Você está na página 1de 7

Anais do IV Congresso Paradesportivo Internacional

– Florianópolis/SC – 5 a 7 de novembro de 2014

ORGANIZADORES:

Academia Paralímpica Brasileira – APB


Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

PRODUÇÃO E SUPERVISÃO:

Profº Drº Juliano Dal Pupo


Profª Ms. Jacqueline Martins Patatas
Mestranda Elisa Lemos

O conteúdo dos resumos publicados é de inteira responsabilidade dos


autores.
BRASIL PARALÍMPICO: UMA ANÁLISE PRELIMINAR DOS
RESULTADOS ESPORTIVOS
Silvestre Cirilo dos Santos Neto/UERJ; UFRJ
Lamartine Pereira DaCosta/UERJ
Flávia da Cunha Bastos/USP
Leonardo José Mataruna-dos-Santos/UFRJ
Marcelo de Castro Haiachi/UFS; UFRGS
silvestrecirilo@yahoo.com.br
RESUMO
O resultado esportivo tem sido alvo de políticas e especulações da mídia na
realidade brasileira especialmente nessa década. Muito se discute acerca da
relação entre o investimento financeiro e o resultado alcançado. O objetivo
do estudo é o de analisar o cenário dos resultados esportivos gerais e os
resultados esportivos do país nos Jogos Paralímpicos. Através de pesquisa
exploratória e documental, utilizando os dados referentes às medalhas
ganhas nos Jogos Paralímpicos entre 1996 e 2012, foi aplicado o sistema de
três pontos e o Market Share. O índice relativo ao desempenho das nações
nesse evento apontou que 114 países conquistaram medalhas nas cinco
edições dos Jogos Paralímpicos. Verificou-se um aumento de cerca de 60%
do número de países e de 30% no número de atletas envolvidos. O Brasil
saiu de um índice de 0,99 em 1996 para 3,27 em 2008 e 2012, alcançando
o 14° lugar entre as 114 nações. Concluiu-se que o número de países
ganhadores de medalhas em cada edição diminuiu, pois houve um aumento
do número de medalhas em relação à série histórica e que o Brasil,
necessita da conquista de aproximadamente 34 medalhas de ouro para
atingir a meta estipulada para 2016.
Palavras-Chave: Gestão; Paralímpico; Resultado Esportivo

INTRODUÇÃO
Com o final dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Londres 2012, o
tema resultado esportivo entrou na agenda do governo federal da mídia
esportiva brasileira. O Plano Brasil Medalhas estabeleceu a meta de ser Top
5, investindo em 15 modalidades (atletismo, bocha, canoagem, ciclismo,
esgrima em cadeiras de rodas, futebol de 5, futebol de 7, goalball,
halterofilismo, hipismo, judô, natação, remo, tênis de mesa e voleibol
sentado). Entretanto, a discussão que é exposta na mídia se encaminha
para o montante investido em razão das medalhas ganhas, não passando
pelos meios adotados para que haja melhora de fato no rendimento do
atleta e, consequentemente, os resultados alcançados estejam em acordo
com os planejados. Por outro lado, o Comitê Paralímpico Brasileiro, desde a
sua fundação em 1995, tem demonstrado boas práticas de gestão, o que
tem levado a um grande desenvolvimento paralímpico do País.
Entretanto, essa visão macro, visualizada através das variáveis
socioculturais, vem diminuindo enquanto preditora do sucesso esportivo
{Shibli, 2008 #145}. Atualmente, pesquisadores já observam que outros
fatores, essencialmente intrínsecos, estão diretamente relacionados com o
sucesso esportivo individual do atleta. Diversos estudos apontam fatores
que influenciam a questão do sucesso esportivo atrelado ao atleta {Böhlke,
2009 #151;Conzelmann, 2003 #147;De Bosscher, 2008 #4;Duffy, 2001
#150;Gibbons, 2003 #146;Gould, 2002 #149;Greenleaf, 2001 #148} e,

109
muitos desses fatores críticos estão diretamente ligados ao rendimento na
busca de resultados para o sucesso esportivo de uma nação.
Trabalhos têm sido realizados por diferentes autores no sentido de
determinar pontos comuns no desenvolvimento das políticas de esporte que
permitam comparação entre nações, eliminando as particularidades de cada
edição de uma competição, fazendo tornar-se possível a comparação ao
longo dos anos, permitindo análises baseada em evidências {De Bosscher,
2008 #4;Shibli, 2008 #145}. Esses estudos visam minimizar as fragilidades
da medição mais utilizada, o quadro de medalhas ou a classificação final de
uma competição ou evento.
Dessa maneira, o presente estudo apresenta como objetivo analisar o
cenário dos resultados esportivos gerais e os resultados esportivos do país
nos Jogos Paralímpicos, no sentido de projetar o alcance da meta
estabelecida pelo Brasil para os Jogos de 2016.

