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Aspectos Legais em

Informática e Ética
Profa. Shirlei Magali Vendrami

2018
Copyright © UNIASSELVI 2018

Elaboração:
Profa. Shirlei Magali Vendrami

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

004.07
V453aVendrami, Shirlei Magali
Aspectos legais de informática e ética / Shirlei Magali
Vendrami. Indaial: UNIASSELVI, 2018.

206 p. : il.

ISBN 978-85-515-0152-8

1.Informática – estudo e ensino.


I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico! A disciplina que começamos a estudar a partir de
agora se chama Aspectos Legais em Informática e Ética. Pode causar até certa
estranheza para os profissionais e estudantes da área de TI (Tecnologia da
Informação), mas se trata de uma disciplina que possui um foco importante
para a nossa área de informática. Atualmente, o profissional de TI necessita
ter um conhecimento jurídico voltado para o seu trabalho, ou seja, para o seu
negócio. É evidente, cada vez mais, em nossa realidade, o conhecimento de
crimes que ocorrem por meio da internet; a necessidade de conhecimento
de um profissional no momento de confeccionar e/ou assinar um contrato
voltado para a nossa área, entre outros aspectos.

O Direito está presente em nosso cotidiano. Na realidade, um dos


objetivos do Direito é o de regulamentar a vida em sociedade, através das
regras de convivência, que evoluíram ao longo dos tempos. Alguns crimes e
condutas humanas que não eram conhecidos há algum tempo, atualmente
tornaram-se recorrentes em nosso dia a dia, sendo, portanto, passíveis do uso
do Direito em nossa área, cada vez mais. Em nossa área praticamos o comércio
de produtos e serviços, motivo pelo qual é muito importante que o profissional
tenha conhecimento de algumas legislações pertinentes a esta área, como é
o caso do Código de Defesa do Consumidor e alguns aspectos tributários
envolvidos. Sem contar a questão trabalhista envolvida na área de TI.

Desta forma, este livro de estudos está dividido em três unidades, de


modo a contemplar cada assunto que será estudado a partir de agora.

Na primeira unidade, iremos abordar aspectos históricos e conceituais,


além de contextualizar a nossa disciplina. Estudaremos diversos temas, tais como:
o que é o Direito? Como surgiu e evoluiu? Quanto ao Direito na sociedade: Qual
é a sua principal característica? Quais são os seus princípios? Qual é a divisão
do Direito? Quais são as suas fontes, ou seja, onde o Direito pode basear-se para
formar o seu convencimento? Qual é a hierarquia das leis, para que ela serve? O
que vem a ser uma lacuna no Direito? Como proceder quando elas acontecem?
Quais são os elementos de uma relação jurídica? O que é um processo? Quais são
os tipos de processo? O que vem a ser uma intimação? E uma citação? Veremos
também sobre a sanção do Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015),
do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) que regula o uso da internet no
Brasil, além do uso ético das informações em nosso meio.

Na Unidade 2, trataremos da questão das legislações pertinentes à nossa


área, tais como a Lei de Software (Lei nº 9.609/98) e a Lei de Direitos Autorais
(Lei nº 9.610/98). Também trataremos da questão das relações de consumo na
TI através do Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90) e dos aspectos
tributários na TI, e como ocorrem as relações trabalhistas de nossa área.
III
Na terceira e última unidade, trataremos dos crimes eletrônicos
propriamente ditos. Aqui veremos o que a lei entende como crime. O que
vem a ser um crime, uma conduta criminosa? Quais são as formas de
cometimento de um crime? O que é e como é tratada a questão da legítima
defesa na internet?

Atualmente, não é comum encontrar um profissional de TI que


domine também a área dos Aspectos Legais em Informática, constituindo-se
em um importante diferencial. Um dos objetivos deste livro de estudos é que
você, acadêmico, alcance este diferencial.

Profª. Shirlei Magali Vendrami

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

V
VI
Sumário
UNIDADE I – ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO............................... 1

TÓPICO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO.................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 SURGIMENTO DO DIREITO............................................................................................................ 4
3 A EVOLUÇÃO DO DIREITO............................................................................................................. 9
4 O DIREITO NA SOCIEDADE............................................................................................................ 12
5 O PROFISSIONAL DE TI E O DIREITO.......................................................................................... 13
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 17

TÓPICO 2 – INTRODUÇÃO AO DIREITO........................................................................................ 19


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 19
2 O QUE É O DIREITO?.......................................................................................................................... 19
3 ALGUNS PRINCÍPIOS DO DIREITO.............................................................................................. 22
4 DIVISÕES DO DIREITO..................................................................................................................... 27
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 31
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 33

TÓPICO 3 – O DIREITO NA PRÁTICA.............................................................................................. 35


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 35
2 FONTES DO DIREITO......................................................................................................................... 35
3 O QUE É O PROCESSO?...................................................................................................................... 49
4 TIPOS DE PROCESSO......................................................................................................................... 50
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 56
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 59

TÓPICO 4 – SANÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.......................................... 61


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 61
2 A SANÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
(LEI N° 13.105/2015) – PRINCÍPIOS GERAIS DO NOVO CPC................................................... 61
2.1 O INSTITUTO DA CONCILIAÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL (CPC)................................................................................................................. 66
2.2 OS ATOS PROCESSUAIS NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC)...................... 67
2.2.1 A citação.................................................................................................................................... 67
2.2.2 A intimação............................................................................................................................... 68
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 70
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 71

TÓPICO 5 – MARCO CIVIL DA INTERNET..................................................................................... 73


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 73
2 DEFINIÇÃO............................................................................................................................................ 73
3 PRINCIPAIS FUNDAMENTOS DO MARCO CIVIL DA INTERNET...................................... 73
4 PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DO MARCO CIVIL DA INTERNET............................................... 75

VII
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 79
RESUMO DO TÓPICO 5...................................................................................................................... 83
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 84

UNIDADE 2 – LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA.................................................................. 85

TÓPICO 1 – LEI DE SOFTWARE........................................................................................................ 87


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 87
2 A LEI DE SOFTWARE (LEI N° 9.609/1998)...................................................................................... 87
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 99
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................101

TÓPICO 2 – LEI DE DIREITOS AUTORAIS....................................................................................103


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................103
2 LEI DE DIREITOS AUTORAIS – LEI N° 9.610/98.........................................................................103
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................110
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................111

TÓPICO 3 – AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI......................................................................113


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................113
2 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (LEI N° 8.078/90)..............................................113
3 ASPECTOS TRIBUTÁRIOS NA TI.................................................................................................124
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................128
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................131

TÓPICO 4 – RELAÇÕES TRABALHISTAS NA TI..........................................................................133


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................133
2 FORMAS DE CONTRATAÇÃO ......................................................................................................133
3 FORMAS DE RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO...................................................134
4 USO ÉTICO DAS INFORMAÇÕES NA TI....................................................................................135
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................139
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................141

TÓPICO 5 – CONTRATOS...................................................................................................................143
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................143
2 DEFINIÇÃO..........................................................................................................................................143
3 REQUISITOS ESSENCIAIS..............................................................................................................143
4 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS.........................................................................................................145
5 ESTRUTURA GERAL DOS CONTRATOS....................................................................................145
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................146
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................148
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................149

UNIDADE 3 – CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E


CERTIFICAÇÃO DIGITAL.......................................................................................151

TÓPICO 1 – DEFINIÇÃO DE CRIME................................................................................................153


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................153
2 CONCEITO DE CRIME......................................................................................................................153
3 CRIMES DIGITAIS.............................................................................................................................156

VIII
3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES ELETRÔNICOS....................................................................157
3.1.1 Crimes cibernéticos puros, mistos e comuns.....................................................................158
3.1.2 Crimes cibernéticos próprios e impróprios.......................................................................158
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 160
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 161

TÓPICO 2 – PROVA DE CRIME ELETRÔNICO............................................................................. 163


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 163
2 EVIDÊNCIAS DE UM CRIME ELETRÔNICO.............................................................................. 163
3 FORMAS DE COMETIMENTO DE UM CRIME.......................................................................... 164
4 A LEI DOS CRIMES ELETRÔNICOS – LEI CAROLINA DIECKMANN............................... 166
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 169
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 170

TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE CIVIL, INDENIZAÇÃO E LEGÍTIMA


DEFESA NA INTERNET................................................................................................ 173
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 173
2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL E INDENIZAÇÃO......................................... 174
3 CONCEITO DE LEGÍTIMA DEFESA............................................................................................. 176
4 TRATAMENTO DA LEGÍTIMA DEFESA NA TI......................................................................... 177
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 180
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 182

TÓPICO 4 – REGISTRO DE DOMÍNIO............................................................................................ 185


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 185
2 REGRAS PARA O REGISTRO DE UM DOMÍNIO..................................................................... 185
3 EXTINÇÃO DO DIREITO DE USO DE UM DOMÍNIO............................................................ 186
4 CATEGORIAS DE DOMÍNIO.......................................................................................................... 186
RESUMO DO TÓPICO 4...................................................................................................................... 189
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 190

TÓPICO 5 – CERTIFICAÇÃO DIGITAL..........................................................................................191


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................191
2 ASSINATURA DIGITAL..................................................................................................................191
3 UNIDADES CERTIFICADORAS....................................................................................................192
4 A VALIDADE DA CERTIFICAÇÃO DIGITAL NO MEIO JURÍDICO...................................194
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................195
RESUMO DO TÓPICO 5.....................................................................................................................199
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................200

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................201

IX
X
UNIDADE 1

ASPECTOS HISTÓRICOS E
CONCEITUAIS DO DIREITO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você deverá ser capaz de:

• apresentar uma visão geral da ciência do Direito;

• compreender a inter-relação entre o Direito e a sociedade;

• compreender a inter-relação entre o profissional de TI e o Direito;

• reconhecer alguns princípios do Direito e as suas divisões;

• compreender as fontes e lacunas do Direito, a hierarquia das leis e os ele-


mentos de uma relação jurídica;

• definir o que é um processo e reconhecer os tipos de processo.

• conhecer sobre a sanção do Novo Código de Processo Civil e o Marco


Civil da Internet.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em cinco tópicos. Em cada um deles você
encontrará atividades para maior compreensão das informações apresentadas.

TÓPICO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

TÓPICO 2 – INTRODUÇÃO AO DIREITO

TÓPICO 3 – O DIREITO NA PRÁTICA

TÓPICO 4 – SANÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

TÓPICO 5 – MARCO CIVIL DA INTERNET

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

1 INTRODUÇÃO
Conforme já mencionado, o Direito está presente em nosso cotidiano. Na
realidade, um dos objetivos do Direito é o de regulamentar a vida em sociedade
através das regras de convivência que evoluíram ao longo dos tempos e estão em
constante evolução.

Nesta unidade, vamos discutir os aspectos básicos referentes ao


surgimento do Direito na sociedade e seus aspectos históricos, segundo a visão
e interpretação de diversos autores. Essa discussão nos dará embasamento para
começarmos a entender o pensamento jurídico que nos auxiliará em estudos
futuros. Conheceremos também alguns dos principais termos jurídicos utilizados
por profissionais do Direito.

UNI

Para começarmos o questionamento: O que é o Direito? O Direito é um


fenômeno da rotina cotidiana que encontramos a todo o momento e em toda parte. Estamos
mergulhados no Direito tal como na atmosfera. O Direito resguarda, defende, ampara, protege
e serve o indivíduo em todos os momentos. A palavra Direito apresenta, pelo menos, quatro
sentidos diferentes: I) como norma (por exemplo, “o Direito brasileiro acolhe o divórcio”); II)
como faculdade (“Termos o direito de reclamar do prefeito”); III) na acepção do justo (“A moça
se comportou direito”); e IV) como ciência (“Estudamos Direito na faculdade) (CAMPOS, 2005,
p. 3-5). Na realidade, o termo Direito possui uma série de significados, não sendo possível
resumi-lo em um só termo.

Para Campos (2005), o Direito regula as relações dos indivíduos em


sociedade, apossa-se do sujeito e o mantém sob proteção, mas o considera parte da
sociedade, até porque Direito e sociedade se pressupõem. Onde existe sociedade,
existe o Direito.

Para Martins (2011), em se tratando de etimologia, o Direito vem do latim


directu, acusativo singular da forma participal. Tem o significado de colocado em
linha reta, alinhado, direito, reto, da qualidade do que é conforme a regra. São
encontrados vários significados para a palavra Direito, como: norma, lei, regra,
faculdade, o que é devido à pessoa, fenômeno social etc.

3
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

NOTA

Caro acadêmico! Etimologia, que foi trazido no parágrafo anterior, é a parte da


gramática que estuda o significado das palavras através das partes que a constituem.

Para Martins (2011), o Direito representa um conjunto de princípios, de


regras e de instituições destinados a regular a vida humana em sociedade. O
Direito é um meio para a realização ou obtenção de um fim, que é a Justiça e a
consequente paz social.

2 SURGIMENTO DO DIREITO
Segundo Giordani (1997) e Pomer (1997), a origem do direito de fato deu-
se no antigo Império Romano, embora seja possível encontrar alguns indícios no
mundo grego.

Surgem no Estado grego as primeiras manifestações das necessidades


das garantias individuais do direito e da luta por justiça das classes inferiores e
com uma população totalmente sucumbida a um regime aristocrático, em que
não possuíam um direito político efetivo e nem civil.

Porém, é com os romanos do final do século III d.C. que é estabelecida a


justiça oficial e, com ela, o juiz estatal. Eles perceberam que se fazia necessário
o direito na própria condição humana, pelo direito desde a liberdade, à
educação, à segurança e principalmente pelos direitos e deveres dos cidadãos.
Além de ser o berço do Direito, Roma também se destaca pela organização
mais eficiente da civilização ocidental: a Igreja Católica Romana.

Os autores continuam afirmando que a Igreja Católica Romana se baseava


não só na força de atuação de seus objetivos, mas também na eficácia de suas
técnicas organizacionais e administrativas. Sua consistência foi tão precisa que
permanecem nos dias atuais as mesmas formas de organização do Império
Romano. Era impressionante a capacidade político-administrativa deste
Estado, sua cultura e seus valores que se perpetuam até a nossa atualidade.
Estas influências foram essenciais para a consolidação do direito em si, da sua
atividade processual e das suas normas que regem o mundo globalizado e são
os pilares para as grandes organizações.
FONTE: Adaptado de: <http://www.artigonal.com/direito-artigos/aspectos-preliminares-da-
historia-do-direito-na-idade-media-e-sua-relacao-com-os-direitos-humanos-1287038.html>.
Acesso em: 5 jun. 2013.

4
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

O homem realiza atividades administrativas desde a Antiguidade


e estas atividades têm evoluído ao longo dos séculos e aperfeiçoando suas
técnicas. Os estados da Antiguidade já eram dotados de uma administração
eficiente, em que organizavam sua sociedade, sua vida política, seus exércitos,
relações de negócios, e o surgimento do direito veio consolidar essas relações.
A administração de empresas nas grandes organizações que se tem hoje nada
mais é que um reflexo rebuscado dos primórdios da civilização.

Até mesmo a Igreja Católica surgida na época romana é dotada de uma


estrutura centralizada e administrada de forma eficaz. Percebemos que ela
pode ser considerada a forma administrativa mais completa da antiguidade
e influenciava até mesmo o Estado nas suas decisões e formas de governo.

Podemos perceber que o que diferencia a administração atual são os


métodos surgidos ao longo dos tempos e que servem para beneficiar não só
a estrutura organizacional, mas os seus funcionários e os clientes que dela
fazem parte.

O direito e suas formas de aplicação são essenciais para garantir a conduta


da organização, que visa garantir os direitos e deveres de ambas as partes.
É necessário que as empresas paguem seus tributos de forma correta, que
garantam condições dignas de trabalho para seus funcionários, que paguem e
assegurem os direitos individuais. O órgão necessário para a manutenção de
todas essas obrigações da empresa é o direito, que visa manter uma relação de
benefício para cada uma das partes e disciplinar o meio em que todos vivem.
Seria muito cômodo para uma organização utilizar a capacidade máxima
dos seus funcionários ou mesmo não oferecer tributo algum ao Estado, sem
oferecer nada em troca.

Apesar de notada importância, as normas jurídicas do Império Romano


estavam longe de atingir a perfeição, em que admitiam a escravidão, não
protegiam os desafortunados e nem estabeleciam uma relação de igualdade
entre os seres humanos. O direito beneficiava as classes mais altas e não
oferecia suporte para os necessitados. “Mas, mesmo com suas falhas, foi um
verdadeiro progresso na ordem jurídica da humanidade e, sobretudo, no
pensamento que se encontra presente até hoje” (GIORDANI, 1997, p. 257).

Desde o século passado temos as normas que regulam a vida em


sociedade, mas estas ficavam limitadas aos verdadeiros estudiosos do direito.
Os regimes que norteavam a antiguidade, embora eficientes para sua época,
eram totalmente arcaicos, dotados de tirania e suficientes somente para a
menor parcela da população.
FONTE: Disponível em: <http://www.coladaweb.com/direito/a-importancia-do-surgimento-do-
direito-e-sua-influencia-nas-organizacoes-atuais>. Acesso em: 5 jun. 2013.

5
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

A exemplo, podemos citar a lei das doze tábuas. Trata-se de uma lei
historicamente conhecida pelos profissionais do Direito que constitui a origem
do direito romano. A lei era aplicada na República Romana pelos pontífices
e representantes da classe dos patrícios, que a guardavam em segredo.
Predominantemente, esta lei era aplicada contra os plebeus. Por esse motivo,
um plebeu de nome Terentílio propôs, no ano de 462 a.C., que houvesse uma
compilação e publicação de um código legal oficial. A iniciativa de Terentílio
visava permitir que os plebeus também conhecessem as leis e que pudessem
impedir o abuso que era feito delas pelos patrícios (GASPARETO, s.d.).

Como era de se esperar, a ideia de se criar uma lei oficial publicada foi
recusada pelos patrícios e pontífices durante muito tempo, pois tentaram manter
por mais tempo possível o privilégio no controle jurídico sobre a população
romana. Essa condição dava aos patrícios enormes poderes de manipulação e
repressão aos plebeus. Assim, em 451 a.C., um grupo formado por dez homens
foi reunido para preparar o projeto oficial. No mesmo ano em que o grupo se
formou para elaborar as leis, foram publicados dez códigos. No ano seguinte,
foram incluídos mais dois. Assim se formaram as Doze Tábuas, nome utilizado
justamente porque as leis foram publicadas em 12 tabletes de madeira, que foram
afixados no Fórum Romano para que todos as pudessem ler (GASPARETO, s.d.).

A Lei das Doze Tábuas enumera todo o direito que era praticado
nesta época. Contém uma série de definições sobre direitos privados e
procedimentos, considerando a família e rituais para negócios formais. O texto
oficial foi perdido junto com diversos outros documentos quando os gauleses
colocaram fogo em Roma no ano 390 a.C.

Hoje, conhecemos apenas fragmentos obtidos através de versões


não oficiais e citações feitas por outros autores. O conteúdo do código foi
reconstituído pelos historiadores com as informações que foram encontradas.
Sabe-se que a Lei das Doze Tábuas versava sobre organização e procedimento
judicial, normas para os inadimplentes, poder pátrio, sucessão e tutela,
propriedade, servidões, delitos, direito público e direito sagrado, além de
alguns assuntos complementares.

Assim como as leis que existiam anteriormente, o código oficial


publicado combinava penas rigorosas com procedimentos severos. A Lei das
Doze Tábuas diz muito sobre a sociedade e os métodos judiciais dos romanos,
mas sua implicância vai muito além. Os tabletes representaram o primeiro
documento legal a oficializar o Direito Romano, de onde se estruturam todos
os corpos jurídicos do Ocidente.
FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/direito/lei-das-doze-tabuas/>. Acesso em:
5 jun. 2013.

6
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

FIGURA 1 – VISÃO PARCIAL DA LEI DAS DOZE TÁBUAS

FONTE: Disponível em: <http://www.espiraistempo.com.


br/2010/04/republica-romana-as-leis-das-dozes.html>. Acesso em:
5 jun. 2013.

UNI

Roma não só foi importante por ser o berço do Direito, mas também por ter
deixado um grande legado que influenciou todo o mundo moderno.

Outro ponto importante que podemos levantar sobre o surgimento e


evolução do Direito foi a Lei de Talião. Segundo Fernandes (2012), os primeiros
indícios de consagração da Lei de Talião foram encontrados no Código de
Hamurábi por volta de 1700 a.C. no reino da Babilônia. Ao contrário do que
muitos pensam, talião não é um nome próprio, vem do latim talionis, que significa
como tal, idêntico. Neste sentido, a lei consiste na justa reciprocidade do crime
e da pena, sendo o que muitas vezes ainda escutamos quando nos referimos a
determinado fato: “olho por olho, dente por dente”. Para a Lei de Talião, a pena
imposta pela lei era cruel e severa, como podemos conferir daqui a pouco, em um
trecho desta lei.

7
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

FIGURA 2 – LEI DE TALIÃO SEGUNDO O CÓDIGO DE HAMURÁBI

FONTE: Disponível em: <http://rafaelfernandesonlline.wordpress.


com/2012/05/09/a-lei-de-taliao-conceito-e-origem/>. Acesso em: 5
jun. 2013.

Para entendermos melhor os princípios da Lei de Talião, segundo o


Código de Hamurábi, observaremos algumas disposições desta lei e podemos
perceber que estas disposições lembram realmente o dito “olho por olho, dente
por dente”, como já mencionamos:

196º – Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho.


197º – Se ele quebra o osso a um outro, se lhe deverá quebrar o osso.
200º – Se alguém parte os dentes de um outro, de igual condição, deverá ter
partidos os seus dentes.
202º – Se alguém espancar outro mais elevado que ele, deverá ser espancado
em público sessenta vezes, com o chicote de couro de boi.
206º – Se alguém golpeia outro em uma rixa e lhe faz uma ferida, ele deverá
jurar: “Eu não o golpeei de propósito”, e pagar o médico.
209º – Se alguém atinge uma mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dez
unidades de moeda pelo feto.
210º – Se essa mulher morre, se deverá matar o filho dele.
FONTE: Disponível em: <http://rafaelfernandesonlline.wordpress.com/2012/05/09/a-lei-de-
taliao-conceito-e-origem/>. Acesso em: 5 jun. 2013.

Como já percebemos, a Lei de Talião não se encaixa em nossa sociedade,


por várias razões. Uma delas é que no Brasil é garantido a todos o direito à vida.
O estudo do Direito grego é particularmente interessante. O período que se inicia
com o aparecimento da polis e vai até o seu desaparecimento e surgimento dos
reinos helenísticos corresponde a um período de cinco séculos, denominado
“época arcaica” e “período clássico”.

A moeda foi logo adotada pelos gregos no século VII a.C. Como sabemos,
a moeda contribui para incrementar o comércio e também contribui para a
acumulação de riquezas. Não podemos nos esquecer de que a escrita também

8
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

surge como uma nova tecnologia, permitindo a escrita e divulgação de leis em


diversos pontos das cidades, dentre eles podemos citar os muros, que acabaram
por contribuir com a participação do povo. Dessa forma, os aristocratas perdem
o monopólio das leis.

UNI

Você sabia que a civilização grega foi o berço da democracia, da filosofia, do


teatro, da escrita e também do Direito?

Em determinado ponto de nossa história o povo grego começou a exigir


leis escritas para assegurar melhor o seu cumprimento por parte dos juízes, e
também para impedir que estas leis ficassem restritas apenas a um grupo de
pessoas. Assim, as leis ficariam em um local público e de fácil acesso.

Por consequência, o crescimento das cidades aumentava as possibilidades


do surgimento de conflitos na sociedade e também a necessidade de formas para
solucionar de modo eficiente problemas de diversas ordens, garantindo uma
solução para todas as partes envolvidas.

3 A EVOLUÇÃO DO DIREITO
Para Giovanne (2012), o Direito é um fenômeno de origem natural que
está diretamente associado ao relacionamento de seres vivos com interesses
conflitantes. Não se trata de um fenômeno restrito à espécie humana, mas
que abrange os seres vivos em geral, sendo consequência das relações entre
interesses antagônicos desde o surgimento da vida até os tempos de hoje. É o
resultado da combinação de determinados elementos.

Não se chega a essa constatação buscando-se o significado etimológico


da palavra direito, mas sim analisando o objeto, o fato ao qual ela se refere.
Tal fato é a regulamentação das condutas dos indivíduos em permitidas ou
proibidas, ou seja, regulamentação de ações; e como toda ação é efetuada no
sentido de satisfazer a um interesse, pode-se dizer que o fato ao qual a palavra
direito se refere é a regulamentação de interesses. Conforme já mencionado,
a Lei de Talião, do olho por olho, dente por dente, já não se encaixa em nossa
sociedade, porque o Estado em que vivemos é racional, garantindo a todos o
direito à vida, e se é preciso fazer o justo, segue-se a lei.

Partindo dessa análise, o autor afirma que se pode elaborar um conceito


básico que caracterize a essência do processo de formação do direito: direito é

9
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

o fenômeno natural onde um indivíduo faz prevalecer seu interesse sobre o de


outro mediante a utilização de meio adequado.
FONTE: Disponível em: <http://www.sapientiajus.com.br/tabelas/A-origem-do-Direito.pdf>.
Acesso em: 5 jun. 2013.

Resumidamente, podemos dizer que é interesse protegido por meio


adequado. O conceito mais longo traz embutidas em si referências aos três
elementos que, associados, compõem o processo de formação do fenômeno
jurídico: pluralidade de indivíduos, conflito de interesses e confronto de meios.

Para que o fenômeno do direito possa acontecer é necessária a existência de


dois ou mais indivíduos, por isso um indivíduo isolado é incapaz de estabelecer
uma relação jurídica, ou seja, podemos afirmar que com apenas uma pessoa “não
há o Direito”.

Como comparação, podemos entender que predador e presa participam


de uma mesma sociedade e estabelecem uma relação de direito à vida. Da mesma
forma, dois indivíduos podem disputar a propriedade absoluta de um território
e estabelecer entre eles uma relação de direito à propriedade.

O mesmo ocorreria se em vez de dois indivíduos se tratassem de dois


povos. Percebemos com isso que o direito pode surgir dentro de uma sociedade
ou fora dela, seja entre sociedades distintas, seja entre um indivíduo e uma
sociedade à qual ele não pertence, ou ainda entre indivíduos não associados que
eventualmente se relacionem.

Quando falamos em pluralidade de indivíduos é importante entendermos


que não se trata de sinônimo de meio social. É apenas indicativo da necessidade do
relacionamento de dois ou mais indivíduos para que o fenômeno do direito aconteça.

Interesse é a intenção de obter benefício a partir de algo. É o interesse,


como núcleo do elemento conflito de interesses, que torna o direito um
fenômeno que abrange os seres vivos em geral, pois de todos e somente deles
se pode extrair sempre o interesse básico, nato, de manterem-se vivos.

É claro que esse interesse nato não é o único, muitos outros podem
surgir na vida dos indivíduos a partir das peculiaridades de cada espécie.
O fenômeno jurídico circula em torno de interesses, ou melhor, em torno do
conflito de interesses, que é o momento em que os indivíduos percebem que
a efetivação do interesse de um exclui a efetivação do interesse do outro. Esse
conflito pode ocorrer sob duas perspectivas distintas, a de um conflito de
interesses convergentes ou a de um conflito de interesses divergentes.

É convergente quando os indivíduos têm o mesmo interesse sobre


determinado objeto, mas este só pode satisfazer a um deles. É o caso da disputa

10
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

pela posse absoluta de um território. O conflito torna-se divergente quando


os indivíduos têm interesses opostos ou diferentes sobre o mesmo objeto. O
exemplo que podemos utilizar aqui é justamente o do relacionamento entre
predador e presa, que se enquadra perfeitamente aqui, o objeto disputado é a
vida da presa, apenas ela quer mantê-la enquanto o predador atacá-la.

FONTE: Disponível em: <http://www.sapientiajus.com.br/tabelas/A-origem-do-Direito.pdf>.


Acesso em: 5 jun. 2013.

É importante lembrarmos que somente o conflito de interesses pode


gerar direito. Interesses comuns ou neutros não desencadeiam tal processo,
apenas promovem uma comunhão de interesses ou simplesmente permanecem
indiferentes.
Os meios são recursos que os indivíduos utilizam na tentativa de
satisfazer seus interesses. Desta forma, confronto de meios é o
momento em que os indivíduos utilizam, cada um, os recursos dos
quais dispõem para tentar fazer prevalecer seu interesse sobre o
de outro. Existem dois principais tipos de meios que os indivíduos
podem utilizar. São eles: a aptidão física e a intelectual. A utilização
desses recursos em maior ou em menor grau é determinada pelas
peculiaridades das espécies de cada pessoa. A associação entre tais
recursos também é comum. Disponível em: <http://www.sapientiajus.
com.br/tabelas/A-origem-do-Direito.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2013.

Em se tratando da presa e predador, como já mencionamos, exemplificamos


que a presa apenas corre até que seu predador não consiga mais alcançá-la,
garantindo assim seu direito à vida. A aptidão física foi o meio adequado para
proteger seu interesse. Houve um confronto entre a aptidão física da presa e do
predador e ela levou vantagem. Se em vez de apenas correr a presa também se
esconde por entender, mesmo que primariamente, que desta forma se protegerá
da investida de seu atacante, há uma associação dos meios: a aptidão física e a
intelectual. É a mesma associação feita pelo predador que se esgueira por detrás
de arbustos para surpreender sua vítima e obter maior sucesso na satisfação de seu
interesse. Essa associação de meios pode ser também observada quando na disputa
pela propriedade absoluta de um território: um povo fabrica armamentos para
facilitar o combate ao adversário; unindo aptidão física e intelectual, ele encontra o
meio adequado para fazer prevalecer seus interesses (GIOVANNE, 2012).

Para Giovanne (2012), os elementos citados nos itens anteriores são os


responsáveis pelo surgimento do direito, somente a combinação deles pode
desencadear tal fenômeno. Assim, é preciso primeiro que haja um relacionamento
de indivíduos, mas isso não é o bastante, é necessário que eles possuam entre
si interesses conflitantes e que tentem impor seus interesses utilizando os
recursos de que dispõem; também não basta a tentativa, para o confronto de
meios é preciso que um dos interesses prevaleça, só aí é que o direito terá surgido,
só então o fenômeno terá se caracterizado.

11
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

4 O DIREITO NA SOCIEDADE
Campos (2005) sugere que imaginemos um homem só no mundo, vivendo
isolado em uma ilha. Ele é o senhor de suas atitudes e de seu comportamento.
Ninguém interfere em suas decisões quanto a se alojar aqui ou acolá, sobre
derrubar esta árvore ou aquela, sobre pescar ou não pescar, se apoderar destes
ou daqueles bens, de torná-los úteis ou inúteis etc. O Direito parece não interferir
na vida desse cidadão, pois estabelece uma distinção entre as atitudes possíveis,
separando as justas das injustas e ninguém, a rigor, pode nelas interferir, julgando-
as justas ou não, certas ou erradas, possíveis ou descabidas. Ao contrário,
imaginemos que se de um momento para o outro desembarcarem naquela ilha
40 pessoas que venham a se organizar em pequenos grupos ou, até mesmo,
isoladamente, teremos aí o estabelecimento de uma sociedade circunscrita a um
mesmo território. Mesmo que cada qual cuide de suas necessidades e interesses,
a qualquer momento poderá haver interferência da atitude de um em relação
ao interesse de outro e, nesse momento, poderá prevalecer o direito do mais
forte, originando um conflito, ou instalar-se um estado de direito com regras
estabelecidas de acordo com os interesses dessa sociedade, pois “ubi societas ibi
jus”: onde há sociedade, existe Direito.

Alves (2005) nos afirma que a sociedade é transformada pelo Direito, por
outro lado, na verdade, Direito e sociedade estão constantemente a se influenciar
mutuamente. Havendo relações entre pessoas, surge o evento jurídico como uma
das expressões sociais mais evidentes. A política, a economia, a cultura e a religião
florescem como eventos decorrentes do fato social, inclusive estabelecendo normas
de conduta. As regras, por exemplo, do Código Comercial estabelecem como
as pessoas devem se comportar quando praticam atos de comércio. Por outro
lado, as normas do Código Penal discriminam as ações reputadas delituosas e as
penas que lhes correspondem. Há, pois, distintas séries de diretrizes dirigindo
o comportamento social. O direito de cada homem traz uma parcela do direito
coletivo e social. É o fato social dando causa às regras sociais.

A causa dessa correlação reside na função que o direito desempenha no seio


da coletividade dos homens. Assim, podemos concluir que se trata de coordenar os
interesses dos seus membros de modo a organizar a cooperação entre as pessoas
e compor os conflitos havidos entre elas, buscando, assim, a máxima realização
dos valores humanos com o mínimo de sacrifício e desgaste. O critério dessa
harmonização é o do justo e do equitativo, de acordo com a convicção prevalente
em determinado tempo e lugar. A fixação de regras para regular a sociedade é
necessária em face da escassez dos bens da vida, ou seja, não há bens suficientes
para atender aos interesses de todos os componentes da sociedade.

Para Fortes (2010), o homem é um ser social e político, vivendo em


grupos, em sociedades. É natural que no seio destes grupos haja conflitos,
desentendimentos e interesses divergentes. No entanto, o homem sente
necessidade de segurança e busca a harmonia social. Para que a sociedade
subsista é necessário que os conflitos sejam resolvidos, para tanto o homem

12
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

dispôs de vários meios com o intuito de controlar as ações humanas e trazer um


equilíbrio à sociedade. São os instrumentos de controle social. Podemos entender
que o Direito, criação humana, é um destes instrumentos, cujo principal objetivo
é viabilizar a existência em sociedade, trazendo paz, segurança e justiça.

Para Fortes (2010), a sociedade é fruto da própria natureza humana, de uma


necessidade natural de interação. O homem tem necessidade material e espiritual
de conviver com seus semelhantes, de se desenvolver e de se completar. No
entanto, essa interdependência recíproca não exclui a participação da consciência
ou da vontade humana. Consciente de que necessita da vida social, o indivíduo
procura melhorá-la e torná-la mais viável. A sociedade, em suma, seria o produto
de um impulso natural conjugado com a vontade e consciência humana.

5 O PROFISSIONAL DE TI E O DIREITO
Paesani (2004) nos traz que a nova sociedade da informação pode
estabelecer uma relação direta e continuada da coletividade com o poder público,
criando uma descentralização do Estado e possibilitando a participação de todos
nas decisões fundamentais. É a potencial democracia eletrônica ou telemática.
A internet reduziu drasticamente as barreiras de tamanho, tempo e distância
entre pesquisadores, empresas e governos, facilitando o crescimento baseado no
conhecimento, na pesquisa de ponta e no acesso à informação.

Segundo Rover (2004), as ideias e ideais que dominaram a modernidade


provocaram grandes mudanças na ordem mundial, formando uma sociedade
complexa. A sociedade, até então habituada à certeza e previsibilidade dos
fatos, depara-se agora com situações de insegurança e ameaça nunca antes
experimentadas. Para o autor, a revolução tecnológica inseriu os computadores
em distintos ramos de atividades, proporcionando mudanças nos meios de
trabalho e de vida dos seres humanos, alterando hábitos, costumes e rotinas.
Nesse contexto, entre as inúmeras redes existentes, destaca-se a internet, que, por
sua abrangência mundial, permite um amplo compartilhar de informações entre
os indivíduos.

Rover (2004) ainda defende, como é facilmente constatado por nós em nosso
cotidiano, que estamos vivendo a era da informação, em que novas ferramentas
são criadas para o manuseio e gerenciamento das informações, possibilitando
aumentar a quantidade de informação disponível para consulta, o que vem a
exigir um aumento de velocidade das operações. O crescimento da internet, com
suas inúmeras facilidades, demonstra grande eficiência da rede na sua função
de intercâmbio de arquivos digitais, sejam eles textos, gráficos, sons, imagens.
Devemos também considerar que, quanto mais informação disponível, maior a
necessidade de se ter acesso a banco de dados que contenham a informação.

O autor continua seu pensamento afirmando que o Direito, apesar de sua


capacidade de adaptação às condições de cada época, não contempla processos
de atualização rápida e não dispõe de mecanismos para a alteração de códigos,
13
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

leis, regulamentos em tempo real de sua ocorrência na sociedade. Mesmo assim, o


Direito procura sempre definir novas formas de proteção da sociedade, ainda que
provisórias e, por vezes, tardias. É fundamental dar respostas às diversas formas
de direito ao acesso às informações.

Para Paesani (2008), o Direito é sempre conservador, se comparado com


a dinâmica da internet, cuja capacidade de fatos novos quase que impossibilita o
legislador de acompanhar seus passos. Mesmo sendo conservador, o Direito não
pode ser omisso e deve procurar fazer justiça, superando-se e adaptando-se à
natureza livre da internet, numa tentativa de preservar os direitos dos cidadãos,
sua privacidade e integridade, responsabilizando os infratores, mesmo que
virtuais. Diante de tais aspectos, tornou-se indispensável a análise da informação
sob suas diversas facetas, ou seja: como direito de propriedade, direito de acesso
à informação e direito de recusa da informação (direito de não saber).

Surgem numerosos problemas ligados à realidade informática. Entre as


questões mais polêmicas discute-se a tutela e a disciplina dos bancos de dados, a
privacidade dos indivíduos e o direito ao resguardo do cidadão.

Em relação ao direito de propriedade, indaga-se até que ponto a informação


via internet pode ser objeto de controle e uso restrito pelos detentores do poder,
como instrumentos de domínio político da sociedade. Contudo, antes de qualquer
resposta, torna-se necessário determinar se a utilização da informação é lícita e
não constitui agressão à vida privada do indivíduo e sua intimidade. Paisani
(2004) finaliza afirmando que o problema reside no fato de que a internet não
é uma entidade física, e as leis existentes só fazem sentido onde há fronteiras e
jurisdições tradicionais.

Em resumo, podemos afirmar que na atual realidade dos ambientes


tecnológicos em diversas empresas, é importante que ocorra a interação entre
o conhecimento jurídico (o Direito) e a TI. Para Goulart (2009), é também
importante que todas as negociações do ramo sejam analisadas sob o ponto de
vista jurídico, pois grande parte dos riscos tecnológicos também possui impactos
jurídicos. Imaginemos a situação de um incidente tecnológico que deixe o site de
uma empresa indisponível.

Dependendo da natureza da empresa, essa indisponibilidade pode


causar uma série de implicações jurídicas. Caso tratar-se de uma empresa
de e-commerce, a indisponibilidade poderá impedir que contratos fossem
devidamente cumpridos, fazendo com que a empresa tenha que pagar multas
contratuais, se for a situação. Ainda, caso esta mesma empresa tenha ações
na bolsa de valores, o capital pode ser alterado pela queda no valor das
ações, motivado pela indisponibilidade do site; além do óbvio, é claro, que
é o impacto financeiro da perda de receita pela indisponibilidade. O dano à
imagem também deve ser considerado, pois, entre outras consequências, a
indisponibilidade pode afetar a confiança dos compradores nos sistemas de

14
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

segurança da empresa. Não podemos nos esquecer de que o comércio eletrônico


depende muito do sentimento de confiança que o comprador deposita na loja,
já que as relações são despersonalizadas.

Outro exemplo de conexão entre riscos tecnológicos e riscos jurídicos


é de um servidor Web mal configurado. Caso se trate de um servidor que
hospede informações confidenciais, a configuração inadequada pode fazer com
que os donos da informação tenham sua privacidade ou intimidade violada,
trazendo a possibilidade destes usuários processarem a empresa responsável
pelo servidor. O mesmo pode-se dizer de um banco de dados indevidamente
exposto na internet. O não armazenamento de logs, ou o armazenamento
inadequado, também tem consequências jurídicas importantes. Em um
exemplo singelo, a não produção de logs em uma Lan House, em uma decisão
judicial recente, fez com que o dono do estabelecimento fosse condenado
em R$ 10.000,00 (dez mil reais) por sua omissão. Podemos notar que um ato
simples de não armazenar os logs trouxe uma condenação jurídica. É a punição
pela omissão e a negligência do administrador de TI do estabelecimento.

A lista é bastante extensa e concebe situações inimagináveis até bem pouco


tempo. O próprio crescimento de dispositivos GPS faz com que a privacidade
seja ameaçada com a possibilidade de sempre se saber onde uma pessoa está.
Nos EUA, alguns vendedores de carros instalaram GPS nos carros, sem que
o comprador soubesse, para facilitar a eventual busca e apreensão do veículo
em caso de não pagamento. Certamente, é uma clara ofensa à privacidade.

A massificação das fotografias digitais e de mapas virtuais de cidades


também tem repercussões jurídicas. Também nos EUA, algumas pessoas
processaram uma empresa por produzir mapas virtuais de ruas onde suas
casas foram fotografadas sem autorização. Foi pedida uma ordem judicial para
a retirada das fotografias das casas, pois se entendeu que naquela situação
as pessoas podem ter o direito de impedir que o jardim de suas casas fosse
fotografado. Precavendo-se do risco jurídico, a empresa que disponibiliza
os mapas tomou o cuidado de aplicar um borrão na face das pessoas que
eventualmente aparecem, para proteger assim sua privacidade.

É fundamental que sempre haja o criterioso acompanhamento jurídico


das atividades de TI de uma organização, a fim de identificar os possíveis
riscos jurídicos existentes no ambiente.

FONTE: Disponível em: <http://www.profissionaisti.com.br/2009/01/a-interacao-entre-o-direito-


e-a-ti/>. Acesso em: 5 jun. 2013.

É importante, além de se tratar de um diferencial para o profissional de


TI, termos conhecimento de aspectos legais inerentes à informática, como os que
vamos estudar neste livro de estudos.

15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O direito e suas formas de aplicação são essenciais para garantir a conduta da


organização, em que visa garantir os direitos e deveres de ambas as partes.

• O Direito é um fenômeno de origem natural que está diretamente associado ao


relacionamento de seres vivos com interesses conflitantes.

• A Lei de Talião, do olho por olho, dente por dente, já não se encaixa em nossa
sociedade, porque o Estado em que vivemos é racional, garantindo a todos o
direito à vida, e se é preciso fazer o justo, segue-se a lei.

• Direito é o fenômeno natural em que um indivíduo faz prevalecer seu interesse


sobre o de outro mediante a utilização de meio adequado.

• Pluralidade de indivíduos não é sinônimo de meio social, é apenas indicativo


da necessidade do relacionamento de dois ou mais indivíduos para que o
fenômeno do direito aconteça.

• Somente o conflito de interesses pode gerar direito, interesses comuns ou


neutros não desencadeiam tal processo, apenas promovem uma comunhão de
interesses ou simplesmente permanecem indiferentes.

• Surgem numerosos problemas ligados à realidade informática. Entre as


questões mais polêmicas discute-se a tutela e a disciplina dos bancos de dados,
a privacidade dos indivíduos e o direito ao resguardo do cidadão.

• Podemos afirmar que na atual realidade dos ambientes tecnológicos em


diversas empresas, é importante que ocorra a interação entre o conhecimento
jurídico (o Direito) e a TI.

16
AUTOATIVIDADE

A partir do conhecimento que você adquiriu até aqui, responda às


perguntas a seguir:

1 Qual é a origem do Direito?

2 Qual é a sua visão a respeito da Lei das Doze Tábuas e a Lei de Talião?

3 Qual é a importância do Direito no ramo da informática?

4 Não há, em suma, um direito justo no céu dos conceitos platônicos, e um


direito imperfeito e injusto no nosso pobre e imperfeito mundo sublunar. O
problema do Direito Natural não é descobrir esse celestial livro de mármore
onde, gravadas a caracteres de puro ouro, as verdadeiras leis estariam escritas,
e que, ao longo dos séculos, sábios legisladores terrenos não conseguiram
vislumbrar.

FONTE: CUNHA, Paulo Ferreira da. O ponto de Arquimedes: natureza humana, direito
natural, direitos humanos. Coimbra: Almedina, 2001, p. 94.

Considerando as reflexões contidas no texto, é possível afirmar sobre os direitos


humanos na atualidade:

a) ( ) A afirmação histórica dos direitos humanos, desde o jusnaturalismo, se


iniciou apenas muito recentemente, no final do século XX, por isso ainda são
desconhecidos dos juristas.
b) ( ) O grande problema dos direitos humanos é o de que não estão
positivados, por isso não são efetivados.
c) ( ) O problema atual dos direitos humanos é o de que, apesar de positivados
e constitucionalizados, carecem de ser efetivados.
d) ( ) O problema atual dos direitos humanos é o de sua fundamentação
lógica, na medida em que ainda são considerados deduções teológicas ou
frutos de conjunturas econômicas.
e) ( ) Os direitos humanos são, em todas as suas manifestações, garantias
negativas da cidadania, por isso não carecem de nenhum tipo de prestação
econômica por parte do Estado.

17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2

INTRODUÇÃO AO DIREITO

1 INTRODUÇÃO
Conhecemos, anteriormente, a história do surgimento do Direito, com
alguns dos seus marcos importantes durante sua trajetória. Vimos algumas “Leis”
que podemos considerar como primeiros entusiasmos do Direito.

Vimos também qual é a importância do Direito em nosso ramo, bem como


o que é preciso para que o próprio Direito “consiga” agir.

A partir de agora, vamos focar nossa atenção em alguns conceitos


relacionados ao Direito propriamente dito.

Neste tópico, vamos entender o que é o Direito, com alguns dos seus
principais princípios, bem como suas divisões.

2 O QUE É O DIREITO?
Conforme já mencionado no tópico anterior, o Direito é um fenômeno
de origem natural que está diretamente associado ao relacionamento de seres
vivos com interesses conflitantes. O Direito é o fenômeno natural onde um
indivíduo faz prevalecer seu interesse sobre o de outro mediante a utilização de
meio adequado. O Direito está presente em nosso cotidiano. Na realidade, um
dos objetivos do Direito é o de regulamentar a vida em sociedade através das
regras de convivência que evoluíram ao longo dos tempos. Vale a pena lembrar:
onde há a sociedade, há o Direito (ubi societas ibi jus). Sem a sociedade não há
o Direito! Podemos afirmar então que o Direito é um conjunto de normas, leis,
condutas que visam regulamentar o comportamento em sociedade, assegurando
a pacificação, a paz social.

Segundo Campos (2005), o Direito é um fenômeno da rotina cotidiana, que


encontramos a todo o momento e a toda parte. Estamos mergulhados no Direito
tal como na atmosfera. O autor continua afirmando que o Direito resguarda,
defende, ampara, protege e serve o indivíduo em todos os momentos. Agimos ou
abstemo-nos de agir de alguma forma no que diz respeito ao Direito. Ele regula as
relações dos indivíduos em sociedade, apossa-se de nós, sujeitos, e nos mantém
sob sua proteção, mas o considera parte da sociedade, até porque o Direito e a
sociedade se pressupõem. Onde existe sociedade, existe o Direito.

19
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Para Martins (2011), o Direito vem do latim directu (m), acusativo singular
da forma principal adjetiva directus, a, um. Tem o significado de colocação em
linha reta, alinhado, direito, reto, da qualidade do que é conforme a regra. São
encontrados vários significados para a palavra Direito, como norma, lei, regra,
faculdade, o que é devido à pessoa, fenômeno social etc. Para o autor, o Direito
tem várias denominações em cada língua. Em espanhol, falamos derecho. Em
italiano, diritto. Em francês, droit. Em inglês, Law. Em alemão, Recht.

Walrat (1977) mostra os requisitos de uma boa definição: (a) não deve ser
circular; (b) não deve ser elaborada em linguagem ambígua, obscura ou figurada;
(c) não deve ser demasiado ampla nem restrita; (d) não deve ser negativa quando
puder ser positiva. Muitas vezes, diz-se que o conceito de Direito deve ser elaborado
pela Filosofia do Direito, que pode fazer as críticas necessárias para esse fim.

Aristóteles mencionava que o homem é um animal político, destinado a


viver em sociedade. Assim, havia a necessidade de regras para que pudesse viver
em harmonia, evitando a desordem.

Para Reale (1972, p. 32) o Direito “é a vinculação bilateral atributiva da


conduta para a realização ordenada dos valores de convivência”. Para Martins
(2011), Direito é o conjunto de princípios, de regras e de instituições destinadas a
regular a vida humana em sociedade. Porém, para o autor, é preciso que se faça
uma análise dos elementos desse conceito. O Direito representa um conjunto, pois
é composto de várias partes organizadas, formando um sistema. Tem o Direito
princípios próprios, como qualquer ciência, ainda que não seja exata. Exemplos
são o princípio da boa-fé, razoabilidade, proporcionalidade etc.

