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1/0 li 11/0 11/111111/11 O CIVil.

1. LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO


9.4. TUTELA (CC, ARTS. 1728 A 1766) E CURATELA 137
".". DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO
(CC, ARTS. 1767 A 1783) ..: :::::::: ..:: :::: ..::::'.::::'.::: 139
10. DIREITO DAS SUCESSOES
o dlrolto podo oxprlmir, dentre várias, duas significações diversas.
............................... 139
10.1. SUCESSÃO EM GERAL :: 139 Direito objetivo - regra social obrigatória; expressão das necessidades dos gru-
10.1.1. HERANÇA E SUA ADMINISTRAÇAO
....................... · · · · ·.. ·.. ·.. 139 pos sociais, sob a forma de preceitos coativos; norma posta a viger num determinado
10.1.2. VOCAÇÃO HEREDITARIA · · · · · 40 momento, para reger as relações dos homens vivendo em sociedade - normas agendi.
10.1.3. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA É a lei, a norma.
_ DA HERANÇA 1142
10.1.4. EXCLUíDOS DA SUCESSAO · ·· · 43 Direito subjetivo - prerrogativa que para o indivíduo decorre da norma objetiva,
NÇA VACANTE 1
10.1.5. HERANÇA JACENTE E HERA 44 quando ele é o titular do direito - facultas agendi. Quando se fala em facultas agendi
_ 1
10.2. SUCESSAO LEGITIMA 152 deve-se conceber um titular de tal prerrogativa, porque não há direito subjetivo que não
10.3. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 56 tenha um sujeito, pois o direito tem por escopo proteger interesses humanos .
................................................ .1
10 3 2 LEGADO · · · · ·..• 7
... ENTRE HERDEIROS E LEGATARIOS 15
10.3.3. DIREITO DE ACRESCER • 157
FONTES
10.3.4. SUBSTlTU IÇÃO TEST AMENT ARIA ······ .. ·.. ·.. ··.. · ·..······ .. ···· ..··· ..
É a origem, meio pelo qual se forma a norma jurídica.

Fontes diretas (ou imediatas): lei ou costumes

Fontes indiretas (ou mediatas): analogia, princípios gerais do direito, doutrina e


jurisprudência.

1.2. Conteúdo e funçÕEs da L1CC


Apesar de a LlCC acompanhar o Código Civil, ela é autônoma, dele não fazendo
parte. A LlCC tem caráter universal, aplicando-se a todos os ramos do direito, salvo
naquilo que for regulado de forma diferente na legislação específica (Ex.: o direito penal
somente admite a analogia in bonan partem).

1.3. Aplicação das normas jurídicas


A norma somente se movimenta diante de um caso concreto, ou seja, as normas
existem, entretanto, apenas quando da existência de um fato é que elas deverão ser
aplicadas. Quando o fato individual se enquadra no preceito abstrato contido na norma,
há o fenômeno da subsunção. Entretanto, para tanto, faz-se necessária uma correta
Interpretação da norma jurídica.

Contudo, há situações que a lei não prevê, não encontrando o juiz norma que
seja aplicável ao caso em questão, não podendo subsumir o fato a nenhuma norma, ou
seja, depara-se com uma lacuna.

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__________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL
Anamaria Pratas ------------------------------------

São meios de integração:


1.4. Interpretação da lei
o analogia - é a aplicação de um princípio jurídico regulador de certo fato a outro
Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Não só as leis
fato não regulado, mas semelhante ao primeiro.
obscuras e ambíguas estão sujeitas à interpretação, mas todas as leis devem ser in-
Legis - aplica-se uma outra norma geral ao caso sub judice
terpretadas, porque o direito objetivo exige seja entendido para ser aplicado e nesse
entendimento vem consignada a sua interpretação. (Hermenêutica é a teoria científica Juris - aplica-se um conjunto de normas ao caso sub judice

da arte de interpretar). o costume - representa a reintegração constante de uma conduta, na convicção


Várias são as técnicas utilizadas para interpretar a lei, dentre elas, podem ser de ser a mesma obrigatória ou em outras palavras, uma prática geral aceita como sendo

destacadas: o direito. Tem como condições continuidade, uniformidade, diuturnidade (largo espaço
de tempo), moralidade e obrigatoriedade. Dois são os elementos que constituem o cos-
• autêntica: quando o seu sentido é explicado por outra lei (lei interpretativa). Ela
tume: externo (repetição dos mesmos atos) e interno (convicção).
realiza-se por via de um provimento legislativo. A lei interpretativa é tida como a própria
lei interpretada. Praeter legem - supre a lei

• jurisprudencial: é a realizada pelos tribunais. Secundum legem - a própria lei remete ao costume (ex.: arts. 596, 597, 615 do
Código Civil)
• doutrinária: é aquela feita pelos juristas, ou seja, pelos estudiosos do direito.
Contra legem - contra a lei (costume ab-rogatório) ou quando a lei fica apenas
• gramatical ou literal: é a que se realiza pela análise filológica do texto, sendo
Inutilizada (desuso). A admissão desse costume é um antigo debate, não sendo acolhi-
baseada nas regras da lingüística. O intérprete precisa a significação dos vocábulos,
cio pela maior parte dos doutrinadores.
a sua colocação na frase, o uso de partículas e cláusulas, o emprego de expressões
sinônimas. o princípios gerais do direito - normas de valor genérico que orientam a com-
preensão do sistema jurídico em sua aplicação e integração (p.ex.: a norma contida
o lógica: é a interpretação que visa reconstituir o pensamento do legislador.
no art. 3º da LlCC, a de que não admite escusa de não-cumprimento da lei por não
• sistemática: é a interpretação que valoriza a harmonização do texto em exame
GOnllecê-la); são regras que se encontram na consciência dos povos e são universal-
com o sistema jurídico como um todo.
monte aceitas, mesmo não escritas.
o histórica: é a interpretação que valoriza o estudo da relação com o momento
em que a lei foi editada . Eqüidade - em seu sentido lato, confunde-se com o ideal de justiça; já no seu

• teleológica ou sociológica: é a interpretação segundo a qual o intérprete pro- 3(~ntido estrito, é empregada quando a própria lei dá oportunidade ao juiz para formular
cura levar em consideração os fins para os quais a lei foi editada (art. 5º da LlCC). fI l10rma mais adequada ao caso concreto. (Ex.: o art. 1586 do Código Civil que autoriza

o declarativa: o texto legal está de acordo com o pensamento do legislador. () lulz a regular de maneira diferente a guarda dos filhos, a bem do menor, em havendo
rnntivos graves).
o extensiva: é a interpretação segundo a qual o interprete procura ampliar o
sentido do texto, ou seja, o legislador disse menos do que queria dizer.

o restritiva: é a interpretação segundo a qual o intérprete busca conter o texto, para


, .6. Vigência e Eficácia da lei

não alcançar outras situações, ou seja, o legislador disse mais do que deveria dizer. É a lei uma emanação estatal- advinda de órgãos competentes (art. 61 da CF). A
l/\tIo oxecutória compreende três momentos: sanção, promulgação e a publicação.
1.5. Integração Sanção - ato pelo qual o Poder Executivo exerce a faculdade de dar o seu assen-
É o preenchimento de lacunas, mediante aplicação e criação de normas individu- é um ato unilateral do Presidente da República, podendo
111111;)1110; ser expressa (exerci-
ais, atendendo ao espírito do sistema jurídico. Chama-se integração da norma jurídica drlol11 15 dias úteis) ou tácita (quando não exerce a sanção).
o recurso a certos critérios suplementares, para solução de eventuais dúvidas ou emis-
Promulgação - alo jurídico e obrigatório por força do qual o Presidente da Repú-
sões da lei. Assim sendo, o Juiz não pode eximir-se de decidir ou despachar alegando
!>lIml (i(, forçA oxoculÓrln t't 101;Ó n or(lol1nç50 do cumprimento da lei.
lacuna ou obscuridade da lei.

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10
/lOJa/110 Da Dl/ll!nO CIVIL
Anamaria prates -------------------

publicação _meio oficial estabelecido para tornar possível o cont1Gcimento da lei fW:rI ul)ll\jnIÓIIIIIOIf1 (lIJII,III) IdllotQ do cnncolm aquela que teve mira atingir).
C1IJ~1 11

já formada e declarada em execução; finalidade de tornar a lei obrigatória. Salvo cllopo$lçAn 0111 cOlllr{u'lo, a loi rovogada não se restaura por ter a lei revo a-
(iom poreJldo a vloênda (t\ll~ §3~alJÇQ) Dessa f - h' .. ~ g
De um modo geral, as próprias leis indicam a data em que entrarão em vigor,
6 • d' ressurrelçao
. _ da lei abolida • pela revogação
loIc • da leiorma,
que anao
revoga a reprlslrmaçao,
- isto
porém se uma lei nada dispuser a respeito, entrará ela em vigor no território nacional, 45 I10uver expresso pronunciamento do legislador nesse sentido. ou, a nao ser quando
(quarenta cinco) dias após a publicação e nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade
da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. , E~ prin:í~io,. a lei ~ãO deve ser retroativa, isto é, não deve alcançar fatos do pas-
.lOdo, porem diSCiplinar situações presentes e futuras, a partir de sua vigência.
A esse período dá-se o nome de vacalio legis (período entre a publicação da lei e sua
vigência _ o art. 1º da LlCC em seus parágrafos dispõe sobre os prazos de vigência da . Porém se, por exceção, uma lei nova pretender regular fatos passados deverá
rospeltar o direito adquirido t' 'd" . '
lei). É com a entrada em vigor da lei que decorre o caráter de obrigatoriedade, pois nin-
. . ' o a o Jurr ICOperfeito e a coisa julgada (aft. 6º da LlCC) .
guém pode escusar-se de cumpri-Ia alegando seu desconhecimento (art. 3° da LlCC) .
. Direito adquirido - o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e à per-
O art. 8° da Lei Complementar n. 95/98 assim dispõe: sonalidade de seu titular

A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a con-


. Ato jurídico perfeito - é o que se consumou segundo a norma vigente ao tempo
templar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, (~m que se efetuou
reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para Coisa julga da - decisão judiciária de que não caiba mais recurso
as leis de pequena repercussão.

§ 1ª A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabe-


1.8. Conflito interespacial de Leis
leçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publica-
ção e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à ... Qua~to. ao problema de conflito de lei no espaço, a lei tem aplicação dentro do
lorntorro delimitado pelas fronteiras do Estado (princípio da territorialidade).
sua consumação integral.

§ 2ª As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a O Brasil adotou a doutrina da territorialidade moderada = territorialidade (arts. 8º
I:J 92 da LlCC) + extraterritorialidade (arts. 7º. 10. 12 e 17 da LlCC). --
cláusula 'esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias
de sua publicação oficia/'. Lei do domicílio (lei do país onde a pessoa é domiciliada) - Regra:

Salvo casos excepcionais, a lei tem vigência permanente (art. 2º da LlCC). Para
1. regras de casamento (impedimentos, regime de bens etc.)

2. sucessão causa mortis:


que possa ter sua eficácia cessada, há necessidade que sobrevenha outra lei, revogan-
do a anterior. Pelo princípio da continuidade, podemos dizer que a lei só perde a eficá- - lei do domicílio do de cujus que rege a sucessão' ,
cia em razão de uma força contrária à sua vigência. E tal força é denominada revogação, - lei do domicílio do herdeiro que regula a capacidade para suceder;
consiste na votação de outra lei, com força de cessar a sua obrigatoriedade.
- sucessão de bens estra' "
• A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação) nvoravel ao conJuge e aos filhos; ngelros no paiS, sera regulada pela lei brasileira mais
f .• , .

Quando uma lei é ab-rogada, desaparece e é inteiramente substituída pela lei re-
3. competência judiciária da justiça brasileira:
vogadora ou apenas se anula, perdendo o vigor de norma jurídica a partir do momento
- réu domiciliado no Brasil ou obrigação a ser cumprida no Brasil;
em que entra em vigor a lei que a ab-rogou.
- ações relativas a imóveis no Brasil;
Derrogada, a lei não desaparece, não sai de circulação jurídica, porém é ampu-
Lei da situação da coisa - para qualificar e regular os bens.
tada nas partes ou dispositivos atingidos, que apenas estes perdem a obrigatoriedade.
Lei do domicílio do proprietário - quanto aos bens móveis que trouxer.
A revogação ainda pode ser expressa (compreende aquela em que existe uma de-

claração na própria lei pela qual o legislador, fulmina a lei velha, ao apontar os artigos que Lei do país em que se consrtI Ulrem
' - para qualificar
.. e reger as obrigações.
tem em vista abolir) ou tácita (ocorre no momento em que entra em vigor a lei revogadora,

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- ---------------------
110" 1110 I1I II/lUIII t I I IVII
AlUlIlI/II/1I 1'/1111111

Dll'ollo/l dI! pUrllOl1lllldllclQ


2. pessoas E SUJEITOS DE DIREITO Sf.iü (1()11010:, dllolhH" (111U 11"') p' )dUII1 :301" dostacados da possoa, I ,rI<) I)IIIIIIIIIAIIIIIII
2.1. PESSOA NATURAL ,', ()I dOI/1 patrhnonlal (oxtrr'l!mlrh 110nil'lll(lacJo),sendo inalienáveis, intranslnisslvulA, 11I1pl
U~

Pessoa natural ou física é todo ser humano, desde e enquanto vivo. A aptidão crlllvols, irronullciávois, Illclisponlvois, perpétuos (podem ser post mortem, subsistoln fltó
para adquirir direitos e contrair obrigações é característica de todo ser humano, que a 1\ (Iucomposição do cadáver e ad eternum, que subsistem para todo o sempre) não po·
adquire ao nascer com vida. dondo o seu exercício sofrer limitação voluntária (CC, art. 11). Além do que, pode haver
Ilxl~lôncia para que cesse a ameaça ou a lesão, o direito de personalidade, e reclamar

2.1.1. Personalidade por'das e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei (lesado direto); se a
possoa já estiver morta, poderá requerer tais medidas o cônjuge sobrevivente, ou qual-
Enquanto a pessoa natural é o sujeito das relações jurídicas, a personalidade é
qllor parente seu em linha reta, ou colateral até 4º grau (lesados indiretos).
a possibilidade de ser sujeito. É uma aptidão reconhecida a todos os seres humanos,
EXTINÇÃODAPERSONALIDADE
(CC, art. 6º) é o fim da personalidade, coincide com o
,
bastando para tanto que nasça com vida. É a aptidão genérica para titularizar direitos e
IÓrrnino da pessoa natural - com a morte real. A prova da morte real se dá por meio do
contrair obrigações; é o atributo necessário para ser sujeito de direito.
~,tostado de óbito.
Nascituro é o que já é concebido, mas não é nascido; é a pessoa que está
Ou, em caso de desastre (naufrágio, inundação, incêndio, terremoto) e não sen-
por nascer, já concebida; é o feto com possibilidade de nascer com vida e tornar-se
do encontrado o corpo e estando provada a presença da pessoa no local do desastre,
uma pessoa natural. São assegurados pela lei os direitos do nascituro, porém, estes
ror meio de justificação.
permanecem em estado potencial, de modo que tais direitos só efetivar-se-ão com o
nascimento com vida do nascituro. Se nascer com vida, adquire personalidade, e a · Comoriência ou morte simultânea (CC, art. 8º) - é a morte real de duas ou mais

expectativa de direito transforma-se em titularidade de direitos. Mas, se tal não ocorrer, pessoas ao mesmo tempo, isto é, na mesma ocasião e em razão do mesmo sinistro. Não se
nenhum direito o nascituro terá. I~odendo averiguar quem faleceu primeiro, consideram-se falecidos ao mesmo tempo.

Alguns direitos assegurados ao nascituro: 1. Pode ser reconhecido (CC, art. • A importância desta presunção legal tange aos direitos sucessórios, não haven-
do transferência de bens entre os comorientes.
1609); 2. Pode lhe ser nomeado um curador, se o pai falecer e a mãe não tiver o poder
familiar (CC, art. 1779); 3. Receber herança (CC, art. 1798); 4. Ser contemplado com · Morte presumida (CC, art. 6º, segunda parte) - poderá ser com ou sem a de-
doação (CC, art. 542). claração da ausência.
Tem também o nascituro, como direitos personalíssimos, o direito à vida e o • Ausente éo que desapareceu sem dar notícias por um lapso temporal
direito à integridade física. lIIuito grande.
O nascituro não tem personalidade (teoria natalista - adotada por maior parte A morte presun-1idapode ser declarada, sem a decretação da ausência, somente po-
da doutrina) (Iondo ser requerida depois de esgotadas todas as buscas e averiguações, fixando a sentença
Hdata provável do falecimento, nos seguintes casos (CC, art. 7º): 1) se a pessoa estava em risco

INicIo DA PERSONALIDADE
(CC, art. 2º) - terá início a personalidade com o nas- cio vida, e sua morte era extremamente provável; 2) se a pessoa desapareceu em campanha ou
foi feita prisioneira, não tendo sido encontrada nos dois anos posteriores ao término da guerra.
cimento com vida (teoria natalista), ainda que o recém-nascido venha a falecer um
segundo depois, pois a lei não contemplou o requisito da viabilidade e forma huma- · Morte civil - tal espécie de morte era comum no Direito Romano, onde algumas

na para tanto. O nascimento com vida é constatado pela respiração, ainda que não pessoas, apesar de vivas, eram consideradas como mortas, para efeitos legais (condena-
cortado o cordão umbilical. cios a penas perpétuas, religiosos professos). Em nosso direito, tal espécie de morte não é
mais reconhecida, apesar de a doutrina reconhecer alguns resquícios da mesma, como no
Adquirindo o homem a personalidade, surgem direitos que lhe são típicos (di-
tlrt. 1816 do CC ao dispor que " ...os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se
reitos da personalidade), tais como os direitos à vida, à liberdade, à saúde, ao nome, à
ole morto fosse antes da abertura da sucessão".
imagem, à honra, etc.

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Anamaría Prates

"0 /IJII/O IJJ, /J/lIl./rO C/VIL

2.1.2. Capacidade
, Incnpnolclndo rcllrlllvl'l • Mil) IIJlfltlvftl IUJllto incapazos aqueles que podem pra-
É a medida da personalidade, dividindo-se em capacidade de fato e de direito;
tl~/l1 j)OMOI'IIrIIUlllo Oil fllu~: </'1 vllirl civil, dosdo quo devidamente assistidos por repre-
é um dos atributos da personalidade; é a aptidão de ter ou adquirir direitos e contrair
"t,lIlnlllo IOg81. Caso 1)(10 SoJwn nssislidos e pratiquem atos da vida civil, estes serão
obrigações. Pode ser de fato ou de direito. /llIultlvois, so projudiciais ao incapaz (CC, art. 171, I).
· Capacidade de direito, de gozo ou de aquisição - é a aptidão, oriunda da per-
Requisitos simultâneos:
III vontade. caráter temporário + impossibilidade total de expressão
sonalidade, para adquirir direitos e contrair obrigações na vida civil; é a de ser titular de J

direito ou de ter ou adquirir direito. Inerente a todo ser humano em virtude exclusiva da
São relativamente incapazes (CC, art. 6º):
sua condição de pessoa, tanto que o art. 1 º, do CC, preceitua que "toda pessoa é capaz
de direitos e deveres na ordem civil". Este artigo refere-se à capacidade de direito, que 1) os maiores de 16 e menores de 18 anos (menores púberes) _ em determinados

é a possibiliqade de ter direitos. mtc)8 eles podem agir sem a necessidade da assistência, como, p. ex., podem elaborar tes-

· Capacidade de fato ou de exercício - é aptidão para exercer, por si, atos da 1IIIIIonlo (CC, art. 1860), ser mandatários (CC, art. 666), ser testemunhas (CC, art. 228, I).

vida civil; é a do exercício do direito; faculdade que tem a pessoa, por si mesma, de Se o menor púbere omitir dolosamente a idade ou declarar-se maior,.não poderá
levar a efeito o uso e gozo dos diversos direitos. Para ser pessoa e ter capacidade de Mlllar a obrigação ou eximir-se de cumprí-Ia (CC, art. 180);

direito, basta nascer com vida, mas para ser capaz, é necessário o preenchimento de 2) os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental
determinados requisitos legais. 1()/Ilmm o discernimento reduzido - estarão sujeitos à interdição conforme preceitua ~
nlrt. 1767, 111 do CC;

2.1.3. INCAPACIDADE
3) os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo _ os que não se en-
É a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil; inexistência, na pessoa, dos
qlll'ldrarem no art. 3º, li do CC são contemplados por esse dispositivo, estando sujeitos,
requisitos que a lei entenda indispensáveis para que ela exerça seu direito. Se a capaci- talllbém, à interdição como preceitua o art. 1767, IV do CC;
dade é a aptidão para adquirir direitos e obrigações, a incapacidade é a sua inaptidão.
4) os pródigos, assim declarados por sentença judicial após processo de inter-
A incapacidade tem relação com a capacidade de fato ou de exercício, e não com a de
r.llqi'\o (CC, art. 1767, V) . Pródigo é quem dilapida seu patrimônio, fazendo excessivos
direito ou de gozo.
CIMlos .de forma habitual, desordenada e notória. Os pródigos são impedidos apenas
· Incapacidade absoluta - impedimento total para o exercício dos atos da vida
Clu praticar atos de disposição de patrimônio, de modo que todos os demais atos da
civil; impedimento de exercício pessoal, porquanto, se devidamente representados, os vicia civil poderão ser por eles validamente praticados (ex: casar).
absolutamente incapazes podem adquirir direitos e contrair obrigações (o ato praticado
* índio - o Código Civil atual reservou à legislação especial a proteção dos índios.
por absolutamente incapaz, sem estar representado, é nulo - CC, art. 166, I).
Suprimento da incapacidade - o instituto da incapacidade constitui na verdade
São absolutamente incapazes (CC, art. 3º):
urna forma de proteção legal aos incapazes. Eles poderão praticar os atos da vida civil
1) os menores de 16 anos (menores impúberes) - por falta de discernimento para
mas não pessoalmente. Desse modo, os relativamente são assistidos e os absoluta~
a perfeita prática dos atos da vida civil; 1110ntesão representados.

2) os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário dis-


Tutela - instituto destinado aos menores que não possuem genitores.
cernimento para a prática desses atos - desde que assim declarados pelo juiz por meio
Curatela - instituto destinado aos maiores interditados.
de um processo de interdição. Os intervalos de lucidez são desprezados, ou seja, decla-
rado incapaz, os atos praticados por ele quando lúcido continuam nulos; Também se dá curador, mediante processo especial, ao nascituro e ao ausente.

3) os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade - aqui Cessação da incapacidade - quando desaparecem as causas que a determina-
laln. Em relação à menoridade, a incapacidade cessa (CC, art. 5º):
estão incluídas as pessoas de condição psíquica normal, mas que no momento, não pos-
1. quando o menor completa 18 anos;
sam se expressar (pessoas com perda de memória, desde que não possam se expressar;
pessoas hipnotizadas). Tal incapacidade não se estende aos cegos e aos ausentes. 2. ou com a emancipação, que poderá ser:

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17
AIIIIIIIIIIIII PrnflM
11011'1110 m, 01111./10 CIVIL

2.1. voluntária: outorga dos pais, ou de um deles na falta do (Julio, por moio de
. A PU~ll'()~1j!otlll II!I vll/ 111/1111/1111 IÓIH:IM u vftrlos clornlcflios: quando vive alternada-
escritura pública, se o menor tiver 16 anos de idade;
1II0llto nH:3 rIJSltlr.II1(~IIII'1,
C(Jllil\lIlillo tluf/l1ll1vo • SOlá considerado domicílio qualquer um
2.2. judicial: concedida por sentença, ouvido o tutor, desde que o menor tenha (lcJloD (CC, ar!. 71).

completado 16 anos (a sentença deverá ser registrada em cartório). O tutor não pode
. A pessoa pode ainda ter domidlio sem ter residência (CC, art. 73). É o caso dos
conceder a tutela mediante outorga;
(,Iunnos, circenses e andarilhos que não tem residência fixa. Considera-se domicílio o
2.3. legal, que se dará por meio de: 11 Icul onde forem encontrados, pois o art. 73, do Código Civil estabelece que "ter-se-á
- casamento - ocorrerá a emancipação automaticamente, não sendo necessária por ~omicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, ou empregue a vida
a escritura pública. Se morrer um dos cônjuges ou se separarem, o emancipado não se viagens, sem ponto central de negócios, o lugar onde for encontrada",
ClI1l

torna mais incapaz; em sendo anulado o casamento retoma à incapacidade o nubente . _Domicílio profissional - Art. 72: "É também domicílio da pessoa natural, quanto
que contraiu o casamento de má-fé; ,!ttl rolaçoes concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida".
- exercício de função pública por funcionários nomeados em caráter efetivo. Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um
- colação de grau em ensino superior, caso em que a emancipação também será r.IHlos constituirá domicílio para as relações que lhe correspondem",
automática; MUDANÇA DE DOMiCíLIO:

- estabelecimento civil ou comercial ou relação de emprego, ambos com econo- Requisitos:


mia própria, desde que o menor tenha 16 anos de idade completos. 1º. a transferência para local diverso
+
2.1.4. DOMICiLIO
2º. o ânimo definitivo de fixar a residência neste novo lugar, que será o novo
É conceito jurídico que significa o local de onde irradiam as atividades jurídicas (Jomlcílio

dos sujeitos de direito; local onde a pessoa responde, permanentemente, por seus ne- Espécies de domicílio:
gócios e atos jurídicos; sede da pessoa onde se presume presente para efeitos jurídicos.
1. Voluntário: é aquele livremente escolhido. Pode ser:
Segundo o art. 70 do CC "o domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece
sua residência com ânimo definitivo". a) Comum: quando fixado livremente pelo critério de estabelecimento de resi-
CI~llcia com ânimo definitivo.
O domicílio possui dois elementos:
b) Especial ou contratual: as partes fazem um contrato e nele estabelecem um
1. Elemento objetivo ou material - é a residência, o local em que a pessoa
I"cnl para dirimir eventuais conflitos na execução daquele.
habita com ânimo de permanecer, mesmo que dele se ausente temporariamente. A
residência abrange a idéia de habitação mais como uma relação de fato entre a pessoa . 2. ~ecessário o'u legal: é o domicílio determinado pela lei em razão da condição
e a coisa. 011i3ltuaçao de determinadas pessoas (CC, art. 76 parágrafo único):

2. Elemento subjetivo ou psicológico - ânimo definitivo. Na residência há ape- · o domicílio dos incapazes é o de seus pais ou representantes;

nas um ânimo de permanecer, no domicílio o ânimo é de permanecer para sempre. Na · o domicílio do funcionário público éo local onde exerce sua função permanen-
habitação, por outro lado, só há a relação de fato entre a pessoa e a coisa (o imóvel). É tOrl1onte, não perdendo, contudo, seu domicílio voluntário, já que adotamos o sistema
Q(Jl'rnânico;
o local em que a pessoa permanece, acidentalmente, sem o ânimo de ficar. Ex.: casa de
praia alugada para passar férias etc. · o domicílio do militar em serviço ativo éo lugar onde servir, sendo da Marinha ou
DOMiCíLIO = RESIDÊNCIA + ÂNIMO DEFINITIVO "" Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado;
. Uma pessoa pode ter várias residências e um só domicílio: ter vários imóveis · o do marítimo, onde o navio estiver matriculado;
que eventualmente ocupe, mas só em apenas um apresenta-se o ânimo definitivo. · o preso tem domicílio no local onde cumpre a sentença;

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Anll"'nrlll Prnl"'lI
1I0TI!1I/0 OU DIIII!/TO CIVIL

. o agente diplomático do Brasil, que citado no u~tlllllyulll>, I\hJ~JfH uxtraterrlto-


-I)OPO/tl <10OllIPOIHlfl<lI)b!llut' 1;0118 D9 SUCossores provisórios representarão ativa
rialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, podorÓ sor demandado no
1IIJIIB:llvIlIIIOII(O o fHIBOII!(J,~\Ollcloquu (~orrorllo contra eles as ações pendentes e as que
Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve (CC, art. 77).
1")lvonlum vlorarn [\ sor rnovlclflH (CC, art. 32);
. 3. De eleição: estabelecido, contratualmente, pelas partes (CC, art. 78). Há uma
• Se os sucessores provisórios forem descendente, ascendente ou cônjuge, os
forte corrente jurisprudencial não aplicando o foro de eleição nos contratos de adesão,
IIIIJI~rnOSficarão com os frutos e rendimentos dos bens que lhe couberem, mas se ou-
quando prejudicial ao consumidor.
1109forem os sucessores provisórios metade dos frutos deverá ser capitalizada, prestan-
. Características do domicílio:
rJII contas anualmente ao juiz competente (CC, art. 33);
- necessidade: toda pessoa tem domicílio, pois tal existência envolve também o - Se o ausente aparecer e provando que sua ausência foi voluntária e injusti-
interesse de terceiros.
, rleJllda, perderá em favor do sucessor sua parte nos frutos e rendimento (CC, art. 33,
- fixidez: normalmente o domicílio é fixo. 1~r.II'{lgrafoúnico).

Sucessão definitiva - observações:

2.2. AUSÊNCIA (CC, arts. 22 a 39) - Se o ausente ou algum de seus descendentes ou ascendentes aparecer até dez

Ausente - aquele que desaparece de seu domicílio sem deixar representante e CtllOSapós o trânsito em julgado da sucessão definitiva, terá direito apenas aos bens que
sem dar notícia de seu paradeiro. A declaração da ausência é composta de três fases: 1!I'"tfa existirem e os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais inte-

1) curadoria; 2) sucessão provisória e 3) sucessão definitiva. fl(JlJl:1f.1dos


houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo (CC, art. 39);

Pressupostos: 1. desaparecimento da pessoa de seu domicílio; 2. existência - Se não regressar nos dez anos seguintes e nenhum interessado promover a su-

de bens do desaparecido; 3. ausência de procurador para gerir esses bens, ou caso o COllIsãodefinitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito

mandatário não queira ou não possa exercer o mandato, ou se seus bens forem insu- I d/cloral ou da União (CC, art. 39, parágrafo único).

ficientes .

Curadoria - quem pode exercer: a) cônjuge se não estiver separado judicial- •3. PESSOA JURíDICA

mente ou separado de fato por mais de dois anos; b) na falta do cônjuge, os pais ou os .3. 1. Conceito, Requisitos, Natureza Jurídica e Domicílio
descendentes, nesta ordem, desde que não haja impedimento que iniba o exercício da
Conceito de pessoa jurídica - também chamada de pessoa moral ou coletiva,
curadoria; os descendentes mais próximos precedem os mais remotos; c) na falta das
n possoa jurídica é a entidade a que a lei atribui personalidade distinta dos membros
pessoas acima mencionadas, a escolha do curador compete ao juiz.
C1~I()
a compõem, de modo que ela possa vir a ser sujeito de direitos e obrigações. É a
Sucessão provisória - quem pode requerer: a) cônjuge não separado judicial- Ulllctade de pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à consecução de certos fins,
mente; b) herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; c) os que tiverem sobre rtconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações.
os bens do ausente direito dependente de sua morte; d) os credores de obrigações
Requisitos: 1) Vontade humana criadora: a pessoa jurídica tem sua gênese na
vencidas e não pagas.
vOlltade humana, a qual, para ser eficaz, deve emitir-se na conformidade do que pres-
Sucessão provisória - observações: Or(bveo direito positivo; 2) Observância das prescrições legais: porque é a lei que con-
- Enquanto a sucessão for provisória, os herdeiros, para se imitirem na posse dos VIIII te, formalmente, um aglomerado de pessoas naturais em uma só pessoa jurídica;
bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhora ou hipotecas O) Uceidade dos objetivos: pois não se pode conceber que o direito reconheça a exis-
equivalentes aos quinhões respectivos (CC, art. 30), com exceção dos ascendentes, I&ncia de um ente que seja a projeção da vontade humana para atuar e proceder em
descendentes e o cônjuge, provando a qualidade de herdeiros, que poderão entrar na duwcompasso com a ordem jurídica que lhe possibilitou o surgimento.
posse dos bens, sem prestar garantia (CC, art. 30 §2º); DOMiCíLIO (CC, ART. 75)

- Aparecendo o ausente, extingue-se a sucessão provisória (CC, art. 36); . União - Distrito Federal;

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1I/lIIlIIlIrlll (>""08 110 I/!///O 1>,' LJ/lllf/fO C/VII.

· Estados e Territórios - respectivas capitais; IJI~lllltllIlI du dlllllln ptlvFHI() IIJ'IIJIIIIIO, 110111/0 coubor, pelas normas do Código Civil,
l~llIvo cllt1pOnlçf!\o0111c:ol1ldulo (CC. ruI. -11, porágrafo único).
· Município - onde funcione a administração municipal;
• dlroilo prIvado: corporaçõos (sociedades simples e empresárias, associações,
· Demais pessoas jurídicas - lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e
pruliclos polfticos, entidades religiosas e sindicatos - que têm natureza de associação)
administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitu-
~)fundações particulares.
tivos; se a pessoa jurídica tiver diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada
um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados; se a administração, SOCIEDADES
E ASSOCIAÇÕES
- são organizações de pessoas reunidas intencional-
ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no 1I10nle para determinado fim, que se apresentam perante terceiros como se fossem uma

tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabe- possoa só, a pessoa jurídica, com personalidade distinta da de seus membros.

lecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder. Princípio básico: existência distinta da dos seus membros. Se algo é devido à
IQociedade não é devido aos sócios individualmente; se a sociedade deve alguma coisa,
11(,0é esta devida pelos sócios. A princípio, os membros não respondem pela obriga-
2.3.2. Classificação das pessoas jurídicas
çõos da entidade. Entretanto, os estatutos podem estabelecer responsabilidade dos
I. Quanto à nacionalidade:
IIlombros (art. 46, V).
- nacional;
FUNDAÇÕES·
somente podem ter fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
- estrangeira.
11.Quanto à estrutura interna
DESCONSIDERAÇÃO
DA PESSOAJURíDICAOU PENETRAÇÃO
- atualmente, o CDCON, no
- corporação (reunião de pessoas - universitas personarum) - dá-se primazia aos di!'!. 28 e seus parágrafos, autoriza o juiz a desconsiderar a personalidade jurídica
membros que a compõem, seus objetivos internos são voltados para o bem dos sujeitos ~m casos de abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
que a integram. As corpo rações se subdividem em associações e sociedades. O que violação dos estatutos ou contrato social, bem como nos casos de falência, insol-
as difere é o intuito ou não de lucro, ou seja, as associações têm outros fins que não vÓncia, encerramento da pessoa jurídica provocado por má administração. E, ainda,
lucrativos (religiosos, morais, assistenciais, etc.) e as sociedades possuem finalidade sompre que a personalidade da pessoa jurídica for, de algum modo, obstáculo ao
lucrativa, podendo ser simples ou empresárias. mssarcimento de prejuízos causados aos consumidores. O Código Civil, em seu art.
• Empresária é a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria 50, também dispõe quanto à desconsideração nos seguintes termos: "Em caso de
de empresário sujeito a registro; e simples as demais - art. 982 do Código Civil. flbuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela

- fundação (reunião de bens - universitas bonorum) - possui objetivos externos, (;onfusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério

sendo o patrimônio seu elemento essencial. PlJblico quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determi-
IIEldas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos adminis-
111. Quanto às funções e à capacidade:
tradores ou sócios da pessoa jurídica". Ocorrerá em duas hipóteses: a) desvio de
- direito público:
linalidade; b) confusão patrimonial. Desde que haja prejuízo, individual ou social,
- externo: Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito que justifique a suspensão temporária da personalidade.
internacional privado (CC, art. 42).
- interno:

· administração direta: União, Estados, Distrito Federal, Municípios.

· administração indireta: autarquias, fundações públicas, agências reguladoras


(natureza de autarquias especiais) e demais entidades de caráter público criadas por
lei e organismos administrativos, resultantes de descentralização por serviço, investidos
de atribuições de natureza pública. As pessoas jurídicas de direito público que tenham

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Anamaria Prates ---------------------------- ---------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

3. Bens 1.2. Bens fungíveis e não fungíveis (CC, art. 85)

3.1. Considerações iniciais Fungíveis: são os móveis que podem ser substituídos por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade;
Coisa - tudo que existe objetivamente, com exclusão do homem. Como só o
homem tem personalidade, coisa é tudo que existe exteriormente a ele. Infungíveis: são os que não podem ser substituídos por outros da mesma espé-
- coisa sem dono - res nullius cie, qualidade e quantidade; valem pela individualidade.

- coisa móvel abandonada - res derelicta


1.3. Bens consumíveis e não consumíveis (CC, art. 86)
Bens - a palavra bens tem amplo significado, abrangendo coisas e direitos sob
os mais diversos aspectos. Consumíveis: são os móveis que se destroem assim que usados (consumí-

Patrimônio - é o conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes a um titular. veis de fato - ex.: alimento) e os destinados à alienação (consumíveis de direito - ex.:
para um estudante um livro'é inconsumível, mas para o livreiro é consumível, pois
ostá destinado à alienação);
3.2. Classificação
Inconsumíveis: são os que não se destroem pelo uso; admitem uso reiterado;
I. BENSCONSIDERADOS
EMSI MESMOS
(arts. 79 a 91) são de natureza durável. Ex.: livro.
Aqui os bens são analisados de modo objetivo, sem qualquer relação com outros
bens ou com seu titular.
1.4. Bens divisíveis e indivisíveis (CC, arts. 87 e 88)
1.1. Bens imóveis e móveis (CC, arts. 79 a 84)
Divisíveis: são os que podem ser divididos, sem que afete sua substância,
Imóveis: as coisas que não podem ser removidas de um lugar para o outro sem diminuição considerável do valor, ou prejuízo do uso a que se destinam; bens que
destruição. a) por natureza: solo e tudo que se incorporar naturalmente a ele, como pOdem ser partidos em porções reais e distintas, formando cada qual um todo per-
árvores e frutos pendentes (CC, art. 79, 1ª parte); b) por acessão física industrial ou lolto. Ex.: bolo;
artificial- significa justaposição ou aderência de uma coisa a outra; é produzido pelo tra-
Indivisíveis: não admitem divisão, sem que haja alteração de sua substância.
balho do homem. Ex.: sementes, edifícios (CC, art. 79, 2ª parte); c) por disposição legal
Podem ser: a) por natureza - os que não podem partir sem alteração na sua substância;
- aqueles que a própria lei determina como sendo bens imóveis: I - direitos reais sobre
b) por determinação legal - a lei que determina a indivisibilidade (as servidões, as hipo-
imóveis e as ações que os asseguram e 11 - o direito à sucessão aberta (CC, art. 80).
I, cas); c) por vontade de uma das partes - convencional.
Não perdem o caráter de imóveis: I - as edificações que, separadas do solo, mas
conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; 11 - os materiais proviso-
1.5. Bens singulares e coletivos (CC, arts. 89 a 91)
riamente separados de um prédio, para nele se reempregarem (CC, art. 81).

Móveis: podem ser transportados, suscetíveis de movimento próprio, ou de re-


Singulares: são os bens que embora reunidos se consideram de per si, indepen-
(Iolltemente dos demais.
moção por força alheia, sem alteração de sua substância ou da destinação econômica-
social. Podem ser: a) por natureza - podem ser removidos sem dano; b) por determina- Coletivos ou Universais: são as formadas por várias coisas singulares e
ção legal - aqueles que a própria lei determina como sendo bens móveis: I - as energias <111'111(10 consideradas em conjunto formam um todo. Podem ser: a) universalida-
que tenham valor econômico; 11 - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações cor- (/(J rio fato ou "universitas factum" - pluralidade de bens singulares que, pertinen-
respondentes e 111 - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes I<H~ mesma
1'1 pessoa, tenham destinação unitária (floresta, rebanho, biblioteca);
(CC, art. 83); c) por antecipação - são os incorporados ao solo, mas com a intenção de (lfll)()lls que forma a universalidade podem ser objeto de relações jurídicas pró-
separá-Ios oportunamente e convertê-Ios em móveis. Ex.: árvores destinadas ao corte. fi! 111l~:I)) universalidade de direito ou "universitas iuris" - complexo de relações

Semoventes: são bens móveis dotados de movimento próprio e autônomo (são jllilillcns, cJo urna pessoa, dotadas de valor econômico (herança, patrimônio, fun-
di, d'J cornórcio).
os animais).

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Anamaria Prates ----------------------------
----------------------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

11.Dos BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS (arts. 92 a 97) Observações:

Aqui os bens são analisados uns em relação aos outros. São eles: - Os bens públicos apresentam, como regra, a característica da inalienabilidade
2.1. Principal e, como conseqüência desta, a imprescritibilidade, a impenhorabilidade e a impossi-
É o bem que existe sobre si, concreta ou abstratamente; o bem que tem uma bilidade de oneração. A inalienabilidade não é absoluta; se o bem for suscetível de

existência própria, independendo de outro bem. Ex.: solo. valoração patrimonial pode perder tal característica pela desafetação (CC, art. 100). De

2.2 Acessório outro lado, a alienabilidade, característica dos bens dominicais, não é absoluta, porque
podem perdê-Ia pelo instituto de afetação - ato ou fato pelo qual um bem passa da
É aquele cuja existência depende do principal. O bem acessório segue o princi-
categoria de bem do domínio privado do Estado para a categoria de bem de domínio
pal, salvo disposição em contrário (o proprietário do imóvel é presumidamente o pro- público (CC, art. 101).
prietário dos móveis que nele estiverem). Não se trata de regra absoluta que cede à
- Desafetação: lei ou ato administrativo que autoriza a alienação de bens públicos.
vontade das partes.

Espécies de bens acessórios


3.2 Bens particulares: são definidos por exclusão; todos os outros bens que
· Frutos: utilidades que uma coisa periodicamente produz, nascem e renascem
não sejam públicos são particulares, independente da pessoa a que pertencerem.
da coisa, sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte.

· Produtos: utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-se a quantidade por-


que não se reproduzem periodicamente (Ex.: pedras que se retiram das pedreiras, mi-
nerais das minas).

· Pertença: bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo


duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.

