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DENDROCRONOLOGIA: PRINCÍPIOS E APLICAÇÕES DENDROCHRONOLOGY:


PRINCIPLES AND APPLICATIONS

Book · August 2018


DOI: 10.29327/15232.1-3

CITATION READS

1 2,307

4 authors:

Cristine Tagliapietra Schons Lucas Ciarnoschi


Universidade Federal de Santa Maria Universidade Federal do Paraná
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Rafael Schmitz Samuel Alves da Silva


University of Leeds Universidade Federal do Paraná
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FLORESTAL
SEMANA DE APERFEIÇOAMENTO EM ENGENHARIA FLORESTAL

DENDROCRONOLOGIA: PRINCÍPIOS E APLICAÇÕES

Cristine Tagliapietra Schons


Lucas Dalmolin Ciarnoschi
Rafael Schmitz
Samuel Alves da Silva

Curitiba
2018

1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 3
2 CARACTERÍSTICAS DOS ANÉIS DE CRESCIMENTO ................................................................................ 3
2.1 Formação ....................................................................................................................................... 3
2.2 Diferenciação anatômica............................................................................................................... 4
3 FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA DENDROCRONOLOGIA .................................................................. 5
3.1 Princípio Uniformitarista ............................................................................................................... 5
3.2 Princípio dos fatores limitantes .................................................................................................... 6
3.3 Sensibilidade ................................................................................................................................. 6
3.4 Datação cruzada ............................................................................................................................ 7
3.5 Repetição....................................................................................................................................... 8
3.6 Padronização ................................................................................................................................. 8
4 OBTENÇÃO DE DADOS.......................................................................................................................... 9
5 APLICAÇÕES ........................................................................................................................................ 12
5.1 Resgate de variações ambientais ................................................................................................ 12
5.2 Estudo do crescimento / Manejo de Florestas ........................................................................... 13
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO
A dendrocronologia é uma ciência que, por meio da análise dos anéis de crescimento,
possibilita o estudodo crescimento das árvores e sua relação com variáveis do ambiente. À vista
disso, mostra-se como uma das ferramentas indispensáveis no campo das ciências florestais,
permitindo conhecer florestas ainda não estudadas e investigar relações até então desconhecidas.
Os anéis de crescimento, através das respostas expressas pelas árvores, carregam consigo
informações das mudanças ocorridas ao longo de séculos, estando prontamente disponíveis ao
observador com sua medição. A associação de cada anel de crescimento ao seu ano de formação
(datação) torna possível a construção de séries históricas das condições ambientais, bem como
predições de crescimento, para subsidiarem diversos estudos relacionados ao manejo e conservação
de florestas (FRITTS, 1976).
Nas últimas décadas, muitos estudos foram desenvolvidos para um grande número de
espécies arbóreas (WORBES, 2002; DEZZEO et al., 2003; DÜNISCH et al., 2003; SCHÖNGART et al.,
2004;, 2006; BRIENEN; ZUIDEMA, 2005; SOLIZ et al., 2009), corroborando com o desenvolvimento do
uso da dendrocronologia no estudo de variáveis ambientais e questões ecológicas que interferem no
crescimento de indivíduos e de uma floresta, especialmente as tropicais (ROZENDAAL; ZUIDEMA,
2011).

2CARACTERÍSTICAS DOS ANÉIS DE CRESCIMENTO


Com a atividade cambial, novas camadas justapostas de material lenhoso são acrescentadas
ao passar do tempo, resultando no crescimento em diâmetro das árvores. Essas camadas são
estruturas anatômicas do xilema secundário que, observadas em corte transversal, configuram
círculos mais ou menos concêntricos e contínuos ao redor da medula. Devido à forma, são
denominados anéis de crescimento (OLIVEIRA, 2007).
Diferentes fatores ambientais, bióticos e abióticos, afetam o crescimento secundário das
plantas, tais como: competição e facilitação entre organismos; água; luz; temperatura; nutrientes;
poluentes; vento; fogo; etc. Desta forma, anéis de crescimento anuais são considerados verdadeiros
“arquivos históricos” das condições ambientais, uma vez que suas características (e.g. largura,
densidade, quantidade de vasos, composição química) também variam em função das condições do
ambiente (FRITTS, 1976).
Os primeiros relatos da existência dos anéis de crescimento foram feitos na Grécia antiga, há
muito tempo. Já no século XVI, Leonardo da Vinci reconheceu a relação entre os anéis de
crescimento e o clima em árvores de espécies pertencentes à família Pinaceaena região de Toscana
(Itália), relatando que a espessura do anel indicaria anos de maior ou menor seca (BOTOSSO;
MATTOS, 2002).