O Direito possui inúmeras regras. Algumas delas são escritas em códigos,


como o Código Civil, o Código Tributário Nacional (CTN), o Código Comercial, o
Código de Processo Civil (CPC), além de inúmeras leis esparsas, em que também
podemos citar a Lei de Software (Lei n° 9.609/1998), a Lei de Direitos Autorais
(Lei n° 9.610/1998) e o Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/1990), que
iremos estudar neste livro de estudos.

As instituições são entidades que perduram no tempo. O Direito tem várias


delas, como os sindicatos, os órgãos do Poder Judiciário, do Poder Executivo etc.
O objetivo do Direito é regular a vida humana em sociedade, estabelecendo,
para esse fim, normas de conduta, que devem ser observadas pelas pessoas. Tem
por finalidade a realização da paz e da ordem social, mas também vai atingir as
relações individuais das pessoas.

E continua Martins (2011) afirmando que o Direito é o meio para a


realização ou obtenção de um fim, que é a Justiça. O homem, por natureza, é
um ser gregário. Vive em conjunto com os demais, necessitando de regras para
regular essa situação. O Direito é fruto da convivência humana.

20
TÓPICO 2 | INTRODUÇÃO AO DIREITO

É importante mencionarmos que o ordenamento jurídico também tem a


função social de reger as relações jurídicas para a convivência das pessoas.

A sanção no Direito existe para que a norma seja cumprida, quando a


submissão não ocorre espontaneamente. Em relação a determinadas comunidades
ou sociedades, se a pessoa não cumpre suas regras, é desprezada e rejeitada por
seus componentes, porém pode não haver imposição de sanção. O importante
não é se o Direito tem ou não coação ou sanção pelo descumprimento da norma,
de forma a torná-la coercitiva, mas se ela é cumprida, o que pode ser feito
espontaneamente pela pessoa, sem que exista a sanção (REALE, 1972).

Enfim, o Direito possui o que chamamos de força coercitiva, ou força de


coação, isto é, o Direito tem o poder de se fazer valer através das sanções que ele
pode impor ao indivíduo por sua ação ou omissão.

Como podemos observar, o Direito tem numa das mãos a balança e na


outra a espada. A balança serve para sopesar o Direito. A espada visa fazer
cumprir as determinações do Direito. A espada sem a balança é a desproteção,
a força bruta. A balança sem a espada é um direito ineficaz. As duas têm de
caminhar juntas. A proporção do emprego da espada e da balança tem de ser
igual, para não criar desigualdades.

FIGURA 3 – A BALANÇA E A ESPADA

FONTE: Disponível em: <http://jornale.com.br>. Acesso em:


5 jun. 2013.

O Direito possui três dimensões: (a) os fatos que ocorrem na sociedade; (b)
a valoração que se dá a esses fatos; (c) norma, que pretende regular as condutas
das pessoas, de acordo com os fatos e valores. O resultado dos fatos que ocorrem
na sociedade é valorado, resultando em normas jurídicas. Há, portanto, uma
interação entre fatos, valores e normas, que se complementam. O Direito é uma
ordem de fatos integrada numa ordem de valores.
21
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Os sistemas jurídicos podem ser classificados basicamente em duas


famílias: as originárias do sistema romano-germânico e do common law. No
sistema romano-germânico impera a lei, que rege as relações entre as pessoas. No
sistema do common law valem as decisões judiciais, partindo-se do caso concreto,
indicando precedentes, que são seguidos para os casos semelhantes. O juiz faz a
lei (judge made law). Esse é o sistema adotado na Inglaterra e nos Estados Unidos.

3 ALGUNS PRINCÍPIOS DO DIREITO


Inicialmente, poderíamos dizer que princípio é onde começa algo. É o
início, a origem, o começo, a causa. Martins (2011) afirma que é o momento em
que algo tem origem. Princípio de uma estrada é seu ponto de partida, onde ela
começa.

Princípio vem do latim principium, principii, com o significado de origem,


começo, base. Em um contexto vulgar, quer dizer o começo da vida ou o primeiro
instante. Na linguagem leiga, é o começo, o ponto de partida, a origem, a base.

Princípios são normas elementares, requisitos primordiais, proposições


básicas. Princípio é, portanto, começo, alicerce, ponto de partida, “vigas mestras”,
requisito primordial, base, origem, ferramenta operacional (MARTINS, 2011).

Evidentemente, não é esse o conceito geral de princípio que precisamos


conhecer, mas o seu significado perante o Direito.

Para Campos (2005), princípios gerais do Direito são proposições diretivas


do direito positivo que devem ser aplicadas no caso em julgamento, na ausência
de outra fonte formal.

TUROS
ESTUDOS FU

Mais adiante estudaremos sobre o direito positivo.

Platão usava a palavra princípio no sentido de fundamento do raciocínio.


Para Aristóteles, era a premissa maior de uma demonstração. Kant (1997, p. 12)
seguia aproximadamente essa última orientação, dizendo que “princípio é toda
proposição geral que pode servir como premissa maior numa conexão de ideias”.

Para a Filosofia, princípio é a “proposição que se põe no início de uma


dedução, e que não é deduzida de nenhuma outra dentro do sistema considerado,
sendo admitida, provisoriamente, como inquestionável” (SILVA, 1984).

22
TÓPICO 2 | INTRODUÇÃO AO DIREITO

Os princípios poderiam ser considerados como fora do ordenamento


jurídico, pertencendo à ética. Seriam regras morais, regras de conduta que
informariam e orientariam o comportamento das pessoas. Entretanto, os princípios
do Direito têm características jurídicas, pois se inserem no ordenamento jurídico,
inspiram e orientam o legislador e o aplicador do Direito. Os princípios podem
originar-se da ética ou da política, mas acabam integrando-se e tendo aplicação
no Direito (MARTINS, 2011).

O conceito de princípio para o Direito refere-se a proposições básicas que


informam as ciências, orientando-as. Para o Direito, princípio é seu fundamento,
a base que irá informar e orientar as normas jurídicas.

Os princípios são como as vigas ou alicerces que dão sustentação ao edifício.


Este é o ordenamento jurídico, que é subdividido em tantos andares quantos são
seus ramos.

Os princípios têm várias funções, dentre as quais podemos destacar a


de auxiliar o intérprete da lei para solucionar determinado caso. Por exemplo:
normalmente, o juiz/magistrado pode utilizar-se da lei para buscar o seu
embasamento para um processo, mas o juiz/magistrado também poderá basear-
se nos princípios do Direito para buscar o clareamento de determinada causa. É
importante que saibamos que os princípios do Direito também fazem parte das
fontes do Direito.

Existem princípios que são comuns ao Direito em geral. É de se destacar,


por exemplo, que ninguém pode alegar a ignorância do Direito. O artigo 3° da
Lei de Introdução ao Código Civil é claro no sentido de que ninguém se escusa
de cumprir a lei alegando que não a conhece, pois o desconhecimento da lei é
inescusável, isto é, o desconhecimento da lei é indesculpável, pois no momento
em que a lei é publicada, parte-se do princípio de que todos os indivíduos passam
a conhecê-la. Assim, não é permitido que uma pessoa não cumpra a lei e depois
afirme que não a conhecia.

O princípio do respeito à dignidade da pessoa humana é hoje encontrado


até mesmo na Constituição Federal (art. 1°, inciso III), como um dos objetivos da
República Federativa do Brasil, como um Estado Democrático de Direito. Há de
se respeitar a personalidade humana como um direito fundamental. O inciso X
do artigo 5° da Lei Maior assegura a inviolabilidade à intimidade, à vida privada,
à honra e à imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação.

O princípio da proibição do abuso de direito ou do lícito exercício regular


do próprio direito é fundamental no Direito. O inciso do art. 188 do Código Civil
mostra que não constituem atos ilícitos os praticados no exercício regular de um
direito reconhecido. Logo, se o ato é praticado mediante seu exercício irregular,
estaremos diante de um ato ilícito.

23
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Veda também o Direito o enriquecimento sem causa. Uma pessoa não


poderá locupletar-se, aproveitar-se de outra, enriquecendo à custa dela, sem que
haja causa para tanto.

As pessoas devem agir com razoabilidade. Na aplicação da norma isso


também deve acontecer. Devemos entender o princípio da proporcionalidade no
sentido de que não se pode impor condutas a não ser para o estrito cumprimento do
interesse público. Assim, não se pode agir com excessos, nem de modo insuficiente.

O princípio da segurança jurídica nos mostra a necessidade da manutenção


das relações jurídicas.

Um dos princípios gerais do Direito mais importante que podemos citar


é o princípio da boa-fé. Este princípio prega que nenhuma das partes envolvidas
em uma relação jurídica (autor, réu, testemunhas, peritos etc.) irá se aproveitar
da falta de informação, falta de conhecimento, falta de instrução, ou de quaisquer
outras fragilidades de seu oponente para obter proveito próprio. É importante
falarmos que o juiz, por exemplo, em uma relação jurídica, em um processo, partirá
do princípio de que todas as partes envolvidas estão afirmando e provando a
verdade. Em casos de constatação de desobediência a este princípio, pode o juiz
fixar multas pelo que chamamos de litigância de má-fé, conforme está previsto em
nosso Código de Processo Civil nos artigos 16, 17 e 18, conforme segue:
Art. 16. Responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé
como autor, réu ou interveniente.
Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que: 
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do
processo;
Vl - provocar incidentes manifestamente infundados.
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
Art. 18. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o
litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre
o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que
esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as despesas que
efetuou.
§ 1° Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará
cada um na proporção do seu respectivo interesse na causa, ou
solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária.
§ 2° O valor da indenização será desde logo fixado pelo juiz, em
quantia não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa,
ou liquidado por arbitramento.

Podemos perceber que o princípio da boa-fé é considerado, inclusive pela


lei, no caso o Código de Processo Civil, que determina, dentre outros assuntos, em
que casos nós podemos considerar que a pessoa está agindo de má-fé no processo
e qual será a consequência (pagamento de multa) para o caso. Para o Direito, a
boa-fé presume-se, isto é, parte-se do pressuposto de que as partes envolvidas no
24
TÓPICO 2 | INTRODUÇÃO AO DIREITO

processo irão agir com boa-fé, sem querer prejudicar, ludibriar a parte contrária,
agirão com a verdade. Por outro lado, a má-fé deve ser provada e, como vimos,
com os artigos citados anteriormente é possível que se prove a má-fé.

Martins (2011) afirma que é aplicável o princípio da boa-fé, inclusive nos


contratos (art. 422 do Código Civil), seja no Direito Civil ou no Comercial, mas
também no Direito do Trabalho.

O princípio da igualdade trata inclusive de um princípio constitucional,


conforme o seu artigo 5°. Segundo este princípio, todos somos iguais perante
a lei, sem qualquer tipo de distinção, quer seja de raça, credo, posição social,
cor da pele, profissão, sexo, orientação sexual etc., ou seja, o juiz, ao julgar um
determinado caso, não deverá levar em consideração esses fatores, deverá ser
completamente imparcial e se abstendo de juízos de valores.

Dessa forma, para Diniz (2009), o que se veda são as diferenciações


arbitrárias, as discriminações absurdas, pois o tratamento desigual dos casos
desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio
conceito de Justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades, somente
se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador
não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito, sem que se
esqueça que as chamadas liberdades materiais têm por objetivo a igualdade de
condições sociais, meta a ser alcançada não só por meio de leis, mas também pela
aplicação de políticas ou programas de ação estatal.

O princípio da igualdade consagrado pela Constituição opera em dois planos


distintos. De uma parte, frente ao legislador ou ao próprio Executivo, na edição,
respectivamente, de leis, atos normativos e medidas provisórias, impedindo que
possam criar tratamentos abusivamente diferenciados a pessoas que se encontram
em situações idênticas. Em outro plano, a obrigatoriedade ao intérprete (o juiz, por
exemplo), basicamente, a autoridade pública, de aplicar a lei e atos normativos
de maneira igualitária, sem estabelecimento de diferenciações em razão de sexo,
religião, convicções filosóficas, ou políticas, raça, classe social (BARRETO, 2010).

Segundo o princípio do contraditório, o autor e o réu (por exemplo) podem


responder a todas as acusações que são feitas pela outra parte. O princípio do
contraditório nos remete à palavra contradizer, ou seja, dizer contra, discordar.
Assim, se o réu acusar ou afirmar que o autor estava em determinado local em
determinado dia e hora, o autor poderá, terá o direito de dizer o contrário, ou
seja, defender-se afirmando que estava em outro local ou em outra situação. O
princípio do contraditório vale para qualquer tipo de processo. Vale lembrar que
o direito à defesa (princípio do contraditório) é um direito reservado a todos que
estejam envolvidos no processo. Caso algumas das partes não responder, não se
defender no prazo previsto, ocorre o instituto que chamamos de revelia. A partir
do momento em que ocorre a revelia, que é decretada à revelia, o juiz considerará
como verdadeiros todos os fatos afirmados pela parte contrária. Vejamos um
exemplo: se o autor acusa o réu, através de provas, de pirataria de software e

25
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

o réu, em seu prazo, não se defender, ou seja, não se utilizar do princípio do


contraditório, o juiz considerará como verdadeiras as afirmações do autor. Será
o réu o que chamamos de revel e este arcará com todas as consequências do
instituto da revelia.

O princípio do contraditório e da ampla defesa é assegurado pelo artigo


5º, inciso LV da Constituição Federal, conforme podemos verificar que: “[...] LV
– aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes; [...]” (grifos nosso).

No dizer de Angélica Arruda Alvim (1994), o contraditório significa que


toda pessoa física ou jurídica que tiver de manifestar-se no processo tem o direito
de invocar o princípio do contraditório a seu favor. Deve ser dado conhecimento
da ação e de todos os atos do processo às partes, bem como a possibilidade de
responderem, de produzirem provas próprias e adequadas à demonstração do
direito que alegam ter.

É importante que fique claro para nós que o princípio do contraditório é o


direito de defesa e deve ser ofertado para as partes envolvidas no processo, que
normalmente são o autor e réu.

Se o princípio do contraditório afirma que todas as partes envolvidas


no processo podem se defender, o princípio da ampla defesa assegura que as
mesmas partes envolvidas no processo podem se utilizar de qualquer meio
de prova, desde que lícito, ou seja, dentro da lei. Assim, são aceitas provas
documentais, testemunhais, periciais, gravações, filmagens, essas duas últimas
desde que autorizadas judicialmente. Assim, se uma das partes trouxer para o
processo uma prova que foi adquirida sem autorização judicial, por exemplo, o
juiz não a aceitará como tal e a dispensará.

Outro princípio do Direito que podemos citar é o princípio da presunção


de inocência, também conhecido como princípio da não culpabilidade ou estado
de inocência. Segundo este princípio, todos são inocentes no processo, na
relação jurídica, até que se prove o contrário. Desta maneira, o juiz não poderá
considerar o réu culpado, por exemplo, sem que antes sejam analisadas todas as
provas, todas as circunstâncias trazidas no processo, para que o juiz forme o seu
convencimento. Trata-se de uma velha máxima no Direito, em que: “todos são
inocentes até que se prove o contrário”.

Este princípio constitucional afirma o estado de inocência como regra


em relação às partes envolvidas no processo. Trata-se de mais um princípio
constitucional do artigo 5º, inciso LVII: "ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória". Isso quer dizer que somente
após o término do processo, depois que o juiz formou todo o seu convencimento
acerca do caso, é que vai se decidir quem é o culpado nesta relação jurídica e,
então, condenado conforme o caso.

26
TÓPICO 2 | INTRODUÇÃO AO DIREITO

Segundo o princípio da publicidade, todos os atos processuais são


públicos para garantir a transparência e a confiabilidade processual, fazendo
com que todas as partes envolvidas na relação jurídica e até mesmo terceiros
possam acompanhar este andamento processual, ou seja, por padrão, todos os
atos processuais são públicos. Basta que se acesse o site de onde o processo está
tramitando, digitar o número do processo, nome do advogado ou nome de uma
das partes (autor e réu) e ter acesso a todo o andamento processual.

É muito importante lembrarmos que existe uma exceção para este


princípio. Os processos que correm em segredo de justiça não são públicos por
consequência. Somente possuem acessos a estes processos as partes envolvidas
diretamente nesta relação jurídica. Processos que envolvem menores (adoção),
família (separações, divórcios), alimentos (pensão alimentícia), entre outros, são,
por padrão, decretados como processos que tramitam em segredo de justiça.

Em nossa área de TI é possível ter processos tramitando em segredo


de justiça. É o caso de processos que envolvam o código-fonte de determinado
programa de computador. É o que prega o § 4° do artigo 14 da Lei de Software
(grifos nosso). Vamos conferir:
§ 4º Na hipótese de serem apresentadas, em juízo, para a defesa dos
interesses de qualquer das partes, informações que se caracterizem
como confidenciais, deverá o juiz determinar que o processo prossiga
em segredo de justiça, vedado o uso de tais informações também à
outra parte para outras finalidades.

É importante comentar que, em nossa área, para que um processo tramite


em segredo de justiça, a parte interessada deve solicitar ao juiz que o seu processo
tramite em segredo de justiça.

Outro princípio importante para o Direito é o princípio da legalidade.


Segundo este princípio, todos os atos jurídicos devem ser baseados na lei, devem
ser legais, sob pena de se tornarem atos nulos, ou seja, sem qualquer validade.
Assim, este princípio diz respeito à obediência à lei.

O princípio da legalidade também está na Constituição Federal, no inciso


II do artigo 5°, onde: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei”. Assim, temos certa liberdade em que podemos fazer
tudo, exceto o que a lei proíbe, assim, se não houver lei que proíbe tal conduta,
nada pode ser feito, lembrando assim uma velha máxima no Direito, onde “o que
não é proibido é permitido”. Assim, este princípio garante que “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”.

4 DIVISÕES DO DIREITO
Direito Natural: o homem reconhece pela sua natureza. Não está escrito, é
próprio/inerente ao homem. Direito à vida, à liberdade. Justiça é o seu fundamento.
Em outras palavras, é o que o homem entende por justiça – é o sentimento que
27
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

o homem tem de “justo”. Para Martins (2011), o Direito natural nasce a partir do
momento em que surge o homem. Aparece, portanto, naturalmente para regular
a vida humana em sociedade, de acordo com as regras da natureza. Seria uma
norma criada pela natureza e não pelo homem. Decorre da natureza das coisas.
São princípios gerais e universais para regular os direitos e deveres do homem.
Os jusnaturalistas entendem que a lei deve ser justa para ser lei. Se não for, não
tem validade.

Na Idade Média o Direito Natural era visto como vinculado à vontade de


Deus.

Direito Positivo/Científico: está escrito. Seu fundamento é a lei, não


importa se é justo ou não. O Direito positivo também pode ser chamado de
Direito positivado. Para Martins (2011), o Direito positivo é apenas norma legal,
emanada do Estado e não de outra fonte do Direito.

Quanto ao tipo, o Direito pode ser dividido em:

• Direito Objetivo – Material, regula o direito, o bem ou valor que se procura


proteger. Para Martins (2011), o Direito Objetivo é o complexo de normas que
são impostas às pessoas, tendo o caráter de universalidade, para regular suas
relações. É o Direito como norma (ius est norma agendi). Podemos citar alguns
exemplos de Direito objetivo:

o Direito Civil
o Direito Penal
o Direito do Trabalho
o Direito Tributário
o Direito Constitucional
o Lei de Software
o Lei de Direitos Autorais
o Código de Defesa do Consumidor

• Direito Subjetivo ou Formal regula os mecanismos jurídicos que entrarão


em ação para garantir a aplicação do direito. Para Martins (2011), o Direito
subjetivo é a faculdade de a pessoa postular (pedir) seu direito, visando à
realização de seus interesses (ius est facultas agendi). Citamos, do mesmo modo,
alguns exemplos de Direito subjetivo:

o Código de Processo Civil


o Direito Processual Penal
o Direito Processual do Trabalho
o Direito Processual Militar

28
TÓPICO 2 | INTRODUÇÃO AO DIREITO

NOTA

Os termos Código de Processo Civil e Direito Processual Civil, por exemplo, são
sinônimos.

Quanto ao interesse:

Direito Público: prepondera o interesse do Estado em relação ao indivíduo.


Regula as relações em que o Estado é parte (com indivíduos ou com outro Estado).
Para Martins (2011), o Estado é a reunião de pessoas numa sociedade política
e juridicamente organizada, dotada de soberania, dentro de um território, sob
um governo, para a realização do bem comum. É considerado bem comum
o conjunto de todas as condições de vida social que consistam e favoreçam o
desenvolvimento integral da personalidade humana. Ainda, o objetivo do Estado
é assegurar a vida humana em sociedade, pelo fato de que o homem não vive
isoladamente e necessita de normas que disciplinem comportamentos. Visa,
conforme já mencionamos, ao bem comum do povo. O Estado deve garantir a
ordem interna, assegurar a soberania na ordem internacional, fazer as regras de
conduta e “distribuir” justiça.

Ainda, para Martins (2011), o Direito Público envolve a organização do


Estado, em que são estabelecidas normas de ordem pública, que não podem
ser mudadas pela vontade das partes, como a obrigação de pagar tributos. Já o
Direito privado diz respeito ao interesse dos particulares, às normas contratuais
que são estabelecidas pelos particulares, decorrentes da manifestação de vontade
dos interessados.

Vamos a alguns exemplos do Direito Público:

• Direito Constitucional: trata das normas constitucionais e de sua aplicabilidade.


• Direito Administrativo: regula o funcionamento de todo o aparato estatal e as
relações dos órgãos públicos com os indivíduos.
• Direito Tributário: estabelece as regras para a criação, incidência e arrecadação
de tributos e suas obrigações acessórias.
• Direito Processual: regula a forma pela qual se instalam e se desenvolvem os
processos judiciais.
• Direito Penal: estipula as contravenções, os crimes e as penas.

Direito Privado: disciplina as relações entre particulares, em que


predomina o interesse privado (o Estado não participa). Exemplos:

• Direito Civil: regula as relações familiares, patrimoniais e obrigacionais dos


indivíduos.

29
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

• Direito Comercial: Regula as atividades negociais das pessoas físicas e jurídicas


com finalidade econômica.
• Direito do Trabalho: regula as relações de empregado e empregador. Normas
e princípios relativos à organização do trabalho e da produção.

E
IMPORTANT

vMartins (2011) afirma que há autores que entendem que o Direito do Trabalho
pertence ao Direito Público, mas o que prepondera é a autonomia da vontade das pessoas na
contratação, apesar da existência de normas de ordem pública que incidem sobre a relação
de emprego.

Para melhor esquematizarmos o que acabamos de estudar sobre as


divisões do Direito, acompanhe a figura a seguir.

FIGURA 4 – DIVISÕES DO DIREITO

FONTE: A autora

30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Vale a pena lembrar: onde há a sociedade, há o Direito (ubi societas ibi jus). Sem
a sociedade não há o Direito.

• Podemos afirmar que o Direito é um conjunto de normas, leis, condutas


que visam regulamentar o comportamento em sociedade, assegurando a
pacificação, a paz social.

• Aristóteles mencionava que o homem é um animal político, destinado a viver


em sociedade. Assim, havia a necessidade de regras para que pudesse viver em
harmonia, evitando a desordem.

• Para Reale (1972, p. 35), o Direito “é a vinculação bilateral atributiva da conduta


para a realização ordenada dos valores de convivência”.

• Para Martins (2011), Direito é o conjunto de princípios, de regras e de instituições


destinadas a regular a vida humana em sociedade.

• O objetivo do Direito é regular a vida humana em sociedade, estabelecendo,


para esse fim, normas de conduta, que devem ser observadas pelas pessoas.
Essas normas têm por finalidade a realização da paz e da ordem social, mas
também vão atingir as relações individuais das pessoas.

• O Direito é o meio para a realização ou obtenção de um fim, que é a Justiça.

• O Direito é fruto da convivência humana.

• A sanção no Direito existe para que a norma seja cumprida.

• O Direito possui o que chamamos de força coercitiva, ou força de coação, isto


é, o Direito tem o poder de se fazer valer.

• O Direito possui três dimensões: (a) os fatos que ocorrem na sociedade; (b) a
valoração que se dá a esses fatos; (c) norma, que pretende regular as condutas
das pessoas, de acordo com os fatos e valores. O resultado dos fatos que ocorrem
na sociedade é valorado, resultando em normas jurídicas. Há, portanto, uma
interação entre fatos, valores e normas, que se complementam. O Direito é uma
ordem de fatos integrada numa ordem de valores.

• Princípios são normas elementares, requisitos primordiais, proposições básicas.

• Para o Direito, princípio é seu fundamento, a base que irá informar e orientar
as normas jurídicas.
31
• Os princípios têm a função de integração da norma no ordenamento jurídico.

• Ninguém pode alegar a ignorância do Direito. O desconhecimento à lei é


indesculpável.

• Vimos alguns princípios gerais do Direito. Podemos citar:

o O princípio do respeito à dignidade da pessoa humana.


o O princípio da proibição do abuso de direito ou do lícito exercício regular
do próprio direito é fundamental no Direito.
o Veda também o Direito o enriquecimento sem causa. Uma pessoa não
poderá locupletar-se, aproveitar-se de outra, enriquecendo à custa dela, sem
que haja causa para tanto.
o As pessoas devem agir com razoabilidade. Na aplicação da norma isso
também deve acontecer.
o Devemos entender o princípio da proporcionalidade no sentido de que não se
pode impor condutas a não ser para o estrito cumprimento do interesse público.
o O princípio da segurança jurídica nos mostra a necessidade da manutenção
das relações jurídicas.
o Um dos princípios gerais do Direito mais importante que podemos citar é o
princípio da boa-fé.
o O princípio da igualdade afirma que todos somos iguais perante a lei, sem
qualquer tipo de distinção.
o Segundo o princípio do contraditório, o autor e o réu (por exemplo) podem
responder a todas as acusações que são feitas pela outra parte.
o O princípio do contraditório e da ampla defesa é assegurado pelo artigo 5º,
inciso LV da Constituição Federal.
o É importante que fique claro para nós que o princípio do contraditório é o
direito de defesa e deve ser ofertado para as partes envolvidas no processo,
que normalmente são o autor e o réu.
o O princípio da ampla defesa assegura que as mesmas partes envolvidas no
processo podem utilizar qualquer meio de prova, desde que lícito.
o O princípio da presunção de inocência afirma que todos são inocentes no
processo, na relação jurídica, até que se prove o contrário.
o Segundo o princípio da publicidade, todos os atos processuais são públicos
para garantir a transparência e a confiabilidade processual.
o Os processos que correm em segredo de justiça não são públicos por
consequência.
o Em nossa área de TI é possível ter processos tramitando em segredo de
justiça. É o caso de processos que envolvam o código-fonte de determinado
programa de computador.

• Vimos também sobre a divisão do Direito:

o Temos o Direito natural e o Direito positivo.


o Quanto ao tipo, o Direito pode ser objetivo ou subjetivo.
o E quanto ao interesse, o Direito pode ser público ou privado.

32
AUTOATIVIDADE

1 Qual é a função do Direito?

2 Segundo os estudos feitos, comente a principal característica do Direito.

3 Em relação ao Direito natural e ao Direito positivo, analise as assertivas a


seguir e assinale a(s) correta(s).

a) ( ) O Direito natural o homem conhece pela sua própria natureza, não está
escrito, a justiça é o seu fundamento.
b) ( ) O Direito positivo está escrito, seu fundamento é a lei, não importando
se é justa ou não.
c) ( ) O Direito natural o homem conhece pela sua própria natureza, está
escrito, a justiça não é o seu fundamento.
d) ( ) O Direito positivo não está escrito, seu fundamento é a lei, uma vez que
seja justa.

4 Qual é a função dos princípios gerais do Direito?

5 O Direito comercial é um ramo do:

a) ( ) Direito público.
b) ( ) Direito internacional.
c) ( ) Direito administrativo.
d) ( ) Direito privado.

6 Sobre os princípios do Direito, está correto:

a) ( ) O princípio da ampla defesa afirma que uma parte pode responder a


todas as acusações que são feitas pela outra parte.
b) ( ) O princípio da publicidade afirma que todos os processos, sem exceção,
são públicos.
c) ( ) O princípio do contraditório afirma que uma parte pode responder a
todas as acusações que são feitas pela outra parte.
d) ( ) O princípio da boa-fé demonstra que uma das partes deve se utilizar da
falta de informação ou conhecimento da outra parte para obter proveito.

7 Ainda sobre os princípios do Direito:

a) ( ) O princípio da presunção de inocência dispõe que o autor é o culpado


na relação jurídica.
b) ( ) O princípio da presunção de inocência dispõe que todos são culpados
até que se prove o contrário.

33
c) ( ) O princípio da presunção de inocência dispõe que todos são inocentes
até que se prove o contrário.
d) ( ) O princípio da presunção de inocência dispõe que o réu é o culpado na
relação jurídica.

8 A publicidade dos atos processuais é mais do que uma regra, é uma garantia
importante para o cidadão, na medida em que permite o controle dos atos
judiciais por qualquer indivíduo integrante da sociedade. Ela está prevista
na Constituição Federal, em seu artigo 5º, dedicado às garantias individuais,
e também tem previsão legal no Código de Processo Civil (CPC), nos artigos
155 e 444. “A publicidade gera a oportunidade não só de conhecimento,
mas, sobretudo, de controle, na forma legal, de decisões, o que é inerente
ao processo legal e à própria essência do Estado de Direito, pois se trata de
serviço público, vale dizer, para o público, primordial”, avalia o ministro
Arnaldo Esteves Lima, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao discorrer
sobre o tema. Tamanha é a importância da publicidade que o ordenamento
brasileiro considera nulos os atos realizados sem a observância dessa garantia
processual, com exceção das hipóteses de sigilo legalmente permitidas
(Constituição Federal, artigo 93, IX, e Código de Processo Civil, artigo 155).
Isto posto, explique:

a) O que é o segredo de justiça?

b) Na área de TI (Tecnologia da Informação) é possível termos um processo


tramitando em segredo de justiça?

c) Se sim, em qual(is) caso(s)?

34
UNIDADE 1
TÓPICO 3

O DIREITO NA PRÁTICA

1 INTRODUÇÃO
Conhecemos, anteriormente, alguns conceitos e funções do Direito,
segundo alguns autores, bem como uma das principais características do Direito.
Sabemos agora que o Direito possui uma fundamentação consistente nos seus
princípios gerais e muitos desses princípios podemos e devemos utilizar em
nossa área para termos segurança jurídica em nossas relações cotidianas.

Estudamos as divisões do Direito, com os seus exemplos, e muitos nomes/


termos novos estão surgindo para nós. Fique tranquilo! Estes termos são os mais
comumente utilizados e não somente pelas pessoas que atuam no meio jurídico.

A partir de agora, vamos evoluir os nossos estudos mergulhando um


pouco mais nos conceitos do Direito.

Neste tópico, vamos estudar as fontes e lacunas do Direito; o que é e como


funciona a hierarquia das leis; quais são os elementos de uma relação jurídica; o
que é um processo e quais são os tipos de processos com os quais poderemos nos
deparar em nosso dia a dia.

2 FONTES DO DIREITO
Segundo Martins (2011), a palavra fonte vem do latim fons, com o
significado de nascente, manancial.

Para Abram (2008, p. 56), a palavra fonte tem sentido de “origem, gênese,
de onde provém” (água). No significado vulgar, fonte tem o sentido de nascente
de água, o lugar de onde brota a água. Figuradamente, refere-se à origem de
alguma coisa, de onde provém algo. Fonte de Direito tem significado metafórico,
em razão de que já é uma fonte de várias normas.

Para Claude du Pasquier (1978, p. 25), fonte de regra jurídica “é o ponto pelo
qual ela se sai das profundezas da vida social para aparecer à superfície do Direito”.
Ascensão (1978) menciona que fonte tem diferentes significados: (a) histórico:
considera as fontes históricas do sistema, como o Direito Romano; (b) instrumental:
são os documentos que contêm as regras jurídicas, como os códigos, leis etc.; (c)
sociológico ou material: são os condicionamentos sociais que produzem determinada
norma; (d) orgânico: são os órgãos de produção das normas jurídicas; (e) técnico-
jurídico ou dogmático: são os modos de formação e revelação das regras jurídicas.
35
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Para Martins (2011), o estudo das fontes do Direito pode ter várias
acepções, como sua origem, fundamento de validade das normas jurídicas e a
própria exteriorização do Direito. Fontes formais são as formas de exteriorização
do Direito. Exemplos seriam as leis, os costumes etc.

Fontes materiais são o complexo de fatores que ocasionaram o surgimento


de normas envolvendo fatos e valores. São analisados fatores sociais, psicológicos,
econômicos, históricos etc. São os fatores reais que irão influenciar na criação da
norma jurídica (MARTINS, 2011).

Para Campos (2005), vários são os sentidos que se podem tomar para
a expressão fontes do Direito. Podemos analisar as fontes do ponto de vista
histórico, social, filosófico e material do Direito, como também podemos analisar
as fontes em seu sentido formal, isto é, como forma de expressão do Direito.

I- Fontes Históricas: são escritos, monumentos, inscrições, testemunhos de


contemporâneos pelos quais nos é possível averiguar quais foram as normas
jurídicas que regeram tal grupo social, em tal época da história. Seu estudo
compete à disciplina História do Direito.
II- Fontes Sociais: são os fatores sociais geradores das normas jurídicas, isto é,
necessidades econômicas, movimentos políticos, preceitos religiosos, normas
éticas, solicitações étnicas, condicionamentos geográficos e outros. Seu estudo
compete à Sociologia do Direito.
III- Fontes Filosóficas: tratam da justificativa, do fundamento do Direito, da
força de um grupo dominante, do reconhecimento pela coletividade, da natureza
humana, da razão, de Deus e outros. Seu estudo compete à Filosofia do Direito.
IV- Fontes Materiais: são as chamadas fontes de produção do Direito, os
órgãos elaboradores do Direito, tais como o Poder Legislativo; a Justiça do
Trabalho quando dita as sentenças normativas; o Poder Judiciário, por meio da
jurisprudência, como fonte de normas gerais.

ATENCAO

Daqui a pouco já saberemos o que é uma jurisprudência!

Note que é importante deixarmos claro que fontes do Direito podem ser
consideradas meios através dos quais podemos buscar o Direito, de onde vem
o Direito. E é natural, partindo desta consideração, que achemos que a lei (que
nós falamos anteriormente) é a fonte do Direito. E não está errado! Mas, o que é
importante frisar é que a lei não é a única fonte do Direito, existem outras, e é isso
que vamos passar a estudar a partir de agora!

36
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

Para Campos (2005), o que mais interessa a este tema são as fontes formais
do Direito, o que podemos chamar de formas de expressão do Direito, ou também
de modos de manifestação da vontade social na expressão do Direito, que são: I)
a Lei; II) o costume; III) o regulamento e o contrato coletivo ou individual; IV) a
doutrina; V) precedente e jurisprudência; VI) princípios gerais do Direito.

UNI

Como podemos perceber agora, além da lei, existem várias outras fontes em que
o Direito poderá buscar embasamento para acontecer. Isto é, o juiz, ao julgar um processo,
poderá julgá-lo fundamentando-se em um costume, uma jurisprudência, nos princípios
gerais do Direito etc.

Vejamos algumas das fontes do Direito já citadas:

• LEIS – para Campos (2005), lei é uma norma jurídica abstrata e geral expressa
por escrito pelo Estado, com criação de direito novo. Como podemos verificar,
a lei possui cinco características:

a) A abstração – a lei é abstrata. Abstrata porque a lei não se incorpora, apesar de


escrita e publicada no Diário Oficial da União; se nós rasgarmos o jornal, não
estaremos rasgando e eliminando a lei, ela continua aplicável e vigente.
b) A generalidade – a lei é uma norma jurídica geral, pois ela liga a consequência
jurídica à condição de fato de modo geral, distinguindo-se da sentença, que
liga a consequência jurídica à condição de fato de modo particular e concreto.
c) Estatalidade – ela é uma norma jurídica elaborada pelos órgãos do Estado,
distinguindo-se do costume, que é uma norma jurídica geral elaborada fora
dos órgãos do Estado.
d) Escrita – a lei é escrita e por isso também se distingue do costume, que não é
escrito.
e) Novidade – a lei cria sempre um direito novo, mesmo quando modifica um
direito já existente, e por isso se distingue do decreto, que embora seja realizado
pelos órgãos do Estado, não cria Direito novo.

Dentro do conceito de lei, como fonte do Direito, podemos colocar também


os Tratados, que são normas jurídicas gerais expressas por escrito pelo Estado,
que são atos de acordo com vontades entre dois países e regulam situações
particulares de interesse direto deles (tratados-contratos ou estabelecem regras
gerais que devem ser observadas).

37
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

NOTA

Tratados, que também podem ser chamados de convenções internacionais, são


atos de acordo com vontades entre dois países e podem ser tratados-contratos ou também
tratados-leis.

• COSTUMES – costume é a prática pública e geral, reiterada com constância


e uniformidade, de um modo de agir. O Direito foi originariamente, e por
muito tempo, formado unicamente de costumes, nascidos antes do Estado,
este também, nas suas origens, realizado sob a forma de costume. Em certo
momento, costumes vieram a ser fixados por escrito. As primeiras leis foram
costumes que se fixaram por escrito. Os motivos pelos quais os costumes
perderam importância em relação à lei foram: I) a existência de órgãos
legislativos, cuja função específica é a criação do Direito; II) leis numerosas
surgem cada vez mais, regulando todas as matérias; III) frequentemente as leis
assumem forma de código, cobrindo todo o terreno a ser disciplinado; IV) a
lei é fácil de ser renovada, poupando com isso a formação de novos costumes;
V) atualmente, antes de se tornar costume, um hábito que se aplica bem se
torna lei; VI) o mundo moderno vive de urgência, impedindo a formação de
costume, que é de formação lenta; VIII) a vida jurídica exige cada vez mais
tecnicismo jurídico, e esse se realiza melhor com a lei.

Os costumes podem ser de três espécies: I) “secundum legem” (de acordo


com a lei) – é o costume que estabelece forma costumeira de interpretação ou
aplicação de uma lei, é o costume interpretativo; II) “praeter legem” (além da lei)
– é o que vigora na falta de preceito legal, a lei. A aplicação de costume nesses
casos é autorizada pelo artigo 4° da Lei de Introdução do Código Civil; III) “contra
legem” (contra a lei) – é o modo de agir aplicando prática costumeira contrária à
lei (por exemplo, o uso do cheque pré-datado).

NOTA

Costume é a prática pública e geral reiterada com constância e uniformidade, de


um modo de agir, acompanhado da obrigatoriedade jurídica.

• O REGULAMENTO E O CONTRATO COLETIVO OU INDIVIDUAL –


regulamento é uma norma jurídica geral expressa por escrito pelo chefe do
Poder Executivo, federal, estadual ou municipal, que, sem criar direito novo,
pormenoriza a lei, para fiel execução desta. Os regulamentos expressam-se por

38
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

meio de decretos. Há atos similares aos regulamentos, que não são leis nem
decretos, embora muitas vezes o pareçam, mas sim atos administrativos de
categoria inferior aos regulamentos e que não são editados pelo chefe do Poder
Executivo, tais como:

a) Portarias: em regra, de ministros ou diretores, pelos quais executam normas


de leis ou de decretos.
b) Instruções: atos administrativos de funcionários superiores com preceitos
dirigidos aos funcionários subordinados.
c) Ordens de serviço ou avisos: atos administrativos com que autoridades
administrativas transmitem ordens aos que lhe são subordinados.
d) Circulares: são atos de natureza de avisos ou de instruções, enviadas a muitas
autoridades subordinadas.
e) Resoluções: são atos administrativos de natureza das anteriores, mas
praticados por órgãos coletivos.

O contrato coletivo de trabalho é estabelecido por sindicatos ou associações


de empregados e empregadores que determinam regras para valerem nos contratos
individuais de trabalho. São considerados fontes do Direito por constituírem
normas jurídicas, que, regulando as condições de trabalho, prevalecem como lei
entre as partes.

NOTA

Regulamento é uma norma jurídica geral expressa por escrito pelo chefe do
Poder Executivo, federal, estadual ou municipal, que, sem criar direito novo, pormenoriza a
lei, para fiel execução desta.

NOTA

O contrato coletivo de trabalho é estabelecido por sindicatos ou associações de


empregados e empregadores que determinam regras para valerem nos contratos individuais
de trabalho.

Devemos ainda lembrar que o contrato individual também é considerado


como fonte do Direito. Assim, para o acordo entre vontades do contratante e
contratado, basta que estejamos diante de uma fonte. Este contrato é tratado como
um título executivo extrajudicial e pode ser foco de um processo de execução.

39
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

TUROS
ESTUDOS FU

Mais adiante nos aprofundaremos nos contratos individuais e também nos tipos
de processos, entre eles, o processo de execução, que foi mencionado.

• DOUTRINA – a doutrina é o trabalho dos juristas, dos estudiosos do


Direito, que definem e sistematizam os conceitos jurídicos, agrupando-os
em categorias, determinando sua natureza jurídica, compondo os institutos
jurídicos, construindo as teorias jurídicas e reunindo todos eles na formação
de disciplinas jurídicas. A doutrina, em primeira instância, define, isto é, fixa
os conceitos e em seguida sistematiza agrupando os conceitos jurídicos em
categorias jurídicas. São categorias jurídicas as categorias de pessoas físicas, de
pessoas jurídicas, de bens móveis, de bens imóveis, de fatos jurídicos e outros.
A doutrina determina a natureza jurídica de um elemento da vida jurídica,
ou seja, determina a sua essência e qualidade, enquadrando-o na categoria
jurídica própria. Dessa forma, levando em conta notas comuns e afinidades
entre conceitos ou categorias jurídicas e suas regras, a doutrina compõe os
institutos jurídicos. Instituto jurídico é um conjunto sistemático de conceitos e
normas relativo a uma situação, a um estado, a um procedimento, que tenha
unidade de conteúdo ou de fim. São institutos jurídicos o instituto da posse,
o instituto do casamento, o instituto da falência e outros. Da mesma forma,
a doutrina reúne os princípios fundamentais de certos institutos e constrói
teorias jurídicas. A reunião de todos os conceitos, categorias, institutos e teorias
leva-nos a uma classificação por assuntos, em disciplinas jurídicas, tais como:
Direito Constitucional, Direito Civil, Direito Tributário e outros. Podemos
também afirmar que a doutrina é o entendimento de um jurista ou até mesmo
um autor sobre determinado assunto jurídico de interesse da sociedade. Por
exemplo: em nossa área de TI existem livros que contemplam o Direito Digital,
mesmo não existindo a Lei de Direito Digital. Por outro lado, também existem
autores que tecem as suas considerações acerca do Direito Penal, por exemplo.

FIGURA 5 – ALGUNS EXEMPLOS DE DOUTRINAS NO DIREITO

40
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

FONTE: A autora

DICAS

Instituto jurídico é um conjunto sistemático de conceitos e normas relativo a


uma situação, a um estado, a um procedimento que tenha unidade de conteúdo ou de fim.

• JURISPRUDÊNCIA – a jurisprudência é a reiteração de decisões judiciais


num mesmo sentido, é a “auctoritas rerum judicatarum similiter”: autoridade
das coisas julgadas da mesma maneira. A doutrina influencia a jurisprudência,
que influencia a elaboração dos costumes ou normas jurídicas. Foi a nossa
jurisprudência que influenciou no estabelecimento de normas sobre o direito
da concubina a uma parte do patrimônio do companheiro que ajudou a formar.

NOTA

A jurisprudência é a reiteração de decisões judiciais num mesmo sentido.

Nos Estados Unidos e na Inglaterra, o sistema jurídico de normas formado


ou derivado de decisões judiciais chama-se sistema do case-law. As decisões judiciais
formam o precedente e com base nesse precedente outras decisões se apoiam e
assim por diante, a fim de que o caso em questão tenha decisão semelhante.

No Brasil não se aplica o sistema do case-law. As decisões judiciais se


apoiam no Direito Positivo, ou seja, no sistema de normas jurídicas elaboradas
pelos órgãos do Estado. A jurisprudência é o resultado de decisões reiteradas e
uniformes decorrentes da aplicação da lei ao caso concreto. Aqui, mesmo no caso
de lacuna da lei, o juiz deve se pronunciar recorrendo à analogia, aos costumes
e aos princípios gerais do direito, entendendo-se como os meios cujo emprego
permite suprir as deficiências inevitáveis das prescrições positivas do Direito.
41
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

TUROS
ESTUDOS FU

Mais adiante, trabalharemos com as lacunas do Direito e a analogia.

Para melhor ilustrar o que acabou de ser falado, que tal conhecermos
algumas jurisprudências? As jurisprudências que serão apresentadas agora são
baseadas em nossa área de TI. Vamos lá? Vejamos:

Antes de visualizarmos as jurisprudências, é importante esclarecer que aqui


veremos um resumo das jurisprudências, pois, conforme o caso, uma jurisprudência
pode ter muitas e muitas páginas, o que não caberia neste livro de estudos.

No cabeçalho da jurisprudência podemos visualizar a ementa, que é uma


espécie de resumo da jurisprudência. Ali constam as palavras-chave do caso.
Assim, pode-se ter uma ideia sobre o assunto, o andamento e o fechamento do
caso resumidamente. Se for o que é procurado, o interessado poderá ter acesso à
jurisprudência na íntegra.

Jurisprudência 1
RECURSO: APELAÇÃO CRIME
NÚMERO: 70.000.184.135
RELATOR: ALFREDO FOERSTER

EMENTA
Violação de direito autoral. Concorrência desleal. Publicidade enganosa.
Utilização, reprodução e publicação de material de propriedade da querelante,
por ato dos querelados não demonstrada. Autoria não comprovada. Prova
insuficiente para um juízo condenatório. Absolvição mantida. Apelo
improvido. (5 fls) (ACR n° 70.000.184.135, Sexta câmara criminal, TJRS, Relator:
Des. Alfredo Foerster, julgado em...).

No caso da jurisprudência 1, podemos observar um caso de apelação civil


de uma violação de direito autoral. Não nos cabe aqui mencionar o que é uma
apelação civil em detalhes, mas apenas para fins de esclarecimento, uma apelação
civil é uma forma de recurso.

Podemos verificar que a parte que entrou com o recurso não conseguiu
demonstrar o que objetivava, não havendo prova suficiente para uma condenação.
Logo, o recurso não foi aceito, ou seja, como falamos juridicamente, o recurso não
foi provido.

42
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

DICAS

Não se preocupe com os outros termos que talvez sejam novos para nós. O
objetivo destas jurisprudências que serão apresentadas é o de conhecimento global dos
casos. Tem como objetivo que nós tenhamos uma ideia geral do que está e será apresentado.

Jurisprudência 2
RECURSO: APELAÇÃO CÍVEL
NÚMERO: 597.067.735
RELATOR: ALDO AYRES TORRES

EMENTA
Direito autoral. Omissão do nome do fotógrafo junto à peça contida em
material publicitário. Indenização devida. O produto da atividade de fotógrafo
está amparado pela Lei n° 5.988/73. A publicação de fotografias sem constar a sua
origem ou a autorização de quem as produziu gera direito à indenização, cujo
valor deve levar em consideração, preponderantemente, as condições econômicas
do violador do direito, sob pena de se tornar inócua a condenação em relação
ao fim visado, não só retributivo ao desrespeito ao direito, como preventivo, de
molde a evitar futuras infringências, evitando-se ainda o enriquecimento sem
causa. Por maioria, desproveram ambos os recursos. (APC n° 597.067.735, Sétima
Câmara Cível, TJRS, Relator: Des. Aldo Ayres Torres, julgado em...).

Jurisprudência 3
RECURSO: AGRAVO DE INSTRUMENTO
NÚMERO: 70.000.774.638
RELATOR: VOLTAIRE DE LIMA MORAES

EMENTA
Ação de indenização de danos decorrentes de violação de direito autoral.
Foro competente. É competente o foro do domicílio do autor ou do local do
crime, a ação de ressarcimento de danos, fundada em violação de direito
autoral, conduta considerada criminosa pelo artigo 184 do Código Penal, pois
nesse caso há de ser aplicada a norma especial de competência que disciplina
a questão (artigo 100, parágrafo único, do CPC). Agravo de instrumento
improvido (3 fls.). (AGI n° 70.000.774.638, Décima Primeira Câmara Cível,
TJRS, Des. Voltaire de Lima Moraes, julgado em...).

