Você está na página 1de 305

Avisos

A presente tradução foi efetuada pelo grupo Havoc


Keepers, de modo a proporcionar ao leitor o acesso à obra,
incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é
selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil,
traduzindo e disponibilizando ao leitor, sem qualquer intuito
de obter lucro, seja ele direto ou indireto.

Temos como objetivo sério, o incentivo para o leitor


adquirir as obras, dando a conhecer os autores que, de outro
modo, não poderiam, a não ser no idioma original,
impossibilitando o conhecimento de muitos autores
desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos
autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo Havoc
Keepers, sem aviso prévio e quando julgar necessário
suspenderá o acesso aos livros e retirará o link de
disponibilização dos mesmos.

Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica


ciente de que o download se destina exclusivamente ao uso
pessoal e privado, abstendo de divulgá-lo nas redes sociais
bem como tornar público o trabalho de tradução do grupo, sem
que exista uma prévia autorização expressa do mesmo.

O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado


responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo o
grupo Havoc Keepers de qualquer parceria, coautoria ou
coparticipação em eventual delito cometido por aquele que, por
ato ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a presente
obra literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos
termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998.
Staff
Tradução: Ayanna Havoc

Pré Edição: Lis Havoc

Revisão: Merit Havoc

Leitura Final: Aysha Havoc

E-books: Lis Havoc

Formatação: Aysha Havoc


Sinopse
A vida não é um conto de fadas.

Príncipe encantado não existe.

E eu não sou uma rainha.

Em vez disso, estou presa no reino de ferro com


um príncipe demente, e que papel de sorte eu tenho
em tudo isso: Brinquedo sexual para sua alteza real.
Este é o título real que recebo: Brinquedinho do
Príncipe de Ferro.

No entanto, é a coisa mais segura para mim.


Porque Cordelia está procurando por segredos há
muito esquecidos. Se eu não tomar cuidado, ela saberá
o que eu escondi o tempo todo.

Ela saberá que estou indo pelo que é meu e a


levarei comigo se for necessário.

Porque eu sou a Rainha Mortal.

E ela está usando minha coroa por muito tempo.

NOTA: Este é um romance paranormal sexy, dos


inimigos para os amantes, com a magia misteriosa das
faes que ganhará vida tanto quanto a tensão
escaldante entre os inimigos e os amantes!

Esta série é recomendada para leitores com 18


anos ou mais devido ao intenso nível de calor.
Um
UM BRINQUEDO SEXUAL ARDIL

Eu estou segura.

Segurança é o objetivo agora, mas não parece


muito reconfortante quando estou indo para longe de
Lincoln e de Jase. Não tenho mais uma rede de
segurança para cair, sou apenas eu.

Lincoln me deixou ir. Lincoln providenciou isso.

Meu coração afunda ainda mais em meu estômago


torcido, enchendo-o de emoções confusas e
bagunçadas.

Eu não deveria ter saído de lá.

Eu deveria ter lutado.

Eu deveria ter...

Meus longos dedos empurram meu cabelo com


pressa e tento me concentrar enquanto minha atenção
se volta para os olhos brilhantes do Príncipe da Corte
de Ferro. As portas do castelo estão perto o suficiente
para serem tocadas. Logo atrás delas está um futuro
incerto e uma espécie de último recurso de boas-
vindas.
Mas Kai não alcança as portas. Minha aparência
de desastre de trem está cativando toda a sua atenção.

“Mamãe despreza a desordem.” Ele murmura


enquanto continua mexendo nas minhas mechas como
uma mamãe macaquinha mexendo em seu filho.

Nunca conheci sua mãe, a mãe de Lincoln. Eu me


pergunto se ele se parece com ela. Seu rosto será
familiar? Será que ela vai sentir o cheiro de seu filho
ainda grudado em minha pele por causa do nosso
adeus faminto?

“Eu vou conhecê-la?” Eu pergunto, minha voz


perdida na brisa que passa.

O toque de Kai suaviza. Depois de um segundo,


ele roça as laterais do meu rosto e agarra meus
ombros. Seu olhar dourado pousa em mim com pena.

Eu não quero ter pena.

“Não. Certamente que não, se pudermos evitar.”

Eu aceno, torcendo minhas mãos na minha


frente. Não tenho forças para devolver o olhar dele ou
vontade de testemunhar o quanto ele pode ou não
sentir por mim. É duvidoso que as rainhas muitas
vezes recebam pena, então é melhor eu me acostumar
com isso agora.

A escuridão envolve o castelo, a única luz


existente vem da proximidade da lua e do brilho das
estrelas. Insetos assobiam nas árvores. Animais
arrulhando e chamando uns aos outros na
floresta. Um uivo irrompe da borda da floresta, olhos
de prata austeros nos observando do mato. Meu corpo
salta com sua mera proximidade e o volume do qual ele
chama.

“Eu gostaria de poder dizer que é mais seguro do


lado de dentro.” Kai ri.

Seguro. Lincoln disse que isso seria seguro.

Nada está realmente seguro quando a rainha


governante quer você morta.

“Minha mãe pode ser um tanto difícil e é por isso


que ainda não devemos dizer a ela o que ou quem você
é. Eu vou mantê-la longe, mas se alguém perguntar,
eu trouxe você aqui do mundo humano como minha
convidada.” Kai continua. Seu aperto firme cai dos
meus ombros e ele alcança as portas.

“Eu vou ficar na Biblioteca? No mundo do bolso?”

“Eu arranjei para você ter sua própria suíte de


hóspedes. Minha convidada muito humana. Rowan
deve tê-lo pronto agora.” Ele paira com a mão tocando
a porta, despreocupado com os animais que
permanecem na orla da floresta que margeia o castelo.

Minha atenção se desvia para a periferia de sua


propriedade. Sem guardas. Sem paredes altas. É tudo
uma prova de seus poderes. Eles não precisam de
segurança extra porque ninguém ousaria desafiá-los.

Outro uivo perfura o ar. Eu olho de volta para o


olhar prateado que nos observa. Entre piscadas, mais
alguns pares de olhos aparecem. Ainda assim, eu
observo. Nenhuma parte de mim se sente mais
intimidada. Talvez seja a apatia deprimente e a
dissociação que me consome e que deixa pouco espaço
para mais nada.

“Quando as marés do oceano sobem para abafar


as praias da sua vida, você tem algumas escolhas que
pode fazer. Recue e se esconda das águas até que a
maré baixe, afogue-se nas águas ou construa um barco
e flutue.” Sussurra Kai.

Lincoln odeia suas metáforas estúpidas. Meu


primeiro pensamento. Eu não me importo com
elas. Meu segundo pensamento.

“Talvez eu deva optar pela opção número


quatro.” Eu endireito meus ombros caídos.

“Eu não te dei quatro opções.” Um sorriso


flagrante e brilhante levanta suas bochechas.

“Estou fazendo uma quarta opção.”

“E…?”

“E talvez eu seja o sol. Talvez eu brilhe tão forte,


tão quente, tão persistentemente que meu calor
evapore o que foi feito para afogar as praias.” É minha
própria tentativa vergonhosa de metáfora. Estúpido, eu
sei. Mas parece certo neste momento. Parece algo
que Kai vai entender.

Sua língua passa por seus dentes brancos e seu


sorriso retorna mais diabólico do que momentos antes.
“Essa é minha garota.” Apoiado nas portas de ferro, ele
pressiona a palma da mão e a porta se abre.

Nenhuma luz nos cumprimenta no longo corredor


vazio. Nem um único livro também. Eu suspiro,
inundada de alívio. Não é o reino do bolso. Eu não
estou presa.

Debaixo do rabo de cavalo loiro de Kai eu posso


ver as pontas de sua tatuagem de meia lua de ferro na
base de seu pescoço. Seus passos não fazem nenhum
som enquanto ele se move, mas os meus são
desajeitados, irritantemente humanos e
embaraçosamente altos quando ecoam. Ainda sem
guardas.

Ao contrário do reino de bolso, esses corredores


são feitos de pedras pintadas de preto. Ou talvez elas
não estejam pintadas... Mas carbonizadas. A janela
ocasional é tingida de roxo, lançando seu brilho sobre
os ladrilhos xadrez preto e branco. Kai vira a esquina e
o longo trecho do corredor termina em uma varanda
com cortinas. Que tipo de visão eu teria se estivesse
em sua borda?

Uma figura sombreada se esgueira na nossa


frente, toda curva e feições finas e pontiagudas. Por
dois segundos tensos, estou preocupada que seja a
mãe deles. Mas a risada baixa e sarcástica que sai de
seus lábios instantaneamente sugere o contrário.

“Violet.” Disse Kai amargamente. “Por que? Por


que você sempre tem que se esconder nas sombras
como algum felino sinistro?”

“A Rainha Mortal.” Ela meio que ferve, meio canta.


“Eu sabia que Rowan estava correndo pelos corredores
como se ele tivesse um segredo a esconder. O que
vamos dizer à mamãe?”

“Não íamos contar nada para a mamãe.”


“Você também não ia me dizer nada, mas se eu
consegui descobrir que vocês dois idiotas estão
andando pelo castelo tentando esconder o objeto da
obsessão de Cordelia, tenho certeza de que mamãe
também pode.”

Kai levanta o queixo. Suas mãos tremem ao lado


do corpo e ele enfia a mão no bolso, sem dúvida
acariciando o frasco de Reminints.

Eu passo ao redor dele, olhando para a


princesa. Ela me olha de volta. Seu corpo esguio está
decorado com um vestido cinza transparente. Seus
mamilos e a área da calcinha estão cobertos apenas
por pequenos pedaços de tecido preto por baixo. Minha
atenção demora muito. Não na perfeição que é a forma
da princesa, mas na estranha ideia de que a vagina
dessa mulher é quase inexistente. Se eu usasse isso,
um dos meus ‘lábios de senhora’ estaria agitando o
lado dessa calcinha. Eu não sabia que calcinhas tão
pequenas existiam. Suponho que sim, neste mundo
Fae perfeito.

Droga, eu quero uma vagina Fae.

Violet cantarola e coloca as mãos nos quadris.


“Garota humana. Rainha mortal. O que vamos fazer
com você?”

Me esconder. Me treinar. Me ajudar a liberar meus


poderes. Me ensinar sobre sua família. Uma lista
interminável me vem rapidamente à mente. Meus
lábios se abrem para responder, para que ela saiba que
eu não tenho ideia de por onde começar. Mas Kai se
intromete.
“Cordelia encontrou uma vidente que pode
mergulhar nas partes mais obscuras da mente dela.”

As sobrancelhas de Violet alcançam a linha do


cabelo. “Você quer dizer na mente de Lincoln.”

“Certo.”

“Ela está aqui para proteger Lincoln.” Ela deixa


cair os braços, girando sobre os calcanhares. “Por que
você não disse isso antes?”

“Ela está aqui para protegê-la também. Se


Cordelia descobrisse exatamente quem ela é, ela seria
a próxima no bloco de desbastamento público.” Kai
começa a descer o corredor novamente atrás de sua
irmã.

“Você não acha que ela vai somar dois mais dois
agora que eu não estou mais por perto?” Eu
interrompo.

“Obviamente. Mas ela não ousaria pensar em vir


atrás de você aqui. Simplesmente ela sugerir que temos
você aqui seria um insulto total.”

“Além disso, mamãe nunca permitiria você


intencionalmente.” Os pés descalços de Violet são
apenas um sussurro contra o chão. Parece proposital,
como se ela estivesse se tornando menos do que é, para
que eu me sentisse menos instável. Surpreendente,
considerando o quão enervante ela pode ser. “O que
vamos dizer a ela?”

“Eu encontrei Briar em uma viagem ao mundo


humano. Ela... Me intriga.”
“Ha.” Violet tosse. “Qual é a sensação de ser
reconhecida pela nossa Mãe como uma peça de jogo
humana de Kai? Não deixe Lincoln saber, eu duvido
que ele goste da ideia.”

“Peça de jogo...” Eu digo lentamente. Uma


marionete em seu cordão?

“Faes não trazem humanos aqui para se divertir,


a menos que seja por questões sexuais.” Ela continua.
“Não seja pega pela mamãe ou ela pode fazer você
provar que é por isso que está aqui.”

Minha próxima respiração está presa em meus


pulmões. Eu praticamente engasgo com isso.

“Não diga isso a ela.” Kai murmura.

“É verdade.” Ela para, apontando um dedo para a


porta. “Estou assumindo que este quarto que Rowan
preparou completamente é para a garota?”

Os rostos de ambos, educados em uma confiança


fria, se voltam para mim. Um vento suave sopra as
cortinas da varanda que está perto o suficiente agora
que eu poderia correr até ela e me jogar pela beirada
sem que eles percebessem. Parece que é meu único
momento para correr. Mesmo que os dois olhem para
mim como se eu fosse mais uma presa do que um
predador, tenho que reprimir esses pensamentos
ansiosos.

Através da fenda da cortina, a lua projeta sua luz


no chão. O brilho dela forma um arco contra o ladrilho
que atinge a parte inferior da porta da suíte de
hóspedes. Como um sinal. Ou como se eu desejasse
ser um sinal de que entrar neste quarto, tão longe de
Lincoln, ainda é a coisa certa a se fazer.

“Este é o quarto dela.” Kai alcança a maçaneta da


porta.

“Eu vou deixar vocês dois terem seu tempo


sozinhos.” Ela ronrona, escapulindo de volta para as
sombras. Meus olhos humanos embaçados não
conseguem distinguir sua forma assim que ela se
afasta, deixando-me com a sensação enervante de ser
observada pelo invisível.

A porta se abre suavemente, a mão de Kai


pressiona minhas costas para me guiar para
dentro. Há um calor no quarto, um aconchego que
formiga em minha pele quando entro. O que
exatamente a magia Fae dentro deste quarto pretende
fazer?

Com um movimento de seus dedos manchados de


ferro, Kai acende as luzes. O quarto não é tanto uma
suíte de hóspedes, mas uma casa inteira por si só. Um
lustre cintilante pingando em pingentes cor de lavanda
está pendurado no centro sobre uma pequena mesa de
quatro cadeiras polida até um brilho imaculado. As
estantes de livros estão colocadas dentro das paredes
em dois pentágonos estreitos delimitados pelo mesmo
metal que o resto dos tetos altos. A grande janela bem
à nossa frente é tingida da mesma forma que o resto,
púrpura real profunda. Mal consigo distinguir o brilho
das estrelas do outro lado.

Dou a volta na mesa, passo os dedos pelas


cadeiras de espaldar alto e escovo o material de veludo
floral das almofadas. Uma lareira acende levemente
onde a sala desce um único degrau. A pele negra de
algum animal grande e irreconhecível está deitada no
chão quadriculado. A envolvê-los estão dois longos
sofás, decorados com almofadas metálicas redondas
que refletem o calor da luz. Um sofá de dois lugares
fica entre os sofás, pegando a maior parte do fogo
apagado, outra pele está amarrada na parte de trás.

Descendo para a sala de estar, eu olho para


trás. Três grandes janelas pontiagudas alinham a
parede traseira. Uma cama longa e grande coberta com
as mesmas peles e colchas e tecidos metálicos ou de
veludo cintilantes o aguarda. Duas arandelas nas
paredes entre as janelas brilham ao redor, iluminando
um par de mesas laterais.

À esquerda existem duas portas. Eu fico olhando


para elas.

“Banheiro e closet.” Kai diz suavemente, ainda


parado atrás de mim na porta. A porta está fechada e
suas costas estão pressionadas contra ela, mas eu nem
mesmo a ouvi fechar.

“Oh...” Eu sussurro, subindo para escovar meu


dedo contra a cabeceira da cama. É metal que se enrola
em designs intrincados na cabeceira e nos pés da
cama. Eu meio que espero que o toque queime ou
borbulhe instantaneamente, mas a cama não é de
ferro. Agradável.

“O closet está vazio, mas vou providenciar para


que isso seja corrigido amanhã.”

Mordendo meu lábio, sento na beirada do


colchão. Preso a cada lado da cabeceira da cama,
balança dois conjuntos de... Algemas. Eu estreito meu
olhar sobre elas antes de me virar para Kai. Seu rosto
permanece neutro, mas as pontas das orelhas
queimam.

Ele limpa a garganta, puxando os Reminints e


colocando uma pétala na língua. “Isso, uh,
normalmente é, hum, para meus convidados.”

“Você costuma algemá-los?” Eu meio que sorrio.

Ele pisca. “Sim. Se eles estiverem dispostos.”

“Então… Eu sou sua... Convidada sexual?”

“Não. Mas sim.” Diz ele rapidamente. “É apenas


um ardil.”

Minhas pálpebras estão pesadas, ardendo de um


jeito que sugere que irei chorar, embora nenhuma
lágrima deixe meus olhos. Não tenho tempo para
chorar por causa da minha situação ou ponderar o que
há entre mim e Lincoln. Hoje não. Talvez
amanhã. Talvez na próxima semana. Quem sabe por
quanto tempo serei convidada na Corte de Ferro?

“Por que temos que mentir para sua mãe?”

Kai dá um passo hesitante para frente, então


balança a cabeça como se estivesse repensando e dá
um passo para trás mais uma vez. “Posso me juntar a
você?” Ele finalmente pergunta.

“Uh-huh.”

“Uh-huh.” Ele imita meu sotaque simples, tirando


o seu lindamente suave. “Isso soa tão... Grosseiro.”
“Você esquece que eu não fui criada como membro
da realeza.” Eu corro meus dedos pela pele debaixo de
mim.

Silenciosamente, com as pontas de seu terno fino


arrastando-se atrás dele, ele caminha pela sala de
estar e vai até a cama. Ele para com muitos pés ainda
entre nós, me examinando antes de olhar para o
quarto.

“Nossa mãe não tem uma boa relação com Faes


das Sombras. Ela tem pouco amor por Lincoln, ou
paciência para esse assunto. Como uma humana,
puro-sangue e ignorante, você é bem-vinda para ser
um brinquedo. É bastante comum entre a realeza
pegar alguns humanos para brincar. Por que mais você
acha que existem tantos Faes das Sombras?”

Eu engulo. Então esse é o tipo de parceiro que Kai


é. Embora, eu tente não pensar muito sobre isso, eu
olho para trás para as algemas, em seguida, para o pé
da cama, onde encontro mais duas.

“Meu pai, porém, tem menos poder do que minha


mãe, o peso das decisões da corte não recai sobre
ele. Ele encontrou o amor em seu coração por Lincoln,
uma criança que nem mesmo é dele.”

“Ele parece bom o suficiente.” Eu penso em nosso


breve encontro no reino de bolso.

“Sim, suponho.” Os olhos de Kai caem para


fendas, seus ombros relaxam enquanto ele respira os
efeitos dos Reminints.

“A Violet vai dizer alguma coisa?”


Ele olha de volta para mim, seu rosto cheio de
confusão, como se ele tivesse esquecido que eu estava
mesmo no quarto. “Não. Não, certamente não. No
entanto, seria ingênuo de nossa parte presumir que ela
não usará o estratagema para sua vantagem ou para
seu entretenimento.” Kai balança em seus pés por um
momento antes de se animar. “Vou deixar você
descansar um pouco. Você precisa de alguma coisa
antes de eu ir? Eu poderia conseguir o que você quiser.
Como minha convidada, minhas ofertas a você não
serão impedidas e você se encontrará sem desejos ou
necessidades em pouco tempo.”

“Eu não quero nada. Estou bem.”

Ele me encara. “Você não se sente segura?”

Meus dedos se enrolam na palma da minha


mão. Não é que eu não me sinta seguro, é só que todo
esse novo reino é o desconhecido.

“Eu ficarei bem. Só estou nervosa.”

Seus sapatos brilhantes se arrastam para frente,


sua cabeça inclinada enquanto ele examina minha
expressão facial. Com as mãos agora firmes, ele
alcança atrás de si puxando algo da parte de trás de
suas calças. Quando ele o traz à luz, percebo que é
uma pequena adaga. Ele joga a lâmina no ar,
equilibrando perfeitamente a ponta dos dedos
enquanto me oferece o cabo. Pedras roxas e pretas
brilham ao longo do cabo.

“Para você, para aliviar um pouco a sua


preocupação.” Ele me deixa delicadamente pegá-la
dele. Eu a equilibro em minhas palmas. Kai se vira em
direção à porta caminhando alguns passos antes de
fazer uma pausa e olhar para mim.

Eu puxo meu olhar da arma, fria e dura em


minhas mãos.

“Por favor, não a use em mim.” Seu rosto fica


branco. “Estou confiando em você como você deve
confiar em mim.”
Dois
BONECA DE PANO

O cabo da lâmina ainda está na palma da minha


mão. Cada pedra incrustada no metal da magnífica
arma também é pressionada em minha pele, deixando
em mim suas marcas. Ainda assim, não consigo me
libertar do meu aperto forte. É minha única defesa.

O sono não veio fácil durante a noite. A cama


grande, com seus muitos lençóis e cobertores, ainda
está fria. Cada barulho é um novo perigo que faz meus
olhos se abrirem apenas para olhar para a porta que
nunca se abre. Não é particularmente seguro dormir
com uma adaga afiada na cama, mas parece mais
seguro do que ter que dedicar um tempo para alcançá-
la.

Meus olhos estão grogues, o sono implorando ao


meu corpo para ceder, mas minha mente continua
correndo. Eu não quero pensar. Eu quero apenas um
momento para estar entorpecida e perdida para os
sentimentos que fazem meu peito apertar e meu
coração doer muito mais. Talvez seja pedir muito.

A luz do sol é filtrada pelas janelas roxas,


lançando a cor real em todo o quarto. O fogo há muito
se transformou em brasas.
Eu rolo para o meu estômago. Esticando-me,
aponto a faca para as algemas ainda penduradas. Com
um movimento do meu pulso, a lâmina desliza para o
punho. Eu a deixo cair com um barulho baixo contra
os trilhos pretos. É um pensamento
desconcertante. Nunca em meus anos, ou no pouco
tempo que conheci Kai, eu suspeitaria que ele fosse
esse tipo de homem. Agora que sei, posso ver
totalmente. São sempre os mais calados.

Uma breve batida soa na porta. Com uma


inspiração profunda, eu me levanto e viro o rosto para
a porta, ainda debaixo das cobertas. A adaga
pressionada contra a cama, a ponta da lâmina fazendo
um buraco nos lençóis debaixo de mim. Droga.

“Sim?” Eu chamo. Minha resposta é inútil, pois a


porta se abre no exato momento em que Rowan entra,
seguido por Kai.

“Eu disse a ele para não invadir.” Suspira Kai.

“Eu disse ao meu irmão que você e eu nos


chamamos pelo primeiro nome e as gentilezas são
desnecessárias.” Rowan se joga no sofá. Ele olha para
a lareira cinzenta com a testa franzida. Estalando os
dedos, uma chama de fogo ruge dentro da lareira,
lançando seu brilho no chão e em suas botas
manchadas.

“Bom dia para você também.” Eu digo, colocando


a adaga no meu colo.

“Está vendo? Ela ainda é uma senhora.” Kai


brinca com os botões de seu terno prateado. “Bom dia,
Briar.” Ele suspira, claramente exasperado por seu
irmão, e gesticula em direção à porta ainda aberta.
“Café da manhã?”

Uma servente magra, com cabelos finos e lisos


pendurados em volta do rosto redondo, entra no quarto
na ponta dos pés, segurando uma bandeja para a
cama. O vapor sai da comida, soprando atrás dela
como sua própria nuvem de tempestade pessoal. Ela
desce com cuidado até a sala de estar e depois volta
para a cama. Kai a segue, franzindo a testa para Rowan
enquanto ele passa.

Quando eles chegam ao lado da cama, a garota


olha para a faca no meu colo e depois para o meu
rosto. Ela repete o olhar questionador até que Kai pisa
ao lado dela com um sorriso tenso.

“Você não vai precisar disso para o café da


manhã.” Ele arranca a arma da minha mão e a coloca
contra a mesa de cabeceira, permitindo que a serva
coloque a bandeja da cama no meu colo antes que ela
saia correndo. “Temos talheres de verdade para você
usar que seria mais fácil do que cortar seus ovos com
uma herança de família.”

“Parece que você tem mais de um irmão comendo


na palma da sua mão, Briar.” Rowan canta, cutucando
suas unhas.

Eu respiro fundo. Os aromas mais doces de


panquecas cobertas com calda quente assaltam meus
sentidos, acompanhados pelo bacon perfeitamente
saboroso e crocante. Não há meninas mortais para
envenenar aqui. Eu não deveria me preocupar em ser
envenenada, certo?
Kai finalmente solta um longo suspiro enquanto
eu pego um pedaço de bacon e começo a mastigar
distraidamente. Minha mente ainda gira em torno da
perspectiva de quem, por que e como as garotas
mortais estavam sendo envenenadas. Kai puxa seu
pequeno frasco de pétalas de seu casaco, oferecendo
uma para mim. Eu balanço minha cabeça em
negativa. Ele sorri suavemente, balançando algumas
folhas com a língua antes de colocar o recipiente de
volta no bolso.

Ele nunca está com falta de seu


suprimento. Lembro-me do momento fugaz, tão suave
que mal consegui perceber, quando Bellion ajudou o
príncipe de seu vício. ...o melhor herbologista do
reino... Será que Bellion e sua lealdade cega estão por
trás de tudo isso? Ninguém é mais leal, mais atento em
atender aos caprichos da rainha do que o homem alto
e atarracado.

Minha mastigação fica mais lenta enquanto


processo minha própria revelação. Se isso for verdade,
esse alimento é seguro. Pego o garfo e corto um pedaço
da panqueca, enfiando na boca.

“Você parece zangada.” Rowan se senta para


frente.

“O que?”

“Você estreitou os olhos.” Kai se lança, apoiando-


se na beirada da estrutura da cama.

Agradeço que nenhum desses homens tenha uma


visão de minha mente ou do assento da primeira fila
para qualquer um dos meus pensamentos.
Instantaneamente, minha mente procura a corda entre
mim e Lincoln. Ele está lá, quieto e reservado, seus
dedos mentais não estão mais alcançando meus
pensamentos tão ativamente.

“Desculpe, estou perdida em pensamentos.”

Uma gota de xarope pinga do garfo, do pedaço da


panqueca que eu havia pegado, e cai na minha
roupa. Dormi com as roupas com que cheguei. Meu
colar, meu poder, como Lincoln o chamava, ainda
permanecem no bolso.

“Como minha convidada, todos esperam que você


esteja… Apropriadamente vestida. Os humanos
normalmente ficam entusiasmados em usar vestidos e,
de outra forma, trajes muito mais adequados…”

“Eu não sou a sua humana típica.”

“Não, você não é.” Rowan diz.

Kai olha por cima do ombro, olhando para seu


irmão, que apenas me encara. “Seja como for,
providenciei para que Violet levasse você às nossas
melhores lojas de vestidos para comprar uma
variedade de vestidos e tudo o que você desejasse.”

Qualquer sorriso que eu possa ter segurado vacila


com a ideia de passar um tempo com Violet.

“Não se preocupe, vou acompanhá-la para que


nossa irmã bruxa não te coma viva.” Rowan
acrescenta.

“Que reconfortante.” Eu olho para Kai. “E você?”


“Eu estarei aqui. Trabalhando pela manhã.”

Eu balanço minha cabeça. Kai se levanta da cama


em direção à porta. Antes de passar por seu irmão, ele
se abaixa para sussurrar algo em seu ouvido. Rowan
concorda com um indiferente “uhm-huh” e um rolar de
seus lindos olhos dourados.

“Vou buscar Violet.” Kai franze os lábios na porta.


“Por favor, tente se divertir hoje, Briar.”

Nada no mundo Fae é apressado, preocupado ou


exagerado. Em minha mente mortal é, no
entanto. Como posso me divertir quando sei que a
rainha das sombras está atrás de mim? Ela certamente
percebeu minha ausência agora. Meu primo ainda está
em sua corte. E o Fae em quem confiei para me
proteger, aquele por quem desenvolvi esses
sentimentos estranguladores e indesejados, está tão
longe. Sua mente parece ainda mais distante do que
isso.

Quando o silêncio entre nós perdura, Kai


finalmente sai do quarto. Ele fecha a porta atrás de
si. Meus olhos caem para a minha comida, a qual como
até me fartar. Rowan me olhando sem uma palavra.

Minhas mãos envolvem as alças da bandeja para


levantá-la do meu colo para que eu possa ficar de
pé. Rowan acena com a mão, a coisa toda desaparece.

“Deixe-me ajudar com isso.” Ele sorri.

“Obrigada.”

Seu olhar me devora. Cada centímetro da minha


pele já está farta dele me observando, embora eu saiba
que poderia ser pior. Por que estou reclamando sobre
um belo homem Fae me achando atraente o suficiente
para idolatrar? Atraente o suficiente para querer se
casar?

“Você ainda está decididamente determinado a me


cortejar?” Eu digo com uma languidez calculada. Eu
penso no borrão da noite no Salão Lavanda do breve
beijo que compartilhamos. Enquanto os Faes
tecnicamente faíscam, nós, humanos, buscamos
química. Rowan e eu... Nós temos isso... Mas não da
maneira verdadeiramente chocante e elétrica que
Lincoln e eu temos. Os beijos de Rowan não satisfazem
a necessidade de desejo dentro de mim.

“Estou aqui, não estou?” Ele encolhe os ombros.


“Eu poderia estar fodendo qualquer outra pessoa, mas
em vez disso, estou perseguindo você. Parece que
também não sou o único. Mas não me importo com a
competição. É saudável.”

“E você me vê como um prêmio?”

“Absolutamente.”

Sim, eu odeio isso.

Eu não tenho tempo para responder enquanto


pressiono meus pés em minhas botas. Antes de me
mover em direção a ele, aproveito para colocar o
amuleto em um pequeno pote em cima da lareira. Eu
o afago para uma boa medida e um desejo de mantê-lo
seguro. Não há necessidade de responder a Rowan,
agora, enquanto Violet entra no quarto sem se
preocupar em bater como Rowan tinha feito.
“Não se preocupe, meu animal de estimação
malvestido, estou aqui para salvá-la.” Um vestido verde
esmeralda a envolve, amarrado com uma fita de cetim
brilhante. Seus pés minúsculos estão calçados em
sapatos de ouro cintilantes. Os saltos nem mesmo
batem no chão enquanto ela se move pelo quarto. É
como se ela engolisse som e luz.

“Se for preciso.” Propositadamente, mantenho a


distância que posso entre mim e a irmã de Lincoln. Eu
me pergunto se ela é um espelho do comportamento
cruel de sua mãe, de quem muitas vezes me falam.

Seus olhos estreitam na gota de xarope


manchando minha camiseta, mas ela não diz nada
enquanto desliza pelo quarto e pega minha mão. Em
um movimento rápido, ela me puxa para frente da
cama e me arrasta enquanto eu a sigo
desajeitadamente. Rowan ri atrás de nós. Mesmo com
sua risada ecoada, posso senti-lo se arrastando atrás
de nós.

Fora do quarto, os corredores estão iluminados


pela luz do dia. Eu vejo porta após porta passar apenas
para me perguntar por qual eles vão me arrastar para
me levar por todo o caminho para qualquer loja que
atenda a suas preferências.

Eu me sinto como uma boneca de


pano. Brinquedo deles. Mesmo que seja tudo para
minha segurança, eu desprezo a maneira como me
sinto como se estivesse apenas flutuando. Mas que tipo
de história de mim mesma seria se eles não me
levassem embora para algum tipo de transformação?
Eu penso com amargura.
O aperto de Violet me segura com uma delicadeza
surpreendente. Ela se segura em mim até que seus
saltos parem na porta escolhida. Nós paramos e eu
olho em volta. Este corredor é igual ao anterior e ao
anterior do outro. Eu poderia me perder aqui tão
facilmente, e só agora eu percebi que não sei
exatamente como chegamos aqui.

Torcendo, eu olho para trás para Rowan enquanto


sua irmã alcança a porta. Sua atenção está fixada
muito abaixo do que eu gostaria que fosse. Ele
encontra meu olhar com um sorriso conhecedor e dá
um passo à frente enquanto Violet me puxa para o
vazio. No mais breve dos momentos, eu chego até
ele. Não porque eu sinta qualquer necessidade de seu
toque, ou porque estou nervosa, seremos apenas Violet
e eu, embora eu esteja mesmo nervosa. Mas é
simplesmente porque eu não descobri como pousar e
com o que sei da Princesa, ela provavelmente não me
pegará ou se importará.

Nós entramos. Nós três descemos ao abismo do


portal, afundando como navios abandonados. A palma
de Violet se afasta da minha e, mesmo na escuridão,
posso dizer que ela está sorrindo. Mesmo quando eu
perco o toque gentil que ela me deu, eu estendo a mão
esperançosa.

Dedos acariciam meu antebraço, me segurando


firme. Enquanto minha cabeça gira, sei que o pouso
está chegando. Tenho medo de me envergonhar na
frente de Violet. Rowan não vai deixar isso acontecer. O
ar entre nós é sufocado e ele me traz até seu
corpo. Mesmo através das muitas camadas de roupas,
seus músculos são visíveis.
É o suficiente, o momento é longo o suficiente,
posso fechar meus olhos e fingir que é Lincoln. Assim
que seus cachos bagunçados e covinhas profundas
aparecem dentro da minha cabeça, Rowan tropeça
para frente, me segurando. E Lincoln se foi.

Eu abro meus olhos. Rowan inclina a cabeça, me


deixando ir devagar. Violet já está passeando por uma
passarela com prateleiras de roupas elaboradas que
ela está examinando com muito escrutínio.

“Posso não ser capaz de ler mentes.” Rowan segue


atrás de Violet. “Mas posso sentir a diferença em você
quando pensa em Lincoln.”

“Você pode sentir o cheiro disso?” De repente,


estou resistindo à vontade de levantar meu braço e
cheirar minha própria axila.

“Os humanos soltam muitos feromônios. Vocês


não reconhecem isso conscientemente, mas nós
podemos.”

“Bem, eu realmente não gosto disso.”

Eu franzo a testa para o lenço que Violet segura


olhando entre o material e eu. Ela o tira do cabide e o
pendura sobre o torso, de modo que cubra o peito. Não
é um lenço, apenas um top quase imperceptível.

“Ficaria melhor em mim de qualquer


maneira.” Ela encolhe os ombros.

“O que há de tão bom no Lincoln?” Rowan tenta


novamente.
“Não sei. Ele é gentil e engraçado, embora eu não
vá contar a ele. Ele é leal e amoroso. Protetor, mas não
sufocante.” Ele tem um bom pau. Eu penso comigo
mesma. “Lincoln acredita em mim mais do que eu
acredito em mim mesma.”

“Eu acredito em você.”

“Você acredita no meu status.” Eu bufo.

“Eu também acredito nessa bunda.” Rowan


balança as sobrancelhas.

“Exatamente.” Violet revira os olhos. “São


comentários como esses que afastam as mulheres”.

“Eles parecem funcionar bem quando estou


levando-as para a cama.” Rowan aponta para uma loja
com sua placa pendurada. A costureira.

“Vamos deixar isso bem claro.” Violet avança


abrindo a porta da loja. Uma campainha toca dentro.
“Qualquer mulher, quando dorme com você, toma essa
decisão muito antes de você.”

“O que você quer dizer?”

“Quero dizer, se você acha que as mulheres são


sempre suaves como a seda e cheiram a flores de
cerejeira, então você é um idiota.”

Eu pego uma risada na palma da minha mão


quando Violet responde. Rowan encolhe os ombros
com indiferença. Ele segura a porta para mim e acena
para eu entrar. A loja rapidamente me lembra a
costureira de Cordelia e nossa visita lá, só que mais
organizada. Os vestidos são organizados por cores nas
prateleiras que se alinham nas paredes de cada
lado. Dentro de uma cor, eles são organizados por uma
cobertura transparente, os primeiros vestidos sendo
tangas que basicamente são seguradas pelos ombros
em vez de pelos quadris, na minha opinião.

Um atendente está sentado atrás de uma mesa,


ele se curva quando entramos. Além do toque da
campainha, não há boas-vindas ou designer esperando
para prender tecido em mim enquanto eu fico
desconfortável como se nunca tivesse usado um
vestido antes. Dificilmente está atendendo às minhas
expectativas mínimas para um filme como uma
repaginada de mim mesma.

“Então, que tipo de vestido você gosta?” Violet


diz. Suas mãos percorrem suas curvas enquanto ela se
olha em um grande espelho. Ela nem se virou para
olhar os vestidos ainda.

“Gosto de toda a cobertura que puder


conseguir.” Eu levo meu tempo andando ao redor dela
olhando, mas sem tocar os vestidos ao longo da parede.

“Chato!” Rowan bufa.

“Rowan está certo, pela primeira vez. Por que você


não quer mostrar um pouco de pele?” Ela faz uma
pausa em seu próprio reflexo por tempo suficiente para
me olhar da cabeça aos pés. “Você é bonita o
suficiente.”

Bastante bonita. Imagino que isso seja o mais


próximo de um elogio que vou receber de Violet. E eu
vou aceitar.
“Não sei. Não estou confortável com isso. Os
humanos normalmente não andam por aí em vestidos
de baile de lingerie.”

As paredes parecem um pouco mais próximas do


que há alguns momentos. Os vestidos se multiplicam
a cada vez que olho.

“Humanos, blá blá blá. Você está no reino Fae


agora, Briar.” Rowan puxa um vestido azul marinho
com uma entrada que atinge o umbigo e duas tiras de
tecido que deveriam atuar como a saia e de alguma
forma cobrir minhas partes de senhora. “Vamos
comprar esse.”

Eu estremeço quando ele passa por mim para


armar o vestido sobre o balcão.

“Você nem sabe o meu tamanho.” Eu aponto.

Violet ri. “Querida, não precisamos do seu


tamanho.”

Certo. Magia.

“Que tal, tipo, um terninho?”

Tanto os Faes que me trouxeram aqui quanto o


atendente franzem a testa para mim. Esse é um termo
humano? Eu os ofendi?

“Você quer usar um terno como um


homem?” Violet pergunta lentamente.

“Não. Não exatamente. Existem terninhos


femininos…” Mas mesmo enquanto digo isso, estou
ciente de que é tudo uma causa perdida. Suas
sobrancelhas já estão enrugadas com confusão e
surpresa absoluta.

“Vamos experimentar.” Violet sorri


diabolicamente.

Estou balançando a cabeça negativamente para as


tiras de tecido que não posso imaginar que não vão
ficar emaranhadas quando tento colocá-las no meu
corpo e o tecido transparente que paira sobre elas
quando ela estala os dedos. Meu corpo estremece. A
roupa que eu estava usando sai do meu corpo e se
transforma em pó no ar. Por baixo, o vestido já se
ajusta às minhas curvas. Uma alça grossa corre sobre
meus mamilos, muitas outras menores são como teias
de aranha para completar o resto do top. Eu aperto
minhas coxas juntas. Um pequeno pedaço de tecido
corre entre minhas pernas. Estou prestes a ter um
lapso labial. Bandas envolvem meus quadris,
segurando tudo no lugar sob uma cobertura
transparente de ameixa escura que abraça meu peito e
a minha cintura, com uma saia que para no meio da
coxa.

Um guincho sai de minha boca aberta. Meus


braços me envolvem, tentando esconder meu corpo.
Violet me dá um sorriso irônico.

“Não, não, não.” Ela estala a língua. “Mova suas


mãos.” Seus dedos finos arrancam meu aperto do meu
corpo enquanto ela me guia em direção ao espelho.
“Você deve trabalhar em sua confiança. Você parece
muito melhor agora. Na verdade, você está parecendo
como se pertencesse a este lugar.”
“Isso dificilmente é necessário.” Eu chio. “Eu sou
confiante.”

“Então você não se importará de usar isso.” Violet


se enrijece, voltando-se para olhar pelas prateleiras.

Dou uma olhada em Rowan. Seus braços seguram


uma pilha de roupas, cada uma tão reveladora quanto
a outra. A umidade brilha em seus lábios,
acompanhando o deslize de sua língua. Ele me encara
tão concentrado que parece que está vendo minha
alma, ou tentando.

“Você parece... Comestível.” A voz rouca e


profunda de Lincoln entra em minha mente de uma
forma abrupta e surpreendente.

Eu pulo, voltando-me para o


espelho. Suavemente, eu corro minhas mãos sobre o
tecido fino.

“Você consegue me ver?”

“Eu posso ver você, como você se vê, através de


seus olhos.”

Posso dizer que Lincoln está distraído, mal


disponível para nossa conversa, mal conectado com o
momento. Minhas mãos ficam suadas com um novo e
estranho tipo de nervosismo.

“Não ouvi nada de você hoje.” É a versão dramática


menos pegajosa de ‘sinto sua falta’. Horas parecem
dias, quase semanas, quando estou tão acostumada
com seus comentários dentro da minha
cabeça. Respirando fundo, tento me ver como todo
mundo me vê. Nunca me achei feia. Você pensaria que
com o número de pessoas me dizendo que sou
infinitamente bonita, eu teria pensamentos bem altos
sobre mim mesma. Mas é que estou tão... Nua.

“Ocupado. Apenas parando para sugerir que você


diga a Rowan para fechar a boca e encontrar outra coisa
para olhar.”

Uma risada zumbindo vibra em meu peito. Eu me


movo rigidamente, com medo de que as faixas de
material escorreguem de uma forma nada lisonjeira ou
me exponham totalmente.

“Rowan.” Eu limpo minha garganta, dando a ele


algum tempo para trazer sua atenção até o meu rosto.
“Lincoln parece pensar que você deveria fechar a boca
e se ocupar com outra coisa que não a minha bunda.”

“Não poderia ter dito melhor.”

“Ele não está ocupado fazendo tarefas para


Cordelia?” Rowan franze os lábios, mas gira no
calcanhar da bota.

“Ai.” Murmuro me perguntando se Lincoln pode


ouvir o que eu ouço também. Talvez seja apenas um
eco dos meus pensamentos enquanto o processo.

“Você está com ciúmes?” Eu pergunto.

“Humm, não. Só odeio ver Rowan babando em


você. Que vergonha para ele.”

“É claro.” Eu sorrio para mim mesma. Uma


imagem passa pela minha cabeça. Sou eu, mas não
como me vejo com todas as minhas falhas. Em vez
disso, é como Lincoln me vê.
E eu estou linda. Verdadeiramente, infinitamente.

Minha respiração se torna superficial quando


outra imagem passa pela minha mente. Esta está
embaçado. Um cenário feito a partir da imaginação.

Lincoln está atrás de mim, passando a mão pelo


meu braço. Ele me vira para encará-lo. Ele pisca e eu
estou de joelhos, meus lábios travados em torno de seu
pau.

Meus olhos se arregalam e minhas bochechas


queimam dolorosamente vermelhas.

“Lincoln Ziko!”

“Que?” Ele pergunta tão inocentemente que não


tenho certeza se ele está ciente do que ele
compartilhou. Em seguida, segue sua risada
estrondosa. “Não deixe sua calcinha ficar muito
molhada, Rowan vai cheirar isso mais rápido do que
Violet colocou você nesta roupa em primeiro lugar.”

Tento não pensar muito sobre a forma como estou


abertamente consciente do meu corpo e do vento que
toca muito minha pele. Tento ser tão confiante quanto
preciso para tirar esse traje que eles consideram tão
normal.

O atendente admira todas as suas escolhas de


roupas enquanto elas magicamente se dobram em
suas malas. Violet as entrega para Rowan, que parece
satisfeito com as opções. Pelo menos ele gosta
delas. Isso faz de nós um.

“Vamos nos apressar para casa. Tenho certeza de


que Kai quer ver a conta que está pagando e as roupas
que escolhemos para seu brinquedinho.” A princesa
canta alegremente.

Eu engulo, tentando aliviar a secura da minha


garganta e os acompanho para fora da loja. Só posso
esperar que Kai não me trate como se eu fosse um
brinquedo. Não tenho certeza se minhas habilidades de
atuação são boas o suficiente para isso.

À menção do nome de Kai, a presença de Lincoln


em minha mente fica quieta, escondida atrás de sua
parede grossa e resistente. Meu pequeno sorriso
desaparece com ele.
Três
QUASE NUA E COM MUITO MEDO

Cada passo que dou, minhas coxas esfregam com


força. Não há nenhuma maneira humana de meu
andar ser atraente quando estou com medo de soltar o
tecido que estou prendendo, escondendo meu canal
feminino. Não tenho certeza se o universo estava
pronto para mim e minha ‘beleza infinita’, assim como
não estou pronta para isso. Eu com certeza não me
sinto bonita agora.

Minha cabeça ainda está tonta com a nossa


chegada repentina de volta ao castelo. Ainda assim,
Violet e Rowan me empurram para frente. Desta vez eu
tento memorizar os corredores em minha mente, para
algum tipo de caminho ou rota de fuga se necessário,
mas eu não estava imaginando anteriormente quando
percebi que de fato todos os corredores parecem
exatamente iguais. Não importa para onde viremos, há
uma variedade de portas e algumas janelas pintadas
de lavanda e no final do corredor uma grande
varanda. Porém, durante o dia, as cortinas finas são
abertas permitindo que o sol e o clima ameno entrem
no castelo.

“Kai vai pirar quando te ver.” Violet sorri.


Ela me faz parar um pouco antes do que estou
assumindo ser o escritório de Kai e finge mexer no meu
cabelo. Tento não olhar em seu olhar manchado de
ferro, mas ela é tão hipnotizante quanto perversa e,
sem dúvida, mortal.

“Não olhe por muito tempo.” Ela sussurra. “Não


gostaria que você se apaixonasse por mim.”

Meus olhos brilham, minhas bochechas ficam em


um tom brilhante de vermelho. Não estou tão atraída
por Violet quanto intrigada pela maneira como ela se
comporta. Ciúmes. Estou com um mínimo de ciúmes.

“Lincoln nunca permitiria isso.” Diz Rowan


amargamente, já encostado na porta.

“Todos vocês esquecem que Lincoln não é meu


chefe e vou muito bem me apaixonar por quem eu
quiser.” Eu puxo o tecido transparente para baixo
como se isso fosse esconder toda a pele saindo das tiras
de tecido por baixo.

“Ok.” O príncipe zomba antes de chamar seu


irmão. “Kai, trouxemos para você um brinquedinho
sexy.”

“Vou fingir que é necessário que você a chame


assim quando não há ninguém por perto. Mas tenho
certeza de que nossa Rainha Mortal desfrutaria de
apenas um grama a mais de respeito.” Kai aperta o
nariz entre o dedo indicador e o polegar.

Minhas botas há muito foram substituídas pelo


que eu consideraria saltos de stripper. Eles são muito
altos, e o salto é muito fino para minha falta de
coordenação. Eu me movo para frente.
Kai pisca, soltando o nariz. Ele olha de mim para
seus irmãos e depois de volta para mim, engolindo em
seco.

“Desempenhando bem o papel? Certo,


irmão?” Rowan ronrona, derretendo contra a porta
quando ela se fecha atrás dele.

Kai direciona seu olhar de volta para sua mesa.


“Você está deslumbrante. Absolutamente brincando
com o estratagema.”

“Você não gostou?” É quase uma pergunta


esperançosa. Se isso não lhe agradar, talvez eu possa
vestir algo que seja realmente mais confortável.

Seus olhos passam dos meus pés lentamente até


o meu rosto. O lado direito de sua boca se transforma
em um sorriso malicioso. “Está perfeito.”

Dupla maldição.

“Agora que temos a aprovação de seu guardião,


talvez eu possa levá-la para um tour?” Rowan sugere.

“O que você está fazendo?” Eu digo rapidamente,


aproximando-me da mesa de Kai.

Sua mão repousa com uma caneta pressionada a


um longo documento que ele rabiscou. Alguns livros
estão empilhados, um deles aberto contra a pilha com
uma pena enfiada entre as páginas. Kai deixa cair a
caneta e passa a mão sobre sua roupa. É menos
chamativa do que o normal, uma jaqueta marrom
opaca sobre uma blusa esvoaçante de cor creme.
“Estou prestes a sair para uma pequena caçada
com alguns duques pedindo minha atenção.”

“Eu adoro caçar.” Apresso-me a dizer. Então tento


não franzir o rosto com a sensação podre da mentira
depois.

Kai se recosta na cadeira, as duas mãos


espalmadas contra a mesa. Violet parece chocada com
a própria ideia e Rowan arqueia uma sobrancelha
cética.

“Seria bom nosso estratagema para que eu


aparecesse, não é?”

“Quero dizer, sim. Se for do seu agrado, quem sou


eu para recusar a oferta de estar na sua presença?” Kai
se levanta, acessando minha roupa de uma nova
maneira minuciosa. “Você terá que se sentar na sela
de lado.”

Nem tenho certeza se sei montar um cavalo


sozinha. Mas, claro, posso me pendurar de lado em um
e não cair. Quão difícil isso pode ser?

“Eu posso fazer isso.”

“Você prefere ir para uma caçada do que visitar o


castelo?” Rowan fala arrastadamente.

“Estarei aqui por tempo o suficiente para você me


dar uma grande excursão. Certo? Podemos ir
amanhã.” Sem ofensa, Rowan, mas estou desesperada
por uma fuga. Cada segundo gasto com você e Violet
parece uma oportunidade perigosa para um de vocês
arrancar a carne de meus ossos.
“Tour amanhã, então.” Kai confirma. Ele afasta
uma mecha solta de cabelo loiro do rosto e sorri
fracamente. “Então, corram agora, vocês dois
certamente têm algo melhor que poderiam estar
fazendo.” Ele acena para seus irmãos.

Violet pode ter algo melhor para fazer e ela não


parece afetada pela dispensa enquanto desliza para
fora da porta. Rowan, por outro lado, ele parece não ter
nada além de tempo disponível para ele. O rosto de
Rowan muda para uma expressão neutra. Ele enfia as
mãos no bolso da jaqueta comprida e sai pela porta.

