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Universidade Federal do Espírito Santo

Programa Institucional de Iniciação Científica


Relatório Final de Pesquisa
Grande Área do Conhecimento (CNPq)

A paisagem colonizada no cone sul


Edital: Edital Piic 2020/2021
Grande Área do Conhecimento (CNPq): Linguística, Letras e Artes
Área do Conhecimento (CNPq): Fundamentos e Crítica das Artes
Título do Projeto: A Paisagem Colonizada na América Latina
Título do Subprojeto: A paisagem colonizada no cone sul
Professor Orientador: Prof. Dr.João Wesley de Souza
Estudante: Jovani Dala Bernardina

Resumo
Este subprojeto é parte integrante de uma pesquisa que busca estudar a paisagem e o Design urbano na
América Latina, onde as arvores nativas foram substituídas por espécies oriundas das matrizes colonizadoras e das
colônias ibéricas além mar. Tal projeto objetiva a elaboração de um diagnostico que atravessaria o recorte histórico
desde o período colonial até a atualidade, no sentido de oferecer referencias para o design de parques e ambientes
urbanos na atualidade. Tal esforço investigativo objetiva a construção de um diagnóstico, por amostragem, sobre
esta problemática, visando a possibilidade de proposições projetuais 1 futuras que possam escapar dos citados
modelos eurocêntricos herdados do processo de colonização.
Frente a estas questões apontadas, elegemos as capitais Montevidéu, Buenos Aires e Santiago do Chile para
realizar o subprojeto, pelo fato de as mesmas, conterem em seu espaço público e urbano, diversos parques e ruas
arborizadas cujos projetos se referem aos diferentes recortes temporais que o projeto principal aborda.
Investigaremos variações nas espécies vegetais utilizadas nestas paisagens urbanas, sendo que nas áreas mais
antigas das cidades, pesquisaremos a possibilidade de encontrar espécies oriundas do estrangeiro e nas áreas com
ocupação mais recente, pesquisaremos a ocorrência, ou não, do uso proposital de espécies Autóctones. Tal fato
indica a principio, uma mudança de parâmetros conceituais, que consistem em nosso objeto de investigação.

Palavras chave: Design colonial, Árvores estrangeiras, Árvores nativas, Design urbano contemporâneo.

1 Introdução
Frente a estas questões apontadas, elegemos as capitais Montevidéu, Buenos Aires e Santiago do Chile para
realizar o subprojeto, pelo fato de elas, conterem em seu espaço público e urbano, diversos parques e ruas
arborizadas cujos projetos se referem aos diferentes recortes temporais que o projeto principal aborda.
Investigaremos variações nas espécies vegetais utilizadas nestas paisagens urbanas, sendo que nas áreas mais
antigas das cidades, pesquisaremos a possibilidade de encontrar espécies oriundas do estrangeiro e nas áreas com
ocupação mais recente, pesquisaremos a ocorrência, ou não, do uso proposital de espécies Autóctones. Tal fato
indica a princípio, uma mudança de parâmetros conceituais, que consistem em mudanças importantes nos projetos

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Neologismo que indica a ação de projetar no processo do projeto de design e arquitetura.

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de paisagismo urbano do contemporâneo que já admitem fazer uso de espécies nativas de cada região onde tais
projetos se inscrevem. Explicitando assim, nosso objeto de investigação.

2 Objetivos

O objetivo desta pesquisa é produzir um arquivo fotográfico e mapeamento das espécies invasoras e autóctones
existentes no paisagismo das cidades de Montevidéu, Buenos Aires e Santiago do Chile assim como adquirir
material documental sobre quando e porque as espécies autóctones começaram a ser reintroduzidas neste ambiente.
Realizar uma produção textual, na forma de artigo, contribuindo assim, para futuras pesquisas.