· Benfeitorias: obras ou despesas feitas em coisa já existente, a fim de conservá-


Ia, melhorá-Ia ou embelezá-Ia. Podem ser:
- necessárias: as que têm por fim conservar a coisa ou evitar que se deteriore.
Ex.: conserto de infiltração, reforço na base.

- úteis: as que aumentam ou facilitam o uso da coisa. Ex.: acréscimo de uma


garagem.
- voluptuárias: as de mero deleite ou recreio (ex. jardins), que não aumentam o
uso habitual da coisa, ainda que a tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
Ex.: uma piscina, um campo de futebol.

111.Dos BENS PÚBLICOS E PARTICULARES (arts. 98 a 103)

A análise aqui é feita com relação ao titular do domínio.

3.1 Bens públicos: os que pertencem à pessoa jurídica de direito público inter-
no. Podem ser: - Bens de uso comum do povo: o uso e o gozo são do povo, os quais
podem ser gratuitos ou retribuídos. - Bens de uso especial: destinam-se especialmente
à execução dos serviços públicos, sendo utilizados exclusivamente pelo Poder Público.
- Bens dominicais ou dominiais: constituem o patrimônio dos entes públicos, não estan-
do vinculados a maiores finalidades. Podem ser móveis ou imóveis.

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Anamaria Prates --------------------------- _______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

4. Fatos, Atos e negócios jurídicos Como regra, o representante não pode contratar consigo mesmo (autocontrato
ou contrato consigo mesmo). Entretanto, há a possibilidade do autocontrato, se houver
4.1. considerações iniciais
autorização pela lei ou pelo contrato.
Fato jurídico em sentido amplo = todo evento da natureza ou ato praticado pelo
homem capaz de produzir aquisição, modificação ou extinção de direitos.
4.3. elementos
1. Fato jurídico em sentido estrito = todo evento da natureza que produz efeito
na órbita do direito Para que o negócio jurídico seja válido, há necessidade da coexistência dos se-
guintes elementos essenciais (CC, art. 104): 1) agente capaz; 2) objeto lícito, possível,
2. Ato jurídico = declaração de vontade que produz efeito na órbita do direito
(Jeterminado ou determinável e 3) forma prescrita ou não defesa em lei.
2.1. Ato lícito:
Contudo, a doutrina entende que tal indicação do Código é incompleta e inexata,
- Ato meramente lícito = praticado pelo homem cujos efeitos não foram produzi-
preferindo classificar os elementos dos atos em essenciais e acidentais:
dos nem almejados pelo agente
A. Elementos essenciais: são aqueles sem os quais o ato não existe ou, em
- Negócio jurídico = praticado pelo homem cujos efeitos jurídicos produzidos na Ulxlstindo, não é válido. Dividem-se em:
órbita do direito foram previstos e almejados pelo agente
I
A.1. Elementos essenciais de existência: 1) vontade humana - pode ser expressa ou
2.2. Ato ilícito
1~lcita,quando a lei não exigir o contrário; 2) finalidade negocial - é a intenção de criar, modificar
I
I~xlinguir direitos; 3) idoneidade do objeto - o objeto deve ser fisicamente possível;
RESERVA MENTAL (CC, art. 110) A.2. Elementos essenciais de validade: 1) agente capaz - é a aptidão do agente
É uma declaração feita, onde o declarante não quer o resultado contido na decla- 1/110rvirno negócio jurídico como declarante ou declaratário; 2) liceidade do objeto - o
ração e nem seu conteúdo corresponde a real intenção do declarante, sendo que este obJelo deve ser juridicamente possível, além de determinado ou determinável; 3) forma
a faz com o objetivo de enganar o declaratário ou terceiros. O que o declarante quer é IJrescrita ou não defesa em lei - a regra da forma é livre (CC, art. 107); entretanto, pode
diferente do que ele declara. 1111110 a lei como a parte impor forma especial.

Se o declaratário não tinha conhecimento dessa reserva mental, então o negócio B. Elementos acidentais: são os que acrescentam ao ato, modificando suas
continuará existindo. Entretanto, se o declaratário tinha conhecimento da reserva men- Qllrflclerísticas naturais, tais como, a condição, o termo e o modo ou o encargo (CC,
tal, o negócio será inexistente . lJlI~. 121 a 137).

4.2. REPRESENTAÇÃO (arts. 115 a 120) •4. DA CONDiÇÃO, DO TERMO E DO ENCARGO (arts. 121 a 137)
Os poderes da representação podem ser conferidos pela lei, denominando-se São os elementos acidentais dos negócios jurídicos. Eram denominados pelo
representação legal (ex.: pais quanto aos filhos; tutor, nos interesses do pupilo; in- QC do 1916 de modalidades do ato jurídico.
ventariante, representando o espólio; síndico, representando a massa falida) ou pelo
interessado, e então se diz representação voluntária ou convencional (mandato).
4.4.1. CONDiÇÃO (evento futuro e incerto) - tal incerteza deverá ser objetiva, e
O representante atua com sua vontade própria, mas as conseqüências jurídicas Mo mubjetiva, o que significa que a eventualidade poderá ou não acontecer. O evento
serão produzidas em relação ao representado, por isso que os atos praticados pelo no qllnl se funda a condição deverá ser sempre incerto. Se for certo, como a morte, ha-
representante contra os interesses do representado serão anulados se o terceiro que VIII'II(Jrrno e não condição. A condição deve derivar exclusivamente da vontade das par-
contratou com o representante tinha ou deveria ter conhecimento que o representante 1111i, r)11 ~'oJa,não é considerada propriamente uma condição, aquela imposta pela lei.
atuava em conflito com os interesses do representado. O prazo para tal anulação será
INAIJMISSIIJIUD!\{)r;: 1. matrimônio - ninguém pode casar sob condição; 2. reconhe-
de 180 (cento e oitenta) dias a contar da conclusão do negócio ou da cessação da
1I!lIUlIIO do 111110
(CC, ar!. 1613) - nllora estado, estabelecendo situação permanente; 3.
incapacidade.

I' r
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Anamaria Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

adoção (CC, art. 375) - altera o estado, estabelecendo situação permanente; 4. eman- • resolutiva: extingue, resolve o direito transferido pelo ato, quando ocorrido o
cipação - como gera importantes efeitos na ordem social seria inconveniente que ela evento futuro e incerto; o negócio se resolve com o advento da condição. Pode ser tácita
pudesse se desfazer pelo advento da condição; 5. aceitação ou renúncia de herança (há necessidade de interpelação judicial para que ocorra a resolução) ou expressa (a
sob condição ou termo (CC, art. 1808) resolução é automática).

Classificação 4. QUANTO À llCITUDE

1. QUANTO À POSSIBiliDADE • lícita: "todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos costu-
• Possível mes" (CC, art. 122).

• Impossível • ilícita: quando a lei proibir, ou que forem imorais ou contrárias aos bons costu-
mes. São ilícitas as perplexas (as que privam de todo efeito o negócio jurídico); as pura-
- fisicamente impossível: a impossibilidade tem que se ser inatingível para to-
mente potestativas (as que sujeitam ao puro arbítrio de uma das partes); as impossíveis
das as pessoas; se for inalcançável apenas para o devedor, não é considerada fisica-
e as incompreensíveis ou contraditórias.
mente impossível.

- juridicamente impossível: fere a lei, a moral ou os bons costumes.


2. QUANTO À FONTE QUE PROMANAM OU PARTICIPAÇÃO DA VONTADE DOS SUJEITOS
4.4.2. TERMO (evento futuro e certo) - marco inicial ou final do ato jurídico; dia em
que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico.
• casual: depende do acaso, de um acontecimento fortuito ou da vontade exclu-
• Termo certo - quando se reporta a uma data do calendário ou quando fixado
siva de um terceiro.
lendo por base o decurso de certo lapso temporal.
• potestativa: dependem da vontade exclusiva de uma das partes.
• Termo incerto - quando se refere a evento futuro, mas que se verificará em
I I
- puramente potestativa: depende exclusivamente da vontade de uma das par- data indeterminada.
tes; fica ao inteiro arbítrio de somente uma das parte; é a cláusula si voluera; um mero
• Termo inicial ou suspensivo (dies a quo) - quando a partir dele pode se exer-
capricho. Não é permitida.
IJer o direito; o termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.
- simplesmente potestativa: não depende exclusivamente da vontade de uma
• Termo final ou resolutivo ou extintivo (dies ad quem) - quando nele encontra
das partes, mas de um acontecimento exterior que esteja fora do seu alcance.
11ma produção de efeitos do negócio jurídico.
• mista: fusão da vontade de uma ou de ambas as partes e a vontade de um terceiro.

Conseqüências:
4.4.3. MODO OU ENCARGO - é uma limitação liberalidades (testamento, doações), pela
• Quando resolutivas serão inexistentes (não escritas); o ato prevalece, conside-
flual se impõe um ônus ou obrigação ao beneficiário; é a manifestação de vontade
rando-se a condição como não escrita.
Rlposta ao negócio jurídico, criando para o onerado uma restrição à vantagem decor-
• Quando suspensivas invalidam os negócios jurídicos que lhe são subordina- Ii~nte deste ato.
dos; tanto o ato como a condição serão nulos.
O encargo ilícito ou impossível será considerado não escrito; entretanto, se o
• A condição de não fazer coisa impossível é tida por inexistente. llincargo ilícito ou impossível for o motivo determinante da liberalidade, será considerado
3. QUANTO AO MODO DE ATUAÇÃO Illvólido também o negócio jurídico.

• suspensiva: impede que o ato produza efeitos até a realização do evento fu-
turo e incerto; não se terá o direito adquirido enquanto não se verificar a condição sus- 0/'.5. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURíDICO (arts. 138 a 165)
pensiva; as partes protelam, temporariamente, a eficácia do negócio até a realização do Alguns defeitos do negócio jurídico se manifestam diretamente sobre a vontade,
evento futuro e incerto; se o evento futuro e incerto vier adquire-se o direito; se não vier, <lrllnollstrondo uma oposição ontre o propósito íntimo do agente e sua expressão (ver-
o direito não será adquirido. Somente pode ser expressa. II(\IIHI oscrlta). São ossos os viclOS DE CONSENTIMENTO (o erro ou a ignorância;
(/ (#0/0; li cotlçlio; o ostlldo do IHJrlgo o li/asilo).

30 31
Anamaria Prates
ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

Em outros defeitos, a vontade existe e funciona normalmente, havendo uma per-


Dolus malus - é o verdadeiro dolo, levando à anulação do negócio.
feita correspondência entre a vontade interna e a declaração. Entretanto, ela desvia-se
11- DOLOPOSITIVO
- consiste em uma ação enganadora.
da lei, ou da boa fé, e orienta-se no sentido de prejudicar terceiros, ou de infringir o
direito. É o víCIO SOCIAL (fraude contra credores). DOLO NEGATIVO
OU DOLOPOROMISSÃO- quando se traduz em uma omissão, um
silêncio intencional, que seja de tal importância que sem ele o negócio não teria sido
realizado. Gera anulabilidade do negócio.
4.5.1. ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144)
111- Dolo essencial (principal) e dolo acidental
Erro - falsa noção a respeito de um objeto ou de determinada pessoa; o que está
DOLOPRINCIPAL
- causa determinante do ato, sua única razão, o dolo que se origina e
registrado na mente é falso; é a idéia falsa da realidade capaz de conduzir o declarante
que sem ele não se teria concluído. Gera anulabilidade do negócio. Para que seja caracteri-
a manifestar sua vontade de maneira diversa da que manifestaria se porventura melhor
zado vício de consentimento é preciso: 1. intenção de induzir o declarante à prática do ato;
a conhecesse. Para que o ato seja viciado, o erro além de SUBSTANCIAL deve ser REAL
2. os artifícios fraudulentos utilizados devem ser graves; 3. tais artifícios devem ser a causa
(o erro deve importar efetivo prejuízo ao interessado).
determinante da declaração de vontade; 4. os artifícios devem ser provenientes do outro
No Código Civil de 1916, o erro deveria ser escusável Uustificável). Aquele erro contraente, ou que sejam desconhecidos, se provenientes de terceiros.
que qualquer pessoa de diligência normal (homo media), em face de circunstâncias
HIPÓTESES
QUANDO
o DOLOADVÉMDETERCEIRO:
do negócio seria capaz de cometê-Io. Para a maioria da doutrina no Código Civil atual
1. dolo de terceiro e a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhe-
a escusabilidade não é mais exigência para a caracterização do erro como defeito do
ulmento - ato anulável;
negócio jurídico, porque adota-se o princípio da confiança.

Ignorância - é o completo desconhecimento acerca do objeto. 2. dolo de terceiro é completamente ignorado pela parte - ato válido, mas pode o
prejudicado exigir perdas e danos de quem originou o dolo .
• O direito civil considera erro e ignorância sinônimos, tendo a mesma importância
DOLODEREPRESENTANTE:
sobre a manifestação de vontade, não havendo, assim, diferença quanto aos efeitos.

I. ERROSUBSTANCIAL
OUESSENCIAL
- é de tal importância que sem ele o ato não se 1. dolo de representante legal - o representado é por ele responsável até a impor-
Idlncia que teve proveito com a realização do ato;
realiza. O erro substancial gera a anulação do negócio~ Pode ocorrer nas seguintes
hipóteses: 1. Erro que interessa à natureza do negócio (erro r in negotio); 2. Erro sobre 2. dolo de representante convencional - o representado responderá solidariamen-
o objeto principal da declaração de vontade (erro r in corpore); 3. Erro que recai sobre ,,) com ele por perdas e danos, por ter escolhido maio mandatário

alguma das qualidades essenciais do objeto principal da declaração (error in substan- + Dolo bilateral- dolo de ambas as partes se neutralizam, por haver compen-
tia); 4. Erro que diz respeito à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem a '1lção de dois ilícitos civis.
declaração se refere (error in persona); 5. Erro de direito (error juris).
DOLO ACIDENTAL
- não é razão determinante do ato; sem ele, ou apesar dele o
11.ERROACIDENTAL
- é o concernente às qualidades secundárias ou acessórias da nU'Jócio se teria realizado, embora em condições diversas. O ato é válido, podendo
pessoa ou do objeto. Não induz à anulação do negócio. Não haverá a anulação do ato I!i<:mretar indenização.
por ser fácil provar que houve um erro na indicação da coisa.

'1.!;.3. COAÇÃO (ARTS. 151 A 155)


4.5.2. DOLO (arts. 145 a 150)
Ameaça com que se constrange alguém à prática de um ato jurídico. Pode ser
É a intenção de prejudicar alguém. É todo artifício empregado para enganar alguém. IItJlcn (vis absoluta) ou moral (vis compulsiva). Na coação física, a vítima não pode
I - DoLUS BONUS E DoLUS MALUS qllrJlur diversamente - nem negócio jurídico há (alguns doutrinadores entendem ser

Dolus bonus - artifício sem finalidade de prejudicar. Induzir alguém a tomar remé- l~rl'llIdo nulidade absoluta, outros de inexistência do negócio jurídico); na coação moral

dio que não deseja ingerir e que lhe é necessário. Não induz anulabilidade. I r/ltlfl IIIQ 1<11 opçi\o, embora fi vontade declarada se coloque em oposição à vontade
1i3rll 110m 11I1Iiclncle mlntivf\.

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Anamaria Prates
-------------------------- ROTEIRO DE DIREITO CIV/L

• A coação pode, ainda, ser incidente, ou seja, não preencher os requisitos, 4.5.5. LESÃO (ART. 157)
não gerando, assim, anulação do ato, apenas perdas e danos.
Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou inexperiên-
REQUISITOS:
cia, se obriga à prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação opos-
1. causa determinante do ato; ta, sendo que a avaliação dessa desproporção será feita segundo os valores vigentes
2. grave - adota-se o critério concreto, ou seja, levar-se-á em conta o sexo, a ida- ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. A desproporcíonalidade não pode
de, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias ser superveniente (teoria da imprevisão).

que possam influir na gravidade dela (o critério abstrato é adotado no erro, ou seja, leva- A lesão gera à anulabilidade do negócio. Entretanto, não será decretada a anula-
se em conta o homem médio e normal); ção do negócio se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concor-
3. injusta - exercício anormal, irregular ou abusivo de um direito; dar com a redução do proveito.

4. atual ou iminente - dano próximo e provável; Requisitos: Objetivo ~ manifesta desproporção das prestações e Subjetivo _

5. justo receio de um grave prejuízo - não precisa que o dano seja igual ao ato inexperiência ou premente necessidade dispensando-se o dolo de aproveitamento (in-
tenção do agente de obter lucro exagerado).
extorquido, é necessário apenas que haja grave prejuízo;

6. o dano deve referir-se à pessoa do paciente, à sua família, ou a seus bens.


4.5.6. FRAUDE CONTRA CREDORES (ARTS. 158 A 165)
• Se a coação disser respeito a pessoa não pertencente à família do pacien-
Negócio que é prejudicial ao credor por tornar o devedor insolvente ou por já ter
te, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. /;lido praticado em estado de insolvência. O negócio será anulado.
CAUSASEXCLUDENTES
DACOAÇÃO:
REQUISITOS:
- objetivo (eventus damni) - é o próprio ato prejudicial ao credor; pre-
1. ameaça ao exercício normal de um direito. Juízo suportado pelos credores. - subjetivo (consilium fraudis) - má-fé do devedor; cons-
2. simples temor reverencial (se o temor deixa de ser simples, passando a cons- c:lôncia de prejudicar terceiros; conluio entre o devedor e a pessoa que celebra com ele
I:)negócio.
tituir um vício).
HIPÓTESES
QUANDO
A COAÇÃO
ADVÉM
DETERCEIRO: Obs.: alguns doutrinadores enquadram, também, como requisito, a anteriorida-
do do crédito.
1. coação de terceiro e a parte a quem aproveite dela tivesse ou devesse ter co-
nhecimento - ato anulável e responsabilidade solidária em perdas e danos; NEGÓCIOS
JURíDICOS
suscE1ivBs 1. atos de transmissão gratuita de bens - (doação,
DEFRAUDE:
2. coação de terceiro é completamente ignorada pela parte - ato válido, mas pode renúncia a direitos patrimoniais adquiridos, dote) - não precisa provar o consilium fraudis, basta

o prejudicado exigir perdas e danos do autor da coação. provar o eventus damni; 2. remissão de dívida (perdão de dívida) - o ato tem que ser praticado
~rn estado de insolvência, ou este o reduza a tal estado. Não se requer prova de qualquer outro
r~lquisito,apenas a prova da insolvência - o consilium fraudis é presumido, devendo ser provado
4.5.4. ESTADO DE PERIGO (ART. 156)
(Iponas o eventus damni; 3. pagamento antecipado de dívidas a credor quirografário - deve
Caracteriza-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de III)r dívida ainda não vencida. Se a obrigação já se vencera, o pagamento respectivo constitui
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, as- mio normal do devedor - basta provar o eventus damni; 4. concessão de garantias de dívidas
sume obrigação excessivamente onerosa. Tratando-se de pessoa não pertencente à /I credores quirografários - quebra-se o princípio de igualdade dos credores, ficando o benefi-
família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Exemplo de estado de (:llIclo com primazia sobre os demais - basta provar o eventus damni; 5. atos onerosos - serão
perigo é quando a pessoa, afogando, oferece uma excessiva quantia em dinheiro para 11111 ilÓveis,desde que notória a contemporânea insolvência do devedor, ou desde que haja mo-
ser salva. Ilvo para ser conhecida da outra parte. A insolvência deve ser notória ou presumida - devem ser
1'1' ovncfos o consilium fraudis e o eventus damni.
A obrigação assumida por aquele que se encontra em estado de perigo é de dar
ou de fazer e a obrigação do outro (contraprestação) será de fazer. SLJlrlula 195 STJ - Eln ombargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude
1)1 Jlltrn crocforcJH.

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Anamaria Prates ----------------------------
-----------------------_ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

• A coação pode, ainda, ser incidente, ou seja, não preencher os requisitos, 4.5.5. LEsÃo (ART. 157)
não gerando, assim, anulação do ato, apenas perdas e danos.
Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou inexperiên-
REQUISITOS:
cia, se obriga à prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação opos-
1. causa determinante do ato; Ia, sendo que a avaliação dessa desproporção será feita segundo os valores vigentes
2. grave - adota-se o critério concreto, ou seja, levar-se-á em conta o sexo, a ida- no tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. A desproporcional idade não pode
de, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias (ler superveniente (teoria da imprevisão).
que possam influir na gravidade dela (o critério abstrato é adotado no erro, ou seja, leva- A lesão gera à anulabilidade do negócio. Entretanto, não será decretada a anula-
se em conta o homem médio e normal); ção do negócio se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concor-
3. injusta - exercício anormal, irregular ou abusivo de um direito; (Jar com a redução do proveito.

4. atual ou iminente - dano próximo e provável; Requisitos: Objetivo - manifesta desproporção das prestações e Subjetivo _

5. justo receio de um grave prejuízo - não precisa que o dano seja igual ao ato Il10xperiência ou premente necessidade dispensando-se o dolo de aproveitamento (in-
t!!lnção do agente de obter lucro exagerado).
extorquido, é necessário apenas que haja grave prejuízo;

6. o dano deve referir-se à pessoa do paciente, à sua família, ou a seus bens.


4.5.6. FRAUDE CONTRA CREDORES (ARTS. 158 A 165)
• Se a coação disser respeito a pessoa não pertencente à família do pacien-
Negócio que é prejudicial ao credor por tornar o devedor insolvente ou por já ter
te, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
illdo praticado em estado de insolvência. O negócio será anulado.
CAUSASEXCLUDENTES
DACOAÇÃO:
REQUISITOS:
- objetivo (eventus damni) - é o próprio ato prejudicial ao credor; pre-
1. ameaça ao exercício normal de um direito. Juizo suportado pelos credores. - subjetivo (consilium fraudis) - má-fé do devedor; cons-
2. simples temor reverencial (se o temor deixa de ser simples, passando a cons- 1:lência de prejudicar terceiros; conluio entre o devedor e a pessoa que celebra com ele
tituir um vício). II negócio.
HIPÓTESES
QUANDO
A COAÇÃO
ADVÉM
DETERCEIRO: Obs.: alguns doutrinadores enquadram, também, como requisito, a anteriorida-
Clc~ cio crédito.
1. coação de terceiro e a parte a quem aproveite dela tivesse ou devesse ter co-
nhecimento - ato anulável e responsabilidade solidária em perdas e danos; NEGÓCIOS
JURíDICOS
suscETÍVEIs 1. atos de transmissão gratuita de bens - (doação,
DEFRAUDE:
2. coação de terceiro é completamente ignorada pela parte - ato válido, mas pode 1~III'tnciaa direitos patrimoniais adquiridos, dote) - não precisa provar o consilium fraudis, basta

o prejudicado exigir perdas e danos do autor da coação. j:.ill)varo eventus damni; 2. remissão de dívida (perdão de dívida) - o ato tem que ser praticado
DI)1ostado de insolvência, ou este o reduza a tal estado. Não se requer prova de qualquer outro
ro< IUisito,apenas a prova da insolvência - o consilium fraudis é presumido, devendo ser provado
4.5.4. ESTADO DE PERIGO (ART. 156)
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o eventus damni; 3. pagamento antecipado de dívidas a credor quirografário - deve
Caracteriza-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de "or (Uvida ainda não vencida. Se a obrigação já se vencera, o pagamento respectivo constitui
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, as- .IC> l10rmal do devedor - basta provar o eventus damni; 4. concessão de garantias de dívidas
sume obrigação excessivamente onerosa. Tratando-se de pessoa não pertencente à p credores quirografários - quebra-se o princípio de igualdade dos credores, ficando o benefi-
família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Exemplo de estado de 01111110
com primazia sobre os demais - basta provar o eventus damni; 5. atos onerosos - serão
perigo é quando a pessoa, afogando, oferece uma excessiva quantia em dinheiro para 1)111
tIIlVois,desde que notória a contemporânea insolvência do devedor, ou desde que haja mo-
ser salva. \lVI) I )lIm ser conhecida da outra parte. A insolvência deve ser notória ou presumida - devem ser
IJIIIVIIc!OS o consilium fraudis e o eventus damni.
A obrigação assumida por aquele que se encontra em estado de perigo é de dar
II ou de fazer e a obrigação do outro (contraprestação) será de fazer. Sl'Hl1uln 195 ST J • Em ombargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude
((lIlllf' crodoron.

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- •
Anamaria Prates --------------------------- ------------- ~ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

4.6. InVALlDADE DO NEGÓCIO jurídico 4.7. ATOS ILÍCITOS (arts. 186 a 188)
A expressão invalidade abrange a nulidade e a anulabilidade. São aqueles praticados em desacordo com a ordem jurídica, violando direito subje-

Inexistência - falta de algum elemento estrutural do negócio jurídico, como, p. tivo individual. Causam dano a outrem, criando o dever de reparar tal prejuízo. Logo, produ-
zem efeito jurídico, só que este não é desejado pelo agente, mas imposto por lei.
ex., quando não houver manifestação de vontade. Contém um grau de ineficácia tão
grande que dispensa ação judicial para ser declarado. (Tal item será melhor abordado no tema Responsabilidade Civil.)

Nulidade - é o negócio praticado com ofensa a preceitos de ordem pública, é a


4.8. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA (arts. 189 a 211)
falta de elemento substancial ao ato jurídico. Pode ser argüida a qualquer tempo, por
Prescrição
qualquer pessoa, não se convalida pelo decurso de tempo e não é suscetível de confir-
mação. O atual Código Civil (art. 170) admite a conversão do negócio jurídico nulo se É a extinção da pretensão do direito material pelo não-exercício no prazo legal.
contiver os requisitos de outro, subsistindo este quando o fim a que visavam as partes Se está prescrita a pretensão, que é exercitável por meio de ação judicial, qualquer de-

permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. fesa relativa a essa pretensão também estará prescrita.

- se o instrumento é nulo, o negócio jurídico não será nulo se puder ser provado A prescrição é renunciável, podendo a renúncia ser expressa ou tácita (fatos do

por outro meio; entretanto, se a escritura pública é da substância do ato, este não valerá interessado incompatíveis com a prescrição). A renúncia somente valerá, sem que haja
sem o documento; prejuízo de terceiro, após a consumação da prescrição.

- a invalidade parcial de um negócio jurídico não prejudicará a parte válida, se Regras: - pode ser declarada pelo juiz de ofício; - os prazos prescricionais não

separável. podem ser alterados por acordo das partes.

Anulabilidade - é o negócio que ofende o interesse particular de pessoas que o Impedimento ou suspensão da prescrição

legislador buscou proteger. O negócio anulável pode se tornar válido se o prejudicado Haverá o impedimento quando o prazo ainda não começou a fluir; e a suspen-
não argüir a anulabilidade nos prazos legais. Só pode ser argüida pelos interessados e klão, quando o prazo já se iniciou. No caso da suspensão, cessada a causa ou o obstá-
admite convalidação e ratificação. culo, o prazo prescricional volta a correr pelo tempo restante, sendo que a prescrição
Iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor.

SIMULAÇÃO Interrupção da prescrição

Declaração enganosa da vontade, visando produzir efeito diverso do ostensiva- Com a cessação de uma cláusula interruptiva, o prazo volta a correr integralmen-
mente indicado. O defeito do negócio não está na vontade, mas no ato concreto de sua II~,sendo desprezado o prazo anterior. Quando interrompida, a prescrição recomeça a
declaração, com o fim de obter efeito diferente do que a lei estabelece. c:orrer da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interrom-
p(~r.A interrupção da prescrição somente poderá ocorrer uma vez e pode ser feita por
Simulação absoluta - as partes não querem realmente praticar o negócio, em-
qualquer interessado.
bora aparentem fazem-no. Só existe um negócio que é simulado. O devedor simula
vender seus bens a parentes ou amigos. Gera nulidade do negócio. Prazos prescricionais (CC, arts. 205 e 206):

Simulação relativa - as partes realizam negócio diverso daquele que efetivamen- Regra-se a lei não fixar prazo menor, a prescrição ocorre em dez anos.

te pretendem. Na realidade há dois negócios: um aparente, negócio simulado, osten-


Decadência
sivo, que não é o verdadeiro; e outro, oculto, disfarçado, que é o realmente pretendido
pelas partes, o negócio dissimulado. Um contrato de compra e venda que esconda uma A decadência tem semelhança com a prescrição, mas com ela não se confunde. É a

doação - compra e venda: negócio simulado; doação: negócio dissimulado. Subsistirá o I h)Qfldência a extinção do direito pelo não-exercício do mesmo dentro do prazo legal. O que
negócio dissimulado, se válido for na substância e na forma. 1M! IIxllngue com a decadência é o próprio direito e não apenas a pretensão que o protege.
A (lr)caclência legal pode ser reconhecida de ofício, diferentemente da decadência conven-
111(~llfll
quo somonto poclo DOI fI10(111c1fl
pola porte, em qualquer grau de jurisdição.

~I'I
Anamaria Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados e, qualquer que seja o valor
4.9. PROVA (arts. 212 a 232)
do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complemen-
FORMA - maneira que a vontade se manifesta nos negócios jurídicos; meio de
tar da prova por escrito (CC, art. 227);
exprimir a vontade do negócio jurídico.
d) Presunção - podem ser legais (juris) que se dividem em absolutas (juris et
o Regra - principio da forma livre, podendo o ato ser praticado por qualquer meio,
de jure - não admitem prova em contrário) e relativas (juris tantum - admitem prova em
exceto quando a lei exigir a observância de determinada forma.
contrário) ou comuns (hominis). As presunções, que não as legais, não se admitem nos
o Forma livre - é a predominante no direito brasileiro. Qualquer manifestação casos em que a lei exclui a prova testemunhal;
de vontade, não imposta obrigatoriamente pela lei (palavra escrita ou falada, escrito
e) Perícia - que engloba exame (apreciação de algo por peritos) e vistoria (ins-
público ou particular etc.).
peção ocular). A vistoria pode ter a finalidade de perpetuar a memória de determinados
o Forma especial (ou solene) - é a exigida pela lei como requisito de validade latos transitórios, sendo denominada de vistoria ad perpetuam rei memoriam. Há, tam-
de determinados negócios jurídicos. Tem por finalidade assegurar a autenticidade do bém, o arbitramento que seria a avaliação procedida por especialistas para determinar
ato. Pode ser única, quando não puder ser substituída por outra; ou múltipla (ou plural) () valor de alguma coisa ou estimar uma obrigação em dinheiro. O Código Civil atual
quando pode haver a formalização do negócio por diversos modos, instituídos em lei. trouxe dois dispositivos quanto à recusa em se realizar a perícia:
o Forma contratual - é a convencionada pelas partes.
Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não
A não obediência da forma prescrita em lei acarreta nulidade do negócio jurídico I)oderá aproveitar-se de sua recusa.
(CC, art. 166, IV e V). Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que
PROVA &10 pretendia obter com o exame.

Meio para demonstrar a existência do negócio jurídico. Deve ser admissivel; per- Súmula 301 do 8T J - Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a subme-
tinente e concludente. t~r·se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.

PRINCíPIOS:
o ônus da prova incumbe a quem alega; o juiz deve julgar pelo alega-
do e provado; provam-se fatos e não o direito; fatos notórios, incontroversos indepen-
dem de provas;
MEIOSDEPROVAS:

_ Negócios solenes: somente pode ser feita pela forma exigida pela lei.

- Negócios não solenes: •

a) Confissão - ato pelo qual uma parte afirma o que a outra alega. Pode ser ju-
dicial ou extrajudicial, expressa ou presumida (ou ficta). A confissão é irrevogável, mas
pode ser anulada se decorreu de erro, de fato ou de coação (CC, art. 214). Não tem efi-
cácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a que se referem
os fatos confessados. Se feita a confissão por um representante, somente é eficaz nos
limites que este pode vincular o representado (CC, art. 213);

b) Documento - pode ser público, quando elaborado por autoridade pública ou


particular, quando elaborado por particulares. As declarações constantes de documen-
tos assinados presumem-se verdadeiras com relação aos signatários (CC, art. 219);

c) Testemunha - salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal


só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário

39
38
Anamaria Prates
110'1./1/0 DI! 01/1/:/ ro CIVIL

5. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 5.3.1. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO OUJeTO

o direito pode ser dividido em dois grandes ramos: Tal classificação tem por base a prestação para classificar a obrigação em obrigação
o o dos direitos não patrimoniais, referentes à pessoa humana e (10 dar (coisa certa ou incerta), de fazer e de não fazer. Duas positivas e uma negativa.

o o dos direitos patrimoniais, de valor econômico, que por sua vez dividem-se 1. OBRIGAÇÃO DE DAR OU DE RESTITUIR - dever de transferir ao credor alguma coisa,

em: reais (direito sobre uma coisa; integra o Direito das Coisas) e obrigacionais ou pes- ou alguma quantia, como no caso da compra e venda. A obrigação de dar pode ser

soais ou de crédito (direito contra uma pessoa; compõe o Direito das Obrigações). trmlo referente a coisa certa como a coisa incerta (indicada ao menos pelo gênero e
flnla quantidade).

1.1 OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA - O credor não é obrigado a receber outro bem,
5.1. Direitos reais x Direitos obrigacionais (pessoais)
/linda que mais valioso (CC, art. 313), salvo estipulação em contrário; ~brange os aces-
Os direitos reais estão assentados sobre um objeto especificamente considerado em
i1I6rios (CC, art. 233). Efetivação de bens imóveis ocorre com a tradição solene, que é o
determinado patrimônio. A coisa fica sujeita, diretamente, à vontade de seu titular, que exerce
registro na matrícula de imóvel (art. 1.245 do CC).
esse direito sem intervenção de quem quer que seja.
PERECIMENTO (PERDA TOTAL DO OBJETO) ou DETERIORAÇÃO (PERDA PARCIAL DA COISA):
Os direitos obrigacionais ou pessoais dependem do cumprimento de uma pres-
a. Com culpa do devedor:
tação devida pelo devedor ao credor, que se encontram vinculados em uma relação
jurídica obrigacional. a.1. Perecimento com culpa do devedor (entregar: art. 234, segunda parte; res-
tituir: art. 239)

5.2. Conceito, elementos constitutivos e fontes da obrigação A ia entregar ou restituir a W um objeto que pereceu por culpa de A. Sendo as-
IIlrn, A entregará ou restituirá a Wo equivalente, mais perdas e danos.
OBRIGAÇÃO- relação jurídica transitória de cunho pecuniário, unindo duas (ou
mais) pessoas, devendo uma (o devedor) realizar uma prestação à outra (o credor). a.2. Deterioração com culpa do devedor (entregar: art. 236; restituir: art. 240,

ELEMENTOS: subjetivo; objetivo e vínculo jurídico I,ogunda parte)

1. Subjetivo - existência de dois sujeitos é essencial ao conceito de obrigação. O A ia entregar ou restituir a W um objeto que se deteriorou por culpa de W. Sendo

contrato consigo mesmo não desnatura a bipolaridade do conceito de obrigação, pois Msim, W pode não receber a coisa, mas o equivalente, mais indenização (perdas e da-

continuam a existir no instituto dois sujeitos na estrutura da obrigação. Sujeito ativo = nos) ou receber a coisa no estado, mais perdas e danos.
credor; Sujeito passivo = devedor. o Obs.: com culpa - reposição ao estado anterior, mais perdas e danos.
2. Objetivo = prestação do devedor b. Sem culpa do devedor
Objeto imediato - atividade do devedor em prol do credor; é a própria prestação. b.1. Perecimento sem culpa do devedor (entregar: art. 234, primeira parte; resti-
Objeto mediato - bem material sobre o qual incide a prestação; objeto da prestação. 11 ilr: art. 238)
O objeto é a prestação que deve ser possível; lícito e determinado ou determinável. A ia entregar ou restituir a W um objeto que pereceu sem culpa de A. Resolve-se

3. Vínculo jurídico - é ele que mobiliza o patrimônio do devedor em relação ao 1i obrigação para ambas as partes. Não há responsabilidade alguma do devedor. As

credor; débito (Schuld) + responsabilidade (Haftung) = são aspectos do vínculo obri- pmtes voltam ao status quo ante.

gacional, vindo sempre juntos. Entretanto, há situações em que ora falta o débito (ex.: b.2. Deterioração sem culpa do devedor, na modalidade entregar (CC, art. 235)
contrato de fiança), ora falta a responsabilidade (ex.: dívida prescrita). A ia entregar a W um objeto que se deteriorou, sem culpa de A. W pode resolver
II obrigação (volta-se ao estado anterior) ou aceitar a coisa no estado (com abatimento
5.3. Classificação do preço naquilo que perdeu).

* Para melhor compreensão, em todas as situações abaixo utilizaremos A, B, C e b.3. Deterioração sem culpa do devedor, na modalidade restituir (CC, art. 240,
D como devedores e~ X, Y eZ como credores. l'llr neirn pnrto)

40 41
Anamaria Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

A ia restituir a W um objeto que se deteriorou sem culpa de A. W recebe a coisa 15.3.1.Classificação quanto aos elementos (sujeitos, vínculo jurídico e objeto)
no estado em que estiver sem direito a qualquer indenização.
1. S,MPLES: um credor, um devedor e um objeto. Ex.: obrigação de quem deve
o Obs.: sem culpa - reposição ao estado anterior, sem perdas e danos. /')lItregar a outrem uma estatueta. Alguém que entrega (o devedor) a outrem (o credor)
o Quando não há culpa prevalece o princípio res perit do mio (a coisa perece para 111118 estatueta (o objeto).
o dono), ou seja, sempre será o dono que irá sofrer o prejuízo. o Basta que um dos elementos esteja no plural para que a obrigação se denomine
1.2 OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA· a coisa será indicada, ao menos, pelo gênero composta ou complexa
(espécie) e quantidade. Sem tais indicações não é possível o cumprimento obrigacio- 2. COMPOSTAS OU COMPLEXAS: multiplicidade de objetos e/ou sujeitos.
na!. Tem que ser determinável (CC, art. 243). A terminologia do Código fala em gênero,
A) COMPOSTAS COM MULTIPLlCIDADE DE OBJETOS: CUMULATIVAS E ALTERNATIVAS
quando deveria mencionar espécie.
A) CUMULATIVAS (OU CONJUNTlVAS): todos os objetos devem ser prestados (E); o cum-
Direito de escolha
primento da obrigação ocorre pela prestação de todos os objetos.
Pertence ao devedor, salvo disposição expressa (CC, art. 244). Após a escolha,
B) ALTERNATIVAS (ou DISJUNTIVAS): um ou outro objeto deve ser prestado (OU). Há
a coisa que era incerta passa a certa. Se antes da escolha ocorrer perecimento ou dete-
vil rios objetos, mas apenas o devedor está obrigado a entregar apenas um. Para que o
rioração, o devedor não poderá alegá-Ia em seu favor, mesmo que tenha sido por caso (Iovedor se liberte do vínculo obrigacional deverá prestar ao credor um dos vários obje-
fortuito ou força maior (CC, art. 246). 101ft componentes da obrigação.
2. OBRIGAÇÃO DE FAZER: é aquela na qual o devedor deve praticar ou não determi- Peculiaridades das alternativas:
nado ato em favor do credor.
- salvo estipulação em contrário, a escolha cabe ao devedor;
Inadimplemento
- não pode o devedor obrigar o credor a receber parte da prestação (princípio
Recusa ou retardamento (mora) do devedor no fazer: tI'llndivisibilidade);
1. se o fato puder ser executado por terceiro, o credor manda executar, por or-
- no caso de prestações periódicas, pode o devedor, ao final de cada período,
dem judicial, às custas do devedor OU 2. converte em perdas e danos (art. 249 do CC)
OIJoolher a obrigação que quiser, não estando vinculado a prestar a mesma obrigação
o Só o credor pode optar entre essas duas possibilidades. tio fino pretérito;
o Podendo terceiro realizar o ato, a obrigação deixa de ser personalíssima - se houver pluralidade de optantes, e não houver um acordo unânime, o juiz
Impossibilidade do devedor no cumprimento da obrigação eJoclcJlrádepois de assinado prazo para deliberação;

1. Sem culpa do devedor - resolve-se a obrigação, voltando as partes à situação - se houver possibilidade que terceiro faça a opção, e este não quiser, ou não
anterior, sem direito à indenização . pudor exercê-Ia, caberá ao juiz a escolha, caso não haja acordo entre as partes;

2. Com culpa do devedor - perdas e danos. • decadência do direito de escolha: caso o devedor não exerça o direito de esco-

3. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER: abstenção por parte do devedor . IIln, o CPC em seu art. 571 dá opção para que o devedor seja citado para em dez dias
• )(I~rcô-Io; caso não o faça o direito passará ao credor.
Inadimplemento (quando alguém faz o que se obrigou a não fazer)
Impossibilidade de cumprimento das alternativas
a) com culpa do devedor: 1. desfazimento do ato + perdas e danos (CC, art. 251)
OU 2. perdas e danos • Tal impossibilidade é material e não jurídica, pois se for jurídica, por ser o objeto
Illt,llo loda a obrigação será nula. Então, referimo-nos aqui à impossibilidade material.
b) sem culpa do devedor:
I. Impossibilidade desde o nascimento da obrigação:
Extinção da obrigação sem perdas e danos - status quo ante (CC, art. 250)
1, impossibilidade de uma entre as duas prestações: obrigação simples, quanto
À IIlIlllInto (CC, ar!. 253);

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Anamaria Prates ---------------------------- _____________________ . ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

2. impossibilidade de uma entre mais de duas prestações: obrigação alternativa Divisibilidade e indivisibilidade nas obrigações de dar, fazer e não fazer
quanto às demais. • Obrigações de dar: podem ser divisíveis ou indivisíveis.
11./mpossibilidade superveniente (surge após o nascimento da obrigação): Ex. divisível: A se obriga a entregar a We a X 02 vacas; entregará 01 vaca a We
1. Sem culpa do devedor: concentração do débito na(s) remanescente(s); 01 vaca a X.

