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Fisioterapia na Saúde

da Criança

Profª. Juliana Rosa Nascimento

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Profª. Juliana Rosa Nascimento

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

N244f

Nascimento, Juliana Rosa

Fisioterapia na saúde da criança. / Juliana Rosa Nascimento. –


Indaial: UNIASSELVI, 2021.

204 p.; il.

ISBN 978-65-5663-390-9
ISBN Digital 978-65-5663-391-6

1. Desenvolvimento infantil. - Brasil. 2. Fisioterapia. – Brasil. II.


Centro Universitário Leonardo da Vinci. .
CDD 615

Impresso por:
Apresentação
Seja bem-vindo à disciplina de Fisioterapia na Saúde da Criança.
Nesta disciplina, dividiremos o nosso estudo em três unidades.

Na Unidade 1, serão abordadas as fases do desenvolvimento infantil,


com seus marcos motores, reflexos primitivos e patológicos, bem como os
fatores que podem alterar o processo do desenvolvimento normal. Além
disso, aprenderemos também, como realizar uma adequada avaliação
fisioterapêutica de infantes e neonatos.

Na Unidade 2, discutiremos as principais patologias que acometem


as crianças, sendo estas de origem neurológica, respiratória, ortopédica,
reumatológica, entre outras. Estudaremos também as condutas do
fisioterapeuta frente a essas patologias, pois é fundamental a escolha correta
da conduta a ser utilizada pelo profissional de saúde no tratamento de
pacientes pediátricos.

Por fim, a Unidade 3 refere-se às terapias complementares e assistência


humanizada na saúde da criança. Nesta etapa, aprenderemos algumas
terapias complementares muito utilizadas atualmente na reabilitação de
pacientes pediátricos, tais como a equoterapia, hidroterapia, musicoterapia,
técnicas de integração sensorial etc. Além disso, discutiremos também o
papel do fisioterapeuta no processo do aleitamento materno, a saúde da
criança nos três níveis de atenção à saúde e a relação da fisioterapia com a
equipe multiprofissional na atenção à saúde da criança.

Portanto, o foco da nossa disciplina será capacitar o aluno para


a compreensão da atuação do fisioterapeuta no tratamento de infantes e
neonatos com patologias pediátricas, nos diversos níveis de atenção à saúde.

Desejamos a você um ótimo estudo. Aliás, lembre-se sempre:

“O sucesso é o acúmulo de pequenos esforços, repetidos dia a dia”.

Robert Collier
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA
PEDIÁTRICA E NEONATOLÓGICA.................................................................... 1

TÓPICO 1 — CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO.............................................................. 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 DESENVOLVIMENTO MOTOR...................................................................................................... 5
2.1 FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR .............................................................................. 6
2.2 FATORES PRÉ-NATAIS QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO ..................................... 11
2.3 FATORES PÓS-NATAIS QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO ..................................... 13
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 15
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 16

TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL


E PATOLÓGICO........................................................................................................... 17
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 17
2 DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL............................................................................................. 18
2.1 PREMATURIDADE VERSUS DESENVOLVIMENTO . .......................................................... 18
3 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NO PRIMEIRO ANO DE VIDA....................... 19
3.1 REFLEXOS PRIMITIVOS E POSTURAIS . ................................................................................ 19
3.2 CARACTERÍSTICAS DO LACTENTE ...................................................................................... 31
3.2.1 O neonato de 0 a 10 dias ..................................................................................................... 31
3.2.2 Primeiro mês ........................................................................................................................ 32
3.2.3 Segundo mês......................................................................................................................... 32
3.2.4 Terceiro mês . ........................................................................................................................ 33
3.2.5 Quarto mês ........................................................................................................................... 34
3.2.6 Quinto mês ........................................................................................................................... 34
3.2.7 Sexto mês .............................................................................................................................. 36
3.2.9 Sétimo mês............................................................................................................................. 37
3.2.10 Oitavo mês........................................................................................................................... 38
3.2.11 Nono mês............................................................................................................................. 39
3.2.12 Décimo mês......................................................................................................................... 40
3.2.13 Décimo primeiro e décimo segundo mês........................................................................ 40
4 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA E SEGUNDA INFÂNCIA.......... 42
4.1. PRIMEIRA INFÂNCIA (1 A 6 ANOS) . .................................................................................... 42
4.2 SEGUNDA INFÂNCIA (seis A 12 ANOS)................................................................................. 43
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 44
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 45

TÓPICO 3 — SEMIOLOGIA E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO


EM PEDIATRIA E NEONATOLOGIA..................................................................... 47
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 47
2 AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL .............................................................. 48
2.1 AVALIAÇÃO DA MOTRICIDADE . .......................................................................................... 48
2.2 AVALIAÇÃO DO TÔNUS MUSCULAR.................................................................................... 48
2.3 AVALIAÇÃO DAS REAÇÕES E REFLEXOS PRIMITIVOS ................................................... 49
2.4 AVALIAÇÃO DOS MARCOS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR . .................................. 50
2.5 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR......................... 52
2.6 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E DE LINGUAGEM ................................................... 54
2.7 AVALIAÇÃO RESPIRATÓRIA.................................................................................................... 54
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 57
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 62
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 63

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 65

UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS


AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS...................................................... 69

TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS...................... 71


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 71
2 PATOLOGIAS NEUROLÓGICAS NA INFÂNCIA .................................................................... 71
2.1 PARALISIA CEREBRAL............................................................................................................... 72
2.2 PARALISIA CEREBRAL ESPÁSTICA OU PIRAMIDAL........................................................ 73
2.3 PARALISIA CEREBRAL DISCINÉTICA OU ATETOIDE....................................................... 74
2.4 PARALISIA CEREBRAL ATÁXICA OU CEREBELOSA......................................................... 75
3 DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE................................................................................. 78
4 SÍNDROME DE DOWN................................................................................................................... 81
5 ESPINHA BÍFIDA.............................................................................................................................. 84
5.1 MIELOMENINGOCELE . ............................................................................................................ 85
5.2 HIDROCEFALIA............................................................................................................................ 89
5.3 MICROCEFALIA .......................................................................................................................... 92
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 94
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 95

TÓPICO 2 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES ORTOPÉDICAS.......................... 99


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 99
2 PRINCIPAIS PATOLOGIAS ORTOPÉDICAS PEDIÁTRICAS ............................................... 99
2.1 LUXAÇÃO CONGÊNITA DO QUADRIL OU DISPLASIA DO
DESENVOLVIMENTO DO QUADRIL...................................................................................... 99
2.2 TORCICOLO CONGÊNITO...................................................................................................... 103
2.3 PÉ TORTO CONGÊNITO........................................................................................................... 104
2.4 PARALISIA OBSTÉTRICA......................................................................................................... 107
2.5ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL ............................................................................................ 108
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 111
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 112

TÓPICO 3 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS


E CARDIOVASCULARES........................................................................................ 115
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 115
2 PRINCIPAIS PATOLOGIAS RESPIRATÓRIAS E CARDIOVASCULARES....................... 115
2.1 BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA (BVA)................................................................................ 115
2.2 DISPLASIA BRONCOPULMONAR . ...................................................................................... 117
2.3 CARDIOPATIAS CONGÊNITAS (CC)..................................................................................... 118
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 120
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 125
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 126

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 128

UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA


HUMANIZADA NA SAÚDE DA CRIANÇA.................................................. 135

TÓPICO 1 — RELAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA EQUIPE DE ATENDIMENTO


À CRIANÇA NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE................. 137
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 137
2 FISIOTERAPIA NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE................................. 137
2.1 ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NO NÍVEL PRIMÁRIO............................................... 138
2.2 ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA EM NÍVEL SECUNDÁRIO E TERCIÁRIO ............. 139
2.2.1 Método mãe-canguru......................................................................................................... 140
2.2.2 Fisioterapia pediátrica hospitalar..................................................................................... 142
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 145

TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA........................................... 147


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 147
2 TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS ...................................................................................... 148
2.1 EQUOTERAPIA .......................................................................................................................... 150
3 MUSICOTERAPIA .......................................................................................................................... 153
4 PEDIASUIT........................................................................................................................................ 156
5 CONCEITO NEUROEVOLUTIVO BOBATH ............................................................................ 160
6 MÉTODO PADOVAN..................................................................................................................... 167
7 INTEGRAÇÃO SENSORIAL ....................................................................................................... 171
7.1 DISFUNÇÃO DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL .................................................................... 171
7.1.1 Intervenção.......................................................................................................................... 172
7.1.2 Materiais ............................................................................................................................. 173
8 HIDROTERAPIA ............................................................................................................................. 174
8.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DA ÁGUA..................................................................................... 174
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 179
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 180

TÓPICO 3 — ALEITAMENTO MATERNO................................................................................... 183


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 183
2 BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO........................................................................ 184
3 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO ......................................................................... 185
4 POSTURA NA AMAMENTAÇÃO............................................................................................... 186
5 TÉCNICA DA ORDENHA MANUAL ........................................................................................ 188
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 191
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 196
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 197

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 199
UNIDADE 1 —

DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL


E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as fases do desenvolvimento embrionário fetal e


desenvolvimento intrauterino de órgãos e sistemas corporais;

• identificar os reflexos primitivos, adquiridos e patológicos no primeiro


ano de vida;

• identificar os principais marcos do desenvolvimento motor durante o


primeiro ano de vida e na primeira e segunda infância;

• conhecer os principais fatores pré-natais e pós-natais que alteram o


processo normal do desenvolvimento infantil;

• entender as fases do desenvolvimento motor que ocorrem durante a


lactância, primeira e segunda infância;

• realizar uma adequada avaliação pediátrica e neonatológica através da


realização de um exame físico;

• realizar uma adequada avaliação pediátrica e neonatológica através da


utilização dos principais instrumentos e escalas de avaliação pediátricas
e neonatológicas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

1
TÓPICO 2 – DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL
E PATOLÓGICO

TÓPICO 3 – SEMIOLOGIA E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE


AVALIAÇÃO EM PEDIATRIA E NEONATOLOGIA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico! Estamos iniciando uma nova disciplina e com ela novos
conhecimentos e aprendizados. Neste primeiro tópico, trataremos de como
ocorre o processo de crescimento e desenvolvimento dos seres humanos, porque,
geralmente, associamos os termos “crescimento” e “desenvolvimento”.

Realmente, os dois acontecem ao mesmo tempo, entretanto, embora


indissociáveis, são processos distintos. O crescimento físico refere-se ao aumento
do tamanho do corpo (por exemplo, peso e altura) ou de partes específicas do
corpo (exemplo: crescimento de órgãos internos).

Conforme as crianças crescem, o corpo delas aumenta de tamanho e


volume. Essas alterações são decorrentes de três processos, sendo eles:

1) Hiperplasia: corresponde ao aumento do número de células, resultante da


divisão celular denominada mitose.
2) Hipertrofia: corresponde ao aumento do tamanho das células, em decorrência
do aumento de proteínas e células no seu interior.
3) Agregação: corresponde ao aumento ou acréscimo de substâncias dentro das
células, como colágeno e elastina, que agrupam as células em redes complexas
(exemplo: fibras musculares).

Dessa forma, o estudo do crescimento envolve a observação e avaliação de


aspectos como o tamanho atingido em estatura, tamanho da muscular e corporal,
porcentagem de gordura, entre outros (BACIL; SILVA; MAZZARDO, 2020).

O crescimento não ocorre na mesma velocidade nos diferentes tecidos cor-


porais. Alguns sistemas, como o respiratório, muscular, esquelético e digestório
apresentam um rápido crescimento no início da infância (0 a 6 anos), com estag-
nação do crescimento após a adolescência. No entanto, as características sexuais
primárias (mulheres: ovários, tubas uterinas, útero e vagina; homens: testículos,
vesícula seminal, próstata e pênis) e secundárias, como seios e pelos pubianos,
apresentam um crescimento pequeno até a pré-adolescência, com crescimento
rápido a partir dos 12-14 anos de idade (BACIL; SILVA; MAZZARDO, 2020).

3
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

O estudo do desenvolvimento trata do que acontece no organismo huma-


no durante sua jornada, e também o modo como isso acontece. O desenvolvimen-
to é um processo contínuo, que abrange todas as dimensões inter-relacionadas
de nossa existência. Os elementos da maturação e da experiência desempenham
papéis-chave no processo de desenvolvimento (GALLAHUE; OSMUN; GOO-
DWAY, 2013).

ATENCAO

O desenvolvimento é um processo contínuo que inicia com a concepção e


termina apenas com a morte.

A maturação é caracterizada por uma ordem de progressão fixa, em que


o ritmo pode variar, mas a sequência de surgimento das características, em geral,
não varia. Por exemplo, a progressão e a idade aproximada em que um bebê
começa a sentar, a ficar de pé e a caminhar são muito influenciadas pela maturação.
A sequência de surgimento dessas capacidades de movimento geralmente é
fixa e resistente a mudanças, sendo que apenas o ritmo do surgimento se altera
em função de influências ambientais, como o aprendizado e a experiência. A
maturação refere-se a mudanças que permitem a progressão até níveis mais
elevados de funcionamento, é primordialmente inata; ou seja, é determinada
geneticamente e resistente a influências externas ou ambientais (GALLAHUE;
OSMUN; GOODWAY, 2013).

Já a experiência, refere-se a fatores externos do ambiente que podem


alterar o aparecimento de várias características do desenvolvimento ao longo
do processo de aprendizado. Refere-se, então, ao que foi vivenciado pela criança
e que pode afetar o aparecimento de certos padrões de comportamento. Dessa
forma, as diferentes oportunidades e os estímulos internos e externos que a
criança vivencia contribuirão para sua melhor capacidade de aprendizagem de
determinada situação.

Segundo Hayhood e Getchell (2016), o desenvolvimento:

• é um processo contínuo de mudanças na capacidade funcional;


• está relacionado com a idade, porém não depende dela, ou seja, ocorre à medida
que a idade avança, mas não estaciona em determinada idade e continua ao
longo da vida;
• envolve mudanças ordenadas e sequenciais, que são resultados entre as
características do indivíduo e do ambiente.

4
TÓPICO 1 — CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

De acordo com Gallahue, Osmun e Goodway (2013) existem três domínios


do comportamento humano, sendo eles: domínio psicomotor (comportamento
motor), cognitivo (comportamento intelectual) e afetivo (comportamento
socioemocional). Devemos ter sempre em vista a natureza inter-relacionada do
desenvolvimento e dos três domínios do comportamento humano.

O domínio psicomotor inclui os processos de mudança, estabilização e


regressão na estrutura física e no funcionamento neuromuscular. Este domínio
envolve todas as mudanças físicas e fisiológicas ocorridas ao longo da vida.

O domínio cognitivo, aplicado ao estudo do comportamento motor,


envolve a relação funcional entre a mente e o corpo. Por último, o domínio
afetivo, está relacionado ao estudo do movimento humano, envolve sentimentos
e emoções aplicadas ao próprio indivíduo e aos outros por meio do movimento
(GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

2 DESENVOLVIMENTO MOTOR
O desenvolvimento motor pode ser caracterizado como a mudança
contínua no comportamento motor ao longo do ciclo da vida. O estudo
do desenvolvimento motor perpassa os campos da fisiologia do exercício,
biomecânica, aprendizado e controle motor, assim como os campos da psicologia
do desenvolvimento e da psicologia social.

Compreender como adquirimos o controle motor e a coordenação dos


movimentos é fundamental para compreendermos como vivemos. Quando
entendemos o processo de desenvolvimento de um indivíduo típico, assimilamos
orientações fundamentais para a eficácia do ensino-aprendizagem. Para indivíduos
com deficiências de desenvolvimento, a compreensão do desenvolvimento motor
fornece uma base sólida de intervenção, terapia e medicação (GALLAHUE;
OSMUN; GOODWAY, 2013).

Para Haywood e Getchell (2016), o desenvolvimento motor pode ser


definido como as alterações de desenvolvimento no movimento contínuo
relacionadas à idade, bem como os fatores responsáveis por essa mudança.
Segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), o desenvolvimento motor refere-
se à alteração ao longo da vida do comportamento motor. Essas modificações no
comportamento motor resultam da interação entre as características do indivíduo
(hereditárias, físicas e mentais), as influências do ambiente (fatores de experiência
e aprendizagem vivenciados) e as tarefas ou atividades motoras que induzem
essas mudanças.

Os comportamentos das crianças são geralmente classificados em


escalas de tempo aproximadas. A confiança no aparecimento de determinados
comportamentos em um dado período de tempo não leva em consideração a
individualidade biológica do indivíduo (BACIL; SILVA; MAZZARDO, 2020).

5
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

Caro acadêmico, como citado anteriormente, o desenvolvimento motor


está relacionado à idade. Todavia, não ocorre de forma igual para todas as pessoas,
sendo caracterizado como um processo dinâmico, ou seja, cada indivíduo possui
seu período de tempo para desenvolver as habilidades.

Faixas etárias típicas de desenvolvimento somente representam escalas


de tempo aproximadas, nas quais certos comportamentos podem ser observados.
Dessa forma, o desenvolvimento depende da interação de algumas características
da criança, como suas habilidades físicas e mentais, a exigência da tarefa e o
ambiente no qual está inserida (BACIL; SILVA; MAZZARDO, 2020).

Há consenso de que o desenvolvimento da criança depende de outros


fatores além da maturação do sistema nervoso central (SNC), tais como fatores
biológicos, afetivos, contextuais e ambientais. Pode-se dizer, então, que a aquisição
de marcos de desenvolvimento pelas crianças depende do funcionamento do
SNC e de outras dimensões do funcionamento orgânico, bem como da carga e
da qualidade dos estímulos e das relações que a criança vivencia. Naturalmente,
fatores endógenos e exógenos que perturbem o desenvolvimento podem
provocar, com maior ou menor intensidade, transtornos nesse processo (BACIL;
SILVA; MAZZARDO, 2020).

De acordo com Barros e Victora (2008), a criança deve atravessar cada


estágio seguindo uma sequência regular, ou seja, os estágios de desenvolvimento
são sequenciais. Afinal, o desenvolvimento infantil se dá à medida que a criança
vai crescendo e vai se desenvolvendo de acordo com os meios onde vive e os
estímulos deles recebido. Em vista disso, é de suma importância o estudo e
compreensão dos marcos e processos de desenvolvimento em cada etapa da vida.

2.1 FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR


O processo de desenvolvimento motor é apresentado por Gallahue e Oz-
mun (2005) em uma forma de ampulheta. Os autores apresentam faixas etárias
que representam escalas de tempo nas quais são observados alguns comporta-
mentos. Certa cautela deve ser utilizada ao assumir tais escalas de tempo, pois
assumir faixas etárias como fixas negaria os conceitos de continuidade, especifici-
dade e individualidade no processo de desenvolvimento. “Entretanto, a descrição
proposta apresenta-se confiável e reflete a trajetória de movimentos realizados
pela maioria absoluta de crianças e adolescentes” (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

6
TÓPICO 1 — CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

FIGURA 1 – MODELO DA AMPULHETA DE DESENVOLVIMENTO MOTOR

OS ESTÁGIOS DE

FONTE: Gallahue e Ozmun (2005, p. 69)

A ampulheta é preenchida com areia, que simboliza a vida. A areia vem


de dois recipientes, um que apresenta a hereditariedade, e outro que representa o
ambiente. O recipiente da hereditariedade representa que a estrutura genética do
indivíduo é determinada no momento da concepção e não pode ser modificada
nem aumentada com o tempo. Já o recipiente do ambiente simboliza a experiência
e fatores externos que influenciam o movimento humano. Assim, a vida é
decorrente tanto de fatores internos (hereditariedade), quanto externos (fatores
ambientais).

Analisando o modelo da ampulheta heurística, podemos observar que o


desenvolvimento é um processo ordenado e contínuo. No entanto, um indivíduo
pode estar em estágios diferentes dependendo da habilidade e encontra-se em
estágios diferentes de desenvolvimento da mesma habilidade. Por exemplo, na
habilidade de correr, uma criança pode estar em um estágio maduro e, na habi-
lidade de saltar, em um estágio elementar (BACIL; SILVA; MAZZARDO, 2020).

O modelo da ampulheta busca analisar e explicar a progressão da aquisi-


ção de habilidades motoras pelo indivíduo por meio de fases e estágios. Entretan-
to, as faixas etárias indicadas para cada fase de desenvolvimento motor devem
ser consideradas como orientações gerais e servem apenas como forma ilustra-
tiva. Cada criança deve ser analisada individualmente e de forma progressiva
(BACIL; SILVA; MAZZARDO, 2020).

7
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

Assim, é possível refletirmos como o avanço da idade cronológica, a


maturação dos sistemas biológicos, os fatores motivacionais e as dificuldades
das tarefas podem influenciar na superação das fases e dos estágios do
desenvolvimento.

1) Fase motora reflexiva:

A primeira fase é denominada como fase dos movimentos reflexos e dura


até aproximadamente um ano de idade. São involuntários por serem realizados
sem a consciência do indivíduo. São controlados subcorticalmente e formam
a base das fases do desenvolvimento motor. Por meio da atividade reflexa, o
bebê consegue informações sobre o ambiente imediato. As reações do bebê a
toques, luz, sons e mudanças de pressão disparam a atividade do movimento
involuntário. Esses movimentos, combinados com a crescente sofisticação cortical
nos primeiros meses da vida pós-natal, desempenham papel um importante no
processo de aprendizagem do próprio corpo e o mundo externo da criança.

Existem dois tipos de reflexos: reflexos primitivos de sobrevivência, que


estão intimamente associados à obtenção de alimento e proteção do bebê; e
reflexos primitivos posturais que fornecem para o indivíduo a manutenção de
uma posição ereta com relação ao seu ambiente, além de estarem associados ao
comportamento motor voluntário posterior (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

E
IMPORTANT

Os reflexos são as primeiras formas do movimento humano e, por não serem


aprendidos, são considerados como “capacidades” e não como “habilidades”.

2) Fase de movimentos rudimentares:

As primeiras formas do movimento voluntário são as rudimentares.


A referência cronológica para fase do movimento rudimentar estende-se de
um a dois anos de idade. Esses movimentos se caracterizam pela inibição dos
movimentos reflexos e pelo o aparecimento de movimentos voluntários, porém
ainda descontrolados e grosseiros. Com aproximadamente um ano de idade,
as crianças começam a realizar seus movimentos com certa precisão e controle,
aprendendo a manter o equilíbrio, a manipular objetos e a locomover-se
(GALLAHUE; OZMUN, 2005).

8
TÓPICO 1 — CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

Os principais marcos motores dessa fase demonstram as capacidades de


lidar contra a força da gravidade, de permitir o deslocamento pelo ambiente e de
manipular objetos. Nessa fase, são adquiridas habilidades estabilizadoras (como
o controle de tronco e da cabeça, ficar em pé), locomotoras (arrastar-se, ficar em
pé e caminhar) e manipulativas (alcançar, segurar e soltar etc.).

Nessa fase, as crianças realizam atividades motoras de forma grosseira,


por isso, a estimulação incentiva e acelera o processo do desenvolvimento de
habilidades motoras. Devemos ficar atentos a quantas possibilidades de interação
com o mundo são criadas para as crianças quando elas conseguem superar os
marcos do desenvolvimento, como equilibrar-se sentadas, rastejar, ficar em pé e,
finalmente, caminhar (BACIL; SILVA; MAZZARDO, 2020).

3) Fase de movimentos fundamentais:

O período da infância se estende até 12 anos de idade e pode ser dividido


em período inicial da infância (primeira infância – até seis anos de idade) e
período posterior da infância (segunda infância – de seis a 12 anos). A terceira
etapa é denominada “fase dos movimentos fundamentais”. Esta estende-se dos
dois aos sete anos idade e é a continuidade da fase dos movimentos rudimentares.
Esse é um período em que as crianças experimentam, exploram e descobrem as
reações do corpo durante o movimentar-se. A ampulheta heurística de Gallahue
e Ozmun (2005) apresenta uma subdivisão em três níveis qualitativos: os estágios
inicial, elementar e proficiente.

O estágio inicial representa as primeiras tentativas de realizar movimen-


tos mais complexos. Os movimentos são caracterizados por serem exagerados e
pouco eficazes (dois a três anos).

Os estágios elementares emergentes envolvem a aquisição de


maior controle motor e coordenação rítmica das habilidades do movimento
fundamental, por volta dos três a cinco anos. A sincronização dos elementos
temporais e espaciais do movimento melhora, mas os padrões do movimento
durante esses estágios ainda são, em geral, restritos ou exagerados, apesar de
melhor coordenados. A evolução superior em diferentes domínios de habilidades
motoras é, normalmente, fruto das experiências das crianças nos anos iniciais do
desenvolvimento (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

O estágio proficiente, na fase do movimento fundamental, caracteriza-


se por performances mecanicamente eficientes, coordenadas e controladas. As
habilidades do movimento fundamental proficiente são maduras nesses três
aspectos do processo (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

Para atingir o estágio proficiente de desenvolvimento (entre cinco e sete


anos), é necessária uma combinação de fatores, como prática, encorajamento,
motivação e instrução de qualidade. O estágio proficiente em habilidades

9
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

locomotoras e manipulativas pode ser atingido quando são superadas barreiras


individuais, como a maturação de sistemas sensório-motores, principalmente
aqueles relacionados ao acompanhamento visual e a interceptação de objetos.

Em uma situação favorável, as crianças atingem o nível de exigência da


fase do movimento especializado quando as restrições do ambiente e do indivíduo
permitem um desenvolvimento integral. A seguir estão descritas as principais
características e estágios dessa fase (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

4) Fase de movimentos especializados:

A quarta e última fase é denominada fase dos movimentos especializados,


que acontece a partir dos sete anos em diante. Essa fase é consequência da
fase de movimentos fundamentais. E, para que ocorra progresso, é necessário
principalmente o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais
maduras, além de fatores relacionados à tarefa, indivíduo e ambiente. Gallahue
e Ozmun (2005) citam esse período como “um período em que as habilidades
estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais devem ser refinadas,
combinadas e elaboradas para o uso em situações crescentemente exigentes”. Os
movimentos especializados também são divididos em três estágios: transição,
aplicação e utilização para a vida diária.

No estágio transitório (entre sete e oito anos), começam a ser observadas


nas atividades das crianças a combinação e a aplicação dos padrões de movimentos
fundamentais, com melhoras na forma, na precisão e no controle.

No estágio de aplicação (aproximadamente dos 11 aos 13 anos), as


crianças começam a buscar a participação em atividades em que vão obter sucesso,
fundamentadas em suas condições, as tarefas e aos ambientes. São enfatizados
forma, habilidade, precisão e aspectos quantitativos do desenvolvimento motor.
“Esta é a época para refinar e usar habilidades mais complexas em jogos avançados,
atividades de liderança e em esportes escolhidos” (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

Por fim, o estágio de utilização ao longo da vida da fase especializada do


desenvolvimento motor começa em torno dos 14 anos e continua por toda a vida
adulta. Esse estágio representa o ápice do processo do desenvolvimento motor e
é caracterizado pelo uso do repertório de movimento adquirido pelo indivíduo
ao longo da vida. Esse estágio é marcado pelas oportunidades, pela motivação
e melhora das capacidades físicas do indivíduo. As relações entre crescimento,
maturação e desenvolvimento se intensificam (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

10
TÓPICO 1 — CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

2.2 FATORES PRÉ-NATAIS QUE AFETAM O


DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento e o refinamento dos padrões e das habilidades de
movimento são influenciados de modo complexo, podendo ser afetados por
diversos fatores e/ou condições. Este comprometimento pode ocorrer tanto no
período pré-natal quanto pós-natal e são oriundos de fatores internos e externos.
Uma série de fatores pré-natais, muitos dos quais podem ser controlados, afetam
o desenvolvimento motor do bebê e sua vida futura.

Entre os fatores internos podemos destacar as condições maternas durante


o pré-natal e as influências genéticas. Já entre os fatores externos, alguns hábitos
como a alimentação, o álcool, o tabagismo e as drogas ganham destaque, pois sabe-
se que, embora o feto esteja protegido pela placenta, certas substâncias podem
penetrá-la e causar reações negativas como deformidades físicas e disfunções
comportamentais (GABBARD, 2000).

Um agente causador de deformidades físicas ou, até mesmo, a morte de um


feto é denominada teratógeno (GABBARD, 2000). Para Gallahue e Ozmun (2001),
teratógenos são quaisquer substâncias que possam fazer o bebê desenvolver-se
de maneira anormal. Entre os fatores teratogênicos estão: as drogas e medicações,
as doenças maternas e a nutrição. Os maiores riscos para o desenvolvimento pré-
natal ocorrem entre a terceira e a oitava semana de gestação, uma vez que este
período é considerado como o momento em que o embrião está mais suscetível a
possíveis danos causados por fatores teratogênicos.

O desenvolvimento e crescimento humano podem, também, ser


afetados por fatores chamados erros genéticos. Entre estes, estão a desordem
cromossômica, desordem cromossômica sexual e a desordem genética. Além dos
fatores teratogênicos e dos erros genéticos, outros fatores, tais como: (1) a idade
da mãe, (2) paridade, (3) nutrição, (4) incompatibilidade de Rh, (5) anormalidades
genéticas, (6) posição fetal, (7) estresse materno, (8) ocupação da mãe também
podem afetar o desenvolvimento humano (GABBARD, 2000).

A idade materna apresenta também uma relação com o desenvolvimento


humano. De acordo com Gabbard (2000), mulheres acima dos 35 anos apresentam
um risco maior de darem à luz a crianças com Síndrome de Down ou crianças
com problemas para desenvolver suas habilidades motoras finas. Isto pode
estar relacionado com os órgãos reprodutores, uma vez que estes possam estar
afetados pela ação de envelhecimento ou pela exposição a agentes químicos
danosos, drogas e outros fatores. Já em mulheres com menos de 18 anos, o sistema
reprodutivo pode não estar suficientemente maduro, implicando partos longos e
prematuros e os bebês, na maioria das vezes, nascem abaixo do peso normal.
Segundo Gabbard (2000), a melhor época para a mulher ter um bebê é entre vinte
e dois e vinte e nove anos.

11
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

A incompatibilidade de Rh também é um fator que deve ser considerado


no desenvolvimento humano. Embora o sangue da mãe não se misture em excesso
com o do feto, existe a possibilidade de surgir problemas de incompatibilidade de
Rh quando mãe e pai apresentam os mesmos grupos Rh. Outra forma de ocorrer
incompatibilidade é quando a mãe e o bebê apresentam fator Rh diferenciados
(incompatíveis), pois, no processo de nascimento, os sangues de ambos se
misturam. Neste caso, o corpo da mãe pode reagir ao fator Rh estranho do
bebê, criando anticorpos. Estes, em uma próxima gravidez, se o bebê apresentar
novamente o mesmo fator Rh, podem atravessar a placenta causando danos ao
feto (GABBARD, 2000).

Além dos fatores intrínsecos já citados, a nutrição da mãe também


desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do feto, já que ela é
única fonte alimentar que ele recebe. Tudo o que a mãe gestante ingere afeta a
criança em gestação de alguma forma. A má nutrição pré-natal é causa comum
de dificuldades futuras no desenvolvimento, em todo o mundo. A má nutrição
materna está associada com inadequações na ingestão nutricional da mãe durante
a gestação, assim como com o seu nível geral de nutrição.

Uma dieta balanceada e nutritiva é absolutamente essencial para a saúde


da mãe e da criança em gestação. A mãe deve receber orientações nutricionais
adequadas, pois uma má nutrição pode trazer consequências graves, como
prematuridade, crescimento lento de estruturas como o esqueleto, funcionamento
mental pobre e até mesmo óbito fetal (GABBARD, 2000). Para Gallahue e Ozmun
(2001), além da má nutrição maternal, outros dois fatores também devem ser
levados em consideração com relação à nutrição: (1) a má nutrição placentária,
que significa problemas associados com o fornecimento e com o transporte
de nutrientes da placenta para o feto, e (2) a má nutrição fetal, que significa a
dificuldade ou inabilidade do feto em utilizar os nutrientes que estão disponíveis
para ele. No mundo inteiro, a má nutrição placentária, fetal e materna afeta de
forma negativa o desenvolvimento humano.

Com relação aos fatores externos, Gabbard (2000) e Gallahue e Ozmun


(2001), consideram que as infecções e doenças, bem como as drogas e as
substâncias químicas como os fatores mais prejudiciais ao desenvolvimento. A
parede da placenta é porosa, e as substâncias químicas podem penetrar por ela,
provocando trágicos resultados para a criança em gestação. Os autores destacam
o fumo e o álcool como os maiores agentes externos causadores de deformidades
no feto. Mães fumantes apresentam maior risco de dar à luz a bebês prematuros
e com baixo peso. Além disso, o uso do cigarro pode causar ao feto problemas de
memória e aprendizado mais tarde (pós-natal), aborto, má formação do coração
e outros órgãos e um aumentado risco de defeitos ao nascimento. Já em relação
ao álcool, estes autores deixam claro que este composto pode afetar diretamente
o desenvolvimento infantil, pois pode atravessar a placenta e, como o fígado do
feto ainda está imaturo, o álcool permanece por muito tempo no seu sistema.
Este fato vem demonstrando grandes anormalidades no desenvolvimento. Esta
mesma reação é observada para as mães usuárias de drogas.

12
TÓPICO 1 — CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

O uso de drogas ilícitas pela gestante pode causar danos devastadores na


criança em gestação. Estudos indicam que os bebês expostos à cocaína correm
maior risco de mortalidade, morbidade e problemas de desenvolvimento e
comportamento a longo prazo. Esses problemas incluem peso de nascimento
baixo, sintomas de abstinência, hipertensão, incapacitação mental, paralisia
cerebral e malformação do trato urinário (MOD, 2010).

Entre as infecções e doenças estão a citomegalovírus (que pode causar o


nascimento de um feto morto, aborto, baixo peso e irregularidade no sistema ner-
voso), microcefalia (cabeça excessivamente pequena, e baço e fígado maiores que
o normal), diabetes (que aumentam em 50% a probabilidade de morte do feto),
sífilis (que ataca o sistema nervoso do feto). HIV/aids é a mais mortal entre as vá-
rias doenças sexualmente transmissíveis. As mães com HIV/aids correm risco de
transmitir o vírus durante a gravidez, o nascimento ou a amamentação. Por fim, a
mãe que foi infectada com rubéola durante o primeiro trimestre de gravidez pode
ter um bebê surdo, cego ou apresentar retardo mental devido à interferência no
desenvolvimento sensorial e/ou cognitivo durante o período embrionário ou o
início do período fetal (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

2.3 FATORES PÓS-NATAIS QUE AFETAM O


DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento motor dos bebês e crianças pode ser influenciado pela
cognição e ambiente em que ela está inserida. O desenvolvimento motor não é
um processo estático, mas um produto de fatores biológicos e ambientais.

Ao longo dos últimos anos, muitas pesquisas têm focado nos efeitos dos
comportamentos dos pais sobre o bebê e a criança no início da infância, e como
isso influencia o funcionamento subsequente dela, já que condições extremas de
carência ambiental podem romper tanto a sequência como o ritmo da aquisição
das habilidades de movimento (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

Um estudo realizado por Pereira, Saccani e Valentini (2016) mostrou


resultados  que apontam para uma tendência que já vem sendo observada na
literatura: um ambiente rico em estímulos é capaz de minimizar os efeitos da
vulnerabilidade biológica, bem como ambientes com oportunidades restritas
podem potencializar riscos de atrasos no desenvolvimento.

Dentre os fatores ambientais, o estudo chama atenção para alguns


aspectos que afetam o desenvolvimento, tais como o espaço do domicílio, fatores
como o nível de escolaridade dos pais, renda familiar e aleitamento materno,
sendo que bebês aleitados por mais tempo apresentaram superioridade no
desenvolvimento cognitivo e motor. Além disso, os autores relataram que os bebês
que frequentaram creches/escola apresentaram desenvolvimento superior aos
que não a frequentaram. Este achado se justifica pelo fato de que a escola infantil
pode propiciar vivências de tarefas mais variadas que o domicílio, estimulando a
motricidade das crianças (PEREIRA; SACCANI; VALENTINI, 2016).

13
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

Além dos fatores citados no estudo, Gallahue, Ozmun e Goodway (2013)


citam o nascimento prematuro, transtornos alimentares (como a anorexia e
bulimia), obesidade, níveis de aptidão física e fatores biomecânicos, entre outros
fatores que influenciam no desenvolvimento da criança.

14
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O crescimento está relacionado com o aumento do tamanho do corpo e o


desenvolvimento é o processo de um organismo crescer e se modificar ao longo
da vida.

• O desenvolvimento motor é a alteração do comportamento motor com o


decorrer do tempo em virtude das influências do ambiente, da tarefa e do
indivíduo.

• A maturação é o processo de tornar-se maduro, e a experiência é o que foi


vivenciado pela criança e os fatores que podem afetar o aparecimento de
características do comportamento motor de um indivíduo.

• Existem maneiras de classificar o desenvolvimento motor, que levam em


consideração o processo de desenvolvimento biológico do indivíduo, como
o modelo teórico da ampulheta heurística de Gallahue, que descreve a
sequência do desenvolvimento motor em fases (reflexiva, fase de movimentos
rudimentares, fase de movimentos fundamentais e fase de movimentos
especializados).

• Existe uma ampla variedade de fatores pré-natais e pós-natais que possuem


impacto sobre o desenvolvimento posterior em geral e o desenvolvimento
motor em particular.

15
AUTOATIVIDADE

1 O crescimento diz respeito às alterações no tamanho do corpo ou de partes


específicas do corpo da criança, tornando-as mais pesadas e altas devido ao
aumento dos órgãos e dos tecidos corporais. Este crescimento é decorrente
de três processos. Um desses processos é caracterizado como o aumento
do número de células decorrente da mitose celular. Sobre como este é
chamado, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Acréscimo.
b) ( ) Agregação.
c) ( ) Hipertrofia.
d) ( ) Hiperplasia.
e) ( ) Aumento.

2 A chamada Ampulheta do Desenvolvimento Motor – ou Ampulheta


da Vida (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013) – objetiva ilustrar
as fases de desenvolvimento que adquirimos ao longo da vida (e até a
morte). Os autores comparam cada idade as suas esperadas características.
Com base neste assunto, a ampulheta heurística de Gallahue explica o
desenvolvimento motor majoritariamente fundamentado em:

a) ( ) Fases e nos estágios de desenvolvimento.


b) ( ) Mudanças de funcionamento dos processos neurológicos/cognitivos.
c) ( ) Interação entre as pessoas e o meio em que vivem.
d) ( ) Maturação biológica.
e) ( ) Idade cronológica.

3 Há uma fase característica de desenvolvimento em que as habilidades


manipulativas, locomotoras e de estabilização são combinadas com
movimentos complexos. Sobre como esta fase é chamada, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Reflexiva.
b) ( ) Rudimentar.
c) ( ) Fundamental.
d) ( ) Especializada.
e) ( ) Aplicação permanente.

16
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL


E PATOLÓGICO

1 INTRODUÇÃO

Caro acadêmico! No Tópico 1, nós estudamos as fases do desenvolvimento


e os fatores que o influenciam. Neste tópico, abordaremos detalhadamente as
características do desenvolvimento normal e patológico, bem como os marcos e
habilidades esperadas para cada fase. Preparados? Então vamos lá!

Em geral, considera-se que o período neonatal abrange as primeiras duas


a quartas semanas da vida pós-natal. O bebê típico, nascido no prazo normal, tem
48 a 53 cm de comprimento, e a cabeça corresponde por um quarto dessa medida. O
tamanho proporcionalmente grande da cabeça dificulta a aquisição e manutenção
do equilíbrio. O comprimento restante do corpo obedece à proporção de quatro
terços do tronco em relação aos membros inferiores. Os olhos representam cerca
de metade do tamanho quando adulto, e o corpo, a cerca de um vinte avos da
futura dimensão adulta.

O peso normal de um recém-nascido está entre 2.000g e os 2.800-4.000g,


segundo a idade gestacional. O peso de nascimento dos meninos é cerca de 4%
maior do que o das meninas. Outras classificações quanto ao peso ao nascer são:
Extremo baixo peso (EBP) < 1.000g; Muito baixo peso (MBP) < 1.500g e Baixo peso
(BP) < 2.500g. Durante o primeiro ano da criança, há ganhos rápidos tanto de peso
como de comprimento.

A vigilância do desenvolvimento infantil é fundamental pois o


conhecimento do desenvolvimento normal da criança possibilita a identificação
de atrasos, desvios e transtornos que permeiam esse processo biopsicossocial
(GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

Na primeira etapa de vida, a avaliação deve ser feita mês a mês, e falhas
persistentes em alcançar os marcos do desenvolvimento, podem indicar a
necessidade de encaminhar o lactente para serviços de maior complexidade, que
visam à estimulação precoce neuropsicomotora, essencial para um prognóstico
favorável (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

17
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

2 DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL
De acordo com os embriologistas, o período pré-natal pode ser dividido
em três períodos, sendo eles o período pré-embrionário (fecundação até terceira
semana de desenvolvimento), período embrionário (quarta à oitava semana) e
fetal (terceiro mês até o final da gestação).

O período pré-embrionário corresponde ao tempo que se inicia no


momento da fertilização e termina com a nidificação da blástula na mucosa
uterina. A segunda fase designa-se fase embrionária e engloba o primeiro
trimestre de desenvolvimento, período ao longo do qual todos os órgãos do
corpo vão sendo formados. A suscetibilidade para malformações induzidas por
teratógenos é maior durante a formação dos órgãos. Durante esta fase, o novo
ser é denominado embrião (ZANINI et al., 2002).