43
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Jurisprudência 4
INDENIZAÇÃO – DIREITOS AUTORAIS – SOFTWARE – CÓPIAS
ILEGAIS – POSTERIOR AQUISIÇÃO DE LICENÇA

O uso irregular de software, através da instalação de cópias piratas em


computador, configura violação de direito autoral, ensejando indenização.
A posterior aquisição de licença para uso de software não inibe a aplicação
da sanção pelo ilícito preteritamente praticado.
Se a contrafação ocorreu em data anterior à vigência da Lei n° 9.610/98,
os princípios desta não devem influenciar na fixação da verba indenizatória, e
esta não deve ficar vinculada apenas ao valor correspondente a cada um dos
programas de uso irregular, havendo que ser considerado o caráter inibidor e
punitivo da medida.

Jurisprudência 5
APELAÇÃO CRIMINAL. ESTELIONATO. INTERROGATÓRIO
REALIZADO SEM ASSISTÊNCIA DE DEFENSOR. NULIDADE INSANÁVEL
DECRETADA DE OFÍCIO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. PRECEDENTES DESTA
CORTE. (Apelação Crime nº 70012926002, Sexta Câmara Criminal, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: João Batista Marques Tovo, Julgado em 10/11/2005).

Jurisprudência 6
Aluno é expulso de colégio por ter jogado “bombinhas” na escola;
confessou o ato em troca de conversas em redes sociais.

Caso: Aluno participou de grupo que jogava bombinhas pelo colégio


no primeiro dia de aula. Inicialmente, negou a prática. Posteriormente, foi
comprovado por troca de conversas em redes sociais que ele foi o autor do ato.

EMENTA
APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. EXPULSÃO
DE MENOR DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO. EXISTÊNCIA DE
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. CONTRADITÓRIO E AMPLA
DEFESA OPORTUNIZADOS.

Demonstrando os autos, a existência de regular procedimento


administrativo, com contraditório e ampla defesa; ausente direito líquido
e certo do impetrante a ser amparado por comandos, correta a decisão que
denegou a segurança. Apelo desprovido.

Desfecho: Aluno expulso do colégio pela prática indevida.


Apelação Cível nº 70021381850, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: José Ataídes Siqueira Trindade, Julgado em: 01/11/2007.

44
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

Jurisprudência 7

“RITO SUMARÍSSIMO. RECURSO ORDINÁRIO. JUSTA CAUSA. ART.


482, "b", DA CLT. Burla de regras da empresa para acesso a sítios, o que era
vedado. Norma regulamentar da qual o reclamante tinha conhecimento prévio.
Computador e internet, instrumentos de trabalho utilizados irregularmente,
para uso pessoal.
Incontinência de conduta e mau procedimento. Falta grave que está
caracterizada”.
(TRT02, RO 01875200843102004, Relator Carlos Francisco Berardo,
Julgado em 17/02/2009).

Jurisprudência 8
USO INDEVIDO DE E-MAIL
Demissão por justa causa. Não há privacidade no ambiente de trabalho.

EMENTA
Despedida por justa causa. Mau procedimento. Uso indevido de correio
eletrônico.
Quando se caracteriza. Prova que evidencia a utilização do e-mail funcional,
pelo empregado, para difundir informações tendentes a denegrir a imagem da
empregadora. Constitui justa causa para a despedida o uso indevido do correio
eletrônico fornecido pelo empregador, não se podendo cogitar de infração ao
disposto no artigo 5º, inciso XII da CF, já que o serviço de “e-mail” é ferramenta
fornecida para uso estritamente profissional. Sentença mantida.
Acórdão nº 00168-2007-203-04-00-3 RO, TRT 4ª Região.

• PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO – outra fonte do Direito que pode ser


utilizada em um processo. Segundo Campos (2005), os princípios gerais do
Direito são as proposições diretivas do Direito Positivo que devem ser aplicadas
no caso em julgamento, na ausência de outra fonte formal. Há regras que o
legislador não chegou a editar sob a forma de preceitos, mas que se contêm no
espírito de todo o sistema jurídico.

Desta forma, o juiz poderá utilizar-se dos princípios gerais do Direito, que
já estudamos, para embasar-se, fundamentar a sua decisão em algum processo.

• LACUNAS NO DIREITO

Ocorre quando uma determinada matéria não é regulada por nenhuma


legislação. Nesses casos recorre-se à analogia e aos costumes. Se formos procurar
pela palavra analogia em um dicionário jurídico, encontraremos o seguinte:

45
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Analogia: é a semelhança entre coisas diferentes. Semelhança. Na


língua se dá pela construção de ideias baseadas nas já existentes.
Sinônimos: semelhança, aproximação, ponto em comum, paridade,
similitude, ligação, comparar, relacionar, comparação, afinidade,
analogia, conexão, conformidade, parentesco, relação, tendência,
armadura, coerência, conjunção.
Antônimos: dessemelhança, diferenciação, disparidade, diferença
(SILVA, 1984, p. 124).

Em nossa área de TI, muitas são as vezes em que ocorrem as lacunas no


Direito. Lacuna nada mais é que um espaço em branco deixado pela legislação. É
quando, conforme já foi dito, não existe lei para disciplinar determinado assunto,
ou quando uma lei existente não contempla determinada questão. Na área de TI
não existe uma legislação própria para os crimes eletrônicos até então. Claro que
nem por isso um caso de crime eletrônico vai deixar de ser julgado. O que se tem
feito comumente é recorrer à analogia, utiliza-se então de legislação semelhante,
similar e que se adéqua ao caso, como podemos citar o Código Penal, o Código
de Processo Penal, o Código Civil (para o caso de indenizações, por exemplo),
o Código de Processo Civil, o Código de Defesa do Consumidor (para o caso
das relações de consumo e-commerce), jurisprudências, doutrinas e costumes,
conforme já estudamos.

Resumindo, utilizamos da analogia quando ocorre uma lacuna em


nosso direito; quando não há uma lei para disciplinar determinado caso. Então,
utilizamos uma lei que se enquadre no caso, como é o caso dos crimes eletrônicos,
conforme já mencionado no parágrafo anterior.

HIERARQUIA DAS LEIS

Para Martins (2011), o artigo 59 da nossa Constituição dispõe quais são


as normas existentes no sistema jurídico brasileiro. Não menciona que haja
hierarquia entre umas e outras. A hierarquia entre as normas somente viria a
ocorrer quando a validade de determinada norma dependesse de outra, onde
esta regularia inteiramente a forma de criação da primeira norma. É certo que a
Constituição é hierarquicamente superior às demais normas, pois o processo de
validade destas é regulado pela primeira. Abaixo da Constituição estão os demais
preceitos legais, cada qual com campos diversos: leis complementares, leis
ordinárias, decretos-leis (nos períodos em que existiram), medidas provisórias,
leis delegadas, decretos legislativos e resoluções. Não há dúvidas de que os
decretos são hierarquicamente inferiores às primeiras normas, até porque não
são emitidos pelo Poder Legislativo, mas pelo Poder Executivo. Após os decretos,
há normas internas da administração pública, como portarias, circulares, ordens
de serviço etc., que são hierarquicamente inferiores aos decretos. Para melhor
ilustrar, podemos observar a figura a seguir.

46
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

FIGURA 6 – HIERARQUIA DAS LEIS

FONTE: Adaptado de Martins (2011)

Vale a pena lembrar que o objetivo da hierarquia das leis é fazer saber
que todas as outras “leis” que venham a ser criadas ou as já existentes devem,
obrigatoriamente, obedecer à Constituição Federal e as suas emendas, sob pena
de serem consideradas inconstitucionais. Uma vez declarada inconstitucional,
uma lei perde a sua validade, não surtindo mais efeitos sobre as pessoas e os
acontecimentos. Veremos agora algumas das leis que compõem a hierarquia das
leis, de modo resumido:

• Constituição Federal e as Emendas Constitucionais – alteração do texto


constitucional. Ex.: art. 60 da Constituição Federal.
• Lei Complementar – quando a Constituição Federal pede. Ex.: art. 59, parágrafo
único da Constituição Federal. Vejamos:
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração,
redação, alteração e consolidação das leis.

• Lei Ordinária – uma lei municipal, estadual e federal. Ex.: Lei de Software – Lei
n° 9.609/98 e a Lei de Direitos Autorais – Lei n° 9.610/98.

NOTA

Iremos estudar a Lei de Software e a Lei de Direitos Autorais mais adiante.

• Medida Provisória – em caso de relevância e urgência, o Presidente da República


poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de
imediato ao Congresso Nacional para transformá-las em lei, num prazo de 60
dias, prorrogáveis por mais 60 dias (art. 62 da Constituição Federal). Vejamos:
47
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República


poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de
imediato ao Congresso Nacional.

ELEMENTOS DE UMA RELAÇÃO JURÍDICA

Segundo Campos (2005), são elementos da relação jurídica:

I- Poder social, que garante e protege a relação jurídica, representado pelo Estado
e por seus órgãos administrativos.
II- Norma de direito positivo, que disciplina a relação jurídica, estabelece a
suaforma, limites e tipos determinados, conteúdo, finalidade e extensão no tempo
e no espaço.
III- Os sujeitos ativos e passivos, representados pelas partes envolvidas nos
direitos, deveres e obrigações resultantes da relação.
IV- O dever jurídico, consistente na obrigação em si a prestar ou executar, contido
na norma jurídica que disciplina a relação.
V- O objeto da relação jurídica, ou seja, o bem perseguido.
VI- O fato jurídico, isto é, o acontecimento da vida que envolve a relação e está
previsto pela norma jurídica.
VII- O interesse e a subordinação, elementos motores da vontade dos sujeitos
vinculados ao objeto.

Abram (2008) afirma que o sujeito ativo é o que é o titular de direitos e


que pode exigi-lo de quem deva cumprir uma obrigação, que é chamado sujeito
passivo, que deve fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Assim, por exemplo,
quando falamos que Pedro se tornou titular de um direito de propriedade sobre
determinado bem que adquiriu, podemos dizer que este é o Sujeito Ativo nesta
relação, enquanto aquela pessoa que o vendeu torna-se o Sujeito Passivo nesta
relação, pois terá que cumprir o que determina a norma (entregar o bem).

É importante salientar que outras interpretações também são dadas a este


assunto. Vamos conferir?

• Autor ou sujeito ativo: quem invoca a prestação jurisdicional do Estado.


Lembrando que o autor poderá ser tanto pessoa física quanto pessoa jurídica.
Poderão também existir mais de um autor no caso em andamento.
• Réu ou sujeito passivo: é aquele que será chamado pelo Estado para prestar
contas acerca dos fatos que são alegados contra ele. Assim, como acontece com
o autor, o réu também poderá ser tanto pessoa física como pessoa jurídica e
poderão existir no processo mais de um réu.
• Estado: instituído na figura do juiz. Pois é o Estado que se movimenta para a
prestação jurisdicional através da figura do juiz no processo, conforme for o caso.
• Objeto: é o tipo da ação em que se relaciona qual assunto será discutido no
processo. Por exemplo: se o autor entrou com um processo de indenização por
danos morais contra o réu, a referida indenização é o objeto da relação jurídica,
ou seja, é a razão de existir da ação.

48
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

3 O QUE É O PROCESSO?
Pela formação da palavra, o processo tem o sentido de marcha para frente,
avanço, progresso ou desenvolvimento.

A acepção mais conhecida de processo é o processo judicial, que são os


instrumentos postos à disposição do Poder Judiciário para o exercício de suas
funções típicas. O processo judicial é o instrumento pelo qual se opera a jurisdição,
cujos objetivos são eliminar conflitos e fazer justiça por meio da aplicação da lei
ao caso concreto.

É comum a confusão entre processo, procedimento e autos. O procedimento


é a sequência formal de atos consistente no desenvolvimento do processo. Em
um processo pode haver mais de um procedimento. Os autos são o conjunto
de documentos que se ordenam cronologicamente para materializar os atos do
procedimento. O processo, por sua vez, caracteriza-se pela sua finalidade, qual
seja, a jurisdição; é o “instrumento para o legítimo exercício de poder” (CINTRA;
GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p. 296).

Por intermédio do processo, o direito estabelece uma relação de


cooperação entre as partes para a consecução de um objetivo comum (solução
da controvérsia), segundo a qual as partes estão interligadas por uma série de
direitos, faculdades, obrigações, sujeições e ônus. São pressupostos gerais para a
constituição da relação processual: (I) uma demanda regularmente formulada; (II)
capacidade de quem a formula; e (III) presença de um juiz devidamente investido
de poderes pelo Estado. Se presentes tais pressupostos, a relação processual será
devidamente instaurada, independentemente da validade do direito substancial
em questão (BARROSO, 2000). Isto caracteriza a autonomia da relação processual
em relação ao direito material controvertido.

Para Moreira (2005), o processo é uma categoria jurídica que pode ser
definida como o procedimento em contraditório. Por isso, o processo não é um
bloco monolítico, pois inclui várias divisões.

Para Pereira (2012), o processo judicial é o instrumento pelo qual o Estado


atua através do Poder Judiciário visando à pacificação social, seja solucionando
conflitos nos casos em que há conflito, seja apenas declarando uma situação
jurídica nos casos em que não há conflito, como um divórcio consensual, por
exemplo. É considerado pela autora como um instrumento de justiça.

Um instrumento é algo utilizado por alguém para se chegar a um


determinado fim. Instrumento pode ser definido como: “o que é empregado para
conseguir um resultado” na aplicação do Direito. “Instrumento é documento em
que se corporifica um ato jurídico e que se destina a servir-lhe de prova”, também
diz ser “ato escrito que termina uma negociação, documenta o acordo das partes
contratantes e as vincula para o futuro” (REALE, 1972).

49
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

No processo em geral constam as questões de fato e de direito, bem como


as decisões judiciais acerca da questão posta, com o objetivo de obter do Estado
a tutela jurisdicional pretendida, ou seja, o bem pleiteado, objetivado ou sua
negação, conforme o julgamento final.

O processo é um instrumento da justiça, porque é o meio pelo qual a


pessoa física ou jurídica exercita o seu direito de ação provocando a justiça para
garantir o seu direito material. É o meio pelo qual a justiça se utiliza para resolver
conflitos e promover a justiça e a paz social, visando garantir o direito a quem
o tiver. É um meio para atingir um fim, em que o meio é o processo e o fim é a
justiça efetiva.

Processo também pode ser definido como um conjunto de atos


concatenados colocados à disposição do Estado instituído na figura do juiz para
que se resolva uma lide, entregando o bem da vida a quem de direito e de modo
último, garantindo a pacificação social.

O parágrafo anterior traz alguns termos ainda não vistos neste livro de
estudos. O primeiro termo é “conjunto de atos concatenados”, que explica que o
processo é um conjunto de documentos, provas, pedidos que são feitos em ordem,
em sequência, um após o outro. O outro termo é lide. Lide pode ser considerado
como o problema que se instalou. Lide também é considerado como disputa.
O bem da vida representa o que se busca. Dependendo do processo, o bem da
vida será diferente. Se no processo a parte estiver buscando uma indenização
por danos morais, esta indenização será o bem da vida. A pacificação social é o
objetivo maior do Direito. É a paz social. É que toda a sociedade esteja vivendo
em paz, em harmonia.

4 TIPOS DE PROCESSO
Mais comumente em nossa área iremos nos deparar com três tipos de
processos judiciais. São eles:

• Processo de Conhecimento: é o processo em que se faz o pedido, apresentam-


se e examinam as provas com o objetivo de obter uma prestação jurisdicional
favorável. O objetivo do autor é que seu direito seja conhecido, por isso,
processo de conhecimento.

Este processo, normalmente, é o primeiro processo que as partes (autor e


réu) ajuízam para ter o seu direito conhecido pelo Poder Judiciário, porque, até
então, o juiz não tinha conhecimento do que estava acontecendo.

50
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

NOTA

Existe um dizer no Direito muito conhecido: “O Direito não socorre a quem


dorme!” Isso significa que as partes devem se manifestar perante o Judiciário para terem o
seu direito reconhecido. Se elas deixarem o tempo passar e nada fizerem, o Direito também
não vai agir e o seu direito não vai ser reconhecido.

Nesse processo as partes argumentarão, trarão as provas do que estão


alegando no processo, o juiz marcará audiências, se for o caso, para procurar
formar o seu convencimento e decidir o processo.

O processo é decidido através da sentença, que é um título executivo


judicial. A sentença, por sua vez, pode ter três resultados. Vamos verificar:

• Sentença procedente: ocorre quando o juiz julga procedente, ou seja, julga de


modo favorável o pedido do autor. Assim, por exemplo, se João pediu uma
indenização por danos morais por violação de direito de software no valor de
R$ 10.000,00 (dez mil reais) e o juiz acatou o seu pedido lhe julgando o processo
procedente e lhe dando os R$ 10.000,00 (dez mil reais), podemos afirmar que o
processo teve um resultado procedente. A seguir, podemos verificar o final de
uma sentença com o resultado procedente. Acompanhe!

Ante o exposto, com fulcro no art. 269, I, JULGA-SE PROCEDENTE


o pedido formulado na inicial, para condenar a requerida, Fulano de
Tal, a pagar ao autor, Ciclano de tal, a diferença entre o valor pago e o
devido, perfazendo o montante de R$ 12.582,50, corrigidos pela taxa
SELIC, nesta englobadas juros e correção monetária, conforme dicção
do art. 406. Código Civil. Disponível em: <http://modelinhosdomonk.
blogspot.com.br/2009/05/modelo-de-setenca-dpvat-procedente.html>.
Acesso em: 5 jun. 2013.

• Sentença parcialmente procedente: ocorre quando o juiz julga parcialmente


procedente, ou seja, julga o pedido do autor procedente em parte. Assim, no
caso do exemplo anterior, se João pediu uma indenização por danos morais
por violação de direito de software no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e
o juiz acatou em parte o seu pedido lhe julgando o processo parcialmente
procedente e lhe atribuindo o valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais), podemos
afirmar que o processo teve um resultado procedente em parte, pois o autor
não “perdeu” completamente o processo, mas também não recebeu o que foi
pleiteado. A seguir, podemos verificar o final de uma sentença com o resultado
parcialmente procedente. Acompanhe!

51
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pedido inicial


para:
a) condenar o INSS a recalcular a renda mensal inicial do benefício da
autora, para incluir o índice integral do IRSM de fevereiro/94 (39,67%), no
cálculo de atualização dos salários de contribuição anteriores a março de 1994
e que integram o período básico de cálculo;
b) pagar à parte autora as diferenças decorrentes deste reajustamento,
respeitada a prescrição quinquenal, corrigidas monetariamente nos termos da
Lei nº 6.899/81, desde quando devidas, e acrescidas de juros moratórios de
0,5%, ao mês, a contar da citação até a vigência do Código Civil de 2003, e após
esta data, no percentual de 1% ao mês.
c) indeferir o pedido de revisão nos meses de novembro e dezembro
de 1993 e fevereiro de 1994, em virtude da conversão em URV sem a variação
integral do IRSM no período.
Os valores recebidos a título de antecipação de tutela referentes à parte
do pleito que foi indeferido pela presente decisão deverão ser ressarcidos
pela beneficiária, sendo que a quantia devida será apurada em liquidação de
sentença e devidamente compensada.

FONTE: Disponível em: <http://modelinhosdomonk.blogspot.com.br/2009/05/modelo-de-


sentenca-revisao-de-beneficio.html>. Acesso em: 5 jun. 2013.

• Sentença improcedente: ocorre quando o juiz julga improcedente o pedido do


autor, ou seja, a sentença improcedente ocorre quando o juiz não reconhece
o direito do autor. Assim, no caso do exemplo anterior, se João pediu uma
indenização por danos morais por violação de direito de software no valor de
R$ 10.000,00 (dez mil reais) e o juiz julgou improcedente o seu pedido, João
não terá o seu direito reconhecido, assim, não receberá o valor solicitado no
processo. A seguir, para melhor ilustrar, podemos verificar o final de uma
sentença com o resultado parcialmente improcedente. Acompanhe!

Posto isso, julgo IMPROCEDENTES os pedidos formulados na


petição inicial, por Fulano, na Ação Trabalhista proposta em
face de Empresa Tal, nos limites e parâmetros estabelecidos na
fundamentação precedente, que é parte integrante deste dispositivo,
para todos os efeitos legais. Custas pelo reclamante no importe de R$
736,53, calculadas sobre o valor atribuído à causa, ficando isento de
recolhimento, na forma da lei. Sentença pública após a data designada.
Intimem-se as partes e o INSS, este na forma da RA nº 47/03. NADA
MAIS. Disponível em: <http://www.centraljuridica.com/sentenca/1/
direito_do_trabalho/improcedencia_aos_pedido_de_horas_extras_
premio_de_qualidade.html>. Acesso em: 5 jun. 2013.

Há de se verificar também que no processo de conhecimento acontecem


as intimações e citações cabíveis. Há uma diferença bastante considerável entre
você receber em sua residência, das mãos de um oficial de justiça, um mandado
de intimação e um mandado de citação.

52
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

Conforme o artigo 238 do Novo Código de Processo Civil (CPC), citação


é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender.
Confira: “Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o
interessado para integrar a relação processual”.

Para a sua defesa, o réu deverá utilizar-se do princípio da ampla defesa e


do contraditório, conforme já estudados.

Segundo o art. 269 do novo CPC, intimação é o ato pelo qual se dá ciência
a alguém dos atos e termos do processo, para que faça ou deixe de fazer alguma
coisa. Vejamos: “Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos
termos do processo”.

A intimação comunica às partes ou a alguém dos atos e termos do processo


para que, querendo, se manifeste. Assim, as partes são comunicadas de atos que
estão acontecendo durante o processo para que elas possam tomar conhecimento
e responder de alguma forma.

Outras definições também são dadas ao processo de conhecimento,


segundo alguns autores. Vejamos:

No processo de conhecimento, o órgão jurisdicional declara qual das


partes tem direito à pretensão deduzida. As partes, portanto, formulam pedidos
aos órgãos da jurisdição, obtendo ou não procedência. Em caso de procedência,
será acolhida a pretensão do autor; em caso contrário, desacolhida.

Os processos de conhecimento se subdividem, de acordo com a natureza


do provimento, em:

• meramente declaratório;
• constitutivo;
• condenatório.

Os processos meramente declaratórios, como o próprio nome diz,


declaram a existência ou não de uma relação jurídica em uma determinada
situação de fato (art. 20, novo CPC). Temos como exemplo uma ação declaratória
de inexistência de débito. No processo penal são meramente declaratórios, por
exemplo, os habeas corpus. As extinções de punibilidade também são meramente
declaratórias. Os processos meramente declaratórios podem ser positivos ou
negativos, declarando, respectivamente, que existe ou não uma relação jurídica.

Os processos constitutivos são aqueles que criam, modificam ou


extinguem uma relação jurídica. Os processos constitutivos necessários são
aqueles em que a modificação, constituição ou desconstituição da relação
jurídica só pode ocorrer por meio jurisdicional. Ex.: nulidade do casamento. Já os

53
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

processos constitutivos não necessários são aqueles que podem ser conseguidos
extrajudicialmente. Ex.: nulidade de atos jurídicos.

Os processos condenatórios são aqueles que se encerram com uma


sentença condenatória, apresentando uma sanção. A partir da mesma, passa
a parte a ter um título executivo. O processo condenatório também ocorre na
esfera criminal e também gera um título executivo que pode ser objeto de um
processo de execução.

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.


htm>. Acesso em: 5 jul. 2017.

• Processo de Execução: é um processo em que o autor busca a execução de um


título judicial (sentença do processo de conhecimento) ou extrajudicial (um
contrato, uma nota promissória ou cheque, por exemplo) em que o devedor
será citado para pagar ou nomear bens à penhora, que serão então leiloados a
fim de saldar a dívida com o credor.

NOTA

Podemos perceber que o parágrafo anterior se referiu a um título. Este título


pode ser constituído na sentença do processo de conhecimento.

Em nossa área de TI podemos ainda ter pedidos cautelares (tutela


cautelar), em que não é mais necessário entrar com um processo em separado,
como preconizado no antigo CPC.

Um caso muito típico em nossa área é no sentido de busca e apreensão


de cópias ilegais (piratas) para que estas sejam apreendidas. De acordo com o
novo CPC, isso poderá ser solicitado nos autos da ação principal (processo de
conhecimento, por exemplo), sem necessitar de um processo autônomo, como
ocorria no antigo Código de Processo Civil.

A própria Lei de Software estabelece que poderão ocorrer pedidos cautelares


em nossa área. Assim, não precisaremos aguardar o resultado de um processo de
conhecimento para que as cópias piratas sejam apreendidas do estabelecimento
do infrator. Vamos conferir o que o art. 13 da Lei de Software coloca neste sentido?

54
TÓPICO 3 | O DIREITO NA PRÁTICA

Art. 13. A ação penal e as diligências preliminares de busca e


apreensão, nos casos de violação de direito de autor de programa de
computador, serão precedidas de vistoria, podendo o juiz ordenar a
apreensão das cópias produzidas ou comercializadas com violação de
direito de autor, suas versões e derivações, em poder do infrator ou
de quem as esteja expondo, mantendo em depósito, reproduzindo ou
comercializando.

TUROS
ESTUDOS FU

Não se preocupe, estudaremos mais adiante a Lei de Software!

55
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Segundo Martins (2011), a palavra fonte vem do latim fons, com o significado
de nascente, manancial.

• Para Abram (2008, p. 56), a palavra fonte tem sentido de “origem, gênese, de
onde provém” (água).

• Para Martins (2011), o estudo das fontes do Direito pode ter várias acepções,
como sua origem, fundamento de validade das normas jurídicas e a própria
exteriorização do Direito.

• Para Campos (2005), vários são os sentidos que se podem tomar para a
expressão fontes do Direito. Podemos analisar as fontes do ponto de vista
histórico, social, filosófico e material do Direito.

• É importante deixarmos claro que fontes do Direito podem ser consideradas


meios através dos quais podemos buscar o Direito, de onde vem o Direito.

• O que é importante frisar é que a lei não é a única fonte do Direito.

• Podemos citar como fontes do Direito: I) a Lei; II) o costume; III) o regulamento e o
contrato coletivo ou individual; IV) a doutrina; V) precedente e jurisprudência;
VI) princípios gerais do Direito.

• Para Campos (2005), lei é uma norma jurídica abstrata e geral expressa por
escrito pelo Estado, com criação de direito novo.

• A lei possui cinco características: a abstração; a generalidade; a estatalidade; a


escrita e a novidade.

• Os tratados que são normas jurídicas gerais expressas por escrito pelo Estado,
que são atos de acordo de vontades entre dois países e regulam situações
particulares de interesse direto deles.

• Costume é a prática pública e geral, reiterada com constância e uniformidade,


de um modo de agir.

• As primeiras leis foram costumes que se fixaram por escrito.

• O regulamento e o contrato coletivo ou individual são normas jurídicas gerais


expressas por escrito pelo chefe do Poder Executivo, federal, estadual ou municipal,
que, sem criar direito novo, pormenoriza a lei, para fiel execução desta.
56
• Os regulamentos expressam-se por meio de decretos.

• Devemos ainda lembrar que o contrato individual também é considerado com


fonte do Direito. Assim, o acordo entre vontades do contratante e contratado
basta para que estejamos diante de uma fonte.

• A doutrina é o trabalho dos juristas, dos estudiosos do Direito, que definem e


sistematizam os conceitos jurídicos, agrupando-os em categorias, determinando
sua natureza jurídica, compondo os institutos jurídicos, construindo as teorias
jurídicas e reunindo todos eles na formação de disciplinas jurídicas.

• A jurisprudência é a reiteração de decisões judiciais num mesmo sentido.

• A doutrina influencia a jurisprudência, que influencia a elaboração dos


costumes ou normas jurídicas.

• No cabeçalho da jurisprudência podemos visualizar a ementa, que é uma


espécie de resumo da jurisprudência.

• Os princípios gerais do Direito são outra fonte do Direito e podem ser utilizados
em um processo.

• Segundo Campos (2005), os princípios gerais do Direito são as proposições


diretivas do Direito Positivo, que devem ser aplicadas no caso em julgamento,
na ausência de outra fonte formal.

• Desta forma, o juiz poderá utilizar-se dos princípios gerais do Direito (que já
estudamos) para embasar-se, fundamentar a sua decisão em algum processo.

• Lacunas no Direito ocorrem quando uma determinada matéria não é regulada


por nenhuma legislação. Nesses casos, recorre-se à analogia e aos costumes.

• Na área de TI não existe uma legislação própria para os crimes eletrônicos.


O que se tem feito comumente é se recorrer à analogia, utiliza-se então de
legislação semelhante, similar e que se adéqua ao caso, como podemos citar
o Código Penal, o Código de Processo Penal, o Código Civil (para o caso de
indenizações, por exemplo), o novo Código de Processo Civil, o Código de
Defesa do Consumidor (para o caso das relações de consumo e-commerce),
jurisprudências, doutrinas e costumes, conforme já estudamos.

• Vale a pena lembrar que o objetivo da hierarquia das leis é fazer saber que
todas as outras “leis” que venham a ser criadas ou as já existentes devem,
obrigatoriamente, obedecer à Constituição Federal e as suas emendas, sob
pena de serem consideradas inconstitucionais.

• São considerados elementos da relação jurídica: autor ou sujeito ativo, réu ou


sujeito passivo, Estado e objeto.

57
• O processo é um instrumento da justiça, porque é o meio pelo qual a pessoa
física ou jurídica exercita o seu direito de ação provocando a justiça para
garantir o seu direito material. É o meio pelo qual a justiça se utiliza para
resolver conflitos e promover a justiça e a paz social, visando garantir o direito
a quem o tiver. É um meio para atingir a um fim, em que o meio é o processo e
o fim é a justiça efetiva.

• Processo também pode ser definido como um conjunto de atos concatenados


colocados à disposição do Estado instituído na figura do juiz para que se
resolva uma lide, entregando o bem da vida a quem de direito e de modo
último, garantindo a pacificação social.

• Como tipos de processo temos o Processo de Conhecimento, Processo de


Execução, Processo Cautelar.

• Uma vez decretada a revelia, consideram-se verdadeiros todos os fatos alegados


pela outra parte, no caso o autor.

• O processo de conhecimento é o processo em que se faz o pedido, apresentam-


se e examinam as provas com o objetivo de obter uma prestação jurisdicional
favorável. O objetivo do autor é que seu direito seja conhecido, por isso,
processo de conhecimento.

• O processo de conhecimento pode resultar em uma sentença procedente,


parcialmente procedente ou improcedente.

• Citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se


defender.

• Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo,
para que faça ou deixe de fazer alguma coisa.

• A intimação comunica as partes ou alguém dos atos e termos do processo para


que, querendo, se manifeste.

• Em nossa área de TI podemos ter tutelas cautelares no sentido de busca e


apreensão de cópias ilegais (piratas) para que estas sejam apreendidas.

58
AUTOATIVIDADE

1 Entre as fontes do Direito podemos citar:

a) ( ) Leis, programas de televisão e revistas.


b) ( ) Somente as leis e os costumes.
c) ( ) Leis, jurisprudências, doutrinas, contratos, costumes.
d) ( ) Jurisprudências e as convenções internacionais não são consideradas
fontes do Direito.

2 Segundo a hierarquia das leis, analise as alternativas e assinale a(s) correta(s):

a) ( ) A hierarquia tem como objetivo fazer valer uma Lei Ordinária sobre
qualquer outra lei que venha a ser criada.
b) ( ) A hierarquia tem como objetivo fazer valer a Constituição Federal em
detrimento de outra lei.
c) ( ) Caso uma lei desobedeça à Constituição Federal, ela se torna
inconstitucional.
d) ( ) A Lei n° 9.609/98 (Lei de Software) é um exemplo de Lei Ordinária.

3 O Direito Comercial é um ramo do:

a) ( ) Direito Público.
b) ( ) Direito Internacional.
c) ( ) Direito Administrativo.
d) ( ) Direito Privado.

4 Sobre as lacunas do Direito, é CORRETO afirmar que:

a) ( ) São situações que estão previstas em lei e, portanto, o juiz pode optar
por outras fontes para resolver o caso.
b) ( ) São situações que não estão disciplinadas em lei e, dessa forma, se pode
recorrer à analogia, utilizando de outras fontes do direito.
c) ( ) O Direito Brasileiro não admite lacunas, tampouco se recorrer à analogia.
d) ( ) Sempre que ocorrer alguma lacuna, o juiz deve julgar o pedido
improcedente e a parte vencida deve recorrer para o tribunal superior para
uma segunda análise.

5 Sobre os termos citação e intimação, é correto afirmar que:

a) ( ) Não há diferença entre os dois termos.


b) ( ) A intimação é a chamada do autor ao processo para que esse possa se
defender.
c) ( ) A citação é um direito atribuído ao autor.
d) ( ) A citação é a chamada do réu ao processo para que esse possa se
defender.
59
6 Sobre os princípios do Direito, leia as alternativas a seguir e assinale a correta:

a) ( ) O princípio da ampla defesa afirma que uma parte pode responder a


todas as acusações que são feitas pela outra parte.
b) ( ) O princípio da publicidade afirma que todos os processos, sem exceção,
são públicos.
c) ( ) O princípio do contraditório afirma que uma parte pode responder a
todas as acusações que são feitas pela outra parte.
d) ( ) O princípio da boa-fé demonstra que uma das partes deve se utilizar da
falta de informação ou conhecimento da outra parte para obter proveito.

7 Comente sobre os tipos de processos estudados.

8 O que ocorre quando em um processo é decretada a revelia?

60
UNIDADE 1
TÓPICO 4

SANÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL

1 INTRODUÇÃO
O Tópico 3 foi reservado para o estudo das relações contratuais mais
especificamente na área de TI. Neste tópico, abordaremos sobre a sanção do
novo Código de Processo Civil (CPC), Lei 13.105/2015, que entrou em vigor em
17/03/2016.

O Código de Processo Civil tem como objetivo especificar como tramita


um processo judicial, como os prazos, formas de tramitações, tipos de recursos,
competências, dentre outros aspectos.

O “antigo” Código de Processo Civil, utilizado até há pouco tempo, foi


editado no ano de 1973 durante o regime militar, pelo então ministro da Justiça
Alfredo Buzaid. O novo Código de Processo Civil é o primeiro código a ser
aprovado sob a égide do Estado democrático de Direito e prestigia os princípios
constitucionais, como o princípio da isonomia, devido processo legal, dentre
outros que serão analisados durante nosso estudo.

A sanção no Novo Código de Processo Civil visa, dentre outros motivos,


reduzir o formalismo jurídico, democratizar o acesso à justiça para todos.
É evidente que busca tornar a tramitação do processo mais célere e menos
burocrática, de modo que traga à sociedade maior agilidade e rapidez em sua
causa, a fim de alcançar uma duração razoável para o processo.

Em seguida, serão mencionados aspectos novos trazidos pela Lei


13.105/2015, sem a intenção de esgotar o tema.

2 A SANÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (LEI


N° 13.105/2015) – PRINCÍPIOS GERAIS DO NOVO CPC
O novo Código de Processo Civil se baseia nos princípios constitucionais
e busca trazer um processo civil dito constitucional com todas as garantias do
Estado democrático de Direito. É o que preceitua o artigo 1° no novo CPC.
Vejamos: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme
os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código”.

61
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Em nome disso, o novo Código de Processo Civil abriu mão de 12 artigos


na parte geral para tratar desses princípios. Dentre eles, podemos citar alguns
dos princípios trazidos pelo Novo Código de Processo Civil: do contraditório,
da cooperação, da boa-fé objetiva, da dignidade humana, da duração adequada
do processo, da eficiência na prestação da tutela jurisdicional, da fundamentação
adequada das decisões judiciais. Câmera (2016, p. 50) traz um conceito sobre o
novo Código de Processo Civil brasileiro:
O processo civil brasileiro é um procedimento em contraditório que
se desenvolve de forma isonômica perante o juiz natural destinado a
permitir a construção de decisões fundamentadas em tempo razoável
sobre qualquer pretensão que se deduza em juízo. É o acesso universal
à justiça. É um devido processo legal, que pode até ser chamado de
um devido processo constitucional, porque baseado integralmente na
Constituição brasileira.

O novo Código de Processo Civil busca assegurar o direito a um processo


justo, sendo um processo que dure o tempo razoável para a solução do conflito.
A razoável duração do processo não significa que o processo deve ser rápido.
A razoável duração do processo tem a ver com um processo justo e que dure
o tempo necessário para se assegurar o contraditório efetivo (apresentação de
provas), chegando a uma solução justa, a um resultado justo para ambas as partes
envolvidas no processo.

O novo CPC traz em seu artigo 6° o princípio da cooperação: “Todos os


sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva”.

Isso significa que as partes envolvidas no processo, juntamente com o juiz,


devem cooperar para que o processo perdure no devido tempo razoável, mesmo
atuando em polos distintos no processo, atuando para o melhor desenvolvimento
do processo, de modo que resulte em um resultado justo para as partes.

O novo CPC prevê também a prestação de uma tutela adequada e efetiva,


conforme preconiza o artigo 3º no novo CPC. Vejamos:
Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a
direito.
§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual
dos conflitos.
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual
de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do
processo judicial.

Uma forma adequada é aquela que é capaz de promover a realização do


direito material da parte e é efetiva se ela entregar à parte o que é objetivado por
esta com o processo.

62
TÓPICO 4 | SANÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Outro princípio muito importante no novo CPC e que tem ampla relação
com o Estado democrático de Direito é o princípio da igualdade, que está previsto
no artigo 7º no novo CPC e no artigo 5º, inciso 1 de nossa Constituição Federal: “É
assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e
faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação
de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório”.

Isso quer dizer que as pessoas que estão em situação igual devem ser
tratadas de maneira igual e as que estão em situação diferente devem ser tratadas
de maneira diferente, na medida de suas diferenças.

Podemos citar como um bom exemplo da questão da igualdade o acesso


à justiça gratuita aos que necessitam, pois desta forma a pessoa não é privada de
acessar à justiça, se comparada às pessoas que têm o livre acesso à justiça.

Outro exemplo que podemos citar é a distribuição dinâmica do ônus da


prova, em que o juiz pode determinar que a parte que tenha mais condições de
produzir a prova tenha o ônus de produzi-la.

Um princípio com bastante relação constitucional é o princípio do


contraditório. O contraditório deve ser efetivo, ou seja, deve ser capaz de fazer com
que a parte se manifeste de tal forma que ela possa convencer o juiz, que possa
influenciar na decisão judicial. Da mesma forma trata-se a ampla defesa, que
também é um princípio constitucional. Consta nos artigos 7º, 9º e 10 no novo CPC:
Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao
exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos
ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao
juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.
Art. 10.   O juiz não pode decidir em grau algum de jurisdição, com
base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes
oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a
qual deva decidir de ofício.

Podemos afirmar que o contraditório é uma óbvia condição de um


processo justo e é inseparável da ideia de administração organizada da justiça.
Tão importante é este princípio que, caso ele não seja proporcionado no processo,
pode causar a sua nulidade.

O processo do contraditório traz uma garantia para as partes envolvidas


no processo de não surpresa. A parte tendo garantido o contraditório, ao final do
processo ela não vai se surpreender com o resultado de sua demanda, pois o juiz
não pode, de forma nenhuma, proferir uma sentença diferente daquilo que foi
alegado durante o processo. Assim, quanto mais contraditório as partes tiverem,
mais justo será o andamento e, consequentemente, o resultado do processo.

63
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

E dentro do princípio do contraditório temos o direito à produção de


provas (produção probatória), que está no artigo 369 no novo CPC: “As partes têm
o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos,
ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que
se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”. Assim,
podemos verificar que é direito das partes utilizarem de todos os meios legais para
produzirem as suas provas e demonstrar a verdade dos fatos que alegam.

Temos outro princípio que também é previsto pela Constituição Federal e que
também é importante para o novo CPC, que é o princípio do juiz natural, segundo o
qual ninguém será processado e julgado senão pela autoridade competente.

Os princípios da publicidade e do convencimento motivado também


têm origem constitucional. De acordo com o artigo 93, inciso IX da Constituição
Federal, o juiz deve fundamentar suas decisões judiciais. E o artigo 489, § 1o, do
novo CPC trabalha nessa mesma linha: as decisões devem ser fundamentadas.
Os julgamentos devem ser públicos, salvo em caso de segredo de justiça, e as
decisões judiciais sempre fundamentadas.

O dever de fundamentação das decisões judiciais tem intrínseca relação


com o Estado democrático de Direito; o dever de fundamentação é informado
pelo direito ao contraditório. Assim, se o juiz não fundamentar a sua decisão,
como a parte irá poder recorrer? Então, quanto mais bem fundamentada estiver
a decisão, a parte poderá exercer o seu direito ao contraditório de maneira mais
eficaz, como em um recurso, por exemplo.

É importante lembrar também que o novo CPC não traz mais a expressão
“livre convencimento motivado”. O novo CPC fala apenas em “convencimento
motivado”, ou seja, o juiz pode proferir a sua decisão de acordo com o seu
convencimento, mas esse convencimento não é livre, terá que se basear nas
alegações das partes. Assim, o juiz não pode decidir nada além do que foi alegado
pelas partes.

Outra questão, também constitucional, para vermos como o novo CPC


prestigia a nossa Carta Maior, é a razoável duração do processo, conforme já
mencionado em nosso livro de estudos. É importante lembrarmos que a razoável
duração do processo não significa que o processo tenha que ser rápido, e sim
significa que o processo durará um tempo suficiente para garantir o exercício
do contraditório e da ampla defesa de todas as partes envolvidas no processo.
Assim, o processo pode ser rápido, mas não pode ser tão rápido ao ponto de
suprimir as delações a que as partes necessitem para demonstrar o seu direito.

A formação da coisa julgada trata-se de mais um princípio importante,


que busca garantir a segurança jurídica, conforme preconiza o artigo 502 do novo
CPC: “Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e
indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso”.

64
TÓPICO 4 | SANÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Igualmente, é prevista pela nossa Constituição em seu artigo 5º, inciso


XXXVI: “A coisa julgada ocorre quando a decisão judicial não é mais passível de
interposição de recursos, garantindo a segurança jurídica, e o provimento judicial
não será modificado, salvo em casos de ação rescisória que será processada com
o devido contraditório”.

O princípio da demanda é o princípio pelo qual a parte deve dar o primeiro


impulso para que o direito ocorra, assim, o juiz não pode atribuir à parte um
direito, sem que seja impulsionado/requerido pela parte. Trata-se de um limite à
atividade jurisdicional. Porém, existem exceções ao princípio da demanda, assim
o juiz poderá agir por iniciativa própria. Por exemplo: em caso de incapacidade
processual, incompetência absoluta, prescrição, abertura de inventário. Mesmo
nos casos em que o juiz age de ofício, há a necessidade de se intimar as partes
para se manifestarem, possibilitando sempre o direito ao contraditório.

O novo CPC também inovou em razão da valorização da jurisprudência,


que busca assegurar a isonomia e a segurança jurídica. Assim, no julgamento das
demandas repetitivas (processos, recursos) em bloco, irão garantir a isonomia em
toda a vertente jurisdicional, pois não irá trazer uma decisão diferente para casos
iguais, pois se já existem jurisprudências firmadas em processos ou em recursos,
ao demandar sobre uma determinada questão, a parte saberá, relativamente, qual
será o resultado de seu processo, e isso garante a segurança jurídica a todos.

O novo CPC também traz em seu artigo 5º os princípios da boa-fé,


probidade e lealdade. Vejamos: “Aquele que de qualquer forma participa do
processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”. Assim, todas as partes
envolvidas no processo devem agir com boa-fé, pois a sua ausência pode levar
à ineficácia do ato processual contrário a ela e a responsabilização por dano
processual, inclusive a aplicação de multa em alguns casos. Isso significa que as
partes não podem abusar de suas posições jurídicas, como um recurso protelatório,
por exemplo, e sim, sempre agir de boa-fé. Tal princípio tem uma relação direta
com a celeridade processual, pois, se a parte retarda de má-fé o processo, está
atingindo diretamente a celeridade processual e a razoável duração do processo.
Assim, as partes devem agir com boa-fé, probidade e lealdade.

O novo CPC expressamente prestigia a dignidade da pessoa humana


prevista na Constituição Federal. Então, o novo CPC, em seu artigo 8º, diz que
o processo civil deve estar orientado à realização dos fins da pessoa humana.
Acompanhe: “Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais
e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da
pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade,
a publicidade e a eficiência”.

A dignidade da pessoa humana conecta-se ainda com o direito à liberdade


e à autonomia privada. Daí a necessidade de respeito aos negócios processuais
realizados entre as partes, pois pelo novo CPC, as partes podem realizar acordos
processuais.

65
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

A dignidade da pessoa humana veda a transformação das partes em


simples objetos da prestação jurisdicional. Assim, a parte deve ser a protagonista
do processo – não se trata de mais um caso, trata-se “do caso” daquela pessoa.

No artigo 190, no novo CPC, consta que nós temos a teoria dos negócios
jurídicos processuais, ou seja, as partes poderão firmar negócios jurídicos entre
elas e seus advogados e esses negócios serão autorizados/homologados pelo juiz,
e isto vem ao encontro do princípio da cooperação. Acompanhe:
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam
autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular
mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa
e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a
validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes
aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em
contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta
situação de vulnerabilidade.

Por exemplo, de comum acordo, as partes podem fixar um prazo


maior para as alegações finais em razão da complexidade do processo, podem
convencionar a produção do ônus da prova, isto é, a prova “a” será produzida
pela parte “a”; a prova “b” será produzida pela parte “b”.

Assim, as partes poderão fazer acordos judiciais sempre que o objetivo


for de cooperar com o andamento do processo, e quando perceberem que
determinada questão pode ser melhor provada pelo autor, pelo réu, irão poder
convencionar os prazos. Portanto, em várias hipóteses as partes poderão celebrar
acordos processuais e esses acordos serão homologados pelo juiz, porém o juiz
vedará quaisquer acordos que prejudiquem uma das partes, ou que causem
alguma nulidade ao processo ou ao ato processual.

2.1 O INSTITUTO DA CONCILIAÇÃO NO NOVO CÓDIGO


DE PROCESSO CIVIL (CPC)
O novo CPC prestigia a conciliação entre as partes, é juízo arbitral, porque
isso gera uma celeridade e, além disso, gera segurança para as partes. É o que o
novo CPC preceitua no artigo 3º, em seu parágrafo 3º:
Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a
direito.
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual
de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do
processo judicial.

66
TÓPICO 4 | SANÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

2.2 OS ATOS PROCESSUAIS NO NOVO CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL (CPC)
Uma das mudanças mais comentadas no novo CPC é a contagem dos
prazos processuais em dias úteis. Assim, ficou convencionado pelo novo CPC que
toda a contagem de prazo será feita em dias úteis e não mais dias corridos, como
acontecia no antigo CPC. É importante lembrar que para os Juizados Especiais
essa nova contagem de prazo em dias úteis ainda não é utilizada.

O novo CPC unificou a contagem de prazos recursais. Isso quer dizer que
todos os prazos recursais são de 15 dias. Assim, o advogado não precisa mais
preocupar-se com recursos com prazo de cinco, 10 ou 15 dias – todos os prazos
serão de 15 dias, salvo os embargos de declaração, que têm o prazo de cinco dias
a contar da data da publicação ou da ciência da decisão.

Outra novidade trazida pelo novo CPC é o recesso forense. O novo instituto
previu que do dia 20 de dezembro ao dia 20 de janeiro todos os prazos serão
suspensos, não ocorrerão audiências. O que veio esclarecer uma dificuldade que
o antigo CPC trazia com relação a este recesso – alguns tribunais suspendiam os
prazos, outros não, prejudicando advogados que trabalham em vários tribunais.
Assim, o novo CPC prevê a suspensão neste período, não contando nenhum prazo,
tampouco audiências neste período de recesso. Porém, os tribunais continuarão
funcionando normalmente.

O artigo 225 no novo CPC prevê que as partes podem renunciar aos
prazos estabelecidos em lei, inclusive, podem estabelecer acordos relativos aos
prazos, conforme já mencionado. Vejamos: “A parte poderá renunciar ao prazo
estabelecido exclusivamente em seu favor, desde que o faça de maneira expressa”.

Os prazos também poderão ser prorrogados ou reduzidos pelo juiz e isso


está previsto no artigo 222 do novo CPC:
Art. 222. Na comarca, seção ou subseção judiciária onde for difícil o
transporte, o juiz poderá prorrogar os prazos por até 2 (dois) meses.
§ 1º Ao juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem anuência
das partes.
§ 2º  Havendo calamidade pública, o limite previsto no  caput  para
prorrogação de prazos poderá ser excedido.