2. Com culpa do devedor: Ex. indivisível: A se obriga a entregar a We a X uma fazenda; deverá entregar a
nimbos a fazenda.
2.1 escolha do devedor: concentração do débito na(s) remanescente(s);

2.2 escolha do credor: prestação remanescente ou o equivalente em dinheiro • Obrigações de fazer: podem ser divisíveis ou indivisíveis.

da(s) outra(s) + perdas e danos (CC, art. 255, primeira parte) Ex. divisível: A contrata com W pintura de 05 quadros; poderá o contrato constar

111./mpossibilidade de todas as prestações que W pinte 01 quadro por mês.

1. Sem culpa do devedor: a obrigação desaparece (CC, art. 256); Ex. indivisível: A contrata com Wa pintura de 01 quadro; neste caso o objeto de
f~lzer é indivisível.
2. Com culpa do devedor:
• Obrigação de restituir: é em regra indivisível.
2.1 Escolha do devedor: valor da que se impossibilitou por último + perdas e
danos (CC, art. 254); • Obrigação de não fazer: é em regra indivisível. Entretanto, se há um conjunto
"13 abstenções negativas, cada uma deve ser vista individualmente. Ex.: alguém se obri-
2.2 Escolha do credor: valor de qualquer uma das prestações + perdas e danos
(jfl fi não plantar e a não colher; as abstenções são completamente independentes.
(CC, art. 255, segunda parte).
Pluralidade de devedores (concurso passivo) e pluralidade de credores
• Obrigação facultativa: apesar de alguns doutrinadores incluírem tal obrigação
(ooncurso ativo)
na categoria da composta, e/a é obrigação simples. Somente uma prestação está vincu-
lada. Ao nascer, a obrigação existe unidade de objeto, a prestação é única; todavia, para 1. P/ura/idade de devedores (concurso passivo) - art. 259

facilitar-lhe o pagamento, outorga-se ao devedor a excepcional faculdade de liberar-se Cada um se obriga à prestação total, sub-rogando-se no direito de cobrar do ou-
mediante prestação diferente. I.:) r-I parte que pagou. Ex.: A e a se obrigam a entregar um cavalo a W; o cavalo poderá
r entregue tanto por A como por a, ficando o que entregou com o direito de cobrar
iJ/Ç:! outro o que for devido.
B) COMPOSTAS OU COMPLEXAS COM MULTIPLlCIDADE DE SUJEITOS: DIViSíVEIS, INDIVISíVEIS E SOLIDÁRIAS

2. P/ura/idade de credores (concurso ativo) - art. 260


A pluralidade não tem em mira o objeto e sim os sujeitos. Entretanto, o que é
divisível ou indivisível é a prestação em face dos sujeitos. Se não houver pluralidade de A deve a W, X e Y. Tanto vv, X, ou Y podem exigir de A toda a dívida ou parte dela.
sujeitos, não há porque se falar em divisibilidade. • ~\penas um dos credores, p.ex., W exigir a dívida, o devedor, A, tem duas opções:

A) DIViSíVEIS: o objeto pode ser dividido entre os sujeitos, sem que as partes fracio- a. cumprir a dívida total para W, X e Y ou

nadas percam as características do todo. Ex.: cinco sacas de café a cinco credores. b. cumprir a dívida total apenas a W, exigindo-lhe, entretanto, que preste caução

B) INDIVlSíVEIS: o objeto não pode ser dividido entre os sujeitos, pois as partes fra- IrI\ garantir o crédito de X e Y. Ex.: A deve um cavalo de 300 a W, X e Y. W recebe o

cionadas perdem as características do todo. ~Vntlo, devendo dar caução para garantia de X e Y. Assim, W torna-se devedor junto a
iI( (JII 100 e junto a Y de 100 .
• Pode haver convenção quanto à indivisibilidade: indivisibilidade convencional.
Obs.: Na falta de caução não deve o devedor pagar a um só credor.
• No direito das obrigações, a questão da indivisibilidade somente tem relevo
quando houver p/uralidade de credores ou p/ura/idade de devedores (como deverá ser 3. P/ura/idade de credores (concurso ativo) com remissão (perdão), transação,

fracionado o objeto para vários credores ou como vários devedores podem prestar parte i
r/l vw.;t'io. compensação ou confusão - art. 262

desse objeto). Podo ocorrer do um dos credores perdoar a dívida, o que não implica extinção

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Anamaría Prates ---------------------------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

da obrigação quanto aos demais. Ex.: A deve um cavalo de 300 a W, X e Y. W perdoa a - se o credor remir a dívida ou receber o pagamento, responderá em relação aos

dívida. A deverá entregar o cavalo a X e Y, recebendo o valor de 100 que era a parte de outros pela parte que Ihes caiba;

W, ou seja, X e Y somente poderão exigir o cavalo de A. se lhe pagarem 100. - o devedor somente pode opor exceções pessoais em relação ao credor que

• Tal situação também é aplicada nos casos de transação, novação, compensa- estas aproveitarem;

ção e confusão - o julgamento que for contrário a um dos credores solidários não atinge os demais;
Perecimento do objeto indivisível entretanto, se o julgamento for favorável a um dos credores solidários, todos os outros serão
beneficiados, salvo se tenha sido fundado em exceção pessoal ao credor que o obteve.
1. Por culpa do devedor - o objeto torna-se divisível, pois no lugar dele surge o
equivalente a seu valor, em dinheiro, além de perdas e danos;
Solidariedade passiva - pluralidade de devedores (CC, arts. 275 a 285)
2. Se forem vários devedores e houve o perecimento apenas por um - o objeto
- pode resultar de vontade das partes ou da lei:
torna-se divisível, respondendo por perdas e danos apenas o que deu culpa ao pere-
cimento do objeto, mas os outros não ficam exonerados se sua cota parte do objeto, W empresta aA, B e C 300, podendo estipular a solidariedade passiva, sendo as-

apenas não respondendo pelas perdas e danos; entretanto, se houver culpa de todos I~im, W poderá exigir apenas de um deles ou W poderá exigir de dois deles ou W poderá

os devedores, responderão todos por partes iguais. d!xigir de todos eles total ou parcialmente a dívida. A. B e C são, cada um, responsáveis
I)010total da dívida (300).
• Em suma: quando uma obrigação se resume em perdas e danos ela perde o
caráter de indivisibilidade. - enquanto não cumprida por total a obrigação, permanece a solidariedade:

c) SOLIDÁRIAS: há solidariedade quando na mesma obrigação concorre pluralida- Ex.: A. B e C devem a W 300. W exige de A 100. Poderá W exigir o restante, tanto

de de credores, cada um com direito à dívida toda (ativa), ou plural idade de devedores, Cio A, B e/ou C;

cada um obrigado a ela por inteiro (passiva). - a propositura de ação em relação a um ou alguns dos devedores não importa
• A solidariedade não se presume, sendo resultante da lei ou da vontade das partes. !tlnúncia da solidariedade;

• Não pode existir solidariedade sem que haja indivisibilidade do objeto a ser prestado. - se a obrigação tornar-se impossível por inexistência de culpa do devedor, ha-
vurá extinção;
• Apesar das diferenças abaixo, o efeito fundamental da obrigação solidária éo
mesmo da obrigação indivisível. - havendo culpa, continuam todos os devedores obrigados em relação à dívida,
'~1I'tS o devedor que deu culpa responderá por perdas e danos além de continuar soli-
Solidariedade ativa - pluralidade de credores (CC, arts. 267 a 274)
(1(lrlEIem relação à obrigação principal (as perdas e danos são de responsabilidade de
_ cada credor tem direito ao recebimento de todo o crédito;
qlJmn deu culpa, haja vista a culpa ser pessoal);
_ sendo o devedor acionado por um dos credores, deverá pagar a este a totali-
- no caso de defesa dos devedores, somente aproveitarão as defesas que não
dade da dívida, ficando os outros credores com direito de reaver do credor que recebeu
,ulflm de caráter pessoal, ou seja, a comum a todos;
as cotas que lhe couberem;
- falecendo um dos devedores solidários, cada herdeiro será obrigado apenas à
_ quando um dos credores recebe, os outros ficam sem garantia, tendo apenas o
C~H!Ique corresponder a seu quinhão hereditário (salvo se a obrigação for indivisível).
direito de cobrar de quem recebeu, ficando o devedor liberado do débito (diferentemen-
Ittllutanto, todos os herdeiros, serão tidos com um só devedor solidário em relação aos
te da indivisibilidade, em que o devedor só pode pagar a um dos credores, mediante
CIOlllflls devedores;
caução de ratificação);
- mas, após a partilha, o credor só pode pedir a cota de cada herdeiro na dívida,
_ falecendo um dos credores solidários, os herdeiros somente poderão exigir
lIato poeJendo os co-herdeiros ser compelidos a saldar a dívida inteira;
a cota de crédito que corresponde a seu quinhão, salvo se a obrigação for indivisível,
• nns hipóteses em que a dívida se antecipa (CC, art. 333) em havendo solida-
onde cada um poderá exigir a dívida toda;
tlmd'Hlo passiva, n,10 so roputará voncida antecipadamente a dívida quanto aos outros
_ mesmo que a prestação seja convertida em perdas e danos, subsiste a solidariedade;
dl!ivl1I loroft l1olvonlos;

46 47
Anamaria Prates --------------------------- _______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

_ se um deles entrar em insolvência a cota parte será repartida entre os outros; Finalidade da notificação do devedor-cedido

• se a solidariedade interessar apenas a um dos devedores, este responderá por O devedor-cedido deverá ser notificado da cessão, para que a cessão tenha
toda a dívida em relação ao que tiver pago; eficácia (CC, art. 290, 1ª parte).

_ o credor pode renunciar à solidariedade (renúncia de solidariedade = renúncia 1. Até ser notificado o devedor pode pagar ao credor primitivo, resgatando o seu

do crédito) de forma absoluta (feita em favor de todos os devedores) ou relativa (feita em débito (art. 292 1ª parte). Contudo, com a notificação não poderá mais fazê-Io.
favor de apenas um ou alguns devedores). Se a renúncia for absoluta cada devedor fica o Quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da no-
responsável pela sua cota; se a renúncia for relativa o credor somente poderá acionar tificação (CC, art. 292, última parte).
os outros devedores abatendo no débito a cota relativa ao exonerado; 2. A partir do momento em que é notificado, pode o cedido opor junto ao cedente
Obs.: Se houve rateio entre os co-obrigados, por insolvência de um dos devedo- 8 ao cessionário, as exceções que lhe competirem (ex.: poderá alegar que já pagou a
dívida; que já houve compensação, etc.).
res, para saldar o débito junto ao credor, o devedor favorecido com a renúncia da soli-
dariedade, terá que contribuir, porque um ato unilateral do credor não pode prejudicar - Se o devedor declarou-se ciente no escrito público ou particular, a notificação
os outros devedores; ID desnecessária.

_ mesmo havendo renúncia ao crédito ou remissão da dívida por parte do credor Efeitos da cessão

(que é diferente de renúncia à solidariedade), fica o devedor perdoado, obrigado a par- 1. Transferência da relação jurídica - o cessionário passa a ser o titular da relação

ticipar do rateio, em caso de insolvência de um dos co-devedores; Jllrfdica em que o cedente era titular.
2. Garantia - o cedente é responsável pela existência da dívida à época do negócio.
5.4. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES - Não responderá o cedente pela solvabilidade do devedor, apenas pena exis-

5.4.1. CESSÃO DE CRÉDITO (arts. 286 a 298) t4}ncia de crédito. Apenas responderá pela solvabilidade, se for convencionado entre as
pntrtes - art. 296 CC, com as seguintes limitações:
Negócio jurídico, em regra oneroso, por meio do qual o sujeito ativo (cedente/
a) o cedente garante apenas a solvabilidade do devedor no momento da cessão.
alienante) transfere uma obrigação a um 3Q estranho ao negócio original (adquirente/
b) tornando-se responsável, o cedente responderá até a importância que houver
cessionário), independentemente da anuência do devedor (cedido), desde que não se
rocobido na cessão de crédito, acrescida de juros e despesas da cessão (CC, art. 297).
oponha a natureza da obrigação, a lei ou a convenção com o devedor. A cláusula que
proíbe a cessão somente pode ser oposta ao cessionário (adquirente) de boa-fé se
Exceções à responsabilidade do cedente pela existência do crédito.

constar do instrumento da obrigação. Regra geral: o cedente responde pela existência do crédito, à época da cessão.

Pressupostos de validade - os mesmos de qualquer negócio jurídico: Exceções em que o cedente não responderá:

1. capacidade - capacidade e legitimação para praticar atos de alienação


1. na cessão à título gratuito, se de boa-fé o cedente. O cessionário nada perde,
l~orqLle nada deu em troca. Contudo se houve má-fé, responderá por perdas e danos.
2. objeto - desde que não se oponha a natureza da obrigação (direitos persona-
2. se a cessão é feita por força de lei, o credor original fica livre de responder
líssimos, crédito alimentar), a lei (indenização decorrente de acidente de trabalho), ou
i:ilWI realidade da dívida ou pela solvência do devedor, pois não era seu desejo transferir
a convenção com o devedor. Ex.: não podem ser cedidos créditos cuja intransmissibili-
(:I C:ródito (apesar de tal exceção não vir constando expressamente na nova legislação
dade se convencionou.
Ivll, a doutrina tem entendido que tal regra deve ser mantida; constava no Código Civil
3. formas - a lei não impõe forma específica. É negócio não solene e consensual, tlD 11)16 no art. 1076).
ou seja, independe de forma determinada, aperfeiçoando-se com o mero consentimen- Cessão de crédito penhorado - se penhorado o crédito, não poderá mais ser
to das partes. ((,dIcIO (CC, arl. 298).
_ Contudo, sua eficácia apenas terá valor perante terceiros (pessoas que não
figuram no negócio, incluindo o devedor cedido) se for celebrada por instrumento públi-
co ou particular, revestido com as solenidades do art. 654 §1Q (CC, art. 288)

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..... - ... - ...•.....•...... ----------~-----------------------------------------_
~-
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.....•.
ROTEIRO DE DIREITO CIVIL
Anamaria Prates

mento). Os juridicamente interessados são equiparados ao devedor principal. Podem


5.4.2. ASSUNÇÃO DE DíVIDA (arts. 299 a 303)
subrogar-se nos direitos do credor (sub-rogação - transferência dos direitos do credor
A assunção de dívida, ou cessão de débito, não era prevista na legislação ante- àquele que solveu a obrigação - CC, arts. 346, 111
e 349).
rior, mas era utilizada na prática. É quando o terceiro assume a obrigação do devedor,
3. Terceiros não interessados podem efetuar o pagamento - não pode o devedor
mediante consentimento expresso do credor, ficando o devedor primitivo exonerado,
rejeitar o pagamento:
salvo se o devedor que assumiu era, ao tempo da assunção, insolvente e o credor igno-
rava tal fato (CC, art. 299 caput). Tanto o terceiro como o devedor originário podem as- 3.1 - pagamento em nome do devedor: não tem direito a reembolso;
sinar prazo para que o credor consinta na assunção de dívida, sendo que o seu silêncio 3.2 - pagamento em seu próprio nome (do interessado): tem direito de reem-
importa recusa (CC, art. 299, parágrafo único). I)olso, no limite do que foi pago, mas não se sub-roga nos direitos do credor; se pagar
_ as garantias especiais originariamente dadas pelo devedor primitivo ao credor Mtes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento (CC, art. 305).
são extintas com a assunção da dívida, salvo se o devedor primitivo expressamente
3.3 - pagamento sem anuência do devedor: é irrelevante, sendo que o terceiro
assentir em sua manutenção (CC, art. 300);
pOde efetuar o pagamento, mesmo havendo oposição do devedor, tendo direito ao re-
_ em sendo anulada a substituição do devedor, o débito será restaurado com
4Imbolso;
todas as suas garantias, salvo as prestadas por terceiros, exceto se estes conheciam o
- entretanto, se o devedor tinha meios para elidir, totalmente, a ação, como, p.ex.,
vício que inquinava a obrigação (CC, art. 301);
di argüição de uma compensação, prescrição, novação, o devedor não fica obrigado a
_o novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam
riIJombolsar, sendo que o terceiro somente aproveitará a importância que cabe ao deve-
ao devedor primitivo (CC, art. 302);
,1<)1' (CC, art. 306).
_ o adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do
Pagamento efetuado por transmissão de propriedade:
crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em 30 (trinta) dias a transferên-
cia do débito, entender-se-á dado o consentimento (CC, art. 303). Se o pagamento for feito por entrega de uma coisa, somente terá valor quanto feito
por quem possa alienar o objeto (CC, art. 307). Ex.: o tutor não pode dar em pagamento

5.5. aDIMPLEMENTO E EXTINÇÃO das obrigações


rl/6ve/ de seu pupilo, sem autorização judicial e praça.
Como efeitos (o que deflui do vínculo obrigatório) das obrigações podem ser Exceção: coisa fungível entregue ao credor de boa-fé que a recebeu e consumiu - o

citados dois, basicamente: (lQamento é válido ainda que o devedor não tivesse capacidade para fazê-Io. Resta ao
mjudicado reclamar do devedor que efetuou o pagamento e não tinha legitimidade.
1. cumprimento e respectiva extinção (ex.: pagamento, novação, compensação,
transação, compromisso, confusão, novação e remissão de dívidas); Daqueles a quem se deve pagar - accipiens

2. conseqüências do inadimplemento. Regra: credor ou quem o represente (CC, art. 308). Quem paga mal paga duas vezes:

Exceções: 1. É válido o pagamento feito a terceiro ratificado pelo credor (o credor


5.5.1. PAGAMENTO (arts. 304 a 333) C!Cillflrmou o recebimento por via do terceiro ou forneceu recibo); 2. É válido o paga-
mOnlo feito a terceiro desde que tenha revertido em benefício do credor, até o valor que
Pagamento: espécie do gênero adimplemento; desempenho voluntário da pres-
tação, por parte do devedor. Ovorleu em benefício do credor; 3. É válido o pagamento de boa-fé ao credor putativo
(CC, art. 309).
Requisitos de validade: 1) vínculo obrigacional que justifique; 2) so/vens - peso
soa que paga; 3) accipiens - pessoa que recebe; 4) intenção de solvê-I o (animus so/ven- • Credor putativo - o que se apresenta aos olhos de todos como o verdadeiro credor.
di) e 5) cumprimento da prestação. Pessoa incapaz - não é válido o pagamento cientemente feito a pessoa incapaz
De quem deve pagar - so/vens rolO"'! 10 que: 1) relativamente incapaz. cessa a incapacidade, e ele ratifica ou seu repre-

1. Principal interessado: devedor. gQlllll1llo logal ratifica (CC, ar!. 172); 2) o devedor provar que o pagamento reverteu em
~IV!)I do incü(1f\z (CC, mt. 310);
2. Qualquer interessado (quem tem interesse jurídico, ou seja, quem está vincu·
lado ao contrato; os que podem ter o seu patrimônio afetado caso nflO ocorra o paga·

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Anamaria Prates --------------------------- --------------------- __ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

o pagamento não libera o devedor quando houver sido intimado (CC, art. 312): - se o pagamento é feito regularmente em local diverso do previsto no contrato,
1) da penhora feita sob o débito por que é responsável; 2) de impugnação a ele oposta prosume-se que o credor renunciou ao local anterior (CC, art. 330).
por terceiros. Tempo do pagamento
- não é o credor obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda Se não foi estipulada data - o credor pode exigir imediatamente.
que mais valiosa (CC, art. 313);
A dívida antecipa-se (art. 333): 1) falência do devedor ou concurso de credores;
- mesmo que a obrigação tenha prestação divisível, o credor não é obrigado a rece- ~I) bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro cre-
ber, nem o devedor é obrigado a pagar por partes, se assim não foi ajustado (CC, art. 314). rl<Jr;3) garantias do débito, fidejussórias ou reais, tornam-se insuficientes e o credor se
Teoriada imprevisão (CC, art. 317): se por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção Iloga a reforçá-Ias.
manifestada entre o valor da prestação devida e o do momento da execução, poderá o juiz Em havendo solidariedade passiva, não se reputará vencida antecipadamente a
corrigi-Io, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. tI/vida quanto aos outros devedores solventes.
- podem as partes convencional' o aumento progressivo de prestações sucessi-
vas (CC, art. 316);
.5.2. PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO (arts. 334 a 345)
- são nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira,
- Meio indireto do pagamento ou pagamento especial.
não se podendo, também, compensar a diferença entre a moeda estrangeira e a moeda
- Depósito, judicial ou em estabelecimento bancário, pelo devedor da quantia
nacional, salvo os casos previstos em legislação especial (CC, art. 318)
IIIvida com a finalidade de liberar-se da obrigação.
Prova do pagamento
- Podem ser objetos da consignação: dinheiro, bens móveis e imóveis.
Regra: o pagamento não se presume, prova-se pela regular quitação, tendo o
Cabimento (art. 335):
devedor direito de exigi-Ia e reter o pagamento e consigná-Io caso não lhe seja dada.
1. recusa injusta, não fundada em motivo legítimo do credor (cabe ao credor
Presunções - dispensa da quitação:
I'Dvar a existência de justa causa na recusa do recebimento), ou se o credor concorda
1) dívida representada por título de crédito que se encontra na posse do devedor; ~1 receber o pagamento mas recusa-se a dar o recibo de quitação; 2. o credor não
2) pagamento feito em quotas sucessivas, existindo quitação da última - presunção rela- I\I1dar receber a coisa no lugar, tempo e condições acordados'(dívida quérable); 3.
tiva: admite prova em contrário; pode ser feita a ressalva na prestação e caso não o seja, Itdor incapaz de receber, desconhecido, ausente, residir em local incerto ou não sabi-
admite prova em contrário (CC, art. 322); 3) quando há quitação do capital, sem reserva ou de difícil acesso; 4. dúvida sobre quem é realmente o credor, ou seja, a quem se
de juros, que se presumem pagos - presunção relativa (CC, art. 323). vo pagar; 5. pender litígio sobre o objeto do pagamento. Ex.: o credor e um terceir"o

Pagamento com devolução do título e o título perdeu-se: o devedor somente pa- haputam em juízo o objeto do pagamento, o devedor deve pagar em juízo;

gará mediante declaração do credor, inutilizando o título. Entretanto, tal declaração não Obs.: tais hipóteses de cabimento não são taxativas.

é oponível a terceiro de boa-fé (CC, art. 321). Requisitos de validade (CC, art. 336)

Lugar do pagamento As pessoas, o objeto, o modo e o tempo deverão estar em conformidade com o
1111 deveria ser feito o pagamento, sob pena de não ser válido.
Regra: domicílio do devedor, se não estipulado o contrário
• Quérable = domicílio do devedor; Portable = domicílio do credor
6.5.3. PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO (arts. 346 a 351)
Designação de dois ou mais lugares - escolha do credor.
- Sub-rogação: substituição de uma pessoa (sub-rogação pessoal), ou de uma
Se o pagamento for tradição de imóvel ou prestações relativas a imóvel- lugar da coisa.
QQll!on(sub-rogação real) por outra pessoa, ou outra coisa, em uma relação jurídica.
- se o devedor não poder efetuar o pagamento no local determinado, por motivo
- A sub-rogação não extingue a obrigação. A extinção da obrigação ocorre ape-
grave, poderá fazer o pagamento em outro lugar, desde que não acarrete prejuízo para 1~"liI 0111 rolação ao credor quo não podará mais reclamar a dívida.
o credor (CC, art. 329);

52 53
AlJamarla Pratas --------------------------- ------------------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

Sub-rogação legal: Espécies

1. o devedor tem mais de um credor e um deles tem direito de preferência (se 1. imputação do devedor - o devedor tem o direito de escolher qual o débito irá
um dos credores promover a execução, pode o devedor ficar sem meios para pagar aos saldar. Limites à imputação do devedor: a) não pode haver imputação em dívida venci-
credores quirografários, motivo pelo qual pode um destes pagar ao credor preferente, da; b) não pode imputar o pagamento em dívida cujo montante seja superior ao valor
sub-rogando-se em seus direitos e aguardar a melhor oportunidade para cobrança de ofertado, salvo se as partes acordarem (CC, art. 314); c) se há juros vencidos não pode
seu crédito). Se o credor que efetuar o pagamento tiver, igualmente, alguma preferência, o devedor pretender que o pagamento seja imputado no capital (CC, art. 354).
esta deverá ser inferior a do accipiens. 2. imputação do credor - quando o devedor não declara qual das dívidas quer
2. em favor do adquirente do imóvel hipotecado, que paga ao credor hipotecário pagar. Na própria quitação, o credor indica.
(alguém adquire um imóvel hipotecado que faltam algumas prestações a serem pagas 3. imputação por determinação legal - se o devedor não indicou e nem o credor
pelo credor, alienante. Se este deixa de pagá-Ias, pode o adquirente efetuar o pagamen- na quitação (quitação omissa), haverá a imputação legal: a) havendo juros e capital
to, para evitar a excussão do imóvel hipotecado, sub-rogando-se nos direitos daquele). Imputa-se os juros antes; b) entre dívidas vencidas e não vencidas imputam-se as dí-
3. em favor do terceiro interessado que paga a dívida pela qual era ou podia ser vidas vencidas; c) entre dívidas líquidas e ilíquidas imputam-se as líquidas, de acordo
obrigado, no todo ou em parte. Terceiro interessado é o que pode ter o seu patrimônio com a ordem de seu vencimento (CC, art. 355); d) se todas as dívidas forem líquidas e
afetado, caso a dívida, pela qual também se obrigou, não seja paga (avalista, fiador, vencidas ao mesmo tempo, considera-se paga a mais onerosa (CC, art. 355).
devedor solidário). O terceiro não interessado que pagar a dívida em nome próprio tem
direito a reembolso, mas não se sub-roga (art. 305 do CC).
5.5.5. DAÇÃO EM PAGAMENTO - DATlO IN SOWTUM (arts. 356 a 359)
Sub-rogação convencional (art. 347 do CC)
Em regra o devedor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valio-
1. quando o credor recebe pagamento de terceiros e expressamente lhe trans- $0 (CC, art. 313). Entretanto, pode o credor, mediante acordo com o devedor, aceitar
fere todos os seus direitos. O terceiro já se sub-roga, automaticamente, nos direitos do 1'0ceber objeto diverso do constituído na obrigação. A isso denomina-se dação em pa-
credor. Tal transferência pode ser feita sem a anuência do devedor (é uma espécie de Ilamento.
cessão de créditos). Requisitos: 1. que a coisa dada em pagamento seja outra que não o objeto da
2. quando um terceiro empresta quantia ao devedor, sob a condição de sub- prestação; 2. que o credor dê sua concordância a tal substituição.
rogar-se nos direitos do credor satisfeito. Ex.: o agente financeiro (CEF) empresta ao - se ocorrer a evicção a obrigação restabelece, como se não tivesse sido quitada
adquirente da casa própria (mutuário) a quantia necessária para o pagamento ao alie- (CC, art. 359) ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros;
nante, sob a condição expressa de ficar sub-rogado nos direitos deste. O adquirente da • Evicção - perda total ou parcial de uma coisa, em virtude de sentença que atri-
casa própria não é mais um devedor do alienante, e sim do terceiro (agente financeiro), b/ll a terceiro que não o alienante ou o adquirente. (Ex.: credor, após ter recebido uma
que lhe emprestou o numerário. (":oisa, um terceiro a reivindica provando ser seu dono; o credor sofreu a evicção).
- ocorrendo a dação e determinado o preço da coisa dada em pagamento, a relação
5.5.4. IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO (arts. 352 a 355) ••l1tre as partes será regulada pelas normas do contrato de compra e venda (CC, art. 357);

- Indicação ou determinação de dívida a ser quitada, quando uma pessoa encon- - se a coisa dada em pagamento for título de crédito, a transferência importará
0111cessão (CC, art. 358).
tra-se obrigada, por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor e efetua
pagamento não suficiente a todas elas.
Pressupostos: 1. identidade de credor e de devedor; 2. existência de dois ou 5.5.6. NOVAÇÃO (arts. 360 a 367)
mais débitos, exceto quando a única dívida tem juros (nesse caso imputa-se primeiro Criação de uma nova obrigação para extinguir uma anterior; substituição de uma
nos juros vencidos e, depois, no capital - CC, art. 354); 3. dívidas da mesma natureza; eJlvida por outra, extinguindo-se a primeira; é o surgimento da última que produz a ex-
4. dívidas líquidas e vencidas (CC, art. 352); 5. necessidade que o valor entregue seja 1IIIção da primeira.
suficiente para extinguir pelo menos uma das dívidas, pois do contrário estaria constran-
- não satisfaz imediatamente o crédito - é um modo extintivo de obrigação
gendo-se o credor a receber dívida parcial o que é proibido (CC, art. 314) 111'10 salislatório;

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Anamaria Prates --------------------------- _______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

- ocorre por força de vontade entre as partes, jamais por força da lei; 1, reciprocidade das obrigações - obrigações e créditos recíprocos entre as mes-

- se ocorrer apenas entre um dos devedores solidários, somente os bens do que II)OS partes. O terceiro não interessado, apesar de poder pagar não pode compensar.

contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantais do crédito novado; os I xceção: fiador - é terceiro interessado, permitindo a lei (CC, art. 371) que compense a
outros devedores solidários ficam por este fato exonerados (CC, art. 365); <lrvida com a que o credor tem com o afiançado (devedor principal);

- a novação feita com o devedor principal, sem o consentimento do fiador, impor- 2. liquidez e exigibilidade das dívidas (CC, art. 369) - somente podem ser com-
ta exoneração deste (CC, art. 366); IItmsadas dívidas líquidas (valor certo e determinado) e vencidas, Nas condicionais so-
Requisitos: 1. existência de obrigação anterior - tal obrigação tem que ser válida; munte é possível a compensação após o implemento da condição; nas obrigações a
obrigações nulas ou extintas não podem ser novadas, mas a obrigação anulável pode IOrmo, somente depois do vencimento deste.
ser confirmada pela novação (CC, art. 367); 2. constituição de nova obrigação (dívida)
3. fungibilidade das prestações - dívidas da mesma natureza; não bastam que
para extinguir e substituir a anterior; 3. elemento novo - ou o objeto (coisa) ou o sujeito;
"(.Iam fungíveis, mas fungíveis entre si (ex: dívida em saca de café somente se compen-
4. intenção de novar (animus novandi); 5. capacidade e legitimação das partes.
&0 com dívida em saca de café, não se admitindo a compensação de dívida em dinheiro
Espécies: - objetiva - refere-se ao objeto ou à causa da obrigação e - subjetiva -
~(.)Jndívida em café) - não podem compensar bens fungíveis diferentes (CC, art. 370).
quando o elemento novo diz respeito ao sujeito; pode ser ativa (substituição do credor)
ou passiva (substituição do devedor). Dívidas não compensáveis

Obs.: A insolvência do novo devedor corre por conta e risco do credor, que o A exclusão da compensação pode ser:
aceitou. Não tem direito a ação regressiva contra o primitivo devedor, mesmo porque
- convencional - criada pelas próprias partes de comum acordo - bilateral (CC, art. 375);
o principal efeito da novação é extinguir a dívida anterior. Entretanto, se o devedor, ao
obter a substituição, omitiu a insolvência do seu substituto, a novação será nula (CC, - legal quanto à causa de uma das dívidas (CC, art, 373): a) eSbulho, furto e roubo

art. 363). ((lIOSilícitos) - razão de ordem moral; b) causa do contrato - comodato, depósito (baseiam-

Efeitos: a) além da extinção da primitiva obrigação, extingue os acessórios Uu- '01 em confiança mútua, somente sendo admitido o pagamento mediante restituição da

ros e outras prestações que dependem da dívida principal) e garantias (reais - penhor, COisaemprestada ou depositada) e alimentos (a sua satisfação é indispensável para a sub-
anticrese e hipoteca; pessoais - fiança), desde que não haja estipulação em contrário .hMôncia do alimentando); c) uma das coisas for suscetível de penhora - a compensação
(CC, art. 364); b) se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi aupõe dívida judicialmente exigível (ex.: não se compensa crédito proveniente de salários).
parte na novação, não aproveitará ao credor a ressalva do penhora, da hipoteca ou da - não é admitida a compensação em prejuízo do direito de terceiro (CC, art. 380);
anticrese (CC, art. 364).

ti.5.8. CONFUSÃO (arts. 381 a 384)


Súmula 286 do ST J - A renegociação de contrato bancário ou a confissão da Reunião em uma única pessoa da qualidade de credor e devedor. Ocorrendo a
dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos con- Qr.mfusão, a obrigação se extingue. Alguns doutrinadores entendem que não há a extin-
tratos anteriores. , Q~10 da obrigação, mas neutralização.

- a confusão extingue tanto a obrigação principal como seus acessórios. Mas a


5.5.7. COMPENSAÇÃO (arts. 368 a 380) rQcfproca não é verdadeira. (Ex.: Se a confusão for entre fiador e credor, a obrigação

- Extinção de obrigações entre pessoas que são ao mesmo tempo, credor e r,lrlncipal permanece);
devedor uma da outra. - se a confusão cessar, a obrigação se restabelece, com todos os acessórios
- Ocorre extinção de duas obrigações simultaneamente. (CC, ar!. 384, ex.: sucessão provisória; anulação de testamento);

- Produz os mesmos efeitos do pagamento. - a confusão pode ser parcial ou total (CC, art. 382);

Espécies: a) total ou parcial e b) legal, convencional ou judicial - ocorrendo confusão na obrigação solidária, na pessoa do credor ou devedor
I~IJllclnrio, haverá oxlinçl'\o da obri{;)nção até a concorrência da respectiva parte no crédi-
Requisitos:
1(1, Olln<l clfvlda, ~111bsll1t1lldo <!llflllrlo 1'10 rnnis a solidariedade(CC, art. 383).

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5.5.9. REMISSÃO (arts. 385 a 388) Distinção entre Mora e Inadimplemento Absoluto:
É o perdão da dívida. Exoneração do devedor da obrigação. Se aceita pelo deve- A mora distingue-se do inadimplemento absoluto pelo aspecto da utilidade, pois
dor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro (CC, art. 385). no primeiro caso o devedor ainda pode cumprir a obrigação e, no segundo, já não há
_ remissão a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele corres- mais tal possibilidade, impondo-se o pagamento por perdas e danos, mais juros e atua-
pondente. O credor somente poderá perdoar desde que deduza a parte perdoa- lização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos e honorários de
da (CC, art. 388). advogado (art. 389).

Obrigação indivisível: se um dos credores perdoar a dívida, a obrigação não


ficará extinta para com os outros; mas estes só poderão exigir, descontada a quota do MORADODEVEDOR
(mora solvendi ou mora debitoris)
credor remitente. Efeitos da Mora do Devedor:
Espécies: a) Expressa - declaração do credor, em instrumento público ou parti- Configurar-se-á a mora do devedor quando ele não cumprir, por culpa sua, a
cular e b) Tácita - decorre do comportamento do credor, incompatível com a sua quali- prestação devida na forma, tempo e lugar estipulados (CC, art. 394).
dade de credor (Ex.: entrega voluntária do título da dívida).
Elementos da Mora do Devedor: 1. Objetivo: a não realização do pagamento
no tempo, local e modo convencionados e 2. Subjetivo: inexecução culposa por parte
5.6. inADIMPLeMENTO das obrigações çJodevedor.

Todo aquele que descumprir as obrigações responderá pelos prejuízos que cau- Requisitos da Mora do Devedor:
sar (perdas e danos, juros e atualização monetária segundo índices oficiais regular- 1. Exigibilidade Imediata da Obrigação: é preciso que exista uma dívida positiva,
mente estabelecidos e honorários do advogado - CC, art. 389). O adimplemento da Ifquida e vencida, uma vez que, na pendência de condição suspensiva ou antes do ter-
obrigação é a regra, e seu inadimplemento, a exceção. O inadimplemento poderá ser mo final, será impossível a incidência da mora. (CC, art. 397);
voluntário ou involuntário, sendo que este último poderá ser absoluto ou relativo.
2. Inexecução total ou parcial por culpa do devedor: se o devedor não cumprir
n obrigação no tempo, lugar e modo convencionados, em razão de fato alheio à sua
5.6.1. Mora vontade, ou seja, ocorreu em razão de caso fortuito ou força maior, não incorrerá em
A mora vem a ser não só a inexecução culposa da obrigação, mas também a mora. (art. 396). Porém, se não ocorreu desta forma, ou seja, houve culpa por parte do
injusta recusa de recebê-Ia no tempo, no lugar e na forma devidos. A imperfeição no devedor pelo inadimplemento da obrigação, então ele incorre em mora;
cumprimento da obrigação também é hipótese de mora. 3. Interpelação judicial ou extrajudicial do devedor: Se a dívida não for a termo
Requisitos Essenciais: ou com data certa, o devedor só será constituído em mora após a iniciativa do credor de

1. Vencimento da Dívida: cuida do elemento objetivo; pois, sendo a mora constituí-Io em mora (CC, art. 396, parágrafo único).
Efeitos Jurídicos da Mora do Devedor:
um atraso no pagamento da obrigação, é preciso que a dívida se encontre já
vencida, isto é, o termo tenha-se expirado. Nestas condições a obrigação pode 1. Responsabilidade do devedor pelos prejuízos causados pela mora ao Credor
ser exigida judicialmente. (CC, art. 395);
2. Culpa do Devedor: trata do elemento subjetivo e traz a idéia de que o 2. Possibilidade de o credor exigir a satisfação das perdas e danos, rejeitando
atraso deve decorrer de fato imputável ao devedor, caso contrário não se cogitará n prestação, se por causa da mora ela se tornou inútil (art. 395, parágrafo único) ou
de mora (art. 396). pordeu seu valor;
3. Viabilidade de cumprimento tardio: este pressuposto significa que a obrigação, 3. Responsabilidade do devedor moroso pela impossibilidade da prestação,
ainda que cumprida tardiamente, tem utilidade para o credor, caso contrário será consi- mosmo decorrente de caso fortuito ou força maior, se estes ocorrerem durante o atraso,
derado inadimplemento absoluto. aulvo so provar Isonçrlo cio culpn 011 que o dano sobreviria, ainda que a obrigação fosse

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Anamaria Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

oportunamente desempenhada - perpetuação da obrigação do devedor moroso (obli- 5.6.3. Juros legais
gatio mora perpetuatur) (arts. 399 e 393);
Juro é o preço do uso do capital. Podem ser: a) compensatórios ou remuneratórios
4. Nas obrigações decorrentes de ato ilícito, o devedor é considerado em mora, ou juros-frutos: são devidos como uma forma de compensação pela utilização do capital; b)
desde que praticou o ato (CC, art. 398). moratórios: são decorrentes de retardamento no cumprimento da obrigação; c) convencio-
Purgação da mora (CC, art. 401): Devedor - oferecendo este a prestação mais nais: convenção entre as partes; d) legais: imposição da lei; e) simples: calculados sobre o
a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta. capital inicial; 1) compostos: juros sobre juros, ou seja, capitalização anual.

MORA DO CREDOR (mora accipiendi ou mora creditoris): é a injusta recusa de Súmula 296 do ST J - Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão
aceitar o adimplemento da obrigação no tempo, lugar e forma devidos (CC, art. 394). de permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa média de mercado

Pressupostos: a) existência de dívida positiva, líquida e vencida; b) estado de estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado.

solvência do devedor; c) oferta real e regular da prestação devidil pelo devedor; d) re- Súmula 294 do ST J - Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a co-
cusa injustificada, expressa ou tácita, em receber o pagamento no tempo, lugar e modo missão de permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco
indicados no título constitutivo da obrigação; e) constituição do credor em mora. Central do Brasil, limitada à taxa do contrato.

Conseqüências jurídicas (arts. 400 e 335): a) liberação do devedor, isento de


dolo, da responsabilidade pela conservação da coisa; b) obrigação do credor moroso - se os juros moratórios não forem convencionados, serão decorrentes de lei que fixa
de ressarcir ao devedor as despesas efetuadas com a conservação da coisa recusada; como parâmetro a taxa em vigor de impostos devidos à Fazenda Pública (CC, art. 406);
c) obrigação do credor de receber a coisa pela estimação mais favorável, se o valor os-
- dispõe o art. 407 do CC que "ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o
cilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação; d) possibilidade
(Jevedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às pres-
da consignação em pagamento (CC, art. 335).
tações de outra natureza, uma vez que Ihes esteja fixado o valor pecuniário por sentença
Purgação da mora (CC, art. 401): Credor - oferecendo este a receber o paga- Judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes".
mento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data.

5.6.4. Cláusula Penal


5.6.2. Perdas e danos Conceito
- compreendem o que o credor efetivamente perdeu (dano emergente) e o que
- obrigação acessória, por meio da qual se insere uma multa na obrigação, para
deixou de lucrar (lucro cessante) - CC, art. 402;
EI parte que deixar de cumprir ou apenas retardar o cumprimento da obrigação. Sendo
- quando for obrigação decorrente de pagamento em dinheiro, as perdas e da- flcessória, segue o principal: se nula for a obrigação principal, nula será a cláusula pe-
nos serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente es- nal. Entretanto, a recíproca não é verdadeira: a nulidade da cláusula penal não acarreta
tabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários advocatícios, sem prejuízo de pena nulidade da obrigação principal.
convencional (CC, art. 404); Finalidade
- indenização suplementar: se ficar provado que os juros não cobrem o prejuízo, 1. Reforço à obrigação principal, penalizando o devedor moroso.
e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suple-
2. Cálculo predeterminado das perdas e danos: indenização prévia de perdas e
mentar (CC, art. 404, parágrafo único);
(Jnnos - o credor fica isento de provar judicialmente o montante de seu prejuízo, a fim de
- os juros de mora são contados desde a citação inicial, se for decorrente de
,ilcançar indenização. A existência ou não de prejuízo é irrelevante, bastando a prova do
obrigação contratual (CC, art. 405), pois se decorrente de ato ilícito a mora ocorre desde
duscurnprimento da obri[joçoo, não podendo o devedor deixar de cumpri-Ia, alegando
o momento da prática do mesmo (CC, art. 398). ~Ior oxcossivo.