MÉTODOS
Trata-se de estudo exploratório e descritivo, de cunho documental
(Vergara, 2006). Os dados foram extraídos do site oficial do Comitê
Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês -
http://www.paralympic.org/) e do site Esporte Essencial. O estudo
considera os resultados obtidos por países medalhistas nos Jogos da edição
de Atlanta 1996 até os de Londres 2012, num total de cinco edições. Tal
escolha tem como base a criação do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)
órgão responsável pelas diretrizes e o planejamento do segmento , em
1995 {CPB, 2010 #227}
Para a obtenção do índice referente aos resultados obtidos, utilizou-
se o Market Share (MS) com o intuito de padronizar uma medida que
permitisse comparações fidedignas em séries históricas. {De Bosscher,
2008 #4;Shibli, 2008 #145}.
A fórmula utilizada foi a seguinte: MARKET SHARE (MS) = ((Pontos
Conquistados/Total de Pontos) x 100), sendo o sistema de pontos usado no
presente estudo aquele que aborda os três primeiros colocados, oferecendo
três pontos para o primeiro lugar (ouro), dois pontos para o segundo lugar
(prata) e um ponto para o terceiro colocado (bronze). Utilizou-se o
programa MS Excel® para o cálculo do índice MS referente aos resultados
Paralímpicos desde 1996.

RESULTADOS
Foram computados os resultados dos 114 países medalhistas desde
os Jogos Paralímpicos de Atlanta 1996. Após a tabulação dos dados,
separaram-se os dez países melhores colocados mais o Brasil para a análise
preliminar dos resultados esportivos no período estudado. Na Tabela 1
observam-se as informações referentes a cada edição dos Jogos
Paralímpicos a partir de 1996. Estas informações balizam os resultados
numa série histórica, pois torna possível uma comparação a partir de
diferentes edições de Jogos.

110
Tabela 1 – Resumo informativo das edições dos Jogos Paralímpicos a partir
de 1996

SEDE ANO PONTOS EVENTOS ESPORTES PAÍSES ATLETAS


ATLANTA 1996 3124 508 20 104 3259
SYDNEY 2000 3306 551 20 127 3846
ATENAS 2004 3123 519 19 136 3806
PEQUIM 2008 2848 472 20 146 3951
LONDRES 2012 3031 503 20 164 4302
Fonte: Elaborado pelos autores
Observou-se um aumento de aproximadamente 60% no número de
países, enquanto o aumento do número de atletas ficou na ordem de 30%.
Em relação ao número de esportes, observou-se a estabilidade das
modalidades ofertadas com a variação no número de eventos, o que influi
diretamente no número de pontos em cada edição dos Jogos. Quanto ao
Market Share, os dados obtidos em relação ao desempenho do Brasil no
período estudado (1996 a 2012) são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 – Resultados e Market Share do Brasil nos Jogos Paralímpicos


(1996-2012)
EDIÇÃO OURO PTS PRATA PTS BRONZE PTS TOTAL PTS MS
1996 2 6 6 12 13 13 31 0,99
2000 6 18 10 20 6 6 44 1,33
2004 14 42 12 24 7 7 73 2,34
2008 16 48 14 28 17 17 93 3,27
2012 21 63 14 28 8 8 99 3,27
TOTAL 59 177 56 112 51 51 340 2,20
Fonte: Elaborado pelos autores
A partir dos cálculos obtidos com o MS, constatou-se que o índice de
2008 foi igual ao de 2012, mesmo com o número de medalhas conquistadas
em 2008 ter sido maior quando comparadas com as de 2012. Tal situação é
possível, pois em Pequim foram realizados 472 eventos, com uma oferta de
2848 pontos, enquanto que em Londres realizou-se 503 eventos com 3031
pontos. A combinação de um número menor de medalhas, mas com uma
qualificação melhor (mais ouros e menos bronzes conquistados, o que pode
ser confirmado quando verificamos o número de pontos conquistados
nessas duas edições: 93x99) resultou em campanhas similares quando
utilizado o MS para análise de uma série histórica de resultados.
Para projetar o número de medalhas necessárias para que o País
alcance a meta de ser Top 5 em 2016 (Jogos Paralímpicos do Rio de
Janeiro), foi calculado o MS no período de 1996 a 2012, analisando os dez
países melhores colocados mais o Brasil (que foi o 14º colocado no período
analisado). Na Tabela 3 é possível comparar o número de medalhas ganhas
no período, a média de medalhas ganhas (MM) e o MS.