Solto um suspiro.

“Então você caça muito no reino humano?” Kai


olha para baixo enquanto fala. Ele enfia a mão embaixo
da mesa, puxando um cinto de couro marrom em volta
da cintura. O punho de uma espada longa bate em seu
quadril, a lâmina dentro da bainha quicando contra
sua coxa.

“Uh-huh, o tempo todo.”

“Uh-huh.” Ele imita meu sotaque como na noite


anterior. Por baixo de seus longos cílios, ele me lança
um sorriso travesso.

“Quero dizer, sim.”

As veias do pescoço saltam um pouco quando ele


tira a jaqueta. Ele abre uma gaveta, revelando um
calção que ele afivela no peito, outra lâmina menor
saindo dele.

“Usamos armas.” Eu limpo minha garganta. Estou


familiarizada com armas. Fiz alguns cursos diferentes
e aprendi a manusear com aquela que mantenho bem
o suficiente para desmontá-la e montá-la
novamente. Ainda assim, o básico de possuir uma
arma de fogo.

“Armas?” Ele cantarola. “Isso parece... Fácil.”

“Você usa suas lâminas?” Eu aponto.

Kai pega sua jaqueta e a puxa de volta sobre os


braços. Seu olhar cheio de mel é divertido para dizer o
mínimo.

“E mágica.”

Ele paira perto de mim, colocando a mão nas


minhas costas, mas sem tocar minha pele. Estou
aliviada com o nível de respeito que ele me oferece.
Mastigando meus lábios, ando ao lado dele. É uma
curta caminhada de seu escritório até os estábulos.

O sol quente cobre minha pele de uma forma


calmante enquanto sai de trás de uma nuvem. Nuvens
escuras e fofas pontilham o céu em direção ao
horizonte. Atravessamos um jardim não muito
diferente do de Cordelia.

Um cavalo já está selado e pronto, amarrado a um


poste de madeira. Atrás do estábulo fica um vasto vale,
longe dos bosques pelos quais me aventurei quando
cheguei aqui. Deve ter sido a entrada dos
fundos. Alguns homens cavalgam juntos no vale,
vestidos com roupas muito semelhantes às de Kai em
seus cavalos.
É quando eu sei que estou muito além da minha
cabeça. Porém, eu provavelmente deveria ter percebido
isso antes.

Meus passos vacilam, meus calcanhares cavam


na terra a cada passo. Suspirando, eu levanto a mão.
“Eu simplesmente não posso com isso.” Digo
apontando para os saltos.” Sinto muito se isso me
torna menos uma dama ou menos como se estivesse
aqui para ser sua... Você sabe, mas eu não posso.” Eu
mexo com as fivelas dos saltos, sabendo muito bem
que provavelmente estou dando a Kai um bom show
dos meus divertidos pãezinhos entre as minhas
pernas.

Seu olhar, entretanto, está voltado para os


homens, ele desviou sua atenção, mas agarra meu
braço para me firmar quando me curvo. Um gemido
satisfeito escapa quando coloco meus pés descalços na
grama espinhosa.

“Melhor?” Seu sotaque é doce.

“Muito.” Eu penduro os sapatos em meus dedos,


sem saber o que mais fazer com eles. Kai estala os
dedos e eles desaparecem.

“Eles estarão esperando dentro do seu armário.”

Eu torço meu nariz quando nos aproximamos e o


cheiro em decomposição de esterco de cavalo nos
cumprimenta. Se meu nariz humano está tão ofendido,
como os Fae não estão engasgando com ele?

“Você gostaria de cavalgar comigo ou gostaria de


seu próprio cavalo?” Ele pergunta, parando para
passar a palma da mão na lateral do cavalo. Seu
garanhão é cinza com manchas pretas pontilhando seu
pelo. A crina preta do cavalo foi cortada relativamente
curta, penteada de forma perfeitamente reta e com as
pontas rombas.

“Eu não me importo de ir com você.”

“Você não sabe nada sobre cavalos, não é?” Ele dá


um tapinha no garanhão, em seguida, fecha a
distância entre nós.

“Não muito.”

“E a caça?”

“Apenas uma vaga ideia do conceito.” Eu franzo


meus lábios.

Ele ri levemente. “Meu irmão e minha irmã são tão


opressores que você realmente prefere estar fazendo
isso?”

“Não, mas... Uh-huh. Quer dizer, sim, mais ou


menos.” Eu torço minhas mãos.

“Devidamente anotado.” Kai acena com a cabeça e


alcança minha cintura. “Posso?”

“Sim.”

Ele agarra minhas laterais e me levanta na


sela. Suas mãos escorregam pelas minhas pernas
enquanto me ajusto e equilibro nas costas do
cavalo. Seu sorriso fica tenso, seu olhar segue suas
mãos.

Você tem pernas incríveis. Lembro-me de Lincoln


dizendo. Talvez Lincoln não seja o único a notar.
“Pode ser melhor para você, já que você é nova
nisso, ficar escarranchada. Espero que não seja muito
desconfortável com essa roupa.”

Minhas mãos tremem quando me agarro à sela e


coloco uma perna sobre ela. Os nervos explodem em
bolhas dentro do meu estômago. Eu tento o meu
melhor para ignorá-los.

Kai funga uma vez antes de desamarrar o cavalo


de seu poste e alcançar o chifre da sela, balançando-se
cuidadosamente ao meu redor. Ele me empurra para
frente suavemente, suas pernas me envolvendo e seu
peito quente contra minhas costas. Apenas o metal frio
de sua lâmina acalma o calor.

“Pronta?” Ele sussurra por cima do meu ombro.

“Sempre.”

Ele inclina a cabeça com uma gargalhada


vigorosa, puxando as rédeas e cravando os calcanhares
no animal. Nós avançamos. Cada músculo se contrai e
eu agarro o chifre com força, minhas coxas se
contraem. A cada passo que o cavalo dá, posso sentir
a carne do meu corpo balançar. Terei sorte se não
houver algum tipo de deslizamento nesta viagem.

“Se você não consegue relaxar, posso passar


algumas lembranças.”

“Eu estou relaxada.” Eu aperto meus olhos,


tentando me concentrar em liberar a tensão com pouco
sucesso.

“Você está?” Ele se inclina para o lado para ver


melhor meu rosto.
“Uh-huh!” Eu digo com muita força e Kai tem a
coragem de parecer presunçoso.

“Uh-huh. Uh-huh. Uh-huh. Ele prova a palavra uma


e outra vez. “Eu amo e odeio quando você diz isso.”

Estou com muito medo de responder. Os


músculos do cavalo rolam embaixo de nós e cada
movimento ameaça me jogar para fora, eu juro. Os
braços de Kai me prendem. Ele está relaxado o
suficiente por nós dois.

Eu me concentro na minha respiração, ainda


tentando não parecer que estou nervosa. O cavalo trota
suavemente em direção ao vale, onde os outros que
esperam por nós nos juntarmos finalmente aparecem.

“Príncipe Kai, que bom que finalmente se juntou a


nós.” Um homem com tranças pretas sorri com dentes
brancos e brilhantes. Ele está sentado em cima de um
cavalo castanho que exala alto, parecendo mais bestial
do que domesticado.

“O que você tem aí?” O outro homem, com a


cabeça completamente raspada, ostenta uma
tatuagem preta feita de crescentes, muito parecida com
a da nuca de Kai, circulando seu couro
cabeludo. Músculos protuberantes sob sua parte
superior justa. Ele diminui a velocidade de seu
garanhão cor de creme conforme se aproxima, olhando
para mim com um sorriso sugestivo.

Os Fae respiram meu perfume juntos.

“Humana?” As primeiras risadas.


“O nome dela é Briar. Ela não é adorável?” Kai diz
claramente.

Ambos os homens balançam a cabeça.

“Briar, o valentão do cavalo marrom é Michael. O


branco de alguma forma consegue segurar
Nicholai. Ambos são duques.”

“Prazer em conhecê-los.” Eu sorrio.

“Ah, e ela tem boas maneiras.” Michael levanta as


sobrancelhas. “Eu pensei que os humanos fossem
quase bárbaros.”

“Eles têm que ser, para ir para a cama com Kai.”


Nicholai gargalha. “Ela é muito bonita. Talvez eu a leve
para dar uma volta quando você terminar.”

Não posso deixar de me inclinar para trás em Kai


enquanto Nicholai fala. Posso estar aqui sob o pretexto
de que sou a convidada especial de Kai, mas de
maneira alguma serei prostituída para qualquer outro
homem Fae.

Kai deixa cair a mão para descansar na minha


coxa, seu aperto abaixa em direção ao meu joelho e ele
aperta suavemente. Uma demonstração de carinho,
mas também um pouco de garantia para mim.

“Você sabe que eu não compartilho.” Kai


murmura.

“Bem, com uma garota assim.” Nicholai morde o


lábio. “Vou te dar tempo para reconsiderar quando
você terminar com ela.”
“É improvável que eu mude de ideia, mas você
pode continuar tentando me persuadir. Eu sou parcial
ao suborno.” Ele ri.

Os outros riem com ele enquanto eu assisto com


pouco interesse. Kai estala a língua e a risada deles
para.

“Muito bem. O que estamos procurando hoje,


rapazes?”

“Pantera branca. Viram a besta vagando pela


floresta em várias ocasiões recentemente. Ele tem uma
toca quase no centro morto. Eu sugiro que nos
separemos e nos encontremos no meio. Se o
encontrarmos antes de chegarmos à toca,
grite.” Michael conduz seu cavalo para frente.

Uma pantera. Estamos caçando a porra de uma


pantera. Bem, ele convenientemente deixou isso de
fora. Achei que estava dando um passeio na floresta
enquanto espiaríamos veados e esquilos. Em que tipo
de situação eu acabei de me meter? Talvez Violet e
Rowan fossem a opção menos mortal.

“Adorável. Encontro vocês lá.” Kai sorri para os


homens, soltando um grito enquanto puxa as rédeas e
chuta o cavalo. Nós passamos pelos homens e meu
cabelo voa atrás de mim.

É estranhamente libertador em cima deste animal,


mesmo que cada solavanco vibre através de mim nem
sempre da maneira mais agradável. Kai apenas
diminui o galope à medida que avançamos para a
floresta.
As árvores avançam em direção ao céu, hera e
trepadeiras verdes grudadas em seus troncos. Flores
brancas suaves desabrocham em suas bases com
frequência, emitindo um aroma suave de algodão. O
dossel acima quase escurece o sol, nos protegendo
tanto que um arrepio percorre minha pele.

“Estás com frio?” Sua voz é suave. Eu esperava


que ele não quisesse falar muito por medo de avisar a
pantera de nossa caçada.

“Estou pulando apenas de sutiã e calcinha,


praticamente. O que você acha?”

“Estou apenas sendo educado.” Se ele está irritado


com minha brincadeira, ele esconde bem. Ele passa as
rédeas no chifre e se afasta de mim. Com uma graça
fluida, ele puxa a jaqueta marrom de cima dele e a
oferece para mim.

“Obrigada.”

Tento me inclinar para frente, criar o máximo de


espaço possível entre nós para enfiar meus braços nas
mangas, mas só consigo me mover até certo ponto. O
material macio de sua jaqueta aquece
instantaneamente meu corpo. Eu empurro meu braço
rudemente através da outra manga, meus dedos
conectando com um estalo alto contra o rosto de Kai.

“Argh.” Ele agarra o nariz.

“Meu Deus. Meu Deus. Sinto muito.” Eu suspiro


enquanto puxo a jaqueta mais apertada para
mim. Tento me torcer para ver se causei algum dano,
mas é claro que não fiz.
“Você realmente dá um soco, matador.” Kai ri.

“Sério, foi um acidente.”

“Honestamente, eu provavelmente mereci. Eu


poderia usar meu ego para derrubar uma ou duas
coisas de vez em quando.”

“Você está bem?” Eu pergunto com uma voz


mansa, lamentando o ocorrido.

“Se seus pequenos ossos humanos pudessem me


quebrar, então eu não estaria cavalgando sozinho.” Ele
pega as rédeas de volta.

Eu agarro o chifre com um beicinho. Nossos


corpos balançam juntos, carregados pelo emaranhado
do chão da floresta pelo cavalo. Estendo a mão e toco
delicadamente uma mecha de sua crina. O cavalo
estremece quando o passo por cima.

Em nosso silêncio, minha mente vagueia. No


entanto, meus olhos ainda vagam pelo verde em busca
de quaisquer sinais de pelos brancos saltando para nos
cumprimentar.

Quantos dias terei que ficar na Corte de Ferro? Em


que momento Cordelia sairá para me encontrar? São
pensamentos enlouquecedores. Uma realidade muito
mais assustadora.

“Eu, uh, ouvi dizer que Jase está bem.” Kai


suavemente quebra as preocupações ansiosas que
puxam minhas sobrancelhas juntas.

“Ele está?” Eu me sento mais reta. “Eles o tiraram


do castelo?”
“Sim. Acho que Lylix o apresentou a um dono de
bar que tinha um quarto disponível acima de seu
negócio.”

Felizmente, ele não bebe durante os dias...

“Você... Uh, você e Jase conversam com


frequência?” Mantemos nossas vozes baixas.

“Quero dizer, sim. As cartas de Jase costumam ser


muito longas e prolixas. Ele com certeza adora
falar.” Kai pisca. “Eu o acho muito... Interessante.”

“Tenho certeza de que Jase seria seu convidado


humano.” Meus lábios se curvam com o pensamento. É
nojento que eu tenha sugerido isso, honestamente.

Pássaros piam no alto, alçando voo de um galho


bem acima de nós. O vento sussurra no mato onde os
animais menores se escondem. A floresta tem
batimentos cardíacos próprios.

“Jase é Fae das Sombras, então é um pouco


diferente.”

“Certo.”

“Ele é muito parecido com você, no entanto. Muito


atrativo.”

“Tenho certeza que ele simplesmente come isso


quando você fala. Se você for gentil com ele, você
sempre terá um amigo. Jase é muito leal, sabe?”

“Eu sei.” A sombra de um sorriso enfeita seus


lábios.
A Corte das Sombras parece abrigar várias coisas
que parecem terrivelmente com um lar para mim. Eu
me sinto vazia tão longe dos dois. É só uma questão de
tempo, eu me consolo.

Por mais que eu tenha notado os sons da vida


selvagem, acalmando à sua maneira, eu rapidamente
noto quando todos os sons param de repente. Até a
respiração do cavalo abaixo de nós é superficial e
silenciosa. A brisa para. Toda a natureza de repente
está ciente de algo que eu não estou.

Eu olho de um lado para o outro, nada além de


árvores verdes e densas. Kai puxa a mão de volta para
sua lâmina.

“Fique bem quieta.” Ele aconselha.

Eu não me movo Eu não posso. Não com a batida


constante de adrenalina pulsando em mim. Meus
ouvidos se esforçam para ouvir qualquer coisa. Segue-
se apenas o silêncio.

Um borrão de flashes brancos em nosso


caminho. Lá, e sumiu em um instante. Kai grunhe
baixinho, enviando sua lâmina voando em rotações
praticadas pelo ar. Acerta quando o animal para na
nossa frente.

Um assobio estranho responde à punção da


lâmina saindo das costelas da pantera. Mas este
animal... A pantera… Está ao nível dos nossos olhos
enquanto estamos sentados em cima do nosso
cavalo. Ele se curva para frente, mostrando seus
dentes afiados para nós. Sua pele é espessa com tufos
de pelo que se projetam aqui e ali ao longo de seu dorso
arqueado.

Em seguida, ele vem para nós.


Quatro
CALCINHA ÚMIDA

Kai puxa as rédeas, o cavalo seguindo


suavemente. Os dentes rangem no espaço que antes
ocupávamos. Um grito inflexível e cheio de terror morre
lentamente em meus lábios enquanto cavalgamos para
longe. A floresta cai atrás de nós, com a besta
escalando tudo em seu caminho.

“Tudo bem, Cupcake, se os rapazes não sabiam


onde estávamos antes, com certeza sabem agora.” Diz
Kai com um grunhido enquanto se inclina para frente
com o cavalo. “Aqui, segure isso.”

Suas mãos firmes soltam as rédeas em minhas


palmas suadas, ainda tremendo com o choque
repentino. Eu seguro o couro, uma recusa desesperada
pronta para deixar meus lábios, mas Kai pula do lado
do cavalo.

Não. Não, mergulha... Para baixo.

Estou gritando de novo com medo de que ele tenha


me deixado para galopar sozinha na floresta para
enfrentar um felino do tamanho de um elefante, mas
ele apenas se vira e senta de costas para mim na sela.
Isso é uma merda de trabalho de pé chique quando
estamos a momentos de sermos abertos por garras
compridas.

A lâmina de sua espada brilha em uma lasca de


luz que conseguiu quebrar o dossel acima. Ele canta
enquanto a lâmina afiada corta o ar, golpeando o felino.

Kai inclina a cabeça para trás em uma risada


perversa.

“Como você pode estar rindo em um momento


como este?”

“Estamos bem!” Ele me empurra para o lado com


ele, esquivando-se de uma pata branca.

“Nós estamos?!” É um grito estridente. “Acho que


quase mijei nas calças.”

“Podemos torcer sua calcinha úmida quando


terminarmos.”

Meus ouvidos estão inundados com o estalo de


galhos e escombros caídos sob os cascos de nosso
cavalo. Assobios e rugidos assustadores são recebidos
com os grunhidos guturais de Kai e o deslizar de sua
espada. Em algum lugar atrás de nós, outro coro
emerge. Um som de gratidão. Dois cavalos galopando
em uníssono aparecem atrás da pantera.

Vivas saem das gargantas de Michael e


Nicholai. Ambos alcançam suas armas. As flechas
cortam o ar, voando a uma velocidade tão rápida que
meus olhos humanos só veem o puxão da corda e a
ponta da flecha enterrada na pele grossa do
felino. Michael abre seu sorriso brilhante quando a
pantera para de nos perseguir e se volta para os dois
Faes atrás dela.

“Diminua a velocidade do cavalo.” Diz Kai por cima


do ombro.

“Como se eu soubesse fazer isso.” Eu cerro meus


dentes.

“Puxe as rédeas em sua direção. Então nos


vire. Quer saber, deixe-me apenas…” Ele enfia a
espada de volta no cinto, revertendo o truque que fez
antes e se jogando de volta no assento para me
encarar. O suor se acumulou em seu pescoço e peito,
deixando meus ombros úmidos enquanto ele me
envolve. “Aqui.”

Trotar de volta para os homens leva apenas um


momento. O sangue da pantera mancha sua pele,
tornando-a um vermelho cereja perto das feridas e o
resto de sua pele uma cor de leite morango quente. O
café da manhã revira no meu estômago. Eu não
consigo assistir. Eu não quero assistir.

“Pensei que você pudesse ter fugido para lá por um


segundo, Príncipe Kai. Está praticamente lambendo as
feridas agora.” Grita Nicholai.

Grandes omoplatas redondas projetam-se das


costas do animal enquanto ele desce até o chão,
observando a dupla. Michael aponta uma flecha
entalhada para o felino, observando com olhos
estreitos.

“Você está tremendo.” Disse Kai com surpresa,


suas sobrancelhas se juntando.
“Acho que vou vomitar.” Eu consigo dizer, ainda
agarrada à sela.

Espero um suspiro irritado ou mesmo a


reclamação de que arruinei a caçada de uma vez. É o
que meu ex-namorado Collin teria feito. Collin
provavelmente teria até considerado me empurrar do
cavalo e me deixar encontrar o caminho de volta para
o castelo através da floresta densa apenas para que ele
pudesse se divertir um pouco.

“Feche os olhos.” Diz Kai com firmeza.

“O que...”

“Apenas faça. Eu direi quando você puder abrir


novamente.”

Respiro fundo, para acalmar a vontade de


tagarelar dentro do meu colo, em seguida, fecho os
olhos. Kai se mexe, o estalar de seus dedos seguido por
um estalo ainda mais alto. A adrenalina ainda pulsa
dentro de minhas veias, tornando cada inspiração
trêmula. Há uma ovação final de outro Fae.

O cavalo se vira, apontando-nos na direção


oposta. Nós cavalgamos em silêncio por alguns passos
antes de Kai dizer baixinho: “Você pode abrir os olhos
agora.”

Balançamos juntos a cada passo do cavalo. Há um


cheiro estranho no ar. Eu não me detenho no
pensamento.

“Obrigada.” É tudo que posso oferecer.


“Não se preocupe com isso. Se importa se
pegarmos a rota panorâmica para que você tenha
tempo para se acalmar antes de voltar para o jantar?”

“Acharia isso adorável. E quanto à... Pantera?”

“Michael e Nicholai ficarão felizes em cuidar


disso. Eles vão carregá-la e ter sua pele limpa e exibida
em uma de suas casas. Prefiro não ouvi-los discutindo
sobre quem fica com o animal de qualquer maneira.”

“Você não quer a pele?” Meus ombros caem de


minhas orelhas.

“Não.” Ele ri. “O que eu vou fazer com


aquilo? Temos tapetes suficientes.”

“Oh.”

A linha das árvores começa a diminuir e posso ver


a quebra da copa permitindo que o sol brilhe
livremente não muito longe. Os sons da floresta
voltaram com a morte da pantera. Um vento delicado
esfria meu brilho de suor.

“Então me fale sobre você, Briar Anders.” Kai sorri


por cima do meu ombro. “Parece que meu irmão
começou a conhecê-la, mas agora você está comigo e
não há muito mais que eu saiba sobre você do que o
fato de que prefere jeans a vestidos e é impecavelmente
mortal.”

Eu envio a ele um olhar cauteloso. O que há para


dizer? O que ele gostaria de saber?

“O que você quer saber?”


“Como era sua casa no mundo mortal?” Seu tom
é sinceramente curioso.

“Eu morava em um apartamento. Era pequeno,


meio que desmoronando, mas era meu e isso era o que
importava.”

“Um apartamento?”

“É um edifício grande com áreas de estar


separadas que contêm um quarto, banheiro, cozinha e
área de estar. Várias famílias ou pessoas compartilham
o prédio inteiro.”

“Como uma pousada?” Kai oferece, agarrando-se


aos pedaços esquecidos do mundo humano.
“Realmente faz muito tempo desde que me aventurei
no reino mortal. Provavelmente está muito diferente do
que eu me lembro.”

“Como uma pousada, exceto que você não aluga o


quarto por uma noite, você mora lá. E o espaço é muito
maior.” Eu faço uma pausa. “Lincoln pensava a mesma
coisa. Por que vocês não visitam o mundo mortal com
frequência? É porque não há mágica como há aqui?”

“Ah, não, a falta de magia não me


incomoda. Humanos podem ser bastante
divertidos.” Rompemos o fim da floresta, reaparecendo
no longo vale. “É mais porque há muitos reinos que
podem ser visitados. Tenho outros que são mais
queridos ou favorecidos.”

“Q-quantos são?”

“Muitos, na verdade.” Ele mastiga o lábio. “Existe


um reino que é estritamente preenchido com
Trolls. Eles fazem a melhor comida. Jantar
incrível. Então, há outro reino que é mais uma
miscelânea de espécies, mas sua tecnologia é...
Avançada. Isso me confunde, mas é muito intrigante e
divertido.”

“Você não se preocupa com esses outros reinos?”

“Por que eu deveria?”

“E se houvesse uma guerra entre eles?”

“A maioria dos reinos está felizmente inconsciente


dos outros. O nosso é um dos poucos que realmente
permite as viagens e interligações, e é por isso que
temos Faes das Sombras. Embora você tenha que ter
cuidado quando estiver viajando. Existem portais que
levam você para o Reino Perdido, onde não existem
portais para trazê-lo de volta.”

Meu nariz enruga quando eu lanço para ele um


olhar duvidoso por cima do ombro. “Tem que haver um
portal para trazê-lo de volta.”

“Como?” Kai ri.

“De que outra forma você saberia sobre o Reino


Perdido?”

Seu corpo congela enquanto ele revira o


pensamento. Seus olhos ficam vidrados e ele olha para
longe. “Nunca pensei nisso dessa forma. Mas eu
presumo que um vidente em algum lugar viu o reino e
é como nós sabemos.”

Eu encolho os ombros. Não sou especialista nos


reinos Faes.
O cavalo caminha calmamente para a parte de
trás do castelo. Eu olho as muitas varandas que se
projetam das paredes de pedra escura. Atrás de sua
metade frontal simples e não particularmente
acolhedora, está um quintal muito mais atraente. A
parte de trás do castelo tem uma longa varanda, só
posso presumir que pertença ao Rei e à Rainha, então,
abaixo dela, cercas vivas traçadas em um labirinto na
altura do joelho. Flores azuis despontam nos
arbustos. Seu doce perfume enche o ar. Honestamente,
fico surpresa quando não consigo encontrar nenhum
vestígio de uma árvore Reminints.

“Onde está a árvore dos seus Reminints?”

Observo o labirinto com interesse, admirando


pequenas estátuas do que eu chamaria de querubins,
mas suas orelhas chegam a um ponto e suas bocas se
abrem para revelar dentes de tubarão. O que quer que
sejam, talvez eu não queira ir para o reino deles.

“Reminints é uma droga que foi proibida na Corte


de Ferro.” Sua voz é áspera.

“Ah, é mesmo?” Eu zombo.

“Sim, bem, às vezes vale a pena ser o


príncipe. Faes tendem a desviar a cabeça de minhas
ações menos do que respeitáveis.”

Uma série de árvores, repletas de frutas coloridas,


zigue-zagueia pelo pátio além do labirinto. Nós
trotamos ao longo delas. Eu sinto a brisa de frutas
cítricas e meu estômago ronca.

Kai não parece se importar com o silêncio quando


ele se estabelece entre nós. Eu me pergunto se é porque
ele foi criado para mostrar um nível de respeito pelos
outros, seja quem for que ele considere seus pares
como uma rainha mortal. Estou muito contente em
deixar o sol aquecer minhas bochechas, embora sua
jaqueta enorme ainda esteja pendurada em mim,
fazendo meu corpo aquecer mais rápido.

Fico em silêncio enquanto contornamos o castelo


novamente. Uma porta está aberta com alguns criados
conversando nos poucos degraus que levam para
dentro. Ao ver seu príncipe, eles se aquietam e se
curvam. Seus braços puxam suavemente as rédeas,
desacelerando o garanhão até parar. Ele sai do
cavalo. Suas botas encontram a grama com um baque
silencioso e ele levanta os braços para mim.

Ambos os servos assistem com interesse aguçado


enquanto eu o deixo envolver suas mãos em volta da
minha cintura e me abaixar no chão como se eu
pesasse nada mais do que uma grama.

Honestamente, o fato de que alguém pode ser forte


o suficiente para me mover sem esforço é levemente
atraente.

“Posso?” Kai oferece o cotovelo. É então que noto


que o calção em seu peito está vazio.

“Você deixou sua espada curta na pantera.”

“Ah, os duques farão a gentileza de devolvê-la,


tenho certeza.”

Eu sorrio para os criados, puxando a saia do


vestido para baixo. Como se isso fizesse um bem. Deus
do céu, no que eu me meti?
De braços dados, entramos no castelo. A porta nos
leva para as cozinhas, onde os funcionários estão
ocupados preparando a refeição. Os servos fazem uma
reverência ao verem o príncipe de passagem. Seus
olhos mudam rapidamente e permanecem em mim.

“Com que frequência você traz convidados para


casa?”

“Não muito frequentemente.” Ele alcança outra


porta. “Acho que meu último convidado foi, talvez, em
algum lugar na faixa de cem a duzentos anos atrás.”

Tenho que fazer uma pausa longa o suficiente


para registrar totalmente se caguei nas calças ou
não. A expectativa de vida dos Faes é quase insondável.
E não é de admirar que eu esteja ganhando a atenção
de outras pessoas, se Kai não tem o hábito de trazer
amantes para casa.

“E quantos anos você tem?”

“A diferença de idade assusta você?” Ele


suavemente evita a pergunta.

A porta se abre para uma grande sala de jantar


com papel de parede de veludo roxo colado em todos os
lugares que os olhos podem ver. A sala pareceria
escura se não fosse pela fileira de lustres acima da
longa mesa de metal. Rowan está recostado em uma
cadeira, sua bota empoeirada descansando na borda
da mesa. Violet está relaxada de uma maneira muito
mais apropriada, admirando o comprimento de suas
unhas.

“Esgueirando-se pela entrada dos servos?” Rowan


cutuca os dentes.
“É terrível que seus sapatos nojentos estejam
descansando onde comemos.” Kai retruca. Deslizando
seu braço do meu, ele agarra uma cadeira de metal
elegante e a puxa para longe da mesa para mim. “Por
favor sente-se.”

“Vejo que a roupa está segurando bem.” Violet


sorri.

Tento não me dar uma olhada para ter certeza de


que realmente estou bem. Depois daquela perseguição
em alta velocidade pela floresta, eu sinto que o vestido
deveria estar em farrapos. A jaqueta de Kai fica bem o
suficiente para me manter coberta.

“Estou um pouco irritada.” Continua ela. “Porque


meu irmão ainda não tentou tirá-la.”

Kai suspira alto, recuando para o assento ao lado


do meu. “Se bem me lembro, Briar é exclusiva.”

Rowan bufa.

Os lábios de Violet se curvam e ela se inclina para


frente. “O que?”

Certo. Collin. Não, isso não é mais uma coisa.

“Na verdade, não sou mais.” Eu limpo minha


garganta.

“Nunca importou para mim de qualquer maneira.”


Rowan encolhe os ombros.

“Isso é interessante.” Violet olha entre mim e Kai,


que cruza as mãos delicadamente no colo, mantendo o
olhar impassível.
“É mesmo?” Kai finalmente responde.

“Sim.” Eu digo.

Eu olho entre os três irmãos que trocam olhares


em uma comunicação silenciosa. Nenhum deles
encontra meus olhos.

“Então, é... Alguém ouviu o que está acontecendo


na Corte das Sombras? Certamente, Cordelia deve ter
cagado um tijolo agora?” Qualquer coisa para tirar a
atenção estranha de mim.

“Oh, ela está chateada. Pelo que me disseram, ela


quase incendiou metade do seu salão de baile quando
percebeu. Porém, eu acho que Lincoln agiu bem
rapidamente em escoltá-la para fora da corte porque
dizem que a vidente que ela encontrou teve que fazer
uma longa viagem antes de chegar à corte para fazer o
trabalho sujo e pode chegar a qualquer momento.”
Responde Kai.

As portas da cozinha pela qual saímos se abrem e


os criados entram com pratos fumegantes, colocando
as refeições na frente de cada um de nós. Faço o
possível para sorrir para o criado que me observa com
uma curiosidade flagrante. Com o meu murmúrio de
‘obrigada’, eles voltam para os fogões.

“Estou surpresa que Lincoln não tenha lhe


contado.” Violet pega seu garfo, espetando alguns
vegetais na ponta.

Kai e Rowan também comem em suas


refeições. Embora meu estômago ronque, eu fico
olhando para a comida por um minuto pensando.
“Não, ele tem estado... Ocupado, eu acho.”

“Você não pode simplesmente olhar para os


pensamentos dele? Ele não abriu a mente para
você? Por que outro motivo Kai levou uma surra de
merda eterna quando recebeu a punição de Linc por
ele?” Ela continua.

Ele o que?

O ar entre nós parece frágil. Tenho certeza de que


se respirar fundo demais ou me mover muito
rapidamente, serei ignorado ou minhas perguntas
serão rejeitadas. Ainda assim, eu giro para dar toda a
minha atenção a Kai. Suas bochechas esquentam, mas
ele encara seu prato sem reconhecer o quão fortemente
minha atenção está queimando nele.

“Você recebeu a punição de Lincoln por proteger


meus pensamentos?” Eu sussurro.

Seu garfo bate no prato quando ele o deixa cair e


franze a testa para Violet. Ela sorri docemente de volta
para ele.

“Lincoln precisava estar com você. Não havia


tempo para ele ser punido, se curar e voltar a fazer o
que precisava. Além disso, eu sou o herdeiro. Minhas
punições são mais rápidas e menos públicas. Foi uma
chicotada rápida e eu estava bem. Estou bem.” Seus
olhos brilham como as estrelas de fogo acima.

“Uau, estou apenas surpresa.” Eu digo, finalmente


pegando meus talheres. “Achei que todos vocês
pensassem tão pouco de Lincoln que o deixariam lutar
sozinho.”
“Oh, nós amamos Linc, mas ele é, sem dúvida,
menos que nós. Kai não fez isso por causa de
Lincoln. Ele fez isso por você.” Rowan mastiga
enquanto fala, apontando o garfo para mim. “Se
Lincoln fosse espancado o suficiente, ele não seria
capaz de protegê-la.”

“Eu gostava mais quando pensei que você estava


fazendo isso pelo seu irmão.” Eu suspiro.

Algumas coisas, como a visão deste reino sobre os


Faes das Sombras, não podem ser mudadas em apenas
um dia. Seria preciso trabalho, anos tentando mudar
suas normas sociais, para que se entendesse que todos
são iguais. Aprendi o suficiente com o mundo humano
para saber que se você valoriza uma raça, uma religião,
uma sexualidade, uma... O que quer que faça alguém
diferente de você, menos do que você, isso torna o
mundo cheio de ódio. Os humanos odiarem os
humanos só trazem guerra e dor de cabeça. Por
exemplo, Faes odiarem Faes um dia provará ter um
ponto de ruptura aqui.

“Lincoln não precisa de mim para lutar suas


batalhas.” Kai corta o pedaço de carne em seu prato.
“Mas você... Você pode precisar de ajuda.”

Suas palavras pesam em meus ombros. Ele está


certo, afinal. Sou mais fraca que os Faes aqui. Sou uma
estrangeira em sua cultura e tradições.

Cada mordida se transforma em pedra quando


atinge meu estômago. Algo tem que ser feito. Não posso
simplesmente continuar deixando-os lutar minhas
batalhas por mim. Penso em meu colar, escondido no
quarto de hóspedes de Kai.
Eu preciso de meus poderes. Qualquer parte de
mim que foi suprimida ou tirada ou seja o que for, eu
não posso sobreviver sem elas.

Mortal, não mais.

O sangue Fae das Sombras pertence a mim.


Cinco
EU NÃO ESTOU CHAPADO, TU QUE ESTÁS

O jantar continuou com pouca conversa. Rowan


ponderou como uma flor tão delicada sobre como eu
poderia gostar de caçar. Kai continuou sendo um
cavalheiro e se absteve de dar a ele todos os detalhes
do meu medo desenfreado na situação da caça.
Embora nós dois rimos enquanto tentei explicar que os
felinos no mundo humano não ficam tão grandes.

Rowan nos observou com atenção concentrada


quando me peguei tocando o ombro de Kai. Jogando
minha cabeça para trás com uma risada calorosa. É
mais engraçado olhar para trás agora do que foi no
momento real.

Depois, fui escoltada de volta ao meu quarto, onde


me encontrei com um closet cheio e uma onda de
exaustão. O sono me acenou e eu sucumbi a ele até
que o amanhecer rastejou pelas minhas janelas e um
criado entrou em meu quarto com uma bandeja cheia
de comida.

O café da manhã está no meu colo enquanto eu


apago meus sonhos de minha mente. Um arranjo de
doces, em sua maioria comparáveis a donuts ou
pastéis, estão empilhados em uma pequena montanha
de comida. Eu pulo os doces em favor do café torrado
escuro fumegando em uma caneca. Nada como uma
dose de cafeína para me preparar para o que quer que
a Corte de Ferro tenha reservado para mim hoje. Eu
vejo a porta esperando por qualquer um dos membros
da realeza entrar sem bater, mas eu consigo terminar
o café da manhã em paz.

Ainda há tempo para eu ficar de pé e olhar pela


janela. Ao contrário do quarto de Lincoln na Corte das
Sombras, não há vista para a cidade. Minha suíte de
hóspedes dá para o vale, escorregadio com o orvalho
da manhã, pelo qual Kai e eu havíamos cavalgado
ontem. Os ventos sopram nos galhos das árvores da
floresta na borda do vale. Quantas outras bestas vivem
dentro dela tão selvagens quanto a pantera branca?
Quão mortal seria uma caminhada pela floresta para
alguém como eu?

Os pensamentos só aumentam minha


necessidade de liberar meu poder. Eu desço para a sala
de estar, um fogo queima na lareira, embora eu não
tenha ideia de quando foi iniciado ou por quem. No
manto há um arranjo de decoração, flores frescas, uma
pequena tela e uma variedade de vasos de
porcelana. Meus dedos agarram a tampa fria e lisa de
uma pote cor de creme que me lembra de algo que
alguém guardaria açúcar para o chá. Rapidamente,
sem acreditar que não estou sendo observada, dou
uma olhada dentro. O grande pingente de rubi repousa
na parte inferior, a corrente escura enrolada em uma
pilha em cima dele. Ele brilha quanto mais eu
observo. Poder. Este é o meu poder. Com cuidado para
não machucar o que devem ser peças muito caras,
abaixo a tampa.
O calor do fogo aquece minhas pernas. Eu coloco
minhas palmas para frente por tempo suficiente para
reunir o calor em minhas mãos antes de me virar para
o closet. As barras de metal antes vazias agora estão
cheias com uma variedade de vestidos. Mais do que eu
me lembro de Rowan ou Violet escolhendo. Depois de
alguma reflexão, opto por um vestido amarelo suave
que desce até a metade do meu estômago com painéis
de tecido que chegam aos meus tornozelos. As fendas
percorrem o comprimento da saia uma e outra vez,
tanto que a saia em si é apenas uma longa franja. Isso,
porém, parece mais seguro do que o que eles me
colocaram ontem. Mesmo que cada passo revele todas
as minhas pernas, pelo menos minha vagina não está
para fora. Isso tem que contar para alguma coisa.

Os saltos pontiagudos rosa que fornecem um


contraste total com o meu vestido, clicam quando eu
me movo em direção à porta. É uma sensação de
confiança, como se estivesse brincando de me vestir,
mas adoro isso me consumir. É uma melhoria do
estado de autoconsciência de ontem.

Saio para o corredor, dando um pulo quando


percebo que Rowan está encostado na parede. Ele
ignora meu suspiro de surpresa.

“Pronta para o tour?”

Eu tinha esquecido disso, mas acho que estou


tecnicamente pronta. O que mais vou fazer no meu
dia?

“A resposta será determinada assim que você me


disser há quanto tempo está espreitando do lado de
fora da minha porta?”
“Tempo suficiente, mas não muito longo.” Rowan
empurra suas longas tranças por cima do ombro,
caminhando pelo corredor.

Dou um passo leve para seguir. “Essa resposta é


bem vaga.”

“É para ser.”

Ele paira perto de mim, seu braço roçando no meu


enquanto caminhamos. Caminhamos em silêncio
enquanto ele me leva até a entrada principal do
castelo. Quando alcançamos as grandes portas, ele
bate palmas.

“Tão claramente. Esta é a nossa entrada.”

“Sim, eu reconheci o longo, longo corredor que


leva… Para nada.” Eu suspiro. “Você pode me explicar
por que cada corredor parece muito semelhante ao
anterior? Seu designer de interiores não se incomodou
em pensar em mais nada?”

“Eh, é para ser assim. É confuso para os


convidados, mas também para os intrusos.
Vamos.” Ele entrelaça seus dedos com os meus.

Estou tentada a recusar ou, pelo menos, fazer


menção ao toque íntimo, mas ele já está me puxando
para a frente com entusiasmo. Suas botas batem
ruidosamente no chão.

“Pense nisso da seguinte forma...” Diz ele. “Os


corredores mais externos...” Ele aponta para os
corredores que se ramificam primeiro na entrada. “São
escritórios, depósitos, algumas das extensões de Violet
de seu próprio closet e outras coisas muito
chatas. Então, os dois primeiros corredores da frente e
os dois primeiros corredores atrás não são nada
chatos, muito bem. Quanto mais vamos para dentro...”
Ele continua me arrastando para frente. “Mais
interessante fica.”

“Quantos corredores existem no total através do


castelo?”

“Uns dez.”

“Uns? Como pode haver uns... Corredores?”

Rowan ri. Internamente, estou fazendo anotações


para lembrar que tipo de corredores são o quê. Como
Rowan os descreveu, os corredores um e dois, assim
como dez e nove são... Escritórios ‘e outras coisas
chatas’.

“O próximo conjunto de corredores são os quartos


de dormir. As suítes estão localizadas principalmente
no primeiro andar. Sua suíte fica neste corredor. Se
você seguir as escadas.” Ele aponta para os degraus
em ascensão alguns segundos à frente. “Então, no
próximo andar, você encontrará os aposentos da
realeza.”

Rowan faz uma pausa ao pé da escada. Ele levanta


a mão livre para acariciar a junta de seu dedo indicador
na curva do meu rosto. “Meu quarto é a segunda porta
à esquerda.”

Eu expiro alto pelo nariz e afasto sua


mão. Segurando nossos dedos entrelaçados, eu levanto
minhas sobrancelhas com a pergunta. Seu sorriso
conhecedor só aumenta antes de ele me puxar para
frente novamente. Com passos de cliques altos, tento
manter o ritmo.

Os corredores um, dois, dez e nove são chatos.


Corredores três, quatro, oito, sete, são quartos de
dormir. O que sobrou? Os corredores mais
intermediários? Corredores número cinco e seis.

“Eu tenho um palpite sobre o que está no


meio.” Eu digo para os ombros largos de Rowan.

“Sim, você provavelmente adivinhou.”

“Refeições, salões de banquetes e salões de


baile?” Eu imito o sotaque agradável de Rowan.

“Eu não pareço assim quando falo.” Ele faz uma


pausa quando chegamos ao meio do castelo.

“Sim, você parece.”

A carranca que se formou em seus lábios apenas


se intensifica quando ele fica ofendido. “Você deve ser
ruim em imitações. Imite o Lincoln.” Ele exige.

“Muito bem.” Não tenho nada a provar, mas


maldito seja se não sou boa em imitações. Eu endireito
meus ombros e fico o mais alta que consigo, mantendo
meu queixo perfeitamente reto e estufando meu peito.
“Sua curiosidade é problemática, Briar. Deixe-me
buscar outras coisas para intrigá-la.” Dou a ele o
mesmo tom de sotaque que toda a Corte de Ferro
parece compartilhar.

“Droga, isso foi bom. Imite o Kai.”


Kai é fácil. A versão adequada, mas
descontraída. Eu fico imóvel, mas relaxo meu peito e
queixo. Eu coloco minhas mãos levemente na minha
frente. Ah, e não consigo esquecer os olhos
semicerrados. “Quando as chuvas da vida caem nos
lagos da eternidade, é menos provável que a cidade
vizinha a deixe secar.”

“Oooh.” Rowan morde sua junta. “Porra, agora


estou chateado porque deve ser assim que pareço.”

“Sim, bem.” Eu encolho os ombros, cuidadosa com


cada passo que dou enquanto começo a subir. Mas eu
sei tudo o mais, apenas se repete. “Para onde vamos
agora?”

“Para o jardim.”

Não me lembro de ter visto um jardim quando


passamos pelas costas do castelo no cavalo de Kai. Não
é apenas o labirinto de cerca viva?

“Oh, é perto da parte de trás do castelo?”

“Sim, é direto pela porta dos fundos.” Ele pega


minha mão novamente. Desta vez, noto como seu
polegar acaricia o meu.

Estou um pouco sem fôlego por causa da nossa


viagem da frente do castelo até os fundos. Isso sem
mencionar a maneira como Rowan praticamente me
guiou durante o tour. Ele tem algo mais
planejado? Deus, espero que não.

“Onde estão os seus pais?” Eu pondero em voz


alta. Ainda não vi o infame rei e a rainha desde a minha
chegada. Embora isso provavelmente seja uma coisa
boa, porque representar o papel de amante de Kai não
parece totalmente excitante.

“Ocupados.” Ele encolhe os ombros.

“Mas eles estão aqui?”

“Oh, sim.”

Ele empurra a porta que nos protege do mundo


exterior. Finalmente. O ar fresco enche nossos
pulmões quando saímos. Como esperado, as folhas
exuberantes das pequenas sebes que formam o pátio
labirinto nos atingem no meio da panturrilha. Os
verdes são ricos com a vida que aqui cresce, vibrante e
próspera.

Rowan se inclina, torcendo uma baga gorda de


sua sebe e a joga na boca. Ele cantarola em
agradecimento. Ao longo de toda a parte inferior dos
arbustos, os lados voltados para dentro em direção ao
castelo, são bagas diferentes. Muitos dos pequenos
frutos crescem ao lado das lindas flores de índigo que
vi ontem.

Portanto, há um jardim... Pelo menos Rowan não


estava tentando me enganar para nada.

“Ouvi dizer que é um costume no mundo mortal


os homens darem flores às suas parceiras. Você gosta
de flores?” O Fae se agacha e brinca com o dedo ao
longo das flores.

Ou talvez ele esteja.

“Eu gosto de flores.” Eu digo com cautela.


“Então eu escolherei algumas!”

“Bem, é normal que eu escolha algumas para você


também.” Eu concordo.

“É? Não me lembro de ter ouvido falar disso.”

“Sim. É uma nova tendência. Você vai por ali, eu


irei por aqui e nos encontraremos no meio com nossos
buquês.”

Não, não vamos. Pelo menos... Eu não vou.

Procuro cercas-vivas mais altas e bem formadas


para que eu possa deslizar para trás. Ou talvez eu vire
a esquina e use a entrada de serviço novamente. Algo
me diz que Rowan planejou muito mais do que apenas
colher flores.

Rowan já está passando por cima da borda verde


e indo para o próximo caminho. Ele é seletivo ao olhar
para a variedade de flores. Pensando muito no que
acha que eu gostaria ou não. Quase fico triste por estar
prestes a fugir e me esconder dele. Talvez eu deva
apenas dizer a ele que não estou interessada. Bem,
quero dizer... Eu meio que já disse isso.

Eu mantenho meus olhos treinados nele, fingindo


ter interesse em colher flores para ele em troca, até que
ele esteja longe o suficiente para que eu me coloque
atrás do arbusto oval que cobre minha altura mesmo
com esses saltos. Ao longo da parte de trás da muralha
do castelo há outra porta que dá para este pequeno
jardim. Dou ao Fae uma última olhada antes de me
lançar para ela.
“Este pode ser o maior buquê que você já recebeu
na vida.” Rowan ri à distância.

Eu seguro a maçaneta. “Não é uma competição!”

“Na verdade, é exatamente isso o que é.” Rowan


diz, embora eu dificilmente entenda as palavras.

Rapidamente, fecho a porta e começo a me mover


pelo corredor. O medo infantil que surge em qualquer
bom jogo de esconde-esconde me enche agora. A
adrenalina de ser pega no meu ato de fugir. Talvez seja
mais comparável a faltar às aulas no colégio. Não quero
me matricular na Ciência de Rowan Ziko. Ainda estou
tentando aprender a história de Lincoln Ziko.

Droga, não consigo ser nem um pouco dedicada.

Talvez esse tenha sido o meu problema com Collin.


Talvez esse espaço entre mim e Lincoln seja uma coisa
boa. Dessa forma, não podemos nos precipitar em
nada. Não que ele pareça pronto para fazer isso de
qualquer maneira...

Passos ecoam atrás de mim. Não consigo me virar


para ver quem é. Meu medo não me deixa. Em vez
disso, faço uma coisa ainda mais perigosa e me jogo na
sala mais próxima e bato a porta atrás de mim.

Os papéis caem das botas de Kai enquanto ele


puxa os pés da mesa. Seus olhos estão vermelhos e sua
cabeça se ergue da posição reclinada na
cadeira. Rapidamente, reconheço a sala como seu
escritório.

“Você se esforça para trabalhar.” Eu pressiono


meu ouvido na porta.
“Desculpe, manhã estressante.” Ele esfrega os
olhos.

“Estou vendo.” Espero que o som de botas


trovejando me siga. Passam-se degraus, mas são gentis
demais para serem Rowan.

“Você, uh, precisa de algo?”

“O que?” Eu levanto minha orelha da porta por um


momento para permitir que meu cérebro funcione por
um segundo para assimilar o que ele está dizendo.
“Não, não, estou bem.”

“Então o que você está fazendo aqui?”

Eu pisco alisando o desgaste da saia que foi


empurrada para trás no turbilhão de movimentos de
me introduzir na sala, eu coloco um sorriso suave.
“Escondida.”

“É Rowan, não é?” Kai franze a testa. Seus olhos


mal estão abertos enquanto ele me olha.

“Ele é persistente.”

“Você diz isso como se fosse uma coisa boa.” Kai


inclina a cadeira para trás novamente, apoiando as
mãos no peito. É uma pose que sugere que ele pode se
acalmar para dormir bem rápido.

“É uma coisa boa, mas não neste cenário


específico.”

Duas cadeiras vazias esperam na frente de sua


mesa, macias e convidativas. Eu mudo meu olhar para
elas antes de me acompanhar para frente. O tecido é
aveludado, lembrando as cadeiras da sala de
jantar. Ele roça minha pele de uma forma
reconfortante, de uma forma calorosa. O escritório de
Kai realmente é frio. Achei que fosse a pequena peça
de roupa que usei da última vez que estive aqui.
Embora... Eu acho que esta não é muito melhor.

“Você gostaria que eu falasse com ele?” A voz de


Kai é monótona, mas ele arqueia uma sobrancelha.

“Você iria?” Tento não exagerar. “Quero dizer, se


você pudesse.”

“Ou você mesmo poderia dizer a ele.”

Eu franzo a testa com sua sugestão.

“Eu já fiz. Eu disse a ele que não estou


interessada.”

“Talvez ele esteja apenas confuso com os seus


sinais mistos.”