2.1 Formação
Para realização de análise dendrocronológica é imprescindível trabalhar com plantas que
apresentem anéis de crescimento, formados com periodicidade conhecida. A existência de anéis de
crescimento numa dada espécie não implica que estes sejam formados com periodicidade anual,
tampouco regular (OLIVEIRA, 2007).
Em zonas temperadas, mudanças sazonais nas condições ambientais são mais pronunciadas,
o que favorece a formação de anéis de crescimento anuais. Em espécies de regiões tropicaise
subtropicais, no entanto, devido à menor sazonalidade climática, durante muito tempo não se

3
acreditava na existência de anéis anuais de crescimento, supondo-se que crescessem continuamente
durante o ano. Essa ideia foi contestada como consequência de esforços empreendidos por vários
pesquisadores, conhecendo-se hoje um significativo número de espécies tropicais e subtropicais
queapresentam anéis de crescimento anuais (MATTOS et al., 2007; ANDRADE, 2015; LÓPEZ;
VILLALBA, 2016).
De modo geral, os anéis de crescimento são compostos de duas partes: o lenho inicial, que é
formado no início da estação de crescimento, quando o crescimento em diâmetro é mais acelerado,
geralmente apresentando coloração mais clara; e o lenho tardio, formado no final da estação de
crescimento quando a atividade cambial é mais baixa, apresentando colocação mais escura
decorrente da diminuição do tamanho da célula e do espessamento da parede celular (STOKES;
SMILEY, 1968).

2.2 Diferenciaçãoanatômica
Embora a conspicuidade dos anéis de crescimento possa variar em função do ambiente (e.g.
idade, competição, sítio), as características diagnósticas dos anéis de crescimento são relativamente
constantes em uma dada espécie (SCHWEINGRUBER, 2007). É de grande importância conhecer como
ocorrem essas diferenciações (FIGURA 1) para correta delimitação de cada anel e sua datação.

FIGURA 1 – Fotomacrografia da seção de (A)Cedrelafissilis (cedro), (B) Ocotea porosa (embuia) e (C)
Aspidospermapolyneuron (peroba-rosa), explicitando os limites de anéis de crescimento e
diferenciações anatômicas entre as espécies.
FIGURE 1 – Section’sphotomacrography of (A) Cedrelafissilis, (B) Ocoteaporosa and (C)
Aspidospermapolyneuron, explaining the tree rings limits and anatomical differences among species.

A B C
Fonte: Adaptado de Baptista-Maria(2002).

Em gimnospermas, os anéis de crescimento são definidos por diferenças no lúmen e


espessamento das paredes dos traqueídeos. Em angiospermas dicotiledôneas, devido a maior
complexidade da madeira, os anéis de crescimento podem ser definidos por diversas características,
tais como: diferenças no lúmen e espessamento das fibras (análogo às gimnospermas); diferenças no
diâmetro e disposição dos vasos; ou presença de parênquima axial marginal. Estas características, ou
ainda outras, podem aparecer conjuntamente (OLIVEIRA, 2007).
De forma geral, os anéis de crescimento tornam-se mais destacados quanto mais rigorosa for
a variação ambiental; por exemplo, inverno, seca, etc. indicando a forte influência do clima sobre o
crescimento dos vegetais (FINGER, 2006). Algumas vezes, no entanto, quando existe um fator muito
limitante, o crescimento pode nem acontecer, e o anel não é formado. Em outras ocasiões, pode
ocorrer um período de estresse no meio de uma estação de crescimento, causando a formação de
duas ou mais camadas de crescimento em um determinado ano, sendo denominados de falsos anéis

4
(FRITTS, 1976). Nestes casos, cabe ao pesquisador identificar os possíveis problemas e contorná-los
com a utilização de técnicas que assegurem uma correta datação.

