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Mecânica

dos Sólidos

EFEITOS DE VARIAÇÃO
DA TEMPERATURA
APRESENTAÇÃO

O lá aluno(a), bem-vindo(a). Vamos aprender a determinar os efeitos que uma variação


de temperatura produzirá em uma barra estrutural, estando ela ou não submetida a
esforços que tenham produzido tensão normal.
Você sabia que a resistência de um material depende de sua capacidade de suportar
um carregamento sem apresentar deformação excessiva e sem atingir a ruptura? Para
conhecer o comportamento dos materiais esse módulo irá nos apresentar os efeitos que
a variação da temperatura provoca em barras estruturais sejam elas estruturas estatica-
mente determinadas ou não. Vamos aos estudos?

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final deste módulo, você será capaz de:

• Determinar os efeitos da variação da temperatura no comprimento de peças estru-


turais.
• Calcular as tensões que aparecem em barras componentes de estruturas estatica-
mente indeterminadas, quando submetidas a variação de temperatura.
• Analisar o comportamento da peça estrutural, se tracionada ou comprimida, após
sofrer variação de temperatura.

FUMEC VIRTUAL - SETOR DE Produção de Infra-Estrututura e Suporte


FICHA TÉCNICA

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Design Multimídia Coordenação


Coordenação Anderson Peixoto da Silva
Gestão Pedagógica
Rodrigo Tito M. Valadares
Coordenação
Design Multimídia AUTORIA
Gabrielle Nunes Paixão
Therus Santana
Transposição Pedagógica Prof. Eduardo Chahud
Joelma Andréa de Oliveira Adaptação: Prof. João
Bosco Alves Mello

BELO HORIZONTE - 2018


EFEITOS DE VARIAÇÃO
DA TEMPERATURA
Variação da Temperatura - Barras
Estaticamente Determinadas

VARIAÇÃO DE TEMPERATURA
Uma variação de temperatura ΔT irá provocar alteração das dimensões de uma barra
estrutural estaticamente determinada. Se o ΔT, corresponder a um aumento da tempe-
ratura, a barra sofrerá uma expansão das suas dimensões. Se o ΔT, corresponder a uma
diminuição da temperatura, a barra sofrerá uma retração das suas dimensões.

Normalmente, a relação entre a expansão ou contração e o aumento ou diminuição da


temperatura é linear.

Experimentalmente, demonstrou-se que para materiais homogêneos e isótropos, essa


relação é dada por:

Δl = l0αΔT
onde:

Δl = variação do comprimento da barra


l0 = comprimento inicial da barra
α = coeficiente de dilatação térmica do material da barra
ΔT = variação de temperatura da barra = =Tf - Ti
Tf = temperatura final da barra
Ti = temperatura inicial da barra

TOME NOTA
Se a barra for estaticamente determinada a variação de comprimento da barra pode ser calcu-
lada diretamente pela expressão acima.

O aparecimento dessas tensões pode causar danos às edificações, como por exemplo,
a ruptura de pisos que não foram projetados prevendo juntas de dilatação, que tem por
função permitir a variação das dimensões, devido à variação da temperatura, sem o apare-
cimento de tensões.

Vejam alguns exemplos de aplicação


1. Uma barra de 2 metros de comprimento e seção transversal quadrada com 30 milí-
metros de lado está a temperatura de 30 ºC. Determinar a variação de comprimento
da barra quando a temperatura passar a 70 ºC, sabendo-se que o coeficiente de
dilatação térmica do material é α = 12 x 10-6 ºC-1.

Efeitos de Variação da Temperatura 3


Figura 1 – Esquema da barra

Analisando os dados da barra, temos:

l0 = 2 m
α = 12 x 10-6 ºC-1
ΔT = 70 – 30 = 40 ºC
Aplicando a equação para a determinação da variação do comprimento, teremos:

Δl = l0αΔT
Δl = (2) x (12 x 10-6 ºC-1) x (40)
Δl = 0,00096 m
Δl = 0,96 mm
Pelo resultado calculado, concluímos que a barra sofreu um aumento do comprimento de
0,96 mm.

2. Uma barra de 1 metro de comprimento e seção transversal circular com diâmetro


de 10 milímetros está com uma temperatura de 30 ºC. Determinar a variação de
comprimento da barra quando a temperatura passar a 10 ºC, sabendo-se que o
coeficiente de dilatação térmica do material é α = 12 x 10-6 ºC-1.

Figura 2

Analisando os dados da barra, temos:

l0 = 1 m
α = 12 x 10-6 ºC-1
ΔT = 10 – 30 = -20 ºC
Aplicando a equação para a determinação da variação do comprimento, teremos:

Δl = l0αΔT
Δl = (1) x (12 x 10-6 ºC-1) x (-20)
Δl = -0,00024 m
Δl = -0,24 mm
Pelo resultado calculado, concluímos que a barra sofreu uma diminuição do comprimento
de 0,24 mm.