Tabela 3 – Série histórica dos Jogos Paralímpicos 1996-2012 através do MS


COL PAÍS OURO MM MS PRATA MM MS BRONZE MM MS TOTAL MM MS

111
11,5
1 CHN 297 59,4 9 222 44,4 8,69 177 35,4 6,72 696 139,2 9,80
2 GBR 191 38,2 7,46 186 37,2 7,28 191 38,2 7,25 568 113,6 7,36
3 USA 176 35,2 6,87 171 34,2 6,69 204 40,8 7,74 551 110,2 6,96
4 AUS 186 37,2 7,26 168 33,6 6,57 166 33,2 6,30 520 104 6,87
5 ALE 107 21,4 4,18 178 35,6 6,96 162 32,4 6,15 447 89,4 5,44
6 ESP 120 24,0 4,68 127 25,4 4,97 136 27,2 5,16 383 76,6 4,86
7 FRA 103 20,6 4,02 123 24,6 4,81 126 25,2 4,78 352 70,4 4,41
8 CAN 116 23,2 4,53 98 19,6 3,83 104 20,8 3,95 318 63,6 4,20
9 RUS 91 18,2 3,55 87 17,4 3,40 90 18,0 3,42 268 53,6 3,48
10 UKR 84 16,8 3,28 78 15,6 3,05 95 19,0 3,61 257 51,4 3,26
14 BRA 59 11,8 2,30 56 11,2 2,19 51 10,2 1,94 166 33,2 2,20
Fonte: Elaborado pelos autores.
MM – Média de Medalhas Ganhas; MS – Market Share.

Analisando o MS das últimas cinco edições dos Jogos Paralímpicos, o


Brasil deveria bater o índice de 5,44, alcançado pela Alemanha, 5º colocado
na série avaliada neste estudo. Para chegar a esse índice, quantas deveriam
ser as medalhas ganhas? Segundo a média de medalhas ganhas pela
Alemanha, deveríamos chegar a 90 medalhas, levando em consideração a
série histórica. Esse número é próximo ao de medalhas conquistadas pela
Austrália em Londres 2012: 85 medalhas. Em relação a essa série, o Brasil
conquistou dez medalhas a mais quanto comparados a média alcançada a
partir de 1996, inferindo-se que o planejamento de longo prazo realizado
pelo CPB vem superando suas metas históricas, garantindo uma
qualificação melhor nas medalhas ganhas, o que pode garantir que a meta
seja alcançada com um número total menor de medalhas.

CONCLUSÃO
Após a análise preliminar dos dados levantados, é possível inferir que
o “Brasil Paralímpico” quando confrontado com os resultados obtidos, não
está adotando planos emergenciais voltados a uma competição específica,
mas sim mostrando que as metas estabelecidas no planejamento
estratégico estão sendo alcançada, com foco nas evidências. Saber aonde
quer chegar é o primeiro passo, mas de nada servirá se não souber o
caminho que se deve seguir.

REFERÊNCIAS
BÖHLKE, N.; ROBINSON, L. Benchmarking of elite Sport systems.
Management Decisions, v. 47, n. 1, p. 67-84, 2009.

CONZELMANN, A.; NAGEL, S. Professional careers of the German Olympic


athletes. International Review for the Sociology of Sport, v. 38, n. 3,
p. 259-280, 2003.

CPB. Planejamento estratégico do esporte Paraolímpico brasileiro


2010-2016. Comitê Paralímpico Brasileiro. Brasília, p.113p. 2010

DE BOSSCHER, V.;BINGHAM, J.; SHIBLI, S.; VAN BOTTENBURG, M.; DE


KNOP, P. The global sporting arms race: an international

112
comparative study on Sports Policy factors Leading to International
Sporting Success. Oxford: Meyer & Meyer Sport, 2008. 176p.

DUFFY, P.; LYONS, D.; MORAN, A.; WARRINGTON, G.; MACMANUS, C.


Factors promoting and inhibiting the success of high performance
players and athletes in Ireland from National Coaching & Training
Centre. Ireland: 2001. Disponível em: <
http://www.nctc.ul.ie/press/pubs/Success%20Factors%20STUDY.doc >.

GIBBONS, T.; MCCONNEL, A.; FORSTER, T.; RIEWALD, S.; PETERSON, K.


Reflections on success: US Olympians describe the success factors
and obstacles that most influenced their Olympic development,
Report phase II. United States Olympic Committee (USOC), 2003.

GOULD, D.; GREENLEAF, C.; GUINAM, D.; CHUNG, Y. A survey of U.S.


Olympic coaches: variables perceived to have influenced athlete
performances and coach effectiveness. The Sport Psychologist, v. 16, n.
3, p. 229-250, 2002.

GREENLEAF, C.; GOULD, D.; DIEFFENBACH, K. Factors influencing Olympic


performance: interviews with Atlanta and Nagano US Olympians. Journal
of Applied Sport Psychology, v. 13, n. 2, p. 154-184, 2001.

SHIBLI, S.; BINGHAM, J. A forecast of the performance of China in the


Beijing Olympic Games 2008 and the underlying performance management
issues. Managing Leisure, v. 13, n. 3-4, p. 272-292, 2008.

113

Você também pode gostar