2.2.1 A citação
A citação, conforme mencionada, no novo CPC está prevista no artigo 238
e seguintes:
Art. 238.  Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado
ou o interessado para integrar a relação processual.

67
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Art. 239.  Para a validade do processo é indispensável a citação do réu


ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição
inicial ou de improcedência liminar do pedido.
[...]

A citação nada mais é que a chamada do réu ao processo para responder


à demanda proposta contra ele. É um requisito de validade do processo, ou seja,
se não houver uma citação válida, o processo é todo nulo, pois fere a garantia do
princípio do contraditório efetivo que estudamos.

Por ser um requisito de validade processual, a sua ausência será suprida


apenas pelo comparecimento espontâneo ao processo (aos autos). Isto está
previsto no artigo 239 do novo CPC:
Art. 239.  Para a validade do processo é indispensável a citação do réu
ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição
inicial ou de improcedência liminar do pedido.
§ 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a
falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para
apresentação de contestação ou de embargos à execução.

Existem vários tipos de citação que estão previstos no artigo 246 de nosso
novo instituto. Poderá ser por correio, com o aviso de recebimento (AR); por
meio do oficial de justiça, por hora certa, que também será por oficial de justiça, a
citação poderá ocorrer também de forma eletrônica.

Art. 246. A citação será feita:


I - pelo correio;
II - por oficial de justiça;
III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer
em cartório;
IV - por edital;
V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei.

2.2.2 A intimação
A intimação é trazida pelo artigo 269. Na citação, o réu toma conhecimento
da demanda proposta contra ele. A intimação serve para qualquer ato processual,
seja para o autor, seja para o réu. A novidade trazida pelo novo CPC é que a
intimação poderá ser direta ou indireta.

A intimação direta será aquela em que o advogado da parte intima o


advogado da outra parte. Assim, o advogado de uma parte pode redigir um
documento e entregar para o advogado da outra parte pessoalmente e pedir o
recebimento ou por correio com aviso de recebimento (AR). Isso é muito bom,
pois ajudará na celeridade processual. A intimação indireta é aquela feita por
meio eletrônico, publicação em diário oficial.

68
TÓPICO 4 | SANÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Tutelas de Urgência

De acordo com o artigo 294, parágrafo único do novo CPC, nós temos
dois tipos básicos de tutela de urgência, que são a tutela cautelar e a tutela
antecipada (do antigo Código de Processo Civil), também conhecida como tutela
satisfativa. Vejamos: “Art. 294.   A tutela provisória pode fundamentar-se em
urgência ou evidência. Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar
ou antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental”.

A tutela cautelar, segundo Alexandre de Freitas Câmara (2016), é uma


tutela de urgência do processo, isto é, é uma tutela provisória urgente destinada
a assegurar o futuro resultado útil do processo, nos casos em que uma situação
de perigo ponha em risco a sua efetividade. Aqui podemos verificar que há
uma conexão entre tutela cautelar e o resultado útil do processo, de efetividade
do processo. Já a tutela antecipada ou tutela satisfativa se destina a permitir a
imediata realização prática do direito alegado pelo demandante, revelando-se
adequada em casos nos quais se afigure presente uma situação de perigo iminente
para o próprio resultado do processo. Então, há um conceito de tutela antecipada
conectado com o resultado do processo, o direito material do demandante.

O novo CPC deu um tratamento único para as tutelas de urgência,


estabelecendo os mesmos requisitos para a sua concessão, objetivando uma
igualdade de tratamento nesses institutos.

Há dois requisitos comuns que devemos destacar para a sua concessão: o


periculum in mora e o fumus boni iuris. O periculum in mora é resultante da demora
no processo, podendo causar prejuízos em seu decorrer para o processo ou para
o direito material no caso. E a lei exige para a concessão de uma tutela provisória
a probabilidade da existência do Direito (fumus boni iuris). Assim, se há elementos
no processo que demonstrem que o autor é o provável detentor do direito que ele
está alegando, nós temos a probabilidade da existência do Direito do autor. Esses
dois requisitos são necessários para a concessão de uma tutela de urgência.

Assim, em nossa área de TI, é possível que se solicite a tutela de urgência


para a retirada de softwares piratas de um determinado estabelecimento, pois
a permanência das cópias reproduzidas ilicitamente em tal estabelecimento
comercial trará prejuízo para o autor do produto/software. Assim, o autor do
processo não precisará esperar até o final da demanda judicial para ter o seu
direito atendido.

69
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• O novo Código de Processo Civil (CPC), Lei 13.105/2015, entrou em vigor em


17/03/2016.

• O “antigo” Código de Processo Civil, utilizado até há pouco tempo, foi editado
no ano de 1973 durante o regime militar, pelo então ministro da Justiça Alfredo
Buzaid.

• O novo Código de Processo Civil é o primeiro código a ser aprovado sob a égide
do Estado democrático de Direito e prestigia os princípios constitucionais.

• A sanção do novo Código de Processo Civil visa, dentre outros motivos, reduzir
o formalismo jurídico, democratizar o acesso à justiça para todos.

• Busca tornar a tramitação do processo mais célere e menos burocrática, de


modo que traga à sociedade maior agilidade e rapidez em sua causa, a fim de
alcançar uma duração razoável para o processo.

• Direito ao processo justo para todas as partes, com o devido processo legal e a
razoável duração do processo.

• Processo civil deve ser constituído tomando por base a dignidade da pessoa
humana, que não trata a parte como apenas um objeto no processo.

• Flexibilização procedimental e acordos processuais.

• Prazos processuais que atualmente são contados em dias úteis.

• Mudanças na forma de citação e intimação das partes.

70
AUTOATIVIDADE

1 Com qual objetivo foi criado o novo Código de Processo Civil?

2 O novo Código de Processo Civil é o primeiro código a ser aprovado


sob a égide do Estado democrático de Direito e prestigia os princípios
constitucionais. Cite, pelo menos, três princípios constitucionais nos quais se
baseia o novo CPC.

3 Um dos objetivos do novo Código de Processo Civil é tornar o processo


judicial mais célere (rápido) para as partes envolvidas, porém há uma
preocupação relacionada à celeridade e à duração razoável do processo.
Discorra acerca deste assunto.

4 Cite, pelo menos, três mudanças trazidas pelo novo Código de Processo
Civil.

71
72
UNIDADE 1
TÓPICO 5

MARCO CIVIL DA INTERNET

1 INTRODUÇÃO
O Tópico 4 desta unidade foi reservado para o estudo sobre os fundamentos,
princípios e principais mudanças trazidas pelo novo Código de Processo Civil,
Lei nº 17.105/2015, que entrou em vigor em 17/03/2016.

A Internet surgiu há muitos anos no Brasil, em que toda a população, sem


quaisquer distinções, tem o direito de usá-la da melhor forma possível, sem que
precise ter uma autorização expressa para tal. Até então não possuíamos uma lei
específica que regulamentasse tal prática de acesso, pois, para muitas pessoas,
ainda, a internet é uma terra sem lei, amparada pelo anonimato.

Abrigávamo-nos em leis esparsas como o Código Civil, Código Penal,


Código de Defesa do Consumidor, dentre outros para impor limites às mais
diversas práticas virtuais, que, por vezes, ferem os direitos de nosso próximo.

Neste tópico, abordaremos sobre o Marco Civil da Internet, também


conhecido como a Lei 12.965/2014. É a “Constituição da Internet Brasileira”, que
trata sobre a utilização da Internet no Brasil, em que estabelece fundamentos,
princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet em nosso país.
Trataremos dos principais fundamentos e princípios do Marco Civil da Internet.

2 DEFINIÇÃO
Oficialmente chamado de Lei nº 12.965/2014, o Marco Civil da Internet é uma
lei, também conhecida como “Constituição da Internet Brasileira”, que regulamenta
o uso da Internet no Brasil com base em princípios, garantias, direitos e deveres para
os usuários, bem como uma regulamentação de diretrizes para a atuação do Estado
nesse meio. Tal lei está diretamente relacionada com a nossa vida digital. O Marco
Civil da Internet foi aprovado pelo Senado no dia 23 de abril de 2014.

3 PRINCIPAIS FUNDAMENTOS DO MARCO CIVIL DA INTERNET


O artigo 2º do Marco Civil da Internet afirma que o objetivo da lei é o
de respeitar a liberdade de expressão, pois se estamos utilizando a Internet
diariamente para conversar, enviar mensagens, pesquisar e acessar redes sociais,
nós estamos exercendo essa liberdade de expressão, muitas vezes, sem nos
darmos conta, com alguns poucos cliques nos comunicamos com outras pessoas.

73
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Assim, o inciso I do artigo 2º desta lei fala sobre o reconhecimento da


escala mundial da internet. O Marco Civil entende que a internet é uma rede
mundial, muito embora tenha servidores no Brasil, não deixa de ser uma rede
mundial. A internet não é brasileira, ela não possui fronteiras físicas. Vejamos:
“Art. 2o A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito
à liberdade de expressão, bem como: I - o reconhecimento da escala mundial da
rede; [...]”.

Um dos grandes objetivos da lei é aplicar o marco civil em situações, por


exemplo, em que você é um usuário brasileiro utilizando um serviço de e-mail
americano, mas esse serviço hospeda os seus arquivos na Finlândia.

O inciso II do artigo 2º do Marco Civil da Internet prestigia os direitos


humanos. Se a Internet é mundial, se reúne pessoas e computadores, ela deve
respeitar os direitos humanos, deve respeitar a personalidade do ser humano
e deve proteger esse direito na grande rede, porque quanto mais você produz
informação na rede, mais expõe a sua vida na Internet. A Internet é um grande
meio de exercício da cidadania no meio digital.
Art. 2o A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamento
o respeito à liberdade de expressão, bem como:
[...]
II - os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o
exercício da cidadania em meios digitais; [...].

O inciso III do artigo 2º do Marco Civil comenta sobre a pluralidade e a


diversidade da Internet, sendo assim, a Internet traz a diversidade de culturas,
países, idiomas, crenças, tecnologias etc., e a rede mundial pode ser acessada
de diversas formas também: de um computador, tablet, smartphone, smartwatch,
refrigeradores, videogames e vários outros dispositivos ativos no momento.
Assim, podemos perceber que a Internet traz uma pluralidade e diversidade
tanto de pessoas como de tecnologias. Vejamos o referido artigo e inciso: “Art.
2o A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamento o respeito à
liberdade de expressão, bem como: [...] III - a pluralidade e a diversidade; [...]”.

O Marco Civil da Internet também trata de questões sobre abertura e


colaboração em seu artigo 2º, inciso IV. A Internet é livre, pode ser acessada por
todos independentemente. A Internet é um meio colaborativo, ou seja, a Internet
permite a criação de algo por várias pessoas: “Art. 2o  A disciplina do uso da
Internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão,
bem como: [...] IV - a abertura e a colaboração; [...]”.

A livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor são


prestigiadas no inciso V deste mesmo artigo do Marco Civil. Parte-se do
princípio de que a Internet é o meio em que as pessoas conversam, relacionam-
se e também compram produtos e serviços. A Internet privilegia e permite a
criação de serviços dos mais diversos tipos e naturezas. Assim, somos fatalmente
submetidos ao artigo 170 da Constituição Federal, que trata justamente da livre

74
TÓPICO 5 | MARCO CIVIL DA INTERNET

iniciativa: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e


na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social”.

Assim, o Marco Civil permite ao particular, por si só, criar os seus


serviços, suas ideias, seus objetivos pela Internet. Verifique o inciso V do artigo 2º
do Marco Civil, conforme mencionado: “A disciplina do uso da Internet no Brasil
tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão, bem como: [...] V - a
livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor. [...]”.

O último inciso deste artigo adverte para a finalidade social da rede.


Assim, a Internet, apesar de ser mundial, apesar de privilegiar e respeitar a livre
iniciativa e a livre concorrência, tem a finalidade social, em que as pessoas buscam
na Internet possibilidade de um melhor convívio social, quer seja para troca de
mensagens, para preenchimento de currículos, participação em eventos, estudos,
especializações, enfim, ter o acesso ao conhecimento, buscando assim melhores
condições de vida: “Art. 2o A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como
fundamento o respeito à liberdade de expressão, bem como: [...] VI - a finalidade
social da rede. [...]”.

4 PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DO MARCO CIVIL DA INTERNET


O artigo 3º do Marco Civil contempla os seus princípios. O primeiro
princípio trata sobre a liberdade de expressão, que repete o que está em nossa
Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso IV. Assim, a nossa Carta Maior
permite a liberdade de expressão, mas veda o anonimato. Importante lembrar
que a liberdade de expressão não é algo ilimitado. Não é algo que pode ser
utilizado, inclusive, para ofender pessoas, assim como os crimes de preconceito
de raça e cor, por exemplo. “Art. 3o A disciplina do uso da Internet no Brasil tem
os seguintes princípios: I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e
manifestação de pensamento nos termos da Constituição Federal. [...]”.

Outro grande avanço garantido pelo Marco Civil da Internet é a maior proteção
da liberdade de expressão na Internet. A lei assegura a liberdade de expressão, como
preconizado na Constituição de 1988, garantindo que todos sigam se expressando
livremente e que a Internet continuará sendo um ambiente democrático, aberto e
livre, ao mesmo tempo em que preserva a intimidade e a vida privada.

A grande mudança que a nova lei promove é com relação à retirada de


conteúdos do ar. Antes de sua entrada em vigor não havia uma regra clara sobre
este procedimento. A partir de agora a retirada de conteúdos do ar só será feita
mediante ordem judicial, com exceção dos casos de “pornografia de vingança”.
Pessoas vítimas de violações da intimidade podem solicitar a retirada de conteúdo,
de forma direta, aos sites ou serviços que estejam hospedando este conteúdo.

Nos casos em que ocorrer a retirada de conteúdo, os provedores de acesso


deverão comunicar “os motivos e informações relativos à não disponibilização de
75
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

conteúdo, com informações que permitam o contraditório e a ampla defesa em


juízo”, como atesta o artigo 20 da Lei 12.965/2014.

Ainda segundo a lei, os Juizados Especiais serão os responsáveis pela


decisão sobre a ilegalidade ou não dos conteúdos, antes que eles sejam retirados
do ar. Isto se aplica aos casos de ofensa à honra ou injúria, que serão tratados da
mesma forma como ocorre fora da Internet. Essas violações são analisadas pelo
Judiciário, garantindo que todos tenham seus pedidos avaliados por um juiz e não
pelo provedor de Internet, que pode ser pressionado a retirar ou censurar conteúdos
por diversos motivos, como financeiros, políticos, religiosos, entre outros.

O inciso II do artigo 3º traz o princípio da proteção à privacidade: “A


disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes princípios: [...] II - proteção
da privacidade; [...]”.

A privacidade nesses tempos de Internet tem sido muito violada, porque


nos acostumamos a compartilhar a nossa vida abertamente pelas redes sociais.
São fotos, check-ins para dizermos onde estamos, vídeos e até mesmo detalhes
da nossa privacidade. Quando o Marco Civil trata da proteção à privacidade,
precisamos nos remeter ao artigo 5º, inciso X de nossa Constituição Federal, que
é uma das normas constitucionais, e talvez a principal, que trata da privacidade,
da vida privada e da intimidade:
Art. 5º Todos são iguais perante à lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação; [...].

Ainda, o artigo 21 de nosso Código Civil diz que a vida privada da


pessoa é inviolável: “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a
requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir
ou fazer cessar ato contrário a esta norma”. Assim, podemos verificar que temos
três leis em nosso país que tratam da questão da privacidade do cidadão brasileiro:
a Constituição Federal, o Código Civil e o próprio Marco Civil.

Além de criar um ponto de referência sobre a web no Brasil, o Marco Civil


prevê a inviolabilidade e sigilo de suas comunicações. O projeto de lei regula o
monitoramento, filtro, análise e fiscalização de conteúdo para garantir o direito
à privacidade. Somente por meio de ordens judiciais para fins de investigação
criminal será possível ter acesso a esses conteúdos.
Outro ponto da proposta garante o direito dos usuários à privacidade,
especialmente à inviolabilidade e ao sigilo das comunicações
pela Internet. O texto determina que as empresas desenvolvam
mecanismos para garantir, por exemplo, que os e-mails somente serão
lidos pelos emissores e pelos destinatários da mensagem. O projeto

76
TÓPICO 5 | MARCO CIVIL DA INTERNET

assegura proteção a dados pessoais e registros de conexão e coloca


na ilegalidade a cooperação das empresas de Internet com órgãos de
informação estrangeiros. As empresas que descumprirem as  regras
poderão ser penalizadas com advertência, multa, suspensão e até
proibição definitiva de suas atividades. E ainda existe a possibilidade
de penalidades administrativas, cíveis e criminais. Disponível em:
<http://www.ebc.com.br/tecnologia/2014/04/entenda-o-marco-civil-
da-internet-ponto-a-ponto>. Acesso em: 3 abr. 2017.

A partir da entrada em vigor do Marco Civil da Internet, a operação


das empresas que atuam na web deverá ser mais transparente. A proteção dos
dados pessoais e a privacidade dos usuários são garantias estabelecidas pela
nova lei.

Isso significa, por exemplo, que as empresas de Internet que trabalham com
os dados dos usuários para fins de publicidade – como aqueles anúncios dirigidos
que aparecem no seu perfil nas redes sociais – não poderão mais repassar suas
informações para terceiros sem o seu consentimento expresso e livre.

A proteção aos dados dos internautas é garantida e só pode ser quebrada


mediante ordem judicial. Isso quer dizer também que se você encerrar sua conta
em uma rede social ou serviço na Internet, pode solicitar que seus dados pessoais
sejam excluídos de forma definitiva. Afinal, o Marco Civil da Internet estabelece
que os dados sejam seus, não de terceiros. Por isso, fique atento com relação à
atualização dos termos de uso dos serviços e aplicativos que você utiliza!

Outra inovação promovida pelo Marco Civil da Internet é a garantia


da privacidade das comunicações. Até a lei entrar em vigor, o sigilo de
comunicações não era válido para  e-mails, por exemplo.  A partir de agora
o conteúdo das comunicações privadas em meios eletrônicos tem a mesma
proteção de privacidade que já estava garantida nos meios de comunicação
tradicionais, como cartas, conversas telefônicas etc.

A afirmação em lei de que o conteúdo das comunicações privadas em


meios eletrônicos é dado sigiloso é um avanço importante, que garante aos
novos meios de comunicação a mesma proteção já garantida aos meios de
comunicação tradicionais.
FONTE: Disponível em: <http://culturadigital.br/marcocivil/>. Acesso em: 3 abr. 2017.

O inciso III do artigo 3º da Lei do Marco Civil traz um princípio também


importante, que é o princípio da proteção de dados pessoais. Acompanhe: “A
disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes princípios: [...] III -
proteção dos dados pessoais, na forma da lei; [...]”.

Assim, quando uma foto em uma rede social é postada, quando é enviado
um e-mail, quando você posta um vídeo em sites, por incrível que pareça, o vídeo
é seu e não é do site, pois tem a ver com a sua vida.

77
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

A Lei do Marco Civil não traz a definição clara do que sejam “dados
pessoais”. Importante aí nos remetermos à Lei nº 12.527/2001 (Lei de acesso à
informação), que afirma em seu artigo 4º, inciso IV, que informações pessoais são
aquelas relacionadas à pessoa natural identificada ou identificável.

Portanto, dado pessoal, resumindo, seria toda aquela informação que tem
a ver, que permite identificar o indivíduo – o seu nome, o seu endereço, seus
contatos, local de trabalho, onde você estuda, onde você estudou, e mesmo os
dados que possam ser ditos como irrelevantes, também estão sob a proteção do
Marco Civil.

O princípio da neutralidade diz que a rede deve ser igual para todos, sem
diferença quanto ao tipo de uso. Tal princípio está regulamentado no artigo 3°,
inciso IV da Lei n° 12.965, de 2014. “A disciplina do uso da Internet no Brasil tem os
seguintes princípios: [...] IV - preservação e garantia da neutralidade de rede; [...]”.

Assim, ao comprar um plano de Internet, o usuário paga somente pela


velocidade contratada e não pelo tipo de página que vai acessar, ou seja, o usuário
poderá acessar o que quiser, independentemente do tipo de conteúdo. Paga de
acordo com o volume e velocidade contratados. Com a neutralidade, por exemplo,
um provedor não pode beneficiar o fluxo de tráfego de um site ou um serviço em
detrimento de outro. A neutralidade poderá ser excepcionada somente em caso de
requisitos técnicos ou serviços de emergência. Assim, a lei garante a liberdade de
manifestação do pensamento, a escolha do usuário sobre o conteúdo que deseja
acessar, a livre concorrência na rede e a possibilidade de inovação.

Se a Internet é uma rede na qual exercemos a nossa cidadania, se é uma


rede que tem finalidade social, ela deve ser estável, deve ser segura, não pode ficar
caindo frequentemente, ainda que a nossa realidade brasileira não seja adequada
em relação à Internet. Obviamente, é preciso que se adotem medidas técnicas,
medidas que são compatíveis com padrões internacionais. É o que preconiza o
artigo 3º, inciso V, do Marco Civil:
Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes
princípios:
[...]
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da
rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões
internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas.

O inciso VII do artigo 3º da Lei do Marco Civil da Internet trata da


preservação da natureza participativa da rede: “A disciplina do uso da Internet no
Brasil tem os seguintes princípios: [...] VII - preservação da natureza participativa
da rede; [...]”.

A Internet é multicultural, é uma rede para o exercício da cidadania.


Portanto, ela deve permitir aos cidadãos ter espaços para se manifestar, inclusive
os próprios órgãos públicos possuem canais para comunicação para que possa ter
uma manifestação pública e eletrônica.
78
TÓPICO 5 | MARCO CIVIL DA INTERNET

O inciso VIII do artigo 3º, da mesma lei, tem a ver com a livre concorrência.
Tal inciso cuida da liberdade de modelos de negócio na Internet, desde que não
entre em conflito com as outras leis existentes. Assim, a Internet permite a criação de
negócios os mais variados: “A disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes
princípios: [...] VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na Internet,
desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta lei”.

O Decreto Federal nº 7.962/2013 trata sobre regras próprias para o comércio


eletrônico para as compras coletivas. Muito embora a Internet garanta várias
liberdades, esse decreto, por exemplo, afirma que sites de comércio eletrônico e
sites de compras coletivas devem indicar em suas páginas o endereço físico de
contato, pois muitas vezes o site não tem uma loja física e o consumidor fica sem
a possibilidade de contatar o comércio onde realizou a compra.

Embora o Marco Civil respeite a liberdade de modelo de negócio, muitos


negócios, quando são imorais, ilícitos e abusivos, não podem ser amparados
por quaisquer leis. Um exemplo clássico que podemos citar é uma parte da
Internet que é chamada de deep web, ou internet profunda, em que existem sites
que vendem substâncias entorpecentes. Obviamente o Marco Civil, assim como
nenhuma outra lei, não protegerá esse tipo de negócio.

Por fim, o Marco Civil afirma que os seus princípios não excluem outros
princípios previstos em nossa Constituição, outras leis e tratados nacionais ou
internacionais.

LEITURA COMPLEMENTAR

DISTINÇÕES ENTRE NORMAS E PRINCÍPIO

Segundo Martins (2011), a norma é a prescrição objetiva e obrigatória por


meio da qual se organizam, se direcionam ou se impõem condutas. Também não
deixa a norma de ser prescrição da vontade impositiva para estabelecer a disciplina
a respeito de uma conduta dirigida ao ser humano. O conceito de norma não é,
contudo, pacífico. A norma tem um sentido de orientação, de regular conduta,
tendo caráter imperativo.

Em determinado sistema jurídico não se encontram apenas normas, mas


também princípios, que podem estar ou não positivados, isto é, previstos na
legislação.

José Afonso da Silva leciona que normas são preceitos que tutelam
situações subjetivas de vantagem ou de vínculo, ou seja, reconhecem, por um
lado, a pessoas ou a entidades a faculdade de realizar certos interesses por ato
próprio ou exigindo ação ou abstenção de outrem, e, por outro lado, vinculam
pessoas ou entidades à obrigação de submeter-se às exigências de realizar uma
prestação, ação ou abstenção em favor de outrem.

79
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Na concepção de Humberto Ávila, normas não são textos nem o conjunto


deles, mas os sentidos construídos a partir da interpretação sistemática de
textos normativos. Daí se afirmar que os dispositivos se constituem no objeto
de interpretação; e as normas, no seu resultado. O importante é que não existe
correspondência entre norma e dispositivo, no sentido de que sempre que houver
um dispositivo haverá uma norma, ou sempre que houver uma norma deverá
haver um dispositivo que lhe sirva de suporte.

Desse modo, não existe uma relação entre o texto e a norma, pois nem
sempre que existir um texto existirá também uma norma. Haverá casos em que
da interpretação do texto vai ser possível extrair uma norma. Ocorrendo isso, terá
que verificar se dessa norma é possível extrair uma regra ou um princípio.

As normas podem ser divididas em normas-regras e normas-princípios.


A norma-princípio não precisa estar escrita para que seja vigente. Basta o seu
reconhecimento. Insta salientar que os princípios jamais serão contraditórios,
mas sim contrapostos, isto é, diante de um conflito entre princípios, com base
no princípio da proporcionalidade, aquele que for sobrelevado não estará
inutilizando a incidência do outro princípio, uma vez que este poderá incidir em
outros casos concretos. Assim o princípio com peso maior não prevalecerá neste
caso específico, contudo, permanece válido e vigente a fim de que possa incidir
nos demais casos.

Já a norma-regra será encontrada em qualquer dispositivo legal ou


constitucional. Quando duas normas-regra forem contraditórias, somente uma
deve ser levada em consideração, pois a aplicabilidade de uma das regras importa
em revogação da outra.

Em suma, as normas podem ser princípios ou regras. Em outras palavras,


norma é o gênero, da qual podem ser extraídas espécies normativas, quais
sejam, regras ou princípios. As regras não precisam e nem podem ser objeto de
ponderação, porque ou elas existem ou não existem. Já os princípios precisam
e devem ser ponderados, e isso não implica em exclusão de um deles do
ordenamento jurídico, uma vez que, especificamente naquele caso concreto, um
teve peso maior e acabou prevalecendo.

Pode-se dizer que princípios são juízos abstratos de valor que orientam
a interpretação e a aplicação do Direito. Os princípios possuem um caráter de
dever e de obrigação. Basta violar um princípio para que toda aquela conduta
praticada esteja ilegal. Por esse motivo, violar um princípio é muito mais grave
do que violar uma norma. Devido a este fato, os princípios representam uma
ordem, a qual deve ser acatada. Assim, sempre que a administração pública for
agir, todos os princípios deverão ser respeitados.

Acentua Celso Antônio Bandeira de Mello que princípio é, por definição,


mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição
fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito

80
TÓPICO 5 | MARCO CIVIL DA INTERNET

e servindo de critério para exata compreensão e inteligência delas, exatamente


porque define a lógica e a racionalidade do sistema normativo, conferindo-lhe a
tônica que lhe dá sentido harmônico. Adverte o autor que violar um princípio é
muito mais grave que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica
ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema
de comandos.

Para Josef Esser, princípios são aquelas normas que estabelecem


fundamentos para que determinado mandamento seja encontrado. Mais do que
uma distinção baseada no grau de abstração da prescrição normativa, a diferença
entre os princípios e as regras seria uma distinção qualitativa. O critério distintivo
dos princípios em relação às regras seria, portanto, a função de fundamento
normativo para a tomada de decisão.

Seguindo o mesmo caminho, Karl Larenz define princípios como


normas de grande relevância para o ordenamento jurídico, na medida em que
estabelecem fundamentos normativos para a interpretação e aplicação do direito,
deles decorrendo, direta ou indiretamente, normas de comportamento.
 
Consoante Robert Alexy, princípios são normas que ordenam algo que,
relativamente às possibilidades fáticas e jurídicas, seja realizado em medida tão
alta quanto possível. Princípios são, segundo isso, mandamentos de otimização,
assim caracterizados pelo fato de a medida ordenada de seu cumprimento
depender não só das possibilidades fáticas, mas também das jurídicas. Na lição
de Canotilho, princípios são normas jurídicas impositivas de uma otimização,
compatíveis com vários graus de concretização, consoante os condicionamentos
fáticos e jurídicos. Para o mestre português, os princípios se distinguem das
regras, pelo fato destas últimas serem “normas que prescrevem imperativamente
uma exigência (impõem, permitem ou proíbem) que é ou não cumprida”.

Conforme os estudos de Dworkin, no caso de colisão entre regras,


uma delas deve ser considerada inválida. Os princípios, ao contrário, não
determinam absolutamente a decisão, mas somente contêm fundamentos, os
quais devem ser conjugados com outros fundamentos provenientes de outros
princípios. Daí a afirmação de que os princípios, ao contrário das regras, possuem
uma dimensão de peso, demonstrável na hipótese de colisão entre princípios,
caso em que o princípio com peso relativo maior se sobrepõe ao outro, sem
que este perca sua validade. Por conseguinte, Humberto Ávila expõe que as
regras são normas imediatamente descritivas, primariamente retrospectivas e
com pretensão de decidibilidade e abrangência, para cuja aplicação se exige a
avaliação da correspondência, sempre centrada na finalidade que lhes dá suporte
ou nos princípios que lhes são axiologicamente sobrejacentes, entre a construção
conceitual da descrição normativa e a construção conceitual dos fatos. Já os
princípios são normas imediatamente finalísticas, primariamente prospectivas e
com pretensão de complementaridade e de parcialidade, para cuja aplicação se
demanda uma avaliação da correlação entre o estado de coisas a ser promovido e
os efeitos decorrentes da conduta havida como necessária a sua promoção.

81
UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO DIREITO

Vale ainda transcrever aqui as palavras de Alexandre Aboud, procurador do


Estado de São Paulo, que ensina que os princípios orientam e implementam o direito
por caminhos abstratos, que dão rumo a todo um sistema normativo. Constituem-
se, portanto, normas hierarquicamente privilegiadas, com predominância sobre
outras regras por formarem o arcabouço do ordenamento jurídico.

Com base nas citações dos autores entendemos que, quando existe um
conflito entre regras, uma existe e a outra deixa de existir, pois esta se tornou
inválida. Assim, ou se aplica a regra ou não se aplica. No tocante aos princípios,
quando há um conflito entre os mesmos, a solução é ponderá-los. Vale frisar que,
neste caso, um princípio não deixa de existir, ou seja, ele não some do ordenamento
jurídico. Há apenas uma ponderação entre os princípios em conflito.

Importa ressaltar que os princípios contêm uma ordem para o seu conteúdo
melhorar e para que o conteúdo desse princípio se torne ótimo é interessante
que tenhamos a imposição de regras. Destarte, os princípios não dependem das
regras, todavia, elas existem para dar força e densificar os princípios. Sendo assim,
os princípios e regras são espécies normativas autoaplicáveis, as quais possuem
características distintas, mas a relação é de complementariedade, uma vez que as
regras pavimentam o caminho de aplicação dos princípios, ou ainda, as regras
corporificam e densificam os princípios na situação concreta.

Cumpre esclarecer que, quando houver um conflito de interesses e a


Constituição já tiver previsto uma regra que soluciona este conflito, não há que
se falar de ponderação, tendo em vista que não há ponderação entre regras, ou a
regra é aplicada ou não é aplicada, ou seja, a sua aplicação é de forma absoluta. Isto
significa que a regra deve ser cumprida na medida exata de suas prescrições, por
isso é um mandamento de definição. As regras impõem resultados e têm aplicação
automática. Se a Constituição estabeleceu uma regra, ela deve ser aplicada, uma
vez que ela existe no ordenamento jurídico para solucionar problema de forma
concreta. Portanto, a pretensão da regra é de decidibilidade.

Já os princípios, por sua vez, admitem ponderação em casos de conflitos.


Enquanto que a regra é aplicada de forma absoluta, nos princípios pode haver
uma aplicação gradual, isto é, podemos aplicar mais um princípio do que outro,
dependendo da situação em análise. Os princípios são complementares, isto
é, eles existem não para resolver o problema, mas sim para complementar no
momento de solucionar o problema. Por isso os princípios podem ser aplicados
mais ou menos.

Vale acrescentar que os princípios têm força normativa, tanto é que pode
estabelecer qual comportamento deve ser adotado, ou seja, dispõe que aquilo é
tão importante que merece ser aplicado. Assim, os princípios não são totalmente
indeterminados, pois prescrevem um conteúdo de comportamento demonstrando
o caminho a ser seguido.

FONTE: Extraído e adaptado de: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_


artigos_leitura&artigo_id=9091&revista_caderno=9>. Acesso em: 5 jun. 2013.

82
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Marco Civil da Internet é uma lei, também conhecida como “Constituição da


Internet Brasileira”.

• O Marco Civil da Internet regulamenta o uso da Internet no Brasil.

• Dentre os principais fundamentos do Marco Civil da Internet podemos citar: o


reconhecimento da escala mundial da rede, respeito à liberdade de expressão,
bem como os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o
exercício da cidadania em meios digitais, a livre iniciativa, a livre concorrência
e a defesa do consumidor, a finalidade social da rede, dentre outros.

• Dentre os principais princípios do Marco Civil da Internet, podemos citar:


garantia da liberdade de expressão, proteção da privacidade, proteção dos
dados pessoais, preservação e garantia da neutralidade de rede, preservação
da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, liberdade dos modelos de
negócios promovidos na Internet.

• A Lei nº 12.527/2001 é a lei de acesso à informação.

• O Decreto Federal nº 7.962/2013 trata sobre regras próprias para o comércio


eletrônico para as compras coletivas.

83
AUTOATIVIDADE

1 O que é o Marco Civil da Internet?

2 O que é a liberdade de expressão mencionada no Marco Civil da Internet e


quais os seus limites?

3 Cite, no mínimo, três fundamentos trazidos pelo Marco Civil da Internet.

4 Cite, no mínimo, três princípios trazidos pelo Marco Civil da internet.

5 Alguém publica em uma página pessoal na rede mundial de computadores


fotos de crianças e adolescentes (entre oito e 16 anos) nuas ou em situações
que denotam atividade sexual. O Ministério Público não conseguiu,
ainda, desvendar a identidade do autor, mas tem provas de que as fotos
estão disponíveis em um site controlado por uma empresa estrangeira.
Conseguiu provar, também, que foram disponibilizadas na rede mundial de
computadores por meio de um computador situado no Brasil e que todos os
acessos a tais fotos ocorreram por meio de computadores, também situados
no Brasil. Com base nos dados acima, é possível afirmar que o crime:

a) ( ) Está sujeito à aplicação da lei brasileira, já que praticado por brasileiro


no exterior.
b) ( ) Está sujeito à aplicação da lei brasileira, já que praticado no Brasil,
independentemente da nacionalidade do agente.
c) ( ) Está sujeito à aplicação da lei brasileira, já que o Brasil se obrigou a
reprimi-lo por meio de um tratado internacional.
d) ( ) Não está sujeito à aplicação da lei brasileira, já que praticado no país da
sede da empresa estrangeira.
e) ( ) Não está sujeito à aplicação da lei brasileira, já que praticado por
estrangeiro no Brasil.

84
UNIDADE 2

LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• conhecer a Lei de Software, bem como a sua interpretação;

• conhecer a Lei de Direitos Autorais, bem como a sua interpretação;

• conhecer o funcionamento das relações de consumo na TI, interpretando o


Código de Defesa do Consumidor;

• compreender os aspectos trabalhistas em TI;

• conhecer os objetivos de um contrato e as principais partes para torná-lo


válido.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – LEI DE SOFTWARE

TÓPICO 2 – LEI DE DIREITOS AUTORAIS

TÓPICO 3 – AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI

TÓPICO 4 – RELAÇÕES TRABALHISTAS NA TI

TÓPICO 5 – CONTRATOS

85
86
UNIDADE 2
TÓPICO 1

LEI DE SOFTWARE

1 INTRODUÇÃO
O Tópico 1 foi reservado para o estudo interpretativo da Lei de Software
(Lei n° 9.609/1998), que disciplina algumas condutas dos profissionais de TI.
Vamos conhecer também alguns crimes previstos por esta lei. Para a nossa melhor
interpretação, vamos conhecer a estrutura de uma lei que se aplica em todas as
outras leis, quer sejam municipais, estaduais ou federais.

Nos itens seguintes, estudaremos outras legislações mais específicas que


poderão ser aplicadas em nossa área. Trata-se da Lei de Direitos Autorais (Lei n°
9.610/1998), que, dentre outras coisas, trata da questão da autoria de software e
seus cuidados. Nas relações de consumo iremos estudar o Código de Defesa do
Consumidor (Lei n° 8.078/1990) e verificar a relação que esta lei possui com a
nossa área.

Por fim, estudaremos os aspectos das relações trabalhistas em TI e os


contratos, mais especificamente na área de TI. Aqui, conheceremos a estrutura de
um contrato e quais são as características de um contrato “válido” para todas as
áreas de estudo, mais especificamente na nossa área de TI.

2 A LEI DE SOFTWARE (LEI N° 9.609/1998)


Atualmente, no Brasil, não há uma lei específica para os crimes virtuais/
crimes eletrônicos/crimes de internet, mas há um projeto de lei que foi aprovado
em outubro de 2012, que veremos na próxima unidade.

Em relação ao software, a área de TI dispõe da Lei n° 9.609, de 1998 – a Lei


de Software, que será o nosso objeto de estudos a partir de agora. Aqui, vamos
estudar desde a estrutura de uma lei, conforme já mencionado, e também vamos
estudar a interpretação da referida lei, artigo por artigo.

UNI

Para que serve um artigo de lei e como ele pode estar organizado?

87
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

Vamos tomar como exemplo o artigo da Lei de Software a seguir (BRASIL,


1998):

Art. 3º Os programas de computador poderão, a critério do titular, ser


registrados em órgão ou entidade a ser designado por ato do Poder Executivo,
por iniciativa do Ministério responsável pela política de ciência e tecnologia.

• Toda lei tem, pelo menos, um artigo. O artigo é responsável por trazer um
ensinamento principal acerca de um assunto. Como podemos perceber aqui,
o artigo 3° da Lei de Software trata da questão do registro de programa de
computador. Este artigo principal é chamado de caput, do latim “cabeça”;
podemos identificá-lo como cabeçalho. É bom sabermos que os artigos sempre
serão apresentados em números ordinais (1°, 2°, 3°, até 9º). A partir do décimo
grafam-se com números cardinais.

§ 1º O pedido de registro estabelecido neste artigo deverá conter, pelo


menos, as seguintes informações:

• Muitas vezes o caput do artigo não é suficiente para tratar de todo o assunto
que o artigo precisa. Logo, podemos perceber que podem aparecer as divisões
dos artigos para uma melhora na organização e consequente compreensão. O
parágrafo, representado pelo símbolo §, pode ser responsável por contribuir
para isso. Um artigo pode ter tantos e quantos parágrafos necessitar. Da mesma
forma, os parágrafos também são apresentados como os artigos.

I- Os dados referentes ao autor do programa de computador e ao titular, se


distinto do autor, sejam pessoas físicas ou jurídicas.
II- A identificação e descrição funcional do programa de computador.
III- Os trechos do programa e outros dados que se considerarem suficientes
para identificá-lo e caracterizar sua originalidade, ressalvando-se os direitos de
terceiros e a responsabilidade do governo.

• Os incisos têm por objetivo detalhar o conteúdo de um artigo. Podem ser itens
de um artigo ou parágrafo. Neste caso, como podemos verificar, os incisos I, II
e III estão organizando de uma melhor forma as informações a que se refere o §
1° da Lei de Software. Como podemos perceber, os incisos sempre são exibidos
em numeração romana (I, II, III, IV...).

§ 2º As informações referidas no inciso III do parágrafo anterior são


de caráter sigiloso, não podendo ser reveladas, salvo por ordem judicial ou a
requerimento do próprio titular.

Aqui, podemos perceber mais um parágrafo pertencente ao artigo 3° da


Lei de Software:

Toda esta organização é importante para a localização de um determinado


assunto em uma determinada lei que está representada por um artigo. Assim, se

88
TÓPICO 1 | LEI DE SOFTWARE

precisarmos nos referir ao registro de Software, por exemplo, não vamos precisar
colocar todo o artigo na íntegra em algum trabalho, contrato etc. Basta especificá-
lo da seguinte forma: Lei n° 9.609, art. 3°, § 1°, inciso I, por exemplo. Assim, sem
dúvidas, ficará mais fácil a sua localização na lei e também o entendimento por
parte de terceiros (BRASIL, 1998).

Muitas pessoas afirmam que para ler uma lei você deve ser um advogado.
Sim, advogados são profissionais que têm um estudo para, entre outros, este fim,
mas é bom sabermos que, como o Direito está cada vez mais inserido em nosso
meio, principalmente com a questão dos crimes eletrônicos, propriedade de
software, contratos e aspectos trabalhistas, é importante que saibamos interpretar
os principais artigos das leis que vão nos circular.

Este entendimento é importante até mesmo para o caso de precisarmos


conversar com um advogado e expormos uma determinada situação e também
para entender a explicação que esse profissional nos dará. Vamos, agora, ao
estudo e à interpretação da Lei de Software em sua íntegra:

O caput do primeiro artigo da Lei de Software nos traz a definição de


programa de computador. Confira:
Art. 1º Programa de computador é a expressão de um conjunto
organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida
em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em
máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos,
instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital
ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados
(BRASIL, 1998, s.p.).

O artigo 2º da mesma lei afirma que a proteção dada ao programa de


computador é a mesma dada às obras literárias, conforme a Lei de Direitos
Autorais, mas que também devem ser observados os artigos da Lei de Software.
Na realidade, o que devemos perceber aqui é que, nesse caso, a Lei de Software
e a Lei de Direitos Autorais trabalham em conjunto para garantir tal proteção.
Vamos conferir:

“Art. 2º O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de


computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais
e conexos vigentes no país, observado o disposto nesta lei” (BRASIL, 1998, s.p.).

Já o parágrafo primeiro do artigo segundo afirma que não cabem direitos


morais (indenizações por danos morais, por exemplo) para o programa de
computador de um modo geral. A exceção ocorre no momento em que o autor
exercer o seu direito de reivindicar a autoria do programa de computador, ou
quando o autor se opuser a qualquer alteração não autorizada em seu programa
que o deforme, ou seja, o programa deixa de cumprir o propósito para o qual foi
criado. Por exemplo: Ana desenvolve um software para controle financeiro. Mais
tarde, Ana vem a saber que o programa desenvolvido foi alterado e, agora, passa
a sonegar tributos. Isso ofende em demasia a sua honra e reputação. Neste caso,

89
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

sem dúvidas, o advogado de Ana poderá ajuizar uma ação de indenização por
danos morais, se for o caso. Vamos conferir:
§ 1º Não se aplicam ao programa de computador as disposições
relativas aos direitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito
do autor de reivindicar a paternidade do programa de computador e o
direito do autor de opor-se a alterações não autorizadas, quando estas
impliquem deformação, mutilação ou outra modificação do programa
de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputação
(BRASIL, 1998, s.p.).

DICAS

Você conhece a diferença entre honra e reputação?


Dr. Samuel Johnson, em A Dictionary of the English Language (1755), definiu honra como
tendo vários sentidos, o primeiro de que era nobreza de alma, magnanimidade e um
desprezo à maldade. Esse tipo de honra decorre da percepção da conduta virtuosa e
integridade pessoal da pessoa dotada com ele. Por outro lado, Johnson também definiu
em relação à honra a reputação e a fama, os privilégios de classificação ou nascimento,
e como respeito do tipo que coloca um indivíduo socialmente e determina o seu direito
de precedência. Esse tipo de honra não é tanto uma função de excelência moral ou ético,
pois é uma consequência do poder.

Em outras palavras, podemos definir a honra como o nosso sentimento íntimo, ou seja,
como nos sentimos conosco. E a reputação é como as outras pessoas nos veem.

O próximo parágrafo da Lei 9.609 afirma que o autor tem um prazo de 50


anos de proteção (tutela) sobre o programa de computador, isto é, tem esse período
para explorar o programa. Depois desse período, o programa de computador cai
em domínio público e todos poderão usufruir dele sem o pagamento de direitos
autorais ou outros impostos, por exemplo. Vamos acompanhar?

“§ 2º Fica assegurada a tutela dos direitos relativos a programa de


computador pelo prazo de cinquenta anos, contados a partir de 1º de janeiro
do ano subsequente ao da sua publicação ou, na ausência desta, da sua criação”
(BRASIL, 1998, s.p.).

Segundo a Lei de Software, e também a Lei de Direitos Autorais, o autor


não é obrigado a registrar o seu software, desde que tenha outro meio verossímil
(verdadeiro/confiável) de provar que é o criador do produto. É o que ressalta o
próximo parágrafo da Lei de Software. Porém, na atualidade, é aconselhável que
se registre o programa de computador.

§ 3º A proteção aos direitos de que trata esta lei independe de registro


(BRASIL, 1998, s.p.).

90
TÓPICO 1 | LEI DE SOFTWARE

Os próximos parágrafos se referem à exploração de programas de


computador feitos fora do Brasil. Este é um exemplo de princípio da reciprocidade.
Assim, os estrangeiros domiciliados no exterior mantêm os mesmos direitos,
desde que seus países de origem concedam aos brasileiros domiciliados no Brasil
direitos equivalentes. É a velha máxima “Trate bem os meus que eu trato bem os
seus!” Vejam:
§ 4º Os direitos atribuídos por esta lei ficam assegurados aos
estrangeiros domiciliados no exterior, desde que o país de origem
do programa conceda aos brasileiros e estrangeiros domiciliados no
Brasil, direitos equivalentes.
§ 5º Inclui-se dentre os direitos assegurados por esta lei e pela legislação
de direitos autorais e conexos vigentes no país aquele direito exclusivo
de autorizar ou proibir o aluguel comercial, não sendo esse direito
exaurível pela venda, licença ou outra forma de transferência da cópia
do programa.
§ 6º O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos casos em que
o programa em si não seja objeto essencial do aluguel (BRASIL, 1998,
s.p.).

O artigo 3° afirma que o titular do programa de computador pode registrar


o seu programa de computador em órgão ou entidade a ser designado por ato do
Poder Executivo, por iniciativa do Ministério responsável pela política de ciência
e tecnologia. Este órgão a que se refere o artigo é o INPI – Instituto Nacional
da Propriedade Industrial (www.inpi.gov.br) e o ministério responsável é o
Ministério da Ciência e Tecnologia. Vejamos o artigo da lei na íntegra:

“Art. 3º Os programas de computador poderão, a critério do titular, ser


registrados em órgão ou entidade a ser designado por ato do Poder Executivo,
por iniciativa do Ministério responsável pela política de ciência e tecnologia”
(BRASIL, 1998, s.p.).

A figura a seguir apresenta a página inicial do INPI.

FIGURA 7 – HOME DO INPI – INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

FONTE: Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/portal/#>. Acesso em: 20 set. 2017.

91
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

No menu “Serviços” temos o acesso aos formulários para requisitarmos o


registro de nosso produto, no caso o programa de computador.

Através do link “Programa de Computador” podemos ter acesso às


informações relativas ao guia básico e custos para o registro do programa de
computador.

A partir daí, após adquirirmos todas as informações necessárias, basta


imprimirmos os formulários necessários, pagarmos as devidas taxas para termos
o nosso produto registrado e evitar uma série de inconvenientes que um software
não registrado pode ocasionar.

O parágrafo 1°, juntamente aos incisos I, II e III, traz a documentação


necessária que deve ser anexada junto ao pedido de registro de software (BRASIL,
1998, s.p.). Vamos acompanhar?
§ 1º O pedido de registro estabelecido neste artigo deverá conter, pelo
menos, as seguintes informações:
I- os dados referentes ao autor do programa de computador e ao
titular, se distinto do autor, sejam pessoas físicas ou jurídicas;
II- a identificação e descrição funcional do programa de computador; e
III- os trechos do programa e outros dados que se considerar suficientes
para identificá-lo e caracterizar sua originalidade, ressalvando-se os
direitos de terceiros e a responsabilidade do Governo.

O trazido pelo parágrafo 2° diz que a parte do código-fonte que será


trazida para registro junto ao INPI será de caráter sigiloso e somente o juiz ou o
requerimento do próprio titular poderá quebrar esse sigilo. Acompanhe:

“§ 2º As informações referidas no inciso III do parágrafo anterior são


de caráter sigiloso, não podendo ser reveladas, salvo por ordem judicial ou a
requerimento do próprio titular” (BRASIL, 1998, s.p.).