3 FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA DENDROCRONOLOGIA


Dendrocronologia (dendron, madeira; chronos, tempo; e logus, estudo) é definida como a
ciência que permite a datação do ano de formação de camada de crescimento arbórea, por meio da
análise dos anéis de crescimento. É um método para análise retrospectiva da história de uma
floresta, sendo especialmente importante para florestas ainda não estudadas.Por meio destas
análises obtêm-se, por exemplo, o histórico das possíveis relações clima-crescimento e a ocorrência
de perturbações passadas, antrópicas ou não (KANIESKI et al., 2017).
Andrew E. Douglass é conhecido como o pai da dendrocronologia. Astrônomo americano,
ainda no início do século 20 observou a relação ente os ciclos de atividades solares, o clima na Terra
e a formação dos anéis de crescimento em árvores.Em 1911, identificou um padrão de anéis largos e
estreitos em árvores de dois locais, observando duas maiores implicações de sua descoberta: (i) a
datação cruzada poderia ser usada como uma ferramenta cronológica para identificar o exato ano do
calendário em que os anéis foram formados; (ii) os padrões de largura de anel por si próprios
representam um registro das condições ambientais em uma região, pois embora parte da variação da
largura do anel seja atribuível às condições locais dentro e ao redor dos habitats das árvores, uma
grande parte da variação pode ser observável em todas as árvores e, portanto, reflete fatores que
ocorrem em toda a região, como as variações anuais no clima (FRITTS, 1976).
À vista disso, um dos princípios básicos da dendrocronologia estabeleceque, árvores que
crescem em condições ambientais similares, devem mostrar características de crescimento
semelhantes, ou seja, uma semelhança no padrão de anéis largos e estreitos (STOKES; SMILEY,
1968).Fritts (1976) cita também outros princípios e conceitos nos quais estudos dendrocronológicos
devem se basear, sendo fundamentais na obtenção de respostas confiáveis a partir das árvores,
conforme segue.

3.1 PrincípioUniformitarista
O uniformitarismo é um princípio científico que originalmente foi proposto por James
Hutton, eé comumente estabelecido como:“o presente é a chave para o passado”. Aplicado à
dendrocronologia, o princípio uniformitarista implica que os processos físicos e biológicos que ligam
o ambiente de hoje às variações atuais no crescimento das árvores devem ter estado em operação
no passado. Deve-se presumir que os mesmos tipos de condições limitantes afetaram os mesmos
tipos de processos da mesma maneira no passado como no presente; somente as frequências,
intensidades e localidades das condições limitantes que afetam o crescimento podem ter mudado
(FRITTS, 1976).
O uniformitarismo é assumido em todas as inferências dendrocronológicas e, como em todas
as ciências do passado, se este não se sustenta, nenhuma conclusão a respeito do passado pode ser
feita. Em análises relacionadas ao clima, por exemplo, sustentado esse princípio, torna-se possível
estabelecer a relação entre as variações do crescimento das árvores e variações climáticas atuais e
inferir a partir de anéis passados a natureza do clima passado.

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3.2 Princípio dos fatores limitantes
O crescimento dos anéis de uma árvore é mais influenciado pelo fator ambiental mais
limitante, por exemplo, a precipitação em regiões secas, ou ainda a temperatura em maiores
latitudes. Os mesmos fatores podem limitar de alguma forma todos os anos, mas o grau e duração de
seus efeitos limitantes variam de um ano para o outro. Se um fator muda, de tal forma que não é
mais limitante, a taxa de crescimento da planta irá aumentar até que outro fator se torne limitante
(MATTOS; SALIS, 2007).
O princípio dos fatores limitantes é de grande importância para dendrocronologia, uma vez
que permite que a largura dos anéis seja datada por datação cruzada (FRITTS, 1976). Se o
crescimento de uma árvore nunca é limitado por alguma condição climática ou ambiental (anéis
geralmente largos), não haverá informações sobre o clima nas larguras dos anéis e elas não serão
datadas.