A terceira, mais prolongada e última fase é caracterizada como fase fetal,


compreendendo o tempo que resta até o momento do nascimento. Corresponde
ao período de amadurecimento, ao longo do qual os órgãos, já formados na
etapa anterior, acabam de adquirir a sua estrutura definitiva, alcançando a sua
plena atividade, fatores essenciais para possibilitar uma vida independente fora
do organismo materno. Ao longo desta fase, o produto da fertilização deve ser
denominado feto (ZANINI et al., 2002).

Segundo Zanini et al. (2002), a partir da 28ª semana de idade gestacional, há


uma maior aceleração do processo de mielinização das grandes vias subcorticais
durante o desenvolvimento fetal, o que resulta em uma maior movimentação
contra as paredes elásticas do útero encontrando nelas certo grau de resistência, o
que contribui para desenvolver sua força muscular, principalmente dos membros
inferiores. Além disso, ocorre nesta fase o desenvolvimento funcional da maioria
dos órgãos e sistemas; características que justificam a crucial importância das
últimas doze semanas no desenvolvimento global de um bebê.

2.1 PREMATURIDADE VERSUS DESENVOLVIMENTO


Prematuridade ou pré-termo é um conceito utilizado para denominar
crianças nascidas antes das 37ª semanas completas de idade gestacional. Esses
recém-nascidos (RN) podem ser classificados em três grupos: prematuridade
limítrofe com gestação de 35 a 37 semanas, prematuridade moderada com
gestação de 31 a 34 semanas e prematuridade extrema com gestação inferior a 30
semanas (MARCONDES et al., 2003).

As causas da prematuridade são muitas, e os principais fatores de risco


incluem uma assistência pré-natal inadequada, pré-eclâmpsia, baixo nível
socioeconômico, anemia e doenças maternas, gestação múltipla, infecções,
complicações durante o parto, hemorragias e sofrimento fetal (CASTRO, 2004).

18
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

O desenvolvimento do SNC tem início no período embrionário,


continuando esse processo após o nascimento. O bebê prematuro pode
apresentar imaturidade nos sistemas corporais, por não ter tido um completo
desenvolvimento intrauterino. Com isso, torna-se mais susceptível ao
aparecimento de complicações e deficiências físicas, neurológicas e cognitivas
podendo acarretar sequelas e atraso em sua evolução.

O RN pré-termo pode ser acometido por alterações pós-natais,


apresentando sofrimentos clínicos, dentre eles, podem-se citar: hemorragia
intra e periventricular, doenças respiratórias e cardíacas, infecções, distúrbios
metabólicos, hematológicos, gastrintestinais, dificuldade na manutenção da
temperatura corpórea e asfixia perinatal (GARCIA; FREITAS; FORMIGA, 2005).

Essas alterações podem prejudicar significativamente o desenvolvimento


neuropsicomotor da criança, levando a distúrbios como retardo mental, paralisia
cerebral, perda visual e auditiva, problemas neurológicos mais leves e distúrbios
da coordenação motora, tendo assim uma evolução desigual em relação a uma
criança nascida a termo (GARCIA et al., 2005).

3 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NO PRIMEIRO


ANO DE VIDA
No primeiro ano de vida ocorrem inúmeras modificações estruturais e
anatômicas neste novo ser que está em formação. Estudaremos a partir de agora
essas características de forma detalhada, a fim de proporcionar a você, caro
acadêmico, uma completa compreensão deste conteúdo tão importante para área
da fisioterapia pediátrica.

3.1 REFLEXOS PRIMITIVOS E POSTURAIS


Os reflexos primitivos são chamados dessa forma porque são controlados
pelas partes mais primitivas do cérebro, e servem como fonte primária de informa-
ções, as quais se armazenam no córtex em desenvolvimento. Possuem um padrão
muito imaturo de caráter automático e refletem a maturação do sistema nervoso
central (SNC), que é quando as estruturas neurológicas mais recentes vão se tor-
nando funcionais à medida que há o processo de mielinização, arborização e for-
mação de novas sinapses. Os reflexos são precursores de movimentos voluntários,
e muitos estão relacionados ao instinto de sobrevivência, como veremos a seguir.

Os reflexos estão presentes ao nascimento, mas devem ser inibidos nos
primeiros meses de vida, quando surgem os reflexos posturais (voluntários), ou
seja, o bebê passa a apresentar respostas controladas corticalmente em vez de
respostas reflexas do tronco encefálico. Desse modo, a presença desses reflexos
demonstra integridade do sistema nervoso central; entretanto, sua persistência
poderá indicar prejuízos/distúrbios neurológicos (COLE; COLE, 2004).
19
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

E
IMPORTANT

Os reflexos são a primeira forma de movimento humano e fornecem dicas


interessantes sobre o processo de desenvolvimento motor.

Nos primeiros meses de vida, a intensidade e simetria desses reflexos


podem ser usadas para avaliar a integridade do sistema nervoso central e
para detectar anormalidades periféricas, como alterações musculoesqueléticas
congênitas ou lesões nervosas. Se algum reflexo estiver ausente ou irregular
suspeita-se de disfunção neurológica. A ausência de movimentos reflexos normais
ou da continuação prolongada de vários reflexos além dos seus períodos normais
faz os profissionais da saúde suspeitarem de algum comprometimento ou dano
neurológico na criança. É possível então, suspeitar de disfunção neurológica
quando algumas condições surgem, tais como a ausência completa de um reflexo
que deveria aparecer no determinado período, respostas muito fortes ou muito
fracas, respostas assimétricas nos lados do corpo e a permanência de um reflexo
além do tempo em que já deveria ser integrado (COLE; COLE, 2004).

A avaliação dos reflexos primitivos em neonatos compreende um fator


primordial na luta contra a mortalidade neonatal, tendo em vista que a ausência
de algum deles pode caracterizar anormalidades que podem levar à morte da
criança. Os reflexos podem, conforme sua evolução, ser divididos em três grupos:

• manifestações normais durante algum tempo e que desaparecem com a


evolução, somente reaparecendo em condições patológicas: reflexo tônico
cervical e de retificação corporal, ambos desaparecendo com um ou dois meses
de idade; reflexo de Moro, que desaparece em torno de quatro a seis meses; e o
sinal de Babinski que, quando bilateral, pode ser normal até 18 meses;
• reflexos que existem normalmente, desaparecem com a evolução e reaparecem
como atividades voluntárias: reflexo de preensão, sucção e marcha, por
exemplo;
• manifestações que persistem por toda a vida: os vários reflexos profundos e os
reflexos cutâneos abdominais (COLE; COLE, 2004).

Tipos mais comuns de reflexos primitivos e posturais:

• Reflexo de preensão palmar: examinador coloca o dedo index na palma da mão


da criança, obtendo como resposta a flexão dos dedos. Deve desaparecer entre
quatro e seis meses, quando se torna um movimento voluntário de preensão
(CORIAT, 2001).

20
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

FIGURA 2 – REFLEXO DE PREENSÃO PALMAR

FONTE: <https://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/2016/page/mao.jpg>. Acesso em:


28 set. 2020.

• Reflexo de preensão plantar: o examinador pressiona o polegar contra a sola


do pé da criança, logo abaixo dos artelhos. Observa-se a flexão dos dedos. Deve
desaparecer com 15 meses de vida.

FIGURA 3 – REFLEXO DE PREENSÃO PLANTAR

FONTE: <https://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/2016/page/pe.jpg>. Acesso em:


28 set. 2020.

• Reflexo cutâneo-plantar ou Sinal de Babinski: o examinador aplica um


estímulo tátil (que não deve chegar a ser doloroso, nem causar desconforto ou
lesão na pele) à sola lateral do pé. Com isso, existem três respostas possíveis:

1) Flexão: os dedos do pé curvam-se para baixo. Esta é a resposta normal observada


em adultos hígidos.
2) Indiferente: não há resposta ou difícil de classificar.
3) Extensão: o hálux realiza uma extensão para cima. A esta resposta, atribui-se o
nome de sinal de Babinski.

21
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

A extensão do hálux é uma reação considerada normal em crianças de até


dois anos, pois o trato corticoespinhal não está completamente mielinizado, então
o reflexo não é inibido pelo córtex cerebral. Já a presença do reflexo em adultos,
indica lesão neurológica (CORIAT, 2001).

FIGURA 4 – SINAL DE BABINSKI NEGATIVO

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2MzGzAb>. Acesso em: 28 set. 2020.

FIGURA 5 – SINAL DE BABINSKI POSITIVO

FONTE: <https://bit.ly/394513Y>. Acesso em: 28 set. 2020.

• Reflexo da procura ou voracidade: para avaliar esse reflexo, o qual também é


chamado de reflexo dos pontos cardeais ou da busca, o examinador deve tocar
a região perioral da criança, o que fará com que ela vire a cabeça em direção ao
estímulo, abrindo a boca e realizando uma tentativa de sucção com protrusão
da língua. Deve desaparecer por volta dos quatro meses de vida.

22
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

FIGURA 6 – REFLEXO DE BUSCA: RESPOSTA BUCAL E ROTAÇÃO CEFÁLICA

FONTE: Coriat (2001, p. 56)

• Reflexo de sucção: é desencadeado pela estimulação dos lábios. Observa-se


sucção vigorosa. Sua ausência é sinal de disfunção neurológica grave.

FIGURA 7 – REFLEXO DE SUCÇÃO

FONTE: <https://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/2016/page/succao.jpg>. Acesso


em: 28 set. 2020.

• Reflexo de conexão entre as mãos e a boca: consiste na rotação da cabeça para


a linha média, acompanhada da abertura da boca como resposta à pressão
exercida pelos polegares do observador sobre as palmas das mãos do lactente.
O reflexo se atenua progressivamente no decorrer do terceiro mês, para
desaparecer no quarto. Nesta fase se estabelece a coordenação sensório-motora
entre as mãos, olhos e a boca. Crianças, desde o 3º mês, levam à boca todos os
objetos que apanham com suas mãos, para obter maior conhecimento de sua
consistência, textura (CORIAT, 2001).

23
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

E
IMPORTANT

Os reflexos de sucção e deglutição alterados são sinais inespecíficos e podem


estar associados a uma variedade de distúrbios. Esses reflexos são muito importantes para
a amamentação.

• Reflexo de Moro: este reflexo deve estar presente em recém-nascidos e deve


ser integrado por volta do quinto mês de vida. Pode estar diminuído ou
aumentado devido a distúrbios no SNC. Além disso, a assimetria desse reflexo
quando comparamos os dois lados pode ocorrer em bebês com patologias
como lesão de plexo braquial e trauma de clavícula e ombro.

Como avaliar?

Colocamos a criança em posição supina, suspendemos a cabeça da


criança. Em um movimento súbito, soltamos a criança, simulando uma queda e
presenciando o reflexo de Moro em condições normais, mas logo em seguida já
sustenta a cabeça da criança novamente. Observa-se movimentos de extensão e
abdução dos membros superiores com abertura das mãos, seguidas de adução e
flexão dos membros superiores (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

FIGURA 8 – REFLEXO DE MORO

FONTE: <https://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/2016/page/moro.jpg>. Acesso em:


28 set. 2020.

• Reflexo Tônico-Cervical Assimétrico: esse reflexo primitivo, também conhecido


como reflexo do esgrimista ou reação de Magnus-Kleijn é desencadeado
por rotação da cabeça do bebê em posição supina enquanto a outra mão do
examinador estabiliza o tronco do recém-nascido. O reflexo será perceptivo
pela extensão ipsilateral (à rotação) dos membros superior e inferior e flexão
contralateral do membro superior e inferior (MAFRA; PEREIRA, 2007).

24
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

• Esse reflexo deve ser integrado até o terceiro mês de vida, podendo indicar
algum comprometimento neural caso se torne persistente.
• Esse reflexo é uma resposta ligada a atividades extensoras da cervical e cintura
escapular, portanto, sua persistência pode dificultar o uso das mãos na linha
média, entre outras dificuldades de movimentação, sendo comum em pacientes
neuropatas, hipertônicos e de tônus flutuante (MAFRA; PEREIRA, 2007).
• A persistência de atitude de esgrimista, rígida e estereotipada, mesmo na idade
em que sua presença é fisiológica, sugere patologia, geralmente lesão cerebral;
ao contrário, sua ausência se observa em alterações congênitas do sistema
nervoso, como na maioria dos lactentes afetados pela síndrome de Down
(CORIAT, 2001).

FIGURA 9 – REFLEXO TÔNICO CERVICAL ASSIMÉTRICO (RTCA)

FONTE: <https://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/2016/page/cervicalassim.jpg>.
Acesso em: 28 set. 2020.

FIGURA 10 – RTCA INVERSO EM DECÚBITO VENTRAL

FONTE: Coriat (2001, p. 41)

• Reflexo tônico-cervical simétrico (RTCS): o reflexo tônico simétrico do pescoço


pode ser provocado na posição sentada, com apoio. A extensão da cabeça e
do pescoço produz a extensão dos braços e a flexão das pernas (GALLAHUE;
OSMUN; GOODWAY, 2013).

25
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

FIGURA 11 – REFLEXO TÔNICO-CERVICAL SIMÉTRICO

FONTE: Gallahue, Osmun e Goodway (2013, p. 129)

• Reflexo de marcha: o avaliador deve segurar e suspender a criança pelo


tronco, mas permitindo que ela toque os pés em uma superfície. Observa-se
cruzamento das pernas, uma à frente da outra. Esse reflexo está presente já
nos primeiros dias de vida, desaparecendo por volta dos dois meses de idade
(GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

FIGURA 12 – REFLEXO DE MARCHA

FONTE: <https://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/2016/page/marchareflexa.jpg>.
Acesso em: 28 set. 2020.

• Reflexo de Galant (encurvamento do corpo): para avaliação desse reflexo, a


criança deve estar em decúbito ventral, suspensa pelo examinador. É desen-
cadeado por um estímulo tátil na região dorsolateral. Como resposta, tanto o
quadril quanto o tronco se direcionarão para o lado no qual ocorreu o estímulo,
ou seja, será observado um encurtamento do tronco ipsilateral. Deve ser inte-
grado até os dois meses de vida (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

26
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

FIGURA 13 – REFLEXO DE ENCURVAMENTO DO CORPO (GALANT)

FONTE: <https://bit.ly/3ol7L3x>. Acesso em: 28 set. 2020.

• Reflexo de colocação ou placing: posição de teste: criança suspensa verticalmente


pelo examinador. Estimulação: tocar o dorso do pé da criança na borda da mesa.
Observa-se elevação do pé como se estivesse subindo um degrau de escada.
É o único reflexo primitivo com integração cortical (GALLAHUE; OSMUN;
GOODWAY, 2013).

FIGURA 14 – REFLEXO DE COLOCAÇÃO OU “PLACING”

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/357foDd>. Acesso em: 28 set. 2020.

27
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

• Reflexo tônico-labiríntico (RTL): pode ser testado nas posturas prona ou


supina. Com a criança em supino sobre as mãos do examinador, busca-se
observar presença de aumento da atividade extensora, fletindo os membros
superiores e inferiores, observando-se a resistência a esses movimentos e à
flexão passiva da cabeça. Na postura supina, analisa-se o aumento da atividade
flexora, observando a resistência à extensão da cabeça e de membros. Caso
o reflexo esteja presente com hipertonia, é sempre patológico (GALLAHUE;
OSMUN; GOODWAY, 2013).

FIGURA 15 – REFLEXO TÔNICO LABIRÍNTICO

FONTE: Flehmig (2002, p. 24)

• Reflexo de Landau: é desencadeado com a criança em suspensão ventral


(posição prona). Quando o examinador eleva a cabeça do bebê acima do
tronco é observada a retificação e extensão das pernas. Quando o examinador
flete a cabeça, as pernas se fletem. Esta reação é uma combinação das reações
de retificação e dos reflexos tônicos. Corresponde a um reflexo postural
fundamental para sentar e andar. Está presente a partir de quatro ou cinco
meses de idade (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

FIGURA 16 – REFLEXO DE LANDAU

FONTE: <https://bit.ly/3hL6NuU>. Acesso em: 28 set. 2020.

28
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

• Apoio lateral: é desencadeado lateralizando-se o tronco do bebê sentado.


Observa-se extensão do braço ipsilateral ao lado da queda, com apoio da
palma da mão na maca. Está presente a partir de seis ou oito meses de idade
(GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

FIGURA 17 – APOIO LATERAL

FONTE: <https://bit.ly/3rVNZxJ>. Acesso em: 28 set. 2020.

• Reflexo de colocação das mãos ou “paraquedas”: é desencadeado colocando


a criança suspensa pelo examinador. Observa-se a extensão dos braços para
frente, como se para amparar a queda. É o último reflexo postural a aparecer.
Está presente a partir de oito a nove meses de idade. Deve estar obrigatoriamente
presente aos 12 meses (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

FIGURA 18 – REFLEXO DO PARAQUEDISTA

FONTE: <https://bit.ly/3hK9IE5>. Acesso em: 28 set. 2020.

Reação de retificação

Atribuímos a estas reações a capacidade que possui o lactente de manter


a cabeça e o corpo em relação ao espaço, bem como de conservar as relações das
diferentes partes do corpo entre si (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

29
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

• Reação cervical de endireitamento: pode ser testada com o bebê em supino,


segurando-o delicadamente pelo occipital e rodando sua cabeça para o lado. O
restante do corpo move-se reflexivamente na mesma posição da cabeça; primei-
ro, os quadris e pernas alinham-se, seguidos pelo tronco. Com faixa de normali-
dade do quarto ao sexto mês de vida, é a única reação que desaparecerá, dando
lugar à reação corpo sobre corpo (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

FIGURA 20 – REAÇÃO POSTURAL CERVICAL

FONTE: Flehmig (2002, p. 23)

• Reação labiríntica e óptica de retificação: ambas as reações são testadas nas


posturas prona, supina e decúbito lateral, com a criança suspensa na postura
desejada e com olhos vendados. Na reação labiríntica, a partir do estímulo
dos canais semicirculares, ela busca, com sua maturação, a verticalização da
cabeça. Na reação óptica, ela é orientada por algum objeto de seu interesse.
Em ambas, a faixa de normalidade é a partir do primeiro mês, em prono, e
aproximadamente entre o quinto e o sexto mês, em supino e decúbito lateral.
• Reação de anfíbio: com a criança na postura prona, essa reação é testada levan-
tando-se um lado da cintura pélvica. Como resposta, haverá flexão de tronco
e do membro inferior do mesmo lado. Essa reação permite o desenvolvimento
do arrastar e do engatinhar, sendo normal a partir do sexto mês.
• Reações protetoras: são movimentos protetores dos membros na direção da
força que se desloca, como reação a uma súbita força deslocadora ou quando
o equilíbrio não pode mais ser mantido. Pode ser testada nas posturas prona,
prona para os lados, supina e sentada. Na postura prona, o bebê é posicionado
35 com os braços para frente, respondendo com apoio de mãos e elevação da
cabeça; reação normal a partir do terceiro mês. O teste da reação em supino,
normal a partir do sexto mês, é realizado posicionando-se a criança sobre o rolo
e deslocando-a para um dos lados; como resposta ao estímulo, ela realizará
apoio do membro superior do lado do deslocamento e tentará a verticalização
da cabeça. Com a criança sentada, o examinador a desloca anterior, posterior
e lateralmente; a resposta, normal do sexto ao nono mês, será sempre o apoio
dos braços e mãos espalmadas protegendo o corpo e livrando a face com a
verticalização da cabeça.

30
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

• Reação de equilíbrio: testada da mesma forma que a reação anterior, nessa


reação, busca-se observar a procura da criança pela verticalização e aumento
da base, através do afastamento. Sua faixa de normalidade é do sétimo ao
décimo oitavo mês, nas posturas prona, supina, sentada, gatas, de joelhos e de
pé (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013).

3.2 CARACTERÍSTICAS DO LACTENTE


O primeiro ano de vida de uma criança é fortemente marcado por mudan-
ças fisiológicas, metabólicas e psíquicas. O crescimento é acelerado, as capacida-
des psicomotoras e neurológicas são rápidas e desse modo, torna-se imprescin-
dível um estudo detalhado, a fim de relatar os avanços que elas apresentam em
cada fase.

3.2.1 O neonato de 0 a 10 dias


O bebê que nasce entre 38 a 42 semanas de gestação é considerado
a termo. O recém-nascido a termo é altamente influenciado pela gravidade,
apresenta muitos movimentos ocasionais, mas pouco controle independente de
qualquer parte do corpo. A postura é dominada pela flexão das extremidades,
resultado da maturação do sistema nervoso central durante a vida intrauterina.
O recém-nato não é passivo. Ao acordar, ele se move casualmente com grande
arco de movimento, às vezes, bastante vigoroso. Estes movimentos se observam,
inicialmente, mais na postura supina. Além dos movimentos esporádicos, existem
outros mais complexos, geralmente gerados por alguma atividade reflexa, que
são a base de movimentos mais elaborados adiante (FLEHMIG, 2002).

Em supino, o recém-nato demonstra a flexão fisiológica, principalmente


nas extremidades. Ainda não tem uma flexão ativa e graduada do pescoço e não
é capaz de manter a cabeça na linha mediana. A cabeça virada para o lado facilita
o contato da mão à boca. A mão se apresenta em flexão com os dedos aduzidos.
Há presença do reflexo de preensão palmar. Os membros inferiores se encontram
em flexão, abdução, e rotação externa (FLEHMIG, 2002).

Quando levantado para a posição sentada, o bebê tenta iniciar o


movimento de flexão da cabeça, mas perde o controle e a cabeça cai para trás,
devido ainda à ausência do controle do tronco. Na posição prona, a postura é
bem fletida. A pelve está em retroversão, e os joelhos estão dobrados e geralmente
próximos ao abdômen. Esta atitude faz com que o peso corpóreo seja deslocado
para a face. O bebê consegue liberar as vias aéreas levantando a cabeça, virando-a
para a direita e esquerda, promovendo uma forte estimulação proprioceptiva
(FLEHMIG, 2002).

31
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

3.2.2 Primeiro mês


Muitas mudanças ocorrem durante o primeiro mês de vida do lactente,
está mais alerta, e começa a responder e se adaptar mais ao ambiente. A melhora
da acuidade visual estimula o lactente a olhar mais para os lados fazendo com que
aumente a mobilidade da cabeça e coluna cervical. O tônus proximal dos ombros
e quadris diminui o suficiente para permitir que os ombros rodem externamente
e os quadris estendam.

Permanecem os reflexos de Moro, busca, sucção e deglutição; Reação


Cervical de Retificação; Reflexo de Galant; Reflexo de preensão palmar e plantar.
O RTCA pode aparecer, mas ainda é mais comum durante o segundo mês.

Na posição prona, também predomina a postura flexora. A cabeça está


quase sempre colocada para um lado e pode ser erguida por alguns segundos.
Levantar a cabeça em prono proporciona o alongamento dos músculos anteriores
do pescoço e contração dos posteriores, à medida que o lactente desenvolve
extensão ativa (BLY, 1994).

Quando tracionado para sentar, pegando pelas mãos do lactente, os


braços ficam em flexão e a cabeça pende para trás. O lactente de um mês, não
apresenta maior contração muscular do que o neonato, mas é mais alerta e tenta
ajudar (BLY, 1994). Os olhos acompanham os objetos em linha média. Reage a
brinquedos luminosos ou sonoros, porém assusta-se com facilidade.

3.2.3 Segundo mês


O lactente do segundo mês, está mais alerta e atento com as pessoas ao
seu redor. O tônus flexor continua diminuindo pela ação da gravidade, e pelo
aumento da atividade extensora assimétrica.

Na posição dorsal (supino) apresenta a cabeça para o lado quase sempre


para o lado de preferência, mas sem restrição para virar para o outro lado. As
mãos encontram-se mais abertas, os braços com mais extensão, mas não chegando
à linha média. O corpo se encontra mais simétrico e as pernas apresentam menos
flexão e dorsiflexão, mais abdução e extensão, rotação, descarrega o peso sobre
calcanhares e bordo lateral dos pés (marcha automática).

Permanecem os reflexos de Moro, busca, sucção e deglutição; reação


cervical de retificação; reflexo de preensão palmar e plantar e reação labiríntica
de retificação. Os reflexos de Galant e a marcha automática podem desaparecer.

Quando sentada, a cabeça ainda cai um pouco para frente, e oscilando, orien-
ta-se para posição ereta mais estável. O tronco fica instável. Na postura (ventral/pro-
no) a criança começa a estender o segmento torácico, levanta a cabeça de 0 a 45º, mui-
tas vezes de forma assimétrica, tentando manter a cabeça na linha média (BLY, 1994).

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TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

FIGURA 21 – POSIÇÃO VENTRAL

FONTE: Fleming (2002, p. 112)

3.2.4 Terceiro mês


O lactente de três meses é alerta e totalmente atento ao ambiente. O terceiro
mês é marcado pelo aumento da simetria em atividades bilaterais e pelo controle
flexor contra a gravidade. Eles estão começando a organizar seus movimentos. O
aumento da habilidade motora habilita o lactente a interagir mais efetivamente
com o ambiente do que no mês anterior (BLY, 1994).

Com relação aos reflexos e reações, a Reação Labiríntica de Retificação,


Reação Óptica de Retificação e Reação Cervical de Retificação estão mais fortes,
RTCA e MORO diminuídos.

Como já citado anteriormente, a transição de assimetria para alinhamento


simétrico ocorre neste mês. Postura simétrica e atividades bilaterais de
extremidades superiores e inferiores são dominantes nesse período (movimentos
de membros superiores e inferiores). O lactente de três meses consegue manter
a cabeça na linha média por longo período de tempo, pois consegue de forma
adequada usar os músculos esternocleidomastoideo, os do complexo hioide,
trapézio e esplênios capitais (BLY, 1994).

O lactente começa a usar mais suas mãos, explora a boca, seu corpo,
roupas e as pessoas com quem mantém contato. Esses são passos importantes no
desenvolvimento da consciência corporal. O lactente pode segurar um brinquedo
na mão, mas ainda não sabe o que fazer com ele (BLY, 1994).

Na posição supina, o lactente pode virar-se para os dois lados, com


certa dissociação. A cabeça pode ser mantida na linha média, mas se coloca
preferencialmente para um lado.

Em posição prona, a cabeça ergue até 45º, com apoio nos antebraços
podendo oscilar de um lado para o outro e para frente. As mãos fechadas podem
abrir momentaneamente. Sustentar a cabeça aos três meses é a melhor prova de
que o desenvolvimento psicomotor do bebê está perfeito (DE LAMARE, 2009).

33
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

3.2.5 Quarto mês


O quarto mês é marcado pelo início do controle, alternância e coordenação
de movimentos. Neste período, o lactente pode facilmente alternar entre extensão
e flexão tanto em prono como em supino. A cabeça e o tronco simétricos, orientação
na linha média e movimentos simétricos bilaterais estão presentes. Neste mês o
controle cefálico está completo (BLY, 1994). As reações ainda mais fortes são as
reações labiríntica de retificação e óptica de retificação. Nesse período acontece o
início da reação de Landau.

Na posição supina, inicia-se o controle do úmero em flexão contra


gravidade, ainda não é capaz de alcançar acima de 90º de flexão de úmero, porém,
consegue agora manter o braço no espaço contra a gravidade por um curto
período de tempo enquanto toca o brinquedo. A ativação do tríceps proporciona
a extensão de cotovelo nesta fase (ALEXANDER, 1993).

O rolar para prono ainda não é possível, pois a flexão do quadril que está
por baixo bloqueia o movimento, mas o lactente inicia o rolar para o lado (Figura
22) com uma postura flexora, já que as reações de retificação agindo sobre o corpo
estão presentes, e a extremidade superior do corpo segue os membros inferiores.
O lactente repete essa atividade muitas vezes, pois gosta da sensação e vira de
lado sempre que for estimulado, ou se algum objeto chamar sua atenção. Essa
posição tem muita importância na orientação vestibular e proprioceptiva para o
lactente (BLY, 1994).

FIGURA 22 – ROLAR PARA DECÚBITO LATERAL

FONTE: <http://bit.ly/2XdLI2U>. Acesso em: 28 set. 2020.

3.2.6 Quinto mês


No quinto mês, o lactente usa a simetria e a orientação na linha média
desenvolvidos durante o quarto mês e realiza movimentos voluntários e
dissociados. Ele apresenta maior controle sobre o corpo e, como consequência,
melhor qualidade do controle visual. O lactente agora vê o objeto e o alcança
imediatamente. A Reação de Landau é aumentada, assim como as reações
labirínticas e ópticas de retificação. As reações de equilíbrio iniciam em prono, e
o reflexo de preensão palmar desaparece (BLY, 1994).
34
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

O lactente apresenta controle de cabeça, ombros, abdômen e flexores do


quadril contra a gravidade, já pode levar os pés a boca e as mãos até os pés,
proporcionando um alongamento dos músculos extensores lombares, origem dos
isquiotibiais, extensores e rotadores internos do quadril (BLY, 1994).

Na posição dorsal ou supina, quando levantado para sentar antecipa o


movimento de elevação da cabeça, apresenta total controle em todos os planos,
iniciando o controle ativo do pescoço e tronco superior, começando o preparo
para sentar. Apresenta boa reação postural da cabeça sobre o tronco com início
de reação postural do corpo ao corpo. Nesta fase desaparecem todos os padrões
tônicos posturais e o reflexo de Moro. Com relação à motricidade, pega objetos
com as duas mãos com preensão palmar de toda a superfície da mão. O lactente
de cinco meses tem todos os graus de liberdade de movimento na parte superior
da caixa torácica e braços (DE LAMARE, 2009).

No quinto mês ocorre explosão das atividades. Tenta-se arrastar; rola;


brinca com os chocalhos; puxa o pé à boca e chupa o dedo do pé, consegue
apanhar objetos e trocá-los de mão (DE LAMARE, 2009).

Em prono, nesta fase, o lactente é capaz de levantar a cabeça, ombros e


pernas simultaneamente sobre a base de apoio, balançando-se para trás e para
frente nessa posição. O controle cervical está completamente desenvolvido
e o lactente pode rodar a cabeça para os dois lados. Nesta posição, ele pode
alcançar objetos a sua frente, com as duas mãos, provocando um alongamento
da musculatura anterior do ombro e preparando-a para uma contração eficiente
(BLY, 1994).

Apesar dos membros inferiores estarem menos ativos do que os superiores,


algumas mudanças também estão acontecendo. A ativação da extensão no quadril,
joelho e tornozelo continuam. A extensão do quadril é realizada pela ativação do
glúteo máximo. O lactente de cinco meses, começa a fazer flexão de joelhos contra
a gravidade quando o quadril está em extensão. Os tornozelos estão começando a
alternar mais de posição entre dorsifletidos e plantifletidos (BLY, 1994).

Nesta fase, também pode rolar de prono para supino, e sentado, pode se
manter sem suporte, com o apoio dos braços em sua frente (extensão). Quando
é colocado em pé, o lactente pode se manter numa postura ereta sendo segurado
pelas mãos ou pelo tronco e o peso é todo descarregado nas pernas em extensão
(BLY, 1994).

35
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

FIGURA 23 – ELEVAÇÃO DA CABEÇA COM PERNAS EM EXTENSÃO

FONTE: < https://brstatic.guiainfantil.com/uploads/babies/o-controle-da-cabea-dos-bebs_A.


jpg>. Acesso em: 28 set. 2020.

3.2.7 Sexto mês


Aos seis meses, o bebê apresenta características como assimetria voluntá-
ria, dissociação de cinturas, além de movimentos recíprocos e coordenados, que
auxiliam na sua funcionalidade. Devido ao aumento do controle de tronco, o con-
trole de cabeça é completamente desenvolvido, habilitando o bebê a facilmente
estender a cabeça em prono, flexionar em supino e realizar também as flexões
laterais. Esses movimentos, ou reações de retificação, continuam a se desenvolver
através do sistema óptico e vestibular (ALEXANDER, 1993; BLY, 1994). As rea-
ções de retificação da cabeça e a reação de Landau aparecem fortes e iniciam as
reações de equilíbrio.

Quando puxado para sentar, eleva a cabeça, ombros e braços, antecipando


posição. Quando está sentada, transfere o peso para um dos lados, geralmente
transfere o peso para frente e utiliza os braços.

Nessa idade, a criança se interessa por objetos grandes, pois todo objeto
agarrado é transferido para outra mão. Possui eficaz reação de bloqueio a queda
(paraquedismo). A criança em decúbito ventral eleva a cintura escapular e
aplainamento da cintura pélvica nesta idade os membros superiores adquirem
capacidade de deslocamento (CORIAT, 2001).

Nesse mês, o lactente consegue rolar de supino para prono. Os componentes


para o movimento foram sendo adquiridos durante os meses anteriores, e agora
o lactente tem a capacidade de combinar os vários componentes e completar por
inteiro o movimento.

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TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

FIGURA 24 – ROLAR DE SUPINO PARA PRONO

FONTE: <https://bit.ly/2LkHjII>. Acesso em: 28 set. 2020.

Segundo Cusick (1990), a posição sentada geralmente estabelecida, é


a aquisição de “sentar em anel” (pernas de sapo). Nesta posição, as pernas se
arrumam em um anel com as plantas dos pés na direção uma da outra e os joelhos
flexionados mantidos em grande proximidade ao chão. Esta arrumação das pernas
dá estabilidade posicional que ajuda a bloquear uma queda para frente ou para
o lado. A posição em pé, ainda é uma postura estática, embora tenha aumentado
o controle de cabeça, tronco e quadril. O bebê também controla melhor a flexão e
extensão de joelhos.

FIGURA 25 – SENTADO EM ANEL

FONTE: <https://bit.ly/3pRCeXc>. Acesso em: 28 set. 2020.

3.2.9 Sétimo mês


No sétimo mês, a criança pode ficar na posição supina, prono, senta,
engatinha e levanta quando auxiliada. Apresenta também, reflexo de preensão
plantar, Reação Landau, Reações Posturais de Retificação.

Nesta fase, a criança agarra objetos e os transfere de uma mão para a


outra, repete constantemente esse processo, somente interrompido quando o
leva à boca. Os objetos menores e maiores são agarrados quase sempre com a
palma da mão.

37
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

Na posição decúbito ventral (prono), a cabeça é bem erguida, desloca o seu


peso e puxa as pernas para ficar ereta, se arrasta empurrando para trás e realiza
movimento de “gatas”. Da posição em gatas consegue passar para a posição de
urso. Essa posição, é uma habilidade mais avançada do que assumir a posição de
quatro, porque ela requer mais estabilidade do ombro e controle da pélvis, para
execução perfeita. Três avanços são evidentes para assumir a postura de urso,
o alongamento dos ísquios tibiais por ativação do quadríceps, alongamento da
fáscia plantar e musculatura intrínseca plantar e hiperextensão dos dedos dos pés
(ALEXANDER, 1993; BLY, 1994).

FIGURA 26 – POSIÇÃO DE URSO

FONTE: <https://bit.ly/3okU6JG>. Acesso em: 28 set. 2020.

3.2.10 Oitavo mês


O lactente já não permanece na posição supina e quando colocado,
rapidamente muda de postura para ter independência funcional. Melhora
constantemente o equilíbrio nas posições supino e prono e começa a sentar
sozinho. Quando perde o equilíbrio logo consegue restabelecê-lo. Tem predileção
clara por uma das mãos, apesar de ainda manipular muito com as duas mãos.
Continua apresentando os reflexos de preensão plantar, reação postural de
retificação, reação de proteção e reação de Landau (BLY, 1994). Pode mover-se
facilmente da posição sentada para gatas iniciando esta posição flexionando uma
das pernas e os pés sobre o corpo, enquanto a outra perna fica abduzida, fletida e
rodada externamente fornecendo estabilidade para a pelve. Neste mês, o lactente
já pode engatinhar com habilidade ainda um pouco deficiente. Quando a perna
direita está levantada o peso é transferido lateralmente para a perna esquerda e
súbita rotação do tronco inferior ocorre. Dessa forma o tronco superior roda para
esquerda e o inferior roda para direita, movimento chamado de contra rotação,
que ocorre no nível T7, T8. A posição em pé é assumida apenas se a lactente
segura em móveis ou se alguém o segure (BLY, 1994).

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TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

FIGURA 27 – “ENGATINHAR”

FONTE: <http://blog.osapoeaprincesa.com.br/wp-content/uploads/2013/06/bebe-
engatinhando.jpg>. Acesso em: 28 set. 2020.

3.2.11 Nono mês


Neste mês, o bebê apresenta articulações móveis que estão preparadas
para posição ortostática. Também apresenta bom equilíbrio sentada, em prono
e supino. Consegue apoiar-se para frente, para o lado, mas ainda não para trás.
Entre o nono e o décimo mês o lactente pode se manter em pé ajudando-se com
seus braços (LE BOULCH, 1992).

O lactente levanta-se segurando em móveis e fica em pé com bastante


estabilidade, dando os primeiros passos com apoio e andando ao longo dos
móveis. Na posição em pé oscila com ligeira flexão dos joelhos e, às vezes,
também com flexão ou extensão do quadril. Desta posição pode soltar-se caindo
para posição sentada (BLY, 1994).

FIGURA 28 – POSIÇÃO ORTOSTÁTICA COM APOIO

FONTE: <https://bit.ly/3rRgMnj>. Acesso em: 28 set. 2020.

39
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

3.2.12 Décimo mês


No décimo mês, as articulações independentemente da gravidade estão
bem preparadas para a posição ereta e marcha.

A criança se movimenta constantemente, senta sozinha com total


equilíbrio, vira para os lados, para frente e para trás, apoia-se em objetos para
assumir a postura de pé, embora, às vezes, consiga realizá-la sem apoio. Anda
sustentando-se pelas duas mãos, normalmente, passa da postura de pé para
engatinhar, pois já o realiza com rapidez e agilidade (CORIAT, 2001).

Agarra objetos estreitos com o polegar e o indicador fletidos em preensão


de pinça, realizando boa supinação, com ombro totalmente móvel. Troca de
objetos de uma mão para outra. As funções das mãos se aperfeiçoam e da pinça
inferior “tipo tesoura” passa-se a outro tipo de pinça, onde se observa a oposição
do polegar (CORIAT, 2001).

FIGURA 29 – PREENSÃO DE PINÇA

FONTE: <https://www.tempojunto.com/wp-content/uploads/2015/03/como-estimular-o-
movimento-de-pinca-do-bebe-pegando-o-pompom-1024x1365.jpg>. Acesso em: 28 set. 2020.

3.2.13 Décimo primeiro e décimo segundo mês


Nesta fase, o lactente é muito ativo e independente. O tônus muscular está
regulado de maneira que, embora ainda com equilíbrio deficiente, funciona bem
sob o ponto de vista motor. As articulações, dependentes da gravidade estão bem
preparadas para posição ereta. Em todas as fases, o lactente possui boa abdução
do quadril e motilidade das articulações (BLY, 1994).

Transfere de decúbito dorsal para sentada, engatinha, utiliza os móveis


para a posição de ajoelhada, meio ajoelhada e de pé. Sustenta-se com as duas
mãos, em seguida, retira uma mão e tenta a marcha livre. Essas atividades motoras

40
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

não são reflexas nem automáticas, requerem aprendizagem prévia. Adquirem-se,


nessa idade, noções de distância quando engatinha para alcance do brinquedo,
de profundidade e do espaço vertical, ao dar os primeiros passos (CORIAT, 2001).

Entre o décimo primeiro e décimo segundo mês, o lactente pode deslocar-


se de pé com ajuda, segurando-se em uma mão, podendo pegar um objeto.
No décimo segundo mês, o lactente entra em período da marcha e para isso é
necessário o equilíbrio geral. Este equilíbrio ainda precário vai se afirmar com
o próprio exercício da marcha, que será dominante neste período. Sua marcha
ainda é diferente do adulto. O primeiro estágio do andar independente o lactente
levemente agacha enquanto inclina-se para frente e torna os passos com forte
atividade de extensão das pernas, exibindo considerável instabilidade. Após esta
fase, o lactente exibe aumento da estabilidade com o corpo levemente inclinado
para frente. Aos três anos de idade, o corpo está ereto como o andar adulto
(OKAMOTO; OKAMOTO, 2001).

Em pé ou quando está dando os primeiros passos predomina o apoio


plano, que persiste até a modelação do arco plantar. Algum tempo o apoio sobre
as pontas dos pés, esboço de equinismo, normalmente desaparece. Os pés estão
moderadamente separados, com aumento da base de sustentação suas bordas
internas ficam quase paralelas e os dedos se dirigem para a frente, sem desvios
acentuados.

A corrida é frequentemente descrita como uma forma exagerada do andar.


Ela é diferente do andar porque tem uma breve fase de voo em cada passo. Essa
fase de voo, que distingue a corrida do andar, é observada no segundo ano de
vida. Até esse momento, a corrida dos lactentes é semelhante a um andar rápido,
com um dos pés sempre em contato com o solo. Aos quatro anos, a maioria das
crianças já consegue saltitar e galopar. O desenvolvimento do galope precede
ligeiramente o dos saltos (CORIAT, 2001).

FIGURA 30 – PRIMEIROS PASSOS

FONTE: <https://bebeativo.com.br/wp-content/uploads/2018/07/12-meses.jpg>. Acesso em: 28


set. 2020.

41
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

4 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA E


SEGUNDA INFÂNCIA
De acordo com Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), o desenvolvimento
pode ser dividido em domínios específicos, por exemplo, o desenvolvimento
motor grosseiro, o motor fino, linguagem, o cognitivo e o crescimento social/
emocional. Além disso, estudos estabeleceram médias de idades alcançadas por
marcos específicos, bem como as faixas de normalidade.

Vejamos esses marcos a seguir:

4.1. PRIMEIRA INFÂNCIA (1 A 6 ANOS)


Este período, que se estende do momento que a criança atinge a locomoção
em pé até entrar na escola, é caracterizado por atividades e descobertas intensas.
É uma época de desenvolvimentos físicos e de personalidades marcantes. O
desenvolvimento motor avança uniformemente. Crianças nessa idade adquirem a
linguagem e ampliam os relacionamentos sociais, ganham autocontrole e domínio,
desenvolvem um aumento de consciência da dependência e da independência, e
começam a desenvolver um autoconceito.