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Espécies: deu poderá desfazer o contrato, exigindo a devolução do equivalente das arras, mais
CLÁUSULA
PENALCOMPENSATÓRIA:
inexecução completa da obrigação. Constitui pre- atualização monetária, segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e ho-

fixação de perdas e danos. Basta ao credor provar o inadimplemento imputável ao de- norários advocatícios (CC, art. 418, segunda parte);

vedor (se não houver a cláusula penal, o credor deverá provar a ocorrência de perdas - pode, também, a parte inocente pedir indenização complementar, se provar um
e danos, ou seja, para que possa exigir a cláusula penal compensatória, não há neces- prejuízo maior, valendo as arras como taxa mínima (CC, art. 419, primeira parte);
sidade de ser alegado prejuízo). Se optar pela multa, não poderá pedir perdas e danos. - pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas
Pode o credor optar pelo cumprimento da obrigação e se esta tornou-se impossível, o danos, valendo as arras como o valor mínimo da indenização (CC, art. 419, segunda
valer-se da multa. Ela se converte em alternativa para o credor (CC, art. 410). Se o pre- parte) .
juízo for excessivo ao previsto na cláusula penal, não poderá o credor exigir indenização
b) Penitenciais: quando os contraentes, ao entregar o sinal, estipulam expressa-
suplementar, se não tiver sido convencionado. Se houve convenção quanto à possibi-
mente o direito de arrependimento, tornando resolúvel o contrato, atenuando-lhe a força
lidade de indenização suplementar, o valor da cláusula penal valerá como o mínimo da
obrigatória, mas à custa da perda do sinal ou de sua devolução em dobro;
indenização, competindo ao credor fazer a prova do prejuízo excedente.
- quem deu as arras, perdê-Ias-á em benefício da outra parte (perda do sinal - CC,
CLÁUSULA
PENALMORATÓRIA:
descumprimento de alguma cláusula especial ou sim-
~Irt.420);
plesmente mora do devedor. É a multa pelo retardamento no cumprimento da obriga-
- quem recebeu as arras, devolvê-Ias-á, mais o equivalente (restituição em dobro
ção ou descumprimento de uma das cláusulas. A cláusula moratória, diferentemente
• CC, art. 420);
da compensatória, pode ser requerida juntamente com a obrigação principal (multa de
mora + prestação principal). Geralmente é de pequeno valor, diferentemente da com- - nos dois casos não se exige prova do prejuízo, não se admitindo, também,

pensatória que é de um montante maior. pardas e danos, ou seja, indenização suplementar.

Valor da cláusula penal - o valor da cláusula penal, mesmo sendo compensa-


tória, não pode ser superior ao da obrigação principal (CC, art. 412). Tanto na compen-
satória como na moratória pode haver a redução do valor da cláusula na proporção em
que o credor cumpriu a obrigação ou se o montante da penalidade for manifestamente
excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio (CC, art. 413).

5.6.5. ARRAS OU SINAL

Quantia em dinheiro, ou outra coisa móvel, dada por um dos contraentes ao ou-
tro, a fim de concluir o contrato e, excepcionalmente, assegurar o pontual cumprimento
da obrigação. Somente são cabíveis em contratos bilaterais, tendo natureza real, pois
se aperfeiçoam com a entrega da coisa ou do dinheiro.
Podem ser:

a) Confirmatórias: entrega de soma em dinheiro ou outra coisa móvel, feita de


uma parte à outra, em sinal de firmeza do contrato e como garantia de que será cumpri-
do, visando impedir o arrependimento de qualquer das partes;

- se houver inexecução contratual por parte de quem deu as arras, poderá a outra
parte desfazer o contrato, retendo as arras (CC, art. 418, primeira parte);

- se houver inexecução contratual por parte de quem recebeu as arras, quem as

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Anamaria Prates ---------------------------- ------------------------ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

6. Contratos c.1) Forma livre ou geral - é a regra no direito brasileiro; qualquer manifestação
ele vontade configura o negócio jurídico, desde que a lei não exija outro modo.
6.1 Teoria geral dos contratos
CONTRATO: CONCEITO, REQUISITOS
c.2) Forma especial ou solene - é quando a lei exige o preenchimento de deter-
minados requisitos para a validade do negócio jurídico.
Espécie do gênero negócio jurídico bilateral que pressupõe acordo de vontade
entre as partes, em vista de produzir efeitos jurídicos. c.3) Forma Contratual - é aquela convencionada pelas partes, conforme dispõe o
M. 109 do Código Civil "no negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem ins-
Os requisitos ou condições de validade do contrato são os comuns a qualquer negó-
trumento público, este é da substância do ato", dessa forma podem as partes convencional'
cio jurídico (gerais): 1. agente capaz; 2. objeto lícito, possível, determinado ou determi-
que o instrumento público torne-se essencial à validade do negócio jurídico.
nável e 3. forma prescrita ou não defesa em lei; além de um requisito de ordem especial:
PRINCíPIOS CONTRATUAIS
acordo de vontades (consentimento recíproco).

Dessa maneira, pode-se dizer que são necessários para validade do contrato a 1. Princípio da autonomia da vontade: que a vontade seja autônoma, signifi-

presença de requisitos subjetivos, objetivos e formais. cando a liberdade das partes na estipulação do que melhor Ihes convenha. É o princípio
dl~ livre contratualidade. As partes, de forma livre, podem convergir vontades com o
A. REQUISITOS SUBJETIVOS
Objetivo de criar, modificar ou extinguir direitos reconhecidos e tutelados pela ordem
a.1) Capacidade genérica - capacidade para exercer os atos da vida civil em pt'lblica. Entretanto, conforme dispõe o art. 421 do Código Civil "a liberdade de contratar
geral, sendo que os absolutamente incapazes deverão ser representados e os relativa- IMlrá exercida em razão e nos limites da função social do contrato".
mente incapazes assistidos.
2. Princípio da função social do contrato: o código civil, afastando-se de um
a.2) Legitimação - é a aptidão específica para contratar.
Contexto individual, trouxe o princípio da social idade, prevalecendo o interesse públi-
a.3) Consentimento - esse é o requisito de ordem especial, devendo ser recípro- I'JO sobre o privado. Tal princípio vem limitar a liberdade em contratar, sendo que essa
co, ou seja, um acordo de vontades. Se o consentimento for viciado o negócio jurídico jtornente pode ser exercida em consonância com os fins sociais do contrato. A função
pode ter sua validade afetada pelos defeitos do negócio jurídico (erro, dolo, coação, ~Ocial surge como cláusula geral, ou seja, como formulação abstrata e genérica que dá
estado de perigo, lesão e fraude). ~() julgador liberdade para solucionar o caso dependendo da situação em concreto.
B. REQUISITOS OBJETIVOS
3. Princípio da supremacia da ordem pública: a vontade das partes tem como
b.1) Objeto lícito - o objeto não pode ser contrário à moral, aos bons costumes, )Imlte os termos da legislação pertinente à matéria, aos princípios da moral e da ordem
à lei e aos princípios de ordem pública. pCiI)lica; limita-se à autonomia dos contratantes em nome de um interesse maior, de

b.2) Possibilidade física ou jurídica do objeto - se o objeto for física ou ma- Ortlem pública (interesses essenciais ao Estado e à sociedade).
terialmente impossível o contrato será inválido. A impossibilidade pode ser absoluta 4. Princípio do consensualismo: contrapõe-se ao formalismo, decorrendo da

ou relativa, sendo que somente aquela gera a invalidade do contrato e a relativa pode Mncepção de que o acordo de vontade aperfeiçoa o contrato, ou seja, como regra os
sujeitar o devedor a perdas e danos. nlC')111ratos
são consensuais (independem da entrega da coisa), bastando, apenas, o
C:Ol1sensodas partes para gerar o contrato válido.
b.3) Determinação do objeto - o objeto além de certo deve ser determinado
ou determinável, ou seja, capaz de uma determinação futura, contendo os elementos 5. Princípio da obrigatoriedade (ou intangibilidade ou força vinculante): de
necessários. Ctnclovem o velho axioma de a avença fazer lei entre as partes (pacta sunt servanda).

b.4) Economicidade - o objeto deve ter uma apreciação econômica para que Pur osse princípio, as estipulações feitas no contrato deverão ser fielmente cumpridas,

possa interessar ao direito. ~r.)1J pena de execução patrimonial contra o inadimplente. O ato negocial, por ser uma
'ICJI'I1111
jurídica, constituindo lei entre as partes, é intangível, a menos que ambas as
C. REQUISITOS FORMAIS
II/Irtos o rescindam voluntariamonte ou haja a escusa por caso fortuito ou força maior
A forma é o terceiro requisito de validade do negócio jurídico. Pode ser dividida
(~IIt. 393, parágrafo LJIlico, cio CC), do tnl sorte que não se poderá alterar seu conteúdo,
em três espécies: 11111111 111051110 jucflcinill1ul1lu,

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Alllllllnrlll Prn"w • - ___________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

6. Princípio da revisão dos contratos (ou da onoros/clllC/uOxcIJlwlva): permito a) se contiver cláusula expressa desobrigando o proponente; se for da natureza
que os contratantes recorram ao Poder Judiciário para revisar as cláusulas contratuais, do negócio (ex.: proposta limitada a estoque) ou das circunstâncias do caso, que são
em determinadas situações. Admite-se que a força vinculante dos contratos seja contida IIH hipóteses seguintes;
pelo magistrado em certas circunstâncias excepcionais ou extraordinárias que impossi- b) se, feita sem prazo a uma pessoa presente, não for imediatamente aceita;
bilitem a previsão de excessiva onerosidade no cumprimento da prestação (arts. 6º, V, Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio
e 51, da Lei 8.078/90).
(/n comunicação semelhante.
A teoria da imprevisão (cláusula rebus sic stantibus - que pode ser lida como c) se, feita sem prazo a uma pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente
"estando as coisas assim", ou "enquanto as coisas estão assim" ou "permanecendo
Çlma chegar a resposta ao conhecimento do proponente (prazo moral);
essas as condições"), consistente na possibilidade de revisão dos contratos já aper-
d) se, feita a uma pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do
feiçoados, chega a admitir, em seu grau máximo, a própria inexecução das obrigações
pmzo dado;
sem responsabilidade do contratante. Essa revisão judicial dos contratos encontra fun-
e) se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a
damento em princípios superiores, como a ordem pública, a boa-fé dos contratantes, o
equilíbrio contratual, mitigando a aplicação da força obrigatória que impera nos contra- futratação do proponente.

tos. Como regra, não é aplicada a contratos aleatórios. 2. Aceitação: é o ato de aderência à proposta feita. Aceitação com condições ou
IIOVOS elementos equivale a uma nova proposta (contraproposta - CC, art. 431). Pode
7. Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos: a regra geral é que
o contrato só vincula aqueles que dele participaram. Seus efeitos não podem nem fIIl!Jrexpressa ou tácita. Será tácita quando reputa-se concluído o contrato, não chegan-

prejudicar nem aproveitar a terceiros. Esse princípio da relatividade não se aplica Gto a tempo a recusa: a) quando o negócio for daqueles em que se costuma a aceitação
OIxpressa; b) quando o proponente a tiver dispensado (CC, art. 432).
tão-somente em relação às partes, mas também em relação ao objeto. O contrato
sobre bem que não pertence aos sujeitos não atinge terceiros. Essa regra geral pode Os contratos entre ausentes (por correspondência: carta, telegrama, radiograma,
também sofrer exceções (estipulação em favor de terceiros - CC, arts. 436 a 438). I/'Ix), consideram-se formados, desde que a aceitação seja expedida, salvo (CC, art. 434):
Nesse sentido, conclui-se que o contrato não produz efeito com relação a terceiros, a) no caso da retratação chegar antes ou simultaneamente com a aceitação;
a não ser nos casos previstos na lei.
b) se o proponente se houver comprometido a esperar a resposta;
8. Princípio da probidade e da boa-fé: na interpretação do contrato, deve-se
c) se a aceitação não chegar no prazo ajustado.
ter em conta o princípio da boa- fé dos contratantes, ou seja, devem ser examinadas
• Retratação do aceitante: o aceitante poderá arrepender-se, desde que sua re-
as condições em que o contrato foi firmado, o nível sócio-cultural dos contratantes, o
tratação chegue ao conhecimento do ofertante antes da aceitação ou juntamente com
momento histórico e econômico. É ponto de interpretação da vontade contratual.
IIla (CC, art. 433) .

• Arrependimento: formado o contrato, as partes ficam juridicamente vinculadas, não


6.2 Formação e lugar do contrato I nais podendo se eximir, salvo se houver direito de arrependimento previsto no contrato.
Fases da formação do vínculo contratual: o contrato resulta de duas manifes-
Lugar do contrato: o contrato é tido como celebrado no lugar em que foi proposto.
tações de vontade: a proposta e a aceitação.

1. Proposta (oferta, policitação, oblação): negócio jurídico unilateral; provo-


Observações:
cação do consentimento das partes, há uma declaração de vontade pela qual uma
- os contratos consensuais formam-se com a proposta e aceitação;
pessoa (o proponente, policitante) propõe a outra (o oblato) os termos para a conclusão
de um contrato. É antecedida da pontuação (negociações preliminares, conversações, - os reais com a entrega da coisa e;
estudos). Deve conter todos os elementos essenciais à celebração do contrato (preço, - os formais com a realização da solenidade ou do instrumento próprio.
forma de pagamento etc.).

, A proposta séria e consciente obriga o proponente, salvo (CC, arts. 427 e 428):

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Anamarla Prates
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6.3 Classificação
vontades, prescindo a entrega da coisa e independendo de forma especial; conside-
I. Quanto aos efeitos: ram-se formados pela simples proposta e aceitação.
o bilaterais ou sinalagmáticos: são impostos deveres a ambas as partes; nas- o reais: para existir exige-se a tradição, ou seja, não basta o acordo de vontades;
cem obrigações recíprocas; os contratantes são tanto credores como devedores do IIflo os que só se formam com a entrega efetiva da coisa, como no mútuo, no depósito
outro, produzindo direitos e obrigações para ambos, sendo, portanto, sinalagmáticos. ou no penhor. A entrega, aí, não é cumprimento do contrato, mas detalhe anterior, da
Nos contratos bilaterais admite-se: própria celebração do contrato.

- exceptio non adimpleti contractus (exceção de inadimplemento) - não pode um o solenes ou formais: são contratos que devem obedecer à forma prescrita em lei.
dos contratantes, antes de cumprir a sua obrigação, exigir o cumprimento da prestação o não solenes ou não formais: forma livre, bastando o consentimento para seu
do outro contratante (CC, arts. 476 e 477); {I1perfeiçoamento.

- condição resolutiva tácita - poderá a parte lesada requerer perdas e danos, em 111. Quanto à formação:
face do inadimplemento do outro contratante (CC, art. 475).
o paritários: são contratos em que as partes estão em situação de igualdade no
As partes respondem tanto por dolo como por culpa. Que pertine ao princípio da autonomia de vontade; discutem os termos do ato do ne-
o plurilaterais: em havendo mais de duas partes, são impostos deveres a todas ~ócio e livremente se vinculam fixando cláusulas e condições que regulam as relações
I:ontratuais.
(ex.: sociedade com mais de dois sócios).

o unilaterais: são impostos deveres apenas a uma das partes; só uma das par- o por adesão: caracterizam-se pela inexistência da liberdade de convenção; as
tes se obriga em relação à outra. Nestes, um dos contratantes é exclusivamente credor, IWlusulas e condições são previamente redigidas por um dos contratantes, sendo que
enquanto o outro é devedor. CIoutro se limita a aceitá-Ias. Nos contratos de adesão, eventuais dúvidas oriundas das

o Bilateral imperfeito: é o contrato unilateral que, por circunstâncias acidentais, CII\usulas se interpretam em favor de quem adere ao contrato (aderente). O Código de

gera obrigação para o contratante que não se comprometera. Ch9fesado Consumidor, em seu artigo 54, oferece o conceito e dispõe sobre a admissão
~Iv cláusula resolutória ..
o gratuitos ou benéficos: são aqueles em que só uma das partes obtém um pro-
IV. Quanto ao objeto:
veito, podendo este, por vezes, ser obtido por terceira pessoa, quando há estipulação
neste sentido, como na doação pura e simples; encerra uma liberalidade. o preliminar ou pré-contrato ou pactum de contrahendo: é aquele em que

o onerosos: são aqueles que trazem vantagens para ambos os contraentes, ha· 8. partes se obrigam a realizar um contrato definitivo; tem, portanto, um único objeto:

vendo uma certa compensação. Os contratos onerosos se subdividem em comutativos ti contrato definitivo. Se tem por objeto a compra e venda é denominado promessa de
e aleatórios. (~rnpra e venda ou compromisso de compra e venda; se há uma promessa unilateral
(ClIJando gera obrigações para apenas uma das partes), denomina-se opção (quanto à
o comutativos: as prestações são determinadas e conhecidas, podendo as par-
formação é negócio jurídico bilateral, mas nos efeitos é contrato unilateral).
tes, de imediato, averiguar a reciprocidade das prestações; há um equilíbrio justo entro
definitivo: tem objetos diversos, de acordo com a natureza de cada um.
as partes. No momento da formação, ambas as prestações geradas pelo contrato estão
definidas, como na compra e venda. São sempre onerosos. V. Quanto ao momento de sua execução

o aleatórios: as prestações são indeterminadas e desconhecidas; é o contrato o execução instantânea ou imediata ou única: consumação em um só ato;
em que as partes se arriscam a uma contraprestação inexistente ou desproporcional, Ournprida a obrigação, exaure-se o ato. (ex.: compra e venda à vista)
como no contrato de seguro e nas vendas de coisa futura, em que há dúvida quanto ao o execução diferida ou retardada: cumprimento em um só ato, mas em mo-
valor da prestação. São sempre onerosos. fll()nto futuro, a termo.
11. Quanto à forma: o execução continuada ou trato sucessivo: aquele que se cumpre por meio de
o consensuais: aperfeiçoam-se com o consentimento, isto Ó, com o acordo cio ItlO roitorodo (ox.: cOlnprfl o vuneJn fi prnzo).

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aceita (CC, art. 468, parágrafo único). A pessoa nomeada adquire os direitos e obriga-
6.4 Efeitos
ções a partir do momento em que o contrato foi celebrado (CC, art. 469), entretanto se a
O principal efeito do contrato é criar obrigações, estabelecendo um vínculo jurí-
pessoa nomeada era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato pro-
dico entre as partes contratantes. Tais efeitos se expressam no seu caráter obrigatório
duzirá seus efeitos entre os contratantes originários (CC, art. 471). A eficácia do contrato
como na sua relatividade.
entre os contratantes originários somente ocorrerá ser não houver indicação de pessoa
ou se o nomeado se recusar a aceitá-Ia; se a pessoa nomeada era insolvente quando da
6.4.1. EFEITOS DECORRENTES DA OBRIGATORIEDADE: nomeação e tal fato era desconhecido da outra pessoa (CC, art. 470).

- cada contraente fica ligado ao contrato;


- o contrato é irretratável e inalterável, sendo que o vínculo entre os contratantes Outros efeitos do contrato

somente pode ser desfeito por ambas as parte (sem que haja responsabilidade por • DIREITODERETENÇÃO:
é quando o credor conserva em seu poder coisa alheia que
perdas e danos); já detém legitimamente, além do momento em que a deveria restituir, se o seu crédito
- o contrato deverá ser estritamente observado pelo juiz, salvo nos casos da im- não existisse e, normalmente, até a extinção deste.
previsão, caso fortuito e força maior. • VíCIOSREDIBITÓRIOS:
defeitos ocultos em coisa recebida em virtude de contrato
comutativo, que a tornam imprópria ao uso a que se destina, ou lhe diminuam o valor. A

6.4.2. EFEITOS DECORRENTES DA RELATIVIDADE coisa defeituosa pode ser enjeitada pelo adquirente (CC, art. 441), que pode, contudo,
optar por ficar com ela e reclamar o abatimento no preço (CC, art. 442). Se o alienante
- em princípio, o contrato restringe-se às partes contratantes, não atingindo ter-
tinha conhecimento do vício e mesmo assim alienou a coisa, além de restituir o valor que
ceiros. Contudo, tal regra não é absoluta, tendo as seguintes exceções:
recebeu deverá pagar perdas e danos; se não tinha conhecimento, restituirá apenas o
• ESTIPULAÇÃO
EMFAVOR
DETERCEIROS:
quando uma pessoa convenciona com outra
valor da coisa mais as despesas do contrato (CC, art. 443). Mesmo que a coisa pereça
certa vantagem em benefício de terceiro, que não toma parte no contrato. Presença em poder do alienatário, se for em decorrência de vício oculto, o alienante continua
de três pessoas: estipulante, promitente e beneficiário (este último não precisará ter
responsável (CC, art. 444).
aptidão para contratar). A prestação não é realizada em favor do estipulante, mas em
• EVlcçÃo: perda da coisa em virtude de sentença judicial, que a atribui a outrem
benefício de outrem (beneficiário).
por causa jurídica preexistente ao contrato. São três os sujeitos da evicção: o alienante
• PROMESSA
DEFATODETERCEIRO
OUCONTRATO
PORTERCEIRO:
quando uma pessoa se
(que responde pelos riscos da evicção); o evicto (que é o adquirente vencido na deman-
compromete com outra a obter prestação de fato de um terceiro, sendo que se o tercei- da movida por terceiro) e o evictor (que é o terceiro reivindicante e vencedor da ação).
ro não cumprir, o devedor primário será inadimplente, sujeitando-se a perdas e danos A responsabilidade é legal, independendo de previsão contratual.
(CC, art. 439). Não fica sujeito a perdas e danos se o terceiro for o cônjuge do promi-
• ARRAS
tente, dependendo de sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime de
casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens (CC, art. - já abordadas no capítulo de obrigações

439, parágrafo único).Também não há responsabilidade do promitente, se o terceiro se


obrigou e não cumpriu a prestação (CC, art. 440). 6.5 extinção do contrato
• CONTRATO
COMPESSOAA DECLARAR:
O atual Código Civil vem prevendo tal mo- Via de regra, os contratos extinguem-se normalmente com o seu cumprimento,
dalidade de contrato, diferentemente do Código anterior. No momento da conclusão Isto é, com o adimplemento do estipulado dentro do prazo fixado e nas condições esta-
do contrato uma das partes pode reservar-se a faculdade de indicar pessoa que deve bolecidas. As causas que acarretam a extinção do contrato sem o cumprimento podem
adquirir os direitos e assumir as obrigações decorrentes do contrato (CC, art. 467), ~or anteriores (ou contemporâneas) à formação do contrato ou supervenientes.
devendo tal indicação ser comunicada à outra parte no prazo de 05 dias da conclusão FATOS ANTERIORES Oll CONTEMPORÂNEOS:
do contrato, se não tiver sido estipulado outro prazo (CC, art. 468). Se a aceitação da
1. Nulldndo oblJoluln: procullos do ordem pública; efeitos ex tunc;
pessoa não se revestir da mesma forma que as partes usaram para o contrato, não será

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2. Nulidade relativa: imperfeição da vontade e não extinguirá o contrato, desde c) renúncia - no mandato se a iniciativa é do mandatário;
que não argüida em tempo oportuno; efeitos ex nunc; d) resgate - na enfiteuse.
3. Condição resolutiva: pode ser expressa (opera de pleno direito) ou tácita 3. Morte de um dos contratantes: é causa extintiva de contrato se este for intuitu
(depende de interpelação judicial); a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a personae, subsistindo as prestações cumpridas (efeito ex nunc).
resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer
4. Rescisão: modo específico de extinção de certos contratos. Tal termo não é
dos casos, indenização por perdas e danos (CC, art. 475);
consenso na doutrina. Para alguns (Arnaldo Ricardo) é a regra, como forma de extinção
4. Direito do arrependimento: se foi estipulado no contrato o direito de arrependimento de cOntratos. Para outros (Carlos Roberto Gonçalves) é aplicada para hipóteses em que
para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função apenas indenizatória; sendo assim, ocorreu lesão ou estado de perigo. E há os que entendem que tal expressão somente
quem as deu perdê-Ias-á em benefício da outra parte e quem as recebeu devolvê-Ias-á em do- deve ser empregada para situações de vícios redibitórios e estado de perigo.
bro; não haverá, em nenhum dos casos, direito à indenização suplementar (CC, art. 420).

Fatos posteriores à formação do contrato:


6.6 Espécies de contratos
1. Resolução: 6.6.1. COMPRA E VENDA (CC, arts. 481 a 532)
a) inexecução voluntária - pode gerar inadimplemento absoluto ou mora.
Conceito - contrato pelo qual uma pessoa se obriga a alienar em benefício de
- Efeitos ex tunc para contrato que for de execução única; outra o domínio de uma coisa, mediante pagamento de certo preço.
- Efeitos ex nunc para contrato que for de duração continuada. Natureza jurídica - bilateral (ou sinalagmático); oneroso; geralmente comutati-
b) inexecução involuntária - em decorrências de caso fortuito ou de força maior, o vo, podendo ser aleatório quando uma das partes pode não ter conhecimento, de início,
inadimplente somente fica obrigado ao pagamento de perdas e danos se ficou expresso do conteúdo, o que não altera a natureza do negócio (CC, arts. 458 a 461); translativo de
no contrato, ou se estiver em mora. propriedade; consensual ou solene, dependendo do objeto (CC, art. 215).

c) imprevisão = por onerosidade excessiva - acontecimento extraordinário e im- Elementos constitutivos - coisa, preço e o consentimento.
previsível; é subentendida nos contratos comutativos e de execução continuada ou di- a) coisa: corpóreas ou incorpóreas (no caso de coisas incorpóreas a transmis-
ferida (cláusula rebus sic stantibus). fltio é comumente denominada de cessão); as coisas devem ter existência real ou po-
Requisitos: a) contrato de execução continuada; b) alteração radical no momen- toncial; disponibilidade; individualizada (determinada ou determinável);
to da execução do contrato; c) onerosidade excessiva para um dos contratantes e bene- b) preço: sem a sua fixação, a venda é nula; se não for, desde logo, determina-
fício exagerado para a outra parte; d) imprevisibilidade + extraordinariedade. do, deve ser determinável.
2. Distrato ou Resilição bilateral: acordo de vontades que tem por fim extinguir c) consentimento: deve ser livre e espontâneo, devendo recair, também, sobre
um contrato anteriormente celebrado. É também um contrato, devendo preencher todos () preço e a coisa. Requer capacidade das partes.
os requisitos do mesmo. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato
• Venda ad mensuram (CC, art. 500, caput) - somente ocorre em relação a
(CC, art. 472).
Illlóveis; é quando a venda é feita com base nas dimensões do imóvel; se porventura for
3. Resilição unilateral: somente pode ocorrer em determinados contratos, pois verificado que a área não corresponde às dimensões dadas, o comprador terá o direito
em regra um contraente não pode romper o vínculo contratual unilateralmente. Pode se <10exigir na seguinte ordem:
dar nas seguintes formas:
1 - complemento da área (ação ex emptio, ex vendito ou preferencial - pre-
a) denúncia vazia (sem motivação) ou cheia (com motivação) - em contratos de lonsão real);
execução continuada, celebrados por prazo indeterminado;
2 - não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato (ação redi-
b) revogação livre (sem fundamento) ou vinculada (com fundamento legal) no 1I1I6rla - pretensão pessoal) ou abatimento proporcional do preço (ação estimatória ou
mandato se a iniciativa é do mandante; 1111ll111i
minorls - protont,llQ pU:3uOHI).

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Prazo decadencial: 1 ano, a contar do registro do título; se houver atraso na imis- feita mediante condição suspensiva, não se aperfeiçoando o negócio enquanto o adqui-
são de posse do imóvel, por culpa do alienante, o prazo decadencial começa a contar rente não se declarar satisfeito, ou mediante condição resolutiva, em que é transmitida a
a partir da imissão (CC, art. 501). propriedade ao comprador, resolvendo-se quando ele manifesta seu desagrado. Salvo
- havendo excesso de área, e vendedor provando que tinha motivos para ignorar estipulação expressa em contrário, reputa-se realizada mediante condição suspensiva.
a medida exata da área vendida, deverá o comprador, à sua escolha, completar o valor Se não houver prazo para que o comprador se manifeste, o vendedor deverá intimá-Io,
correspondente ao preço ou devolver o excesso (CC, art. 500, §2º). judicial ou extrajudicialmente, para que o faça em prazo improrrogável (CC, art. 512).

• Venda ad corpus (CC, art. 500 §3º) • as medidas são imprecisas, meramente Venda sujeita a prova - também presume-se feita sob a condição suspensiva de
enunciativas. Não cabe na venda ad corpus, ação ex empto ou ação redibitória ou esti- que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a
matória, mesmo que não conste, expressamente, ter sido a venda ad corpus. que se destina (CC, art. 510). As condições do comprador são as de mero comodatário,

- havendo dúvidas, se a venda foi feita ad corpus ou ad mensuram, presume-se enquanto não manifeste aceitá-Ias (CC, art. 511).

que a venda foi enunciativa, quando a diferença encontrada não ultrapassar 5% (1/20 • PREEMPÇÃO,
PRELAÇÃO
ou PREFERÊNCIA
(CC, arts. 512 a 520)
- um vigésimo) da extensão total enunciada; tal presunção é relativa, admitindo prova O comprador se obriga a, quando for alienar o imóvel comprado, dar preferência
em contrário. a quem lhe vendeu para que este use seu direito de preferência:
• Venda mediante amostra (CC, art. 484) - prazo máximo: 180 dias, se for bem móvel ou de 2 anos, se for bem imóvel
- se a venda foi feita por amostra, entender-se-á que o vendedor assegura que a coisa (CC, art. 513);
tem as qualidades que correspondem à amostra, o protótipo ou o modelo; - o direito de preempção não pode ser cedido, nem transferido para herdeiros
- se houver contradição ou diferença entre a amostra e a maneira pela qual a (CC, art. 520);
coisa foi descrita no contrato, prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo. - se o comprador alienou a coisa, sem ter dado preferência ao vendedor, respon-
CLÁUSULAS
ESPECIAIS
DEA COMPRA
E VENDA derá por perdas e danos, sendo, também solidariamente responsável o adquirente, se
tiver procedido de má-fé (CC, art. 518);
• RETROVENDA
(CC, arts. 505 a 508)
Ao vendedor reserva-se o direito de reaver o imóvel que está sendo alienado, - se não houver prazo estipulado, o direito de preempção caducará no prazo
de 03 dias, para bem móvel e de 60 dias, para bem imóvel, a contar da data em que o
em certo prazo, restituindo o preço, mais as despesas feitas pelo comprador (CC, art.
comprador foi notificado pelo vendedor (CC, art. 516).
505). Aqui, há uma venda concluída, embora possa, dentro do prazo estipulado retomar
à propriedade do primitivo vendedor, nem com a opção, no caso de venda pelo primeiro • VENDACOMRESERVA
DEDOMíNIO(CC, arts. 521 a 528)
adquirente. Tem duração por certo e determinado prazo, que não poderá ultrapassar Para coisa móvel, pela qual o vendedor reserva para si a propriedade do bem,
três anos (prazo decadencial). A cláusula somente aplica-se aos bens imóveis e man- até que o comprador realize o pagamento total do bem (CC, art. 521), sendo que a
tém a venda e a propriedade resolúvel (CC, art. 1359), e sendo de direito personalís- transferência da propriedade ao comprador ocorrerá no momento em que houver o
simo do vendedor original. Se o comprador se recusar a receber as quantias, poderá pagamento integral, ficando este responsável pelos riscos da coisa, desde que lhe foi
o vendedor depositá-Ias em juízo; se o valor for insuficiente, o vendedor somente será ontregue (CC, art. 524);
restituído no domínio do imóvel depois de pago integralmente o valor (CC, art. 506). O
• VENDASOBREDOCUMENTOS
OUCONTRADOCUMENTOS
(CC, arts. 529 a 532)
direto de resgate pode ser cedido, transmitido a herdeiros e legatários e exercido contra
Aqui a tradição da coisa é substituída pela entrega do documento como título
o terceiro adquirente (CC, art. 507).
ropresentativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste,
• VENDA
A CONTENTO
(cLÁUSULA
AD GUSTUM)
E DAVENDA
SUJEITA
A PROVA
(CC, arts. 509 a 512)
polos usos. Apenas os bens móveis podem ser objeto da venda sobre documentos. Se
Venda a contento - destina-se, em geral, a gêneros alimentícios e a bebidas fi- o documento estiver em ordem, não poderá o comprador recusar o pagamento alegan-
nas, ou seja, somente bem móvel. É a cláusula que subordina o contrato à condição de do defeito de qUtllidndo ou (10 astado da coisa vendida, salvo se o defeito já houver sido
ficar desfeito o negócio se o comprador não se agradar da coisa (CC, art. 509). Pode ser comprovado (CC, ml. ú:m),

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/'J.6.2. TROCA, PERMUTA OU ESCAMBO (CC, art. 533) tradição dos bens); solene (com exceção na doação de bens móveis de pequeno valor
que poderá ser verbal).
As partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja dinheiro. Na com-
pra e venda a prestação é em dinheiro, já na troca, não. É contrato bilateral, oneroso, Peculiaridades:

comutativo, translativo e consensual. Aplicam-se as mesmas normas relativas à compra - a doação feita ao nascituro, deverá ser aceita pelos pais (CC, art. 542);
e venda, além das seguintes:
- aceitação ficta: os incapazes poderão receber doações puras e simples, sem
- salvo estipulação expressa, as despesas serão rateadas entre os contratantes; intervenção de seus representantes (CC, art. 543), exceto na hipótese de existir tutor,
- a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes somente não que dependerá de autorização judicial (art. 1748, 11);

será passível de anulação, se houver o consentimento dos outros descendentes e do - doação feita de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, impor-
cônjuge do alienante; ta adiantamento da herança (CC, art. 544);

- se há reposição parcial em dinheiro, a troca se transforma em compra e venda - não é obrigado o doador a pagar juros moratórios (CC, art. 552);
somente se o valor representar mais da metade do pagamento.
- a doação, em regra, não está sujeita á evicção ou a vício redibitório, salvo nas
doações para casamento com uma certa e determinada pessoa, que o doador ficará

6.6.3. CONTRATO ESTlMATÓRIO OU DE CONSIGNAÇÃO (CC, arts. 534 a 537) sujeito à evicção, salvo convenção em contrário (CC, art. 552);

O consignante entrega bens móveis a outrem (consignatário), para que este os - a doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro

venda, pagando àquele o preço ajustado, a não ser que prefira restituir-lhe a coisa no cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até 02 anos depois de dissolvida a socie-
prazo avençado (CC, art. 534). dade conjugal (CC, art. 550).

- tem natureza jurídica de obrigação alternativa; Algumas espécies de doação:

- comutativo, oneroso, bilateral e de natureza real (somente se aperfeiçoa com a 1. pura e simples ou típica (vera et absoluta): doação sem restrição ou modifica-
entrega do bem ao consignatário); ção para a sua constituição ou execução, mesmo que haja a incidência de cláusula de
inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, pois tais cláusulas não são
- o consignante é o dono da coisa dada em consignação, sendo assim, não po-
encargos (não são impostas em benefício do doador, nem de terceiro, nem da coletivi-
derá ser objeto de penhora ou seqüestro pelos credores do consignatário, enquanto o
dade);
consignatário não pagar o preço integral ao consignante (CC, art. 536);
2. modal, com encargo, onerosa ou gravada (donatione sub modo): o doador
- após o término do prazo do contrato, os bens podem ser penhorados ou apre-
impõe ao donatário uma incumbência em seu benefício, em benefício de terceiro ou do
endidos judicialmente, em processo movido contra o consignante, se ainda estiverem
interesse geral; está sujeita a vício redibitório;
em poder do consignatário, sendo apreendido como bens em mãos de terceiro;
3. condicional: depende de acontecimento futuro e incerto; pode ser suspensiva
- o consignante, na condição de dono, não poderá dispor da coisa antes de lhe ser
ou resolutiva;
restituída ou de lhe ser comunicada a restituição (CC, art. 537);
4. a termo: contém termo final ou inicial;
- o consignatário não está exonerado da obrigação de pagar o preço, se a restituição
da coisa tornar-se impossível, ainda que por fato a ele não imputável (CC, art. 535). 5. remuneratória: o doador tem propósito de pagar ao donatário serviços presta-
dos ou alguma outra vantagem que haja recebido dele;

6.6.4. DOAÇÃO (CC, arts. 538 a 564) 6. de ascendentes para descendentes ou de um cônjuge a outro: é adiantamento
cio legítima (CC, art. 544); tal regra não se aplica se o cônjuge não participa da sucessão
É o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio
cio outro como herdeiro; os bens terão que ser trazidos à colação pelo valor que foi atri-
bens ou vantagens para o de outra (CC, art. 538). É um ato inter vivos; sendo, em re-
bufclo quando da liI)ornllclado, a niio ser que haja dispensa expressa da colação, o que
gra gratuito (se houver imposição de algum ônus ou encargo será oneroso); unilateral;
Importará que tuls I)IHIU t1rllrllll rlflI110lade disponível do de cujus;
consensual (entretanto, a doação manual é real, pois seu aperfeiçomnollto depende da

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Anamaria Prates ---------------------------- _____________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

7. conjuntiva (em comum a mais de uma pessoa): para mais de um donatário, terminado, sob pena de ter que ressarcir ao locatário as perdas e danos, gozando este
sendo distribuída por igual a todos, salvo estipulação em contrário; entretanto, se os do direito de retenção enquanto não ressarcido, nem o locatário poderá devolver a coisa
donatários, em tal caso, forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para antes do término do prazo estipulado no contrato, senão pagando, proporcionalmente,
o cônjuge sobrevivo (CC, art. 551); a multa prevista no contrato (CC, art. 571). É um contrato bilateral, oneroso, consensual,
comutativo, não solene, e de trato sucessivo.
8. com cláusula de reversão ou retorno: permite o art. 547, que o doador estipule
o retorno, ao seu patrimônio, dos bens doados, se sobreviver ao donatário. Isso revela • A locação urbana de prédios rege-se pela Lei n. 8.245/91 (Lei do Inquilinato).

o propósito de beneficiar somente o donatário e não os herdeiros deste. Entretanto, não • A locação de imóveis rurais é regida pelo Estatuto da Terra (Lei n. 4.505/64).

prevalece cláusula de reversão em favor de terceiro; Três são os elementos:

9. feita a nascituro: dispõe o art. 542 do CC, que tal espécie de doação "valerá, 1. objeto: coisa móvel ou imóvel que deve ser infungível; se fungível, será con-
sendo aceita pelos pais". trato de mútuo;

10. em contemplação de casamento futuro (donatio propter nuptias): é o pre- 2. preço: aluguel ou remuneração, que é essencial, se não haverá comodato;

sente de casamento, dado em consideração às núpcias próximas do donatário com 3. consentimento: expresso ou tácito.
certa e determinada pessoa. É uma doação com condição suspensiva, pois sua eficácia - pode o locatário resolver o contrato ou pedir redução proporcional do aluguel,
subordina-se a ocorrência do casamento (CC, art. 546); a aceitação é presumida, sendo se no decorrer da locação a coisa se deteriorar sem culpa sua (CC, art. 567);
celebrado o casamento tem-se como aceita; - pode o locador rescindir o contrato e exigir perdas e danos se o locatário em-

Revogação: pregar a coisa em uso diverso do ajustado, ou do que a se destina, ou se ela se danificar
por abuso do locatário (CC, art. 570);
1. por ingratidão do donatário:
- se o locador ou o locatário vierem a falecer, a locação transfere-se aos seus
a) se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio
herdeiros, por tempo determinado (CC, art. 577);
doloso contra ele; b) se cometeu contra o doador ofensa física; c) se injuriou grave-
mente ou caluniou o doador; d) se, podendo, ministrá-Ios, recusou ao doador alimentos - salvo disposição expressa em contrário, o locatário tem direito de retenção no
caso de benfeitorias necessárias, autorizadas ou não pelo locador e de benfeitorias
de que este necessitava (CC, art. 557); a revogação poderá ocorrer, mesmo que o ofen-
úteis, autorizadas expressamente pelo locador (CC, art. 578);
dido seja cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do doador
- se após o término do prazo, o locatário continuar na posse da coisa, sem opo-
(CC, art. 558); a revogação por ingratidão não pode prejudicar os direitos adquiridos
de terceiros, nem obrigar o donatário a restituir os frutos percebidos antes da citação sição do locador, presume-se prorrogada a locação pelo mesmo valor do aluguel, mas
sem prazo determinado (CC, art. 574);
válida, mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando não possa restituir em espécie as
coisas dadas, a indenizá-Ias pelo meio-termo do seu valor (CC, art. 563). - a locação, com prazo determinado, cessa findo o prazo estipulado, sem que
haja necessidade de notificação ao locatário (CC, art. 573);
Não serão revogadas por ingratidão (CC, art. 564): a) doações puramente remu-
neratórias; b) as oneradas com encargo já cumprido; c) as que se fizerem em cumpri- - se for locação com prazo indeterminado e o locatário depois de notificado con-
mento de obrigação natural; d) as feitas para determinado casamento. tinuar na coisa, pagará, enquanto a tiver em seu poder, o valor do aluguel arbitrado pelo

- por inexecução do encargo, no caso de doação com encargo; se não constar locador, além de responder pelo dano que a coisa venha a sofrer, mesmo que decorren-
to de caso fortuito; tal valor do aluguel poderá ser reduzido pelo juiz, se manifestamente
prazo para cumprimento do encargo, o doador poderá notificar judicialmente o donatá-
rio, dando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida (CC, art. 562). oxcessivo (CC, art. 575);
- responde o locador pelos vícios e defeitos anteriores à locação, devendo res-
'Juardar o locatário de embaraços e turbações de terceiros, que tenham ou pretendam
6.6.5. LOCAÇÃO DE COISAS (arts. 565 a 578)
tar direitos sobre a coisa alugada (CC, art. 568);
É um contrato pelo qual uma das partes, mediante remuneração paga pela ou-
- se a coisa for alienada no decorrer da locação e não constar cláusula de res-
tra, se compromete a fornecer-lhe, durante certo lapso de tempo, o uso e gozo de uma
pollo pelo adquironlo cJa locação, cJevidamente registrada no Cartório de Títulos e 00-
coisa infungível (CC, art. 565); não poderá o locador reaver a coisa antes do prazo de- cumontos do domlclllo cio locNctol', :10 o bem lor móvel ou no Cartório de Imóveis do