3.3 Sensibilidade
Quanto mais uma árvore tiver sido limitada por fatores ambientais, mais esta exibirá variação
na largura de anel para anel. Em dendrocronologia, refere-se a essa variabilidade na largura do anel
como sensibilidade e à falta de variabilidade de largura como complacência (FIGURA 2).

FIGURA 2 – Referência à sensibilidade de anéis de crescimento. (A) Anéis complacentes; (B) anéis
sensíveis.
FIGURE 2 – Reference to the sensitivity of tree rings. (A) Complacent rings; (B) sensitive rings.

A B

FONTE: Fritts (1976).

Tais flutuações na largura do anel podem ser expressas como uma estatística chamada
sensibilidade média. Esta é uma medida das diferenças relativas na largura entre anéis adjacentes,
ou seja, refere-se variação percentual média de cada valor de anel medido para o próximo. A
sensibilidade média é calculada conforme a equação a seguir:

t=n−1
1 2(xt+1 − xt )
msx = ∑ | |
n−1 (xt+1 + xt )
t=1

Em que:msx= sensibilidade média; xt+1 = observação no tempo t + 1; xt = observação no tempo t; n


= número de anos.

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3.4 Datação cruzada
Alterações das variáveis ambientais refletem no crescimento das árvores, o que pode ser
observado na variação de largura entre anéis de crescimento. Portanto, árvores sobre a influência de
um mesmo fator limitante, que varie de intensidade ao longo dos anos, devem apresentar
sincronismo na variação da largura dos anéis de crescimento.
Com base nisso, o princípio da datação cruzada, fundamental para a dendrocronologia,
estabelece que a correspondência de padrões da largura (ou outro parâmetro) dos anéis entre
diversas séries cronológicas (amostras) permite o reconhecimento do ano exato em que cada anel de
crescimento foi formado.Sua aplicação fornece um tipo de controle "experimental", pois assegurao
posicionamento adequado no tempo de cada camada de crescimento ao identificar erros primários
de datação, causados por anéis falsos ou ausentes (FIGURA 3). Oresultado é uma série de
crescimento com resolução de calendário anual(STOKE; SMILLEY, 1968).

FIGURA 3 – Problemas de sincronismo no padrão dos anéis entre as amostras (A); e sincronismo dos
padrões de anéis após verificação da datação cruzada, com a identificação de anéis ausentes e faixas
de crescimento intra-anual(anéis falsos) (B).
FIGURE 3 – Synchronism problems in the tree rings pattern among samples (A); and ring widths
synchronously matched after crossdating-check, identifyingmissing rings and intra-annual bands
(false rings) (B).

FONTE: Fritts (1976).

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Assim, a datação cruzada inclui: a correspondência de padrões de largura de anel entre
amostras da mesma árvore e entre árvores; examinar a sincronia; reconhecer qualquer falta de
coincidências; inferir onde os anéis podem estar ausentes, falsos ou indevidamente observados,
examinando cuidadosamente a estrutura do anel; e finalmente chegar auma cronologia regional
correta (FRITTS, 1976).
Além disso, este princípio também torna possível a sobreposição de diferentes segmentos, a
partir de uma árvore viva. Isto permite a datação de árvores já mortas há muito tempo ou até
mesmo de peças de madeira em construções antigas, que mantenham conservado seu padrão de
anéis de crescimento. Assim, séries milenares de largura de anéis de crescimento podem ser
alcançadas.

3.5 Repetição
Determinado número de amostras deve ser examinado e cross-datadopara garantir que
nenhuma amostra coletada dos indivíduos apresentealgum anel faltando para qualquer ano ou que
alguma faixa de crescimento intra-anual apareça como um anel verdadeiro anual.Além disso, a
obtenção de mais de um raio por árvore e mais de uma árvore por local diminui a possibilidade de
fatores ambientais que não estão sendo estudados interferirem nos resultados. Desta maneira, o
sinal ou fator ambiental analisado é maximizado e a quantidade de ruído reduzida.
Wigleyet al. (1984) desenvolveram um método padrão em dendrocronologia para avaliar
quão bem uma cronologia de tamanho n séries de larguras de anéis de crescimento representa o
sinal teórico da população (EPS). Este é calculado por:

𝑛 (𝑟𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 á𝑟𝑣𝑜𝑟𝑒𝑠 )
𝐸𝑃𝑆 =
[1 + (𝑛 − 1)(𝑟𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 á𝑟𝑣𝑜𝑟𝑒𝑠 )]
Em que: EPS é o sinal de expressão da população, n é o número de séries da largura do anel utilizado
na construção da cronologia e r é a correlação média de interséries.