NOTA

É o princípio da publicidade agindo, você lembra? Segundo esse princípio, todos


os processos são públicos, exceto os processos que tramitam em segredo de justiça.

O artigo 4° da Lei de Software trata da propriedade do programa


de computador. Este artigo afirma que o programa de computador será
exclusivamente do empregador se o empregado (programador) foi contratado
para esse fim, ou seja, para programação. É importante lembrarmos que esse
registro deve estar em Carteira de Trabalho (CTPS), contrato de trabalho ou
outros documentos que venham comprovar o alegado. Vamos acompanhar no
próprio artigo de lei.
92
TÓPICO 1 | LEI DE SOFTWARE

Art. 4º Salvo estipulação em contrário pertencerão exclusivamente


ao empregador, contratante de serviços ou órgão público, os direitos
relativos ao programa de computador, desenvolvido e elaborado
durante a vigência de contrato ou de vínculo estatutário, expressamente
destinado à pesquisa e desenvolvimento, ou em que a atividade do
empregado, contratado de serviço ou servidor seja prevista, ou ainda,
que decorra da própria natureza dos encargos concernentes a esses
vínculos (BRASIL, 1998, s.p.).

O parágrafo primeiro deste artigo afirma que o pagamento pelos serviços


prestados será limitado à remuneração ou salário convencionado. Assim, se o
programa de computador desenvolvido pelo empregado vier a ser um sucesso
de vendas, não caberá ao programador nada além do valor salarial que combinou
com o seu empregador, exceto se empregado e empregador tenham feito algum
tipo de acordo/contrato que determine algo diferente, como o pagamento de
uma comissão, por exemplo. Não podemos nos esquecer de que este acordo ou
contrato deve estar escrito! Vejamos:

“§ 1º Ressalvado ajuste em contrário, a compensação do trabalho ou


serviço prestado limitar-se-á à remuneração ou ao salário convencionado”
(BRASIL, 1998, s.p.).

Já o parágrafo segundo da Lei de Software diz em que casos o programa


de computador pertencerá ao empregado. Caso o empregado tenha desenvolvido
o programa de computador sem que tenha sido contratado para tal, o produto
do seu trabalho será de propriedade do empregado. Por exemplo: Se Caio foi
contratado como auxiliar administrativo e, posteriormente, veio a desenvolver
programa de computador, este programa será de propriedade de Caio e não do
empregador de Caio, mas Caio terá que ter meios de provar que foi contratado
indevidamente – a carteira de trabalho é uma boa opção para esse meio de prova.

E o parágrafo terceiro afirma que o mesmo tratamento será dado caso o


programa tenha sido desenvolvido por bolsistas, estagiários ou assemelhados.
Vamos acompanhar?

§ 2º Pertencerão, com exclusividade, ao empregado, contratado de


serviço ou servidor os direitos concernentes a programa de computador
gerado sem relação com o contrato de trabalho, prestação de serviços
ou vínculo estatutário, e sem a utilização de recursos, informações
tecnológicas, segredos industriais e de negócios, materiais, instalações
ou equipamentos do empregador, da empresa ou entidade com a
qual o empregador mantenha contrato de prestação de serviços ou
assemelhados, do contratante de serviços ou órgão público.
§ 3º O tratamento previsto neste artigo será aplicado nos casos em que
o programa de computador for desenvolvido por bolsistas, estagiários
e assemelhados (BRASIL, 1998, s.p.).

O próximo artigo afirma que as derivações (versões, outras funcionalidades


etc.), quando autorizadas pelo titular dos direitos do programa de computador,
pertencerão à pessoa que as fizer, exceto se há alguma estipulação em contrário,
ou seja, se o autor e a pessoa que implementou as derivações tenham combinado
93
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

algo adverso. Vale lembrar que esta autorização a que se refere o artigo deve estar
por escrito, sempre! Acompanhe:

“Art. 5º Os direitos sobre as derivações autorizadas pelo titular dos direitos


de programa de computador, inclusive sua exploração econômica, pertencerão
à pessoa autorizada que as fizer, salvo estipulação contratual em contrário”
(BRASIL, 1998, s.p.).

O artigo 6° traz as situações que podem tranquilamente acontecer e que


não se tratam de ofensas aos direitos do titular de programa de computador.
Vejamos:
Art. 6º Não constituem ofensa aos direitos do titular de programa de
computador:
I - a reprodução, em um só exemplar, de cópia legitimamente adquirida,
desde que se destine à cópia de salvaguarda ou armazenamento
eletrônico, hipótese em que o exemplar original servirá de salvaguarda;
II - a citação parcial do programa, para fins didáticos, desde que
identificados o programa e o titular dos direitos respectivos;
III - a ocorrência de semelhança de programa a outro, preexistente,
quando se der por força das características funcionais de sua aplicação,
da observância de preceitos normativos e técnicos, ou de limitação de
forma alternativa para a sua expressão;
IV - a integração de um programa, mantendo-se suas características
essenciais, a um sistema aplicativo ou operacional, tecnicamente
indispensável às necessidades do usuário, desde que para o uso
exclusivo de quem a promoveu (BRASIL, 1998, s.p.).

Segundo Mendes e Romani (2003), a lei exige que o prazo de validade


técnica do programa de computador seja consignado, ou no contrato de licença de
uso, ou no documento fiscal, ou no suporte físico, ou na embalagem do software.

Trata-se da expectativa da vida útil do software no mercado, antes de


se tornar tecnicamente obsoleto. No decorrer desse período, o fabricante ou o
distribuidor do software deve manter serviços de suporte e assistência técnica,
gratuitos ou não.

Se o produto for retirado do mercado antes do término do prazo de


validade técnica, o usuário tem direito a indenização.

A lei não estabelece qual é a abrangência desse prazo e esta omissão invoca
a aplicação do artigo 32, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor,
o qual prevê que o fabricante e o importador devem prover serviços e peças de
reposição ao consumidor por período razoável de tempo na forma da lei. Cabe
ao juiz dizer o que considera prazo razoável, numa eventual demanda judicial. O
artigo 7° da Lei de Software trata desse prazo da seguinte forma:

“Art. 7º O contrato de licença de uso de programa de computador, o


documento fiscal correspondente, os suportes físicos do programa ou as respectivas
embalagens deverão consignar, de forma facilmente legível pelo usuário, o prazo
de validade técnica da versão comercializada” (BRASIL, 1998, s.p.).
94
TÓPICO 1 | LEI DE SOFTWARE

NOTA

Podemos perceber aqui uma lacuna da lei, estão lembrados?

O próximo artigo afirma que aquele que comercializar programa de


computador fica obrigado, no território nacional, a prestar todos os serviços
técnicos necessários ao bom funcionamento do programa de computador, quer
sejam manutenções, novas versões, suporte etc., sendo esses serviços pagos ou
não. E o parágrafo único desse mesmo artigo diz que a obrigação continuará
se o programa de computador for retirado de circulação durante o prazo de
validade técnica, a não ser que se pague um valor monetário por indenização de
eventuais prejuízos causados a terceiros. Passamos, então, ao artigo 8° e também
ao parágrafo único:
Art. 8º Aquele que comercializar programa de computador, quer
seja titular dos direitos do programa, quer seja titular dos direitos de
comercialização, fica obrigado, no território nacional, durante o prazo
de validade técnica da respectiva versão, a assegurar aos respectivos
usuários a prestação de serviços técnicos complementares relativos
ao adequado funcionamento do programa, consideradas as suas
especificações (BRASIL, 1998, s.p.).

“Parágrafo único. A obrigação persistirá no caso de retirada de circulação


comercial do programa de computador durante o prazo de validade, salvo justa
indenização de eventuais prejuízos causados a terceiros” (BRASIL, 1998, s.p.).

O artigo 9° dispõe sobre o contrato de licença. O respectivo artigo afirma


que para manter a regularidade do programa de computador é necessário que
se tenha o contrato de licença, e o parágrafo único afirma que, na falta desse
contrato, a nota fiscal relativa à aquisição ou licenciamento de cópia servirá para
comprovação da regularidade do uso do programa de computador. Vejamos:

“Art. 9º O uso de programa de computador no país será objeto de contrato


de licença”.
“Parágrafo único. Na hipótese de eventual inexistência do contrato referido
no caput deste artigo, o documento fiscal relativo à aquisição ou licenciamento
de cópia servirá para comprovação da regularidade do seu uso” (BRASIL, 1998,
s.p.).

O próximo artigo (art. 10) afirma que, se o programa de computador tiver


origem externa, deverá trazer em quaisquer uns de seus atos e contrato de licença
os valores referentes aos tributos e encargos exigíveis e a responsabilidade pelos
respectivos pagamentos. O parágrafo primeiro desse mesmo artigo ainda prevê
quais as cláusulas que são consideradas nulas nos referidos contratos e atos:

95
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

Art. 10. Os atos e contratos de licença de direitos de comercialização


referentes a programas de computador de origem externa deverão
fixar, quanto aos tributos e encargos exigíveis, a responsabilidade
pelos respectivos pagamentos e estabelecerão a remuneração do titular
dos direitos de programa de computador residente ou domiciliado no
exterior.
§ 1º Serão nulas as cláusulas que:
I- limitam a produção, a distribuição ou a comercialização, em violação
às disposições normativas em vigor;
II- eximam qualquer dos contratantes das responsabilidades por
eventuais ações de terceiros, decorrentes de vícios, defeitos ou violação
de direitos de autor (BRASIL, 1998, s.p.).

E o parágrafo segundo afirma que a pessoa responsável por este pagamento


deverá manter em seu poder, pelo prazo de cinco anos, toda a documentação
necessária para a comprovação da legalidade dos pagamentos.

§ 2º O remetente do correspondente valor em moeda estrangeira,


em pagamento da remuneração de que se trata, conservará em seu
poder, pelo prazo de cinco anos, todos os documentos necessários à
comprovação da licitude das remessas e da sua conformidade ao caput
deste artigo (BRASIL, 1998, s.p.).

É o INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) que irá fazer o


registro de toda a documentação necessária em casos de mudança/transferência
de tecnologia para outros (terceiros). Vamos acompanhar no próximo artigo da
Lei de Software.
Art. 11. Nos casos de transferência de tecnologia de programa de
computador, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial fará
o registro dos respectivos contratos, para que produzam efeitos em
relação a terceiros.
Parágrafo único. Para o registro de que trata este artigo, é obrigatória
a entrega, por parte do fornecedor ao receptor de tecnologia, da
documentação completa, em especial do código-fonte comentado,
memorial descritivo, especificações funcionais internas, diagramas,
fluxogramas e outros dados técnicos necessários à absorção da
tecnologia (BRASIL, 1998, s.p.).

Como podemos perceber, os artigos que seguem tratam especificamente


das infrações e penalidades que poderão acontecer em decorrência de algum tipo
de violação da Lei de Software.

O artigo 12 afirma que quem violar os direitos de autor de programa de


computador (pirataria de software, por exemplo) – o usuário doméstico – terá a
pena que o artigo menciona. Porém, essa pena é aumentada caso o infrator viole
os direitos do autor com o objetivo de obter ganho financeiro sem a autorização
expressa do autor ou de quem o represente. A autorização a que se refere o artigo
deve, obrigatoriamente, ser escrita (expressa) – é o que nos traz o parágrafo
primeiro deste artigo. Já o parágrafo segundo diz que terá a mesma pena quem
vende, expõe à venda, introduz no país, adquire, oculta ou tem em depósito, para
fins de comércio, original ou cópia de programa de computador, produzido com
violação de direito autoral (BRASIL, 1998). Verifique no trecho a seguir:
96
TÓPICO 1 | LEI DE SOFTWARE

Art. 12. Violar direitos de autor de programa de computador:


Pena - Detenção de seis meses a dois anos ou multa.
§ 1º Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de
programa de computador, no todo ou em parte, para fins de comércio,
sem autorização expressa do autor ou de quem o represente:
Pena - Reclusão de um a quatro anos e multa.
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe
à venda, introduz no país, adquire, oculta ou tem em depósito, para
fins de comércio, original ou cópia de programa de computador,
produzido com violação de direito autoral (BRASIL, 1998, s.p.).

Queixa a que se refere o parágrafo terceiro é a reclamação oferecida pelo


ofendido, ou seja, até agora pela pessoa que teve o seu direito violado. Este
parágrafo afirma que o Ministério Público deverá denunciar nos casos trazidos
pelos incisos I e II. Acompanhe:
§ 3º Nos crimes previstos neste artigo, somente se procede mediante
queixa, salvo:
I- quando praticados em prejuízo de entidade de direito público,
autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação
instituída pelo poder público;
II- quando, em decorrência de ato delituoso, resultar sonegação fiscal,
perda de arrecadação tributária ou prática de quaisquer dos crimes
contra a ordem tributária ou contra as relações de consumo.
§ 4º No caso do inciso II do parágrafo anterior, a exigibilidade do
tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, processar-se-á
independentemente de representação (BRASIL, 1998, s.p.).

Em nossa área de TI podemos ainda ter pedidos cautelares (tutela


cautelar), em que não é mais necessário entrar com um processo em separado,
como preconizado no antigo CPC.

Um caso muito típico em nossa área é no sentido de busca e apreensão


de cópias ilegais (piratas) para que estas sejam apreendidas. De acordo com o
novo CPC, isso poderá ser solicitado nos autos da ação principal (processo de
conhecimento, por exemplo), sem necessitar de um processo autônomo.

O advogado do autor também poderá ajuizar uma ação por indenização


de perdas e danos pelos prejuízos sofridos. Além disso, o juiz poderá determinar
que o infrator não execute mais a infração e, se for determinado que as fontes
do programa de computador precisarem vir ao processo, a autoridade judiciária
poderá determinar que o processo ocorra em segredo de justiça. É o princípio da
publicidade entrando em ação!

Aquele que ajuizar o processo com o objetivo de simplesmente


comprometer, desmoralizar e prejudicar o outro, será responsabilizado por
litigância de má-fé, isto é, o autor da parte entra com o processo sabendo que não
tem direito sobre o caso, mas apenas quer criar uma situação que poderá tornar-
se inconveniente para todas as pessoas envolvidas no processo. Os artigos que
seguem trazem justamente isso que estamos comentando:

97
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

Art. 13. A ação penal e as diligências preliminares de busca e


apreensão, nos casos de violação de direito de autor de programa de
computador, serão precedidas de vistoria, podendo o juiz ordenar a
apreensão das cópias produzidas ou comercializadas com violação de
direito de autor, suas versões e derivações, em poder do infrator ou
de quem as esteja expondo, mantendo em depósito, reproduzindo ou
comercializando.
Art. 14. Independentemente da ação penal, o prejudicado poderá
intentar ação para proibir ao infrator a prática do ato incriminado, com
cominação de pena pecuniária para o caso de transgressão do preceito.
§ 1º A ação de abstenção de prática de ato poderá ser cumulada com a
de perdas e danos pelos prejuízos decorrentes da infração.
§ 2º Independentemente de ação cautelar preparatória, o juiz poderá
conceder medida liminar proibindo ao infrator a prática do ato
incriminado, nos termos deste artigo.
§ 3º Nos procedimentos cíveis, as medidas cautelares de busca e
apreensão observarão o disposto no artigo anterior.
§ 4º Na hipótese de serem apresentadas, em juízo, para a defesa dos
interesses de qualquer das partes, informações que se caracterizem
como confidenciais, deverá o juiz determinar que o processo prossiga
em segredo de justiça, vedado o uso de tais informações também à
outra parte para outras finalidades.
§ 5º Será responsabilizado por perdas e danos aquele que requerer e
promover as medidas previstas neste e nos arts. 12 e 13, agindo de má-
fé ou por espírito de emulação, capricho ou erro grosseiro, nos termos
dos arts. 16, 17 e 18 do Código de Processo Civil (BRASIL, 1998, s.p.).

A Lei de Software é um importante instrumento para resguardar os


direitos e obrigações dos profissionais da área de TI e, por este motivo, faz-se
necessário termos tal conhecimento no que se refere ao registro de software,
“pirataria” e demais condutas em nossa área de atuação.

98
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Lei de Software (Lei n° 9.609/1998) disciplina algumas condutas dos


profissionais de TI no que tange à proteção ao programa de computador.

• Atualmente, no Brasil, não há uma lei específica para os crimes virtuais/crimes


eletrônicos/crimes de internet. Há um Projeto de Lei que foi aprovado em 2012.

• O autor do programa não é obrigado a registrar o seu software, desde que


tenha outro meio verossímil de provar que é o criador do produto.

• O artigo 3° da Lei n° 9.609/1998 afirma que o titular do programa de computador


pode registrar o seu programa de computador em órgão ou entidade a ser
designado por ato do Poder Executivo, por iniciativa do Ministério responsável
pela política de ciência e tecnologia. O órgão a que se refere o artigo é o INPI –
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (www.inpi.gov.br); e o ministério
responsável é o Ministério da Ciência e Tecnologia.

• O trazido pelo parágrafo 2° do artigo 3° da Lei n° 9.609/1998 diz que a parte


do código-fonte que será trazida para registro junto ao INPI será de caráter
sigiloso e somente o juiz ou o requerimento do próprio titular poderá quebrar
esse sigilo.

• O programa de computador será exclusivamente do empregador se o


empregado (programador) foi contratado para esse fim, ou seja, programação.
É importante lembrarmos que esse registro deve estar em Carteira de Trabalho
(CTPS), contrato de trabalho ou outros documentos que venham comprovar o
alegado.

• Caso o empregado tenha desenvolvido o programa de computador sem que


tenha sido contratado para tal, o produto do seu trabalho será de propriedade
do empregado.

• O uso de programa de computador no país será objeto de contrato de licença.


Na falta de contrato, a nota fiscal relativa à aquisição ou licenciamento de cópia
servirá para comprovação da regularidade do uso do programa de computador.

• É o INPI que irá fazer o registro de toda a documentação necessária em casos


de mudança/transferência de tecnologia para outros (terceiros).

• O artigo 12 da Lei n° 9.609/1998 afirma que quem violar os direitos de autor


de programa de computador (pirataria de software, por exemplo) – o usuário

99
doméstico – terá a pena que o artigo menciona. Porém, essa pena é aumentada
caso o infrator viole os direitos do autor com o objetivo de obter ganho financeiro
sem a autorização expressa do autor ou de quem o represente. A autorização a
que se refere o artigo deve, obrigatoriamente, ser escrita (expressa).

• Terá a mesma pena mencionada no artigo 12 quem vende, expõe à venda,


introduz no país, adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de comércio,
original ou cópia de programa de computador, produzido com violação de
direito autoral.

• Um caso muito típico em nossa área é no sentido de busca e apreensão de


cópias ilegais (piratas) para que estas sejam apreendidas. De acordo com o
novo CPC, isso poderá ser solicitado nos autos da ação principal (processo de
conhecimento, por exemplo), sem necessitar de um processo autônomo.

100
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com a Lei de Software (Lei n° 9.609/1998):

a) ( ) A proteção aos direitos de que trata esta lei depende de registro.


b) ( ) A proteção aos direitos de que trata esta lei independe de registro.
c) ( ) Não há esta previsão nesta lei, no que tange a proteção concedida ao
software.
d) ( ) O registro de software poderá ser feito em qualquer órgão público.

2 De acordo com a Lei de Software (Lei n° 9.609/1998), assinale a alternativa


correta:

a) ( ) Os direitos relativos ao programa de computador são legislados pela


Lei de Software e por qualquer outra Lei Complementar no caso de haver
uma lacuna.
b) ( ) Pertencerão sempre ao empregador, contratante de serviços ou órgão
público, os direitos relativos ao programa de computador.
c) ( ) Os direitos relativos ao programa de computador nunca pertencerão ao
empregado, bolsista, estagiário e assemelhados.
d) ( ) Pertencerão, com exclusividade, ao empregado, os direitos concernentes
a programa de computador gerado sem relação com o contrato de trabalho,
prestação de serviços ou vínculo estatutário, e sem a utilização de recursos,
informações tecnológicas, segredos industriais e de negócios, materiais,
instalações ou equipamentos do empregador, da empresa ou entidade
com a qual o empregador mantenha contrato de prestação de serviços ou
assemelhados, do contratante de serviços ou órgão público.

3 Assinale a alternativa INCORRETA. De acordo com a Lei de Software (Lei


n° 9.609/1998), não constitui ofensa aos direitos do titular de programa de
computador:

a) ( ) A reprodução, em um só exemplar, de cópia legitimamente adquirida,


desde que se destine a cópia de salvaguarda ou armazenamento eletrônico,
hipótese em que o exemplar original servirá de salvaguarda.
b) ( ) A citação parcial do programa, para fins não didáticos, desde que
identificados o programa e o titular dos direitos respectivos.
c) ( ) A ocorrência de semelhança de programa a outro, preexistente,
quando se der por força das características funcionais de sua aplicação, da
observância de preceitos normativos e técnicos, ou de limitação de forma
alternativa para a sua expressão.
d) ( ) A integração de um programa, mantendo-se suas características
essenciais, a um sistema aplicativo ou operacional, tecnicamente
indispensável às necessidades do usuário, desde que para o uso exclusivo
de quem a promoveu.

101
4 De acordo com a Lei de Software (Lei n° 9.609/1998):

a) ( ) O disposto no artigo 12, §§ 1° e 2°, configura pirataria.


b) ( ) O disposto no artigo 12, §§ 1° e 2°, não configura pirataria.
c) ( ) Somente o disposto no artigo 12, § 1° configura pirataria.
d) ( ) Somente disposto no artigo 12, § 2° configura pirataria.

102
UNIDADE 2 TÓPICO 2

LEI DE DIREITOS AUTORAIS

1 INTRODUÇÃO
O Tópico 2 foi reservado para o estudo da Lei de Direitos Autorais (Lei
n° 9.610/1998). Segundo Campos (2005), a proteção do direito do autor vem
consagrada na Constituição Federal, em seu artigo 5°, incisos XXVII a XXIX,
dizendo que ao autor pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou
reprodução de suas obras, transmitindo-se esses direitos aos herdeiros pelo
tempo que a lei fixar. Também é assegurado aos autores de inventos industriais
o privilégio de registrá-los em órgão público para fazer valer perante terceiros
o seu direito exclusivo de exploração, por tempo determinado. Com isso, fica
assegurado também pela lei o direito dos autores de obter reparação por perdas
e danos que lhes forem causados por terceiros, em razão do uso indevido ou
desautorizado do bem de seu criador, o qual pode se utilizar da ação de busca e
apreensão, com efeitos imediatos de cessação do abuso.

Nos tópicos seguintes, estudaremos outras legislações mais específicas que


poderão ser aplicadas em nossa área. Nas relações de consumo iremos estudar o
Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/1990) e verificar a relação que esta
lei possui com a nossa área.

Por fim, estudaremos os aspectos das relações trabalhistas em TI e os


contratos, mais especificamente na área de TI. Aqui, conheceremos a estrutura de
um contrato e quais são as características de um contrato “válido”.

2 LEI DE DIREITOS AUTORAIS – LEI N° 9.610/98


Segundo Campos (2005), ao autor se confere o direito de exploração de sua
criação, mas o autor também pode ceder esse direito a terceiros, para exploração
econômica, mediante remuneração que pode estipular em acordo. O Direito
Autoral é um ramo do Direito Privado que trata das relações jurídicas decorrentes
da criação da inteligência humana, seja literária, artística ou científica, bem como
da exploração econômica dessas obras.

103
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

NOTA

O Direito Autoral é o que trata das relações jurídicas decorrentes da criação da


inteligência humana, seja literária, artística ou científica, bem como da exploração econômica
dessas obras.

Campos (2005) relata que a obra criada há de ter características


individualizadoras, a fim de que não se confunda com outras anteriormente
criadas. Não pode ser exigida uma originalidade absoluta, mas sim que cada
obra tenha contornos próprios. Não se considera violação do direito autoral a
reprodução de pequenos trechos literários, inseridos em obra maior, exigindo-se,
apenas, que o nome do autor, cujo trabalho foi reproduzido, seja mencionado.

Adquirir ou manter tais materiais, como CD, DVD, Blu-ray e afins para
efeitos de locação, com conhecimento da origem ilícita, configura o delito de
receptação dolosa.

TUROS
ESTUDOS FU

Mais tarde estudaremos as formas de cometimento de um crime/delito, tais


como: a forma culposa, dolosa e preterdolosa.

É importante saber que a criação do espírito ou da inteligência humana,


para ser protegida pelo direito, necessita que seja materializada, tornando-se
demonstrável por alguma forma de expressão, seja por palavra escrita (um livro),
seja por notas musicais (uma composição musical), por imagens reproduzidas
(fotografia, filme), seja de forma corpórea (escultura, pintura), por meios
eletrônicos (programa de computador) etc. O direito se manifesta quando a
forma de expressão é demonstrável e sua existência provável pelos meios de
prova permitidos em juízo (CAMPOS, 2005).

O artigo 7° da Lei de Direitos Autorais (Lei n° 9.610/1998) afirma que são


obras intelectuais as criações do espírito de qualquer modo exteriorizadas, tais
como (BRASIL, 1998, s.p.):
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito,
expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível
ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:
I- os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;
II- as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma
natureza;
104
TÓPICO 2 | LEI DE DIREITOS AUTORAIS

III- as obras dramáticas e dramático-musicais;


IV- as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe
por escrito ou por outra qualquer forma;
V- as composições musicais tenham ou não letra;
VI- as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as
cinematográficas;
VII- as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo
análogo ao da fotografia;
VIII- as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte
cinética;
IX- as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza;
X- os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia,
engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;
XI- as adaptações, traduções e outras transformações de obras
originais, apresentadas como criação intelectual nova;
XII- os programas de computador;
XIII- as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias,
dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção,
organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação
intelectual.
§ 1º Os programas de computador são objeto de legislação específica,
observadas as disposições desta lei que lhes sejam aplicáveis.
§ 2º A proteção concedida no inciso XIII não abarca os dados ou
materiais em si mesmos e se entende sem prejuízo de quaisquer
direitos autorais que subsistam a respeito dos dados ou materiais
contidos nas obras.
§ 3º No domínio das ciências, a proteção recairá sobre a forma literária
ou artística, não abrangendo o seu conteúdo científico ou técnico, sem
prejuízo dos direitos que protegem os demais campos da propriedade
imaterial.

É importante saber ainda que a Lei de Direitos Autorais, em seu artigo


46, também limita os direitos autorais, conferindo a terceiros a possibilidade de
reprodução em alguns casos, como:
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:
I- a reprodução:
a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo,
publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor,
se assinados, e da publicação de onde foram transcritos;
b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões
públicas de qualquer natureza;
c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem,
feitos sob encomenda, quando realizada pelo proprietário do objeto
encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles representada
ou de seus herdeiros;
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de
deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja
feita mediante o sistema braile ou outro procedimento em qualquer
suporte para esses destinatários;
II- a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso
privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;
III- a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de
comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo,
crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir,
indicando-se o nome do autor e a origem da obra;

105
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

IV- o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a


quem elas se dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem
autorização prévia e expressa de quem as ministrou;
V- a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas, fonogramas
e transmissão de rádio e televisão em estabelecimentos comerciais,
exclusivamente para demonstração à clientela, desde que esses
estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que
permitam a sua utilização;
VI- a representação teatral e a execução musical, quando realizadas
no recesso familiar ou, para fins exclusivamente didáticos, nos
estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito de
lucro;
VII- a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas para
produzir prova judiciária ou administrativa;
VIII- a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras
preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de
artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo
principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da
obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos
interesses dos autores (BRASIL, 1998b, s.p.).

O direito patrimonial do autor liga-se materialmente a sua criação,


permitindo-lhe usar e gozar desses direitos com o fito de lucro ou outra vantagem
econômica. O direito moral que liga o autor a sua obra, por sua vez, é um direito
personalíssimo, significando o poder que tem o autor de ligar seu nome à obra
criada, de modificá-la ou aperfeiçoá-la a seu critério, de publicá-la ou mantê-la
em sigilo, impedindo sua publicação, ou mesmo de publicá-la sob pseudônimo.
Esse direito se funda no respeito à personalidade humana, em sua elevada
manifestação criadora literária, artística e científica. Se, por acaso, qualquer
pessoa reproduz obra literária, artística ou científica, sem a autorização do autor,
se sujeita à perda dos exemplares que forem apreendidos, além do pagamento de
multa prevista em lei (CAMPOS, 2005).

E
IMPORTANT

O direito patrimonial do autor liga-se materialmente a sua criação, permitindo-


lhe usar e gozar desses direitos com o objetivo de lucro.
Direito moral é um direito personalíssimo, significando o poder que tem o autor de ligar seu
nome à obra criada, de modificá-la ou aperfeiçoá-la a seu critério.
Direito personalíssimo significa o direito próprio do autor, não podendo ser transferido a
outros. Somente o autor é o titular desse direito.

O artigo 41, da Lei 9.610 traz que os direitos patrimoniais do autor


perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subsequente ao de
seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil.

106
TÓPICO 2 | LEI DE DIREITOS AUTORAIS

Decorrido o prazo de proteção, a obra passa a pertencer ao domínio


público. São também de domínio público as obras de autores que não deixaram
sucessores ou de autores desconhecidos.

Cabe aos autores também, além dos direitos patrimoniais advindos da


obra, o direito de impedir sua reprodução, gravação, interpretação, transmissão,
retransmissão ou execução, por quaisquer meios ou forma de comunicação, seja
a título oneroso, gratuito ou beneficente. A lei instituiu o Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição (ECAD), para efeito de representar os autores no
controle, arrecadação e distribuição dos proventos resultantes em seu favor.

DICAS

O site do ECAD é o <www.ecad.org.br>. Acesse!

A proteção à propriedade intelectual de programa de computador é


conferida ao autor dando-lhe o mesmo tratamento que se dá às obras literárias,
artísticas e científicas, isto é, independe de registro em órgão público para
produzir efeitos contra terceiros, mas poderá, a critério do título do titular, ser
registrado em órgão ou entidade designada pelo governo (CAMPOS, 2005).

ATENCAO

Como já vimos, esse órgão é o INPI – Instituto Nacional da Propriedade


Industrial.

Sobre as sanções à violação dos direitos autorais, Campos (2005)


afirma que quem reproduzir, divulgar, vender ou expor à venda, transmitir ou
reproduzir publicamente obra de autor, sem autorização deste, ficará sujeito às
sanções civis descritas nas leis de proteção ao direito autoral, dentre elas, ficar
sujeito à busca e apreensão, suspensão, interdição da divulgação, da transmissão
ou do espetáculo, sujeitando-se às perdas e aos danos mencionados na lei ou
apurados em juízo, sem prejuízo dos procedimentos criminais cabíveis na defesa
dos direitos e interesses dos autores.

Para um estudo mais aprofundado, separamos artigos da Lei de Direitos


Autorais (Lei n° 9.610/1998) que são específicos para o tratamento do software,
foco de nossa área de TI. (BRASIL, 1998b, s.p.). Acompanhe:
107
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

Art. 2º Os estrangeiros domiciliados no exterior gozarão da proteção


assegurada nos acordos, convenções e tratados em vigor no Brasil.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto nesta lei aos nacionais ou pessoas
domiciliadas em país que assegure aos brasileiros ou pessoas domiciliadas no
Brasil a reciprocidade na proteção aos direitos autorais ou equivalentes.
Art. 3º Os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens
móveis.
Art. 4º Interpretam-se restritivamente os negócios jurídicos sobre os
direitos autorais.
Art. 5º Para os efeitos desta lei, considera-se:
[...]
V- comunicação ao público - ato mediante o qual a obra é colocada ao
alcance do público, por qualquer meio ou procedimento e que não consista na
distribuição de exemplares;
VII- contrafação - a reprodução não autorizada;
[...]
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas
por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível,
conhecido ou que se invente no futuro, tais como:
[...]
XII- os programas de computador;
§ 1º Os programas de computador são objeto de legislação específica,
observadas as disposições desta lei que lhes sejam aplicáveis.
[...]
Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou
científica.
Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às
pessoas jurídicas nos casos previstos nesta lei.
Art. 12. Para se identificar como autor, poderá o criador da obra literária,
artística ou científica usar de seu nome civil, completo ou abreviado até por
suas iniciais, de pseudônimo ou qualquer outro sinal convencional.
Art. 13. Considera-se autor da obra intelectual, não havendo prova em
contrário, aquele que, por uma das modalidades de identificação referidas no
artigo anterior, tiver, em conformidade com o uso, indicada ou anunciada essa
qualidade na sua utilização.
Art. 18. A proteção aos direitos de que trata esta lei independe de registro.
Art. 24. São direitos morais do autor:
I- o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;
IV- o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la
ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;
Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis.
Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização
da obra, por quaisquer modalidades, tais como:
I- a reprodução parcial ou integral;

108
TÓPICO 2 | LEI DE DIREITOS AUTORAIS

Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos


contados de 1° de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida
a ordem sucessória da lei civil.
Art. 96. É de setenta anos o prazo de proteção aos direitos conexos,
contados a partir de 1º de janeiro do ano subsequente à fixação, para os
fonogramas; à transmissão, para as emissões das empresas de radiodifusão; e
à execução e representação pública, para os demais casos.
Art. 97. Para o exercício e defesa de seus direitos, podem os autores e os
titulares de direitos conexos associarem-se sem intuito de lucro.
Art. 102. O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida,
divulgada ou de qualquer forma utilizada, poderá requerer a apreensão dos
exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da
indenização cabível.
Art. 103. Quem editar obra literária, artística ou científica, sem autorização
do titular, perderá para este os exemplares que se apreenderem e pagar-lhe-á o
preço dos que tiver vendido.
Parágrafo único. Não se conhecendo o número de exemplares que
constituem a edição fraudulenta, pagará o transgressor o valor de três mil
exemplares, além dos apreendidos.
Art. 104. Quem vender, expuser à venda, ocultar, adquirir, distribuir,
tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude,
com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto
ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com
o contrafator, nos termos dos artigos precedentes, respondendo como
contrafatores o importador e o distribuidor em caso de reprodução no exterior.

109
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Ao autor do programa se confere o direito de exploração de sua criação, mas o


autor também pode ceder esse direito a terceiros, para exploração econômica,
mediante remuneração que podem estipular em acordo.

• O Direito Autoral é um ramo do Direito Privado que trata das relações jurídicas
decorrentes da criação da inteligência humana, seja literária, artística ou
científica, bem como da exploração econômica dessas obras.

• É importante sabermos que a criação do espírito ou da inteligência humana,


para ser protegida pelo direito, necessita que seja materializada, tornando-se
demonstrável por alguma forma de expressão, por exemplo, no caso da área de
TI, por meios eletrônicos (programa de computador).

• É importante sabermos ainda que a Lei de Direitos Autorais, em seu artigo 46,
também limita os direitos autorais, conferindo a terceiros a possibilidade de
reprodução em alguns casos.

• O direito patrimonial do autor liga-se materialmente a sua criação, permitindo-


lhe usar e gozar desses direitos com o fito de lucro ou outra vantagem
econômica. O direito moral que liga o autor a sua obra, por sua vez, é um
direito personalíssimo, significando o poder que tem o autor de ligar seu nome
à obra criada, de modificá-la ou aperfeiçoá-la a seu critério, de publicá-la ou
mantê-la em sigilo, impedindo sua publicação, ou mesmo de publicá-la sob
pseudônimo.

• Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de


1° de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida a ordem
sucessória da lei civil.

• Decorrido o prazo de proteção, a obra passa a pertencer ao domínio público. São


também de domínio público as obras de autores que não deixaram sucessores
ou de autores desconhecidos.

• Sobre as sanções à violação dos Direitos Autorais, Campos (2005) afirma que
quem reproduzir, divulgar, vender ou expor à venda, transmitir ou reproduzir
publicamente obra de autor, sem autorização deste, ficará sujeito às sanções
civis descritas nas leis de proteção ao direito autoral, dentre elas: ficar sujeito
à busca e apreensão, suspensão, interdição da divulgação, da transmissão
ou do espetáculo, sujeitando-se às perdas e aos danos mencionados na lei ou
apurados em juízo, sem prejuízo dos procedimentos criminais cabíveis na
defesa dos direitos e interesses dos autores.

110
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com a Lei de Direitos Autorais (Lei n° 9.610/1998), no que tange à


autoria das obras intelectuais:

a) ( ) O autor somente poderá ser pessoa física.


b) ( ) O autor somente poderá ser pessoa jurídica.
c) ( ) O autor poderá ser pessoa física ou pessoa jurídica.
d) ( ) Não existe previsão nesta lei sobre a autoria das obras intelectuais.

2 De acordo com a Lei de Direitos Autorais (Lei n° 9.610/1998), no que tange


aos direitos morais do autor:

a) ( ) Os direitos morais do autor são alienáveis e irrenunciáveis.


b) ( ) Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis.
c) ( ) Os direitos morais do autor não são alienáveis, nem irrenunciáveis.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

3 De acordo com a Lei de Direitos Autorais (Lei n° 9.610/1998), no que tange


aos direitos patrimoniais do autor:

a) ( ) Depende da autorização prévia e expressa do autor para a utilização da


obra.
b) ( ) Depende da autorização prévia do autor para a utilização da obra.
c) ( ) Depende da autorização expressa do autor para a utilização da obra.
d) ( ) Depende da autorização prévia e expressa do réu para a utilização da
obra.

4 De acordo com a Lei de Direitos Autorais (Lei n° 9.610/1998), no que tange às


sanções civis:

a) ( ) O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de


qualquer forma utilizada não poderá requerer a apreensão dos exemplares
reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização
cabível.
b) ( ) O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou
de qualquer forma utilizada, poderá requerer a apreensão dos exemplares
reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização
cabível.
c) ( ) Quem não for titular do direito cuja obra seja fraudulentamente
reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada poderá requerer a
apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem
prejuízo da indenização cabível.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

111
112
UNIDADE 2 TÓPICO 3

AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI

1 INTRODUÇÃO
Você percebeu como o direito possui relação com os acontecimentos e
as práticas que se dão em nossa área? Se tivermos esse entendimento, podemos
lançar mão deste conhecimento para protegermos os frutos de nosso trabalho de
más condutas que possam acontecer tanto no mundo real, como no modo virtual.

O Tópico 3 foi reservado para o estudo das relações de consumo na TI, bem
como os seus aspectos tributários. Segundo Campos (2005), o direito do consumidor
é um conjunto de regras jurídicas que visa equilibrar as relações decorrentes do
consumo de bens e serviços, preservando os interesses do consumidor.

Estudaremos as relações trabalhistas em TI e os contratos, conheceremos


a estrutura de um contrato e quais são as características de um contrato “válido”.

2 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (LEI N°


8.078/90)
De acordo com o IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), o
Código de Defesa do Consumidor é uma lei abrangente que trata das relações de
consumo em todas as esferas: civil, definindo as responsabilidades e os mecanismos
para a reparação de danos causados; administrativa, definindo os mecanismos para
o poder público atuar nas relações de consumo; e penal, estabelecendo novos tipos
de crimes e as punições para os mesmos (IDEC, 1996-2018).

Até o ano de 1990 não havia legislação específica para a defesa do


consumidor nas relações de consumo, ficando assim o consumidor desprovido
de mecanismos de proteção. O presente código/lei estabelece normas de proteção
e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos do art.
5°, inciso XXXII e art. 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas
Disposições Transitórias. É o que preceitua o art. 1° do Código de Defesa do
Consumidor. Assim, também impõe maior qualidade na fabricação dos produtos
e no próprio atendimento das empresas aos seus clientes de um modo geral
(IDEC, 1996-2018).

O Código de Defesa do Consumidor possui um princípio relevante na


relação de consumo, que é o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor
frente ao mercado de consumo. Assim, a lei que defende o consumidor (pessoa
física) reconhece que este consumidor é o lado “mais fraco” na relação com uma
113
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

empresa (pessoa jurídica), pois a empresa possui todo um aparato de estrutura,


suportes, assessorias que o consumidor não possui.

É importante salientar que esse material foi desenvolvido partindo do


pressuposto de que o profissional de TI será visualizado como fornecedor de
produtos e/ou serviços na relação de consumo. Assim, veremos quais dispositivos
que a Lei de Defesa do Consumidor nos proporciona para nos abrigar e não passar
por ações judiciais em face de nosso consumidor, pois, conforme já mencionado,
o consumidor possui a seu favor o princípio que reconhece a sua vulnerabilidade
na relação de consumo.

São partes nas relações de consumo o consumidor e o fornecedor. O


primeiro é o sujeito que, na sociedade de consumo, adquire bens ou contrata a
prestação de serviços como destinatário final. O fornecedor é o que desenvolve
atividades de produção, importação, exportação, distribuição, comercialização
de produtos ou prestação de serviços.

NOTA

Consumidor é o sujeito que, na sociedade de consumo, adquire bens ou contrata


a prestação de serviços como destinatário final.
Fornecedor é o que desenvolve atividades de produção, importação, exportação, distribuição,
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza


produto ou serviço como destinatário final (art. 2° do Código de Defesa do
Consumidor – CDC).

De acordo com Quadros (2004), apesar da controvérsia sobre a


conceituação de quem pode ser reconhecido como consumidor, vem sendo
adotada a tese prevista no CDC, em seu artigo 2º, que considera consumidor toda
pessoa que adquire bens ou contrata a prestação de serviços como destinatário
final, ou seja, o que age com o fim de atender sua própria necessidade ou de
outrem, e não para o desenvolvimento de sua atividade profissional (insumo).

Portanto, para que uma pessoa jurídica seja enquadrada como


consumidora pelo CDC, o bem ou serviço de consumo deve ser para uso
privado. Destarte, se o bem ou serviço for utilizado por pessoa jurídica para
atingir o seu objeto social, não existirá relação de consumo.

O Código do Consumidor, como consta de seu próprio título, tem


por escopo defender os interesses do consumidor, considerado, conforme já
mencionado, a parte mais fraca da relação de consumo. Suas normas se prestam a
atingir as seguintes finalidades enumeradas em seu artigo 6° (BRASIL, 1990, s.p.):
114
TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI

I- a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados


por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos;
II- a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos
e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações;
III- a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
IV- a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V- a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que
as tornem excessivamente onerosas;
VI- a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
VII- o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;
VIII- a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério
do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências;
X- a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

A Lei 8.078/1990 estabelece que o fabricante, o produtor, o construtor e o


importador respondam, independentemente da existência de culpa, pela reparação
de danos causados ao consumidor por defeitos de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus
produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre a sua
utilização ou riscos.

O defeito que dá margem à reparação do dano não é o defeito estético,


mas o defeito de substância, de concepção, aquele que determina o recolhimento
do produto, que se manifesta em vários exemplares, como decorrência de falha
de processo produtivo. É o caso do eletrodoméstico montado com determinado
interruptor que, por suas características, pode causar um incêndio ou um curto-
circuito.

Campos (2005) ainda afirma que os fornecedores do produto de consumo


respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que o
tornem impróprio ou inadequado ao consumo, ou lhe diminuam o valor, podendo
o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

O vício de qualidade do produto atinge a estética, o funcionamento ou a


qualidade do bem, em decorrência de erro ou acidentes de controle de qualidade ao
término de produção, ou de acondicionamento e transporte, que acabam atingindo
individualmente um ou outro produto. É o caso de eletrodoméstico que está com o
corpo riscado ou amassado, com uma peça faltando ou com fios desligados.

115
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

Não sendo sanado o vício, no prazo máximo de 30 dias, pode o consumidor


exigir alternativamente ou a sua escolha:

I) a substituição do produto;
II) a restituição da quantia paga; ou
III) o abatimento proporcional do preço.

Igualmente, respondem pelos vícios de qualidade os fornecedores de


serviços, assim como pela disparidade com as indicações constantes da mensagem
publicitária, podendo o consumidor exigir ou a restituição imediata da quantia
paga, o abatimento do preço ou a reexecução dos serviços.

Diversos comportamentos contratuais são considerados abusivos pela lei


do consumidor. Considera-se abusivo o comportamento em desconformidade com
os padrões mercadológicos de boa conduta em relação ao consumidor. O Código
de Defesa do Consumidor contempla, em diversos artigos, alguns comportamentos
que podem ser considerados abusivos, tais como (BRASIL, 1990):

a) Colocar no mercado produto de alto grau de nocividade ou periculosidade


(art. 10).
b) Comercializar produtos ou serviços impróprios (art. 18, § 6°, e art. 20, § 2°).
c) Não empregar peças de reposição adequadas (art. 21).
d) Não dispor de peças de reposição (art. 32).
e) Veicular publicidade clandestina e abusiva (arts. 36 e 37, § 2°).

Além desses, o autor afirma que o Código veda ao fornecedor de produtos


ou serviços as demais práticas consideradas abusivas (BRASIL, 1990):

a) Não manter estoque em conformidade com a demanda.


b) Prevalecer-se da ignorância do consumidor para impingir-lhe seus produtos.
c) Executar serviços sem prévia elaboração de orçamento e autorização expressa
do consumidor.
d) Colocar no mercado qualquer produto em desacordo com as normas dos
órgãos oficiais respectivos.
e) Elevar o preço sem justa causa.

NOTA

Considera-se abusivo o comportamento em desconformidade com os padrões


mercadológicos de boa conduta em relação ao consumidor.

Para o nosso conhecimento, Campos (2005) lembra que essas cláusulas


são meramente exemplificativas, pois o Código admite que a Secretaria de Direito

116
TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI

Econômico baixe normas ampliando o número de cláusulas contratuais ou de


situações de abusividade desfavoráveis ao consumidor.

A mencionada Lei 8.078/1990, em sua seção VI, nos traz que os bancos de
dados, tal como os de Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), contendo informações
cadastrais e pessoais, devem ficar disponíveis para acesso do consumidor quanto a
seus dados. Tais cadastros devem ser elaborados em linguagem de fácil compreensão,
não podendo conter as informações negativas por mais de cinco anos.

No caso de inexatidão dos dados, o consumidor pode exigir a sua correção,


devendo em cinco dias úteis ser informado das alterações feitas.

O Código do Consumidor estabelece sanções administrativas, sem


prejuízo das sanções civis e penais. São elas: apreensão do produto, cassação de
registro, suspensão temporária de atividade, cassação de licença, interdição total
ou parcial do estabelecimento e outras.

E
IMPORTANT

Daqui a pouco veremos o quadro completo de sanções que poderão ocorrer,


segundo o Código de Defesa do Consumidor.

A defesa do consumidor em juízo pode ser exercida individual ou


coletivamente. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I- Direitos difusos, quando atinge pessoas indeterminadas (exemplo:
danos causados por publicidade enganosa veiculada pela imprensa ou
televisão).
II- Direitos coletivos, quando atinge uma determinada coletividade
(exemplo: compradores de um determinado software).
III- Direitos individuais homogêneos, quando diversas pessoas
determinadas são atingidas, cada qual com um prejuízo diferente, mas
o dano decorre de uma origem comum (exemplo: vítimas de acidente
aéreo; ou habitantes de uma região prejudicados com a poluição de
um rio) (BRASIL, 1990, s.p.).

O direito de defesa poderá ser exercido, individualmente ou em grupo,


por meio de contratação de advogado; por representação do Ministério Público;
pelas entidades e órgãos da administração pública; ou ainda, por associações
públicas legalmente constituídas, que tenham por fim social defender interesses
e direitos protegidos pelo Código do Consumidor.

Confira, a partir de agora, alguns trechos da Lei de Defesa do Consumidor


(BRASIL, 1990) que todo o profissional da TI (como é esse o nosso foco) deveria
saber:

117
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

• É um dos direitos básicos do consumidor o acesso aos órgãos judiciários


e administrativos para a prevenção ou reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados/carentes.
• O outro é a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando,
a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências. Isto quer dizer que o autor do
processo (normalmente o consumidor) poderá solicitar que o fornecedor traga
ao processo toda a comprovação da qual necessita para proteger o seu direito.
Assim, o consumidor poderá fazer todas as alegações, desde que verossímeis
(ditas como verdadeiras), e, no momento de produzir as provas, poderá
solicitá-las ao fornecedor para que as traga ao processo. Isto porque, nesta lei
o consumidor normalmente é reconhecido como a parte mais frágil da relação
jurídica. Por padrão em um processo, a quem acusa cabe o ônus (obrigação)
de provar o alegado, ou seja, o autor entra com o processo e é ele quem deve
provar tudo que está sendo alegado; assim, com a inversão do ônus da prova,
isto é, com a inversão da obrigação de provar sendo transferida ao réu, não
cabe mais ao autor a obrigação de comprovar o alegado.

NOTA

É bom lembrarmos que para acontecer a inversão do ônus da prova, deve-se


provar que o consumidor realmente é a parte mais fraca da relação jurídica (é hipossuficiente)
e o que esse mesmo consumidor está alegando é verdadeiro, tem fundamento, tem lógica
(são verossímeis as alegações).

