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RESUMO:
Este trabalho tem por objetivo analisar experiências entre teatro e cidade, investiga-
das no contexto do projeto de Pesquisa-Extensão Teatro de Rua: espaços urbanos
em cena, realizado no segundo semestre de 2019 e no período de isolamento social
ocorrido a partir de março de 2020 devido à pandemia de COVID 19. A investigação
pretendeu abranger um estudo da prática empírica de atuação a partir da percepção
sensível da cidade para a prática de um teatro de rua que dialogue com os sentidos
pessoais e coletivos presentes nos espaços públicos de Campos dos Goytacazes,
assim como o tempo-espaço entre a possibilidade e a impossibilidade desta experi-
mentação dentro do cenário pandêmico que acometeu a segunda fase desta pes-
quisa.
Palavras-Chave: Cidade. Arte. Teatro de Rua. Covid-19.
ABSTRACT:
This work aims to analyze the relationship between art and the city based on the ex-
perience of a project Pesquisa-Extensão Teatro de Rua:espaços urbanos em cena, in
the context of the initiative was carried out in the second half of 2019 and in year of
2020 marked by the social isolation since March of 2020 due to the Covid-19 pande-
mic. This investigation comprises a study on artistic performance based on the sensi-
tive perception about a city to a street theater practice that strikes a chord with both
personal and group feelings in public spaces in the city of Campos dos Goytacazes. It
also took into consideration the time-space between the possibility and the impossibi-
lity of such type of performance in the second phase of this study, which was heavily
affected by the pandemic.
Keywords: City. Art. Street Theater. Covid-19.
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pontos geradores de reflexões acerca dessa ressignificação afetiva que considera que a de-
marcação espacial destinada à cena teatral, em fusão com o espaço urbano traduz-se nesse
novo ambiente ainda não percebido, no despertar do olhar sobre a rua neste contexto de
espaço público, possibilitando à comunidade que passe a compreendê-la como lugar de en-
contro e não de passagem. A pesquisa, portanto, caminhou na busca incessante por uma
autonomia de criação pessoal, com prática de grupo estruturada por meio de processos de
criação que buscaram proporcionar aos investigadores, reunirem-se em torno dessas ações
artísticas articulando a formação de encontros e vivências na pretensão de promover a rela-
ção de experiência estética e estésica2 dos envolvidos, entendendo o teatro como “um fenô-
meno único que se coloca como um acontecimento espetacular e que encontra seu sentido na
relação de jogo com o espectador, o qual, mesmo não possuindo códigos da linguagem teatral,
relaciona-se com ele” (CABRAL, 2017, p. 179). A compreensão no que concerne ao sentimento
de pertencimento e ao sentido de direito à cidade, amplia-se a partir do momento em que nos
percebemos privados do espaço público e das relações ali estabelecidas, em tempos de isola-
mento social e virtualidades e confinamentos impostos pela pandemia de Covid-19.
Jean Yves Petiteau (1987), sociólogo francês que desenvolveu o Método dos Itine-
rários, nos oferece uma metodologia de pesquisa que trata de uma jornada investigativa de
percursos comentados. Os itinerários a serem percorridos, que normalmente são seleciona-
dos após uma primeira etapa de entrevista, permite que o sujeito da ação fale de sua trajetória
de vida e memórias e estas vão preenchendo o sentido do espaço pesquisado. É exatamente
durante este percurso, que se colhem os dados, ao mesmo tempo em que vai-se compreen-
dendo a representação gráfica experimentada. Desta forma, o autor entende o sujeito da pes-
quisa também como um pesquisador, que escolhe um ponto de partida e um ponto de che-
gada para o trajeto comentado.
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plo os tempos de parada, as variações de movimento ou mudanças emocionais. Cada mo-
mento como esses são fotografados como registro de pesquisa, assim como a conversa, que
deve, durante todo o tempo, ser gravada em áudio.
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ou com a observação do espaço cotidiano e seus errantes e também o levantamento dos
itinerários pessoais dos participantes a serem investigados na fase final do processo.
