-a
e reforçando positivamente os seus actos ou tentativas.

Categoria B: A iniciativa/motivação da criança para a conquista da autonomia

À medida que fui analisando as Notas de Campo, destaquei algumas frases que
considerei relevantes para esta categoria. Por vezes, em algumas situações, as crianças
mostravam que acreditavam nas próprias capacidades, enfrentando os desafios,
demonstrando aptidão a novas conquistas, e no fim mostravam-se conscientes e
orgulhosas por terem alcançado o objectivo.

Assume-se que as crianças quando podem fazer escolhas, optam pelo que é mais
favorável ao seu desenvolvimento, tendo em conta as necessidades de exploração e de
saber que aspiram (Portugal & Laevers, 2010). Neste processo, é importante perceber
que não podem deixar de existir regras e limites.

Desta forma, e para melhor compreensão desta categoria, em oito Notas de Campo
recolhidas, destaquei alguns aspectos que considero relevantes:

“ (…) «O P já sabe descer as escadas sozinho!» (…) ” N.C., (19/03/2012).

“ (…) L pega no livro que estava nas minhas mãos e diz: «Agora a L conta a história
aos meninos» (…) ” N.C., (28/03/2012).

“ (…) «Leonor já sou crescida, já tenho quatro anos e já não uso chucha!» (…) ”
N.C., (13/04/2012).

“ (…) «Não! Eu sei pôr o bibe sozinha!» (…)” N.C., (25/04/2012).

Apesar de ter concluído que o papel do adulto é essencial na conquista da autonomia


da criança, esta não se desenvolve sem a motivação nem a iniciativa da própria.
Portanto, apesar do adulto ter um papel fulcral nesta conquista, é muito importante e
essencial que a criança tenha iniciativa e vontade de concretizar novas conquistas. Pois,
na minha opinião, se isto não acontecer, a autonomia da criança não será devidamente
desenvolvida.

 

Penso que esta categoria está directamente relacionada com a motivação intrínseca -
“os motivos intrínsecos são aqueles que são satisfeitos por reforços internos, não
estando dependentes de objectos externos.” Sprinthall & Sprinthall (1993, p.508) -, ou
seja refere-se à motivação gerada pela própria necessidade da criança em fazer, superar
novos desafios e em consolidar conquistas já adquiridas.

Tive oportunidade de verificar que muitas vezes, as crianças querem fazer e superar
desafios sozinhas (sem a ajuda do adulto), muitas diziam que sabiam fazer e que
queriam fazer sozinhas. Isso fez-me questionar o facto de que as próprias crianças
sentem necessidade de auto-realização e de superação, atingindo assim aos poucos a
capacidade de decisão e de escolha, ou seja a autonomia.

Julgo que neste tipo de acontecimento o adulto deve observar a criança sem
interferir, deixando que a criança tente ao máximo atingir o objectivo pretendido, para
que assim esta se sinta realizada e motivada para novas conquistas.

“ Os adultos que realizam trabalho educativo nos contextos de aprendizagem


activa são guiados pela crença de que encorajar as crianças a resolver os problemas
que encontram lhes oferece mais oportunidades para aprender do que fazer as
coisas por elas. Acreditam também que é melhor que elas tenham problemas para
resolver do que vivam num ambiente sem problemas. Desta forma, ficam por perto
e esperam pacientemente enquanto as crianças tomam conta das coisas de forma
autónoma – enquanto fecham o fecho éclair, apertam uma fivela, deitam o sumo
no copo, limpam o cesto do lixo, fazem passar o triciclo através de uma porta
estreita, ou se encontram uma peça que caiba e preencha o espaço entre dois
blocos. Os adultos podem fazer a maioria destas coisas mais facilmente e de forma
mais eficaz do que as crianças, mas ao esperarem que as crianças as façam
sozinhas permitem-lhes que pensem e ponham em prática formas de resolver os
problemas que encontram no dia-a-dia.”

(Hohmann & Weikart, 1995, p.49)

Como referi anteriormente, julgo que a conquista da autonomia na criança está muito
relacionada com o papel do adulto na sua vida, no entanto, a autonomia não se
conquista se a criança não tiver desenvolvido o seu sentido de iniciativa e motivação.
Ou seja, a criança deve ter espaço para fazer sozinha, para se desembaraçar, para chegar
ao objectivo pretendido à sua maneira. Só com esta motivação para a competência é
que a criança vai conseguir dominar o ambiente que a rodeia e ser o autor da sua vida,
só assim se torna autónoma.

  

Robert White, um teórico da personalidade sugeriu que um dos motivos
humanos mais fundamentais se baseia num desejo forte e pessoal para dominar o
ambiente de cada um. White chama-lhe motivação para a competência. A
motivação para a competência, é sem dúvida, um motivo intrínseco, podendo até ter
um valor de sobrevivência para as espécies. Tornar-se competente, ou seja, alcançar
um certo grau de mestria sobre o seu ambiente, concede ao individuo a oportunidade
de tomar conta da sua própria vida e ser, de facto, o autor do seu próprio destino.