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Anamaria Prates ---------------------------- ---------------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

local onde está situado o imóvel, não ficará o adquirente obrigado a respeitar a locação; Empréstimo gratuito de coisas fungíveis, perfazendo-se com a tradição. É em-
entretanto, se for imóvel, mesmo que não conste a cláusula, não poderá o adquirente préstimo para consumo, pois o mutuário não é obrigado a devolver o mesmo bem, mas
"

despedir o locatário antes de 90 dias após a notificação (CC, art. 576). sim coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade
(CC, art. 586). Se o mutuário pu-
I
der restituir coisa de natureza diversa, ou soma em dinheiro, haverá, respectivamente,
Súmula 335 do ST J - Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à troca ou compra e venda, e não mútuo, salvo, no último caso, se o empréstimo for de
indenização das benfeitorias e ao direito de retenção. dinheiro, que é bem fungível. O empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada
ao mutuário, sendo que por conta deste correm os riscos dela desde a tradição (CC,
,
art. 587).
6.6.6. EMPRÉSTIMO (CC, arts. 579 a 592)
Contrato pelo qual uma pessoa entrega uma coisa a outra, a título gratuito, com Características - contrato real, gratuito, unilateral, temporário, não solene.

a obrigação de restituir. Pode ser de uso (comodato) ou de consumo (mútuo). • Apesar do mútuo ser um contrato gratuito, o empréstimo em dinheiro é denomi-

COMODATO
(arts. 579 a 586) nado mútuo feneratício, por haver estipulação de juros, sendo assim, oneroso; no mútuo
feneratício presumem-se devidos os juros, os quais, sob pena de redução, não poderão
Empréstimo gratuito de coisas infungíveis, perfazendo-se com a tradição (CC,
exceder a taxa constante no art. 406, permitida a capitalização anual.
art. 579). É unilateral, temporário, não solene. A pessoa que dá o objeto por emprésti-
mo (comodato) é chamada comodante; e a que recebe como empréstimo é chamada Art. 406. Quando os juros moratórias não forem convencionados, ou o forem sem

comodatária. Se duas ou mais pessoas forem comodatárias de uma mesma coisa, a taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a

responsabilidade delas será solidária junto ao comodante (CC, art. 585). taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda
Nacional.
• Comodato ad pompam - é aquele que tem por objeto um bem naturalmente
fungível, mas transformado em infungível por vontade das partes. Mútuo a menor - mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização de seus
representante legais, não pode ser reavido nem do mutuário nem de seus fiadores (CC,
Características - gratuidade do contrato, infungibilidade do objeto e aperfeiçoa-
mt. 588), salvo se (CC, art. 589): a. o representante do menor ratificar posteriormen-
mento com a tradição deste; contrato unilateral; temporário e não solene.
te; b. o menor contraiu o empréstimo para seus alimentos habituais, estando ausente
• Não retira a natureza de comodato se o comodatário se obriga a pagar as des·
!Seu representante; c. o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho (não podendo a
pesas do bem.
IDxecução, nesse caso, ultrapassar as forças desses bens); d. o benefício reverteu em
• Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens bonefício do menor; e. o menor obteve o empréstimo maliciosamente;
alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à
Prazo - se não for convencionado, o prazo será (CC, art. 592): a. mútuo de pro-
sua guarda.
dutos agrícolas, para o consumo ou para semeadura - até a próxima colheita; b. mútuo
Objeto: bem imóvel ou bem móvel. tio dinheiro - pelo menos de 30 dias; c. coisa fungível - pelo lapso temporal que declarar
Prazo: determinado, caso não o tenha, presume que o prazo será o necessário () mutuante.

para o uso do bem concedido; não podendo o comodante, salvo necessidade impre-
vista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa emprestada,
6.6.7. PRESTAÇÃO DE SERViÇOS (arts. 593 a 609)
antes de findo o prazo convencional ou o que se determine pelo uso outorgado (CC,
Caracteres: bilateralidade, onerosidade, consensualidade.
art. 581)
Objeto: prestação de atividade lícita, não vedada pela lei e pelos bons costumes,
Extinção: 1) advento do termo; 2) resolução, por iniciativa do comodante, em
oriunda de energia humana, mediante retribuição. As regras do CC têm caráter residual,
caso de descumprimento; 3) sentença, a pedido do comodante provada a necessidado
IJpllcando-se somente às relações não regidas pela Consolidação das Leis Trabalhis-
imprevista e urgente; 4) morte do comodatário (se o contrato é intuitu personae); 5) resi·
1M (CLT) e por leis espocinis, como, p. ex., pelo Código de Defesa do Consumidor
lição unilateral, quando por prazo indeterminado; 6) perecimento do objeto.
(COCON) (CC, m!. 593).
MÚTUO(CC, arts. 586 a 592)

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, Anamaria Prates ---------------------------- ----------------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

Prazo: o Código Civil limita o prazo máximo de 04 (quatro) anos para tais contra- como da mão-de-obra, e tal redução não for superior a um décimo do valor total, permi-

tos, mesmo que o contrato tenha por causa o pagamento de dívida de quem o presta, te-se a revisão do preço em favor do encomendante (CC, art. 620);
ou se destine à execução de certa e determinada obra (CC, art. 508). - preço fixo (marché à fortait): pagamento pela totalidade da obra, sem escalona-
- se não houver prazo estipulado e nem se puder inferir da natureza do contrato, mento de preço; pode ser inalterável ou sob escala móvel;

ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbítrio, pode resolver o contrato, - preço esca/onado ou por tarefa (marché sur dévis): o preço é pago levando-se
mediante prévio aviso que se dará (CC, art. 599): a. com antecedência mínima de 8 dias, em conta o fracionamento da obra; pode ser inalterável ou sob escala móvel.
se o salário for por, no mínimo, 1 mês; b. com antecipação de 4 dias, se o salário for se- Responsabilidade do empreiteiro: em contrato de empreitada de edifícios ou
manal ou quinzenal; c. de véspera, quando o salário ajustado for por menos de 7 dias. outras construções consideráveis, o empreiteiro responde por um prazo, irredutível, de
Término do contrato (CC, art. 607): a. com a morte de qualquer das partes; 5 anos, pela solidez e segurança do trabalho, bem como em razão dos materiais e do
b. escoamento de prazo; c. conclusão da obra; d. rescisão do contrato mediante aviso solo. Deverá o dono da obra, no prazo decadencial, de 180 dias a contar do apareci-
prévio; e. inadimplemento de qualquer das partes; f. impossibilidade da continuação do mento do vício ou defeito, propor ação contra o empreiteiro.
contrato, em decorrência de força maior. Extinção do contrato: a) forma normal: com a execução, com a entrega e rece-
bimento da obra e pagamento do preço; b) antes da aceitação, deve o comitente fazer a
6.6.8. EMPREITADA ou LOCAÇÃO DE OBRA (arts. 610 a 626) verificação da obra; c) a morte do comitente ou do empreiteiro, não extingue o contrato
de empreitada, salvo se o contrato foi intuitu personae.
É o contrato em que uma das partes (o empreiteiro), sem relação de subordina-
ção ou dependência, obriga-se a realizar determinada obra, pessoalmente ou por meio
de terceiros, mediante remuneração a ser paga pela outra (o dono da obra ou comiten- 6.6.9. DEPÓSITO (arts. 627 a 652)
te). Há, aqui, uma obrigação de resultado. O depositário recebe um objeto móvel para guardar, até que o depositante o
É contrato oneroso, sinalagmático, comutativo e consensual. Pode ser: reclame. Aperfeiçoa-se com a entrega da coisa ao depositário.
- de lavar ou de mão-de-obra: exige exclusivamente a atividade do empreiteiro, Características - é uma obrigação de restituir; o contrato é real, temporário, de
cabendo ao proprietário fornecer materiais. O empreiteiro recebe remuneração acerta- duração ou de execução continuada; bilateral se o depósito é remunerado; unilateral se
da, que pode incidir sobre porcentagem da obra. Cabem ao empreiteiro a administração o depósito é gratuito; gratuito, exceto se houver convenção em contrário, se resultante
e condução dos trabalhos. Se o empreiteiro só forneceu mão-de-obra, todos os riscos de atividade negocial ou ser o depositário o praticar por profissão (CC, art. 628, caput).
em que não tiver culpa correrão por conta do dono (CC, art. 612). Se a coisa perecer Se for oneroso e a retribuição do depositário não constar de lei, nem resultar de ajuste,
antes de entregue, sem mora do dono nem culpa do empreiteiro, este perderá a retri· será determinada pelos usos do lugar, e, na falta destes, por arbitramento (CC, art. 628,
buição, se não provar que a perda resultou de defeito dos materiais e que em tempo parágrafo único).
reclamar contra a sua quantidade ou qualidade (CC, art. 613); Prisão do depositário infiel:
_mista: o empreiteiro fornece os materiais e executa o trabalho (obrigação de dar A Constituição Federal permite a prisão do depositário infiel, sendo que, indepen-
e de fazer); a obrigação de fornecer materiais não se presume, devendo resultar da lei dente do tipo de depósito, se o depositário não restituir o depositário quando exigido,
ou da vontade das partes. Os riscos correm por conta do empreiteiro até o momento Lqerácompelido a fazê-Ia mediante prisão, não superior a 1(um) ano, além de ressarcir
da entrega da obra, salvo se o dono da obra estiver em mora de receber, onde então os os prejuízos (CC, art. 652). Tal prisão somente pode ser decretada em ação de depósito,
riscos correrão por conta do dono (CC, art. 611). IImdo a jurisprudência permitido, que quanto ao depositário judicial, a prisão pode ser
- a preço de custo: o empreiteiro realiza o trabalho, com fornecimento de mato- docretada nos mesmos autos, não havendo necessidade de propositura de ação.
riais e mão-de-obra, com reembolso do que foi gasto, acrescido de lucro estipulado. Espécies:
Modalidades de preço:
• voluntário (acareio cio vontnde entre as partes); deverá ser provado por escrito;
_ em ocorrendo redução do preço anteriormente acordado, tanto do matarlnl

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Anamaria Prates --------------------------- -------------------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

- necessário (independe de vontade entre as partes. O necessário pode ser legal • A presunção é de que o mandato outorgado a mais de uma pessoa é simultâneo.
(quando se faz em desempenho de obrigação legal) ou miserável (que se efetua por oca-
- geral: compreende todos os negócios do mandante (CC, art. 660);
sião de uma calamidade pública). O depósito necessário não se presume gratuito. No caso
- especial: relativo a um ou mais negócios determinados do mandante (CC, art. 660);
de depósito de bagagens dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde estiverem, a
remuneração está incluída no preço da hospedagem; tal depósito é equiparado ao depósito - em termos gerais: só confere poderes de administração ordinária (CC, ar!. 661, caput);

necessário, sendo denominado necessário por assimilação (CC, art. 651); - com poderes especiais: envolve atos de administração, hipoteca, transigência
ou quaisquer outros atos que exorbitem a administração ordinária (o poder de transigir
- regular ou ordinário: coisas infungíveis;
não importa o de firmar compromisso) - CC, art. 661, §§ 1º e 2º;
- irregular: bens fungíveis, sendo o depositário obrigado a restituir a coisa do
- ad negotia ou extrajudicial: fora do âmbito judicial;
mesmo gênero, qualidade e quantidade (ex.: depósito bancário).
- ad judicia ou judicial: no âmbito judicial, sendo regido pela legislação processual.
Extinção: 1) revogação; 2) renúncia; 3) morte ou interdição de uma das
6.6.10. MANDATO (arts. 653 a 692) partes; 4) pela mudança de estado, que inabilite o mandante para conferir os
Alguém, denominado mandatário, recebe poderes de outrem, denominado man- poderes, ou o mandatário, para os exercer; 5) pela terminação do prazo, ou pela
dante, para em nome deste praticar atos ou administrar interesses: A procuração é o conclusão do negócio.
instrumento do mandato. A sua principal característica, que ressalta da expressão "em Irrevogabilidade do mandato:
seu nome", é a idéia de representação. Será irrevogável, quando:
Características - é contrato consensual, personalíssimo, não solene, em regra
a) contiver cláusula de irrevogabilidade, sendo que neste caso o mandante que
gratuito e unilateral; a aceitação pode ser expressa ou tácita (o silêncio não importa revogar o mandato arcará com perdas e danos (CC, art. 683);
aceitação tácita, salvo quando o negócio para que foi dado o mandato é da profissão b) a cláusula de irrevogabilidade for condição de um negócio bilateral, ou tiver
do mandatário, ou foi oferecido mediante publicidade, e o mandatário não fez constar sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a revogação do mandato será
imediatamente a sua recusa). Ninguém é obrigado a aceitar o mandato; entretanto, tal Ineficaz (CC, art. 684);
aceitação pode ser tácita e resulta do começo de execução (CC, art. 659). c) o mandato for conferido "em causa própria", sendo que nesse caso a
Mandato: é o contrato que se aperfeiçoa com o encontro de vontades; sua revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das

Procuração: instrumento que materializa o contrato; partes, ficando o mandatário dispensado de prestar contas e podendo transferir
para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as formalida-
Representação: investidura concedida pelo mandante ao mandatário, em virtude
des legais (CC, art. 685);
da existência do contrato e, na maioria das vezes, do instrumento da procuração.
d) contenha poderes de cumprimento ou confirmação de negócios encetados,
Espécies: nos quais se ache vinculado (CC, art. 686, parágrafo único).
- conjunto: todos devem praticar o ato conjuntamente, não tendo eficácia o ato
6.6.11. COMISSÃO (arts. 693 a 709)
praticado sem a interferência de todos, salvo havendo ratificação, que retroagirá à data
do evento (CC, art. 672, segunda parte); Tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário, em seu próprio'
nome, à conta do comitente (CC, art. 693).
- fracionário: cada mandatário é designado para determinados e específicos atos;
Comissão dei credere - o comissário transforma-se em garante solidário do
- solidário (cláusula in solidum): podem os mandatários agir, independentemente
comitente nos negócios que realizar com terceiros, caso em que, salvo estipulação
da ordem de nomeação;
IDm contrário, o comissário tem direito à remuneração mais elevada, para compen-
- sucessivo: um pode agir na falta do outro pela ordem de nomeação; lmr o ônus assumido (CC, ar!. 698). Como regra, não responde o comis9,ário pela
Insolvência das pessoas com quem tratar, exceto no caso de culpa e de comissão
- simultâneo: pode qualquer um dos mandatários atuar e substabelecer
1/01 credera (CC, ar!. 697).
separadamente.
Cl.lractoristlclI~ • I" ()()llllrll() 1111€lloml.consensual, oneroso, não solene.

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Anamaria Prates --------------------------- _______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

- no caso de morte do comissário, ou, quando, por motivo de força maior, não 6.6.14. TRANSPORTE (CC, arts. 730 a 756)
puder concluir o negócio, será devida pelo comitente uma remuneração proporcional Alguém se obriga, mediante retribuição a transportar, de um lugar para outro,
aos trabalhos realizados (CC, art. 702); pessoas ou coisas (CC, art. 730).
- será regido pelo Código Civil apenas o transporte não decorrente de autoriza-
- mesmo que tenha dado motivo à dispensa, o comissário terá direito a ser remu-
ção, permissão ou concessão (CC, art. 731).
nerado pelos serviços úteis prestados ao comitente, ressalvado a este o direito de exigir
Características - contrato bilateral, oneroso, consensual, comutativo, não sole-
daquele os prejuízos sofridos (CC, art. 703);
ne, de adesão.
- salvo disposição em contrário, pode o comitente, a qualquer tempo, alterar as
Transporte de pessoas
instruções dadas ao comissário, entendendo-se por elas regidos também os negócios
- não pode o transportador recusar passageiros, salvo os casos previstos nos
pendentes (CC, art. 704);
regulamentos ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado justificarem
- se o comissário for despedido sem justa causa, terá direito a ser remunerado (CC, art. 739);
pelos trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido pelas perdas e danos resultantes - o transporte gratuito não se subordina às normas do contrato de transporte
de sua dispensa (CC, art. 705); (CC, art. 736);
- o crédito do comissário, relativo a comissões e despesas feitas, goza de privilégio - tem o transportador obrigação de resultado, não sendo elidida por culpa de
geral, no caso de falência ou insolvência do comitente (CC, art. 707). terceiro, em caso de acidente, contra quem tem ação regressiva (CC, art. 735).
Transporte de coisas
6.6.12. AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO (arts. 710 a 721) - pode o transportador recusar coisa em embalagem inadequada, bem como
Agência - uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de depen- a que possa pôr em risco a saúde das pessoas ou danificar o veículo e outros bens
dência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de (CC, art. 746);

certos negócios, em zona determinada (CC, art. 710); - as coisas que forem depositas em armazéns do transportador devem se regidas
pelas normas relativas ao depósito.
Distribuição - quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada
(CC, art. 710).

O proponente (ou agenciado ou dono do negócio) pode conferir poderes ao agente


6.6.15. SEGURO (arts. 757 a 802)

para que este o represente na conclusão dos contratos (CC, art. 710, parágrafo único). Constitui uma transferência de risco de uma pessoa a outra. É o contrato pelo

Características de ambos (agência e distribuição) é contrato bilateral, onero- qual uma das partes se obriga para com a outra, mediante a paga de um prêmio a

so, consensual, informal, comutativo, de duração e intuitu personae. Indenizá-Ia do prejuízo resultante de riscos futuros, previstos no contrato.
Características - é contrato bilateral, oneroso, consensual e de adesão.
6.6.13. CORRETAGEM (CC, arts. 722 a 729)
É quando uma pessoa ligada a outra não em virtude de mandato, de prestação 6.6.16. CONSTITUiÇÃO DE RENDA (arts. 803 a 813)
de serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para a segunda
Pessoa constitui por tempo determinado, em benefício próprio ou alheio, uma
um ou mais negócios, conforme as instruções recebida (CC, art. 722).
ronda ou prestação periódica, entregando-se bens móveis ou imóveis a quem se obri-
Quem contrata a intermediação com o corretor denomina-se comitente ou dono Que a satisfazê-Ia. Assim, credor da renda tanto pode ser quem entrega o bem como
do negócio. torceiro. O devedor da renda chama-se rendeiro ou censuário. Quando a renda não é
O corretor não garante o contrato. constituída em benefício próprio, há estipulação em favor de terceiro. Pelo contrato de
Características - contrato bilateral, oneroso, consensual, acessório (prepara a constituição de renda, uma pessoa obriga-se a fazer certa prestação periódica a outra

conclusão de um outro contrato), aleatório (somente terá direito à comissão se houver om troca de um capital que lhe é entregue. Nesta hipótese, é pessoal o direito do bene-

resultado útil, ou seja, se houver aproximação entre comitente e o terceiro, com a con· flclário. Entretanto, so so oDtnbQlocor que é determinado imóvel que responde preferen-
<lr\ I'ml;tflçfio,
cialmente pelo curnprll11111110 surge o direito real.
seqüente realização do negócio), não solene.

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Anamaria Prates --------------------------- -------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

Essa renda pode ser constituída por ato inter vivos ou por testamento; pode ser Súmula 214 do ST J - O fiador na locação não responde por obrigações resultan-
gratuita ou oneroso (para o rendeiro o contrato é sempre oneroso). tes de aditamento ao qual não anuiu.

6.6.17. JOGO E APOSTA (arts. 814 a 817) Apesar da súmula 214, o 8T J tem adotado o seguinte posicionamento, quanto
Jogo: contrato pelo qual duas ou mais pessoas se obrigam a pagar determi- ao contrato de fiança:
nada quantia ou coisa àquele que for vencedor em uma determinada prática física ou AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. LOCAÇÃO. FIANÇA.
intelectual. Podem ser ilícitos (são os que dependem exclusivamente da sorte) ou lícitos PRORROGAÇÃO.
(decorrentes de habilidade, da força ou da inteligência do jogador)
PRAZO INDETERMINADO. GARANTIA ATÉ ENTREGA DAS CHAVES.
Aposta: contrato pelo qual duas ou mais pessoas prometem algo em razão de PRECEDENTES.
um fato alheio e incerto.
1. Conforme jurisprudência firmada pela Egrégia Terceira Seção, no jul-
Apesar de conceitos diferentes, o tratamento legal dos dois institutos é o mesmo:
gamento do EREsp 566.633/CE, havendo cláusula expressa no contrato
a dívida resultante da perda de jogo ou aposta (lícitos ou ilícitos) constituem obrigação
de locação, no sentido de que a responsabilidade dos fiadores perdura
natural: o ganhador não dispõe de ação para exigir seu pagamento. Somente receberá
se o devedor quiser pagar. até a efetiva entrega das chaves, não há que se falar em exoneração da
garantia, ainda que haja prorrogação por prazo indeterminado. Incidência
da Súmula 83/STJ.
6.6.18. FIANÇA ou CAUÇÃO FIDEJUSSÓRIA (arts. 818 a 839)
2. Agravo ao qual se nega provimento.
É a promessa, feita por uma ou mais pessoas, de satisfazer a obrigação de um
devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor o seu efetivo cumprimento. (AgRg no REsp 843.634/SP, ReI. Ministra JANE SILVA (DESEMBAR-

Características - é contrato unilateral, solene, gratuito (em regra, mas pode as-
GADORA CONVOCADA DO TJ/MG), QUINTA TURMA, julgado em
25.10.2007, DJ 12.11.2007 p. 277)
sumir caráter oneroso quando o afiançado remunera o fiador pela fiança prestada), in-
tuitu personae.
A insolvência de um dos co-fiadores, na solidariedade, na divisão, ou no benefi- 6.6.19. TRANSAÇÃO (arts. 840 a 850)
cio de ordem, fará com que a parte de sua responsabilidade na dívida seja distribuída A transação não se confunde com a conciliação, que é um momento processual.
entre os demais.
- negócio jurídico bilateral, pelo qual as partes previnem ou terminam relações
Efeitos:
jurídicas controvertidas, por meio de concessões mútuas;
• Entre credor e fiador:
- acordo de vontade entre as partes, com a intenção de evitar futuros litígios judiciais.
- o credor somente poderá exigir do fiador se o devedor afiançado não cumprir
Elementos constitutivos:
a obrigação;
1. existência de relações jurídicas controvertidas;
• Entre devedor afiançado e fiador:
2. intenção de extinguir as dúvidas, para prevenir ou terminar o litígio;
- o fiador que paga integralmente a dívida fica sub-rogado nos direitos do cra-
dor; 3. acordo de vontades (capacidade das partes);
4. concessões mútuas.
- se a fiança tiver duração ilimitada, poderá o fiador exonerar-se a qualquer tem-
po. Objeto:

Não podem ser transacionados: direitos personalíssimos, coisas inalienáveis, di-


,ullo de família de caráter não-palrimonial.
Súmula 268 do ST J - O fiador que não integrou a relação processual na ação do
despejo não responde pela execução do julgado.

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Anamaria Prates --------------------------- _______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

Efeitos: - em concursos de promessa pública, deve ser fixado prazo, como condição

- somente vincula aqueles que manifestaram o propósito de se obrigar. essencial para que possam ter validade (CC, art. 859).

- no caso de obrigação solidária:

a) havendo transação entre um dos credores solidários e o devedor haverá extin- 6.7.2. GESTÃO DE NEGÓCIOS (CC, arts. 861 a 875)
ção da obrigação em relação aos outros co-devedores (art. 844 §2º); É a administração oficiosa de interesses alheios. É quando uma pessoa (gestor de

b) havendo transação entre o credor e um dos devedores solidários, os demais negócios), sem anuência do interessado (dono do negócio), intervém na administração de
devedores solidários estão liberados da obrigação (art.844 §3º). negócio alheio, dirigindo-o segundo o interesse e a vontade presumível do dono.

- desaparecendo com a transação a obrigação litigiosa, desaparecem, também, Pressupostos - ausência de qualquer convenção ou obrigação legal entre as
os acessórios. Para que a fiança sobrevenha à obrigação, é mister que o fiador houves- partes a respeito do negócio gerido; inexistência de proibição ou oposição por parte do
se intervindo no acordo. dono do negócio; vontade do gestar de gerir o negócio alheio; caráter necessário da
gestão; licitude e fungibilidade do objeto da gestão de negócios; ação do gesto r limita-
- Evicção: no caso de evicção, não revive a obrigação extinta; mas o evicto po-
da a atos de natureza patrimonial.
derá reclamar perdas e danos.

6.7.3. PAGAMENTO INDEVIDO (CC, arts. 876 a 883)


6.6.20. Compromisso (arts. 851 a 853)
Ação de repetição de indébito ou ação de in rem verso - pressupostos:
- é admitido compromisso, judicial ou extrajudicial, para resolver litígios entre
pessoas que podem contratar (CC, art. 851); 1) enriquecimento do accipiens (do que recebe ou lucra) - aumento patrimonial
ou qualquer vantagem;
- é vedado compromisso para solução de questões de estado, de direito pessoal
de família e de outras que não tenham caráter estritamente patrimonial (CC, art. 852); 2) empobrecimento do so/vens (do que paga ou sofre o prejuízo) - diminuição do
patrimônio ou não-percepção de verba a que faz jus;
- admite-se nos contratos a cláusula com promissória, para resolver divergências
mediante juizo arbitral, na forma estabelecida em lei especial (CC, art. 853). 3) relação de causalidade - enriquecimento e empobrecimento são resultantes de um
mesmo fato. Em regra, o lucro de um equivale ao prejuízo de outro. Se isso não se verificar, a
Indenização será fixada pela cifra menor. O enriquecimento foi de 10 e o empobrecimento foi
6.7. atos uniLATERAIS
de 20, a indenização será de 10;
6.7.1. PROMESSA DE RECOMPENSA (arts. 854 a 860)
4) inexistência de causa jurídica (contrato ou lei) - o prejuízo não pode ser decor-
- quem se compromete, por anúncios públicos, a recompensar, ou gratificar, a rente de um contrato ou da lei;
quem preencha certa condição deverá cumprir o prometido e quem satisfizer a condi-
5) inexistência de ação específica - tem ela caráter subsidiário; somente cabe
ção, mesmo que não seja com a intenção de receber qualquer quantia, pode exigir a
quando não há ação específica.
recompensa estipulada (CC, arts. 854 e 855);
O pagamento indevido é um modo de enriquecimento sem causa, portanto, o
- a promessa pode ser revogada, antes de prestado o serviço, desde que a revo-
credor que demandar por dívida integralmente paga fica obrigado a pagar o dobro do
gação seja feita com a mesma publicidade; sendo que o candidato de boa-fé terá direito
que foi cobrado, caracterizando-se par:
de reembolso das despesas que houver feito (CC, art. 856);
1. aquele que recebe indevidamente o que não lhe era devido;
- se mais de um indivíduo cumprir o ato, objeto da promessa, terá direito à re-
2. aquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição.
compensa o que executou em primeiro lugar (CC, art. 857); se a execução for simultâ-
nea, cada um terá direito a um quinhão igual na recompensa e, se esta não for divisível, Requisitos da ação de repetição de indébito
será feito sorteio, e o que for sorteado dará ao outro, o valor correspondente ao quinhão - pagamento ofohlllcJO voluntariamente (espontaneamente e não em virtude de
que teria direito (CC, art. 858); (Jecisão judlclnl) o por CJlro (dll frllo Olf do direito e escusável ou grosseiro).

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Anamaria Prates --------------------------- _______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

Indébito objetivo - o erro diz respeito à existência e extensão da obrigação (o Obs.: o consumidor cobrado por quantia indevida tem direito à repetição do in-

so/vens paga a dívida que supunha existir); débito correspondente ao dobro do que pagou em excesso (art. 42 do CDCON).

Indébito subjetivo - a dívida existe, mas o engano é a quem paga (que não é a Obrigação de fazer e de não fazer:

pessoa obrigada) ou a quem recebe (que não é o verdadeiro credor). Ex.: alguém depo- - se o pagamento indevido tiver consistido no desempenho de obrigação de fa-
sita o pagamento na conta bancária de quem não é o verdadeiro credor, mas seu irmão zer ou para eximir-se da obrigação de não fazer, aquele que recebeu a prestação fica na
cujo nome é semelhante ao daquele. obrigação de indenizar o que a cumpriu, na medida do lucro obtido (CC, art. 881).

Súmula 322 do ST J Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de 6.7.4. Enriquecimento sem causa (CC, arts. 884 a 886)
crédito em conta-corrente, não se exige a prova do erro. - aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado
a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários (CC, art.
884, caput);
Accipiens de boa e de má-fé
- se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é obri-
Boa-fé - o que recebe de boa-fé pagamento indevido, faz jus aos frutos da coisa
gado a restituí-Ia, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem
recebida, às benfeitorias úteis e necessárias, ao direito de retenção, etc.
na época em que foi exigido (CC, art. 884, parágrafo único);
Má-fé - não tem direito aos frutos, apenas às benfeitorias necessárias, não po-
- a restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o enri-
dendo se valer da retenção.
quecimento, mas também se esta deixou de existir (CC, art. 885);
Recebimento indevido de imóvel
- não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros
O so/vens somente terá direito de reaver o imóvel: meios para se ressarcir do prejuízo sofrido (CC, art. 886).

a) se o accipiens não alienou o imóvel, ou seja, o bem encontra-se em poder


do accipiens;
b) se o accipiens alienou a título gratuito (de boa-fé ou má-fé);

c) se o accipiens alienou a título oneroso e o terceiro adquiriu de má-fé.

Pagamento indevido sem direito à repetição

Exceções à regra que assegura o direito à repetição a quem efetua pagamento


indevido, voluntariamente e por erro:

1. título inutilizado (o credor não está obrigado a restituir a importância recebida,


porque não poderá mais, sem título, cobrar a dívida do verdadeiro devedor); se o acci-
piens de boa-fé deixou prescrever a ação que poderia mover contra o verdadeiro deve-
dor ou abriu mão de garantias de seu crédito - o que pagou tem direito a ação regressiva
contra o verdadeiro devedor e seu fiador (art. 880 do CC);

2. Obrigação natural - não se pode repetir o que se pagou para solver dívida
prescrita, ou cumprir obrigação de indenizar judicialmente inexigível (art. 882 do CC);
3. Se o so/vens pagou algo para obter fim ilícito, imoral ou proibido por lei (nin-
guém pode valer-se da própria torpeza) - (art. 883 do CC), nesse caso o que se deu
reverterá em favor do estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz.

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Alllllllllflll Prates -------------------- _ _______________________ ROTEIRO DI~ D/I/lII/O (;/V/I

7. responsabilidade civil maior excluem a responsabilidade da Administração (a culpa concorrente nrlO uXGhli ri

Responsabilidade é a obrigação de dar, fazer ou não fazer alguma coisa, de res- responsabilidade, mas possibilita urna indenização proporcional);

sarcir ou reparar danos, de suportar sanções penais, exprimindo sempre a obrigação 3a) Risco integra/- o Estado tem obrigação de indenizar em qualquer caso, ailldn
de responder por alguma coisa. Portanto, a responsabilidade é o dever contraído pelo que ocorra culpa exclusiva da vítima.
causador da ameaça de dano (dano consubstanciado) de assumir perante a esfera pú-
blica, seja judicial ou extrajudicialmente, o prejuízo decorrente de seus atos.
7.3. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E RESPONSABILIDADE
EXTRACONTRATUAL
Súmula 326 do STJ Na ação de indenização por dano moral, a condenação em
I. Responsabilidade contratual
montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.
Nasce da não execução de um negócio jurídico bilateral ou unilateral. É o resultado
Súmula 281 do STJ - A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação
prevista na Lei de Imprensa. da violação de uma obrigação anterior, logo, para que exista, é imprescindível a preexis-
lôncia de uma obrigação (CC, arts. 395 e s. e 389 e s.).

7.1. Responsabilidade civil e Responsabilidade penal


11. Responsabilidade extracontratual ou aquiliana
Conforme estabelece o art. 935 do Código Civil, a responsabilidade civil inde-
Resulta da violação de um dever legal, ou seja, da prática de um ato ilícito. O
pende da penal. No entanto, não se pode mais discutir no juízo cível a existência do
fato ou autoria do mesmo, quando já decididas no juízo criminal, ou seja, em algumas 010 ilícito constitui violação à lei ou contrato, é ato material (ato ou omissão), portan-
hipóteses, o indivíduo quando condenado no âmbito penal, automaticamente estará to, delito civil ou criminal. Nosso Código Civil define ato ilícito corno ação ou omissão
condenado na esfera cível, se demandado em ambos os juízos. voluntária, negligência, ou imprudência que viola direito ou causa prejuízo a outrem,
ainda que exclusivamente moral. Deste ato antijurídico, decorre a responsabilidade
ao agente que o praticou, ou seja, a responsabilidade é urna conseqüência da práti-
7.2. REsponsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva ca do ato ilícito (CC, arts.186 a 188).
I. Responsabilidade subjetiva, clássica ou da culpa Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-Io, excede mani-
Segue a teoria tradicional que é a subjetiva, exigindo que o prejudicado prove, além festamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
do dano, a infração ao dever legal, o vínculo de causalidade, a existência da culpa do sujeito bons costumes (CC, art. 187).
passivo da relação jurídica, ou seja, aquele que prejudica é o único responsável pelo dano, Não constituem atos ilícitos:
não havendo possibilidade de se saber o culpado pelo prejuízo, não há, também, porque se
a) os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reco-
falar em responsabilidade subjetiva. É fundada na culpa ou dolo por ação ou omissão, lesiva
nhecido; se a lesão ocorrer por culpa de terceiro, terá o autor do dano ação regressiva
a determinada pessoa.
para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado (CC, art. 188, I e art. 930, pará-
grafo único);
11. Responsabilidade objetiva
b) a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim
Nasceu devido à necessidade de um novo elemento que pudesse desempenhar de remover perigo iminente, entretanto o ato será legítimo somente quando as cir-
uma cobertura mais ampla no terreno da reparação de danos. É composta basicamente cunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
por três teorias: Indispensável para a remoção do perigo (CC, art. 188, 11); se a pessoa lesada, ou o
1a) Culpa administrativa (falta do serviço) - o Estado assume o dever de indenizar dono da coisa, não forem culpados do perigo, assistir-Ihes-á direito à indenização
o particular quando faltar com o serviço ou este for prestado de forma deficiente; exige- cio prejuízo que sofreram (CC, ar!. 929); se o perigo ocorrer por culpa de terceiro,
se a culpa do serviço; contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver
ressarcido ao losado (CC, ar!. 930).
2a) Risco administrativo (fato do serviço) - o dever de indenizar decorre apenas
do ato lesivo causado à vítima pelo Estado; não se exige culpa dos flgentes, muito
menos falta do serviço. Entretanto, a culpa exclusiva da vfllrnn, o ClttlO fortuito e alorça

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Anamaria Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

7.4. Espécies de responsabilidade ou relativamente incapaz (CC, art. 934). Os bens do responsável pela ofensa ou violação
I. Responsabilidade direta ou por ato próprio do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver

Quando proveniente da própria pessoa que praticou o ato, respondendo, assim, mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. São solidariamen-

o agente por ato próprio. te responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas acima referidas (CC, art.
942). Tal solidariedade não existe em relação aos filhos menores.

11.Responsabilidade indireta ou complexa ou por ato de terceiro O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-Ia transmitem-se com a
herança, tendo os sucessores que arcar com tal responsabilidade até os limites da força
Quando proveniente de ato de terceiro, com o qual o agente tem um vínculo
da herança (CC, art. 943).
legal de responsabilidade. Ex.: dono de animal, guarda de coisas inanimadas. Na res-
ponsabilidade por fato de terceiro há dois agentes: o causador do dano e o responsável
pela indenização. Há uma presunção relativa Uuris tantum) de culpa do responsável que 111.Responsabilidade pelo fato das coisas e pela guarda ou fato de animais
poderá ser responsabilizado por culpa in vigilando (não houve a devida vigilância sobre
No caso de responsabilidade pelo fato das coisas e pela guarda ou fato de
a conduta do agente) ou por culpa in eligendo (porque escolheu maio preposto ou não
animais, o guardião responde pelos danos ou prejuízos que a coisa cause a alguém,
Ihes foram dadas as devidas instruções). São consideradas hipóteses de responsabili-
face a ocorrência de conservação e manutenção regulares, de que são oportunos
dade indireta (CC, art. 932):
exemplos, o rompimento de fiação elétrica, queda de elevador, vazamento de água,
1. incapaz: as pessoas por eles responsáveis respondem pela reparação civil
Infiltrações, etc.
decorrente de atos ilícitos praticados pelos mesmos, sendo que os incapazes somente
responderão, se os responsáveis não tiverem meios de fazê-Io e desde que não prive o No que concerne a atividades de risco, trouxe o atual Código Civil uma inovação,
incapaz ou as pessoas que dela dependam do necessário, devendo tal indenização ser no parágrafo único do art. 927: "Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
eqüitativa (CC, art. 928). de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
2. tutores e curadores - assenta-se sobre os mesmos princípios da responsa- pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem".
bilidade dos pais.

3. responsabilidade do patrão, amo ou comitente, que decorre do poder dire·


tivo dessas pessoas em relação aos empregados, serviçais e prepostos. É irrelevante
que haja um vínculo trabalhista entre o autor material e o responsável.

4. responsabilidade dos donos de hotéis e similares pelos seus clientes. En-


tretanto, a responsabilidade dos hospedeiros cessa na hipótese contemplada no ar!.
650 do CC: provando que os fatos prejudiciais não podiam ter sido evitados.

5. responsabilidade dos estabelecimentos de ensino: enquanto o aluno esti-


ver no estabelecimento de ensino, este é responsável não somente pela incolumidade
física do educando, como também pelos atos ilícitos praticados por este a terceiros.

6. responsabilidade dos que houverem gratuitamente participado nos pro-


dutos do crime respondem solidariamente pela quantia concorrente com a qual obti-
veram proveito.

Em todas as hipóteses, as pessoas indicadas, ainda que não haja culpa de sun
parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (CC, art. 933),
podendo aquele que ressarcir o dano causado por outrem reaver o que houver pago
daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for closcondente seu, absolutn

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Anamaria Prates
ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

8. Direitos das coisas Corpus - elemento objetivo; relação material do homem com a coisa; é a deten-
ção física da coisa.
8.1. noções gerais
Conjunto de normas que regulamentam as relações jurídicas referentes a coisas Animus - elemento subjetivo; a intenção de ter a coisa como se fosse dono.
suscetíveis de apropriação, estabelecendo-se um vínculo imediato e direto entre o sujeito
Se faltar o corpus não há relação de fato entre a pessoa e a coisa; se faltar o
ativo titular do direito e a coisa sobre a qual recai o direito.
animus a posse deixa de existir, existindo apenas a detenção. De acordo com Savigny,
O direito das coisas compreende tanto os bens materiais (móveis ou imóveis) é o animus que distingue possuidor de detentor.
como os imateriais (direitos autorais), vez que o legislador pátria preferiu considerá-Ias
- a posse é um fato que se converte em direito, em virtude de proteção da lei
como modalidade especial de propriedade (propriedade imaterial ou intelectual).
(considerada em si é um fato, considerando os efeitos que produz é um direito). ou seja,
Características: a posse é ao mesmo tempo um direito e um fato;

1. é oponível erga omnes (pode ser exercido contra todos); 2. recai sobre a coisa - a proteção possessória decorre de um dever do Estado contr~ qualquer
ato de violência.
imediatamente, vinculando-a a seu titular e conferindo o direito de seqüela (jus perse-
quendl) e de preferência (jus praeferendl); 3. adere ao bem corpóreo ou incorpóreo,
2. Teoria objetiva (Ihering) - para essa teoria, a posse é conseqüência do pro-
sujeitando-o, de modo direto, ao titular: 3.1. sujeito ativo - direito de seqüela - direito cesso reivindicatório; posse é a exteriorização da propriedade.
que se tem de afastar qualquer um de dentro de sua propriedade 3.2. sujeito passivo -
ambulatoriedade; 4. taxatividade (numerus clausus), não podendo ser criado por livro
Para Ihering corpus não éa detenção física da coisa e o animus está integrado
no corpus, sendo a forma como o proprietário age em face da coisa, tendo em vista seu
pactuação; 5. é passível de abandono; 6. é suscetível de posse; 7. é provido de ação destino econômico.
real que prevalece contra qualquer detentor da coisa - direito absoluto
Para constituir a posse basta o corpus, dispensando assim o animus, pois esse
• Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos
elemento está inerente ao poder de fato exercido sobre a coisa. O corpus éo único
entre vivos, só se adquirem com a tradição (CC, art. 1226).
elemento visível e suscetível de comprovação, estando vinculado ao animus do qual é
• Os direitos reais sobre coisas imóveis constituídos, ou transmitidos por atos manifestação externa. O importante é a finalidade econômica.
entre vivos, só se adquirem com o Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1245 II - a posse é um direito;
1247 do CC), salvo os casos expressos em lei (CC, art. 1227).
- a proteção possessória é um meio de defesa da propriedade .

8.2. Posse • Basicamente, o Código Civil adotou a teoria objetiva, de Ihering (CC, art. 1.196).

É a exteriorização da propriedade; éa aparência da propriedade, entretanto, não


POSSE X DETENÇÃO
se confunde com esta. O possuidor exerce alguns dos poderes do proprietário (usar, go·
zar e, algumas vezes, dispor), sem ser o dono. A posse é um aspecto da propriedade do . Posse é o poder consciente e autônomo exercido em nome próprio sobre coisa
suscetível de apropriação.
qual foram retiradas algumas características .