• O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:

o Trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não


duráveis.
o Noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis
(BRASIL, 1990).

A contagem do prazo decadencial inicia-se a partir da entrega efetiva do


produto ou do término da execução dos serviços. Interrompem a decadência, de
acordo com Brasil (1990):

• A reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o


fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que
deve ser transmitida de forma inequívoca.
• Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que
ficar evidenciado o defeito. Vício oculto é o defeito que não é de fácil percepção

118
TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI

e que você vai perceber com o uso do mesmo. Por exemplo: um carro pode ter
um vício aparente e de fácil constatação que é aquele logo percebido, como um
arranhão, um amassado, a maçaneta que não funciona; mas também pode ter
um vício oculto: o motor que não funciona adequadamente porque perde óleo
muito frequentemente.
• Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por
fato do produto ou do serviço iniciando-se a contagem do prazo a partir do
conhecimento do dano e de sua autoria.
• O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando,
em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder,
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social.
A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por
má administração.

NOTA

A reclamação comprovadamente formulada é aquela feita ao fornecedor de


produtos ou serviços de forma escrita e protocolada, preferencialmente. Assim, temos como
provar que a reclamação foi efetivamente feita.

É importante mencionar que, tanto a inversão do ônus da prova e a


desconsideração da personalidade jurídica da empresa foram trazidas pelo
Código de Defesa do Consumidor.

Conforme menciona a Lei do Consumidor, a desconsideração da


personalidade jurídica da empresa poderá ser decretada quando em benefício
do consumidor. Por lei, os bens da empresa e os bens do empresário não se
comunicam, isto é, há a separação patrimonial – os bens da empresa pertencem à
empresa e os do empresário pertencem ao empresário. Porém, caso ocorra alguma
confusão patrimonial, ou seja, o empresário adquire algo para si (particular)
com o dinheiro/patrimônio da empresa, a confusão patrimonial fica configurada
(BRASIL, 1990).

Quando a confusão patrimonial ficar evidenciada por diversas causas


conforme trazida pela Lei do Consumidor, o juiz poderá decretar a desconsideração
da personalidade jurídica da empresa e, assim, os patrimônios da pessoa física
(empresário) e da pessoa jurídica (empresa) se comunicam, ou seja, formam um
“bolo” a fim de saldar as dívidas que tenham com terceiros, como empregados,
por exemplo.

119
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

E
IMPORTANT

É importante mencionar também que tanto a inversão do ônus da prova e a


desconsideração da personalidade jurídica da empresa são utilizadas atualmente por outras
causas, não somente as que envolvem o Código de Defesa do Consumidor. É o caso do
processo civil, processo trabalhista, entre outros.

Agora, vamos verificar como o Código trata a questão da publicidade de


uma forma geral.

• Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por


qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços
oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou
dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. “Folhetinhos/
Propaganda” – está escrito, tem que cumprir, “independente” de erros de
impressão.
• O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos
atos de seus prepostos ou representantes autônomos. (Responde junto!)
• Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta,
apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e a
sua livre escolha:
o Exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta,
apresentação ou publicidade.
o Aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente.
o Rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente
antecipada, monetariamente atualizada e a perdas e danos.
• Publicidade enganosa ou abusiva. Por óbvio, são proibidas! É enganosa
qualquer modalidade de publicidade, inteira ou parcialmente falsa, ou,
por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e
serviços.
• É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza,
a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da
deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores
ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de
forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança. A publicidade
também é enganosa por omissão, quando deixar de informar sobre dado
essencial do produto ou serviço.
• A venda casada consiste em condicionar o fornecimento de produto ou de
serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa
causa, a limites quantitativos.

120
TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI

• O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento


prévio discriminando o valor da mão de obra, dos materiais e equipamentos
a serem empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de
início e término dos serviços.
• Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo prazo de
dez dias, contado de seu recebimento pelo consumidor.
• Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os contraentes e
somente pode ser alterado mediante livre negociação das partes.
• O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes
da contratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio.
• Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto
ao ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou
ameaça.
• O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
• Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os
consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento
prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos
de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
• As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor.
• O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de sete dias a contar de
sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre
que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do
estabelecimento comercial.
• Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento, os valores
eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão
devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
FONTE: Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990, grifos nosso)

O Código de Defesa do Consumidor ainda considera nulas de pleno


direito as seguintes cláusulas contratuais. São nulas de pleno direito as cláusulas
que perdem a sua validade automaticamente, sem que o consumidor tenha que
solicitar a sua nulidade, ou seja, se aparecerem em um contrato, é importante que
saibamos que não possuem validade, são nulas! Vamos conferir? São elas:

• Cláusulas que estabelecem a inversão do ônus da prova em prejuízo do


consumidor.
• Cláusulas que autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente,
sem que igual direito seja conferido ao consumidor.
• Cláusulas que obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de
sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor
(BRASIL, 1990).

121
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

DICAS

De acordo com Vanin (2015), o ato nulo é o ato que embora reúna os elementos
necessários a sua existência, foi praticado com violação da lei, a ordem pública, bons costumes
ou com inobservância da forma legal. O ato nulo precisa de decisão judicial para a retirada da
sua eficácia. Produz efeitos antes da anulação.
Exemplo: casamento entre irmãos, os filhos têm direitos, ou seja, há efeitos na relação mesmo
ela sendo nula.
O ato anulável é o que tem defeito de menor gravidade. Já a invalidade é uma forma genérica
das subespécies de: nulidade e anulabilidade. Assim, tanto o ato nulo como o anulável são
considerados inválidos. O dolo principal torna o negócio jurídico anulável (art. 171, II, CC).
Artigo 171/CC - Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:
II- por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
Exemplo: casamento de menor de 16 anos sem a permissão judicial.

As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas,


conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, conforme já mencionado,
sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas:
• Multa.
• Apreensão do produto.
• Inutilização do produto.
• Cassação do registro do produto junto ao órgão competente.
• Proibição de fabricação do produto.
• Suspensão de fornecimento de produtos ou serviço.
• Suspensão temporária de atividade.
• Revogação de concessão ou permissão de uso.
• Cassação de licença do estabelecimento ou de atividade.
• Interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de
atividade.
• Intervenção administrativa.
• Imposição de contrapropaganda.
E ainda o Código de Defesa do Consumidor nos afirma que as sanções
previstas serão aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito
de sua atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusive
por medida cautelar (medida de urgência), antecedente ou incidente
de procedimento administrativo (BRASIL, 1990, s.p., grifo nosso).

Sobre as sanções penais, o artigo 66 do Código de Defesa do consumidor


estabelece que:

“Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante


sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho,
durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços. Pena: Detenção de três
meses a um ano e multa” (BRASIL, 1990, s.p., grifo nosso).

O artigo 70 desta mesma lei preconiza que:

122
TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI

“Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição


usados, sem autorização do consumidor. Pena: Detenção de três meses a um ano
e multa” (BRASIL, 1990, s.p.).

Em seguida, o artigo 71 nos fala sobre o emprego de meios de coação na


cobrança de dívidas. Vamos acompanhar?

Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento


físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou
de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor,
injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso
ou lazer. Pena: Detenção de três meses a um ano e multa (BRASIL,
1990, s.p.).

Também temos o art. 74, que menciona o preenchimento do termo de


garantia:

“Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente


preenchido e com especificação clara de seu conteúdo. Pena: Detenção de um a
seis meses ou multa” (BRASIL, 1990, s.p.).

A Lei do Consumidor também menciona as situações agravantes, ou seja,


as circunstâncias nas quais estes crimes são cometidos e que podem aumentar a
pena. Estas situações são trazidas para nós no artigo 76, incisos I ao V da lei.
I- serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião
de calamidade;
II- ocasionarem grave dano individual ou coletivo;
III- dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;
IV- quando cometidos:
a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social
seja manifestamente superior à da vítima;
b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoito ou
maior de sessenta anos ou de pessoas portadoras de deficiência mental
interditadas ou não;
V- serem praticados em operações que envolvam alimentos,
medicamentos ou quaisquer outros produtos ou serviços essenciais.
Ainda, quando se tratar de Código de Defesa do Consumidor, o
Ministério sempre será o fiscal, mesmo que não tenha ajuizado a ação!
É o que nos demonstra o artigo 92: O Ministério Público, se não ajuizar
a ação, atuará sempre como fiscal da lei (BRASIL, 1990, s.p.).

E
IMPORTANT

Caro acadêmico! É importante que você conheça os direitos e deveres do


consumidor que acabamos de estudar, pois em nossa área podemos prestar serviços e/ou
vender produtos ou mão de obra para diversos clientes que, como já sabemos, são considerados
consumidores. É importante estarmos atentos ao Código de Defesa do Consumidor!

123
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

3 ASPECTOS TRIBUTÁRIOS NA TI
Antes de começar a estudar os aspectos tributários na TI, precisamos
conhecer alguns conceitos que irão facilitar a nossa compreensão sobre este
assunto.

O nosso Código Tributário Nacional, Lei n° nº 5.172/1966, define em seu


artigo 3° que tributo é toda contribuição pecuniária compulsória, em moeda ou
cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

Em outras palavras, o tributo é um valor a ser pago de forma obrigatória


(compulsória) em dinheiro (pecuniária) ou em bens, por particulares para o
Estado. O Estado somente poderá criar, modificar ou extinguir um tributo através
de lei quando essa lei for apreciada pelo Legislativo, pois o tributo não poderá
ser ilegal. E a cobrança desse tributo deverá ser feita pelo órgão da Administração
que está vinculado ao tributo.

Você já deve ter ouvido falar em imposto, taxa, contribuição de melhoria.


Conhece a diferença entre estes termos? Vejamos:

• Imposto: é um tributo que é cobrado de modo genérico, não obrigando o Estado


a uma contraprestação específica em prol do contribuinte, porque se destina de
um modo geral ao bem comum, por exemplo: IPI, ICMS, PIS, COFINS, ISS.
• Taxa: é um tributo que está vinculado a uma contraprestação direta do Estado
em benefício do contribuinte. Por exemplo: taxa de emissão de certidão
negativa, taxa para obtenção de um serviço.
• Contribuição de Melhoria: é um tributo cobrado pelo Estado dos proprietários
de imóveis beneficiados por determinada obra, que terá como limite total a
despesa realizada na construção da obra em questão. Por exemplo: contribuição
para reforma ou construção; contribuição de melhoria de uma praça em frente
a sua empresa.

É importante sabermos também que todo tributo possui um fato gerador,


um sujeito ativo e um sujeito passivo.

O fato gerador: é o acontecimento discriminado na lei que, ao ser praticado


por alguém, dá origem à obrigação de pagar um tributo. Por exemplo: O ICMS
tem como fato gerador a emissão da Nota Fiscal de Venda de Mercadorias e/ou
Prestação de Serviços, isto é, a circulação de mercadorias e/ou prestação de serviços.

O sujeito ativo: é a pessoa jurídica de direito público; a União, Estados,


Municípios e Distrito Federal, que têm competência para exigir o cumprimento
da obrigação tributária.

E o sujeito passivo: é a pessoa que tem o dever de pagar o tributo.


Normalmente é o contribuinte que, ao praticar o fato gerador, dá origem ao tributo.

124
TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI

Os impostos que incidem quando da emissão da nota fiscal são:

• O ICMS: Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de


Serviços de Transporte Interestadual e de Comunicação. Este imposto é de
competência estadual e sua alíquota varia de 7% a 25% de acordo com o Estado
e a mercadoria ou serviço tributado. O valor do ICMS já vem incluído no valor
das mercadorias/serviços constantes na Nota Fiscal, tanto das compras feitas
pela empresa, como a das vendas por ela efetuadas. A empresa deve recolher ao
governo, mensalmente, o valor do ICMS apurado, destacado nas Notas Fiscais.
As datas de recolhimento são preestabelecidas pelo próprio Governo Estadual.
Esta apuração é feita pela diferença entre o valor do ICMS que cobramos do
cliente nas vendas, menos o valor do ICMS que pagamos quando compramos.
Assim, nas compras a empresa tem o direito de recuperar o valor do ICMS
pago ao fornecedor, e nas vendas tem a obrigação de recolher ao governo o
respectivo valor do ICMS destacado na Nota Fiscal. A apuração do imposto
é feita segundo o princípio da não cumulatividade do imposto, ou seja, não
podemos somar o valor do ICMS de compras com o valor do ICMS de vendas,
pois os mesmos não se acumulam.
• IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados. Este imposto é de competência
da União e a sua alíquota é de acordo como a necessidade dos consumidores,
ou seja, se o produto não for de extrema necessidade de consumo, terá uma
alíquota mais alta. Todos os produtos considerados como supérfluos terão
suas alíquotas maiores, enquanto que produtos considerados necessários ao
consumo terão suas alíquotas mais baixas. O valor do IPI já vem destacado
na Nota Fiscal, tanto das compras feitas pela empresa como das vendas por
ela efetuadas. A empresa deve recolher ao governo decendialmente, ou seja,
a cada dez dias, o valor do IPI apurado destacado nas Notas Fiscais. As datas
de recolhimento são preestabelecidas pelo próprio Governo Federal. Esta
apuração é feita pela diferença entre o valor do IPI que cobramos do cliente nas
vendas, menos o valor do IPI que pagamos quando compramos.
• DARF-SIMPLES: Imposto recolhido pelas empresas optantes pelo regime
SIMPLES, sendo Microempresa (ME) ou Empresa de Pequeno Porte EPP.
Este imposto incide sobre o valor total de faturamento das empresas, vendas
de mercadorias e serviços, conforme Lei nº 9.317, de 5 de dezembro de 1996
e subsequentes alterações e instrução normativa nº 355, de 29 de agosto de
2003, que dispõe sobre o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e
Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (Simples).

Segundo o artigo 14 da Lei n° 11.774, de 17 de setembro de 2008, que


altera alguns tributos federais, as alíquotas em relação às empresas que prestam
serviços de tecnologia da informação  –  TI e de Tecnologia da Informação e
Comunicação  –  TIC ficam reduzidas pela subtração de 1/10 (um décimo) do
percentual correspondente à razão entre a receita bruta de venda de serviços para
o mercado externo e a receita bruta total de vendas de bens e serviços, após a
exclusão dos impostos e contribuições incidentes sobre a venda.

Assim, passam a recolher pela nova sistemática as empresas que se


dedicam exclusivamente às seguintes atividades (conforme o § 4° do artigo 14):
125
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

I- Análise e desenvolvimento de sistemas.


II- Programação.
III- Processamento de dados e congêneres.
IV- Elaboração de programas de computadores, inclusive de jogos
eletrônicos.
V- Licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de
computação.
VI- Assessoria e consultoria em informática.
VII- Suporte técnico em informática, inclusive instalação, configuração
e manutenção de programas de computação e bancos de dados.
VIII- Planejamento, confecção, manutenção e atualização de páginas
eletrônicas (BRASIL, 2008, s.p.).

Portanto, excluem-se expressamente da nova sistemática as empresas


comerciais, ou seja, que se dedicam à Representação, Distribuição ou Revenda de
produtos de TIC.

Assim, para termos uma ideia do que está sendo visto aqui, as empresas
com as atividades mencionadas nos incisos anteriores (artigo 14, § 4) passarão a
recolher 2,5% (dois e meio por cento) sobre a receita bruta a título de contribuição
à seguridade social (patronal), ao contrário dos usuais 20% (vinte por cento) sobre
a folha de pagamento (BRASIL, 2008).

DICAS

Caro acadêmico! Através do link <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/


leis/2008/lei11774.htm> você terá acesso à Lei n° 11.774, de 17 de setembro de 2008, na
íntegra. Confira!

Se o software de prateleira for importado via download, de acordo


com Soluções de Consulta da Receita Federal, não há a incidência do Imposto
de Importação, bem como do PIS/Importação e Cofins/Importação. Para
acompanharmos, em seguida, temos uma solução da Receita Federal nesse
sentido. Vamos conferir?
Solução de consulta nº 43, de 3 de junho de 2009. Ementa: Software
de prateleira. Transferência por meio eletrônico (download). Não há
base legal para a incidência do imposto de importação bem como da
Cofins/Importação e do PIS/Importação na aquisição de Software de
prateleira, se transferido ao adquirente por meio eletrônico, ou seja,
sem o uso de suporte físico (ASSESPRO, 2012, s.p.).

Assim, podemos entender que na importação de um software de prateleira


via download não incidem ICMS e IPI.

126
TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA TI

De acordo com a Lei 11.774/2008, se o programa de computador for


importado mediante remessa de um meio físico, há a tributação normal de
Imposto de Importação, PIS/Importação, Cofins/Importação, ICMS e IPI sobre
o meio físico, desde que este esteja discriminado separadamente na fatura
comercial. Caso não ocorra a discriminação do meio físico, o pagamento dos
tributos recairá sobre o valor total da remessa, ou seja, sobre o valor total do
programa de computador importado.

Se for o caso de importação de uma licença de uso de um programa de


computador, deve ocorrer a retenção de Imposto de Renda, salvo se houver
um acordo para evitar a bitributação entre o Brasil e o país-sede da empresa
exportadora, ou ainda, salvo se o software for adquirido para revenda (software
de prateleira), conforme solução de consulta da Receita Federal a seguir:
Solução de consulta nº 336/04. Órgão: Superintendência Regional da
Receita Federal – SRRF / 8ª Região Fiscal / Imposto sobre a Renda Retido
na Fonte – IRRF. Remessas para o exterior – programas de computador
(software). Não estão sujeitas à incidência do imposto de renda na
fonte as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou
remetidas ao exterior pela aquisição de programas de computador-
software destinados à comercialização no Brasil, se produzidos em
larga escala e de maneira uniforme e colocados no mercado para
aquisição por qualquer interessado, sem envolver rendimentos de
direitos autorais, por tratar-se de mercadorias (ASSESPRO, 2012, s.p.).

127
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Até o ano de 1990 não havia legislação específica para a defesa do consumidor
nas relações de consumo, ficando assim o consumidor desprovido de
mecanismos de proteção.

• A Lei do Consumidor ou Código de Defesa do Consumidor ou Lei de Defesa


do Consumidor, que defende o consumidor (pessoa física) e reconhece que
este é o lado “mais fraco” na relação com uma empresa (pessoa jurídica), pois
a empresa possui todo um aparato de estrutura, suportes, assessorias que o
consumidor não possui.

• O consumidor possui a seu favor o princípio que reconhece a sua vulnerabilidade


na relação de consumo.

• São partes nas relações de consumo o consumidor e o fornecedor. O primeiro é


o sujeito que, na sociedade de consumo, adquire bens ou contrata a prestação de
serviços como destinatário final. O fornecedor é o que desenvolve atividades de
produção, importação, exportação, distribuição, comercialização de produtos
ou prestação de serviços.

• A lei do consumidor estabelece que o fabricante, o produtor, o construtor e o


importador respondem pela reparação de danos causados ao consumidor por
defeitos de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre a sua utilização ou riscos.

• Não sendo sanado o vício, no prazo máximo de 30 dias, pode o consumidor


exigir alternativamente ou a sua escolha:

o a substituição do produto;
o a restituição da quantia paga; ou
o o abatimento proporcional do preço.

• A inversão do ônus da prova e a desconsideração da personalidade jurídica da


sociedade são alguns dos direitos básicos amparados pela Lei do Consumidor.

• A inversão do ônus da prova e a desconsideração da personalidade jurídica


da empresa são utilizadas atualmente por outras causas, não somente as que
envolvem o Código de Defesa do Consumidor. É o caso do processo civil,
processo trabalhista, entre outros.

128
• Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta,
apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua
livre escolha:

o Exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta,


apresentação ou publicidade.
o Aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente.
o Rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente
antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

• É enganosa qualquer modalidade de publicidade, inteira ou parcialmente falsa,


ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro
o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

• É abusiva a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite


à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de
julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que
seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou
perigosa a sua saúde ou segurança. A publicidade também é enganosa por
omissão, quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou
serviço.

• A venda casada consiste em condicionar o fornecimento de produto ou de


serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa
causa, a limites quantitativos.

• O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento


prévio.

• O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes da


contratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio.

• Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto ao


ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

• As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao


consumidor.

• O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de sete dias a contar de


sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre
que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do
estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

• O tributo é um valor a ser pago de forma obrigatória em dinheiro ou em bens,


por particulares para o Estado.

129
• São elementos de uma obrigação tributária:

o Fato Gerador: é o acontecimento discriminado na lei que, ao ser praticado


por alguém, dá origem à obrigação de pagar um tributo. Por exemplo:
O ICMS tem como fato gerador a emissão da Nota Fiscal de Venda de
Mercadorias e/ou Prestação de Serviços, isto é, a circulação de mercadorias
e/ou prestação de serviços.
o Sujeito Ativo: é a pessoa jurídica de direito público; a União, Estados,
Municípios e Distrito Federal, que têm competência para exigir o
cumprimento da obrigação tributária.
o Sujeito Passivo: é a pessoa que tem o dever de pagar o tributo. Normalmente
é o contribuinte que, ao praticar o fato gerador, dá origem ao tributo.

• Os impostos que incidem quando da emissão da nota fiscal são: ICMS, IPI,
Simples, se for o caso.

130
AUTOATIVIDADE

1 Segundo o Código de Defesa do Consumidor, assinale a alternativa que


corresponde a UM dos direitos básicos do consumidor:

a) ( ) A efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos.
b) ( ) Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as
informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados
que devam acompanhar o produto.
c) ( ) O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à introdução
no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que
apresentam, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades
competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
d) ( ) Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou
serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.

2 De acordo com o Código de Defesa do Consumidor:

I- Consumidor é toda pessoa física que adquire ou utiliza produto ou serviço


para satisfazer suas necessidades.
II- Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade
de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços.
III- Produto é qualquer bem, móvel ou material.
IV- Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Estão CORRETAS:
a) ( ) As afirmativas I, II e III.
b) ( ) As afirmativas II e III.
c) ( ) Somente afirmativa II.
d) ( ) Somente afirmativa IV.

3 Assinale a alternativa CORRETA. De acordo com o Código de Defesa do


Consumidor, é considerada propaganda enganosa:

a) ( ) Qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter


publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou por qualquer outro modo,
mesmo por omissão, capaz de induzir ao erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem,
preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
131
b) ( ) Qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter não
publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo,
mesmo por omissão, capaz de induzir ao erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem,
preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
c) ( ) Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento
de outro produto ou serviço, bem como sem justa causa, a limites
quantitativos.
d) ( ) Elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.

4 Mévio, cliente do banco XYZ S.A., ingressou com uma ação para revisar
um contrato de financiamento que possui junto à instituição financeira.
Na petição inicial da ação de revisão, Mévio não juntou todos os extratos
necessários, tampouco o contrato referido. Sendo assim, Mévio (o autor)
fica impossibilitado de comprovar todos os fatos que alega na petição
inicial. Qual é a alternativa que cabe ao autor para não perder o seu direito
à revisão contratual?

a) ( ) Entrar com uma ação de indenização por danos morais contra o banco.
b) ( ) Fazer uso de um recurso chamado de apelação para que o banco
traga ao processo toda a documentação necessária, uma vez que Mévio é
considerado a parte mais frágil desta relação jurídica.
c) ( ) Fazer uso de um instituto chamado legítima defesa para que o banco
não se negue a trazer ao processo toda a documentação da qual necessita
Mévio.
d) ( ) Fazer uso de um instituto chamado de inversão do ônus da prova para
que o banco traga ao processo toda a documentação necessária, uma vez
que Mévio é considerado a parte mais frágil desta relação jurídica.

132
UNIDADE 2
TÓPICO 4

RELAÇÕES TRABALHISTAS NA TI

1 INTRODUÇÃO
Um dos pontos que podem ser contraditórios em nossa área é a forma de
contratação. Existem casos que as empresas tratam com seu pessoal por contratos,
porém exigem cumprimento de horário, subordinalidade, dentre outros aspectos.
Essa é uma forma de contratação válida ou serve apenas como meio da empresa
eximir-se das obrigações trabalhistas?

O Tópico 4 foi reservado para o estudo das relações trabalhistas na TI.


Aqui, veremos como poderá se dar a contratação de um profissional em nossa
área de modo legal, bem como a dispensa desse profissional, e também como é
visto o uso ético das informações em TI.

Estudaremos os contratos relacionados à nossa área, conheceremos


a estrutura de um contrato e quais são as características de um contrato com
validade jurídica.

2 FORMAS DE CONTRATAÇÃO
Uma situação que frequentemente vemos acontecer no ramo da TI é aquela
em que os empresários, para escapar da carga fiscal e até mesmo remunerarem de
modo mais adequado os profissionais do meio, acabam por contratar pelo regime
de prestação de serviços, ao invés de contratar pelo regime celetista. É a onda da
terceirização. Você já se deparou com uma dessas situações?

Esse tipo de contratação é perfeitamente legal, mas exige do empresário


alguns cuidados para que essa contratação não mascare uma relação trabalhista.
Quando isso ocorre, vemos ex-empregados moverem ações trabalhistas,
objetivando o reconhecimento do vínculo trabalhista e, consequentemente, a
devida indenização, envolvendo as férias, décimo terceiro, FGTS, horas extras e
demais verbas a que fariam jus numa relação trabalhista via CLT.

Para quem se utiliza da terceirização, é importante saber que o vínculo


trabalhista se constitui de aspectos como a habitualidade, a subordinação, a
pessoalidade e a dependência econômica.

• Habitualidade: é o serviço prestado de forma não eventual, ou seja, ocorre de


uma forma continuada. Isso não significa que tenha que ocorrer durante toda a
jornada semanal. Mesmo trabalhando em dois ou três dias por semana apenas,
133
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

o vínculo poderá ser configurado, caso seja verificada a continuidade desta


prestação de serviços, durante certo tempo.
• Subordinação: é a obrigação do prestador de serviços em seguir as ordens do
contratante. Por exemplo, no caso da informática, pode-se dizer que é a obrigação
de escrever determinado programa utilizando linguagens e metodologias
determinadas pelo patrão, no local e no tempo que ele determinar.
• Pessoalidade: é o caráter personalíssimo do trabalho a ser desenvolvido,
ou seja, o terceiro contratado não pode ser substituído por outra pessoa no
desenvolvimento da atividade.
• Dependência econômica: é o recebimento de remuneração pelos serviços
prestados, em caráter exclusivo ou predominante, ou seja, o contrato constitui-
se na única ou principal fonte de renda do prestador de serviços.

E
IMPORTANT

Para caracterizar o vínculo empregatício é necessário que os quatro aspectos


estejam presentes na relação de emprego. E não adianta estipular uma cláusula no contrato
de terceirização que a relação não constitui vínculo empregatício. Esta cláusula é tratada
como cláusula nula!

3 FORMAS DE RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO


Segundo Campos (2005), se o empregador toma a iniciativa para dar o
contrato de trabalho por rescindido, o faz por uma das duas razões: I) por motivo
justificado (justa causa); ou II) sem motivo justificado (sem justa causa).

A dissolução do contrato de trabalho será considerada de justa causa


quando tiver por fundamento um ato praticado pelo empregado dentre os
taxativamente previstos em lei, isto é, de acordo com Campos (2005):

I- ato de improbidade (desonestidade, furto, falta de integridade);


II- incontinência de conduta (mau comportamento);
III- mau procedimento (perturbação ao trabalho);
IV- negociação habitual;
V- condenação criminal;
VI- desídia (negligência, desleixo);
VII- embriaguez;
VIII- violação de segredo da empresa;
IX- indisciplina e insubordinação (viola regras e desobedece ordens);
X- abandono do emprego (em regra 30 dias);
XI- ato lesivo à honra e à boa fama (do empregador);
XII- ofensa física (agressão);
XIII- prática de jogos de azar; e
XIV- atos atentatórios à segurança nacional.
134
TÓPICO 4 | RELAÇÕES TRABALHISTAS NA TI

Campos (2005) ainda afirma que o empregador pode praticar atos ou tomar
atitudes que impliquem em justa causa e proporcionem ao empregado pedir a
extinção do contrato de trabalho. A lei trabalhista enumera algumas situações:
I) tratamento com rigor excessivo; II) exigência de serviços superiores às suas
forças; III) imposição de atividades de risco ou perigo; IV) descumprimento de
cláusulas contratuais; V) prática de atos lesivos à honra do empregado ou de sua
família; VI) redução do trabalho para que tenha reduzida a sua remuneração.

4 USO ÉTICO DAS INFORMAÇÕES NA TI


O objetivo da segurança da informação é proteger patrimônio e reputação,
que está cada vez mais em dados, informações, garantindo confidencialidade,
integridade e disponibilidade.

• Confidencialidade: assegura que os dados confidenciais (e no fundo todos os


dados são confidenciais) sejam lidos somente pelos interessados, devidamente
identificados e que não sejam abertos para outros não autorizados e para o
público em geral.
• Integridade: garante que os dados ou os programas não sofram modificações
não autorizadas (fraudes, sabotagens, infecção por vírus).
• Disponibilidade: assegura que os sistemas, a rede, as aplicações e os dados
estejam on-line e que sejam acessíveis quando os usuários autorizados
necessitarem.

DICAS

Sabemos que os profissionais de TI ainda não possuem um código de ética,


como é o caso dos advogados, por exemplo.

A seguir, veremos algumas condutas, por meio de jurisprudências, que


demonstram a falta de ética dos profissionais de nossa área e também ensejam
motivos de demissão por justa causa. É importante lembrar também que a
empresa tem legitimidade para fazer monitoramento e usar as provas eletrônicas.
Fique atento!
RITO SUMARÍSSIMO. RECURSO ORDINÁRIO. JUSTA CAUSA.
ART. 482, "b", DA CLT. Burla de regras da empresa para acesso a
sítios, o que era vedado. Norma regulamentar da qual o reclamante
tinha conhecimento prévio. Computador e internet, instrumentos de
trabalho utilizados irregularmente, para uso pessoal. Incontinência
de conduta e mau procedimento. Falta grave que está caracterizada
(TRT02, RO 01875200843102004, Relator Carlos Francisco Bernardo,
Julgado em 17/02/2009).

135
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

No caso da jurisprudência acima, podemos verificar que o funcionário


fez o acesso a sites, o que era vedado por meio dos computadores da empresa.
Pelo que podemos verificar na jurisprudência, o funcionário teve conhecimento
prévio de que esta conduta era proibida na política da empresa e, mesmo assim,
a desobedeceu. Para a empresa em questão, o computador é instrumento de
trabalho e não poderia ter sido utilizado para uso pessoal, o que acabou por
acontecer. Desta forma, uma falta grave está caracterizada, o que pode ensejar
motivo para uma demissão por justa causa.

Também é importante que saibamos que a empresa possui legitimidade


para fazer o monitoramento de e-mails, materiais etc. que transitam pela rede da
própria empresa. Vejamos outro caso:
Despedida por justa causa. Mau procedimento. Uso indevido de correio
eletrônico. Quando se caracteriza. Prova que evidencia a utilização
do e-mail funcional, pelo empregado, para difundir informações
tendentes a denegrir a imagem da empregadora. Constitui justa causa
para a despedida o uso indevido do correio eletrônico fornecido pelo
empregador, não se podendo cogitar de infração ao disposto no artigo
5º, inciso XII da CF, já que o serviço de “e-mail” é ferramenta fornecida
para uso estritamente profissional. Sentença mantida (Acórdão nº
00168-2007-203-04-00-3 RO, TRT 4ª Região).

Como podemos verificar nesta jurisprudência, o funcionário acabou por


ser despedido da empresa por justa causa por ter utilizado o e-mail da própria
empresa para denegrir a imagem da empresa. Neste caso, não há o que se falar em
privacidade no ambiente de trabalho, pois, pelo entendimento jurisprudencial, não
há privacidade no ambiente de trabalho, e, conforme já mencionado, a empresa
possui competência/legitimidade para monitorar qualquer tipo de material que
trafega pelas redes da empresa. Neste caso, o funcionário entrou com um recurso
com o objetivo de modificar a decisão da justa causa, mas sem sucesso, a sentença,
neste caso, ficou mantida. Vejamos um caso bastante semelhante. Você consegue
interpretá-lo?
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
SANÇÃO DISCIPLINAR. SUSPENSÃO. USO INDEVIDO DE
E-MAIL CORPORATIVO. O quadro fático delineado no acórdão
regional demonstrou que não se trata de ingerência à vida privada do
empregado, mas, sim, desrespeito à norma interna da empresa que,
expressamente, proíbe o uso de correio eletrônico corporativo, para
divulgar material pornográfico (Processo nº AIRR –1649/2001-001-03-
00; 7ª Turma do TST, grifo nosso).

A seguir, mais uma jurisprudência que vem ao encontro de nosso assunto:


Uso indevido de e-mail e ferramentas tecnológicas corporativas:
Demissão por justa causa. Não há privacidade no ambiente de trabalho.
Despedida por justa causa. Mau procedimento. Uso indevido de correio
eletrônico. Quando se caracteriza. Prova que evidencia a utilização
do e-mail funcional, pelo empregado, para difundir informações
tendentes a denegrir a imagem da empregadora. Constitui justa causa
para a despedida o uso indevido do correio eletrônico fornecido pelo

136
TÓPICO 4 | RELAÇÕES TRABALHISTAS NA TI

empregador, não se podendo cogitar de infração ao disposto no artigo


5º, inciso XII da CF, já que o serviço de “e-mail” é ferramenta fornecida
para uso estritamente profissional. Sentença mantida. (Acórdão nº
00168-2007-203-04-00-3 RO, TRT 4ª Região).

Para esclarecimento, segue o artigo 5º, inciso XII da Constituição Federal


(1988) que é mencionado no caso acima: “é inviolável o sigilo da correspondência
e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo,
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”.

Podemos verificar nas jurisprudências acima a falta de ética no uso das


ferramentas corporativas. Para utilizarmos estas ferramentas de modo coerente,
é interessante que prestemos atenção às seguintes dicas (PECK, 2006):

• Cautela na redação: e-mail corporativo é papel timbrado digital da empresa.


• Não tratar de assuntos pessoais através do e-mail profissional.
• Não enviar informações confidenciais: isso pode caracterizar crime de violação
de segredo profissional ou concorrência desleal.
• Não repassar boatos ou “correntes” recebidas.
• Não clicar em qualquer link recebido por mensagens eletrônicas, ou abrir
anexos sem passar pelo antivírus.

Você deve se perguntar sobre alguns aspectos da política de segurança,


para estes casos adotados pela empresa. A doutrina deixa bastante claro alguns
aspectos em relação às sanções que foram aplicadas nas jurisprudências que
acabamos de analisar. Vamos conferir?

• As punições só podem ser aplicadas se houver regras claras.


• A melhor forma de resguardar todas as partes é contar com uma política
transparente e bem divulgada.
• As normas devem dizer o que pode ser feito e o que é proibido! Pois para
alguns intérpretes: “O que não é proibido, então é permitido”.
• As regras devem estar visíveis para que o funcionário saiba que está entrando
em ambiente monitorado e possa decidir.
• A punição pode variar de uma advertência até a demissão no caso de reincidência
ou de infração grave. A empresa não precisa comprovar que teve prejuízo, basta
comprovar o descumprimento das regras. No setor público, ainda se aplica a
Lei 8.112/90, que diz que o servidor não pode fazer uso particular de recursos
públicos.

No que diz respeito ao uso de senhas, devemos ter o máximo de cuidado,


por óbvio, na hora de criar uma senha e também no momento de utilizá-la,
como provavelmente já foi visto em outras disciplinas, pois, atualmente, a
senha, segundo Pinheiro (2006), é evidência de autoria, ela (a senha) é a nossa
identificação digital. A mesma autora ainda assevera que emprestar a senha é
como passar um “cheque em branco” para alguém. Além disso, podemos incorrer

137
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

no crime de falsa identidade, como prevê o nosso Código Penal em seus artigos
307 e 308. Vejamos:
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter
vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a
outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não
constitui elemento de crime mais grave.
Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta
de reservista ou qualquer documento de identidade alheia ou ceder a
outrem, para que dele se utilize documento dessa natureza, próprio
ou de terceiro:
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não
constitui elemento de crime mais grave (BRASIL, 1940, s.p.).

O Departamento de Defesa Americano (DoD) publicou, em 1985, algumas


diretrizes no que diz respeito à criação, uso e manutenção de senhas. Essas
diretrizes, segundo Smith (2002), deram origem às seguintes regras:

• Cada senha escolhida deve ser nova e diferente, já que o uso de uma única
senha para vários sistemas pode dar aos invasores uma grande vantagem ao
interceptar uma só senha.
• Senhas devem ser memorizadas. Se uma senha é registrada em papel, este deve
ser armazenado em local seguro.
• Senhas devem ser compostas de pelo menos seis caracteres, provavelmente
mais, dependendo do tamanho do conjunto de caracteres usados, se contêm
apenas números, números e letras, ou se contêm uma combinação de números,
letras e outros caracteres do teclado, por exemplo: “*”, “%”, “$”, “#”, “@” e
outros.
• Senhas devem ser substituídas periodicamente.
• Senhas devem conter uma mistura de letras (tanto maiúsculas quanto
minúsculas), dígitos e caracteres de pontuação.

Assim, verifica-se como pode ser dar a contratação de um profissional em


nossa área de TI sem que se tenham problemas futuros e também qual é a atitude
que deverá ser adotada pelo profissional em seu ambiente de trabalho, evitando
assim, despedidas por justa causa.

138
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Uma situação que frequentemente vemos acontecer no ramo da TI é aquela em


que os empresários, para escapar da carga fiscal e até mesmo remunerarem
de modo mais adequado os profissionais do meio, acabam por contratar pelo
regime de prestação de serviços, ao invés de contratar pelo regime celetista.

• Segundo Campos (2005), se o empregador toma a iniciativa de dar o contrato


de trabalho por rescindido, o faz por uma das duas razões: I) por motivo
justificado (justa causa); ou II) sem motivo justificado (sem justa causa).

• O objetivo da segurança da informação é proteger patrimônio e reputação,


que está cada vez mais em dados, informações, garantindo confidencialidade,
integridade, disponibilidade.

• Sabemos que os profissionais de TI ainda não possuem um código de ética,


como é o caso dos advogados que possuem, por exemplo.

• É importante que saibamos que a empresa possui legitimidade para fazer o


monitoramento de e-mails, materiais etc. que transitam pela rede da própria
empresa.

• Para utilizarmos as ferramentas corporativas de modo coerente é interessante


que prestemos atenção às seguintes dicas:

o Cautela na redação: e-mail corporativo é papel timbrado digital da empresa.


o Não tratar de assuntos pessoais através do e-mail profissional.
o Não enviar informações confidenciais: isso pode caracterizar crime de
violação de segredo profissional ou concorrência desleal.
o Não repassar boatos ou “correntes” recebidas.
o Não clicar em qualquer link recebido por mensagens eletrônicas, ou abrir
anexos sem passar pelo antivírus.

• A doutrina deixa bastante claro alguns aspectos em relação às sanções que


foram aplicadas nas jurisprudências que acabamos de analisar.

o As punições só podem ser aplicadas se houver regras claras.


o A melhor forma de resguardar todas as partes é contar com uma política
transparente e bem divulgada.
o As normas devem dizer o que pode ser feito e o que é proibido, pois para
alguns intérpretes: “O que não é proibido, então é permitido”.
o As regras devem estar visíveis para que o funcionário saiba que está
entrando em ambiente monitorado e possa decidir.
139
o A punição pode variar de uma advertência até a demissão, no caso de
reincidência ou de infração grave. A empresa não precisa comprovar que
teve prejuízo, basta comprovar o descumprimento das regras. No setor
público, ainda se aplica a Lei nº 8.112/90, que diz que o servidor não pode
fazer uso particular de recursos públicos.

140
AUTOATIVIDADE

1 No que diz respeito ao uso de senhas, devemos ter o máximo de cuidado,


por óbvio, na hora de criar uma senha e também no momento de utilizá-
la. Nesse aspecto, responda como é tratada a senha no aspecto dos crimes
eletrônicos e na segurança da informação.

a) ( ) A senha é considerada indício de cumplicidade.


b) ( ) A senha não é a sua identificação digital.
c) ( ) A senha é considerada indício de autoria.
d) ( ) A senha é considerada indício de materialidade.

2 Tício é funcionário da área de TI da empresa ABC Ltda., e no ato de sua


contratação, assinou sem ler o termo de responsabilidade que veda o
uso pessoal das ferramentas tecnológicas disponibilizadas pela empresa
contratante. Posteriormente, Tício foi surpreendido pelo sistema de
monitoramento enviando material impróprio por meio de seu e-mail
corporativo. Como resultado de sua conduta, a empresa despediu Tício
por justa causa. Diante dos fatos, analise as assertivas a seguir e assinale a
CORRETA:

a) ( ) A empresa ABC Ltda. agiu incorretamente porque Tício não possuía


conhecimento prévio das regras da política de segurança da empresa, pois
não leu os termos da política de segurança da empresa. Por consequência,
Tício poderá entrar com uma ação de indenização por danos morais contra
a empresa ABC Ltda.
b) ( ) Tício não poderia ser despedido por justa causa porque a empresa
desrespeitou o direito à intimidade que é amparado pela Constituição
Federal de 1988.
c) ( ) A empresa ABC Ltda. agiu corretamente, porque Tício possuía
conhecimento prévio das regras da política de segurança da empresa, e
mesmo assim, as burlou.
d) ( ) A empresa ABC Ltda. agiu incorretamente, porque não se certificou da
leitura na íntegra dos termos da política de segurança por Tício.

3 A empresa JKL Informática Ltda. contratou Romualdo, que é um


programador de excelente nível. A empresa não contratou Romualdo pela
CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social) e sim assinou com ele um
contrato de prestação de serviços, em que estipulou todas as cláusulas de
trabalho, entre as quais a que estipulava que Romualdo deveria comparecer
à empresa três vezes por semana, durante quatro horas em cada dia, mas
deixou a cargo de Romualdo a escolha dos dias e horários. Neste mesmo
contrato, há uma cláusula que define que o contrato assinado por Romualdo
com a JKL Informática Ltda. não constitui vínculo empregatício. Com base
no caso narrado, analise as alternativas a seguir e assinale a CORRETA:

141
a) ( ) Romualdo não terá o direito de ingressar com uma ação trabalhista,
pois está clara a cláusula no contrato assinado que não constitui vínculo
empregatício a sua contratação.
b) ( ) A empresa JKL Informática não poderá ser processada por Romualdo,
porque é a forma através da qual a empresa contrata os seus funcionários.
Todos os funcionários, sem exceção, são contratados desta maneira.
c) ( ) Romualdo tem o direito de ingressar com uma ação trabalhista contra
a JKL Informática para cobrar os seus encargos sociais, pois a cláusula que
especifica que o contrato em tela não constitui vínculo empregatício não
tem valor jurídico e serve para intimidar o contratado a não ingressar com
a devida ação.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

4 O tipo de contratação conhecido como a terceirização é perfeitamente


legal, mas exige do empresário alguns cuidados para que essa contratação
não mascare uma relação trabalhista. Quando isso ocorre, vemos ex-
empregados moverem ações trabalhistas, objetivando o reconhecimento do
vínculo trabalhista e, consequentemente, a devida indenização, envolvendo
as férias, décimo terceiro, FGTS, horas extras e demais verbas que fariam
jus numa relação trabalhista via CLT. Para quem se utiliza da terceirização,
é importante saber que o vínculo trabalhista se constitui importante aspecto
que permeia esse vínculo.

Analise as alternativas a seguir e assinale a correta:

a) ( ) Habitualidade, a subordinação, a pessoalidade e a dependência


econômica.
b) ( ) Somente a dependência econômica.
c) ( ) Apenas a pessoalidade e a subordinação.
d) ( ) A habitualidade não se trata de um aspecto que caracteriza uma relação
trabalhista.

142
UNIDADE 2 TÓPICO 5

CONTRATOS

1 INTRODUÇÃO
Para Zumbano (2015), o contrato é o vínculo jurídico entre duas ou mais
pessoas, tendo como base o consentimento de ambos e a proteção jurídica do
Estado. Exercemos contratos diariamente sem percebermos, por exemplo, ir a
uma loja de calçados e comprar um tênis. Neste momento ambos celebraram um
contrato bilateral, tendo um objeto possível, determinado e lícito.

O Tópico 5 foi reservado para o estudo das relações contratuais, mais


especificamente na área de TI. Aqui, veremos, entre outros assuntos, quais são os
requisitos essenciais para que um contrato tenha validade e legibilidade.

Também veremos quais são os princípios contratuais e qual é a estrutura


aconselhada a ser seguida no momento do desenvolvimento de um contrato em
nossa área.

2 DEFINIÇÃO
Para Campos (2005), as relações jurídicas são realizadas com base no
princípio da boa-fé e assim deve ser em relação aos contratos, forma típica da
relação jurídica. As partes devem estar imbuídas de lealdade e boa vontade.
Todas as formas de contratação são admitidas pelo Código Civil (Lei 10.406/2002):
escritas, verbais, por correspondência, via eletrônica ou por adesão.

3 REQUISITOS ESSENCIAIS
Para que o nosso contrato exista é necessária a presença de seus elementos
essenciais, são eles, de acordo com Campos (2005):

• Agente capaz: diz respeito à capacidade civil da parte, ou seja, deve ser maior
de idade e estar em pleno domínio de suas faculdades. Desta forma, podemos
entender que a pessoa que está assinando o contrato deve estar apta a assumir
e cumprir com suas responsabilidades contratuais.
• Objeto lícito: o objeto do contrato deve versar sobre algo cuja possibilidade
jurídica de contratar exista. Assim, o contrato deve ser válido, deve ter um
objeto dentro da lei e passível de ser contratado. Não é válido um contrato de
compra e venda de um software pirata, por exemplo.

143
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

• Forma prescrita e não defesa por lei: a forma diz respeito ao modo pelo qual
o contrato será constituído, ou seja, o contrato deve ser previsto em lei (é o
caso dos contratos de compra e venda que estão em nosso Código Civil) ou o
contrato não pode ser proibido por lei (o contrato de prestação de serviços na
área de TI é um exemplo de um contrato que não é proibido por lei). Existem
os contratos verbais e escritos, onerosos e gratuitos, bilaterais e multilaterais,
formais e não formais.

Diz-se que o contrato é formal quando ele deve ser estipulado de acordo
com regras próprias, segundo a determinação legal. Exemplos: casamento e
locação de imóveis.

Já o contrato não formal depende exclusivamente da vontade entre as


partes e do atendimento dos requisitos essenciais de validade do ato jurídico. Não
possui forma prevista em lei, portanto, não tem cláusulas e condições predefinidas.
Exemplos: prestação de serviços, contratos de licença de uso de software.

Nesse mesmo sentido, para Campos (2005), os requisitos básicos de um


contrato são os seguintes: I) declaração de vontade dos contratantes ao negócio;
II) forma não proibida em lei; III) objeto lícito. São anuláveis os contratos em que
seus objetivos são ilegais.

São contratos de adesão a forma de contratação em massa, pela qual não


ocorre declaração de vontade de ambas as partes, ou seja, apenas uma delas manifesta
a vontade em relação às cláusulas gerais de contratação, e a outra apenas quanto a sua
participação no contrato. Como exemplo, temos os contratos de seguro, de plano de
saúde, de consórcio, de garantia, de transporte de ônibus e outros. Nesses contratos,
a parte que a ele adere não pode discutir ou modificar as cláusulas contratuais já
preparadas, limitando-se a aceitar ou não participar do acordo.

NOTA

No contrato de adesão não ocorre declaração de vontade de ambas as partes.

Nesse tipo de contrato, as cláusulas contratuais excessivamente onerosas


ou que estabeleçam prestações desproporcionais entre as obrigações de uma
parte e de outra, em prejuízo do consumidor, podem ser modificadas em razão
dos fatos supervenientes que tornaram difícil ou impossível seu cumprimento
pelo consumidor.