Meu queixo cai. Meus sinais mistos? Esses Faes


pensam que fiz alguma coisa para levar Rowan
adiante? Não. Sem chance.

“Sinais mistos?” Eu finalmente me forço a


recuperar minha compostura.

“Você o beijou. No Salão Lavanda, se estou


certo.” Kai tenta abrir os olhos para realmente olhar
para mim.

“Eu estava chapada.”

“Você costuma ter o hábito de beijar homens de


quem não gosta quando está chapada?”
Que tipo de pergunta é essa? Minhas mãos se
fecham em punhos. O calor aumenta para um rubor
que sobe pelo meu pescoço.

“Eu estava confusa. Estou em um momento


confuso. Collin e eu terminamos. Eu fui jogada neste
novo reino com... Com magia. É muito para processar.”

“Droga. Talvez você devesse estar ficando


chapada.” Ele dá de ombros, dizendo isso como uma
piada. No entanto, meu olhar ainda vai para sua
jaqueta, onde sei que sua garrafa de Reminints espera.
“Você quer um pouco?” Suas palavras são lentas e
prolongadas.

“Não.” Eu aceno minha mão e olho para sua


estante cheia de bugigangas. Mas minha atenção volta
para ele. Eu poderia usar um momento para apenas
relaxar. E Jase sugeriu que era comparável ao álcool
uma vez e eu não sou uma alcoólatra, então isso... Isso
deve ser seguro. “Pode ser.”

“Oh, Briar Anders. Que escandaloso.” Ele


engasga, mas o drama é silenciado por suas
drogas. Ele desliza a mão em sua jaqueta e puxa o
pequeno vil. “Apenas um pouco. Então nada mais para
você, peso leve.”

“Não diga a ninguém... A ninguém que eu fiz isso.”

“Segredos são seguros comigo, querida.” Seu


sorriso atrevido faz pouco para me dar confiança.

“Prometa.” Eu estendo a mão para ele colocar


algumas pétalas cintilantes.
“Eu prometo.” Ele repete, estendendo a garrafa
para mim. “Espere, você não vai tentar me beijar
quando ficar chapada, vai?” Ele puxa a garrafa de volta
com uma risada.

“Sem chance.”

“Uau, talvez você não deva dizer isso com tanta


certeza da próxima vez.” Ele sacode algumas pétalas.

Elas caem suavemente na minha palma. Ainda


estou, observando-as brilhar com a luz que nos
cobre. Estou realmente prestes a ficar chapada com o
Príncipe da Corte de Ferro? Sim. E acho que Lincoln
gostaria que eu fizesse. Todos eles insistiram nisso com
frequência suficiente quando eu estava na Corte das
Sombras, que eu precisava relaxar, para liberar toda a
minha energia reprimida. Bem, isso não é sexo, mas é
o melhor que pode acontecer. Antes de me permitir
pensar mais sobre o assunto, coloco as duas pétalas
na minha língua. Elas derretem como um chocolate,
dissolvendo-se na doce sensação de estática contra
minhas bochechas.

Reminints são uma coisa curiosa. Tão


delicado. Muito gostoso. Tão... relaxante. Minha
postura meio que imediatamente, despenca na cadeira
e solto um longo suspiro.

“Agora, se sinta melhor.” Kai fecha os olhos,


retomando sua posição com os pés apoiados na mesa.

“Estes são de ação rápida.” Meus olhos se fecham.

Antes, onde a sala parecia extremamente


pequena, as paredes sempre me pressionando, não
importa o quão grande a sala seja fisicamente, agora é
como uma piscina. Os pelos dos meus braços se
arrepiam. Meus membros estão leves, nadando no ar
onde posso sentir cada vento inconstante criado pelo
grande ventilador de teto acima de nós. Eu diria que
metade do meu corpo está dormente, aquela sensação
quase inabalável, mas estou ciente de tudo. Eu
simplesmente não me importo mais.

Kai e eu sentamos juntos em silêncio, deixando


minutos, possivelmente horas, passarem por nós sem
preocupação. Em algum lugar da minha mente, me
pergunto se Rowan virá me procurar. Se ele vai ficar
chateado quando me encontrar. No entanto, esses
pensamentos estão muito longe de mim para realmente
serem compreensíveis. Não que eu queira pensar sobre
eles. Então, eu os deixo adormecer.

Meus lábios zumbem com um sorriso quando


imagino Lincoln e o sorriso animado, mas cauteloso,
que ele me daria se me visse neste estado. Nós
poderíamos nos divertir muito juntos com alguns
Reminints. Ele provavelmente me lembraria que sou
uma rainha e que há coisas melhores que deveria estar
fazendo com o meu tempo. Talvez eu entenda o vício de
Kai.

“Você sabe...” Eu começo. “Todo mundo vive me


dizendo que eu sou uma rainha. Eu sou a rainha.”

“Hmhmm.”

Nenhum de nós abre os olhos. Eu me aconchego


mais na cadeira.

“Mas, tipo, eu não me sinto como uma rainha.”


“Você não foi criada como uma.” Ele faz uma
pausa. “Com a ideia de que você deve ser
respeitada.” Suas palavras são lentas e ditas com todo
o esforço para produzir um pensamento coerente.
“Para que pudesse ver como... Estranho seria, de
repente, ser empurrada para a liderança.”

“Não é isso.” Minha cabeça se inclina para o


lado. Eu poderia tirar uma soneca agora. Talvez eu faça
isso. Tenho certeza de que Kai gostaria de uma soneca.

“Não?”

Ambas as sobrancelhas levantam enquanto tento


me lembrar para onde esta conversa estava indo e o
que exatamente eu disse. Meus pensamentos ecoam
uma confusão e nosso diálogo volta para mim.

“Não.” Eu limpo minha garganta. “Eu não deveria


ser poderosa? Meu pai era Fae, mas eu sou tão... Tão...
Tão humana.”

“Você está chapada agora.” Kai ri.

Eu não posso deixar de rir também. “Então você


também.”

Nossas risadas instalam-se confortavelmente


entre nós. Tanto é assim que considero meu cochilo
novamente. Mas uma necessidade persistente ainda
sussurra de volta para mim.

“Kai, eu tenho um colar.”

“Humm, Violet o escolheu para você? Você


realmente não parecia o tipo excessivo de joias, então
não me incomodei em pedir arranjos para você.”
“Não. Eu trouxe comigo da Corte das Sombras.”

O príncipe muda. Minhas pálpebras se abrem


para encontrá-lo me observando com leve interesse. O
rosa no branco de seus olhos desbotou, mas não
muito.

“Foi Lincoln quem lhe deu?”

“Ah, Lincoln não parece o tipo que faz gestos


românticos.”

Kai coça a cabeça, deixando seu braço cair com


um baque forte contra o braço de sua cadeira. “Você
ficaria surpresa. Embora seja terrivelmente ousado da
parte dele dar a alguém como você um presente como
esse.”

Talvez eu queira que Lincoln seja ousado


assim. Talvez eu queira que haja uma pequena faísca
em suas veias que lute por mim. Por nós.

“É da minha tia, a mãe de Jase.” Mesmo com os


efeitos das drogas calmantes, sinto meu pulso acelerar
só de pensar nisso. Sem os Reminints, imagino que
ficaria tonta ou enjoada de ansiedade. Lincoln me disse
para não contar a ninguém, para não deixar ninguém
colocar as mãos nele. “Eu acho... Acho que contêm
meus poderes.” Eu finalmente admito.

“Oh.”

“Lincoln disse isso.”

“Lincoln é... Inteligente o suficiente para saber


disso.” Kai cruza as mãos no colo, sua atenção nunca
se desvia de mim.
“Você sabe como posso obter meus poderes? Como
posso me tornar como você?”

“Hum, itens assim...” Ele mastiga o lábio. “Esta é


uma boa pergunta.” Kai balança a cabeça. “Hm, você
precisa de um vidente poderoso para ajudá-la a
desbloqueá-los. Eu posso puxar alguns cordões para
você.”

“Você está me fazendo todos os favores hoje,


hein?” Eu dou a ele um sorriso fraco.

“Bem, é o mínimo que eu poderia fazer pela minha


convidada real.” Ele acena com a cabeça.

“Você acha que pode adormecer agora?” Bocejo,


esticando os braços acima da cabeça, com cuidado
para observar meu peito para que meus seios não
levantem para fora do vestido. Tiras de tecido caem de
minhas coxas, deixando minhas pernas expostas.

“Estou saindo do efeito dos Reminints, acho que


não conseguiria tirar uma soneca agora, se quisesse.”

“Que triste.” Eu praticamente ronrono. Kai tinha


acabado com minhas preocupações tão
rapidamente. O príncipe não é nada senão
complacente e cavalheiresco.

Assim que deixei meus olhos fecharem mais uma


vez, a porta se abriu com uma lufada de ar. Rowan
inclina a cabeça olhando de mim para seu irmão, um
grande ramo de flores, perfeitamente arranjado, preso
entre as duas mãos. Kai olha de mim para seu irmão,
franzindo os lábios.

“Rowan, oi.” Eu aceno.


“Eu não estou chapado. Tu é que estás.” Rowan
acusa.

Eu começo a fingir ofensa, minha mão subindo


para tocar minha clavícula. Enquanto eu franzo a
testa, meus lábios lutam contra o desejo de apontar
para cima e uma risada estalada rola para fora de mim.
“Eu sinto muito. Eu me distraí.”

Kai se levanta, endireitando suas roupas e


caminha com uma confiança que apenas o herdeiro do
trono poderia possuir. Ele se inclina para frente,
enfiando o nariz no buquê e os inspira.

“Para mim.” Kai começa a pegar as flores.

“Não, é para...”

“Para mim.” Ele diz com mais firmeza, tirando-as


das mãos de Rowan e apertando-as perto de seu peito.

O olhar de Rowan está arregalado de raiva. Ele se


recupera rapidamente, forçando as mãos em sua
jaqueta e encostando-se no batente da porta. “Acho
que terei que escolher outras para você, amor.”

“Outras para mim, você quer dizer.” Kai levanta as


sobrancelhas.

“Não, você não.” Rowan diz, confusão matizando


suas palavras.

Eu franzo os lábios na tentativa de Kai de evitar


qualquer desconforto do comportamento impetuoso de
Rowan.
“Para mim.” Ele repete mais uma vez. Kai enterra
o rosto nas pétalas, sentindo seu perfume com grande
dramaticidade.

Cubro minhas bochechas em chamas, tentando


não rir. Mas as drogas não me fizeram nenhum favor
em ser educada.

“Depressa agora.” Kai apressa seu irmão para fora


da porta. Rowan dá um passo para trás, ainda
carrancudo. O príncipe fecha a porta, com Rowan do
outro lado voltando-se para mim. “Depois de tudo
isso... Você vai ficar em dívida comigo.”

Então nós dois nos dissolvemos em um ataque de


riso.
Seis
VOTE EM BRIAR ANDERS

O almoço passa com pouco ou nenhuma conversa


de Kai e eu. Em algum momento, seu trabalho
começou novamente e eu me enrolei em sua cadeira,
apenas observando. Ocasionalmente, ele olhava para
cima para pegar meu olhar e me dava um sorriso fugaz.

Eu perdi a noção do tempo, sentada em uma


posição fetal ereta apenas admirando meu
amigo. Quando o jantar chegou, ele balançou
suavemente meus ombros, me puxando do cochilo em
que acabei caindo. Kai me ajudou a me manter de pé
até agora. Acordar de um sono drogado é difícil.

Um braço está enrolado em volta da minha


cintura. Ele está me segurando com firmeza, mas
também permitindo o máximo de distância entre nós,
conforme a posição permitia.

“Quando chegarmos ao refeitório, você se sentirá


bem. Leva apenas um minuto para se reajustar. Você
estava dormindo bastante pesado.”

Eu torço meu nariz. “Sim, estou bem. Estou bem.”


Cuidadosamente, eu me afasto dele e giro nos
calcanhares.
“Tem certeza?”

Encontrando meu equilíbrio, eu sorrio. “É


claro. Eu cuido disso. “

Ele encolhe os ombros, colocando as duas mãos


atrás das costas enquanto me observa. Honestamente,
acho que estou indo muito bem. Meus saltos batem
com um ritmo constante enquanto nos movemos
juntos em direção à sala de jantar. O rosto carrancudo
de Rowan me vem à mente.

“Espero que Rowan não esteja muito incomodado


por nós, antes.”

“Ele é um homem crescido, ele vai ficar bem. Não


se preocupe com ele.”

“Ok.” Tudo o que posso fazer é acenar com a


cabeça, porque pedir para não me preocupar é como
pedir que o sol não brilhe.

“Então, não quero parecer que estou


bisbilhotando.” O Príncipe não se preocupa em sufocar
o olhar de presunção enquanto praticamente pula para
frente. “Mas... A sua apatia para com Rowan é porque
você tem interesse em outro lugar?”

Eu zombo, cubro meu rosto com a mão. “Kai,


agora parecemos duas galinhas fofoqueiras.”

“O que há de errado nisso? Eu gosto de conversar


com você. Fofoque um pouco comigo, Briar.”

Todos eles sabem disso. Eu me tranquilizo. Sua


atração por Lincoln não foi bem escondida. É melhor
confessar.
“Só não quero enganá-lo, só isso.” Eu tento dizer.

Kai revira os olhos. “Você não está enganando


ninguém.”

“Não?”

“Não. Eu posso dizer que você sente falta do


mestiço. É uma pena, porque você poderia fazer
melhor, sabe?”

“Melhor do que Lincoln?” Eu gostaria que ele


estivesse brincando, embora eu saiba que ele não está.
“Eu também sou mestiça, sabe?”

“Mas você é uma verdadeira rainha. A primogênita


de um rei, assim como eu. Essa é a diferença.” Kai
ignora minhas palavras. “Em um mundo onde você não
fosse uma rainha legítima, eu acho que Lincoln e você
provavelmente seriam muito bons juntos. Fariam
bebês lindos.”

Eu sorrio apesar do quanto meu estômago torce


em silêncio.

O príncipe continua: “Você precisará de um


marido real.”

“Alguém como você?” Eu pergunto


inexpressivamente.

Kai se mexe, apontando seu olhar para o chão. A


porta da sala de jantar está aberta, Rowan e Violet já
conversando enquanto suas vozes chegam até nós. O
cheiro de peru temperado me saúda e meu estômago
se contorce de fome.
“Sim, mas não. Existem outras cortes para
escolher. Mas eu ficaria honrada se você tivesse algum
interesse em mim. “

“Kai Ziko, você está corando?” Eu ri.

Seus olhos brilham, mas mais como se ele


estivesse se dirigindo a um diálogo interno do que à
nossa conversa. Seus passos diminuem conforme
chegamos ao refeitório.

“Meus pais queriam estender nosso reinado e unir


duas cortes, seria exatamente isso. É apenas um
pensamento. Obviamente, isso não é romântico.” Ele
levanta as sobrancelhas como se dissesse, ‘a menos
que você queira que seja’.

Eu bato nele. Se eu tivesse conhecido Kai


primeiro, ainda teria me apaixonado por Lincoln? Kai
é paciente e gentil, mas nosso relacionamento parece
muito com o cenário estereotipado do melhor amigo
gay. Sem a parte gay, mais ou menos.

“E quanto ao Jase? Vocês estão... Juntos?”

“Por favor, depois de você.” Ele gesticula para que


eu entre antes dele. “Eu não tenho certeza se
classificaria como oficialmente juntos. Embora eu
estivesse inclinado a convidá-lo para ficar no castelo,
devido ao estratagema que você está usando.”

O flash da imagem de Jase sorrindo bobo com as


algemas na cabeceira da cama me vem à mente. Eu
empurro a imagem rapidamente, desejando que nunca
tivesse me ocorrido.
“Tenho certeza de que ele gostaria muito.” Eu
encorajo. “Mas só se você prometer não quebrar o
coração dele.”

“Eu sou um príncipe, não posso fazer tais


promessas.” Ele pisca, puxando uma cadeira para eu
sentar. Suas palavras não caem bem comigo. Ele está
desempenhando o papel de namorado do meu amigo,
que rapidamente me dá más vibrações. Mas eu
simplesmente não posso deixar de gostar dele porque
ele é tão encantador. É possível que Kai seja muito
educado? Isso é mesmo uma coisa?

“Eu não me sentaria aí se fosse você.” Rowan


balança um dedo enquanto eu me sento em meu
assento.

Eu ainda fico pairando, logo acima do fundo


acolchoado. “Por que não?”

“O rei e a rainha estão se juntando a nós para


jantar.” Diz Violet. Ela bate suas longas unhas na
borda da mesa, olhando ansiosamente entre Kai e eu.
Eu me pergunto por que ela não os chama de mãe ou
pai.

“Bem, merda.” Kai suspira. “Venha aqui.” Ele


acena apressadamente.

“Vai ser divertido assistir.” Rowan sorri do outro


lado da mesa.

Vai? Uma energia nervosa se acumula dentro de


mim, liberada apenas com o suor que se acumula em
minhas palmas. Eu dou a volta na cadeira, permitindo
que Kai a empurre de volta. Ele se move para seu
próprio assento, plantando-se nele, em seguida,
aponta para seu colo.

“Sério?” Eu fico olhando para ele.

“Oh, está prestes a ficar realmente melindroso e


todos os tipos de arrepios aqui.” Violet se inclina para
a frente.

“Na frente de seus pais? Mesmo?” Minha garganta


está coçando e seca. Sempre há uma escolha, porém,
e eu poderia escolher não escolher. As consequências
disso podem ser piores do que estou preparada.

É só um pouco, Briar. Kai vai ajudá-la a liberar


seus poderes e depois disso você não terá mais que
desempenhar esse papel.

“Especialmente na frente de nossos pais.” Rowan


responde.

“Foda-se.” Eu bufo, me abaixando para me


empoleirar na perna de Kai.

“Eu vou, uh, ter que tocar em você.” Ele franze o


nariz.

“Tipo, sexualmente?” O chiado na minha voz não


é atraente e deixa claro o quão doloroso esse plano
deles realmente é.

“Sim, mas não da maneira que você está


pensando. Apenas... Tocar em você.” Suas mãos
deslizam pelas minhas coxas. Uma longa trilha de
arrepios acompanha a carícia.
Eu engulo forte. Meu corpo responde com um
desejo não solicitado, uma mancha de umidade entre
minhas pernas.

“Isso é...” Ele começa a perguntar quando ouvimos


a abordagem do Rei e da Rainha no corredor. Kai
inclina a cabeça tentando falar por cima do meu
ombro. Em voz baixa, ele fala apenas comigo. “Vai ficar
tudo bem.”

Eu tinha ouvido essas palavras muitas vezes para


contar. Desta vez, estou exigindo mais de
mim. Desempenhar o papel. Faça o seu papel,
Briar. Seja a maldita humana que veio porque está
apaixonada por Kai. Pela magia. Pelos Faes.

Dou a ele o menor aceno de cabeça, a menor forma


de reconhecimento, antes de me inclinar para ele. A
respiração de Kai engata.

“Só estou dizendo, é tudo...” O rei diz quando eles


viram a esquina.

“Eu vou levar isso em consideração, mas


simplesmente não há nenhuma razão...” A Rainha
para, encontrando meu olhar com uma carranca.
“Quem é?”

“Mãe.” Kai leva a mão ao meu braço. “Esta é Briar


Anders. Ela não é bonita?” Ele inclina o rosto contra o
meu braço, inalando ruidosamente.

Eu sorrio, levando minha mão para cobrir seu


rosto, em seguida, jogo ajeito alguns fios soltos de
cabelo. Sua atenção apenas se estreita.
“Humana.” Ela cospe. “Por que você trouxe isto
aqui? Por que está na minha mesa de jantar?”

Ela fala como se eu fosse um cachorro. Ainda


assim, tento olhar para longe e ignorar seu confronto.
Concentrando-me apenas no cheiro que envolve
Kai. Seu doce perfume, sempre misturado com uma
pitada de Reminints.

Kai agarra minhas coxas. É muito mais possessivo


do que o toque gentil que ele me deu antes. Seus dedos
cavam na minha pele, quase dolorosamente, enquanto
ele os arrasta pelas minhas pernas, finalmente
pairando na parte interna da minha coxa.

“Eu estava entediado e fiz uma pequena viagem ao


Reino Mortal para me lembrar por que o que eu faço é
tão bom. Eu encontrei essa coisinha e ela está muito
impressionada conosco. Muito brincalhona
também.” Ele levanta uma das mãos, agarra meu rosto
e junta minhas bochechas. Preciso de tudo para não
me afastar. Agradavelmente, rio do gesto.

“Claro que ela está, filho. Ela é mortal.” Os lábios


de seu pai estão franzidos. Eles contaram ao rei seus
planos para mim nesta corte?

Os servos avançam, puxando assentos para o rei


e a rainha. A Rainha, com seus cachos negros e pele
tonificada pálida, joga o cabelo sobre o ombro. Ela me
lembra imediatamente de Lincoln. Seus rostos se
espelham. Embora altas pontas de ferro se ergam de
seu couro cabeludo em pedaços finos e delicados que
se entrelaçam em sua coroa. Um dos olhos é a cor do
tesouro que gosto, o outro é totalmente cinza. Ela
parece tudo menos bonita.
Segurando as mãos corretamente na cintura, ela
se senta com cuidado para não enrugar seu vestido
violeta profundo que se agarra às suas curvas. Ela
permite a seus outros filhos o mais ínfimo dos olhares.

O rei mantém um olhar pesado com cada um


deles, um apelo silencioso por respostas e uma ordem
cruel para manter meu título desconhecido,
empurrando sua trança loira branca para trás
enquanto ele se senta. As faixas de metal em seus
pulsos batem contra seu assento enquanto ele
relaxa. Rowan e Violet se endireitaram em suas
cadeiras e suas expressões foram apagadas para a
indiferença.

A respiração de Kai está quente na minha pele. “É


tudo para uma boa diversão, mãe.”

“Bem, eu espero que sim. Ela nem deveria estar


comendo com a gente.” Ela sibila, sem vergonha de eu
poder ouvir claramente tudo o que ela está dizendo.

Eu faço beicinho, me contorcendo em seu colo.


“Eu não quero te deixar.” Se ela quiser me tratar como
um cachorro, acho que posso brincar de cachorrinho.

“Seria melhor se eu a levasse para comer em seu


quarto?” Comer claramente não significa comer, do
jeito que ele diz. Kai inclina a cabeça para mim.

“Isso seria rude.” Rei Dravid diz claramente,


afastando o casaco preto de colarinho que usa.

“Mas eu devo ser submetida a comer com o animal


de estimação de Kai?” A Rainha ferve.
Uau, essa mulher realmente é uma peça
trabalhosa.

Eu respiro longa e lentamente, tentando me


concentrar em manter minhas próprias emoções sob
controle. Meus dedos ficam brancos quando aperto
minhas mãos e Kai fica tenso quando me inclino para
ele rigidamente.

“Apenas finja que ela não está aí, querida.” O rei


pega a mão da Rainha Avaleen, dando-lhe um aperto
reconfortante.

Kai desliza a mão até minha cintura, me


segurando firme, enquanto tento desviar meu olhar da
Rainha e do Rei, com sua visão degradante de
humanos e mestiços. Eu foco meus olhos nas
arandelas mal iluminadas ou tento admirar os papéis
de parede de veludo. Suas mãos estão quentes, mesmo
através dos materiais do meu vestido, não como se
realmente houvesse muito.

“E como posso ter certeza de que não é a Rainha


Mortal que Cordelia perdeu de sua cadeira de
balanço?”

Cada batimento cardíaco para. Kai, Rowan, Violet


e eu não fazemos movimentos ou mudanças óbvias em
nossas expressões, mas posso sentir tanto quanto eles
podem. Uma semente de preocupação vive em todos
eles.

Rowan solta uma risada, rapidamente seguida


pela risada curta de Violet.

“Quem agora?” Kai se inclina para frente, me


inclinando com seu corpo.
Um novo brilho de suor se apega a mim. Tudo o
que posso fazer é rezar para que Avaleen não sinta o
cheiro do meu medo no ar.

“Ela é Mortal. Pode ser a Rainha.” Seus lábios


pressionam em uma linha firme enquanto seus filhos
zombam de sua ideia. A risada morre rapidamente.

“Não, Rainha, mas aposto que ela adoraria.” Kai


passa a mão pela minha bochecha, forçando meu olhar
para ele. Seu olhar intenso se concentra em mim com
um apelo para jogar junto. “Não é mesmo, Cupcake?”

Minha língua está muito pesada para


palavras. Minha boca muito seca.

“Não posso simplesmente casar com você e me


tornar uma rainha?” Eu sussurro de volta.

“Pelo amor de todas as coisas boas!” A Rainha


deixa as mãos cair dramaticamente em seu colo.
“Agora ela realmente acha que pode se casar com
você?”

Eu canalizo minhas míseras habilidades de


atuação em confusão e depois em tristeza. “O que ela
quis dizer?”

“Nada, nada.” Kai ignora isso. “Mãe parou de


tentar arruinar minha diversão?”

Avaleen abre a boca para falar, mas as portas da


cozinha se abrem rapidamente e uma multidão de
criados corre ao nosso redor deixando pratos e grandes
copos de vinho na nossa frente. Algum tipo de frango,
talvez? Brócolis e uma massa com queijo.
O jantar continua com muitos olhares de
esguelha. Tento comer na posição empoleirada no colo
de Kai. Meu prato fica ao lado do de Kai no mesmo
espaço que compartilhamos atualmente. No momento
em que faço um movimento para voltar para um único
assento, Kai coloca a mão na minha cintura e
sussurra: “Por que você gostaria de estar em outro
lugar, Cupcake?”

Então eu como com meus cotovelos


estranhamente altos, então eu continuamente fico no
caminho de Kai ou o bato acidentalmente. Minhas
costas doem porque tenho que me curvar para cortar
minha comida. Kai estala os dedos e um servo corre e
corta seu prato para ele. O que ele é? Uma criança? Eu
me mexo e me lembro de sua outra mão na minha
cintura.

A refeição termina quando a Rainha dá uma


última olhada em seus filhos. Seus talheres atingem
seu prato com um baque anunciador. “Como sempre,
foi ótimo ver vocês. Vou combinar um encontro com
cada um de vocês esta semana.”

O rei, que ainda não terminou com seu prato,


levanta-se da cadeira e se levanta para puxar a de
Avaleen. Quando ela segura as saias e se dirige para a
porta, ele a segue.

“Oh, e Kai...” Ela para na porta. “Talvez deva


manter seus animais de estimação confinados em seu
quarto da próxima vez.”

No momento em que ela se vira para nós, Rowan


levanta a mão. Ele aponta um dedo indiferente para
um criado e gesticula em direção à porta. “Você poderia
fechar isso para nós?” Todo o tempo, minha boca
certamente atingiu o chão.

O rei Dravid e a rainha Avaleen retomam a


conversa no corredor, mas suas palavras se perdem
quando as portas se fecham. Rowan rosna baixinho,
ambas as mãos na mesa enquanto ele se estica em sua
cadeira. Violet se encolhe em seu assento, o mais
teatralmente possível. A cabeça de Kai se inclina até
que seu rabo de cavalo loiro esteja franzido contra a
cadeira em um ângulo tal que ele está expondo sua
garganta para mim.

“Isso foi tão doloroso!” Violet chora.

“É assim sempre?” Eu finalmente fecho minha


boca aberta.

“Sim.” Rowan e Kai gemem em uníssono.

“E ela vai marcar encontros conosco agora.” Rowan


usa os dois primeiros dedos para fazer aspas no ar
enquanto fala. “Quem marca encontros com os
próprios filhos?”

Os olhos de Kai estão fechados novamente e tenho


certeza que é porque seus pais o deixaram totalmente
exausto. Foi com isso que Lincoln teve que crescer? A
mãe dele ao menos o deixava jantar com eles? Em caso
afirmativo, ela era tão irritantemente rude?

Observando os criados lentamente voltando para


a cozinha, eu me levanto. Um gemido preguiçoso me
deixa enquanto eu empurro minhas costas.

“Mamãe marca encontros com cada uma de nós


regularmente. É o nosso tempo concedido com
ela. Nesta idade, é principalmente para garantir que
estamos cumprindo nossos deveres e protegendo nossa
imagem. Quando éramos mais jovens, era bate-papo
enquanto ela ajudava a nos ensinar a fazer magia
simples ou algo dessa natureza. Uma vez, ela me
ensinou a bordar. “Violet mostra a língua. “Que talento
desperdiçado eu tenho agora.”

“Se todos nós pudéssemos ter tanta sorte. Ela


tentou me ensinar a tocar piano.” Kai finalmente
levanta a cabeça.

“Tentou?” Eu ofereço. Pego meu prato e vou para


o assento que ocupei originalmente. A maior parte da
minha refeição não foi comida. É difícil ter energia
suficiente para cortar a comida quando você está
sentada como um manequim no colo de um
ventríloquo.

“Oh, eu sei como tocar. Mas meus dedos são um


pouco desajeitados.” Kai mexe os dedos com anéis
antes de pegar o garfo para comer também.

Enfio um pedaço de frango na boca e tento não


pensar em seus dedos na minha pele nua. Rowan e
Violet empurram seus pratos vazios para longe. Eles
tiveram muitas oportunidades para terminar de comer
nos silêncios prolongado que seus pais ofereciam.

“Eu pensei que você me disse que ela gostava de


humanos.”

“Parece que ela não estava de bom humor


hoje.” Violet revira os olhos. “É um sucesso ou um
fracasso com ela.”
“Vocês dois desempenharam bem a sua
parte.” Rowan sorri. “Se eu não soubesse melhor,
presumiria que a química era real.”

“Você está com ciúme.” Diz Kai entre mordidas.


“Você gostaria que Briar pudesse ser um objeto bonito
em seu colo.”

Rowan ri. “Você não está errado. Nada do que você


disse, é mentira.”

“Só não tenha muitas esperanças, irmão.” Violet


cutuca os dentes.

“Eu acho que é tarde demais para isso.” Kai


interrompe antes que Rowan possa falar. Eles trocam
expressões briguentas.

A sala sem o rei e a rainha parece menos


abafada. Meus ombros ainda doem com a tensão
constante que mantiveram durante a refeição. Quando
estou terminando meu prato, encontro-me olhando
distraidamente para o prato do rei, ainda bastante
cheio.

Está claro quem é a força motriz neste reino. A


rainha Avaleen tem todo mundo beliscado e até que eu
receba meus poderes e reivindique minha coroa, serei
apenas mais uma coisa para ela esmagar sob seus
saltos brilhantes e pontiagudos.

Acho que este reino poderia provar o sabor de uma


rainha que não seja perversa.

Não que eu esteja dizendo que Avaleen é


comparável a Cordelia... Porque tipo... Ela não
é. Avaleen não é uma louca implacável.
Mas os padrões desse reino precisam de reforma.

E eu sou a mulher certa para o trabalho.

Vote em Briar Anders.


Sete
LADEIRA ESCORREGADIA

O silêncio desconfortável do jantar segue Kai e eu


pelos corredores. Embora cada corredor que passamos
se assemelhe ao anterior e ao posterior, graças à rápida
visita guiada de Rowan, agora tenho uma noção de
para onde estou indo.

Visto que meu vestido não tem bolsos, a maior


ruína e certamente um feito arquitetado de uma
cultura misógina, sinto que minhas mãos estão
perdidas. Tento deixar meus braços balançarem ao
meu lado, mas parece muito forçado para o ritmo que
Kai estabeleceu ao meu lado. No entanto, se eu apertar
minhas mãos na minha frente, não apenas me torno
um personagem inocente dos anos oitenta, mas meus
dedos entrelaçados quicam contra meu estômago,
agora inchado de comer. Claramente não há vitória
com a moda Fae.

As mãos de Kai, eu noto, estão cruzadas atrás de


suas costas. Ele assobia baixinho enquanto me
acompanha até o meu quarto. Alheio ao meu estado
nervoso.

“Kai?” Eu finalmente rompo o silêncio.


À nossa frente, dois criados fecham as cortinas da
varanda. O sol se põe sem os vívidos rosas e laranjas,
como se ele também tivesse se exaurido hoje.

“Sim?” Ele levanta uma sobrancelha, seu assobio


morto em seus lábios.

“Sua mãe é horrível.”

Seu queixo quase caí no chão enquanto ele abafa


a risada. “E?”

“E eu não acho que posso esperar para liberar


meus poderes. Algumas coisas precisam mudar. Na
Corte das Sombras... E aqui.”

“Mesmo quando você for uma rainha, Briar, você


não tem reinado sobre a Corte de Ferro.” Ele me lembra
com cuidado.

“Mas, como rainha, finalmente terei uma


voz. Posso ajudar os Faes. Além disso, um dia você terá
o trono.” Eu sorrio, gentilmente. “E você está pronto
para a mudança, certo?”

“Humm, não tenho certeza se vou ser o rei que


você pensa que serei.”

“É a rainha que detém o poder aqui, não


é?” Nossos passos diminuem conforme chegamos à
minha porta. Ficamos de frente um para o outro, mas
nenhum de nós se move para a maçaneta.

“E eu sou apenas uma pequena peça lateral


bonita.” Kai retribui meu sorriso, mas algo escuro
queima em seu olhar.
Sinto pena de Kai pela maneira como ele vê seu
próprio papel. Ele tem poder, mas está indefeso.

“Com quem você vai se casar?” Resolvo cruzar os


braços sobre o peito, de uma forma que esconde meus
seios em vez de colocá-los à mostra.

“Bem, existem outras Cortes Faes com Princesas


que provavelmente adorariam governar. Tenho certeza
de que minha mãe fará os preparativos para o nosso
namoro se o plano atual dela falhar.” Ele abaixa o
olhar.

“Plano atual?”

“Ela quer fazer um acordo com Cordelia, já que


Lincoln nada mais é do que um soldado para ela.”

“Nunca é bom fazer acordos com o diabo.” Eu rio


para encobrir minha ansiedade crescente.

“Sim, bem, acordos entre um demônio e outro não


são frequentemente questionados.” Ele engole. “Minha
mãe está escrevendo uma proposta de casamento de
Cordelia e eu. Em troca, nossas cortes serão fundidas
em uma e nossos reinados se tornarão iguais. Eu sou
o primogênito, mas também sou um homem, portanto,
o poder em minha corte é padronizado para quem quer
que eu me case. Minha mãe gostaria de garantir que
nossa família permaneça no poder... E expandir nossa
corte é uma vantagem adicional.”

“Você não pode se casar com Cordelia.” Eu falo um


pouco mais alto do que o pretendido.

“Não é o ideal.” Kai concorda, inclinando-se em


minha direção para finalmente abrir a porta. “Mas se
você se tornar rainha, não terá que se
preocupar. Certo?” Sua voz está tensa.

“Certo.” Eu digo lentamente, tentando processar.

Não tenho pais para me governar, para me


orientar nas decisões. Com quem vou casar? Mais
preocupante, com quem eles esperam que eu me
case? Minha mente vagueia para Lincoln, mas nosso
relacionamento é muito novo para considerar o
casamento.

“Terei um, hm, conselho ou algo assim?”

“Sim, eles provavelmente irão explicar suas


opções.” Kai olha dentro do meu quarto, esperando que
eu entre primeiro.

Meus pés permanecem firmemente plantados. “Se


eu for a rainha, terei a escolha de com quem me
casar?”

“Estamos falando sobre o meu irmão? O inferior,


mas muito mais suportável?”

“Sim, mas não. Pode ser. Não tenho


certeza.” Minhas palavras tropeçam em si mesmas,
saindo de meus lábios em uma gagueira embaraçosa
que faz Kai sorrir genuinamente.

“Isso é entre você e o seu advogado.” Ele corrige,


com um suspiro. Arrastando uma mão pelo rosto, ele
faz um gesto com a outra para que eu entre.

Eu balancei minha cabeça. Seu sorriso vacila


rapidamente.
“Algo está errado?”

“Eu quero ver uma vidente. Amanhã.” Minha voz


soa totalmente confiante e, se é que posso dizer, uma
ordem de rainha que dei. Porém, imagino que um
príncipe tenha pouca vontade de ser comandado.

“Amanhã?”

Eu concordo.

Kai soltou um longo suspiro, me olhando de cima


a baixo. “Tem certeza de que os Reminints ainda não
estão afetando você?”

“Estou bastante certa de que não.”

“Isso é o suficiente para mim.” Suas mãos


desaparecem atrás de suas costas, novamente. “Acho
que conheço uma vidente ao qual podemos recorrer e
que pode ajudar. É uma viagem bastante difícil e longa
para uma humana. Arrume uma mala e eu farei os
preparativos para amanhã. Isso vai te satisfazer?”

“Vai, muito bem.”

Kai se curva. Ele pega minha mão, virando-a, e dá


um beijo na palma da minha mão, como sempre
faz. Sempre tão apropriado.

“Kai, somos amigos?” Uau, Briar. Que maneira


estranha de dizer isso.

“Eu gosto de pensar que sim.”

Eu dou um passo para mais perto dele. Ele se


inclina para longe, mas não se move de onde está. Seus
lábios se inclinam ligeiramente em uma carranca. O
cheiro de Reminints está presente em suas roupas e
em seu hálito.

Esta corte, embora não tenha me deixado sozinha,


exceto para dormir um pouco, tem se sentido solitário.
Lincoln não esteve aqui e, embora tenha certeza de que
Rowan aceitaria a oferta, preciso de algum tipo de
contato. Um abraço. Eu só quero um abraço.

Tentando forçar cada grama da minha rigidez e


falta de graça, corro para fechar o espaço entre nós. Eu
enterro meu rosto na elegância de seu terno,
entrelaçando minhas mãos sob seus braços, e aperto
meu aperto em torno dos músculos rígidos e magros
que ele tem.

Kai parece como um adereço imóvel por um


minuto inteiro. Suas palavras espalham meu cabelo na
minha testa enquanto ele fala contra a minha cabeça.
“Tenho sido muito educado. Eu tentei muito, muito
manter algum tipo de espaço para você, já que você não
foi criada em nossos caminhos. Você era exclusiva,
agora não é. Eu, uh, entendo que isso não é de forma
sexual ou romântico, mas estou em êxtase por você
estar fazendo isso.” Ele derrete sobre mim. Um braço
envolve minhas costas, o outro pressiona minha
cabeça contra ele, colocando-a sob seu
queixo. Ficamos assim, absorvendo um ao outro.

Conforme o tempo passa, nossa respiração se


sincroniza. Cada batimento cardíaco é
compartilhado. Meu calor se torna seu calor e o dele
meu, infiltrando-se em meus ossos. Eu pressiono meus
olhos fechados com força. Os servos passam por nós
sem dizer uma palavra. A atenção deles fixou-se em
nós por tanto tempo quanto eles podem antes de
passar por nós e seria muito rude para eles se virarem
e ficarem boquiabertos.

Sim, é isso. Eu precisava disso. Eu precisava de


um toque. Eu precisava me sentir próxima de alguém e
não apenas de um hóspede em um lar estrangeiro.

Kai espera até que eu dê um passo para trás. Ele


tem um tipo de brilho diferente quando nos
afastamos. Talvez sejamos mais parecidos do que eu
pensava. Talvez... Kai também precise de afeto físico.

“Obrigada.” Eu faço uma pequena reverência,


puxando os pedaços da minha saia.

“Obrigado.” Kai brinca com os botões de sua


camisa branca. “Já faz muito tempo que alguém não
me dá um abraço genuíno.”

Oh. Eu penso nas algemas. Kai não


tem amantes, ele tem amigos para foder.

“Isso é muito triste.” Eu enrugo meu nariz. “Bem,


estou por perto se você precisar de outro.”

“Vou manter isso em mente.”

Seus olhos amarelos ficam em mim quando entro


no meu quarto. Dou um leve aceno para ele, fechando
a porta.

“Estarei empacotada e pronta para amanhã.” Eu


o lembro um pouco antes de fechar totalmente a
porta. Eu espero, contra a porta, até ouvir seus passos
desaparecerem no corredor.
Antecipação, excitação, medo, ansiedade,
adrenalina, não tenho certeza de que emoção me
consome como fogo. Minhas veias estão quentes com
isso.

Com cuidado, eu desfaço as tiras finas dos meus


calcanhares e as deixo cair no chão. Meus pés
descalços batem contra o azulejo preto e branco. Eu
me esquivo dos móveis. Um fogo foi aceso na lareira
para a noite, suas ondas de calor sobre mim enquanto
eu corro.

Eu não tenho uma sacola para fazer as malas. Pelo


menos não uma sacola de lona ou mesmo sacolas de
supermercado velhas como as que eu havia enrolado
por dias sob a pia do apartamento. Assim que eu abro
a porta do closet, uma cascata de luz cai sobre a
variedade de roupas que o ocupam. Vestidos, vestidos
e mais vestidos. Variando de escandaloso a inspirados
em pornografia.

Seja o que for esta ‘longa e difícil viagem’, vestidos


não vão servir. Não posso fazer nada com esses
pedaços de material. Não, a menos que estejamos
pagando esta vidente com um breve flash do meu
peito. Para ser clara, NÃO estamos pagando à vidente
com um vislumbre das minhas te-tas premiadas.

Há uma parede de sapatos, muito poucos sem


salto. Lentamente, eu as procuro e encontro minhas
velhas botas gastas escondidas entre eles. Eu as agarro
e abraço o couro gasto, as solas ainda cheirando a
meus pés quando aperto. Ah, minhas botas há muito
perdidas! Que momento de reencontro. Elas tem que
vir junto. Minhas botas me ajudaram em tempos mais
difíceis do que qualquer outra coisa.
Bem, com exceção de Jase. O pensamento passa
pela minha mente, fugaz e doloroso.

Ao lado dos sapatos encontro ganchos. Bolsas.


Principalmente pequenas embreagens cobertas por
strass. Embora, como eu esperava, haja uma pequena
opção de bolsas grandes. As bolsas maiores estão
penduradas nos ganchos mais altos, como se para me
desencorajar de usá-las. Eu me estico na ponta dos
pés, meus dedos nem perto o suficiente para escovar
seus materiais finos.

Fazendo beicinho, olho em volta procurando por


algo que as alcance e as arranque de seus
ganchos. Nada. Então, como último recurso, começo a
escalar as prateleiras para os sapatos. Lentamente no
início, para ter uma ideia de como a estrutura é
robusta. Sob os pés, a madeira aguenta sem dobra ou
gemido de protesto. Um sinal claro de que estou segura
para prosseguir.

Meus dedos agarram cada prateleira, segurando


apenas com o sussurro da oração em meus lábios. O
suor cresce em minhas mãos, sob meus dedos, fazendo
minhas mãos deslizarem suavemente. Eu me estico
sobre algumas prateleiras, pastando ao longo da borda
da bolsa. Ele balança em seu gancho.

Solto um suspiro e subo uma prateleira mais


alto. Desta vez, pego um sapato que está mais acima,
junto com a bolsa. Meu impulso a tira do gancho,
assim como me tira do meu poleiro.

Um grito nervoso, impróprio de uma rainha, sai de


meus lábios. Madeira arranha minhas panturrilhas,
minhas mãos finalmente escorregando das
prateleiras. Eu caio sobre meus calcanhares,
cambaleando para trás apenas para tropeçar na minha
bunda. O zumbido da minha cabeça batendo na haste
de metal do gancho no caminho se repete, enquanto a
dor floresce em meu crânio.

Eu caí no fundo do meu closet com meus olhos


bem fechados. Uma rainha teria pedido a um servo para
descer a bolsa para ela. Você não tem que escalar seu
armário, Briar. Eu me repreendo.

Um nó já está se formando, dolorido ao toque, no


topo da minha cabeça. Minhas canelas parecem
ásperas, arranhões brancos e vermelhos sobem por
elas. Até meus tornozelos, que sofreram o impacto da
minha queda, doem.

Portanto, não é o melhor começo para qualquer


viagem longa e difícil que eu estaria fazendo amanhã...
Mas parece que foi apenas minha sorte.

De pé, testo meus tornozelos. Eles me seguram


mesmo quando doem. Cada batimento cardíaco na
minha cabeça lateja de dor. Com sorte, vou
dormir. Mesmo assim, na vitória, a bolsa caiu no chão!

Eu sorrio. Talvez seja porque sou uma pessoa


independente e não preciso de um criado para buscar
minhas coisas.

O zíper se abre facilmente para revelar a bolsa


funda, o suficiente para guardar roupas para alguns
dias. Com pouca esperança, procuro roupas no
armário. NÃO vou viajar com vestidos. Eu me recuso.

Balançando um pouco a cada passo, vou até uma


cômoda. As gavetas se abrem, muitas delas cheias de
lingerie para dormir. Eu não posso viajar nisso. Não,
também não. Quando Kai disse que eu deveria fazer as
malas, o que exatamente isso significava para ele?

A última gaveta, abro com pouca expectativa, está


tão cheia que mal abre. Eu puxo enquanto pego o jeans
azul. Jeans. Oh, meu Deus, existem jeans. Um último
puxão e a gaveta se abre.

É mais do que jeans. São calças de moletom,


corredores, leggings, jeans de cores diferentes. E
camisetas! Isso é do meu armário mortal? Eu grito,
incapaz de conter minha excitação. Eu não entendo
essa porra de estratagema na Corte de Ferro, mas acho
que nunca fiquei mais feliz com roupas normais do dia
a dia em toda a minha vida.

Eu gostaria de ser uma daquelas garotas que


adoram usar roupas elegantes, mas tudo que eu
sempre me pego pensando é o quão exposta ou
desconfortável eu estou. Jeans e uma camiseta para a
vida toda, baby. Folheando os itens, chegando até a
trazer os materiais ao rosto para respirar o cheiro
antigo do meu apartamento. Eu escolho algumas
camisetas e vários jeans.

Uma sombra de tristeza aperta meu coração. Tudo


cheira tão... Caseiro. Como uma lembrança querida há
muito tempo. Enfio os itens na sacola.

Lentamente, ajoelho-me. Minha visão embaça,


perdendo o foco em meu entorno. O gosto de casa só
me deixa com mais fome de normalidade.

“Lincoln?” Eu testo os limites entre nós. A parede


dele existe como está, da maneira chata como ele a
ergueu. Eu me imagino caminhando até ele, batendo
educadamente. “Lincoln, eu sei que você está aí.”

Ele merece minha educação quando me deixou


com tão pouco antes de eu vir para cá? Você sabe o
que? Não. Eu bato na parede de sua mente. Eu mereço
sua atenção e uma explicação de merda. Mordendo
meu lábio, eu me forço a reprimir os pensamentos de
quão rápido eu volto para ele, quão rapidamente minha
mente encontra um lar nele. Provavelmente é apenas
este vínculo não solicitado. Mas não pense nisso.

“Lincoln Ziko.” Eu grito. A tensão viajando pelo


meu corpo enquanto eu cerro meus punhos.

Com um piscar, sua parede cai. Lincoln entra em


minha mente com uma indiferença e uma confiança
sem precedentes.

“Briar Anders.” Há um sorriso nos lábios de


Lincoln, um calor que posso sentir que me faz imitar o
movimento. “Minha família já dominou você?”

“Eufemismo da porra do ano.” Eu esfrego meu


rosto como se isso pudesse lavar todos os meus
sentimentos de desconforto.

“Você está ferida?” A pergunta ecoa em cabeça


com sua urgência. “O que aconteceu?”

“Eu não estou... Estou bem. Eu simplesmente caí


tentando tirar algo do armário do closet. Por que você
não me avisou que o closet seria maior do que meu
antigo apartamento?”

“O que você esperava de um castelo? Um armário


com roupas enfiadas nele?”
“Lincoln, é o que tem no seu próprio quarto!” Eu
ri. Fecho a bolsa, jogo no chão e chuto a cômoda para
fechar a gaveta.

“Você... Você precisa de algo?” Lincoln pergunta.

O que eu devo dizer? Eu sinto sua falta. Sinto falta


da nossa amizade... Nossa... Seja lá o que for. Estou
brava com você? Estou frustrada que você me deixou
com um adeus insatisfatório?

“Eu sinto muito. Sobre o adeus, quero dizer.” Ele


responde. Certo, porque ele está em meus
pensamentos. “Não sou muito bom nisso. E Briar... Você
é incrível.”

“Como?”

“Você é tentadora. De todas as maneiras que você


não deveria ser. Todas as formas que me
enfraquecem. Não posso expressar a você o quanto
nunca poderíamos ser e o quanto eu também gostaria
que pudéssemos. Eu sinto sua falta. Também sinto falta
da nossa amizade.”

Minha mão cobre meus lábios, como se eu


pudesse me esconder e o sorriso bobo dele. Eu deixo a
porta do armário fechar atrás de mim, e puxo as
cobertas da cama para deslizar por baixo.

“Se eu for rainha, poderei mudar as coisas.”

“Não nesse grau. Você vai ver. Você ainda


obedecerá aos padrões do conselho.”

“Então vou me livrar do conselho.”


“Não funciona assim.”

Eu suspiro, puxando os cobertores até meu


queixo. “Eu não, uh, eu não quero pensar sobre isso
agora. Eu só quero me sentir normal. E vendo que isso é
meio, como enviar mensagens de texto, mas
mentalmente acho que vai ajudar. Podemos apenas
conversar sobre coisas normais?”

“Eu nunca mandei uma mensagem de texto um dia


na minha vida.”

“Pense nisso como uma metáfora. Você sabe o


quê... Só não se preocupe com isso. O que você está
fazendo?”

“Tipo, agora mesmo?” Seus pensamentos mudam


de inquietação.

“Sim.”

“Estou deitado na cama.”

Casulos de calor me envolvem, mas estendo a mão


sobre os lençóis e imagino Lincoln encostado nos
travesseiros. “Eu também.” Eu respondo suavemente.

Entre piscadas, a imagem de Lincoln esparramado


em calças pretas largas, sempre sem camisa, aparece
na minha cama. Eu suspiro. Meus dedos passam por
sua mão, procurando a minha, como se ele fosse um
fantasma.