• As ações possessórias tratam exclusivamente da posse, enquanto, as açõm: . Detenção é o pOder material exercido em nome alheio ou sobre coisa insuscetí-
petitórias tratam exclusivamente da propriedade, vendo defeso examinar o domínio nas vel de apropriação ou em nome próprio, mas sem a necessária autonomia de vontade.
ações possessórias. - na posse direta, o possuidor exerce um poder próprio, fundado em título jurídi-
TEORIAS: co, ao passo que ao detentor de coisa alheia nenhum poder próprio assiste;

1. Teoria subjetiva (Savigny) - posse éo poder imediato que tem a pessoa de dis - o possuidor exerce o poder de fato em razão de um interesse próprio; o deten-
tor, no interesse de outrem;
por fisicamente de um bem, com a intenção de tê-Ia para si (anímus rem sibi habendl), e do
defendê-Io contra a agressão de terceiros. Para Savigny posse = corpus + animus - somento i1 pOl1no ~Jornefeitos jurídicos, diferentemente da detenção;

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ROTEIRO DE DIREITO CIVIL
Anamaria Prates ----------------------------

Todavia, para se saber se a ação é de força nova ou velha, leva-se em conta o tempo
_ quando o detentor é demandado em nome próprio, cabe-lhe declinar o possui·
decorrido desde a ocorrência da turbação ou do esbulho.
dor ou proprietário para que o substitua por meio do instituto da nomeação à autoria
F. composse: posse em comum por duas ou mais pessoas da mesma coisa
previsto no art. 69 do CPC.
indivisa (CC, art. 1.199)
Hipót~ses de detenção:
• Dualidade de posse = composse
1. fâmulos da posse (fâmulo = criado, servidor, empregado de casa religiosa quo
nela vive) - não tem posse e não Ihes assiste o direito de invocar, em nome próprio, a
- dualidade de posse = posse direta e indireta sobre a mesma coisa

proteção possessória (CC, art. 1.198 caput); - composse = posse exercida conjuntamente por mais de uma pessoa

2. permissão ou tolerância (CC, art. 1.208, 1ª parte); - composse pro diviso: ocorre quando há uma divisão de fato, embora não haja
a de direito, fazendo com que cada um dos compossuidores já possua uma parte certa,
3. bem insuscetível de apropriação;
continuando o bem indiviso.
4. contrato material
- composse pro indiviso: dá-se quando as pessoas que possuem em conjunto o
bem tem uma parte ideal apenas, sem saber qual a parcela que compete a cada uma.
MODALIDADES DA POSSE:
Fim da com posse:
A. _ posse indireta (mediata): do proprietário que cedeu tal direito a outrem
a) pela divisão de direito, amigável ou judicial, da coisa comum; com isso, cessa a
(possuidor) ;
compossessão, mas a posse continua, pois cada pessoa passará a possuir a parte certa;
_ posse direta (imediata): éa posse daquele que detém a coisa;
b) pela posse exclusiva de um dos sócios que exclua, sem oposição dos demais,
• Tanto o possuidor direto eo indireto podem invocar a proteção possessórln uma parte dela.
contra terceiro (ad interdicta).

B. - posse justa: é a que não é violenta, clandestina ou precária (CC, art. 1.200); é ,I
8.2.1. Aquisição e perda da posse
adquirida legitimamente, sem vício jurídico externo (nec vim, nec clam, nec precario).
AaulslçÃO DA POSSE'
_ posse injusta: é aquela que se reveste dos vícios acima apontados, ou seja, violên·
Para Savigny a posse somente pode ser adquirida mediante o contato físico da
cia (uso da força), clandestinidade (oculta) ou precariedade (abuso de confiança).
pessoa com a coisa, juntamente com a vontade de ter a coisa para si; já para Ihering,
. C. - posse de boa-fé: ignora o vício, estando convicto de que a coisa realmenlo
nem sempre há posse mediante o contato físico do possuidor.
lhe pertence (CC, arts. 1.201 e 1.202);
Haverá aquisição de posse sempre que presentes os pressupostos de fato, inde-
_ posse de má-fé: adquirida com conhecimento dos vícios existentes.
pendentemente de enumeração legal. Dessa forma dispõe o art. 1.204 do CC: ''Adquire-
• Justo título éo documento aparentemente hábil a transferir o domínio; admi/ü
se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio,
prova em contrário, pois tem presunção juris tantum. de qualquer dos poderes inerentes à propriedade".
D. - posse ad interdicta: é a que se pode amparar nos interditos, caso venha n A posse pode ser adquirida de modo originário ou derivado.
se,r ameaçada, turbada, esbulhada ou perdida; • A diferença entre ambos faz-se importante, pois sendo a posse originária, a
_ posse ad usucapionem: quando der origem ao usucapião da coisa, desde qLlo mesma não possui vícios anteriores, por não haver vínculo com o possuidor anterior,
obedecidos os requisitos legais'. rl/ferentemente da posse derivada.
E. - posse nova: se tiver menos de ano e dia; A. Originário: perfaz-se unilateralmente; não há qualquer vinculação com pos-
• posse velha: se contar com mais de ano e dia. tluidor anterior.

• Não se deve confundir posse nova com ação de força nova, nem posse vol/u)
com ação de força velha. Classifica-se a posse em nova ou velha quanto à sua idac/o,

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Anamaria Prates --------------------------- _______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

a) apreensão da coisa: ato pelo qual o possuidor se coloca em condições de A perda da posse ocorre quando cessa o poder do possuidor sobre o bem, ainda

dispor livremente da coisa; a apreensão pode recair sobre coisas abandonadas (res que contra sua vontade. Para o que foi esbulhado, e não presenciou o esbulho, somente

derelicta), ou sobre coisas de ninguém (res nullius) ou sobre coisas de outrem, sem considera-se perdida a posse após tendo notícia dele, se abstém de retomar a coisa,

permissão; a apreensão em relação aos imóveis se dá pela ocupação; ou, tentando recuperá-Ia, é violentamente repelido.

b) exercício do direito: apreensão de simples direitos (ex.: servidão);

c) disposição da coisa ou do direito: induz à condição de possuidor; 8.2.2. EFEITOS DA POSSE (arts, 1210 a 1222)
d) qualquer outra forma lícita. 1. direito de defesa da posse por:

B. Derivado: requer existência de uma posse anterior; por ato bilateral. a) legítima defesa, para manter-se (na turbação);

- tradição: entrega ou transferência da coisa, não havendo a necessidade de b) desforço imediato, para restituir-se (no esbulho) ou

uma expressa declaração de vontade. Pode ser: c) ação judicial = interditos (de manutenção de posse - na turbação; de reinte-
1. efetiva, material ou real (traditio longa manus): o objeto é posto à disposição gração de posse - no esbulho e interdito proibitório - na ameaça);

do adquirente, sendo-lhe mostrado; • O desforço in continenti ou autodefesa ou defesa imediata da posse - é um


2. simbólica ou ficta traditio: a entrega é feita por atos indicativos do propósito princípio de legítima defesa podendo ser utilizado no caso de esbulho ou turbação,

de transmitir posse; constituindo o uso da própria força no ato em flagrante.

3. consensual: há uma alteração no animus de possuir; poderá ser: 2. usucapião, dentro dos requisitos legais (CC, arts. 1238 a 1260);

3.1. traditio brevi ma nu - quem já possuía o bem em nome alheio, agora irá poso 3. se a posse é de boa-fé: direito aos frutos; indenização pelas benfeitorias úteis

suí-Io em nome próprio; passe-se da posse unicamente direta à posse plena; e necessárias; direito de retenção como garantia do pagamento dessas benfeitorias;
jus tollendi ou levantamento das benfeitorias voluptuárias; não responde pela perda ou
3.2. constituto possessório - é o inverso; a pessoa que tinha a posse plena a
(jeterioração a que não der causa.
perde, mas mantém consigo a posse direta.
4. se a posse é de má-fé: direito ao ressarcimento das benfeitorias necessárias,
• Tradens é o que opera a tradição e accipens é o que recebe a coisa
somente; ausência do direito de' retenção; ausência do direito de levantamento das
Que pode adquirir (CC, art. 1.205): benfeitorias úteis e voluptuárias; ausência do direito aos frutos devendo indenizar os
1. pela própria pessoa que a pretende, se capaz ou por seu representante, so prejuízos que tenha causado em razão dos frutos colhidos; responde pela perda ou
incapaz; (jeterioração, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado,
~stando ela na posse do reivindicante.
2. por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação .

• A posse do imóvel presume a posse das coisas móveis que nele estiverem, afÔ
prova em contrário. É uma presunção juris tantum, ou seja, admite prova em contrário. 8.3. Propriedade
A propriedade é a plenitude do direito sobre a coisa. É o direito que tem seu
Acessão de posse: é a posse continuada pela soma do tempo do atual possui.
titular de usar, gozar e dispor da coisa, excluindo terceiros de qualquer ingerência e
dor com seus antecessores. Espécies:
podendo reivindicá-Ia das mãos de quem injustamente a tiver. Conforme dispõe o art.
1. sucessão universal ou sucessão propriamente dita - a continuação da posso
1228 do CC: "o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito
é automática, sendo que o atual possuidor continua na posse de seu antecessor; 1I
do reavê-Ia de quem quer que injustamente a possua ou detenha".
sucessão é imperativa;
• usar ( jus utendi): usufruir das utilidades da coisa;
2. união ou sucessão singular - quando alguém transmite a posse de uma coisH • gozar (jus fruendi): usufruir dos rendimentos da coisa;
individualizada, especificada; a sucessão é facultativa.
• dispor (jus abutondi): alterar, destruir ou alienar a coisa; direito de dispor da
PERDA DA POSSE (CC, arts. 1.223 e 1.224) (;fJ/sa, do alienMa 011 fmnslorl·ln n outrem a qualquer título;

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Anamaría Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

• rei vindicatio: reivindicar a coisa de quem injustamente a possua ou detenha; - o prazo para aquisição será de 10 anos
direito de seqüela - direito de reaver a coisa. - contudo, se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no
registro constante do respectivo cartório, cancelado posteriormente (p.ex. irregulari-
dade formal, vício de vontade), desde que os possuidores nele tiverem estabelecido
CARACTERíSTICAS
a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico, o prazo
a) exclusivo - exclusão do terceiro de qualquer ingerência; o proprietário tem o será de 05 anos
direito de fazer qualquer coisa lícita com o seu bem; b) perpétuo ou irrevogável - não
C) Constitucional ou especial ou pro labore: descrito na Constituição Federal,
se extingue pelo não-uso; c) ilimitado, pleno ou absoluto - o proprietário tem amplo
podendo ser de duas formas:
poder sobre a propriedade.
C.1) urbana ou pro moradia (art. 1240): 05 anos + imóvel urbano até 250m2
que sirva como moradia sua ou de sua família + não ter outro imóvel urbano ou rural +
DESCOBERTA
(arts. 1233 a 1237) não há necessidade de justo título nem boa-fé + posse ininterrupta e sem oposição
A descoberta constava no Código Civil de 1916 sob o nome de "invenção", como C.2) rural ou pro labore (art. 1239): 05 anos + imóvel rural de até 50 hectares
modo de aquisição de propriedade móvel. que seja produtivo ou sirva de moradia + não ter outro imóvel urbano ou rural + não há

Aquele que ache coisa alheia perdida deverá restituí-Ia ao dono ou ao legítimo poso necessidade de justo título nem boa-fé + posse ininterrupta e sem oposição
suidor. Se não souber quem é ou não encontrá-Ia, entregará a coisa à autoridade compe· • O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido para usucapião,
tente, que dará conhecimento através da imprensà ou outros meios de publicação, som enio acrescentar à sua posse a dos seus antecessores, contanto que todas sejam con-
publicando editais se o valor da coisa comportar. trnuas, pacíficas e, quando a modalidade de usucapião exigir, com justo título e
Após 60 dias da divulgação da notícia, se não aparecer quem comprove SOl cie boa-fé (GG, art. 1243).
proprietário da coisa, esta será vendida em hasta pública, sendo seu valor revertido em D) Coletiva (Estatuto da Cidade - lei 10.257/2001): área urbana superior a
benefício do Município. Sendo a coisa de diminuto valor, poderá a mesma ser entreguo
250m2 + ocupação por população de baixa renda + 05 anos ininterruptamente e sem
a quem a achou.
oposição + impossibilidade de se identificar os terrenos ocupados por cada possuidor
O descobridor tem direito a uma recompensa correspondente, no mínimo, a 5% I- não serem os possuidores proprietários de outro imóvel urbano ou rural
do valor da coisa além de ser indenizado pelas despesas que tenha tido com a COiSFI.
Entretanto, se o descobridor causou dolosamente qualquer prejuízo à coisa, respondo - a sentença que declarar a usucapião não identificará as áreas de cada po.ssuidor;
rá pelos danos. - o condomínio formado entre os possuidores é indivisível, não sendo passível
(to extinção, salvo deliberação de 2/3 dos condôminos, na hipótese de urbanização
posterior à constituição do condomínio.
8.3.1. Aquisição da propriedade
Desapropriação indireta pela posse-trabalho
8.3.1.1. AQUIsiçÃo DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA (arts. 1238 a 1259)
O novo Código Civil em seu art. 1228 §§4º e 5º assim dispõe:
Pode ser originária quando não há transmissão de um sujeito para outro; ocor'!"ll
na acessãonatural e usucapião ou derivada quando houver transmissibilidade, a título "Arf. 1.228....
singular ou universal do domínio por ato causa mortis (direito hereditário) ou inter vivo~ • 4° - O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivin-
(negócio jurídico seguido de transcrição). dicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de
1. Usucapião (arts. 1238 a 1244): Cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado
A) Extraordinária (art. 1238): independe de justo título e boa-fé ~III conjunto ou separadamente obras e serviços considerados pelo juiz de inte-
- o prazo para aquisição será de 15 anos f()SSO social e econômico relevante.
- contudo, se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habllilrll • 5° " No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida
ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo o prazo será de 10 anos (1(1 proprietário; pago o proço. valerá pela sentença como título para registro do imóvel
B) Ordinária (art. 1242): justo título + boa-fé ÜllIl/OmO dos possulc1oru:: (...)"

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Anamaria Prates --------------------------- ---- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

Tal dispositivo, denominado por alguns doutrinadores de desapropriação indireta 8.3.1.2. AQUISiÇÃO DA PROPRIEDADE MOBILlÁRIA (arts. 1260 a 1274)
pela posse-trabalho, vem demonstrando a preocupação com a questão social da pro- Pode ser originária (ocupação e usucapião) ou derivada (acessão; tradição
priedade. Entretanto, não se confunde com a usucapião coletiva.
1. Ocupação: coisa sem dono ou abandonada + animus dom/n/; formas de ocu-
• Não podem ser objeto de usucapião: pação: pesca; caça; invenção ou descoberta e tesouro (depósito antigo de coisas pre-
a) as coisas que estão fora do comércio, pela sua própria natureza, por não serem ciosas, oculto e de cujo dono não haja memória)
suscetíveis de apropriação pelo homem, como o ar, a luz solar etc.; 2. Usucapião:
b) os bens públicos que, estando fora do comércio, são inalienáveis; - extraordinária: 5 anos + não há necessidade de justo título e boa-fé
c) os bens que, por razões subjetivas, apesar de se encontrarem in commercio, - ordinária: 3 anos + justo título e boa-fé
dele são excluídos, necessitando que o possuidor invertesse o seu título possessório (é
3. Tradição: entrega da coisa móvel ao adquirente com a intenção de lhe transfe-
o caso do condômino que estiver na posse de uma área de terra excedente à correspon-
rir o domínio, em razão do título translativo da propriedade (CC, arts. 1267 e 1268).
dente ao seu quinhão ou quota).
4. Acessão
• As causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição são aplicadas
- Comissão - mistura de coisas sólidas em condições idênticas;
à usucapião.
- Confusão - mistura de coisas líquidas, que não possam se separar e não pro-
2. Registro do título (arts. 1245 a 1247)
duzam coisa nova;
O registro imobiliário estabelece presunção relativa de titularidade do bem, tanto
- Adjunção - união de elementos distintos, de tal modo que venham a constituir
que se esse não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou
um todo e indivisível
anule (CC, art. 1247).
- Especificação - quando alguém trabalhando material alheio, obtém uma
Princípios que regem o Registro Imobiliário: a) publicidade - qualquer interessa-
espécie nova.
do pode ter acesso aos assentos; b) conservação - arquivo permanente dos assentos;
c) responsabilidade - os oficiais respondem pelos prejuízos que hajam causados. 8.3.2. PERDA DA PROPRIEDADE (arts. 1275 e 1276)
3. Acessão (arts. 1.248 a 1.259) São formas de perda da propriedade:
Acessão é o aumento do volume ou do valor da coisa principal, em virtude de 1. Alienação;
um volume externo.
2. Renúncia - é ato unilateral, independendo de aceitação, irrevogável e não
I - de imóvel a imóvel: presumível, devendo ser sempre expressa; no caso de imóveis deve ser feita mediante
- Aluvião - acréscimo paulatino de terras que o rio tira de uma de suas margens escritura pública;

para depositá-Ias em outra; 3. Abandono ou derrelição - aqui não há manifestação expressa;


- Avulsão - separação brusca e violenta de terras de uma propriedade para au- 4. Perecimento da coisa - perecendo o objeto, perece o direito;
mentar outra;
5. Desapropriação (Decreto-lei n.º 3.365/41).
- Formação de ilhas em rios; Pode ser em decorrência de necessidade pública (urgência), utilidade pública
- Álveos abandonados. (conveniência) e interesse social.
11- de móvel a imóvel: semeadura, plantações e construções . • Os bens públicos podem ser desapropriados pelos entes públicos superio-
4. Direitos hereditários res em relação aos inferiores.

Não importa que sejam bens móveis, pois para efeitos de herança, todos os bens Além desses modos legais, a doutrina elenca outros modos de perda da proprie-
serão imóveis até a partilha. dade imóvel: usucnplfio, acessão, casamento com regime de comunhão universal de
b0ns, sentençn judlc:lNI clolll1ll1vn, implemento de condição resolutiva e o confisco.

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Anamaria Prates --------------------------- _______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

8.4. DIREITOS DE VIZINHANÇA (arts. 1277 a 1313) Direito de tapagem

As restrições ao direito de propriedade visam a boa convivência na vizinhança. O - permissão para o proprietário cercar, murar, vaiar ou tapar de qualquer modo o
estudo dos direitos de vizinhança compreende exame dos preceitos relativos: seu prédio, urbano ou rural, de acordo com a lei.
A. Do uso anormal da propriedade G. Direito de construir

Os atos capazes de causar conflitos de vizinhança podem ser ilegais (aqueles - a construção de um prédio é um direito do proprietário, inserido no ius fruendi.
que obrigam à composição do dano); abusivos (mesmo que o vizinho perturbador não Contudo, em prol da comunidade, da vizinhança e do interesse público.
ultrapasse os limites de sua propriedade, ele prejudica o vizinho - ex.: barulho em exces-
so); lesivos (causam dano ao vizinho). 8.5. CONDOMíNIO (arts. 1314 a 1357)
B. Árvores limítrofes Existe condomínio quando houver plural idade de propriedade incidindo sobre
_ se o tronco estiver na linha divisória, há presunção juris tantum de que a árvore um bem. Para que haja condomínio, é mister que o objeto do direito seja uma coisa.

pertence a ambos os vizinhos; Sendo o direito de propriedade único, o mesmo recai sobre as partes ideais de

- os frutos pertencem ao dono do terreno do local que caiu; cada condômino, não existindo, assim conflito com o princípio da exclusividade.

_ os ramos e raízes que ultrapassarem a estrema do prédio podem ser cortados ESPÉCIES: 1) condomínio geral disciplinado pelos arts. 1314 a 1330 do Código

pelo proprietário do terreno invadido, até o plano vertical divisório. Civil e 2) condomínio edifício regulamentado pelos arts. 1331 a 1358 do Código Civil.

C. Passagem forçada
8.5.1. Condomínio geral
A passagem forçada é imposta pela lei. O vizinho é obrigado a aceitar desde que
o prédio esteja naturalmente encravado ou que não tenha acesso a via pública, nascen·
I. Classificação quanto à origem
te ou porto, mediante pagamento de indenização. Pode ser convencional, eventual ou legal.

D. Passagem de cabos e tubulações. Convenciona/- origina-se da vontade dos condôminos, ou seja:quando duas ou

O proprietário, por meio do pagamento de indenização, é obrigado a tolerar fi


mais pessoas adquirem o mesmo bem.

passagem, através de seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutos subterrâne- Eventual - resulta da vontade de terceiros, ou seja, do doador ou testador, ao
os de serviços de utilidade pública, em proveito de proprietários vizinhos, quando não efetuarem uma liberalidade a várias pessoas.
for possível de outro modo ou excessivamente oneroso. Legal ou forçado - imposto pela lei, como no caso de paredes, cercas, muros e
E.Águas valas (arts. 1327 a 1330 do CC).

_ o dono do prédio inferior é obrigado a receber as águas que correm natural- 11. Classificação quanto à forma
mente do superior (as águas que o prédio inferior está obrigado a receber são as do Pode ser pro diviso ou pro indiviso, transitório ou permanente.
chuva e as que brotam naturalmente do solo, ainda que ocorra prejuízo, este não 6
Pro diviso - apesar da comunhão de direito, há mera aparência de condomínio,
imputável ao dono do prédio superior, mas a fato da natureza, se a corrente é agravada
porque cada condômino encontra-se localizado em parte certa e determinada da coisa,
por obra do titular do prédio superior, responderá este pelo dano).
agindo como dono exclusivo da porção ocupada.
F. Limites entre prédios e Direito de tapagem
Pro indiviso - não havendo a localização em partes certas e determinadas, a co-
_ todo proprietário ou titular de direito real sobre imóvel pode obrigar o seu vizi munhão é de direito e de fato.
nho a realizar, em conjunto, a demarcação entre os dois prédios;
Transitório - é o convencional ou eventual, que podem ser extintos a todo tempo
- há presunção de que o terreno contestado seja repartido proporcionalmento pala vontade de qualquer condômino.
entre os dois imóveis; sendo impossível a divisão, o que ficar indenizará o outro.
Permanente· 6 () loonl, que perdura enquanto persistir a situação que determi-
nou (ex. parocloB cllvl!\I1r1rla).

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Anamaria Prates -------------------------- _______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

111.
Classificação quanto ao objeto • A alíenação fiducíáría difere da venda com reserva de domínío, em que o domínio

Pode ser universal ou singular: da propríedade permanece com o vendedor até o pagamento integral do preço devído.

Universal - quando abrange todos os bens, inclusive frutos e rendimentos, como O devedor (fiduciante) continua tendo a posse direta, mas não a propriedade,

na comunhão hereditária, ou seja, não tem a disponibilidade do bem. O domínio e a posse indireta passam ao
credor (fiduciário), em garantia. A tradição é ficta e não real. O credor pode exigir outras
Singular - incide sobre coisa determinada (ex. muro divisório).
garantias, com a fiança e o aval, sendo que o terceiro, interessado ou não, que pagar a
dívida, subroga-se no crédito e na propriedade fiduciária.
8.5.2. CONDOMíNIO EDILíCIO (CC, arts. 1331 a 1358 e Lei n. 4.591/64) A propriedade fiduciária é constituída por meio de contrato, mediante instrumento
O condomínio edilício é caracterizado pela existência de propriedade comum ao público ou particular, contendo: total da dívida, ou sua estimativa; prazo ou época do
lado de uma privativa, exteriorizada em uma edificação civil. Cada condômino é titular, com pagamento; taxa de juros, se houver; descrição da coisa objeto da transferência, com os
exclusividade, da unidade autônoma (apartamento, escritório, garagem) e de partes ideais elementos indispensáveis à sua identificação.
das áreas comuns (terreno, estrutura do prédio e corredores). São elementos constitutivos
Vencida a dívida, e não paga, fica o credor (fiduciário) obrigado a vender, judi-
obrigatórios do condomínio o ato de instituição, convenção de condomínio e o regulamen- cial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu
to. A estrutura interna do condomínio é composta de unidades autônomas e a área comum.
crédito e das despesas de cobrança, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor (CC,
A administração do condomínio será exercida por um síndico, escolhido em assembléias
art. 1364). Cláusula que venha a autorizar o proprietário fiduciário (credor) a ficar com a
geral, por maioria, para uma mandato de, no máximo, dois anos podendo ser reeleito. coisa alienada em garantia, não sendo a dívida paga, é nula.

Súmula 260 do STJ -A convenção de condomínio aprovada, ainda que sem 8.8. OUTROS DIREITOS REAIS
registro, é eficaz para regular as relações entre os condôminos.
É quando uma pessoa recebe, por meio de norma jurídicà, permissão do seu
proprietário para usá-Ia ou tê-Ia como se fosse sua, em determinadas circunstâncias, ou
8.6 PROPRIEDADE RESOLÚVEL (CC, arts. 1359 e 1360) sob condição, de acordo com a lei e com o que foi estabelecido em contrato válido.
A propriedade resolúvel é uma exceção ao princípio da perpetuidade e irrevoga-
bilidade da propriedade. Será resolúvel a propriedade quando a aquisição ficar sujeita 8.8.1. SUPERFíCIE (CC, arts. 1369 a 1377)
ao implemento de condição resolutiva ou ao advento do termo. Ela pode se referir a
Direito real sobre coisa alheia de gozo e fruição em que o proprietário con-
móveis ou imóveis.
cede a outrem o direito de construir ou plantar em seu terreno, por tempo determi-
- resolvida a propriedade, entendem-se também resolvidos os direitos reais que nado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de
sobre ela pendam e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar Imóveis. O direito de superfície somente autoriza obra no subsolo, se for inerente ao
a coisa do poder de quem a possua ou detenha (CC, art. 1359); objeto da concessão (CC, art. 1369). A superfície concede ao superficiário proprie-
- "se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, que dade resolúvel, pois se resolve decorrido o lapso temporal. Se, entretanto, antes do
tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será considerado proprietário perfeito, termo final o superficiário der à superfície destinação diversa daquela para que foi
restando à pessoa, em cujo benefício houve a resolução, ação contra aquele cuja pro- concedida, resolver-se-á a concessão.
priedade se resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor" (CC, art. 1360). O direito de superfície poderá ser gratuito ou oneroso, onde o pagamento poderá
ser feito integral ou parceladamente. O superficiário responderá pelos encargos e tribu-
8.7 PROPRIEDADE FICUCIÁRIA (arts. 1361 a 1368) tos que incidirem sobre o imóvel (CC, art. 1371). Resolvida a concessão, o proprietário

Em conformidade com o art. 1361 do CC, "considera-se fiduciária a propriedade resollJ· passa a ter a propriodndo plena sobre o terreno, a construção e a plantação, indepen-
dente de indoniznçflo, srllvo o:~tIplllnção em contrário (CC, art. 1375).
vel de coisa móvel infungível que o devedor, com o escopo de garantia, transfere ao credor".

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Anamaría Pratas ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

8.8.2 SERVIDÕES (CC, arts. 1378 a 1389) c) pelo resgate (art. 1388, 111, do CC), que só poderá ocorrer quando convencionado;

Nas servidões prediais, que são as tratadas nessa parte do Código Civil, estabe- d) pela confusão (art. 1389, I, do CC),onde há a reunião dos dois prédios no

lece-se uma relação de serviência entre dois imóveis. domínio da mesma pessoa;

- ônus ou encargo que incide num prédio em proveito de outro (os proprietários dos e) pela supressão das respectivas obras (art. 1389, 11, do CC), por efeito de con-

prédios têm que ser diversos, pois se for só um dono ter-se-á serventia e não servidão) trato ou de outro título expresso; cuida-se de modo de extinção que se aplica às servi-
dões aparentes;
- é um direito real imobiliário e acessório; constitui-se, unicamente, sobre
bens imóveis; f) pelo desuso ou não uso durante 10 (dez) anoscontínuos(art. 1389, 111, do CC).

- é um direito real de gozo ou fruição sobre imóvel alheio, de caráter acessório ao


direito de propriedade, perpétuo, indivisível e inalienável; 8.8.3. Usufruto (CC, arts. 1390 a 1411)
- é passível de ação real e de direito de seqüela, podendo, ainda, exercer seu É o direito real de fruir as utilidades e frutos de uma coisa, enquanto tempora-
direito erga omnes, desde que a servidão esteja inscrita, de modo regular, no Registro riamente destacado da propriedade. Após sua extinção, o nu-proprietário passa a ter a
Imobiliário competente. propriedade plena.

CLASSIFICAÇÃO OBJETO: móveis ou imóveis (o usufruto sobre móveis consumíveis é denominado de

A) urbana (utilidade de um prédio edificado) ou rústica (utilidade ao solo); usufruto impróprio ou quase-usufruto); patrimônio; direitos, desde que transmissíveis.
CARACTERíSTICAS
B) contínua (persiste independente do ato humano, ex.: passagem de água) ou
descontínua (depende de atividade humana atual, ex.: servidão de trânsito); - o usufrutuário pode locar a coisa, ou cedê-Ia a título gratuito ou oneroso, mas

C) aparente (perceptível à vista, ex.: aqueduto) ou não aparente (imperceptível, veda a disponibilidade (venda) da coisa;

ex.: servidão de não construir); - o direito ao usufruto é impenhorável, entretanto, o exercício pode ser penhorado;

D) positiva (permissão para a prática de determinados atos) ou negativa (absten- - pode ser exigida caução real ou fidejussória
ção ao titular do prédio serviente). - personalíssimo, intransmissível e temporário;
MODOS DE CONSTITUiÇÃO
DEVERES DO USUFRUTUÁRIO: pode-se valer dos meios processuais - ações posses-
a) negócio jurídico - contrato ou testamento sórias- a fim de requerer direitos reais e ações petitórias(ex. ação de reintegração de

b) destinação do proprietário - proprietário de dois imóveis institui uma serven- posse ou confessória); não é obrigado a pagar as deteriorações resultantes do exercício

tia e aliena dos imóveis, passando a serventia à servidão. regular do usufruto.

c) usucapião - somente as servidões aparentes podem ser objeto de usucapião; OBRIGAÇÕES DO NU-PROPRIETÁRIO: exerce seu domínio limitado à coisa, podendo-se,

o exercício incontestado e contínuo por 10 anos autoriza a servidão e se o possuidor também, valer das ações possessórias contra terceiros, porque mantém posse indireta.

não tiver título, o prazo será de 20 anos Sua obrigação é entregar a coisa para desfrute do usufrutuário. Não pode turbar a posse
do usufrutuário nem intervir na administração, se esta não lhe foi conferida.
d) sentença judicial proferida em ação de divisão
MODOS CONSTITUTIVOS: lei; ato jurídico inter vivos ou causa mortis; sub-rogação
EXTINÇÃO
real; usucapião; sentença.
a) pela renúncia do titular (art. 1388, I, do CC), que deve ser expressa, mas admite·
EXTINÇÃO (CC, art. 1410)
se que possa ser tácita quando, por exemplo, o dono do prédio dominante permite que o
proprietário do prédio serviente faça nele obra incompatível com o exercício da servidão; a) renúncia ou morte do usufrutuário; b) advento do termo de sua duração; c)
extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se ela per-
b) quando cessada para o prédio dominante a utilidade ou comodidade da ser·
durar, pelo decurso do trintA onos da data em que se começou a exercer; d) cessação
vidão (art. 1388, 11, do CC);
da causa cio qUI) DO ori'IItI(l: v) (/(wlrulçl'lo da coisa, não sendo fungível; f) consolidação;

112 113
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Anamarla Prates --------------------------

"Art. 1417: Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arre-
g) culpa do usufrutuário, quando não cuida bem da coisa; h) não uso ou não fruição da
pendimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de
coisa em que o usufruto recai; i) implemento de condição resolutiva.
Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.
• Não há no nosso ordenamento, o usufruto sucessivo, que é o instituído em favor
Art. 1418: O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promi-
de uma pessoa, para que depois de sua morte transmita-se a terceiro.
tente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da
escritura definitiva de compra e venda conforme o disposto no instrumento preliminar;
8.8.4. Uso (arts. 1412 e 1413)
e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel".
_ é o direito real que, a título gratuito ou oneroso, autoriza uma pessoa a retirar,
temporariamente, de coisa alheia, todas as utilidades para atender às suas próprias
Súmula 239 do ST J - O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao
necessidades e às de sua família;
registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.
_ o objeto do uso pode consistir em coisa móvel ou imóvel;

_temporário, indivisível, intransmissível, personalíssimo;


8.8.7. Direitos reais de garantia: Penhor, hipoteca e anticrese
_ pode ser constituído por ato jurídico inter vivos e causa mortis; sentença
- vincula diretamente ao poder do credor determinada coisa do devedor, assegu-
judicial; usucapião;
rando a satisfação de seu crédito, se inadimplente o devedor.
_ o usufruto difere do uso porque este não pode ser cedido, nem mesmo 8
Garantia fidejussória ou pessoal: aquela em que terceiro responsabiliza-se
título gratuito;
pela solução da dívida, em o devedor não cumprindo a obrigação; decorre do contrato
_ o usufrutuário tem o ius utendi et fruendi (usar e fruir); o usuário tem apenas o
de fiança.
ius utendi (usar).
Garantia real: vincula um determinado bem do devedor ao pagamento.
Extinção: com a morte do usuário; advento do prazo final; perecimento do obje-
Cláusula comissória: é a estipulação, ilegal, que autoriza o credor a ficar com
to; consolidação; renúncia.
a coisa dada em garantia, caso a dívida não seja paga; é inadmissível, sob pena de
nulidade (CC, art. 1428).
8.8.5. HABITAÇÃO (arts. 1414 a 1416) Efeitos:
_ direito real temporário de ocupar gratuitamente casa alheia, para morada do
a) direito de preferência - o credor hipotecário e pignoratício tem preferência em
titular e de sua família.
relação aos outros credores, no pagamento;
_ ainda mais restrito do que o uso, pois consiste na faculdade de residir num
b) direito de excussão - o credor hipotecário e pignoratício tem o direito de excu-
prédio alheio com a família. Devido ao seu caráter personalíssimo, não pode ser cedido.
tlr a coisa hipotecada ou empenhada;
Assim, o titular deve residir, ele próprio, com sua família, no prédio. Não pode alugá-Ia,
c) direito de seqüela - direito de reclamar a coisa dada em garantia;
nem emprestá-Io.
_ modos de constituição: por lei ou por ato de vontade que deve ser registrado no d) indivisibilidade - o pagamento de uma ou mais prestações da dívida não im-
porta exoneração correspondente da garantia.
Cartório de Registro de Imóveis (art. 167, I, n. 7, da LRP).

Extinção: do mesmo modo que o usufruto e o uso


8.8.7.1. Penhor

- tradição de uma coisa móvel, suscetível de alienação, realizada pelo devedor


8.8.6. DIREITO DO PROMITENTE COMPRADOR (arts. 1417 e 1418)
ou por terceiro ao credor, a fim de garantir o pagamento do débito (art. 1431 do CC),
A promessa de compra e venda registrada em cartório constitui direito real sobro
londo como sujoilm; o clovocJor pignoratício (pode ser tanto o sujeito passivo da obri-
coisa alheia, permitindo adjudicação compulsória, se o promitente vendedor não outor·
tlflçfio principnl COIIIO o l!!Ienho (('10 oleroça o ônus real, este também chamado de
ga a escritura definitiva.

'115
114
Anamaria Prates -------------------------- ----------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

interveniente-garante) e o credor pignoratício (é o que empresta o dinheiro e recebe o - o dono do imóvel hipotecado pode constituir outra hipoteca sobre ele, mediante

bem empenhado, recebendo, pela tradição, a posse deste). novo título, em favor do mesmo ou de outro credor;

- é uno, indivisível e temporário; acessório; depende de tradição; recai, em regra, - o adquirente do imóvel hipotecado, desde que não se tenha obrigado pesso-

sobre coisa móvel; objeto alienável; o bem empenhado deve ser da propriedade do almente a pagar as dívidas aos credores hipotecários, poderá exonerar-se da hipoteca,
devedor; não admite pacto comissório; abandonando-Ihes o imóvel;

- propriedade limitada; - o credor pode pedir o reforço da garantia hipotecária;

Modos constitutivos: convenção ou lei - reconhece-se a preferência ao credor hipotecário;

Extinção: extinção da dívida; perecimento do objeto empenhado; renúncia ao - cria-se um vínculo real, oponível erga omnes, entre o credor e o imóvel gravado.

credor; confusão; adjudicação judicial, remição ou venda do penhor autorizada pelo - é oponível erga omnes;
credor; resolução da propriedade; nulidade da obrigação principal; escoamento do pra- - lícita é a alienação de imóvel hipotecado a terceiro que o recebe juntamente
zo; reivindicação do bem gravado; remissão da dívida. com o ônus que o grava;

- a cessão de crédito poderá ser feita sem o consentimento do devedor;


8.8.7.2. Hipoteca - é possível sub-rogação;
_ direito real de garantia de natureza civil que grava coisa imóvel ou bem a que - a hipoteca adere-se ao imóvel;
a lei entende por hipotecável, pertencente ao devedor ou terceiro, sem transmissão de
- se houver reconstrução do prédio sinistrado pelo segurador ou responsável, o
posse ao credor, conferindo a este o direito de promover a sua venda judicial, pagando-
credor não poderá exigir o preço;
se, preferencialmente, se inadimplente o devedor;
- estende-se às benfeitorias ou acessões trazidas e ao bem gravado;
- podem ser objeto de hipoteca (art. 1473 do CC); os imóveis e seus acessó-
- assegura o cumprimento das obrigações acessórias.
rios, o domínio direto e o útil, estradas de ferro, minas e pedreiras, navios, aeronaves,
o direito de uso especial para fins de moradia, o direito real de uso e a propriedade - remição hipotecária: é o direito concedido a certas pessoas de liberar o imóvel

superficiária. onerado, mediante pagamento da quantia devida independentemente do consentimen-


to do credor;
- possui natureza civil;
Extinção: desaparecimento da obrigação principal; destruição da coisa; resolu-
- requer a presença de dois sujeitos: credor hipotecário (ativo) e devedor hipote·
ção do domínio; renúncia do credor; remição; sentença passada em julgado; prescri-
cante (passivo);
ção; arrematação; consolidação; perempção legal. Os direitos de garantia instituídos
- o objeto gravado deve ser de propriedade do devedor ou de terceiro, que entre·
nas hipóteses do direito real de uso e da propriedade superficiária ficam limitados à
ga imóvel seu para garantir a obrigação;
duração da concessão ou direito de superfície, caso tenham sido transferidos por perí-
- o devedor hipotecante continua na posse do imóvel onerado; odo determinado.
- indivisível e acessória;

- só pode ser devedor hipotecante quem tem capacidade de alienar; Súmula 308 do ST J - A hipoteca firmada entre a construtora e o agente
_ hipoteca convencional: acordo de vontade entre os interessados; financeiro,anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda,não tem

_ hipoteca legal (CC, arts. 1489 a 1491): sentença de especialização e inscrição eficácia perante os adquirentes do imóvel

no Registro de Imóveis;

_ hipoteca judicial: carta de sentença ou mandado judicial (contendo especiali· 8.8.7.3. Anticrese
zação) e inscrição no Registro de Imóveis; - direito roal sobro Imóvel alheio, em virtude do qual o credor obtém a posse da
coisa a fim du !1orco!)(j1 li leJ (lI' 1r111(JB o imputá-Ios no pagamento da dívida, juros e capi-

116 117
Anamaria Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

tal, sendo, porém, permitido estipular que os frutos sejam, na sua totalidade, percebidos fins específicos de urbanização, industrialização, edificação, cultivo ou qualquer outra
à conta de juros; exploração de interesse social". Tal instituto deu-se com o advento do Decreto-lei nº 271
- não confere preferência ao anticresista no pagamento do crédito com a im- de 28 de fevereiro de 1967 (art. 7º). Trata-se de um contrato administrativo, de direito
portância obtida na excussão do bem onerado, pois só lhe é conferido o direito de real, transmissível por ato inter vivos e causa mortis. É forma de transmissão da posse
retenção; direta dos
- o credor anticrético só poderá aplicar as rendas que auferir com a retenção do bens públicos ou privados, de forma gratuita ou onerosa (remuneração).
bem de raiz, no pagamento da obrigação garantida;
- requer para sua constituição, escritura pública e inscrição no registro imobiliário
(Lei 6.015/73, art.167, I, n.11);
- incide sobre coisa imóvel alienável, pois se incidir sobre bem móvel, ter-se-á
penhor e não anticrese; esse imóvel pode ser fruído, direta ou indiretamente, pelo ano
ticresista; a fruição indireta se dá mediante o arrendamento do bem gravado, caso em
que o credor anticrético percebe os aluguéis, adquirindo, dessa forma, os frutos civis da
coisa; mas o título constitutivo poderá estipular que o anticresista deverá fruir diretamen-
te do imóvel (art. 1507 do CC);
- requer tradição real e efetiva do imóvel, que é o ato mais característico da anti-
crese, uma vez que sem a posse direta do credor anticrético impossível será o cumpri-
mento do objetivo contratual: a percepção dos frutos e rendimentos para pagar-se do
seu crédito;
- o credor anticrético pode fruir diretamente o imóvel ou arrendá.lo a terceiro,
salvo pacto em contrário, mantendo, no último caso, até ser pago, o direito de retenção
do imóvel (art. 1507 do CC).

Extinção: pagamento da dívida; término do prazo legal; perecimento do bem an


ticrético; desapropriação; renúncia do anticresista; excussão de outros credores quan
do o anticrético não opuser seu direito de retenção.

8.8.8. Concessão de uso especial para fins de moradia


Concessão gratuita de uso especial para fins de moradia será concedida 0111

favor daquele que independentemente de sexo e estado civil possui até a data de 3()
de junho de 2001, durante cinco anos ininterruptos e sem oposição, até 250 m2 (metroll
quadrados) de imóvel público situado em área urbana, utilizando-a para sua morada 011

de sua família, desde que obedecidos outros requisitos complementares (artigo 56, <111

Estatuto das Cidades - Lei nº 10.257, de 10 de junho de 2001).

8.8.9. Concessão de direito real de uso

Hely Lopes Meirelles define da seguinte forma: "Concessão de direito rool I Ie)
uso - é o contrato pelo qual a Administração transfere o uso remunerado ou grnlullll
de terreno público a particular, como direito real resolúvel, para que dele se utilizo 11111

118 119
Anamaria Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

1. ascendentes com descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 2. afins


9. Direito de família
em linha reta; 3. adotante com quem foi cônjuge do adotado e adotado com quem
o conteúdo do Direito de Família pode assim ser dividido: 1) direito pessoal (ca-
foi cônjuge do adotante; 4. irmãos, unilaterais ou bilaterais e demais colaterais até 3º
samento e relações de parentesco); 2) direito patrimonial (regime de bens; usufruto e
grau, inclusive; 5. o adotado com o filho do adotante; 6. pessoas casadas; 7. o cônjuge
administração dos bens dos filhos menores; alimentos; bem de família); 3) união estável
sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
e 4) tutela e curatela. consorte.