Valores de EPS> 0,85 podem ser um indicativo de que o número de amostras que integram a
cronologia é grande o suficiente para capturar uma porcentagem adequada do sinal teórico presente
em uma cronologia infinitamente replicada (WIGLEY et al., 1984).

3.6 Padronização
As larguras dos anéis podem variar não apenas com as flutuações nas condições ambientais,
mas também com mudanças sistemáticas na idade das árvores, altura ao longo do tronco, condições
e produtividade de um local (FRITTS, 1976). Por esse motivo, a padronização é um procedimento
importante na dendrocronologia quando o objetivo é estudar a variabilidade da largura do anel
associada a determinado fator do ambiente.
Uma correção da largura do anel para a mudança de idade e geometria da árvore deve,
portanto, ser realizada, gerando-se valores transformados que são chamados de índices de largura
de anel. A geração desses índices maximiza a percentagem de variância comum entre as diferentes
séries cronológicas de um mesmo local, e são eles que serão relacionados com o fator ambiental de
interesse (e.g.precipitação, temperatura).

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No entanto, deve-se atentar para situações em que o fator de interesse está associado às
variações na idade, competição, produtividade do sítio, etc. Nestes casos, a padronização clássica
não é aplicável.

4 OBTENÇÃO DE DADOS
Os dados para estudos dendrocronológicos são provenientes da análise de tronco. Este é um
método que apresenta rapidez, boa precisão e baixo custo de obtençãoe é indicado para espécies
que possuem anéis de crescimento anuais distintos, como resultado da atividade cambial das árvores
durante os períodos de máxima atividade vegetativa e de períodos de redução das atividades
fisiológicas (FINGER, 2006).
A análise de tronco pode ser denominada completa ou parcial. Na análise de tronco
completa, a árvore é abatida e é retirado dela um determinado número de discos ao longo do
tronco. Uma das vantagens desse método é a obtenção da altura das árvores nas respectivas idades,
outra é acompanhar a delimitação dos anéis ao longo de todo o disco, facilitando a identificação de
falsos anéis (anéis que não formam um círculo completo ao redor da medula).
Já na análise de tronco parcial, utiliza-se a técnica da verrumagem, que é a amostragem do
lenho pela retirada de rolos de incrementos, com auxílio de um trado. Geralmente um número de 2 a
4 raios são amostrados por árvores, a uma altura de 1,30m do solo para facilitar a operação da
tradagem. A vantagem desse método é que a árvore não precisa ser abatida, sendo uma importante
opção para estudo de espécies nativas/protegidas.O trado deve ser cuidadosamente introduzido
paralelamente ao solo, buscando atingir a medula da árvore (FIGURA 4).

FIGURA 4 – Obtenção de amostras de madeira com utilização do trado de Pressler (50cm de


comprimento; 4mm de diâmetro). (A) Inserção do trado de incremento na árvore; (B) Extração da
amostra.
FIGURE 4 – Sampling of wood using Pressler's borer (50cm in length; 4mm in diameter). (A) Insertion
of the increment borer in the tree; (B) sample extraction.

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FONTE: Os autores (2018).

No caso da amostragem parcial (rolos de incremento), após a coleta, as amostras podem ser
acondicionadas em tubos plásticos e posteriormente fixadas em suportes de madeira. Quando
secas,as amostras são coladas nestes suportes para permitir a etapa de polimento. O uso de seções
secas e lixadas é de fundamental importância na análise dos anéis de crescimento
(SCHWEINGRUBER, 1988), proporcionando clareza para a visualização e marcação dos anéis. No
polimento são usadas lixas gradualmente da granulometria mais grossa para a mais fina (e.g. 100,
180, 220, 320, 400 e 600).
A Figura 5 apresenta um exemplo de amostra seca, colada em suporte e polida, pronta para a
próxima etapa do processo, que consiste na marcação e medição dos anéis de crescimento.