4 Efeitos de Variação da Temperatura


IMPORTANTE
No caso de barras estaticamente determinadas a energia térmica transmitida às peças é
totalmente transformada em energia de deformação, não ocasionando o aparecimento de
tensões.

Variação da Temperatura - Barras


Estaticamente Indeterminadas
Nós definimos que um sistema estrutural é estaticamente indeterminado quando ele não
pode ser resolvido pelas equações da estática, ou seja, pelas 3 equações de equilíbrio,
a saber:

ΣFx = 0 → somatória das forças na direção do eixo x é igual a zero


ΣFy = 0 → somatória das forças na direção do eixo y é igual a zero
ΣMA = 0 → somatória dos momentos em um ponto é igual a zero
Se a barra for estaticamente indeterminada, as restrições (apoios) irão impedir os desloca-
mentos e então, aparecerão tensões oriundas da variação da temperatura, tensões essas
que deverão fazer parte do projeto estrutural.

Explicaremos como devemos proceder através de exemplos de aplicação.

EXEMPLO 01

Uma barra de aço, engastada nas duas extremidades foi executada com temperatura de
28 ºC. Após a instalação da barra nos apoios, a temperatura passou a 55 ºC. Determinar
o valor da tensão normal que surgirá na barra após a mudança de temperatura.

Dados:

E = 200 GPa
α = 12 x 10-6 ºC-1

Figura 3

A barra quando submetida a um aumento da temperatura tenderá a expandir, aumentando


o seu comprimento.

Como existem os engastes em suas extremidades, ela não conseguirá aumentar seu
comprimento.

Devido aos engastes aparecerão nas extremidades forças que evitarão o aumento do
comprimento.

Efeitos de Variação da Temperatura 5


Essas forças serão de compressão e irão produzir uma contração na barra.

Figura 4 – Barra com as forças de reação dos engastes

Aplicando a equação de equilíbrio possível nesse carregamento, temos:

ΣFx = 0
HA – HB = 0
HA = HB = F
A barra tenderá aumentar de comprimento devido a variação da temperatura – ΔlT

As reações nos engastes irão impedir o aumento de comprimento, produzindo a retração


da barra – ΔlF

Então, o que o aumento de temperatura tentará expandir a barra, as reações irão retrair da
barra, levando a que a alteração final do comprimento seja igual a zero – Δl = 0.

TOME NOTA
Será aplicado aqui o Princípio de Superposição de Efeitos (P.S.E.) que permite que calculemos
o efeito produzido por cada causa separadamente e os somemos para obter o efeito produ-
zido pelo conjunto. Podemos utilizar o P.S.E. pois estamos trabalhando dentro dos limites da
Lei de Hooke.

Portanto, a somatória do aumento do comprimento devido à temperatura com a diminui-


ção do comprimento devido as forças dos engastes será igual a zero.

Δl = 0
ΔlT + ΔlF = 0
α x l0 x ΔT + (F x l0)/(E x A) = 0
Temos:

l0 = 2 m
α = 12 x 10-6 ºC-1
ΔT = 55-28 = 27 ºC
A = 50 x 50 = 2500 mm2 = 2500 x 10-6 m2
E = 200 GPa = 200 x 106 kN/m2
F = valor da reação de apoio
(F será considerada negativa por produzir uma força normal de compressão).

Aplicando os valores, temos:

[(12 x 10-6 ) x (2) x (27)] + [(-F) x (2)] / [(200 x 106) x ( 2500 x 10-6)] = 0
F = 162 kN

6 Efeitos de Variação da Temperatura


Com estes procedimentos, encontramos o valor das reações de apoio, que não foi possí-
vel utilizando as equações de equilíbrio.

A equação do deslocamento final igual a zero é chamada de:

equação de compatibilidade.

Agora nós temos uma força axial aplicada na barra.

Quando aparece uma força normal atuando em uma barra, ela produzirá a tensão normal:

σ = F/A
σ = (-162)/(2500 x 10-6)
σ = -64.800 kN/m2
σ = -64,80 MPa
Aparecerá na barra uma tensão de compressão de 64,80 MPa.

EXEMPLO 02

Verificar se a barra de aço, engastada nas duas extremidades e com variação da seção
transversal nos trechos (I) e (II), atende as condições de projeto, quando sofrer uma varia-
ção de temperatura de -80 0C.