Dos 18 meses a dois anos de idade, as crianças normalmente começam a


estabelecer a identidade de gênero. Durante os anos pré-escolares, as crianças
também adquirem uma noção do papel de gênero, do que meninos e meninas
costumam fazer. Espera-se que elas explorem os órgãos genitais nessa idade,
como sinal de que estão começando a estabelecer uma conexão entre a imagem
corporal e o gênero.

Entre os dois e três anos de idade, as crianças começam a brincar de


maneira mais interativa com outras crianças, embora ainda possam ser
possessivas em relação aos brinquedos. Dos três aos cinco anos, muitas delas
se interessam por brincadeiras envolvendo fantasia e amigos imaginários. As
brincadeiras envolvendo fantasia ajudam as crianças a crescer socialmente
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

Com relação ao desenvolvimento da linguagem, por volta dos cinco anos,


as crianças geralmente são capazes de recitar o alfabeto e reconhecer palavras
simples escritas. Todas essas habilidades são fundamentais para aprender a
ler palavras, frases e sentenças simples. Dependendo da exposição a livros e
habilidades naturais, a maioria das crianças começa a ler aos seis ou sete anos
de idade (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

42
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL E PATOLÓGICO

4.2 SEGUNDA INFÂNCIA (seis A 12 ANOS)


Período considerado como “idade escolar”, em que a criança é
direcionada para longe do grupo familiar e amplia seus relacionamentos. Há
um avanço uniforme no desenvolvimento físico, mental e social, com ênfase no
desenvolvimento das habilidades e competências. A cooperação social e um início
de desenvolvimento moral ganham mais importância, o que será relevante para
os estágios posteriores da vida. Essa é uma fase crítica para o desenvolvimento de
um autoconceito (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

Durante o período escolar, há melhorias na manutenção do equilíbrio, no


controle da postura, na coordenação, na precisão dos movimentos, e um aumento
da força, o que permite a criança ser mais autônoma nas atividades do dia a dia
e envolver-se em um maior número de atividades motoras. Nesse momento da
vida, as crianças são muito ativas e se envolvem em muitas atividades. A medida
que as crianças experenciam o movimento e desafiam as suas capacidades físicas,
vão conhecendo os limites do seu próprio corpo (esquema corporal).

No início do período escolar, as crianças são capazes de usar operações


mentais para resolver problemas concretos. Essas aquisições cognitivas preparam
a criança para frequentar o ensino formal, onde aprende a língua portuguesa,
matemática, as ciências naturais, história e os trabalhos manuais (GALLAHUE;
OZMUN; GOODWAY, 2013).

A visão e a audição são os sistemas corporais mais utilizados no ambiente


escolar. Essas percepções (visual e auditiva) vão se aperfeiçoar em conjunto com
uma maior capacidade para estar atendo e memorizar, o que vai potencializar a
aprendizagem (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).

Nessa fase, as crianças superam inúmeros desafios, como os


relacionamentos com colegas, que são determinados pela capacidade de
socialização e adaptação; e relacionamentos familiares, que são determinados
em parte pela aprovação que as crianças obtêm dos pais e irmãos. Nessa idade,
a criança está preparada para socializar e se comunicar mais eficazmente, pois
é capaz de compreender o ponto de vista dos outros (GALLAHUE; OZMUN;
GOODWAY, 2013).

43
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O desenvolvimento infantil pode ser definido como um processo


multidimensional e integral, que se inicia com a concepção e que engloba
o crescimento físico, a maturação neurológica, o desenvolvimento
comportamental, sensorial, cognitivo e de linguagem, assim como as relações
socioafetivas.

• O desenvolvimento tem como objetivo tornar a criança capaz de responder as


suas necessidades e as do seu meio, considerando seu contexto de vida.

• As mudanças durante o primeiro ano de vida são as mais importantes


modificações, nas quais se processam os maiores saltos evolutivos em curtos
períodos de tempo.

• Mesmo com toda a individualidade, o desenvolvimento motor da criança


respeita uma sequência de eventos ordenados e com hierarquia de
complexidade.

44
AUTOATIVIDADE

1 Os movimentos dos recém-nascidos são representados por reflexos e reações


primitivas. A ausência desses reflexos em idades em que deveriam estar
presentes, ou a persistência deles em idades que deveriam ter desaparecido,
pode indicar um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, sendo de
grande importância a detecção da ausência ou persistência desses reflexos
pelo fisioterapeuta na prática clínica.  Com relação à presença do reflexo
de Moro em um paciente de três meses de idade, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) A presença do reflexo, nessa idade, está dentro do normal.


b) ( ) O reflexo de Moro é considerado normal quando não ocorre até os
cinco meses de idade.
c) ( ) O reflexo é disparado com a súbita flexão da cabeça.
d) ( ) A resposta principal apresentada pelo paciente é a flexão rápida dos
braços.
e) ( ) O reflexo inicia-se a partir dos seis meses de idade.

2 Uma criança com diagnóstico de atraso no desenvolvimento motor, estando


em decúbito ventral e segurada pelo tronco, ao ser levada em direção ao
solo, de cabeça para baixo, não apresenta a resposta de extensão dos braços
e das mãos em direção ao solo. Nesse caso, essa criança terá a classificação
de ausência do reflexo de:

a) ( ) Landau.
b) ( ) Paraquedista.
c) ( ) Moro.
d) ( ) Retificação.
e) ( ) Galant.

3 A transição da incapacidade e da dependência física para a independência,


durante o primeiro ano de vida depois do nascimento, é muito importante
para a criança e para a família. Uma vez que a criança ganha controle sobre
seu corpo e é capaz de resistir à força da gravidade, novos mundos estarão
abertos para a exploração e o bebê estará menos dependente dos pais para
ser segurado e carregado. Quanto ao desenvolvimento motor normal, no
primeiro ano de vida, assinale a alternativa CORRETA:

45
a) ( ) O segundo trimestre é marcado por grandes progressos no combate
à força da gravidade. Neste trimestre, o bebê realiza a transferência
de peso de um lado para outro durante o engatinhar, movimento
indispensável para a marcha futura.
b) ( ) No final do segundo trimestre, o movimento da posição sentada para
a quadrúpede (de gatas) é adquirido com facilidade.
c) ( ) No início do segundo trimestre, a criança já é capaz de agachar para
alcançar um objeto, partindo da posição em pé.
d) ( ) Nas adaptações posturais e na locomoção todo o corpo reage através
de padrões comportamentais, indicando o estágio de maturidade
motora na qual a criança se encontra.
e) ( ) No primeiro trimestre, a criança adquire a capacidade de realizar
movimentos combinados de flexão/extensão ativas, e com isso o
movimento de rotação corporal (rolar).

4 Os reflexos primitivos presentes no primeiro ano de vida indicam a


maturação do sistema nervoso central. Assinale a Alternativa CORRETA
com relação ao Reflexo Tônico Cervical Assimétrico (RTCA):

a) ( ) Quando o bebê é elevado, em prono, apoiado pelo tórax, ele erguerá


a cabeça, com extensão da coluna vertebral e dos membros inferiores.
b) ( ) Quando os olhos do bebê se movem, a cabeça e o tronco rodam para
a mesma direção dos olhos.
c) ( ) Um estímulo na região toracolombar do bebê provocará a flexão do
tronco para o mesmo lado estimulado.
d) ( ) Fazendo-se a rotação da cabeça do bebê para a direita, o membro
superior direito se estenderá e o membro superior esquerdo se fletirá.
e) ( ) Com o bebê em supino, elevando sua cabeça, aumentará o tônus
extensor dos membros superiores e flexor dos membros inferiores.

46
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

SEMIOLOGIA E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO


EM PEDIATRIA E NEONATOLOGIA

1 INTRODUÇÃO

Neste terceiro tópico, estudaremos como o fisioterapeuta procede a sua


avaliação pediátrica e os principais instrumentos que utiliza em sua prática clínica.

As etapas do desenvolvimento evoluem de forma gradativa, organizada,


sendo consequência da precedente e necessária para a aquisição da próxima.
Por exemplo, equilibrar a cabeça e, posteriormente, o tronco, permitirá à criança
manter-se de pé, pré-requisito esse para o andar. Illingworth (2013) aponta a
necessidade de conhecer o desenvolvimento infantil típico, que servirá de base
para comparação com alterações e doenças relacionadas.

No que se refere ao desenvolvimento motor, o acompanhamento das


aquisições é feito por meio de: avaliação observacional da motricidade espontânea,
provocada, liberada e dirigida; avaliação do tônus muscular; avaliação das
reações e dos reflexos primitivos; observação do desenvolvimento motor normal e
avaliação por meio de instrumentos padronizados de medidas motoras (SOUZA;
GONDIM; L. JUNIOR, 2014).

Em geral, as lesões não progressivas que ocorreram no SNC fetal ou


infantil em desenvolvimento resultam em um grupo de desordens permanentes,
entre outras, aquelas relativas ao desenvolvimento e à postura, caracterizado por
alterações sensório motoras, que por sua vez, afetam a aquisição das habilidades
e marcos do desenvolvimento neuropsicomotor. Os distúrbios motores são
frequentemente acompanhados de distúrbios de sensação, percepção, cognição,
comunicação e comportamento (PANTELIADIS et al., 2015).

A identificação desses atrasos e distúrbios do desenvolvimento é funda-


mental para uma intervenção precoce e para o bom prognóstico dessas crianças.
Com isso, a partir de agora, estudaremos a avaliação do desenvolvimento infantil.

47
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

2 AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL


Prezado acadêmico! Para uma adequada avaliação fisioterapêutica em
pediatria, existem itens fundamentais a serem avaliados. A seguir serão listados
os principais deles. Vamos juntos estudá-los?

2.1 AVALIAÇÃO DA MOTRICIDADE


Para Souza, Gondim e Junior (2014), a motricidade espontânea do bebê
é, como seu próprio nome diz, a forma como ele se apresenta espontaneamente.
Recomendam ainda que, para conseguir uma adequada observação da motricidade
do bebê de até três meses, em sua avaliação o observador deve certificar-se de
algumas características, tais como: simetria dos movimentos do bebê, se o bebê é
capaz de abrir e fechar as mãos, avaliação do tônus muscular, e por fim, verificar
se os membros superiores e inferiores de movimentam com liberdade.

2.2 AVALIAÇÃO DO TÔNUS MUSCULAR


Souza, Gondim e Junior (2014) citam que, depois de nascido, o bebê passa
por quatro padrões de tônus muscular denominados: primeiro e segundo padrão
flexor e primeiro e segundo padrão extensor. O primeiro padrão é chamado
de “padrão flexor próprio do recém-nascido” em virtude de que, em um bebê
nascido a termo e sem alterações, pode-se observar a flexão de todos os membros
do corpo.

Ao atingir os quatro meses de idade, inicia-se o primeiro padrão extensor:


se colocado em prono, o bebê é capaz de estender-se totalmente, tirando as pernas
e os braços do plano de exame e apoiar-se apenas no abdômen. Ao posicionar a
criança de pé, o mesmo já é capaz de sustentar seu próprio peso, sem a influência
da reação positiva de suporte, utilizando a força do quadríceps (SOUZA;
GONDIM; JUNIOR, 2014).

Aos seis meses de idade, entra em ação o segundo padrão flexor. O bebê
já é capaz de segurar os pés e levá-lo a boca. Este segundo padrão, integrado às
habilidades motoras, permite que o bebê assuma a postura de gatas (SOUZA;
GONDIM; JUNIOR, 2014).

O último padrão extensor é definitivo para o ser humano. Ele é percebido


a partir da capacidade da criança em saltar quando colocada de pé. O melhor
equilíbrio de tronco permite liberar uma das mãos quando está em gatas e
posteriormente quando está de pé. Desse momento em diante, Souza, Gondim e
Junior (2014) salientam que não ocorrem novas mudanças do padrão de tônus. O
que se percebe é apenas o refinamento das habilidades motoras como engatinhar,
ficar de pé, ficar de joelhos e andar.

48
TÓPICO 3 — SEMIOLOGIA E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO EM PEDIATRIA E NEONATOLOGIA

Formiga, Pedrazzani e Tudela (2010) afirma que as anormalidades do tô-


nus são consideradas, por muitos autores, como sendo um dos sinais mais evi-
dentes de alterações no desenvolvimento neuro-sensório-motor. Tais alterações
se caracterizam pela diminuição da tensão em que se encontra permanentemente
um músculo normal em repouso e diminuição da resistência ao movimento pas-
sivo (hipotonia); aumento da tensão em repouso e/ou da resistência ao movi-
mento passivo (hipertonia) ou, ainda, a variação entre diminuição e aumento da
tensão e/ou resistência ao movimento passivo (flutuação tônica).

Para avaliação do tônus muscular em crianças e adultos, é utilizada mun-


dialmente a escala de Ashworth (que serve também para avaliar espasticidade).

2.3 AVALIAÇÃO DAS REAÇÕES E REFLEXOS PRIMITIVOS


Como visto no Tópico 2, a observação das reações e reflexos primitivos
nos bebês é de fundamental importância uma vez que, a persistência além da
idade, a ausência deles ou ainda, as intensidades de aparecimento desses reflexos
podem levantar a suspeita de alguma disfunção neurológica. O quadro a seguir
traz um resumo dos principais reflexos e reações, quanto à idade esperada de
início (início da faixa azul) e inibição dos mesmos (fim da faixa azul):

FIGURA 31 – IDADE DE INÍCIO ATÉ INIBIÇÃO DAS REAÇÕES E REFLEXOS PRIMITIVOS

FONTE: Ministério da Saúde (2020).

49
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

2.4 AVALIAÇÃO DOS MARCOS DO DESENVOLVIMENTO


MOTOR
Mesmo com toda a variabilidade, o desenvolvimento da criança res-
peita uma sequência de eventos, e as idades de ocorrência desses eventos são
obtidas a partir de uma média e, naturalmente, há crianças que apresentam as
aquisições mais adiantadas, e outras mais tardiamente, embora dentro de uma
variação normal.

Em um estudo multicêntrico, a Organização Mundial de Saúde (2006)


coletou dados de 816 crianças de diferentes países para identificar os períodos
aquisitivos do que os autores denominaram as “seis janelas de desenvolvi-
mento motor grosso”, sendo estas e os respectivos percentis 1º e 99º em meses
(BRASIL, 2016):

• Sentar sem suporte (3.8 e 9.2).


• Ficar de pé com assistência (4.8 e 11.4).
• Engatinhar com mãos e joelhos (5.2 e 13.5).
• Andar com assistência (5.9 e 13.7).
• Ficar de pé sozinho (6.9 e 16.9).
• Andar sozinho (8.2 e 17.6).

Os achados apontam que a maioria das crianças completou o período


aquisitivo, para os marcos de desenvolvimento em questão, até o limite dos 17.6
meses de vida, sendo que 97% das mesmas ficaram de pé sozinhas até os 15.2
meses e 95% andaram sozinhas até os 15.3 meses (BRASIL, 2016).

A seguir está apresentado um resumo dos principais marcos do


desenvolvimento de crianças de 0 a 12 anos:

QUADRO 1 – RELAÇÃO DA IDADE COM OS MARCOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Idade Marcos do desenvolvimento

Controle da cabeça.
Simetria corporal.
Transferência do peso corporal.
Junção das duas mãos na linha
3 meses
média.
Vocalização e gritos.
Observa rostos atentamente.

50
TÓPICO 3 — SEMIOLOGIA E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO EM PEDIATRIA E NEONATOLOGIA

É capaz de rolar.
Alcança e segura objetos com as
mãos.
6 meses Senta-se, apoiado.
Balbucia com os brinquedos.
Sorri espontaneamente.
Reconhece as pessoas à distância.

De sentado passa para a postura em


pé.
Engatinha.
9 meses
Permanece em pé, com apoio.
Aprende a sentar-se de cócoras.
Duplicidade de sílabas no balbucio.

Anda apoiando-se nos móveis ou em


alguém.
12 meses Primeiros passos sem apoio.
Primeiras palavras.
Bate palmas e dá “tchau” com a mão.

Corre bem/com coordenação.


Sobe e desce escadas sem ajuda.
Pula.
Folheia páginas de livro.
2 anos
Rabisca em um padrão circular.
Forma frases com duas a três
palavras.
Verbaliza necessidades de higiene.

Marcha madura em pé.


Favorece o uso de uma mão à outra.
3 anos Conta até 10 e usa plurais.
Reconhece algumas cores.
Alimenta-se bem sozinho.

Alterna os passos, subindo e


descendo escadas.
4 anos Pula em um pé.
Veste-se.
Lava as mãos e o rosto.

51
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

Salta.
Desenha uma pessoa.
5 anos Reconhece as cores.
Veste-se e se despe sem ajuda.
Desce uma escada sem auxílio.

Caminha com o calcanhar e artelhos


6 anos alinhados.
Escreve o nome.

Está alfabetizada.
7 a 9 anos Consegue fazer cálculos matemáticos
simples.

Puberdade.
10 a 12 anos Desenvolvimento de órgãos sexuais.
Estirão do crescimento.

*A sequência é regularmente consistente, mas o tempo dos eventos é variável; os tempos


citados representam valores médios.

FONTE: Adaptado de Duncan, Schmidt e Giugliani (2004) e Hassano (2011)

2.5 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO


DESENVOLVIMENTO MOTOR
A utilização de testes e escalas de desenvolvimento padronizados
possibilita a detecção precoce de alterações, levando a uma intervenção
terapêutica mais rápida e eficaz. As escalas de desenvolvimento fornecem
valiosas informações sobre o nível de operação da criança ou sobre os marcos por
ela alcançados (FORMIGA; PEDRAZZANI; TUDELA, 2010).

Esses testes são de suma importância, pois permitem ao avaliador traçar


metas de tratamento e nortear as ações terapêuticas com eficiência, quantificando
o desempenho motor em diferentes domínios.

A seguir estão listados alguns importantes instrumentos de avaliação


utilizados por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fisiatras e neurologistas
em sua prática clínica:

• Test of Infant Motor Performance (Timp)

52
TÓPICO 3 — SEMIOLOGIA E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO EM PEDIATRIA E NEONATOLOGIA

Trata-se de avaliação de postura e do movimento infantil que pode ser


utilizada com recém-nascidos de 32 semanas de idade gestacional até quatro meses
de idade corrigida. Avalia a qualidade do movimento, o controle e alinhamento
postural, o equilíbrio e a coordenação de acordo com a evolução do controle da
cabeça e do tronco, supino e posições verticais. É um dos testes mais sensíveis às
mudanças ocorridas na coordenação motora de acordo com a idade, em crianças
bem pequenas (link para acesso: https://www.infantmotortest.com/).

• Alberta Infant Motor Scales (AIMS)

Tem como objetivo avaliar as aquisições motoras de crianças até os 18 meses


de idade. Através de avaliação observacional, discrimina e avalia os componentes
do desenvolvimento na tentativa de identificar bebês cujo desenvolvimento
motor esteja atrasado e medir esse desempenho através do tempo (link para
acesso: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/18975/000733746.pdf).

DICAS

Dica de artigo sobre instrumentos de avaliação em pediatria. Link: http://www.


jped.com.br/conteudo/08-84-04-289/port.asp.

• General Movements (GM)

Escala proposta por Prechtl e Beintema (1977), que se constitui em


um exame neurológico utilizado para avaliação do RN a fim de detectar
precocemente sinais neurológicos anormais no período neonatal. Consiste na
observação e classificação dos movimentos espontâneos que o bebê apresenta na
posição supina. Os autores identificaram e descreveram os padrões motores dos
movimentos característicos dos neonatos, que se transformam à medida que o
bebê amadurece. É uma avaliação quantitativa e não invasiva que demonstra ser
eficaz para a detecção precoce de anormalidades a partir dos três meses de idade.

Existem outras escalas que também podem ser utilizadas com o propósito
de avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor: PEDI (Pediatric Evaluation
Disability Inventary), adaptada para a realidade brasileira por Mancini (2005);
Developmental Milestones; Denver Development Screening Test (DSST), padronizado
para a população brasileira por Drachler, Marshall e Carvalho-Leite (2007); Bayley
Scales of Infant Develpment (BSID); Peabody Developmental Motor Scale (PDMS-2),
adaptado e validado em versão portuguesa por Saraiva, Rodrigues e Barreiros
(2011); GMFM (Gross Motor Function Measure), entre outras.

53
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

2.6 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E DE LINGUAGEM


Para Braga (2010) o desenvolvimento cognitivo é o processo de surgimento
da capacidade de compreender, pensar e decidir como agir no mundo que nos cerca.
Assim, um desenvolvimento cognitivo integral depende de relações satisfatórias
entre as diversas funções (sensorial, perceptiva, motora, linguística, intelectual
e psicológica), bem como das etapas críticas da maturação neurocerebral do
indivíduo. Por consequência, a ausência, escassez ou presença de estimulações
nos momentos oportunos pode alterar o curso do desenvolvimento.

Conforme já mencionado, a utilização de testes e escalas de


desenvolvimento possibilita a detecção precoce de alterações, levando a uma
intervenção terapêutica mais rápida e eficaz. Alguns instrumentos existentes
podem ser muito úteis para a prática nos serviços de reabilitação, uma vez que
se propõem a avaliar e acompanhar o desenvolvimento da linguagem e cognição
de crianças entre zero e três anos, como a Escala Bayley, Teste de Triagem de
Desenvolvimento Dever II, Escala de Aquisições Iniciais de Fala e Linguagem,
entre outros.

2.7 AVALIAÇÃO RESPIRATÓRIA


O comprometimento do sistema respiratório é uma das principais causas
de atendimento a crianças nos serviços de emergência. As doenças pulmonares,
durante os primeiros cinco anos de vida, são de origem predominantemente
infecciosa, com uma prevalência de cinco a oito episódios por criança/ano.
Os principais fatores de risco associados incluem baixa renda familiar, baixa
escolaridade dos pais, desnutrição, baixo peso ao nascer, prematuridade,
exposição a fumo passivo, desmame precoce e frequentar creches.

A população pediátrica é particularmente suscetível a desenvolver


distúrbios respiratórios de maior gravidade, em decorrência de diversos fatores
inter-relacionados que favorecem essa evolução, que vão desde peculiaridades
anatômicas a características fisiológicas e imunológicas. Com isso, reconhecer
e manejar adequadamente o comprometimento respiratório em crianças, são
habilidades de extrema importância para profissionais da saúde que trabalham nos
setores pediátricos (SARMENTO, 2011). Dentre as particularidades que tornam
as crianças mais suscetíveis ao desenvolvimento de distúrbios respiratórios,
podemos citar:

• Pequeno diâmetro das vias aéreas, quando comparado com adultos, o que
ocasiona tendência ao colabamento e obstrução dessas vias de pequeno calibre.
• As funções musculares intercostal e diafragmática menos maduras, favorecendo
a exaustão.
• Os poros de ventilação colateral (canais de Lampert e Poros de Kohn) que ainda
não completamente desenvolvidos, o que favorece a formação de atelectasias.
• A caixa torácica mais complacente.

54
TÓPICO 3 — SEMIOLOGIA E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO EM PEDIATRIA E NEONATOLOGIA

• Os pulmões das crianças possuem menos elastina, com consequente diminuição


da complacência pulmonar.
• O sistema imunológico ainda está em desenvolvimento, o que favorece o
aparecimento de infecções.

Previamente a qualquer intervenção, a criança deve ser submetida a uma


avaliação criteriosa, o que possibilita o profissional traçar seu plano de assistência
de forma segura e individualizada. A fisioterapia respiratória pediátrica trata
especificamente de crianças e a abordagem se difere das práticas utilizadas no
adulto. É preciso respeitar a idade do paciente, fatores anatômicos e fisiológicos,
qual a doença pulmonar em questão, quais as doenças associadas e qual a
condição clínica atual e evolução do quadro. Também é preciso avaliar o nível
de cooperação e aderência ao tratamento por parte da criança e desenvolvimento
neuropsicomotor (SARMENTO, 2011).

A avaliação respiratória pediátrica envolve uma série de itens que


abordam informações sobre o quadro respiratório da criança, entre elas:

• Frequência respiratória; ritmo respiratório; expansibilidade torácica e simetria.

TABELA 1 – VALORES DA FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA NORMAL EM INCURSÕES


RESPIRATÓRIAS POR MINUTO (IPM) DE ACORDO COM A IDADE

Idade Frequência respiratória (ipm)

Recém-nascido 30-60
Lactente (< 1 ano) 25-35
Crianças pequenas (1 – 3 anos) 20-30
Pré-escolares (4 - 5 anos) 20-25
Escolares (6 – 10 anos) 18-20
Adolescentes (> 10 anos) 12-16

FONTE: A autora

• Tipo de tórax; qualidade e coloração da pele (presença de cianose e/ou icterícia).


• Ausculta pulmonar, prestando-se atenção a sons anormais, como sibilos,
estertores creptantes e roncos.
• Secreção pulmonar: presença, aspecto e quantidade.
• Na avaliação de sinais de desconforto respiratório, observa-se se há aumento
do trabalho respiratório (batimento de asas do nariz, uso da musculatura
acessória com retrações), diminuição ou ausência do trabalho respiratório
(apneia, bradipneia), conforme Boletin de Silverman Andersen, um instrumento
utilizado na prática clínica pediátrica para avaliar cinco aspectos do desconforto
respiratório e quantificá-los (SARMENTO, 2011).

55
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

FIGURA 32 – BOLETIM DE SILVERMAN ANDERSEN

FONTE: <https://bit.ly/3rSVlC6>. Acessado em: 29 set. 2020.

Se a criança estiver utilizando oxímetro de pulso verificar também


a saturação de oxigênio. Caso a criança esteja em ventilação mecânica não
invasiva (VNI) ou ventilação mecânica (VM) é necessário também verificar
todos os parâmetros da máquina (volume corrente, pressão inspiratória, pressão
expiratória etc.). Exames complementares como raio-x, tomografia e gasometria
podem ser muito úteis para uma avaliação pulmonar completa. Após toda essa
análise é que o fisioterapeuta pode traçar sua conduta e seguir com o tratamento
proposto (SARMENTO, 2011).

56
TÓPICO 3 — SEMIOLOGIA E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO EM PEDIATRIA E NEONATOLOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR

DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NO PRIMEIRO ANO DE


VIDA

Alice Y. S. Hassano

INTRODUÇÃO

A meta última da Pediatria, por meio de inúmeras e diversas atividades


de prevenção, diagnóstico, tratamento de doenças e reabilitação, é fazer com
que a criança alcance o crescimento e desenvolvimento fazendo uso de todo o
seu potencial.

Para tanto, no atendimento clínico inclui-se o monitoramento do cresci-


mento e desenvolvimento de todas as crianças, sejam elas portadoras ou não de
fatores de risco para alterações. Quanto ao desenvolvimento, para que a vigi-
lância ocorra, sob visão global, evidentemente é mister que se faça com atenção
não somente para a função motora, mas também para as demais: sensorial (vi-
são, audição), cognitiva, psíquica, social e linguagem. Os itens da avaliação do
desenvolvimento são classificados no teste de Gesell, de triagem de Denver ou
em outros, em áreas motoras grosseira, motora fina ou adaptativa, pessoal ou de
linguagem, mas há que se considerar que os itens de qualquer uma dessas áreas
mostram habilidades das crianças que são, na realidade, uma misto de mani-
festações das funções motora, sensorial, cognitiva, psíquica, social e linguagem.
Isto porque, no comando cerebral, todas as funções se encontram interligadas.

No comando motor, há participação de inúmeras estruturas cerebrais e


não somente das áreas motora primária e sinestésica primária, como seria, por
exemplo, em simples movimentos repetidos de toque de tecla com o dedo indi-
cador, demonstrado em pesquisa com o uso de ressonância magnética funcional.

A área motora primária, que comanda a execução dos movimentos, possui


neurônios que são responsáveis cada qual por aspectos variados do movimento,
como, por exemplo, a força empregada, variação da mesma no decorrer do tempo,
velocidade, e posição da articulação no início do movimento.

Movimentos mais complexos necessitam de planejamento antes da


sua execução. As estruturas planejadoras são: área pré-motora, área motora
suplementar, córtex pré-frontal (responsável pela função cognitiva), que verificam
a localização do alvo, a trajetória do movimento, a distância a ser percorrida até
o alvo etc. e selecionam os neurônios da área motora primária que executarão
melhor o movimento planejado. Na programação, há participação também da

57
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

área motora cingulada, que, devido a suas conexões com o sistema límbico,
conferirá a carga emocional ao movimento. O sorriso de alegria é planejado
por todas essas áreas mencionadas, enquanto que em um sorriso amarelo, sem
componente emocional, os mesmos movimentos faciais seriam programados sem
a participação da área motora cingulada.

O conhecimento desses processamentos todos, necessários para os


movimentos, esclarece porque tanto um déficit cognitivo quanto um distúrbio
psicoafetivo podem repercutir no motor, causando atraso no alcance dos marcos
motores ou comprometimento da qualidade dos movimentos; nas avaliações
do desenvolvimento, os comportamentos das crianças revelam não somente a
função motora pura e simples, mas sim simultaneamente as manifestações das
áreas cognitiva, psicoafetivas, além da visual, auditiva e da linguagem.

Em outras palavras, um atraso e/ou distúrbio motor em criança é decorrente


não somente de lesões neurais nas vias motoras, mas também pode ser causado
por deficiência visual, cognitiva ou distúrbio psicoafetivo e vice-versa, isto é, um
déficit motor pode levar, com o tempo, a uma deficiência cognitiva e/ou distúrbio
psíquico secundário.

Se, na avaliação de uma criança, houver comprometimento de mais de


uma função, deve-se verificar qual delas é a primariamente alterada para que
as intervenções sejam mais dirigidas para a causa primária. Assim sendo, em
distúrbio nas áreas motora, cognitiva e linguagem, por exemplo, se a causa primária
for déficit cognitivo, o maior peso das intervenções deverá ser nessa área, o que
poderá ser feito por um terapeuta ocupacional ou psicopedagogo, especialistas
que possuem, pela sua formação, habilitação maior para o desenvolvimento da
percepção e da cognição das crianças.

O diagnóstico funcional da criança, realizado desta forma, é imprescindível


para nortear não somente o plano terapêutico na reabilitação, mas também
a solicitação de exames complementares para as funções acometidas, além de
encaminhamentos para os respectivos especialistas. Por exemplo, a ausência e/ou
dúvidas quanto a respostas auditivas indicam a necessidade de uma audiometria
comportamental e/ou BERA (brainevoked response audiometry), que é o
potencial auditivo evocado de tronco encefálico, e de encaminhamento para um
serviço de Otorrinolaringologia/Fonoaudiologia. É preciso também levar-se em
conta os fatores exógenos, ambientais, que igualmente exercem grande influência
em cada uma das funções podendo também causar atraso na emergência das
aquisições e/ou distúrbio.

Os pais e a família constituem esses fatores externos, de forma mais


preponderante, no início da vida. As funções não se desenvolvem separadamente
de forma linear, mas sim de maneira interdependente, integrada e cumulativa e
necessitam da interação com o meio que lhes seja favorável.

58
TÓPICO 3 — SEMIOLOGIA E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO EM PEDIATRIA E NEONATOLOGIA

OBJETIVOS

• Utilizar alguns marcos clássicos do desenvolvimento motor de crianças e outros


precursores desses, como parâmetros para a detecção precoce de desvios do
desenvolvimento, sem necessidade de uma testagem extensa.
• Considerar que atraso no alcance desses marcos motores não se deve
exclusivamente a alterações na função motora, mas há possibilidade de ser por
déficit ou distúrbio em outras funções: visual, cognitiva e/ou psicoafetiva.
• Reconhecer que o objetivo principal da avaliação do desenvolvimento
(seja de triagem, como o teste de Denver ou ficha de acompanhamento do
desenvolvimento do Ministério da Saúde, ou outros de avaliação mais extensa,
como o de Bayley, Brunet-Lézine, e WISC, por exemplo), é fazer o diagnóstico
funcional da criança, considerando-se minimamente as seguintes funções:
motora, visual, auditiva, cognitiva, psicoafetiva e linguagem.
• Definir, no diagnóstico funcional, a função primariamente afetada quando há
mais de uma com comprometimento.

MÉTODOS

Para o diagnóstico precoce de desvios do desenvolvimento, não basta a


consideração apenas dos seguintes marcos clássicos: controle de cabeça aos três
meses; permanecer sentado, sem apoio, aos seis meses, quando colocado nessa
postura; passar para de pé aos nove meses; andar aos 12 meses.

Consideremos a marcha, que surge em torno de um ano de idade em


crianças que apresentam um desenvolvimento neuropsicomotor normal. A
emergência desta função ocorre com um ano porque, em geral, nessa idade, a
criança fez a aquisição de todos os pré-requisitos para a marcha, cujo preparo
teve início já na vida intrauterina e continuou após o nascimento ao longo de todo
o ano. De forma sucinta e muito simplificada, mas satisfatória para o objetivo de
avaliação do desenvolvimento em Pediatria, alguns dos pré-requisitos motores
para a marcha são: corporal, ou seja do mapa somatotópico, que se realiza através
dos mais diversos tipos de estímulos: táteis, proprioceptivos, vestibulares,
visuais, auditivos, gustativos e olfativos; flexão no período neonatal; atividade
reflexa primitiva; simetria corporal; transferência de peso corporal; rolar; reações
de retificação; reações de equilíbrio.

O desenvolvimento desses pré-requisitos ocorre concomitantemente


com a continuação da maturação das funções sensitivas, cognitivas e psíquicas.
O conhecimento desses pré-requisitos é importante pois permite a detecção
precoce de alterações no desenvolvimento, que, por sua vez, possibilita o início
de intervenções necessárias, em tempo hábil.

Esquema corporal: Piaget denominou o período de 0 a dois anos de idade


de sensório-motor, pela estreita correlação no desenvolvimento destas funções.
As sensações visuais, auditivas, tácteis e proprioceptivas, oriundas da exploração
que o bebê faz em seu corpo, promovem a elaboração do seu esquema corporal,

59
UNIDADE 1 — DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL E SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
E NEONATOLÓGICA

ou seja, a noção dos limites do seu próprio corpo, das partes que o compõem e
das relações delas no espaço. O desenvolvimento do esquema corporal, por sua
vez, vai aprimorando as funções motoras, num mecanismo de feedback positivo.

Atividade reflexa primitiva: o recém-nascido (normal) apresenta inúme-


ros reflexos primitivos, que, de maneira geral, estão presentes até notadamente
quatro meses de vida. Supõe-se que as atividades reflexas primitivas concorram
como arcabouço para o preparo dos atos motores voluntários futuros. À medida
que evolui a maturação do sistema nervoso, a atividade reflexa primitiva vai
sendo inibida.

Flexão no período neonatal: ao nascer a termo, o bebê tem predomínio


do tônus flexor, e, por isso mesmo, assume uma postura flexora ficando com
os membros superiores e inferiores semifletidos, mesmo quando em suspensão
vertical. Paulatinamente há uma diminuição do tônus flexor global com
concomitante desenvolvimento da extensão ativa do corpo.

Simetria corporal: nos três primeiros meses de vida, o lactente nascido a


termo apresenta assimetria postural: a cabeça fica voltada para a direita ou para a
esquerda e, devido ao RTCA, os membros de um dimidio ficam em extensão e os
do outro em flexão. Aos três meses de idade, o lactente adquire simetria postural:
a cabeça fica mais na linha média, em alinhamento com o tronco, e os membros
superiores e inferiores se movimentam de forma mais simétrica. As mãos muitas
vezes se juntam na linha média e os membros inferiores fazem movimentos que
lembram o pedalar. Apesar de a presença da assimetria postural ser normal nos
três primeiros meses, assimetria muito acentuada é sinal de alerta para alguma
anormalidade do desenvolvimento.

Transferência do peso corporal: a capacidade de transferência do peso


corporal de um dimidio para o outro e vice-versa é indispensável como um dos
vários pré-requisitos para a marcha. O lactente inicia o preparo deste pré-requisito
por volta dos três meses de idade, na postura deitada, quando passa de supino
para decúbito lateral, ora direito, ora esquerdo, ou quando estando de prono
faz apoio mais num dimidio do que no outro. Quando adquire a capacidade de
sentar, faz a transferência de peso nesta postura sentada, e, quando fica de pé,
passa a exercitá-la na postura ortostática, sendo essencial para dar os passos.

Rolar: a combinação da flexão e extensão ativas é realizada de forma


adequada e cada vez mais eficiente no segundo semestre de vida. Quando essa
combinação passa a ser exercida não apenas no plano sagital, mas também no
plano transversal ao eixo corpóreo, surge o movimento de rotação corporal.
Essa capacidade é utilizada no rolar “dissociado”, que surge aos seis meses,
diferente do rolar em bloco dos primeiros meses de vida. O bebê consegue fazer
movimentação inicial da cintura escapular, seguida da cintura pélvica, para
passar da posição prona para supina ou vice-versa.

60
A avaliação do lactente deve ser realizada em várias posturas: supino,
prono, decúbito lateral, de deitado puxado para sentar, sentado e de pé. É
extremamente útil nos primeiros meses, o uso da postura, que poderia ser
chamado de supino a 45 graus. Esta postura permite não somente avaliar se o
lactente vê ou ouve, mas também o “diálogo” examinador-lactente, que fornece
muitas informações sobre as outras funções cognitiva, psicoafetiva e linguagem,
além da motora, através de manifestações de atenção, interesse, contato visual,
interação, sorriso e/ou emissão de sons, vocalizações.

É muito útil o oferecimento de brinquedos não somente aos quatro


meses para a observação da preensão dos mesmos, mas também aos maiores de
seis meses de idade, porque a análise da reação perante os mesmos (atenção,
interesse, alcançar e apanhar, levar à boca, exploração etc.) facilita a observação
das manifestações de todas as funções mencionadas.

Recomenda-se que a avaliação do desenvolvimento seja realizada no tatame


e não sobre a mesa de exame. No tatame, a criança se sentirá menos controlada
e livre para realizar as trocas posturais e os deslocamentos. Além disso, não
haverá risco de quedas. Como a maior parte da avaliação do desenvolvimento se
baseia mais em observações de comportamentos espontâneos da criança, do que
em manuseios, ela deve ser realizada em todos os momentos em que a própria
criança oferecer oportunidade para tal.

Por isso mesmo, a avaliação ocorre em vários momentos da consulta, seja


no início, durante a anamnese, ou no momento do exame físico, ou até mesmo no
final da consulta. Por isso mesmo, não há sequência rígida, pré-estabelecida, para
os vários itens do exame.

FONTE: <http://revistadepediatriasoperj.org.br/detalhe_artigo.asp?id=552>. Acesso em: 29 set.


2020.

61
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A criança a partir do nascimento passa por inúmeras modificações, partindo


de uma condição de total dependência controlada apenas por movimentos
reflexos, até vir a tornar-se um ser independente com desejos próprios.

• As modificações se dão principalmente nas áreas motoras, sensorial e psíquica.

• Cada etapa do desenvolvimento é um pré-requisito para o seguinte, no sentido


global para o específico.

• É muito importante o acompanhamento dos profissionais da saúde para


o desenvolvimento infantil, a fim de identificar possíveis anormalidades e
atrasos. Com isso, existem inúmeras escalas e instrumentos que auxiliam esses
profissionais a realizarem uma adequada avaliação pediátrica.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

62
AUTOATIVIDADE

1 O desenvolvimento motor é um fenômeno que permeia a vida das


crianças, possibilitando as habilidades motoras e a realização de atividades
com padrões de movimento que são caracterizados por duas mudanças
fundamentais: o aumento da diversificação e o aumento da complexidade.
Assim, o conhecimento das escalas que atendam às diversas demandas
referentes a população pediátrica torna-se necessário, não só no ambiente de
pesquisa, mas como uma ferramenta clínica importante. Sobre a avaliação
fisioterapêutica e o domínio avaliado, associe os itens, utilizando o código
a seguir:

I- Tônus muscular.
II- Equilíbrio.
III- Desenvolvimento cognitivo e de linguagem.
IV- Motricidade ampla.

A) Escala de Bayley.
B) Escada de Ashworth.
C) Escala Alberta (AIMS).
D) Escala de Berg.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I-B, II-D, III-C, IV-A.
b) ( ) I-D, II-A, III-B, IV-C.
c) ( ) I-C, II-D, III-B, IV-A.
d) ( ) I-B, II-C, III-D, IV-A.
e) ( ) I-B, II-D, III-A, IV-C.

2 A fisioterapia respiratória pediátrica tem como objetivo principal


restabelecer quanto antes as funções respiratórias da criança acometida com
alguma doença ou distúrbio do sistema respiratório. É necessário analisar
fatores como a idade do paciente, questões anatômicas e fisiológicas, bem
como as doenças clínicas associadas e a evolução do quadro. Para isso,
deve-se realizar uma avaliação completa da criança. Baseando-se nestas
premissas, explique como deve proceder uma avaliação respiratória
adequada em pediatria e neonatologia, descrevendo quais parâmetros
devem ser avaliados.

3 O desenvolvimento motor infantil depende da interação de diversos fatores,


como fatores pessoais e ambientais. Entretanto, ao avaliarmos a criança, é
possível prever a aquisição de habilidades motoras dentro de uma faixa
etária. Com relação à média de idade para aquisição de marcos motores,
assinale a alternativa CORRETA:
63
a) ( ) Sentar sozinho com nove meses.
b) ( ) Engatinhar com onze meses.
c) ( ) Andar sozinho com dez meses.
d) ( ) Subir escadas sem apoio com um ano de idade.
e) ( ) Sentar sozinho com seis meses.