3 Embasamento Teórico
Quando utilizamos o termo espécie autóctone estamos nos referindo a espécies nativas, ou seja, as espécies que
ocorrem de forma natural em uma determinada região ou ecossistema. Sendo que as espécies exóticas ou também
chamadas invasoras/estrangeiras são todas que se encontram fora de área ocorrência natural. Estas espécies,
geralmente foram incorporadas nos novos ambientes através da colonização. Estas espécies invasoras geram
impactos ambientais, sociais, econômicos ou sanitários, seja pela expansão populacional desenfreada, que por não
possuir nenhum agente predador, pode causar a extinção das espécies nativas, tal fato é considerado a segunda
causa global de perda de diversidade biológica.
Segundo Crosby, no livro Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa, através da colonização a
probabilidade de que espécies de árvores e plantas nativas tenham desaparecido é muito grande devido o fato dos
colonizadores já conhecerem os benefícios e o manejo de espécies estrangeiras, isso de certa forma, facilitava a
vida dos indivíduos provenientes do “velho mundo”, portanto a substituição das espécies nativas por estrangeiras
aera uma prática comum. Devido essa substituição, ainda segundo o autor, muitas espécies que se julgam nativas
de um lugar, foram em algum tempo trazidas pelos europeus, espalhando-se e levando a crer que sempre existiram
em um determinado espaço.
Além dos motivos básicos já mencionados, seu aspecto físico já conhecido poderia remeter a uma casa distante,
um local deixado para trás, mas sempre presente no imaginário dos colonizadores, conforme Gaston Bachelard,
em A poética do espaço, descreve: “à casa que um grande número de nossas lembranças estão guardadas e se a
casa se complica um pouco, se tem porão e sótão, cantos e corredores, nossas lembranças têm refúgios cada vez
mais bem caracterizados. Voltamos a eles durante toda a vida em nossos devaneios.” (BACHELARD, 2000).
O desejo do retorno das espécies autóctones pode ser relacionado ao “ressurgimento do nacionalismo e de outras
formas de particularismo no final do século XX, ao lado da globalização e a ela intimamente ligado, constitui,
obviamente, uma reversão notável, uma virada bastante inesperada dos acontecimentos.”(HALL, 1998).

4 Metodologia
O processo de pesquisa utilizado neste subprojeto ficou restrito a um levantamento de informações supervisadas
pelo orientador, realizadas em sites e domínios na internet, assim como em livros e artigos com publicação online.

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Tal procedimento se adequa às condições contextuais da atualidade, devido às restrições ocasionadas pela
Pandemia Covid-19.
Sendo assim, a coleta de dados realizada nas cidades de Montevidéu, Buenos Aires e Santiago do Chile, esta sendo
direcionada para seus parques, jardins, ruas e alamedas, os quais continham um número significante de arvores,
para verificação do contraste entre os projetos paisagísticos do período colonial e o pós-colonial.
Verificamos nos sites governamentais a existência do plano paisagístico atual, que determinam as espécies vegetais
para acompanhar todos os projetos urbanos, favorecendo a biodiversidade, trazendo benefícios ambientais e
socioculturais, além de ornamentais.

5 Resultados e Discussão
A partir da análise dos dados coletados em conjunto com a leitura do referencial teórico iniciou-se o entendimento
sobre a paisagem das cidades elencadas como fonte de pesquisa.
Ao efetuar o confronto das espécies estrangeiras e sua localização com as espécies Autóctones chegou-se à
conclusão de que estas tiveram o ápice de plantio durante o período colonial, por estarem sujeitas ao manejo já
conhecido pelos colonizadores. Também foi observado que muitas destas espécies sofreram com o clima e pragas
que não existiam em seu local de origem, proporcionando assim o replantio de algumas espécies de arvores nativas,
dando assim ao início de novos parâmetros conceituais que permitiram o uso de espécies autóctones de cada região
em estudo.
Atualmente os órgãos governamentais das cidades que constituem nosso objeto de estudos, estabeleceram regras
para novos plantios, como por exemplo na cidade de Buenos Aires onde apenas o governo da cidade tem a
autorização para realizar tais plantios, sendo estes realizados após uma rigorosa seleção analisando as diversas
características de cada espécie: o crescimento de suas raízes, de seu tronco e copa, se são frutíferas ou se
apresentam espinhos, sendo que estas duas últimas características, já são fatores de exclusão da espécie. Para
selecionar a espécie “adequada” para cada local, considera-se geralmente o tamanho da calçada e da rua a espécie
existente na lista será incorporada e as variedades já existentes nas proximidades, fato este, levado a cabo
objetivando contribuir com o aumento da biodiversidade na implantação das chamadas “florestas urbanas”, como
podemos verificar no site www.buenosaires.gob.ar. Tal fato tornasse um parâmetro que distingue os projetos da
atualidade portenha dos demais, posto que: tudo nos leva a concluir, rumo a uma orientação conceitual que não
objetiva absolutamente, um resgate integral e exclusivo das espécies nativas endêmicas nesta cartografia, mas sim,
elegem um princípio que não exclui as espécies estrangeiras, dando ênfase então, a uma naturalização e mescla de
espécies. Configurando assim, um procedimento de fusão entre uma herança do estrangeirismo arbóreo colonial,
acrescentado atualmente pela possibilidade de misturas com espécies nativas, compondo um multiculturalismo
que reflete a sociedade argentina, também construída por nativos e estrangeiros.
Em Santiago do Chile, as espécies estrangeiras tiveram boa adaptação, este fato ocasionou uma verdadeira
destruição das espécies nativas, tanto que em estudos realizados foi constatado que as espécies nativas representam
atualmente cerca de 14% das arvores existentes. Muitos moradores inclusive não sabem identificar as espécies
nativas, isso provavelmente teve origem no fato de que as primeiras atividades de florestamento que ocorreram: o
Cerro San Cristóbal ou a Quinta Normal, foram realizados por estrangeiros que utilizaram espécies oriundas de
diferentes localidades, sem se aterem as espécies autóctones, talvez devido o fato da construção da cidade ter