“Estou projetando. Ainda estou na sua cabeça,


uma invenção da sua imaginação, se quiser. Ninguém
mais pode me ver.”
“Você deveria ficar assim o tempo todo.” Minha
pele formiga enquanto eu coloco minha mão sobre a
dele.

“É bastante cansativo, mas como estou prestes a


dormir, diria que vale a pena gastar energia.”

Seu longo cabelo escuro cai para o lado de sua


testa enquanto ele se inclina para o lado. Seu olhar, a
pupila de corte de ferro que eu sentia falta de ver,
abana-se sobre mim. Meus dedos desejam tocar o
cabelo em seu peito, meus lábios desejosos de um
beijo. Ele é apenas uma invenção da minha
imaginação... Intocável.

“Eu sinto sua falta.” Eu digo em voz alta.

Ele concorda. “Sinto falta do seu eu irritantemente


mortal também. Você está se dando bem com meus
irmãos? Rowan é o tipo de homem bastante prático.”

“Oh, ele já confessou que está me


perseguindo.” Tento não sorrir maliciosamente. “Mas
Kai... Kai me surpreendeu.”

“Oh?”

“Ele é... Gentil e engraçado. Ele me dá meu


espaço, mas também sabe quando não fazer isso.”

“Ele é um príncipe e foi bem treinado.”

“Eu conheci sua mãe. E ela é realmente horrível.


Rowan disse que seu pai é um deus? Isso é verdade?”

“Bem, eu não o conheço, então não posso te contar.”


Seus ombros tremem com uma pequena risada. “E
minha mãe é uma raça especial. Como a maioria dos
Faes, que você conhecerá em seu conselho ou em outras
cortes.”

“Eu gostaria de poder tocar em você.” Eu desenho


uma linha em seu abdômen, sua imagem tremulando
enquanto eu faço isso.

“Você adora quebrar as regras.”

“O que posso dizer? Eu sou rebelde.” Eu faço uma


pausa. “Você me deixaria te tocar de novo? Apesar de
estar convencido de que nunca poderíamos ser?”

“Por quê? Você tem mais energia reprimida que


precisa ser liberada? Tenho certeza de que Rowan
resolverá o problema se você precisar de uma transa
rápida.”

Eu não escondo o jeito que eu franzo a testa ou


reviro os olhos. “Lincoln, eu não estou transando com
seu irmão. Eu não entendo como você não entende
como você é. Eu quero te tocar. Eu quero lutar por
você. Eu tenho minha mente fixada em você.” Eu dou
a ele um sorriso malicioso. “E eu posso ser muito
teimosa quando coloco minha mente em algo.”

“E você está pensando em mim?”

“Sim. Eu quero que você lute por nós. Vou lutar


por você também.”

“É uma ladeira escorregadia.”

“Vamos deslizar juntos para baixo.”


“Não tenho certeza se você sabe o que está
pedindo.”

“Eu não me importo.”

“Claro que não.” Sua imagem se dissolve, sua


barreira mental voltando a subir.

“Lincoln?” Minha mão salta para fora da cama.

“Eu tenho que ir.”

Então ele se foi. Como se ele nunca tivesse estado


aqui. Isso me deixa apenas pensando se eu finalmente
disse a coisa errada? Talvez tirar uma página do livro
de Rowan simplesmente não funcione nessa
situação. Eu acabei de estragar tudo?
Oito
AS MONTANHAS GANUSH

Duas batidas na minha porta são tudo o que


tenho, embora eu esperasse muito menos. Eu peguei
quase três remelas oculares das fendas dos meus
canais lacrimais, mas de alguma forma o sono ainda
se agarra aos meus cílios. A força de Rowan entrando
em meus aposentos cria uma brisa que não toca minha
pele nua.

Com muitos agradecimentos a quem me deu o


menor pedaço da minha vida mundana de volta, eu
vesti um par de jeans escuro lavado, minhas botas e
uma camiseta enorme que eu aproveitei. A adaga que
Kai tinha me dado por enquanto fica grudada
desajeitadamente no cós da minha calça jeans. Collin
teria odiado essa roupa; Eu penso com um
sorriso. Lincoln a teria adorado o suficiente para tirá-
la imediatamente... Da melhor maneira. Eu sorrio.

“Sem lingerie hoje?” Rowan oscila com menos


camadas do que eu já o vi usar.

“Eu poderia dizer o mesmo para você. Onde estão


seus casacos sobre casacos sobre casacos?” Eu
aponto, puxando minha bolsa no meu ombro.
“O que posso dizer? Eu gosto de viajar com pouca
bagagem.” Ele pisca.

O cabelo comprido de Kai foi trançado para baixo


em seu couro cabeludo, vestindo uma calça e uma
camisa larga semelhantes às de seu irmão. Ambos nas
cores preto e cinza. “Eu acho que gosto de você vestida
assim.” O príncipe me dá uma olhada.

“Mais adequado, você não acha?”

“Sim.” Ele ronrona. “Rowan, pegue a bolsa dela. E


Briar...” Ele puxa sua bolsa de seus ombros e puxa um
longo cinto marrom dela. “Isso vai te ajudar a carregar
aquela adaga com muito mais conforto. Também irá
protegê-la de ser destruída.”

Tensa de aborrecimento, Rowan puxa minha bolsa


do meu ombro. Tiras finas de couro prendem uma
mochila em seu corpo largo. Ele encolhe os ombros
para revelar as fivelas de metal nas quais ele prende
minha bolsa.

“Obrigado, você não precisava.” Eu aceno para os


dois irmãos, pegando o cinto de Kai e prendendo-o na
minha cintura em seguida coloco a adaga.

“Na verdade, eu precisava.” Rowan lança a seu


irmão um olhar desinteressado.

Kai sorri e oferece o braço. Ele cheira a mel


aquecido e carvão. Tento obviamente não respirar
enquanto enrosco meu braço no dele e o deixo me levar
para fora do quarto. Acordei ansiosa e cedo o suficiente
para estar esperando pacientemente perto da minha
porta nos últimos trinta minutos. O colar, meus
poderes, repousa pesadamente em meu pescoço.
“Bem, o portal nos levará perto o suficiente. Mas a
vidente mora nas Montanhas Ganush.”

“Então você está me dizendo que vou ter que


escalar uma montanha hoje?” Talvez eu não tenha me
vestido bem o suficiente...

“Rowan e eu estaremos lá para ajudar. Está tudo


bem.”

É mesmo?

“Além disso, o que estamos escalando não é


exatamente uma montanha...” Rowan ajusta a bolsa
em suas costas.

As cortinas da varanda já foram abertas, o calor


do dia percorrendo os corredores. Com o sol atrás de
nós, nossas sombras se estendem pelo chão. Kai me
observa enquanto eu observo o chão.

“Esse é o colar?” Ele aponta.

“Uh, sim.” Eu olho para Rowan, cuidadosamente


tocando meu pescoço.

“Não se preocupe. Ele está atualizado.”

“Devo ficar ofendido por você não confiar em mim


o suficiente para me dizer, amor?” Rowan se arrasta ao
meu lado.

Se alguém ficou ofendida, provavelmente sou


eu. Kai realmente não tinha o direito de compartilhar
minhas informações pessoais com Rowan.
“Por que ele está indo conosco?” Eu digo com forte
sarcasmo. Rowan ri, batendo em mim de brincadeira
com seus ombros.

“Dois pares de mãos protegendo nossa Rainha


Mortal são melhores do que um.” Kai sugere.

“É por isso que preciso que isso seja feito.” Eu


encolho os ombros. “Eu não quero que
ninguém tenha que fazer a proteção.”

“Oh, você nunca vai escapar disso.” Rowan me


lembra. “Você é uma rainha. Você é da realeza. Alguém
sempre tentará protegê-la. Enquanto outra pessoa
também estará sempre tentando matá-la.”

Droga.

Nós três, todos incrivelmente vestidos


casualmente, viramos em direção às portas da frente
do longo corredor que percorre toda a extensão do
castelo. Eu tento recordar do rápido tour de Rowan
pelo castelo tentando distinguir onde os portais podem
estar. Ele não mencionou nenhum que eu conheça.

“Onde estão seus portais? Você não tem um


corredor cheio deles como a Corte das Sombras?”

“Não. Oh, certamente não. Mãe desaprova viagens


tão pesadas. Ela diz que isso só cria mais Faes das
Sombras.” Kai inclina a cabeça de um lado para o
outro, contemplando a ideia. “Ela não está totalmente
errada.” Ele oferece um sorriso.

“Nossos portais estão espalhados principalmente


entre a floresta, aquele por onde caminhamos em sua
primeira visita aqui. Você caiu direto em meus braços
naquele dia. Lembras-te daquilo?” Rowan me cutuca
com o cotovelo novamente.

“Sim, eu lembro.”

“Bem, ela certamente caiu de seus braços desde


então.” Kai alcança as grandes portas de ferro. Ele não
faz nada mais do que acenar com a mão antes que eles
se abram. “Nós conversamos sobre isso. Você tem que
recuar.”

“Eu não vou tocá-la.” Ele zomba. “Eu disse que


não iria tocá-la.” Rowan aponta seus longos cílios para
mim, golpeando-os. “A menos que ela peça.”

“Provavelmente não farei isso tão cedo.” Eu sugiro,


o mais casualmente possível.

“Uma vergonha.”

“Ignore-o.” Kai ajusta sua própria mochila. “Ele


não foi criado para ter as maneiras necessárias para
ser herdeiro.”

O golpe de Kai parece mais com o corte cortante


de uma lâmina. Rowan atravessa as portas, deixando-
as fechar ruidosamente atrás de nós, sem nem mesmo
mostrar sua ofensa. Porém, as pontas de suas orelhas,
saindo de suas tranças, ficam de um vermelho
brilhante.

Esta vai ser uma longa viagem.

“Então...” Eu limpo minha garganta. Observo


meus passos com cuidado, enquanto desço alguns
degraus até o caminho de pedra que leva à
floresta. Meus tornozelos ainda seguram levemente a
dor da minha queda em desgraça na noite passada.
“Como posso ter certeza de que não vou passar
aleatoriamente por um portal?”

“Bem, eles estão claramente marcados.” Kai diz,


acrescentando relutantemente. “Para os olhos Fae.”

“Os olhinhos mortais podem ter dificuldade em


distinguir as marcas entre as árvores. Portanto,
apenas dê um passo onde pisamos e... Briar! O que
você fez com a sua cabeça?” Rowan para atrás de
mim. Ele leva sua mão em direção ao inchaço, da noite
anterior em que apareceu desde que minha cabeça
encontrou o interior do meu armário de uma forma tão
pessoal, parando antes que sua mão o tocasse.

Minha mão sobe em meu cabelo, esfregando-o


suavemente. O nó ainda está sensível a cada toque de
meus dedos.

“Isso está ruim? Muito grande?” Eu


suspiro. Talvez eu devesse ter me olhado melhor no
espelho já que estava perceptível.

“Você tem uma segunda cabeça crescendo em sua


cabeça.” Rowan levanta o queixo, examinando-o.

“Pare de olhar para isso. Estou bem.” Eu me


afasto.

Duas mãos quentes agarram meus braços,


segurando-me no meu lugar. As sobrancelhas de Kai
se transformam em uma enquanto ele as une. “Você
está machucada. Quem fez isto à você?”

Eu escorrego para fora de suas mãos, afastando-o


enquanto ele tenta me alcançar novamente. Um rubor
sobe pelo meu pescoço. E agora eu tenho que dizer a
eles que fiz isso a mim mesma?

“Apenas esqueçam isso. Temos lugares para


ir.” Eu dou um passo. No mesmo batimento cardíaco,
Kai e Rowan disparam atrás de mim para formar uma
nova parede na minha frente. Eu cruzo meus braços
sobre meu peito. “Sério mesmo?”

“Sério.” Kai fala sem rodeios.

“Tudo bem. Tudo bem. Ninguém fez nada


comigo. Eu fiz isso comigo mesma. Fui fazer minha
mala ontem à noite, como você pediu, mas a única
opção era aquela bolsa grande e maldita. É muito pedir
para vocês, Faes, possuírem mochilas?”

“O que é uma mochila?” Rowan franze a testa.

“É como uma mala de camponês.” Kai sussurra de


volta, acenando para que eu continue.

“De qualquer forma, não consegui alcançar a


bolsa, então subi na sapateira.”

Rowan cobre a boca com a mão para esconder um


sorriso. “Você escalou?”

“Sim, eu escalei. Então eu prontamente caí e bati


minha cabeça quando caí de bunda para trás. “Vamos
deixar de lado propositalmente a parte em que também
posso ter torcido os dois tornozelos.

Os príncipes olham um para o outro e eu me


preparo para algum tipo de palestra. Quando eles se
voltam para me encarar, eles caem na risada um
contra o outro, dobrando-se para se manter de joelhos
enquanto caem na gargalhada.

“Cupcake...” Kai segura a ponta do nariz. “Você


poderia ter usado um servo para ajudar. Ou me
perguntado esta manhã.” Ele se vira para seu irmão.
“Podemos ter mais trabalho pela frente do que o
previsto nesta viagem.”

“Parem!” Eu saio do caminho em torno dos irmãos.


“Foi um acidente. Normalmente não sou tão
desajeitada.” Então, como se fosse uma deixa, toda a
piada da piada, meu pé escorrega na borda da trilha
enquanto tento dar um passo para trás e meus pés
tropeçam em si mesmos.

Mãos largas envolvem meus ombros, me puxando


para cima. Kai não faz nada para esconder seu sorriso
malicioso.

“As crianças aprendem a andar, apenas se


primeiro aprenderem a cair.”

Seu provérbio provavelmente é bem intencionado.


Provavelmente. Mas agora, é irritante pra caralho.

“Eu estava indo me equilibrar.” Eu empurro suas


mãos de cima de mim.

“O quê? Com o seu rosto?” Rowan bufa, passando


por nós dois. “Eu vou liderar.”

Com meu rosto. É infantil da minha parte zombar


dele agora? Sim. Lamentavelmente, e mais
estupidamente, sim.
“Venha agora, meu doce.” Kai me guia para frente.
“Estou procurando um pouco de magia para que você
possa andar como o resto dos adultos.”

“Ok, agora você está apenas tirando sarro de


mim.”

“Eu não estava zombando de você antes?”

Eu sigo o príncipe. “Não tenho certeza se estou


gostando dessa brincadeira.”

“Só porque você é a pior da piada,


humana.” Rowan grita por cima do ombro quando a
sombra das árvores cai sobre ele.

O orvalho ainda brilha nas folhas. As trepadeiras


tecem a velha casca e os galhos que nos escondem do
céu. Os animais não chamam como fazem à noite,
provavelmente ainda se escondendo em suas tocas,
não prontos para acordar para o dia. Eu não os
culpo. Se não fosse pela emoção de algo novo, de uma
resposta à pergunta que venho fazendo há algum
tempo, eu ainda estaria escondida sob as cobertas até
que um dos irmãos Ziko entrasse no meu quarto e
exigisse algo de mim.

A pedra da trilha é substituída por arbustos e


galhos quebrados. Estou mais cuidadosa com meus
passos agora que há muito mais para tropeçar. Se eu
me envergonhar na frente desses homens mais uma
vez, irei em frente e cavarei uma cova. Não, obrigada.

“Então, quanto tempo é essa viagem?” Eu


pergunto, tentando passar o tempo e preencher o
silêncio.
“O tempo que um humano levar para escalar uma
montanha, se eu tivesse que adivinhar.” Kai aperta os
olhos tentando olhar entre os galhos. Eu sigo seu
olhar, me perguntando o que ele poderia estar
procurando. Minha visão prova ser menos útil.

“Você tem alguma experiência com


escalada?” Rowan me lança um olhar por cima do
ombro. Suas tranças fazem um ruído suave ao baterem
em sua mochila de couro.

“Rowan, eu cresci na porra da cidade de Nova


York. Você acha que tenho experiência em escalada?”

“Não tenho certeza de como a cidade em que você


cresceu tem muito a ver com isso. Mas, a julgar por
sua falta de equilíbrio geral, acho que provavelmente
não.”

“Não, eu não tenho experiência com


escaladas.” Eu admito. Além disso, estou fora de
forma, acho, mas não acrescento. “Não há muitos
lugares para escalar montanhas na cidade e, mesmo
que houvesse, nunca tive esse dinheiro para sair e
fazer isso por capricho.”

“Por impulso.” Kai ecoa. “Eu tenho muitos


caprichos.”

Oh, aposto que sim.

“Sim, você é um príncipe. Você tem dinheiro


suficiente para ter caprichos. Pessoas comuns não
têm.”
“Então você era uma camponesa antes?” Rowan
pergunta enquanto franze o nariz, ofendido com sua
própria declaração.

“Eu não era uma maldita camponesa. Não chame


as pessoas assim. Ou Faes dessa forma. Deus, que
rude.”

“Como você disse, somos príncipes... Podemos


chamar as pessoas do que quisermos. Vem com o
título.” Ele mostra a língua. “Isso significa que logo
você também poderá.”

“Prefiro não.” Eu coloco minha palma contra a


árvore mais próxima, a casca áspera contra minha
pele. Isso me equilibra quando passo por cima de um
pequeno galho de árvore quebrado e um arbusto
crescido demais. As mãos de Kai pairam perto da
minha cintura, esperando para me pegar, se
necessário. “Eu não vou cair.” Eu o tranquilizo.

“Promete?” Kai sussurra, seu rosto perto o


suficiente, tenho certeza de que a palavra só poderia
ser captada por nós dois.

“Prometo.” Eu digo lentamente.

“Quase lá!” Rowan chama conforme ele avança


mais à frente. O espaço entre nós continua a se
multiplicar e eu tenho que me perguntar se ele está
usando algum superpoder Fae para seguir em frente
ou se ele realmente anda tão rápido.

Eu bufo. Rowan capta o barulho e gira na ponta


das botas, quebrando um galho ao meio sob o pé.
“Muito rápido para você, humana? Vamos levar uma
semana inteira para subir esta montanha se este é o
ritmo que você está indo.”

“Quem te pediu para vir? Eu sei que eu não fui.”

Kai cantarola uma risada atrás de mim. Pelo


menos ele está gostando disso. O suor já se acumulou
em minhas sobrancelhas e o dia nem mesmo está
particularmente quente. Talvez eu só tenha sido muito
preguiçosa. Talvez eu deva começar a correr.

Mas não vejo esses Faes correndo ao redor do


castelo. Tem que ser a mágica. Como isso vai me
mudar? Vai doer quando for lançado? Será uma
sensação boa? A parte safada de mim quer adivinhar
quais são as chances de que isso aconteça para me dar
algum tipo de orgasmo. Eles insinuaram que o sexo me
ajudaria a ser capaz de liberar meus poderes. Deus,
espero não ter que fazer sexo com alguém para
conseguir isso. Pelo menos com nenhum desses dois
homens andando comigo agora.

“Você pode ver as gravuras nessas duas


árvores?” Kai pergunta. Ele levanta a mão, apontando
por cima do meu ombro, para as árvores nas quais
Rowan se colocou.

Entre os longos troncos, nada parece ser tão


diferente. Espero o vazio negro em que estou
acostumada, mas tudo que vejo é o vento farfalhar
algumas flores de madressilva apenas alguns metros
atrás dele. Não deveria piscar ou algo assim? Ou talvez
parecer meio confuso?

Tento me concentrar nas árvores, como Kai


sugeriu. Casca... Casca... Casca de árvore de aparência
mais áspera. Musgo verde... Algum tipo de inseto. Não,
sem gravuras, sem marcas, sem sinais ou luzes
piscando que digam ‘Olá, agora você está deixando a
Corte de Ferro, por favor, aproveite sua viagem para as
Montanhas Ganush.”

“Eu vejo... Duas árvores.” Eu finalmente admito.

“Olhos humanos.” Disse Rowan.

“Por que não existe um vazio negro no qual cair?”

“Oh, existe um vazio, certo. Você gostaria que eu


te abraçasse forte enquanto caímos?” Rowan sorri e dá
um passo em minha direção.

Eu balanço minha cabeça, dando um passo para


trás em Kai.

“Ok, então meu irmão não é muito bom em recuar.


E para corrigir sua declaração anterior, o vazio nesses
tipos de portais é muito menor e mais condensado.
Você não precisa se agarrar a ninguém. Você apenas
dê um passo e vai parecer que você está caindo por um
momento, mas não ajuste o passo, porque quando ele
atingir o solo, você estará do outro lado. “

“Por que é diferente?”

“Feito com intenções diferentes.” Sugere Kai. “Eu


não tenho certeza, realmente. Estes são mais suaves
de passar, no entanto. Você confia em mim?” Ele passa
por mim, indo em direção às árvores. Antes que ele as
alcance, ele oferece sua mão.

“Vejo você do outro lado.” Rowan me sopra um


beijo antes de se dissolver entre as árvores.
Você confia em mim? Essa foi a pergunta que
Lincoln me fez antes de eu deixá-lo combinar nossas
mentes. Minha resposta então foi não. Não apenas não,
mas diabos não. Mas eu me arrependo de deixá-lo
invadir meus pensamentos? Não inteiramente. Embora
isso possa mudar se ele se casar e não for eu. Mas não
vou pensar nisso.

Minha resposta agora é muito mais rápida, mais


fácil de dizer. “Sim.”

Eu coloco minha mão na dele. O olhar de Kai se


move do meu rosto para nossas palmas. Quando ele
olha para cima, seus olhos brilham com algo muito
humano. É claro que os Faes têm uma gama de
emoções, mas na minha experiência, são apenas
versões silenciosas das nossas. O brilho em seu olhar
não é apenas tristeza... É coração partido. No entanto,
ele sorri e pisca para afastar qualquer coisa
remotamente questionável.

Minha intriga é engolida. Kai dá o menor aperto


na minha mão, me puxando para frente enquanto ele
recua entre as árvores.

“Lembre-se, não mude seu passo. Os passos estão


um pouco mais abaixo do que você espera. Você pode
fazer isso, Cupcake.”

“Se você continuar me chamando assim, terei que


dar a você algum tipo de apelido relacionado a um bom
assado. Você gosta de Brownie? Ou Cookie?” Dou um
passo à frente, deixando-o me guiar.

Sua cabeça se inclina para trás com uma risada e


ele passa pelo portal. O som que espero vir dele de
repente desaparece. Meu ombro protesta quando ele dá
um puxão firme.

Eu passo por entre as árvores. É preto como o


interior das minhas pálpebras, ou talvez seja apenas
porque eu realmente estou piscando. Eu imagino um
passo, então minha bota se move pelo ar do fundo
esperado. A metade superior do meu corpo se inclina
para frente e tenho certeza que vou cair ou que o outro
lado nunca existiu.

Quando tenho certeza de que meus dedos do pé


nunca encontrarão chão sólido, minha bota raspa na
terra. Eu olho para baixo A grama alta e úmida está
dobrada em um ângulo estranho em volta das minhas
botas, a mão de Kai ainda está segurando a
minha. Mas atrás dele, atrás de Rowan e atrás da
expansão contínua da floresta tropical, uma montanha
de cinzas se ergue.

Então outra.

E outra.

As Montanhas Ganush.
Nove
ESPÍRITO DOS DESEJOS

“Você sobreviveu.” Rowan me dá um tapinha nas


costas.

Kai solta minha mão, olhando para o terreno alto


e íngreme que estaremos percorrendo em breve. A
umidade sufoca o ar. Até o cabelo na minha visão
periférica começa o frizz e aumenta rapidamente de
tamanho. Eu imagino que meu cabelo estará tão alto
quanto a montanha quando a noite cair.

As montanhas Ganush, a palavra até soa


engraçada quando estou apenas pensando, pois não
são o que espero de uma montanha. Quando as
imaginei antes, eram picos altos, cobertos de neve. Eu
até tenho uma jaqueta bagunçada na bolsa que Rowan
está carregando. (Quem dobra as roupas hoje em dia?)
Não parece haver nenhum respingo de neve branca em
nenhum desses picos das montanhas.

“Eu não sabia que ia ser tão quente.” Confesso.

“Quente e úmido. Eu provavelmente poderia ter


avisado você. Um viajante preparado é aquele que não
vai às cegas para a morte.” Kai balança a cabeça,
enfiando a mão no bolso e puxando um elástico preto.
“Aqui, para o seu cabelo.”
“Gah, seus velhos provérbios vão assustá-la. Não
estamos caminhando para a morte.” Rowan me
garante. “Quero dizer... Provavelmente não estamos.”
Em seguida, ele adiciona uma piscadela.

Ofereço a eles uma versão de uma risada patética


enquanto me levanto e prendo o cabelo. Minha pele já
está pegajosa. Ainda nem começamos nossa jornada e
já estou suando em lugares que gostaria de não
estar. Com sorte, esses jeans não me trairão em
mostrar a poça de suor que está deixando minha
calcinha úmida. Agora, isso seria constrangedor. Posso
até já ouvir os meninos brincando sobre isso agora.

“Obrigada.” Eu aponto para o elástico de cabelo.


“Estou surpresa que você tenha um em mãos.”

“Bem, eu sei como o cabelo solto pode ser


incômodo, especialmente em um clima como este.” Ele
aponta para seu próprio cabelo trançado.

“Eu deveria saber. Só não é tão comum de onde


eu venho, que os homens tenham cabelo comprido.
Ainda assim, agradeço por você compartilhar.”

É realmente muito triste que mais homens


humanos não usem o cabelo comprido. É muito
bonito. Quer dizer, estou olhando para a Prova A e B
agora.

Kai sorri suavemente antes de olhar para


cima. Rowan se junta a ele para seguir em frente. Até
onde posso ver com meu olhar mortal, não existem
caminhos facilmente identificáveis. Árvores e as
ocasionais formações rochosas se projetam em ângulos
estranhos. É difícil ver tudo através do dossel acima de
nós.

“Acha melhor começar por aqui?” Kai aponta.

“Sim, embora eu imagine que Briar precisará de


um incentivo para se recuperar. Certamente, é
factível.” Rowan fareja o ar. “Você está sentindo esse
cheiro?”

Nenhum dos irmãos está olhando para mim


enquanto espero pacientemente atrás
deles. Casualmente, tento farejar o ar também. Tem
cheiro de sujeira e grama molhada. Na verdade, é um
pouco calmante de certa forma. Eu respiro
novamente. Tem cheiro de flores doces ou talvez
lavanda. Noto que não há canteiros de flores à vista.

“Sim.” Kai gira lentamente em um círculo, sua


atenção pulando sobre mim enquanto ele observa a
floresta ao nosso redor. “Provavelmente está
espreitando por perto. Espero que ainda não tenha nos
localizado, mas logo estará em nosso cheiro. É melhor
nos movermos.”

“O que?” Eu limpo minha garganta.

“Venha agora.” Rowan acena e começa a


avançar. Kai fica parado, me deixando andar na frente
dele.

“Tudo bem, mas vou precisar de uma pequena


explicação ou então vou começar a me preocupar.”

“As meninas se preocupam demais.” Murmura


Rowan.
“Cale a boca.” Eu estalo, em seguida, olho por
cima do ombro muito mais agradavelmente para Kai.
“É outra pantera? Ou algum tipo de coisa felina que é
muito maior do que deveria ser?”

“Não. É algo que não é totalmente real.”

Mesmo aqui, na base da montanha, o solo


começou a se inclinar cada vez mais. Eu só posso
imaginar que tipo de treino minhas panturrilhas
estarão tendo. É terrível até pensar nisso. Mais agora
existe algo que não é totalmente real que está prestes
a estar em nosso cheiro. Soa tão mortal quanto a
metáfora estúpida que Kai compartilhou.

“Explique.” Eu digo de modo inexpressivo.

“É um espírito dos desejos. Alguns dizem que é no


que nós, Faes, nos transformamos quando morremos
com arrependimento ou negócios inacabados. Coisas
terríveis.” Kai mantém o tom calmo, mas de vez em
quando olha por cima do ombro para trás de nós. “Eles
não são físicos. A menos que você os toque.”

“Como eles se parecem?”

“Isso é contigo.” Rowan sorri. “Se uma segunda


versão minha aparecer, eu saberei que você está
secretamente apaixonada por mim.”

“Não é provável.”

“Você verá o espírito como tudo o que deseja, tudo


o que sua alma precisa.” Diz Kai.

“O que exatamente você estava cheirando?”


Pequenos brotos de árvores crescem ao nosso
redor. Eu agarro um, usando-o como alavanca para me
ajudar a avançar. À nossa frente, as árvores murcham
e se transformam em tocos queimados e galhos novos
e magros que brotam da rocha negra. Eu farejo o ar
descaradamente.

“Não sinto cheiro de nada.”

“Bem, você não só vai ver o espírito como o que


você deseja, mas ele se eleva sobre todos os seus
sentidos. Vai cheirar como o seu coração desejar
também. Se você tocá-lo, ele vai tomar uma forma
física e parecer real. De todas as formas.” Kai está
alguns metros atrás de mim.

“Então, o que vocês dois cheiraram?”

“Isso é pessoal.” Rowan olha para mim. “Você acha


que vamos dizer o que mais desejamos? Não. A
primeira coisa que eles dizem no treinamento de
príncipe é não compartilhar seus segredos mais
valiosos.”

“O que você acha que vou fazer com essas


informações? Vender para quem der o lance mais
alto?”

“Bem, você vai ser uma rainha que governa em


uma corte diferente, Briar.” Kai sugere.

“Cuidado, isso quase pareceu uma ameaça.” Eu


rio dele.

Kai me dá um sorriso presunçoso. “Não custa


nada ser cuidadoso.”
“Quando eu desbloquear esses poderes.” Sugiro
como se fosse um novo nível em um videogame.
“Poderei chutar seu traseiro por dizer coisas tão
ofensivas e desconfiadas.”

“Eu gostaria de ver você tentar.” Rowan ri.

“Não se precipite.” Kai acena para mim, enquanto


eu me viro e ando para trás para que eu possa vê-lo. Eu
paro, deixando-o se aproximar.

“Vou te dar aquele bom e velho soco.” Eu levanto


o punho no ar. Kai se esquiva facilmente.

“Você acha que é boa. É melhor...” Ele para de


falar, seu corpo faz uma pausa enquanto ele se anima
como um cão de caça.

“Droga, isso foi rápido.” Rosna Rowan. “Qual é o


plano, irmão?”

“O quê? É o Espírito dos


Desejos?” Automaticamente, começo a olhar ao redor.

“Não olhe em volta!” Kai late. Ele me vira.


“Continue andando. As opções são não entrar em
contato com ele, deixá-lo ficar em sua forma espiritual
e nos assediar pelo tempo que quiser ou se um de nós
acabar por tocá-lo, poderemos ir para a matança.”

Rowan passa a mão por suas feições pálidas.


“Torná-lo físico pode significar usar muita energia para
lutar contra ele. Sem mencionar a proteção da
obviamente fraca princesa que temos conosco.”

“Você quis dizer rainha.” Eu interrompo. Ambos


me ignoram.
“Ignore o espírito, então.” Kai enfia os dedos nas
alças da mochila e olha para a frente. “Está se
aproximando. Briar, mantenha seu olhar no chão. Não
importa o que você pense que vê, ou ouvir, ou cheirar,
ou qualquer tipo de sentido que tentar atrair você. E
pelo amor de todas as coisas sagradas, não toque nele.”

“O que pode ser tão difícil nisso?” Vou apenas


canalizar o meu ‘Collin’ interior. Ele era ótimo em me
ignorar e ele é um idiota, então certamente se ele pode
fazer isso, eu também posso.

“Você ficaria surpresa.”

Na próxima brisa, o forte cheiro de lavanda é


carregado em minha direção novamente. Meus ombros
caem de minhas orelhas. Respiro fundo pensando nas
flores que poderiam produzir um aroma tão
adorável. Assim que relaxo, todos os meus músculos
ficam tensos novamente. Lavanda... As flores… Foi o
que eu cheirei antes. Não vou permitir que este Espírito
dos Desejos entre aqui e me suborne com um buquê.

Que coisa estranha para eu cheirar. O que eu


desejo tanto que cheira a flores
silvestres? Romance? Nah, isso é fugaz. Tento me
concentrar em meus pensamentos para reconhecer por
mim mesma o que eu poderia potencialmente enfrentar
com esse espírito, mas a voz de Kai rasga meus
pensamentos.

“Está aqui.”

Então o espírito começa a falar. “Briar!” A voz de


uma mulher. “Briar! Não posso acreditar que você me
encontrou.”
Eu aponto meu olhar para meus sapatos e alcanço
outro rebento frágil de uma árvore para me puxar para
cima do vulcão. A voz é convidativa. A voz é...
Familiar. Repito suas frases em minha mente tentando
identificá-la.

“Eu não posso acreditar que é você. É realmente


você.” A voz diz novamente.

Do canto da minha visão, uma figura aparece. As


saias estão presas nos escombros do chão da floresta,
mas a garota, ela se aproxima, estendendo a mão para
mim. Eu evito sua mão com um suspiro.

“Vocês não me disseram que iria


tentar me tocar...” Eu paro enquanto olho para trás,
para meu próprio cabelo castanho mel e olhos azuis
escuros. A última vez que a vi, seu estômago era
redondo e grávido, agora é plano e seu rosto é jovem,
pelo que me lembro. Ela é mais jovem do que eu. Ela
morreu mais jovem do que eu. Rainha Amélia.

“Mãe?” Eu sussurro.

“Eu não posso acreditar que você me


reconheceria. Querida, você cresceu e ficou tão bonita.
Venha agora, venha comigo. Eu tenho tanto para lhe
contar e é perigoso para seus dois companheiros saber
disso. Eu sobrevivi. Precisamos ir nos esconder.” Seus
olhos são gentis e ela sorri para mim como se eu fosse
o presente de Natal que ela esperou por toda a vida...
Como se eu fosse sua filha desaparecida.

“Não é real.” Kai sussurra em meu ouvido, me


empurrando para frente. “Eu sei que você quer que seja
real. Eu também. Mas não é o que você pensa que é. O
espírito não é sua mãe.”

“Não se atreva a dizer isso a ela!” O fantasma de


minha mãe empalidece. “Eu esperei minha vida inteira
para ver meu bebê, para segurar minha filha em meus
braços. Você não vai me fazer parecer como uma
invenção da imaginação dela. Você pode me ver, não
é?” Ela aponta para Kai.

A atenção do Príncipe está concentrada nas


minhas costas. Sua mão contra minha espinha é a
única coisa que me move para frente. À nossa frente,
Rowan geme e golpeia uma mosca para longe de seu
rosto.

“Você a ver?” Eu pressiono, olhando para minha


mãe. Ela parece tão real que meu coração dói sabendo
que não é ela.

“Não.” Kai diz severamente. “Eu me vejo.”

Eu sei que ela é apenas um espírito projetando


minha necessidade de ser amada, minha necessidade
de ter uma família, todo o meu desejo de fazer parte de
algo... Mas se eu pudesse olhar para ela um pouco
mais. Tudo em mim quer memorizar seu rosto, torná-
la menos o reflexo da memória de meu próprio pai. Eu
quero que ela seja mais do que a pintura que está
pendurada no quarto da Rainha Cordelia.

“Você se vê? Isso parece um pouco vaidoso, não


acha?” Eu digo, suavemente.

“Briar, minha querida, não dê ouvidos a ele. Ele


me vê. Eles não são seguros para você. É seguro
comigo. Venha comigo. Por favor.” O espírito implora.
Eu aperto meus olhos e me afasto. “Kai, preciso
que você fale comigo agora.”

“Eu me vejo.” Ele repete, sua voz rouca. “Coroado.


Eu, sem meus pais iminentes, sem as restrições que
eles colocaram em mim.”

“Eu não achei que compartilharíamos o que


víssemos.” Rowan faz uma pausa, olhando para a
subida repentina e íngreme sobre uma grande rocha.
Ele se curva levemente sobre os joelhos antes de pular
e pousar agachado acima da rocha.

Tento olhar para Rowan à frente, não para dar a


falsa imagem da mãe que nunca tive outro olhar, mas
ela dá um passo em minha direção. Meu pé fica preso
na raiz de uma árvore e o braço de Kai dispara atrás
de mim. Ele tem boas intenções, mas a força de sua
mão batendo nas minhas costas me impele de volta
para a frente. Eu tropeço novamente, tentando me
segurar em qualquer coisa que eu possa agarrar.

Meus dedos atingem a carne. Suave, com o mais


leve toque de um brilho rosado, eu olho para baixo em
meu aperto que envolve um antebraço delgado. O
sangue escorre do meu rosto enquanto Kai sibila por
entre os dentes cerrados. Eu olho para cima. Minha
mãe sorri para mim, gentilmente.

Lavanda enche meus pulmões. O desejo de deixá-


la envolver seus braços em volta de mim, de soluçar
em seu vestido esfarrapado, faz com que a tensão
cresça em todos os músculos. Ela é real.

“Mãe...” Eu abro minha boca e seu sorriso se torna


perverso. As bordas suaves de seus dentes humanos
se alongam em pontas e escorre preto de sua boca
como saliva espessa.

Minha mão escorrega de sua pele macia, ainda


formigando com a necessidade de seu toque. Não é ela.
Nunca foi ela. Eu sabia disso o tempo todo e ainda uma
parte de mim queria acreditar. Eu me amaldiçoo
enquanto meus pés pedalam para trás.

A imagem de minha mãe não está mais à


vista. Uma única trança loira pisca diante de mim
enquanto Kai desliza entre nós. Sua bota se conecta
com o Espírito dos Desejos que solta um grito
inegavelmente desumano. Qualquer desejo pelo que
pensei ser minha mãe é rapidamente substituído por
um novo medo.

Escorregando contra as folhas molhadas, corro


em direção a Rowan. Eu não posso arriscar outro olhar
para trás. Não quero que a imagem do Espírito dos
Desejos se transforme em demônio em minha mente
por mais um segundo.

“Rowan segure a mão dela!” Kai grita.

Estou me alongando na ponta dos pés para o


toque de Rowan que se estende ao longo da borda da
pedra áspera. Minha camisa sobe e meu diafragma
raspa ao longo dos cumes pontiagudos. Tento usá-los
como alavanca para escalar até ele. Minha bota
escorrega a cada tentativa.

“Você vai ter que fazer melhor do que isso,


humana. Vamos!” Rowan grita, mas sua atenção está
dividida entre mim e tudo o que não estou disposta a
assistir atrás de mim.
Há uma confusão de movimento atrás de mim. Eu
sei que é algum tipo de luta que está ocorrendo entre o
Fae e o Espírito. E é tudo por causa do meu toque. Kai
solta um grito, um grito misturado com dor. É seguido
por um estrondo e uma repetição do grito de lamento
do Espírito.

Eu suspiro quando sinto mãos pegarem minha


cintura. “Sou eu.” Kai geme e me empurra na direção
de seu irmão.

A mão de Rowan se enrola em volta do meu


antebraço, ele nem mesmo transpira enquanto me
levanta com uma das mãos na pedra. Eu deito de
costas, cambaleando. Tentando respirar.

“Você está bem?” Rowan sussurra.

“Eu? Estou bem?” Só então eu rolo para o meu


estômago e vejo Kai atirar uma espada no ar. O sangue
negro se espalha com uma trajetória violenta, o braço
do espírito... Da minha mãe... Caindo no chão. Eu
fecho meus olhos. “Acho que você deveria estar
perguntando se seu irmão está bem.”

“Oh, ele está bem.” Ele ri. “Isso não é nada.”

“Não parece nada.”

“Abra os olhos, ele está quase terminando.”


Encoraja Rowan. Ele se inclina mais para baixo de sua
posição agachada, seus lábios roçando minha
orelha. “Como uma rainha, você provavelmente vai ter
que testemunhar muitas coisas piores do que Kai
lutando contra um espírito. Inferno, a própria Cordelia
pode ficar bem desagradável e ela é a única coisa que
está no seu caminho.”
“Você pode... Você ainda pode ver o espírito como
ele era? Ele ainda aparece como o que você estava
vendo?”

“Não.” Ele balança a cabeça, espalhando suas


pequenas tranças em sua mochila de couro. “Ela se
parece com a rainha Amélia. Ela se parece com sua
mãe. É por isso que você não quer olhar?”

“Você está me perguntando se eu quero assistir


Kai matar o que parece ser a minha mãe?” Eu abro um
olho para Rowan. Ele ainda está observando Kai. “A
resposta para isso seria fodidamente não.”

“Quer dizer, acho que entendo. Além disso, estou


um pouco desapontado por você não ter me visto. Seria
muito foda assistir eu e meu irmão duelando agora.
Mesmo se eu tivesse que estar torcendo pela vitória do
meu irmão.”

“Você poderia assistir a si mesmo morrer?” Eu


finalmente me sento. Eu continuo de costas para Kai,
embora ainda possa ouvir sua respiração se
misturando com a do Espírito em seus esforços.

“E...” Rowan dá de ombros. “Está quase


acabando...”

Ouve-se um som gorgolejante, como água


borbulhando de um copo de criança. O ruído fica mais
suave. Eu pulo enquanto Kai salta para ficar de pé na
rocha ao meu lado. Olhando de suas botas para ele, ele
parece sombrio enquanto empurra a espada de volta
em seu cinto.

Com cuidado, me viro para olhar para a floresta. O


preto está espalhado contra os tons brilhantes das
plantas. Tudo está tingido de sangue. Minha mãe me
encara de volta, seu corpo sem vida. Contra meus
lábios, sinto meus dedos tocando minha boca para
segurar o tremor de um soluço de horror. Eu nem tinha
percebido que tinha me movido.

Ela parecia assim em sua morte? Ela era tão


bonita quanto permanece agora como quando foi
decapitada enquanto o reino assistia? A mãe de
Cordelia tirou tudo de mim. Cordelia tirou tudo de
mim. Meu desejo mais profundo não é o amor de um
homem, não é o poder de uma porra de reino, meu
desejo mais profundo é a porra de um amor de pais.

“Ele mordeu você.” Rowan se levanta.

Kai estende o braço, examinando a mordida. Ele


oferece seu lado ileso e eu pego sua mão e me
levanto. Marcas de dentes, o crescente perfeito de uma
mordida humana, quebram sua carne. O preto se
mistura com o vermelho de seu sangue. Mais do que
isso, as veias que se estendem desde a picada são
tingidas de preto, como se a energia ruim do espírito
estivesse infiltrando-se em seu ser.

“Meu Deus.” Eu agarro seu pulso e puxo em


minha direção.

“Uh, ow.” Kai pisca.

“Você vai ficar bem?”

Curvando-me, eu olho para a mordida ainda mais


perto, rezando para que ele não tenha recebido uma
injeção de veneno ou outra coisa tão horrível. Kai
sacode minhas mãos.
“Está tudo bem.”

“Ela envenenou você? Não minta para mim Kai


Ziko!” Eu balanço um dedo para ele.

“Cupcake...” Ele me dá um sorriso brilhante. “Se


você acha que vou deixar um irritante Espírito dos
Desejos me levar para fora deste mundo, então você
está redondamente enganada.”

“Bem, Docinho...” Tento o apelido. “Me processe


por estar preocupada.”

“Processar você?” Rowan lança ao Espírito dos


Desejos um último olhar, franzindo a testa para a
bagunça que o cerca.

Kai alisa a manga para cobrir a mordida e ajusta


a mochila nos ombros. Eles se voltam para a montanha
novamente.

“É melhor irmos andando. Há mais desses, tenho


certeza.” Kai se move para a nova inclinação alinhada
pelas árvores.

“Ainda estou confuso sobre o que significa


‘processar você’. Isso tem alguma coisa a ver com ser
sexual?”

“Eu não tenho certeza de quantas vezes isso tem


que ser repetido, mas, nem tudo é sexual, Rowan.”

“Isso é discutível.” Ele aponta para mim, sorrindo.

“Não.” Eu balanço minha cabeça e faço o meu


melhor para mantê-los atrás. Afastando-me, luto
contra a necessidade de dar uma última olhada no
corpo de minha mãe. “Processar alguém...” Explico,
para manter minha mente longe. “É quando alguém faz
algo prejudicial a você ou infringe a lei ou... Algo
assim.” Talvez eu não seja boa em explicar isso. “De
qualquer forma, você os leva ao tribunal e recebe
dinheiro deles por qualquer que seja o motivo.”

Claro, sim, isso explica tudo.

Os olhos de Rowan se estreitam. “O que?”

“Não é como a nossa Corte. É o sistema jurídico


deles. É administrado por várias pessoas em sua área,
em vez de apenas o governo de seu rei ou rainha.” Kai
tenta explicar.

“Por que eu iria querer dinheiro de você?”

“Como você sabe tanto, mas visita o mundo


humano tão pouco?” Eu levanto uma sobrancelha para
o príncipe de cabelos dourados.

“Uma vez eu tive relações com uma espécie de


advogado.” Kai não se preocupa em olhar para nós
enquanto abre um caminho para a frente.

“Sério, estou confuso.” Rowan tenta novamente.

“Você sabe o que... Apenas esqueça.” Eu suspiro.

Um silêncio cai entre nós. Tão silencioso quanto o


som de nossos pés batendo na encosta da montanha e
o sopro raivoso da minha respiração. Cada barulho me
lembra dos gritos agudos do Espírito dos Desejos. A
cada piscar, vejo o rosto de minha mãe.
Eu me pergunto se em sua morte ela estava
contente. Eu me pergunto se me salvar era tudo o que
ela realmente precisava.

Eu me pergunto se eu a teria deixado orgulhosa.

Eu me pergunto se a estou deixando orgulhosa


agora, enquanto me agarro a cada árvore proeminente
e sigo os príncipes da Corte de Ferro.
Dez
ACAMPAMENTO NA CAVERNA

Tudo em meu corpo implora por descanso. Meus


olhos querem fechar e sei que devo parecer Kai quando
ele está chapado. Eu mantenho minha atenção focada
em suas costas. Rowan segue atrás de mim.

“Pare de olhar para minha bunda.” Eu suspiro.

“É uma bela bunda.” Rowan responde.

Através da manga de Kai, posso ver onde o preto


está se infiltrando no tecido cinza que se agarra a seu
braço. Sua energia desde o encontro não diminuiu.
Talvez ele esteja certo, a mordida não é um problema.

Embora eu tenha percebido que Kai não usou


Reminints desde que começamos a viagem. A falta de
Reminints em breve pode ser um problema. O braço de
Kai se afasta do galho que ele empurra e quebra sob
sua bota. Seus dedos tremem. O único sinal de que seu
corpo não está em paz.

Um crocitar alto ecoa sobre nossas cabeças


enquanto um pássaro levanta voo. Sua envergadura
corta as nuvens que ondulam no céu. O sol se pôs,
escondendo-se atrás da encosta da montanha. Apenas
um pouco de luz se derrama sobre
nós. Ocasionalmente, eu dou uma olhada para baixo e
vejo que nossos esforços nos levaram longe o suficiente
para que a vista seja de tirar o fôlego. Se eu parar por
um momento, porém, começo a perder Kai entre as
árvores. E ficar para trás com Rowan parece uma ideia
terrível neste momento.

“Vou precisar de uma pausa.” Digo, envergonhada


das limitações do meu corpo.

“Há uma pequena caverna logo à frente. Faremos


acampamento durante a noite. Devemos alcançar a
vidente por volta do meio-dia amanhã. Porém, espero
que ela já saiba que estamos aqui.”

“Ela não poderia facilitar e vir até nós? Nos


encontrar no meio do caminho seria a coisa educada a
fazer.”

“Se você quiser, eu posso carregá-la.” Oferece


Rowan.

“Prefiro caminhar até meus pés sangrarem.”

“Oooooh...” Ele inala por entre os dentes. “Por que


você sempre joga duro assim? Você sabe que eu só
quero o que é melhor para minha rainha.”

“Se você continuar falando assim, vou acabar


vomitando.” Eu me viro para ele e reviro os olhos. “E
sério, pare de olhar para a minha bunda!”

“Algumas coisas simplesmente não podem ser


evitadas, Briar.”

“Bem, logo eu não vou ser capaz de ajudar o pé


que encontrará suas bolas.”
Kai ri. É o máximo que ouvi dele desde o Espírito.

Finalmente, as árvores se dividiram o suficiente


para que eu pudesse ver a entrada da caverna à
frente. É o suficiente para me motivar a me mover mais
rápido. É a última coisa que tenho que fazer e então
poderei descansar. Não trouxe nada para dormir... Eu
me lembro. Opa. Mas não vou dizer nada em voz alta,
porque então Rowan vai apenas me dizer que posso
dormir com ele. Como se isso me fizesse algum bem.

Kai percebe o aumento no meu ritmo e se move


mais rápido também, muito mais rápido. Ele tira a
mochila dos ombros e a joga na caverna, puxando-se
para cima da rocha. Isso não é muito alto para mim
neste momento. Eu me agarro à beirada e minhas
botas correm para o lado. Rolando desajeitadamente,
eu caio na caverna. Rowan já está dentro quando me
sento.

Eu deito de volta no chão da caverna. Tudo nesta


floresta está coberto com seu próprio suor. Até a
superfície da rocha, amortecida por uma fina camada
de musgo, deixa minhas roupas úmidas com mais do
que apenas minha transpiração. Eu levanto meus
braços sobre minha cabeça, tentando me esticar. Os
dois homens estão tirando coisas de suas sacolas e
quando acho que nenhum deles está olhando, dou
uma grande cheirada na minha axila.

Maduro. Definitivamente não está leve. Adorável.

Então há outro cheiro. Tenho certeza de que não


sou eu. Afasto-me do cheiro do meu próprio corpo e
farejo a brisa quando ela passa pela boca da
caverna. Lavanda.
Eu me atiro para cima, o sangue correndo
dolorosamente para minha cabeça. “Sinto cheiro de
lavanda.”