O Código Civil estabelece ainda que as cláusulas ambíguas ou obscuras


em contratos, de maneira geral, serão interpretadas da forma mais favorável ao
consumidor.
144
TÓPICO 5 | CONTRATOS

4 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
Assim como o Direito e suas áreas possuem os seus princípios, com
os contratos não é diferente. Quanto aos princípios fundamentais do direito
contratual, temos os seguintes:

• Princípio da autonomia da vontade: nele se funda a liberdade contratual


dos contratantes, consistindo no poder de estipular livremente, como melhor
lhes convier, mediante acordo de vontades, a disciplina de seus interesses,
suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica.
• Princípio do consensualismo: segundo o qual o simples acordo de duas ou
mais vontades basta para gerar o contrato válido.
• Princípio da obrigatoriedade dos contratos: pelo qual as estipulações feitas
no contrato deverão ser fielmente cumpridas (pacta sunt servanda), sob pena de
execução patrimonial contra o inadimplente.
• Princípio da relatividade dos efeitos do negócio jurídico contratual: visto que
não aproveita nem prejudica terceiros, vinculando exclusivamente as partes
que nele intervierem.
• Princípio da boa-fé: segundo ele, o sentido literal da linguagem não deverá
prevalecer sobre a intenção inferida da declaração de vontade das partes.

5 ESTRUTURA GERAL DOS CONTRATOS


Os contratos em geral, na sua forma, são bastante parecidos.

A seguir, podemos acompanhar a estrutura básica para escrever um


contrato não formal e que poderá ser utilizada para a criação de um contrato em
nossa área, sem preocupações:

1) Título: informe o título do contrato que, normalmente, está relacionado ao seu


objeto. Exemplo: Contrato de licença de uso.
2) Qualificação das partes: informe o nome, profissão, endereço, CPF ou CNPJ e
todos os demais dados pessoais necessários à perfeita identificação das partes
contratantes.
3) Definições: nos contratos cujo objeto envolva conhecimentos específicos sobre
um determinado assunto, como geralmente é o caso dos contratos de serviços
de informática e de telecomunicações, recomenda-se que sejam feitas algumas
definições conceituais sobre os termos técnicos utilizados no contrato. Isso
funciona como uma espécie de glossário, caso a outra parte ou o próprio juiz
precise entender o significado de alguma palavra pouco usual, evitando erros
de interpretação.
4) Objeto: é o coração do contrato. Na cláusula do objeto, deve-se descrever
com detalhes e clareza qual a negociação que está sendo efetivada através do
instrumento contratual.
5) Obrigações das partes: as cláusulas das obrigações normalmente se dividem
entre obrigações do contratante e obrigações do contratado. Isso tende a facilitar
o entendimento e proporcionar celeridade em futuras consultas. Especifique o
145
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO PARA INFORMÁTICA

que cada parte deve fazer ou pagar e as condições necessárias para isso.
6) Penalidades: nem todos os contratos trazem as cláusulas penais, mas
é interessante que sejam previstas multas e penalidades para o caso de
descumprimento das obrigações acordadas entre as partes.
7) Vigência: a cláusula de vigência determina o prazo de duração do contrato.
Convém lembrar que os contratos também podem ser celebrados por prazo
indeterminado.
8) Rescisão: em todo o contrato devem constar as condições em que poderá ocorrer
a rescisão contratual, seja ela por acordo entre as partes ou por descumprimento
de cláusulas contratuais. Também é comum constar um prazo de aviso prévio,
no caso de rescisão sem a justa causa por iniciativa unilateral.
9) Disposições gerais: são cláusulas que complementam o instrumento e que não
se encaixam em nenhuma das divisões anteriores.
10) Foro: cláusula contratual que estabelece que sejam processadas e julgadas
eventuais demandas judiciais, caso as partes tenham que recorrer à justiça em
função de desentendimentos acerca do contrato.
11) Fechamento: depois de concluídas as negociações, faz-se o fechamento do
contrato, mencionando-se o local e data, bem como os nomes e assinaturas
das partes e das testemunhas.

LEITURA COMPLEMENTAR

ABANDOWARE E A REGRA DAS 24 HORAS

Segundo a SIIA (Software & Information Industry Association) – Associação


Norte-Americana da Indústria do Software, equivalente à nossa ABES, reunindo
mais de 1.200 fabricantes de programas – "abandonware" e "regra das 24 horas" são
duas lendas urbanas criadas para promoverem a pirataria.

Algumas pessoas classificam programas que pararam de ser


comercializados e cujo fabricante não dá suporte há mais de 5 anos como
"abandonware". Os abandonwares seriam grátis, podendo ser baixados da Internet
gratuitamente sem qualquer problema, podendo ser instalados em qualquer
máquina sem precisar pagar nenhuma licença e, em caso de fiscalização, não
haveria problema algum, pois abandonware não é pirataria.

Só que a história real não é bem assim. O direito autoral de qualquer


programa é de seu detentor original (o programador ou a empresa que o
comercializava), independentemente se o programa ainda é comercializado ou
não. Para entender esta questão, basta fazer um paralelo com os livros. Um livro
antigo, que não é mais comercializado, é considerado "esgotado". Entretanto, isso
não significa que o seu conteúdo seja de domínio público, isto é, que qualquer
um pode sair copiando. O direito autoral continua sendo do seu autor. Desta
forma, juridicamente falando, "abandonware" não existe, e o uso deste tipo de

146
TÓPICO 5 | CONTRATOS

programa é tecnicamente pirataria. A não ser que o detentor do direito autoral


diga publicamente que ele liberou o seu programa para cópia, o que é um caso
completamente diferente (ou seja, o detentor dos direitos autorais determinou que
o seu programa é um "freeware"). Muitos programadores e empresas de software
fazem isto, colocando esta declaração em seus sites, colocando o programa antigo
para download e uso grátis. Ou seja, um programa que não é mais comercializado
e cujo fabricante não dê mais suporte não se transforma automaticamente em
um "programa grátis". O programador ou o fabricante, por serem detentores
dos direitos autorais do programa, tem o direito de simplesmente negarem a
reprodução gratuita do seu programa, mesmo o programa não "existindo" mais
no mercado. Como um caso real, podemos citar o caso do MS-DOS. Apesar de a
Microsoft não fabricar e não dar mais suporte a este sistema operacional, ele não
é grátis. Usá-lo sem licença é pirataria.

Outra lenda urbana é a "regra das 24 horas", que é uma mentira criada
para divulgar e estimular a pirataria. Segundo esta regra, qualquer pessoa
poderia instalar um programa pirata no PC e teria 24 horas para testá-lo e, após
este prazo, teria de apagar o programa ou então a sua instalação seria considerada
pirata. Isto não existe. Qualquer programa que você não tenha licença para usá-lo
é pirataria. A maioria dos fabricantes de software disponibilizam versões "demo",
"trial" ou "shareware" de seus programas, para que justamente o usuário possa
testá-lo durante um período razoável de tempo, sem a necessidade do usuário ter
de gastar dinheiro comprando o programa primeiro para depois ver se ele atende
às necessidades, o que pode ser catastrófico (todos aqueles que já compraram um
programa e depois se decepcionaram com ele sabe do que estamos falando).

A explicação completa da SIIA sobre o assunto pode ser conferida em: <http://


www.siia.net/Divisions/IP-Protection-Services/About/FAQ>. Os leitores que não
leem inglês encontrarão uma tradução em: <https://www.clubedohardware.com.
br/forums/topic/71832-regra-das-24-horas-e-abandonware/>.

FONTE: TORRES, Gabriel. Abandoware e a regra das 24 horas. Disponível em: <https://www.
clubedohardware.com.br/artigos/programas/abandonware-e-regra-das-24-horas-r34112/>.
Acesso em: 3 mar. 2018.

147
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• Para Campos (2005), as relações jurídicas são realizadas com base no princípio
da boa-fé e assim deve ser em relação aos contratos, forma típica da relação
jurídica.

• Todas as formas de contratação são admitidas pelo código: escritas, verbais,


por correspondência, via eletrônica ou por adesão.

• Para que o contrato exista é necessária a presença de seus elementos essenciais,


são eles: agente capaz; objeto lícito; forma prescrita e não defesa por lei.

• Diz-se que o contrato é formal quando ele deve ser estipulado de acordo com
regras próprias, segundo a determinação legal. Exemplos: Casamento e locação
de imóveis.

• Já no contrato não formal depende exclusivamente da vontade entre as


partes e do atendimento dos requisitos essenciais de validade do ato jurídico.
Não possui forma prevista em lei, portanto, não tem cláusulas e condições
predefinidas. Exemplos: prestação de serviços, contratos de licença de uso de
software.

• Assim como o Direito e suas áreas possuem os seus princípios, com os


contratos não é diferente. Quanto aos princípios fundamentais do direito
contratual, temos os seguintes: princípio da autonomia da vontade; princípio
do consensualismo; princípio da obrigatoriedade dos contratos; princípio da
relatividade dos efeitos do negócio jurídico contratual; princípio da boa-fé.

• Existe uma estrutura básica para escrever um contrato não formal e que poderá
ser utilizada para a criação de um contrato em nossa área, sem preocupações,
é ela: título; qualificação das partes; definições; objeto; obrigações das partes;
penalidades; vigência; rescisão; disposições gerais; foro; fechamento.

148
AUTOATIVIDADE

1 Qual é a interpretação do princípio contratual fortemente conhecido como


“pacta sunt servanda”?

2 Quais são os requisitos para que um contrato tenha validade jurídica?

3 Epitáfio, casado com Epifânia, celebrou um contrato de prestação de serviços,


através do qual Epitáfio prestaria serviços para a empresa de Kassildo. Na
cláusula de vigência, foi estipulado um prazo de um ano para o contrato.
Durante a vigência do dito contrato, Epitáfio veio a óbito. Dias após o seu
falecimento, Kassildo veio até a casa de Epitáfio cobrar a prestação de serviços
de sua esposa, Epifânia. Sabendo-se que o casal foi casado pelo regime da
separação total de bens, analise as assertivas a seguir e assinale a CORRETA:

a) ( ) Kassildo agiu corretamente, pois em caso de falecimento de um dos


cônjuges o outro assume automaticamente a dívida.
b) ( ) Kassildo não agiu corretamente, pois em caso de falecimento de um dos
cônjuges o outro cônjuge nunca assume automaticamente a dívida.
c) ( ) Kassildo somente poderia cobrar a dívida de Epitáfio de Epifânia se o
casal fosse casado em um regime de casamento que permita tal cobrança.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

149
150
UNIDADE 3

CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE


DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade você deverá ser capaz de:

• conhecer a definição de crime, bem como a sua interpretação;

• conhecer as provas de crime eletrônico, bem como a sua interpretação;

• conhecer sobre responsabilidade civil, indenização e a questão da legítima


defesa na internet;

• conhecer sobre o registro de domínio;

• conhecer sobre a certificação digital.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – DEFINIÇÃO DE CRIME

TÓPICO 2 – PROVA DE CRIME ELETRÔNICO

TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE CIVIL, INDENIZAÇÃO E LEGÍTIMA


DEFESA NA INTERNET

TÓPICO 4 – REGISTRO DE DOMÍNIO

TÓPICO 5 – CERTIFICAÇÃO DIGITAL

151
152
UNIDADE 3
TÓPICO 1

DEFINIÇÃO DE CRIME

1 INTRODUÇÃO
Este Tópico 1, da Unidade 3 deste livro de estudos, foi reservado para um
primeiro contato do acadêmico com um dos assuntos bastante conhecidos em
nosso meio, que são os crimes eletrônicos.

É importante que saibamos que há o cometimento de crimes não apenas


no mundo real, mas também no mundo virtual, pois a internet trouxe uma
série de facilidades para a vida em sociedade, mas também trouxe uma série
de preocupações, dentre as quais está a prática de novos delitos on-line ou a
facilidade no cometimento de antigos delitos.

Atualmente, existem usuários que ainda procuram se abrigar da tecnologia


para o cometimento de determinados crimes confiando-se em seu suposto
anonimato como garantia de que não serão descobertos, tampouco condenados
pelos seus atos delituosos.

Conforme vimos, durante os nossos estudos, os costumes são considerados


fontes do Direito, e, justamente por se tratar de um ato reiterado, cometido por
pessoas, o Direito percebeu a necessidade da criação de medidas (leis) que
regulam a conduta dos usuários quando estes estão agindo de modo on-line, com
o objetivo de regular o seu uso de forma consciente.

Desta forma, o Direito utiliza-se de várias leis que tratam e regulam este
assunto. Aqui veremos, dentre outros assuntos, qual é a definição de crime, ou
seja, quais são os pontos característicos levados em consideração para definir um
crime, formas de cometimento de um crime, bem como a nova lei para os crimes
eletrônicos e a sua motivação.

2 CONCEITO DE CRIME
Nós começamos pelo conceito de crime, em que profissionais da área do
direito penal, principalmente, já se depararam e se deparam em seu cotidiano.
Esse é o ponto de partida, é a pergunta mais frequentemente ouvida. Você,
certamente, já foi indagado sobre o que é crime? Qual é o conceito de crime?
Precisamos refletir, pois o conceito de crime é muito vasto.

153
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

O conceito de crime, em direito penal, varia de acordo com o critério


adotado. Em outras palavras, podemos afirmar que não existe um conceito
único, exato e soberano para o conceito de crime. Dentro do critério material ou
substancial, podemos afirmar que crime é toda a ação ou omissão humana que
lesa ou expõe a perigos de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. Assim, ao
afirmarmos que homicídio é crime, podemos verificar que o infrator (criminoso)
está ofendendo o bem jurídico tutelado (protegido) da vítima, que é a vida que é
protegida pela lei.

Para Silva (2012), apesar de crime e contravenção serem espécies “distintas”


do gênero “infração penal”, não existe, a rigor, uma diferença substancial entre os
dois. Não há um elemento de ordem ontológica que encerre uma essência natural
“em si mesmo”, sendo diferenciados apenas pelas suas penas, nos termos do art.
1º, da Lei de Introdução ao Código Penal e da Lei de Contravenções Penais, ou
como leciona Nucci (2011, p. 11) em seu Manual de Direito Penal: “o direito penal
estabeleceu diferença entre crime (ou delito) e contravenção penal, espécies de
infração penal. Entretanto, essa diferença não é ontológica ou essencial, situando-
se, tão somente, no campo da pena”.

Em se tratando de conceito de crime, há um outro conceito conhecido


no meio jurídico, que são as “infrações penais de menor potencial ofensivo”. A
definição pertence aos Juizados Especiais Criminais, nos termos dos arts. 60 e 61,
da Lei 9.099/95, conforme a seguir:
 Art. 60.  O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou
togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento
e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo,
respeitadas as regras de conexão e continência.
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo,
para os efeitos desta lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei
comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não
com multa.

Todavia, mesmo diante das diferenças acima expostas, há muito mais


semelhanças do que diferenças entre crime e contravenção penal, haja vista esta
também constituir um fato típico e antijurídico, porém de menor potencial lesivo
para a sociedade. Um crime-anão, na concepção formulada pelo consagrado Nelson
Hungria (SILVA, 2012). Assim, segundo Greco (2011), o critério de rotulação de
uma conduta como contravencional ou criminosa é essencialmente político. O que
hoje é considerado crime, amanhã poderá ser uma contravenção, ou vice-versa.
Como exemplo, o autor nos traz a criminalização da contravenção penal de porte
de arma, consumada no art. 10, da Lei 9.437, de 20 de fevereiro de 1997.

Assim, temos também o critério legal que traz os conceitos de crime e


contravenção. Crime é toda aquela ação cuja pena será de reclusão ou detenção.
E a contravenção é toda ação cuja pena será de prisão simples ou multa. Assim, a
contravenção são crimes de menor potencial ofensivo.

154
TÓPICO 1 | DEFINIÇÃO DE CRIME

Como é sabido, crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo


um bem jurídico tutelado pela lei penal. Aqui, podemos verificar que aparecem
palavras/expressões que talvez não conheçamos. Uma delas é a expressão “bem
jurídico tutelado”, que podemos entendê-la como todo o bem com que a lei
nos protege, por exemplo: a vida, a nossa integridade física, a nossa moral, são
exemplos de bens jurídicos tutelados, ou seja, bens protegidos. Assim, podemos
afirmar que nossa vida, dentre outros, é um bem protegido pela lei.

A definição de crime no Brasil é descrita no art. 1° da Lei de Introdução do


Código Penal (Decreto-lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941):
Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de
reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal
a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa,
ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Temos ainda outras definições para crime. Dentro do critério analítico,


crime é a ação humana, contra o ordenamento jurídico, típica, culpável e punível.
A partir desta definição podemos verificar que um crime é fruto de uma ação
humana, ou seja, somente um ser humano é passível do cometimento e pagamento
de um crime. O termo contra o ordenamento jurídico refere-se à ação contra a lei,
isto é, contra o ordenamento jurídico propriamente dito.

A palavra típica explica que o crime deve estar tipificado, ou seja, o


crime deve estar escrito na lei penal para ser considerado crime, deve existir
uma determinada lei que afirme expressamente que tal conduta é considerada
criminosa – desta forma, se você estiver na dúvida se determinada ação é
considerada criminosa, esta ação deve estar escrita na lei, e na lei penal não cabe
analogia, não é possível basear-se em um crime semelhante.

Culpável diz respeito à possibilidade de o agente ser considerado culpado


ou não pelo cometimento de determinado ato; e punível, consequentemente,
refere-se à possibilidade de punição para tal ato. Por exemplo: conforme preconiza
Pinheiro (2010), o crime de interceptação telefônica e de dados, que tem como
bem jurídico tutelado (protegido) os dados, ou seja, o que se quer proteger é a
transmissão de dados e coibir o uso dessas informações, para fins delituosos, por
exemplo, a captura de informações para o envio de “e-mail bombing” (envio de
e-mails imensos ou vários e-mails).

Todo crime possui o sujeito ativo, que é a pessoa que comete o crime. E
crime, quem comete, é o ser humano, conforme já vimos aqui! É o ser humano
que age com intenção, sem intenção e com omissão também. E o sujeito passivo
do crime é o sujeito que sofre a lesão, que sofre o crime, que tem o seu bem
jurídico ofendido ou exposto a risco.

Porém, também é possível o cometimento de crimes por pessoa jurídica,


se levarmos em consideração o artigo 225, § 3º de nossa Constituição Federal, que
abrange os crimes ambientais. Vejamos:
155
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
[...]
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

ATENCAO

É importante lembrar que na lei penal não cabe analogia.

3 CRIMES DIGITAIS
Para Schmidt (2015), as denominações quanto aos crimes praticados em
ambiente virtual são diversas, não há um consenso sobre a melhor denominação
para os delitos que se relacionam com a tecnologia. Entre outros, temos crimes de
computação, delitos de informática, abuso de computador, fraude informática,
enfim, os conceitos ainda não abarcam todos os crimes ligados à tecnologia, e,
portanto, deve-se ficar atento quando se conceitua determinado crime, tendo em
vista que existem muitas situações complexas no ambiente virtual.

Para Corrêa (2008), os crimes digitais seriam todos aqueles relacionados


às informações arquivadas ou em trânsito por computadores, sendo esses dados
acessados ilicitamente, usados para ameaçar ou fraudar; para tal prática é
indispensável a utilização de um meio eletrônico.

Para Takeoki (2015), esses delitos cometidos no âmbito digital muitas


vezes são nomeados como: crimes cibernéticos, crimes digitais, crimes eletrônicos,
crimes da informática, crimes cometidos na internet,  cybercrimes, fraudes
eletrônicas, delitos computacionais, dentre outros, mas todos referem-se à prática
delituosa cometida no meio digital. Assim, surge a necessidade de classificar os
diversos tipos de crimes cometidos no meio ambiente digital. Existem diversas
classificações doutrinárias a respeito de tal tema que são amplamente discutidas
e apontadas por diversos autores.

Para Wendt e Jorge (2012), existem as ações prejudiciais atípicas e os crimes


cibernéticos. As ações prejudiciais atípicas são aquelas condutas que causam
prejuízo ou transtorno para a vítima através da rede mundial de computadores,
mas não são tipificados em lei.

156
TÓPICO 1 | DEFINIÇÃO DE CRIME

Por sua vez, os crimes cibernéticos se dividem em crimes cibernéticos abertos


e crimes exclusivamente cibernéticos. Os crimes exclusivamente cibernéticos são
aqueles que necessariamente precisam do meio da informática para cometer tal
crime (como é o caso do crime de invasão de dispositivo informático, artigos 154-
A e154-B do Código Penal, introduzido pela Lei 12.735/2012, conhecido como Lei
Carolina Dieckmann). Rosa (2002, p. 10) define o crime eletrônico como sendo:
A conduta atente contra o estado natural dos dados e recursos
oferecidos por um sistema de processamento de dados, seja pela
compilação, armazenamento ou transmissão de dados, na sua
forma, compreendida pelos elementos que compõem um sistema de
tratamento, transmissão ou armazenagem de dados, ou seja, ainda,
na forma mais rudimentar; 2. O ‘Crime de Informática’ é todo aquele
procedimento que atenta contra os dados, que faz na forma em que
estejam armazenados, compilados, transmissíveis ou em transmissão;
3. Assim, o ‘Crime de Informática’ pressupõe dois elementos
indissolúveis: contra os dados que estejam preparados às operações do
computador e, também, através do computador, utilizando-se software
e hardware, para perpetrá-los; 4. A expressão crimes de informática,
entendida como tal, é toda a ação típica, antijurídica e culpável, contra
ou pela utilização de processamento automático e/ou eletrônico de
dados ou sua transmissão; 5. Nos crimes de informática, a ação típica
se realiza contra ou pela utilização de processamento automático de
dados ou a sua transmissão. Ou seja, a utilização de um sistema de
informática para atentar contra um bem ou interesse juridicamente
protegido, pertença ele à ordem econômica, à integridade corporal, à
liberdade individual, à privacidade, à honra, ao patrimônio público ou
privado, à Administração Pública etc.

Portanto, os crimes cibernéticos abertos são aqueles que podem ou não


serem praticados pelo meio informático, como é o caso dos crimes de violação
de direito do autor, que podem ser praticados tanto no ambiente virtual como no
analógico (TAKEOKI, 2015).

TUROS
ESTUDOS FU

A Lei Carolina Dieckmann será estudada no Tópico 2 desta unidade.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES ELETRÔNICOS


Para Schmidt (2015), as classificações existentes para os crimes cibernéticos
não são eficazes, devido à dinâmica dos computadores e da internet. A evolução
proporcionada por eles é muito grande, assim como as novas formas delitivas que
vão surgindo. Dessa maneira, as classificações se tornam obsoletas em pouco tempo.

Entretanto, há duas classificações mais presentes na doutrina: Crimes


cibernéticos puros, mistos e comuns; e Crimes cibernéticos próprios e impróprios.
157
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

3.1.1 Crimes cibernéticos puros, mistos e comuns


Para Schmidt (2015), crimes cibernéticos puros podem ser definidos
como toda e qualquer conduta ilícita que tenha por objetivo exclusivo o sistema
de computador, seja pelo atentado físico ou técnico do equipamento e seus
componentes, inclusive dados e sistemas. O agente objetiva atingir o computador,
o sistema de informática ou os dados e as informações neles utilizadas. É aqui
que entram as condutas praticadas por hackers, que são pessoas com amplo
conhecimento informático, utilizado para invadir ou prejudicar servidores e
sistemas. Muitas vezes, sem nenhuma razão aparente.

Asseverando o autor supracitado, é o caso do vírus Melissa, que em 1999


causou um prejuízo de mais de US$ 80.000.000,00 (oitenta milhões de dólares
americanos). Em 2011, houve o caso do furto de dados, nomes, endereços e
possivelmente detalhes de cartões de crédito de 77 milhões de usuários da Play
Station Network.

Salienta Schmidt (2015) que os crimes cibernéticos mistos “são aqueles


em que o uso da internet ou sistema informático é condição sine qua non para a
efetivação da conduta, embora o bem jurídico visado seja diverso ao informático”.
O agente não visa o sistema de informática e seus componentes, mas a informática
é instrumento indispensável para consumação da ação criminosa. Ocorre, por
exemplo, nas transferências ilícitas de valores em um home banking. Os crimes
cibernéticos comuns, portanto, são aqueles que utilizam a internet apenas como
instrumento para a realização de um delito já tipificado pela lei penal. A rede
mundial de computadores acaba por ser apenas mais um meio para a realização
de uma conduta delituosa. Se antes, por exemplo, a pornografia infantil era
instrumentalizada através de vídeos e fotografias, hodiernamente acontece através
das home pages. Mudou-se a forma, mas a essência do crime permanece a mesma.

3.1.2 Crimes cibernéticos próprios e impróprios


Para Schmidt (2015), nessa classificação os crimes próprios são aqueles
em que o sistema informático do sujeito passivo é o objeto e o meio do crime.
Conforme Silva (2003, p. 13), “São aqueles em que o bem jurídico protegido pela
norma penal é a inviolabilidade das informações automatizadas (dados)”.

Segundo Schmidt (2015), aqui entrariam as condutas praticadas por hackers,


tanto de invasão de sistemas quanto de modificar, alterar, inserir dados falsos, ou
seja, que atinjam diretamente o software ou hardware do computador e só podem
ser concretizados pelo computador ou contra ele e seus periféricos. Os crimes
cibernéticos impróprios seriam aqueles que atingem um bem jurídico comum, como
o patrimônio, e utilizam dos sistemas informáticos apenas como animus operandi, ou
seja, um novo meio de execução. Há certa dificuldade em se reconhecer os crimes
cibernéticos impróprios praticados contra o patrimônio, por não se reconhecer
na informação armazenada um bem material, mas sim imaterial, insuscetível de
apreensão como objeto. Entretanto, conforme Silva (2003, p. 17):
158
TÓPICO 1 | DEFINIÇÃO DE CRIME

a informação neste caso, por se tratar de patrimônio, refere-se a


bem material, apenas grafado por meio de bits, suscetível, portanto,
de subtração. Assim, ações como alteração de dados referentes ao
patrimônio, como a supressão de quantia de uma conta bancária,
pertencem à esfera dos crimes contra o patrimônio.

Produz um resultado naturalístico, que ofende o espaço físico, o espaço


“real”, atingindo bem jurídico diverso do sistema informático.

159
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico tutelado
pela lei penal.

• Crime é a ação humana, antijurídica, típica, culpável e punível.

• Em nossa lei penal não cabe analogia.

• Os crimes digitais seriam todos aqueles relacionados às informações arquivadas


ou em trânsito por computadores, sendo esses dados acessados ilicitamente,
usados para ameaçar ou fraudar; para tal prática é indispensável a utilização
de um meio eletrônico.

• Os crimes cibernéticos puros podem ser definidos como toda e qualquer


conduta ilícita que tenha por objetivo exclusivo o sistema de computador, seja
pelo atentado físico ou técnico do equipamento e seus componentes, inclusive
dados e sistemas (SCHMIDT, 2015).

• Nos crimes cibernéticos mistos o agente não visa o sistema de informática


e seus componentes, mas a informática é instrumento indispensável para
consumação da ação criminosa. Ocorre, por exemplo, nas transferências ilícitas
de valores em um home banking.

• Os crimes cibernéticos comuns são aqueles que utilizam a internet apenas


como instrumento para a realização de um delito já tipificado pela lei penal.

• Os crimes cibernéticos próprios são aqueles em que o sistema informático do


sujeito passivo é o objeto e o meio do crime.

• Os crimes cibernéticos impróprios seriam aqueles que atingem um bem


jurídico comum, como o patrimônio, e utilizam dos sistemas informáticos
apenas como animus operandi, ou seja, um novo meio de execução.

160
AUTOATIVIDADE

1 As denominações quanto aos crimes praticados em ambiente virtual são


diversas, não há um consenso sobre a melhor denominação para os delitos
que se relacionam com a tecnologia. Nesse sentido, analise as questões abaixo
e selecione a alternativa CORRETA, no que tange ao conceito de crime no
critério analítico:

a) ( ) Crime é a ação humana, contrária ao ordenamento jurídico, típica,


culpável e punível.
b) ( ) Crime é a ação humana, antijurídica, atípica, culpável e punível.
c) ( ) Crime é a ação humana, antijurídica, típica, culpável e não punível.
d) ( ) Crime é a ação humana, jurídica, típica, culpável e punível.

2 O conceito de crime, em direito penal, varia de acordo com o critério adotado.


Em outras palavras, podemos afirmar que não existe um conceito único,
exato e soberano para o conceito de crime. Nesse sentido, analise as questões
abaixo e selecione a alternativa CORRETA, no que tange ao conceito de crime
no critério material ou substancial:

a) ( ) Crime é a ação humana, contrária ao ordenamento jurídico, típica,


culpável e punível.
b) ( ) Crime é a ação humana, antijurídica, atípica, culpável e punível.
c) ( ) Crime é toda a ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigos de
lesão bens jurídicos penalmente tutelados.
d) ( ) Crime é somente toda a ação humana que lesa ou expõe a perigos de
lesão bens jurídicos penalmente tutelados.

3 Para Schmidt (2015), as classificações existentes para os crimes cibernéticos


não são eficazes, devido à dinâmica dos computadores e da internet. A
evolução proporcionada por eles é muito grande, assim como as novas
formas delitivas que vão surgindo. Dessa maneira, as classificações se
tornam obsoletas em pouco tempo. Entretanto, há duas classificações mais
presentes na doutrina. Diante dessas afirmações, analise as alternativas
abaixo e assinale a CORRETA no que se refere à classificação dos crimes
eletrônicos:

a) ( ) Crimes cibernéticos puros, mistos e comuns e crimes cibernéticos


próprios e impróprios.
b) ( ) Somente crimes cibernéticos puros e comuns.
c) ( ) Crimes cibernéticos próprios e impróprios não fazem parte da
classificação dos crimes cibernéticos.
d) ( ) Apenas crimes cibernéticos mistos e próprios.

161
4 Os casos do vírus Melissa, que em 1999 causou um prejuízo de mais de US$
80.000.000,00 (oitenta milhões de dólares americanos) e o furto de dados,
nomes, endereços e possivelmente detalhes do cartão de crédito de 77
milhões de usuários da PlayStation Network são exemplos de:

a) ( ) Crimes Cibernéticos Puros.


b) ( ) Crimes Cibernéticos Mistos.
c) ( ) Crimes Cibernéticos Comuns.
d) ( ) Crimes Cibernéticos Próprios.

162
UNIDADE 3
TÓPICO 2

PROVA DE CRIME ELETRÔNICO

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, vimos o que é um crime, o que são crimes digitais e
suas classificações. Este tópico foi reservado para sabermos como poderão ser
produzidas provas/evidências de um crime eletrônico, um assunto que certamente
causa dúvidas no momento de provar o crime praticado por meio de dispositivo
informático.

Sabemos que com o advento da internet tivemos uma série de facilidades,


porém também uma série de preocupações, como é o caso do cometimento
de crimes utilizando-se desse meio de comunicação, pois na falsa ideia do
anonimato e da não condenação ainda existem usuários que procuram se abrigar
da tecnologia para o cometimento de determinados crimes.

Conforme vimos, durante os nossos estudos, os costumes são considerados


fontes do Direito, e justamente por se tratar de um ato reiterado, cometido por
pessoas, o Direito percebeu a necessidade da criação de medidas (leis) que
regulem a conduta dos usuários quando estes estão agindo de modo on-line, com
o objetivo de regular o seu uso de modo consciente.

Neste tópico, trataremos de como poderão ser produzidas provas/


evidências pelo cometimento de crimes eletrônicos, bem como quais as formas de
cometimento de um crime e, por fim, veremos a Lei Carolina Dieckmann.

2 EVIDÊNCIAS DE UM CRIME ELETRÔNICO


Para Schmidt (2015), de modo geral, pode-se dizer que as evidências
dos crimes cibernéticos são extremamente voláteis. Podem ser apagadas em
segundos ou perdidas facilmente. Além disso, possuem formato complexo
e costumam estar misturadas a uma grande quantidade de dados legítimos,
demandando uma análise apurada pelos técnicos e peritos que participam da
persecução penal. Muitas vezes, para a devida comprovação da materialidade
do delito, faz-se necessária a interceptação do fluxo de comunicações realizadas
através de um computador. Tais interceptações, como exposto acima, somente
podem ser feitas mediante autorização judicial.

Em relação à inviolabilidade do sigilo das comunicações, Grinover (2009,


p. 138) ensina: “A garantia constitucional pode sofrer limitações, não devendo

163
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

prestar-se para a proteção de atividade ilícitas ou criminosas. É assim que,


através de uma ponderada apreciação judiciária, obedecendo aos limites legais,
pode ser determinada a interceptação das comunicações telefônicas”.

Observe-se que de acordo com o parágrafo único do art. 1º da Lei


nº 9.296/96, estendeu-se a normatização das interceptações telefônicas às
informáticas e telemáticas. Segundo João Roberto Parizatto (1996, p. 138):
“o que o dispositivo em apreço quer é estender a aplicação das hipóteses de
interceptação de comunicações telefônicas a qualquer espécie de comunicação,
ainda que realizada através de sistemas de informática, existentes ou que
venham a ser criados”.

De acordo com Schmidt (2015), a maioria dos crimes cibernéticos exige


perícia para sua perfeita prova. Uma vez identificado o endereço real do
criminoso e determinada a busca e apreensão de seu computador e quaisquer
mídias que possam conter indícios da materialidade, será procedido o exame de
corpo de delito. Primeiramente, é feita uma duplicação das mídias do exame,
e a perícia deverá ser realizada nas cópias. Isso porque, além da preservação
dos originais, o simples fato de se abrir um arquivo de computador altera seu
estado. As evidências dos crimes cibernéticos, em um computador, podem ser
classificadas como evidências do usuário e evidências do sistema. As evidências
do usuário são aquelas produzidas pelo próprio sujeito ativo, em arquivos
de texto, imagem ou qualquer outro tipo. Já as evidências do sistema são as
produzidas pelo sistema operacional, em função da ação do sujeito ativo. Pode-
se citar os arquivos temporários da internet, o cache da memória ou os cookies
dos sites visitados.

3 FORMAS DE COMETIMENTO DE UM CRIME


Para a nossa área de TI é importante que saibamos que existem várias
formas de cometimento de um crime, no que tange à questão de intenção. São elas:

• Culpa (forma culposa): conduta voluntária (ação ou omissão) que produz


resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente
previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado (MIRABETE, 2017).
Assim, podemos verificar a conduta culposa quando o agente não possui a
intenção de cometer determinado crime, tampouco o planeja, mas, devido às
circunstâncias, acaba por cometer. É o que preceitua o Código Penal no artigo
18, em seu inciso II. Vejamos:

Art. 18 - Diz-se o crime:


[...]
II- culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia.
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser
punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 

164
TÓPICO 2 | PROVA DE CRIME ELETRÔNICO

Vale lembrar que a imprudência (excesso de confiança) é a atuação do


agente sem tomar as devidas cautelas. Surge quando o autor pratica determinada
conduta. Negligência (descaso) ocorre quando o agente deixar de tomar
determinada conduta que deveria ser tomada, trata-se de um comportamento
omissivo. A imperícia (falta de técnica) caracteriza-se pela falta de aptidão técnica
para a profissão ou ofício que se apresenta.

• Dolo (forma dolosa): Martins (2011) afirma que dolo é a vontade de praticar o
ato, sabidamente criminoso, existindo a intenção de praticá-lo, como o de sacar
um revólver e roubar uma pessoa. Neste caso, é importante entendermos que
o agente quer o resultado, ele tem a intenção de produzi-lo. É o que preceitua
o Código Penal no artigo 18, em seu inciso I. Vejamos:

Art. 18 - Diz-se o crime:


I- doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

• Preterdolo (forma preterdolosa ou dolo eventual/ teoria do consentimento):


Martins (2011) assevera que nesta forma de cometimento do crime o agente
produz um resultado danoso, embora não intencional, mas o aceita em
decorrência de sua ação. É uma espécie de crime qualificado pelo resultado,
conforme preceitua o artigo 19 do Código Penal: Acompanhe: Art. 19 - Pelo
resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado ao menos culposamente.

Desta forma, a pessoa, o agente que comete a conduta, não possui a


intenção de cometer tal resultado, mas, mesmo assim, assume os riscos pela sua
conduta. Trata-se de um crime complexo, em parte culposo e em parte doloso.
Assim, o condutor embriagado que dirige o seu veículo assume os riscos por esta
conduta irresponsável. Podemos citar como exemplo o crime de lesão corporal
qualificada pelo resultado morte (art. 129, § 3º, do Código Penal).

E
IMPORTANT

Os crimes eletrônicos são julgados de forma dolosa, uma vez que não há como
falar em crimes praticados sem intenção por meio da rede mundial de computadores, pois
fica evidente o propósito do autor causar o dano à vítima.

165
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

4 A LEI DOS CRIMES ELETRÔNICOS – LEI CAROLINA


DIECKMANN
Segundo Siena (2013), em maio de 2012, algumas reproduções
fotográficas contendo imagens da intimidade da atriz Carolina Dieckmann foram
indevidamente divulgadas em diversos sítios eletrônicos da rede mundial de
computadores. Segundo os fatos noticiados pelos mais variados meios midiáticos,
após deixar um computador pessoal em um estabelecimento de assistência técnica
especializada, violaram a sua conta de correio eletrônico, oportunidade em que
um indivíduo obteve acesso às imagens, passando a chantagear a atriz, sob pena
de divulgar as imagens tidas como comprometedoras.

Ao que tudo indica, este caso acabou sendo a mola propulsora da edição
da Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012, publicada no Diário Oficial da
União em 3 de dezembro de 2012, e em vigor 120 (cento e vinte) dias após a sua
publicação oficial (artigo 4º), apelidada de Lei Carolina Dieckmann, que dispõe
sobre a tipificação criminal de delitos informáticos; altera o Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; e dá outras providências.

Até pouco tempo não existia uma lei específica para os crimes eletrônicos.
O que ocorria quando algum crime eletrônico era cometido era o apelo à lei
penal para enquadrar determinado crime. O que se praticava até há pouco era a
analogia que estudamos neste livro. Por exemplo: se alguma quantia em dinheiro
fosse subtraída de conta bancária pela internet, tal crime era julgado como furto
(o convencional), pois esta ação está tipificada em nosso Código Penal de 1940.
Se alguma pessoa fosse vítima de estelionato pela internet, o crime era julgado
como o estelionato praticado de modo presencial, pois até então não existia a lei
específica para tais crimes.

Na realidade, a nova lei (n° 12.737/2012) altera o nosso Código Penal e


tipifica como crime alguns comportamentos no meio eletrônico, como a invasão
de sites, violação de dados, furto, “derrubar” sites, dentre outros.

É importante lembrar também que os crimes cibernéticos são julgados em


sua forma dolosa, ou seja, quando há a intenção de praticar o crime. Desta forma,
não há julgamento de outra forma em se tratando de crimes virtuais, quer seja
culposa ou preterdolosa (dolo eventual), conforme já estudamos.

Vejamos agora as alterações trazidas em nosso Código Penal pela Lei


Carolina Dieckmann:

LEI Nº 12.737, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2012

Dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos; altera o


Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; e dá outras
providências.

166
TÓPICO 2 | PROVA DE CRIME ELETRÔNICO

A PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 

Art. 1º Esta lei dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos


e dá outras providências.  
Art. 2º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
fica acrescido dos seguintes arts. 154-A e 154-B:  

Invasão de dispositivo informático  

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não


à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de
segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações
sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:  
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou
difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a
prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta
prejuízo econômico.
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações
eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas,
assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo
invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta
não constitui crime mais grave.
§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver
divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos
dados ou informações obtidas.
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado
contra:
I- Presidente da República, governadores e prefeitos.
II- Presidente do Supremo Tribunal Federal.
III- Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de
Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal
ou de Câmara Municipal.
IV- Dirigente máximo da administração direta e indireta federal,
estadual, municipal ou do Distrito Federal.

Ação penal  
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede
mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a administração
pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito
Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços
públicos. 

167
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

Art. 3º Os arts. 266 e 298 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de


1940 - Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:
Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico,
informático, telemático ou de informação de utilidade pública 
Art. 266
§ 1º Incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de
informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento.
§ 2º Aplicam-se as penas em dobro se o crime é cometido por ocasião de
calamidade pública. (NR)

Falsificação de documento particular


Art. 298 [...]

Falsificação de cartão
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento
particular o cartão de crédito ou débito. (NR)
Art. 4º Esta lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de
sua publicação oficial.
Brasília, 30 de novembro de 2012; 191º da Independência e 124º da
República.
DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12737.


htm>. Acesso em: 23 fev. 2018.

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, como já aprendemos sobre a interpretação das leis, será simples
a interpretação desta lei também! Vamos praticar?

168
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Para a nossa área de TI é importante que saibamos que existem três formas de
cometimento de um crime. São elas: forma culposa, dolosa e preterdolosa.

• No ano de 2012 foi sancionada, e entrou em vigor a partir de abril de 2013, a


Lei dos Crimes Cibernéticos (Lei n° 12.737/2012), também conhecida como Lei
Carolina Dieckmann.

• A nova lei, que altera o nosso Código Penal, tipifica como crime alguns
comportamentos no meio eletrônico, como a invasão de sites, violação de
dados, furto, “derrubar” sites, dentre outros.

• É importante lembrar também que os crimes cibernéticos são julgados em sua


forma dolosa, ou seja, quando há a intenção de praticar o crime.

169
AUTOATIVIDADE

1 Segundo Schmidt (2015), as denominações quanto aos crimes praticados


em ambiente virtual são diversas, não há um consenso sobre a melhor
denominação para os delitos que se relacionam com a tecnologia. Entre outros,
temos crimes de computação, delitos de informática, abuso de computador,
fraude informática, enfim, os conceitos ainda não abarcam todos os crimes
ligados à tecnologia, e, portanto, deve-se ficar atento quando se conceitua
determinado crime, tendo em vista que existem muitas situações complexas
no ambiente virtual. Nesse sentido, e de acordo com a teoria dos Crimes
Eletrônicos, analise as questões abaixo e selecione a alternativa CORRETA:

a) ( ) Crime é a ação humana, contrária ao ordenamento jurídico, típica,


culpável e punível.
b) ( ) Crime é a ação humana, antijurídica, atípica, culpável e punível.
c) ( ) Crime é a ação humana, antijurídica, típica, culpável e não punível.
d) ( ) Crime é a ação humana, jurídica, típica, culpável e punível.

2 De acordo com a teoria dos Crimes Eletrônicos, a voluntariedade da conduta


do agente pode ser culposa, dolosa ou também preterdolosa. Baseado nessa
informação, quando um indivíduo age com culpa? Analise as assertivas
abaixo e selecione a CORRETA:

a) ( ) Assume os riscos de produzir determinado resultado (o crime).


b) ( ) Possui a intenção de produzir determinado resultado (o crime).
c) ( ) Produz um resultado (crime) não planejado, não intencional, tampouco
querido.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

3 Tácio, preocupado com uma conduta que acaba de praticar e que suspeita
ser criminosa, consulta o seu advogado para saber se praticou um crime.
Durante a dita consulta, o advogado de Tácio não encontra a conduta
descrita pelo seu cliente no Código Penal (Lei Penal). Neste caso, analise as
alternativas abaixo e selecione a CORRETA:

a) ( ) Tácio, por analogia, pode ter praticado outro crime que se assemelhe à
conduta narrada.
b) ( ) Tácio não praticou crime, pois não há analogia na Lei Penal.
c) ( ) Tácio deverá se apresentar ao Ministério Público por ter praticado
conduta humana atípica.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

4 Para Schmidt (2015), de modo geral, pode-se dizer que as evidências dos
crimes cibernéticos são extremamente voláteis. Podem ser apagadas em
segundos ou perdidas facilmente. Além disso, possuem formato complexo

170
e costumam estar misturadas a uma grande quantidade de dados legítimos,
demandando uma análise apurada pelos técnicos e peritos que participam
da persecução penal. Diante disso, como poderão ser produzidas evidências
de um crime eletrônico?

I- A maioria dos crimes cibernéticos exige perícia para sua perfeita prova.
II- As evidências dos crimes cibernéticos, em um computador, podem ser
classificadas como evidências do usuário e evidências do sistema.
III- As evidências do usuário são aquelas produzidas pelo próprio sujeito
ativo, em arquivos de texto, imagem ou qualquer outro tipo.
IV- Já as evidências do sistema são as produzidas pelo sistema operacional, em
função da ação do sujeito ativo.

Escolha a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente as alternativas I e III estão corretas.
b) ( ) Apenas a alternativa IV está correta.
c) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
d) ( ) A alternativa II está incorreta.

171
172
UNIDADE 3
TÓPICO 3

RESPONSABILIDADE CIVIL, INDENIZAÇÃO E


LEGÍTIMA DEFESA NA INTERNET

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, trataremos sobre a responsabilidade civil, como funciona a
questão de indenizações e legítima defesa na internet. São temas cada vez mais
atuais em nosso meio, que é a TI. No Brasil, cada vez mais estes assuntos são
tratados de maneira respeitável e com decisões judiciais firmes.

Para Pinheiro (2006), dentro da nova realidade da sociedade digital é


fundamental repensar alguns princípios jurídicos, bem como resgatar os valores
aos quais os mesmos estão atrelados e que motivaram a existência das leis que
se encontram em vigor. É preciso interpretar as normas legais dentro de novas
situações, que merecem novas respostas. Com a internet, passaram a ser comuns
situações de ataques, agressões, vandalismo e até mesmo crimes que ocorrem com
pessoas físicas e jurídicas em ambientes totalmente eletrônicos, não presenciais,
em que as únicas testemunhas são as máquinas.

Assevera Pinheiro (2006) que é inteiramente normal que, em qualquer


caso como os descritos acima, em que há uma situação de infração ou conflito
de direito em âmbito real ou virtual, a vítima queira se proteger. Sendo assim,
como fica a questão do exercício do direito de legítima defesa na internet? Até
que ponto a defesa pode virar infração? Quando podemos atacar quem está nos
atacando, até mesmo para conseguir saber qual sua identidade e então entrar com
uma medida judicial? Pela necessidade de aumentar a segurança da informação,
muitas empresas no Brasil já possuem profissionais especializados em combater
delitos virtuais, especialmente os cometidos por hackers.

Em muitos casos, é formado um time de "resposta a incidente", ou há um


time de monitoramento para que se possa pegar o infrator literalmente com a
"mão na máquina", quer ele seja de dentro, algum funcionário ou colaborador, ou
de fora, que vai desde um cliente que pode estar cometendo autofraude, até um
parceiro, fornecedor ou terceiro. Para isso, uma série de medidas são tomadas,
são compradas tecnologias específicas e muitas vezes também são contratadas
empresas que praticam o que se chama "ethical hacking". Para o direito brasileiro,
apesar da boa-fé de quem está trabalhando nesta área, pode ocorrer que a pessoa
venha a ser considerada criminosa no exercício dessas atividades (PINHEIRO,
2006).

173
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

Veremos como funciona a questão da responsabilidade e indenização por


dano civil na internet, especificamente. Também iremos estudar como funciona
a legítima defesa na internet, pois ouvimos muito falar neste assunto no mundo
“físico”, mas como é tratado o assunto quando nos referimos à internet? Por
exemplo: se tivermos o nosso perfil em alguma rede social pichado com palavras
de baixo calão, podemos retribuir a ofensa na mesma intensidade, como se fosse
um direito de resposta?

2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL E INDENIZAÇÃO


Segundo Paesani (2004), quem pratica um ato, ou incorre numa omissão
de que resulte dano, deve suportar as consequências do seu procedimento. Trata-
se de uma regra elementar de equilíbrio social, na qual se resume, em verdade,
o problema da responsabilidade. Afirma a autora que a responsabilidade é
um fenômeno social. Toda lesão a qualquer direito traz como consequência a
obrigação de indenizar.

O art. 159 de nosso Código Civil Brasileiro determina que “fica obrigado a
reparar o dano” quem assim o tiver dado causa. Esta reparação é feita através da
restituição das coisas, normalmente de forma financeira. E, para arbitrar/estipular
o valor do dano moral, o juiz leva em consideração o sofrimento da vítima e o
poder aquisitivo do agente que provocou tal dor.

NOTA

Acadêmico, lembre-se de que dano moral é diferente de dano material. E para


definir o valor do dano material, basta verificar o valor da coisa que foi perdida ou danificada,
diferente do que ocorre com o dano moral que estamos estudando agora.

Assim, podemos entender que, uma vez sofrido o dano moral, não há
como desfazer tal dano. Podemos utilizar como exemplo o dano moral (calúnia,
injúria ou difamação) sofrido nas redes sociais (constrangimento por internet): se
tivermos o nosso perfil “pichado”, não há como voltarmos no tempo e deixarmos
de sofrer tal constrangimento, ele já ocorreu – o sofrimento já ocorreu –, mesmo
que o xingamento, por exemplo, seja retirado/excluído de nosso perfil; pois
familiares, colegas de trabalho, amigos e outros contatos de nosso perfil podem já
ter visualizado as ofensas.