64
REFERÊNCIAS
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de crianças pré-termo. Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo, v.
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67
68
UNIDADE 2 —

INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES
PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• reconhecer as principais patologias neurológicas que afetam os neonatos


e infantes;

• compreender a atuação do fisioterapeuta na reabilitação de patologias;

• identificar as principais patologias musculoesqueléticas e reumáticas que


afetam os neonatos e infantes e compreender a atuação do fisioterapeuta
na reabilitação dessas patologias;

• verificar as principais patologias respiratórias que afetam os neonatos


e infantes e conhecer os principais recursos manuais e instrumentais
utilizados pelo fisioterapeuta no tratamento/manejo dessas afecções;

• identificar as principais afecções cardiovasculares pediátricas e neonatais,


bem como a intervenção fisioterapêutica nessas afecções.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

TÓPICO 2 – FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES ORTOPÉDICAS

TÓPICO 3 – FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS


E CARDIOVASCULARES

69
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

70
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico! Iniciamos agora uma nova jornada de conceitos e


aprendizados a respeito da atuação do fisioterapeuta em pediatria e neonatologia.
Atualmente, vivemos cercados de patologias neurológicas que afetam as crianças.
Muitas delas já nascem com sérios problemas neurológicos, necessitado de
cuidados especiais ao longo de suas vidas. Além disso, múltiplas patologias no
período neonatal associam-se ao alto risco de desenvolvimento de sequelas.

A pediatria e neonatologia são especialidades que evoluíram muito nas


últimas décadas, através do incremento do surfactante, óxido nítrico e ventilação
protetora, intervenções que revolucionaram a redução da mortalidade neonatal.
No entanto, na maioria dos casos, o incremento da sobrevida não acompanha um
neurodesenvolvimento adequado.

Neste sentido, o fisioterapeuta possui um grande papel na reabilitação


desses pacientes pediátricos que apresentam sequelas nos diversos sistemas cor-
porais e, também, para aqueles pacientes que apresentam patologias congênitas.

2 PATOLOGIAS NEUROLÓGICAS NA INFÂNCIA


Caro acadêmico, a infância vem acompanhada de muitas surpresas e
descobertas. Por vezes, estas surpresas não são boas. São muitos os pais que se
desesperam ao deparar-se com um diagnóstico de uma patologia neurológica do
seu filho.

As doenças neurológicas são patologias que atingem não somente o


encéfalo, mas também a medula e o sistema nervoso da criança. É necessário
estar pronto para lidar com essa situação e, por isso, ter uma rede de apoio
multiprofissional é de extrema importância nesses casos. A seguir, listaremos
as principais patologias neurológicas que acometem a população pediátrica.
Preparados? Vamos lá!

71
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

2.1 PARALISIA CEREBRAL


O termo Paralisia Cerebral (PC) descreve um grupo de distúrbios
permanentes do desenvolvimento do movimento e postura, causando limitação
de atividade, que são atribuídas a distúrbios não progressivos, que ocorreram
no cérebro fetal ou infantil em desenvolvimento. Os distúrbios motores da PC
são frequentemente acompanhados por distúrbios de sensação, percepção,
cognição, comunicação e comportamento pela epilepsia e por problemas
musculoesqueléticos secundários. Além disso, essas crianças apresentam
limitações que comprometem o seu desenvolvimento global e a participação na
vida em comunidade (ROSENBAUM et al., 2007).

Com relação à etiologia e fatores de risco para o desenvolvimento da PC,


estes podem ser divididos em:

• Fatores pré-natais: infecções congênitas, falta de oxigenação, baixo peso


gestacional, retardo do crescimento intrauterino, doença tireoidiana ou
infecções virais agudas maternas durante a gestação, descolamento prematuro
da placenta, hemorragia anteparto.
• Fatores perinatais: anoxia neonatal, eclampsia, exposição perinatal ao vírus
herpes, prolapso de cordão umbilical, choque hipovolêmico materno, parto
instrumentado, cesariana de emergência, hipertermia intraparto.
• Fatores pós-natais:traumas, kernicterus (lesão secundária à hiperbilirrubinemia
no período neonatal), meningite, displasia broncopulmonar; distúrbios
bioquímicos e hematológicos; malformações congênitas e as infecções congênitas
ou neonatais, trauma craniano e distúrbios eletrolíticos graves(GLADSTONE,
2010; DE VRIES et al., 2011; HIMPENS et al., 2010).

O tipo de incapacidade e funcionalidade de crianças com PC demonstram


o grau e o nível da lesão, que varia entre o leve, o moderado e o grave/severo.
Algumas crianças podem apresentar comprometimentos leves, como desordens
ao andar, falar, ou no uso das mãos. Já outras são muito gravemente afetadas, com
impossibilidade de andar, falar, escrever, apresentam prejuízo na aprendizagem,
e outras características comportamentais e clínicas importantes (GIANNI, 2007).

Esquemas de classificação tradicionais para crianças com PC têm se


concentrado principalmente no padrão de distribuição dos membros afetados
com um modificador adicionado, descrevendo o tipo predominante de tônus ou
anormalidade de movimento. Os tipos de PC mais conhecidos são: PC do tipo
espástica, discinética, atáxica, mista e hipotônica (CANS et al., 2007).

Quanto à distribuição da topografia da lesão, a PC pode ser classificada


em tetraparesia (quando os quatro membros são acometidos simetricamente),
diparesia (na qual os membros superiores são menos acometidos que os inferiores)
e hemiparesia (acometendo um hemicorpo) (GIANNI, 2007), como podemos ver
na figura a seguir:

72
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

FIGURA 1 – CLASSIFICAÇÃO DA PC QUANTO Á TOPOGRAFIA

FONTE: <https://bit.ly/39OiGxL>. Acesso em: 7 dez. 2020.

A PC mista combina sinais decorrentes de lesões em mais de uma região


encefálica. A forma hipotônica é rara e geralmente evolui para os tipos atáxica
ou extrapiramidal (GIANNI, 2007). Em vista disso, estudaremos a seguir as
características dos três principais tipos de PC.

2.2 PARALISIA CEREBRAL ESPÁSTICA OU PIRAMIDAL


O primeiro tipo de PC descrito é a forma espástica, caracterizada por
hipertonia muscular, presença de tônus muscular elevado ou espasticidade (situação
em que os músculos ficam contraídos constantemente e involuntariamente, devido
à lesão no sistema nervoso central), prejuízo no equilíbrio, comprometimento
da coordenação motora para realização de movimentos, fraqueza muscular ou
paresia, aumento dos reflexos miotáticos, clônus e reflexo cutâneo plantar em
extensão – sinal de Babinski positivo. Consiste no tipo mais comum de PC, sendo
responsável por cerca de 58% dos casos (SCHOLTES et al., 2006).

LEMBRETE

Sinal de Babinski é um reflexo no qual os dedos do pé se estendem. É comum


em recém-nascidos e crianças pequenas, em que o sistema neurológico ainda não está
maduro, mas em adultos e crianças mais velhas indica um problema no cérebro ou na
medula espinhal.

73
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

FIGURA 2 – SINAL DE BABINSKI

FONTE: <https://farmaciasaude.pt/wp-content/uploads/2011/05/reflexo_babinski.png>. Acesso


em: 27 ago. 2020.

FIGURA 3 – ESPASTICIDADE EM CRIANÇA COM PC

FONTE: <https://bit.ly/2YJQvtD>. Acesso em:7 dez. 2020.

2.3 PARALISIA CEREBRAL DISCINÉTICA OU ATETOIDE


É ocasionada por uma lesão no sistema extrapiramidal. Ela é caracterizada
principalmente por movimentos involuntários, lentos e posturas atípicas. Engloba
a distonia (movimentos amplos) e a coreoatetose (envolve o tônus instável,
movimentos irregulares, retorcidos e involuntários). Os movimentos, além de
involuntários, são descontrolados e estereotipados (ROSENBAUM et al., 2007),
como pode ser observado na Figura 4.

74
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

2.4 PARALISIA CEREBRAL ATÁXICA OU CEREBELOSA


É a forma mais rara (< 5% dos casos), evoluindo com incoordenação
motora, déficit de equilíbrio e hipotonia. Apresenta normalmente uma marcha
com aumento da base de sustentação e tremores, que são ocasionados por uma
disfunção no cerebelo (ROSENBAUM et al., 2007).

FIGURA 4 – PADRÕES QUANTO AO TIPO E TOPOGRAFIA DA PC

FONTE: <https://bit.ly/3ttKFKY>. Acesso em: 27 nov. 2020.

Com relação ao diagnóstico, alguns aspectos devem ser considerados


para chegarmos ao quadro clínico da PC, tais como: presença de sinais clínicos
(espasticidade, discinesia ou ataxia), distribuição anatômica (unilateral ou
bilateral), classificação da função motora (extremidades superiores e inferiores)
e distúrbios associados. Além disso, existem escalas muito utilizadas para
identificar o nível de comprometimento motor das funções motoras globais
(PFEIFER et al., 2011).

O Gross Motor Function Classification System (GMFCS) é um sistema


padronizado para diferenciar crianças com diagnóstico de paralisia cerebral por
níveis de mobilidade funcional, em resposta às necessidades de uma classificação
para discriminar a severidade da disfunção do movimento. Esta classificação
baseia-se no movimento iniciado voluntariamente, com ênfase no sentar,
transferências e mobilidade, sendo possível classificar a criança ou o adolescente
com PC em cinco níveis (HIRATUKA; MATSUKURA; PFEIFER et al., 2010).

75
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

DICAS

Para acessar a escala completa, acesse o link: https://cerebralpalsy.org.au/our-


research/about-cerebral-palsy/what-is-cerebral-palsy/severity-of-cerebral-palsy/gross-
motor-function-classification-system/.

O diagnóstico da PC é clínico.Ocorre durante as observações de alterações


nos movimentos e na postura, geralmente sendo consolidado por volta dos 24
meses de vida. Os exames complementares de imagem servem para realizar o
diagnóstico diferencial das encefalopatias (ROSENBAUM et al., 2007).

Dentre alguns sinais clínicos observados em pacientes com PC e que


podem auxiliar no diagnóstico precoce, estão: movimentos assimétricos dos
segmentos, movimentos repetidos de abertura e fechamento da boca, protrusão
repetida da língua, ausência de movimentos das pernas, movimentos circulares
com os braços, incapacidade de manter a cabeça na linha média, postura corporal
assimétrica, hiperextensão de tronco e pescoço e braços e pernas em extensão
(YANG et al., 2012).

Em suma, o diagnóstico da PC deve ser realizado por uma equipe


multidisciplinar o mais precocemente possível. Crianças com PC beneficiam-
se mais com o tratamento precoce do que com o tratamento efetuado com uma
idade mais tardia, devido à grande plasticidade e adaptabilidade do cérebro
infantil. Durante os primeiros 18 meses de vida, ocorre um ligeiro crescimento e
desenvolvimento, e em nenhuma outra fase da vida a criança consegue aprender
tão rápido (YANG et al., 2012).

Como comentado anteriormente, a desordem motora na PC pode,


frequentemente, vir acompanhada por distúrbios sensoriais, perceptivos,
cognitivos, de comunicação e comportamental; epilepsia e problemas
musculoesqueléticos secundários, tais como problemas auditivos, visuais, na fala,
na alimentação, deformidades articulares e musculares, doenças respiratórias,
além de distúrbios do sono. Neste contexto, a fisioterapia é responsável prevenção
e correção de deformidades, contribuindo para que o paciente seja o mais
independente possível ao se locomover e realizar duas atividades de vida diária
(AVDs) (ROSENBAUM et al., 2007).

No entanto, não existe apenas um método de tratamento para a criança


com PC cerebral. Cada paciente tem sua necessidade individual, e o tratamento
dependerá do exame físico do paciente (ROSENBAUM et al., 2007). Dentre os
principais objetivos da fisioterapia para pacientes com PC, podemos citar:

76
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

• Inibir os padrões anormais de movimento e postura.


• Normalizar o tônus muscular global.
• Facilitar os padrões normais de movimento e postura.
• Estimular as reações de proteção.
• Estimular as reações de equilíbrio estático e dinâmica.
• Treinar coordenação motora dinâmica global e visomotora.
• Estimular a percepção corporal.
• Evitar deformidades e contraturas.
• Orientar os familiares.
• Indicar o uso de próteses e órteses ortopédicas.
• Estimular as fases do desenvolvimento neuropsicomotor (controle cervical,
rolar, controle de tronco, sentar, arrastar, engatinhar, ajoelhar, semiajoelhar,
ficar de pé e andar);
• Adquirir funcionalidade (POP EBSERH, 2020).

Agora que já estudamos as características, classificação, diagnóstico e


principais objetivos da fisioterapia em pacientes com PC, vamos falar sobre as
principais condutas realizadas pelos fisioterapeutas na reabilitação da PC.

O tratamento fisioterapêutico crianças com PC é muito abrangente, pois


as causas dessas alterações podem ser diversas. O fisioterapeuta atua alongando
musculaturas encurtadas, realiza manobras desobstrutivas e reexpansivas sobre
o sistema respiratório, trabalha a coordenação motora, treino de marcha, inibe
reflexos exacerbados, estimula a sensibilidade, entre outros. Tudo é realizado
de forma integrada, não isolada, utilizando-se um conjunto de manobras que
trabalham diferentes funções. Exemplos clássicos desse tipo de técnicas são os
métodos Kabat e Bobath (POP EBSERH, 2020).

• Conceito Bobath: tem sua base na neurofisiologia e na plasticidade neuronal,


requisitando e tornando ativas as áreas vizinhas ás lesões cerebrais. Para levar
a criança a mudar de estratégias na execução de uma função, este conceito
utiliza alguns recursos como os Pontos chaves de controle (zonas ou regiões do
corpo onde leva o PC a uma melhor organização e alinhamento biomecânico
para executar um movimento), a Inibição de movimentação inadequada e a
Facilitação dos movimentos funcionais (POP EBSERH, 2020).
• Método Kabat: baseia-se na obtenção de uma resposta máxima dos músculos
solicitados, mediante o emprego de técnicas de facilitação proprioceptiva,
como resistência máxima, estiramentos musculares, inversão dos antagonistas
etc. (POP EBSERH, 2020).

Outras condutas comuns no tratamento o fisioterapeuta são as mobili-


zações (ativas, passivas e ativo/assistidas), dissociação de cinturas escapular e
pélvica, dessensibilização, descargas de peso e transferências de postura, treino
de marcha e equilíbrio, treino de coordenação motora grossa e fina, entre outros
(POP EBSERH, 2020).

77
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

FIGURA 5 – BOBATH EM CRIANÇA COM PC ESPÁSTICA

FONTE: <https://bit.ly/3oPoMT0>. Acesso em: 7 dez. 2020.

FIGURA 6 – TREINO DE COORDENAÇÃO MOTORA EM PEDIATRIA

FONTE: <https://bit.ly/2YIHQYe>. Acesso em: 30 nov. 2020.

3 DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE


O segundo grupo de patologias que estudaremos são as distrofias, que
se caracterizam como um grupo de miopatias, ocasionadas pela degeneração
progressiva da musculatura estriada esquelética. Dentre elas, a mais frequente

78
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

é a Distrofia Muscular de Duchenne (DMD). Trata-se de um distúrbio recessivo


ligado ao cromossomo X, causada por mutação no gene que codifica a distrofina,
uma proteína localizada no sarcolema das fibras musculares. Os pacientes com
DMD apresentam deficiência desta proteína (distrofina), permitindo um maior
ingresso de cálcio dentro das células e ativação de proteases, o que ocasiona
necrose das fibras, reações inflamatórias e posterior proliferação de tecido
conjuntivo no interior destas (EVANS et al., 2009).

A distrofina é importante para o normal funcionamento das fibras


musculares, e sua ausência pode levar a uma perda progressiva das fibras,
ocasionando fraqueza progressiva, atingindo vários músculos do corpo humano.
Em cerca de dois terços dos casos, esta distrofia é herdada geneticamente da mãe
(EVANS et al., 2009).

O gene da DMD encontra-se no cromossomo X. Indivíduos do sexo


feminino possuem dois cromossomos X, com isso, portanto, o cromossomo
portador da DMD é inativado. Em vista disso, esta patologia afeta apenas o sexo
masculino (EVANS et al., 2009). Perante a uma suspeita clínica, o diagnóstico é
confirmado por doseamento sanguíneo da enzima creatina creatinoquinase,
que aparece muito elevada nesses pacientes e por avaliação da distrofina por
imunocoloração (EVANS et al., 2009).

A DMD tem curso progressivo, e as manifestações clínicas estão presentes


desde o nascimento, porém tornam-se mais aparentes a partir dos três anos de
idade, fase em que os primeiros sinais de fraqueza muscular começam a aparecer
(afetando a musculatura esquelética do quadril, da pelve, do pescoço e da parte
proximal dos membros inferiores). Posteriormente, a fraqueza muscular atinge
mais áreas (ombros e as partes distais dos membros inferiores e superiores) e
ocorre comprometimento no sistema cardiovascular, respiratório e sistema
nervoso central (MANZUR; KINALI; MUNTONI, 2008).

Com o decorrer do tempo, os pacientes começam a apresentar anomalias


na marcha e dificuldade de transferência de posturas. Aos cinco anos, a maioria
dos pacientes utiliza a Manobra de Gowers (Figura 7), para levantar-se do chão
(devido à fraqueza muscular), e com o tempo perdem a capacidade de deambula-
ção. Outra característica importante de pacientes com DMD é a pseudo-hipertro-
fia na panturrilha, decorrente da substituição de tecido muscular esquelético por
tecidos conjuntivo e adiposo (MANZUR; KINALI; MUNTONI, 2008).

Aos 12 anos de idade, a maioria dos pacientes está confinada à cadeira


de rodas, apresentando contraturas e desvios na coluna vertebral (MANZUR;
KINALI; MUNTONI, 2008). A expectativa de vida é curta, ficando na média de
18 anos de idade(2019).

79
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

FIGURA 7 – MANOBRA DE GOWERS

FONTE: <https://bit.ly/3cHirGL>. Acesso em: 7 nov. 2020.

FIGURA 8 – PACIENTE COM DMD APRESENTANDO PSEUDO-HIPERTROFIA DE PANTURRILHAS

FONTE: <http://www.scielo.mec.pt/pdf/rpmgf/v30n6/v30n6a08.pdf>. Acesso em: 7 dez. 2020.

Como sabemos, a DMD não possui cura, porém, é imprescindível que a


evolução do quadro da criança acometida seja acompanhada por uma equipe
multidisciplinar, visando sempre o bem-estar do portador. Dentro da equipe, a
fisioterapia possui suma importância para prevenir complicações respiratórias,
contraturas musculares, manter a mobilidade articular, a força muscular e pro-
moção de independência funcional e qualidade de vida (PALMIERI et al., 2008).

E
IMPORTANT

O fisioterapeuta deve preocupar-se em não fadigar o paciente, visto que o


excesso de exigência muscular leva a uma aceleração no processo degenerativo (PALMIERI
et al., 2008).

80
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

Dentre os principais objetivos e condutas realizadas pelo fisioterapeuta,


podemos citar:

• Alongamentos de plantiflexores plantares (é indicado o uso de órteses corretivas


noturnas evitando deformidades).
• Realização de exercícios ativos e resistidos visando manter a força muscular.
• Estimulação elétrica dos músculos tibiais anteriores, visando retardar o
progresso do déficit de força muscular.
• Treino de marcha e equilíbrio.
• Manutenção das capacidades respiratórias, evitando o acúmulo de secreções e
complicações pulmonares (FREZZA; SILVA; FAGUNDES, 2005).

Por fim, no estágio final da vida, o fisioterapeuta, junto a toda a equipe


multiprofissional e cuidadores, devem objetivar o conforto do paciente, reduzindo
a dispneia e possíveis dores (FREZZA; SILVA; FAGUNDES, 2005).

4 SÍNDROME DE DOWN
A Síndrome de Down (SD) é caracterizada como uma condição genética
causada pela trissomia do cromossomo 21 (distribuição cromossômica anormal
durante a fase de meiose), que leva seu portador a apresentar uma série de carac-
terísticas físicas e mentais específicas. Esta síndrome é considerada uma das mais
frequentes anomalias dos cromossomos autossômicos (GONÇALVES et al., 2003).

Trata-se de um erro na distribuição dos cromossomos das células, pois na


maioria dos casos os portadores de SD apresentam um cromossomo extra no par
21, resultando em 47 cromossomos (sendo 46 pares de cromossomos o normal) e
provocando um desequilíbrio da função reguladora que os genes exercem sobre
a síntese de proteína, bem como perda de harmonia no desenvolvimento e nas
funções das células (MUSTACCHI; ROZONE, 1990).

O diagnóstico clínico de SD é baseado no fenótipo. Quanto mais


características específicas da SD forem identificadas aumenta-se a segurança do
diagnóstico clínico. A SD apresenta características de expressividade variada. As
pessoas com SD geralmente apresentam déficit de desenvolvimento psicomotor,
intelectual e estrutural. Além do diagnóstico clínico, o diagnóstico laboratorial
pode ser feito através da análise genética denominada cariótipo, através do
cariograma que indica o conjunto de cromossomos presentes no núcleo celular
de um indivíduo (BRASIL, 2013).

O fenótipo da SD se caracteriza principalmente pelas características


descritas a seguir, porém nem todas precisam estar presentes para o diagnóstico
clínico de SD ser confirmado.

• pregas palpebrais oblíquas para cima;


• epicanto (prega cutânea no canto interno do olho);

81
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

• sinófris (união das sobrancelhas);


• base nasal plana, face aplanada, protusão lingual, palato ogival (alto), orelhas
de implantação baixa, pavilhão auricular pequeno e cabelo fino;
• clinodactilia do 5º dedo da mão (5º dedo curvo), braquidactilia (dedos curtos),
afastamento entre o 1º e o 2º dedos do pé, pé plano, prega simiesca (prega
palmar única transversa);
• hipotonia, frouxidão ligamentar, excesso de tecido adiposo no dorso do
pescoço, retrognatia, diástase dos músculos dos retos abdominais e hérnia
umbilical (BRASIL, 2013).

A atenção e cuidado de crianças portadoras de SD devem ser


compartilhados pela equipe multiprofissional, familiares e cuidadores. A equipe
realiza o diagnóstico, constrói o projeto terapêutico, define objetivos do tratamento,
realiza estratégias de educação em saúde e orientações aos cuidadores, além de
reavaliar o processo terapêutico de forma conjunta (BRASIL, 2013).

FIGURA 9 – FENÓTIPO DE CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN

FONTE: <https://bit.ly/3cGbQwd>. Acesso em: 7 dez. 2020.

Qual é o papel do fisioterapeuta no desenvolvimento de crianças com SD?

O fisioterapeuta é um profissional de fundamental importância para


crianças com SD em vários aspectos, sendo indicado o início da fisioterapia logo
que for diagnosticada a síndrome. A hipotonia generalizada em pacientes com
SD é originada no sistema nervoso central e afeta toda a musculatura e a parte
ligamentar da criança, que apresenta atraso na aquisição de competências motoras
quando comparada com outras crianças. Todavia, apesar do déficit intelectual e
do atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, quando bem estimulada, atinge

82
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

progressos consideráveis e perpassa por todas as fases do desenvolvimento


motor durante o primeiro ano de vida (controlar a cabeça, rolar, sentar, arrastar,
engatinhar, andar) (SHEPHERD, 2006).

O contato inicial do fisioterapeuta com a criança com SD é a avaliação,


através do exame físico e após a elaboração do diagnóstico cinético-funcional.
O tratamento fisioterapêutico deve voltar-se para as necessidades individuais
de cada criança, observando aspectos como atrasos no desenvolvimento motor,
qualidade da marcha, equilíbrio estático e dinâmico, capacidade de mudanças de
postura, entre outros (SHEPHERD, 2006).

DICAS

A Alberta Infant Motor Scale (AIMS) éuma escala padronizada, que avalia e
monitora o desenvolvimento amplo das crianças, desde o nascimento até os 18 meses ou
até a aquisição da marcha independente. Apesar de não ser uma escala específica para
crianças com SD, possui aplicabilidade para este grupo.

Dentre os principais objetivos da reabilitação fisioterapêutica a pacientes


com SD, podemos citar:

• estimulação motora para aquisição de controles posturais;


• estimulação motora para trocas de postura e ganho de estabilidade nas mesmas;
• auxílio e facilitação do desenvolvimento de reações de proteção e equilíbrio;
• utilização de estratégias para facilitar a aquisição dos principais marcos do
desenvolvimento motor, tais como, sentar, engatinhar e caminhar;
• orientar os pais sobre como estimular adequadamente as crianças no domicílio,
visando a promoção e prevenção da saúde (BIASOLI;MACHADO, 2006).

O déficit de equilíbrio é frequente em crianças com SD, pois possuem
dificuldade de captar informações sobre o posicionamento do corpo no espaço
(propriocepção) e a velocidade com que o corpo se move (VULLERME; MARIN;
DEBU, 2001).

Em crianças neurologicamente sem alterações, a marcha independente


geralmente inicia por volta dos 13 meses de idade, sendo que na SD, inicia-se por
volta dos 20 meses, atraso que pode ser justificado pela hiperfrouxidão ligamentar
e hipotonia generalizada, com consequente déficit do equilíbrio dinâmico e
imaturidade da aquisição da marcha (TECKLIN, 2002).

83
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

Outra possibilidade de intervenção fisioterapêutica em crianças com SD


é a terapia aquática, através da hidrocinesioterapia. O fisioterapeuta aproveita
os princípios físicos da água para garantir efeitos desejados como a melhora da
sensibilidade, ajustes do tônus, coordenação dos movimentos, facilitação das
reações de endireitamento e da aquisição das habilidades motoras; facilitação das
reações de equilíbrio e de proteção e melhora do esquema corporal (BIASOLI;
MACHADO, 2006).

Por fim, durante a prática de equoterapia, os movimentos tridimensionais


proporcionados pelo cavalgar despertam no corpo do portador de SD, uma
grande quantidade de estímulos sensoriais e neuromusculares que vão interferir
diretamente no desenvolvimento global e na aquisição de habilidades motoras,
propiciando ao paciente explorar novas formas de comunicação, coordenação,
socialização, consciência corporal e melhora da autoestima (MEDEIROS, 2002).

FIGURA 10 – EQUOTERAPIA EM CRIANÇA COM SD

FONTE: <https://bit.ly/3tuVqN5>. Acesso em:7 dez. 2020.

Tendo em vista as premissas supracitadas, é esperado que o cuidado


integral por uma equipe multiprofissional e cuidadores da criança com SD resulte
na promoção da sua saúde física e mental, assim como a sua inclusão social e
desenvolvimento da autonomia.

5 ESPINHA BÍFIDA
A espinha bífida (EB) ou “espinha dividida” trata-se de uma má formação
congênita que ocorre por um defeito do fechamento do tubo neural embrionário.
Nesta patologia, algumas vértebras não se formam completamente, promovendo
a projeção da medula e de seus revestimentos através de uma protuberância
(FEELEY; IP; OTSUDA, 2003). Vamos analisar agora as formas de EB:

84
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

FIGURA 11 – TIPOS DE ESPINHA BÍFIDA

FONTE: <https://www.fetalmed.net/mielomeningocele-espinha-bifida/>. Acesso em: 7 dez. 2020.

• Espinha bífida oculta: neste tipo de EB, a medula permanece dentro do canal
vertebral, sendo considerada a forma mais leve e com menor incidência. O
sintoma mais comum são as alterações da pele na região sacrococcígena
(FEELEY; IP; OTSUDA, 2003).
• Meningocele: as meninges e o líquido cefalorradiano são projetados para
dentro da bolsa cística, porém geralmente não ocorrem danos neurológicos.
• Mielomeningocele (MMC): é a forma mais comum de EB, correspondendo
a cerca de 75% dos casos. As meninges, líquor e uma porção da medula se
protraem, podendo ocasionar graves danos neurológicos nos pacientes
acometidos (AGUIAR et al., 2003).

Neste subtópico, nesta unidade, nos deteremos na mielomeningocele, por


ser o tipo de espinha bífida mais comumente encontrada pelo fisioterapeuta nas
clínicas de reabilitação.

5.1 MIELOMENINGOCELE
Como exposto anteriormente, a mielomeningocele (MMC) é uma forma
de mielopatia causada por um defeito no fechamento do tubo neural durante a
quarta semana de gestação, por um problema embrionário no sistema nervoso,
que permanece aberto nas extremidades cranial e caudal (ZAMBELLI et al., 2007).

NOTA

Qualquer processo patológico que afeta primeiramente a medula espinhal e


causa disfunção neurológica é chamado de mielopatia.

85
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

FIGURA 12 – CRIANÇA COM MIELOMENINGOCELE

FONTE: <https://static.tuasaude.com/media/article/8b/0p/mielomeningocele_9499_l.jpg>.
Acesso em: 7 dez. 2020.

A MMC é a segunda causa de disfunções do aparelho locomotor em


crianças. Quanto à etiologia, estudos indicam a influência de fatores nutricionais
(deficiência de ácido fólico durante a gestação), fatores ambientais e genéticos
(ZAMBELI et al., 2007).

O diagnóstico pode ser feito com o bebê ainda no útero materno. Nestes
casos, a via de parto escolhida é a cesariana, evitando riscos de rotura da
mielomeningocele e de infecção. Após o nascimento, o diagnóstico é confirmado
por exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética (WARF, 2011).

Após a realização do diagnóstico, esta patologia requer intervenção


clínica e cirúrgica precoce de correção, com a finalidade de reduzir a exposição
da medula espinhal, reparando a inervação e melhorando a funcionalidade da
criança. No entanto, a cirurgia realiza apenas a correção (evitando o surgimento
de novas sequelas), não sendo capaz de tratar as sequelas já instaladas no bebê,
tais como a paralisia ou incontinência, por exemplo (DIDELOT, 2003).

A gravidade do caso e também o grau de incapacidade dependem do


local da lesão, a qual pode ocorrer em qualquer região da medula, sendo a região
lombosacra a mais acometida (cerca de 75% dos casos). A mielomeningocele pode
afetar o sistema nervoso, geniturinário e musculoesquelético (DANIELSSON et
al., 2008). A alteração funcional da medula espinhal depende do nível medular em
que ocorre as lesões, sendo quanto mais cranial, maiores prejuízos neurológicos
(BIZZI; MACHADO,2012).

Em 1973 foi realizada uma classificação para pacientes com MMC, utilizada
até os dias atuais. Esta classificação é baseada no padrão de deambulação das
crianças com MMC e no nível neurológico de acometimento, conforme podemos
observar no quadro 1 exposto a seguir:

86
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL NEUROLÓGICO DA LESÃO E O PADRÃO DE


DEAMBULAÇÃO

Classificação segundo o nível


Descritor
neurológico da lesão

Não apresenta movimentação ativa nos


Torácico
quadris ou abaixo destes.

Apresenta força flexora e adutora dos


Lombar alto quadris, eventualmente extensora dos
joelhos.

Apresenta função nos músculos psoas,


adutores, quadríceps, flexores mediais
Lombar baixo
dos joelhos, eventualmente tibial ante-
rior e/ou glúteo médio.

Além dos músculos presentes nos níveis


anteriores, o paciente apresenta função
Sacral
de flexão planar e/ou extensora dos
quadris.

Classificação segundo o padrão de


Descritor
deambulação

Não realiza marcha, depende da cadeira


Não deambulador
de rodas.

Marcha utilizada apenas para fins


terapêuticos, com o objetivo de vivenciar
Deambulador não funcional
a postura ortostática e a troca de passos
com apoio.

Marcha nas atividades domiciliares com


Deambulador domiciliar ou sem acessórios e usa cadeira de rodas
para se locomover em longas distâncias.

Deambulador comunitário Marcha independente no dia a dia

FONTE: Adaptado de Hoffer et al. (1973)

A criança acometida por mielomeningocele pode apresentar incapacida-


des graves, como a paralisia nos membros inferiores, deformidades dos membros
e coluna, incontinência esfincteriana, dificuldades cognitivas, déficit sensório-
-motor e problemas relacionados à independência funcional (como autocuidado,
mobilidade e desajuste psicossocial) (AGUIAR et al., 2003). Em vista disso, o tra-
tamento deve ser focado na independência funcional da criança.
87
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

A atuação do fisioterapeuta em crianças com mielomeningocele objetiva


desenvolver o máximo de suas habilidades e funções, promovendo o aprendizado
das habilidades motoras, locomoção independente, principalmente no que se
refere à deambulação, ajustes de dispositivos auxiliares (muletas ou cadeira de
rodas) se for necessário, fortalecimento da musculatura, desenvolvimento da
mobilidade articular, exercícios perineais para facilitar o controle esfincteriano,
alongamentos para melhorar a flexibilidade e prevenir contraturas, entre outras
intervenções importantes para promoção da qualidade de vida desta criança em
todas as fases do seu desenvolvimento (SIRZAI et al., 2014).

FIGURA 13 – DISPOSITIVO AUXILIAR DE MARCHA EM CRIANÇA COM MIELOMENINGOCELE

FONTE: <https://www.gestacaobebe.com.br/wp-content/uploads/2018/10/sintomas-espinha-
bifida.jpg>. Acesso em: 8 dez. 2020.

Quando comparamos crianças com deficiências crônicas, como a MMC,


com indivíduos saudáveis, estes apresentam um maior risco de restrição no
desempenho das atividades de vida diária, sedentarismo e baixo convívio
social. Por isso, há uma grande preocupação em encontrar formas de melhorar
as condições de saúde dessas crianças, visto que não só o desenvolvimento
físico da criança é afetado, como também o psicossocial. A partir disso, existem
questionários que podem ser utilizados pelos profissionais da saúde para avaliar
a QV em crianças (BUFFART et al., 2008).

88
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

DICAS

Instrumento para avaliar a QV em crianças:


• Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imaginé (AUQEI);
• Child Health Questionnaire – Parent Form 50 (CHQ–PF50);
• Pediatric Quality Inventory (PedsQL) version 4.0; e
• Kidscreen-52.

Tendo em vista o exposto, é de grande importância que todas as


intervenções realizadas pela equipe multiprofissional em pacientes com
mielomeningocele tenham como objetivo principal a melhora da qualidade de
vida, funcionalidade e desempenho neuropsicomotor destes pacientes.

5.2 HIDROCEFALIA
A hidrocefalia, conhecida popularmente como “água no cérebro” é
caracterizada pelo acúmulo excessivo de líquido cefalorraquidiano (LCR)
circulante no espaço subaracnóideo em torno do cérebro e da medula espinhal,
ocasionado por um déficit de reabsorção, aumento do fluxo ou aumento da síntese
de LCR. Como consequência, esse acúmulo de líquido pode ocasionar lesões nos
tecidos cerebrais, resultando em um edema craniano e aumento do perímetro
cefálico (FABBRO, 2008).

Já no segundo trimestre de gestação, o diagnóstico pode ser realizado


através da avaliação do tamanho dos ventrículos por ultrassonografia, avaliação
do tamanho do átrio ventricular e da relação com o plexo coroide. O diagnóstico
precoce da hidrocefalia favorece o tratamento multidisciplinar após o nascimento,
reduzindo, assim, a instalação de alterações neurológicas. A incidência das
hidrocefalias varia de 0,3 a 1,0 em cada 1.000 nascimentos (CAVALCANTI;
SALOMÃO, 2003).

O tratamento considerado padrão para pacientes com hidrocefalia consiste


na implantação de válvulas de forma cirúrgica. Estas válvulas redirecionam o LCR
dos ventrículos para outras partes do corpo (geralmente a cavidade abdominal),
permitindo que estes retornem ao tamanho normal e como consequência,
aliviando os sintomas causados pela hidrocefalia, conforme podemos observar
na figura 15 (CUNHA; GALVÃO, 2014).

89
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

Com relação aos sinais e sintomas, estes variam muito de criança


para criança; e podem ser influenciados por diversos fatores que alteram o
desenvolvimento motor. Dentre os sinais e sintomas mais comum, podemos citar
a letargia, déficit de controle de tronco e controle cervical, paresia ou paralisia de
membros (devido a lesões nos nervos cranianos), problemas na acuidade visual,
déficit de coordenação motora, aumento do perímetro cefálico, apatia, alterações
no sistema respiratório, espasticidade e distúrbios do sono (sonolência excessiva)
(CUNHA;GALVÃO, 2014).

FIGURA 14 – AUMENTO DO PERÍMETRO CEFÁLICO EM CRIANÇA COM HIDROCEFALIA

FONTE: <https://www.gestacaobebe.com.br/wp-content/uploads/2018/10/sintomas-da-
hidrocefalia.jpg>. Acesso em: 8 dez. 2020.

FIGURA 15 – SISTEMAS DE DERIVAÇÕES PARA TRATAMENTO DA HIDROCEFALIA

FONTE: <http://drcarlopetitto.com.br/blog/entenda-os-sistemas-de-derivacao-ventriculo-
peritonea>. Acesso em: 8 dez. 2020.

90
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

Para refletir: como o fisioterapeuta pode atuar em crianças com hidrocefalia?

O índice de sequelas em pacientes com hidrocefalia é elevado, incluindo


alterações cognitivas, intelectuais e motoras. Além dos déficits neuromotores,
os atrasos no desenvolvimento podem resultar em limitações nas habilidades
funcionais. No tratamento das sequelas de hidrocefalia é necessária uma
abordagem interdisciplinar para melhor assistir ao paciente, visando a promoção
de sua independência funcional e qualidade de vida (COSTA, 2010).

Neste sentido, a fisioterapia como parte integrante da equipe


multidisciplinar estimula habilidades, como o autocuidado, alimentação e banho
independentes, atividades de mobilidade como levantar da cama e ir ao banheiro
com independência, além de tarefas de socialização como brincar com outras
crianças e ir à escola (BAKAR et al., 2009).

Deve-se trabalhar o tônus muscular, o equilíbrio, orientar sobre o


uso de órteses quando necessário, prevenir deformidades com alon-
gamentos e fortalecimentos muscular, orientar quanto o uso de talas,
posicionamento adequado, descarga de peso, realizar atividades para
propriocepção corporal e exercícios respiratórios (COSTA, 2010, p.40).

São inúmeras as técnicas fisioterapêuticas que podem ser realizadas com


estes pacientes, dentre elas a hidroterapia, que utiliza as propriedades físicas
da água aquecida como recurso terapêutico, propiciando melhor execução de
exercícios e atividades terapêuticas, relaxamento da musculatura, melhora do
tônus muscular e da amplitude de movimentos, prevenção de contraturas e
deformidades através dos alongamentos, além de facilitar o controle cefálico e
dissociação de cinturas (MELO; ALVES; LEITE, 2012).

FIGURA 16 – HIDROTERAPIA EM CRIANÇA COM HIDROCEFALIA

FONTE: <http://www.academiagolfinho.com.br/img/16392017102013379.jpg.jpg>. Acesso em: 8


dez. 2020.

91
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

5.3 MICROCEFALIA
Caro acadêmico, para finalizarmos o primeiro tópico do nosso estudo
sobre as principais afecções pediátricas, abordaremos a microcefalia, que pode
ser caracterizada como um distúrbio neurológico em que o cérebro da criança se
desenvolve de forma inadequada, devido a uma produção baixa de neurônios
durante a fase da embriogênese, apresentando perímetro cefálico reduzido ao
nascimento (medida inferior a 31,9 cm, para menino, e igual ou inferior a 31,5 cm,
para menina). Essa malformação pode ter etiologia congênita ou adquirida no
pós-natal, possuindo uma série de fatores de diferentes origens, como substâncias
químicas e infecciosas, além de bactérias, vírus, radiação e causas ambientais
(BRASIL, 2015).

FIGURA 17 – PERÍMETRO CEFÁLICO EM CRIANÇA COM MICROCEFALIA

FONTE: <https://coffito.gov.br/nsite/wp-content/uploads/comunicao/materialDownload/
CartilhaMicrocefalia_Final.pdf>. Acesso em: 10 set. 2020.

Conforme exposto, as principais causas de microcefalia podem ser


divididas em genéticas, perinatais, pós-natais e ambientais. Dentre as causas
genéticas, podemos destacar a relação com síndromes (síndrome de Down,
síndrome de Edwards e síndrome de Rett). As causas perinatais associam-se a
com doenças como a encefalopatia hipóxico-isquêmica, hemorragia intracraniana
e trauma obstétrico. Com relação às causas ambientais e infecciosas após o
nascimento, estão: a toxoplasmose, rubéola, citomegalia, infecção pelo herpes
simplex, sífilis e síndrome da imunodeficiência adquirida, e, ainda, atualmente,
o zika vírus tem ganhado destaque como um micro-organismo que ocasiona a
microcefalia (ARAÚJO et al., 2016).

Ao nascer, as crianças com suspeita de microcefalia são submetidas ao


exame físico e medição do perímetro cefálico, além de exames neurológicos e
de imagem. O diagnóstico é confirmado pela Ultrassonografia Transfontanela
e tomografia computadorizada (FÉLIX; FARIAS, 2018). As crianças acometidas
pela microcefalia podem apresentar além da deformidade craniofacial, atraso no
desenvolvimento e déficits neuropsicomotores importantes, nanismo ou baixa
estatura, dificuldades de coordenação e equilíbrio, hiperatividade, convulsões e
limitações físicas, dificuldades auditivas e visuais. No entanto, algumas podem
apresentar um desenvolvimento neurológico normal (FÉLIX; FARIAS, 2018).

92
TÓPICO 1 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS

Embora não exista um tratamento específico para a microcefalia, existem


ações de suporte oferecidos pelo Sistema Único da Saúde (SUS), e todas as
crianças com esta patologia devem ser inseridas no Programa de Estimulação
Precoce, desde o nascimento até os três anos de idade, período em que o cérebro
se desenvolve mais rapidamente. Dessa forma, são disponibilizados pelo SUS, de
acordo com as necessidades de cada criança, serviços como: reabilitação, exames,
diagnóstico e acesso a órteses e próteses em todos os níveis de atenção à saúde
(BRASIL, 2016).