“O que?” Rowan diz lentamente. “Tudo o que eu


cheiro é você.”

“É melhor você estar dizendo isso de uma maneira


maravilhosa.” Eu rebato para ele, embora eu esteja
muito ciente de como estou fedendo a mim mesma.
“Não, eu sinto cheiro de lavanda. É o que eu cheirei
quando o Espírito dos Desejos estava perto.”

Kai fareja o ar e Rowan segue o exemplo.

“Não sinto cheiro de nada.” Rowan diz novamente.

Kai passa por seu irmão, deixando cair sua bolsa


a seus pés. Ele caminha além de mim, estendendo-se
o mais longe que pode, sem cambalear para fora da
borda. Eu assisto, incapaz de me mover.

Sua risada suave quebra o silêncio no momento


seguinte.

Pelo menos ele acha isso engraçado.

“Na verdade, há um pequeno canteiro de lavanda.


É um pouco estranho para a área, mas tenho a
sensação de que é algum tipo de feitiço. Tenho certeza
de que a vidente usa lavanda de vez em quando.”

Eu me coloco contra o chão da caverna. Kai


caminha com passos largos enquanto volta para sua
bolsa. Cada movimento que ele faz é deliberado e, de
alguma forma, é um conforto saber que ele quer que eu
saiba onde ele está o tempo todo. Rowan anda mais
suave, é mais difícil captar o som de seu movimento.

“Água?” Rowan oferece.

Abro os olhos e o encontro sentado com as pernas


dobradas debaixo dele, nem mesmo a um pé de
distância. Ele estende um pequeno recipiente de
metal. A umidade gruda na minha pele, posso até
sentir o gosto no fundo da minha garganta. Mesmo
assim, meu corpo anseia por água. Provavelmente suei
metade do peso do meu corpo no caminho até aqui.

Com um sorriso agradecido, pego o


recipiente. Quando meus dedos tocam os dele, ele o
afasta.

“Ah, ah, ah.” Ele brinca. “Vou deixar você tomar


um gole se você me der um beijo.”

“Foda-se, Rowan!” Eu me afasto dele.

Ele se aproxima ainda mais. “Só um beijinho na


bochecha. Você já me beijou uma vez, qual é o
problema?”

“Não vou usar meu corpo para negociar com


você.” Eu dou a ele meu olhar mais sombrio e rezo para
que queime algum tipo de buraco em sua alma. Rowan
é como aquela amiga assustadora que você tem que
nunca pega a dica. Pegue a maldita dica, Rowan!

“E se...”

Rowan se levanta, seus dedos raspando contra o


chão para encontrar apoio. As mãos de Kai estão
enroladas no tecido de sua camisa puxando-a para
longe do peito grosso de Rowan.

“Eu estou farto! Isso é o suficiente. Se eu soubesse


que teria que ouvir você importunar minha convidada
durante toda a viagem, eu o teria deixado em casa.” O
nariz de Kai paira a apenas um fio de cabelo de
Rowan. Seu olhar se aperta quando ele se concentra
em seu irmão. Talvez eu não seja a único que quer fazer
um buraco em sua alma...

“Acalme-se.” Rowan tenta empurrar as mãos de


seu irmão de cima dele. Kai permanece imóvel. “É só
uma brincadeira.”

“Não é engraçado.” Cada sílaba é firme.

“Você só está dizendo isso porque o Espírito dos


Desejos o mordeu e transferiu um pouco da raiva dele
para você.” Rowan traz seus punhos para baixo,
acertando os cotovelos de Kai com força suficiente para
que seu irmão o solte. Ele aponta o dedo no peito dele.
“Não tente parecer todo grande e me fazer parecer
ruim. Dê a si mesmo mais uma hora e você estará com
tanta raiva que eu poderia explodir você como um
pedaço de fiapo.”

Músculos se aceleram na mandíbula de Kai, uma


grande veia saliente em seu pescoço. Ele puxa seu
irmão para mais perto, finalmente deixando seus
narizes roçarem. Eu contaria uma piada sobre o amor
fraternal se não fosse pela maneira como suas orelhas
estavam ficando vermelhas e eu pudesse sentir a raiva
saindo deles em ondas.
“Você gostaria de testar sua teoria?” Kai
finalmente diz.

Rowan arqueia para trás e ri. “Nós vamos fazer


isso agora? Por causa de uma brincadeira? Por causa
dela?”

Dela.

Eu me levanto, falando mais baixo com Kai.


“Basta soltá-lo.”

“Ouça sua Cupcake, Kai.” Rowan brinca.

Kai leva seu tempo se afastando lentamente de


seu irmão e soltando a frente de sua camisa. Rowan
observa com um sorriso ousado e alisa as rugas que
sua discussão criou.

“Assim está melhor.” Continua Rowan.

“Sim, Kai, eu posso lutar minhas próprias


batalhas.” Eu dou ao bíceps de Kai apenas um pequeno
aperto antes de girar em seu irmão. Concentro cada
grama de frustração, medo e raiva absoluta em como a
vida foi entregue a mim e a canalizo em meu
punho. Meus nós dos dedos tocam o ângulo agudo da
mandíbula de Rowan.

A dor floresce instantaneamente em minha


mão. Rowan agarra sua bochecha e dá um passo
confuso para trás enquanto eu mordo meu lábio e volto
para Kai. O príncipe loiro está me olhando com as
sobrancelhas erguidas até a linha do cabelo. Lágrimas
de surpresa estão brotando de minhas pálpebras e
enfio a mão entre as coxas como se sua espessura
pudesse afastar a dor. Por que socar alguém dói
tanto? É para machucá-lo, não à mim!

“Droga, Briar!” Rowan esfrega o rosto dele. “Por


que diabos você faria isso?”

“Para te ensinar uma lição.” Eu gemo.

Um grande sorriso finalmente aparece nos lábios


de Kai e ele se inclina para frente agarrando meus
ombros. “Você é brilhante, Cupcake. Embora, talvez,
com sua fragilidade humana, não devêssemos sair por
aí socando Faes com Ferro em seus ossos.” Kai olha de
volta para Rowan. “Você tem sorte de não ter sido meu
punho. Faria bem a você ir encontrar um lugar para
descansar longe de nós. E da próxima vez, não tente
convencê-la a lhe dar favores sexuais por itens que são
uma necessidade. Ou melhor, você simplesmente não
pede favores sexuais.”

Rowan revira os olhos, mas finalmente


escuta. Suas botas chutam o chão enquanto ele passa
por nós e se dirige para o fundo da caverna. Ele puxa
uma maçã de sua mochila e a joga no ar algumas vezes
já se recuperando da situação e não se importando
mais com o soco que nem mesmo deixou uma marca
vermelha em seu rosto.

Kai balança a cabeça. “Deixe-me ver sua mão.”

Eu cerro meus dentes enquanto puxo minha mão


de entre as minhas pernas. Ao oferecer, eu a seguro
entre nós. Minhas juntas estão vermelho-escuras e me
lembro do meu estado enfraquecido toda vez que curvo
meus dedos para ele.
“Bem, você provavelmente terá um belo
hematoma, mas fora isso, nenhum osso quebrado.” Kai
pressiona um beijo gentil em meus dedos. Arde quando
seus lábios roçam minha pele.

Um suspiro de alívio é tudo o que posso


responder. O gesto de seu beijo é tão doce que lembra
algo que Lincoln teria feito. Eles foram criados pelas
mesmas pessoas. Rowan deve ser um homem estranho
quando se trata de sua educação, porque seu flerte
incessante e falta de respeito pelos limites das outras
pessoas estão realmente estabelecendo o tom para
uma amizade nada agradável.

“Então... Nós vamos dormir aqui?” Eu pressiono


minhas costas contra a parede da caverna e deslizo
para sentar, o cabo da adaga cava na minha lateral.

“Sim.”

Eu viro minha atenção para seu rosto. “Eu quero


que você diga ‘uh-huh’, apenas uma vez para mim.”

“Esse é um pedido estranho.” Ele inclina a cabeça


para o lado. O rosa de sua língua desliza sobre o lábio
inferior antes que ele tente. “Uh-huh.”

É muito mais atraente com seu sotaque, eu


acho. Deve ser meu sotaque que o faz soar tão inculto.

“Uh-huh.” Ele tenta novamente, desta vez


agarrando-se ao meu sotaque. “Uh-huh.” Ele
aperfeiçoa o tom.

“É bom não ser tão formal o tempo todo, hein?” Eu


pergunto.
“Eu sou um príncipe. Um dia eu serei um rei. Eu
realmente não sou informal.”

Kai anda alguns metros à minha frente, enviando


um olhar cansado para seu irmão. Rowan está sentada
no canto, mastigando sua maçã. Ele evita nossa
atenção, encontrando algo verdadeiramente intrigante
sobre a rocha à sua frente. Kai desliza as mãos no
bolso. Ele olha para mim.

“Você estará segura esta noite. Eu prometo.”

A temperatura está caindo constantemente com o


sol poente e de repente estou muito ciente do frio
cobrindo minha pele umedecida de suor.

“Não trouxe um cobertor.” Confesso.

“Você não vai precisar de um.”

Finalmente, Kai cruza as pernas e se agacha até


sentar na minha frente. Ele cutuca as unhas
parecendo quase tímido. Eu aperto os olhos tentando
processar se eu deveria estar preocupada de ele estar
dando em cima de mim agora.

“O que você quer dizer?”

“Eu posso fazer isso...” Ele estende a mão e


pressiona seus dedos contra meu pulso.

Bolhas de calor em minhas veias. Cada pulsação


acelerada empurra o calor pelo resto do meu
corpo. Está quente, mas não escaldante. Magia que
não queima, mas acalma... Como um cobertor. Até a
parede atrás de mim parece amolecer.
Eu dou a ele um sorriso preguiçoso. “Você está
tentando me colocar para dormir agora.”

Ele se inclina para verificar o sol lá fora. Se estiver


acima do horizonte, a montanha bloqueou totalmente
a nossa visão. Não consigo nem ver as copas das
árvores ou o solo que fizemos em nossa jornada hoje. É
apenas preto. Está tudo escuro.

Eu fecho meus olhos. Escuro. Está tudo


escuro. Escuro o suficiente para que eu pudesse
apenas dormir. Quando ele fala, só abro um olho para
olhar para ele.

“Não, mas você deveria descansar porque nós


vamos acordar bem cedo amanhã e tenho certeza que
desbloquear seus poderes vai ser uma espécie de
viagem para você.”

“Uh-huh.” Eu aceno, fechando meus olhos,


contente em dormir contra a parede. “Eu não sabia que
você tinha esse tipo de poder.”

“Eu tenho todo tipo de coisa que você não sabe


sobre mim.” Ele sussurra.
Onze
ZEVE

“É aqui!” Rowan diz.

“Onde exatamente aqui?” Eu me puxo para cima,


escalando, cautelosamente, subindo as
rochas. Quanto mais subimos, menos árvores
brotam. A poeira começou a encher o ar, ela se agarra
a nós como cinzas. Posso até sentir o gosto, como terra
crua queimada, na minha língua.

“A vidente mora aqui?” Eu pergunto.

Rowan para na entrada de outra caverna. A


entrada é tão estreita que não tenho certeza se algum
dos Faes vai conseguir passar. Até eu vou precisar
sugar e esmagar meus seios contra mim para me fazer
passar entre aquela pequena abertura.

“A vidente mora aqui.” Kai diz principalmente para


o céu.

Nuvens escuras estão se formando ao redor da


cordilheira. O flash de luz e o estrondo seguinte, é uma
ameaça assustadora do que está por vir. Rezo para que
seja apenas minha própria paranoia. Isso não é um
mal presságio. Certo?
“Nós batemos?” Eu engulo o nó na minha
garganta.

Rowan me oferece a mão na etapa final que tenho


para compensar a aterrissagem na qual ele se
equilibra. Ele segura minha mão suavemente. Eu
gostaria de dizer que tem algo a ver com o gancho de
direita que compartilhei com ele no dia anterior. Mais
provavelmente, porém, tem a ver com a conversa que
os dois estavam tendo quando eu acordei. Nem um
minuto depois de Rowan ter caminhado até mim
parecendo uma criança que acabou de ficar de castigo
e se desculpou por seu comportamento nada
principesco. Ele prometeu não pedir mais favores
sexuais, mas insistiu que não poderia parar de flertar.
‘É apenas quem eu sou como pessoa’.

Decidi que o pedido de desculpas era suficiente e


deixei tudo para trás. E com certeza, quando olhei para
os nós dos dedos, um hematoma roxo saudável cobria
as costas da minha mão. Pelo menos agora eu poderia
admitir que dei um soco na realeza. Isso tem que
significar alguma coisa, certo?

Próximo da lista. Matar a Rainha Cordelia.

Que salto de merda.

Kai escolheu nos observar por


trás. Principalmente para que Rowan não tivesse outra
chance de olhar para minha bunda. Em nenhum
momento, quando me virei para Kai, o encontrei
olhando meu traseiro. Ele provavelmente está sentindo
falta de Jase. Eu estou com saudades de Jase.
Eu mastigo minha unha pensando no meu
primo. Mal se passaram semanas desde que eu o vi,
mas parecem anos. Não seria para sempre, porém, eu
me lembro. E se nossos genes Faes tiverem algo a ver
com isso, teremos o para sempre para vivermos juntos.

Kai pressiona o rosto contra a fenda. Ele respira


fundo e se afasta rapidamente. “A vidente mora bem
aqui.”

“Está cheirando?” Eu pergunto com cuidado.

“Estou surpreso que você não possa sentir o


cheiro de lá. Tenho sentido o cheiro de carne podre e
carcaça morta desde que subi na varanda da pequena
bruxa.” Rowan acena com a mão na frente do rosto.

Tento cheirar novamente. Eu realmente não sinto


cheiro de nada. Provavelmente, uma coisa boa por
enquanto.

“Hum, por que haveria carne podre ou algo


morto?”

“É muito normal trazer algum tipo de sacrifício


para um vidente. Não apenas o sangue os ajuda a
realmente conduzir seu tipo de magia, eles podem viver
da carne por um tempo e não precisam deixar seus
pequenos buracos para caçar.” Kai se curva, tentando
conseguir outro ângulo para espiar dentro da caverna.

“O que, uh... Eu realmente odeio perguntar isso.


O que trouxemos para o sacrifício?” Minha boca está
extremamente seca.

“Por que você acha que trouxemos Rowan?” Kai


aponta para seu irmão.
“Ha, ha, ha. Muito engraçado, idiota.” Rowan dá
um soco suave em seu irmão. Kai o empurra com um
olhar severo.

“O que, então?” Tento me inclinar ao redor dos


irmãos para tentar dar uma olhada na caverna
escura. Pistas do cheiro de carne flutuam até mim
enquanto tento me preparar para qualquer tipo de
transformação mágica que está prestes a
acontecer. Sem pensar, minhas mãos se erguem e
tocam o amuleto em volta da minha garganta.

Tudo o que posso imaginar é este momento mágico


de cenas de filmes. Meu corpo será pego por um
tornado de ar, meus braços e pernas esticarão atrás do
meu torso. A cor vai brilhar de forma ofuscante no
colar enquanto a vidente canta alguma língua
antiga. Em um piscar de olhos, tudo ficará escuro...
Mas então tudo se tornará novo. Eu verei coisas que
não podia antes, cheirarei coisas a distâncias mais
distantes e serei inundada com a graciosidade dos
Faes.

Pelo menos é o que estou supondo. Eu poderia


estar errada.

“Sério.” Kai zomba do meu sotaque. “Não


precisamos de um sacrifício. Ela me deve um favor.”

“Ela lhe deve... Um favor? Como você deixa um


vidente em dívida com você?”

“Essa é uma história sobre um jovem Fae que fez


muitas coisas estúpidas e encontrou uma amiga que...
Também fez muitas coisas estúpidas.”
Rowan cruza os braços, ouvindo seu irmão com
um sorriso malicioso. “Kai nem sempre foi um menino
tão bom.” Ele cantarola. “Agora. Quem vai primeiro?”

“Briar vai sozinha.” Kai acena com a cabeça.

“Eu vou o quê, agora?” Suas palavras me atingem


no peito, me deixando sem fôlego.

“Nem Rowan nem eu podemos ajudá-la com isso.


Isso é entre você e a vidente. Diga a ela que é para
cumprir minha dívida.”

Eu toco a borda da caverna. O ir e vir pela entrada


deixou a rocha lisa apenas neste ponto. Todos os
outros planos do lado do vulcão são borbulhados.
Cinza negra gruda em meus dedos enquanto me afasto.

Um relâmpago faz a luz derramar sobre a


cordilheira, o estrondo de um trovão rapidamente se
segue. Eu viro meu rosto para o céu. Demorou apenas
alguns minutos para as nuvens ficarem quase pretas
com a ameaça de uma tempestade desagradável.

O vento sopra no meu rabo de cavalo, enviando


meu cabelo balançando atrás de mim. “Tem certeza de
que não querem entrar, nem que seja para evitar a
tempestade?”

“Isso não é para nós fazermos.” Diz Rowan em voz


alta. “Eu concordo com meu irmão, mesmo que não
esteja totalmente animado em ficar na chuva.”

“Você vai parecer um rato afogado com essas suas


tranças magrinhas.” Kai diz.
Posso imaginar Rowan encharcado. Os curtos fios
de cabelo ao redor de seu rosto achatando-se contra
seu crânio e os poucos fios longos trançados atrás
dele. Ele realmente pareceria um rato. Quer dizer, eu
sempre considerei as tranças na parte inferior de seu
couro cabeludo como uma espécie de cauda de rato.

“Ok, acho que não há mais nada para eu fazer a


não ser entrar na caverna.” Eu bato palmas.

E para ter coragem de saber... O que realmente


fazer.

“Você vai?” Rowan diz.

“Sim.”

“Suas pernas não estão se movendo...” Kai me


lembra.

Idiotas.

Eu dou um passo à frente. “Estão felizes agora?”

“Muito.” Rowan se apoia na encosta da montanha.

Uma gota de chuva cai na pele nua do meu


braço. Está frio e desce suavemente por mim, seguindo
a curva do meu antebraço. Outra gota segue. Choverá
muito em breve e não tenho certeza se quero conhecer
a vidente ensopada até os ossos.

“Boa sorte com a tempestade.” Atiro para os dois


homens enquanto me empurro pela entrada estreita.

Pedra roça meu peito enquanto prendo toda a


minha respiração. A luz do dia só viaja até certo ponto
quando estou dentro. A podridão enche a caverna.
Carcaças, ossos, montes de apenas o que só posso
presumir ser carne velha, estão jogados aqui e ali. O
cheiro queima a caminho dos meus pulmões. Eu
engasgo, sentindo meu estômago embrulhar com a
visão.

Além disso, há apenas mais escuridão. Mesmo


quando tento dar tempo aos meus olhos para se
ajustar, nada fica mais claro. Quanto tempo vou
precisar andar para encontrar o vidente?

Eu verifico meu pescoço para ter certeza de que o


colar não desapareceu de repente. Conforme eu o toco,
ele lateja contra minha pele. Eu sinto a batida dele
viajar dentro do meu peito. O metal ao redor da pedra
aquece ligeiramente. Tudo isso desaparecendo depois
de apenas alguns segundos.

É como se estivesse clamando por magia. A


vidente não pode estar muito longe então.

“Olá?” Tento, sentindo-me automaticamente como


a garota idiota do começo de um filme de terror. Veja
isso... É assim que as pessoas morrem, Briar.

A lâmina que Kai me presenteou salta contra


minha perna. Ela está dentro de uma bainha que
também foi claramente emprestada. Eu a puxo
suavemente e a seguro na minha frente enquanto
desço onde minha visão não é mais útil. Meus pés se
arrastam contra o chão coberto de poeira, ecoando pela
caverna.

Outro ‘olá’ sobe aos meus lábios, mas desta vez eu


resisto à vontade de gritar. A vidente pode viver nesta
caverna, mas imagino que outros animais possam viver
aqui também. Ou outros sacrifícios que ela não
precisou matar ainda. Se a pantera que Kai caçava era
tão grande quanto era, quão grandes são os
ursos? Qual o tamanho de outros animais já grandes?

Imaginar uma criatura parecida com um dragão


enrolada no fundo desta caverna faz poucos favores à
minha ansiedade. O suor se acumula entre a palma da
minha mão e o cabo da adaga. Eu aperto meu aperto
sobre ela, deixando as joias cavarem na minha pele.

“Você realmente acha que isso vai te fazer


bem?” Uma voz sensual sussurra. O som me cerca de
tal forma que posso imaginá-la tanto na minha frente
quanto atrás.

Eu aponto a faca de qualquer maneira, girando em


um círculo. “Você é a vidente?”

“É isso que você quer que eu seja?” Ela diz ainda


mais suave.

E se for outro Espírito dos Desejos? Ou algum


novo monstro que ainda não conheço?

“Meu nome é Briar. Briar Anders.” Eu engulo.


“Estou aqui pedindo um favor para pagar a dívida de
Kai Ziko.”

“Sssssiiiiiimmmmm...” O som é longo, prolongado


e muito assustadoramente semelhante ao silvo de uma
cobra. “Eu posso sentir o cheiro do meu velho amigo
em você. Se ao menos tivesse vindo para que eu
pudesse vê-lo.”

“Ele disse que isso é algo que eu tenho que fazer


sozinha.”
Não importa o quanto eu tente, minha atenção
dança no escuro sem nenhum ponto para focar. A
Vidente não está nem aqui nem lá... Se é que ela é
mesmo um ser físico. Eu penso em Lylix e sua forma
fantasmagórica. É isso que está Vidente é
também? Um fantasma? Ou ela é mais parecida com
Lincoln? Mais Fae do que qualquer coisa.

“E o que você veio fazer aqui?”

“Isso não é algo que um vidente já saberia?” Eu


deixo escapar. Eu mordo meu lábio esperando não tê-
la ofendido. Lembre-se... Eu preciso da ajuda dela.

“Você é jovem.” Ri a Vidente. “Vejo que sua jovem


língua ainda não foi domada. Mas vou ser indulgente
com você. Srta. Briar Anders, esperei muitos anos por
sua chegada. Você escalou minha montanha e
encontrou coragem para entrar em minha caverna
onde seus sentidos são de pouca utilidade…” Ela fareja
o ar ruidosamente. “Você tem um objeto mágico.”

“Eu tenho.”

“Lembro-me da peça. Lembro-me também da


jovem frenética, com quem você tanto se parece,
implorando para que eu te libertasse e te escondesse
entre os humanos. Você era muito poderosa desde o
nascimento para andar entre eles e não ser
notada.” Mesmo no escuro, imagino que a Vidente
esteja sorrindo. “Agora você está de volta para desfazer
todo o meu trabalho.”

“Você conheceu minha mãe?” Minhas mãos


tremem. Eu abaixo a adaga, ainda segurando-a na
minha mão.
“Ela era uma mulher gentil, muito doce para seu
próprio bem. Sua força... O mínimo... Isso é de seu
pai.”

“Eu luto para ter qualquer simpatia por meu pai,


que mandou decapitar minha mãe.” Eu admito em voz
alta.

“Não deixe sua turbulência crescer assim. Isso


deixará sua alma sombria.” As cordas da voz da
Vidente surgem de todos os lados. Sua posição não
identificada diminuindo para apenas alguns metros à
minha frente. Em um único piscar, um brilho suave
começa a preencher a caverna. Um brilho irradia da
pele da vidente.

Só com sua luz consigo distinguir suas


feições. Pele morena suave sem imperfeições, grandes
olhos amendoados cheios de conhecimento, lábios
carnudos e protuberantes e cabelos castanhos escuros
que caem nas costas, parando na parte de trás dos
joelhos, são características que inspiram uma
juventude sem fim. Agora, sem a escuridão, posso ver
muitos mais esqueletos. Nem todos eles são animais.

“Você pode guardar sua adaga agora, Briar.” Ela


levanta uma sobrancelha delicada, que dificilmente é
vista sob o corte rombudo da franja em sua testa.

Eu aceno, fazendo o que ela diz. Tento respirar


pela boca para evitar o cheiro no ar e enxugo o suor
das mãos na calça jeans.

“Dê-me o colar.” A Vidente estende a mão.


Eu alcanço atrás do meu pescoço, desfazendo o
fecho e deixando a gema e o metal se juntarem em
minha mão. “Vai doer? Recuperar meus poderes?”

“Oh, isso depende inteiramente de sua mãe,


querida.”

“Como assim?” Eu estico meu braço,


relutantemente. A Vidente espera pacientemente até
que eu finalmente solte o colar.

Ela sorri, dando-me uma visão completa de cada


dente pontudo. Com uma dieta como a dela, eu
esperaria que seus dentes fossem vermelhos, pontudos
e perigosos, semelhantes aos dentes do Espírito dos
Desejos. Mas eles não são. Seu sorriso está brilhando
perfeitamente, assim como tudo sobre ela.

“Posso ter ajudado a selar seus poderes nesta


herança de família inestimável, mas foi sua mãe quem
criou todos os desafios que você pode ter que enfrentar.
Eu presumo que seja algo que torna muito mais difícil
para qualquer outra pessoa ter a capacidade de roubar
seu poder.”

Ela levanta o colar até o olho, examinando a


pedra. “Talvez você precise da adaga afinal.” Seu
sorriso fica mais largo. “Você precisa relaxar.” A
vidente começa. Ela agarra a pedra, meus poderes, a
única coisa que tenho de minha mãe, em seu peito.

“Acontece que não sou muito boa nisso.” Eu


começo. “Você, uh, tem um nome?”

Seus grandes olhos negros apontam para o meu


rosto. “Zeve.”
“Zeve.” Eu repito. “Como vamos...? Estou pronta
para começar.”

Zeve anda ao meu redor, me olhando da cabeça


aos pés. O vestido marrom de seda, de alguma forma
não afetado pelo ambiente irregular ao seu redor,
balança em torno de seus joelhos. É quase tão
hipnotizante de ver quanto a maneira como ela anda
com tanta confiança e graça.

“Vou abrir a porta para você e o resto é com


você.” Zeve dá um passo à frente para que seus pés
descalços toquem minhas botas. Fico maravilhada com
a limpeza de sua pele contra os destroços do chão da
caverna. Mais magia? Uma vidente muito procurada,
como ela, tem um fim para sua magia?

“Ok eu...”

Zeve empurra a grande pedra, quente de seu


alcance, contra minha testa. O calor viaja contra meu
crânio e então desce pelo meu corpo, queimando como
água fervente bombeando em minhas veias. Uma luz
branca explode atrás de minhas pálpebras. Minha
inspiração é fraca, um suspiro áspero que desce por
toda a minha garganta e em meus pulmões. É o poder
de dentro da pedra? É a dor da magia?

Meus joelhos dobram, batendo no chão com um


estalo alto. A luz, a dor, o calor gritante desaparece
com cada batimento cardíaco. Eu agarro a adaga de
Kai em meu cinto.

“Abra seus olhos.” A voz de Zeve ecoa por um


espaço grande e vazio.
Abro os olhos apenas para encontrar areia. Tanta
areia. Um deserto sem fim.

E ninguém e nada à vista.


Doze
CRÉDULA

O vento rasga minhas roupas, empurrando-as


contra meu corpo enquanto tento me empurrar para
frente. O vento uiva em meus ouvidos. É o único ruído
na ausência da voz de Zeve. Esforço-me para ouvir
mais alguma coisa. Estou esperando o som de animais
à distância. Não há nada além de minhas botas
enquanto dou um passo à frente.

Abro a boca para fazer um som, talvez para gritar,


mas a areia seca se acumula na minha língua, trazida
pelas rajadas contínuas ao meu redor. A preocupação
de ficar sem água faz meu corpo já ter vontade de
beber, mesmo que eu não esteja desidratada.

Bem à frente, além do que acredito ser uma terra


plana, posso ver onde ela muda para a textura
acidentada dos montes de areia que se erguem antes
do surgimento das rochas desgastadas pelo vento. O
sol não tem fim aqui. Não há árvores para sombra ou
mesmo uma mancha de nuvens no céu azul acima.

Sou só eu e o sol.

Eu levanto um pé e dou um passo à frente. O


mundo gira, o ‘olá’ é apenas um pensamento
passageiro.
Eu afundo enquanto a água sobe pelo meu corpo
em uma onda espumante. A cena do deserto sendo
substituída pela extensão de um mar sem-terra à
vista. Pegando ar, eu me preparo enquanto a onda me
empurra para baixo e uma corrente puxa meu corpo
para trás.

A poeira sobe no ar ao meu redor, areia quente


agarrada à minha pele agora úmida. Meu cabelo pinga
contra minha testa, ampliando o sol que bate.

Santa, porra. O que é que foi isso? Onde foi isso?

Sinto uma necessidade de limpar a água salgada


dos meus olhos, mas quando levanto as mãos, sei que
não adianta muito. Eu bato palmas tentando limpar a
sujeira.

Com que tipo de magia minha mãe protegeu este


lugar? Melhor ainda, como vou encontrar minha magia?

De pé, giro em um círculo, hesitante em dar um


passo em qualquer direção real. Deserto. Eu respiro
fundo e dou um passo à frente.

Minhas roupas me arrastam pesadamente sob o


balanço do topo do oceano. Eu apenas vislumbro o céu
tempestuoso e nuvens pretas fofas. Eles estão ligados
da maneira mais estranha, movendo-se com uma
velocidade não natural. Eu quero ver mais. Eu preciso
ver mais

Mas minha cabeça afunda. Minhas botas são


como âncoras amarradas aos meus pés. Para baixo e
para baixo eu vou. As bolhas passam pelo meu rosto
enquanto o ar preso encontra sua saída. Eu alcanço,
puxando meus cadarços e empurrando para fora
minha bota, depois a próxima. Eu chuto. Abaixo de
mim, minhas pernas empurram e bombeiam em
direção à superfície, meus braços impulsionam
enquanto forçam a água para baixo e meu corpo para
cima em direção ao céu.

Dentro do meu peito, meus pulmões queimam. É


uma reminiscência da magia que me trouxe a este
mundo. Eu tenho que me perguntar... Se isso é tudo
agora. Não é que meu corpo tenha sido privado do
oxigênio de que precisa ou que eu tenha ficado debaixo
d'água por muito tempo. É que todo esse lugar, o
deserto, o oceano, é tudo mágico.

É tudo mágico. E isso queima, porra!

Debaixo da água está a escuridão. O sal arde em


meus olhos enquanto procuro a superfície com pouca
luz para oferecer de cima. O ar finalmente me
atinge. Água alisando cada fio de cabelo na minha
cabeça.

Um raio de luz atinge o céu. As nuvens brilham


com ele. Sigo sua curva tentando decifrar suas
representações como uma criança adivinhando as
formas de diferentes animais. Apenas estas são
certamente letras.

Tão rapidamente quanto a tempestade me


ofereceu visibilidade das nuvens, a água as leva
embora. A água bate contra minha pele, empurrando
meu corpo para longe e meu rosto de lado no chão. O
solo duro coberto de areia.

Dane-se tudo!
Eu tusso a água que inalei, para a
poeira. Gemendo enquanto deixo minha cabeça
descansar, eu respiro pesadamente. As rochas à
distância lançam a única sombra em quilômetros
umas contra as outras. Eu pisco para elas.

As sombras se enrolam como uma cobra e depois


se agitam como montanhas de cabeça para baixo. É
melhor que não seja uma miragem. Tento me sentar,
mas a sombra muda para o nada, de novo. Então eu
me abaixo na terra, deixando minha respiração enviar
as pequenas partículas para as nuvens.

N.

A.

D.

A.

R.

NADAR. PORRA. NADAR. O deserto está me


dizendo o que fazer quando eu cair no
oceano? Portanto, há uma palavra na nuvem. Pistas de
contexto. Pistas de contexto. Eu canto para mim
mesma. Então, talvez minha mãe estivesse contando
que eu fosse semi-inteligente e menos musculosa. Mas
mesmo assim... Isso é quase fácil demais.

Mas não há mais nada a fazer. Eu rolo meu corpo


para frente uma vez e caio da areia de volta para o
oceano. A água me agarra com seus dedos congelados,
tão drasticamente diferente das dunas de areia
seca. Outra onda já está crescendo em altura não
muito longe.
Eu olho para além dela, sabendo que se não
começar a nadar logo estarei de volta ao ponto de
partida. Mas eu preciso do comando primeiro.
Apertando os olhos para as nuvens, espero que a
escuridão não me engane. Elas rodam e se curvam tão
suavemente que me pergunto como fui capaz de
decifrar as palavras em primeiro lugar.

PULAR.

Pular. Em seguida, preciso pular. Mas agora...


Quando vejo a onda vindo direto para mim... Preciso
nadar. Nade, Briar, nade! Algo dentro de mim dá vivas
e bato com a palma da mão, quebro a superfície do mar
e avanço.

Minha camisa fica presa em espinhos, minha mão


pendurada na borda da rocha. Flores silvestres, em
amarelos claros e roxos reais, brotam diante do meu
rosto. Arrasto minhas mãos para baixo de mim e me
levanto, colocando meus pés debaixo de mim. Meus
pés de meia, as lindas botas agora tragicamente há
muito perdidas. A água se acumula em uma poça ao
meu redor, fazendo a escova que eu pousei e que foi
esmagada até a terra brilhar.

Existe um fim para a natureza aqui. Um longo


prado pontilhado de flores chega a um ponto e
desaparece abruptamente na beira de um penhasco
onde estou. Eu engulo forte.

Pular. Aquela vadia quer que eu pule.

Talvez eu não devesse me referir à minha mãe


como uma vadia, mas caramba.
Um tremor percorre minhas pernas. Minha visão
turva nas bordas. Pode haver suor crescendo em
minha testa e acumulando em minhas palmas, mas o
oceano se agarra a mim com tanta força que não
consigo decifrar a diferença. Eu me inclino o mais longe
que posso, olhando para baixo por cima da borda. Não
é nada. É uma rocha que cai na escuridão sem
nenhum som de água corrente abaixo. Não tenho ideia
do que vem a seguir, mas sei que não posso deixar este
local até encontrar a mesma direção.

Eu me viro, meu olhar correndo sobre tudo e


qualquer coisa. O céu está claro, o sol não é tão
exigente quanto o deserto. Estou tentando ver letras
com pétalas e caules de flores. Elas se reúnem em
lindos buquês, mas não soletram nada.

Com um silvo de frustração, tiro minha


camisa. Eu me agacho, beliscando as pernas da minha
calça para dissipar qualquer água que puder. A grama
está dobrada em ângulos estranhos de minha entrada
para a campina, e se a decisão dependesse de mim,
este seria o local perfeito para esconder uma palavra.

Um grande grasnido chega até mim de um pássaro


voando pelo céu. O primeiro que vi da vida em qualquer
um dos três cenários. Minha atenção é rapidamente
atraída para ele enquanto o vejo circular mais perto de
mim. Tem longas penas escuras que crescem até um
tom claro de marrom próximo ao seu rosto. Seu bico
brilha com a cor esbranquiçada dos ossos.

Preso em seu bico, balança outro animal, mole da


morte. Uma cauda pende, longa e fina, que lembra a
de um rato. Eu franzo a testa com a visão. Franzindo a
testa mais profundamente quanto mais perto o pássaro
chega. Eu não me movo, porque para onde eu iria? De
volta ao oceano? Para o próximo lugar sem direção de
como seguir em frente?

Quer dizer, ‘nadar’ era bastante autoexplicativo,


mas ‘pular’... Nenhuma pessoa sã vai se encontrar na
beira de um penhasco e automaticamente pensar ‘eu
deveria pular’.

O pássaro abre o bico e grasna novamente em


torno da carcaça do animal mutilado. Ele mastiga
dividindo o animal em dois. Uma das pontas cai do céu
e respinga no chão aos meus pés. Sangue quente
respinga nas pernas da minha calça.

Eu grito. Ou mais, gemo e tento não pensar muito


nisso. O sangue ainda consegue me levar de volta ao
castelo de Cordelia. De me assombrar com a memória
de Harley e todos os outros que sofreram nas mãos de
sua rainha. De certa forma, isso me dá uma nova força.

Eu olho para baixo. O que quer que o animal


tenha sido, não é mais. Tudo o que resta é uma bolsa
de pele que contém ossos amassados e características
rasgadas não identificáveis. Quero limpar os respingos
de minhas calças. Olhando para as plantas ao meu
redor, nenhuma delas tem folhas largas o suficiente
para usar como guardanapos. Até mesmo enxugá-lo
com as mãos seria melhor.

Movendo-me para arrastar minhas mãos sobre


minha canela, eu rapidamente paro quando
percebo. Três letras rodopiantes escritas em uma
cursiva eloquente escorrem pela minha perna.

MENTIR.
Para quem? À respeito de quê?

Eu aceno para mim mesma. Ok, eu posso fazer


isso. Agora, tudo que preciso fazer é pular. Então eu
fico, deixando o sangue como está nas minhas
calças. A terra se inclina de forma vertiginosa enquanto
eu olho para o abismo que estou prestes a pular. Eu
aperto meus olhos com força, dobro os joelhos e pulo.

O ar passa rapidamente, enviando meu cabelo


acima da minha cabeça enquanto eu caio. Meus pés
pousam juntos em uma passarela de grama gasta, meu
cabelo balançando com o impulso da minha
aterrissagem. Eu bati contra a terra com tanta força
que a dor sobe pelas minhas pernas. Vozes se
propagam e eu olho por cima do ombro para ver um
par de pessoas caminhando em minha direção.

A lua está alta no céu e além do casal há luzes e


aplausos de Faes. Eu me viro e encontro uma mansão
brilhante e um jardim brilhante com uma árvore
Reminints cintilante. A Corte das Sombras. A memória
do meu pai. Ou é de minha mãe?

Os amigos riem ao passar por mim, lançando-me


olhares estranhos enquanto conversam.

“Você é tão crédulo. Sempre fazendo tudo o que


mandam.” Um dá um tapa no ombro do outro,
desviando-os de mim e do julgamento que tentam
transmitir. Tenho certeza de que pareço louca para
eles. Estou mais surpresa que eles possam me ver.

“Estou apenas seguindo meus comandos.”


Lamentam-se em resposta.
O amigo balança a cabeça. “Pare. Da próxima vez
que tentarem dizer a você para fazer algo, faça o
contrário. Atrevo-me... Oh! É o rei.”

O par se curva junto. O Rei Rihst passa por eles


sem reconhecer sua presença. Ele pisa bem em
mim. Há raiva em seus olhos escuros. Ainda assim, fico
maravilhada com ele. O pai que eu nunca tive. Há
manchas vermelhas na barba que cresce em seu
queixo, sua pele está avermelhada sobre as bochechas
e, embora suas orelhas se levantem para uma ponta
no topo, é notável como elas se projetam de sua cabeça
assim como as minhas.

“Quem é você?” Ele exige ao parar na minha


frente.

“Eu?” Eu aponto para mim mesma e olho ao redor


como se ele pudesse estar falando com outra pessoa.

“Você.” Ele estreita o olhar.

“Briar Anders.”

Ah merda. Eu deveria mentir. Eu me lembro.

Seus olhos suavizam, mas todos os outros


julgamentos e fúria ainda permanecem em suas
feições. O Rei Rihst levanta o queixo. “Por que você está
aqui?”

Mentira. Diga uma mentira.

“Acabo de vir para a feira.” Aponto atrás de mim


para a alegria e os jogos logo abaixo da pequena colina
inclinada.
Ele suspira, seus lábios se curvando em desgosto.
“Eu acho que você precisa dar um passeio.” E ele
aperta a mão no meu ombro e me empurra. Sua força
me impele para frente.

“Não!” Eu grito em confusão enquanto o sol


ofuscante substitui a lua da meia-noite. A imagem de
meu pai, a familiaridade da Corte das Sombras, o
brilho das lanternas, tudo se desvanece como um
sonho. Eu voltei ao deserto.

Eu inclino minha cabeça para o céu, gritando de


frustração. Não sei o que pensar. Eu não sei o que
fazer. Abaixando-me na areia, deito-me de lado como
estava quando o oceano me trouxe de volta com uma
crueldade violenta. Meus ombros tremem com uma
respiração trêmula.

Como? Como vou fazer isso? Como?

Eu quero gritar. Quero jogar meus punhos na


terra e chutar minhas pernas como uma
criança. Nunca pedi uma vida difícil, não pedi para ser
órfã ou para ter que encontrar meu caminho de volta
para a magia que me pertence em primeiro lugar. No
entanto, aqui estou. Estas são as cartas que recebi. E
se eu não lutar, posso morrer. Faes das Sombras vão
morrer.

Cordelia Nightwaters deveria morrer.

O único alívio do sol é lançado pelas rochas. Ainda


significa nadar. Eu não preciso do lembrete com o
gosto do oceano ainda preso na minha língua. Eu
aperto minha mão e bato no chão apenas uma vez com
um rosnado. É tudo o que me permito antes de me
levantar e entrar nas ondas perversas.

Desta vez não presto atenção nas ondas. Eu não


olho para as nuvens. O ar tropical, resfriado apenas
pela tempestade que assola acima, enche meus
pulmões. Avanço lutando contra as águas enquanto
arqueio meus braços sobre a cabeça e os envio com
força para baixo da superfície escura.

Eu tropeço em frente ao prado. Ervas daninhas e


caules quebrados grudam em minhas meias
molhadas. Atrás de mim, ouço o bater de asas. O
sangue que salpicou nas pernas da minha calça antes,
agora se foi. Mesmo as ervas daninhas onde meu corpo
caiu da primeira vez não estão mais achatadas contra
a terra. É como se eu nunca tivesse estado aqui.

Corra e pule. Pule da porra do penhasco, Briar.

Essa é a pior parte, na minha opinião, o salto


proposital. Ao lado de não ter nenhuma ideia do que
diabos eu deveria estar fazendo aqui. Ainda assim, eu
salto. Mesmo que eu não consiga abrir os olhos até
estar de pé na grama mais uma vez.

Está aqui. Seja o que for, está aqui nesta cena com
meu pai onde estou errando. Não estou respondendo
corretamente.

Pistas de contexto. Pistas de contexto.

Uma brisa familiar passa carregando as vozes da


feira. As vozes dos amigos que se chocam enquanto
caminham, conversam e riem. Posso ver enquanto eles
balançam desta vez que talvez tenham visitado a árvore
Reminints muitas vezes esta noite. Eu olho além deles
para os isqueiros sacudindo. Algo em algum lugar
precisa me dizer o que fazer.

O prado, o respingo de sangue, me disse para


mentir. Talvez dizer meu nome na verdade tenha sido
o que eu errei. Que nome falso devo dar? Isso importa?

Nada no movimento dos Faes, nada nas luzes e na


diversão à distância, nada em suas roupas, tanto
quanto sugere uma palavra ou um aviso.

Foi a última frase do meu pai que sugeriu o que


eu deveria fazer no deserto. “Você precisa dar um
passeio.” Repete em minha mente. E eu escutei.

Talvez eu deva apenas ouvir.

Juntos, o par ri. Ambos os seus olhares viajam


cansados pela minha roupa molhada e pegajosa. Eles
julgam, mas não me dão atenção suficiente para
interromper a conversa.

“Você é tão crédulo. Sempre fazendo tudo o que


mandam.” O primeiro agarra o ombro de seus amigos,
apontando-os para longe de mim.

“Estou apenas seguindo meus comandos.”


Lamenta-se em resposta.

O amigo balança a cabeça. “Pare. Da próxima vez


que tentarem dizer a você para fazer algo, faça o
contrário. Atrevo-me... Oh! É o rei.”

Eu sou tão crédula. Eles estão falando comigo.

Meu erro é fazer tudo o que me mandam. Então...


Devo desobedecer? Fazer o oposto?
O rei Rihst já está vindo em minha direção, seu
manto voando atrás dele. O que ele me disse para
fazer? Estou quebrando a cabeça pensando na
primeira conversa. Ele me faz algumas perguntas, mas
seu único comando foi passear. E daí se eu não
passeasse no deserto? E se eu não nadasse no oceano?
E se eu não pulasse do penhasco?

E se... Eu não mentisse?

Duas botas polidas param na minha frente. Ele


desaprova meu traje, tão claramente, sua carranca só
se aprofunda quando ele percebe meu estado
irregular. O Rei Rihst levanta as mãos, mantendo os
braços esticados ao longo do corpo. Isso me lembra a
frustração e a maneira como eu queria ter um ataque
como uma criança.

“Quem é você?” Ele pergunta exigentemente.

“Briar Anders.” Digo com certeza. Eu vou dizer a


verdade. Não vou mais seguir os comandos do amuleto.

O enrugamento de sua sobrancelha levanta


levemente. Nenhuma outra tensão deixa seu corpo, ele
ainda levanta o queixo. “Por que você está aqui?”

“Eu vim pelos meus poderes.”

Rihst leva uma de suas grandes mãos à


boca. Seus olhos brilham enquanto ele me observa com
um novo tipo de escrutínio. “Você é...” Ele limpa a
garganta. “Você é filha de Amélia Nightwaters?”

Ouvir o sobrenome de Cordelia é um


choque. Embora eu suponha que seja realmente o
sobrenome do rei que ela carregava. Lentamente, eu
aceno minha cabeça.

“Diga em voz alta.” Ele sussurra, fechando os


olhos. “A mágica não funcionará se você não falar em
voz alta.”

“Sim. Eu sou sua filha. Eu sou filha de Amélia


Nightwaters.”

Ele cobre todo o rosto agora. Um gemido alto em


suas mãos. Eu dou a ele um momento, tentando
acalmar o choque do meu próprio corpo. Arrepios
percorrem minha pele quando ele abaixa as mãos, me
mostrando o tormento que vive dentro dele. Seu lábio
treme.

“Briar Anders.” Ele prova o nome. “Nós esperamos


muito tempo por você.”
Treze
FASCINADA

O Rei Rihst se aproxima, levantando as mãos, em


seguida, deixando-as cair com incerteza de volta para
os lados. Ele inclina a cabeça. É claro que ele está se
mexendo, sem realmente saber o que fazer com seu
próprio corpo. É estranho para mim ver. Os reis, como
eu os conheço, são bastante seguros de si.

“Posso?” Ele pergunta, sua voz pouco mais alta do


que a brisa, levando as mãos ao meu rosto.

“Sim.” Eu respondo.

Com cuidado, ele passa o polegar sobre as maçãs


do meu rosto, colocando as mãos em cada lado do meu
rosto. Ele me observa, então lentamente afasta meu
cabelo encharcado de água. “Deixe-me consertar isso.”
Ele acena com a mão e posso sentir a umidade saindo
da minha pele. Meu cabelo puxa sobre minha cabeça
até que ele solta sua mão novamente e ele cai de volta
para o meu ombro em cachos soltos.

“Você se parece tanto com sua mãe.” Seus braços


fortes envolvem meus ombros, puxando-me em seu
peito. Meus braços permanecem presos ao meu
lado. Meu pai me segura com força. Lentamente, eu me
deixo inspirar e relaxar contra ele.
“Sinto muito.” Ele sussurra em meu ouvido. “Me
desculpe por não ter me protegido daquele feitiço da
bruxa. Me desculpe, eu não pude proteger sua mãe. Me
desculpe por nunca ter visto você crescer.”

Eu cerro meus dentes. Lágrimas brotam dos meus


olhos. Eu tento o meu melhor para segurá-las, para me
manter longe do lugar de vulnerabilidade que ainda
parece cru e ferido. Mas enquanto ele me aperta com
mais força, enquanto ele pressiona o beijo mais leve em
minha têmpora, meu corpo estremece em uma
liberação, um soluço silencioso. Algumas lágrimas
escorrem pelas minhas pálpebras e secam nas minhas
bochechas. Eu me afasto dele, enxugando-as.

Não tenho nada a dizer. Eu deveria dizer que está


tudo bem que todas essas coisas aconteceram com ele,
com minha mãe, comigo? Não. Ele estava no controle
o suficiente para impedi-los de acontecer? Não. Então,
eu não consigo aceitar o pedido de desculpas, mas
balanço minha cabeça em reconhecimento.

“Venha agora.” Ele oferece o braço. “Deixe-me


levá-la à sua mãe.”

Enroscando meu braço no dele, a pele do meu


rosto fica tensa por causa das lágrimas que secam. O
rei caminha, mas não tira os olhos de mim, olhando
como se tivesse que memorizar meu rosto.

“Deuses, eu não consigo superar o quanto você se


parece com Amélia.” Ele funga. “Você é linda. E
atualmente muito humana, eu vejo. Precisamos
consertar isso.”
Meu pai e eu vamos em direção ao jardim. Quando
eu pego o caminho de pedra que circula entre as
plantas, eu percebo que ele não apenas secou meus
pés, mas minhas botas estão calçadas e amarradas de
volta. Eu olho para baixo, em admiração por suas
habilidades mágicas.

Ele realmente é um Fae poderoso, claramente.

“Obrigada.” Eu digo.

“Você pegaria um resfriado correndo vestida assim


todo encharcada. É o mínimo que eu poderia fazer.
Devo acrescentar que a mudança rápida de cenário foi
ideia de sua mãe. Ela é brilhante, eu diria. E eu tenho
que agradecer a ela por me trazer aqui na minha
morte.”

“Desculpe?”

Rei Rihst ri enquanto eu sutilmente me inclino


para longe. “Nós somos muito reais, Briar. Pelo menos
nossas almas, não tanto a magia que está atualmente
compondo o que você vê, mas sim nossos corpos
físicos.” Ele afasta os fios ondulantes da árvore
Reminints. “Quando sua mãe a tirou de seu ventre, ela
removeu o seu lado meio Fae para mantê-lo seguro no
que me disseram ser o colar de minha mãe. Mas ela
também tinha minha alma e a dela amarradas na
mesma peça.”

“Mesmo sabendo que você a estava matando?” Eu


mordo meu lábio olhando a lua acima de nós.