(Sprinthall & Sprinthall, 1993, p. 514)

Assim, compreendo que a conquista da autonomia, não se baseia apenas como um


comportamento ou um “saber-fazer” que a criança vai adquirindo, mas também como
um processo que acompanha o desenvolvimento emocional e intrínseco da criança e a
construção do seu mundo interno.

  

Conclusões

Para uma melhor compreensão do Relatório Final, nesta conclusão irei recordar a
pergunta de partida, os objectivos que inicialmente propus alcançar, bem como fazer
uma reflexão/avaliação sobre este percurso de aprendizagem.

A pergunta de partida do meu Relatório Final é: A conquista da autonomia: qual o


papel do reforço positivo?

Assim, tive como objectivos para este trabalho:

• Reflectir sobre a importância do reforço positivo na conquista da


autonomia da criança;

• Identificar estratégias do educador para o exercício da autonomia;

• Perceber o papel do reforço positivo na conquista da autonomia;

• Perceber a importância da motivação/iniciativa da criança para alcançar a


própria autonomia.

Os objectivos deste relatório, foram surgindo na leitura das Notas de Campo


recolhidas em estágio. Tive a oportunidade de observar que as crianças com quem
estagiei iniciavam uma procura constante pela autonomia. Também constatei que eram
muitas vezes estimuladas a adquirirem capacidade de decisão e de actuação.

Ao ler as Notas de Campo pude também reflectir sobre a minha interacção com as
crianças, percebi que permanentemente reforçava positivamente as crianças para que
estas conseguissem, por elas próprias, concretizar alguma tarefa ou alcançar um
objectivo.

Por estas razões quis aprofundar a questão da conquista da autonomia na criança,


para compreender como é que esta se vai desenvolvendo no ser humano, também
acreditei ser relevante e pertinente investigar mais a fundo um dos factores que colabora
no desenvolvimento da autonomia, seleccionei então aquele que mais se destacava nas
Notas de Campo, o reforço positivo.

Assim, durante a elaboração do relatório final fui reflectindo e investigando sobre a


relação da autonomia e do reforço positivo.

Pude então durante toda a investigação, reflectir sobre a importância do reforço


positivo na conquista da autonomia, e consciencializar-me de que o reforço positivo é

 


realmente essencial para que a criança consiga ir adquirindo a sua autonomia. Pois, se a
criança for reforçada positivamente vai sentir-se capaz e motivada a fazer sozinha e a
concretizar escolhas e formas de realizar objectivos.

Apreendi também que o educador deve permanentemente procurar e adaptar


estratégias para o exercício da autonomia, estas não serão as mesmas para todas as
crianças nem grupos de crianças. No entanto, existem alguns factores essenciais que
pude descobrir ao longo desta investigação. Um deles é deixar que a criança decida por
ela própria a forma como vai ultrapassar os obstáculos.

Agora que chego ao fim deste relatório final, posso reflectir sobre o que realmente
aprendi ao realiza-lo. Pois, a realização deste, foi sem dúvida uma aprendizagem
constante, quer a nível pessoal como a nível profissional. Percebi que a melhor forma de
compreender a fundo as necessidades de uma criança, ou de um grupo de crianças, é
através da observação, descrição, análise e reflexão dos seus comportamentos e
respostas.

Aprendi inicialmente os passos necessários para se fazer uma investigação. Tive


algumas dificuldades em organizar-me, em começar a ordenar as ideias, a excluir o que
pensei ser menos relevante e a incluir aquilo que era mais importante para esta
investigação.

Senti algumas dificuldades em seguir uma linha de pensamento harmonizada, pois


por vezes sentia que me começava a desviar e a afastar-me do problema de partida e dos
meus objectivos. Por esta razão senti-me obrigada a muitas vezes voltar atrás, a
acrescentar ou apagar e a fazer de novo.

Estas dificuldades fizeram com que me sentisse desmotivada algumas vezes durante
este percurso, pois ficava insegura e com medo que o meu relatório não estivesse com
as ideias organizadas. Penso que foi muito importante ter-me preocupado
constantemente com a solidez do relatório, pois só assim é que foi possível conciliar os
meus pensamentos e ideias ao mesmo tempo que tentava superar os objectivos
inicialmente propostos por mim, para o relatório final.

A elaboração deste relatório, fez-me compreender que é através da observação,


descrição, análise e reflexão dos comportamentos das crianças que se consegue obter
melhores respostas para as crianças. Por esta razão, a investigação vai ser um

 

instrumento de trabalho bastante útil ao longo da minha prática, para compreender e
atender às necessidades das crianças de forma mais adequada.

A elaboração do Relatório Final, não só me enriqueceu profissionalmente, como


também me acrescentou na vida pessoal, pois ajudou-me a ser uma pessoa mais
reflexiva, ponderada e determinada, pois fez-me saber parar de vez em quando para
pensar nas minhas acções, nas minhas decisões e reformular o que me é possível.

 

Referências bibliográficas:

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Investigação em Educação. Recuperado em 2012, Junho 6, de
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introdução à teoria e aos métodos. Traduzido por Maria João Alvarez, Sara Bahia dos
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• Grupo Porto Editora, Dicionários e Enciclopédias, recuperado em 2012, abril,


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