A estimulação precoce é um programa composto por uma equipe


multiprofissional, com a participação do fisioterapeuta, que visa maximizar o
potencial de cada criança, através do acompanhamento e execução de intervenções
clínicas sobre o crescimento físico e maturação neurológica, comportamental,
cognitiva, social e afetiva, que podem ser prejudicados pela microcefalia,
objetivando o desenvolvimento global, especialmente o neuropsicomotor e
intelectual destas crianças (BRASIL, 2016).

Neste contexto, a fisioterapia possui um papel importante na vida da


criança com microcefalia, atuando através da estimulação precoce, da prescrição
de dispositivos auxiliares quando preciso; da integração sensorial; da terapia
lúdica; da tecnologia assistida e orientações para os familiares e cuidadores
(TECKLIN, 2002).

Concluímos, após descrever as principais patologias neurológicas neste


tópico, que a principal função da fisioterapia neurofuncional em pediatria é
possibilitar à criança o ganho de habilidades motoras e interação com o ambiente,
prevenindo, ainda, a instalação de complicações e incapacidades que podem vir
a comprometer outros sistemas corporais (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT,
2010). Autores acreditam ainda que a intervenção precoce, realizada por uma
equipe multiprofissional, e um ambiente enriquecido com estimulação favorecem
o processo de plasticidade neuronal das crianças, acometidas por distúrbios
neurológicos. Agora, que tal resolvermos atividades relacionadas ao assunto?

93
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• As patologias neurológicas na infância atingem não somente o cérebro, mas


também a medula espinhal e o sistema nervoso. 

• A detecção e tratamento precoce de disfunções neurológicas que podem afetar


o desenvolvimento são de extrema importância, pois podem comprometer as
áreas motoras, cognitivas, de linguagem e comportamentais.

• As principais patologias neurológicas encontradas na infância podem ser


desenvolvidas de forma pré, peri ou pós-natal e incluem defeitos do fechamento
do tubo neural, síndromes genéticas, doenças neuromusculares, encefalopatia
crônica não progressiva e outras lesões cerebrais adquiridas.

• A fisioterapia neurológica pediátrica tem como objetivo estimular ao máximo


o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças acometidas por problemas
neurológicos, através da estimulação sensório-motora.

94
AUTOATIVIDADE

1 Considerando as características clínicas presentes nas crianças com paralisia


cerebral do tipo tetraparesia espástica e as possibilidades de intervenção
fisioterapêutica, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) A hipertonia é um fator limitante para a execução de movimentos


voluntários e para a execução de algumas condutas fisioterapêuticas,
podendo ser atenuada com técnicas manuais, dissociação de cinturas,
alongamentos e mobilizações.
b) ( ) A postura em rotação interna do quadril pode ser causada por
hipertonia de rotadores internos de quadril, isquiotibiais mediais
e da porção anterior dos adutores de quadril, sendo atenuada com
a execução de mobilização de quadril, alongamento de iliopsoas,
adutores e rotadores internos de quadril.
c) ( ) A postura em hiperextensão de joelho é decorrente dos pés equinos,
da flexão de quadril e ou hipertonia de flexores de joelho, podendo ser
minimizada pelo alongamento de isquiotibiais.
d) ( ) A adução de ombro, a flexão de cotovelo e a flexão de punho e dedos,
devido à hipertonia e ao encurtamento da cadeia flexo-pronadora,
devem ser atenuadas com alongamentos dos músculos peitoral
maior, subescapular, bíceps braquial e flexores de punho e dedos e
movimentos funcionais na diagonal.
e) ( ) O padrão postural em equinismo dos pés pode ser tratado com
condutas para mobilização passiva do tornozelo em dorsiflexão e
alongamento dos músculos gastrocnêmio e sóleo.

2 Na encefalopatia crônica não progressiva da infância (Paralisia Cerebral)


as desordens motoras estão frequentemente associadas às alterações
sensoriais, cognitiva, comunicativa, perceptiva e/ou comportamental. Com
relação à avaliação do fisioterapeuta, o prognóstico da marcha em crianças
com paralisia cerebral deve basear-se prioritariamente em quais fatores?

a) ( ) Idade de aquisição da postura em pé, presença/permanência de


reflexos primitivos, tipo de Paralisia Cerebral, função dos membros
superiores, capacidade intelectual.
b) ( ) Idade de aquisição da postura em ajoelhada, presença/permanência de
reflexos primitivos, tipo de Paralisia Cerebral, capacidade intelectual.
c) ( ) Idade de aquisição da postura sentada, presença/permanência de
reflexos primitivos, tipo de Paralisia Cerebral, função dos membros
superiores, capacidade intelectual.
d) ( ) Idade de aquisição da postura em pé, função dos membros superiores,
capacidade intelectual, tipo de Paralisia Cerebral.
e) ( ) Idade de aquisição do engatinhar, presença/permanência de reflexos
primitivos, capacidade intelectual, tipo de Paralisia Cerebral.
95
3 Paciente Luiz Miguel, seis anos, foi diagnosticado com Distrofia Muscular
de Duchenne. Apresenta dificuldade de marcha, força grau 3 em MMII e
5 em outros grupos musculares, de acordo com a escala MRC. A DMD é
uma doença de progressão lenta e ainda não tem cura, contudo, com os
avanços da ciência e tratamento fisioterapêutico adequado, as crianças
podem chegar à fase adulta. Este paciente realiza fisioterapia duas vezes
por semana. Com base nos conhecimentos adquiridos durante o semestre,
quais seriam os objetivos e estratégias mais adequadas na elaboração de
um plano terapêutico inicial para Luiz Miguel?

a) ( ) Retardar a progressão de contraturas para maximizar a função, ensi-


nar os familiares a manusear a cadeira de rodas, controlar o desenvol-
vimento da escoliose e prevenir/tratar as complicações respiratórias.
b) ( ) Manter a força muscular, retardar a progressão de contraturas para
maximizar a função, promover ou prolongar a deambulação com
órteses e prevenir/tratar as complicações respiratórias.
c) ( ) Retardar a progressão de contraturas para maximizar a função,
prolongar a deambulação, controlar o desenvolvimento da escoliose,
evitar escaras.
d) ( ) Realizar exercícios proprioceptivos e de equilíbrio, realizar adaptações
para as atividades de vida diária, promover a deambulação com
órteses apropriadas, evitar escaras.
e) ( ) Controlar o desenvolvimento da escoliose, evitar escaras, realizar
adaptações para as atividades de vida diária, ensinar os familiares a
manusear a cadeira de rodas.

4 A Síndrome de Down (SD) é uma condição genética também conhecida


por Trissomia do 21, por ser resultante, na maioria das vezes, de um
cromossomo extra no par de cromossomos 21. Sobre a Síndrome de Down,
analise as afirmativas a seguir:

I- É comum o indivíduo com SD apresentar atraso no desenvolvimento


motor, com respostas motoras mais lentas do que um indivíduo típico.
II- A criança portadora da Síndrome de Down tem como características
principais, dentre outras: Hipotonia muscular e hipomobilidade articular
generalizada, acompanhada de frouxidão ligamentar.
III- Durante o atendimento de uma criança com Síndrome de Down, o
fisioterapeuta deve avaliar se a criança apresenta instabilidade articular.
IV- A criança com SD apresenta características como pescoço de aspecto
curto, perfil facial aplainado com fenda palpebral oblíqua (em declive),
nariz achatado, olhos amendoados.

Assinale a alternativa CORRETA:

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a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) As afirmativasI, II e IIIestão corretas.
c) ( ) As afirmativasII e IIIestão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas.
e) ( ) As afirmativasI, II, III e IVestão corretas.

5 A Paralisia Cerebral (PC) corresponde a um grupo de desordens do


desenvolvimento do movimento e da postura, devido à lesão no encéfalo
imaturo, com etiologia e quadro clínicos diversos. A respeito desta condição,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A paralisia cerebral corresponde a um grupo de síndromes de disfunções


do desenvolvimento motor, progressiva, em constante mudança,
decorrente de lesões ou anomalias do cérebro.
( ) Na tetraplegia espástica, os quatro membros são acometidos e os
indivíduos podem apresentar incapacidades motoras graves.
( ) Na hemiplegia espástica, há espasticidade do hemicorpo, descarga
de peso inapropriada, dificultando o equilíbrio, mas geralmente essas
crianças apresentam boa função cognitiva.
( ) Na diplegia espástica, o maior acometimento é nos membros inferiores,
com pouco ou nenhum acometimento nos membros superiores; com o uso
de órteses, algumas crianças podem ter bom prognóstico para a marcha.
( ) Raramente ocorre monoplegia em crianças com paralisia cerebral.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F – V – V – V – V.
b) ( ) F – F – V – V – F.
c) ( ) V – V – F – F – V.
d) ( ) F – V – F – V– F.
e) ( ) F – V – V – V – F.

97
98
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES ORTOPÉDICAS

1 INTRODUÇÃO

Quando pensamos em problemas ortopédicos, é comum associarmos com


quadros clínicos que se desenvolvem com a idade, tais como artrose, osteoporose,
dores nas costas. Entretanto, você sabia que os adultos e idosos não são os únicos
que podem apresentar patologias ortopédicas? Neste tópico, trataremos sobre as
principais patologias ortopédicas encontradas em infantes e como o fisioterapeuta
pode auxiliar na reabilitação destes.

2 PRINCIPAIS PATOLOGIAS ORTOPÉDICAS PEDIÁTRICAS


As afecções ortopédicas em pediatria são distintas, e podem surgir logo
ao nascimento ou à medida que as crianças crescem. Em ambos os casos, é im-
portante a realização de um diagnóstico e tratamento precoce, evitando que esses
problemas se tornem ainda mais graves. Estão listadas a seguir as principais pa-
tologias que acometem os neonatos e infantes e suas características. Boa leitura!

2.1 LUXAÇÃO CONGÊNITA DO QUADRIL OU DISPLASIA


DO DESENVOLVIMENTO DO QUADRIL
A displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ), anteriormente
conhecida como luxação congênita do quadril consiste na perda do contato da
cabeça do fêmur com o acetábulo ao nascimento, englobando anormalidades que
afetam o quadril como a displasia (forma anormal do acetábulo), associada ou
não a um deslocamento parcial (subluxação) ou completo (luxação) da cabeça
femoral (ANDRADE; AVILA; BOSSINI, 2015).

O quadril é uma das articulações do corpo humano que pode sofrer


alterações devido ao posicionamento do bebê dentro do útero materno,
ocasionando a frouxidão dos ligamentos e cápsula que pode levar àsubluxação
ou luxação do quadril no momento do parto. A etiopatogenia da DDQ ainda é
desconhecida, existindo hipóteses como a influência de fatores fisiológicos, como
a frouxidão ligamentar, alterações hormonais (estrogênio e relaxina) e fatores
genéticos (displasia ou frouxidão capsular predisponente) (GUARNIERO, 2010).

99
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

Além disso, de acordo com Guarniero (2010), existem outros fatores de


risco para o desenvolvimento da DDQ, tais como a raça branca, primiparidade,
apresentação pélvica ao nascimento, história familiar prévia de DDQ, recém-
nascido com maior peso e altura e com deformidades nos pés (metatarso varo
e pé plano vero) ou na coluna vertebral (GUARNIERO, 2010). Com relação à
classificação, a DDT pode ser dividida em:

• Típica – quando a luxação ocorre ao nascer devido à frouxidão existente.


• Teratológica – a luxação ocorre ainda dentro do útero e tem associação com
outras alterações, caracterizando-se como uma síndrome. Exemplos: luxações
associadas à artrogripose, à Síndrome de Larsen, as neuromusculares e as que
ocorrem nas síndromes genéticas (GUARNIERO, 2010).

Para bebês e recém-nascidos, o exame físico e diagnóstico é eminentemente


clínico,realizado por meio de testes como Ortolani e Barlow, testes que dispõem de
pouco tempo para sua realização durante a avaliação do bebê e que habitualmente
são realizados de forma combinada (ROMERO et al., 2014).

A Manobra de Ortolani detecta o deslizamento posterior do quadril


para dentro do acetábulo, avalia a articulação coxofemoral luxada, ou seja, se a
articulação estiver luxável, a cabeça femoral é reduzida no acetábulo, mostrando,
assim, a luxação. Para realizar esta manobra, a coxa do quadril em exame é
abduzida (o joelho é movido longe da linha média na posição de perna de rã) e
delicadamente puxada anteriormente. A instabilidade é indicada pela palpação,
às vezes, um clique audível da cabeça do fêmur, movendo-se sobre o arco
posterior do acetábulo e recolocação na cavidade (ROMERO et al., 2014).

FIGURA 18 – MANOBRA DE ORTOLANI

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2LqExSI>. Acesso em: 10 set. 2020.

100
TÓPICO 2 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES ORTOPÉDICAS

Já a manobra de Barlow detecta o deslizamento do quadril para fora do


acetábulo. Para realizar esta manobra o quadril da coxa a ser avaliada é levemente
abduzido (joelho puxado sobre o corpo) e o quadril é movido posteriormente.
Um clique indica que a cabeça do fêmur está se movendo para fora do acetábulo
(ROMERO et al., 2014).

FIGURA 19 – MANOBRA DE BARLOW

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/2LqExSI>. Acesso em:10 set. 2020.

Além disso, há alguns sinais que sugerem alterações, como assimetrias


das dobras das coxas e das pregas poplíteas, assimetria das dobras inguinais,
frouxidão de extensão do quadril e o Sinal de Galeazzi, que verifica o
comprimento da coxa, indicando um encurtamento aparente do fêmur em
relação à comparação com o fêmur contralateral (STAHELI, 2008).

FIGURA 20 – SINAL DE GALEAZZI

FONTE: <https://pt.slideshare.net/otaviobh/semiologia-ortopedica-tjmg>. Acesso em: 10 set. 2020.

101
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

É importante ressaltar, que os testes citados anteriormente devem ser


acompanhados de exames de diagnóstico por imagem, como a radiografia
da pelve, que começará a ser mais útil após os quatro meses, pois no recém-
nascido as epífises femorais proximais ainda não estão ossificadas. Assim, a
ultrassonografia do quadril pode ser o exame de escolha para avaliação de crianças
nos primeiros meses de vida, antes do aparecimento do núcleo de ossificação da
cabeça do fêmur (GUARNIERO, 2010).

Com relação ao tratamento, os objetivos incluem o diagnóstico o mais


precocemente possível, a redução da articulação e a estabilização do quadril em
uma posição segura.

Recém-nascido aos quatro meses de idade: o tratamento é feito visando à


redução da cabeça femoral na cavidade acetabular e sua manutenção até adquirir
a estabilidade. Nesta fase é utilizando o suspensório de Pavlik, que tem como
princípio a redução em flexão, evitando uma abdução forçada da articulação
(GUARNIERO, 2010).

FIGURA 21 – SUSPENSÓRIO DE PAVLIK

FONTE: <http://www.anapaulatedesco.med.br/imgs/fotos/paisecuidados7%20copy.jpg>. Acesso


em: 9 set. 2020.

Na parte de reabilitação, o tratamento fisioterapêutico visa restabelecer a


melhora na qualidade de vida do paciente com DDQ. O treinamento da marcha
pode ser iniciado assim que a criança conseguir ficar de pé sendo aconselhado
à hidroterapia. Além disso, o fortalecimento e alongamento muscular são
fundamentais para restabelecendo a biomecânica da articulação coxofemoral
(ANDRADE; AVILA; BOSSINI, 2015).

102
TÓPICO 2 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES ORTOPÉDICAS

2.2 TORCICOLO CONGÊNITO


O torcicolo congênito (TC) pode ser caracterizado como uma contratura
do músculo esternocleidomastoideo (ECOM) que, em geral, manifesta-se
no período neonatal ou em lactentes. Ao avaliarmos a criança com torcicolo
congênito poderemos observar que a cabeça da criança fica inclinada para o lado
do músculo afetado e rodada para o lado oposto, conforme demonstrado na
Figura 22. A incidência do TC é em torno de 1 para cada 250 bebês que nascem
(WEI et al., 2001).

Devido à presença de um encurtamento muscular unilateral, a criança


opta por dormir na posição prona com o lado afetado para baixo. No entanto,
a permanência constante nessa posição pode gerar consequências graves
para o bebê, como o remodelamento dos ossos faciais que podem resultar em
hemihipoplasia facial (diminuição da atividade formadora dos tecidos orgânicos
como apele, músculos etc.) ou em plagiocefalia (deformidade com achatamento
da cabeça) (WEI et al., 2001).

FIGURA 22 – CRIANÇA COM TORCICOLO CONGÊNITO

FONTE: <https://bit.ly/3jiUWoM>. Acesso em:8 set. 2020.

A etiologia do TC ainda não está bem esclarecida na literatura, havendo


algumas hipóteses, como o posicionamento que o bebê fica no período intrauterino,
traumatismo cervical, baixo fluxo sanguíneo para o músculo ECOM e até mesmo
fatores hereditários (PAGNOSSIM et al., 2008).

O diagnóstico é realizado de forma clínica, através de uma avaliação


onde são observados aspectos como a amplitude de movimento do pescoço, a
elevação do ombro no lado do músculo contraturado e a posição da cabeça em
inclinação ipsilateral e rotação contralateral. Pode ser observado também um
nódulo presente no músculo ECOM (com o tamanho semelhante a uma amêndoa)
(CHEN; KO, 2000).
103
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

Com relação ao tratamento do TC, este geralmente é clínico, através da


fisioterapia que atua no sentido de evitar a realização da cirurgia. A fisioterapia é
caracterizada como um tratamento eficaz e não traumático para as crianças com
TC, incluindo alongamentos do músculo ECOM, termoterapia, terapia manual,
liberação miofascial etc.

O tempo para obter a cura dependerá de aspectos como a intensidade e


frequência das sessões de fisioterapia. Além disso, a conscientização e o compro-
metimento dos familiares no tratamento diário são fatores importantes,pois, a
realização diária dos exercícios acelerará a recuperação. Em vista disso, os exer-
cícios devem ser orientados pelo profissional durante as sessões de fisioterapia
(CHENG et al., 2001).

FIGURA 23 – ALONGAMENTO DO ECOM EM CRIANÇA COM TORCICOLO CONGÊNITO

FONTE: <https://bit.ly/36M7Jej>. Acesso em:8 set. 2020.

2.3 PÉ TORTO CONGÊNITO


A terceira patologia ortopédica que estudaremos é o pé torto congênito
(PTC), que consiste em uma complexa deformidade de todos os tecidos
musculoesqueléticos distais ao joelho, incluindo músculos, tendões, ligamentos,
ossos, vasos e nervos. Poderemos observar um retropé equino, varo (inversão),
deformidade subtalar, pé cavo por flexão plantar do antepé e adução do médio e
do antepé, conforme demonstrado na figura a seguir (HERRING, 2001).

FIGURA 24 – PTC BILATERAL COM DEFORMIDADES TÍPICAS

FONTE: <http://bit.ly/3jkzorM>. Acesso em:7 set. 2020.

104
TÓPICO 2 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES ORTOPÉDICAS

O PTC pode surgir como uma deformidade isolada ou acompanhando


de outras malformações. Podemos dividir o PTC em quatro principais tipos:
idiopático (não se resolve de forma espontânea), postural (que se resolve
habitualmente com manipulações), neurológico (associado à mielomeningocele)
e sindrômico (presente nas crianças com outras anomalias congênitas), sendo os
dois últimos, geralmente rígidos e muito resistentes ao tratamento (MERLOTTI;
BRAGA; SANTILI, 2006).

O diagnóstico do PTC é fácil de ser realizado, pois o aspecto externo do pé


é bem característico (equinismo de retropé; varismo acentuado do calcâneo; va-
rismo e supinação do antepé; cavo plantar acentuado) (HEBERT; XAVIER, 2003).
Agora, vamos refletir como pode ser realizado o tratamento do PTC. O principal
objetivo consiste em tornar o pé com deformidade em um pé funcional e sem dor.

• Tratamento cirúrgico: a abordagem cirúrgica mais utilizada é a circunferen-


cial (conhecida como via de Cincinnati) (CRAWFORD; MARXEN; OSTER-
FELD, 1982).

FIGURA 25 – TÉCNICA CIRÚRGICA PARA CORREÇÃO DO PTC

FONTE: <http://celsorizzi.blogspot.com/2010/11/correcao-do-pe-torto-congenito.html>. Acesso


em: 8 set. 2020.

• Tratamento não cirúrgico: é realizado através da manipulação seguida de gesso,


sendo realizada de forma seriada. Este tratamento consiste na opção de primeira
escolha. Esta técnica é baseada na deformação plástica e alongamento progressi-
vo das estruturas contraturadas (MERLOTTI; BRAGA; SANTILI, 2006).

105
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

FIGURA 26 – GESSO CONFECCIONADO PELA TÉCNICA DE PONSETI

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/835065955883056698/>. Acesso em: 8 set. 2020.

Já o fisioterapeuta deve atuar na reabilitação do PTC o mais precocemente


possível, de preferência ainda no período neonatal, com o objetivo de aproveitar
a maleabilidade que os ligamentos apresentam nesta fase, visado à correção da
deformidade. Quando mais velha a criança for, o resultado final será menos
satisfatório. A atuação fisioterapêutica no período pós-operatório consiste
em alongamentos funcionais e mobilizações da articulação do tornozelo e pé,
treinamento do equilíbrio e da marcha (visando à redução do risco de quedas)
(ROSE, 2007). As manobras de mobilização devem ser realizadas diariamente,
de uma forma suave para evitar danos articulares. Os alongamentos devem ser
lentos e mantidos, visando à redução do encurtamento muscular, alongamento
do tendão de Aquiles e flexores plantares (HEBERT; XAVIER, 2003).

FIGURA 27 – MOBILIZAÇÃO PASSIVA DE TORNOZELO EM PACIENTE COM PTC

FONTE: <http://www.ortopediabr.com.br/pe-torto-congenito/>. Acesso em: 9 set. 2020.

106
TÓPICO 2 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES ORTOPÉDICAS

2.4 PARALISIA OBSTÉTRICA


Antes de iniciarmos a nossa conversa sobre esta importante patologia,
que tal relembrarmos um pouco sobre a anatomia do plexo braquial?

O plexo braquial é formado pelas raízes das vértebras C5 a T1, que se


iniciam no pescoço e vão até a axila, suprindo o membro superior. Os troncos
do plexo braquial dão origem aos cordões lateral, medial e posterior, e esses são
responsáveis pela formação dos nervos músculo cutâneo, mediano, radial, axilar
e ulnar. Com isso, as alterações na coluna cervical comprometem as raízes do
plexo braquial e ombro, e consequentemente os movimentos de flexão, extensão,
abdução, adução, rotação medial e lateral (CARMO, 2013).

A paralisia obstétrica consiste em uma lesão do plexo braquial ao


nascimento, provocada pelo estiramento dos troncos nervosos ou avulsão
radicular, podendo afetar o membro superior de forma parcial ou total
(TAVARES; WATANABE; OLIVEIRA, 2008). A classificação da lesão depende da
estrutura anatômica lesada, e pode ser dividida em: Erb-Duchenne, Klumpke e
Erb- Klumple (PINHO, 2010).

A paralisia de Erb-Duchene, também chamada paralisia alta, corresponde


a 80% dos casos e compromete as raízes C5-C6 (TAVARES; WATANABE; OLI-
VEIRA, 2008). Os músculos inervados por essas raízes têm sua força afetada (del-
toide, bíceps braquial, infraespinhal, serrátil anterior, supraespinhal, romboides
maior e menor, elevador de escápula, braquioradial, braquial e os supinadores),
porém os movimentos de punho e mão não são afetados. Podemos observar ao
exame físico, que o braço da criança fica ao longo do corpo em adução e rotação
interna do ombro, extensão do cotovelo e pronação do antebraço, com punho
e dedos ligeiramente fletidos, conforme observado na figura a seguir (GREEN-
FIELD; SYEN, 2010).

FIGURA 28 – CRIANÇA COM PARALISIA DE ERB-DUCHENNE

FONTE: <https://cerdiamantina.com.br/site/wp-content/uploads/2017/06/2.jpg>. Acesso em:9


set. 2020.

107
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

A paralisia de Klumpke é a menos comum, e resulta da lesão das raízes de


C7 a T1 e os músculos atingidos são os flexores do punho e dedos, músculo flexor
longo dos dedos, os intrínsecos da mão. Por fim, a paralisia de Erb-Klumpke ou
paralisia total é considerada há mais grave e rara das lesões do plexo braquial;
esta atinge as raízes nervosas de C5, C6, C7, C8, T1, gerando alterações motoras
e sensitivas, apresentando braço flácido, sem movimentos ativos do membro
superior afetado e, por vezes, pode estar associada à perda da sensibilidade
(COELHO; ROCHA; GUIMARÃES, 2013).

A etiologia é multifatorial e, dentre algumas causas possíveis, podemos


citar o parto com fórceps, parto traumático, multiparidade, criança com peso
excessivo (acima de 4,5 kg), pelve materna estreita e mãe com diabetes (RIBEIRO;
SPARAPANI, 2014). Os exames de imagem auxiliam no diagnóstico clínico,
verificando a extensão da lesão. Os principais são a radiografia, tomografia e
eletroneuromiografia (GREENFIELD; SYEN, 2010).

O tratamento cirúrgico de reconstrução do plexo braquial é indicado para


pacientes com lesão completa e para aqueles que não apresentam uma evolução
favorável do quadro clínico (RIBEIRO; SPARAPANI, 2014). A fisioterapia é indicada
em qualquer fase, tanto no tratamento conservador quando pós-operatório. O
tratamento deve ser iniciado com movimentos passivos de forma leve associados
à estimulação sensorial, através de estímulos táteis, como a aplicação de diferentes
texturas e formas na pele da criança (TAVARES; WATANABE; OLIVEIRA, 2008).

Exercícios para ganho de amplitude de movimento e melhora do controle


motor também são importantes, visando à independência futura da criança nas
atividades de vida diária, como segurar a mamadeira, escovar os dentes, pegar e
guardar os brinquedos (TAVARES; WATANABE; OLIVEIRA, 2008).

DICAS

Acadêmico, você se interessou por este tema? Veja a dica do seguinte artigo:
“BARBOSA, D. V.; SANTOS, M. D. Benefícios da fisioterapia motora no tratamento da paralisia
de Erb-Duchenne. Visão universitária, v. 2, n. 1, p. 101-120, 2016”. Boa leitura!

2.5 ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL


Para finalizar o tópico, discutiremos agora sobre a artrite reumatoide
juvenil (AIJ), uma doença autoimune, que se inicia antes aos 16 anos de idade,
caracterizada pela presença de artrite crônica (mais de seis semanas) (MERINO;
108
TÓPICO 2 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES ORTOPÉDICAS

GARCÍA-CONSUEGRA, 2005). Apesar de não ser uma patologia ortopédica,


mas reumática, as características apresentadas assemelham-se por vezes às
ortopédicas, e, por isso, será discutida também neste tópico.

A etiologia da AIJ não é conhecida, mas provavelmente é multifatorial,


englobando fatores imunológicos, genéticos e infecciosos. O processo patológi-
co consiste em uma inflamação crônica que acomete as articulações e outros ór-
gãos, como a pele, os olhos e o coração. A artrite (principal manifestação clínica),
promove dor, aumento de volume e aumento da temperatura das articulações,
conforme exemplo demonstrado na figura a seguir(PETTY; LINDSLEY; WED-
DERBURN, 2016).

FIGURA 29 – MÃO AFETADA PELA AIJ

FONTE: <https://bit.ly/3aB2eQI>. Acesso em: 9 set. 2020.

É importante a realização de um diagnóstico precoce, visando ao rápido


controle da inflamação, evitando deformidades e sequelas e proporcionando uma
boa qualidade de vida para o paciente acometido (3). O diagnóstico é realizado
com base na avaliação clínica onde se pode observar sinais como dor à palpação
ou dor durante os movimentos articulares. Os exames laboratoriais incluem o
hemograma e testes de hemossedimentação (VHS) e a dosagem de proteína C
reativa (PCR), que identificam a presença de inflamação (COMBE et al., 2017).

No exame físico, através da inspeção, é importante observar também a


presença de sinais de inflamação (calor, rumor, edema, dor e perda da função), e na
palpação a presença de alterações na temperatura da pele, nódulos reumatoides,
dor e rigidez ao movimento. Quando aos testes realizados pelo fisioterapeuta,
é essencial a avaliação da amplitude de movimento das articulações (ativa e
passiva) e os testes de força muscular, sempre respeitando os limites do paciente
e a dor (COMBE et al., 2017).

109
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

A avaliação funcional é realizada pelo fisioterapeuta, visando verificar


quanto a dor e a limitação de movimento influenciam na marcha, na postura es-
tática e dinâmica, no equilíbrio e na funcionalidade geral da criança. Além disso,
a AIJ também pode afetar o sistema respiratório, que também deve ser avaliado,
observando o padrão e a capacidade respiratória do infante (COMBE et al., 2017).

O tratamento inclui medidas farmacológicas e não farmacológicas. Dentro


das não farmacológicas, a fisioterapia se enquadra com objetivo de prevenção
de danos e alterações de padrões de movimento, reduzindo a dor e o quadro
inflamatório, aumentando a força muscular, a flexibilidade, a amplitude de
movimento e a capacidade respiratória, possibilitando que a criança execute suas
atividades funcionais diárias sem restrições (COMBE et al., 2017).

A fisioterapia é uma importante opção de tratamento não medicamentoso,


presente em todas as fases da doença. Durante a fase aguda da AIJ são indicados
exercícios passivos objetivando a redução do quadro álgico, ganho da ADM,
prevenção de contraturas e deformidades, e ativação do sistema circulatório.
Com o avançar do tratamento, passando a fase aguda e com a melhora do quadro
clínico, podemos evoluir para exercícios resistidos e ativos, sempre respeitado os
limites do paciente.

DICAS

Para maiores informações sobre esse tema, acesse o Protocolo Clínico e


Diretrizes Terapêuticas da AIJ, disponível no link: conitec.gov.br/imagens/Consultas/2019/
Relatorio_ArtriteldipaticaJuvenil_CP76_2019.pdf.

110
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Na infância, os ossos e músculos estão em contínuo crescimento e


desenvolvimento e, portanto, os problemas ortopédicos são diferentes aos dos
adultos.

• Entre os principais problemas relacionados ao sistema musculoesquelético das


crianças e adolescentes, podemos citar as deformidades nos pés, deformidades
nos quadris, distúrbios congênitos como o torcicolo e problemas ortopédicos
relacionados ao parto (como a paralisia do plexo braquial).

• O fisioterapeuta atua na reabilitação das lesões ortopédicas em pediatria,


garantindo um desenvolvimento sadio e um bom crescimento, evitando que
limitações e dificuldades tragam sequelas mais graves ao longo dos anos ou na
vida adulta.

111
AUTOATIVIDADE

1 O torcicolo congênito é definido como uma contratura do músculo lateral


do pescoço, que, em geral, manifesta-se no período neonatal ou em
lactentes jovens. A etiologia é desconhecida, mas parece ter relação com as
condições do parto, como apresentações cefálicas à posição intrauterina,
que causariam deficiência de circulação no músculo. Acerca do Torcicolo
Muscular Congênito (TMC), assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O TMC é causado pelo encurtamento unilateral do músculo


esternocleidomastoideo, levando à inclinação e rotação da cabeça para
o lado contralateral ao músculo acometido.
b) ( ) O TMC é causado pelo encurtamento unilateral do músculo
esternocleidomastoideo, levando à inclinação e rotação da cabeça para
o mesmo lado do músculo acometido.
c) ( ) O tratamento conservador, que inclui a fisioterapia, não apresenta
bons resultados no tratamento da criança com TMC, devendo ser
realizada intervenção cirúrgica logo que o diagnóstico for confirmado.
d) ( ) O alongamento do músculo esternocleidomastoideo deve ser iniciado
em posição neutra do pescoço e direcionado para rotação ipsilateral e
inclinação da cabeça contralateral ao lado acometido.
e) ( ) O alongamento do músculo esternocleidomastoideo deve ser iniciado
em posição neutra do pescoço e direcionado para rotação contralateral
e inclinação da cabeça ipsilateral ao lado acometido.

2 O Pé Torto Congênito (PTC) é uma deformidade complexa associada a


alterações musculoesqueléticas, sendo considerado a anomalia congênita
mais frequente dos pés. Com relação a essa condição congênita, analise as
afirmativas a seguir:

I- O diagnóstico é essencialmente clínico, e o objetivo do tratamento


fisioterapêutico é obter um pé alinhado, indolor e com apropriada função.
II- Na avaliação do pé torto congênito do tipo equinovaro, observa-se a
deformidade em eversão e a adução na articulação talocalcânea e nas
articulações metatarsianas, além do equinismo.
III- Com relação ao equinismo, os músculos que o fisioterapeuta deve man-
ter alongados após a cirurgia de correção são: gastrocnêmio, solear e
tibial posterior.
IV- O desenvolvimento do arco plantar na criança ocorre ao longo da primeira
década de vida, com seu período crítico de desenvolvimento em torno dos
seis anos de idade, devendo-se evitar intervenções antes desse período.

Assinale a alternativa CORRETA:

112
a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) As afirmativasI, II e III estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas.
e) ( ) Somente a afirmativaIVestá correta.

2 A Displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ) ocorre quando o quadril


do recém-nascido se encontra instável, em decorrência da associação
de displasia acetabular e frouxidão capsular. Sobre o exposto, analise as
afirmativas a seguir:

I- O teste de Ortolani geralmente é utilizado para confirmar o diagnóstico


de DDQ.
II- A assimetria de pregas glúteas, denominada sinal de Peter Bade, pode ser
um sinal indireto de DDQ.
III- O dispositivo mais comumente utilizado no tratamento da displasia
evolutiva do quadril no neonato é o suspensório de Pavlik.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e IIIestão corretas.
d) ( ) As afirmativas II e IIIestão corretas.
e) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

113
114
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS


E CARDIOVASCULARES

1 INTRODUÇÃO
No terceiro e último tópico desta unidade, estudaremos as principais
patologias que acometem o sistema respiratório e cardiovascular dos lactentes
e infantes. As crianças são mais vulneráveis a doenças no sistema respiratório
devido às vias áreas serem menores e menos desenvolvidas do que a de um
adulto. Por isso, a  fisioterapia respiratória pediátrica é tão importante para os
pequenos. Além disso, serão discutidos também, aspectos sobre as principais
cardiopatias congênitas e o papel do fisioterapeuta na reabilitação.

2 PRINCIPAIS PATOLOGIAS RESPIRATÓRIAS E


CARDIOVASCULARES
O principal objetivo da fisioterapia respiratória infantil é a recuperar as
crianças de problemas em suas vias de respiração, como pulmões, brônquios e
narinas. Existem algumas patologias respiratórias na infância que se assemelham
a dos adultos, como a asma e pneumonia. Por isso, neste tópico, trataremos
especificamente de duas patologias que acometem unicamente os lactentes.
Preparados? Vamos lá!

2.1 BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA (BVA)


Consiste em uma afecção que acomete lactentes com idade inferior a dois
anos de idade (principalmente nos primeiros seis meses de vida). O agente etio-
lógico principal é o vírus sincicial respiratório (VSR), um RNA vírus que provoca
infecção aguda do trato respiratório em indivíduos de todas as idades, seguido
do rinovírus, parainfluenzae e metapneumovírus (JULIE; MEISSNER, 2016).

Com relação à fisiopatologia da bronquiolite, são encontrados


normalmente sinais e sintomas como a inflamação das vias aéreas inferiores.
Normalmente, encontra-se inflamação das vias aéreas inferiores, necrose celular,
edema, aumento da produção de muco e broncoespasmo (RALSTON et al., 2014).

115
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

Dentre os sintomas, os principais consistem em congestão nasal e coriza, tosse,


febre, redução da aceitação da dieta, taquipneia e esforço respiratório (JULIE;
MEISSNER, 2016).

Os fatores de risco para o surgimento da bronquiolite consistem na


prematuridade extrema, lactentes com histórico de displasia broncopulmonar
e cardiopatias congênitas, grupos considerados como maior morbimortalidade.
A prematuridade é um dos principais fatores de risco para hospitalização pelo
VSR, devido à imaturidade do sistema imune, pequeno calibre das vias aéreas,
baixa reserva energética e reduzida transferência de anticorpos maternos. Ao
exame físico é comum encontrarmos sinais de esforço respiratório como tiragem
intercostal, taquipneia, batimento de aleta nasal, retração xifoide e balanço
toracoabdominal. Além disso, na ausculta, comumente observamos roncos,
sibilos e crepitações (BOURKE et al., 2015).

Quanto à via de transmissão, o VSR atinge o trato respiratório das crianças


através do contato direto com secreções respiratórias de pessoas infectadas ou
através de superfícies ou objetos contaminados. Nestes casos, o material infectado
atinge o organismo através da mucosa dos olhos, boca e nariz (BRASIL, 2013).

O diagnóstico da bronquiolite é realizado principalmente pela


história e exame físico, baseado nos sinais e sintomas da doença, não havendo
indicação rotineira do uso de testes específicos de detecção viral, sendo exames
complementares reservados para casos em que há suspeita de outro diagnóstico
(como a pneumonia), de acordo com a Academia Americana de Pediatria (2015).

Não há vacinas específicas para o VSR, porém é realizada a imunização


passiva, importante instrumento de prevenção para bebês de risco. A lavagem
das mãos é essencial para prevenir a disseminação viral. O Quadro 2 indica as
principais medidas para evitar a transmissão intra-hospitalar do VSR:

QUADRO 2 – MEDIDAS PARA EVITAR A TRANSMISSÃO DO VSR

Medida Observação

Lavar com água e sabão sempre antes


Higienização das mãos
e depois de assistir o paciente.

Luvas Durante o cuidado do paciente.

Sempre que em contato com


Avental
pacientes ou secreções.

Sempre que em contato com


Máscara e proteção ocular
pacientes ou secreções.

Quarto privativo Privativo sempre que possível.

116
TÓPICO 3 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS E CARDIOVASCULARES

Sempre que possível, profissionais


Profissionais da saúde que assistam pacientes com VSR não
assistam outros pacientes.

Restrição de visitas Proibir visitas de pacientes com VSR.

FONTE: <https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Diretrizes_manejo_infeccao_
causada_VSR2017.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2020.

O tratamento de BVA consiste em medidas suportivas e deve ser realizado


de forma individual, evitando o uso excessivo de medicações pois não auxiliam
na evolução da doença e deixam a criança mais agitada, agravando o quadro
clínico. Os guidelines dos Estados Unidos recomendam o uso de oxigênio
quando a saturação fica abaixo de 90%. Os principais medicamentos utilizados
são broncodilatadores, corticosteroides, antimicrobianos, antivirais e adrenalina
por nebulização. A fisioterapia respiratória não é indicada de forma rotineira
para crianças com bronquiolite não complicada e sem comorbidades (NICE, 2015;
FLORIN; PLINT; ZORC, 2017).

2.2 DISPLASIA BRONCOPULMONAR


A DBP, também conhecida como doença pulmonar crônica neonatal,
consiste na necessidade de oxigênio suplementar e/ou suporte ventilatório nos
primeiros 28 dias de vida. É caracterizada como uma síndrome de lesão pulmonar
mediada por ventilação mecânica, sepse, nutrição inadequada, entre outros
fatores em um pulmão em desenvolvimento (imaturo) (ISAYAMA et al., 2010).

É frequente em recém-nascidos prematuros, com peso de nascimento


menor do que 750 g (57-67%) e idade gestacional menor do que 25 semanas (35-
85%). O risco aumenta inversamente com o peso de nascimento, e dentre os fatores
de risco podemos citar, além da prematuridade, a ausência de uso de corticoide
antenatal, asfixia perinatal, corioamnionite e fumo materno (MOKRES; PARAI;
HILGENFORFF, 2010).

Com relação à etiopatogenia, a toxicidade pulmonar causada pelo


oxigênio é protagonista. As alterações pulmonares mais citadas na literatura
são: atelectasias, edema pulmonar, inflamação, hemorragia alveolar, depósito
de fibrina, hialinização alveolar e perda da integridade da parede alveolar e
da membrana alveolocapilar. A exposição ao oxigênio provoca um influxo
de leucócitos polimorfonucleares contendo enzimas proteolíticas. O dano
proteolítico também está aumentado à custa da inibição do sistema de defesa
antiprotease na parede alveolar (DAVIS; PARAD; MICHELE, 2003). Os principais
mecanismos envolvidos na DBP consistem na lesão direta no parênquima
pulmonar, interrupção do crescimento e angiogênese pulmonar ou ativação
de um sistema imune ainda imaturo, levando a uma resposta inflamatória não
regulada e exacerbada (DAVIS; PARAD; MICHELE, 2003).
117
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

O diagnóstico baseia-se em manifestações clínicas não específicas. Pode-se


observar sinais de esforço ventilatório como a presença de retrações subcostais e
intercostais, uso de musculatura acessória, batimento de asa de nariz e respiração
abdominal, taquipneia e necessidade de oxigênio suplementar (EHRENKRANZ
et al., 2005). Na ausculta é comumente encontrada sibilância recorrente, estertores
e roncos. A complacência pulmonar diminuída e a resistência pulmonar aumen-
tada também são achados frequentes. Além disso, a presença de traqueomalácia
resulta em limitação ao fluxo aéreo com pouca resposta ao broncodilatador (BA-
LINOTTI; CHAKR; TILLER, 2010).