“Ela me ama como eu a amo e ela viu o engano


pelo que era, em agradecimento à nossa querida amiga
Lylix.”
“Então, você é real?”

“Principalmente, real.” Uma voz feminina diz com


certeza.

Minha atenção se volta para minha mãe. Seus


cachos estão colocados no topo de sua cabeça,
tornando mais fácil ver o rubor de suas bochechas e a
alegria em seu olhar. Ela estende os braços para mim
e caminha em minha direção. Meu pai me deixa ir. Eu
tropeço para frente e bato em seus braços. Seu doce
perfume me envolve, o cheiro de lavanda com o qual o
Espírito dos Desejos me enganou. É indubitável
agora. Ela está viva agora.

Tudo está confortável em seus braços. Até mesmo


caseiro. É assim que uma verdadeira mãe deve se
parecer? Suponho que vi vislumbres desse amor em
momentos fugazes com novas famílias adotivas. Esses
momentos sempre acabam. O amor de mãe realmente
tem um fim? Aqui não parece.

“Eu não entendo como isso é você, realmente


você.” Eu a seguro com o braço estendido. Ela se
parece com a memória do meu pai. Nova. Muito jovem
para morrer. “Você parece muito mais jovem do que
eu.”

“Quer dizer... Eu sou. Eu era, fisicamente, mais


nova. Minha alma está mais velha agora.” Ela estende
a mão para correr pela minha bochecha, assim como
meu pai fez. “Este lugar só é mantido unido pelos laços
de sua magia. Assim que o dermos para você, nós
partiremos. Nossas almas serão liberadas para o outro
mundo.”
“Você sempre esteve aqui? Esse tempo todo?
Minha vida inteira?” Morando dentro do colar bobo que
coloquei na caixa de joias em cima da cômoda e jurei
que nunca usaria porque era tão espalhafatoso. Eu
aponto em direção a este mundo falso, a noite da feira
que foi congelada em uma eternidade. “A noite é
sempre a mesma?”

“Sim.” A rainha me guia até o banco de onde se


levantou, oferecendo-me um assento. O rei desliza
atrás de nós, satisfeito em nos observar interagir.

“Às vezes é enlouquecedor.” Acrescenta.

“Mas, principalmente, estamos gratos por todos


esses anos que ainda pudemos passar juntos.
Esperamos por você, Briar.” A rainha segura minhas
mãos nas dela. “Nós temos apenas um breve minuto
juntos, mas eu não poderia seguir em frente sem
encontrar nossa filha. Eu lamentei por muitos anos
sem nunca ter a chance de ver você crescer ou abraçá-
la e embalá-la para dormir. Houve tantos momentos
maternais que perdi, mas vale a pena saber que isso te
manteve segura.”

Segura. Eu não estou segura. Minha meia-irmã


me deseja morta, ela matou inocentes em sua caça
para acabar com minha vida, para proteger seu
trono. Mas suponho que, de certa forma... O que ela
fez... Me trouxe até aqui. Eu estou viva. Eu encontrei
minha casa. Eu encontrei meu povo. Isso é
o suficiente?

“Cordelia…” Eu começo. “Mantém a coroa. Ela


está aterrorizando as pessoas, matando seus bebês,
matando Fae das Sombras inocentes que se encontram
em sua corte depois de vagar pelo mundo humano. Eu
tenho que impedi-la. Tenho que reivindicar o trono.”

O Rei Rihst olha para seus pés. Ele torce as mãos


sem falar.

“Você nos orgulha de buscar a justiça como você


faz.” A Rainha Amélia fala suavemente, seus olhos
brilhando com seu sorriso. “Cordelia nasceu com
trapaça. Ela foi criada por sua mãe para um dia levar
a coroa e tornar sua linhagem real. Mas...” Ela olha
para o marido. “Ela já foi uma garotinha que amava o
pai. E apesar de tudo, ele a amava também. Este é um
assunto difícil para ele. Compreensivelmente.”

“Ela é tecnicamente minha irmã de sangue. Mas


se eu não acabar com ela, ela vai acabar comigo.”

“Eu sei.” Ele se senta cautelosamente ao meu lado


no banco. “O que acontece em seu mundo agora está
fora do nosso controle. Já passou do nosso tempo e
não temos nenhuma palavra a dizer. Eu sei disso.
Portanto, não vou tentar influenciá-la em qualquer tipo
de direção. Encontrei minha morte nas mãos dela e eu
ainda não consigo odiá-la. Para você, porém, é
diferente.”

Dobrando minhas mãos em meu colo, eu mexo


com meus polegares e pego minhas unhas. O rei Rihst
pode ter amor por Cordelia em seu coração, mas eu
não. Podemos compartilhar um pai, mas é aí que as
semelhanças terminam.

“Conte-me sobre sua vida.” Minha mãe se


endireita, seu tom cheio de curiosidade e mais
certamente um sentimento de esperança.
“Bem, eu estava trabalhando... No mundo
humano, como assistente de professor antes de
tropeçar na Corte das Sombras.”

“Uma professora!” O rei exclama. “Que profissão


maravilhosa!”

Não tenho coragem de corrigi-lo. Eu era apenas


um ajudante de professor. Eles saberiam a diferença?

“Quero dizer, é muito diferente de ser rei ou


rainha.” Eu rio nervosamente. “Mas eu encontrei
Lincoln e ele...”

“Um menino.” Minha mãe engasga, segurando o


peito e enviando um olhar animado para meu pai.

“Um homem. Quem é cem anos mais velho do que


eu... Mas esse não é o ponto.” É difícil sufocar minha
risada. “Lincoln me ajudou a descobrir quem eu era.”

“Ele parece adorável.”

“Você está saindo com ele?” As sobrancelhas do


meu pai se juntam.

“Não, não exatamente...”

“Rihst.” Amélia dá um tapa nele. “Não julgue o


garoto que você nunca conheceu.”

Eu mordo meu lábio para esconder meu sorriso


crescente. Mil perguntas pesam na minha língua, que
não posso mais tolerar.

“O que... Que tipo de poderes eu terei?” Eu deixo


escapar na pequena pausa na conversa.
Minha mãe segura minha mão na dela, sua pele
como veludo. Ela entrelaça nossos dedos e dá um
pequeno aperto na minha mão. “Bem, você ficará mais
forte, mais rápida, seus sentidos serão mais
desenvolvidos e mais capazes de se concentrar. Você
terá a linhagem real para agradecer pela maioria de
suas habilidades de querer que as coisas existam.
Como tocar mentes até certo ponto.”

“Como um vidente?”

Como Lincoln? Eu quero perguntar, mas não


pergunto.

“Os videntes têm a habilidade de ver o futuro e o


passado de alguém. Eles sabem tudo o que foi e está
por vir. Então, infelizmente, não é como um vidente. E
não funcionará com qualquer Fae que tenha prática
em guardar suas mentes. Mas funcionará em Faes
inferiores, outras criaturas desprotegidas, e
certamente em humanos.”

Não consigo imaginar ter esse tipo de controle. O


que eu faria com isso? Por que eu realmente iria querer
usá-lo? O poder no mundo humano apenas
corrompe. Isso vai me arruinar também quando eu me
tornar Fae?

“Vai doer?”

“Eu machucaria você?” Ela diz em um tom


abafado.

Sinceramente, não posso responder a isso. Eu não


a conheço. Eu sei pouco sobre ela. Tenho uma pequena
ideia de como ela era e agora, sei que só vai ficar por
aqui por um curto período de tempo.
“Eu não quero apressar. Eu queria toda a minha
vida saber quem eram meus pais. Então eu os
encontrei... E vocês estavam mortos. Esta é minha
única chance de falar com vocês, eu não quero deixar
vocês irem.”

O rei ri, secamente, olhando para minha mãe em


busca de orientação. Ela dá a ele um sorriso
suave. Gentilmente, ela coloca o braço nas minhas
costas, as pontas dos dedos descansam no ombro do
meu pai e ela dá um tapinha nele.

“Há um limite de tempo, uma vez que você


encontra o seu caminho até nós. Eu coloco a maior
parte da minha magia para fazer os reinos que você
tem que encontrar o seu caminho para chegar até nós
e, mesmo assim, apenas alguém que é
verdadeiramente honesto, alguém que
verdadeiramente compartilha meu sangue, poderia
levantar o véu neste mundo em que vivemos. Quando
seu pai foi puxado para longe, chamado pela magia
para cumprir seu dever para com a joia, eu sabia que
a hora estava próxima. Rezei para que fosse você e não
outra pessoa que pôs as mãos no colar. Esses poderes
são para você e para mais ninguém. Eu nunca os
deixaria passar.” Ela suspira. “Mas como muito esforço
foi colocado nisso, nosso estado atual é frágil. Temos
apenas alguns minutos.”

“Eu posso sentir os feitiços se desfazendo e o


tempo se esvaindo.” Rei Rihst diz, olhando para
longe. Quando minha mãe fala de novo, isso o tira de
sua névoa e se volta para mim.

“Precisamos dar a você seus poderes e precisamos


fazê-lo agora.”
“Eu tenho muito a dizer. Muito a
perguntar.” Minha voz é um gemido fraco. “Não sei por
onde começar.”

“Oh, querida. Estou muito feliz por ter visto você.


Verdadeiramente vi você.” Minha mãe me envolve em
outro abraço, pressionando a pele perfeita de sua
bochecha contra a minha. “É o sonho de uma mãe ver
seus filhos crescerem. Mas ver você agora... Isso é
satisfatório.”

“Nós tivemos mais de vinte anos para nos


perguntar como você se tornou, como você era. Você
herdou tanto de sua mãe que não tenho certeza se isso
é justo.” Meu pai aponta.

“Isso significa apenas que finalmente ganhei a


aposta. Não me esqueci!” Ela ri.

“Vou me certificar de beijar você bem, antes de


tudo acabar.”

Meu coração se enche de alegria, ao ouvir suas


brincadeiras inocentes. É fácil imaginar, neste
momento, eu crescendo naquela mansão ouvindo eles
brigarem e flertarem. Teria sido uma infância adorável.

“Não se preocupe com o que não pode ser


desfeito.” Amélia se volta para mim. Ela se levanta,
alisa o vestido e estende a mão. Como ela é, na forma
física que mal viveu em seus vinte anos, ela parece que
poderia ser minha irmã. Ou minha amiga. É mais
difícil imaginá-la como uma mãe, que na idade de sua
alma deveria se parecer com alguém com cabelos
grisalhos e rugas de expressão ao redor da boca e nas
rugas dos olhos.
“Posso ter sua mão? Acho que está na hora.” Ela
mantém a voz firme, sem vacilar, uma prova de sua
força. Ainda assim, suas mãos tremem e seu peito sobe
e desce com respirações rápidas. “Rihst.” Ela lembra
meu pai.

Ele se levanta e oferece uma mão. “Uma mão, por


favor.”

Eu coloco uma mão em cada um deles. Suas


palmas são lisas e não calejadas, o que poderia ser a
formação de seus falsos corpos físicos ou
simplesmente porque ambos eram da realeza e nunca
tiveram que trabalhar muito.

“Eu amo você.” Amélia olha nos olhos de Rihst.

“Eu amo você.” Ele sorri, genuinamente de volta.

Ambos apertam minhas mãos com um pouco mais


de força. Eventualmente, eles olham de volta para
mim. Nasceu deles, metade dessa mulher
incrivelmente corajosa, metade desse líder forte que
carregava defeitos que não eram apenas seus até o dia
em que foi assassinado.

“Eu sempre te amei.” A voz da minha mãe


falha. Ela levanta a mão livre, tocando suavemente os
lábios. “Eu prometi a mim mesma que não choraria.
Este é um momento feliz. É por isso que esperamos
tanto tempo.”

“Tudo bem.” Eu ofereço um mínimo de


conforto. Meus olhos ainda ardem como se eu pudesse
desabar a qualquer momento. Estou me controlando
por enquanto, mas esse esforço é frágil e poderia ser
facilmente quebrado.
“O arrependimento quase me matou várias vezes
na minha vida física. Mas eu nunca me arrependi de
criar um filho com sua mãe. Eu nunca me arrependi
de você. Eu te amo. Agora é a hora de você ir buscar
aquela coroa. Pegue o que é seu por direito.” Ele se
abaixa, virando minha mão e dá um beijo na minha
palma.

“Feche os olhos, Briar.” A rainha Amélia sussurra.


“Nosso tempo está quase acabando.”

Eu obedeço, deixando meus ombros caírem de


minhas orelhas. Seus punhos ficam mais quentes,
suas vozes são um canto suave de uma língua que não
conheço no fundo da minha mente. O cheiro forte de
podridão e lavanda enche meu nariz. A chuva bate nas
paredes que me cercam e um relâmpago faz a parte de
trás das minhas pálpebras parecerem vermelhas por
um minuto.

Eu fecho meu punho, suas mãos se vão. A voz na


parte de trás da minha cabeça, o ser irreconhecível
cantando, continua, em seguida, diminui a velocidade
a apenas um pé de mim. Meus olhos se abrem.

Tudo se foi. Meus pais se foram. Minhas costas


arqueiam, meu corpo muda e um grito indomável corta
o ar.
Quatorze
EU NÃO VOU DIZER QUE ESTOU APAIXONADO

Acordo surpresa com a maciez das almofadas


abaixo de mim e o calor dos cobertores jogados sobre
mim. Peles cinzas e brancos felpudos estão
pendurados sobre meu corpo, enfiados debaixo do meu
queixo. O cabelo faz cócegas nas minhas
bochechas. Uma mão segura a minha, seu polegar
acariciando lentamente minha pele. Posso ouvir a
respiração deles, mas não consigo abrir os olhos.

Mas estou de volta. A Corte de Ferro me acolhe tão


docemente.

A imagem de minha mãe passa por meus


pensamentos. É seguido rapidamente pela visão de
meu pai beijando minha mão como Kai tinha feito
muitas vezes.

“Pegue o que é seu por direito.” Sua voz profunda


de barítono volta a ressoar em minha mente. Isso faz
meu coração bater forte no meu peito. É tudo que
posso ouvir. É tudo que consigo pensar.

Pegue o que é seu por direito. Pegue o que é seu por


direito. Pegue o que é seu por direito.
Eu suspiro, jogando-me em uma posição sentada.
Ambas as mãos agarram meu peito, para o meu
coração que ameaça romper sua jaula. Os cobertores
caem no meu colo.

“Você está bem, Cupcake?” Kai diz


suavemente. Ele está ao lado da cama, sua mão
pairando, mas não tocando minhas costas. “Você não
está sozinha.” Ele me lembra.

Eu me viro para olhar para ele. Ele está muito


mais limpo do que eu me lembrava dele na viagem, o
cabelo solto e ainda molhado do banho. Em vez das
roupas de viagem inadequadas que ele vestia, ele está
de volta em seu terno tradicional com bordados
coloridos. Ele oferece um sorriso amável.

“Estou bem, Pudinzinho.” Eu tento o apelido, meu


sorriso de volta um pouco fraco. O sangue sobe à
minha cabeça. O piso nivelado do meu quarto oscila e
gira, girando em círculos confusos. Eu me inclino em
sua mão atrás de mim, lembrando da mordida do
Espírito.

“Sua ferida!” Eu grito pensando em como o sangue


preto fez sua roupa grudar em sua pele.

Gentilmente, ele puxa o braço e o segura para eu


examinar, puxando sua manga para cima. “A Vidente
me consertou. Estou bem. Talvez você devesse se
deitar?”

“Briar?” Uma voz rouca diz.

Meu cabelo voa em volta de mim enquanto eu


prendo minha atenção para a voz familiar. Eu empurro
as duas mãos contra o colchão para me
equilibrar. Borboletas crescem dentro do meu
estômago, uma excitação que cresce dentro de
mim. Minhas bochechas coram automaticamente.

“Lincoln?”

Ele está vestido de forma semelhante a Kai, suas


calças sob medida em um tom mais suave e sem uma
jaqueta ou design extravagante. Lincoln se afasta da
janela alta pintada de roxo, sua atenção mudando
entre mim e seu irmão.

Eu olho para minha mão, percebendo que, em


meu esforço para me equilibrar, peguei a mão de Kai
novamente. Kai ainda me observa com gentileza, sem
se incomodar com seu irmão. Mesmo que minha
cabeça gire ligeiramente, coloco minhas mãos no colo
e as entrelaço. Meus dedos estão mais longos, mais
delicados, minhas unhas de repente perfeitamente
manicuradas.

“Eu estou diferente.” As palavras são um


choque. Como se só o reconhecimento disso fosse um
elástico, algo se estala dentro do meu cérebro. Ele bate
com tanta força que pressiono minhas têmporas com
um gemido.

Então eu posso ouvir. Eu posso ouvir tudo. A


pulsação de Lincoln. Batimentos cardíacos de Kai. O
som do sangue correndo em suas veias. Nos
corredores, os guardas mudando de posição,
resmungando baixinho uns com os outros. Não
consigo entender o que eles dizem, mas no segundo
que me concentro nisso, é como se eu fizesse parte da
conversa.
Meus olhos se arregalam enquanto eu olho ao
redor do quarto. Se eu pensava que a cor era vibrante
antes... É de alguma forma mais profunda agora. Mais
significativa. O cheiro quente e almiscarado de Lincoln
permanece no quarto, se mistura com o cheiro fresco
de Kai, menos áspero.

Eu me acaricio, sentindo meu corpo, trabalhando


meu caminho até minhas orelhas para descobrir que
elas se esticaram até uma ponta. Sim é isso. Os
segundos em que me encontrei dentro daquela caverna
estúpida no topo do vulcão com Zeve, eu não estava
com dor... Eu estava sendo esticada. Até minhas
pernas parecem um pouco mais longas agora, e já sou
alta para uma mulher.

“Tenho certeza que vai demorar um pouco para se


acostumar.” Kai coloca a mão de volta no colo e se
inclina na cadeira que fica ao lado da cama.

“Você esteve aqui esse tempo todo?” Pergunto-lhe.

“Carreguei você de volta e esperei que acordasse.


Você é minha convidada, minha amiga, devo isso a
você.”

“E você?” Eu volto para Lincoln. Ver seu corpo


largo em pessoa novamente, torna quase doloroso ficar
onde estou. Eu imaginei deixá-lo me circular em seus
braços, deixando nossos corpos se alinharem da
maneira que eles fazem tão perfeitamente.

“Sua mente ficou em branco. Não consegui ouvir


nada.” Seus lábios pressionam em uma linha fina e ele
dá um passo mais perto. “Eu vim assim que pude e
encontrei você... Assim.”
“Deixe-me ajudá-la.” Kai oferece. “Tenho certeza
de que você achará o mundo muito diferente agora que
sua visão melhorou muito.”

“Eu pareço diferente?”

“A mesma Briar que todos nós conhecemos e


amamos.” Kai sorri. “Não, você não se transformou de
repente em uma princesa de conto de fadas.”

“Eu não acredito em você.” Eu ri.

Na minha periferia, Lincoln se encolhe, mas


rapidamente mascara, passando a mão pelo
rosto. Uma barba escura cresceu em seu queixo, não
longa o suficiente para ser chamada de barba, mas não
limpa o suficiente para ficar à mostra.

Se eu me transformasse em algum tipo de


princesa, sendo Fae, então esperava que meu corpo
não se sentisse tão exausto agora. Talvez isso seja
normal, considerando que acabei de passar por algum
tipo de mudança louca de totalmente humana para
parcialmente Fae. Existe mesmo um normal para
comparar isso? Quantas vezes Faes das Sombras
tiveram sua magia meio retirada deles?

Eu coloco meus dois pés no chão. Minhas botas e


meias gastas já se foram há muito tempo. Alguém me
limpou? Me vestiu? Eu olho para o meu corpo,
trabalhado em um sutiã vermelho simples e calcinha
combinando conectado por apenas algumas
alças. Suponho que isso deveria ser a coisa menos
chocante, considerando que os Fae não têm muitos
limites e Lincoln já me colocou e me tirou algumas
roupas. Ainda assim, as pontas das minhas orelhas
queimam.

Com os primeiros passos, Lincoln se move em


minha direção, mas desacelera quando percebe que
Kai já está lá. O Príncipe paira, estendendo as mãos
prontas para me pegar caso meu corpo ceda.

“Relaxem.” Digo a ambos. “Eu ganhei poderes, de


alguma forma não ganhei pernas novas.” Mesmo que
tremam um pouco a cada passo.

“Apenas uma precaução.” Kai continua


estendendo as mãos.

Os passos de Lincoln param, suas botas


firmemente plantadas no chão e seus braços se cruzam
sobre o peito. Ele me observa, todas as emoções limpas
de seu rosto.

Há um espelho dentro do banheiro. Eu não me


preocupo em esconder meu traseiro nu enquanto me
arrasto para lá. Uma luz branca brilhante acende em
um flash quando eu entro. Meus olhos não demoram
para se ajustar e eu percebo... Eu podia ver o quarto
claramente antes mesmo de a luz acender.

Eu pego o espelho e me puxo em direção a ele. Meu


cabelo cai sobre meus ombros, nem mesmo
ligeiramente despenteado do longo sono do qual acabei
de acordar. Os fios se alinham perfeitamente uns com
os outros, os tons de mel do marrom parecendo muito
mais dourado. Até meus lábios parecem manchados
com algum tipo de cor e minha pele está muito mais
clara.
Pequenos pontos de fecho azul estão sobre meu
ombro. Eu olho para eles me perguntando se a lingerie
é multicolorida. Olhando por cima do ombro, dou as
costas ao espelho. Meus pulmões se enchem com a
lufada de ar e quase pulo para longe do espelho
completamente. Não é lingerie. São... São asas.

As asas azuis membranosas esticadas brilham na


luz. Elas estão dobradas nas minhas costas e se
curvam sobre meus quadris, eu rapidamente
percebo. Com o pensamento, eles estremecem, uma
sensação estranha que está quase fora do meu
corpo. As bordas descascam dos meus ombros e dos
meus quadris flutuando atrás de mim. Quase como se
estivesse movendo um braço ou uma perna, mas
trêmula. Mais como… Estou aprendendo a andar.

Elas batem em pequenos golpes nas minhas


costas. O movimento não é suave, cada balanço das
asas parece mais uma contração ou um solavanco.

“Você disse que eu estava com a mesma


aparência!” Eu grito. Coloco uma mecha de cabelo
atrás das orelhas e olho para as pontas pontiagudas,
ainda perplexa com minhas asas. “Eu pareço mil vezes
diferente.”

Talvez seja a roupa, mas... Pareço totalmente mais


alta. Eu me sinto mais alta.

Kai enfia a cabeça para dentro, dando um passo


para o lado para dar lugar a Lincoln, que o segue. Os
braços de Lincoln ainda estão cruzados sobre o peito
enquanto ele se encosta no batente da porta.
“Suas orelhas mudaram.” Kai aponta o dedo para
mim.

Eu bufo e avanço agarrando o príncipe pela manga


de seu braço e o arrasto comigo para o espelho. Ele me
observa no reflexo, sua atenção permanecendo com
segurança no meu rosto. Eu me viro e encontro a
atenção de Lincoln viajando mais para baixo em meu
corpo.

“Eu estou mais alta.” Eu o enfrento.

Meu nariz se alinha muito bem com o dele e ele se


inclina para frente até que estejamos nos tocando.
“Você reparou nisso?”

“Então você ficou mais alta?” Lincoln


interrompe. Kai se enrijece e se inclina para longe.
“Todo o resto está seriamente idêntico.”

“Então meu cabelo sempre foi tão perfeito? Minha


pele sem falhas?”

“Sim.”

Eu estreito meu olhar e me viro para Kai. Ele junta


as mãos na frente dele.

“Eu acho que seus olhos humanos podem ter sido


quebrados.” Kai enfia o cabelo atrás da orelha e se
inclina para frente, sussurrando pelo canto de seu
sorriso malicioso. “Você sempre foi tão adorável, Briar.”

“Eu tenho asas!” Eu grito com uma risada


perplexa.
“Você é uma verdadeira Fae das Sombras. O que
você esperava?” É o melhor que Lincoln pode oferecer.

Meus lábios se curvam porque tenho certeza de


que estão puxando minha perna. Eu me inclino para o
espelho, olhando minha aparência. Meu corpo, que eu
normalmente não consideraria tão cheio de curvas, a
menos que eu criasse algum tipo de ilusão de ótica com
roupas, agora está mais definido. Não consigo imaginar
que esses homens me tenham visto como agora.

“Eu não acredito em nenhum de vocês.” Meus


ouvidos captam passos estranhos, e me endireito
enquanto estreito de onde exatamente os degraus
estão vindo.

“Alguém está vindo buscar, Kai.” Lincoln sussurra


apenas para mim. Suas palavras na minha cabeça são
rapidamente seguidas por uma batida rápida na porta.

“O dever chama.” Kai se curva diante de mim, em


seguida, anda para fora.

Lincoln coloca as mãos nos quadris magros e se


vira para o lado para deixá-lo passar, observando seu
irmão enquanto ele se afasta. Há um silêncio que cai
na ausência de Kai. A estática entre nós é densa com
palavras não ditas e pensamentos que ambos
ignoramos. A porta se fecha atrás do príncipe e eu
posso ouvi-lo e quem veio atrás dele resmungando no
corredor.

Eu me volto para Lincoln. Seus braços preenchem


as mangas de sua camisa de botão, tornando a curva
de seus bíceps mais aparente. Preciso de tudo para não
alcançá-lo.
“Estou feliz que você veio.”

Lincoln deixa cair os braços, me prendendo com


um olhar sombrio. Eu deixo cair meu queixo. Ele
balança enquanto anda, cada movimento predatório,
cada passo cheio de uma confiança
impressionante. Seu olhar encontra o meu na minha
altura recém-descoberta. Minha língua se lança para
umedecer meu lábio inferior. É o suficiente para
convencê-lo a me beijar? Ou não somos nada agora?

Eu não quero ser nada. Eu quero ser algo,


qualquer coisa e tudo com e para ele. Mas ele precisa
lutar por nós. Ele precisa nos aceitar. Então, a questão
é realmente: ele quer ser alguma coisa?

A barba áspera em sua bochecha arranha a minha


enquanto ele se inclina para mim. “Você e Kai parecem
ter realmente se dado bem.”

Não há um grama de mim que está disposta a


fingir que não estamos atraídos um pelo outro ou
mesmo que eu não o quero. Eu deixei a vida me dar
tudo o que eu recebo e considero isso bom o
suficiente. Eu sou nova agora. Eu sou totalmente eu
mesma pela primeira vez.

E estou perseguindo o que quero.

Meus braços deslizam sobre seus ombros largos,


segurando firmemente em seu pescoço, puxando-o em
direção à minha boca. Suas mãos não pairam da
maneira educada de Kai. Eles agarram meus quadris,
ajudando-me a me equilibrar enquanto me inclino para
ele. Mesmo através de suas roupas, ele é quente contra
toda a minha pele nua.
“Não finja que você não está com inveja.”

Desta vez, pela primeira vez, não sou eu quem


treme. Um arrepio desce pela espinha de Lincoln e ele
se endireita. Suas mãos nunca deixam meus quadris,
embora eu espere totalmente que ele se afaste de
mim. Lincoln está sempre colocando distância entre
nós quando pensa que vou deixá-lo vulnerável.

“Eu acho que vocês dois são adoráveis


juntos.” Seu sorriso se alarga, dando-me a visão de
seus dentes perfeitamente brancos. É um sorriso
felino. Suave, mas mortal, como os passos cuidadosos
de um assassino. A única diferença é que não sou mais
a vítima. Ele é, ele só não sabe ainda.

“Vejo que você ainda está jogando os mesmos


velhos jogos, Lincoln.”

“Nós somos... Amigos.” Eu aperto minhas mãos


sobre as dele, guiando-as sobre a curva do meu corpo.

“Não me provoque, Briar.”

“Da mesma forma que você e eu somos


amigos?” Sua mandíbula está tensa, seu olhar tenso
no meu rosto.

“Você acha que eu deixaria Kai me tocar assim?”

As palmas das mãos, muito mais ásperas que as


dos irmãos, prendem-se ao tecido do sutiã. Nossas
mãos pastam sobre meus seios e, em seguida,
escorregam de volta pela minha cintura. Olho para o
pomo de Adão de Lincoln.
“Eu não esperava que você esperasse por mim. Kai
é um grande casal. Minha mãe ficaria orgulhosa de ver
vocês dois juntos.”

“Não tenho nenhuma intenção de me casar pelo


poder ou para agradar a alguma outra corte.”

Lincoln inclina o corpo para trás, levantando o


queixo com uma risada divertida. É tudo um jogo. O
amor é como xadrez para ele. Eu envolvo meus dedos
em torno de seu pulso, apertando com força em
frustração.

“Você está embriagada com suas novas


habilidades Fae.” Há um silvo venenoso em suas
palavras enquanto ele rasga suas mãos. Ele esfrega
seus pulsos, vermelhos do meu aperto.

Eu realmente apertei com tanta força que deixei


uma marca? O vermelho desaparece rapidamente, mas
a imagem está gravada em minha mente. Não conheço
minha própria força.

“Ou eu sei o que eu quero.”

Eu empurro por ele, deixando nossos ombros


colidirem. Minhas asas se espalham sobre ele quando
eu passo. Eu sorrio para mim mesma, reconhecendo
que bater naquele corpo de estrutura de aço dele não
me fez sentir tão delicada e frágil como normalmente
faz. Sua atenção se concentra na pele totalmente azul
de minhas asas.

Sabendo que tenho uma gaveta cheia de roupas


mortais, e precisando de uma conexão com minha
humanidade, vou para minha cômoda. Antes de me
embriagar com minhas novas habilidades Fae. Eu
zombo de suas palavras na minha cabeça, indiferente
se ele ouve ou não.

Nenhum passo me segue. Nenhum comentário


mal-humorado ou sarcástico me segue para a próxima
sala. A presença de Lincoln ainda está lá dentro da
minha cabeça, ouvindo com intenção

“Por que você veio, Lincoln?” Enfio minhas pernas


em uma calça jeans escura. Quando minhas pernas se
projetam para fora, eu fico olhando para elas.

Curtas. Eu com certeza fiquei mais alta.

Eu rosno, deixando ressoar no meu peito do jeito


que eu ouvi Lincoln fazer antes. Ele vibra
profundamente em minha caixa torácica e bate em
meus ossos. Lincoln fecha os punhos ao ouvir o
som. Eu não posso ver o homem, mas posso sentir a
maneira como ele quer jogar todas as suas restrições
pela janela e me abraçar em um beijo carinhoso antes
de me jogar na cama e rasgar minhas roupas.

“Achei que minha intenção era clara. Fiquei


preocupado.”

“Porque eu sou seu investimento, para escapar de


viver sob o domínio de Cordelia?” Eu acuso.

Lincoln dá um grande passo para fora do


banheiro. Ele observa, esfregando sua barba não
exatamente enquanto eu desabotoo minhas calças e
saio delas. Roupas Fae, então. Então eu passo por ele
de novo, vou fazê-lo me perseguir por toda a maldita
suíte de hóspedes hoje. Eu rolo meus olhos para a
extensão do armário.
Há todo um arco-íris de roupas aqui e qualquer
outra garota ficaria desmaiada com as
possibilidades. Elas são exaustivas. Pego o vermelho,
amando a maneira como ele captura os pensamentos
de Lincoln.

“Não.” Ele resmunga.

Seus passos fazem as tábuas do assoalho


rangerem. Ele não se move em minha direção, mas
para longe, para a sala de estar.

“Não?” Eu digo com falsa surpresa.

“Eu estava preocupado pra caralho.” Ele sussurra.


Minha nova audição Fae capta com facilidade.

“E por que você estaria preocupado?”

“Achei que já tínhamos estabelecido que me


importava com você. Por que você está me fazendo
dizer isso? Por que precisamos dizer isso?”

Ele é tão insuportável! Seu pequeno coração Fae


de Ferro pararia de bater completamente se um grama
de compaixão escapasse de sua boca cruel?

“Eu só preciso saber a resposta.” Eu puxo a roupa,


um número com espartilho que combina com as
roupas íntimas esplendidamente, exibindo-as através
do material transparente. Tecido vermelho espesso cai
como uma cachoeira dos quadris, deixando a frente
aberta, embora minhas pernas ainda estejam cobertas
pela calça. Então, é mais como um terninho, suponho.
Mesmo que os Fae ajam como se não soubessem o que
é isso.
Faço uma pausa, não tenho certeza de como
minhas novas asas devem caber na roupa... Ou
não? Vou precisar de um guarda-roupa totalmente
novo?

O suspiro de Lincoln vem à minha mente. “Relaxe


o músculo. Pense conscientemente em relaxar suas
asas.”

Fechando meus olhos, concentro-me em liberar a


tensão em cada um dos meus músculos. Eu balanço
enquanto me concentro apenas nas minhas costas e
nas asas brotando delas. Depois de um momento, eles
se enrolam contra minha pele, achatando-se sobre
meus ombros e abraçando meus quadris mais uma
vez. Eu pisco meus olhos abertos e cuidadosamente
puxo a roupa para cima.

“Bem, isso é útil. E funcionará bem para esconder


minhas asas quando eu precisar... O que pode ser o
tempo todo até que eu possa controlar toda a situação
de Cordelia.”

E nesta suíte de calças, sinto-me bastante


profissional. Ou realmente, como se estivesse pronta
para cuidar dos negócios. Será que as minhas novas
habilidades, as partes de mim que me fazem sentir que
posso enfrentar o mundo, acabarão se
desgastando? Ou vou me sentir assim para sempre?
Espero que dure para sempre. Em vez de por enquanto.

“Por que você se importa comigo? Por que se


importa com o que acontece comigo?” Eu seguro as
peças no meu corpo e caminho para a sala de estar.
Lincoln está estendido em um único assento, as
pernas relaxadas e separadas, os braços pendurados
contra os apoios de braço. Suas mangas arregaçadas
revelam seus antebraços vasculares. Ele agarra a
lateral da cadeira, fazendo as veias de suas mãos
incharem. Meus olhos caem para olhar.

“Fecha para mim?” Eu pisco meus olhos.

Ele se levanta. Soltando um longo suspiro, ele


agarra o zíper, puxando-o para cima. À medida que
sobe suavemente pelo tecido, sobre minhas asas, ele
sussurra: “Você será a minha morte.”

“Ou eu serei sua graça salvadora.” Eu torço e


agarro o tecido extra de sua camisa fazendo-o
pressionar contra mim novamente. Há uma ousadia na
maneira como ele não esconde a protuberância que
está endurecendo dentro da calça. Isso só me faz
desejá-lo mais.

O clássico sorriso malicioso de Lincoln, inclina em


um meio sorriso. “Estou sempre pronto para um bom
debate.”

“Você está evitando a pergunta.”

“Então é aqui que devo admitir que estou


loucamente apaixonado por você?” Ele brinca com seu
nariz ao longo da borda do meu pescoço.

Loucamente. Ele está sempre louco. Loucamente


apaixonado pode ser uma boa mudança.

“O mínimo que você pode fazer é aludir a isso.”


Lincoln mexe as sobrancelhas, mas não responde.
Gentilmente, ele tira um dedo de cada vez da minha
roupa. Em seguida, cai de volta na cadeira.

“Eu não sei, eu pareço gostar desse mistério entre


nós.” Ele mexe no colarinho e nas rugas que criei em
sua camisa com uma carranca. “Eles ficarão ou não
juntos...? Essa é a questão.”

“Você gosta de me deixar louca, é o que você


faz.” Eu volto para o armário pegando um par de saltos
combinando. Murmuro palavrões de como os homens
são frustrantes enquanto me sento em frente a Lincoln
e os coloco. Uma vez que estou totalmente
desconfortável, cruzo as pernas e olho para ele.

“Você parece um pouco tensa.” Seus olhos caem


semicerrados

“Deixe-me adivinhar, você estaria disposto a me


ajudar a liberar um pouco mais de energia? Como se
isso tivesse algo a ver com meus poderes e não com a
necessidade crescente dentro de suas calças?”

“Na verdade, liberar a energia de suas


necessidades e desejos sexuais reprimidos está
diretamente relacionado a quão bem você é capaz de
lidar com a magia. Por que você acha que nós Faes
tratamos o sexo como o tratamos? Não somos
humanos rijos e rígidos. Você não é mais humana.”

O meu lado humano entupido e rígido é mais


teimoso do que qualquer coisa. “Eu acho que não vou
deixar você me ajudar a liberar esse tipo de energia até
que você admita abertamente seus sentimentos.”

E pare de foder com os meus.


“Que sentimentos?” Ele junta as sobrancelhas,
fingindo confusão, antes de sua língua deslizar sobre
os dentes e ele sorrir novamente.

Eu franzo meus lábios. “Dois podem jogar neste


jogo.”

“Eh, eu não sei. Eu não tenho certeza se estou


jogando como você.” Lincoln se levanta da cadeira.
“Bem, é melhor eu ir embora.”

“Você está indo?” Eu pulo muito rápido da minha


cadeira.

Ele me olha de cima a baixo, com conhecimento


de causa. “Tenho responsabilidades para as quais
retornar na Corte das Sombras. Tenho que ter certeza
de que não desmoronará. Estou fazendo isso por
você.” Ele enfia meu cabelo atrás da orelha. “Não
gostaria que você recuperasse sua Corte e a
encontrasse em completa desordem.” Suas costas
largas estão voltadas para mim enquanto ele se move
silenciosamente pelo quarto.

“Como sua futura rainha, tenho duas perguntas.”

Ele gira na ponta dos pés, curvando-se sem nem


olhar para mim. “Sim, minha rainha?” Suas palavras
são um som áspero.

Uau. Por que eu tremi tanto?

“Como está Jase?”

“Oh...” Diz ele. “Ele está bem. Falei com ele uma
ou duas vezes e ele basicamente passou o tempo todo
reclamando que sente sua falta e me fazendo
perguntas pessoais sobre meus irmãos. Então... O
mesmo Jase, eu acho.”

Eu sorrio suavemente. O mesmo e velho


Jase. Deus, eu sinto falta dele. “Eu vou vê-lo em breve,
certo?”

“Sim. Agora que você tem seus poderes, eu diria


que é hora de começarmos a fazer alguns movimentos
reais. Você não é mais tão frágil.” Ele adiciona a última
parte um pouco mais silenciosamente do que o resto.
“Você... Ah, tinha uma segunda pergunta?”

“Bem, isso não é tanto uma pergunta, mas um


pedido.”

Ele cantarola, saltando sobre os pés enquanto


espera.

“Não coloque mais sua parede.”

Lincoln congela.

“Eu quero... Eu quero fazer parte do seu dia e


quero que você faça parte do meu. Compartilhe seus
pensamentos comigo e pare de me bloquear.”

“É para o seu próprio bem. E o meu.”

Ele está me deixando louca.

“Não.” Eu balanço minha cabeça. “Você não pode


decidir o que é bom para mim e o que não é mais. É
meu trabalho criar esses limites para mim mesma.”

Ele acena com a cabeça, apenas uma vez, quase


roboticamente.
“É isso?”

“Sim.”

Lincoln coloca as mãos no bolso, encaminhando-


se para fora do quarto sem um segundo olhar. A porta
se fecha atrás dele, a parede que ele colocou tantas
vezes desaba no lugar. Eu pisco com a aspereza da
sensação. É como se ele fosse um adolescente de
merda e eu acabei de dizer a ele para sair de seu quarto
pela primeira vez e ele está chateado com isso.

Eu rio levemente para mim mesma, mas


rapidamente desvanece quando me dou conta da
confusão de sentimentos que Lincoln tinha esperando
do outro lado da parede. Desejo e necessidade,
abafados pela dedicação e tradição, estão todos
enterrados sob um passado profundo de dor e tristeza.
Ele bate contra meu peito roubando cada grama de ar.

Isso dói. Estar na cabeça de Lincoln pode


realmente me destruir, se eu deixar.
Quinze
CONVERSA FIADA SOBRE COISAS
IMPORTANTES

Não há mais nada para fazer sozinha no meu


quarto, exceto me preocupar. Estou mastigando
minhas unhas, tentando entender a mente de Lincoln.
Seus pensamentos estão lá, mas terrivelmente
silenciosos quando ele percebe minha presença. Ele
fica um pouco mais distante quando chega à Corte das
Sombras e se ocupa com o trabalho. Uma distração.

Eu deveria fazer o mesmo.

Meus calcanhares batem com uma nova


determinação e força. Mesmo eu não sou cega para a
confiança que esse poder está me trazendo. Enquanto
estou refletindo, empurro as portas do refeitório que
foram fechadas. Não é exatamente hora da refeição,
mas com certeza estou morrendo de fome.

Eu paro quando entro, chocada ao encontrar os


três irmãos de Lincoln esticados em posições diferentes
na mesa da sala de jantar. Eles deixam muitos
assentos entre si. No meio da mesa, está uma pequena
bandeja de frutas, um lanche que parece que já foi
colhido.
Kai e Violet se viram para olhar para mim. Os
olhos de Rowan nem mesmo se abrem. Há um livro,
virado para baixo, com as páginas se espalhando para
segurar seu lugar na mesa ao lado de seus pés. Ele está
inclinado em sua cadeira, com os braços atrás da
cabeça, roncando suavemente. Embora esteja claro
que ele não deveria estar cochilando agora.

Violet deixa cair o pequeno bordado em que estava


trabalhando. Kai larga a caneta do longo pergaminho
que está marcando à sua frente.

“Briar!” Violet diz, estranhamente alegre.

“Estou surpresa de encontrar todos vocês aqui.


Lincoln saiu e eu estava com fome, então pensei em
parar e ver se eu poderia comer alguma coisa.” Eu
finalmente solto as portas e as fecho atrás de mim, em
seguida, puxo a leve jaqueta creme que encontrei sobre
meus ombros para esconder minhas asas.

“Claro, você provavelmente está morrendo de


fome!” Kai acena para um criado em direção à
cozinha. Eles correm sem questionar.

“Você parece tão diferente!” A princesa grita,


pulando de sua cadeira.

Eu dou um passo para longe, minhas costas


batendo nas portas. “Você está com um humor
estranhamente bom...”

“Ela estava com um amigo ontem à noite.” Rowan


finalmente abre um olho, deixando-o vagar
rapidamente antes de voltar a fechá-lo. “Eles ficaram
acordados a noite toda, fodendo tão alto que não
consegui descansar um minuto.”
“Cale a boca, seu esquilo enorme. Você sabe
quantas vezes eu tive que ouvir seus bichinhos
gritarem como se você as estivesse matando? Aqueles
não são sons de mulheres satisfeitas, Rowan. Você
contrata atrizes muito ruins.”

Rowan bufa, mas não responde. As bochechas de


Kai ficam vermelhas enquanto ele escuta. “Vocês dois
precisam brigar na frente da nossa convidada desse
jeito? Vocês não tem que mostrar a ela o seu pior lado.
Embora eu tenha certeza de que Rowan fez de sua
missão assustar Briar.”

“Você não precisa vir em meu auxílio. Está tudo


bem.” Eu entrelaço minhas mãos na minha frente.

“Você tem razão. Lembro-me vividamente de você


se comportar bem o suficiente em nossa viagem.” Kai
morde o lábio olhando de mim para Rowan.

“Estou muito feliz.” Violet faz uma careta. “Por não


estar mais trabalhando naquele maldito bordado. Esta
é a desculpa perfeita para fazer uma pausa!”

“Por que vocês estão trabalhando aqui?”

Violet fica na frente da minha visão dos outros


dois, me examinando. Porém, Kai ainda fala perto dela.
“Estamos nos escondendo. Juntos.”

“Mamãe está com força total hoje e nossos tutores


estão sob pressão dela, então eles estão sendo
dolorosamente irritantes.” Violet esclarece, levantando
uma mecha do meu cabelo e espalhando na ponta dos
dedos. “É tão... Metálico.”
“Kai e Lincoln me disseram que eu não parecia
diferente.”

Violet solta uma risada e lança um olhar de


desaprovação para Kai por cima do ombro. Ela joga seu
longo cabelo preto para trás, franzindo o nariz. “Meus
irmãos são idiotas que não prestam atenção em nada.
Você pensaria, pelo jeito que eles te encararam desde
que você chegou do Reino Mortal, que eles notariam
diferenças tão vastas quanto essas.” Ela me olha de
cima a baixo, zombando. “Idiotas, idiotas.”

“Eu diria, ‘que decepção’, mas estou chocada


demais para fingir que me importo.”

“Você também está mais alta!” Violet estala os


dedos. “Uau, eu posso ver toda a ‘Rainha Mortal de
beleza infinita’ agora. Mais ou menos.” Ela aperta os
olhos para mim. “Se eu virar minha cabeça para a
direita e permitir que minha visão fique confusa.”

“Vou tomar isso como um elogio, eu acho.”

“Você é cega pra caralho, Violet.” Rowan suspira.


“Aposto que se ela tentasse, Briar poderia atrair mais
homens do que você na sua melhor noite.”

“Duvido, mas suponho que agora ela me daria


uma corrida pelo meu dinheiro.”

É uma luta não revirar os olhos para ela.

A princesa aperta o tecido do meu pequeno


cardigã e o levanta do meu ombro. “Não!” Ela grita,
deixando cair o material e cobrindo a boca com as duas
mãos. “Você tem asas! Não vi asas em um Fae desde
que Cordelia entrou em sua orgia lunática. Não é à toa
que você combinou um vestido tão lindo com um pano
como esse.”

Rowan se inclina para frente como se quisesse se


levantar e dar uma olhada na minha nova parte do
corpo também, mas seu interesse morre rapidamente
com um olhar severo de seu irmão.

Um criado, vestido com um uniforme preto bem


passado, emerge da cozinha segurando um prato
fumegante, evitando que eu precise retrucar. Violet me
dispensa com um gesto de mãos, mas seu olhar me
segue.

Equilibrando o prato de comida, o criado me


oferece uma cadeira. Eu varro minha saia longa
debaixo de mim, me ajustando ao lado de Kai, contente
por não estar sentada diretamente em frente a Violet. A
caneta de Kai ainda permanece em seu pergaminho e
fica lá até eu pegar meu garfo. O movimento de alguma
forma o lembra de que ele também deveria estar
segurando algo.

“Além de toda a pressão que a mãe está nos


dando, sua presença colocou sua calcinha em um novo
tipo de bando. Eu tive que ouvi-la reclamar a manhã
toda sobre ter um humano em nosso castelo. Bem,
agora ela vai reclamar de Faes das Sombras mais
tarde, tenho certeza.”

“Não entendo.” Eu embaralho os legumes no meu


prato. “Vocês todos não são adultos? Por que vocês tem
tutores e tal? Seus estudos não acabaram?”

“Não.” A princesa bufa.

“Eu desejaria que sim.” Rowan diz baixinho.


Kai olha de sua irmã para seu irmão e,
lentamente, de volta para mim. “Nossa escola primária
acabou, sim. Mas é muito tradicional que continuemos
aprendendo até que um dia ocupemos nosso lugar no
trono.”

“E se você nunca conseguir um trono?”

“Uh. Não quero pensar nisso.” Rowan bate as


mãos no rosto, puxando suas feições para baixo.

“Assim, o aprendizado e a melhoria nunca param.”


Acrescenta o príncipe Kai suavemente. “Por mais
irritante que seja... É bom para nós.”

“Tão tradicionalista.” Rosna Violet.

Eu olho para o meu prato, admirando o corte


grosso de bife coberto com manteiga. Os cheiros
chegam ao meu rosto, fazendo meu estômago gritar de
fome. Eu empurro meu garfo na carne e corto um
pedaço, colocando-o na minha boca depois de apenas
um segundo de sopro. Isso queima minha língua como
eu imaginei, mas a sensação morre rapidamente.

Estou curando. Eu penso com a revelação.

“Ser humano traz tantas quedas, hein?” A voz de


Lincoln enche minha mente.

Eu pulo na minha cadeira. Eu sou rápida em me


repreender, fui eu que exigi que ele estivesse comigo e
me deixasse estar com ele e, no entanto, aqui estou eu,
surpresa por ele ter reconhecido um
pensamento. Talvez eu seja a idiota. Eu mentalmente
enfrento a palma da mão.
“Deixe-me adivinhar, Lincoln.” Violet murmura,
levantando seu anel de bordado. Ela faz uma careta
para mim, então oferece uma expressão muito mais
cansada para sua costura. “Diga ao meu irmão...” Ela
enfia a agulha no tecido de forma agressiva. “Que ele
foi embora e que se quisesse ficar com você, deveria ter
ficado. Não tenho certeza de por que ele se incomoda.
Ele não tem chance com você.”

Lincoln está dolorosamente silencioso.

“Eu acho que discordo.”

A princesa levanta a cabeça, seus olhos


arregalados enquanto ela me dá toda a sua
atenção. Ela me olha por um momento, antes de
retomar o trabalho. “Isso vai mudar uma vez que você
seja apresentada a todas as suas opções de Faes que
não são raças mestiças. Lincoln é um amante de nível
inferior. -Desculpe, Linc. Há um mundo de homens
mais adequados para uma rainha, aqueles que seu
povo pode respeitar e isso vai te dar alianças.”

O metal do meu garfo se curva na minha mão. Eu


o agarro com tanta ferocidade que meus nós dos dedos
ficam brancos e os músculos do meu antebraço estão
visivelmente tensos.

“Eu acho que você se esquece de si mesma.” Eu


grito. “Você se esquece que eu sou a rainha legítima.”

“Ooh, atrevida, eu gosto.” Violet bate seus cílios


para mim.

A caneta de Kai congela. Rowan baixou


silenciosamente as botas da mesa e olhou para nós.
“Vocês duas vão lutar agora?” Rowan diz com um
sorriso lento.

“Isso é ridículo.” Violet ri. “Somos muito mais


civilizadas do que isso. Além disso, não vale a pena
lutar por Lincoln.”