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referências europeias em suas edificações. Desta forma, as espécies estrangeiras adaptadas e aclimatadas são as
que continuam a ser usadas até hoje na grande maioria dos projetos paisagísticos executados. Vale ressaltar que é
compreensível que as pessoas tenham maior conhecimento e proximidade com as espécies exóticas, mesmo
acreditando que se trata de espécies nativas, pois são as mesmas que estão todos os dias ao seu redor, devido atual
configuração e distribuição das espécies que compõem a arborização urbana.
Com mais de 211.478 arvores plantadas em calçadas e mais 85 mil árvores em espaços públicos verdes e praças,
Montevidéu pode ser considerada uma cidade verde, porém, a situação das arvores autóctones não é muito
diferente do que acontece em Santiago do Chile, as cinco espécies que predominam no paisagismo urbano da
cidade, todas são estrangeiras, nenhuma é de espécie nativa. Este fato ainda não é considerado importante por
alguns, se a espécie é não nativa ou nativa não é o mais importante, mas deve-se garantir que as árvores da cidade
atendam aos requisitos e características que se buscam, e ainda completam para justificar tal atitude que existem
muito poucas opções para espécies nativas de folhagem adequadas para uso no ambiente urbano, que seria bom
incorporar as árvores nativas desde que elas atendam aos requisitos para árvores nas calçadas. Existem
aproximadamente 203.000 árvores não nativas em Montevidéu, enquanto há quase 8.000 árvores nativas.
A árvore nativa mais presente na capital é a Anacahuita. Uma árvore que é muito popular, mas não é a árvore certa
para as calçadas. A segunda árvore nativa mais presente em Montevidéu é a Ceibo Vermelha, reconhecida como
a flor nacional do Uruguai.

6 Conclusões
A arborização urbana é um elemento fundamental na paisagem da cidade e possui múltiplos benefícios sociais,
ambientais e econômicos. Algumas delas são a melhoria da qualidade do ar, regulação da água e térmica, geração
de biodiversidade, redução de ruído, controle de erosão, reavaliação de propriedades residenciais, economia de
energia, proteção da superfície pavimentada, sensação de bem-estar, sombra, recreação e embelezamento de a
paisagem, entre outros.
Dentre as cidades analisadas podemos verificar que apenas a cidade de Buenos Aires tem o interesse público na
inserção de espécies nativas no paisagismo urbano, enquanto em Montevidéu e Santiago do Chile visam o plantio
de espécies que se adaptam bem as necessidades urbanas, ou seja, na realidade o fato das espécies serem nativas
ou estrangeiras não influencia no momento do plantio, mas o fator determinante para a seleção das espécies
utilizadas no paisagismo urbano é a análise dos os múltiplos benefícios sociais que as mesmas oferecem.
Sobre o levantamento fotográfico e a produção de um arquivo eletrônico proposto, os dados existentes tendo como
fonte a internet, bem como o zoneamento das espécies encontradas buscando relacionar o cultivo delas com o
período colonial e contemporâneo.
Ao realizar buscas de imagens e novos dados sobre as espécies utilizadas no paisagismo das cidades elegidas para
o estudo nos deparamos com alguns imprevistos: falta de acervo fotográfico em fontes oficiais, falta de atualização
no censo, tendo apenas dados anteriores a pandemia Covid 19.

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Referências Bibliográficas
CROSBY, Alfred W. Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa, 900-1900. Tradução de José
Augusto Ribeiro, Carlos Afonso Malferrari. São Paulo: Companhia da Letras, 2011.
BACHELARD, Gastón. (2000) La poética del espacio. Buenos Aires: FCE Argentina.
HALL, Stuart. (1998) A identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora.
https://www.buenosaires.gob.ar

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