Estas três fases de ação foram constituídas de oficinas práticas com o grupo de atu-
adores e teve como foco a integração entre o grupo e a busca de um objetivo físico de per-
cepção entre os corpos e o espaço, ocorrido visando a fase de investigação nos espaços da
rua a partir da observação estésica do espaço e dos corpos presentes. Este trabalho de pre-
paração dos atuadores pesquisadores para a linguagem do teatro de rua nestas práticas de
grupo, nas saídas para o espaço público, e também nos debates realizados, permitiu empiri-
camente a experiência artística dentro da ideia de porosidade enquanto trama de percepções
histórico afetivas envolvidas na relação de percepção sensível para com o espaço urbano.
Nos primeiros encontros com o grupo, na busca desse olhar significante sobre o lugar
enquanto concentração do acontecimento urbano e enquanto rede de relações humanas, como
nos aponta Pechman, os atuadores pesquisadores percorreram de forma errante a Av. Alberto
Torres, em Campos dos Goytacazes, no rastro de recortes visuais pertencentes a poética pre-
sente na rotina da cidade, na construção de pontos significativos, experimentando assim traje-
tórias surpresa, sugeridas pelos parceiros de jogo. Ao final de cada encontro realizado com o
grupo de atuadores, em todas as fases de investigação teórico-práticas, havia uma roda de
conversa sobre estas experiências pessoais e coletivas das pesquisas de campo acompanha-
das de análises teórico-reflexivas a partir das intervenções artísticas praticadas no dia e seus
efeitos no uso da cena ocorrida no espaço urbano aberto, enquanto provocação de afetos.
4 A Casa de Cultura Villa Maria é um espaço cultural associado a Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) localizada em um bairro de classe média alta e compõe o qua-
drilátero histórico de Campos dos Goytacazes. Ver Tavares e Miranda (2009).
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não apenas imóveis urbanos. Esta Praça, foi uma localidade que muito contribuiu para as
práticas de investigação do projeto, por ser local de circulação de pessoas, como grupos de
estudantes do Colégio Estadual Liceu de Humanidades de Campos, de transeuntes que utili-
zam o local como passagem para o centro da cidade e para os vários cartórios localizados no
entorno, além do movimento da Câmara Municipal, OAB e de colégios particulares que coe-
xistem neste espaço onde também cruza a linha de trem que atravessa a cidade. Desta forma,
as práticas de exercícios e intervenções cênicas realizadas neste local, permitem uma sen-
sorialidade que seja carregada de memória, paisagem e de poder simbólico.
Bogart e Landau (2017) sugerem que esse trabalho de início de processo, traga uma
série de atividades efetuadas com intenção de proporcionar o contato (intelectual e emocio-
nalmente, individual e coletivamente) com a fonte na qual se está trabalhando. Como fonte,
no caso, entende-se uma questão, imagem ou evento histórico, por exemplo, que inspire um
trabalho inicial em processo.
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grupo em determinados espaços, interferiam como estímulos e influência na cotidianidade do
espaço, ainda que não houvesse ação proposta, e sim “apenas” presença e observação.
3. Ensaios das cenas em saídas para os espaços. Apresentações públicas das ce-
nas. Levantamento da experiência estética de atuadores e espectadores.
Figura 1
O roteiro de cada itinerário previsto no cronograma inicial foi construído por nós a
partir do contexto pessoal de relação de afeto destes com a cidade, como apontados no Mapa
1. Os primeiros meses de trabalho de integração e sensibilização, os participantes se apro-
priaram do treinamento de Viewpoints de modo que a busca pelo corpo sensível no espaço
percebesse a continuidade do trabalho físico enquanto um treinamento necessário de compo-
sição, permitindo que as saídas ao espaço urbano já se utilizassem de todos os conceitos tra-
balhados de forma imbricada com o “esboço de ideias no tempo e no espaço, olhar para elas,
responder-lhes e criticá-las e refinar ou definir novas direções” (BOGART, LANDAU, 2017).