Com relação ao tratamento, este consiste na associação do uso de


medicamentos como diuréticos, broncodilatadores, administração de surfactante
pulmonar exógeno, aumento da oferta calórica (visando assegurar nutrição
adequada para um crescimento adequado) e fisioterapia, que atua no manejo da
Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas (CPAP) visando facilitar a transição da
vida intrauterina para a extrauterina sem iniciar a resposta pró-inflamatória (POP
EBSERH, 2019).

DICAS

Quer saber mais sobre a atuação do fisioterapeuta em lactentes com DBP?


Acesse o link: www2.ebserh.gov.br/documents/147715/0/Displasia.pdf/c8c75f01-67ª1-4414-
9722-43313b305a22.

2.3 CARDIOPATIAS CONGÊNITAS (CC)


Os defeitos cardíacos congênitos podem ser caracterizados como
anormalidades na estrutura e função do sistema cardiovascular desde o nascimento
(SOCESP, 2009). Alguns fatores de risco estão relacionados ao desenvolvimento
de CC, como hereditariedade, infecções congênitas e fatores maternos (diabetes
e consumo de álcool e/ou drogas durante a gestação). As CC são classificadas
como cianóticas e acianóticas, indicando a presença ou não de coloração azulada
da pele e das mucosas em virtude de oxigenação insuficiente do sangue, e outro
baseado em características hemodinâmicas, como fluxo sanguíneo pulmonar
aumentado ou diminuído, obstrução do fluxo sanguíneo fora do coração e fluxo
sanguíneo misto (SOCESP, 2009).

Entre as cardiopatias acianóticas mais frequentes, estão: a comunicação


interatrial, a comunicação interventricular, o defeito no septo atrioventricular to-
tal ou parcial, que, muitas vezes, pode estar associado com a síndrome de Down,

118
TÓPICO 3 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS E CARDIOVASCULARES

a estenose aórtica, a persistência do canal arterial e a coarctação da aorta.As car-


diopatias congênitas cianóticas são relacionadas ao maior potencial de gravidade.
Esse tipo de cardiopatia ocasiona redução da concentração de hemoglobina no
sangue arterial. A mais comum é a tetralogia de Fallot, correspondendo a 10% de
todas as cardiopatias (BADENES; LOZANO; BELDA, 2015).

Várias das patologias listadas acima podem ser corrigidas com cirurgia,
no entanto, é grande a ocorrência de complicações respiratórias no pós-opera-
tório, tais como tosse fraca, redução da mobilidade torácica e fadiga muscular,
respiração superficial e predominantemente torácica, fatores que reduzem a ex-
pansibilidade dos lobos pulmonares inferiores, culminando na perpetuação ou
agravamento do quadro, favorecendo o desenvolvimento de processos pneumô-
nicos (RENAUT; COSTA-VAL; ROSSETTI,2008).

Neste sentido, a fisioterapia visa prevenir e reverter possíveis disfunções


respiratórias e sequelas motoras decorrentes dessas intervenções cirúrgicas,
através de manobras de higiene brônquica e expansão pulmonar, ventilação não
invasiva (CPAP, BIPAP), além da utilização da cinesioterapia respiratória, visando
aumentar a coordenação e eficiência dos músculos respiratórios, aumento do
volume corrente e remoção de secreções pulmonares (SILVA et al., 2011).

DICAS

Quer conhecer mais sobre cada patologia citada e como a fisioterapia pode
auxiliar no tratamento delas? Leia o artigo e fique por dentro!
MONTEIRO, D. A.; FORTI, F. S.; SUASSUNA, V. A. L. Atuação da fisioterapia pré e pós-
operatória nas complicações respiratórias em pacientes com cardiopatias congênitas.
Fisioterapia Brasil, v. 19, n. 3, p. 385-99, 2018.

Finalizando o terceiro tópico da unidade, é possível perceber que o


fisioterapeuta pediátrico está apto a tratar doenças esqueléticas, musculares,
respiratórias, neurológicas, entre muitas outras — exigindo conhecimentos
específicos para cada um desses casos. Agora, vamos à leitura complementar e às
questões sobre o assunto!

119
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

TETRAPARESIA ESPÁSTICA, SEGUNDO CONCEITO BOBATH

Carla de Oliveira Gomes


Marina Ortega Golin

Introdução/objetivo

O estudo teve como objetivo descre­ver o tratamento fisioterapêutico


aplicado em crianças com Paralisia Cerebral (PC) do tipo tetraparesia espástica,
atendidas pelos acadê­micos do curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina
do ABC – FMABC.

Método

Trata-se de estudo transversal, com a participação de três crianças do sexo


feminino e diagnóstico de PC tipo tetraparesia espástica, que realizavam trata-
mento fisioterapêutico com os acadêmicos do curso de Fisiotera­pia da FMABC.

Os critérios de inclusão foram: diagnóstico médico de paralisia cerebral,


diagnóstico motor de tetraparesia es­pástica, possuir controle cervical incompleto,
realizar tra­tamento com os acadêmicos do Curso de Fisioterapia da FMABC e
assinatura prévia do termo de consentimento livre e esclarecido pelo responsável.
Os critérios de exclu­são foram: presença de doenças associadas, não colabora­ção
para realizar as condutas fisioterapêuticas e impossi­bilidade de registrá-las. Não
foi necessária a exclusão de nenhuma criança em tratamento na ocasião.

Após o levantamento das crianças em tratamento, foram coletados dados


com o responsável, acompanhando a avaliação física individual, de acordo com
itens da ficha de avaliação em um único momento. As sessões de fisiotera­pia das
crianças foram acompanhadas para registro do pro­tocolo de atendimento através
de descrições e fotografias.

Os itens que compuseram o protocolo de avaliação foram: identificação,


uso de medicamento para diminuir tônus, uso de órtese, interação com
fisioterapeuta, tipo de linguagem, idade de início e duração do tratamento,
padrões e alterações posturais, deformidades, descarga de peso em ortostatismo,
persistência de reflexos tônicos cer­vicais e capacidade de rolar.

O controle cervical foi graduado na posição prona – extensão cervical e sua


angulação ou liberação das vias aéreas e em sedestação – descrição do apoio dado
e endi­reitamento em relação ao tronco. Para graduação do con­trole de cintura
escapular, colocou-se a criança na postura prona, sendo observados e descritos
o suporte de peso nos cotovelos ou mãos e a liberação de membros superiores.
120
TÓPICO 3 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS E CARDIOVASCULARES

A identificação de encurtamentos musculares foi verificada através de


mobilização passiva lenta, distan­ciando origem e inserção dos músculos testados.
A deli­mitação dos grupos musculares hipertônicos foi feita pela movimentação
passiva rápida e sua graduação, pela Escala de Ashworth Modificada.

Os dados relacionados aos objetivos fisioterapêu­ticos, delimitados pelos


acadêmicos em conjunto com a docente responsável foram obtidos pela consulta
das fichas de avaliação por eles elaboradas. Para registrar as condutas aplicadas,
a pesquisadora acompanhou as ses­sões de tratamento e após análise de todos os
atendimen­tos, fotografou aquelas aplicadas com maior frequência.

Quanto à divulgação das informações, foi descrita a distribuição de


frequência dos dados de caracterização da população estudada e descritos os
objetivos e condutas aplicadas.

Resultados

Todas as participantes realizavam tratamento indi­vidual, com média de


idade de 3,7 anos e de 8,3 meses no início do tratamento, sendo que o tempo de
trata­mento era de 2,6 anos, em média. Nenhuma fazia uso de medicação para
diminuir o tônus, todas usavam órteses suropodálicas fixas bilateralmente; duas
possuíam cadeira de rodas adaptada, parapodium e abdutor de polegar e apenas
uma utilizava faixa em oito para evitar postura em abandono dos MMII.

Quanto ao controle motor apresentado, os da­dos coletados foram: duas


crianças suportavam peso em MMII quando colocadas em ortostatismo, apenas
uma rolava para decúbito lateral, nenhuma apresentava con­trole escapular; e em
uma persistia o reflexo tônico cer­vical assimétrico (RTCA). A extensão cervical em
prono era presente a 45º em uma; na outra era inferior e, em sedestação, as últimas
precisavam de apoio em tronco e cervical; enquanto a primeira só em tronco.

Quanto ao nível de interação, uma interagia atra­vés de linguagem verbal


e obedecia a ordens simples e as outras duas não interagiam. As alterações
posturais ob­servadas em todas as crianças foram: inclinação lateral e rotação
cervical, elevação de ombros, rotação externa de ombro, abdução de ombro,
flexão de cotovelo, flexão de punho e dedos, extensão de quadril e pé equino
bilateral e não apresentavam deformidades.

Os grupos musculares hipertônicos e encurtados são apresentados na


Tabela 1 e Gráfico 1, respectivamente. Os objetivos fisioterapêuticos eleitos com
maior frequência foram: inibir padrão patológico flexor de MMSS e extensor
de MMII; diminuir tônus; aumentar a extensibilidade muscular (inclinadores
cervicais, eleva­dores e rotadores internos de ombro, flexores de cotovelo,
flexores de punho e dedos, adutores de polegar, flexores de quadril, adutores
de quadril, flexores de joelho e flexores plantares); aumentar controle cervical,
aumentar a mo­bilidade e controle de cintura escapular; estimular o ro­lar, as
reações de endireitamento e a movimentação ativa de MMSS e proporcionar os
benefícios do ortostatismo.

121
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

FONTE: Os autores

FONTE: Os autores

122
TÓPICO 3 — FISIOTERAPIA APLICADA ÀS AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS E CARDIOVASCULARES

As condutas fisioterapêuticas adotadas mais fre­quentemente estão


listadas a seguir e constituem a propos­ta com diretrizes de tratamento, resultante
da pesquisa.

• Inibição do padrão patológico com extensão de MMSS e flexão de MMII em


cela, alinhamento de tronco e cabeça.
• Dissociação de cintura escapular e cintura pélvica.
• Alongamento muscular de rotadores e inclinadores cervicais, elevadores de
ombro, peitorais, flexores de cotovelo, punho e dedos, adutores de polegar,
isquiostibiais, tríceps sural, adutores e flexores de quadril.
• Treino de rolar com ponto chave de quadril e cotovelo (Figura 1).
• Em prono, facilitação do controle cervical e de cintura escapular com apoio
em antebraço, estabilização de quadril e uso de rolo terapêutico sob axilas/
facilitação do controle cervical e de cintura escapular em prono com tapping
de pressão, apoio em cotovelo, transferência de peso com e sem rolo (Figura 2).
• Facilitação do controle cervical e cintura escapu­lar com ponto chave de cintura
escapular e transferência de peso em MMSS, na postura gato, com tala extensora
em MMSS, estabilização de MMII e auxílio de rolo tera­pêutico sob abdômen.
• Em sedestação, facilitação do controle cervical e de cintura escapular, com tala
extensora em MMSS, pa­drão de inibição em MMII e liberação de um membro
para brincar assistido.
• Ortostatismo com uso de tala extensora em MMSS e MMII e órtese suropodálica
bilateral, com apoio anterior no rolo Bobath e posterior do terapeuta na pelve
estimulando controle cervical e de cintura escapular e dissociação de cintura
escapular (Figura 3).

FONTE: Os autores

123
UNIDADE 2 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PEDIÁTRICAS E NEONATAIS

FONTE: Os autores

FONTE: Os autores

Conclusão

As bases para o tratamento fisioterapêutico aqui encontradas envolvem


posicionamento em padrão de inibição durante todas as condutas aplicadas,
dissociação passiva de cinturas contra a distribuição da hipertonia, alongamentos
passivos dos músculos encurtados e/ou hipertônicos, medidas essas que atenuam
a hipertonia e otimizam a resposta muscular perante os estímulos de controle.
Além destas condutas, encontrou-se facilitação do controle cervical e de cintura
escapular e do rolar, es­timulação de movimentos ativos funcionais e da postura
ortostática auxiliada.

A seleção de condutas apropriadas e individualiza­das baseia-se no objetivo


único de promover o potencial funcional máximo da criança para aquisição de
etapas do desenvolvimento motor e possibilidades de interação com o meio.

FONTE: <https://bit.ly/2Lm3KNY>. Acesso em: 8 dez. 2020.

124
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A fisioterapia pediátrica pode ser aplicada ainda no ambiente hospitalar,


como é o caso das técnicas respiratórias empregadas nas UTIs neonatais com
lactentes.

• Existem muitas condições que podem fazer com que a criança ou o recém-
nascido necessite ser submetido ao tratamento fisioterápico, como doenças
congênitas, problemas respiratórios ou até na recuperação de determinadas
cirurgias.

• O trabalho do fisioterapeuta poderá ser focado no desenvolvimento


respiratório, visando a melhora da ventilação pulmonar, eliminação de
secreções pulmonares e redução do trabalho respiratório. Também podem ser
aplicadas técnicas específicas que auxiliem a tosse e a reeducação respiratória.

CHAMADA

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125
AUTOATIVIDADE

1 A asma é uma doença respiratória que atinge crianças e adultos. Sua


incidência é bastante alta e estima-se que pelo menos 20 milhões de
brasileiros são acometidos por essa patologia. A asma também é uma causa
importante de internações no Sistema Único de Saúde (SUS). Dados do
Ministério da Saúde revelam cerca de 350 mil internações hospitalares por
ano, via SUS, por conta de complicações relacionadas à doença. A respeito
da asma na população pediátrica, é INCORRETO afirmar:

a) ( ) É caracterizada por obstrução do fluxo aéreo total ou parcialmente


reversível, inflamação, hiper-reatividade brônquica, além de episódios
de sibilância, dispneia e tosse.
b) ( ) O tratamento da asma visa alcançar o controle da doença, reduzir o
número de exacerbações, a limitação ao fluxo aéreo e os sintomas. Para
alcançar esses objetivos recomenda-se o tratamento farmacológico
e o não farmacológico, sendo que ambos devem ser continuamente
revistos e ajustados para alcance e manutenção do controle da doença.
c) ( ) Os principais objetivos da fisioterapia aplicada aos pacientes com
asma são: reduzir o desconforto respiratório e a dispneia, melhorar
a mecânica respiratória, melhorar a força muscular respiratória nos
casos de fraqueza desta musculatura, melhorar o condicionamento
cardiorrespiratório, promover a higiene brônquica, quando necessária,
e melhorar a qualidade de vida.
d) ( ) Os pacientes com asma apresentam episódios de redução da frequência
respiratória, principalmente em momentos de piora da obstrução
brônquica.
e) ( ) De acordo com a fisiopatologia, comumente os pacientes com asma não
apresentam hipersecreção pulmonar. Durante a exacerbação, na vigên-
cia de infecção pulmonar, há possibilidade de acúmulo de secreção.

2 Acercadas doenças respiratórias encontradas em pacientes pediátricos com


seus respectivos conceitos, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Pneumonia.
II- Bronquiolite.
III- Asma.

( ) Infecção de vias aéreas inferiores, que acomete principalmente os


lactentes, tendo como principal agente etiológico o vírus sincicial
respiratório.
( ) Processo inflamatório, geralmente infeccioso, que envolve o parênquima
pulmonar (bronquíolos, alvéolos ou interstício).
( ) Doença inflamatória crônica, caracterizada por hiper-responsividade
das vias aéreas e por obstrução do fluxo aéreo.
126
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I – II – III.
b) ( ) II – I – III.
c) ( ) III – II – I.
d) ( ) I – III – II.
e) ( ) II – III – I.

3 Helena é uma criança de três anos com diagnóstico de paralisia cerebral. Seu
pai é pedreiro e sua mãe deixou o emprego de faxineira para se dedicar ao
tratamento da filha, que vem sendo atendida em uma instituição beneficente
de reabilitação há dois anos. A criança é asmática, apresenta suspeita de
retardo mental e atraso do desenvolvimento motor caracterizado por
uma diplegia e uma hipertonia moderada dos membros inferiores. Esta
semana, durante a sessão de fisioterapia, onde são realizados exercícios de
alongamento e técnicas de aprendizagem motora, a criança apresentou um
forte episódio de crise de asma. Do ponto de vista de conduta profissional,
como deve agir o Fisioterapeuta?

a) ( ) Considerando que a criança vai somente duas vezes por semana


à sessão de fisioterapia, deve continuar a sessão de tratamento,
acrescentando exercícios respiratórios e reforço da orientação quanto
à limpeza da poeira doméstica.
b) ( ) Deve continuar os exercícios, e solicitar à mãe que compre um
broncodilatador, para que faça uma nebulização antes da próxima
sessão de fisioterapia.
c) ( ) Deve continuar os exercícios e orientar a realização de uma boa
limpeza no quarto de Helena.
d) ( ) Deve suspender a realização dos exercícios, pois durante um episódio
agudo de crise asmática não é aconselhável a continuidade das
atividades motoras, pois elas podem piorar os sinais e os sintomas.
e) ( ) Deve continuar o tratamento acrescentando exercícios respiratórios
a sua conduta e, após a sessão, providenciar o encaminhamento da
criança a um pronto-socorro médico.

127
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SOCESP.Tratado de cardiologia. 2. ed. Barueri: Manole; 2009.

VULLERME, N.; MARIN, L.; DEBU, B. Assessment of static postural control in


teenagers with Down Syndrome. Adap Phys Act Quart, v. 18, n.4, p.417-33, 2001.

YANG, H. et al. Cerebral palsy in children: movements and postures during early
infancy, dependent on preterm vs. full term birth. Early Human Development,
v. 88, p. 837-843, 2012.

ZAMBELLI, H. et al. Assessment of neurosurgical outcome in children prenatally


diagnosed with myelomeningocele and development of a protocol for fetal
surgery to prevent hydrocephalus. Childs Nerv Syst, v. 23, p.421-5, 2007.

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WEI, J. L. et al. Pseudotumor of infancy and congenital muscular torticollis: 170


cases. Laryngoscope, v.111, p.1688-95, 2001.

133
134
UNIDADE 3 —

TERAPIAS COMPLEMENTARES E
ASSISTÊNCIA HUMANIZADA
NA SAÚDE DA CRIANÇA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a relação e o papel da fisioterapia na equipe de atendimento


à criança nos diversos níveis de atenção à saúde;

• conhecer o funcionamento e os benefícios das principais terapias


complementares utilizadas em pediatria e neonatologia, tais como a
terapia assistida por animais, equoterapia, musicoterapia, integração
sensorial, método Padovan e conceito Bobath;

• estudar a fisiologia da lactação;

• identificar o papel do fisioterapeuta no processo de aleitamento materno;

• compreender como ocorre a técnica da ordenha e o posicionamento


adequado da mãe e bebê durante a amamentação.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – RELAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA EQUIPE DE


ATENDIMENTO À CRIANÇA NOS DIVERSOS NÍVEIS
DE ATENÇÃO À SAÚDE

TÓPICO 2 – TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

TÓPICO 3 – ALEITAMENTO MATERNO

135
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

136
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

RELAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA EQUIPE DE


ATENDIMENTO À CRIANÇA NOS DIVERSOS
NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE

1 INTRODUÇÃO

No ano de 1998, ocorreu um marco importante na história do Brasil: a


publicação da Constituição Federal, que garantiu muitas conquistas para a
sociedade, como o direito da população à saúde – através do Sistema Único de
Saúde (SUS). Posteriormente, em 1990, foi publicada a Lei orgânica da Saúde ou
Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que definiu as diretrizes para organização
e funcionamento do SUS no Brasil. O SUS possui como algumas de suas diretrizes
o acesso universal, integral e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção
e recuperação da saúde, sendo as ações preventivas uma de suas prioridades
(BRASIL, 2012).

A fisioterapia foi reconhecida como profissão de nível superior pelo De-


creto Lei nº 938 em 1969. Contudo, o fisioterapeuta, durante muitos anos, esteve
restrito ao nível curativo e reabilitador, com seu campo de atuação limitado ao
ambiente hospitalar ou à clínica de reabilitação (BISPO JÚNIOR, 2013). Atual-
mente, apesar deste processo ainda estar em construção, o fisioterapeuta vem
adquirindo espaço nos serviços de atenção básica, atuando também na esfera pre-
ventiva, incluindo ações de educação em saúde, prevenção de agravos e assistên-
cia coletiva em conjunto com a equipe multiprofissional (BISPO JÚNIOR, 2013).

Veremos, agora, como é caracterizada a atuação do fisioterapeuta nos


diversos níveis de atenção em saúde, dando ênfase para o estudo da atuação
profissional no âmbito da saúde da criança. Preparados? Vamos lá!

2 FISIOTERAPIA NOS DIVERSOS NÍVEIS DE


ATENÇÃO À SAÚDE
A atenção básica é a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) e o
ponto de partida para a estruturação dos sistemas locais de saúde. Para organizá-
lo, foi criado, em 1993, o Programa Saúde da Família com o objetivo de reorientar
o modelo de atenção à saúde, estabelecendo novas dinâmicas de trabalho nas

137
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

unidades básicas de saúde, nas quais a família e seu espaço social passam a ser
o centro do serviço. Em 2006, esse programa recebeu um novo nome: Estratégia
Saúde da Família (ESF), que agora é diretriz permanente para reorganizar os
serviços de saúde no Brasil a fim de implementar os princípios e diretrizes do
SUS e fortalecer a atenção básica (BRASIL, 2011).

A ESF é uma estratégia de reorientação do modelo de atenção à saúde,
e tem na equipe de saúde multiprofissional um importante dispositivo para a
reorganização do processo de trabalho, visando além de atingir os princípios
do SUS, superar a fragmentação das ações e serviços de saúde e qualificar a
gestão do cuidado (BRASIL, 2011). Contudo, ao se perceber uma abrangência tão
ampla e complexa da interdisciplinaridade nas intervenções realizadas pela ESF,
começou-se a refletir sobre a importância de apoio de outras profissões para que
o objetivo da Atenção Básica fosse alcançado (FERNANDES; ROSA, 2018).

Desta forma, em 2008, foi criado o Núcleo de Apoio à Saúde da Família


(NASF) mediante a Portaria nº 154, e tinha como objetivo principal apoiar a
inserção da ESF na rede de serviços, ampliar a abrangência e o escopo de ações
da Atenção Básica aumentando assim sua resolutividade e reforçando o processo
de territorialização e regionalização em saúde (FERNANDES; ROSA, 2018).

A proposta inovadora do NASF foi a primeira aproximação formal da


fisioterapia na atenção básica. Com isso, as competências dos fisioterapeutas
ampliaram-se, com enfoque não apenas no conhecimento técnico especializado,
mas principalmente nas habilidades e atitudes a serem desenvolvidas em prol da
saúde da população, com consciência da responsabilidade social envolvida na
ação profissional (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2010).

2.1 ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NO NÍVEL PRIMÁRIO


No âmbito da atenção à Saúde da Criança, o fisioterapeuta pode auxiliar a
ESF nos aspectos referentes à identificação de atrasos no desenvolvimento motor
e orientações quanto ao aleitamento materno. Crianças com lesões neurológicas
também são beneficiadas pela atuação do fisioterapeuta, pois a dificuldade de lo-
comoção e transporte fazem com que o tratamento seja prejudicado. Dessa forma,
a criança recebe atendimentos do fisioterapeuta em seu próprio lar, bem como
orientações para a família ou cuidador quanto a adaptações a serem realizadas no
domicílio e cuidados para prevenção de agravos (VERÁS et al., 2005).

Os autores Formiga e Ribeiro (2012) relataram a importância da fisioterapia


na atenção básica (AB) e citaram as principais áreas de atuação do profissional
neste contexto, as quais serão descritas a seguir:

• Orientações: corresponde a programas de orientação dos fisioterapeutas por


meio de palestras, treinamento aos pais e folhetos explicativos sobre diferentes
assuntos que envolvem os cuidados com a criança. Exemplos de temas que

138
TÓPICO 1 — RELAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA EQUIPE DE ATENDIMENTO À CRIANÇA
NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE

podem ser abordados: prevenção de acidentes domésticos, conscientização


sobre o aleitamento materno, limpeza nasal, uso e higiene de inaladores,
prevenção de agudização de crises asmáticas, remoção de secreções etc.
• Assistência: envolve o tratamento realizado diretamente pelo fisioterapeuta
aos pacientes pediátricos, tratamento este que pode ser realizado tanto na
unidade básica quanto no domicílio. A fisioterapia respiratória está voltada
para as técnicas de remoção de secreções brônquicas e exercícios ventilatórios.
Na área motora, a assistência fisioterapêutica visa orientar os familiares para
a prevenção de encurtamentos e deformidades musculoesqueléticas, uso
próteses e órteses, prevenção de escaras e também na aplicação de estímulos
para o desenvolvimento sensório-motor da criança.
• Acompanhamento: corresponde ao seguimento da criança e do adolescente. O
fisioterapeuta monitora a criança, através de visitas domiciliares ou da marcação
de consultas na UBS. Em ambas, o profissional acompanha periodicamente o
crescimento e desenvolvimento do infante, avalia aspectos sensoriais e motores,
reforça orientações realizadas, identifica precocemente alterações motoras e
posturais, alterações do quadro respiratório e ainda monitora as condições
domiciliares. Este contato possibilita que o fisioterapeuta encaminhe a criança
para atendimento de outro profissional de saúde quando necessário e também
intensifique a assistência fisioterapêutica quando considerar necessário
(FORMIGA; RIBEIRO, 2012).

2.2 ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA EM NÍVEL


SECUNDÁRIO E TERCIÁRIO
O nível secundário e terciário de assistência à saúde envolve uma
complexidade maior e mais especializada de atendimento, reforçando os
cuidados necessários para a recuperação da saúde. O nível terciário, por exemplo,
abrange pacientes com patologias e que estão internados, necessitando de
reabilitação, cirurgias ou exames mais invasivos. No entanto, autores relatam
que a promoção da saúde também pode ocorrer no ambiente hospitalar, e no
momento das intervenções, não apenas a patologia pode ser tratada, como,
também, ações podem ser desenvolvidas para que a saúde e a qualidade de vida
sejam asseguradas com protagonismo dos sujeitos (SÁ; GOMES, 2014).

Historicamente, a implantação das ciências biomédicas no Brasil apoiou-se


nos modelos de formação de especialistas e os limitou a uma atuação direcionada
ao indivíduo doente. Nesse contexto, a formação do fisioterapeuta seguiu o
modelo biomédico (SÁ; GOMES, 2014).

No entanto, estão surgindo estratégias de humanização e promoção da


saúde nos três níveis de atenção em saúde. Como exemplo, podemos citar o
método mãe-canguru, o qual será descrito a seguir.

139
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

2.2.1 Método mãe-canguru


O Método mãe-canguru consiste em uma política nacional de saúde
que integra um conjunto de ações voltadas para a humanização e qualificação
do cuidado ao recém‑nascido (RN) e sua família. Ocorre na Unidade de Terapia
Intensiva neonatal, onde a mãe, apoiada e orientada pela equipe de saúde, assume
a maior parte dos cuidados com seu filho. Os objetivos do método são: promover
o aleitamento materno, esclarecer as dúvidas com relação aos cuidados do recém-
nascido e praticar a posição canguru, que deve ser realizada pelo maior tempo
possível (BRASIL, 2017).

A posição canguru consiste no contato pele a pele precoce do recém-


nascido de baixo peso com a mãe ou o pai, com tempo progressivo, de forma a
permitir um maior contato da família no cuidado com o bebê. As vantagens do
método são: aumento do vínculo entre a mãe e o filho, aumento da estimulação
sensorial, estímulo ao aleitamento materno, melhor controle térmico, melhor
relacionamento da família com a equipe de saúde, menor permanência hospitalar,
entre outros (BRASIL, 2017).

FIGURA 1 – POSIÇÃO MÃE-CANGURU

FONTE: <https://newsba.com.br/wp-content/uploads/2018/07/metodo-canguru.jpg>. Acesso


em: 18 jan. 2021.

Com relação à aplicação do método, este consiste em três etapas, as quais


serão descritas a seguir:

• Etapa 1: consiste no período após o nascimento do recém-nascido prematuro


que necessita de internação na unidade de terapia intensiva neonatal. Neste
período, algumas condutas deverão ser tomadas pela equipe, tais como:

○ Informar à mãe sobre a situação do recém-nascido, enquanto ela estiver


impossibilitada de ir à UTI neonatal.
○ Estimular o acesso livre e precoce dos pais à Unidade Neonatal.

140
TÓPICO 1 — RELAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA EQUIPE DE ATENDIMENTO À CRIANÇA
NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE

○ Iniciar o contato pele a pele (posição canguru) entre a mãe/pai e o recém-


nascido, assim que ambos se mostrarem disponíveis e a criança apresentar
estabilidade clínica.
○ Oferecer orientação e suporte ao aleitamento materno.
○ Estimular e orientar a participação da mãe e do pai nos cuidados com o
recém-nascido, entre outros (BRASIL, 2017).

• Etapa 2: nesta etapa, o recém-nascido está estável clinicamente, e poderá


permanecer com o acompanhamento contínuo da mãe. A criança e a mãe estão
aptas a permanecer na enfermaria conjunta, na qual a posição canguru deverá
ser realizada na maior parte do tempo. Algumas características são necessárias
para a realização da segunda etapa:

○ A criança deve ter peso mínimo de 1,600 kg.


○ Sucção exclusiva ao peito, ou excepcionalmente com complemento.
○ Familiares conscientes quanto aos cuidados do RN.
○ Nutrição enteral plena.
○ Mãe segura, psicologicamente motivada e bem orientada para continuar os
cuidados da criança (BRASIL, 2017).

• Etapa 3: consiste no acompanhamento ambulatorial da criança após a alta. São


atribuições do ambulatório de acompanhamento:

○ Realizar exame físico completo da criança.


○ Avaliar o crescimento (peso, comprimento e perímetro cefálico).
○ Orientar a permanência em posição canguru com o pai ou a mãe pelo maior
tempo possível.
○ Avaliar a amamentação.
○ Oferecer à família atendimento de outros membros da equipe
multiprofissional quer seja hospitalar ou da UBS, tais como fonoaudiólogas,
psicólogas, fisioterapeutas e serviço social (BRASIL, 2017).

Após atingir o peso de 2.500 g, a criança e sua família recebem alta do


Método Canguru e seu acompanhamento passa a ser realizado no ambulatório de
seguimento do hospital ou referência no município/estado e/ou na UBS.

DICAS

Quer saber mais sobre o método mãe-canguru? Acesse o link: http:www.


redeblh.fiocruz.br/media/manualcanguru.pdf.

141
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

2.2.2 Fisioterapia pediátrica hospitalar


A inserção dos fisioterapeutas dentro das unidades de terapia intensiva
aconteceu de forma ampla após a profissão ser reconhecida pelo Ministério da
Saúde, com advento da Portaria GM/MS n° 3432/GM, de 12 de agosto de 1998,
na qual se prevê a obrigatoriedade da presença deste profissional nas equipes de
terapia intensiva neonatal e pediátrica (BRASIL, 1998). Posteriormente, a Portaria
nº 930, de 10/05/2012, definiu diretrizes e objetivos para a organização da atenção
integral e humanizada ao recém-nascido grave e os critérios de classificação e
habilitação de leitos de Unidade Neonatal no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS), incluiu o Fisioterapeuta como parte da equipe mínima formada para o
funcionamento de uma unidade de terapia intensiva neonatal (BRASIL, 2012).

Nos dias de hoje, a atuação do Fisioterapeuta nas UTIs é ampla, e visa


à avaliação da mecânica respiratória do paciente, prestação de assistência por
meio de técnicas específicas da profissão para melhor evolução da doença e
fornecer cuidados na assistência ventilatória. Além disso, favorecer a redução do
risco de complicações dos sistemas respiratório, motor, neurológico e sensorial
do paciente, promovendo a redução do tempo de internação hospitalar e o
desenvolvimento de infecções respiratórias (BRASIL, 2012).

A atuação do fisioterapeuta com a criança hospitalizada é intensa tanto


para pacientes críticos que necessitam de suporte ventilatório quanto para os que
estão em período de recuperação pós-cirúrgica, não só com o objetivo de evitar
complicações respiratórias, mas também sequelas motoras e deformidades.
É baseada na cinesioterapia, integração sensorial, facilitação neuromuscular
proprioceptiva, posicionamento terapêutico e inúmeros outros procedimentos.
Os exercícios gerais de movimentação são realizados em membros, tronco e
cabeça, além de exercícios convencionais de estimulação tátil, visual, auditiva,
vestibular e proprioceptiva (POP EBSERH, 2015).

A seguir serão listadas algumas formas de atuação do fisioterapeuta nas


unidades de terapia intensiva pediátricas:

• Cinesioterapia: amobilização do paciente crítico deve ser precoce com o


objetivo de reduzir o impacto do tempo de ventilação mecânica (VM), o tempo
de internação e do declínio funcional.
• Monitorização respiratória e funcional.
• Posicionamento funcional no leito, deambulação, sedestação.
• Manejo da ventilação mecânica invasiva e não invasiva.
• Desmame da VM e extubação.
• Gerenciamento da oxigenoterapia.
• Aspiração do tubo orotraqueal e vias aéreas superiores.
• Montagem e teste do ventilador mecânico, entre outras (BRASIL, 2012).

142
TÓPICO 1 — RELAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA EQUIPE DE ATENDIMENTO À CRIANÇA
NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE

FIGURA 2 – FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NA UTI NEONATAL

FONTE:<https://bit.ly/2YYmoig>. Acesso em: 18 jan. 2021.

Como podemos observar são inúmeras as atribuições do fisioterapeuta


nos três níveis de atenção à saúde, e uma assistência de qualidade envolve uma
equipe multiprofissional treinada e engajada nas ações de prevenção, promoção
e reabilitação da saúde dos pacientes pediátricos.

143
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O fisioterapeuta é um profissional integrante da equipe multidisciplinar nos


três níveis de atenção à saúde: primário, secundário e terciário.

• No nível primário, o fisioterapeuta realiza ações de promoção, proteção e


recuperação da saúde de pacientes pediátricos, através de visitas domiciliares e
atendimentos individualizados ou em grupos nas Unidades Básicas de Saúde.

• Estratégias de humanização em saúde pediátrica também são encontradas


atualmente no ambiente hospitalar, como é o caso do método mãe-canguru,
que permite um contato precoce da família e do bebê internado na unidade de
terapia intensiva neonatal.

• A atuação do fisioterapeuta ao nível hospitalar é ampla, tratando e prevenindo


disfunções do sistema respiratório, nervoso e musculoesquelético de pacientes
pediátricos durante o período de internação.

144
AUTOATIVIDADE

1 O Método Mãe-canguru trata de um modelo de atenção perinatal voltado


para a atenção qualificada e humanizada que reúne estratégias de interven-
ção biopsicossocial, com uma ambiência que favoreça o cuidado ao recém-
nascido e a sua família. A respeito disso, analise as afirmativas a seguir: 

I- A primeira etapa é focada na internação do recém-nascido na UTI neonatal


e/ou na Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convenional
(UCINCo).
II- A segunda etapa é realizada na Unidade de Cuidados Intermediários
Canguru (UCINCa), garantindo todos os processos de cuidado já iniciados
na primeira etapa, com especial atenção ao aleitamento materno. O recém-
nascido permanece de maneira contínua com sua mãe e a posição canguru
será realizada pelo maior tempo possível.
III- Os RNs pré-termo e/ou de baixo peso (RNBP) na terceira etapa receberão
alta hospitalar e serão acompanhados de forma compartilhada pela equipe
do hospital e da atenção básica do método canguru. 

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativasI e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativasII e III estão corretas.
e) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

2 O Atendimento Domiciliar visa melhorar a qualidade de vida através dos


benefícios proporcionados ao paciente. Percebe-se maior comodidade,
melhor afinidade e contato com o fisioterapeuta. A respeito da fisioterapia
domiciliar pediátrica, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Nesse ambiente, o fisioterapeuta apenas fiscaliza o ambiente onde o


paciente reside, mas o tratamento apenas deve ser realizado em um
ambiente hospitalar ou ambulatorial.
b) ( ) A proximidade do profissional ao ambiente familiar-domiciliar
proporciona, além dos cuidados diretos no tratamento da doença, uma
visão do contexto familiar, especificamente às barreiras ambientais e
relacionais na prevenção de agravos à saúde do paciente e da família.
c) ( ) Os cuidados fisioterapêuticos no domicílio não proporcionam evolução
significativa do desenvolvimento motor do lactente prematuro, tendo
em vista a falta de equipamentos específicos.

145
d) ( ) Durante a primeira visita ao domicílio, o fisioterapeuta deve avaliar
apenas o paciente sem considerar a reação da família, condições sociais
e econômicas, pois estas não influenciarão no tratamento.
e) ( ) Tendo em vista a não existência de equipamentos no domicílio do
paciente o atendimento deve seguir com uma rotina sem variação dos
exercícios terapêuticos.

3 A fisioterapia hospitalar neonatal tem diversos objetivos, incluindo a reali-


zação de terapias de remoção de secreção, expansão pulmonar e posiciona-
mento terapêutico. A partir deste tema, analise as afirmativas a seguir:

I- Uma das atribuições do fisioterapeuta que trabalha na UTI neonatal é


avaliar a mecânica respiratória do paciente, realizar manobras de higiene
brônquica e reexpansão pulmonar, objetivando a melhora das trocas
gasosas e a manutenção das vias aéreas abertas.
II- O fisioterapeuta é o único responsável pela aspiração do tubo orotraqueal
e das vias aéreas superiores de neonatos em ventilação mecânica.
III- O posicionamento no leito é uma importante estratégia para a remoção
de secreções, visto que viabiliza a drenagem específica dos segmentos
pulmonares mais acometidos.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa II está correta.


b) ( ) As afirmativasI e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativasIIIestão corretas.
d) ( ) As afirmativasI e III estão corretas.
e) ( ) As afirmativasI, II e III estão corretas.

146
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico! Neste tópico, abordaremos as principais terapias


complementares utilizadas no tratamento de neonatos e infantes. No entanto,
você sabe o que significam essas terapias?

As terapias complementares envolvem abordagens não medicamentosas


que visam reduzir a dor, agravos e promover a qualidade de vida nas diferentes
fases do tratamento clínico usual (GRANER; COSTA JÚNIOR; ROLIM 2010).
Consistem em tecnologias resolutivas, com ênfase no acolhimento, vínculo
terapêutico e na promoção global do cuidado do ser humano (BRASIL, 2015).

Como exemplo de uma terapia complementar muito utilizada em


pediatria, podemos citar a ludoterapia, que consiste em:

[...] uma relação interpessoal dinâmica entre a criança e um terapeuta


treinado em ludoterapia que providencia a esta criança um conjunto
variado de brinquedos e uma relação terapêutica segura de forma
que possa expressar e explorar plenamente o seu self (sentimentos,
pensamentos, experiências, comportamentos) através do seu meio
natural de comunicação: o brincar [...] (HOMEM, 2009, p. 21).

FIGURA 3 – LUDOTERAPIA

FONTE:<https://www.logosgnosis.gr/images/slider3.jpg>. Acesso em: 18 jan. 2021.

147
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

A ludoterapia e outras terapias complementares permitem a aproximação


entre o terapeuta e a criança, de modo a estabelecer um vínculo e uma posterior
relação de confiança (MAIA; RIBEIRO; BORBA; 2011). A seguir, serão descritas
as principais terapias complementares utilizadas pelos profissionais da saúde na
reabilitação pediátrica.

2 TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS


A inclusão de animais dentro do ambiente terapêutico existe desde o
final do século XVII. A Terapia Assistida por animais (TAA) refere-se ao uso de
um animal com o objetivo de criar uma intervenção orientada (FERREIRA et al.,
2017). Trata-se de uma prática que vem sendo utilizada em alguns países onde
o animal é a parte principal do tratamento, visando à promoção da melhora
social, emocional, física até mesmo cognitiva de pacientes humanos (PEREIRA;
FERRARI; BARROS, 2014).

A terapia assistida por animais apresenta diversas nomenclaturas, e pode
ser conhecida como: terapia assistida por animais; terapia facilitada por animais,
pet-terapia, cinoterapia (quando utiliza cães na reabilitação), equoterapia
(com cavalos), entre outras. Também exige um acompanhamento de diversos
profissionais da área da saúde como fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e
médicos, que utilizam os animais como parte de um tratamento multiprofissional
(BUSSOTTI et al., 2005).

Esta terapia pode ser inserida em áreas relacionadas ao desenvolvimen-


to neuropsicomotor, desenvolvimento sensorial, distúrbios físicos, mentais e
emocionais, em tratamentos destinados a melhora da socialização ou, ainda, na
recuperação da autoestima dos pacientes. Além disso, pode ser aplicada em di-
ferentes públicos, como idosos, autistas, crianças com distúrbios do desenvolvi-
mento neuropsicomotor, portadores de Alzheimer, entre outros (DOTTI, 2005).

[...] podem promover um convívio ou participação mais efetiva


socialmente de crianças e adolescentes que estejam em situação de
abandono, ajudando-os a compensar déficits afetivos e estruturais,
tanto de personalidade como de habilidades e responsabilidades.
Quando se estabelece a relação entre animal e indivíduo, este é
capaz de reconhecer de imediato o animal como um amigo, de
forma a cultivar sentimentos como confiança, cuidado, estima, entre
outros. Pesquisadores já demonstraram que a posse de um animal de
estimação é influência importante para a construção progressiva de
uma criança para um adulto favorável, com ótimo desenvolvimento
social, e, no caso dos adultos, esta consciência torna-se mais efetiva,
com a participação do animal, em todos os sentimentos descritos
(CHAGASet al., 2009, p. 2).

Com relação aos efeitos benéficos da utilização da terapia assistida por


animais, podemos citar:

148
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

• melhora da autoestima, entretenimento e responsabilidade;


• estímulo e motivação no momento de realizar atividades propostas pelo
terapeuta;
• bem-estar perante a companhia do animal;
• progresso na mobilidade, na autonomia durante as atividades antes não
desempenhadas sozinha;
• aumento da confiança;
• progresso nas interações afetivas, diminuição da sensação de solidão, depressão
e ansiedade (PALOSKI et al., 2018).