“Novamente, você está errada.”

Eu me forço a colocar meu garfo na mesa, mais


preocupada que eu enfie as pontas afiadas no pescoço
muito pálido dela, bem na veia azul que desce por ele.

“Acalme-se.” Lincoln me lembra. “Você ainda não


está acostumada com a forma como seu corpo processa
as emoções, agora. Dê uma risada.”

Uma risada?

“Ha. Ha. Ha.” Eu digo rigidamente. Tentando me


acalmar, respiro longa e lentamente, mas a raiva
amarga dos maus-tratos à Lincoln, a frustração
referente aos maus-tratos de todos os Faes de
linhagem mista, ainda brilha com uma chama
assustadoramente quente dentro de mim. Eles são
exatamente como eu. Eu sou como eles. As
observações cortantes de Violet, todas as suas
observações, também são contra tudo o que eu
sou. Não apenas Lincoln.

Com esse pensamento, sinto os pensamentos de


Lincoln se agitarem. Uma raiva violenta e sombria
preenche seus pensamentos, paralisa qualquer
conversa que ele esteja tendo com outro guarda na
Corte das Sombras.
“Os Faes das Sombras são meu povo.” Eu começo.
“Então não vamos falar sobre eles serem inferiores na
minha presença. Entendeu? Na verdade, eu
agradeceria se você não falasse sobre eles, do modo
como você fala, em nenhum momento.”

“Vou levar isso em consideração.” A princesa me


dá um sorriso falso.

“Sim, ela vai.” Kai repete acenando com a cabeça.


“Que tal uma mudança de assunto?”

Eu estreito meu olhar para Violet, que só aprecia


o fato de que ela está me irritando. Ela pode ter ficado
sob o regime de Lincoln também, o que é bastante
incomum para ele. Kai se estica de seu assento,
colocando sua mão na minha. Ele acaricia minha pele
com o polegar como fazia quando acordei hoje.

“Briar.” Diz ele em um tom abafado dirigido a mim.

Demoro um minuto para parar de desejar uma


morte repentina e dolorosa para qualquer um que fale
contra meu povo antes de finalmente me virar para
olhar para ele. Eu olho de volta em seu olhar dourado.

“O que?”

“Eu entendo sua preocupação... E o respeito que


você deseja por si mesma e sua corte, mas pode levar
algum tempo para que todos nós aprendamos a
controlar as línguas.” Seu sorriso vira de cabeça para
baixo quando ele olha para Violet. “Especialmente para
minha irmã.”

“Estou me ofendendo com isso.” Ela brinca.


“Você não demonstra.” Kai solta minha mão e as
cruza em sua cintura fina enquanto inclina a cabeça
para trás contra seu assento.

Rowan dá uma gargalhada, dando um tapa na


mesa. Meu garfo salta contra o metal.

“Mas temos coisas mais relevantes para


conversar.” Diz Kai por cima do irmão, que ainda
gargalha na ponta da mesa. “Podemos marcar uma
reunião, agora, com a sua corte. Dá a você a chance de
conhecer os superiores e as pessoas que irão
aconselhá-lo diretamente.”

“Julgar você.” Rowan interrompe.

Kai fecha os olhos, inalando lentamente. Pode ser


que eu não seja a única incomodada por seus irmãos
hoje. Quando ele abre os olhos novamente,
encontrando diretamente o meu olhar, ele pergunta: “O
que você acha?”

“Eu acho que está na hora.” Eu me sento um


pouco mais reta. “Embora fosse um pouco bom me
familiarizar com o que posso fazer e como fazê-lo
primeiro. Não quero entrar totalmente despreparada.”

“Com sua magia, você quer dizer?”

“Sim.”

“Receio que nenhum de nós seja totalmente


qualificado para esse trabalho. Nunca fomos alheios
aos nossos poderes. Lincoln pode ser o melhor para o
trabalho.” Kai se senta para frente, colocando as mãos
em cima de seu trabalho.
“Lincoln não está por perto para ajudar.” Eu cerro
os dentes.

“Vocês não podem falar na mente um do outro?


Façam isso.” Violet projeta o queixo.

“Não é o mesmo.”

Eu tento o meu melhor para relaxar minha


mandíbula, nervosa de que, se não fizer isso, vou
começar a quebrar meus próprios dentes. Lincoln estar
na minha cabeça não é o mesmo que me
ensinar. Simplesmente não é. Eu também aprenderia
melhor pessoalmente. Mas também não posso
continuar empurrando isso.

Cada segundo que espero, mais Faes são


aterrorizados ou mortos por Cordelia. Qualquer
humano que vagueia com uma linhagem desconhecida
é massacrado. Tem que haver um fim. Eu serei seu
fim. Quer dizer, talvez ela renuncie e não tenhamos que
escalar mais o problema... Mas eu duvido.

Eu não deveria precisar de proteção de pessoas


que me querem no trono de qualquer maneira. Além
disso, Kai estará lá. Possivelmente Rowan... ok,
provavelmente Rowan também.

“Marque a reunião.” Eu finalmente concordo.


“Mas uma condição...”

“Já era hora de você começar a agir como a


rainha.” Rowan cutuca seus dentes, sorrindo para
mim.

“Qual é a condição?”
Droga, Kai é tão bom em ignorar seus irmãos, eu
noto. Isso é algo em que eu poderia melhorar. Tenho
certeza de que terei que ignorar pessoas estúpidas
durante todo o dia como rainha. Eu só tenho que
pensar sobre como me tornei distante quando estava
em um lar adotivo que não era tão bom para mim, ou
em quando eu estava determinada a não ser boa.

“Eu quero ver Jase primeiro.” Não quero, eu


preciso. Eu tenho que ter certeza de que tudo é como
me dizem que é. Eu não ficaria à vontade até que
soubesse que ele está seguro. Ele é tudo que me resta
e vou protegê-lo até o dia de minha morte. O que, visto
que sou meio Fae, provavelmente será
por muito tempo.

“Acho que podemos administrar isso.” O Príncipe


Kai achata as mãos e dá um tapinha no pergaminho.

“Bom, porque isso é inegociável.”

“Droga.” Rowan continua a me encorajar. “Você


aprende rápido, humana.”

Não é humana. Eu acho.

“E Lincoln pode vir.” Acrescento.

“Você estava pensando em me convidar ou apenas


presumindo que eu estarei lá?”

Eu mordo meu lábio. “Você gostaria que eu


enviasse um convite formal? Isso te agradaria?”

“Quer saber, sim, totalmente.”


“Vou escrever, mas espero que você esteja lá se eu
passar por problemas.”

“Lincoln pode vir, suponho. Embora eu não ache


que a corte achará necessário e isso pode colocá-lo em
um pé um pouco diferente do que eles esperam.”
Responde Kai, enquanto Lincoln e eu conversamos
entre nós.

“A Corte não é feita de Faes das Sombras? Por que


eles se incomodariam com a presença do chefe da
guarda?”

“A Corte das Sombras tem alguns intitulados Faes


das Sombras nela...” Violet fala em um tom que diz que
ela está irritada que ainda precise ser explicado.

Infelizmente, todos os meus pontos fortes Fae não


vieram com o guia completo para minha corte. Isso eu
preciso aprender por conta própria. Ainda assim, eu a
deixo continuar.

“Mas existem outros Faes. Faes de sangue puro,


que foram criados por suas vidas inteiras com o único
propósito de ajudar as raças mistas em um mundo que
é totalmente Fae. Suas opiniões são valorizadas acima
do resto. E isso sem mencionar que Lincoln foi um
presente para Cordelia. Sua lealdade deveria ser
inquestionavelmente reservada para ela.”

“Sua lealdade é apenas para Cordelia?” Eu repito.

“Eu disse, ‘deveria ser’, não vá trocar minhas


palavras assim.” O rosto de Violet se franze.

“Fico feliz em ver que seu bom humor foi estragado


como meu sono.” Rowan aponta seu olhar para sua
irmã, puxando uma trança por cima do ombro e
brincando com a ponta dela.

“Eu irei. E vai ficar tudo bem. Eu sei como lidar com
esses idiotas enfadonhos neste momento. Não se
preocupe comigo enquanto toma sua decisão.” A mente
de Lincoln está dividida entre ouvir nossa conversa e
assistir a uma pequena reunião.

Kai e os outros me dão tempo para responder e


posso ver que eles estão esperando que eu termine a
conversa dentro da minha cabeça para que eu possa
responder a eles. Isso deve ser muito irritante e, a
julgar pela expressão em seus rostos, é mesmo. Mas
vou melhorar com o tempo, lembro a mim mesma.

Pego meu garfo de volta e, com pouco esforço,


endireito-o novamente. Estou mais gentil agora com
meu toque enquanto pego minha comida que
finalmente esfriou. Apontando meu garfo, espetado
com outro pedaço de carne, para Kai.

“Marque a reunião.” Eu digo com firmeza. Então


eu sorrio, brilhante e amplo.

Porque eu sei que as coisas vão mudar para


melhor.

Para mim. Para Lincoln.

Para todos os Faes das Sombras.


Dezesseis
VADIA MALVADA

Dias se passaram antes que Kai pudesse avisar


com segurança à corte sobre o nosso encontro
planejado. Cada um deles passou com uma lentidão
tão brutal que eu jurei que o tempo estava
retrocedendo. Eu enchia meus dias de dores de cabeça
por forçar minha concentração em tentativas leves e
principalmente malsucedidas de magia. Depois de dias
tentando, o máximo que consegui, foi parecer diferente
por apenas curtos períodos de tempo. Mas como uma
miragem, elas desapareceriam e eu ainda estaria
sentada com minhas mesmas roupas.

Alguns dias, pratiquei pular da beira da cama na


esperança de que minhas asas batessem e me
levantassem do chão. Raramente funcionava e, quando
funcionava, era apenas por meio segundo. Mesmo com
a largada, não consegui pegar o ritmo para me manter
estável e flutuando antes de cair de joelhos. Era o
mínimo que eu podia fazer sozinha para passar o
tempo. Finalmente, chegou o dia do encontro e, com
igual importância, minha chance de ver Jase.

Eu mudei minha roupa quase mil vezes - tenho


mil opções diferentes - e me conformei com um vestido
branco. Isso me fez parecer mais real, na minha
opinião, embora muito mais pele seja mostrada do que
seria apropriado para o mundo humano.

Este vestido só tem tecido não transparente o


suficiente, na metade superior, para cobrir meus
mamilos. Fora isso, é simplesmente glitter branco
sobre ossatura que mantém a estrutura do vestido. O
decote desce revelando meu umbigo antes que a saia
se feche propositalmente para parecer que estou
constantemente segurando-a para andar. O que,
consequentemente, torna muito mais fácil para mim
andar.

Em parte foi por isso que escolhi a roupa. Eu não


gostaria de me apresentar às pessoas que estarão, nas
palavras de Rowan, me julgando pelo resto da minha
vida e então cair de cara no chão. Porém, agora acho
mais difícil ser tão desajeitada. Meu corpo está mais
consciente do que está ao meu redor o tempo todo, sem
mencionar que a atualização vem com um melhor
equilíbrio.

Uma caixa de presente chegou esta manhã, cujo


conteúdo eu agora coloquei sobre meus ombros e nas
minhas costas. A pele cor de neve, manchada em tons
de cinza e esbranquiçados cremosos, foi moldada em
um xale simples que fecha com um único botão
cravejado de diamante no meu pescoço. Minhas asas
vão ser uma surpresa hoje.

Kai, Rowan e eu fomos colocados em uma pequena


carruagem sem identificação. É incrivelmente...
Claro. Muito menos do que imaginei para uma
carruagem que pertenceria a alguém com pouco
dinheiro. Muito parecido com o meu vestido, podemos
ver a construção do veículo por dentro. É apenas um
pouco preocupante que eu juro que posso ver um prego
avançando para fora de uma das tábuas. Ninguém
mais parece notar.

Então, em vez disso, olho para o meu


vestido. Algumas folhas agarram-se à parte inferior da
saia na parte de trás, onde tocava a trilha que levava
ao portal. Eu aprendi por conta própria muito bem, na
minha espera por este evento, como usar meus poderes
para mudar minha aparência. Minha testa ainda brilha
com o esforço do desafio. Quer dizer, eu fui capaz de
fazer isso.

Para qualquer um que me visse nas ruas antes de


entrar na carruagem que esperava, eu parecia tão
simples como qualquer outro Fae das Sombras. Uma
saia longa e lisa, uma blusa esvoaçante, chinelos finos
como sapatos e um colete leve com capuz que cobri o
cabelo para não ter que pensar em mudar isso. No
momento em que a porta se fechou, deixei minha
magia ir e o vestido se expandiu no assento.

Ambas as aparências de indigente de Kai e Rowan


se dissolvem também. Meu vestido até se arrasta no
colo de Rowan, onde ele se senta ao meu lado. Ele
gentilmente o empurra para longe dele.

“Se isso te incomoda, você pode ir se sentar ao


lado de Kai.” Eu me inclino e tiro uma folha marrom do
meu vestido.

“E perder minha chance de sentar ao seu lado?


Não, obrigado.” Ele estende a mão. “Se você estiver
nervosa, eu poderia te dar algum conforto.”
Eu me viro para olhar pela janela a bela cidade de
Calhutta. “Hoje não.” Nunca, devo dizer.

“Estaremos lá em breve.” Garante Kai, sempre um


cavalheiro. “Na verdade, estamos nos reunindo em um
local de adoração.”

Isso chamou minha atenção. “Uma igreja?”

“Sim. Embora seja a fé do velho, velho, velho


testamento. Você provavelmente não está
familiarizada.”

Eu aceno como se entendesse. Meu joelho começa


a balançar, batendo no chão da carruagem. Estou
apenas esperando chegar a esta igreja para ver Jase. E
Lincoln. Ah, e não posso esquecer, eu tenho que
começar a tentar ganhar algum tipo de tração e seguir
para que eu possa chutar a vadia malvada para fora da
Corte das Sombras e do meu trono.

“Pare com isso.” Rowan cruza os braços. “Você


está saltando toda a maldita carruagem.”

“Se você continuar sacudindo a perna assim, o


pobre garoto vai ficar enjoado.” Kai faz beicinho com o
lábio inferior.

Dou-lhe o mais ínfimo dos sorrisos e luto para


conter a inquietação da minha perna. Decidindo
dobrar minhas mãos com força no meu colo, eu me viro
para olhar para trás pela janela. Elevando-se acima
dos edifícios, tijolos brancos brilham no que resta do
sol atrás das nuvens. Os picos altos parecem
cuidadosamente construídos e administrados com
amor e nada do que eu chamaria de uma igreja velha.
“É aquilo?” Eu aponto.

Kai se inclina para frente para olhar pela


janela. Ele pousa a mão no meu joelho apenas o
suficiente para dar uma olhada rápida na igreja e
depois se recosta em sua cadeira. Meus olhos ficam
tensos no local que sua mão acabou de roçar. Não é
típico dele me tocar sem pedir, em vez de deixar sua
mão pairar como um verdadeiro príncipe.

“É aquilo.” Sua atenção nunca encontra


totalmente a minha. Ele mastiga o lábio, perdido
profundamente em seus próprios pensamentos.

Pode ser que ele esteja tão nervoso com isso quanto
eu. Eu penso comigo mesma. Até mesmo seu
batimento cardíaco parece estar batendo um pouco
mais rápido do que o normal. Bem, o normal a que me
acostumei nos últimos dias.

O resto da viagem é silencioso. Pratiquei dizer ‘olá’


na minha cabeça mais vezes do que consigo
contar. Nesse ponto, nem parece mais uma palavra.
Tenho certeza que vou gaguejar quando estiver na
frente da pequena multidão. Ou Jase pode falar em
meu lugar. Ele nunca está sem opinião.

Meu corpo se sacode para frente com a parada


repentina da carruagem. O crânio espesso de Rowan
bate contra a madeira nua atrás dele. Ele sibila por
entre os dentes e esfrega o local.

“Eu abrirei a porta. A igreja foi gentil o suficiente


para nos hospedar, mas com nossa necessidade de
sermos discretos, pedi que nenhuma ajuda estivesse
no prédio.” Kai mexe na maçaneta da porta. Ela range,
mas não se move.

“Coisa idiota.” Ele amaldiçoa. Ele balança um


pouco mais forte e, depois de um estalo alto, a porta se
abre. “Muito bem.”

Kai me oferece sua mão. Pego o material branco


cintilante da minha saia em minha mão, saindo
levemente da carruagem. Meus sapatos batem no
concreto liso... Ou é mármore? Eu olho mais de
perto. Espirais escuras de cores foram infundidas na
passagem de pedra. O que a princípio pensei ser rocha
plana poderia muito bem ser mármore legítimo.

Fora da carruagem, tenho uma visão melhor da


igreja. O mármore da passarela tece os degraus da
igreja que levam a um conjunto de portas francesas.
Cada painel de vidro é intrincadamente pintado,
representando diferentes cenas de anjos e demônios
em guerra. O edifício como um todo é comparável a
uma mansão, com duas torres de cada lado que se
erguem em direção ao céu.

Rowan sai atrás de mim, gentilmente me guiando


para frente enquanto fico boquiaberta com o edifício
maravilhoso. Eu coloco minha mão no braço de Kai,
admirando as janelas manchadas.

“É tão lindo.”

“Sim.” O príncipe olha por cima do ombro. “Uma


igreja muito bonita.”

Seu comportamento estranho, a tensão


enigmática de sua postura e o tom de sua voz me puxa
do transe. Eu estudo as veias saltando de seu pescoço.
“Tem certeza de que está bem?”

“Sim. Sim.” Ele diz sarcasticamente: “Só sei que


isso precisa ir bem e estou um pouco nervoso. Não há
muitas pessoas nas ruas agora, então não há muitas
testemunhas de nossa entrada. Embora com alguém
tão bonita quanto você com esse vestido branco, eles
podem confundi-la com uma noiva.”

“Ela parece uma deusa do meu ângulo.” Rowan


acrescenta alguns degraus abaixo.

“Lincoln e Jase deveriam estar nos esperando no


porão. Os membros da corte devem chegar logo.” Kai
abre as portas francesas. “Você terá um tempo limitado
sozinha.”

Sozinha. A palavra flutua em minha consciência


por três segundos antes de eu puxar uma respiração
rápida. O mármore não apenas subia pelas escadas,
mas também preenchia o saguão de entrada da
igreja. O chão. As paredes. Tudo isso é
mármore. Espécies de brilho brilham de volta para nós
de dentro da pedra enquanto a luz do sol nos segue.

Deve ter custado uma fortuna para construir.

Kai me leva para outra porta menor. As botas de


Rowan rangem a cada passo, elas combinam com a
batida do meu próprio pulso. A porta se abre para uma
pequena escada. Está escuro, com exceção da luz que
vem por baixo da porta na parte inferior. Existem vozes
do outro lado também.

“Eu pareço bem?” A voz de Jase está trêmula e já


posso imaginá-lo inquieto. Isso traz um sorriso ao meu
rosto.
A voz rouca de Lincoln segue, com pouca diversão.
“Ninguém está vindo aqui para conhecê-lo. Não sei por
que você está tão preocupado com sua aparência.”

“Seu irmão não vai estar aqui?”

Lincoln ri. “Ele já está.”

“O que?” A voz de Jase sobe uma oitava e seus pés


se arrastam como se ele estivesse se virando para a
porta.

Eu alcanço a maçaneta. A mão de Kai, úmida e


fria, colide com a minha.

“Permita-me.” Ele sugere.

Eu engulo as borboletas do meu estômago que


sobem pela minha garganta. Eu deixo a luz da sala
derramar sobre mim enquanto deixamos o último
passo para trás. Eu não me importo em olhar o quarto
ou os arredores, ou educadamente permitir que Kai
solte minha mão. Não. Tudo que vejo é Jase e seu
grande sorriso infantil quando seu olhar encontra o
meu. Seu sorriso cai, seu queixo cai. Eu tiro minha
mão de Kai e corro para ele.

Meu primo rapidamente se recompõe e me pega


nos braços. “Puta merda! Briar. Puta merda!” Ele
repete: “Você está incrível. Você parece tão diferente.”

“A mesma de sempre.” Eu o solto, me afastando e


prendendo seu rosto entre as palmas das
mãos. Dando-me um momento, eu o olho da cabeça
aos pés. De alguma forma, alguém o colocou em um
terno, um bom terno. Seria algo semelhante a algo que
Kai usaria. “Como você está? Você está bem? Cordelia
não fez nada com você, fez?”

“Não, não. Lincoln e Lylix me ajudaram a


encontrar minha própria casa em Calhutta.” Jase
gentilmente puxa minhas mãos de seu rosto e as
segura entre nós. “Eu estou bem.
Como você está? Você parece uma porra de uma
rainha.”

“Ela é uma maldita rainha.” Lincoln murmura em


uma xícara, tomando um longo gole.

Eu lanço para ele um olhar que ele avidamente


ignora. Seus irmãos andam ao nosso redor para se
apoiarem na mesma bancada em que Lincoln se
apoiou.

Jase levanta meu queixo, inclinando minha


cabeça para um lado e para o outro. Seus olhos se
arregalam, quase com medo. “Você se parece com você.
Mas você não se parece com você. É... Louco.”

“Eu sou eu, eu juro. Mas olhe...” Eu desfaço o


fecho do xale de pele por tempo suficiente para mostrar
a ponta das minhas asas. Os olhos de Jase se abrem
ainda mais e eu rapidamente agarro o xale novamente.
“Asas.” Eu sussurro, agarrando seus braços e dando-
lhe uma pequena sacudida.

“Puta merda.”

É difícil não tocá-lo. Para segurá-lo. Faz tanto


tempo que uma pequena parte de mim tem medo de
deixá-lo ir, que ele vai desaparecer assim que eu fizer
isso. Eu aperto seus braços.
“Gentil.” Ele se contorce fora do meu alcance.

“Desculpe, estou me acostumando com a nova


força. Esqueci de tratá-lo como se você fosse frágil.”

“Eu não sou frágil.”

“Bem, você é um pouco.” Eu encolho os ombros.


“Eu sei que você é Fae das Sombras, mas... Você ainda
é você.”

Jase aperta os olhos para mim. “Acho que essa


mudança também pode ter subido à sua cabeça.” Ele
bate o dedo no meu nariz. Meus lábios se curvam em
aborrecimento. “Você está muito bonita, Briar, mas
não deixe seu ego inchar.”

Eu rio, afastando sua mão de mim. “Deixe-me


descer do meu cavalo alto.” Suavemente, endireito seu
terno. Deixamos um breve silêncio cair entre nós,
ambos contentes em deixar esse sentimento crescente
de alegria se espalhar sobre nós.

Rowan joga as tranças por cima do ombro e abre


caminho entre mim e meu primo. Ele oferece dois
copos, com um líquido claro e borbulhante. “A corte
está aqui.” Ele sorri. “Tome uma bebida, você vai
precisar.”

Eu envolvo meus dedos em torno do copo, a névoa


se formando em torno dos meus dedos no vidro
frio. Levando-o até o meu rosto, eu respiro fundo. Meu
nariz se enruga. “Álcool?”

“Sim.” Rowan se inclina para frente com um


sorriso bobo. “Para iluminar o clima.”
“Por que há tanto álcool em uma igreja?” Eu digo,
mas ainda levanto o copo aos lábios e bebo um gole
grande. Por cima da minha xícara, Lincoln faz contato
visual. Ele levanta uma única sobrancelha.

Isso vai muito além do estoque médio para uma


comunhão dominical.

“A maioria das pessoas religiosas não são


alcoólatras?” Kai levanta o copo em saudação.

“Não... Não se elas estiverem fazendo a coisa toda


da igreja corretamente.” Jase inclina a cabeça. Ele olha
para o fluido carbonatado com um alto exame,
inclinando o copo e engolindo alguns goles.

A bebida está em algum lugar entre um vinho e


um uísque, queimando minha garganta e aquecendo
meu estômago. Eu seguro o copo com força entre
minhas mãos.

Kai se anima. “Eles estão aqui.”

“Que legal.” Jase sorri. “Você vai impressioná-los.”

“O que devo fazer? Eu nem sequer perguntei como


devo me apresentar. Como devo dizer olá?”

“O que?” Os ombros de Jase tremem com uma


risada. A risada de Rowan ecoa a sua. “Briar, você está
maravilhosa. Você é maravilhosa. Basta dizer ‘olá’
como você faz quando fala comigo. Não surte.”

“Eu não estou. Não estou surtando.”

“Você parece que está. Pare de suar.” A voz de


Lincoln ecoa.
Franzindo os lábios, coloco o copo na mesa e
ajusto o vestido aos pés. Vozes ecoam no topo da
escada. As mãos finas de Jase agarram meus ombros
e me viram de frente para a porta.

“Sorria.” Ele sussurra em meu ouvido.

“Mas não sorria muito ou você ficará assustadora.”


Lincoln acrescenta.

“Você não está ajudando.” Eu quero me virar e dar


a ele um olhar sombrio, mas eu me fixo no lugar.

“Vou abrir a porta.” Kai balança em direção à


porta. Ele agarra a maçaneta da porta, gesticulando
dramaticamente para mim quando ela se abre.

Casais descem as escadas com entusiasmo. Os


Faes começam a invadir a sala falando uns sobre os
outros com entusiasmo. Quando seus olhos pousam
em mim, eles correm para me cercar. Leva apenas um
momento antes que mãos indesejáveis estejam me
tocando, me cutucando.

“Hm, olá.” Eu gaguejo.

Uma mulher magra, mais membros do que


qualquer coisa, pega mechas do meu cabelo. “É como
ouro fiado.” Ela murmura.

“Ela é infinitamente linda.” Um homem baixo,


cheio de músculos, engasga.

“Ela deve ser nossa verdadeira rainha.”

“Ela se parece com a mãe.”


Os elogios e o exame minucioso de mim se repetem
quando alguém pega um dos meus braços e me gira
como se estivéssemos em uma dança. Enquanto me
viro, pego Lincoln revirando os olhos.

“Meu nome é Malacoy.” Um homem oferece sua


mão, seu rosto parece dolorosamente enrugado.

“Briar.” Eu dou a ele minha mão, esquivando-me


por pouco de outra mulher que se abaixa sob nossos
braços se aproximando do meu rosto. “Posso
ajudar?” Eu pergunto para a mulher enquanto Malacoy
empurra sua jaqueta para trás e vira minha mão para
beijar minha palma.

A mulher, com cachos loiros gelados presos


firmemente em seu couro cabeludo, toca seu nariz no
meu. Eu dou um passo para trás. Um perfume que eu
reconheço como o cheiro de cacau flutua em torno
dela.

“Eu acho você magnífica.” Sua frase pega em seu


ceceio.

“Obrigada.” Eu recuo.

Lincoln toma outro gole e bufa.

“Agora observem isso.” Kai se coloca no meio da


multidão. Suas mãos passam por cima dos meus
ombros, apertando o botão de diamante antes que ele
solte meu xale. Minhas asas levantam e saem de meus
ombros, empurrando a multidão para longe de mim.

Achei que esse momento seria espetacular. Achei


que isso me tornaria identificável. Mas seus oohs e ahs
misturados com seus olhares curiosos só me fazem
sentir como um animal enjaulado no zoológico. Meu
constrangimento percorre todo o meu corpo, até
mesmo meus braços ficam vermelhos.

“Elas são impressionantes.”

“Asas.”

“Uau.” Eles dizem todos juntos.

“Ok, chega disso.” Eu ouço a voz de Lincoln


enquanto ele corta através da reunião, tirando minha
cobertura das mãos de Kai ao longo do caminho.
“Relaxar.” Ele lembra enquanto abaixa o xale sobre
minhas asas e o afivela mais uma vez.

Kai bate uma colher de metal contra o copo


chamando a atenção deles para ele. À medida que sua
atenção se desvia, uma pequena onda de alívio passa
por mim.

“Convidados, estou tão feliz que vocês finalmente


chegaram. Por favor, sirvam-se de alguns refrescos e
podemos chegar ao nosso encontro em breve. Nossa
Rainha Mortal terá muito tempo para responder suas
perguntas enquanto fazemos um plano para levá-la à
coroa dela.”

A pequena multidão de pessoas começa a se


mover à medida que se dirigem ao balcão. O grupo
empurra Lincoln em minha direção. Ele tropeça,
resmungando baixinho sobre a apatia deles com sua
aparição aqui. Um dos membros da corte bate em suas
costas, empurrando Lincoln tanto que sua bebida
respinga em seu peito nu e escorre para suas calças
castanhas.
Eu suspiro e alcanço o balcão, que agora parece
muito com um pequeno bar com toda essa bebida
empilhada em cima dele, e pego uma toalha. Jase
segura seu belo terno e se afasta de Lincoln. Ele se
move suavemente e para apenas quando chega ao lado
de Kai.

“Qual é o seu problema?” Eu corro o pano no peito


de Lincoln, deixando meus dedos deslizarem sobre
cada mergulho em seu abdômen enquanto arrasto o
pano para baixo.

Com olhares de julgamento e alguns murmúrios,


a multidão se dispersa lentamente e se instala em uma
pequena disposição de sofás e cadeiras de veludo
branco. Os assentos recebem luz colorida dos dois
vitrais em arco que tocam o teto. Sob os pés, o chão é
a mesma laje de mármore brilhante e as paredes são
empilhadas com pedras brancas brilhantes. Eu
provavelmente pararia para me maravilhar com a
beleza da sala e deste lugar se a atitude de Lincoln não
estivesse chamando minha atenção.

“Não tenho certeza do que você está falando.” Ele


bate o copo no balcão.

“A zombaria de sua lisonja? Os olhos revirando?”

“Você deve estar vendo coisas, Briar.” Seu sorriso


é azedo.

“Não se atreva a fingir que não está agindo como


um pirralho.”

“Um pirralho? Você está me chamando de...


Pirralho? HA.” Lincoln estreita seu olhar em mim.
Ignorando seu escrutínio, procuro outra sala para
entrar. Do outro lado da área de estar há uma porta de
madeira branca lisa. Eu ando ao redor de Lincoln,
encontrando Kai.

“Se você nos der licença por um minuto, já


voltamos.” Eu levanto um dedo e aponto para a porta.

As sobrancelhas de Kai se juntam enquanto ele


segue meu dedo. “Você vai…”

“Já volto.” Eu estalo, prendendo meus dedos ao


redor do pulso grosso de Lincoln e arrastando-o para
longe. Ele rosna, deixando seus pés agarrarem o chão
a cada passo.

Dou à multidão, qualquer um que esteja me


observando, um sorriso doce e uma leve reverência,
antes de abrir a porta, empurrando Lincoln para
dentro da sala escura, nos fechando juntos. Minhas
costas batem em uma prateleira e dou um passo à
frente apenas para esbarrar diretamente em Lincoln.

Minhas mãos se atrapalham contra a parede ao


nosso lado, procurando por algum tipo de interruptor
para uma luz que não encontro.

“Não consigo encontrar o maldito interruptor de


luz.”

“Você precisa de luz para me dizer por que você


me fechou em um espaço tão pequeno.” Seu rosto roça
meu cabelo. “Tudo o que posso sentir é o seu cheiro e
isso está me deixando bêbado mais rápido do que o
álcool.”
Minhas bochechas queimam e estou grata por ele
não poder me ver, pelo menos não o suficiente para
reconhecer o rubor. Suas mãos traçam sobre meus
quadris e se acomodam contra a menor parte da minha
cintura. Tento dar um passo para longe ou me ajustar
para que não fiquemos um em cima do outro, mas só
bato em mais parede, mais prateleiras. Os itens
empilhados atrás de mim tombam ruidosamente
conforme eu me movo.

Droga. Não há porra de um interruptor aqui. As


paredes parecem ainda mais apertadas enquanto
meus pensamentos admitem o quão fechada eu me
sinto. Cada movimento esbarra em Lincoln, que fica
tão firme quanto qualquer outra parede.

Por que ele está tão perto?

“Por que você não dá um passo para trás?”


Pergunto.

“Eu não posso. Por que você não vai direto ao


ponto para que possamos voltar lá e você possa ser
elogiada por seus maiores fãs?”

“Isso não é o que é.” Eu balanço meu dedo contra


seu peito.

Lincoln agarra minha mão em sua palma quente.


“Isso é o que parece para mim.”

“Você está com ciúmes da atenção que todos estão


me dando? O que é isso Lincoln? Seja honesto, eu
prefiro que você diga ou então eu vou vasculhar sua
mente para descobrir.”
“O quê? Não. Eu não sei, eles ficam dizendo que
você é um poder da beleza, mas... Você é a mesma para
mim.”

“Poder da beleza? Quando eles disseram


isso?” Tento pensar no bombardeio de saudações. Eu
mal pude distinguir quem era quem e que mão estava
me tocando por um minuto ali. “Oh... e ‘você é a
mesma’ então... Tudo bem. Insulto.”

“Não.” Ele aperta minha mão com mais força.


“Você… Você sempre foi um poder de beleza. Desde o
momento em que você tentou chutar minha bunda no
segundo em que nos conhecemos. Poder e beleza.”

Estamos tão perto que ele só precisa inclinar um


fio de cabelo para a frente para que nossos lábios
possam encostar. Suas palavras se repetem em minha
cabeça, enchendo meu peito de esperança
crescente. Eu respiro longa e lentamente, absorvendo
sua proximidade. A mão que não está firmemente
envolvida na dele, roça seus peitorais. O pedaço de
cabelo claro é macio, enrolando em torno dos meus
dedos enquanto eu sigo seus músculos rígidos. Seu
coração dispara com o toque. O som foi captado por
meus novos e aprimorados sentidos.

“Eu te deixo nervoso, Lincoln?” Eu sussurro.

Ele ri secamente. “Não, claro que não.”

Mas a batida de sua alma bate com mais força


contra meus dedos.

“Eu posso ouvir como seu pulso pula com o meu


toque.” No escuro, tento tocar a barba por fazer que
cobre sua mandíbula.
“Você não me deixa nervoso.” Lincoln cantarola,
sua boca se arrastando para beliscar minha
orelha. Inclino minha cabeça, permitindo que ele
acesse minha garganta. Seus dentes arranham minha
pele. “Você me deixa louco.”

Seus dentes mordem meu pescoço, não forte o


suficiente para perfurar a pele, mas forte o suficiente
para parecer uma reclamação de posse. Ele beija
suavemente sobre o local enquanto eu suspiro e sinto
meus joelhos fraquejarem.

“Eu não parei de pensar sobre como é estar com


você.” Ele respira, deixando seu nariz esfregar contra o
meu. “Cada segundo. Cada hora. Cada dia. Eu quero
me enterrar em você.”

Segurando sua nuca, coloco minhas mãos em seu


cabelo desgrenhado e o puxo contra mim. Eu pressiono
meus lábios contra ele, deixando minha frustração e
raiva saírem em um empurrão e puxão apaixonado que
ele retorna. Ele morde meu lábio, antes de se soltar.

“É apenas no sexo que você pensa, então?” Eu


ofego. Porque se for, terei que traçar a linha aqui e
agora.

Por favor, seja mais do que sexo. Por favor. Minha


mente implora por ele. Abro minha mente, mesmo que
uma parte de mim não se importe se ele minta para
mim, sei que é para o meu próprio bem e para sentir a
verdade por trás do que quer que ele diga a seguir.

“Nunca foi apenas o sexo.” Suas palavras são um


som áspero que ele pressiona contra meus lábios. Ele
diz isso lentamente, me deixando cutucar e cutucar
sua mente enquanto ele faz. Meu espírito se enrola
contra o dele enquanto o prazer de sua honestidade
vibra entre nós.

Lincoln geme e inclina a cabeça para trás


enquanto nossas mentes se acariciam. Ele inclina seus
quadris, esfregando seu comprimento contra mim.
“Briar, vou arruinar você.” Tudo em sua voz, tudo
dentro de sua mente, desmorona com as paredes que
ele construiu entre nós.

Ele se preocupa com minha reputação. Ele se


preocupa em ter a chance de governar a Corte das
Sombras. Mas a parte egoísta dele que ele tenta
esconder, a parte dele que quer me amar, me manter
só para ele, incha a cada golpe sem dedo contra sua
mente.

“Vamos fazer funcionar.”

A cabeça de Lincoln se projeta para a


frente. Ambos os braços me envolvem, me segurando
perto dele. Ele separa meus lábios com o golpe de sua
língua, provocando-me com um beijo. Meus lábios
estão inchados com o hematoma áspero de seus beijos
que beliscam em mim sem um fim previsível.

“É egoísmo da minha parte.” Ele suspira.

“É altruísta da sua parte.”

“Quero você.” Meus pensamentos ecoam.

Seu pau lateja quando eu sinto meus


pensamentos se registrar nos dele. Um rosnado áspero
enche seu peito, subindo baixo em algum lugar dentro
dele. Com os dois braços, ele puxa a saia do meu
vestido para cima.

“Sim. Por favor. Por favor. Por favor.”

Torço por ele enquanto a umidade entre minhas


pernas encharca minha calcinha de renda fina. Seu
polegar engancha a tira da minha calcinha e puxa para
baixo. Lincoln agarra um punhado do meu cabelo,
puxando suavemente enquanto guia minha boca de
volta para a dele.

“Se eu reivindicar você...” Ele me beija


rapidamente antes de inclinar minha cabeça, beijando
e mordendo ao longo da minha mandíbula. “Haverá
resistência da corte. Haverá resistência da minha
mãe.”

“Sua mãe é uma vadia malvada.”

Ele sorri contra mim. “Não vamos falar sobre ela


agora, no entanto.” Sua mão desliza entre minhas
pernas. “Eu vou reivindicar você. Eu vou te foder como
você merece ser fodida.” Seus dedos separam meu
sexo, um pequeno zumbido de aprovação emanando
dele enquanto ele desliza alguns dedos profundamente
dentro de mim. “Só espero que você não se arrependa
porque não há como voltar atrás.”

O aperto de Lincoln no meu cabelo é tudo o que


realmente me segura. Dois dedos mergulham dentro de
mim enquanto seu polegar circula meu clitóris. Cada
parte de mim fica tensa e à beira de algo muito distante
para alcançar. Meu cérebro está nebuloso demais para
pensar. Cada fibra de mim está muito atraída por ele
para se preocupar com qualquer repercussão. Eu só
quero que ele faça isso, faça mais, me toque e me
ame. Cuide de mim.

Me reivindique.

Um coro de risadas vem da outra sala. Minha


respiração ofegante silencia em um instante. Isso me
faz ciente de quão próximos estão os Faes que estão
esperando para me julgar.

“Eles não podem nos ouvir?” Eu sussurro.

Lincoln puxa sua mão de mim, deixando-me em


carne viva e exposta. “Humm, possivelmente.” Ele
sussurra com uma pitada de diversão.

Um sorriso selvagem e indomado levanta minhas


bochechas. Eu corro minhas mãos em seu peito,
desafivelando suas calças, empurrando-as para longe,
segurando seu comprimento entre nós. Sua respiração
engata. Eu acaricio novamente e novamente e
novamente.

Com meu vestido enrolado em meus quadris, é


mais fácil me abaixar até o chão. Meus pés batem
contra itens que se agarram atrás de mim enquanto eu
descanso de joelhos. Há tanto dele, levo minhas mãos
e as empilho na base de seu pênis. Eu lambo meus
lábios e trago minha boca sobre ele. Seus ombros
batem na parede atrás dele, espalhando o que quer que
estivesse atrás dele com um barulho semelhante.

Movendo minhas mãos em direções opostas, eu


corro minha língua sobre seu eixo grosso, chupando e
mergulhando-o dentro e fora da minha boca. Seus
dedos se entrelaçam no meu cabelo, suavemente no
início... Mais áspero em segundos. Há uma gota de pré-
sémen na borda que mancha o gosto dele com sal.

A umidade goteja de meus lábios, cobrindo cada


centímetro de seu membro e fazendo minha mão
escorregar contra ele. Lincoln se afasta de mim,
puxando-me para ficar de pé.

“Não.” Ele corta. “Este não é um momento para


você se curvar a mim. Você é a rainha e não deveria
estar de joelhos.”

“Eu quero.”

“Não tanto quanto eu quero.”

Lincoln me dá um beijo rápido, indiferente à


umidade ao redor da minha boca. Ele afunda abaixo
de mim, deixando minha saia cobri-lo. Minha mão
alcança a parede e algo bate no chão antes que eu
encontre meu equilíbrio.

Faes conversam entre si do outro lado da porta


fina. O pensamento de ser pega envia um arrepio
emocionante pela minha espinha. Eu agarro a
prateleira atrás de mim enquanto ele guia minhas
pernas um pouco mais afastadas e passa a língua
sobre a minha umidade.

A ponta de sua língua me corta e circula enquanto


ele suga suavemente meu clitóris. Eu me contorço,
tentando segurar os sons que querem escapar de
mim. Lincoln enterra o rosto entre as minhas coxas,
lambendo toda a minha umidade enquanto cria muito
mais.
Ele pressiona todos os botões certos,
enganchando um dedo em mim para acariciar o que eu
rapidamente percebo que é o meu ponto G. É um
sentimento novo ter outra pessoa encontrando meu
prazer tão facilmente, um que nenhum dos meus
amantes anteriores jamais foi capaz de encontrar.

Tudo se constrói dentro de mim ao mesmo


tempo. É uma onda de sensações correndo em direção
a algo tão, tão perto.

Desta vez, eu não consigo segurar meu gemido.


Não quando ele acaricia e bate contra ele enquanto sua
língua balança contra mim no ritmo perfeito. Ele
permite que todo o êxtase borbulhante dentro de mim
cresça, sua mente se regozijando enquanto meus
quadris balançam por conta própria. Minhas pernas
tremem. Ainda assim, ele me acaricia e sacode a língua
até que um orgasmo devastador me consome.

Um prazer quase insuportável atravessa meu


núcleo, me fazendo arquear minhas costas, cada
músculo dentro de mim apertando contra seus
dedos. Eu grito, os Faes do outro lado da porta ainda
conversando alto entre si como a melodia da minha
música.

Lincoln junta minha saia de volta em suas mãos,


pegando minhas duas coxas e me levantando do
chão. Meus cílios ainda estão vibrando quando uma
espessura dura pressiona contra meu clitóris.

E então ele me ajusta mais uma vez contra ele


antes de deslizar lentamente para dentro.
Eu suspiro enquanto ele geme e leva seu tempo
facilitando em mim e me esticando.

Uma vez que ele está enterrado bem fundo, eu me


balanço contra ele. Ele abaixa o rosto em meu peito,
beijando meus seios descuidadamente. Depois de um
breve momento, começo a me esfregar contra ele,
empurrando-o cada vez mais fundo. Nossos
movimentos ficam mais ásperos.

Mais rápido.

A sombra do meu último orgasmo torna tudo mais


sensível. E cada movimento ameaça me mandar para
uma espiral.

O peito de Lincoln está escorregadio de suor e meu


cabelo gruda nas laterais do meu rosto. Nós ofegamos
por ar, nossos peitos se empurrando um contra o
outro. Ele bate em mim com tanta força que minha
cabeça bate na parede, mas a força disso é exatamente
o que me traz ao meu auge. Eu quero gritar com a pura
intensidade das ondas perfurando cada parte de
mim. Posso sentir o que ele sente, todas as barreiras
de sua mente quebradas e desaparecidas. Tudo isso
contribui para a minha libertação.

Com força, a boca de Lincoln aperta a minha,


pegando e silenciando o grito que começa a explodir
para fora de mim enquanto ele me faz gozar mais uma
vez.

Este homem sabe o que está fazendo.

“Porra.” Ele rosna. “Você é viciante, Briar.”


Ele bate em mim, batendo contra meu sexo. O ar
sai dele enquanto ele me preenche inteiramente. Eu
posso sentir o quão perto ele está de terminar e isso
me provoca de desejo.

Através da minha própria névoa de êxtase, eu


esfrego cada parte da minha maciez contra ele,
fodendo-o tão profundamente quanto ele pode ir até
que seus lábios se separem com a respiração mais
lenta que nunca parece atingir totalmente seus
pulmões.

Lincoln me segura contra ele, empurrando, com


rapidez e força, até que seu corpo entra em
convulsão. A força de seu orgasmo sacode minha
mente e faz meus músculos apertarem em torno de seu
pau enquanto ele vibra através de mim tanto quanto
dele. O gemido que sai dos meus lábios é mais um
grito.

Ele se levanta, apenas para empurrar o mais


fundo que pode. Então, lentamente, ele se afasta de
mim.

Eu me sinto vazia sem ele. Gentilmente, ele me


coloca sobre as pernas instáveis, mas tenho que me
inclinar fortemente para me manter em pé. Dedos
ásperos encontram meu queixo e me puxam para um
último beijo.

“Você é minha agora. E nenhum outro homem


pode reivindicá-la.” Ele chega acima dele e a luz pisca,
acendendo.

Minha... Lembro-me muito claramente de como os


Faes não namoram.
Eles fodem.

De repente, estou ciente de que o que ele e eu


temos é mais do que foder. Muito, muito mais.

Pisco, mas meus olhos se ajustam à luz tão


rapidamente que percebo que não é necessário, mas
um hábito. Lincoln se abaixa para puxar as calças.

As paredes pareciam tão próximas, o quarto tão


pequeno, porque... é. Materiais de limpeza e vassouras
estão cuidadosamente alinhados em prateleiras ou
pendurados em ganchos. A... A porra de um armário
de vassouras?

Meu Deus. Eu me pergunto quantos deles sabiam


que eu estava levando Lincoln para um armário e não
apenas uma sala diferente.

Eles ouviram o barulho dos materiais de limpeza


e o barulho provavelmente mais alto do meu clímax?

Não há como esconder o carmesim que sobe pelo


meu pescoço e mancha minhas bochechas e minhas
orelhas agora. Lincoln dá um sorriso afetado ao pegar
alguns trapos que estão dobrados atrás da minha
cabeça. Suas calosidades agarram meu vestido
enquanto ele move a saia e usa um pano para enxugar
toda a bagunça.

“Estamos na porra de um armário de vassouras.”


Eu digo.

“Eu também posso ver isso.”


Eu puxo minha calcinha e empurro meu vestido
amassado. Lincoln alisa meu cabelo e dá um beijo lento
na minha testa.

“Bem...” Eu engulo. “Temos que voltar lá para fora


algum dia.”

“Devíamos voltar lá agora.”

“Como estou?”

“Como se você tivesse acabado de ser fodida.”


Sussurra Lincoln com um sorriso.

“Pare, não. Você deveria me fazer sentir


melhor.” Eu cubro minhas bochechas quentes.

Ele puxa minhas mãos para baixo. “Você está


linda. Gostaria que eu abrisse a porta para você?”

“Se você fosse tão gentil.” Minha voz está tensa. O


calor do momento está se dissolvendo rapidamente
enquanto meu peito e estômago se contraem com o
nervosismo familiar. É ampliado pelo conhecimento de
que, mesmo que ajam como ignorantes, todos na sala
ao lado provavelmente sabem o que acabamos de fazer.

Apaguei a luz, esperando que, se eles não


soubessem que era um armário, continuariam a não
saber. Isso alivia algumas das minhas preocupações.
Lincoln abre a porta. Quando eu passo na frente dele
e entro na próxima sala, ele enrola uma mecha de
cabelo em seu dedo como se para reformar o cacho.

A atenção de Jase está imediatamente em


mim. Seus olhos perfuraram minha pele, seus lábios
pressionam com força para conter um sorriso. O
branco de seus dentes aparece e ele cava na carne de
seu lábio inferior enquanto eu pisco meus olhos em
advertência.

Então talvez este não fosse o melhor visual para


uma rainha em ascensão...

“Ela está de volta!” Alguém comemora.

“Eu acho que você quer dizer, ela gozou.” Jase diz
baixinho com aquele mesmo sorriso idiota.

Meus olhos se arregalam, mas ele é o único que


comenta isso.

“Oh, eu não consigo superar sua beleza.” Alguém


diz.

“Estou tão ansioso para torná-la minha rainha.


Gah, eu seria devotado apenas por causa de como ela
é linda.” Elogia outro.

Os elogios chovem sobre mim. Não sou capaz de


manter contato visual com nenhum deles por muito
tempo. Eu desvio minha atenção de um rosto para o
outro, dando a cada um deles um sorriso educado até
que finalmente pego Kai. Assim que olhamos um para
o outro, ele não contém seu sorriso malicioso.

Kai se levanta de seu assento, movendo-se


rapidamente em direção ao bar. “Deixe-me pegar uma
bebida para vocês dois, eu acho que vocês podem
precisar.”

“Não pense demais.” Lincoln me lembra. “Lembre-


se, nós, como Faes, celebramos nossa sexualidade.
Honestamente, tivemos sorte de eles não terem ouvido,
e então saímos para uma orgia.”

“Na Igreja? Oh, Deus. Acabei de fazer sexo em uma


igreja. Talvez eu precise dessa bebida.”

“Relaxar.” Kai caminha até nós, dois copos nas


mãos, um sorriso conhecedor iluminando seu rosto.
“Sente-se. Estávamos conversando sobre como a
Rainha Cordelia está planejando outra limpeza.”

Kai coloca a mão nas minhas costas, me


empurrando para uma cadeira vazia na frente da
quadra reunida. Lincoln dá um passo rápido atrás de
nós. Eu me abaixo na cadeira, meu corpo rígido apesar
da almofada macia do assento.

Lincoln agarra o braço de Kai, segurando seu


olhar. “Chega de tocar.”

Kai resmunga uma risada superficial, saindo do


alcance de Lincoln. O príncipe faz uma reverência
zombeteira para Lincoln. “Beba, irmão. Você está
muito rígido.”