É comum quando alguém se inteira pela primeira vez dos nomes dos view-
points individuais, tornar-se obsessivo na tentativa de localizá-los em qual-
quer lugar. “Você viu como aquelas pessoas ali responderam cinestesica-
mente umas às outras?” Claro, esse é o modo como a vida é e sempre foi;
mas nomear os Viewpoints nos permite dissecar a realidade de um modo
identificável e, talvez, repetível no palco. (BOGART, LANDAU, 2017, p. 228)
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Nesse sentido, retornamos a busca a porosidade entre o ator e a cidade, citada por
Carreira (2009) assim como a porosidade da cidade com seus encontros e afetos, citada por
Pechman (2009) e observamos como é importante que esse processo torne-se consciente
para os atuadores, na construção de uma linguagem de atuação em teatro que investigue as
relações Arte – Cidade dentro do contexto dos signos que referenciam esta construção.
Fundava-se assim a percepção de novas rotas itinerárias que, a partir daquele mo-
mento, passavam a ter seus percursos experimentados dentro das próprias moradias dos
sujeitos da pesquisa. O Método de Jean-Yves Petiteau, que prevê em imagens o registro dos
momentos significativos do percurso, foi ressignificado e adaptado por nós como uma maneira
de reflexão que se refere ao debate Arte-Cidade, materializado em ações que mantém diálogo
também com o foco Corpo-Cidade. No lugar das imagens que seriam colhidas em fotos du-
rante os trajetos na cidade, permaneceram os micro-videos enquanto um auto registro de
confinamento. No lugar das cenas e intervenções cênicas que percorreriam estes trajetos
pela cidade, cenas gravadas em vídeo e partilhadas em redes sociais.
(...o método) reabilita, enfim, a noção de espaço que não é mais mobilizado
em uma só dimensão cartográfica, a de reprodução. Na dinâmica do deslo-
camento que a jornada do itinerário implica, a pessoa entrevistada revisita o
espaço aplicando nele o sentido de exploração territorial. Assim colocado em
uma situação de guia, seu relato sensível articula suas próprias referências
com as categorias do social reparáveis espacialmente. (PETITEAU; PAS-
QUIER, 2001, s.p. Tradução livre da autora)
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via plataformas digitais de reunião remota como Zoom, Meet, entre outros tornaram-se solu-
ção viável para que artistas pudessem trabalhar em-grupo-cada-um-em-sua-casa, produzir,
estudar, investigar e manter a conexão coletiva, ainda que através das plataformas online.
Esse aquilombamento virtual junto ao quadro social em que nos encontrávamos inseri-
dos despertou o considerável aumento da demanda pelas tecnologias aplicadas ao teatro en-
quanto ferramenta tecnológica na produção artística. A vida cotidiana em isolamento como fonte
de criação em obra de arte e como novo espaço de percepção e criação, contribuindo com a ideia
de que o itinerário de cada atuador pesquisador passa então a ser o seu endereço de moradia.
Dentro dos debates semanais promovidos pelos integrantes do projeto (nesta última
fase, realizadas sempre via plataformas online), foi-se chegando a um formato de pensa-
mento criativo que discutisse a condição deste novo itinerário imposto, entendendo que o
teatro canaliza a necessidade de expressão inerente à natureza humana e a vida em comu-
nidade. O momento de incertezas em que vivíamos naquele momento com a pandemia do
COVID-19 em relação à prática teatral, foi o tema de partida centralizador dos questionamen-
tos sobre o sentido da ação teatral: se o teatro é a arte da presença, o que é o teatro sem a
presença? Portanto, o que é considerado presença e não-presença quando falamos de ação
teatral e de espaços de cena, do corpo do atuador e da percepção da cidade quando não
temos a cidade para atuar? Como criar novas possibilidades para o trabalho com o teatro e
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como se dá essa construção cênica e virtual, advinda do isolamento social causado pelo CO-
VID-19? E como é a experiência de fruição e participação ativa da plateia nesse contexto de
(des)encontro?
Conclusão:
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