FIGURA 4 – TERAPIA ASSISTIDA POR CÃES

FONTE:<https://bit.ly/3p9YaMN>. Acesso em: 18 jan. 2021.

A terapia assistida por animais apresenta-se como uma alternativa de


tratamento complementar à fisioterapia, sendo capaz de estimular os movimentos
funcionais e a propriocepção. Os autores Vaccari e Almeida (2007) relatam que a
terapia assistida por animais é indicada especialmente para crianças, porém pode
ser benéfica para pessoas de qualquer idade.

A inclusão de animais como recurso na fisioterapia contribui para o


aumento da motivação dos pacientes durante as sessões, tornando o animal (como
o cão, por exemplo), o mediador das condutas propostas durante o tratamento
(JULIANO et al., 2008).

Um estudo realizado por Zago, Finger e Kintschner (2011), que utilizou


um cão como mediador do tratamento, apresentou resultados como a melhora
da mobilidade e funcionalidade de uma criança com paralisia cerebral diplégica
espástica. A utilização do cão como facilitador no processo fisioterapêutico
contribuiu para maior independência na realização das atividades de vida diária,
como as trocas de postura, além de incitar a aproximação e a troca de afetos do
jovem com seus familiares e pessoas próximas.

149
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Ainda utilizando o cão como participante na terapia de crianças, autores


verificaram que a incorporação de cães em programas para crianças com sobrepeso
em treinamento ambulatorial ajudou a motivá-las para a realização dos exercícios
físicos e a promover mudanças sustentáveis no estilo de vida (WOHLFARTH et
al., 2013). Esta terapia auxiliou na melhora da independência na execução das
atividades de vida diária, como as trocas de postura, em um adolescente com
paralisia cerebral (PORTO; QUATRIN, 2014).

O cavalo corresponde ao segundo animal mais utilizado na Terapia


Assistida por animais (ficando atrás do cão), e também apresentou resultados
positivos sobre a habilidade comunicativa, interação social, medidas de
irritabilidade e hiperatividade, funcionamento executivo e processamento
sensorial e de Paralisia Cerebral na população infantil, melhorou a percepção
corporal e reduziu a espasticidade de crianças com PC (LUCENA-ANTÓN;
ROSETY-RODRÍGUEZ; MORAL-MUNOZ, 2018).

Os benefícios tanto individuais como sociais do uso daterapia assistida


por animais são inúmeros, e podem auxiliar crianças com vários tipos de
desordens psíquicas e motoras (ELMACI; CEVIZCI, 2015). Discutiremos agora
sobre a equoterapia, modalidade que está em alta na reabilitação de pacientes
pediátricos, especialmente para aqueles com desordens neurológicas.

2.1 EQUOTERAPIA
A terapia assistida por animais quando realizada com o cavalo é
denominada, no Brasil, de Equoterapia, e a utilização desta modalidade vem
aumentando consideravelmente nas últimas décadas. O cavalo é um animal
dócil, de porte e força, que se deixa montar e manusear. É um símbolo de poder
e soberania e, de acordo com Dotti (2005, p. 27), a equoterapia empodera os
praticantes, como podemos observar no trecho a seguir:

Refletimos no cavalo nossos desejos de sermos fortes e livres.


A experiência de montar em um cavalo e trabalhar com ele nos
leva ao sentimento de que podemos “Ter” o controle deles, e isso,
inconscientemente, nos revela o controle sobre nossa própria força. O
cavalo nos aproxima de nossas fraquezas, transformando-as. Ajuda-
nos a enfrentar nossas sombras e nossos medos, pois encontramos nele
aquilo que realmente queremos ser.

A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo


para estimular o desenvolvimento biopsicossocial e trabalhar com o paciente de
forma global (MEDEIROS, 2008). Essa terapia pode proporcionar movimentos
rítmicos, precisos e tridimensionais com a andadura do cavalo, exigindo a
participação de todo o corpo, contribuindo dessa forma para o desenvolvimento
do tônus e da força muscular, equilíbrio e coordenação (SANCHES, 2010).

150
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

O cavalo possui três andaduras: passo, trote e galope. Na equoterapia, as


sessões são desenvolvidas ao passo. Trata-se de uma andadura marchada (pelo
fato de não haver suspensão total do solo), ritmada há quatro tempos, ouvindo-se
quatro batidas distintas, nítidas e compassadas do pouso do membro do animal.
Cabe destacar que o passo é uma andadura simétrica, de modo que todos os
movimentos produzidos de um lado do animal são reproduzidos igualmente do
outro. O ser humano consegue atingir um ajuste tônico mesmo quando o animal
está parado, através do movimento dos músculos e o passo que o cavalo produz e
transmite ao praticante é caracterizado por uma série de movimentos sequenciados
e simultâneos, que tem como resultado um movimento tridimensional, que
melhora a função neuromotora e o processamento sensorial (NASCIMENTO;
CARVALHO; ARAÚJO, 2010).

Quando o cavalo se desloca, em seu dorso ocorre um movimento em que


o centro de gravidade sofre três deslocamentos: para cima e para baixo, para os
lados, para frente e para trás. No plano horizontal é produzido um movimento
para direita e esquerda; no plano transversal, ocorre um movimento para frente e
para trás; e por fim, há uma pequena torção do quadril do praticante, provocada
pelas inflexões no dorso do animal. Esta sequência de movimentos transmitidos
pelo cavalo é altamente complexa. Tais movimentos são conduzidos ao cérebro,
por meio do sistema nervoso, que gera respostas para ativar o organismo (MAR-
TINEZ, 2005; NASCIMENTO; CARVALHO; ARAÚJO, 2010; SEVERO, 2010).

FIGURA 5 – MOVIMENTOS DO CAVALO NOS TRÊS PLANOS DE MOVIMENTO

FONTE:<https://bit.ly/3aJkE1P>. Acesso em: 18 jan. 2021.

Existem semelhanças entre a marcha humana e do cavalo. O movimento


de aceleração e desaceleração do cavalo provoca inclinação anterior e posterior
de pelve e tronco do praticante. Quando ocorre a aceleração do movimento, a
pelve e o tronco do praticante se deslocam, inclinando-se para trás. Quando o
animal firma o membro posterior no solo, na fase de desaceleração, o praticante
inclina a pelve e o tronco para frente. Considerando o movimento que o cavalo

151
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

faz de rotação da anca, ao trocar de membros posteriores, o praticante realiza


movimento de flexão lateral da pelve. O terceiro movimento do passo efetiva-
se quando o cavalo realiza deslocamento para frente do membro posterior, que
provoca uma flexão em seu tronco e, consequentemente, a rotação do tronco e
pelve do praticante. Podemos afirmar então que a todo momento o cavaleiro está
recebendo estímulos tônicos que exige que o cavaleiro adapte seu equilíbrio a
cada movimento (NASCIMENTO; CARVALHO; ARAÚJO, 2010; SEVERO, 2010).

FIGURA 6 – PARALELISMO ENTRE O PASSO DO HOMEM E DO CAVALO

FONTE:<https://www.efdeportes.com/efd199/equoterapia-no-desenvolvimento-do-sindrome-
de-down-06.jpg>.Acesso em: 18 jan. 2021.

Acredita-se que a equoterapia pode proporcionar muitos benefícios ao


praticante, exigindo a participação integral do corpo, regulando o tônus muscular,
facilitando o desenvolvimento de controle postural, força muscular, coordenação
motora, dissociação de cinturas, equilíbrio, propriocepção, autoconfiança,
autoestima, disciplina e outras aquisições necessárias para a aprendizagem e
para o estado físico global (SANCHES, 2010).

O tratamento com a utilização do cavalo também evidenciou melhoras


significativas em crianças com Síndrome de Down, apontando uma maior
interação social, melhora no autocuidado e na motricidade, além de um ganho na
independência funcional (CAMPOS, 2007).

A equoterapia foi eficaz no tratamento de crianças com PC, que


apresentaram melhora para realização das atividades de vida diárias relacionadas
a autocuidados, mobilidade, locomoção, comunicação e cognição social
(FERREIRA et al., 2017).

152
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

Neste sentido, a equoterapia corresponde a uma terapia complementar


útil e eficaz na reabilitação pacientes pediátricos, especialmente em crianças com
comprometimento neurológico associado.

DICAS

Dicas de artigo sobre equoterapia:


SANCHES, S. M. N. Equoterapia na reabilitação da meningoencefalocele: estudo de caso.
Fisioter. Pesqui. v. 17. n. 4, p. 358-361, 2010.

3 MUSICOTERAPIA
Como mencionado anteriormente, as terapias complementares consistem
em práticas que geralmente não são consideradas parte da medicina convencional.
A utilização da música como recurso terapêutico integra este conjunto de práticas,
apresentando resultados benéficos na percepção de pacientes, profissionais e
familiares (TUCQUET; LEUNG, 2014).

Atualmente, diversos serviços de saúde estão levando a música para o
interior do seu ambiente de trabalho, objetivando proporcionar esta terapia para
o paciente, associada às terapêuticas e práticas convencionais, além de promover
assistência humanizada e melhorar a saúde do trabalhador que atua no local
(CRUZ et al., 2015).

Estudos publicados na literatura demonstram que a música pode


promover alterações no organismo humano, como nos níveis pressóricos,
frequência cardíaca e frequência respiratória, bem como na coordenação motora
de pacientes com doenças degenerativas (ROCHA; BOGGIO, 2013). Pode ser
utilizada também no tratamento de disfunções da linguagem e da fala, pode
agir sobre o desconforto e melhora na tolerância da dor, na redução da tensão
emocional em casos de doenças terminais e em casos de hospitalização, entre
outros benefícios (SEPÚLVEDA-VILDÓSOLAet al., 2014).

No que diz respeito à hospitalização de crianças e adolescentes, sabemos


que prolongados períodos de permanência hospitalar promovem fatores
estressantes e, em pacientes oncopediátricos, esses fatores podem ser agravados
devido a alguns fatores como os efeitos colaterais da terapia medicamentosa
(principalmente da quimioterápica), dos períodos prolongados de internação,
expectativas nas alternativas de tratamento e na cura da doença, alterações físicas

153
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

e psicológicas decorrentes do próprio câncer e de seu tratamento que causam


grande impacto na rotina e na vida desses pacientes. Neste contexto, a música
pode promover momentos de relaxamento e de alegria, amenizando a dor e
sofrimento da criança e adolescente hospitalizados (GOMES et al., 2013).

Um ensaio clínico randomizado e controlado, avaliou a influência da mú-


sica (audição musical com fones de ouvido) na dor e na ansiedade em crianças
submetidas à punção lombar, de 40 crianças com idade entre sete e 12 anos com
diagnóstico de leucemia. Os participantes foram aleatoriamente designados para
um grupo de música (n=20) ou para o grupo controle (n=20). Os autores do estu-
do constataram que os sinais vitais (que podem indicar sensação de dor e ansie-
dade) como a frequência cardíaca e respiratória, diminuíram após a intervenção
musical. Os resultados também mostraram menores escores de dor, frequência
cardíaca e respiratória no grupo que escutou música durante e após a punção
lombar. Quanto à ansiedade, as pontuações também reduziram no gripo da mu-
sicoterapia, tanto antes como após o procedimento. Os resultados das entrevistas
confirmaram uma experiência positiva pelas crianças, que relataram menos dor e
medo durante o procedimento de punção lombar (NGUYEN et al., 2010).

Um outro estudo investigou a eficácia da musicoterapia na redução dos


níveis de ansiedade de pacientes com câncer em quimioterapia ambulatorial no
México. Foram incluídos 22 pacientes com idades entre oito e dezesseis anos, e
foram realizadas duas sessões: a primeira sem a intervenção com a música e a
segunda com a intervenção, que consistia na audição musical com fones de ou-
vido durante a quimioterapia. A Escala Visual Analógica (EVA) foi aplicada para
determinar o nível de dor e ansiedade no início e no final do procedimento em
ambas as sessões. Os autores constataram que a dor e ansiedade foi menor após a
intervenção com a audição musical (SEPÚLVEDA-VILDÓSOLA et al., 2014).

No que diz respeito à percepção dos pacientes e familiares quanto


à musicoterapia, um estudo utilizando uma entrevista semiestruturada foi
realizado em três hospitais oncológicos pediátricos na Austrália, visando analisar
as perspectivas de pacientes pediátricos e de seus pais sobre o papel da música
na vida das crianças. Participaram do estudo 26 pacientes, com faixa etária entre
zero e 14 anos, em 28 pais. Os resultados do estudo demonstraram que tanto as
crianças como seus pais acreditam que a música proporciona benefícios durante
a internação, no sentido de reduzir a ansiedade e o estresse em crianças com
diagnóstico de câncer (O’CALLAGHAN et al., 2011).

Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo, dessa vez


australiano, que após a avaliação daprática clínica de serviços de musicoterapia
nos hospitais de oncologia pediátrica, constatou que os pais e pacientes avaliados
acreditam que a musicoterapia é uma ferramenta valiosa, desempenhando um
papel significativo durante os procedimentos, distraindo-os da dor e ansiedade, e
contribuiu para aproximar a família no processo de enfrentamento de seus filhos
(TUCQUET; LEUNG, 2014).

154
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

FIGURA 7 – MUSICOTERAPIA EM PACIENTE HOSPITALIZADO

FONTE:<https://bit.ly/2O8JuQX>. Acesso em: 18 jan. 2021.

A musicoterapia parte da utilização de diversos sons e músicas como


ferramentas de intervenção reeducativas e terapêuticas. Além dos benefícios da
musicoterapia em pacientes oncopediátricos, também estão sendo estudados os
efeitos desta terapia em pacientes com comprometimentos neurológicos. Sabemos
que as doenças neurológicas são as principais causas tanto de incapacidades
físicas quanto de cognitivas no mundo. E, dentre essas patologias, as que mais
acometem crianças são as paralisias cerebrais que englobam déficits cognitivos que
influenciarão na velocidade com que essa criança irá alcançar o desenvolvimento
neuropsicomotor (MARANHÃO, 2005).

A utilização da musicoterapia no tratamento de crianças com atraso no


desenvolvimento neuropsicomotor visa facilitar o aprendizado e desenvolvimento
através da interação com a música. A música e os elementos musicais como
o som, ritmo, melodia e harmonia promovem a facilitação da comunicação,
vínculo, aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização tanto física
como emocional, mental, social e cognitiva de pacientes com comprometimentos
neurológicos. De acordo com os autores Bradshaw et al. (2012), é possível que
através da musicoterapia o paciente desenvolva ou recupere suas potencialidades,
de forma que ele alcance melhor integração interpessoal e, como consequência,
melhore sua qualidade de vida (BRADSHAW et al., 2012).

Segundo Hatem, Lira e Mattos (2006), a ação da música sobre o sistema
nervoso autônomo promove uma estimulação da pituitária, resultando na
liberação de endorfina, que consiste em um opioide natural, reduzindo a dor e
levando os pacientes que recebem musicoterapia reduzirem potencialmente a
necessidade de analgésicos. Parece ocorrer também uma diminuição da liberação
de catecolaminas, o que poderia explicar a redução na frequência cardíaca (FC) e
na pressão arterial (PA).

155
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Outro estudo demonstrou que a música exerceu efeitos favoráveis sobre a


reabilitação neurológica em uma criança com paralisia cerebral. Como principais
resultados foram encontrados efeitos diversos da música sobre o SNC, como
a redução da ansiedade, melhora do relacionamento entre o fisioterapeuta-
paciente, maior interação do paciente ao tratamento, melhora na conquista dos
objetivos terapêuticos, melhora na aprendizagem de tarefas e na fala do paciente
(SANTOS et al., 2013).

FIGURA 8 – MUSICOTERAPIA EM PACIENTE COM COMPROMETIMENTO NEUROLÓGICO

FONTE:<https://bit.ly/3a2RdZA>. Acesso em: 18 jan. 2021.

Por fim, a música pode representar uma alternativa complementar de


tratamento utilizada pelos profissionais da saúde com inúmeros benefícios, além
de possuir baixo custo e ser de fácil manuseio.

4 PEDIASUIT
A terapia utilizando o protocolo PediaSuitTM foi proposta como uma
alternativa à fisioterapia convencional e é baseada em um modelo de traje
originalmente desenhado pelos russos no final da década de 1960, para ser
usado pelos astronautas no espaço, para minimizar os efeitos e manter a aptidão
neuromuscular de gravidade zero (ALAGESAN; SHETTY, 2011).

A terapia do traje, ou correção proprioceptiva dinâmica, foi popularizada


como uma modalidade de tratamento na Polônia e nos Estados Unidos e é focada
em melhorar a estimulação sensorial dos pacientes submetidos ao tratamento.
Esse método permite que o praticante aprenda estratégias de movimento,
posturas e equilíbrio (ALAGESAN; SHETTY, 2011).

156
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

O PediaSuit ProtocolTM é uma terapia com uma abordagem holística para


o tratamento de indivíduos com distúrbios neurológicos como paralisia cerebral,
atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor, lesões cerebrais traumáticas,
autismo e outras condições que afetam as funções motoras e (ou) cognitivas de uma
criança. Bar et al.(2006) relatam que a terapia intensiva promovida pelo PediaSuit
resulta em uma aquisição de habilidades significativamente melhores quando
comparada com os tratamentos convencionais de fisioterapia e geralmente pode
acelerar a aquisição de habilidades motoras em crianças com PC, por exemplo
(BAR et al., 2006).

Os elementos-chave do protocolo incluem um programa de fortalecimen-
to e equilíbrio estabelecido para o participante com base em suas necessidades,
forças e fraquezas individuais. Também é realizado um trabalho de eliminação
dos reflexos patológicos e o estabelecimento de novos padrões de movimentos
precisos e funcionais (DAMIANO, 2006).

Um dia típico do programa de treinamento intensivo consiste na
combinação de técnicas de integração sensorial, diminuição dos padrões de
movimento patológico, aumento dos padrões de movimentos ativos adequados,
alongamento/fortalecimento de grupos musculares específicos responsáveis
pelo movimento funcional, exercícios de resistência progressiva, treinamento
de equilíbrio/coordenação e resistência, transferência de atividades funcionais e
treinamento de marcha, entre outros. O plano de tratamento inclui exercícios que
ajudam a desenvolver a força dos músculos, bem como melhorar ou desenvolver
habilidades para aprimorar a independência em habilidades motoras, como andar,
sentar, autocuidado, brincar e manter o equilíbrio (ENGELEN; KETELAAR;
GORTER, 2007).

O protocolo do treinamento intensivo PediaSuit é baseado em três
princípios básicos:

• Efeito do traje terapêutico que faz com que as atividades sejam realizadas
contra a resistência oferecida pelos elásticos, promovendo um aumento da
capacidade proprioceptiva e realinhamento da postura.
• Terapia intensiva com duração de quatro horas por dia e cinco dias por semana,
durante quatro semanas.
• Participação motora ativa do paciente envolvido.

O traje consiste em um colete de estabilidade, shorts, joelheiras e


sapatos especialmente adaptados com ganchos e cordões elásticos que ajudam a
manter o alinhamento físico adequado no espaço (Figura 9). Durante exercícios
especializados, os terapeutas ajustam os conectores elásticos que espelham
topograficamente os músculos flexores e extensores, os rotadores do tronco e os
membros inferiores. Acessórios adicionais que corrigem a posição dos pés, cabeça
e outras áreas do corpo também foram projetados (SCHEEREN et al., 2012).

157
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

O traje é usado para treinar uma criança para ganhar a capacidade de


isolar os movimentos desejados e fortalecer os grupos musculares responsáveis
por aquele movimento. Permite ganhar amplitude de movimento, flexibilidade
muscular e articular, bem como habilidades funcionais. Além disso, serve
como suporte externo para pacientes com distúrbios neurológicos, facilitando
a independência motora e o desenvolvimento de novas habilidades motoras
grossas e finas, como sentar, ficar em pé e andar (SCHEEREN et al., 2012).

FIGURA 9 – TRAJE UTILIZADO NO PEDIASUIT

FONTE:<https://www.crefito8.gov.br/pr/images/stories/pediasuit.jpg>. Acesso em: 18 jan. 2021.

A “Gaiola Monkey” e a “Gaiola Spider” consistem no local em que os


exercícios são realizados (unidade de exercícios). A versatilidade da unidade
de exercícios de habilidade é que ela combina a diversão para o paciente e
também substitui o trabalho de mais duas pessoas. Barras paralelas instaladas
dentro da unidade permitem o treinamento de marcha, habilidades funcionais e
transferências (SCHEEREN et al., 2012).

FIGURA 10 – UNIDADE DE EXERCÍCIOS PEDIASUIT

FONTE:<https://bit.ly/3q3l7lY>. Acesso em: 18 jan. 2021.

158
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

Com relação ao protocolo propriamente dito, este é dividido em algumas


fases, listas a seguir:

• Fase 1 – aquecimento e alongamento (45 min): o paciente é posicionado em


uma mesa onde o protocolo de escovação da pele (membro superior e inferior
e tronco) é realizado durante aproximadamente 15 minutos. As atividades
de aquecimento consistem no alongamento ativo e passivo das principais
articulações (punho, cotovelo, ombro, tornozelo, joelho e quadril, compressão
articular). Este procedimento leva cerca de 30 minutos (SCHEEREN et al., 2012).
• Fase 2 – vestimenta do traje: consiste na colocação do traje e fixação das cordas
elásticas para corrigir os desvios posturais. O traje alinha o corpo o mais
próximo possível do normal. O restabelecimento do alinhamento postural
correto desempenha um papel crucial na normalização do tônus muscular,
função sensorial e vestibular. Após a colocação do macacão, são realizadas
atividades como carga, mobilidade, agilidade, coordenação, deslocamento de
peso, equilíbrio, transição, planejamento motor e fortalecimento (SCHEEREN
et al., 2012).
• Fase 3 – Jaula/gaiola do macaco: fase em que são trabalhados objetivos
específicos como a resistência para determinada habilidade, coordenação,
deslocamento e sustentação de peso etc. (SCHEEREN et al., 2012).
• Fase 4 – Gaiola da aranha: as crianças são presas a um cinto em volta da cintura
que é preso à gaiola por meio de cordas elásticas. O ajuste das cordas elásticas
é suficiente para permitir à criança a segurança e o equilíbrio necessários para
praticar as atividades por conta própria, atividades estas que não seriam capazes
de realizar sem o auxílio das cordas e que exigiriam dois ou três terapeutas.
Dependendo da forma como as cordas elásticas são colocadas, pode-se praticar
sentar, ajoelhar, quadrúpede, ficar em pé, exercícios de fortalecimento, salto e
muitas outras atividades (SCHEEREN et al., 2012).

FIGURA 11 – SUSPENSÃO DE PESO “JAULA DO MACACO”

FONTE:<https://pediasuitbrasil.com.br/images/megamenu/menu_img1.jpg>. Acesso em: 18 jan.


2021.

159
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

FIGURA 12 – GAIOLA DA ARANHA – PEDIASUIT

FONTE:<https://bit.ly/3pWSjLP>. Acesso em: 18 jan. 2021.

De acordo com os resultados obtidos em um estudo realizado por


Oliveira, Nery e Gonçalves (2018), houve uma melhora significativa na função
motora grossa de uma criança com paralisia cerebral do tipo quadriplegia
espástica nas dimensões ajoelhada, em pé e andar, correr e pular, melhora do
equilíbrio dinâmico, da postura e alinhamento biomecânico das articulações (na
pontuação da escala GMFM-66). Diante dos resultados positivos, o Pedia Suit
pode contribuir significativamente na melhora de crianças com PC, sendo uma
opção de tratamento.

Dessa forma, as quatro fases do PediaSuit Protocol permitem a aplicação


de estímulos holísticos e específicos aos pacientes, de forma progressiva,
podendo ser modicado cada vez que o terapeuta perceber que tal modificação
traz benefícios ao paciente.

5 CONCEITO NEUROEVOLUTIVO BOBATH


O conceito neurovolutivo Bobath trata-se de uma técnica de reabilitação
neuromuscular que utiliza reflexos e estímulos sensitivos para inibir ou provocar
uma resposta motora sempre respeitando os princípios da normalização do
tônus e da experimentação de um movimento ou de um controle estático normal.
Possui enfoque na reabilitação de pacientes que sofreram lesões neuromotoras
com origem no sistema nervoso central (SNC). Esses indivíduos apresentam
disfunções que levam a limitações em suas atividades funcionais (IBITA, 2008).

160
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

Histórico

O conceito teve origem na década de 1940 com a fisioterapeuta Berta
Bobath e o neuropediatra Karel Bobath, através do tratamento de crianças com
Paralisia Cerebral (PC). Em Londres, Berta Bobath tornou-se fisioterapeuta pelo
Chartered Society of Physiotherapy em 1950 e Karel Bobath começou sua carreira
trabalhando como pediatra e se especializou em paralisia cerebral (KOLLEN et
al., 2009).

Antes de 1950, a reabilitação neurológica era focada em orientações
ortopédicas, com a utilização de técnicas como massagens, calor, uso de
trações e técnicas de movimentos passivos e ativos com o objetivo principal
de evitar deformidades (KOLLEN et al., 2009). Neste período, Berta iniciou um
atendimento domiciliar de um paciente hemiplético, e percebeu que poderia
influenciar e modificar o tônus muscular deste paciente (que era pintor) por
meio do manuseio, sugerindo então uma nova abordagem de tratamento,
através do movimento de estruturas proximais que influenciassem no tônus
das extremidades e a alteração proprioceptiva, reduzindo então a espasticidade
(ALCÂNTARA; LACERDA, 2009).

E
IMPORTANT

A espasticidade consiste em uma alteração no tônus muscular (rigidez


do músculo).

O objetivo desta técnica é incentivar e aumentar a habilidade da criança


de mover-se funcionalmente da maneira coordenada, facilitando o movimento
normal do paciente, através da utilização de “pontos-chave de controle”. As
induções da atividade dos segmentos afetados favorecem a aprendizagem do
movimento adequado e funcional e a inibição de padrões anormais de sinergismo
espástico, com o menor esforço possível (FERREIRA, 2004).

Todavia, o que são os pontos-chave de controle? São pontos centrais no
corpo que influem em regiões mais distais controlando o tônus e o movimento
provocando reações automáticas (geralmente as articulações) (FERREIRA, 2004).

Quais são os princípios do método?

161
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

• inibir a atividade reflexa e padrões de movimento anormais;


• facilitação de padrões motores normais;
• fornecer o máximo de informações proprioceptivas e exteroceptivas;
• realizar um atendimento individualizado;
• tratar a criança/paciente de forma global.

E os objetivos a serem alcançados?

• Ajuste dos padrões funcionais de movimento;


• redução da espasticidade;
• minimizar/evitar contraturas e deformidades;
• edificar as reações posturais normais.
• tornar o paciente o mais independente possível, dentro das suas potencialidades
(FERREIRA, 2004).

Através do método Bobath, a criança recebe a experiência sensório-


motora de movimentos básicos proporcionada pelo fisioterapeuta (rolar, sentar,
engatinhar e andar, mas também de atividades da rotina diária, como tomar
banho, alimentar-se, vestir-se, locomover-se em ambientes variados, entre
outros), que pela repetição e integração em suas atividades de vida diária geram
o aprendizado motor e, posteriormente, esses padrões/movimentos se tornam
automáticos (FERREIRA, 2004).

Dentro do método são três as principais técnicas de tratamento: facilita-
ção, inibição e estimulação (SHEPHERD, 1995). Antes de iniciar qualquer facili-
tação, é necessário organizar o tônus do paciente, seja por meio de inibição ou de
uma estimulação, de acordo com seu tônus, conforme esquema apresentado na
figura a seguir:

FIGURA 13 – UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE ACORDO COM O TÔNUS DO PACIENTE

FONTE: Castilho-Weinert e Forti-Bellani (2011, p. 47)

162
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

A fase de estimulação inicia-se a partir do momento em que o tônus foi


inibido ou estimulado partindo para o normal. As técnicas de inibição e facilitação
são guiadas pelo fisioterapeuta através dos pontos-chave de controle, pelos quais
o manuseio influencia seguimentos a distância. Consideram-se como pontos-
chave mais proximais a cabeça, o esterno, o ombro e o quadril. Os pontos mais
distais são o cotovelo, o punho, o joelho e o tornozelo (FERREIRA, 2004).

FIGURA 14 – PONTO-CHAVE DA CABEÇA

FONTE: Castilho-Weinert e Forti-Bellani (2011, p. 48)

FIGURA 15 – PONTO-CHAVE DO ESTERNO

FONTE:Castilho-Weinert e Forti-Bellani (2011, p. 48)

163
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

FIGURA 16 – PONTO-CHAVE DE OMBRO E COTOVELO

FONTE:Castilho-Weinert e Forti-Bellani (2011, p. 49)

FIGURA 17 – PONTO-CHAVE DE PUNHO

FONTE:Castilho-Weinert e Forti-Bellani (2011, p. 50)

FIGURA 18 – PONTO-CHAVE DE QUADRIL

FONTE:Castilho-Weinert e Forti-Bellani (2011, p. 49)

164
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

As técnicas de inibição incluem uma resposta normal no indivíduo que


iniba uma resposta patológica (pode ser executado por meio da inibição de
movimentos indesejados ou pela facilitação de padrões normais que sobrepõem
os anormais). Já as técnicas de estimulação aumentam o tônus postural e regulam
a ação conjunta dos músculos agonistas, antagonistas e sinergistas. Consideram-
se como técnicas de estimulação, a transferência de peso, o tapping, o placing, e o
holding (FERREIRA, 2004).

A transferência de peso recruta unidades motoras e libera os outros


seguimentos que não estão sustentando peso para que executem movimentos,
sendo que esta transferência pode ser facilitada pelos pontos-chave de controle.
Quando não há transferência de peso, não há movimento, por isso, adquirir a
habilidade de transferir peso é um pré-requisito fundamental para a movimentação
ativa da criança. Devem-se executar transferências de peso para os lados, para
frente, para trás, diagonalmente, entre outros (FERREIRA, 2004).

FIGURA 19 – TRANSFERÊNCIA DE PESO AO MEMBRO INFERIOR PARÉTICO

FONTE:Castilho-Weinert e Forti-Bellani (2011, p. 64)

Placing (colocação) e holding (manutenção) são técnicas que envolvem a


habilidade de controlar e manter os movimentos e as posições de forma automática
e voluntária, em toda amplitude de movimento. O placing é caracterizado como
a capacidade de interromper um movimento, de forma voluntária (autoajuste
postural). O holding é a habilidade de manter o segmento cujo movimento foi
interrompido na posição escolhida (FERREIRA, 2004).

O tapping é um meio de aumentar o tônus postural pelo estímulo tátil e
proprioceptivo, ativar grupos musculares fracos, obter graduação adequada da
inervação recíproca, estimular as reações de equilíbrio, proteção e retificação, e
promover padrões sinérgicos de movimento. A técnica consiste em pequenas
batidas sobre segmentos do corpo. Estas batidas podem desencadear uma
estimulação tátil e proprioceptiva, ou uma cocontração, que é a contração

165
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

simultânea de agonistas, antagonistas e sinergistas que possibilitam movimentos


de estabilidade. Há quatro tipos de tapping: de inibição, de pressão, por
deslizamento e alternado. O objetivo dessa técnica é possibilitar a manutenção
automática de uma posição desejada (FERREIRA, 2004).

FIGURA 20 – EXEMPLO DE TAPPING DE PRESSÃO PARA DORSIFLEXÃO

FONTE:Castilho-Weinert e Forti-Bellani (2011, p. 56)

FIGURA 21 – EXEMPLO DE TAPPING DE DESLIZAMENTO

FONTE:Castilho-Weinert e Forti-Bellani (2011, p. 56)

O conceito Bobath segue a sequência do desenvolvimento típico da


criança, então o terapeuta começa a estimular a criança nas posturas mais simples,
evoluindo para posturas mais complexas e que demandam maior controle motor
(FERREIRA, 2004).

166
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

DICAS

Quer saber mais sobre esse conceito tão utilizado em neuropediatria? Acesse
o link: http://www.bobath.com.br/wp-content/uploads/2014/08/Cury-cap-20.pdf.

6 MÉTODO PADOVAN
Rezende et al. (2008) destacam que o desenvolvimento motor é
caracterizado como um processo de mudança comportamental e adaptativa
que está relacionado com a idade do indivíduo e essas mudanças são mais
perceptíveis em bebês. Durante o primeiro ano de vida, a criança passa de uma
situação de total dependência para um impressionante grau de independência
física (RESENDE et al., 2008).

No Brasil, há um alto índice de recém-nascidos prematuros (idade


gestacional inferior a 37 semanas), fato este que eleva a mortalidade infantil,
constituindo assim um grande problema de saúde pública (RIBEIRO et al., 2007).

Sabe-se que os distúrbios neurológicos podem afetar a independência


funcional da criança em qualquer idade. Por isso, é de suma importância que os
pais e familiares encaminhem o infante para avaliação multiprofissional o mais
precocemente possível, visando à identificação da alteração funcional da mesma.
Neste sentido, o fisioterapeuta é um profissional que trabalha com atrasos do
desenvolvimento, avaliando e identificando precisamente qualquer atraso além
dos limites normais do desenvolvimento (RIBEIRO et al., 2007).

As abordagens de desenvolvimento neurológico e sensório-motoras


são pontos principais para grande parte dos programas de intervenção
implementados por fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. As técnicas de
manuseio são utilizadas no recém-nascido visando proporcionar para os bebês
algumas experiências normais que poderão servir de base para o desenvolvimento
adequado, pois sabemos que anormalidades nos padrões de movimento poderão
interferir na aquisição de marcos motores normais, tais como o controle da
cabeça, na estabilidade do tronco, na coordenação mão-olho e na interação social
(BURNS; MACDONALD, 1999).

Conforme mencionado anteriormente, a intervenção precoce minimiza o


agravamento dos sintomas e quanto mais precocemente o tratamento for iniciado,
maior é a chance de desenvolver as habilidades motoras normais (CASTRO, 2005).

167
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Atualmente, existem diversas técnicas de neuroestimulação precoce


e, dentre elas, podemos destacar o método Padovan ou de Reorganização
Neurofuncional, criado pela fonoaudióloga Beatriz Padovan, que se trata de
uma abordagem terapêutica que recapitula as fases do neurodesenvolvimento,
utilizadas estrategicamente para reabilitar o SNC. É uma referência no tratamento
de crianças e adultos sindrômicos, pacientes com paralisia cerebral, recém-
nascidos prematuros e vítimas de Acidente Vascular Cerebral (CASTRO, 2005).

Após anos de estudo, Beatriz Padovan organizou uma série de exercícios


corporais, respiratórios e oro-bucal-faciais (são exercícios como rolar, rastejar,
engatinhar) que podem ser aplicados em todas as faixas etárias. A grande ideia
desses exercícios consiste em repetir as diversas fases do desenvolvimento do
sistema neurológico, assim o paciente recapitula alguns processos que podem
interferir atualmente em seu desenvolvimento normal(PADOVAN, 1997).
Quando essas técnicas são precocemente iniciadas e realizadas por profissionais
especializados no assunto (fisioterapeutas, fonoaudiólogos ou médicos) diminuem
sequelas neurológicas e proporcionam uma melhor qualidade de vida para as
crianças e sua família (CASTRO, 2005).

A Reorganização Neurológica consiste na recapitulação das fases naturais
do desenvolvimento humano e consiste em três principais pilares: andar, falar e
pensar. De acordo com a falha no desenvolvimento em cada um dos três pilares, o
profissional capacitado poderá atuar em cada uma delas. Por exemplo, estimula-
se o movimento de andar desde os seus movimentos mais primitivos até o
indivíduo alcançar a postura ereta, dominando o espaço com ritmo e equilíbrio. O
falar é trabalhado com exercícios para a reeducação das funções orais, (respiração,
sucção, mastigação e deglutição). Por fim, o pensar abrange áreas específicas da
percepção auditiva e visual (atenção, memória, discriminação, análise) e processos
do desenvolvimento da fala, linguagem espontânea (fluência e ritmo) e da leitura
e escrita (PADOVAN, 1994; PADOVAN, 1997).

As sessões duram em torno de 30 a 45 minutos, quantas vezes por
semana forem necessárias. Cada exercício é repetido várias vezes, de acordo com
a necessidade individual de cada paciente. Além disso, os exercícios são realizados
de maneira sequenciada e de forma que complementem e sigam a ordem natural
do desenvolvimento. O material usado é simples e podemos citar: línguas-de-sogra,
chupetas ortodônticas, garrotes de diferentes diâmetros e comprimentos, espátulas,
canudos de refresco, um pequeno massageador facial, apitos de madeira e lanternas
(PADOVAN, 1994).

A seguir serão listados alguns exemplos de exercícios utilizados no método
Padovan:

• Exercício da rede: suspendemos o recém-nascido em um lençol e realizamos mo-


vimentos para frente e para trás, para um lado e para o outro. Esses movimentos
estimulam o sistema vestibular, dando estímulo para o equilíbrio.

168
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

FIGURA 22 – EXERCÍCIO DA REDE: MÉTODO PADOVAN

FONTE:<https://bit.ly/3aLUrj3>. Acesso em: 18 jan. 2021.

• Exercício da borboleta: paciente em decúbito ventral, braços flexionados para a


frente com o polegar virado para a cabeça. A terapeuta segura a cabeça, a nível
das têmporas, sem tapar as orelhas e vira a cabeça para um lado e levanta o
cotovelo, segurando a mão espalmada no colchão. Vira-se a cabeça para o outro
lado e faz o mesmo movimento com o braço do lado que a cabeça virou. Este
exercício trabalha o equilíbrio da criança (estimula o sistema vestibular durante a
rotação da cabeça), ombros e punhos.

FIGURA 23 – EXERCÍCIO DA BORBOLETA: MÉTODO PADOVAN

FONTE:<http://www.movimentodown.org.br/wp-content/uploads/2013/06/padovan.jpg>. Acesso
em: 18 jan. 2021.

• Rolar: a criança atinge a capacidade total de rolar a partir do 4º mês de idade. No


entanto, no recém-nascido esse exercício pode ser utilizado como “meio rolar”,
visando estimular o sistema vestibular. A partir do rolar, outros exercícios podem
ser atingidos como rastejar, engatinhar ou agachar.

169
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

FIGURA 24 – EXERCÍCIO DE ROLAR: MÉTODO PADOVAN

FONTE:<https://bit.ly/3p7gyWi>. Acesso em: 18 jan. 2021.

• EXERCÍCIOS ORAIS – APITO NA BOCA: coloca-se um apito “bico de pato”


de madeira, na boca e oclui-se as narinas na expiração. Estimula palato, laringe
e diafragma.

FIGURA 25 – APITO UTILIZADO NOS EXERCÍCIOS ORAIS – MÉTODO PADOVAN

FONTE:<https://lojapadovan.com.br/wp-content/uploads/2018/03/Corneta-imagem-ilustrativa.
jpg>. Acesso em: 18 jan. 2021.

DICAS

Ficou interessado no método? Acesse o link: https://metodopodovan.com/

170
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

7 INTEGRAÇÃO SENSORIAL
A Integração Sensorial é uma técnica de tratamento que foi preconizada
pela terapeuta ocupacional americana Jean Ayres. Trata-se de um processo que
envolve organizar sensações do corpo e ambiente para sua melhor utilização.
Inicialmente, esta técnica foi desenvolvida e dirigida para crianças com distúrbio
de aprendizagem e atualmente a sua utilização se ampliou também aos portadores
de disfunções neurológicas (AYRES, 2005).

IS é um processo no qual o cérebro organiza as informações, de modo a


dar uma resposta adaptativa adequada, para organizar as sensações do próprio
corpo em relação ao ambiente. As capacidades humanas de processamento
sensorial são usadas para a interação social, o desenvolvimento de habilidades
motoras e para a atenção e concentração. O processo de integração sensorial
inicia-se no útero materno enquanto o bebê reconhece os movimentos da mãe.
Durante o primeiro ano de vida, uma grande quantidade de integração sensorial
acontece no sistema nervoso central da criança, promovendo o seu rápido
desenvolvimento (AYRES, 2005).

Ayres (2005) relata que a IS é um processo em que a sensação do nosso
próprio corpo e do ambiente é organizada no cérebro e torna possível o uso
do corpo eficientemente em qualquer ambiente apresentado. Esta técnica de
tratamento pode ser utilizada tanto para crianças quanto para adultos, e as
principais indicações são:

• Indivíduos com disfunções sensoriais.


• Distúrbios neurológicos como paralisia cerebral, atraso do desenvolvimento
neuropsicomotor, síndromes etc.
• Distúrbios comportamentais como autismo, psicoses, Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH) etc. (AYRES, 2005).

7.1 DISFUNÇÃO DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL


A disfunção da integração sensorial pode ser representada por dois
campos: pobre modulação e pobre práxis. A práxis pode ser definida pela
habilidade de executar uma tarefa motora (incluindo a ideação, o planejamento
e a execução) (RYAN; SLADYK, 2005). Indivíduos com déficit de práxis, ou
dispraxia, apresentam dificuldade da integração bilateral e sequenciamento, ou
seja, os indivíduos com esta condição têm dificuldades em usar os dois lados de
seu corpo de maneira coordenada, e o sequenciamento refere-se à capacidade
antecipatória de planejar sequências de movimentos (como quando lhe é lançada
uma bola e é preciso calcular distância e velocidade desta bola para a interceptação
adequada). A dispraxia tem sua base no processamento débil dos estímulos
vestibulares, proprioceptivos e visuais e indivíduos autistas, hiperativos ou
com déficit de atenção são os que comumente apresentam essa condição clínica
(MULLIGAN, 1996).