FIGURA 5 – Exemplo de amostra preparada para a marcação dos anéis de crescimento com auxilio de
lupa estereoscópica.
FIGURE 5 – Sample ready for demarcation of the tree rings with the help of a stereoscope.

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FONTE: Os autores (2018).

A etapa de marcação dos anéis é realizada com o auxílio de lupa ou estereoscópio. Nesta
etapa (e nas subsequentes) é sempre importante visualizar raios amostrados da mesma árvore em
conjunto, facilitando o processo de datação pelo cruzamento de informações das amostras
(inicialmente dentro da mesma árvore). Encontrar padrões de anéis largos e estreitos é o que
assegura a correta delimitação dos anéis de crescimento, especialmente em casos que não se
alcançou a medula da árvore, por algum motivo (e. g. mal posicionamento do trado, medula muito
excêntrica, dimensões elevadas da árvore (maior que o comprimento do trado)). Nestes casos,
amostras de uma mesma árvore podem apresentar quantidades diferentes de anéis amostrados e a
idade da árvore terá de ser estimada.
Sequencialmente, a largura de cada anel é medida. As medições podem ser realizadas
utilizando-se o medidor de anéis de crescimento LINTAB, com o software TSAP-Win (precisão de
0,001). Outra alternativa é a digitalização das amostras (1200dpi) e medição por meio do software
(IPWin) Image Pro Plus. Quando o material amostrado se trata de grandes discos ou espécies de
muito difícil visualização do limite dos anéis, o uso do LINTAB é mais adequado. A vantagem da
digitalização e medição no Image Pro Plus, no entanto, está em salvar a medição de cada anel em
cima da imagem da amostra, podendo-se recorrer a esta a qualquer instante, quando uma
reinspeção da medição precisar ser feita (FIGURA 6).

FIGURA 6 – Medição da largura de anéis de crescimento do lenho de CedrelaFissilis através do


software Image Pro Plus.
FIGURE 6 – Measurement of the tree rings width of CedrelaFissilis using Image Pro Plus software.

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FONTE: Os autores (2018).

É importante mencionar que, de forma geral, as informações provenientes dos anéis de


crescimento das árvores são oriundas das larguras dos anéis. No entanto, informações a respeito do
ambiente também podem ser encontradas, entre outras características, em variações de densidade
da madeira, parâmetro esse que varia em função do tamanho e espessura das paredes das células.
A partir desse ponto, o primeiro exame dos dados é feito graficamente, buscando sincronizar
as curvas de incremento das diferentes amostras (dentro da árvore e entre árvores da espécie). O
software COFECHA (HOLMES, 1983) pode ser utilizado como um auxiliador da datação nesta etapa,
ajudando a identificar períodos que podem conter anéis falsos ou ausentes.

5 APLICAÇÕES
Dependendo da aplicação que está sendo dada ao estudo dos anéis de crescimento, a ciência
dendrocronologia pode ser subdividida em áreas como adendroclimatologia, dendroecologia,
dendrohidrologia, dendroarqueologia, dendroquímica, entre outras denominações. Também é uma
ferramenta de grande importância no manejo florestal, pois com precisão e agilidade fornece
informações das mudanças ocorridas ao longo de séculos, permitindo o conhecimento das florestas
para o planejamento de ações futuras.

5.1 Resgate de variações ambientais


Dados dendrocronológicos, por se tratarem de registos históricos de condições que
influenciaram o crescimento das árvores ao longo de sua vida, são muito úteis no resgate de
informações ambientais.Portanto, são muitos os estudos já desenvolvidos que visam aplicar o estudo
dos anéis de crescimento para investigações das relações com o ambiente.
Jenkinset al.(2013) estudaram eventos extremos de secas na Amazônia, por meio de uma
cronologia de largura de anéis de Cedrelaodorata. Primeiramente eles observaram a relação dos
anéis versus eventos conhecidos de seca até o ano de 1973 (período de registros de precipitação).
Verificado um padrão de respostas dos anéis da espécie a essa variação, foi possível estender a
análise dos eventos até o ano de 1819 (período da cronologia dos anéis de crescimento).Assim,
puderam constatar que vem acontecendo um aumento na frequência de secas extremas desde a
virada do século XXI.