Estranhamente, eu rio também. Seguro o novo


copo e o levanto para Lincoln. Ele inclina seu copo na
direção do meu, deixando nossos copos tilintarem
antes de levá-los aos nossos lábios. Seus olhos nunca
deixando seu irmão. Ele paira atrás da minha
cadeira. Juntos, nós dois engolimos uma grande parte
de nossas bebidas.

Kai puxa uma cadeira para o meu outro lado e se


inclina para frente em seu assento, ansioso para
ouvir. Eu vasculho a sala em busca de Rowan. Os
irmãos que deveriam me proteger, como o rei Dravid
havia dito. Rowan se empoleirou no braço de uma
cadeira de encosto alto em que uma das damas da
corte se acomodou. Ela conversa carinhosamente com
ele enquanto ele flerta descaradamente. Seus
sussurros, embora cada um seja mais áspero que o
outro, são quase calmantes. Nem toda a atenção está
em mim.

E pelo menos ele não está tentando fazer avanços


sobre mim.

“Eu pensei que tinha acabado com as limpezas de


uma vez por todas?” Tento recomeçar a conversa.

“Você enfrentá-la acabou com isso por um tempo.


Mas depois que você fugiu da corte, ela enlouqueceu
de novo.” A mulher com braços e pernas muito longos
diz.

“Ela está entrando em uma espiral de loucura.” O


homem ao seu lado confirma.

“Mais loucura do que ela já existia.” Seu terno


marrom simples é recheado de músculos, esticando a
provocação contra ele quando o homem baixo se
inclina para frente. “A vidente que ela encontrou deve
chegar hoje depois de sua longa jornada.”

“Ela não poderia ter disponibilizado um portal


para ela?” Eu sussurro para Ziko.

“Ela não gosta de portais.” Ele encolhe os ombros.

“Vamos consertar tudo isso em breve!” Kai lembra


a todos. “Em primeiro lugar, teremos que ir à corte e
nos certificarmos de que eles estão cientes de que ela
está aqui. Então poderemos construir seus seguidores,
aumentar seu apoio, reunir o exército contra a
rainha!” Ele comemora.

A corte aplaude alegremente junto com ele. Seus


rostos refletem sua empolgação.

Em seguida, suas características ficam


borradas. Eu fecho meus olhos com força, em seguida,
os abro novamente na esperança de piscar para afastar
a confusão. Lincoln coloca seu peso na minha cadeira,
apoiando-se pesadamente nela.

“Estou fazendo planos para enviar meu sobrinho


para a cidade.” Alguém diz, uma voz masculina, mas
soa embaixo d'água e não consigo identificar o local.

Acho que minha ansiedade está me afetando. Algo


está errado. O pensamento flutua no fundo da minha
mente.

Meus braços e pernas afrouxam, minha cabeça


fica tonta, então eu me inclino para trás na cadeira. A
mão de Lincoln cai no meu ombro, seus dedos tateando
contra minha pele até que ele finalmente é capaz de me
segurar.

“Eu acho... Nós fomos drogados.” Lincoln


concorda. Isso ou este espumante é simplesmente...
Bom.” Ele suspira alto, com um sorriso satisfeito.

“Você está bem?” Eu reconheço a voz de Jase, mas


a sua pergunta foi abafada.

Lascas de madeira voam quando a porta explode.

E um grito de guerra ressoa enquanto o som de


um exército invade a sala.
Dezessete
CORRENTES E CHICOTES NEM SEMPRE ME
ENTUSIASMAM

Homens de torço nu da guarda da Corte das


Sombras, eu rapidamente reconheço em meus
pensamentos nebulosos, enchem a sala. Mãos pesadas
agarram os membros da corte, que levantam as mãos
em sugestão de inocência e rendição. Gritos femininos
delicados sacodem meus ouvidos enquanto os guardas
tomam os rebeldes da corte e os mantêm no lugar.

“O que está acontecendo?” Um dos homens estala.

Rowan dá um tapa na mão de um guarda e se


move para ficar na minha frente. A cadeira de Kai cai
no chão quando ele se levanta em um movimento
indistinto. Minhas unhas cravam nos braços da
cadeira. Eu descruzo minhas pernas, a adrenalina e o
medo fazendo meu coração bater forte dentro de mim,
nervosa de se eu ficar de pé, vou cair de volta na minha
cadeira.

Um vestido vermelho brilhante aparece na minha


visão turva mais rápido do que o reconhecimento de
quem está usando a roupa. Pedras cintilantes caem em
cascata pelas curvas de uma rainha arrogante. Os
olhos azuis da Rainha Cordelia estreitamente
percorrem a sala. Ela fixa seu olhar em mim.
“Você parece positivamente... Fae.” Seus olhos
brilham de raiva. “Guardas.” Ela grita. “Prendam
aquele traidor.”

“Não.” Lincoln e Rowan gritam ao mesmo tempo.

Lincoln avança enquanto os guardas começam a


se movimentar. Rowan se mexe, mas só para quando
uma espada aparece em seu pescoço. Kai segura o
cabo de sua adaga em um ângulo na garganta de seu
irmão.

“Não se mexa, Principezinho.” Sussurra Kai em


seu ouvido.

“O que você está fazendo?” Eu engasgo com as


palavras, tentando me levantar. Cordelia ri de meus
esforços.

“Sinto muito, Cupcake.” Kai faz beicinho. “Eu


queria que isso funcionasse entre nós, você realmente
foi uma boneca, uma ótima convidada.” Acrescenta ele
com humor seco. “Mas eu sabia quando você visitou a
Corte de Ferro a primeira vez que Lincoln iria
reivindicá-la. Eu pensei que talvez, se eu fosse
paciente, poderia ganhar sua afeição de outras
maneiras além dessa amizade boba. Então, fiz um
acordo para sair do controle de meus pais. Um acordo
para ser rei, para finalmente obter o poder que
mereço.” Sua boca cai em um sorriso de escárnio.

Rowan luta contra seu irmão. “Eu não posso


acreditar em você agora. Você é um traidor!”

“O único traidor aqui é a Senhorita Briar Anders.”


Cordelia balança os quadris dramaticamente enquanto
se separa da multidão para vir até mim.
“Kai.” Eu sussurro, praticamente implorando.
“Não faça isso.” Eu estendo a mão para ele, minhas
mãos tremendo e úmidas. Kai inclina a si e seu irmão
para longe de mim, apenas desdém permanece em seu
olhar.

“Você selou seu próprio destino. Minha mãe fez


arranjos para que a Corte de Ferro e a Corte das
Sombras se unissem como uma, para Cordelia e eu nos
casarmos. Se tivéssemos sua coroa, tal arranjo não
poderia ser feito. Eu nunca poderia ter seu coração e
você até disse que não vai se casar pelo poder.” Kai
cospe em direção a Lincoln.

Os joelhos de Lincoln cedem diante de mim. O


metal de suas algemas quica um no outro quando as
mãos dele caem em seu colo. Seus ombros se curvam
para dentro enquanto eu finalmente fico de pé.

Cordelia estende um braço esguio, ela cutuca meu


queixo suavemente, fazendo meu corpo balançar antes
de cair de volta na cadeira. O ar sai das almofadas ao
meu redor.

“Eu tenho minha vidente e vamos confirmar


exatamente o que você é. Ou você é minha irmã há
muito perdida que precisa ser rapidamente colocada
para descansar. Ou você é uma impostora que deveria
perder a cabeça por sua mentira.” Ela cruza os braços,
satisfeita. “Amanhã à noite você estará morto.”

“Sua bruxa má!” Jase grita. “Você não pode tocá-


la. Eu não vou deixar você tocá-la.”

“Cale-se!” Ela grita. Sua mão corta o ar, sua palma


colidindo com a bochecha de Jase. A cabeça dele vira
para o lado, sua pele vermelha no formato da marca de
sua mão. “Traga-o como potência de alavancagem.” A
rainha late para os guardas.

Existem várias dela em minha visão, todas elas


balançando e lutando umas com as outras para me
orientar o suficiente para entender onde ela está. A
rainha se abaixa, batendo um dedo na testa de Lincoln.

“Você será rápido em se juntar a ela.” Cordelia se


agacha ao nível de Lincoln. Ela se inclina para frente
farejando o ar ao redor dele. Ela bufa um suspiro. “O
cheiro dela está em seus lábios. Você terá sorte se eu
deixar que você se lave antes de se juntar a ela no
túmulo.” Ela agarra um punhado de seu cabelo,
puxando sua atenção para ela.

Assim que seu rosto se levanta para encontrar seu


olhar carrancudo, ele se levanta, empurrando-a
rudemente com as palmas das mãos. Ele é lento, mas
se move para tirar as algemas de metal que cobrem o
ferro sob sua pele. Lincoln quase teve sucesso antes de
uma horda de seus próprios guardas colocarem as
mãos em seus braços.

Seu grito berrante e raivoso ruge pelo ar. Até eu


me afasto do som.

“Rainha Mortal.” Cordelia se vira para mim. Em


um único segundo, ela se lança para a frente,
embaçando minha visão, e envolve minha garganta
com a mão. “Eu queria fazer isso há tanto tempo e
nunca tive provas suficientes para manter o público à
distância. Obrigada por me libertar do trabalho de
aumentar sua atividade traidora.”
Ela aperta. O ar mal consegue sair pela minha
garganta e minhas mãos sobem para empurrar contra
o braço dela.

“Deixe ela ir.” A voz de Jase está cheia de pânico,


poderosa, mas trêmula ao mesmo tempo.

“Eu mesmo vou te matar por isso, Kai.” Rowan diz


a seu irmão.

“Cale a boca, seu palhaço. Ela também não te


ama.” Kai pressiona a faca na garganta de seu irmão
desenhando uma linha fina de sangue.

Fico na ponta dos pés tentando lutar para me


manter de pé, tentando encontrar uma maneira de
recuperar o fôlego. Cordelia me joga para o lado.

Dor torce em meus tornozelos enquanto eu luto


para me segurar, mas as gotas do meu vestido
arranham contra o chão quando eu caio em uma pilha
vergonhosa. Eu só fico lá tempo o suficiente para meus
braços me levantarem de volta. Então o mundo se
confunde quando vários pares de braços me agarram e
me arrastam para frente. Eles não se importam em me
deixar colocar meus pés sob mim.

Eu procuro, tentando encontrar algum tipo de


força dentro de mim, alguma chama deixada dos
poderes que conheço tão pouco. Meu corpo não é nada
além de uma concha vazia. O que quer que Kai tenha
misturado com nossas bebidas roubou de Lincoln e eu
nossas forças.

Degraus de mármore batem em meus joelhos e


canelas, a única coisa que pode manter meu
foco. Cordelia já está atacando à frente, ela joga as
mãos no ar e o vento sopra violentamente ao nosso
redor. Um buraco negro escuro aparece contra a
parede da igreja e ela aponta seus guardas através
dele.

“Leve-os para o castelo. Para o pátio. Lincoln


aprenderá a lição e eu queimarei esta igreja.”

Com sua corte ainda presa dentro, eu


percebo. Cordelia vai matar os membros de sua corte.

E Rowan.

Lágrimas quentes se formam em minhas


pálpebras. Abro a boca para me opor impotentemente
à decisão. Mas os guardas correm para o portal e meu
corpo fica sem peso.

Meus gritos ressoam entre os dois mundos. É


preenchido com uma tristeza derrotada e é
interrompido quando meus joelhos batem no chão. O
material do vestido se rasga com o poder do movimento
e estou certa de que sem meu lado Fae finalmente
liberado, a queda teria quebrado minhas duas pernas.

“Amarre-a lá. Ela está fraca demais para


incomodar mais.” Um guarda fala para o outro.

“Não.” Eu digo, lutando para me arrancar de seus


braços.

Ele ri, me puxando como uma criança.

“Eu sou a Rainha Mortal. Eu sou sua verdadeira


rainha. Deixe-me ir. Deixe-me ir.” Minhas palavras
arrastadas juntas, abafadas pelo rugido de Lincoln.
Olhando por cima do meu ombro, uma multidão
se reuniu. O que parece ser o pessoal da mansão
preenchendo o vale atrás do jardim. A grama mancha
meu vestido branco de verde e a sujeira abaixo
adiciona uma linha marrom.

Os guardas esticam os braços de Lincoln em dois


postes, amarrando-o a eles, de joelhos. Um deles
aponta para a multidão e só consigo distinguir a
palavra ‘traidor’ e ‘punição’ por cima do rugido em
meus ouvidos.

Jase luta contra um guarda à margem da


multidão. Eles enfiam uma mordaça em sua boca,
jogando-o no chão, prendendo-o no chão sob a bota de
um guarda. O pessoal olha de um para o outro com
olhos arregalados de medo. Posso sentir a atenção
deles movendo-se entre Lincoln e eu.

A corda cava na minha pele enquanto o guarda me


amarra a uma estaca de madeira no chão. Tudo foi
configurado para isso. Esta não foi apenas uma
confissão de última hora que Kai fez na esperança de
convencer Cordelia a se casar. Este tinha sido seu
plano por tempo suficiente para Cordelia definir o
cenário. Toda a nossa amizade foi uma ilusão feita de
fumaça e espelhos?

Uma névoa escura e ondulante segue a rainha


quando ela emerge do portal. Ela tira cinzas das mãos,
fechando o punho e o portal ao mesmo tempo.

Um soluço preocupado sai dos meus lábios. O que


dizer de Kai? E Rowan? E quanto à minha corte?
Um chicote estala. Isso rasga meu foco para um
ponto com clareza pontual. A pele se divide nas costas
de Lincoln, sangue vermelho jorrando do corte. Ele se
estica contra as amarras, afastando-se da dor nas
costas. Minhas costas também se arqueiam. A agonia
do golpe tão alto dentro de sua cabeça que quase posso
senti-lo queimando minha pele.

Não. Não. Não. Eu não posso assistir isso.

Não. Não. Não. Ela não pode vencer.

“Lincoln Ziko. Você está acusado de conspirar


para esconder uma possível candidata à coroa. Você
traiu minha confiança e a confiança deste reino.” A
rainha rosna.

O chicote estala novamente. Lincoln grita, as


cordas rangem.

“Estou aqui. Estou aqui, Lincoln.” Eu grito em


minha mente.

“Não olhe.” Ele insiste.

Mas eu não consigo desviar meu olhar. Não


consigo desviar o olhar sem sentir que o estou
deixando sozinho. Ele está levando essa punição por
mim. Eu sou a razão pela qual ele está sofrendo agora.

“Cordelia, não faça isso com ele!” Eu grito. “Sou eu


que você quer destruir. Sou eu quem você deveria estar
punindo.”

“Pare com isso.” Os pensamentos de Lincoln


gritam. “PARE.”
“RAINHA!” Cordelia grita. “Você vai me chamar de
rainha. E eu tenho meus planos para você.” Ela aponta
um longo dedo trêmulo para mim. “Açoite nele de
novo.”

O guarda levanta o chicote e o golpeia de volta. Os


gritos de Lincoln se repetem pelo vale. A multidão
suspira, muitos prendendo a respiração ou dando um
passo para trás. Mas eles não podem partir. Não,
Cordelia precisa de uma audiência e eles não têm
escolha a não ser ficar.

“Não.” Grito de novo, olhando para a multidão.


“Eu sou a sua rainha. Eu sou a sua rainha.” Repito o
sentimento enquanto as lágrimas caem em torrentes
contra minhas bochechas, tornando a pele esticada.
“Pare de machucá-lo. Ele é meu. E eu amo ele.”

Os ombros de Lincoln tremem enquanto ele se


inclina para a frente, puxando a corda o máximo que
pode. Sua dor vive dentro de sua mente, com raiva e
vergonha.

O rosto de Cordelia brilha de raiva roxa. “Oh, você


o ama.”

Seus saltos cavam na terra fofa e ela corre em


direção a Lincoln. O sangue escorre por suas costas,
sua pele ficou rosa brilhante. Enquanto ela caminha
até ele, ela começa a pegar o tecido de sua saia. Ele
desliza para o alto de suas coxas e ela continua
puxando o tecido.

Ela alcança o cabelo de Lincoln, puxando seu


rosto para o céu. Ele está escorregadio de suor e suas
bochechas estão úmidas com lágrimas não solicitadas,
seu cabelo grudando no brilho de sua testa.

“Lincoln é meu. Eu o possuo.” Cordelia diz, seu


tom é calmo. “Vou limpá-lo de você. Vou fodê-lo até que
ele esqueça que você existe.”

Meu batimento cardíaco para.

Cordelia joga uma das pernas por cima do ombro


dele, a boca de Lincoln se abre enquanto ele geme de
dor, o calcanhar dela batendo nos cortes recentes. A
rainha desliza a mão por baixo da saia, puxa a calcinha
para o lado e pressiona o rosto de Lincoln contra ela,
enterrando-o em sua boceta.

Eu me afasto. Mas minha mente ainda está ciente.

Pânico. Vergonha. Desgosto. É tudo relevante e


ganha vida dentro de Lincoln. Suas paredes mentais se
fecham com tanta força que não consigo mais ver o
mundo através de seus olhos. Ele está sozinho neste
lugar de desgraça.

“Vire-a para mim. Eu quero que ela veja meus


sucos no rosto dele.”

O guarda que paira comigo agarra minhas


bochechas e me vira em direção à cena. Eu pressiono
meus olhos tão fechados quanto posso, mas os sons...
Eles persistem.

Lincoln engasga e engasga, desesperado para se


afastar. Também posso ouvir a astúcia da rainha. O
tapa molhado enquanto ela esfrega contra o rosto
dele. Ela respira pesadamente, gemendo baixinho com
cada movimento de seus quadris.
A multidão atrás dela está em silêncio.

Dedos quentes lutam para abrir meus olhos,


dando-me vislumbres da gratificação perversa no rosto
de Cordelia. Meu estômago se revira.

Um grito cheio de prazer, embebido na satisfação


de que estou aqui para testemunhar, canta em seus
lábios vermelhos. Ela arfa, aproveitando a onda de sua
performance descaradamente.

Meu queixo está tão tenso que os músculos do


meu pescoço e rosto protestam. Eu só abro meus olhos
de bom grado quando seu pé bate de volta no chão. Ela
me dá um sorriso satisfeito, inclinando a cabeça de
Lincoln para trás. Seus lábios, bochechas e queixo
brilham. Quando ela abaixa a cabeça, ele cai no chão,
cuspindo.

Seu sorriso ilumina seu rosto da maneira mais


assustadora. Ela gosta disso. A cruel rainha goza com
seu domínio sem consentimento.

A bile sobe na minha garganta.

Vou acabar com ela.

Ela me observa. Sua risada é uma provocação


aérea. Ela levanta o vestido do chão e enfia a mão entre
as pernas. Com dedos brilhantes, ela aponta para mim
e se volta para Lincoln. Suas unhas vermelhas cravam
em sua bochecha, fazendo marcas em forma de lua
crescente em sua pele enquanto ela força sua boca a
abrir e passa os dedos por sua língua.

Os olhos de Lincoln estão fechados com tanta


força que sua pele se enruga com o exagero. De alguma
forma, ele está imóvel sob seu toque. Em algum lugar
no fundo da minha mente, registro os guardas me
segurando.

Mas meus membros ficaram dormentes.

E estou me debatendo contra o porão.

“Eu vou matar você.” Eu assobio a promessa.

Cordelia acena com a cabeça para o guarda,


deixando seus dedos como peixes fisgados dentro da
boca de Lincoln. “Eu gostaria de ver você tentar.”

Então, o guarda atrás dele ergue o chicote e ataca


novamente.

E de novo.

E de novo.
Dezoito
COBRANDO UM FAVOR

O sangue secou contra a corda que está aos meus


pés. Gentilmente, passo o dedo pelo pulso, removendo
os restos de crostas. A pele já está lisa e nova. A cura
Fae rapidamente fechou os cortes em meus braços de
trabalhar as cordas em mim mesma. Agora, a pele
morta está saindo facilmente.

Estou curada. Mas uma pequena parte de mim


sempre estará quebrada.

Meu vestido branco está agora em um tom de


cinza desagradável com listras verdes por ter sido
puxado pela grama do vale. Tiras de tecido pendem das
pontas esfarrapadas do meu vestido. Minha única
satisfação pequena, muito minúscula, é que Kai pagou
por este vestido e agora ele está arruinado. Eu mexo
com a bainha desfeita, minhas costas doendo para
descansar. Mas não há nenhum lugar onde eu possa
me apoiar. Eu assobio, apenas movendo minhas
pernas contra a gaiola de ferro forjado. Minhas costas
e asas estão expostas, a pequena jaqueta há muito
tempo descartada pelos guardas.

Lincoln geme, levantando-se de onde estava


deitado de costas. Seus olhos tremulam, praticamente
rolando dentro de sua cabeça enquanto ele se
move. Seus cortes, muito mais profundos que os meus,
estão quase fechados agora. Mas ainda levaria horas
antes que as crostas caíssem de sua pele perfeita.

Ele ergue a mão para limpar a boca e para. As


imagens, o sentimento, o desamparo de Cordelia se
forçando sobre ele, e tão publicamente, preenche seus
pensamentos. Por sua vez, preenchendo meus
pensamentos.

Meus punhos apertam o material do meu vestido


dentro deles. Eu odeio reviver isso, ver de verdade
através de seus olhos, agora. Eu odeio que ele tenha
que ir até o fim.

Finalmente, seu olhar com ferro pousa em mim.


“Briar.” Seus olhos se afastam enquanto ele sussurra
baixinho. “Eu sinto muito. Eu estou…”

“Estou bem. Isso... Toda aquela bagunça não foi


sua culpa.” No momento em que digo isso, a tristeza
em seu olhar se volta para mim e depois desce para
minhas feridas. “Estou bem.” Digo mais uma vez. Tento
empurrar minha saia sobre minhas pernas para
esconder as feridas vermelhas. A atenção de Lincoln
segue apenas minhas mãos.

“Suas pernas estão cobertas de bolhas.”

“Acontece que libertar minha metade Fae


apenas... Fez minha alergia piorar.”

Poderia ser pior, tento me lembrar. Embora,


honestamente, não tenha certeza de como. Minhas
pernas estão pontilhadas com uma erupção vermelha
aquecida que sobe da minha pele por estar sentada
nesta gaiola de ferro balançando acima do que está
prestes a ser uma grande festa.

As surras levaram a melhor sobre Lincoln. Eles


carregaram seu corpo inconsciente desde o vale até
aqui. A sujeira gruda em seu rosto, agarrando-se à
evidência do abuso de Cordelia. Eu estava acordada
para tudo isso. É difícil olhar para ele, mas ele precisa
saber que nada mudou entre nós. Eu não vou dar o
prazer à minha meia-irmã geradora de demônio.

Lincoln se puxa para a beira da jaula. As barras


pressionam contra suas bochechas. Abaixo de nós, os
criados correm para arrumar as mesas e cadeiras e
desenrolar um tapete vermelho
cintilante. Presumivelmente, para a rainha descer até
o enorme trono que foi trazido da sala no segundo
nível. Os cristais são pendurados em estandartes
pregados nas paredes.

“Bem, isso vai ser ótimo.” Lincoln geme, sentando-


se. Ele lança um olhar por cima do ombro tentando dar
uma olhada em suas costas. “Como está?”

“Você ainda tem um pouco mais de cura para


fazer. Pelo menos você está vivo.”

“Oh, ainda há tempo para que isso mude. E tenho


certeza de que vai.” Ele me oferece um sorriso patético.

Eu corro meu dedo sobre uma barra de metal,


sentindo o calor formigar na minha pele com o toque
ácido. Há espaço suficiente aqui, eles poderiam ter
colocado nós dois em apenas um.
“Honestamente, essas gaiolas me lembram
daquele maldito clube de sexo.” Eu penso alto, grata
pela menor distração.

“Clube de sexo?”

“Sim, lembra-se de onde Rowan e Kai levaram a


mim e a Jase?”

Nada como bater papo enquanto aguardamos


nossa morte. Apenas tente não pensar nisso. Sim, talvez
isso faça com que tudo desapareça, só não pense
nisso. Briar, sua idiota.

“A noite em que você beijou Rowan?”

“Rowan me beijou.” Eu o corrijo.

“Você o deixou te beijar.”

“Achei que isso não o incomodasse. Mas, de


qualquer forma, agora é a hora de tirar tudo isso do
seu peito.” Eu gesticulo drasticamente abaixo de nós.

“Eu não gostei. Mas eu entendi. Eu até entendi


como você e Kai podiam ser tão... Tão enamorados.”

“Você acha...” Eu rio. “Você acha que Kai e eu


estávamos flertando.”

“Sim, e olha onde isso te levou.” Suas


sobrancelhas se erguem tão altas que estão escondidas
por sua franja emaranhada.

“Olhe onde isso me levou? Agora me diga como...


Como é que eu ia saber que seu irmão ia me trair à
Rainha da Corte das Sombras em troca de um
casamento sem amor? Você é seu sangue e você nem
sabia.”

“Não vamos falar sobre isso agora.” A mão de


Lincoln se fecha em punhos e ele se bate na testa,
fechando os olhos com força. “Não acredito, meu
irmão. Vou torcer o pescoço dele quando sair daqui.”

“Se você sair daqui.”

“Vamos sair daqui.” Diz ele severamente.

“Tudo bem, se você diz.” Eu encolho os


ombros. Eu corro minhas palmas das mãos suadas
sobre minha saia, não me importando mais se eu fiz
uma bagunça. Depois de um momento de silêncio, eu
sussurro: “Você acha que Rowan conseguiu sair?”

“Eu...” Seu pomo de Adão balança em sua


garganta. “Espero que sim.”

Vozes calmas chegam às nossas gaiolas. Não


preciso me pressionar contra as barras e queimar o
rosto para saber que a multidão de Cordelia está
chegando. Os criados estão prontos com bandejas
contendo arranjos de bebidas e comida
borbulhantes. Seu cheiro se mistura com suor, sangue
e magia dentro da minha gaiola.

Há um momento de admiração quando eles olham


para o espetáculo de nós acima deles. Nenhum deles
são os membros da corte que conheci no início do
dia. O que me leva a perguntar se este é o resto de sua
corte ou se realmente existem tantos Faes aqui prontos
para adorar a seus pés indignos.
A sala se enche de Faes em sua elegância. Bellion
está de pé perto do trono, passando a mão longa e
magra por sua jaqueta enquanto observa a multidão.
Eu olho dele para Lincoln.

“Bellion estava por trás de todas as mortes. Por


que ele ainda está andando por aí como um homem
livre?”

“Eu estava... Trabalhando nisso.” Diz Lincoln com


uma rispidez na voz.

“Tenho certeza que ele ficará satisfeito em ver


isso...”

Nossas gaiolas saltam de suas posições contra o


teto. Ambas as minhas mãos caem instintivamente
contra o ferro para me pegar, queimando minhas
palmas com seu veneno. Os olhos de Lincoln se
arregalam quando ele olha para mim. O medo se
apodera de sua mente, mas posso senti-lo lutando para
sufocá-lo. Talvez eu seja do mesmo jeito. Com medo da
morte, mas recusando-me a reconhecê-la.

“Vai ficar tudo bem.” Diz ele com determinação por


entre os dentes.

“Isso é para me acalmar ou à você mesmo?” Eu


embalo minhas mãos em chamas contra meu peito,
mal capaz de assobiar as palavras.

“Ambos.” Ele acena com a cabeça, segurando nas


barras.

Ele parece um criminoso.


É estranhamente atraente. Eu penso muito rápido,
tentando descartar o pensamento tão desconectado da
minha realidade. Lincoln me dá um pequeno sorriso.

A sujeira está incrustada sob suas unhas, suas


bochechas estão manchadas e seu cabelo está
bagunçado no topo da cabeça. Ele está sem camisa e
respirando com dificuldade, seus olhos amarelos
brilhando com um desafio.

Os rostos ficam mais próximos à medida que


descemos. Suas feições estão tão bem mascaradas de
entusiasmo que levo um minuto para perceber sua
preocupação. Cordelia pode pensar que tem a lealdade
deles, mas pessoas com medo nunca serão leais até
que se sintam seguras. Faes sorri para nós, mas é em
seus olhares preocupados que encontro a mistura de
emoções. O toque suave de mãos dando toques
reconfortantes. Mãe está chamando seus filhos para
mantê-los por perto. Sim, Cordelia abriu esta parte
para todas as idades, não importa o sangue.

Cordelia, minha morte será avaliada como difícil,


porque não vou cair sem lutar.

O mundo não é mais a névoa da bebida drogada


que Kai me deu. Eu posso ver os rostos de todos
claramente. Eu posso me mover tão suavemente mais
uma vez. A única coisa que me impede de me sentir
melhor aos pés da minha morte é o ferro bastardo que
me cerca, me queimando.

Quando as gaiolas param de novo, penduradas a


poucos metros do chão agora, minhas pernas são
empurradas, descascando a pele que está derretendo
em uma bagunça pegajosa contra o metal. Um gemido,
que prefiro não permitir, me deixa.

“Então esta é a sua Rainha Mortal?” Bellion


avança, anunciando para a multidão. “Ela não parece
tão poderosa para mim.” O homem desengonçado
estende a mão através das barras, tentando erguer
meu queixo. Eu saio do caminho e ele ri. Seus longos
dedos agarram uma barra na ausência da minha pele
e ele puxa e empurra minha gaiola, me girando
violentamente.

Não há nada a fazer a não ser segurar a náusea


crescendo em meu estômago e subindo como ácido
pela minha garganta. Rostos, decorações, flashes de
luzes vêm e vão. Eles se confundem.

“Bellion, seu desgraçado de merda, não se atreva


a tocá-la!” Lincoln mostra os dentes, cuspindo suas
palavras como um trovão.

“Oh, Lincoln.” Ronrona o braço direito da rainha.


“Você estará morto em pouco tempo e não será mais
uma preocupação que eu precisarei cuidar. O mínimo
que você pode fazer é tornar sua morte silenciosa para
nós.”

Ainda assim, Bellion, projeta um braço. Minhas


costas expostas, minhas asas batem contra as barras
e meu corpo arde com o fogo ardente. A sala não se
move mais, mas não consigo abrir os olhos.

“Estou bem, Lincoln. Ele terá que fazer mais do


que me levar em um passeio de criança para me
machucar.” Eu consigo dizer.
Há uma névoa de raiva dentro da cabeça de
Lincoln. Inquebrável e focado em sua frustração. Ele
mantém sua atenção em Bellion. Com um violento
chute de sua bota, Lincoln força sua gaiola a balançar
para frente e envolve sua mão na camisa branca de
Bellion, arrastando o Fae de volta com ele enquanto o
impulso leva a gaiola para trás.

“Guarde minhas palavras, eu vou te rasgar


membro por membro quando estiver livre.”

O nariz de Bellion roça no de Lincoln. Ele dá uma


risada seca e começa a tirar os dedos das
roupas. Manchas de lama e sangue grudam no botão
branco e ele tenta limpá-lo.

“Ah, vejo que nossos hóspedes estão sendo bem


tratados.” A voz estridente de Cordelia murmura do
outro lado da sala.

Eu pisco abrindo meus olhos. Faes dão um passo


para trás, criando uma passagem para a rainha. Ela
trocou seu vestido vermelho brilhante e o substituiu
por um vestido branco cintilante não totalmente
diferente do meu. Enquanto a multidão se move com a
velocidade do mar, afastando sua maré da costa, ela
me olha nos olhos.

Minha expressão não muda. Eu não dou a ela a


satisfação de reconhecê-la. Então ela vira seu olhar
para Lincoln. A mão de Cordelia serpenteia por seu
corpo, percorrendo a curva de seus seios, o vale plano
de seu estômago e descendo para cobrir seu próprio
sexo.
“Eu gostaria de lhe agradecer por me agradar
tanto, Lincoln.” Ela dá uma pequena piscadela para
ele. “Pelo menos sabemos que esses mestiços ainda
podem fazer uma coisa.”

Cordelia ergue as mãos esguias, inclinando-se


para trás com uma gargalhada. A multidão ri com
ela. Alguns mais dispostos do que outros. O ar sai dos
pulmões de Lincoln e ele congela em sua posição
agachada.

“Silêncio.” A rainha exige. Seus saltos batem


contra o piso de ladrilhos brilhantes enquanto ela
cruza as pernas com um balanço exagerado de seus
quadris. O vestido brilha com a inocência cintilante de
uma neve recém-caída e intacta.

Esta não é uma rainha inocente.

Os lustres lançam sua luz para baixo, criando um


foco de luz entre nossas prisões. Ela para, agarrando-
se às barras. A cada balanço, a multidão murmura
entre si.

“Estou tão feliz que vocês dois puderam se juntar


a nós nesta celebração maravilhosa.” Sua voz está
envenenada com falsa sinceridade.

Toda conversa chega a um ponto final. Um silêncio


cai sobre a multidão, sua atenção é atraída para a
entrada em arco da sala. A vibração do poder percorre
o solo. Ele sobe, faiscando no fundo de nossas gaiolas,
estalando como pequenos relâmpagos.

Eu inalo profundamente. Olhos vazios


emoldurados por pele bronzeada e cabelo escuro e
sedoso. Uma túnica bronzeada familiar está enrolada
em seu corpo esguio, delineado por uma energia
tempestuosa semelhante. Talvez o topo do vulcão não
estivesse tempestuoso porque é assim que a atmosfera
é, talvez seja tempestuoso porque Zeve é a tempestade.

“Não diga uma palavra. Não a reconheça.” Lincoln


implora dentro da minha mente.

Eu não vou. Eu nunca faria isso. Estou tão forte


quanto sou agora por causa desta mulher, e não posso
imaginar como seria meu corpo humano depois do dia
que estou tendo.

“Você finalmente conseguiu!” Cordelia diz


agradavelmente, soltando nossas gaiolas quando uma
faísca estala na ponta de seus dedos. “Demorou
muito.” Ela não faz barulho.

“Estava ocupada.” Zeve responde. Ela observa a


multidão com pouca diversão. Seus olhos procurando
por algo, por alguém, eu rapidamente percebo quando
ela passa por mim e Lincoln.

“Venha agora, tome uma bebida. Faça um lanche.”

“Prefiro acabar logo com isso. Como você sabe, sou


muito procurada e meu trabalho tem pouco fim.” Zeve
dá um passo à frente, ainda descalça, para levantar o
lenço transparente de um homem que está tenso ao
lado. Ela brinca com o tecido por apenas um suspiro
antes de deixá-lo cair e caminhar em nossa direção.

“Muito bem.” Cordelia estala os dedos. “Guardas.”

Homens, anteriormente sob o comando de


Lincoln, avançam apressadamente, empurrando
qualquer um em seu caminho. Eles empurram as
gaiolas com pouca preocupação com as bolhas que
borbulham na minha pele a cada movimento de
inclinação. Mãos grandes se estendem, me puxando
para fora.

É quase um alívio quando o ar frio atinge minha


pele em chamas antes que os pedaços de meu vestido
caiam sobre minhas pernas. Meus tornozelos esticam
em um ângulo estranho enquanto sou puxada para
frente com meus calcanhares arrastando contra o
chão.

Lincoln se contém enquanto os homens o puxam


para frente. Ele é seguro em cada movimento gracioso,
forte nos músculos de sua mandíbula, feroz com o
olhar severo de seus olhos.

Eu me recomponho muito mais rápido do que meu


antigo corpo faria e levanto meu queixo em
desafio. Dou minha atenção à multidão e vejo a ideia
de ter uma nova rainha em seus pensamentos.

“Você conhece o negócio.” Começa Cordelia. “Está


muito claro que a garota agora é muito… Fae das
Sombras, mas eu preciso saber de quem ela nasceu.
Os detalhes. Eu quero terminar isso de uma vez por
todas.”

“O que tem ele?” Zeve se concentra em Lincoln.


“Ele obviamente não é essa Rainha Mortal de quem
você tem tanto medo.”

“Não tenho medo da Rainha Mortal.” Cordelia dá


um passo para mais perto de Zeve, que apenas dá um
sorriso divertido antes que ela mesma dê mais um
passo para perto da rainha. “Ela é um incômodo que
precisa ser tratado. E quanto ao mestiço, ele é um
traidor. Vou acabar com a vida dele depois que ele
assistir sua vadia morrer.”

Sei que Cordelia deseja que suas palavras sejam


cortantes, ou sinceras de qualquer forma, mas tudo em
que consigo pensar é no fato de que sou a vadia de
Lincoln. Caramba, finalmente somos um item e
Cordelia está prestes a cortar minha
garganta. Portanto, não é tanto um insulto quanto é
emocionante.

Eu lanço um sorriso suave para Lincoln. Do meu


ponto de vista dentro de sua cabeça, eu sei que ele sabe
como estou olhando para ele, mas ele permanece
focado em Zeve.

“Devo começar?” Zeve suspira.

“Sim, mas mais uma coisa.” A rainha gira em seus


calcanhares, sacudindo a saia atrás dela. Sua cabeça
erguida, seus ombros relaxados e um sorriso contente
em seu rosto. Este é o final que ela estava esperando.
“Para garantir que você se comporte bem com a
vidente, tenho meus guardas a postos.” Ela aponta de
volta para seu trono.

Passos firmes fazem a rima de uma música, uma


voz masculina discutindo a letra. Os homens da rainha
trazem Jase para frente e o forçam a se ajoelhar em
seu estrado. Surpreendentemente, ele parece mais
irritado do que assustado. Talvez neste ponto, eu o
tenha tirado de tantas confusões que ele ainda tem
algum tipo de confiança de que posso tirá-lo dessa.
Este não é um desses momentos, Jase. Eu não
acho que posso fazer isso. Cordelia não é uma idiota que
incomoda você porque sua mãe era viciada em drogas,
ou minha mãe adotiva que te pegou roubando. Eu não
posso nos convencer do contrário.

“Agora, seja uma boa gatinha e fique quieta para


a vidente.” A ponta de sua unha cava na pele do meu
queixo enquanto ela me belisca com uma pequena
sacudida.

“Não, eu quero o homem primeiro.” Zeve cruza os


braços.

“Lincoln? Eu não preciso que sua mente seja


examinada.”

“Sim. Lincoln.” Ela diz o nome dele como se fosse


uma língua estrangeira. “Primeiro ele. Ou nenhum dos
dois.”

“Tudo bem.”

Guardas de pele nua empurram Lincoln para a


frente. Olhos dourados, acesos com a chama zelosa da
vida, olham fixamente em minha alma enquanto ele
fala. “Eu não vou deixar nada acontecer com você.”

“Oh, não alimente a garota com falsas


esperanças.” Cordelia ri, sentando-se. Uma vez que ela
se aninha no trono, ela cruza as pernas e dá a Jase um
leve tapinha na cabeça, empurrando seu cabelo loiro
em seus olhos. Jase se afasta tanto dela quanto os
guardas permitem.

“Eu imagino que um homem com o seu talento


deve saber o que esperar.” Zeve diz para Lincoln.
Ele acena com a cabeça, fechando os olhos. Suas
mãos delgadas seguram suas têmporas e uma corrente
elétrica faísca entre eles. Lincoln engasga, sua boca se
abre, seu peito se estende para a frente e seus olhos se
abrem quando a luz se acende dentro deles.

“Lincoln!” Seu nome sai dos meus lábios e posso


sentir a presença de Zeve dentro de sua mente... E
depois na minha. Tento quebrar minhas barreiras
mentais para afastar seu aperto, mas ela as empurra
para o lado como se fossem leves como um balão
saltando na brisa.

“Fique quieta, Briar.” A vidente canta. “Já vi seu


passado e seu futuro. Você foi feita para aquele trono.”

Eu aperto meus olhos bem fechados. “Posso estar


destinada ao trono, mas meu tempo aqui está se
esgotando. Cordelia terá nossas cabeças.”

“Estou cobrando o meu favor.” A voz de Lincoln diz


severamente. Seu corpo físico faísca com um estalo alto
de energia. Ele geme, fazendo Cordelia rir como uma
criança.

“Eu esperava que você dissesse isso.” A voz de


Zeve é suave e encantadora. Talvez seja como ela foi
criada ou talvez seja a magia que ela usa, mas cada
palavra que ela fala alivia a ansiedade dentro de mim.

“O que você quer dizer?” Eu exijo.

“Kai não era o único a quem Zeve devia um favor.”

“Agora, quando eu disser para correrem... Vocês


correm.” Zeve diz, ecoando o comando enquanto ela se
retira da mente de Lincoln. Sua pele vibra, brilhando
assustadoramente com o poder que acabou de passar
por ele.

Zeve suspira, esfregando as mãos. “Rainha


Cordelia.” Ela começa. “Receio ter uma pequena
variação em seus planos para esta noite.” A multidão
começa a murmurar, olhando uns para os outros em
questionamento, como se seus amigos pudessem ter
uma resposta para a insubordinação de Zeve. “Você,
minha querida, não é adequada para o seu trono.”

Cordelia salta da cadeira. “Qual é o significado


disso? É melhor você segurar sua língua antes que eu
a corte!”

“Fique quieta!” Zeve grita, sua voz profunda


crescendo como um trovão dentro do grande salão. Ela
estende a mão, uma bolha azul de eletricidade raivosa
se formando ao redor de Cordelia. “Está destinado que
a Rainha Mortal se levante e governe. Somente ela pode
trazer paz a esta terra. Nós nunca poderemos ter paz
com uma governante louca como você. Sua paranoia
está tão enraizada, Cordelia Nightwaters, você nem
consegue ver quão longe você caiu... Quanto mais você
ainda tem que cair.”

“Você não vai zombar de mim.” A magia de


Cordelia se choca contra a de Zeve. “Guardas, prendam
esta traidora.” Ela sibila, empurrando contra ela de
novo e de novo. A magia de Zeve se mantém estável.

“Não se mexam.” Outra música cheia de vozes


femininas sobe. Da entrada da sala, Lylix avança, seu
corpo tremeluzindo em sincronia com as faíscas de
Zeve. Lylix lança as duas mãos na frente dela,
formando orbes brancas semelhantes ao redor dos
guardas. Em volta de nós.

“Corram!” Sussurra Zeve.


Dezenove
PERDIDOS

A parte de trás do meu crânio conecta-se com o


arco do nariz de um guarda. Minha outra mão já
alcançando a garganta do outro guarda antes de me
virar e trazer meu joelho em suas bolas. Ele se conecta
com um tapa satisfatório e ouso dizer... Um plop.

Uma dor distante lateja na parte de trás da minha


cabeça. Eu não paro para dar a eles mais atenção ou
embalar a dor irritante. Eu me atiro para frente,
estremecendo quando sua magia lava sobre mim. O
branco das partes da bolha de Lylix ao meu redor se
fechando no momento em que eu termino. Os guardas
tropeçam para frente apenas para gritar quando o
poder os atinge, mantendo-os no lugar.

“E quanto ao Jase?” Eu suspiro. Lincoln me


alcança, pegando minha mão e me puxando para
frente, mesmo quando minha atenção está focada
atrás de mim.

“Eu vou cuidar de Jase.” Lylix chama.

“Alguém os pare!” A voz de Cordelia está rouca.

Mas não precisamos de Lylix ou Zeve para prender


a multidão em qualquer tipo de campo de força que
elas conseguiram criar. Porque todo o pessoal recua,
permitindo-nos uma saída fácil.

“Rainha Mortal.” Seus sussurros se transformam


em um canto, depois se transformam em uma
demanda retumbante.

Eu puxo a mão de Lincoln, enquanto ele me puxa


para frente e nossos pés batem contra o azulejo. Os
ecos da multidão nos seguem.

“Não podemos simplesmente deixá-los.”

“Zeve tem um plano.” Lincoln corta rapidamente.


“Precisamos nos apressar. Cordelia tem mais guardas
do que isso e eu sei que eles estão vindo. Eles não
podem não ter percebido aquela comoção.”

O que eu admirava uma vez, esta grande e bela


mansão, agora é apenas um rastro que passa por
mim. Não há tempo para contemplar a grande moldura
ou os detalhes dourados. Não me preocupo em dar a
escada ascendente, aquela em que encontrei Lincoln
tantas vezes antes, outra vez.

Cada respiração, cada batimento cardíaco, cada


passo, tudo está me levando para longe de onde tudo
começou. A Corte das Sombras pode estar destinada a
ser minha, mas primeiro tenho que ir embora.

Correr como um Fae dificilmente exige esforço


algum. Posso não ser tão rápida quanto Lincoln, que
empurra portas abertas e empurra alguns servos do
nosso caminho, mas ainda seria nada mais do que um
borrão na visão de qualquer humano. Meus músculos
sentem apenas um leve cansaço. O que poderia ser
atribuído aos efeitos posteriores das drogas de Kai...
Ou melhor, de Bellion, se eu tivesse que adivinhar.

Seguimos para o Jardim Argenti, o sol se pondo


no horizonte. Os comandos são chamados no castelo
atrás de nós. A preocupação soa difícil de entender em
torno da agora gritada ‘Rainha Mortal’ da Corte Fae das
Sombras.

“Continue. Segure minha mão. Não me


solte.” Lincoln nem mesmo me pede para fazer o que
ele diz, implora. Sua mente está um zumbido de
preocupação, de determinação em me tirar daqui.

Entramos e saímos das plantas, roçando nos


longos galhos da árvore Reminints que tenta grudar em
nossas roupas. O vale está livre de Faes, mas os longos
postos montados para punição ainda estão aqui. O
sangue seco de Lincoln contra as folhas de grama que
esmagamos sob nossos pés.

Guardas saem da mansão atrás de nós, espadas


presas em suas mãos. “Traga-os vivos ou mortos!” A
ordem é passada através do pequeno regime e levada
até nós pelo vento que empurra nossas costas como se
para guiar nossos passos.

“Onde estamos indo?” Eu grito.

“Eu não sei. Fora daqui.” A voz de Lincoln vacila


enquanto ele corre.

“Eu pensei que Zeve tinha um plano!”

“Sim, um plano para nos livrar da morte, mas não


um plano de onde nos esconder.”
Chegamos à orla da floresta e tiro um galho
saliente. Não consigo ouvir o som de folhas e galhos
sobre o sangue correndo dentro de meus ouvidos.
Embora eu tenha certeza de que também não consigo
ouvir os guardas atrás de nós, a frase ‘vivos ou mortos’
ecoa em meus pensamentos.

Nossos corpos giram e giram em velocidades


incríveis, meu equilíbrio evitando que meus
calcanhares quebrem meus tornozelos enquanto eu
salto sobre arbustos. Lincoln me puxa com força para
a esquerda.

“Há um feitiço logo à frente!” Ele aponta à nossa


frente. “Parece um portal.”

Eu sigo suas instruções. Duas árvores têm textos


antigos esculpidos em seus troncos, elas brilham em
um verde neon brilhante e o ar entre elas brilha.

“Para onde este portal vai?”

“Acho que vamos descobrir.”

Ele segura minha mão com um pouco mais de


força e avança. “Dê um passo.” Ele insiste.

Isso lembra Kai e a maneira como ele me guiou


através do portal da Corte de Ferro até o sopé das
Montanhas Ganush. Foi quando ele era meu amigo,
guiando-me aos meus poderes. Agora ele é o traidor da
minha coroa. O irmão que traiu seu próprio sangue.

Kai sentirá remorso após a morte de Rowan na


velha igreja em chamas? Ou ele sempre foi alguém tão
frio fingindo ser amigável?
O brilho verde do portal está ainda mais próximo
agora. Um alívio ao ouvir o som dos guardas ganhando
terreno. É meu ritmo não treinado que os deixa tão
próximos. Eu deveria ter lutado mais para aprender
sobre meus poderes, para me treinar antes que esse
desastre de encontro acontecesse.

Eu não deveria ter ouvido Kai.

“Segure firme.”

Eu aperto a mão de Lincoln com força suficiente,


estou preocupada em ouvir o barulho de ossos
quebrando. Ele nem mesmo estremece quando dá o
salto final para o portal e me puxa.

O tempo não existe mais. Na etapa desta parte do


mundo para a próxima, eu respirei mil respirações e
vivi mil vidas com a única inspiração necessária para
dar um passo exagerado para baixo. Meu pé pousa na
areia branca e limpa. Meu corpo se inclina para frente
enquanto meus calcanhares afundam
desajeitadamente. Nem eu nem Lincoln podemos nos
segurar com a força de nossa entrada.

Nossas mãos finalmente escapam uma da outra,


a gravidade nos puxando para baixo. Pequenas
partículas de poeira grudam em minhas bochechas. Eu
tusso para expelir qualquer um que tenha conseguido
se estabelecer em meus pulmões enquanto eu os
inspiro.

O calor e a luz branca perfeita do céu acima de nós


iluminam a areia como mil diamantes. A água faz
cócegas nos meus dedos dos pés. Com uma mão, sinto
Lincoln, encontrando sua perna. Ele se senta
lentamente, olhando para o grande oceano azul à
nossa frente que se quebra com ondas brancas
espumantes e enche o ar com seu cheiro salgado e
crocante.

“Onde estamos?” Eu sussurro.

Lincoln se contorce, seu rosto empalidecendo em


um tom que eu compararia com a cor fantasmagórica
de Lylix. “Nenhum lugar bom.” Ele diz ao mesmo tempo
que uma lâmina é puxada de sua bainha.

Eu me viro lentamente, seguindo a lâmina afiada


que está enfiada sob o queixo de Lincoln e sobe o braço
estendido de seu dono. Fivelas e couro são ajustados a
uma estrutura curvilínea, mas esguia, cabelos escuros
ondulados caem sobre os ombros da mulher. Atrás dos
espadachins estão várias outras mulheres que se
movem sem som para nos cercar, todas com suas
espadas apontadas para nós.

“A melhor pergunta... É quem são vocês? E de


onde vocês vieram?” Sua voz é um barítono profundo,
grave, com um toque de um sotaque antigo que não
consigo identificar.

Podemos estar fora do controle de Cordelia, mas


ainda não vencemos a morte.

Eu fico olhando para as lâminas apontadas para


o meu coração.

A morte nos cerca.

Continua...

Você também pode gostar