171
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Outro caso de disfunção de integração sensorial é a somatodispraxia,


situação na qual os pacientes possuem dificuldades em traduzir a informação
sensorial em tarefa motora, dificuldade esta que pode estar relacionada à
motricidade global, fina ou oral, sendo que a maioria dos indivíduos têm
dificuldades no processamento tátil e proprioceptivo (MILLER, 2006).

E
IMPORTANT

Para relembrar: a modulação sensorial corresponde à habilidade de organizar


as sensações de maneira adequada, e esse processo ocorre no nível neurofisiológico
comportamental. Um indivíduo que for hiporresponsível, apresentará falhas na reação aos
estímulos, com respostas lentas (MCINTOSH et al., 1999).

7.1.1 Intervenção
Para organização e formulação de um plano de tratamento individualizado
para determinada disfunção de integração sensorial, é preciso identificar os
padrões de modulação do paciente. O terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta
utiliza de atividades lúdicas, com o objetivo de promover a aprendizagem
através de experiências novas e prazerosas, estimulando a curiosidade e tomada
de decisões dos infantes (TROMBLY; RADOMSKI, 2005).

O fornecimento de estímulos periféricos oferece a possibilidade de


rearranjos nos circuitos neurais relacionados às funções perceptivas, motoras e
cognitivas da criança. O infante participa do processo terapêutico, integrando
experiências e organizando seu sistema nervoso central através de brincadeiras
terapêuticas (AYRES, 2005).

Dentre algumas formas de estimulação e intervenção, podemos citar:

• diferentes tipos de estímulos: em primeiro lugar, o terapeuta identifica o tipo


de informação sensorial mais adequada àquele paciente (tátil, vestibular,
proprioceptiva) e posteriormente expõe a criança a um ambiente rico na
especialidade escolhida, podendo variar a intensidade, duração, ritmo e
frequência dos estímulos;
• participação ativa do indivíduo no tratamento (o indivíduo promove sua
autorregulação);
• atividade dirigida ao paciente;
• tratamento individualizado segundo a idade, transtorno, estágio do
desenvolvimento e resposta do indivíduo;
• atividades com propósito que exigem respostas adaptativas;
172
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

• estimulação sensorial como parte das atividades, dando-se ênfase a estímulos


vestibulares e proprioceptivos;
• melhoria do processamento e organização neurológica por meio do
desenvolvimento de habilidades (AYRES, 2005).

7.1.2 Materiais
São inúmeros os materiais que podem ser utilizados na terapia de
integração sensorial. Estes materiais variam quanto aos estímulos, que podem ser
táteis, proprioceptivos, auditivos, olfatórios e vestibulares.

Os equipamentos utilizados na terapia de IS podem compor equipamentos


de solo como colchões de ar, bolas, espumas, rolos, rampas, degraus, tapetes
sensoriais; equipamentos suspensos como rolos, escadas, balanços, cordas, redes
e equipamentos variados (areia, espuma, bolas de sabão, pesos, tecidos, elásticos
etc.) (AYRES, 2005).

FIGURA 26 – PAREDE SENSORIAL

FONTE: <https://www.institutocisne.org.br/sala-sensorial>. Acesso em: 18 jan. 2021.

FIGURA 27 – SALA TERAPÊUTICA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL.

FONTE: <https://www.institutocisne.org.br/sala-sensorial>. Acesso em: 18 jan. 2021.

173
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

8 HIDROTERAPIA
A fisioterapia aquática, também conhecida como hidroterapia, visa
proporcionar a cura e a prevenção de doenças, além da promoção da saúde
utilizando os princípios físicos da água e seus efeitos fisiológicos (BECKER;
COLE, 2000).

O emprego da água como um meio de terapia tem registros muito antigos,


porém o seu verdadeiro início é desconhecido. É um tratamento utilizado há
muitos séculos, porém somente no início dos anos 1980 foi reconhecido como
terapia de reabilitação efetiva que começou a ser difundida na área da saúde,
com aplicação em várias áreas, e indicada em casos de patologias neurológicas,
reumatológicas, traumato ortopédicas, pneumológicas, cardiológicas, bem como
em ginecologia e obstetrícia, pediatria, gerontologia, estados de ansiedade
emocional, depressão ou estresse (BECKER; COLE, 2000).

Atualmente, muitas patologias são tratadas em ambientes aquáticos


paralelamente a outros serviços de reabilitação. Suas contraindicações são poucas,
sendo relativas ou absolutas, e envolvem: doenças de pele, estados críticos de
saúde geral, infecções agudas ou crônicas, febre, crises de epilepsia sem controle,
intolerância ao cloro, medo da água e outras.

A terapia aquática é considerada uma intervenção não farmacológica e


não invasiva, que envolve diversas técnicas, podendo ser empregada conforme as
necessidades de cada indivíduo a ela submetido (BECKER; COLE, 2000). Veremos
agora alguns aspectos específicos com relação a essa terapia complementar tão
difundida nos dias atuais.

8.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DA ÁGUA


A hidroterapia fundamenta sua aplicabilidade por meio dos efeitos fi-
siológicos dos princípios físicos da água, sendo eles: densidade relativa, tensão
superficial, pressão hidrostática e redução do impacto, a terapia trabalha conco-
mitantemente à estimulação motora, a estimulação sensorial, o desenvolvimento
afetivo, o comportamento social e as habilidades como confiança e autoestima,
promovendo, assim, o suporte global do paciente (FORNAZARI, 2012).

A hidroterapia é praticada em piscinas aquecidas para tratamento de


várias patologias ou disfunções e utiliza as propriedades físicas da água para isso.
A água possui efeito térmico, mecânico (físico), o ótico e o químico. Discutiremos
a seguir cada um desses efeitos:

1) Efeito térmico

174
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

Este efeito está relacionado com a termodinâmica e se deve às proprieda-


des de variação e condução da temperatura pela água, visto que ela pode ser uti-
lizada terapeuticamente em todas as suas formas físicas: sólida, líquida e gasosa.
Essa condução de temperatura é dada por colisões moleculares individuais que
ocorrem ao longo de uma pequena distância e acontece por condução, convecção
ou radiação. A água é um excelente meio de condução (CAMERON, 2009).

A modalidade da fisioterapia que utiliza a condução da temperatura pela
água é chamada de termoterapia e, como agente hidrotérmico, possui várias téc-
nicas. A água funciona como um agente hidrotérmico, conduzindo calor ou frio,
e pode ser utilizada na fisioterapia em diversas formas, como na utilização de
compressas quentes ou frias, crioterapia, crioestimulação etc. (CAMERON, 2009).

FIGURA28 – ÁGUA COMO UM AGENTE HIDROTÉRMICO – CRIOTERAPIA

FONTE:<https://bit.ly/3q6Qg7X>. Acesso em: 18 jan. 2021.

2) Efeito mecânico

Deve-se a algumas propriedades físicas da água e provoca alterações


fisiológicas em um corpo submerso, como a densidade e gravidade específica,
flutuação e pressão hidrostática (CAMERON, 2009).

3) Efeito óptico

Quando a luz passa de um meio para outro com diferentes densidades,


sofre um desvio, ou seja, uma distorção da imagem, que é um fenômeno chamado
de refração (CAMERON, 2009).

4) Efeito químico

Nas transformações químicas, a água pode funcionar como solvente ou


como reagente, porém este efeito apenas terá importância na hidroterapia em
relação aos cuidados e tratamento para a manutenção da qualidade da água
(PATRICIO, 2004).

175
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Respostas e efeitos fisiológicos da hidroterapia

Caro acadêmico, a água proporciona efeitos fisiológicos importantíssimos


no organismo humano através das suas propriedades físicas. Esses efeitos ocor-
rem sobre o sistema nervoso, músculos, tecidos corporais, além de efeitos psico-
lógicos como melhora da autoestima, diminuição da ansiedade e aprendizado de
novas habilidades (BECKER; COLE, 2000).

• Sistema cardiovascular:sob esse sistema, os principais efeitos fisiológicos da


hidroterapia são: aumento da circulação sanguínea e redistribuição do sangue,
que favorece o fluxo sanguíneo devido à vasodilatação periférica, aumentando
o suprimento sanguíneo na musculatura e ajudando o retorno venoso. Como
o débito cardíaco é aumentado, a frequência cardíaca reduz em torno de 10
batimentos por minuto (BECKER; COLE, 2000).
• Sistema respiratório:ocorre um aumento de aproximadamente 60% no
trabalho da respiração. Assim, essa maior carga de trabalho ventilatório pode
auxiliar na eficiência e força do sistema respiratório. A pressão hidrostática
oferece maior resistência à expansão dos pulmões (BECKER; COLE, 2000).
• Sistema renal e hormonal:com a imersão até o pescoço, ocorre um aumento
na produção de urina e excreção de água (diurese), bem como na excreção de
sódio (natriurese) e de potássio (potassiurese), aumentando o fluxo sanguíneo
renal e favorecendo o efeito diurético (BECKER; COLE, 2000).
• Sistema musculoesquelético:parte do fluxo sanguíneo (pelo débito cardíaco
aumentado durante a imersão) é destinada à pele e músculos, o que provoca
uma diminuição do espasmo muscular e uma maior distribuição do oxigênio
com aumento da remoção catabólitos, o que proporciona melhor nutrição
tecidual. Durante as sessões, o indivíduo experimenta uma sensação agradável,
com redução da dor e de espasmos musculares, ao mesmo tempo em que lhe
é proporcionada uma maior amplitude de movimento e aumento da força
muscular (BECKER; COLE, 2000).
• Sistema nervoso:durante a imersão, a liberação de neurotransmissores é
alternada com a liberação de catecolaminas, que são intimamente ligadas
ao sistema de regulação da frequência cardíaca e da resistência dos vasos
sanguíneos. Com isso, ocorre uma diminuição dos níveis de epinefrina e
norepinefrina, provocando um aumento do limiar da dor (o paciente sente
menor sensação dolorosa) (BECKER; COLE, 2000).

Aplicações da fisioterapia aquática

Como mencionado anteriormente, a hidroterapia é amplamente


utilizada na reabilitação de pacientes com disfunções neurológicas, cardíacas,
reumatológicas, ortopédicas, entre outras. Beneficia pacientes que estão com
processos inflamatórios, quadros álgicos, retração e espasmo musculares,
amplitudes de movimentos reduzidas, dores crônicas etc. (BARBOSA, 2009).

176
TÓPICO 2 — TERAPIAS COMPLEMENTARES EM PEDIATRIA

A fisioterapia aquática é utilizada na reabilitação tanto de adultos quanto


de crianças portadores de disfunções neurológicas e os programas diferem entre
indivíduos e diagnósticos. Estes programas geralmente envolvem a flutuação, pois
as alterações motoras, sensoriais, de percepção ou de cognição, identificadas após
uma lesão neurológica são variadas e infinitas e estão diretamente relacionadas
com a área e o tamanho dessa lesão (BARBOSA, 2009).

A flutuação permite que um esforço menor seja usado com movimentos


de extremidades em direção à superfície da água, sendo que as amplitudes
são maiores em relação ao solo, o que fornece condições para fortalecimento,
alongamento e reeducação muscular. Também a turbulência oferece resistência
para promover fortalecimento muscular ou aumentar o estímulo sensitivo
para facilitar o padrão de movimento. Por meio da pressão hidrostática e da
viscosidade, o fuso muscular é estimulado, o que aumenta a propriocepção do
segmento trabalho, proporcionando input sensorial para uma melhor consciência
corporal. Com isso, as estratégias sensório/motoras são mais eficazes para o treino
do equilíbrio, bem como permitem melhor ajuste tônico necessário para evitar
uma queda (BARBOSA, 2009).

FIGURA 29 – HIDROTERAPIA EM PACIENTE PEDIÁTRICO COM DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA

FONTE:<https://bit.ly/36Wtat0>. Acesso em: 18 jan. 2021.

A Fisioterapia Aquática também é muito empregada na área da


geriatria, obstetrícia (gestantes), reumatologias, ortopedia (especialmente em
disfunções musculoesqueléticas) pois a água facilita os movimentos e promove
encorajamento emocional para o retorno à atividade física em solo. Além disso,
como o meio líquido reduz a descarga de peso sobre as articulações, a reabilitação
pode ser iniciada precocemente, principalmente quando há necessidade de apoio
em membros inferiores (BARBOSA, 2009).

177
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

A hidroterapia pode ser utilizada tanto para recreação quanto para terapia
com crianças, por meio de variados programas, inclusive o ensino de habilidades
aquáticas adaptadas em sistemas escolares. A imersão promove uma experiência
única e permite uma ampliação de conhecimentos das habilidades, tanto física e
mental, quanto psicológicas, e não existem diferenças entre adultos e crianças. A
atenção global proporcionada pela hidroterapia favorece a indicação desta terapia
a inúmeras patologias que acometem o sistema motor e cognitivo de crianças, o
meio líquido permite versatilidade tanto para recreação quanto para terapia com
as crianças (BARBOSA, 2009).

Desta forma, as várias técnicas (ou métodos) de reabilitação aquática


diferem em conformidade com as necessidades individuais e a área da fisioterapia,
mas todas se utilizam das propriedades físicas da água e seus efeitos no corpo
humano (BARBOSA, 2009).

178
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As terapias complementares integram um conjunto de tratamentos não


medicamentosos que complementam um tratamento tradicional, dando
assistência à saúde do indivíduo, seja na prevenção ou tratamento.

• Dentre as principais terapias complementares utilizadas na pediatria, podemos


citar a terapia assistida por animais, equoterapia, musicoterapia, PediaSuit,
Método Padovan, Conceito Bobath, entre outras.

• A equoterapia é uma terapia assistida por animais, que utiliza o cavalo dentro
de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, estimulando o desen-
volvimento físico e biopsicossocial de crianças com necessidades especiais.

• A Musicoterapia auxilia na ativação de diversas áreas do cérebro, estimulando


regiões relacionadas às funções cognitivas e motoras de crianças com desordens
físicas e comportamentais.

• O Conceito Bobath é uma terapia utilizada por diversos profissionais da saúde


no tratamento de pacientes pediátricos com patologias neurológicas.

• O Método Padovan de Reorganização Neurofuncional é uma abordagem


terapêutica que recapitula as fases do neurodesenvolvimento, utilizadas como
estratégia para habilitar ou reabilitar o Sistema Nervoso.

179
AUTOATIVIDADE

1 O Conceito Neuroevolutivo − método Bobath − aplicado ao tratamento da


encefalopatia crônica não progressiva da infância – inclui basicamente a
inibição dos padrões posturais da atividade reflexa anormal e facilitação
dos padrões posturais de movimento. Sobre esse tema, classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Um dos objetivos do método Bobath é a redução da espasticidade.


( ) Consiste em uma técnica que utiliza estímulos sensitivos e reflexos para
inibir ou provocar uma resposta motora.
( ) É um tipo especializado de Fisioterapia que vem sendo aplicado no
tratamento de crianças que sofrem de alterações neurológicas, o que causa
anomalias posturais e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
( ) Os pontos-chave de controle, que são utilizados no método, correspondem
às partes do corpo, normalmente as articulações.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) V – F – V – V.
d) ( ) F – V – F – V.
e) ( ) F – F – V – V.

2 A equoterapia utiliza técnicas de equitação e outras atividades com cavalos,


para promover ganhos físicos e psicológicos no praticante. Nela, é necessária
uma participação global do corpo, o que beneficia o desenvolvimento
da força muscular e o aumento do tônus. Entre os estímulos recebidos
do cavalo pelo praticante durante a prática da equoterapia, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Espasticidade e exacerbação dos reflexos tendíneos.


b) ( ) Modulação do tônus muscular e contenção de reações de retificação
e proteção.
c) ( ) Conscientização corporal e integração do aparelho vestibular.
d) ( ) Integração sensorial e suspensão da memória muscular.
e) ( ) Suavização da ação neuromuscular e espasticidade.

3 A hidroterapia é um recurso da fisioterapia que utiliza as propriedades da


água na prevenção e no tratamento de diversas patologias. Consiste na reali-
zação de exercícios específicos em piscina coberta e aquecida, visando obter
uma melhor e mais rápida recuperação do paciente. Sobre quais são os efei-
tos terapêuticos e fisiológicos da hidroterapia, analise as opções a seguir:
180
I- Redução da sobrecarga articular.
II- Aumento do tônus muscular.
III- Aumento do trabalho respiratório, devido à compressão da caixa torácica.
IV- Aumento do fluxo sanguíneo muscular.
V- Facilitação do ortostatismo.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) I e II.
b) ( ) I, III e IV.
c) ( ) III, IV e V.
d) ( ) II, III, IV e V.
e) ( ) I, III, IV e V.

4 Metodologia de trabalho em Fisioterapia e Terapia Ocupacional aplica


técnicas neuroevolutivas no tratamento de distúrbios posturais, de
movimento e função, inibindo, assim, reflexos anormais e facilitando
movimentos de modo adequado. Assinale a alternativa CORRETA que
apresenta tal método de intervenção:

a) ( ) TheraSuit.
b) ( ) PediaSuit.
c) ( ) Integração Sensorial.
d) ( ) Equoterapia.
e) ( ) Bobath.

181
182
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

ALEITAMENTO MATERNO

1 INTRODUÇÃO

Com base na história da profissão do fisioterapeuta, inicialmente a


profissão iniciou na perspectiva da reabilitação. No entanto, hoje em dia sabemos
que o fisioterapeuta pode atuar também na atenção primária e secundária, com
ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e educação em saúde. Os
profissionais da área da saúde devem desenvolver ações no modelo de atenção
integral proposto pelo Sistema Único de Saúde (SUS), participando ativamente
de sua construção (BARACHO, 2018).

O Brasil é referência no mundo quando se trata de aleitamento materno,


estando em frente até mesmo de países desenvolvidos como EUA, Reino Unido
e China, apresentando o dobro das taxas de aleitamento materno exclusivo até
os seis meses de idade quando comparado a estes países. A Unicef relata que
43% dos bebês no mundo com menos de seis meses de idade são amamentados
exclusivamente (BARACHO, 2018).

As expressivas taxas de aleitamento materno no Brasil se devem ao


fato de a Política Nacional de Aleitamento Materno contar com diversas ações
que apoiam, promovem e protegem a amamentação. Na atenção primária,
o Ministério da Saúde capacitou profissionais das Unidades Básicas de Saúde
(UBS) para promoverem a prática do aleitamento materno e da alimentação
complementar saudável nas famílias. Na atenção secundária e terciária, existe a
Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), além dos bancos de leite humano
(BLH), que compõem a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, e o Método
Canguru, voltados aos recém-nascidos de baixo peso (BARACHO, 2018).

DICAS

Quer aprofundar o estudo sobre a Estratégia Nacional para promoção do


Aleitamento materno? Acesse o link: http://bit.ly/36VM1Vp.

183
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Almeida e Luz (2015) realizaram uma revisão que incluiu 18 estudos com
o objetivo de avaliar a prática do profissional da saúde na promoção e no apoio
à amamentação. Os resultados constataram que o aleitamento é um desafio para
qualquer profissional da área da saúde, pois esta prática exige capacitação e
habilidade. Além disso, os autores concluíram também que muitos profissionais
não possuem domínio do tema (ALMEIDA; LUZ,2015).

Diante disso, os profissionais da saúde que trabalham em contato com a


mãe e o bebê, devem conhecer as vantagens do aleitamento materno para ambos
e defender, promover e apoiar a amamentação exclusiva até os seis meses de
vida. Vale ressaltar também, que é fundamental que conheçam a anatomia, os
princípios fisiológicos da lactação e a postura e pega corretas, a fim de realizar um
atendimento adequado para a criança e a nutriz (BARACHO, 2018).

2 BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO MATERNO


O leite materno é um alimento composto por inúmeros nutrientes que
apresentam vantagens imunológicas e psicológicas para o bebê, reduzindo os
índices de mortalidade infantil. A amamentação também promove a interação
entre mãe-bebê, fortalecendo os laços afetivos. Essa relação é importante para a
criação de estruturas afetivas (BARACHO, 2018).

Há variações nutricionais e imunológicas no leite materno, que dependem


do estágio da lactação, do horário, do período da mamada, da alimentação e
idade maternas, da idade da criança, bem como das características individuais de
cada nutriz. Dentre os benefícios da amamentação para a criança, podemos citar:

• melhora a função gastrintestinal;


• fortalecimento do sistema imunológico;
• redução da incidência de obesidade na infância;
• estimulação das funções de mastigação, deglutição e respiração;
• proteção contra doenças crônicas como diabetes tipo i, doenças cardiovasculares,
obesidade etc.
• prevenção contra desnutrição infantil;
• desenvolvimento cognitivo e social (BARACHO, 2018).

O ato de amamentar também acarreta inúmeros benefícios para a nutriz,


tais como:

• redução do sangramento após o parto;


• redução do risco dos cânceres de mama, endométrio e ovário;
• redução do risco de doenças cardiovasculares;
• retorno do útero mais rápido à forma e à posição pré-gravídica.
• praticidade e economia quando comparado ao uso de fórmulas.

184
TÓPICO 3 — ALEITAMENTO MATERNO

3 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO


Agora que já conhecemos os benefícios da amamentação para a mãe e
para o bebê, estudaremos quais são os fatores envolvidos no controle do processo
de lactação. Primeiramente, é importante saber que o sistema nervoso exerce o
controle central, porém o processo depende de outros fatores como endócrinos,
neurais e psíquicos (BARACHO, 2018).

A mama é composta por tecido glandular, gordura e tecido conjuntivo


fibroso. Situa-se acima dos músculos peitorais e da parede torácica. Nos alvéolos,
localizam-se as células produtoras de leite, que é conduzido através dos ductos
finos que se unem em um ducto principal, dirigindo-se ao centro da mama e de-
sembocando no mamilo. Entretanto, antes de chegar ao mamilo, debaixo da aréo-
la (parte escura ao redor do mamilo), os canais formam ampolas, que acumulam
parte do leite produzido nos intervalos das mamadas (BARACHO, 2018).

O mamilo possui em torno de 20 orifícios, que se comunicam com os


ductos principais, onde o leite é ejetado para o meio externo. Os tipos de mamilo
mais comuns são: protruso, plano e invertido. O tipo de mamilo irá influenciar na
hora da amamentação, pois o bico protrátil irá facilitar na hora da pega correta e
extração do leite materno (BARACHO, 2018).

FIGURA 30 – TIPOS DE MAMILO

FONTE:<https://www.plasticadosonho.com.br/wp-content/uploads/2017/06/02-tipos-de-bico-
de-peito.jpg>. Acesso em: 18 jan. 2021.

Com relação aos hormônios envolvidos no processo de lactação, a


prolactina, em conjunto com outros hormônios, estimula a produção de leite,
que é determinada pelo reflexo da produção do leite. Na hipófise é secretado o
hormônio prolactina, que cai na corrente sanguínea e chega aos alvéolos, onde
é capaz de estimular a produção das células secretoras de leite, com incremento
na produção. O reflexo da descida do leite é também estimulado pela sucção
do bebê, que envia mensagem ao hipotálamo, o qual secreta o hormônio
ocitocina. Por isso, quanto mais o bebê sugar, mais leite a mãe terá. A ocitocina
é produzida mais rapidamente que a prolactina e faz o leite fluir na mamada
atual (BARACHO, 2018).

185
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

FIGURA 31 – REFLEXO DE DESCIDA DO LEITE (OU OCITOCINA)

FONTE:<https://bit.ly/2N5Ru4O>. Acesso em: 18 jan. 2021.

A secreção de glândula mamária na primeira semana pós-parto é


denominada colostro, seguindo-se o leite transitório (sexto ao décimo dia) e o
leite maduro (a partir do décimo primeiro dia) de amamentação. Alguns fatores
externos interferem na produção do leite, como medicamentos, álcool e nicotina
(BARACHO, 2018).

4 POSTURA NA AMAMENTAÇÃO
O papel do fisioterapeuta no período puerperal inclui também as
orientações ergonômicas no cuidado do recém-nascido (como segurar no colo,
trocar fralda, dar banho etc.), pois a conscientização materna sobre o seu corpo e
sua postura previne o aparecimento de dores musculoesqueléticas nesse período
(BARACHO, 2018).

Existem várias maneiras de posicionamento durante a amamentação.


No entanto, a posição escolhida pela mãe deve possibilitar-lhe conforto e
relaxamento, em um ambiente tranquilo e favorável para o ato de amamentar.
O posicionamento do recém-nascido também apresenta um papel fundamental
na prevenção de feridas nas papilas mamárias e também no estabelecimento da
amamentação eficaz. O corpo do bebê deve estar de frente para a mãe e bem
próximo (barriga do bebê voltada para o corpo da mãe), de modo que a cabeça
e a coluna estejam alinhadas em linha reta, no mesmo eixo. Quando o bebê está
adequadamente posicionado, a amamentação é indolor (BARACHO, 2018).

186
TÓPICO 3 — ALEITAMENTO MATERNO

FIGURA 32 – POSIÇÕES ADEQUADAS PARA AMAMENTAÇÃO

FONTE:<https://bit.ly/3a3qvjr>. Acesso em: 18 jan. 2021.

Apesar de o lactente apresentar o reflexo de sucção, é necessário ajustar a


pega adequada para uma amamentação efetiva. O lactente deve abocanhar boa
parte da aréola, ficando com os lábios voltados para fora, formando um vácuo.
Enquanto mama no peito, o bebê respira pelo nariz, estabelecendo o padrão
normal de respiração nasal. Dentre os reflexos primitivos que auxiliam o bebê
durante o processo de amamentação, podemos citar:

• Reflexo de rotação: ajuda o bebê a encontrar o mamilo; se algo tocar o seu rosto,
a tendência será virar a cabeça e abrir a boca naquela direção.
• Reflexo de sucção: induz o bebê a sugar qualquer coisa que lhe toque o fundo
do palato.
• Reflexo de deglutição: possibilita que o bebê engula o leite sempre que a boca
estiver cheia.

Alguns pontos podem ser apontados pelo profissional de saúde para que
a mãe avalie se a pega está correta:

• A criança fica com a “Boca de peixe”.


• O queixo toca o peito da mãe.
• Os lábios ficam virados para fora.
• A mãe pode ouvir o bebê deglutindo o leite.
• Observa-se mais aréola acima que abaixo da boca.
• As bochechas permanecem arredondadas.

187
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Os seguintes sinais são indicativos de técnica inadequada de amamentação:

• Bochechas do bebê encovadas a cada sucção.


• Ruídos da língua.
• Mama aparentando estar esticada ou deformada durante a mamada.
• Mamilos com estrias vermelhas ou áreas esbranquiçadas ou achatadas quando
o bebê solta a mama.
• Dor na amamentação (BARACHO, 2018).

FIGURA 33 – PEGA ADEQUADA DURANTE A AMAMENTAÇÃO

FONTE:<https://bit.ly/3aNhkmm>. Acesso em: 18 jan. 2021.

5 TÉCNICA DA ORDENHA MANUAL


Os profissionais da saúde que atuam no binômio mãe-bebê devem
conhecer a técnica correta da ordenha, a fim de orientar a mãe para o esgotamento
do leite, com a finalidade de manter a lactação, aliviar o ingurgitamento mamário,
aliviar a tensão mamiloareolar, prevenir mastites (infecção da mama) e bloqueio
do ducto lactífero, fornecer o leite materno em caso de distância do filho durante
o dia (em função do trabalho, por exemplo) (BARACHO, 2018).

188
TÓPICO 3 — ALEITAMENTO MATERNO

Para realização da técnica de ordenha manual, a nutriz deve estar con-


fortável e relaxada. A seguir, será detalhado passo a passo a técnica de ordenha:

1) Lavar bem as mãos.


2) Apoiar a mama na região inferior com uma das mãos e massagear possíveis
pontos endurecidos e/ou dolorosos com a outra mão.
3) Deve-se massagear bem a região areolar com movimentos circulares, utilizando
as pontas dos dedos na aréola em direção à axila, modificando sempre a sua
posição.
4) Desprezar os primeiros jatos de leite.
5) Alternar a mama quando o fluxo diminuir. Repetir o processo algumas vezes
(BARACHO, 2018).

FIGURA 34 – TÉCNICA DA ORDENHA MANUAL

FONTE:<https://bit.ly/3q3T0mJ>. Acesso em: 18 jan. 2021.

FIGURA 35 – MAMA COM INGURGITAMENTO E MASTITE

FONTE:<https://bit.ly/3tP2ncj>. Acesso em: 18 jan. 2021.

189
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Witt, Bolman e Kredit (2016) realizaram um estudo que orientou a


automassagem para minimizar a dor e o desconforto, o qual evidenciou que 65%
das mulheres acharam o tratamento benéfico. O estudo de Zhao Tang e Wang
(2014), com 3.497 mulheres, também demonstrou a eficácia da automassagem
para o ingurgitamento e dor.

O aleitamento materno é um processo complexo e de extrema importância


para a mãe, o bebê e a sociedade. Por isso, necessita de apoio de uma equipe
multiprofissional especializada no tratamento materno-infantil, visando aumentar
a confiança da mãe e eficácia da amamentação, prevenindo o desmame precoce.

190
TÓPICO 3 — ALEITAMENTO MATERNO

LEITURA COMPLEMENTAR

EFEITOS DA HIDROTERAPIA NA ESPASTICIDADE DE PACIENTES COM


DIAGNÓSTICO DE PARALISIA CEREBRAL

Alice Scheffer et al.

Introdução

A paralisia cerebral (PC) é uma das mais comuns desordens motoras


que acometem criança, ela é definida como qualquer desordem secundária do
movimento a uma lesão progressiva do encéfalo em desenvolvimento, onde
ocorrem distúrbios no tônus que acarreta alteração no movimento e na postura.
Faz parte destas alterações o comprometimento motor, que pode ser apresentado
com variação de tônus muscular, persistência dos reflexos primitivos, rigidez,
espasticidade, distúrbios cognitivos, sensitivos, na linguagem, visão e audição.
Os pacientes com PC apresentam dificuldade em enfrentar com firmeza os efeitos
da gravidade, devido a distúrbios da postura causados pelas alterações de tônus
e padrões anormais de movimento. Esses distúrbios fazem com que as crianças
tenham dificuldades em manter uma postura adequada para o desempenho de
suas atividades de vida diária.

Diante das dificuldades encontradas por estes pacientes, dentre as
possibilidades de reabilitação motora, destaca-se a hidroterapia que através das
particularidades presentes no meio líquido, é capaz de proporcionar à criança
com PC uma variedade de benefícios, tais como: a facilitação para aquisição
postural e controle dos movimentos, a adequação tônica, o ganho de amplitude
de movimento, da força muscular, da estimulação sensorial, do equilíbrio, da
coordenação motora, da dinâmica respiratória e da socialização. Os efeitos físicos
da água que fornecem estas vantagens são a densidade relativa, que determina a
capacidade de flutuação; a força de empuxo, que é a força de sentido oposto ao da
gravidade – que atua na redução do tônus; a tensão superficial, no qual atua como
resistência ao movimento; a pressão hidrostática que consiste na pressão sobre
o corpo que está imerso e depende diretamente da profundidade da imersão.
Além disso, a água promove a criança um ambiente lúdico para crianças com PC,
principalmente àqueles em que o comprometimento motor é mais forte.

Tendo em vista a sintomatologia da doença, a importância de um
tratamento adequado e eficaz para a criança com PC com componente espástico
e tendo a água os benefícios já citados, este artigo tem por objetivo realizar
uma revisão de estudos que abordem o efeito da hidroterapia na melhora da
espasticidade em pacientes com paralisia cerebral.

191
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Metodologia

Foi realizada uma busca no período de março a abril de 2018, nas


seguintes bases de dados: Pubmed, PEDro (Figura 1), BVS Brasil, Scielo. Foram
utilizados os seguintes descritores: Hidroterapia (hidrotherapy, aquatic therapy,
water exercise), espasticidade muscular (muscle spasticity), paralisia cerebral
(cerebral palsy). Foram incluídos nesta revisão ensaios clínicos randomizados,
quase experimentos ou ainda, relatos e séries de casos com pacientes portadores
de PC que avaliassem o efeito da hidroterapia na melhora da espasticidade como
desfecho primário, sem delimitação do período da publicação. Após, foi realizada
leitura de títulos e resumos para inclusão ou exclusão dos artigos conforme os
critérios citados.

Resultados

Foram encontrados 68 artigos que após serem lidos, foram selecionados


os quatro que contemplaram os critérios de inclusão e excluídos 65 que não con-
tinham as informações necessárias, descritas nos critérios de inclusão (Figura 2).

192
TÓPICO 3 — ALEITAMENTO MATERNO

Discussão

O objetivo deste artigo de revisão bibliográfica foi de avaliar os efeitos da


hidroterapia em pacientes com diagnóstico de PC na espasticidade. Com relação
ao assunto abordado, foram pobres as pesquisas encontradas, no qual poucos
artigos que contemplaram os critérios desejados. As características dos estudos
incluídos estão descritas na Tabela 1.

193
UNIDADE 3 — TERAPIAS COMPLEMENTARES E ASSISTÊNCIA HUMANIZADA

Através da análise dos estudos encontrados na literatura, há poucas


evidências que a fisioterapia aquática causa efeitos positivos na diminuição
da espasticidade em pacientes com PC. Os artigos excluídos não avaliaram a
espasticidade, e sim as respostas na função motora, principalmente através do
GMFM (Gross Motor Function Measure), escala essa que verifica a capacidade
motora de diversas funções no indivíduo com PC, porém não leva em consideração
a espasticidade.

Com relação à temperatura da água para realização das atividades, os


pesquisadores adotam temperaturas entre 28º a 36°C, em que somente um estudo
utilizou a temperatura de 36°C. Isso pode ser explicado pelo fato da resposta
de modulação de tônus estar mais relacionada ao efeito do empuxo do que às
temperaturas elevadas, já que a hipertonia e hiperreflexia estão intimamente
relacionadas ao arco reflexo em músculos antigravitacionais.

Quando analisamos o tempo de intervenção e a frequência dos protoco-


los, observamos grande heterogeneidade. Lai et al. (2015) aplicaram 12 semanas,
enquanto Adar et al. (2017) aplicaram 6 semanas e Chrysagis et al. (2009) aplica-
ram por 10 semanas de tratamento, sendo este último o único que demostrou
melhora da espasticidade. Da mesma forma, a frequência semanal variou de duas
a cinco sessões e a duração desta de 45 a 60 minutos, no qual o estudo que rea-
lizou 45 minutos obteve resposta benéfica quanto ao tônus muscular. Também
podemos verificar que todos os protocolos incluíram atividades aeróbicas e de
alongamentos, evidenciando a importância de se aliar os conhecimentos cinesio-
lógicos e cinesioterapêuticos que o fisioterapeuta possui, com o conhecimento
dos princípios e benefícios do meio líquido no corpo em imersão.

O método de avaliação utilizado para identificar o nível de espasticidade


muscular em todos os estudos incluídos foi a Escala de Ashworth Modificada. Este
instrumento é o mais utilizado na prática clínica por médicos e fisioterapeutas. É
realizado um movimento passivo e rápido da articulação, gerando um estiramento
do músculo a ser testado, após pontua-se: 0) Nenhum aumento no tônus muscular;
1) Discreto aumento do tônus muscular, manifestado pelo apreender e liberar, ou
por mínima resistência ao final da amplitude de movimento, quando a parte (ou
as partes) afetada é movimentada em flexão e extensão; 1+) Discreto aumento
no tônus muscular, manifestado pelo apreender, seguido de mínima resistência
através do resto (menos da metade) da amplitude de movimento; 2) Marcante
aumento do tônus muscular através da maior parte da amplitude de movimento,
porém as partes afetadas são facilmente movimentadas. 3) Considerável aumento
do tônus muscular; movimentos passivos dificultados. 4) A parte (ou partes)
afetada mostra-se rígida à flexão ou extensão. Entretanto, sabemos que essa
escala se torna subjetiva, pois é dependente da experiência do avaliador. Essas
diferenças de avaliação podem influenciar os resultados, dificultando também
a análise dos estudos e ainda uma conclusão definitiva do efeito da fisioterapia
aquática na melhora da espasticidade. Entretanto, outras escalas também
dependem da acurácia do avaliador e, como a Escala Modificada de Ashworth,
apresentam análises interavaliadores satisfatórias.

194
TÓPICO 3 — ALEITAMENTO MATERNO

Outros estudos com intervenções aquáticas em pacientes espásticos


também demonstraram efeito positivo desse recurso terapêutico. O estudo de
Pagliaro e Zamparo encontrou menor resposta do reflexo de estiramento após
aplicação de um protocolo de duas semanas, 45 minutos de sessões diárias de
hidroterapia, em pacientes com diversas etiologias para os quadros espásticos,
hemiplégicos por acidente vascular encefálico, lesões medulares, tumores,
esclerose múltipla, entre outros. Da mesma forma, Kesiktas et al. (2004) também
encontraram redução da espasticidade e ainda da dosagem de medicação para
redução de tônus em pacientes com lesão medular, submetidos a 20 minutos
de hidroterapia por 10 semanas, 3 vezes semanais, quando comparados a um
grupo controle que realizou fisioterapia em solo. Contudo, mesmo em outras
populações, o efeito da fisioterapia no meio líquido sobre a espasticidade ainda é
pouco esclarecido.

Conclusão

Concluímos com essa revisão que, apesar de existirem evidências, o efeito


dos exercícios na água no tratamento de pacientes com paralisia cerebral diante da
espasticidade não está esclarecido de forma concisa, devido à escassez de estudos
na literatura. Portanto, são necessários mais ensaios clínicos randomizados para
avaliar a eficácia e a segurança dos exercícios aquáticos para esta população,
que tenham maior rigor metodológico, número de participantes, cegamento
de avaliadores de resultados, relatórios de todos os resultados analisados e do
protocolo do estudo.

FONTE: <http://sys.facos.edu.br/ojs/index.php/perspectiva/article/download/297/228>. Acesso


em: 19 jan. 2021.

195
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O aleitamento materno é uma prática que deve ser mantida de forma exclusiva
até os seis meses de vida do lactente.

• O aleitamento materno traz benefícios tanto para o bebê quanto para mãe.

• O sistema nervoso exerce o controle central sobre o processo de lactação, porém,


a produção depende também de outros fatores endócrinos, neurais e psíquicos.

• O hormônio responsável por estimular a produção do leite é a prolactina.

• Apesar de o lactente apresentar alguns reflexos primitivos que auxiliam


no momento da amamentação, tais como o reflexo de rotação, de sucção
e deglutição, é importante que a mãe fique atenta para que o bebê realize a
pega correta da mama durante o momento de amamentação, pois uma pega
inadequada poderá ocasionar lesões nos mamilos, dor ao amamentar e também
não deixar o bebê bem alimentado.

• Os profissionais da saúde que atuam no binômio mãe-bebê devem realizar


as orientações adequadas para realização da técnica de ordenha manual, que
evitará complicações como o ingurgitamento mamário e mastites.

CHAMADA

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196
AUTOATIVIDADE

1 A amamentação é um dos momentos mais importantes para aumentar


o laço afetivo entre mãe e filho, com grandes vantagens para ambos. A
amamentação exclusiva é o método preferencial para a alimentação de
bebês nos primeiros quatro a seis meses de vida e a produção de leite
materno depende de níveis hormonais adequados. Um desses hormônios é
a ocitocina. Sobre este hormônio, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Tem sua produção estimulada e liberada quando a mãe sente,


toca ou amamenta o bebê.
b) ( ) Auxilia na supressão da ovulação.
c) ( ) É o principal hormônio envolvido na síntese do leite.
d) ( ) É responsável pelo processo de secreção de leite.
e) ( ) Tem sua produção iniciada apenas após o nascimento da criança.

2 O aleitamento materno, muito benéfico para o lactente, é considerado o


alimento perfeito para o lactente normal, desde que o sistema materno
possa manter a lactação e que não existam contraindicações. Além dos
benefícios para o lactente, a amamentação também é benéfica para a mãe.
Dentre os benefícios maternos, analise as opções a seguir:

I- Redução do sangramento no pós-parto.


II- A oxitocina liberada durante a amamentação, acelera o útero retornar ao
seu tamanho.
III- Redução da incidência de câncer de mama, ovário e endométrio.
IV- Proteção contra doenças cardiovasculares.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As opções I e II estão corretas.


b) ( ) As opções I e IIIestão corretas.
c) ( ) As opções II e IIIestão corretas.
d) ( ) As opções I, II e IIIestão corretas.
e) ( ) Todas as opções estão corretas.

3 Considere a situação em que uma lactante de 16 anos chega ao serviço


de saúde irritada, chorosa e diz não conseguir amamentar seu filho de 20
dias. Menciona que o seu leite é fraco, pouco, não sustenta o bebê e ele
chora de fome. Queixa-se de dor durante a amamentação e ferimento
no mamilo direito com presença de alguns sinais de sangramento.

A esse respeito, analise as afirmativas a seguir, classificando V para


assentenças verdadeiras e F para as falsas:
197
( ) A presença de fissuras e rachaduras no mamilo contraindica a
amamentação no seio ferido. Expor os seios ao sol por 10 a 15 minutos
pode ajudar na cicatrização.
( ) A mãe deve ser orientada adequadamente quanto à pega. A pega correta
é importante para que a criança esvazie a mama conseguindo o aporte
adequado de nutrientes e evita a formação de fissuras e rachaduras nos
mamilos.
( ) O leito materno não serve como cicatrizante em caso de fissuras e
rachaduras nos mamilos e o uso tópico de pomadas deve ser realizado
sob orientação médica.
( ) O bebê deve consumir o leite posterior, e para isso a melhor técnica é
orientar a mãe como fazer o esvaziamento correto da mama.
( ) O consumo de canjica, cerveja preta e leite pode aumentar a produção
de leite materno.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F – F – F.
b) ( ) F – F – F – V – V.
c) ( ) F– V– F– V– F.
d) ( ) V – F – V – F – V.
e) ( ) V– V – V– F– F.

198
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