Dados

E = 200 GPa
α = 12 x 10-6 ºC-1
σe = tensão de escoamento do material = 180 MPa
s = coeficiente de segurança = 1,2
dI = diâmetro da barra no trecho (I) = 20 mm
dII = diâmetro da barra no trecho (II) = 10 mm

Trecho (I) Trecho (II)

Figura 5

Analisando a barra, temos:

Trecho (I):

l0 = comprimento inicial da barra = 2 m


A = área da seção transversal = [π x (20)2/4] = 314,16 mm2 = 314,06 x 10-6 m2
Trecho (II):

l0 = comprimento inicial da barra = 1 m


A = área da seção transversal = [π x (10)2/4] = 78,54 mm2 = 78,54 x 10-6 m2

Efeitos de Variação da Temperatura 7


Como a barra está engastada nas duas extremidades ela não irá sofrer nenhum desloca-
mento. A variação da temperatura tenderá a encurtar a barra. As reações de apoio irão
produzir o alongamento, mantendo a barra na posição inicial, ou seja: Δl = 0

Figura 6 – Barra com as forças de reação dos engastes

Aplicando a equação de equilíbrio possível nesse carregamento, temos:

ΣFx = 0
HA – HB = 0
HA = HB = F

IMPORTANTE
Reafirmando:

A barra tenderá a diminuir de comprimento devido à variação da temperatura – ΔT

As reações nos engastes irão impedir a diminuição de comprimento, produzindo o alonga-


mento da barra – ΔF

Com isso definido, vamos analisar os dois trechos individualmente:

Trecho (I):

Δl(I) = ΔT + ΔF
Δl(I) = α x l0 x ΔT + (F x l0)/(E x A)
Δl(I) = (12 x 10-6) x (2) x (-80) + [(F) x (2)]/[(200 x 106) x (314,16 x 10-6)]
Δl(I) = -0,00192 + 3,183 x 10-5 x F
Trecho (II):

Δl(II) = ΔT + ΔF
Δl(II) = α x l0 x ΔT + (F x l0)/(E x A)
Δl(II) = (12 x 10-6) x (1) x (-80) + [(F) x (1)]/[(200 x 106) x (78,54 x 10-6)]
Δl(II) = -0,00096 + 6,366 x 10-5 x F
Como:

Δl = 0
Δ(I) + Δ(II) = 0
-0,00192 + 3,183 x 10-5 x F + -0,00096 + 6,366 x 10-5 x F = 0
0,00009549 x F – 0,00288 = 0
F = 30,16 kN

8 Efeitos de Variação da Temperatura


Assim, nós conseguimos calcular o valor da força que irá manter a viga na posição inicial.

O aparecimento da força F irá produzir tensão normal nas barras com valores diferentes
em cada trecho.

Vamos analisar cada um dos trechos;

Trecho (I):

σ = F/A = (30,41)/(314,16 x 10-6) = 96002 kN/m2 = 96 MPa


σadm = σe/s = (180)/(1,2) = 150 MPa
Temos a condição de projeto:

σat ≤ σadm
96 ≤ 150 Afirmação verdadeira.

Logo, o trecho (I) atende a especificação de projeto.

Trecho (II):

σat = F/A = (30,41)/(78,54 x 10-6) = 384008 kN/m2 = 384 MPa


σadm = σe/s = (180)/(1,2) = 150 MPa
Temos a condição de projeto:

σat ≤ σadm
384 ≤ 150 Afirmação falsa.

Logo, o trecho (II) não atende a especificação de projeto.

Com os resultados obtidos, a barra não poderá sofrer a variação de temperatura uma vez
que essa variação de temperatura não atende as especificações de projeto.

Efeitos de Variação da Temperatura 9


Síntese
Neste módulo você aprendeu o efeito que a variação da temperatura produz em barras
estruturais. Viu também que a não previsão dos efeitos devidos a variação da temperatura
poderá produzir sérios problemas à estrutura.

É muito importante para o aprendizado assimilar os conceitos aprendidos com a realização


de pesquisas e resolução dos mais diferentes tipos de exercícios. Porque não começar
agora? Estude o presente módulo, resolvendo os exercícios propostos e buscando aprimo-
rar todos os conceitos aqui aprendidos.

Não esqueça, prezado(a) aluno(a), o conhecimento do comportamento dos materiais será


fundamental para a sua formação profissional.

Referências
AMARAL, Otávio Campos do. Curso básico de resistência dos materiais. Belo Horizonte:
O. Campos do Amaral, 2002. xiv, 519p. ISBN 8590264815.

BEER, Ferdinand Pierre; JOHNSTON, E. Russell. Resistência dos materiais. 3ª ed. Rio de
Janeiro: Makron Books: McGraw-Hill, c1996. 1255p. ISBN 8534603448.

HIBBELER, R.C. Resistência dos materiais. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil,
2010, 641 p. ISBN: 978-85-7605-373-6.

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