I Causas suspensivas - a argüição da causa suspende a realização do casamento


9.1. DIREITO PESSOAL
até que venha a ser eliminada; sendo o casamento realizado sem observância das causas,
9.1.1. CASAMENTO o casamento não será nulo nem anulável, mas os nubentes estão sujeitos a uma sanção -

É o ato pelo qual um homem e uma mulher se unem, de acordo com as formali- submissão ao regime de separação obrigatória de bens. O art. 1523 é taxativo:

dades legais, mediante deveres mútuos. 1. viúvo ou viúva que tiver filho do cônjuge do falecido, enquanto não fizer inventário
Características: a. pessoal - ato exclusivo dos nubentes, apesar de ser admitido dos bens do casal e der partilha aos herdeiros, salvo se provar a inexistência do prejuízo

o casamento por procuração; b. solene - série de formalidades, não admitindo termo ou ao herdeiro; 2. viúva ou mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou anulado, até dez

condição (é um negócio puro e simples); c. sexos opostos; d. dissolubilidade. meses após o começo da viuvez ou da dissolução da sociedade conjugal, salvo se der à
luz antes de findo o prazo ou provar a inexistência da gravidez; 3. divorciado, enquanto não
Finalidades: procriação e educação da prole; mútua assistência e satis-
houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal, salvo se provar que não
fação sexual.
haverá prejuízo para o ex-cônjuge; 4. o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascen-
Pressupostos - relacionam-se à existência do casamento, sem eles o casamen-
dentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não
to é inexistente: a. diversidade de sexos; b. celebração em conformidade com a forma
cessar a tutela ou a curatela, e não estiverem respectivas contas, salvo se provar que não
prevista em lei; c. consentimento dos nubentes.
haverá prejuízo para a pessoa tutelada ou curatelada.
Requisitos - estão relacionados com as condições necessárias à validade do
• Além da imposição do regime de separação obrigatória de bens, os filhos terão
casamento; a inobservância de tais requisitos acarreta sua nulidade ou anulabilidade;
direito à hipoteca legal sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núpcias,
o casamento existe, mas não é válido; os requisitos estão relacionados com os impedi-
antes de fazer o inventário do casal anterior (CC, art. 1489, 1/).
mentos matrimoniais.

9.1.1.2. Espécies de casamento


9.1.1.1. Impedimentos matrimoniais e Causas suspensivas
I. Casamento nuncupativo (ou in extremis - em caso de iminente risco de
Impedimentos matrimoniais são circunstâncias estabelecidas por lei que im-
vida) e em caso de moléstia grave· Em estando um dos nubentes com moléstia grave,
possibilitam a realização do casamento.
a ponto de não poder se locomover, e já tendo sido expedida a certidão de habilitação,
• Incapacidade X Impedimento o juiz irá celebrar o casamento, mesmo à noite, sendo urgente, na casa ou onde estiver
- Incapacidade - a pessoa não pode casar-se com quem quer que seja (ex.: o o nubente, acompanhado de duas testemunhas (CC, art. 1539). Se um dos nubentes
menor de 16 anos é incapaz para casar-se); estiver em iminente risco de vida (casamento nuncupativo), permite-se o casamento

- Impedimento - falta de legitimação, ou seja, não pode o nubente casar-se com sem habilitação e na ausência da autoridade celebrante, sendo celebrado na presença

uma determinada pessoa (são impedidos de casar ascendentes com descendentes). de seis testemunhas que não tenham parentes com os nubentes em linha reta, ou, na
colateral, até segundo grau; nos dez dias seguintes, deverão as testemunhas compa-
Os impedimentos são caracterizados como a ausência de requisitos para oca·
recer em cartório para que suas declarações sejam reduzidas a termo, caso o nubente
samento. Em ocorrendo um dos impedimentos, o oficial do registro civil deve negar-so
não convalesco o n{lo possa ratificar o casamento (CC, arts. 1540 e 1541).
a celebrar o matrimônio, sendo que os impedimentos podem ser postos por qualquor
pessoa capaz. O art. 1521 do CC é taxativo: 11. Cnsmnonto Inuxll4tonto - para que o casamento exista são necessários três

120 121
II Anamaria Prates ----------------------------
----------------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

requisitos: a. diversidade de sexos; b. celebração e c. consentimento; a ausência de V. Casamento putativo - é o casamento inválido (nulo ou anulável) contraícjo
algum desses requisitos leva à inexistente do casamento; se o casamento inexistente por um ou ambos os cônjuges de boa-fé. Em relação aos filhos e ao cônjuge de boa·16
não produzir nenhum efeito aparente então não precisará de ação judicial para declarar a eficácia da sentença que decreta a nulidade ou a anulação tem efeitos ex nunc (não
a inexistência; não há casamento inexistente putativo. retroage), ou seja, em relação a tais pessoas os efeitos são de um casamento válido aló
111.Casamento nulo - casamento eivado de vício insanável. o trânsito em julgado da anulação ou da declaratória de nulidade. O cônjuge inocento

Hipóteses: 1. casamento contraído pelo enfermo mental sem discernimento; 2. terá direito à meação, além de pode ser considerado herdeiro, diferentemente do cÓn-

ascendentes com descendentes; 3. afins em linha reta; 4. adotante com quem foi côn- juge culpado. Além disso o cônjuge culpado incorrerá na perda de todas as vantagens

juge do adotado e adotado com quem foi cônjuge do adotante; 5. irmãos, unilaterais havidas do cônjuge inocente e terá a obrigação de cumprir as promessas que fez ao

e bilaterais e colaterais até o 3º grau, inclusive; 6. adotado com filho do adotante; 7. cônjuge inocente no contrato antenupcial (art. 1564).

pessoas casadas; 8. cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa


de homicídio contra o seu consorte. 9.1.1.3. Eficácia jurídica do casamento:
IV. Casamento anulável - casamento eivado de vício sanável.
O Código Civil anterior tratava dos efeitos do casamento, sendo agora tal capl.
Hipóteses e prazos: tulo denominado "da eficácia do casamento". Entretanto, podemos considerar corno
efeitos do casamento:
1. casamento contraído por quem não completou a idade mínima para casar (tal
casamento poderá ser ratificado pelo menor depois que completar idade núbil, com 1. Constituição de uma família;
autorização de seus representantes legais ou suprimento judicial) - 180 dias a contar da 2. Mútua assunção pelo homem e pela mulher da condição de consortos,
data em que o menor completar 16 anos ou da data da celebração do casamento para companheiros e responsáveis pelos encargos da família;
seus representantes legais ou ascendentes;
• Qualquer um dos nubentes poderá acrescer ao seu sobrenome o do outro.
• Não será anulado por motivo de idade, o casamento que resultou gravi-
3. Imposição dos deveres aos cônjuges: a. fidelidade recíproca (carátor ItlO
dez (art. 1551).
nogâmico do casamento); b. vida em comum no domicílio conjugal, que será escoll1ldo
2. menor em idade núbil (16 anos), quando não autorizado por seu representan- por ambos os cônjuges, podendo um ou outro se ausentar em razão de encargos pl',1J1I
te legal - 180 dias, a contar do dia em que cessou a incapacidade, se for o menor que cos, exercício de profissão ou interesses particulares relevantes, entretanto, a mWÓllclrl
tenciona requerer a anulação; 180 dias a contar da data da celebração do casamento, voluntária do lar por mais de um ano, sem que seja pelos motivos ora expostoB po< 10
para os representantes legais do menor e 180 dias da data da morte do nubente, para caracterizar o abandono do lar conjugal; c. mútua assistência, no sentido esplrllwlI,
seus herdeiros; econômico e moral - os cônjuges devem contribuir na proporção de seu patrirnÓnlü,
3. por vício de vontade: erro essencial - 03 anos; coação - 04 anos (somen- independente do regime de bens adotado; d. sustento, guarda e educação dos fill1os;
te o cônjuge que incidiu em erro ou sofreu coação pode demandar a anulação e. respeito e consideração mútuos.
do casamento); 4. Regime de bens - é o complexo que normas de disciplina as relações econômicas
4. do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento entre os cônjuges, durante o matrimônio (tal assunto será melhor abordado no item 9.2.1).
- 180 dias;

5. realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente tivesse co- 9.1.1.4. DISSOlUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VíNCULO CONJUGAL

nhecimento da revogação ou decretação judicial de invalidade do mandato, se não


- morte de um dos cônjuges*;
houver coabitação entre os cônjuges - 180 dias a partir de quando o mandante teve
conhecimento;
1. Dissolução da sociedade conjugal - anulaçãoou nulidadedo casamento;

- separação judicial;
6. por incompetência da autoridade celebrante - 02 anos
- divórcio
Os prazos acima expostos são decadenciais

122
Anamaria Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

* Além da morte real, há também possibilidade da dissolução do casamento pela dade de se provar a culpa, imputando-se ao outro cônjuge qualquer ato que importe

morte presumida que ocorrerá nas hipóteses em que a lei autoriza a abertura da suces- violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum;
são definitiva (art. 6°). - hipóteses autorizativas (culpa): adultério; tentativa de morte; sevícia ou injúria
- morte de um dos cônjuges; grave; abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo; condenação por

- anulaçãoou nulidadedo casamento; crime infamante; conduta desonrosa; outros fatos que tornem evidente a impossibilida-
2. Dissolução do vínculo matrimonial
de da vida em comum;
- divórcio
- cabe reconvenção, uma vez que se discute a culpa;
Obs.: A separação judicial dissolve a sociedade conjugal sem desfazer o vínculo
- sanções em sendo reconhecida a culpa: perda do direito a alimentos, salvo se
matrimonial; vários efeitos do casamento são extintos (coabitação; fidelidade recíproca
indispensáveis à sobrevivência.
e regime de bens) e outros são modificados. É por isso que a possibilidade de res-
tabelecimento da sociedade conjugal só ocorre quando da separação judicial, pois Separação-falência (é uma espécie da separação-remédio):
o vínculo matrimonial continua mantido. Enquanto perdura o vínculo matrimonial, não - havendo ruptura da vida em comum há mais de um ano, não há necessidade
pode o separado contrair novas núpcias. de se discutir culpa;

- além do lapso temporal deve ser provada a impossibilidade de reconciliação.


I. SEPARAÇÃO JUDICIAL Separação-remédio:

_ põe fim aos deveres coabitação; fidelidade recíproca e ao regime de bens, sen- - há ainda uma outra hipótese que é quando um dos cônjuges está acometido de
do mantidos os deveres de mútua assistência; sustento, guarda e educação dos filhos doença mental grave, manifestada após o casamento, desde que após um período de
e respeito recíproco; 02 anos a doença tenha sido reconhecida como de cura improvável;
_somente os cônjuges poderão requerer a separação judicial entretanto, a lei diz - deve ser provada, também, a insuportabilidade da vida em comum;
que "no caso de incapacidade, serão representados pelo curador, pelo ascendente ou - sanção ao cônjuge que pleiteou a separação: os bens remanescentes que le-
pelo irmão" (parágrafo único do art. 1.576 do CC); vou para o casamento reverterão ao cônjuge enfermo, não se comunicando ao outro
- deve o juiz tentar uma conciliação entre os cônjuges; cônjuge (tal sanção somente tem aplicação quando o regime de bens for o de comu-

- é obrigatória a intervenção do Ministério Público. nhão universal de bens, em que há possibilidade de comunicação dos bens havidos
antes do casamento).
SEPARAÇÃO JUDICIAL CONSENSUAL
11. DIVÓRCIO
- mútuo consentimento;
- põe termo ao casamento e aos efeitos civis do matrimônio religioso;
- período mínimo de 01 ano de casamento;
- deve haver a intervenção do Ministério Público;
_ cláusulas obrigatórias: guarda, visitas e alimentos dos filhos; nome do cônjugo
CONVERSÃO DE SEPARAÇÃO EM DIVÓRCIO OU DIVÓRCIO INDIRETO
virago; alimentos entre os cônjuges;
_ a partilha dos bens não é obrigatória nessa fase, entretanto os bens do casal - prazo: 01 ano a contar do trânsito em julgado da separação judicial ou da decisão
devem ser descritos na petição inicial; concessiva da decretação cautelar da separação de corpos (art. 1580);

- pode o juiz se recusar a decretar a separação judicial se entender que o acordo - caso não tenha sido feita a partilha, a mesma poderá ser feita na conversão.

não preserva os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges (art. 1574). DIVÓRCIO DIRETO

SEPARAÇÃO JUDICIAL LITIGIOSA - prazo: 02 anos, consecutivos e ininterruptos, de separação de fato;

Separação-sanção: - pode ser consensual ou litigioso.

_ pode ser requerida a qualquer tempo por um dos cônjuges, havendo neco:3HI A Loi 11.411/2007 pormllo quo a separação que o divórcio consensual, não ha-

124 125
Anamaria Prates ---------------------------- - ROTEIRO DE DIREITO CIV/L

vendo filhos menores ou incapazes, obedecendo os prazos legais, poderão ser rea- AFINIDADE

lizados por escritura pública, devendo constar partilha de bens, pensão alimentícia e É o vínculo que estabelece cada cônjuge com os parentes do outro; afinidado
referência ao nome do cônjuge (manutenção ou retirada). A escritura independe de não é parentesco e sim vínculo que liga uma pessoa aos parentes do seu cônjuge, s6
homologação judicial, devendo ser lavrada pelo tabelião somente se os contratantes existindo em razão da lei e sendo decorrente do casamento; os afins de cada cônjugo
estiverem assistidos por advogados. não são afins entre si (não há, assim, afinidade entre "concunhados"). Mantém cerlu
semelhança quanto à determinação das linhas e graus com o parentesco.

9.1.2. RELAÇÕES DE PARENTESCO · Linha reta - há afinidade de 1 º grau entre sogro e nora, sogra e genro, padrasto

9.1.2.1. Vínculo e relações de parentesco e enteado, madrasta e enteado; em 2º grau o marido será fim dos avós de sua mulhor
e esta com os avós de seu marido. NA LINHARETANÃOHÁLIMITEDEGRAUE A AFINIDADE NÃOSI
As pessoas relacionam-se umas com as outras de três formas:
EXTINGUE
COMA DISSOLUÇÃO
DOCASAMENTO
OUDAUNIÃOESTÁVEL.
1. parentesco - relação das pessoas ligadas pelo sangue ao mesmo tronco ou
· Linha colateral - NÃOPODEIRALÉMDO2º GRAU,existindo tão-somente os irmão:'
ancestral
do cônjuge; os afins de cada cônjuge não são afins entre si. HÁ DISSOLUÇÃO
DAAFINIDAIJI
• Parentesco civil é o decorrente de adoção ou outro origem. COLATERAL
COMA DISSOLUÇÃO
DOCASAMENTO
OUDAUNIÃOESTÁVEL
2. conjugal - elo entre marido e mulher.
• A separação não dissolve a afinidade colateral, somente o divórcio. No caso c/c;
3. afinidade - relação existente entre um dos cônjuges ou companheiro (tanto o casa- anulação ou de decretação de nulidade, somente persistirá a afinidade se o casamoll/u
mento como a união estável dão origem ao parentesco por afinidade) e os parentes do outro. for putativo.
• Marido e mulher não são parentes e sim cônjuges.

• São irmãos germanos os filhos dos mesmos pais. 9.1.2.2. Filiação e reconhecimento dos filhos
• São irmãos unilaterais os filhos de um só deles. Não há distinção entre os filhos havidos dentro ou fora do casamento o os flllln~
• São irmãos uterinos os filhos da mesma mãe e pais diferentes. adotados, ou seja, não há que se falar em filiação legítima ou ilegítima, sendo quo fi IIlIfl
LINHASDEPARENTESCO: ção é provada pela certidão ou termo de nascimento registrada no Registro Civil.

Linha reta - quando as pessoas descendem umas das outras (ex.: filhos dos O artigo 1597 do Código Civil dispõe que "presumem-se concebidos no COII:1t!1I1

pais, netos dos avós); não há limite de parentesco. cia do casamento os filhos: I - nascidos 180 (cento e oitenta) dias, pelo monOH, dopnh.1
de estabelecida a convivência conjugal; 11 - nascidos nos 300 (trezentos) dias ~"J\)8l)
Linha colateral - é o parentesco existente entre os indivíduos que, mesmo sem
qüentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nullclAclo ()
descenderem uns dos outros, têm um ascendente comum. (ex.: dois irmãos, sendo
anulação de casamento; 111 - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo quo
filhos dos mesmos pais são parentes em linha colateral); há limite de parentesco até o
falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões exco·
quarto grau.
dentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminaç{)o
GRAUSDEPARENTESCO:
artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido".
É o número de gerações que separam os parentes, sendo assim, cada geração
Ação negatória de paternidade
corresponde a um grau de parentesco. PARACADAGERAÇÃO
CONTA-SE
UMGRAU.
A presunção de paternidade do marido no caso de filho gerado por mulher casado
· Contagem do parentesco em linha reta - são contados na linha reta os grau*!
(pater is est quem justae nuptiae demonstrant) é relativa, podendo ser elidida pelo marido
de parentesco pelo número de gerações.
modiante ação negatória (ou de contestação) de paternidade, que é imprescritível.
· Contagem do parentesco em linha colateral - são contados pelo número do
Ação de flliação legítima
gerações subindo, porém de um dos parentes até ao ascendente comum e descondo,
A ação quo iJulICfI IO'Jlllmar a [iliação é personalíssima do filho, somente podon·
depois, até encontrar o outro parente.
do Bar propostn polol1l II(jrrlulros no o filho morrer menor ou incapaz. Dopois do iniciado

126 '2'(
IIf1li "'fI li' 11//1'" I, • IVII
Anamaria prates ---------------------------

Antes do Código Civil de 2002, a doutrina distinglJln dolll 111'1111 dI! 1111111.1111 I IvlI
ação, se o filho indigitado vier a falecer, seus herdeiros poderão continuá-Ia, se não tiver
ou restrita (a do Código Civil de 1916, que não integrava 10101111011111111111111111 11 11111111111)
sido julgado extinto o processo.
e a estatutária ou plena (a do Estatuto da Criança e do Adolescolllu). I 11111~1r111111, II IIIIVII
Reconhecimento dos filhos
Código Civil não traz qualquer restrição quanto à pessoa do adolnllll), 11fi 11 11111111111111111
O reconhecimento dos filhos pode ser voluntário, denominado perfilhação, ou
mais se falar em adoção restrita.
coativo, denominado de reconhecimento forçado ou judicial, que se dá por meio da
• Não há mais a adoção por escritura pública prevista no Código Civil (!tI I 'li (I.
ação de investigação de paternidade.
Características da adoção no novo Código Civil:
O art. 1609 do Código Civil trata do reconhecimento voluntário dispondo que o
- idade mínima de 18 anos (entretanto, poderá a mesma ser formalizada por DII\IJ():~
reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: a) no
os cônjuges ou companheiros, se pelo menos um deles completou 18 anos de idado);
registro de nascimento; b) por escritura pública ou escrito particular a ser arquivado em
cartório; c) por testamento, ainda que a manifestação seja incidental; d) por manifesta- - diferença de idade mínima de 16 anos entre o adotante e o adotado;

ção direta e expressa perante o juiz ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto - se o adotante contar com mais de 12 anos, a adoção fica condicionada ao
único e principal do ato que o contém. O reconhecimento não pode ser revogado, mes- consentimento deste; se menor de 12 anos, fica condicionado ao consentimento dos
mo quando feito em testamento (art. 1610). pais ou representantes legais, salvo se os pais forem desconhecidos ou tenham sido

Qualquer condição ou termo opostos ao ato de reconhecimento são ineficazes. destituídos do poder familiar ou no caso de menor exposto ou de órfão não reclamado

Admite-se, também, o reconhecimento póstumo, isto é, após a morte do filho, entretan· por qualquer parente por mais de um ano (tal consentimento pode ser revogado até a

to, tal reconhecimento poderá trazer benefícios apenas para o filho reconhecido, não publicação da sentença constitutiva da adoção);

podendo o pai se beneficiar com tal ato (como, por exemplo, com herança). - só se admite a adoção por duas pessoas se forem marido e mulher ou se con-
O filho maior somente pode ser reconhecido com seu consentimento. viverem em união estável;

Ação de investigação de paternidade e de maternidade - reconheci- - os divorciados ou separados judicialmente poderão adotar, desde que dispo-

mento judicial nham quanto à guarda do adotando e o estágio de convivência tenha iniciado durante
a convivência marital;
Tal ação é declaratória e imprescritível, sendo que tem efeitos ex tunc. A legitimi-
dade de tal ação é do filho; se menor, deverá ser representado ou assistido pela mãe. - os efeitos da adoção começam do trânsito em julgado da sentença, salvo se o
A Lei n.º 8560/92 admite a possibilidade do Ministério Público interpor a presente ação, adotante vier a falecer no decorrer do processo, caso em que terá força retroativa à data
desde que tenha elementos suficientes. do óbito (art. 1628 do Código Civil);

O pólo passivo da ação será o suposto pai; se já for falecido, a ação poderá ser - a competência para a adoção de menores é da Vara da Infância e Juventude e
intentada contra os herdeiros, sendo que qualquer pessoa, que tenha justo interesse, a de maiores é da Vara de Família.

pode contestar a ação de investigação de paternidade (art. 1615).


A ação de petição de herança prescreve em 10 anos, a contar do momento em 9.1.2.4. Poder familiar
que foi reconhecida a paternidade. A atual expressão poder familiar refere-se ao antigo pátrio poder, em atendimento ao
Poderá, também, o filho se valer da presente ação com a finalidade de ter reco- princípio da igualdade constitucional entre homem e mulher, sendo que tal poder deve ser
nhecida a maternidade. atribuído a ambos os pais, durante o casamento ou na constância da união estável, só as-
sumindo um co.m exclusividade na ausência do outro. E, nesse caso, havendo divergência
entre os pais, poderá qualquer um deles recorrer ao juiz para solução do desacordo.
9.1.2.3. Adoção
Não há perda do poder familiar por alguns dos pais em razão da separação ou
A adoção, também chamada de filiação civil, é um ato bilateral que gera laços cio
do divórcio.
paternidade e filiação entre pessoas para as quais tal relação inexiste naturalmente.

129
128
ROTEIRO DE DIREITO CIVIl.
Anamaria Prates

• Grande parte da doutrina e da jurisprudência tem entendido que cessa a comu-


Usufruto e administração dos bens dos filhos menores
nhão de bens com a separação de fato
Como os filhos menores não têm capacidade plena para administrar seus bens,
Regras gerais a todos os regimes de bens:
tal encargo compete a seus genitores, que são considerados administradores naturais e
usufrutuários legais dos bens dos filhos menores, salvo disposição em contrário. Tal admi-
I. Qualquer que seja o regime de bens podem tanto o marido quando a mulher
livremente (art. 1642 do Código Civil):
nistração não importa poderes de alienação ou de constituição de ônus real dos imóveis,
salvo autorização judicial em caso de evidente interesse da prole. Se houver colidência dos a. praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao de-
.1
i interesses do menor com de seus pais, ser-Ihes-á nomeado um curador especial. sempenho de sua profissão, desde que não importe em alienação ou gravação de ônus

Estão excluídos da administração e usufruto dos pais (art. 1693): a. bens havidos real sobre bens imóveis; b. administrar os bens próprios; c. desobrigar ou reivindicar
os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem
pelo filho havido fora do casamento, antes do reconhecimento; b. valores auferid~s
suprimento judicial; d. demandar a rescisão de contratos de fiança e doação, ou a inva-
pelo filho maior de 16 anos, no exercício de atividade profissional e os bens com tais
lidação do aval, realizados pelo outro cônjuge sem o seu consentimento; e. reivindicar
recursos adquiridos; c. bens deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem
os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao con-
usufruídos, ou administrados, pelos pais; d. bens que aos filhos couberem na herança,
cubino, desde que provado que os bens foram adquiridos pelo esforço comum destes,
quando os pais forem excluídos da sucessão.
,. anos; 1. praticar todos os atos que não
se o casal estiver separado de fato por mais de 15
Extinção do poder familiar: 1. morte dos pais ou do filho; 2. emancipação; 3.
lhe sejam vedados expressamente. IJ
maioridade; 4. adoção; 5. decisão judicial.
11.Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro (art. 1643
Perda do poder familiar
do Código Civil):
Ocorrerá por decisão judicial quando: a. castigar imoderadamente o filho; b. dei·
a. comprar, mesmo que a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
xar o filho em abandono; c. praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; d.
b. obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.
incidir, reiteradamente, nas faltas aos deveres inerentes ao poder familiar. Também acar-
111.Nenhum dos cônjuges sem autorização do outro, exceto no regime de separa-
reta a perda do poder familiar a prática de crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão,
cometidos contra filho (artigo 92, 11do Código Penal, que estabelece a perda do poder
ção absoluta de bens, pode (art. 1647 do Código Civil):

familiar como um dos efeitos da condenação). a. alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; b. pleitear, como autor ou réu, acerca
desses bens ou direitos; c. prestar fiança ou aval; d. fazer doação, não sendo remuneratória, de
A perda do poder familiar é permanente, imperativa, abrangendo toda a prole.
bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação (são válidas as doações antenupciais
Suspensão do poder familiar
feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada).
Quando o pai ou a mãe abusam da autoridade, faltam aos deveres a eles ineren
tes ou arruinam os bens do filho, poderá ser decretada a suspensão do poder familiar. Pacto antenupcial
Também poderá ocorrer quando o pai ou a mãe forem condenados por sentença irro Será nulo o pacto antenupcial se não for celebrado por escritura pública. Tal
corrível, em virtude de crime cuja pena exceda a 2(dois) anos. A suspensão do podo! nulidade será em razão da não obediência de forma prescrita em lei, podendo ser de-
familiar é facultativa e temporária. clarada de ofício pelo juiz. Será ineficaz o pacto antenupcial enquanto não celebrado o
casamento. Sendo o pacto realizado por menor, sua eficácia fica condicionada à apro-

9.2. DIREITO PATRIMONIAL vação de seu representante legal. Sendo nulo o pacto, vigorará o regime de comunhão
parcial de bens.
9.2.1. Regime de bens entre os cônjuges
São quatro os regimes que vêm consagrados pelo novo Código Civil: 1. Comu-
. É o complexo de normas que disciplina as relações econômicas entre os cônJl1
nllão parcial de bens (arts. 1658 a 1666); 2. Comunhão universal de bens (arts. 1667
ges, durante o matrimônio. O novo Código Civil vem estabelecendo a possibilidade cio C)
ri 1671); 3. Pnrliclpf\çflo linnl nos élqLiestos (arls. 1672 a 1686) e 4. Separação de bens
regime de bens ser mudado, mediante autorização judicial, através de pedido motlvmlo
(flrts.1687 01 miO).
por ambos os cônjuges, ressalvando-se direitos de terceiros.

, :1'1
130
Anamaria Prates ----------------------------
------------------------ ROTEIRO DE DIREITO CIVil

I. REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS


suspensiva; 3. dívidas anteriores ao casamento, salvo as contraídas com preparnllvubI
É, em regra, o regime utilizado, salvo interesse dos cônjuges em contrário. Co-
do casamento (aprestos) e as que reverterem em proveito comum; 4. doações anlOl1llp
municação (art. 1660 do Código Civil): a. dos bens adquiridos na constância do ca- ciais feitas por um cônjuge a outro, com cláusula de incomunicabilidade; 5. bens do l/dI()
samento por título oneroso, mesmo que em nome só de um dos cônjuges; b. dos bens pessoal, livros e instrumentos de profissão; 6. proventos de trabalho pessoal do CFHIII

adquiridos por fato eventual, com ou sem concurso de trabalho ou despesa anterior; c. cônjuge; 7. pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
dos bens adquiridos por dação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; d.
benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; e. frutos dos bens comuns, ou dos
111. REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQÜESTOS
particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes
ao temp~ de cessar a comunhão. Regime de natureza híbrida, sendo que durante o casamento aplicam-se nL\ III
gras da separação total e quando da dissolução, as da comunhão parcial. Cada CÓI1JlI~l"
Exclusão da comunhão (arts. 1659 e 1661 do Código Civil):
possui patrimônio próprio cabendo-lhe "à época da dissolução da sociedade conjll"~II,
1. bens anteriores ao casamento e os que adquiridos por doação ou sucessão e
direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constânclfl rll)
os sub-rogados em seu lugar; 2. bens que substituem os bens particulares, também se
casamento" (art. 1672). O direito à meação não pode ser renunciado, cedido ou P()/JIH)
excluem da comunhão, devendo, entretanto, o cônjuge ressalvar tal sub-rogação no tí- rado na vigência do regime matrimonial (art. 1682).
tulo aquisitivo, provando que, realmente, um bem está substituindo outro; 3. obrigações
Faz parte do patrimônio pessoal de cada cônjuge os bens adquiridos anlOH (111
anteriores ao casamento - dívidas contraídas antes do casamento, mesmo que para os
casamento e os adquiridos no decorrer, a título gratuito ou oneroso. Cabe a cndPI 1111 I
aprestos; 4 .. obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo se reverteram em proveito
dos cônjuges administrar seu patrimônio, podendo dispor dos bens móveis (a dlapo&lll
do casal; 5. bens de uso pessoal, livros e instrumentos de profissão; 6. proventos de
ção dos bens imóveis depende de autorização do outro).
trabalho pessoal de cada cônjuge; 7. pensões, meios-soldos, montepios e outras ren-
das semelhantes; 8. bens cuja aquisição tiver uma causa anterior ao casamento (Ex.: • Presumem-se adquiridos na constância do casamento os bens móvo/s, lu/IV( I
prova em contrário.
prêmio de loteria sorteado antes do casamento em que a quantia somente foi paga após
o casamento). • As coisas móveis, em relação a terceiros, presumem-se de proprlor/r/(Ir/ tio
cônjuge devedor salvo se o bem for de uso pessoal do outro (art. 1680)
• Presumem-se adquiridos na constância do casamento os bens móveis, quando
não ficar provado que o foram em data anterior. Quando da dissolução da sociedade conjugal será apurado o rnonlrHII(1 do,
aqüestos, sendo excluído da soma dos patrimônios próprios: 1. bens anterior!)!! ~II)I 11

11. REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS samento e os que se sub-rogaram em seu lugar; 2. bens que sobrevieram a CP\cll1 cl'lllllll
ge por sucessão ou liberalidade; 3. as dívidas relativas a tais bens (art. 16711).
Comunicação dos bens adquiridos antes e durante o casamento, bem como as
O cálculo será feito tendo por base a data em que cessou a convlvÓncll1 (IHI,
dívidas passivas.
1683). Se não for possível a divisão dos bens em natureza, pode ser calculado o vrilol
Exclusão da comunhão (art. 1668 do Código Civil):
que compete a cada um dos cônjuges, autorizando o juiz, se necessário, a vonclPI cio
1. os bens doados ou legados com cláusula de incomunicabilidade, bem como
bens do patrimônio próprio do cônjuge para integralizar a meação do outro (ar!. HIOI1) ,
os que substituem tais bens, incomunicáveis; tal incomunicabilidade não se restringe aos Características:
frutos percebidos no decorrer do casamento, salvo disposição expressa quanto à inco-
- doações não poderão ser feitas por um dos cônjuges sem o consentimonto do
municabilidade dos frutos, também; 2. os bens gravados de fideicomisso (substituição
outro, sob pena de ao ser determinado o montante dos aqüestos, quando da dissohlçfto
testamentária em que os bens permanecem condicionalmente com o fiduciário, que os
da sociedade conjugal, o cônjuge prejudicado ou seus herdeiros poder reivindicó-Io ()II
passará para seu substituto, o fideicomissário), não podendo haver a comunicabilidade
o valor da doação poder ser computado no monte partível (art. 1675);
em relação ao fiduciário para que possa cumprir o estabelecido no fideicomisso e será
também incomunicável o direito do fideicomissário, enquanto não se realizar a condição - o vnlor rlOH bons nllonados em detrimento de uma futura meação incorporfll1 HltJ
ao monlo pflr~1olIJIII) lilJ lilvl@flo (mt. 1676);

132
~-------------------------------------~----------------------------- .. _c .
Anamaria Prates ---------------------------- ----------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

- as dívidas contraídas no decorrer do casamento presumem-se do cônjuge que alimentar transmite-se aos herdeiros do devedor; 3. divisível - a obrigação alimenllll
as contraiu, salvo prova de terem revertido em benefício do outro. Há aqui uma inversão é divisível entre os vários parentes, que poderão contribuir cada um com uma cota nn
de presunção em relação aos outros regimes (art. 1677); proporção de suas condições econômicas; 4. impenhorável - não podem os alimenlO~l
ser penhorados ou cedidos (art. 1707). A impenhorabilidade não atinge os frutos; !.\.
- quando da dissolução do casamento deverá ser feito um balanço contábil e
financeiro, devendo ser contabilizado o pagamento de dívida que um dos cônjuges incessível - não podem os alimentos ser cedidos (art. 1707); 6. incompensável - n(w

tenha feito do outro com bens de seu patrimônio (art. 1678), sendo que as dívidas de se admite a compensação com outros créditos (arts. 373, 11e 1.707); 7. irrenunclávol

um dos cônjuges, quando superiores à sua me ação não obrigam ao outro, ou a seus - pode o credor não exercer o direito a alimentos, entretanto, não pode renunciar; B. 1m-
prescritível - o direito de pedir alimentos não prescreve, mas uma vez fixados, o dirolto
herdeiros (art. 1686);
de cobrar a pensão prescreve em dois anos, a partir da data em que vencerem as pro8
- em sendo os bens adquiridos por trabalho conjunto dos cônjuges, terá cada um
tações (art. 206, §2º); 9. intransacionável - não pode ser objeto de transação, por BOI
uma quota igual no condomínio ou no crédito por aquele modo estabelecido (art. 1679);
indisponível e personalíssimo (art. 841); 10. irrepetível - uma vez pagos não podem ~I(JI
- os bens imóveis são de propriedade do cônjuge cujo nome constar no registro;
restituídos, mesmo que o devedor venha a ser declarado que não é pai do credor; 1'1.
sendo impugnada a titularidade, deverá o cônjuge proprietário provar a aquisição regu-
variável e periódica - a prestação alimentícia pode variar de acordo com as alteraçOol~
lar dos bens (art. 1680). nas condições do devedor e necessidades do credor.

Sujeitos da obrigação alimentar


IV. REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS
Primeiramente são chamados os parentes mais próximos, não podendo estes pnm
OS bens continuam distintamente no patrimônio de cada um dos cônjuges. Pode ser: tar alimentos os mais remotos são chamados. Assim, o avô somente será acionado SI) ()
-legal: nas situações em que a lei obriga a adoção do regime de separação de bens; pai não puder prestar alimentos. Desta forma dispõe o art. 1698: "Se o parente, que c/uvo

- convencional: as partes, mediante pacto antenupcial estipulam o regime, não alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, ::(J

rão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a pro::;(lIr
havendo comunicação de nenhum tipo de bem, sendo que cada um responde por suas
alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e intentacfll açfj()
dívidas. Salvo disposição em sentido contrário no pacto antenupcial, os cônjuges con-
contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide".
tribuíram para as despesas do casal na proporção de seus rendimentos e de seus bens.
Podem os cônjuges, livremente, alienar ou gravar de ônus real os seus bens, sem que • O dever de sustento é encargp exclusivo dos pais, diferentemente da o/Jrlw,çA()
haja o necessário consentimento do outro cônjuge. alimentar que pode pesar sobre outros parentes.

Na linha colateral somente os irmãos têm obrigação alimentar, e apenas, om hflVIJII

9.2.2. ALIMENTOS
do impossibilidade dos ascendentes e descendentes. Podem, assim, os irmãos aclomH"~1()
reciprocamente. Os outros colaterais (tios, sobrinhos, primos) não têm obrigação do pro~I~lr
Os alimentos podem ser divididos em: a. alimentos naturais ou necessários -
alimentos, mesmo na ausência de possibilidade dos irmãos do credor.
compreendem apenas o necessário para sobrevivência e b. alimentos civis ou côngruos
Os filhos maiores podem pedir alimentos. Entretanto, tal obrigação não será do·
- satisfação de outras necessidades do alimentando. O §1º do art. 1694 trata dos alimen-
corrente do poder familiar e sim da relação de parentesco.
tos côngruos ao dispor que "os alimentos devem ser fixados na proporção das necessi·
dades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada" e o § 2º do art. 1694 refere-se
aos alimentos necessários sendo que "os alimentos serão apenas os indispensáveis, à Súmula 277 do ST J - Julgada procedente a investigação de paternidade, os ali·
subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia ". mentos são devidos a partir da citação.
Características dos alimentos:

1. personalíssimo - é um direito pessoal, não podendo ser transferido para ou- Alimentos docorrontes de casamento ou união estável:
tro credor; 2. transmissível - o art. 1700 do Código Civil atual dispõe que a obrigação
O cÔl1ll1~J():\(.111'1111(10 jlleJlclalmente tem direito a alimentos, mesmo quo sola o

134
Anamaria Prates
ROTEIRO DE DIREITO CIVil

cônjuge culpado, desde que não tenha outros parentes em condições de prestá-Ios,
Têm os companheiros direito a alimentos, da mesma forma que os cônjll~IIII:I,
nem aptidão para o trabalho. Tal valor deve referir-se apenas ao indispensável à sobre-
sendo que no que concerne à partilha de bens a contribuição é presumida, aplicaneln 80
vivência (alimentos naturais ou necessários). à união estável as características do regime de comunhão parcial de bens, salvo ostl
O cônjuge inocente, sem condições de se manter, tem direito a pedir alimentos tendo pulação contratual em contrário. Os conviventes têm como deveres lealdade, respollo I)
como base os critérios do art. 1694, ou seja, alimentos civis ou côngruos. assistência, guarda, sustento e educação dos filhos.

8úmula 336 do 8T J -A mulher que renunciou aos alimentos na separação judi- 9.4. TUTELA (CC, arts. 1728 a 1766) e CURA TELA (CC, arts. 1767 a 1783).
TUTELA
cial tem direito à pensão previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a necessi-
dade econômica superveniente. É o encargo conferido a alguém para que dirija a pessoa e administre os bens <10
menor que se encontre ao desabrigo do poder familiar. O tutor será obrigado a exorclJ/

9.2.3. BEM DE FAMíLIA


a tutela por dois anos, pOdendo ir além desse prazo, se o juiz julgar conveniente.
Pode ser:
Os cônjuges podem, mediante escritura pública ou testamento, destinar até 1/3
- testamentária: quando a nomeação do tutor constar de testamento (arts. 1/:"1
do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, como bem de família. A impe- e 1730);
nhorabilidade do bem de família voluntário será regida pela Lei 8009/90. Poderá abran-
ger os bens móveis, desde que não ultrapassem o valor do bem imóvel. Ficará o bem
- legítima: na falta de tutor testamentário, poderão ser tutores, os colatornilJ IlltI
isento de execução de dívidas posteriores à sua instituição, a não ser as decorrentes de o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo gIFll/, I)"
mais velhos aos mais moços;
tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio. Em havendo execução por
- dativa: é a exercida por um terceiro, estranho à relação parentesca na lallFI (lu
algumas das dívidas permitidas, o saldo será aplicado em outro prédio, como bem de
tutor testamentário ou legítimo ou estes se forem excluídos ou escusados da tutolrl 01/
família, ou em títulos de dívida pública, para sustento familiar.
se removidos por não idôneos; tal nomeação tem caráter subsidiário.

Requisitos: menoridade e retração do poder familiar (os pais do menor tÔIII qllll
8úmula 205 do 8T J - A Lei 8.009/90 aplica-se à penhora realizada antes de ter sido destituídos ou estejam suspensos do poder familiar)
sua vigência.
Cessação: maioridade, emancipação, caindo o menor sob poder familifll (1(j~lltI
• A vantagem da instituição do bem de família voluntário é que a impenhorabilida- mação, reconhecimento ou adoção). 8e o tutor for negligente, prevaricador ou docl'"'1
de recairá sobre o bem instituído, independente do valor. Se não houver a instituição, a do incapaz, será destituído da tutela.
impenhorabilidade recairá sobre o bem de menor valor.

CURATELA

9.3. UNIÃO ESTÁVEL


É o encargo conferido a alguém para que dirija a pessoa e administre os bUlIs
As Leis n.ºs 8.971/94 e 9.278/96 estabelecem requisitos para a configuração de maior incapaz.
da união estável. A Lei n. 8.971/94 foi derrogada (revogada parcialmente) pela Lei n.
9.278/96, apenas nos pontos que se tornou com esta incompatível (conceituação de Pessoas sujeitas à curatela (arts. 1767, 1779, 1780):
união estável, período de convivência, alimentos e meação). 1. pessoas que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
O Código Civil atual dispõe em seu art. 1723: "É reconhecida como entidade discernimento para os atos da vida civil; 2. os excepcionais sem completo desenvolvi-
familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, mento mental; 3. os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família ". 4. aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; 5. os
Há possibilidade de constituição da união estável da pessoa casada que se achar sepa· pródigos - no coso da interdição do pródigo, o mesmo somente será privodo de, som
.rada de fato, o que não era proclamado pelas leis anteriores. Aplicam-se à união estável os mes· curador, ornproHIM, Irrll 1~11~llr,
efm quitação, olienar, hipotecar, demandm ou sol' dornnn-
mos impedimentos do casamento, salvo no caso de pessoa casada, mas separada do fato.
dodo, o pl'fltlorll, 11/1111111111, (JIJI filou ql/o m'\o sojnrn do moro ncJrninistrnçflo (ml. 1782): 6.