O que se pode, então, é reparar esse dano através da valoração da dor,


do sofrimento, do constrangimento e das circunstâncias através das quais tal

174
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE CIVIL, INDENIZAÇÃO E LEGÍTIMA DEFESA NA INTERNET

situação ocorreu. É necessário levar em consideração a extensão e a magnitude


do dano no momento da fixação do valor indenizatório, a fim de majorar o valor
devido, de modo que o agressor tenha condições de reparar e ser punido pelo
dano que fez o agredido sofrer (FAVARETTO, 2014). Com esta atitude procura-
se fazer com que o agressor aprenda (critério pedagógico da pena) e pague pelo
dano causado, desencorajando-o de praticar novamente aquele ato, quer seja com
a mesma vítima ou com outrem.

Silva (2012) traz que o conceituado doutrinador Pontes de Miranda foi


fervoroso adepto da reparação por dano moral: os padecimentos morais devem
participar da estimação do prejuízo. O desgaste dos nervos e a moléstia da tristeza
projetam-se no físico, são danos de fundo moral e consequências econômicas.

O nosso Código Penal traz os crimes contra a honra. Provavelmente já


tenhamos ouvido os termos calúnia, injúria e difamação – são esses os referidos
crimes. Crimes estes bastante praticados pela internet, infelizmente.

A CALÚNIA consiste em atribuir, falsamente, a alguém a responsabilidade


pela prática de um fato determinado definido como crime.

Vamos acompanhar o que diz o Código Penal em seu artigo 138:

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como


crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propaga
ou divulga.
§ 2º É punível a calúnia contra os mortos.

A DIFAMAÇÃO, por sua vez, consiste em atribuir a alguém fato


determinado ofensivo a sua reputação. Assim, se João afirma que Pedro é um
péssimo pai de família, constitui crime de difamação. Certifique-se com o Código
Penal em seu artigo 139:

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo a sua reputação:


Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

A INJÚRIA, de outro lado, consiste em atribuir a alguém qualidade


negativa, que ofenda sua dignidade ou decoro. Assim, se Pedro chama João de
ladrão, imbecil, vagabundo etc., constitui crime de injúria. Acompanhe o artigo
140 de nosso Código Penal:
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I- quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a
injúria;
II- no caso de retorção imediata, que consista em outra injúria.

175
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua


natureza ou pelo meio empregado, considerem-se aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça,
cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora
de deficiência.
Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Vejamos a seguir algumas jurisprudências que podemos utilizar para


melhor ilustrar esse assunto:
Ementa: PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVA.
PROVEDOR DE ACESSO E DE CONTEÚDO. INTERNET. DANO
MORAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DENUNCIAÇÃO DA LIDE.
1- É responsável o provedor de conteúdo da INTERNET pela divulgação
de matéria que viole direito e cause dano a outrem, seja por calúnia,
difamação ou injúria, cabendo ao mesmo residir no polo passivo da
demanda onde a parte que se diz ofendida postula indenização por
danos morais. Tal responsabilidade, contudo, não se reconhece ao
provedor de conteúdo na hipótese em que este serve unicamente de
meio de divulgação de revista, sendo esta perfeitamente identificável
e responsável na forma da lei, por quaisquer manifestações de
pensamento, ou mesmo de informação, que venham a causar violação
de direito.
2- Denunciação da lide. Cabível é a denunciação do autor de entrevista
que, através de chat na internet, manifesta pensamento sobre a honra
de terceiro. Agravo parcialmente provido.

Outra ementa que traduz o repúdio a este tipo de mensagem:


Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO – CAUTELAR INOMINADA
– DIVULGAÇÃO, VIA INTERNET, ATRAVÉS DO SERVIÇO
DE CORREIO ELETRÔNICO HOTMAIL, DE MENSAGENS
DIFAMATÓRIAS ANÔNIMAS – MEDIDA DIRIGIDA CONTRA
O PRESTADOR DO SERVIÇO DE CORREIO ELETRÔNICO E
OBJETIVANDO, ENTRE AS PROVIDÊNCIAS, A IDENTIFICAÇÃO
DA ORIGEM – CABIMENTO – Demonstrada a ocorrência de
propagação de mensagens ofensivas a terceiros, difamando e
caluniando o agravante, divulgadas através da internet, via serviço de
correio eletrônico, e anônimas, caracterizada a fumaça do bom direito
e risco de lesão irreparável, é de ser concedida medida liminar dirigida
ao prestador de serviço para que proceda a identificação do remetente,
seu usuário, inviabilizada pelos meios comuns, e que bloqueie a fonte.

3 CONCEITO DE LEGÍTIMA DEFESA


O art. 23, inciso II, de nosso Código Penal afirma que: “Não há crime
quando o agente pratica o fato: I- em estado de necessidade; II- em legítima defesa;
III- em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”.

Segundo o artigo 25 de nosso Código Penal, entende-se em legítima defesa


quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Isso significa que podemos nos

176
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE CIVIL, INDENIZAÇÃO E LEGÍTIMA DEFESA NA INTERNET

defender de uma injusta agressão, isto é, alguma agressão proibida por lei,
utilizando de meios razoáveis, para evitar o ataque a um determinado bem
jurídico nosso ou de outra pessoa que está sofrendo algum tipo de agressão ou
está em vias (na iminência) de sofrer.

É importante sabermos que esta defesa não é algo premeditado/planejado


e sim pode ser considerado como uma resposta instintiva a determinada ameaça
ou ofensa a um bem jurídico e que, para ser caracterizada a legítima defesa, a
reação deve ser imediata, pois se for adiada, pode ser configurado o crime de
vingança privada, que é vedado pelo nosso ordenamento jurídico. Para melhor
ilustrar este conceito, vamos a um exemplo:

No caso de um roubo, se a vítima, ao defender-se moderadamente,


machucar ou vier a trazer o assaltante a óbito, não responderá pelo crime de
lesão corporal ou homicídio (conforme o caso), pois se entende que esta agiu em
situação de legítima defesa. Vale lembrar que a legítima defesa é uma situação
que ocorre sem ser planejada, ela simplesmente ocorre. Quando falamos em
defender-se moderadamente, queremos nos referir aos meios de defesa – muitos
autores afirmam que devemos utilizar de meios razoáveis, proporcionais à
ofensa que está sendo sofrida em determinado momento. Por exemplo, no caso
do roubo, se o assaltante utilizou de um revólver, calibre 38, não seria um meio
moderado de defesa se nos defendêssemos com uma metralhadora. Ou então se
descarregássemos a metralhadora no assaltante – aqui está configurado o excesso
de legítima defesa, o que descaracteriza a legítima defesa propriamente dita.

E
IMPORTANT

Prezado acadêmico, é importante conhecermos o que é realmente a legítima


defesa para sabermos como ela é tratada no meio da TI.

4 TRATAMENTO DA LEGÍTIMA DEFESA NA TI


Infelizmente, como observamos em nosso dia a dia, as situações de
ataques, xingamentos, ofensas, calúnias, injúrias, difamações e outros crimes
passaram a fazer parte da “sociedade digital”. É natural que a vítima desses
ataques queira defender-se. Como é tratada a legítima defesa nesses casos, ou
ainda, cabe a legítima defesa nesses casos? Até onde podemos chegar para nos
defendermos de quem está nos atacando sem caracterizar uma infração? Uma
pessoa que teve o seu perfil “pichado” em uma rede social pode também “pichar”
o perfil do agressor? Devemos observar que nesses casos as testemunhas são as
máquinas. Estas, entre outras, são as perguntas que inúmeros usuários se fazem,
bem como vários autores.

177
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

Para relembrarmos, o artigo 25 do Código Penal define: “entende-se em


legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual e iminente, a direito seu ou de outrem”.

Pinheiro (2006) assevera que a defesa da vítima ou a ação de outro que


venha a responder ao ataque não será passível de punição se sua atitude se
enquadrar em legítima defesa, o que para a internet exige que se defina claramente
o que significa o emprego moderado dos meios necessários. Neste sentido, aplica-
se o brocardo jurídico, que afirma que ninguém (para defender-se) está obrigado
a esperar até que seja atingido por um golpe.

A mesma autora afirma que a defesa está limitada ao uso restrito dos meios
reputados eficazes e suficientes para repelir a agressão. Nem menos, nem mais do
que isso, ou seja, há um princípio de proporcionalidade que exige que tenhamos
certa moderação. Logo, é fundamental que verifiquemos no caso a caso, ou em
um padrão de cenário específico, quais as medidas mínimas de defesa e em que
momento as ações passam a configurar infrações.

Assim, podemos verificar que cada caso é um caso. Nesta área não podemos
generalizar os casos. Por isso devemos tomar muito cuidado com a questão “dos
meios moderados” que prega o artigo de nosso Código Penal. “Se alguém lhe enviar
um spam, você não pode responder com um vírus!” (PINHEIRO, 2006, p. 32).

Para Pinheiro (2006, p. 32), "é fundamental o treinamento de equipes e


a elaboração de termos e códigos de conduta para evitar a geração de riscos e
contingências".

A autora afirma que a imputação mais comum é a de crime de falsa


identidade (artigo 307 do Código Penal), podendo chegar a um possível
"flagrante preparado", crime de dano (artigo 163 do Código Penal) ou crime de
interceptação (Lei nº 9.262, de 1996), entre outros. Quando há um incidente, busca-
se principalmente atender aos seguintes objetivos: 1) bloquear ou minimizar o
ataque ou a vulnerabilidade; 2) descobrir quem é o causador, ou seja, a identidade
do infrator; 3) coletar provas que possam ser utilizadas para responsabilização do
mesmo; e 4) tomar medidas para normalizar a situação para que ela volte a ser
como era no momento anterior ao incidente. Se para alcançar esses objetivos não
são aplicadas boas práticas de direito digital e computação forense, o que pode
ocorrer é que as provas coletadas sejam consideradas como obtidas por meio
ilícito (artigo 213 do Código Civil, artigo 332 do Código de Processo Civil e artigo
386 e outros do Código de Processo Penal).

Além disso, a empresa pode ser responsabilizada civilmente e o profissional


pode ser responsabilizado criminalmente. No entanto, ao se tratar de situação de
legítima defesa, isso não ocorre. É o que está previsto no artigo 23, inciso II do
Código Penal, que reza que "não há crime quando o agente pratica o fato: I- em
estado de necessidade; II- em legítima defesa; III- em estrito cumprimento de
dever legal ou no exercício regular de direito".

178
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE CIVIL, INDENIZAÇÃO E LEGÍTIMA DEFESA NA INTERNET

Muitas empresas no Brasil já têm especialistas para combater delitos


virtuais, especialmente os cometidos por hackers.

Para exemplificar, um analista muitas vezes consegue descobrir a conta de


e-mail utilizada pelo fraudador para armazenar os dados obtidos ilegalmente, bem
como a senha que dá acesso a essa conta. Em termos jurídicos, a empresa poderia
tentar obter de volta os dados que foram pegos pelo fraudador e minimizar os
danos? A empresa poderia acessar a conta de e-mail deste terceiro sem infringir a
lei? Como validar as provas obtidas desta maneira? A prerrogativa da autodefesa
é uma causa de justificação que se baseia no princípio de que o direito não precisa
retroceder diante do injusto, e ainda que a defesa vale, pois não só para o bem
jurídico ameaçado, mas também simultaneamente para a afirmação da ordem
jurídica. Sendo assim, o artigo 25 do Código Penal define: Entende-se em legítima
defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual e iminente, a direito seu ou de outrem (PECK, 2006).

O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (2006) verifica


que a defesa da vítima ou a ação de outro que venha a responder ao ataque não
será passível de punição se sua atitude se enquadrar em legítima defesa, o que para
a internet exige que se defina claramente o que significa "emprego moderado dos
meios necessários". Neste sentido, aplica-se o brocardo jurídico que afirma "nemo
expectare tenetur donec percutietur", que significa que ninguém (para defender-se)
está obrigado a esperar até que seja atingido por um golpe. Isso porque nem
todo ato de defesa ou de autodefesa é legítimo, ou seja, é autorizado pela ordem
jurídica. O direito impõe restrições mais ou menos precisas para que o indivíduo,
por seus próprios meios, possa fazer prevalecer, sem o concurso dos órgãos do
Estado, seus interesses ou bens diante do agressor. Do contrário, é preciso estar
munido de ordem judicial, ou então de poder de polícia, o que muitas vezes
não ocorre no dia a dia das empresas. A defesa está limitada ao uso restrito dos
meios reputados eficazes e suficientes para repelir a agressão. Nem menos, nem
mais do que isso, ou seja, há um princípio de proporcionalidade que exige uma
certa moderação. Logo, é fundamental que se verifique, no caso a caso ou em
um padrão de cenário específico, quais as medidas mínimas de defesa e em que
momento as ações passam a configurar infrações. Haverá casos em que o mero
acesso à caixa postal usada pelo hacker para armazenar os dados dos clientes
será medida suficiente. Por outro lado, poderá ser encontrada armazenada uma
grande quantidade de informações que não podem permanecer em poder do
hacker e deverão ser apagadas dos seus sistemas.

O cancelamento das contas de e-mail também pode ser considerado como


uma medida eficaz e necessária dentro do direito de legítima defesa, mas não se
pode generalizar as condutas. Para Peck (2006), se alguém lhe enviar um spam, você
não pode responder com um vírus. Concluindo, é fundamental o treinamento das
equipes, a elaboração de termos e códigos de conduta, bem como os contratos com
empresas que praticam "ethical hacking" já prevejam situações de limites de ações e
de responsabilidades, para que se evite gerar riscos e contingências legais, quando se
imaginava que estava se protegendo. Defender-se é uma coisa, atacar é outra.

179
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Segundo Paesani (2004), quem pratica um ato, ou incorre numa omissão de


que resulte dano, deve suportar as consequências do seu procedimento.

• O art. 159 de nosso Código Civil Brasileiro determina que “fica obrigado a
reparar o dano” quem assim o tiver dado causa. Esta reparação é feita através
da restituição das coisas, normalmente de forma financeira.

• O nosso Código Penal traz os crimes contra a honra: calúnia, injúria e difamação.
Crimes estes bastante praticados pela internet, infelizmente.

• A CALÚNIA consiste em atribuir, falsamente, a alguém a responsabilidade


pela prática de um fato determinado definido como crime.

• A DIFAMAÇÃO, por sua vez, consiste em atribuir a alguém fato determinado


ofensivo a sua reputação. Assim, se João afirma que Pedro é um péssimo pai
de família, constitui crime de difamação.

• A INJÚRIA, de outro lado, consiste em atribuir a alguém qualidade negativa,


que ofenda sua dignidade ou decoro. Assim, se Pedro chama João de ladrão,
imbecil, vagabundo etc., constitui crime de injúria.

• “Não há crime quando o agente pratica o fato: I- em estado de necessidade; II-


em legítima defesa; III- em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito”. É o que preceitua o art. 23, inciso II do nosso Código Penal.

• Segundo o artigo 25 de nosso Código Penal, entende-se em legítima defesa


quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

• Isso significa que podemos nos defender de uma injusta agressão, isto é,
alguma agressão proibida por lei, utilizando de meios razoáveis, para evitar
o ataque a um determinado bem jurídico nosso ou de outra pessoa que está
sofrendo algum tipo de agressão ou está em vias (na iminência) de sofrer.

• Pinheiro (2006) assevera que a defesa da vítima ou a ação de outro que venha a
responder ao ataque não será passível de punição se sua atitude se enquadrar
em legítima defesa, o que para a internet exige que se defina claramente o que
significa o emprego moderado dos meios necessários.

180
• A defesa está limitada ao uso restrito dos meios reputados eficazes e suficientes
para repelir a agressão. Nem menos, nem mais do que isso.

• Em se tratando de legítima defesa na internet, é fundamental o treinamento


das equipes, a elaboração de termos e códigos de conduta pelas empresas.
Defender-se é uma coisa, atacar é outra!

181
AUTOATIVIDADE

1 Infelizmente, como observamos em nosso dia a dia, as situações de ataques,


xingamentos, ofensas, calúnias, injúrias, difamações e outros crimes
passaram a fazer parte da “sociedade digital”. É natural que a vítima desses
ataques queira defender-se. Como é tratada a legítima defesa nesses casos,
ou ainda, cabe a legítima defesa nesses casos? De acordo a teoria dos Crimes
Eletrônicos, no que tange à legítima defesa na internet, leia as alternativas
abaixo e responda o que segue:

I- O indivíduo que sentir-se lesado virtualmente poderá utilizar do instituto


da legítima defesa, desde que faça uso dos meios adequados e suficientes para
repelir a agressão.
II- O instituto da legítima defesa na internet procede de modo semelhante ao
instituto da legítima defesa no mundo não virtual.
III- Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem.
IV- Em resumo, o instituto da legítima defesa na internet reza que se alguém
lhe enviar um spam, você não pode responder com um vírus.

Agora, assinale a alternativa que contém a alternativa CORRETA.


a) ( ) Alternativas I, II e III estão corretas.
b) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
c) ( ) Alternativas II, III e IV estão corretas.
d) ( ) Somente as alternativas II e III estão corretas.

2 Segundo Paesani (2004), quem pratica um ato, ou incorre numa omissão de


que resulte dano, deve suportar as consequências do seu procedimento.
Trata-se de uma regra elementar de equilíbrio social, na qual se resume,
em verdade, o problema da responsabilidade. Afirma a autora que a
responsabilidade é um fenômeno social. Toda lesão a qualquer direito traz
como consequência a obrigação de indenizar. O nosso Código Penal traz
os crimes contra a honra. Provavelmente você já tenha ouvido os termos
calúnia, injúria e difamação – são esses os referidos crimes. Crimes estes
bastante praticados pela internet, infelizmente. Diante disso, faça uma
reflexão e diferencie, com as suas palavras, o significado de calúnia, injúria
e difamação.

3 Durante visita ao site de relacionamento, Régio é surpreendido por


xingamentos dos mais variados em sua linha do tempo. Como resposta,
Régio entra com uma ação de indenização por danos morais contra a Google
Inc. e tem sua ação julgada procedente, resultando em uma indenização
de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). A Google Inc. apela, mas tem o seu
recurso julgado improcedente, mantendo-se a primeira decisão. Sobre o
dano moral na internet, analise as alternativas e assinale a CORRETA:
182
a) ( ) O dano moral e o dano material possuem formas idênticas de serem
arbitrados/estipulados.
b) ( ) Para estipular o valor do dano moral de R$ 50.000,00, o juiz considerou
somente o poder financeiro da Google Inc.
c) ( ) Para estipular o valor do dano moral de R$ 50.000,00, o juiz considerou
o poder financeiro da Google Inc. e a dor sofrida por Tácio.
d) ( ) Se Tácio não entrasse com a ação de indenização por danos morais
contra a Google Inc., outra pessoa poderia entrar em seu nome, e o juiz
consideraria, para arbitrar o dano moral, os fatores de poder financeiro da
Google Inc. e a dor sofrida por Tácio.

183
184
UNIDADE 3
TÓPICO 4

REGISTRO DE DOMÍNIO

1 INTRODUÇÃO
Um domínio é a maneira como um site é disponibilizado na internet.
Domínio, praticamente, é o seu nome na internet. Segundo Corrêa (2008), o
domínio tem a função principal de materializar a conexão entre o usuário de
internet e o servidor responsável pelo alojamento do site.

Neste tópico, estudaremos questões relacionadas com o domínio que será


utilizado na internet. Veremos qual é a entidade competente para o registro de
um domínio, bem como as regras para tal registro, extinção e categorias de um
domínio.

2 REGRAS PARA O REGISTRO DE UM DOMÍNIO


Para Corrêa (2008), o nome do domínio deve observar os padrões
estabelecidos pelo protocolo denominado DNS (domain name system), sendo tais
requisitos estipulados no Brasil pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, por meio
da Resolução CGI.br/RES/2008/008/P, de 28 de novembro de 2008.

Para efetuarmos o registro do nome de domínio, devemos atentar para as


seguintes regras:

• O nome do domínio deve ter no mínimo 2 (dois) e no máximo 26 (vinte e seis)


caracteres.
• O nome deve ser uma combinação de letras e números [a-z;0-9], hífen [-] e os
seguintes caracteres acentuados [à, á, â, ã, é, ê, í, ó, ô, õ, ú, ü, ç].
• Tal nome não pode ser constituído somente de números e não iniciar ou
terminar por hífen.
• O domínio escolhido pelo requerente não deve tipificar nome não registrável.
Entende-se por nomes não registráveis aqueles descritos no § único do artigo
1º, da Resolução, ou seja, o nome escolhido de domínio não poderá desrespeitar
a legislação em vigor, induzir terceiros ao erro, violar direitos de terceiros,
representar conceitos predefinidos na rede internet, que represente palavras de
baixo calão ou abusivas, que simbolize siglas de Estados, Ministérios, ou que
incida em outras vedações que porventura venham a ser definidas pelo CGI.br.

185
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

DICAS

Caro acadêmico, para melhorar e ampliar sua compreensão acerca desse


assunto, você poderá acessar a Resolução atualizada no site do CGI.br, através do link <http://
www.cgi.br/regulamentacao/resolucao2008-008.htm>.

3 EXTINÇÃO DO DIREITO DE USO DE UM DOMÍNIO


A extinção/cancelamento de um nome de domínio é regulamentada pelo
artigo 9° da Resolução CGI.br/RES/2008/008/P, conforme já mencionamos. Este
artigo traz as hipóteses através das quais podemos cancelar um nome de domínio
registrado, que são as seguintes:
• Pela renúncia expressa do respectivo titular, por meio de
documentação hábil exigida pelo NIC.br.
• Pelo não pagamento dos valores referentes à manutenção do
domínio, nos prazos estipulados pelo NIC.br.
• Por ordem judicial.
• Pela constatação de irregularidades nos dados cadastrais da entidade
e a sua não correção em prazo estipulado.
• A não entrega em tempo hábil da documentação solicitada pelo CGI.br.
É importante esclarecermos também que, em qualquer hipótese de
cancelamento do domínio, o titular do domínio não receberá qualquer
ressarcimento ou indenização.

4 CATEGORIAS DE DOMÍNIO
No artigo 14 da Resolução CGI.br/RES/2008/008/P encontramos as
categorias de domínio que podemos utilizar no momento do registro. Vamos
conferir:

• .am.br, destinado a empresas de radiodifusão sonora AM. Exige-se o CNPJ


e a autorização da Anatel para o serviço de radiodifusão sonora AM;
• .coop.br, destinado a cooperativas. Exige-se o CNPJ e comprovante de
registro junto à Organização das Cooperativas Brasileiras;
• .edu.br, destinado a instituições de ensino e pesquisa superior, com a devida
comprovação junto ao Ministério da Educação e documento comprovando
que o nome de domínio a ser registrado não é genérico, ou seja, não é
composto por palavra ou acrônimo que defina conceito geral ou que não
tenha relação com o nome empresarial ou seus respectivos acrônimos.
• .fm.br, destinado a empresas de radiodifusão sonora FM. Exige-se o CNPJ e
a autorização da Anatel para o serviço de radiodifusão sonora FM;
• .gov.br, destinado ao Governo Brasileiro (Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário), ao Ministério Público Federal, aos Estados e ao Distrito Federal.

186
TÓPICO 4 | REGISTRO DE DOMÍNIO

Excetuados os órgãos da esfera federal, os demais deverão ser alojados sob


a sigla do Estado correspondente (ex.: al.gov.br, am.gov.br etc.). Exige-se o
CNPJ e a autorização do Ministério do Planejamento;
• .g12.br, destinado a instituições de Ensino Fundamental e Médio. Exige-se
CNPJ e a comprovação da natureza da instituição;
• .mil.br, destinado aos órgãos militares. Exige-se CNPJ e a autorização do
Ministério da Defesa;
• h) .org.br, destinado a organizações não governamentais e sem fins
lucrativos. Exige-se a comprovação da natureza da instituição e o CNPJ.
Em casos especiais, a exigência do CNPJ para essa categoria poderá ser
dispensada;
• .psi.br, destinado a provedores de serviços de internet em geral. Exige-se o
CNPJ e a comprovação de que a entidade é um provedor de acesso à internet,
bem como o contrato de backbone ou o contrato social, desde que comprove
no objeto social de que se trata de um provedor de serviço;
• .agr.br, destinado a empresas agrícolas e fazendas;
• .art.br, destinado a instituições dedicadas às artes, artesanato e afins;
• .com.br, destinado a instituições comerciais;
• .esp.br, destinado a entidades relacionadas a esportes em geral;
• .far.br, destinado a farmácias e drogarias;
• .imb.br, destinado a imobiliárias;
• .ind.br, destinado a instituições voltadas à atividade industrial;
• .inf.br, destinado aos fornecedores de informação;
• .radio.br, destinados a entidades que queiram enviar áudio pela rede;
• .rec.br, destinado a instituições voltadas às atividades de recreação e jogos,
em geral;
• .srv.br, destinado a empresas prestadoras de serviços;
• .tmp.br, destinado a eventos temporários, de curta duração, como feiras,
seminários etc.;
• .tur.br, destinado a entidades da área de turismo.
• .tv.br, destinado a entidades que queiram enviar vídeo pela rede;
• .etc.br, destinado a instituições que não se enquadrem em nenhuma das
categorias acima.
• .adm.br, destinado a administradores;
• .adv.br, destinado a advogados;
• .arq.br, destinado a arquitetos;
• .ato.br, destinado a atores;
• .bio.br, destinado a biólogos;
• .bmd.br, destinado a biomédicos;
• .cim.br, destinado a corretores;
• .cng.br, destinado a cenógrafos;
• .cnt.br, destinado a contadores;
• .ecn.br, destinado a economistas;
• .eng.br, destinado a engenheiros;
• .eti.br, destinado a especialistas em tecnologia de informação;
• .fnd.br, destinado a fonoaudiólogos;

187
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

• .fot.br, destinado a fotógrafos;


• .fst.br, destinado a fisioterapeutas;
• .ggf.br, destinado a geógrafos;
• .jor.br, destinado a jornalistas;
• .lel.br, destinado a leiloeiros;
• .mat.br, destinado a matemáticos e estatísticos;
• .med.br, destinado a médicos;
• .mus.br, destinado a músicos;
• .not.br, destinado a notários;
• .ntr.br, destinado a nutricionistas;
• .odo.br, destinado a odontólogos;
• .ppg.br, destinado a publicitários e profissionais da área de propaganda e
marketing;
• .pro.br, destinado a professores;
• .psc.br, destinado a psicólogos;
• .qsl.br, destinado a radioamadores;
• .slg.br, destinado a sociólogos;
• .trd.br, destinado a tradutores;
• .vet.br, destinado a veterinários;
• .zlg.br, destinado a zoólogos.
• .nom.br, pessoas físicas, seguindo os procedimentos específicos de registro
neste DPN;
• .blog.br, destinado a "blogs";
• .flog.br, destinado a "foto logs";
• .vlog.br, destinado a "vídeo logs";
• .wiki.br, destinado a páginas do tipo "wiki";
• .b.br: destinado exclusivamente às instituições financeiras;
• .jus.br: destinado exclusivamente ao Poder Judiciário, com a aprovação do
Conselho Nacional de Justiça;
• .com.br, a pessoas físicas ou jurídicas que exercem atividade comercial na
rede.
• .net.br, a pessoas físicas ou jurídicas que exercem atividade comercial na
rede.
• .can.br, destinado aos candidatos à eleição, durante o período de campanha
eleitoral.

Assim finalizamos este tópico, verificando questões importantes para a


nossa área de TI no que diz respeito ao dano moral, ao tratamento da legítima
defesa e à legítima defesa na internet, bem como o registro de domínios.

188
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• O nome do domínio deve observar os padrões estabelecidos pelo protocolo


denominado DNS (domain name system), sendo tais requisitos estipulados no
Brasil pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, por meio da Resolução CGI.br/
RES/2008/008/P, de 28 de novembro de 2008.

• O nome do domínio deve ter no mínimo 2 (dois) e no máximo 26 (vinte e seis)


caracteres.

• O nome deve ser uma combinação de letras e números [a-z;0-9], hífen [-] e os
seguintes caracteres acentuados [à, á, â, ã, é, ê, í, ó, ô, õ, ú, ü, ç].

• Tal nome não pode ser constituído somente de números e não iniciar ou
terminar por hífen.

• O domínio escolhido pelo requerente não deve tipificar nome não registrável,
isto é, o nome escolhido de domínio não poderá desrespeitar a legislação em
vigor, induzir terceiros a erro, violar direitos de terceiros, representar conceitos
predefinidos na rede internet que represente palavras de baixo calão ou
abusivas, que simbolize siglas de Estados, Ministérios, ou que incida em outras
vedações que porventura venham a ser definidas pelo CGI.br.

• As hipóteses através das quais podemos cancelar um nome de domínio


registrado são as seguintes:

o Pela renúncia expressa do respectivo titular, por meio de documentação


hábil exigida pelo NIC.br.
o Pelo não pagamento dos valores referentes à manutenção do domínio, nos
prazos estipulados pelo NIC.br.
o Por ordem judicial.
o Pela constatação de irregularidades nos dados cadastrais da entidade e a
sua não correção em prazo estipulado.
o A não entrega em tempo hábil da documentação solicitada pelo CGI.br.

189
AUTOATIVIDADE

1 Para Corrêa (2008), o nome do domínio deve observar os padrões estabelecidos


pelo protocolo denominado DNS (domain name system), sendo tais requisitos
estipulados no Brasil pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, por meio da
Resolução CGI.br/RES/2008/008/P, de 28 de novembro de 2008. Diante dessa
afirmação, responda: O que é e qual é a função de um domínio na internet?

2 O domínio escolhido pelo requerente não deve tipificar nome não registrável,
isto é, o nome escolhido de domínio não poderá desrespeitar a legislação
em vigor, induzir terceiros a erro, violar direitos de terceiros, representar
conceitos predefinidos na rede internet que represente palavras de baixo
calão ou abusivas, que simbolize siglas de Estados, Ministérios. Diante destas
informações, analise a questão: Quem estipula as regras para o registro de
domínios no Brasil? Assinale a assertiva correta:

a) ( ) CertSign do Brasil
b) ( ) Verisign do Brasil
c) ( ) Comitê Brasil da Internet
d) ( ) Comitê Gestor da Internet no Brasil

3 Para Pereira (2012), caso você seja dono de uma empresa presente na internet
ou de um blog que queira levar mais a sério, é provável que você já tenha
pensado em ter um domínio ".com.br" para o seu site. Só que o problema é
que muitas pessoas não fazem a menor ideia de como fazer esse registro.
Diante desta afirmação, reflita e cite, no mínimo, três regras para o registro
de um domínio.

4 Conforme afirma Pereira (2012), no Brasil, existe o registro de site em que


você pode checar se o nome do domínio está disponível para uso, realizar
o cadastramento e  pagar as taxas anuais para continuar com o endereço.
Diante das palavras do autor, reflita e cite, no mínimo, três regras para a
exclusão de um domínio.

190
UNIDADE 3
TÓPICO 5

CERTIFICAÇÃO DIGITAL

1 INTRODUÇÃO
Todos nós sabemos que os negócios via internet atualmente são uma
realidade. Porém, como podemos transportar a segurança e a originalidade dos
documentos tradicionais aos documentos virtuais e obter assim segurança jurídica
das relações negociais? Este tópico nos apresentará as unidades certificadoras, a
certificação digital propriamente dita, bem como a sua validade judicial.

Neste tópico, estudaremos questões relacionadas com a certificação


digital que será utilizada na internet. Trataremos de temas como o conceito de
certificação digital, quais as unidades certificadoras, bem como a validade da
certificação digital no meio jurídico.

2 ASSINATURA DIGITAL
Cada vez que lidamos com documentos, lidamos também com assinaturas,
não é verdade? No meio digital, como podemos “assinar” um documento e garantir,
desta maneira, a sua autenticidade? Para isto dispomos da assinatura digital.

Se pesquisarmos, veremos que existem várias denominações para


assinatura digital, por exemplo:

Assinatura digital é um método que garante que determinada


mensagem não seja alterada em seu trajeto. Esse processo consiste em
criar a mensagem, cifrá-la e enviá-la conjuntamente tanto da mensagem
original como da cifrada. Uma vez recebidas, o destinatário compara
o conteúdo da mensagem original com o da mensagem cifrada, para
certificar que não ouve alteração (VOLPI, 2001, p. 14).

“Assinatura digital é um dado que acompanha uma mensagem digital


codificada e que pode ser usada para comprovar, tanto o gerador da mensagem,
como o fato de que a mensagem não foi modificada desde que deixou o local de
origem” (FORD; WARWICK, 1997, p. 45).

“A assinatura digital de um documento é um pedaço de informação,


baseado tanto no documento como na chave privada do assinante” (FORD, 1997
apud VOLPI, 2001, p. 47).

191
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

Assim, ao enviar uma mensagem, através da rede, esta é cifrada


(codificada) e apenas a pessoa que possui a “senha” é capaz de descodificar
a mensagem, tendo, portanto, acesso ao seu conteúdo. Caso a mensagem seja
interceptada, por alguém não autorizado ou mal-intencionado, não será possível
ter acesso ao conteúdo da mensagem.

Como pode ser verificado na figura a seguir, a mensagem é acompanhada


de uma assinatura digital, que é baseada na chave privada do remetente em
conjunto com o próprio conteúdo da mensagem. Ao chegar no destino, a assinatura
é verificada, utilizando-se a chave pública que pertence ao remetente. Caso se
confirme a assinatura digital a partir desta verificação, pode-se ter certeza, tanto
da genuinidade da mensagem como da autenticidade do remetente.

FIGURA 8 – FLUXO DE ENVIO DE MENSAGEM COM CERTIFICADO DIGITAL

FONTE: Teles (2009)

DICAS

É muito importante saber diferenciar os termos assinatura eletrônica e assinatura


digital. A primeira diz respeito a todo e qualquer modo de identificação efetuado por meio
eletrônico. Já a segunda refere-se aos meios de identificação efetuados por meio digital
fundamentados na tecnologia da cifragem, que também podemos chamar de criptografia.

3 UNIDADES CERTIFICADORAS
Uma unidade ou autoridade certificadora é uma organização comercial que é
responsável pela emissão dos chamados certificados digitais. As empresas CertiSign
e Verisign são exemplos de autoridades certificadoras dentre as que podemos citar.
192
TÓPICO 5 | CERTIFICAÇÃO DIGITAL

Segundo Volpi (2001), o certificado digital, normalmente, contém as


seguintes informações:

• Chave pública do autor.


• Nome e endereço de e-mail do autor.
• Data de validade da chave pública.
• Nome da autoridade certificadora que emitiu o certificado digital.
• Número de série do certificado digital.
• Assinatura digital da unidade certificadora.

Ainda de acordo com Volpi (2001), o procedimento de geração de um


certificado digital envolve os seguintes passos:

• O interessado submete a requisição de expedição de certificado eletrônico à


autoridade certificadora.
• A autoridade certificadora verifica a veracidade dos dados fornecidos pelo
interessado.
• Com base em uma chave privada própria e única, a autoridade certificadora
introduz a sua assinatura digital no certificado.
• O autor recebe uma cópia do certificado.
• O certificado digital é publicado.
• Uma cópia do certificado digital é armazenada pela autoridade certificadora.

Basicamente, um certificado digital pode ser ilustrado da seguinte


maneira:

FIGURA 9 – CERTIFICADO DIGITAL

FONTE: A autora

Como podemos verificar na figura anterior, existe uma chave pública no


interior do certificado digital. Através dessa chave torna-se possível a verificação
da validade da assinatura digital do documento enviado, ou em outro caso a

193
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

própria decifragem do conteúdo enviado de maneira cifrada. Além desse recurso,


o receptor da mensagem pode enviar um retorno cifrado com a mesma chave
pública para o remetente que, com sua chave privada, conseguirá verificar ou
mesmo decifrar o conteúdo sem o menor problema.

DICAS

Caro acadêmico, para melhorar e ampliar sua compreensão acerca deste assunto,
sugere-se a visita aos sites: <http://www.certisign.com.br> e <www.verisign.com.br/>. Lá
você encontrará informações a respeito da certificação digital que estamos estudando agora!

4 A VALIDADE DA CERTIFICAÇÃO DIGITAL NO MEIO


JURÍDICO
A medida provisória 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, que constituiu a
chamada Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), regulamentou
a validade da certificação digital no meio jurídico no Brasil. Até então tal medida
provisória tem força de lei que não sofreu mudanças significativas.

DICAS

Caro acadêmico, para saber mais sobre a Medida Provisória 2.200-2, de 2001,
você pode acessar o link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/Antigas_2001/2200-2.
htm> e ter acesso ao conteúdo completo sobre esta medida.

194
TÓPICO 5 | CERTIFICAÇÃO DIGITAL

LEITURA COMPLEMENTAR

O BULLYING E O CYBERBULLYING

O cyberbullying é uma espécie de bullying. Muitos de nós já devemos ter


ouvido falar em bullying, ou até mesmo ter sofrido o bullying em algum momento.
Esta prática busca ridicularizar, humilhar, constranger, envergonhar uma pessoa
ou um grupo, conforme o caso. Em muitas vezes, como já acompanhamos nos
meios de comunicação, a vítima de bullying se afasta de seu ambiente, quer seja ele
profissional, pessoal ou educacional. O bullying também pode causar um abatimento
físico e mental na vítima. Há de se deixar claro que esta não é uma prática atual, trata-
se de uma prática bastante antiga, talvez não conhecida com este nome até então,
mas que hoje tem tomado proporções aumentadas. O bullying não se trata de uma
brincadeira. Ele é praticado de forma presencial, na qual agressor e agredido dividem
certo espaço, por exemplo, o ambiente físico de trabalho, a escola.

FIGURA 10 – O BULLYING

FONTE: Disponível em: <http://imagismo.blogspot.com.br/2010/03/o-


que-e-bullying-e-cyberbullying-e-como.html>.

Para o Portal da Educação, bullying é um anglicismo do verbo em inglês


derivado da palavra bully, que significa valentão, brigão. A ação do bullying
consiste em intimidar ou agredir o outro verbal ou fisicamente mais de uma vez,
sozinho ou com a ajuda de outras pessoas.

O ato, ligado à opressão, humilhação e ameaça, pode ocorrer em


qualquer situação, no contexto familiar, escolar, universitário e até de trabalho.
Normalmente, não há um motivo evidente para que isso ocorra, e ela acontece
em situações de desnível de poder.

A violência está ligada ao agressor, não à vítima, pois revela o modo com
que o bully lida com sua própria raiva e insegurança. A humilhação e depreciação
do outro seria, em alguns casos, uma válvula de escape para os problemas, e o
sofrimento do outro uma fonte de satisfação pessoal.

195
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

Em outros casos, essa resposta emocional do briguento pode ser uma


reprodução do padrão familiar, que encontra na violência física ou psicológica a
forma de resolver questões cotidianas ou de relacionamento interpessoal. Se o pai
ou a mãe têm respostas agressivas, o filho pode acabar copiando este modelo e o
reproduzindo em outros ambientes de convivência.

Por isso, o comportamento é muito comum em escolas e durante a infância,


mas não está restrito a ela. Bullying infantil parece inofensivo, mas pode causar
queda no rendimento escolar da vítima e até o isolamento da criança dos outros
colegas. Em longo prazo, o bullying sofrido na infância pode ser identificado
posteriormente como uma situação traumática, causa do desenvolvimento de
doenças psicossomáticas ou até da tomada de atitudes drásticas, como o suicídio.

O cyberbullying segue a mesma linha, mas a diferença é que a agressão


é feita pela internet, onde há espaço menos controlado. A violência acaba
acontecendo comumente em redes sociais ou pelo celular.

Mesmo que seja uma represália em ambiente virtual, as consequências


podem ser as mesmas ou até piores: a internet é um meio veloz de propagação
das informações, ou seja, dependendo de onde cair determinada gozação, por
exemplo, ela pode ter um efeito viralizado: passar de pessoa a pessoa de forma
muito rápida e incontrolável.

Uma vez que fotos ou vídeos comprometedores forem divulgados na


rede, conseguir apagar esses registros será muito difícil. A remediação dependerá
do grau de propagação dos dados. Portanto, o problema é sério e pode acarretar
complicações mais graves do que o bullying dentro da escola, por exemplo.

A National Crime Prevention Council (Conselho Nacional de Prevenção ao


Crime) define o cyberbullying quando a internet, telefones celulares ou outros
dispositivos são utilizados para enviar textos ou imagens com a intenção de ferir
ou constranger outra pessoa. Portanto, o cyberbullying é praticado de modo não
presencial, em que o agressor se utiliza principalmente da internet para atingir
física ou psicologicamente o seu “alvo”.

Para Santomauro (2010), a vítma costuma ser tímida ou pouco sociável e


foge do padrão do restante da turma pela aparência física (raça, altura, peso), pelo
comportamento (melhor desempenho na escola) ou ainda pela religião. Geralmente,
é insegura e, quando agredida, fica retraída e sofre, o que a torna um alvo ainda
mais fácil. Segundo pesquisa da ONG Plan, a maior parte das vítimas - 69% delas -
tem entre 12 e 14 anos. Ana Beatriz Barbosa Silva, médica e autora do livro Bullying:
Mentes Perigosas na Escola, cita algumas das doenças identificadas como o resultado
desses relacionamentos conflituosos (e que também aparecem devido a tendências
pessoais), como angústia, ataques de ansiedade, transtorno do pânico, depressão,
anorexia e bulimia, além de fobia escolar e problemas de socialização. A situação
pode, inclusive, levar ao suicídio. Adolescentes que foram agredidos correm o
risco de se tornar adultos ansiosos, depressivos ou violentos, reproduzindo em

196
TÓPICO 5 | CERTIFICAÇÃO DIGITAL

seus relacionamentos sociais aqueles vividos no ambiente escolar. Alguns também


se sentem incapazes de se livrar do cyberbullying. Por serem calados ou sensíveis,
têm medo de se manifestar ou não encontram força suficiente para isso. Outros até
concordam com a agressão, de acordo com Luciene Tognetta. O discurso deles vai
no seguinte sentido: "Se sou gorda, por que vou dizer o contrário?" Aqueles que
conseguem reagir alternam momentos de ansiedade e agressividade. Para mostrar
que não é covarde ou quando percebe que seus agressores ficaram impunes, a
vítima pode escolher outras pessoas mais indefesas e passa a provocá-las, tornando-
se alvo e agressor ao mesmo tempo.

O agressor atinge o colega com repetidas humilhações ou depreciações


porque quer ser mais popular, se sentir poderoso e obter uma boa imagem de si
mesmo. É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para
quem o sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário,
sente-se satisfeito com a reação do agredido, supondo ou antecipando quão
dolorosa será aquela crueldade vivida pela vítima. O anonimato possibilitado
pelo cyberbullying favorece a sua ação. Usa o computador sem ser submetido
a julgamento por não estar exposto aos demais. Normalmente, mantém esse
comportamento por longos períodos e, muitas vezes, quando adulto, continua
depreciando outros para chamar a atenção. "O agressor, assim como a vítima,
tem dificuldade de sair de seu papel e retomar valores esquecidos ou formar
novos", explica Luciene.

E o espectador nem sempre reconhecido como personagem atuante em


uma agressão, é fundamental para a continuidade do conflito. O espectador
típico é uma testemunha dos fatos: não sai em defesa da vítima nem se junta
aos agressores. Quando recebe uma mensagem, não repassa. Essa atitude passiva
ocorre por medo de também ser alvo de ataques ou por falta de iniciativa para
tomar partido. "O espectador pode ter senso de justiça, mas não indignação
suficiente para assumir uma posição clara", diz Luciene. Também considerados
espectadores, há os que atuam como uma plateia ativa ou uma torcida, reforçando
a agressão, rindo ou dizendo palavras de incentivo. Eles retransmitem imagens
ou fofocas, tornando-se coautores ou corresponsáveis.

Atualmente, não existe uma lei que combata o bullying ou cyberbullying


especificamente falando. Porém, existem alguns projetos de lei que visam
combater este mal que pode traumatizar uma série de pessoas. Quando se trata
do bullying em ambiente escolar, normalmente apela-se para o ECA (Estatuto
da Criança e do Adolescente). Porém, quando se trata do ambiente de trabalho,
virtual ou não, apela-se para o nosso Código Penal e a analogia para encaixar
determinado tipo penal (crime) à conduta do agressor. Normalmente, os crimes
contra a honra são os mais praticados/utilizados, como a calúnia, a injúria e a
difamação (conforme já verificamos neste livro de estudos).

No entanto, há um projeto de lei do ano de 2013, de autoria do senador


Clésio Andrade, que altera o Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -

197
UNIDADE 3 | CRIMES ELETRÔNICOS, REGISTRO DE DOMÍNIO E CERTIFICAÇÃO DIGITAL

Código Penal -, que tipifica como crime a prática do bullying virtual. Podemos,
no trecho abaixo, acompanhar a proposta de mudança em nosso Código Penal:

Art. 140-A. Intimidar, ameaçar, difamar ou injuriar alguém, por


meio da prática de bullying virtual, causando-lhe sofrimento psicológico e
constrangimento, mesmo que transitório:
Pena – detenção, de três meses a um ano e multa.
§ 1º Para efeitos desta Lei, considera-se bullying virtual a ação de violência
emocional por meio da propagação de mensagem humilhante ou constrangedora via
correio eletrônico, sítio da internet, redes sociais ou dispositivos da telefonia móvel.
§ 2º Se o bullying virtual resulta em transtorno mental permanente da
vítima ou a leve a praticar ato de agressão física a si ou a terceiros:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
§ 3º Se a prática de bullying virtual utiliza elementos ofensivos referentes a:
a) condição de pessoa com deficiência ou pessoa idosa.
b) raça, cor, etnia, religião, opção sexual ou origem.
c) tiques motores, fônicos ou características pessoais comportamentais.
Pena – detenção de um a três anos, e multa.
§ 4º Se o autor do bullying virtual é criança ou adolescente, observar-
se-á as medidas correcionais e socioeducativas de que tratam o Capítulo IV do
Título III da Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 (ECA - Estatuto da Criança e do
Adolescente).
FONTE: Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF asp?t=122687&tp=1/>.
Acesso em: 10 dez. 2017.

198
RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você aprendeu que:

• Assinatura digital é um método que garante que determinada mensagem não


seja alterada em seu trajeto.

• Assinatura digital é um dado que acompanha uma mensagem digital codificada


e que pode ser usada para comprovar, tanto o gerador da mensagem, como
o fato de que a mensagem não foi modificada desde que deixou o local de
origem.

• Ao enviar uma mensagem, através da rede, tal mensagem é cifrada (codificada)


e apenas a pessoa que possui a “senha” é capaz de descodificar a mensagem,
tendo, portanto, acesso ao seu conteúdo.

• A mensagem é acompanhada de uma assinatura digital, que é baseada na chave


privada do remetente em conjunto com o próprio conteúdo da mensagem.

• Ao chegar no destino, a assinatura é verificada, utilizando-se a chave pública


que pertence ao remetente.

• Caso se confirme a assinatura digital a partir desta verificação, pode-se


ter certeza tanto da genuinidade da mensagem como da autenticidade do
remetente.

• Uma unidade ou autoridade certificadora é uma organização comercial que é


responsável pela emissão dos chamados certificados digitais.

• Existe uma chave pública no interior do certificado digital que torna possível
a verificação da validade da assinatura digital do documento enviado, ou em
outro caso, a própria decifração do conteúdo enviado de maneira cifrada.

199
AUTOATIVIDADE

1 Assinatura digital é um dado que acompanha uma mensagem digital


codificada e que pode ser usada para várias finalidades. Diante dessa
afirmação, reflita e responda: qual a função de uma assinatura digital?

2 Assinatura digital é um dado que acompanha uma mensagem digital


codificada e que pode ser usado para comprovar, tanto o gerador da
mensagem, como o fato de que a mensagem não foi modificada desde que
deixou o local de origem. Sendo assim, analise a questão e responda: Como
funciona o envio de uma mensagem assinada digitalmente?

3 O certificado digital é um registro eletrônico composto por um conjunto de


dados que distingue uma entidade e associa a ela uma chave pública. Com
base nessa afirmação, responda o que deve conter um certificado digital.

4 Para Thiel (2016), se olharmos para a terminologia das palavras assinatura


eletrônica e assinatura digital, elas parecem sinônimos, mas na verdade
não são. O mercado corporativo tem tomado conhecimento de uma série
de alternativas para a formalização eletrônica de documentos, ou mais
especificamente, para a sua assinatura. Estas alternativas, muitas vezes,
confundem-se à primeira vista, gerando dúvidas sobre as diferenças de cada
uma. Diante das palavras do autor, analise a questão e responda qual é a
diferença entre uma assinatura eletrônica e uma assinatura digital.

200
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