12
Em áreas de Florestas Ombrófilas Densa e Mista, Andreacciet al. (2014) também estudaram
sinais climáticos em anéis de Cedrelafissilis, identificando os fatores mais limitantes para o
crescimento da espécie. ParaAraucariaangustifolia, Cattaneoet al. (2013) relacionaram eventos de El
Niñoe o crescimento, averiguando diferentes respostas relacionadas ao sexo das árvores.

5.2 Estudo do crescimento/Manejo de Florestas


Na região sul do Brasil alguns trabalhos têm sido realizados utilizando a dendrocronologia
para avaliar o crescimento de espécies florestais nativas. Stepka (2012) modelou o crescimento de
Araucariaangustifolia, Cedrelafissilis e Ocotea porosa em fragmentos florestais nos três estados do
sul do país. Oliveira e Mattos (2010), no estado no Paraná, avaliaram o crescimento de indivíduos de
Drimys brasiliensis que apresentaram um incremento médio, em área transversal, de 0,01 m².ano -1.
Mattos et al. (2007) encontraram um incremento anual médio em diâmetro de 0,6 cm ao analisar o
potencial dendrocronológico de seis espécies da Floresta Ombrófila Mista no Paraná:
Araucariaangustifolia, Clethrascabra, Cedrelalilloi, Ocotea porosa, Podocarpuslambertii e
Sebastianiacommersoniana.

6REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, V. H. F. Modelos de crescimento para Hymenaeacourbaril L. e Handroanthusserratifolius
(Vahl) S.O. Grose em floresta de terra firme utilizando análise de anéis de crescimento. 2015. 73p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2015.
ANDREACCI, F.; BOTOSSO, P. C.; GALVÃO, F. Sinais climáticos em anéis de crescimento de
Cedrelafissilisem diferentes tipologias de Florestas Ombrófilas do sul do Brasil. Floresta, Curitiba - PR,
v. 44, n. 2, p. 323-332, 2014.
BAPTISTA-MARIA, V. R. Estudo da periodicidade do crescimento, fenologia e relação com a
atividade cambial das espécies arbóreas tropicais de florestas estacionais semideciduais. 2002.
145p. Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais) – Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002.
BOTOSSO, P. C.; MATTOS, P. P. Conhecer a Idade das Árvores: Importância e Aplicação. Colombo:
Embrapa Florestas, 2002, 25 p.
BRIENEN, R.J.W.; ZUIDEMA, P. A.; MARTÍNEZ-RAMOS, M. Attaining the canopy in dry and moist
tropical forests: strong differences in tree growth trajectories reflect variation in growing conditions.
Oecologia, v. 163, p. 485–496, 2010.
CATTANEO, N. et al. Sex-related, growth–climate association of Araucaria angustifolia in the
neotropicalombrophilous woodlands of Argentina. Dendrochronologia, v. 3, p. 147–152, 2013.
DEZZEO, N.;, WORBES, M.; ISHII, I.; HERRERA, R. Annual tree rings revealed by radiocarbon dating in
seasonally flooded forest of the Mapire River, a tributary of the lower Orinoco River, Venezuela.
Plant Ecology, v. 168, p. 165–175, 2003.
DÜNISCH, O.; MONTÓIA, V. R.; BAUCH, J..Dendroecological investigation on Swieteniamacrophylla
King.andCedrelaodorata L. (Meliaceae) in the central Amazon. Trees, v.17, p. 244-250, 2003.
FINGER, C. A. G. Biometria florestal. Santa Maria: UFSM, 2006, 239 p.
FRITTS, H. C. Tree rings and climate. London: Academic Press, 1976, 567 p.
HOLMES, R. L. Computer-assisted quality control in tree-ring dating and measurement.Tree-
RingBulletin, Tucson, v. 43, p. 69-75, 1983.

13
JENKINS, H. S; BAKER, P. A.; NEGRÓN-JUÁREZ, R. I. Eventos extremos deseca na Amazônia revelados
pelos regidtros de anéis de árvores. In: BORBA, L. S.; NOBRE, C. A. Secas na Amazônia: causas e
consequências. São Paulo: Oficina de textos. p. 29-46. 2013.
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