136
_______________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVil
Anamaria Prates

nascituro, em falecendo o pai, estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar 10. Direito dAS sucessões
(se a mulher estiver interdita, seu curador será o do nascituro); 7. enfermo ou portador 10.1. SUCESSÃO EM GERAL
de deficiência física, a requerimento destes, ou, na impossibilidade de fazê-Io, de qual-
Sucessão é o ato de substituir alguém na relação jurídica. Pode ser inter vivos (doélçfH))
quer das pessoas que podem requerer a interdição, para que possam cuidar de seus ou causa mortis. Pode ser, ainda, a título universal (quando se adquire a integrallcJrlllll
bens ou negócios.
de um patrimônio ou fração ideal dele) e a título singular (quando se adquire uma cohul
Quem pode requerer (arts. 1768 e 1769): especificado ou individualizada - legado). A sucessão e a legitimidade para sucoclur I'
1. pais ou tutores; regida pela lei vigente ao tempo da abertura da sucessão.

2. cônjuge ou por qualquer parente; • Sucessão X Herança X Legado

3. Ministério Público, que somente poderá promovê-Ia: a. em caso de doença mental - Herança é o patrimônio de uma pessoa falecida, que se transmite aos quu /1111

grave; b. se não for requerida pelas pessoas anteriores, por inexistirem ou por serem inca- sucederem; é uma universalidade;
pazes. Quando for requerida pelo Ministério Público o juiz nomeará defensor ao suposto - Legado é um bem determinado do monte hereditário deixado a um leglllállo: t'I

incapaz; se for requerida por outra pessoa, será o Ministério Público o defensor. decorrente de testamento (só existe legado se houver testamento).

10.1.1. Herança e sua administração


- até a partilha, a posse e propriedade da herança são indivisíveis, senelo 11J~lldrl.
pelas normas do condomínio.
Cessão de direitos hereditários

- pode o direito à sucessão aberta ser objeto de cessão, desde que PC)! IIfll dIIJl~'

pública, pois trata-se de bem imóvel;

- pode ocorrer tanto a cessão do direito à sucessão aberta, corno n ClJlllflfilJ 11(1
quinhão hereditário;

- o co-herdeiro somente poderá ceder a sua quota se der conhecimento 111 Óvlo rI( 11'\

outros co-herdeiros para que possam exercer o direito de preferência, caso ntl() lJ Itl(~tl,
poderá o co-herdeiro requerer para si a quota alienada a estranho, mediante cJopó9it<)(IcI
preço, no prazo de 180 dias após a transmissão;

- havendo vários co-herdeiros que queiram exercer a preferência, será o qulnl1flP


dividido proporcionalmente às quotas hereditárias;

- os direitos conferidos ao herdeiro em decorrência de substituição ou de dlrolto (lu


acrescer presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente (art. 1793 §3Q):

- enquanto pender a indivisibilidade somente pode haver disposição de detennlrltlclo


bem do monte, mediante autorização judicial, sob pena de ineficácia.

10.1.2. Vocação hereditária


Hordolro: lIur loflcll,,'ln cln sucessão a título universal, ou seja, é nquolo quu lU

138
Anamaria Prates ---------------------------- ________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

cebe a totalidade do patrimônio do de cujus ou uma fração determinada do mesmo, É o direito imediato que os herdeiros têm de entrar na posse dos bens do de
abrangendo tanto o ativo como o passivo. cujus, sendo que o patrimônio do de cujus não fica sem titular, tendo os herdeiros le-

Legatário: beneficiário da sucessão a título singular, ou seja, o sucessor recebe gitimidade para a proteção interdita/. A posse e o dominio do patrimônio do de cujus

não o patrimônio inteiro, nem mesmo uma cota específica deste, mas apenas um bem transmitem-se imediatamente aos herdeiros legítimos e testamentários.

específico e determinado. • Aberta a sucessão, poderá o herdeiro alienar, ceder seus direitos hereditários, antes
Sucessão universal: todos os bens do sucedido se integram no patrimônio mesmo da abertura da inventário - cessão da herança ou cessão de direitos hereditários
do sucessor. ACEITAÇÃO

Sucessão numa universalidade: transferência de determinados direitos e deve- - Pode ser:


res vinculados uns aos outros, constituindo uma certa unidade orgânica.
· expressa - declara expressamente, por escrito, que aceita a herança (art. 1805,
Legítima ou quota de reserva: pertence aos descendentes, e, em sua falta, aos primeira parte);
ascendentes, importando na metade dos bens do testador. · tácita - age como agiria quem aceitou receber a herança; atos próprios da qua·
Sucessão legítima ou ab intestato: decorre de normas legais; se a pessoa vier lidade de herdeiro (art. 1805, segunda parte), como os atos oficiosos, como o funeral do
a falecer sem deixar testamento, ou não compreendendo todos os bens ou se o testa- finado; os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória.
mento caducar ou for declarado nulo, a herança transmite aos herdeiros .
• A cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais co-herdeiros não
Sucessão testamentária: decorre de vontade do de cujus; havendo herdeiros exprimem aceitação da herança. É a mesma equiparada à renúncia.
necessários o testador somente pode dispor da metade da herança. · presumida - não se pronunciando o herdeiro, será provocado judicialmente, 20
Capacidade para suceder: aptidão genérica para adquirir os bens deixados dias após a abertura da sucessão, para que aceite dentro de um prazo não superior a
pelo de cujus. A capacidade para suceder, no testamento, é auferida quando da morte 30 dias; não o fazendo ter-se-á por aceita (GG, art. 1.807).
e não quando da feitura do testamento. - é um negócio jurídico unilateral, incondicional (art. 1808);
- Requisitos da capacidade para suceder: 1º. quando da abertura da suces- - princípio da indivisibilidade: não pode-se aceitar apenas parte (art. 1808);
são o herdeiro deve estar vivo, ou concebido; 2º. legitimação (aptidão específica) para
- podem os credores aceitar a herança no lugar do herdeiro renunciante, mo-
aquela herança (ex.: os ascendentes só têm legitimação para suceder se não houver
diante autorização judicial, no prazo de 30 dias a contar do conhecimento do fato,
descendentes); 3º. não ser indigno (tanto o herdeiro como o legatário podem ser indig-
sendo que pagas as dívidas, o valor remanescente será devolvido aos demais hor-
nos - vide item 10.1 .4 abaixo).
deiros (art. 1813);
- Testamento: a. podem suceder pessoas jurídicas existentes quando da morte
- é irrevogável (sernel heres semper heres - uma vez herdeiro, sempre herdeiro),
ou aquelas instituídas pelo próprio testamento sob forma de fundação; b. filhos, ainda
podendo ser anulada pelos vícios dos atos jurídicos em geral, com exceção da frauclo
não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que estas estejam vivas ao
contra credores, em que os credores não podem impugnar a aceitação pois Ihes será
abrir-se a sucessão (art. 1799), sendo que nessa hipótese os bens serão confiados a
favorável, podendo, entretanto, impugnar a renúncia, por Ihes prejudicar (art. 1812);
um curador. Se 02 anos após a abertura da sucessão, o herdeiro esperado pelo testador
não for concebido, os bens reservados a ele caberão aos herdeiros necessários, salvo - se o herdeiro falecer antes da aceitação, o direito de aceitar é transmitido aos
herdeiros do herdeiro, que poderão aceitar ou renunciar à herança, desde que concor-
disposição expressa em sentido contrário.
dem em receber a segunda herança;

- benefício do inventário - a aceitação das dívidas do de cujus vão até o limite da


10.1.3. Aceitação e renúncia da herança
força da herança (íntra vires hereditas).
Transmissão da herança:

• Adoção do principio da saisine (GG, art. 1.784):


- SOIlI()III~ pnilllltlUI (~xplll"!lrl(rHlCIItIlr/\ pt'Jblica ou termo judicial);

140 /11/
Anamaria Prates ---------------------------- ROTEIRO DE DIREITO CIVil.

• Renúncia em favor de determinada pessoa não é renúncia e sim ato de cessão • efeitos da sentença: ex tunc (os descendentes do indigno sucedem como :~tI
de herança ou doação. morto ele fosse); deve devolver todos os frutos da herança; os atos de disposição aLi di I

- exige-se a outorga do cônjuge pois todos os bens da herança são bens imóveis alienação praticados pelo indigno antes da sentença são válidos, tendo aqui efeito uX

nunc, entretanto os co-herdeiros podem reclamar perdas e danos do indigno;


por acessão por disposição legal;
- o credor do herdeiro renunciante tem o direito de aceitar a herança por ele até o - o excluído por indignidade não tem direito ao usufruto ou à administração dos 1)0111.1

montante de seu crédito, dependendo de autorização judicial; se houver alguma oposi- herdados pelos seus sucessores e nem eventual sucessão desses bens (não poderá SlICO.
der seus filhos, quanto aos bens que estes sucederam em razão da indignidade);
ção, a questão deverá ser resolvida em ação própria, por ser questão de alta indagação,
não sendo permitida a discussão em inventário; - o indigno pode ser perdoado em vida pelo de cujus, através de ato autêntico Oll
- Pode ser: testamento (reabilitação);

· abdicativa: é a renúncia autêntica, ou seja, cessão gratuita e simples (CC, art. - Hipóteses taxativas de indignidade: 1) autoria, co-autoria ou participnç~lI)

1805 §2º), é a renúncia propriamente dita (haverá apenas o pagamento do imposto em homicídio tentado ou consumado contra o autor da herança, seu cônjuge, cornpn

causa mortis); nheiro, ascendente ou descendente; 2) acusação caluniosa ou prática de crime conll ti
a honra, contra o autor da herança, seu cônjuge ou seu companheiro; 3) inibiçflo. 111(1
· translativa: é a aceitação e posterior renúncia; quando o herdeiro cede seu qui-
diante meios fraudulentos ou violência, do autor da herança para que não dispLJ:IOt~"(J
nhão em favor de certa pessoa individualizada (haverá dupla tributação: causa mortis
livremente dos seus bens por ato de última vontade.
e inter vivos). Alguns doutrinadores entendem que essa hipótese não configura uma
• Indignidade X Deserdação - a deserdação somente pode ocorrer na suco:wlíll
renúncia propriamente dita, pois o herdeiro está realizando dois negócios: aceitação
tácita da herança e, posteriormente, doação; testamentária, dependendo de expressa declaração da causa, no testamento. AlóII' (/11'

causas da indignidade, que também autorizam a deserdação, são acrescentados (1.'1 111/
- quem renuncia deixa de ser herdeiro ex tunc, isto é, desde a abertura da sucessão;
guintes causas:
- o incapaz somente pode renunciar mediante autorização judicial sendo que a
1. descendentes em relação aos ascendentes: ofensas físicas; injúrin U""V(~" IrI
incapacidade absoluta torna nula a renúncia e a relativa, anulável;
lações ilícitas com a madrasta, ou o padrasto; desamparo do ascendente 0111 rrl/OnllQ(1I1
- o herdeiro renunciante não tem a condição de herdeiro e é considerado como
mental ou grave enfermidade.
se nunca tivesse existido e por fim não existe representação de herdeiro renunciante na
2. ascendentes em relação aos descendentes: ofensas físicas; InJlírin "'r/V/I, 1m
sucessão legítima, sendo assim, a parte do renunciante acresce a dos demais herdeiros
lações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou COIIIO ""'1'/(/0 0/1
da mesma classe e se o renunciante for o único herdeiro, a herança irá para os herdeiros
companheiro da filha ou o da neta; desamparo do filho ou neto com dollclÔIIG/" IIlIwlitl
da classe subseqüente;
ou grave enfermidade.
- quanto aos efeitos da renúncia, vide exemplos no tópico sucessão legítima.
A deserdação somente atinge os herdeiros necessários, enquanto nlllcl/íJlllr/mlll
pode atingir todos os sucessores e legatários.
10.1.4. Excluídos da sucessão
Ao herdeiro instituído ou àquele a quem aproveite a deserdação cabo () t)'III~
Conforme já visto anteriormente, para que a pessoa tenha capacidade para suce- da prova da veracidade da causa alegada pelo testador. O direito de provar a CEIIISf, IlfI
der deve preencher três requisitos: a. estar viva; b. ter legitimação e c. não ser indigna. deserdação extingue-se no prazo de 4 (quatro) anos, a contar da data da abar/um 110

Indignidade: testamento (art. 1965).

- para que seja declarada a indignidade, há necessidade da propositura de uma


ação (prazo decadencial de 04 anos), estando a legitimidade limitada às pessoas be- 10.1.5. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
neficiárias com a exclusão do indigno, somente após a abertura da sucessão (morte do
Herança jacente é aquela em que se desconhece quais são os herdolros ou
autor da herança), sendo com a sentença que o indigno estará excluído da sucessão;
quando os herdeiros conhecidos renunciaram, sem que haja outros para subslltul·IOt1.

142
Anamaria Prates
1I01/!/l/O IJ/r /ll/lIiII () CIVIl.

A herança jacente torna-se vacante, quando verificada a inexistência de Ilerdal-


ros ou legatários. Decorridos 05 anos da abertura da sucessão, os bens passarão ao • DI tl(.1 NIII!NIES EM CONCORR~NCIA COM O CÔNJUGE SOBBEVIVENTE (HERDEIRO CONconnLNI~)

domínio do Município ou do Distrito Federal, se os bens estiverem localizados nas res- A rugra é que o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes.

pectivas circunscrições e ao domínio da União, quando situados em território federal. • Herança - Meação
Não concorrerá:

10.2. SUCESSÃO LEGíTIMA a. se casado com o falecido no regime de comunhão universal de bens;

Sucessão legítima é a decorrente de lei, cabendo aos herdeiros legítimos. Mister b. se casado com o falecido no regime de separação obrigatória de bens;
a conceituação de alguns institutos antes de adentrarmos na vocação hereditária, pro- c. se casado com o falecido no regime de comunhão parcial de bens.!2.Dito IOIIUU

priamente dita. o falecido deixado bens particulares.

Ordem da vocação hereditária: descendentes em concorrência com o cônjuge Concorrerá:

sobrevivente*; ascendentes em concorrência com o cônjuge sobrevivente**; cônjuge


a. se casado com o falecido no regime de comunhão parcial de bens sL1!.mdu I)
sobrevivente; colaterais. falecido deixado bens particulares; ..
Herdeiros necessários: descendentes, ascendentes e cônjuge.
b. se casado com o falecido no regime de separação convencional de borw;
Legítima: é a metade dos bens do testador, assegurada aos herdeiros necessá-
c. se casado com o falecido no regime de participação final dos aqüestos.
rios não podendo o testador dispor da mesma.

Redução das bilateral idades: ocorre quando alguém que tenha herdeiros neces-
** ASCENDENTES EM CONCORRÊNCIA COM O CÔNJUGE SOBREVIVENTE (HERDEIRO CONCORIIL:NII)
sários dispõe de mais de 50% de seu patrimônio, ultrapassando, assim, a legítima. Para
Em não deixando o falecido descendentes, herdam, concorrentemento, WII
haver redução de bilateralidade deve-se propor ação de redução. A redução das bila-
igualdade de condições ascendentes e cônjuge sobrevivente, independente do roUlrlll'
teralidades não decorre apenas de testamento, podendo ocorrer através de doações de bens adotado.
inoficiosas, quando, ainda em vida, a pessoa dispõe de mais do que poderia dispor em
testamento.
+ O cônjuge sobrevivente somente tem direito de ser herdeiro (concorrento (lU
Herdeiros legítimos: colaterais. não) se (art. 1830):

Sucessão por cabeça: quando todos os herdeiros são do mesmo grau. A cada a. não estava separado judicialmente;
herdeiro do mesmo grau corresponde uma quota igual na herança.
b. não estava separado de fato há mais de 02 anos;
Sucessão por direito próprio (jure proprio): quando o herdeiro é chamado
diretamente à sucessão. c. se separado de fato há mais de 02 anos, provar que a separação não se CIOII
por culpa sua .
• sucessão por cabeça = sucessão por direito próprio

Sucessão por estirpe: quando concorrem na sucessão descendentes que ti- 10.2.1. PARTICULARIDADES SOBRE A VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

nham com o de cujus graus de parentesco diversos. I. SUCESSÃO NA LINHA RETA DESCENDENTE:

Sucessão por representação (jure representationis): quando o herdeiro repre- - não há limitação de graus;
senta uma ascendente seu. Só há representação na linha reta descendente ad infinitum - há direito de representação
e na linha colateral somente ocorrerá em favor dos filhos de irmãos (sobrinhos) do fale-
cido, quando concorrem com irmão do falecido.
A
• sucessão por estirpe = sucessão por representação
B c D

144
145
Anamaria Prates -------------------------
_. I/Of/mIO DIf DlIIUIrO CIVIL

1. Os filhos sucedem por cabeça BOllu plU lIolllnr08 de A: 100


- sendo a, c e D vivos, cada um herdará 200.
Meaçlio de Z: 300 (V2 do patrimônio do casal)
2. Se concorrem filhos e netos do falecido, os filhos herdarão por cabeça o n"
Valor da herança: 400 = 300 (112 do patrimônio do casal) + 100 (bens particu-
netos por estirpe lares de A)
- se D é pré-morto, assim G e H herdarão por estirpe. a - 200; C - 200; G - 100 I)
Valor de a, C e D: 100 cada (400 > 4 ® 3 filhos + 1 cônjuge)
H - 100.
Valor de Z: 100 da herança + 300 da meação = 400
3. Se todos os filhos forem mortos, os netos herdarão por cabeça .
• O cônjuge sobrevivente tem direito à quinhão igual ao dos outros descenden-
- sendo a, c e D pré-mortos, a herança será dividida por quatro (são 4 netos).
tes. Mas, se o cônjuge sobrevivente for ascendente dos herdeiros, o seu quinhão não
sendo que E, F, G e H receberão cada um 150. poderá ser inferior a 1f4 da herança.
4. Em havendo renúncia, os filhos do renunciante serão chamados à sucessão Exemplo 2:
apenas em duas hipóteses: 1ª - se o renunciante for o único herdeiro; 2ª - em tendo mais
A casado com Z sob o regime de comunhão parcial de bens, tendo deixado bens
de um herdeiro todos renunciarem, ou em um renunciando os outros morrerem ou fo-
particulares, falece, deixando como herdeiros a, C, D e E filhos de A e Z.
rem declarados indignos ou deserdados. Não ocorrendo nenhuma das duas hipóteses
Patrimônio do casal: 900
a cota do renunciante volta para o monte, sendo partilhada entre os outros herdeiros
que não renunciaram. Bens particulares de A: 350

- a renunciou; C pré-morto; D herdeiro deserdado ou indigno - E, F, G e H rece- Meação de Z: 450 (112 do patrimônio do casal)
bem a herança por cabeça, recebendo cada um 150.
Valor da herança: 800 = 450 (1f2 do patrimônio do casal) + 350 (bens particulares de A)
. a renunciou; C e D aceitaram - a herança será dividida entre C e D, recebendo Como Z não pode ter valor inferior a % da herança quando concorre com filhos
cada um 300. E, herdeiro de a não poderá receber a parte de seu pai, por não haver seus, deve-se fazer a reserva de 114 para o cônjuge sobrevivente e o restante dividir entre
representação na renúncia quando se concorre com parentes de graus diferentes. os quatro herdeiros. Sendo assim:

- a renunciou; C pré-morto; D herdeiro aceitou - E não recebe a herança, pois a Valor de Z: 200 da herança (1f4 de 800) + 450 da me ação = 650
renunciou e não há representação na renúncia quando se concorre com parentes de
Monte restante para dividir entre B, C, D e E: 600 (800 valor da herança - 200
graus diferente; F recebe a herança por representação ou estirpe, por estar concorrendo quinhão do cônjuge SObrevivente)
com parente de grau mais próximo; G e H não recebem, pois D aceitou. Sendo assim,
F receberá 300 e D receberá 300 .
Valor de a, C, D e E: 150 cada (600 > 4)

• Somente será reservado Y4 para o cônjuge sobrevivente, se este concorrer com


• Na deserdação e na indignidade, o herdeiro é considerado como morto e, por-
descendentes seus e do falecido. Se concorrer apenas com descendentes do falecido
tanto, seus sucessores serão chamados para substituí-Ios por representação, diferente-
o quinhão será igual, mesmo que inferior a Y4.
mente da renúncia, em que a substituição somente ocorre quando o renunciante era o
Exemplo 3:
único herdeiro ou em havendo mais de um herdeiro todos renunciaram.

A casado com Z sob o regime de comunhão parcial de bens, tendo deixado bem;

11. SUCESSÃO NA LINHA RETA DESCENDENTE COM CÔNJUGE CONCORRENTE: particulares, falece, deixando como herdeiros F, G, H e I filhos apenas de A.
Patrimônio do casal: 800
Exemplo 1:
Bens particulares de A: 100
A casado com Z sob o regime de comunhão parcial de bens, tendo A deixado
bens particulares, falece, deixando como herdeiros a, C e D, filhos de A e Z. Meação de Z: 400 (1f2 do patrimônio do casal)

Patrimônio do casal: 600 Valor da herança: 500 = 400 (112 do patrimônio do casal) + 100 (1)111111
particulares de A)

146
't/(
------------- ~ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL
Anamaria Prates -'---------------------------

Como os filhos não são de Z e apenas de A, Z concorre em igualdade com os


herdeiros de A, sem que haja necessidade de reserva de V. da herança.

Valor de B, C, D e E: 100 cada (500 > 5 - 4 filhos + 1 cônjuge)


Valor de Z: 100 da herança (1/5 de 500) + 400 da meação = 500

/11. SUCESSÃO NA LINHA RETA ASCENDENTE:

_ não há representação na linha ascendente: o parente de grau mais. próximo


exclui o parente de grau mais remoto;
_ há divisão entre linha materna e paterna

- é ad infinitum

D E F G

B C

1. Os pais sucedem, em primeiro lugar. Se houver um dos pais vivos, os avós não
serão chamados. Os avós somente sucederão em estando ambos os pais mortos .
• sendo B e C vivos cada um herdará 300.

_ sendo B vivo e C pré-morto, B herdará a totalidade, 600.

_ D, E, F e G somente serão chamados se B ª C estiverem mortos. B e C pais de


A são pré-mortos; D e E herdarão a parte que competiria a B (300, sendo 150 para cada)
e F e G herdarão a parte que competiria a C (300, sendo 150 para cada).
2. Divisão entre linha paterna e linha materna.

_ B, C pais de A são pré-mortos; D avô paterno de A também é pré-morto; sendo


assim, E herdará a parte que competiria a B; F e G herdarão a parte que competiria a C.
E herdará 300; F herdará 150; G herdará 150.

IV. SUCESSÃO NA LINHA RETA ASCENDENTE COM CÔNJUGE CONCORRENTE:

Exemplo 1:

A, casado com Z, não deixa descendentes, deixando ascendentes, seus pais, B e C


Patrimônio do casal: 600

Meação de Z: 300 (V2 do patrimônio do casal)

149
140
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Anamaria Prates ---------------------------

- em não tendo parentes sucessíveis, tem direito o companheiro sobrevivente é\


_ O cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, sem prejuízo da
totalidade da herança;
participação na herança, terá direito real de habitação sobre o bem imóvel do casal des-
tinado à residência da família, sendo este o único bem a inventariar. - o companheiro não é herdeiro necessário;

- conforme visto nos exemplos acima, a título de sucessão, o companheiro so-


VI. SUCESSÃO DO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE:
brevivente não foi equiparado ao cônjuge sobrevivente;
Exemplo 1:

A, companheiro de W, falece, deixando como herdeiros a, c e D, filhos de A e W. VII. SUCESSÃO NA LINHA COLATERAL:

Patrimônio do casal: 800


- não havendo descendentes, nem ascendentes, nem cônjuge sobrevivente, SO.
Meação de W: 400 (V2 do patrimônio do casal) rão chamados os colaterais até quarto grau, para que possam suceder (irmãos, sobrl.
Valor da herança: 400 nhos, tios e primos);

Valor de a, c e D: 100 cada (400) 4 - 3 filhos + 1 companheiro) - concorrendo irmãos germanos ou bilaterais com irmãos unilaterais, estes hor.

Valor de Z: 100 da herança (1/4 de 400) + 400 da meação = 500 darão metade que aqueles, aplicando-se a mesma regra para os colaterais;

• Concorrendo com filhos comuns tem direito a quota equivalente a que for atri- - se concorrerem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cmltl

buída ao filho. um destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles;

- se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais, hor-


Exemplo 2:
darão por igual;
A companheiro de W, falece, deixando como herdeiro F filho apenas de A.
- uma pessoa, com um patrimônio de 800, falece deixando 05 irmãos, sondo
Patrimônio do casal: 600
03 germanos e 02 unilaterais. Cada irmão germano receberá 2/8 = 200 e cada IrrnflO
Meação de W: 300 (V2 do patrimônio do casal) unilateral receberá 1/8 = 100 (2/8 + 2/8 + 2/8 + 1/8 + 1/8 = 8/8 ou 200 + 200 + 200
Valor da herança: 300 (V2 do patrimônio do casal) + 100 + 100 = 800)
Valor de F: 200 - uma pessoa, com um patrimônio de 700, falece deixando 03 irmãos germanOIJ
Valor de Z: 100 da herança (V2 do que cabe a F) + 300 da meação = 400 e 02 sobrinhos filhos de um irmão unilateral pré-morto. Cada irmão germano recobort'J

• Concorrendo com filhos apenas do autor da herança, terá direito a V2 do que 2/7 =200 e os dois sobrinhos receberão, em conjunto, 1/7 = 100 (2/7 + 2/7 + 2/7 -/·1/7
couber a cada um. = 7/7 ou 200 + 200 + 200 + 100 = 700)
- uma pessoa, com um patrimônio de 500, falece deixando 03 irmãos unilaterais
Exemplo 3:
e 02 sobrinhos filhos de um irmão germano pré-morto. Cada irmão unilateral recebod\
A companheiro de W, falece, não deixando descendentes, deixando como her-
1/5 = 100 e os dois sobrinhos receberão, em conjunto, 2/5 = 200 (1/5 + 1/5 + 1/5 + 2//5
deiros D e E seus pais.
= 5/5 ou 100 + 100 + 100 + 200 = 500)
Patrimônio do casal: 600
• Como fazer os cálculos: divide-se a herança pelo dobro dos irmãos germo/Jo$,
Meação de W: 300 (V2 do patrimônio do casal)
somando ao número dos irmãos unilaterais. Ex.: herança de 140, 03 irmãos germa/Jol:
Valor da herança: 300 (V2 do patrimônio do casal) e 08 irmãos unilaterais - dobro dos irmãos germanos (03 x 02 = 06) mais o número (/0
Valor de D e E: 100 cada (300 > 3 - 1 parte para mãe + 1 parte para o pai + 1 irmãos unilaterais (08); o coeficiente é 06 + 08 = 14; divide-se 140 por 14 = 10. Ctle(li
parte para o cônjuge) irmão unilateral receberá 10 ou 1/14 e cada irmão germano receberá 20 ou 2/14.
Valor de Z: 100 da herança (1/3 de 300) + 300 da meação = 400 - o direito do roprosenlação na linha colaterallimita-se a filhos de irmãos pré-mortos;

• Concorrendo com outros parentes sucessíveis (ascendentes e colaterais até - nl'lo 11'1 r(~pI'lJIWI11I1ÇI'l()
do lIos e sobrinhos;

quarto grau) terá direito a 1/3 da herança.

I/H
150
---------------- ROTEIRO DE DIREITO CIVIL
Anamaria Prates

_ concorrendo tios e sobrinhos, a preferência é dos sobrinhos; a existência de um Capacidade testamentária ativa - capacidade de testar: a lei aponta as exce-
sobrinho vivo arreda os outros colaterais; ções, ou seja, não podem testar: os incapazes e os que, no ato do testamento, não tive-
rem pleno discernimento, Conforme dispõe o art. 1861 do Código Civil: "a incapacidade
_ os mais próximos excluem os mais remotos: se o de cujus não deixou des-
superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do incapaz se
cendentes, ascendentes ou cônjuge, mas apenas tios (ou sobrinhos) e primos, serão
valida com a superveniência da capacidade",
chamados os tios (ou sobrinhos), excluindo-se os primos;
- o maior de 16 anos, mesmo não emancipado, pode testar;
_ se o de cujus não deixou descendentes, ascendentes ou cônjuge, mas apenas
irmãos e sobrinhos (filhos de irmãos falecidos), herdarão os irmãos (por cabeça) e os - o cego e o analfabeto podem testar pela forma pública;

sobrinhos (por estirpe), - o surdo-mudo que saiba escrever pode testar sob a forma cerrada;
_ ordem entre os colaterais: 1º, irmãos; 2º, sobrinhos; 3º, tios; 4º, sobrinhos- - o apenas surdo pode testar pela forma pública (não poderá pela forma particu-
netos; 5º, tios-avós e 6º, primos-irmãos, Com exceção dos filhos do irmão (sobrinhos do lar, porque não poderá ler o instrumento perante duas testemunhas; mas se souber ler,
falecido) não haverá representação, herdando todos por direito próprio. Entretanto, se poderá utilizar-se de tal forma);
só concorrem filhos dos irmãos do falecido (sobrinhos) herdarão por cabeça,
- o pródigo pode testar (não pode dispor de patrimônio em vida, mas poderá testar).

Capacidade testamentária passiva - capacidade de adquirir por testamento:


VIII. SUCESSÃO DO ESTADO:
Podem suceder (art, 1799):
- não são herdeiros legítimos; a. filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que
_ o Estado recolhe a herança, mas não tem a saisine, pois somente terá os bens vivas estas ao abrir-se a sucessão; entretanto, se passados 02 anos após a abertura
incorporados ao seu patrimônio após a sentença da vacância; da sucessão, o herdeiro esperado não for concebido, os bens reservados caberão aos

_ os bens passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se os bens herdeiros legítimos, salvo disposição expressa em contrário;
estiverem localizados nas respectivas circunscrições e ao domínio da União, quando b. pessoas jurídicas;
situados em território federal.
• A pessoa jurídica não tem capacidade testamentária ativa, mas tem capacidacio
testamentária passiva.

10.3. Sucessão testamentária • Como a lei se refere apenas às pessoas (fisicas ou jurídicas), não poderão sor
Testamento: é um negócio jurídico formal e solene (típico), unilateral, persona- contemplados seres indeterminados ou disposições genéricas.

líssimo e revogável, gratuito (quem é beneficiário no testamento não está sujeito a con- c. pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador, sob a formll
traprestação; o encargo do legado não lhe retira a característica da gratuidade), causa de fundação (a única pessoa jurídica que pode ser constituída por testamento é a fun-
mortis (produz efeitos após a morte), O prazo para impugnar o testamento extingue em dação, no caso das demais para que possam suceder têm que existir)
05 anos a contar do seu registro. As disposições de caráter não patrimonial constantes Não podem adquirir por testamento (incapacidade relativa ou falta de legltl-
no testamento são válidas, ainda que o testador tenha se limitado somente a elas, mação - art. 1801):
_ testamentos coletivos são proibidos (quando 02 ou + pessoas beneficiam em - a pessoa que escreveu o testamento, bem como seus descendentes, ascen-
um único testamento um ao outro, ou terceiro); dentes, cônjuge ou companheiro e irmãos;
_ testamento que contém cláusula beneficiando alguém em retribuição - as testemunhas do testamento;
também é proibido.
- o concubino do testador casado, salvo se este estiver separado de fato há mais
Codicilo: visa regular, através de instrumento particular, o enterro do testador, a de 05 anos;
atribuição de certas esmolas ou legados de pouco valor feitos aos pobres. O testamento
- o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante os quais foi
posterior ao codicilo revoga o mesmo, salvo disposição expressa, feito ou aprovado o tostamonto;

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________________________ ROTEIRO DE DIREITO CIVIL

· Cerrado, secreto ou místico:


• Se qualquer das pessoas acima forem beneficiadas serão nulas apenas as
I i' - quando a pessoa deseja manter em segredo o conteúdo do testamento;
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disposições que incluem os impedidos, não sendo nulo o testamento.
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• As disposições testamentárias feitas em favor de pessoas não legitimadas a suce- - escrito pelo testador; completado por um instrumento lavrado por oficial PI'I'
blico, comprovando-se perante 02 testemunhas a entrega do testamento à autoridaej{J
der, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta
competente;
pessoa, são nulas. Presumem-se interpostas pessoas os ascendentes, os descendentes, os
irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder (art. 1802). - pode ser escrito mecanicamente desde que seu subscritor numere e autentl·

Testemunhas testamentárias: que, com a sua assinatura todas as páginas;

O Código Civil atual não vem dispondo, especificadamente, quanto às testemu- · Particular ou hológrafo:

nhas testamentárias, aplicando-se, àssim, as incapacidades previstas na parte geral. - quando escrito de próprio punho deve ser lido e assinado por quem o escreVOLJ,
Não podem ser testemunhas (art. 228): na presença de, no mínimo 03 testemunhas, que o devem subscrever;

1. menores de 16 anos; - se feito por processo mecânico, não pode conter rasuras nem espaços um

2. aqueles que, por enfermidade ou retardamento mental, não tiverem discerni- branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de ter sido lido, na presença cio
pelo menos 03 testemunhas, que o subscreverão;
mento para a prática dos atos da vida civil;
3. os cegos e surdos, quando a ciência do fato que se quer provar dependa dos • Testamento particular excepcional:

sentidos que Ihes faltam; Art. 1879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o testamento

4. interessados no ato (herdeiro, legatário); particular de próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser COI/-

firmado, a critério do juiz.


5. cônjuges, ascendentes, descendentes e colaterais até o terceiro grau, por con-
sangüinidade ou afinidade .
• Marítimo

B. Especiais - Aeronáutico
10.3.1. FORMAS DE TESTAMENTO:
- Militar
• público
A. Ordinárias - cerrado
· Marítimo e aeronáutico:
• particular
- quem estiver a bordo de navio nacional, de guerra ou mercante ou a bordo do
aeronave militar ou comercial, pode testar perante o comandante, na presença de 02
. Público:
testemunhas, por forma que corresponda ao testamento público ou ao cerrado;
_ deve ser escrito por tabelião, lido pelo mesmo em voz alta ao testador e a duas
- o testamento marítimo ou aeronáutico ficará sob a guarda do comandante quo
testemunhas, a um só tempo; o entregará às autoridades administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacionnl,
_ presença de 02 testemunhas, sendo que a leitura é feita em um único ato, na mediante recibo averbado no diário de bordo;
presença de tais testemunhas; - se o testador não morrer na viagem ou nos 90 dias subseqüentes ao seu do-
_ se o testador não puder ou não souber assinar, o tabelião declarará tal fato, sembarque em terra, onde possa fazer, de forma ordinária, outro testamento, caducar(1
assinando a rogo uma das testemunhas testamentárias; o testamento marítimo ou aeronáutico;

_ o cego somente pode testar mediante instrumento público; - se quando o testador celebrou o testamento marítimo, o navio estava em porto,
_ o surdo poderá testar sob forma pública e, sabendo ler, lerá o testamento, se onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária, o testamento marlll-
não o souber designará alguém para lê-Ia em seu lugar, perante as testemunhas; mo não valerá;

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. Militar: . legado de imóvel (art. 1922): não são incorporadas ao imóvel as aquisições

_ pode ser utilizado por pessoas que estejam a serviço das Forças Armadas em posteriores à feitura do testamento, mesmo que se trate de terrenos contíguos; eviden-

. campanha, dentro do País ou fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja de temente que tal dispositivo não abrange construções ou benfeitorias feitas no imóvel.

comunicações interrompidas;

_ pode o militar testar sobre três formas: a. semelhante ao testamento público; b.


10.3.3. Direito de acrescer entre herdeiros e legatários
semelhante ao testamento cerrado e c. testamento nuncupativo ou verbal (é aquele feito Direito de acrescer: é o direito em virtude do qual o herdeiro ou legatário, instI-

pelos militares das Forças Armadas, quando em área de combate; em razão da iminên- tuído conjuntamente com outro para receber o mesmo bem ou a mesma cota do patrI-
cia de morte, o testamento será feito oralmente, na presença de duas testemunhas, sem mônio, fica beneficiado, também, com a cota do seu co-instituído no caso de renúncia,
falecimento ou exclusão deste.
qualquer solenidade; tornar-se-á ineficaz se o testador não morre na guerra ou vem a
convalescer-se do ferimento). - só ocorre em sucessão testamentária.

Requisitos:

10.3.2. Legado 1. instituição conjunta no mesmo bem ou na mesma fração, sem que se determino

Legado: bem certo e determinado, integrante da herança deixada pelo testador a parte que cabe a cada um;
a alguém (legatário) a título singular. O legatário sempre é sucessor a título singular e 2. ausência de indicação do substituto do instituído conjuntamente.
em virtude de testamento.
Em não sendo efetuado o direito de acrescer, os herdeiros legítimos são beneficiad05.
_ a coisa certa pertence ao legatário desde a abertura da sucessão, salvo se o
Co-herdeiros (arts. 1941, 1943 e 1944): uma mesma disposição, onde dois 011
legado estiver sob condição suspensiva; mais herdeiros são nomeados na mesma herança, em quinhões não determinados .
. legado de coisa alheia (art. 1912): é ineficaz o legado de coisa certa que não Legatários (art. 1942): pode ocorrer o direito de acrescer em duas hipóteses • ~I.
pertença ao testador no momento da abertura da sucessão. Exceções: a. mesmo que a quando são nomeados conjuntamente a respeito de uma só coisa, determinada e certn:
coisa não pertença ao testador à época do testamento, o legado valerá se o testador vier b. quando o objeto do legado não puder ser dividido sem risco de desvalorização.
a adquirir a coisa em questão (art. 1.912); b. quando o testador ordena que o herdeiro
Usufruto (art. 1946): se o usufruto foi deixado a mais de uma pessoa na mesrnn
ou legatário entregue coisa de sua propriedade a outrem; caso não o faça entender-
disposição ou em mais de uma disposição no mesmo testamento, haverá direito cJo
se-á que renunciou à herança (art. 1.913); c. legado de coisa genérica, ou seja, coisa acrescer entre os usufrutuários
determinada pelo gênero, mesmo que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo
testador (art. 1.915);
10.3.4. SUBSTITUiÇÃO TESTAMENTÁRIA
· legado de coisa a ser retirada de determinado lugar (art. 1917): pode o
testador legar coisa ou quantidade que se deva retirar de certo lugar, só valendo se for Quando o testador indicar os herdeiros instituídos e legatários e, no mesmo t0:1'
achada no local indicado, até a quantidade encontrada; tamento, indicar quem poderá substituí-Ias.

· legado de crédito (arts. 1918 e 1919): este se cumpre mediante entrega, ao Espécies:

legatário, do título que representa a obrigação; mas, o legado não pode compreender . Vulgar, ordinária ou direta:
as dívidas posteriores à data do testamento; - designação de pessoa que venha substituir o herdeiro ou legatário quando
· legado de alimentos (art. 1920): abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, estes não puderem ou não quiserem aceitar a herança ou o legado;
enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor; o juiz ao fixar o valor. deverá • Haverá impedimento se vier a falecer antes do testador, for declarado indigno
atentar para as necessidades do que receberá alimentos e do montante da herança; ou renunciar.
· legado de usufruto (art. 1921): se o testador não lhe determinou a duração, - pode ser singular (instituição de um só substituto), coletiva (vários substitutos)
entende-se que é vitalício; ou recíproca (dois Oll mais como substitutos uns dos outros);

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- Hipóteses de substituição recíproca;


- se o fiduciário e fideicomissário não aceitarem a herança, os bens são devolvido:1
- o testador institui A, a, c e D como herdeiros ou legatários, com quinhões
ao monte, podendo os credores do fiduciário ou do fideicomissário aceitar o benefício;
iguais, ordenando que sejam substitutos entre si; falecendo a, sua parte será subdividi-
, - não pode haver fideicomisso além do 2º grau da instituição, ou seja, não po
da entre A, C e D.
dera o testador determinar que o fideicomissário transfira a terceiro o que receber do
- o testador institui A com 1/6 da herança; a com 2/6 da herança e C com 3/6 da fiduciário.

herança, ordenando que sejam substitutos entre si. Se A renunciar, a sua cota irá para . Compendíosa:
a e C, na seguinte proporção: a receberá duas partes da cota de A e C receberá três
- é uma junção da fideicomissária com a vulgar
partes da cota de A.
- é quando o testador designa um substituo para o fiduciário ou para o fideicomissrl'
- o testador institui A com 1/6 da herança; a com 2/6 da herança e C com 3/6 da
herança, nomeando D como substituto, juntamente com A, a e C. Se A renunciar, a sua rio, prevendo que um ou outro não possa ou não queira aceitar a herança ou o legado.

cota será dividia em partes iguais entre a, Ce D


· Fídeícomíssáría:

- o testador impõe a um herdeiro ou legatário (fiduciário), a obrigação de transmi-


tir a outro (fideicomissário) a herança ou o legado, sob certo termo (fideicomisso a ter-
mo), condição (fideicomisso condicional) ou morte do instituído (fideicomisso vitalício);

• o fiduciário é o 1° instituído que poderá ser substituído e o substituto é o fidei-


comissário que é o que substitui o fiduciário;

• fideicomitente (testador); fiduciário (propriedade resolúvel); fideicomissário (ti-


tular de direito eventual)

- somente pode ocorrer em favor dos não concebidos ao tempo da morte do


testador;

- se ao tempo da morte do testador, já houver nascido o fideicomissário, adquirirá


este a propriedade dos bens fideicometidos, convertendo-se em usufruto o direito do
fiduciário;

- os dois beneficiários tornam-se titulares da herança, mesmo que em mo-


mentos diversos;

- o domínio do fiduciário sob a herança ou legado é restrito e resolúvel;

- o fideicomisso pode ser sobre toda a herança ou parte dela (fideicomisso uni-
versal) ou sobre um determinado bem -legado (fideicomisso particular);

- se o fideicomissário renunciar, o fiduciário torna-se proprietário em caráter defi-


nitivo, salvo disposição testamentária em contrário (ex.: substituição do fideicomissário;
fica sem direito o fiduciário, em caso de renúncia do fideicomissário - art. 1955);

- se o fiduciário renunciar a herança ou legado, defere-se ao fideicomissário o


poder de aceitar, salvo disposição em contrário do testador; o fideicomissário recebe a
herança como herdeiro do fideicomitente (art. 1954);

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